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acepção, muito conhecida e aceita na Neurologia quando se trata desse quadro particular, é que
a apraxia de fala é uma dificuldade na realização de movimentos complexos por conseqüência
de prejuízo na capacidade de programar a posição da musculatura dos órgãos fonoarticulatórios
e, por isso, de controlar a produção volitiva de fonemas e organizar e ordenar os movimentos
musculares para a produção das palavras.
Certo é que apraxia de fala não permanece inócua a toda controvérsia envolvendo a
definição de apraxia. Mesmo de modo geral, toda discussão a respeito da natureza da apraxia
envolve sua relação (ou não) com a afasia, ou melhor, com o domínio do lingüístico, como já
foi brevemente mencionado. No caso da apraxia de fala, o debate parece impreterível em duas
frentes principais: (a) relação com a afasia e (b) relação com a disartria.
Segundo VIEIRA (1992), Broca propôs uma classificação para os distúrbios da fala e
produziu quatro explicações:
A meu ver, estes quatro pontos poderiam ser reduzidos a dois. O primeiro nos remete
diretamente a problemas no processo cognitivo de elaboração daquilo que precederia a
articulação da fala, ou seja, remete às idéias e ao modo de torná-las comunicáveis aos falantes
da mesma comunidade. Tem-se que em (1) e (2), “linguagem” é expressão do pensamento
(interno) e um conjunto de signos que nomeiam as coisas do mundo, conforme regras
lingüísticas previamente estabelecidas por convenção (externo). O segundo grupo nos remete
aos itens (3) e (4). Neles, Broca se reporta à faceta física de um ato de fala e faz menção à
produção articulatória dos fonemas da língua. Do ponto de vista das afecções, que acometem os
centros responsáveis pela fala/linguagem no cérebro, um problema de ordem física, não mental,
pode ser tomado como a causa da dificuldade de fala: falta de integridade dos órgãos
fonoarticulatórios e impossibilidade de coordenar os movimentos.
Parece que aí já estava estabelecida uma distinção que até hoje guia o diagnóstico e a
direção de tratamento de pacientes afásicos: falo da atual “incontestável” dicotomia entre
problemas lingüísticos e problemas motores na articulação da fala que concorrem para a
composição da síndrome afásica. Como problemas motores da fala resultantes de danos
neurológicos temos a disartria e a apraxia de fala. De fato, tradicionalmente, a relação
afasia/apraxia de fala é traduzida da seguinte maneira: a relação entre uma alteração lingüística
(afasia) e um problema motor/articulatório na configuração de um quadro sintomático de fala,
ambos entendidos como efeito de lesão do sistema nervoso central. Na literatura consultada, a
direção de pesquisa reflete um enorme esforço em negar a interferência do lingüístico e
reafirmar a apraxia de fala como um problema essencialmente motor, embora distinto da
disartria.
De acordo com ORTIZ (2005), embora a disartria e a apraxia verbal sejam problemas
motores ligados à articulação da fala, há uma distinção bem nítida entre elas. Enquanto disartria
deva ser referida a “controle motor dos órgãos fonoarticulatórios para a produção da fala”,
apraxia de fala nos remete a uma dificuldade na programação e organização dos movimentos
necessários para a fonação e para a articulação. RODRIGUES (1989), apesar de comungar deste
ponto de vista, assinala que certa confusão paira sobre essas definições e valoriza trabalhos, na
Neurologia, que procuram agregar disartria e apraxia. Não é sem propósito, portanto, que
BENSON & ARDILA (1996) afirmam: “(...) a apraxia permanece como uma anormalidade
motora misteriosa, controvertida e difícil de definir” (p. 299). O que explicaria este mistério?
Nas palavras de RODRIGUES (1989): “[as apraxias nos levam] ao problema do significado do
ato motor” e a “questão do pensamento simbólico” (p.112).
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