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AFASIA

Profª Juliana Rocha


CONCEITO
Geral: deficiência da linguagem por dano cerebral.

Específico: alteração no conteúdo, forma e uso da linguagem e


processos subjacentes, como percepção, compreensão e
memória. É caracterizada por redução e disfunção, que se
manifestam tanto no aspecto expressivo, quanto receptivo da
linguagem oral e escrita, em graus variados em cada uma dessas
modalidades.

(Chapey, 1996).
CONCEITO
A afasia é um distúrbio linguístico-simbólico (LAPOINT,

2000)

A afasia é um distúrbio que afeta a linguagem mas não é

um distúrbio de linguagem. É causado por alterações em

múltiplos níveis cognitivos e não apenas por déficits

específicos de linguagem. (MCNEIL, DOYLE, 2000)


CONCEITO
A primeira descrição de um quadro afásico foi feita por Pierre

Paul Broca (1861): alteração severa de comportamentos emissivos

e compreensão relativamente preservada. Sem alteração motora

de língua, boca ou ppvv.

(KANDEL, SCHARTZ, JESSEL, 2000)

 Carl Wernicke (1873) descreveu paciente com desordem severa

de compreensão com linguagem expressiva relativamente

inalterada.

(LURIA, 1980)
CAUSA
A afasia é causada por lesão orgânica no cérebro, em geral
no hemisfério esquerdo decorrente de vários fatores
desencadeantes. Nos idosos, a etiologia mais freqüente é o
acidente vascular cerebral.

Tumores, traumatismos cranianos, doenças degenerativas e


outras doenças metabólicas, tóxicas ou infecciosas podem
também resultar num quadro afásico.
HISTÓRICO
Lichtheim: definiu cinco centros corticais (memórias):

1) C. expressivo da fala (padrões de movimentos)


2) C. audioverbal (sons das palavras)
3) C. da escrita (padrões de movimentos)
4) C. visual verbal (palavras escritas)
5) C. do conceito (formulação de idéias e conceitos)

E, a partir destes, define dois tipos de afasia:

De condução: C. audioverbal X C. expressivo


Transcortical motora: C. conceito X C. expressivo
HISTÓRICO
LURIA (1980)

-Mudança na visão do cérebro e de seu funcionamento.

- Teoria do Sistema Funcional de Linguagem.

- Os processos mentais (percepção, memorização,


gnosias, linguagem, pensamento, escrita, leitura e
aritmética) não podem ser considerados faculdades
isoladas ou divisíveis.

- Não existe correlação direta entre a área do SNC


lesada e o tipo de afasia.
CLASSIFICAÇÃO

Existem muitos sistemas de classificação devido à


complexidade da entidade e das dificuldades
diagnósticas (limites tênues entre os diferentes
tipos de afasias)

Surgem as dicotomias: mais simples, mais didático.


Exemplos: ântero-posterior, fluente/não fluente,
expressiva/receptiva, sensoriomotora.
CLASSIFICAÇÃO

Não existem duas pessoas que usem a linguagem


de maneira idêntica, tampouco dois pacientes com
síndromes afásicas idênticas, porém estes
apresentam manifestações clínicas características
que permitem agrupá-los em uma mesma
classificação afásica.
(BRUST, 2000)
BOSTON

O sistema Boston é um exemplo de classificação


de classificação baseada na localização. Este
sistema classifica a afasia em categorias fluentes
e não fluentes.
LURIA

A abordagem de Luria é semelhante ao sistema Boston.


Enfatiza as relações entre os sintomas observados e a
localização da lesão.

Segundo Luria, muitas áreas diferentes do cérebro


cooperam para formar os sistemas funcionais da
linguagem receptiva e expressiva. Dano a qualquer uma
dessas áreas afeta o sistema funcional da linguagem.
Classificação de Boston modificada

1) Broca 5) Transcortical motora


2) Wernicke 6) Transcortical sensorial
3) Condução 7) Isolamento ou
4) Global transcortical mista
8) Anômica
Afasias Emissivas

Broca

Condução

Transcortical motora
Afasias Receptivas

Wernicke

Anômica

Transcortical sensorial
Afasias Mistas

Mista

Global

Transcortical Mista
Itens importantes no diagnóstico

Produção
Compreensão
Repetição
Leitura/escrita
Manifestações Afásicas
- Paráfrase: Ao tentar dizer uma palavra, usa uma frase
(caneta -> aquilo que escreve)

- Anomias: Ausência de nomeação;

- Circunlóquio: O paciente não consegue acessar o


tema nem discorrer sobre ele. Tangencia o tema mas
não consegue falar sobre o tópico em questão;
Manifestações Afásicas
- Agramatismo: Alteração na estrutura sintática
caracterizada por omissão de elementos da frase.
Omissão de elementos. Como artigos, conectivos,
preposições;

- Redução: Diminuição do número de enunciados


numa unidade de tempo. Oral e gráfico.

- Neologismos: Sequências fonêmicas ou grafêmicas


que não existem não sendo portanto compreendidas
nem reconhecidas. (EX: eu fui pegar o necape)
Manifestações Afásicas
- Uma fala repleta de neologismos torna-se um jargão.
Conhecida também como jargonofasia ou
jargonografia.

- Estereotipias: Repetições perseverativas e


involuntárias de determinado comportamento. Pode
ser palavra ou expressão conhecida (opa, éee, poxa).

- Perseveração: Manutenção da mesma resposta para


estímulos distintos.
Manifestações Afásicas
- Parafasia fonética: Distorção na produção dos fonemas.
- Parafasia fonêmica: Inadequação na seleção dos fonemas
(trocas, omissões e acréscimos) Ex: cavalo -> cajalo;
boneca -> boleca
- Parafasia morfêmica: Substituição dos morfemas
gramaticais. Ex: menino -> menina; andando -> andar.
- Parfasia formal: Quando a troca origina outra palavra da
língua. Ex: martelo -> marmelo
- Parafasia semântica: troca de um vocábulo por outro
estando os dois relacionados semânticamente. Ex: caneta
-> lápis; blusa -> camisa; calça -> shorts.
Afasia de Broca
- Afasia de expressão mais comum;
- Compreensão oral comprometida em diversos graus;
- Fase aguda: supressão de fala e escrita, estereotipias;
- Parafasias fonéticas e/ou fonêmicas, redução e
agramatismo. Anomia mais presente no discurso;
- Compreensão consideravelmente preservada ou
levemente comprometida;
- Escrita: alterações graves com supressão. A
compreensão da escrita pode estar mais alterada
que a compreensão oral.
Afasia de Condução
- Afasia fluente;
- Parafasias fonêmicas e verbais formais, parafasias
semânticas e anomia.
- Principal característica: erros graves em prova de
repetição. Muito mais prejudicada que a fala
espontânea;
- Escrita com paragrafias mas bons resultados em
cópia;
- Leitura em voz alta com melhor desempenho que na
repetição;
- Pode ser evolução da afasia de Wernicke.
Afasia Transcortical Motora
- Afasia não-fluente;
- Redução de fala;
- Linguagem espontânea extremamente reduzida;
- Expressão lenta e leve;
- Repetição melhor que a fala espontânea;
- Compreensão preservada;
- Escrita equivalente às expressões orais;
- Leitura pouco comprometida.
Afasia de Wernicke
- Grave afasia de compreensão;
- Compreensão oral gravemente comprometida;
- Discurso fluente e abundante fala logorréica e
jargonofásica com muitos neologismos;
- Curva melódica e entonações “normais”;
- Nomeação e repetição severamente
comprometidas.
- Compreensão gráfica tão comprometida quanto a
oral;
- Ditado pior que a cópia.
Afasia Transcortical sensorial

- Afasia fluente;
- Déficits moderados de compreensão;
- Repete bem provas de repetição mas nem
sempre com compreensão;
- Parafasias semânticas e anomias;
- Compreensão escrita alterada;
- Leitura em voz alta próxima do normal.
Afasia Anômica

- Afasia fluente;
- Alterações semânticas graves;
- Acesso lexical prejudicado;
- Comumente é a evolução das afasias de Wernicke
e Transcortical sensorial;
- Compreensão oral preservada;
- Escrita com falhas semelhantes à linguagem oral;
- Leitura preservada e compreensão adequada.
Afasia Transcortical Mista

- Repetição preservada embora com falhas;

- Emissão e compreensão severamente


comprometidas;

- Emissão oral com estereotipias ou ecolalias com


supressão da escrita;
Afasia Mista

- Características de diversos outros quadros;

- Bastante comuns.
Afasia Global
- Mais grave das afasias;
- Comprometimento severo de emissão e
compreensão oral e gráfica;
- Mutismo.
- Supressão de emissão gráfica;
- Quando a compreensão melhora mas não chega
a ficar tão boa quanto na Afasia de Broca, evolui
para a mista.
Afasia x Disartria
- Há lesões que não são tão graves nos níveis
linguísticos mas alteram a produção da fala;

- Disartria: distúrbio de fala caracterizado por uma


alteração de “articulação”, mas que na verdade é
decorrente de alterações nas bases da respiração,
fonação, articulação, ressonância e prósódia, sem
traços linguísticos;
Distúrbio afásico acompanhado de
disartria ou disfonia
- Diminuição da espontaneidade da fala;

- Mutismo;

- Anomia, perseveração, parafasias

- Dificuldades de compreensão (não sendo


alteração de fala)
Afasia Infantil

- Só é considerada afasia quando a criança já adquiriu


a linguagem e a está desenvolvendo normalmente,
mas é acometida por lesão cerebral;

- Não seguem a mesma classificação do adulto. São


apenas classificadas em emissivas e receptivas;

- Melhor prognóstico com acompanhamento


longitudinal (principalmente na fase de
alfabetização).
E O ATENDIMENTO
FONOAUDIOLÓGICO?
Anamnese

- Nacionalidade e bilinguismo;
- Escolaridade e letramento;
- Profissão;
- Etiologia neurológica (AVC, TCE, encefalite,
aneurisma)
- Detalhamento da etiologia: quando? Quantos?
Espaço de tempo?
- Medicamentos?
Anamnese

- Queixas comunicativas atuais e pregressas;

- Melhora espontânea?

- Atividades de vida diária (independência)

- Acompanhamento?

- Quadro psicológico.
Avaliação
Deve-se iniciar a avaliação identificando as
manifestações básicas que nos levarão ao
diagnóstico da afasia. Em seguida deveremos
considerar todas as manifestações
minuciosamente e buscar entender se existem
correlações entre elas.
Avaliação
As manifestações observadas no plano da
palavra são as parafasias. Quando aparecem na
emissão oral, chamam-se paragrafias e na
leitura em voz alta são as paralexias.

Mais do que identificar as parafasias,


agramatismos e demais quadros linguísticos do
afásico, é de extrema importância se avaliar o
discurso do paciente.
Avaliação
No plano discurssivo, muitos fatores devem ser
considerados:

- Coesão e coerência;
- Organização temporal;
- Manutenção do tema;
- Estrutura semântica e sintática do discurso;

ATENÇÃO: Todas as queixas trazidas pelo paciente e


pela família são importantes e devem ser
investigadas.
Avaliação
Instrumentos fechados:

• Token test

• Peabody

• Mini-Mental

• CDR

• Boston (Boston Diagnostic Aphasia Examination)

• Minessota (MinessotaTest for Differential Diagnostic os

Aphasia)

• Porch Index of Communicativr Ability

• Western Aphasia Battery


Avaliação
• Instrumentos abertos:

Linguagem oral Decodificação


auditiva
– Compreensão Conhecimento de
regras sintática e
• Conversa espontânea semânticas
• Ordens simples
• Ordens complexas
• Provas específicas
Avaliação
• Instrumentos abertos:

Linguagem oral
Estímulo visual
Escolher palavra
 Emissão
Aplicar regra fonológica
 Nomeação
semântica
 Objetos
 Figuras
Avaliação
• Instrumentos abertos:

Linguagem oral

Decodificação auditiva
 Emissão
Programação motora
 Repetição
 Palavras
 Logatomas
 frases
Avaliação
• Instrumentos abertos:

Linguagem oral

 Emissão
 Repetição
 Complementação de frases

 Automatismos

 Figuras de ação  recordação livre


Avaliação
• Instrumentos abertos:

Funções cognitivas
Conduta
Memória
Auditiva
Visual
evocação
Orientação espaço-temporal
Avaliação
• Instrumentos abertos:

Linguagem escrita
Leitura
Palavras
Não-palavras/inventadas
Frases associados a figuras
textos
Escrita
Espontânea
Ditado palavras
Ditado não palvras
Devolutiva
• Instrumentos abertos:

Linguagem escrita
Leitura
Palavras
Não-palavras/inventadas
Frases associados a figuras
textos
Escrita
Espontânea
Ditado palavras
Ditado não palvras

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