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Sinopse

Dedicatória

Para Brandon

Obrigado por ter feito um brainstorming1 comigo sobre este


assunto, filho.

(P.S. Você precisa de um corte de cabelo).

1Substantivo de dois gêneros e dois números (d1955) técnica de discussão em grupo que se vale da
contribuição espontânea de ideias por parte de todos os participantes, no intuito de resolver algum
problema ou de conceber um trabalho criativo.
Prólogo

A vida pode mudar em um piscar de olhos – mesmo no


que, a princípio, parece a mais rotineira das circunstâncias.

Foi um daqueles dias atarefados no trabalho em que o


tempo parecia passar mais rápido do que o normal. O
restaurante japonês onde eu era garçonete estava lotado – o
lado com mesas hibachi2 e a seção de jantar regular. Saltei
para frente e para trás entre os dois.

— Vou precisar que você assuma a mesa seis também. —


Disse meu gerente.

— Claro, sem problemas. — Respondi, pegando um


pedido de sukiyaki do balcão.

Eu tinha trabalhado como garçonete em Mayaka para


ajudar a sobreviver enquanto pagava a faculdade. Aos vinte e
quatro anos, comecei tarde minha educação universitária
depois de alguns anos difíceis, mas finalmente estava me
recompondo.

Hoje peguei um turno anterior. Isso acabou sendo uma


péssima ideia, porque assumir a mesa seis mudou para
sempre meu dia – e talvez minha vida.

2 Mesa em que se cozinha em uma chapa quente, mostrando todo o espetáculo e malabares,
permitindo os clientes interagirem com o chef torna a experiência inesquecível.
— Posso começar com algum... — Perdi minhas palavras.
Meu coração quase parou quando olhei para um rosto familiar,
mas há muito perdido, um rosto que eu não tinha certeza se
veria novamente.

Seus olhos se arregalaram.

Meu bloco de notas caiu no chão.

Jace.

Oh meu Deus.

Uma mulher estava sentada em frente a ele.

Quem é essa?

Minha garganta fechou.

A única coisa que parecia certa era correr – então o fiz.

— Com licença. — Balancei minha cabeça e me virei


rapidamente, caminhando para o outro lado do restaurante,
passando pelas chamas das mesas de hibachi.

Atravessando as portas de vaivém, entrei na cozinha. —


Tenho uma emergência, Mae. Preciso ir para casa. Lamento
sair durante um horário cheio, mas realmente preciso ir.

— Está tudo bem? — Ela perguntou.

Minhas palavras foram apressadas. — Espero que sim.


Não posso entrar nisso agora. Tenho que sair. Sinto muito.
Corri para fora da cozinha. O sol me cegou quando abri a
porta da frente do restaurante e corri pelo estacionamento até
a calçada da estrada principal. Sair do trabalho foi uma coisa
covarde? Absolutamente. Arrisquei meu emprego?
Possivelmente. Mas de jeito nenhum eu estava pronta para
enfrentá-lo. A última vez que vi Jace foi há três anos, e ele
quebrou meu coração em pedacinhos. Até aquele momento,
meu coração só tinha pertencido a ele – desde o tempo em que
eu era praticamente uma criança.

O que ele estava fazendo na Flórida? Pensei que ele tinha


sumido para sempre. Pela expressão em seu rosto, ele não
esperava me ver trabalhando na Mayaka. Quem era aquela
mulher que o acompanhava? Por que ele tinha que estar ainda
melhor do que me lembrava?

Meu coração estava pesado enquanto continuava a correr


na calçada. Claro que decidi caminhar para o trabalho hoje
para fazer exercícios. Um carro teria sido muito melhor quando
se tratava de fugir do meu passado.

Eu estava quase atravessando a rua movimentada


quando senti uma mão em meu ombro.

— Jesus, Farrah. Vá mais devagar.

Vacilei, meu coração quase saindo do meu peito.

Quando me virei, seus olhos azuis de aço me penetraram


e me perguntei como alguma vez pensei que poderia escapar
de ter que enfrentá-lo.
Jace forçou um sorriso triste. — Se eu não soubesse
melhor, pensaria que você estava fugindo de mim.

Nós dois ofegamos. Abri um sorriso nervoso, sem saber


se ria ou chorava.

Sua pergunta era irônica.

Jace tinha ido embora por três anos, e ele teve a coragem
de dizer que eu fugi dele? Foi ele quem fugiu.
Capítulo 1

Três anos e meio antes

— Uau. Aonde você vai vestida assim? — A voz profunda


de Jace me parou em meu caminho.

Bingo.

Ele percebeu.

Um arrepio percorreu minha espinha quando respondi:


— The Iguana.

— Um bar. Interessante. Achei que as pessoas usassem


roupas lá. — Jace sorriu, abrindo um pistache. Ele enfiou-a na
boca antes de jogar a casca de lado.

Olhei para o top que exibia minha barriga. Usei-o


especificamente para exibir meu novo piercing no umbigo. Meu
short jeans mal cobria minha bunda.

Fingindo estar irritada, disse: — Da última vez que


verifiquei, o que visto não é da sua conta, Jace.
— Isso é o meu negócio se eu tiver que ir bater a bunda
de um cara porque ele ficou muito bêbado e colocou as mãos
onde elas não pertencem.

Jace era protetor comigo, o que eu amava e odiava. Teria


sido melhor se ele não me olhasse como uma irmã mais nova.
Sua atitude veio de um lugar inocente. Isso é o oposto do que
eu queria. Nenhum dos meus sentimentos por este homem era
fraternal. Mas esse era o meu segredinho, suponho.

— Vou ficar bem. — Dei de ombros, abrindo a geladeira e


tirando uma jarra. Derramei um pouco de água em um copo,
sentindo um formigamento porque ainda podia sentir seus
olhos em mim, mesmo que ele estivesse apenas preocupado.

— Não posso te dizer o que fazer..., mas falando do ponto


de vista de um cara, se vejo uma garota vestida do jeito que
você está agora, isso me envia uma certa mensagem sobre ela.
Você sabe o que estou dizendo?

Jace estava sem noção. Totalmente sem noção. Mal sabia


ele que era o único cara cuja atenção eu queria ultimamente.
Sempre que me vestia de maneira provocante, era uma
tentativa de irritá-lo.

Desde que ele se mudou há dois meses, chamar a atenção


de Jace era um dos meus passatempos. Mas, ao contrário dos
pistaches que mastigava, era um osso duro de roer. Claro,
peguei-o olhando para mim de vez em quando, mas nunca
soube o que ele estava realmente pensando. E realmente, não
sabia o que estava pensando ao tentar fazer com que ele me
notasse. Jace não me tocaria com uma vara de três metros,
não apenas porque ele estava morando conosco agora, mas
porque eu era a irmã de seu melhor amigo. Portanto, ele me
olhava como uma irmã também, o que eu odiava. Por mais que
ele tenha sido como uma família ao longo dos anos, nunca o
olhei como um irmão. Minha atração era muito forte. Tenho
uma queda por ele desde o momento em que o conheci, quando
provavelmente tinha cerca de seis anos.

— Da última vez que verifiquei, — eu disse, — as garotas


com quem você sai não se vestem de maneira mais
conservadora do que isso.

Ele lambeu um pouco do sal de seus lábios. — Bem, isso


é... diferente.

Levantei uma sobrancelha. — Como assim?

A mandíbula de Jace apertou. Ele não tinha resposta.

Exatamente.

Tomei a liberdade de responder por ele. — Sei porque você


acha que é diferente. Você parece esquecer que tenho vinte e
um agora. Algumas das garotas que você namora têm
praticamente a minha idade, mas você não me vê como
madura, porque quando você saiu para a faculdade eu tinha
12 anos. Essa é a pessoa de quem você se lembra. — Suspirei.
— Não tenho mais doze anos. Inverta os números.
Meu irmão, Nathan, entrou naquele momento. — Não me
importo quantos anos você tem. Você está vestida como uma
prostituta.

Revirei meus olhos.

Jace olhou para ele. — Não diga merdas assim para ela.

— É meu trabalho dizer-lhe a verdade.

— Mas você não precisa usar essas palavras, idiota.

Eu ri. — Sim. Jace basicamente me disse a mesma coisa,


exceto que ele foi muito mais legal sobre isso. — Engoli o resto
da minha água e coloquei o copo no balcão. — De qualquer
forma, é quente como o inferno no The Iguana. O ar-
condicionado deles é péssimo. Todo mundo se veste assim. —
Menti.

Eles olharam para mim em uníssono, ambos com


expressões céticas.

Jace e Nathan eram melhores amigos desde a infância.


Ele e meu irmão eram seis anos mais velhos que eu. Passei a
maior parte dos meus anos pré-adolescentes cobiçando Jace
em segredo. Naquela época, ele vinha para a casa todo suado
depois do treino de futebol, e meus hormônios imitavam o
feijão saltador mexicano. Sempre que ele falava comigo, eu
ficava com os joelhos fracos. Se você olhasse as entradas do
meu diário daquela época, havia algo sobre Jace em todas as
outras páginas. Querer alguém e saber que eu não poderia tê-
lo era pura tortura. Especialmente durante aqueles últimos
anos antes de Jace ir para a faculdade, quando estava
perdidamente apaixonada.

E então? Ele se foi. Meu coração de 12 anos ficou


devastado quando Jace se mudou para estudar na Carolina do
Norte. E ele só voltava para casa no verão nos primeiros anos.

Ele ficou longe por nove anos no total e só recentemente


voltou para casa na Flórida. Certamente nunca imaginei que
ele acabaria morando conosco. Aos vinte e sete anos, Jace era
o garoto que eu me lembrava de desejar, mas ainda maior e
melhor. Ele era um homem em plena forma agora. E eu não
era mais criança. Então você pode imaginar onde minha
cabeça esteve ultimamente.

Nathan me tirou dos meus pensamentos. — É melhor


você levar o spray de pimenta se sua bunda teimosa não mudar
para algo decente.

— Você sabe que sempre carrego.

Às vezes, meu irmão não se continha, mas não podia


culpá-lo por ser protetor. Eu era uma adulta agora, mas os
velhos hábitos eram difíceis de morrer. Nathan se tornou meu
curador depois que nossos pais foram mortos durante um
assalto há sete anos. Eu tinha quatorze anos e Nathan tinha
vinte quando os perdemos. Jace tinha voltado da faculdade
naquele verão, trabalhando para a empresa de paisagismo do
meu pai. Infelizmente, ele estava com meus pais quando
morreram. Isso ainda era tão difícil de entender. Até hoje, Jace
não conseguia falar sobre isso. Eu sabia que ele sofria de culpa
de sobrevivente. Ele também levou um tiro, mas teve sorte.
Ainda assim, o trauma de ter testemunhado o assassinato de
meus pais havia infligido um tipo diferente de dano – não físico,
mas tinha marcado sua alma para o resto da vida. Nenhum de
nós realmente falou sobre o que aconteceu. Nosso passado
doloroso foi um fantasma que nos seguiu, um fantasma que
nunca reconhecemos.

Eu sabia pelo relatório da polícia que meu pai e Jace


estavam voltando de um trabalho de paisagismo. Eles pararam
para pegar minha mãe na loja de conveniência onde ela
trabalhava. Meu pai sentiu como se alguém os estivesse
seguindo desde o momento em que ele e Jace deixaram o local
de trabalho. O homem finalmente tentou expulsá-los da
estrada antes de puxar uma arma. Meu pai tinha muito
dinheiro com ele, já que seus clientes de paisagismo
normalmente o pagavam dessa forma. Os investigadores
acreditam que o homem sabia de alguma forma sobre aquele
dinheiro, razão pela qual estava seguindo o caminhão. Talvez
ele tenha sido avisado por alguém que trabalhava para meu
pai.

De acordo com o relatório, as vítimas, Ronald e Elizabeth


Spade, cooperaram, entregando o dinheiro, mas o homem, que
estava drogado, atirou mortalmente em meus pais mesmo
assim. Uma bala atingiu Jace, mas ele saiu ileso. Com base na
descrição de seu veículo, a polícia posteriormente encontrou o
homem enfurnado em seu apartamento. Ele foi baleado e
morto após um impasse. E isso foi o fim. Nossas vidas
mudaram para sempre, e a infância inocente e idílica que tive
se tornou uma memória.

Depois daquele verão, Jace nunca mais voltou para casa.


Isso era compreensível.

Embora já tivessem passado sete anos desde a morte de


meus pais, sabia que ele não tinha lidado adequadamente com
aquela perda. Algumas manhãs, ainda acordei esperando que
minha mãe e meu pai estivessem aqui. Se não fosse por
Nathan, eu não teria feito isso. Ele fez o possível para
preencher o vazio que eles deixaram. Por mais miseráveis que
nós dois estivéssemos no início, ele tentou tornar a vida o mais
normal possível – como continuar nossa tradição de noite de
cinema em família, mesmo que fôssemos apenas nós dois
agora. Até hoje, escolhemos uma noite por mês para assistir a
um filme juntos.

Nathan e eu ainda morávamos no bairro onde crescemos


em Palm Creek, Flórida. Depois que mamãe e papai morreram,
ficar na casa de nossa infância foi muito doloroso, então
Nathan usou o dinheiro que herdamos para pagar a entrada
de uma casa algumas ruas adiante. Infelizmente, meu irmão
havia sido recentemente dispensado de seu emprego como
vendedor de carros e precisava de ajuda para pagar as contas.
Na mesma época, Jace mudou-se para cá para administrar
temporariamente o negócio de seu pai. Nathan perguntou a
Jace se ele poderia alugar nosso quarto de hóspedes para
ajudar com o pagamento da hipoteca. Já que Jace estava no
limbo, esperando para comprar uma propriedade até saber se
ficaria ou não na Flórida permanentemente, morar conosco foi
uma solução boa e temporária. Isso beneficiou a todos. Então
foi assim que nos tornamos um grupo de três.

Virei-me para meu irmão. — Leva-me até o bar?

— O que há de errado com seu carro agora?

— Pode ser o alternador desta vez. Está na oficina


novamente.

— Esse pedaço de merda.

O velho Toyota Corolla cor de ferrugem que eu dirigia


constantemente me dava problemas. Felizmente, nosso
mecânico local – ironicamente chamado de “Rusty3” – sempre
me ofereceu um bom negócio. Nathan estava convencido de
que Rusty tinha segundas intenções quando se tratava de
mim, mas aceitei de bom grado o desconto no preço, sem
questionar o motivo.

— Estou economizando para outra coisa. — Assegurei-


lhe. — Até então, tenho que lidar com isso. Não que pudesse
conseguir algum dinheiro por aquele pedaço de lixo se tentasse
vendê-lo.

— Da próxima vez, não leve para Rusty. — Jace disse. —


Posso tentar consertar.

3 Tradução: Enferrujado.
A ideia de Jace sem camisa e suado embaixo do meu carro
não era exatamente desagradável.

— Obrigada. Não pensei em perguntar a você. Agradeço a


oferta.

— Quando você precisa estar no The Iguana? — Nathan


perguntou.

— Tenho que sair agora. Só preciso de uma carona para


lá. Kellianne disse que pode me levar para casa.

Ele olhou para o relógio. — Não posso levar você agora.


Alguém virá em dez minutos para ver o cortador de grama que
estou vendendo. Posso te levar depois.

Fiz uma careta. — Vou perder o começo se não for agora.

— Por que isso é tão importante? — Nathan perguntou.


— É só um bando de gente bêbada vomitando merdas idiotas.

— Não é idiota. É cativante.

Uma vez por semana, The Iguana mantinha seu


microfone aberto na noite “Abra seu coração” e eu estava
obcecada em ir até lá. Os clientes, principalmente os bêbados,
eram encorajados a subir no palco e revelar tudo o que
quisessem em uma sala cheia de estranhos. Pode ser algo que
eles precisem tirar do peito, ou seu segredo mais profundo e
obscuro. Você nunca sabia o que iria conseguir. Algumas das
confissões eram tristes, coisas com as quais eu poderia me
relacionar depois de anos abrigando a dor do assassinato de
meus pais. Outras vezes, era um segredo sexy. Algumas
pessoas não esconderam nada. Era definitivamente para
maiores de dezoito anos. Mesmo adorando ouvir tudo, ainda
não tive coragem de subir no palco. Algum dia faria.

— Posso levá-la. — Jace interrompeu.

Celebrei internamente.

— Obrigado, cara. Agradeço. — Disse Nathan.

Jace se levantou da mesa e jogou as cascas de pistache


que havia acumulado em um guardanapo de papel no lixo.

Ele pegou as chaves do balcão e jogou-as para o alto. —


Vamos.

Uma onda de adrenalina correu por mim enquanto seguia


Jace para fora para sua brilhante picape preta, estacionada em
nossa garagem. Eram quase 20h e o ar quente da Flórida
começara a esfriar. Uma brisa quente soprou em torno das
palmeiras em frente a nossa casa. Morávamos em uma rua
tranquila com casas de estuque de aparência semelhante.
Nossa casa tinha apenas um nível, mas era bem grande em
comparação com as outras propriedades. Tínhamos três
quartos e uma grande piscina coberta na parte de trás. Como
a associação de moradores era muito rígida, todas as casas
foram mantidas em boas condições. Caso contrário, você teria
que pagar uma multa. Os membros da associação passavam
de carro periodicamente e mandavam mensagens
desagradáveis se ao menos notassem a tinta lascando.
Felizmente, Nathan poderia consertar praticamente qualquer
coisa sozinho.

O assento de couro preto estava quente contra minha


pele. A caminhonete era enorme, grande demais para nossa
pequena garagem, onde Nathan estacionou seu pequeno
Hyundai. Jace sempre tinha que estacionar do lado de fora no
calor.

Ele ligou a ignição, mas não recuou, olhando para o meu


umbigo. Por uma fração de segundo, pensei que poderia estar
me examinando. — Coloque o cinto de segurança.

Bem, agora me sinto idiota. — Oh. — Agarrei e coloquei


sobre meu peito antes de trancá-lo. — Desculpe.

Vacilei quando ele envolveu sua mão em volta do meu


assento enquanto ele recuou para fora da garagem.

Você achou que ele iria tocar em você, Farrah?

Tive que rir.

— Do que você está rindo? — Ele perguntou enquanto


dirigia pela estrada.

Forçando meu cérebro, inventei algo. — Você sabe o que


dizem sobre homens com caminhonetes grandes, certo?

Ele revirou os olhos. — Que seus veículos são


proporcionais ao tamanho de sua masculinidade? Sim. Vivo
isso todos os dias.
— Não foi exatamente isso que ouvi. Mas o que você
disser. — Pisquei.

— Espertinha. — Ele riu.

O cheiro de sua colônia, misturado com o menor traço de


charuto, encheu o ar. Ele nunca tinha fumado na minha
frente, mas eu sabia que ele gostava de fumar um charuto
ocasional enquanto dirigia. Amei o cheiro de sua caminhonete,
porque era basicamente o cheiro dele condensado em um
pequeno espaço. Foi o paraíso.

Se estou parecendo um pouco desesperada por este


homem – bem, acho que estou mesmo. Mas considere o fato de
que ele foi minha primeira paixão. A paixão. Minha única
paixão. Muitos anos de saudade não correspondida me
trouxeram aqui. Considere também que ele é dez vezes mais
atraente agora, tendo se transformado em um homem
completo. O fato adicional de que agora eu tinha idade
suficiente para entreter minhas fantasias não ajudava. Não
queria querê-lo. Eu apenas fiz. Ele era a última pessoa que eu
deveria estar olhando, porque isso era fútil. Mas você não pode
escolher por quem se sente atraído.

Dirigimos em silêncio por alguns minutos até que eu


disse: — Obrigado por me levar. Agradeço.

Ele deu uma olhada. — Sem problemas.

Preparei-me. — O que você fará esta noite?

Ele hesitou. — Provavelmente irei para a casa de Linnea.


Linnea era uma garota que eu sabia que ele estava
saindo. Ouvi-o falando com Nathan sobre ela e a vi em sua
caminhonete uma vez.

— As coisas estão ficando sérias com ela?

Ele encolheu os ombros. — Eu realmente não levo


ninguém a sério. Simplesmente passo mais tempo com certas
pessoas do que outras.

Balancei a cabeça lentamente. — Entendo.

Enquanto isso me fazia sentir um pouco melhor, também


significava que provavelmente havia mais de uma garota com
quem ele estava – passando tempo.

— Você se arrepende de ter voltado para Palm Creek? —


Perguntei.

— Por que você pensaria isso? — Ele perguntou depois de


um momento.

— Não é óbvio? Na Carolina do Norte, você era dono de


sua própria casa. Você fez um ótimo trabalho, pelo que
entendi. Agora você está morando comigo e com Nathan e
trabalhando para seu pai. É uma grande mudança. — Parei
para pensar. — Além disso... sei que nem todas as memórias
aqui são boas. Apenas pensei...

— Está tudo bem, — ele interrompeu. — Meu pai


precisava que eu dirigisse seu negócio por um tempo. Tinha
pouca escolha no assunto, mas estar em casa me fez perceber
o quanto eu sentia falta daqui. Não é de todo ruim.

O pai de Jace, Phil, era dono da Construção Muldoon.


Phil Muldoon estava se submetendo a um tratamento para
câncer na garganta e precisava de ajuda para administrar as
coisas por um tempo. Como ele tinha um diploma em
administração, Jace era o mais equipado de seus irmãos para
lidar com a tarefa. Na verdade, os meios-irmãos mais velhos de
Jace não eram capazes de nada, considerando que ambos
eram viciados em drogas e desempregados. Então Jace deixou
seu trabalho de gerente de propriedade em Charlotte antes de
voltar para cá.

— Você acha que vai ficar permanentemente?

— Isso depende de muitas coisas. Estou apenas vivendo


um dia de cada vez.

— Sei que Nathan realmente aprecia o fato de você ter


vindo morar conosco. Ele nem sempre é o melhor com palavras
e em expressar seus agradecimentos. Seu orgulho atrapalha.
Mas ele dorme melhor à noite sabendo que podemos pagar a
hipoteca. Fico feliz que ele não tenha medo de pedir que você
se mudasse.

— Eu meio que sinto que devo a ele, para ser honesto.

— Por quê?

Ele fez uma pausa. — Quando as coisas... aconteceram...


eu desapareci. Voltei direto para a faculdade. Você sabe...
Esta foi a primeira vez que Jace aludiu vagamente ao que
havia “acontecido”. Nunca percebi que ele se sentia culpado
por voltar para a Carolina do Norte depois que meus pais foram
mortos. Isso fazia sentido, suponho. Mas certamente nunca o
culpei por essa decisão. O que ele deveria fazer? Abandonar a
faculdade, ficar em Palm Creek e sofrer junto com o resto de
nós? Na época, invejei o fato de que ele tinha outro lugar para
ir. Caramba, teria ido com ele se pudesse.

— Você teve que voltar para a faculdade, teve que


continuar sua vida. Você não teve escolha

— Sempre há uma escolha. E me arrependo de não estar


lá para ele... e para você. Agora é minha oportunidade de
compensar isso. — Ele olhou para mim. — Vocês são como
uma família.

Enquanto uma parte de mim gostou de ouvir isso, a outra


parte não ligou para o tom incestuoso de sua declaração.

Ele pigarreou. — O que há sobre essa coisa de confissão


no bar que você gosta tanto?

Dei de ombros. — Acho que quando você reprime muito


seus sentimentos, você inveja aqueles que têm a coragem de
deixá-los sair.

— Você nunca subiu no palco, então.

— Não... ainda não. Talvez em algum momento.


Ele ergueu as sobrancelhas. — O que você está
esperando?

Eu ri. — Coragem.

— Do que você tem medo especificamente?

— Perder minha habilidade de falar principalmente, ou


pior, falando em jargões se eu conseguir dizer as palavras...
desmaiando, passando mal, sendo levada para um hospital
psiquiátrico com paredes acolchoadas. Coisas assim.

— Muito catastrófico? — Ele riu. — Mas entendo. Não é


fácil fazer nada na frente de uma plateia. Não posso culpar
você.

— Sim. Prefiro apenas ouvir por enquanto. Acho muito


inspirador, embora desejasse ter coragem para fazê-lo.

— Não há pressa. Quando estiver pronta, você vai. Falar


em público exige coragem, mas imagino que seja ainda mais
difícil quando você está compartilhando algo pessoal.

Concordei. — É exatamente isso. E também preciso de


algo interessante para confessar. Às vezes as pessoas falam
sobre coisas dolorosas que aconteceram com elas, mas prefiro
não falar nisso. Prefiro confessar algo interessante ou
engraçado do que começar a chorar na frente de estranhos.

— Não vá fazer nada estúpido só para ter algo sobre o que


conversar. Você vai causar um ataque cardíaco no seu irmão.

— Não é preciso muito para chatear Nathan.


Ele se virou para mim. — Você não fala muito com ele,
não é? Ele me disse que nunca sabe o que você está pensando.

Meu irmão falou com Jace sobre mim? — Ele disse?

— Sim. Acho que ele gostaria que você se abrisse mais


com ele.

— Não sou muito boa em falar sobre certas coisas com


ninguém. Escrevo meus pensamentos para me expressar, ou
às vezes escrevo ficção onde os personagens passaram pelo que
passei. Mas mantenho tudo privado. Até ouvir certas músicas
que ressoam me ajuda a divagar. Medito e faço ioga às vezes
também. Falar nunca foi minha praia.

— Contanto que você tenha uma saída.

— Qual é a sua saída?

— Nada tão respeitável quanto escrever e ioga.

— Sexo e charutos? — Sugeri.

— Não fumo um charuto há uma semana. — Ele piscou.

Jesus. Então acho que é sexo.

— Talvez eu deva aprender a meditar em vez disso. — Ele


acrescentou. — Quando você faz isso?

— Sempre que posso encontrar tempo. Uso um aplicativo


no meu telefone para meditação guiada. Ajuda a me acalmar
quando estou estressada. Também sinto que isso me ajuda a
me conectar com meu subconsciente.
Olhando para mim, ele sorriu. — Você é muito mais
profunda do que a menina que costumava roer o cabelo.

Senti minhas bochechas esquentarem. — Não acredito


que você se lembra disso.

— Algumas coisas são meio difíceis de esquecer.

Suspirei. — A vida era certamente mais simples naquela


época. Ainda bem que deixei esse hábito. Se eu mastigasse
meu cabelo quando estou estressada agora, não teria sobrado
nenhum.

— Você faz um bom trabalho em não parecer que está


estressada o tempo todo. Acho que você pode se esconder
muito atrás de um sorriso, hein?

Dei de ombros. — Faça de conta até dar certo.

Ele se virou para mim brevemente antes de seus olhos


voltarem para a estrada. — O que está estressando você?

— Não é nada que eu possa apontar. Apenas a incerteza


geral do futuro. Quero fazer algo por mim mesma, mas não
tenho ideia do que quero fazer. Sinto que estou presa no limbo.
Continuo no mesmo trabalho mundano de secretária,
levantando todos os dias e fazendo a mesma coisa, mas sinto
que o tempo está passando.

— Você é tão jovem. Você tem muito tempo.

— Não sou tão jovem, — me senti compelida a dizer.


— Sei que você não é mais uma criança, mas você é
jovem.

— Deveria ter quase me formado na faculdade agora, e


ainda nem comecei. Minha mãe se casou e teve um bebê na
minha idade.

Ele fez uma careta. — Você não gostaria de se casar e ter


um filho agora.

— Não, mas quero um propósito, um significado mais


profundo em minha vida. É frustrante não ter encontrado.

— Não há horário, Farrah. Você já passou por muita


coisa, mais do que a maioria das pessoas da sua idade. E,
honestamente, estou orgulhoso da maneira como você e
Nathan lidaram com tudo. Vocês têm um teto sobre sua cabeça
e cuidam um do outro. Você está indo muito bem, mesmo que
nem sempre sinta que tem tudo sob controle. No final, todos
nós estamos apenas tentando passar o dia, sabe? Não seja tão
dura consigo mesmo.

Admirando suas lindas maçãs do rosto e a forma como as


luzes da rua refletiam em seu cabelo preto, eu sorri. — Vou
tentar ver dessa maneira.

Finalmente nos aproximamos da rua onde o The Iguana


estava localizado.

Jace diminuiu a velocidade do caminhão. — É aqui?

— Sim.
Ele parou na frente. A última luz do dia tinha diminuído
durante o curso de nossa viagem, e o sinal de néon azul no
topo do bar iluminou a noite.

— Você disse que tem uma carona de volta? — Ele colocou


a mão no meu encosto de cabeça.

Mais uma vez, meu corpo estava muito ciente de sua


proximidade.

— Sim. Kellianne vai me encontrar aqui e me levar para


casa.

Jace me deu uma olhada. — Ela bebe?

— Não se preocupe. Ela só vai beber uma bebida se


estiver dirigindo.

— Ok. Se alguma coisa mudar e você precisar de uma


carona, me envie uma mensagem.

Era tentador criar uma situação mais tarde que pudesse


justificar esse cenário.

— Eu irei.

— Tenha cuidado, — ele avisou.

Não ansiosa para deixar sua caminhonete, demorei um


momento. Queria ficar com ele a noite toda, falar mais sobre a
vida, aprender mais sobre o que o fazia funcionar e que tipo de
coisas ele ansiava. Queria saber tudo sobre ele, separá-lo
camada por camada.
Em vez disso, me forcei a abrir a porta. Antes de sair,
parei e me inclinei para lhe dar um abraço rápido nele. —
Obrigada novamente.

Seu corpo enrijeceu, mas ele passou o braço em volta das


minhas costas. Saboreei aqueles poucos segundos antes de me
afastar. Ao que tudo indica, foi um gesto inocente. Mas por
dentro, eu estava queimando. Não tive muitas oportunidades
de “agradecê-lo” dessa forma.

Jace esperou que eu entrasse antes de partir.

Assim que a porta se fechou atrás de mim, fui direto para


o bar. Odiei ser a primeira a chegar. Kellianne estava vindo
direto do trabalho.

Depois de encontrar um assento em uma mesa de frente


para o palco, sentei-me sozinha e tomei um gole de meu mojito.

Cerca de dez minutos depois, vi minha amiga correndo


em minha direção.

Conheci Kellianne no escritório de advocacia onde


trabalhava como assistente administrativa. Desde então, ela
mudou para outro emprego, mas mantivemos contato.
Fisicamente, éramos opostas. Kellianne era baixa com cabelo
loiro encaracolado. Eu tinha 1,70 metro e cabelos longos, retos
e castanhos.

— Desculpe, estou atrasada. O tráfego está uma droga,


— disse ela.
— Sem problemas. — Levantei minha bebida. — Como
você pode ver, tenho companhia.

— Alguém já subiu lá?

— Não. Eles não começaram.

Os confessionários geralmente começavam às nove e


duravam cerca de uma hora, talvez mais, dependendo de
quantas pessoas estivessem dispostas a desabafar.

— Seu irmão trouxe você aqui?

— Não. Jace me deu uma carona.

— Ah... Jace. — Ela suspirou. — Ele é tão gostoso. O vi


bombeando gasolina outro dia. Bem, ele não me viu. Tinha
uma garota na caminhonete com ele.

Revirei meus olhos. — Ela tinha cabelo ruivo?

— Sim, na verdade.

— Essa é Linnea. Ele está saindo com ela há algumas


semanas. Ele está com ela esta noite.

A sobrancelha dela se ergueu. — Isso te incomoda?

Dei de ombros. — Um pouco. Sim.

Nunca falei com Kellianne sobre meus sentimentos


recentes por Jace. Ela só soube da minha paixão por ele
quando eu era mais jovem. Uma paixão desesperada era
desculpável, até fofa, aos doze anos. Aos vinte e um? Não
muito.

Mas ela não pareceu surpresa com minha resposta. —


Pensei assim...

— Não quero entrar nisso.

— Mas eu quero ouvir sobre isso.

— Não há muito a dizer. Você já sabe que tive uma queda


por ele quando era pequena. Estar perto dele novamente
trouxe alguns daqueles velhos sentimentos.

Ela estendeu o dedo indicador. — Segure esse


pensamento. Preciso de uma bebida para isso.

Ela correu para o bar. Quando voltou para seu lugar com
um rum e uma Coca, continuou de onde havia parado.

— Ok, então... alguns dos antigos sentimentos por ele


voltaram... ou melhor, eles simplesmente nunca foram
embora?

Bebi o que restava da minha bebida e sacudi o gelo. —


Quando ele morava na Carolina do Norte, era mais fácil não
pensar nele, mas agora que está aqui de novo, não consigo
evitar o que sinto. É como se minhas emoções tivessem
retomado de onde pararam. E, agora que ele está morando
conosco, estou começando a conhecê-lo em um nível diferente.
Nunca conversamos muito quando eu era criança. Naquela
época, só o admirava de longe. Nós dois estamos mais maduros
agora, então é diferente.

Seus olhos brilharam de excitação. — Você acha que há


uma chance de algo acontecer?

— Não. Realmente não quero. Ele me trata da mesma


forma que Nathan, como uma irmã. O que é péssimo.

— Bem, você nunca sabe. Continue se vestindo como esta


vestida esta noite, e isso pode mudar.

— Não sei. Ele se preocupa comigo. Sei disso e acho que


é exatamente por isso que ele nunca tenta nada. — Coloquei
um pouco do gelo na boca. — Honestamente, não sei o que
faria se ele devolvesse a atração. Nathan nos mataria.

— Ok, então hipoteticamente, se surgisse uma


oportunidade... você não iria lá?

— Não sei. — Suspirei. — De qualquer forma, isso é


fantasia, não realidade.

— É estranho saber que a pessoa por quem você está


obcecada se preocupa com você, mas não da maneira que você
deseja. Tipo de situação única.

O uso dela da palavra obcecada me assustou. Pensei que


tinha minimizado meus sentimentos em relação a Jace, mas
aparentemente ela podia ver através de mim.

Mexendo no canudo, olhei para o copo vazio. — Ele se


preocupa comigo. Eu também me importo com ele. Não é
apenas luxúria. Por tantos anos, ele foi uma grande parte da
minha vida. Passou muito tempo com nossa família. Quando
seu time perdia um jogo de futebol, ele lamentava conosco na
mesa de jantar. Tive um lugar na primeira fila para muitos
momentos importantes da sua vida, como quando ele e Nathan
foram ao baile e se formaram no ensino médio. Eu o vi crescer.
— Fechei meus olhos. — E é claro, como disse antes, ele estava
lá quando meus pais morreram. Ele estava com eles, porque
estava trabalhando para meu pai naquele verão.

Kellianne balançou a cabeça. — Isso é tão louco.

— Sim. Ele não fala sobre isso. E não o culpo. — Soltei


um longo suspiro. — Não posso imaginar como isso foi
traumático. Dói até pensar nisso. — Enxugando uma lágrima,
disse: — Ok, precisamos passar para outro assunto, agora.

Kellianne bateu palmas. — Está bem então. Sei sobre o


que podemos conversar. O que tenho que fazer para que você
vá lá hoje à noite e confesse sua paixão secreta pelo melhor
amigo do seu irmão?

Essa não era a mudança de assunto que eu esperava.

— Descobrir como fazer os porcos voarem?


Capítulo 2

Em nossa casa, cada um lavava sua própria roupa.


Guardávamos nossa lavadora e secadora em um canto da
garagem, já que não tínhamos uma lavanderia separada. Cerca
de uma vez por semana, eu lavava minhas roupas depois de
voltar do trabalho, o que era antes de Nathan ou Jace
chegarem em casa.

Numa dessas tardes, carreguei meus itens em uma cesta


para a garagem e notei uma pilha de roupas de Jace em uma
sacola de lona ao lado da máquina de lavar. Reconheci a
camisa vermelha em cima como a que ele usava ontem. Ele
tinha um cheiro incrível enquanto estava sentado à minha
frente na mesa. Tinha que cheirar tão bem hoje.

Num impulso, peguei a camisa e levantei-a até o nariz,


mantendo-a sobre o rosto enquanto respirei profundamente
por vários segundos. Inalar a colônia terrosa misturada com
um perfume delicioso que era tudo que Jace era uma doce
tortura. Isso tornou fácil imaginar como seria tê-lo contra mim.
Fechando meus olhos, esfreguei meu rosto contra o material
macio, fingindo que ele estava dentro dele. Isso era o mais
perto que eu poderia chegar, então me permiti aproveitar.

— Que diabos você está fazendo? — Uma voz rouca


exigiu.

Meu coração quase parou. A camisa caiu no chão quando


levantei meu queixo para encontrar o olhar incendiário de
Jace. Ele aparentemente entrou na garagem pela porta lateral
enquanto eu estava imersa em minha fantasia olfativa.

Fingindo calma, eu disse: — Oh... oi. Você está em casa.

— Sim. Tive que levar meu pai a uma consulta, então saí
do trabalho mais cedo. É... isso que você faz quando não
estamos aqui? Cheira a roupa suja?

Sua expressão confusa continha uma mistura de raiva e


diversão.

Tirei a desculpa mais insana da minha bunda. — Tenho


esse... estranho hábito de cheirar coisas que não são minhas.
Mais ou menos como... uma compulsão.

Meu coração batia forte com a palavra mentirosa...


mentirosa... mentirosa repetidamente.

— Então você decidiu cheirar minha camisa entre todas


aqui?

Engoli em seco. — Sim, acho. Era vermelho brilhante,


chamou minha atenção. Sem mencionar que sua colônia é...
boa.
Ele deu uma risadinha. — Você é estranha, Farrah.

— Nunca aleguei não ser.

Sua sobrancelha se ergueu. — Como o cheiro era


diferente?

Soltando uma respiração instável, balancei a cabeça. —


Bom. Sem odores estranhos ou qualquer coisa – ao contrário
das camisas de Nathan. Seu cheiro é de tacos.

Jace riu. — Acho que se estou em dúvida sobre jogar algo


na roupa, devo consultá-la de agora em diante?

— Poderia ter sido pior, certo? Eu poderia estar, tipo,


cheirando sua cueca ou algo assim. Não sou essa estranha. —
Bufei e fechei os olhos de vergonha.

— Bem, porra, obrigado por isso. — Depois de uma pausa


constrangedora, ele disse: — Vou... deixar você voltar ao que
estava fazendo, seja lá o que for.

Saudando-o, sorri. — Obrigada.

Depois que ele saiu, me virei e soltei um grito silencioso


de horror.

Depois de colocar minhas roupas na máquina de lavar,


decidi dar uma volta no quarteirão para queimar um pouco de
energia nervosa e evitar ter que enfrentá-lo lá dentro tão cedo.
Quanto mais tempo passar, melhor.
Depois de dar a volta no quarteirão, fui em direção ao
meu quintal, planejando colher um abacate de nossa árvore.
Quando passei pela lateral da casa, avistei Jace pela janela de
seu quarto. O suor brilhava em suas costas enquanto ele fazia
exercícios. Como ele não estava de frente para mim, parei por
um momento para admirar seu físico. Ondulações lindas de
músculos esculpidos. Bunda redonda e dura. Pele
perfeitamente bronzeada. Jace sempre teve um corpo bonito,
mas aos vinte e sete anos, estava na melhor forma de sua vida.

Uma corrente de água emergiu de repente sob meus pés.


Se ao menos o choque não tivesse me feito gritar. Se apenas.
Se ao menos Jace não tivesse se virado para me encontrar
parada ali, parecendo uma idiota, uma idiota encharcada que
nem percebeu que Nathan tinha instalado um novo sprinkler
neste lado da nossa grama.

Jace correu para a janela e a abriu. — Que diabos está


fazendo? Você está molhada?

Hum… Nem vou chegar lá com isso.

Cobrindo meu peito encharcado, disse: — Está tão...


quente hoje. Pensei em deixar a água correr por mim um
pouco.

— Pensei ter ouvido você gritar.

— Não esperava que estivesse tão frio.

Ele apertou os olhos. — Você está bem, Farrah? Você


parece desligada hoje.
— Sim, claro que estou bem. — Eu ri nervosamente
quando ele continuou a olhar para mim. — Estou bem. Juro.

— Você sabe que pode me dizer se algo estiver


acontecendo, certo?

— Sim. — Balancei a cabeça vigorosamente.

— Ok. — Seus olhos demoraram por um momento. Então


ele fechou a janela e voltou a seus pesos.

É 4 da tarde, muito cedo para vodca?

Na noite seguinte, Nathan e eu agendamos uma noite de


cinema em família. Ele de alguma forma obrigou Jace a ficar e
se juntar a nós. Nosso único item obrigatório na noite de
cinema era sorvete, e uma vez que meu carro ainda estava no
Rusty's e Nathan ainda estava no trabalho, Jace me levou ao
mercado para comprar alguns.

A viagem até o supermercado foi um pouco tensa.


Presumi que talvez Jace estivesse quieto porque ainda poderia
estar pensando em mim cheirando sua camisa, ou no incidente
com o sprinkler do lado fora de sua janela ontem. Talvez eu
tenha presumido isso porque ser pega duas vezes no ato de
estupidez era tudo que conseguia pensar.
Quando chegamos ao corredor do freezer do
supermercado, peguei um recipiente de Rocky Road e cheirei.
Você sabe... para despistá-lo.

Um olhar de horror cruzou o rosto de Jace. — Você está


fazendo isso de novo.

— Você me pegou. Vê? Disse que gosto de cheirar coisas,


— menti. — Se você respirar forte o suficiente, poderá sentir o
sabor.

Ele balançou a cabeça e riu. — É você, não é?

— Eu o que?

— Essa pessoa capturou a filmagem da câmera da loja,


abrindo as embalagens de sorvete, provando o que havia
dentro e colocando-as de volta. Eles estão procurando por
você, você sabe.

— Culpada. — brinquei. — Na verdade, acho isso super


grosseiro. Eu nunca faria isso.

Continuei a mexer nos recipientes, cheirando os vários


sabores como uma idiota. — Lamento se estou demorando
muito, — eu disse. — Esta é sempre uma grande decisão para
mim.

Depois de mais alguns minutos, Jace se aproximou de


mim. — Vou acabar com sua miséria. — Um sopro de seu
cheiro dominou qualquer outra coisa que eu poderia ter fingido
cheirar. — Não há sabor melhor do que massa de biscoito. —
Ele jogou um pote no carrinho. — Feito.

— Discordo, mas tudo bem. Se você sente isso fortemente,


iremos com isso.

Fomos ao caixa e os olhos da caixa dançaram sobre Jace.


Essa foi uma reação típica. Garotas mais jovens e mulheres
mais velhas o examinavam constantemente. Foi engraçado,
porque as pessoas provavelmente presumiram que eu era sua
namorada. Isso certamente não as impediu de olhar.

Antes de sairmos, dei à caixa um sorriso malicioso que


dizia, sim, olhe o que é meu e não o seu. Mesmo que isso fosse
o mais longe da verdade, me deu uma sensação de prazer.

Pulamos de volta para dentro da caminhonete de Jace,


que mais uma vez cheirava divino.

— Coloque o cinto de segurança.

Estive muito ocupada olhando para suas mãos grandes


enquanto elas se enrolavam no volante.

— Obrigada por me lembrar.

— Por que sempre tenho que te lembrar? Deve ser uma


segunda natureza.

Porque você me distrai. — Desculpe, mandão. Vou tentar


me lembrar da próxima vez. — Coloquei o cinto no lugar e me
acomodei. — Oh, esqueci de dizer que alguém veio vê-lo hoje.
Ele saiu do estacionamento. — Quem?

— O nome dele era James... Moore? Ele disse que enviaria


uma mensagem de texto para você, então presumo que você
tenha falado com ele?

Ele elevou seu tom. — James Moore?

— Sim. Ele também não parecia muito amigável.

Jace bateu no volante. — Porra. Ele está procurando o


dinheiro que a empresa lhe deve por um trabalho de
pavimentação que fez para nós. Ele não tem paciência. Ele não
tinha nada que vir para casa.

— Não foi grande coisa. Disse que você não estava em


casa, e ele foi embora imediatamente.

— Não gosto da ideia de ele entrar em contato com você.


O mesmo vale para muitos dos caras que trabalham para nós.
O que você estava fazendo abrindo a porta, afinal?

Jace provavelmente estava certo em estar um pouco


alarmado, mas isso parecia uma reação exagerada. — É minha
casa. Por que eu não abriria a porta? Não é como se eu fosse
uma criança sozinha em casa depois da escola.

— Não, mas você é uma mulher atraente que poderia


desencadear o tipo errado de cara, alguém que está em busca
de vingança. Você não seria capaz de afastá-lo. Isso não tem
nada a ver com a idade. Não me importo quantos anos você
tem. Você nunca deve abrir a porta para falar com ninguém se
estiver sozinha.

Mulher atraente.

Ele me chamou de mulher atraente, e eu basicamente não


ouvi mais nada depois disso. Essa foi a primeira indicação que
ele deu de que me achava atraente.

— Vou tentar ser mais cuidadosa.

— Você precisa, Farrah. Existem muitas pessoas más


neste mundo. Se alguém bater à sua porta e você não
reconhecer, deixe-o sair. Não há nada importante o suficiente
para arriscar sua segurança. — Ele soltou um suspiro
exasperado. — Nem sei como diabos ele conseguiu nosso
endereço. Não listo em lugar nenhum.

Jace continuou xingando baixinho.

— Você fez o seu ponto. Não atenderei a porta quando


estiver sozinha, a menos que seja uma escoteira vendendo
biscoitos ou algo assim.

— Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com você.


— Ele murmurou.

Senti essas palavras no fundo do meu coração.


— O que finalmente decidimos? — Perguntei.

Nathan estava usando meu telefone para examinar as


opções de filme para esta noite. — É uma disputa entre o filme
de Pete Davidson ou aquele com The Rock. — Disse ele antes
de jogar o telefone no balcão. — A propósito, Farrah, por que
em nome de Deus você estava pesquisando 'vagina vibrante' no
Google?

Meu rosto congelou. Merda. Não devo ter fechado aquela


janela.

Os olhos de Jace se arregalaram enquanto ele erguia os


olhos de seu laptop.

Qualquer desculpa que pudesse ter invocado


provavelmente soaria mais estranha do que a verdade. Então
decidi ser honesta. — Tive um sintoma estranho esta manhã.
Parecia que meu celular estava explodindo na minha calcinha
– como se estivesse vibrando. Acho que foi uma contração
muscular. Eu estava preocupada que fosse algum tipo de
problema neurológico. Aparentemente, não sou a única pessoa
no mundo que tem isso. Uma garota na Índia postou a mesma
coisa.

Nathan inclinou a cabeça para trás rindo. — Vocês


concordaram em ligar uma para a outra algum dia?

Olhei para ele.

Ele continuou a provocar, rindo ainda mais. — Sério,


porém, quando toca, você atende?
Jace balançou a cabeça. — Deixe-a em paz, idiota. Você
não deveria estar olhando para o histórico de pesquisa dela.

— Eu não esperava ver essa merda! Estava na tela


quando peguei o telefone para procurar por um maldito filme.

— Imagine se ela procurasse seu histórico, todas as


merdas que ela encontraria. E então te questionasse?

— Isso definitivamente não seria uma coisa boa. —


Nathan riu.

Felizmente, Nathan mudou de assunto e comecei a me


ocupar preparando a sobremesa. Esses últimos dias foram
repletos de momentos embaraçosos.

Abrindo o recipiente de sorvete de massa de biscoito,


decidi deixá-lo descansar um pouco para que pudesse
amolecer. Depois de pegar três tigelas, vasculhei a gaveta de
talheres.

Então a campainha tocou.

Virei-me para Nathan. — Você está esperando alguém?

— É Linnea. Convidei-a para se juntar a nós, — Jace


disse, indo para a porta.

Meu coração afundou. Excelente. Até agora, ele não a


trouxe para a casa. Esperava que continuasse assim.

— Você sabia que ele a convidou? — Perguntei.


— Sim. — Nathan pegou uma das colheres e comeu o
sorvete. — Qual é o problema? É a casa dele também.

— Isso é coisa de família. Não gosto de deixar estranhos


entrarem.

— Bem, ela dificilmente é uma estranha para ele. — Ele


franziu as sobrancelhas.

Não consegui revirar os olhos o suficiente.

Alguns segundos depois, Jace e Linnea entraram na


cozinha.

— Linnea, você já conheceu Nathan uma vez, mas acho


que não conhece a irmãzinha dele, Farrah.

Ai.

Irmãzinha.

Morda-me.

Ela me olhou de cima a baixo e tirou o cabelo ruivo do


ombro. — Prazer em conhecê-la. Farrah é um nome tão bonito.
Sua mãe deve ter gostado de Charlie´s Angels4.

— Por quê?

— Farrah... Fawcett? A atriz? Ela era um dos anjos de


Charlie. Era um programa de TV anos atrás. Ela é icônica. Ela
está morta agora, infelizmente.

4 Referência a série/filmes As Panteras.


— Oh. — Eu sabia sobre a atriz. Também sabia que
minha mãe pensou nela ao me nomear. Mas tinha esquecido o
nome do programa em que ela estava.

Jace deu um sorriso malicioso. — Meu pai costumava ter


um pôster vintage de Farrah Fawcett pendurado em nossa
garagem. Foi definitivamente uma das minhas primeiras peças
de... material.

Material? Levei alguns segundos. Oh.

E agora eu estava com ciúmes de uma atriz morta porque


Jace tinha usado a foto dela?

— Lembro-me daquele pôster! — Nathan riu. — Ela era


tão gostosa.

— Aquela vez em que nos conhecemos, Nathan, — Linnea


disse, — Não acho que percebi que você e Jace cresceram
juntos.

Nathan suspirou exageradamente. — Sim. Estive preso a


esse cara minha vida inteira.

— Isso é tão bom. É raro ter amizades duradouras. — Ela


se virou para mim. — Você é muito mais jovem do que eles,
certo? Você está no ensino médio?

Não, ela não disse isso.

Jace riu baixinho.

— Ensino médio? Não. Tenho vinte e um.


— Oh. Desculpe. Foi mal. Você parece mais jovem.

Tanto para se vestir de forma provocante para parecer


mais velha. Mas parecia que essa garota estava procurando
maneiras de me insultar.

— E você tem trinta? — Perguntei, inclinando minha


cabeça para o lado.

A expressão dela diminuiu. — Vinte e seis.

— Ah.

Jace desapareceu no banheiro fora da cozinha, deixando


Nathan e eu sozinhos com Linnea.

Ela se sentou em um dos bancos perto da pequena ilha


central. — Você faz faculdade por aqui?

Realmente não era da conta dela, mas expliquei de


qualquer maneira. — Fiz aulas no Palm Creek Community
College por um tempo, mas estou fazendo uma pausa no
momento. Espero me inscrever em algum lugar no próximo
ano. Não quero perder tempo até ter certeza em que quero me
formar. Inclinando-me para a educação.

— Você deveria ensinar inglês, — Jace disse atrás de mim


quando saiu do banheiro.

— Por que você diz isso?

— Porque você disse que gosta de escrever. Pode ser uma


matéria que você gostaria de ensinar.
Concordei. — Está definitivamente na minha lista curta.
Embora, se vou dar aulas algum dia, acho melhor superar meu
medo de falar em público.

Linnea assentiu. — Oh... odeio ficar na frente de uma


multidão.

Ninguém te perguntou, mas tudo bem.

Vendo que agora tínhamos outra boca para alimentar


esta noite, imaginei que tentaria ser cordial, mesmo que tê-la
aqui me irritasse. Fui até o armário. — Estamos tomando
sorvete. Você quer algum?

— Adoraria. — Ela respondeu.

Quase desejei que ela tivesse recusado “porque estava de


dieta” para que pudesse odiá-la ainda mais.

Depois de distribuir uma quantidade igual de sorvete de


massa de biscoito em cada tigela, peguei a minha e deixei as
outras no balcão.

Fui a primeira a me aventurar na sala de estar, me


jogando no sofá e selecionando as opções de vídeo sob
demanda. Nathan se sentou na espreguiçadeira, o que
significava que os únicos lugares para Jace e Linnea eram no
sofá ao meu lado. Mudei quando eles se aproximaram. Para
minha alegria, Jace se sentou ao meu lado. Ponto positivo?
Pelo menos com três pessoas no sofá, fui forçada a sentar mais
perto dele do que faria se fôssemos apenas nós dois.
Decidimos assistir ao filme de Pete Davidson, e todos
pareciam gostar. Foi ambientado em Staten Island, Nova York.
Amo qualquer filme ambientado na cidade de Nova York ou nos
arredores. Um dos meus sonhos tinha sido morar lá, mesmo
que apenas por alguns anos, para experimentar algo que era o
oposto da Flórida.

Em um ponto no meio do filme, Jace se levantou e


agarrou a tigela vazia de Linnea, empilhando-a sobre a dele.
Ele estendeu a mão para mim e lhe entreguei minha tigela
também. Ele era prestativo assim às vezes. Jace não se
incomodou em pegar a tigela de Nathan, entretanto, que estava
no chão ao lado dos pés do meu irmão.

Jace voltou segurando duas garrafas de cerveja e


entregou uma para a Linnea. Desta vez, quando se sentou,
estava muito mais perto do meu lado do que antes. Na verdade,
praticamente podia sentir o calor emanando de seu corpo. Os
finos pelos loiros das minhas pernas ficaram em posição de
sentido. Se eu movesse minha coxa apenas alguns centímetros
em sua direção, minha perna ficaria contra a dele.

Então, cerca de meia hora depois, Jace esticou a perna.


Seu joelho agora estava roçando minha coxa. Não ousei me
mover. Em vez disso, gostei da sensação de seu joelho duro
através do jeans. Isso estava bem, disse a mim mesma, já que
foi ele quem mudou em minha direção.

De onde ela estava sentada do outro lado, não tinha


certeza se Linnea tinha notado que minha perna estava
tocando a de Jace. Foi uma coincidência quando ela
reposicionou seu corpo para ficar mais perto dele? Talvez fosse
mais corajosa do que pensava, porque assim que ela fez isso,
fiz o mesmo – movi apenas um fio de cabelo mais perto, para
que um pouco mais da minha perna pressionasse contra a
dele. Se ele não tinha percebido que nossas pernas estavam se
tocando antes, não havia como não saber agora. No entanto,
não se afastou de mim.

O fato de ele ter ficado parado provavelmente não


significava nada. Mas ainda... Ele ficou na mesma posição por
dez minutos inteiros. Tentar descobrir o que isso significava
provavelmente me consumiria mais tarde, mas por enquanto,
fingi assistir ao filme, fingi que meu corpo inteiro não estava
pegando fogo.

Depois que o filme terminou, Jace pegou suas chaves. —


Pronta para partir?

Linnea espreguiçou-se e bocejou. — Sim.

— Você vai voltar esta noite? — Nathan perguntou.

— Nah. Provavelmente vou dormir na casa dela.

Engoli o nó na minha garganta.

Linnea disse adeus, mas Jace não fez contato visual


comigo antes de partir. Minha mente delirante começou a criar
uma história na qual ele se sentia culpado por gostar do
contato com minha perna.
Acho que deveria ter ficado feliz por ele ter ido à casa dela.
A última coisa que queria era ouvir alguma coisa acontecendo
em seu quarto. Mas a noite toda, a memória da perna de Jace
pressionada contra a minha continuou a me atormentar. E não
conseguia parar de pensar no que ele poderia estar fazendo
com Linnea. Ela tem que se deitar ao lado dele, para ser
abraçada. Tão atraída por Jace quanto eu estava, se tivesse a
escolha entre fazer sexo com ele uma vez ou apenas ficar
abraçada a noite toda, não tinha certeza de qual escolheria.

Ok. O sexo provavelmente venceria.

Dormi com duas pessoas na minha vida, mas nenhuma


era alguém com quem eu realmente me importasse. Talvez seja
por isso que nunca fantasiei em ser abraçada por nenhum
deles. Minha primeira vez foi com meu par do baile no meu
primeiro ano do ensino médio. Foi uma experiência miserável
e dolorosa, e nunca mais saímos depois disso. A segunda
pessoa com quem dormi foi meu único namorado sério,
Jordan. Tínhamos terminado há alguns anos, quando ele
conseguiu uma bolsa de estudos para uma faculdade de fora
do estado. Eu não poderia culpá-lo por ir embora, mas doeu
da mesma forma.

Meus pensamentos voltaram para Jace, e me revirei a


noite toda – meu corpo ainda estava em chamas.
Capítulo 3

A próxima vez que encontrei Jace foi alguns dias depois.


Ainda não era tarde, então fiquei surpresa ao vê-lo em casa tão
cedo do trabalho.

Ele tinha a cabeça entre as mãos enquanto olhava para a


mesa da cozinha.

Algo está errado. — Ei. — Eeu disse.

Ele olhou para cima, seus olhos cansados. — Ei.

Não conseguia me lembrar da última vez em que ele


parecia tão deprimido. Meu coração afundou. — Você está
bem?

Ele balançou sua cabeça. — Não.

Puxei uma cadeira e me sentei em frente a ele. — O que


está errado?

Jace soltou um longo suspiro exasperado que senti na


minha pele do outro lado da mesa. — É relacionado ao
trabalho.
— Bem, às vezes conversar sobre isso ajuda.

Ele riu com raiva. — Este não é um problema que


conversar vai resolver, infelizmente.

— Por que não?

— Porque preciso de cem mil dólares. Podemos conversar


sobre o nosso caminho para esse tipo de dinheiro?

Meu queixo caiu, mas me contive e fechei, tentando não


o assustar ainda mais. — Provavelmente não. — Eu disse.

Ele deu uma risadinha.

— Mas tudo bem, Jace. Vamos pensar sobre isso. —


Pausei. — Primeiro... tente ser positivo.

Seus olhos se arregalaram. — Oh sim? Então, se eu


acreditar nisso o bastante vai fazer o dinheiro aparecer
magicamente?

— Coisas mais loucas aconteceram. — Suspirei. —


Sério... o que está acontecendo? Por que você precisa dessa
soma de dinheiro?

Ele balançou as pernas nervosamente. — Você se lembra


de quando aquele cara, James Moore, veio em busca de
dinheiro que devíamos a ele?

— Sim.

— Bem, aparentemente isso era parte de um problema


maior do qual só recentemente tomei conhecimento.
— Que problema?

— Acho que James quer esse dinheiro há muito mais


tempo do que fui levado a acreditar. Meu pai deixou de fazer o
pagamento de várias das pessoas que ele contratou para
trabalhar para Muldoon.

— Por que ele não os pagou? Achei que a empresa estava


indo bem.

— Bem, essa é a pior parte. Os negócios vão bem. Mas,


aparentemente, papai tem um problema com o jogo. Ele gastou
o dinheiro que deveria ser usado para pagar a vários
fornecedores.

Fechei meus olhos. — Merda.

— Não foi para isso que me inscrevi quando concordei em


dirigir a empresa enquanto meu pai se tratava. Não tenho ideia
de como devo corrigir isso. O velho nunca me falou sobre isso.
Um aviso teria sido bom. Agora tenho um monte de caras
suspeitos na minha bunda por causa do que ele fez.

— Existe uma maneira de explicar a situação para


aqueles que devem dinheiro? Talvez concorde em pagar de
volta com juros ao longo do tempo?

— Não cheguei tão longe. — Ele balançou sua cabeça. —


Mas sei que há muito mais pessoas zangadas comigo e com
meu pai do que eu imaginava. Sem mencionar que, uma vez
que se espalhe que não estamos pagando as pessoas, ninguém
vai querer trabalhar para nós. Nunca seremos capazes de
atender à demanda sem ninguém para fazer o trabalho.

Minha imaginação disparou. Alguém tentaria prejudicar


Jace se ele não pudesse arranjar o dinheiro?

Tentei tirar isso da cabeça. — Sinto muito. Sei que pode


parecer impossível, mas as coisas têm um jeito de se resolver.
Você tem que ter fé. Agora que você sabe disso, pode descobrir
uma solução. — Fiz uma careta. — Sei que esse conselho não
é muito específico. Eu só quero fazer você se sentir melhor.

Sua boca se espalhou em um sorriso relutante e meu


coração doeu um pouco.

— Não, você é boa. — Ele esfregou as têmporas. —


Obrigado por tentar. Não é seu trabalho me fazer sentir melhor.
Você estava certa. Dizer para você aliviou um pouco a carga,
mesmo que não mude nada. Então, obrigado por ouvir.

Concordei. — Você já superou obstáculos antes. Mesmo


que este possa parecer insolúvel, você vai superar isso
também. — Eu sorri. — Afinal, estamos falando do mesmo cara
que conseguiu levar seu time à vitória naquele jogo do Pee Wee
depois de cinco derrotas consecutivas, o cara que obteve a
maior pontuação na final de Álgebra Dois após um D no teste
anterior. O cara que aprendeu código Morse sozinho em um
desafio...

Ele balançou sua cabeça. — Como diabos você se lembra


de tudo isso?
Opa. Esta seria a parte da nossa conversa em que admito
minha história como um conhecedor secreto de Jace. — Eu...
sempre admirei você e Nathan. Prestei muita atenção, ouvi
todas as conversas na mesa de jantar – observei e aprendi.
Você estava muito ocupado sendo popular e detonando no
futebol para perceber minha cara de aparelho naquela época.

— Bem... — Ele sorriu. — Lembro-me de um certo resgate


de gatos de quintal.

Uau. — Não acredito que você se lembra disso.

— Nathan e eu voltamos para casa para encontrar sua


bunda pendurada para salvar sua vida enquanto você tentava
abaixá-la. — Ele deu uma risadinha. — Você era doce então, e
ainda é doce agora. Vejo como você vai dar uma olhada naquele
garoto da porta ao lado. Você ainda é a garota gentil que
sempre foi. — Ele olhou nos meus olhos. — Também vejo você
fazendo cara de corajosa todos os dias, mas sei que sua vida
não tem sido fácil. Você foi forçada a crescer muito mais rápido
do que deveria.

Este foi o mais sincero que Jace já tinha sido.

Dei de ombros. — Você está certo. Ela não tem sido fácil.
Mas tenho sorte. Pelo menos eu tenho Nathan.

— Ele tem sorte de ter você.

Fiz uma pausa, mas finalmente fui em frente. — E eu


tenho você agora também. Estou feliz por você estar aqui.
Após vários segundos de silêncio, ele disse: — Estou feliz
por estar aqui também.

Meu coração disparou. — Faça o que fizer, nunca acredite


que é impossível arranjar esse dinheiro, Jace. Tenho lido este
livro. Ele fala sobre o poder do pensamento positivo. Mesmo
que pareça loucura, você tem que acreditar que pode corrigir
essa situação. Isso ajudará a manifestá-lo.

Ele deu uma risadinha. — Manifestar? Você quer que eu


acredite que algum hocus pocus5 vai resolver essa bagunça
que meu pai causou?

— Prometo a você, manifestar não é bruxaria nem nada.


É mais como visualização. Qual é a alternativa? Sentindo-se
sem esperança? A energia negativa vai atrapalhar as coisas.
Você tem que imaginar um resultado positivo e realmente
acreditar nele. Isso é manifestar-se.

— E o que exatamente você tem manifestado


ultimamente? — Ele perguntou.

Atualmente estou manifestando você. Difícil. — Estou


trabalhando em algumas coisas.

— Oh sim? Como vai isso?

— Está indo. — Corei.

Ele parecia querer dizer algo, mas permaneceu em


silêncio. — Tenho outra memória de você, na verdade. — Ele

5 É como ´´abracadabra`` em português, relacionado à mágica.


finalmente disse. — Algo que eu nunca vou esquecer. Não sei
se você vai se lembrar deste. Você era muito jovem.

Inclinei minha cabeça. — E qual é?

Ele olhou para suas mãos. — Você sabe que eu


costumava ter um problema de gagueira quando era criança...

— Lembro-me vagamente disso, sim.

— Quando conheci você e Nathan, meus pais havia


pagado pela terapia da fala, mas a gagueira ainda saía quando
eu estava nervoso ou estressado. Enfim... acho que tinha, tipo,
quatorze anos. Nathan e eu tivemos problemas com seus pais
por quebrar uma das janelas. Foi minha culpa. Joguei a bola
que quebrou o vidro. — Sua boca se curvou em um leve sorriso.
— Seu pai estava tão chateado. Eu estava tentando me explicar
e não conseguia pronunciar as palavras sem gaguejar. Isso me
assustou. Corri para o quintal no meio de uma conversa e você
veio atrás de mim. Você devia ter uns oito anos, mas era muito
perceptiva. Você de alguma forma sabia por que eu escapei.
Disse a coisa mais fofa para mim.

— O que foi isso?

— Você disse: 'Não se preocupe. Porky Pig6 é meu


personagem favorito do Looney Tunes.'

Ai meu Deus. — Por que ele gagueja? — Eu ri. — Não me


lembro de ter dito isso, mas ainda mantenho isso. Ele sempre

6 Personagem Gaguinho do Looney Tunes.


foi meu favorito. Honestamente, provavelmente era por causa
de sua gagueira. Isso deu a ele caráter.

— O que você disse me acalmou naquele dia. Voltei para


dentro e me expliquei para seus pais. Ainda estava gaguejando,
mas consegui superar. Ninguém mais pareceu perceber por
que eu tinha ido embora. — Jace deu um sorriso lindo. — De
qualquer forma, quando olho em seus olhos, ainda vejo aquela
doce menina às vezes. Mesmo que você esteja longe de ser uma
garotinha.

Senti-me quente por inteiro – não tenho certeza se era


porque ele me chamou de doce ou reconheceu que cresci.

Ele de repente se levantou e caminhou até o armário de


lanches, abrindo-o e examinando a seleção. Passou a mão pelo
cabelo escuro antes de fechar o armário. Então ele se virou e
disse: — De qualquer forma, obrigado pela conversa.

— A qualquer momento.

Estava quase indo para o meu quarto quando ele me


parou. — Você tem planos para o jantar?

— Não.

— A que horas Nathan volta esta noite?

— Ele disse que chegará tarde. Tinha uma entrevista de


emprego esta tarde, e então iria ver uma garota que conheceu
on-line. Ela mora a cerca de duas horas de distância. É uma
longa viagem. Espero que ela valha a pena. — Bufei.
— Ah. Ok. É bom que ele esteja se mostrando. Eu estava
ficando preocupado. — Jace coçou o queixo antes de pegar as
chaves. — Estou com vontade de comer algo do Checkers. Você
gostaria de algo de lá?

Meu estômago roncou. — Isso soa bem. — Fui até minha


bolsa no balcão. — Deixe-me pegar algum dinheiro.

Ele estendeu a mão. — Não, não, não. Por minha conta.

— Você precisa chegar a cem mil. Não vou deixar você


cobrir meu jantar.

— Eu vou viver. Guarde isso. O que você quer?

Abri o menu on-line no meu telefone. — Vou querer um


sanduíche de frango Mother Cruncher e uma Coca Diet.

— É isso? Sem batatas fritas?

— Não. Vou roubar algumas suas.

— Vou pegar a sua própria. — Ele piscou. — Volto já.

Fiquei perto da janela, observando-o se afastar. Não sabia


o que fazer comigo mesma. Desde que ele se mudou, Jace e eu
não tínhamos jantado juntos sem Nathan. Avisei a mim mesma
para não ficar muito animada. Por tudo que sabia, Jace levaria
sua comida para seu quarto e comeria sozinho. Não era como
se ele tivesse me convidado para um encontro. Apenas
perguntou se eu queria algo de uma lanchonete já que ele
estava indo para lá de qualquer maneira.
Era um dia quente, então enquanto esperava, me
aventurei no meu quarto e coloquei um biquíni.
Independentemente de Jace querer se juntar a mim para
jantar, decidi que comeria na mesa ao lado da nossa piscina
após meu mergulho. Peguei uma toalha e coloquei em uma das
espreguiçadeiras em nossa área da piscina protegida. Era
realmente a parte mais bonita da nossa casa. Cercado por
palmeiras arejadas, era como estar do lado de fora – sem os
mosquitos ou a chuva de repente caia. Foi o melhor dos dois
mundos: estar fora e dentro.

Mergulhei na piscina e comecei a nadar, uma das minhas


formas favoritas de gastar energia nervosa. Devo ter perdido a
noção do tempo porque quando finalmente emergi da água,
tirando o cabelo molhado do meu rosto, olhei para cima para
encontrar Jace parado na beira da piscina. Há quanto tempo
ele está me observando nadar?

— Ei. — Torci um pouco da água do meu cabelo. — Não


percebi que você estava de volta.

— Acabei de chegar aqui.

Subi a escada. Estranhamente, me senti um pouco


constrangida e imediatamente me aproximei para enrolar
minha toalha em volta de mim. Eu gostava de tentar parecer
sexy perto de Jace, mas esta era a minha primeira vez sem um
maiô. E estar de biquíni era basicamente como usar calcinha
e sutiã. Como estava ousada com minhas escolhas de roupas
ultimamente, fiquei surpresa ao descobrir que não estava tão
ousada.

Jace tinha colocado a comida na mesa onde eu planejava


comer. Acho que ele decidiu se juntar a mim aqui.

— Obrigada novamente. Estou faminta. Nadar sempre me


deixa com fome.

— Sim. Parece que você abriu o apetite.

— Eu amo nadar. Aquela piscina me vendeu esta casa


quando Nathan e eu estávamos procurando.

— Está quente pra caralho hoje. Eu mesmo posso ir mais


tarde.

Puxei minha cadeira. — Você deve. Não vi você nadar


nenhuma vez desde que chegou aqui.

Jace e eu abrimos nossos sanduíches e começamos a


comer.

Fui para a cozinha para pegar ketchup extra e, quando


voltei, os olhos de Jace se arregalaram enquanto me observava
derramar a coisa vermelha sobre minha pilha de batatas fritas
até que estivessem totalmente cobertas.

— Quer algumas batatas fritas com esse ketchup? — Ele


brincou.

— Coloco em tudo. Eu amo ketchup.

— Posso ver isso.


Espiei seu hambúrguer. — O que você pegou?

— Um hambúrguer jalapeño. Quer morder?

— Certo. — Não ia recusar colocar minha boca onde a


dele tinha estado. Além disso, parecia bom.

Inclinei-me quando ele estendeu a mão sobre a mesa e


me ofereceu uma amostra. Uma das pimentas caiu no meu
peito perto de onde a toalha estava enrolada no topo do meu
biquíni. Não querendo parecer gulosa, dei apenas uma
pequena mordida e mastiguei, lambendo o canto da boca. —
Mmm... é muito bom.

Jace observou enquanto eu pegava a pimenta de mim


mesma e colocava em minha boca.

Quando meus olhos encontraram os dele, ele


rapidamente olhou para seu sanduíche antes de se levantar de
sua cadeira.

O que é isso?

— Vou pegar uma cerveja, — ele disse. — Você quer algo?

— Vou tomar uma cerveja também.

Ele deu uma risadinha. — É ruim que tive que pensar por
um segundo se você é legal para beber? Parece errado dar-lhe
álcool, por algum motivo.

— Você me deixou no maldito bar! Como você pode pensar


isso?
— Eu sei. É uma merda. — Ele riu enquanto caminhava
de costas para a casa. — Volto logo.

Um minuto depois, Jace voltou com duas garrafas


geladas de Miller Lite. Ele abriu uma e me entregou.

— Obrigada. — Tomei um longo gole que foi ótimo


descendo.

Acabamos com o resto da comida e, quando terminei a


cerveja, me senti bastante embriagada. Entre a brisa suave
soprando o cheiro de Jace em minha direção e o zumbido, eu
estava nas nuvens.

Jace se encarregou de limpar nossas embalagens e


guardanapos, enfiando tudo no saco de papel. Ao voltar para a
cozinha, perguntou: — Quer outra cerveja?

— Adoraria uma.

Quando ele voltou, colocou a garrafa na minha frente e se


sentou novamente. Colocou os pés em uma cadeira vazia e
inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos.

Ele suspirou. — Isso é exatamente o que eu precisava...


para relaxar em casa.

Isso me deixou feliz. — Dê um tempo para sua cabeça


esta noite. Você sempre pode se preocupar com o trabalho
amanhã.

— Sim. Acho que vou seguir seu conselho sobre isso.


Enquanto seus olhos estavam fechados, eu era capaz de
apreciar seu perfil – sua mandíbula forte e angular e queixo
levemente fendido, seu nariz perfeito e lábios adoráveis, a
forma como o sol realçava um tom avermelhado em seu cabelo
preto. Jace estava ainda mais bonito com o sol brilhando sobre
ele.

Finalmente fechei os olhos também, curtindo a brisa que


compensava um pouco o calor. Meus olhos abriram de repente
quando ouvi sua cadeira derrapar no cimento.

— Foda-se. — Ele se levantou. — Volto já.

Meu coração disparou um pouco. O que ele está fazendo?

Poucos minutos depois, Jace voltou em sua sunga. Era


azul com pequenas âncoras, um padrão náutico. Não que eu
estivesse olhando de perto para sua metade inferior ou algo
assim. Tinha acabado de começar a subir em seu peito quando
ele mergulhou na piscina, seu corpo lindo e duro
desaparecendo sob a água azul celeste.

Ele emergiu e balançou a cabeça para limpar a água de


seu cabelo. — Você vem ou o quê?

Tive arrepios. Não tinha planejado, mas não resisti ao


convite.

— Certo. — Levantei-me da cadeira e desembrulhei a


toalha.
Jace observou enquanto eu entrava na piscina. Mas o que
ele estava pensando?

Mergulhei e nadei em direção a ele, me sentindo mais


confortável em meu biquini agora que estava submersa na
água.

Ele deu um sorriso malicioso. — Quer competir?

Espirrei nele. — Por quê? Você acha que pode me vencer


só porque suas pernas são mais longas?

Ele ergueu uma sobrancelha. — Só há uma maneira de


descobrir, certo?

Ao longo dos próximos minutos, Jace e eu nadamos


juntos de uma extremidade da piscina à outra. Algumas vezes
ele venceu e em outras eu venci.

Eventualmente, começamos uma luta de água. A próxima


coisa que eu percebi, ele estava me perseguindo, então me
levantando e me jogando na água. Ele fez isso várias vezes. Em
muito tempo foi a coisa mais divertida que tive. Não tinha
nenhuma preocupação no mundo.

Então ele me levantou de novo, e tive certeza de que ele


iria me jogar na água, como todas as outras vezes. Em vez
disso, porém, ele apenas me segurou. Nossos olhos se
encontraram enquanto minhas pernas se enrolavam em sua
cintura. Ele teria que me largar, porque eu com certeza não
estava saindo de cima dele de boa vontade. Enquanto ele
continuava a me abraçar, o mundo parecia parar. Eu podia ver
o reflexo das palmeiras em seus olhos lindos, tornados
luminescentes pelo sol. Esses olhos então caíram para meus
lábios. Podia ver seu peito subindo e descendo. Ele engoliu em
seco. Puta merda. Algo estava acontecendo. Meu coração
estava batendo forte por minuto.

E então…

— O que você está fazendo?

Jace me largou como uma batata quente ao som da voz


de Nathan. Meu corpo atingiu a água com um forte respingo.

O que diabos ele está fazendo aqui? Minha voz estava


trêmula enquanto eu enxugava a água dos meus olhos. — O
que... por que você está em casa? Achei que você estava
dirigindo para conhecer aquela garota.

— Ela cancelou, então voltei depois da entrevista de


emprego. — Os olhos de Nathan viajaram entre Jace e eu. Ele
parecia desconfiado.

— Oh. — Exalei, movendo uma mecha de cabelo para fora


da minha boca. — Como... como foi a entrevista?

— Foi tudo bem. É muito difícil dizer se eles vão me ligar


de volta. — Ele olhou diretamente para Jace. — Vocês
pareciam estar se divertindo. Não percebi que estava perdendo
uma... festa na piscina.

Jace ficou em silêncio.


Senti a necessidade de intervir. — Jace decidiu dar seu
primeiro mergulho na piscina. Estávamos apenas brincando.

Nathan olhou entre nós novamente. — Entendo.

Jace finalmente falou. — Bem, está quente como o inferno


hoje. Então…

— Vocês vão sair se eu fizer o jantar? — Nathan


finalmente perguntou.

— Na verdade, já comemos, — eu disse a ele. — Jace foi


para o Checkers.

Nathan se virou para o amigo. — Desde quando você janta


tão cedo?

Jace pigarreou. — Eu estava faminto.

— Não pensamos que você estaria em casa, — eu disse.


— Caso contrário, teríamos te esperado.

— Ok então.

Jace saiu da água e se secou. Ele então se deitou em uma


das espreguiçadeiras, exibindo seu corpo lindo e bronzeado em
toda a sua glória brilhante. Seus pés ficaram pendurados na
ponta da cadeira.

Nathan estalou os dedos na frente do meu rosto. —


Perguntei se recebi alguma coisa pelo correio. Terra para
Farrah.
Jesus. Eu nem tinha ouvido ele da primeira vez. — Oh.
Não. Nada veio para você hoje.

— Merda. Estou esperando uma peça chegar para


consertar o chuveiro do banheiro principal.

— Que chatice. — Eu disse, ainda ansiosa para olhar para


Jace.

— Acho que é melhor eu pensar em algo para o jantar, se


vocês não vão comer comigo.

Quando Nathan desapareceu dentro de casa, o alívio


tomou conta de mim. Ao invés de colocar minha toalha de volta
ao meu redor, fui até onde Jace estava relaxado e me deitei na
cadeira ao lado dele.

— Como você está indo? — Perguntei.

Ele abriu os olhos e se virou para mim. — Bem. Você?

— Excelente. — Sorri.

— Quando estávamos nadando... — ele disse. — Isso


definitivamente tirou minha mente das coisas. Mas assim que
Nathan voltou para casa, toda a merda na minha cabeça
começou a me bater novamente.

— Nathan é um estraga prazer? — Eu ri. — É isso que


você está dizendo?

Ele riu. — Basicamente. Foi uma boa fuga enquanto


durou.
— Você vai contar a Nathan sobre o que está acontecendo
no trabalho?

— Sim, eventualmente. Mas não quero que ele se


preocupe. Ele tem muito o que fazer agora com a procura de
emprego e tudo. Então, se você não se importa, não mencione
o que falei sobre o dinheiro. Deixe-me contar pessoalmente,
ok?

Concordei. — Ok. Sem problemas. Não vou.

— Obrigado.

— Você... vai a Linnea hoje à noite?

Ele balançou sua cabeça. — Nah. Preciso de um tempo.

— Sim. Você tem passado muito tempo com ela. Embora,


você realmente não deva precisar de uma pausa de alguém tão
cedo em um relacionamento.

— Não é um relacionamento, — ele foi rápido em


esclarecer.

— Algo me diz que ela não vê as coisas dessa maneira.

— Bem, nunca prometi nada a ela. Não induzo as


pessoas. Não posso evitar se ela tirar a conclusão errada.

— Se você sai com alguém várias noites seguidas, eles vão


tirar certas conclusões, quer você defina alguma coisa ou não.
Sou uma garota. Sei como pensamos.

— Obrigado pelo lembrete de que você é uma menina.


Eu ri. — Espertinho.

— De qualquer forma... — Ele suspirou. — É por isso que


estou tirando uma noite de folga. Deve ser demais. E eu... não
estou pronto para isso.

Virei meu corpo um pouco mais em direção a ele. — Posso


te fazer uma pergunta pessoal?

— Depende da pergunta.

— Você acha que algum dia estará pronto para um


relacionamento sério? Ou você apenas se vê namorando
casualmente pelo resto de sua vida, mudando de uma garota
para a outra?

Ele suspirou. — Não posso responder isso.

— Por que você não tem certeza?

— Porque nunca quis estar apenas com uma mulher, mas


sinto que provavelmente há alguém lá fora que poderia me
fazer não querer mais ninguém. Simplesmente não encontrei
essa pessoa. Portanto, a resposta depende de algo sobre o qual
não tenho controle.

E agora eu estava incrivelmente ciumenta de alguma


mulher fictícia e perfeita que teria Jace só para ela um dia –
alguém que poderia fazer com que ele nunca precisasse de
mais ninguém. Ela provavelmente parecia uma jovem Farrah
Fawcett.

— Acho que é uma resposta justa.


Ele virou o jogo. — E você? Por que não tive que bater em
nenhum cara tentando vir por aqui ultimamente?

— Bem, você perdeu um alguns anos atrás. Eu teria


adorado que você batesse na bunda dele.

Sua testa enrugou. — Quem era ele?

Suspirei. — Jordan Rhodes. Meu namorado do colégio.


Ele terminou comigo quando conseguiu uma bolsa de basquete
para uma faculdade fora do estado. Não era como se eu
esperasse que ele ficasse aqui por mim. Mas ele me fez
acreditar que tentaríamos fazer funcionar, e então, antes de
partir, terminou.

— Ele amarrou você com falsas promessas até a hora de


ir embora.

— Exatamente.

Jace fez uma careta. — Não é tarde demais, você sabe.

— Para que?

— Para eu bater em seu traseiro. Ele volta para casa no


verão?

Sorri. — Aviso você.

— Sério, poucas pessoas acabam com a namorada ou


namorado do colégio. Você se lembra de Grace?

Grace.
ECA.

Como poderia esquecer a namorada do colégio de Jace?


Jace e Grace. Amordace-me. Ela foi minha inimiga número um
por muito tempo – o foco de grande parte da minha angústia
pré-adolescente. Como queria ser Grace Wethers naquela
época.

— Sim. Lembro-me dela.

— Aposto que ela está aliviada por não ter acabado com
a minha bunda. Romper com ela foi a melhor coisa que já fiz.
Ela é casada com um cirurgião plástico agora. Acabou de ter
um bebê.

— Tudo graças a você por terminar com ela?

— Basicamente. Ela estava apaixonada por mim e não


teria sido a primeira a terminar as coisas. Fiz com ela o que
aquele idiota fez com você – terminei antes de ir para a
faculdade, porque não queria ser amarrado. Mas ela foi
provavelmente o mais perto que cheguei de amar alguém.

O ciúme percorreu meu corpo com a menção dele quase


amando alguém.

— E ainda assim você a deixou ir...

— Sim. A respeitei. Sabia que não seria fiel na faculdade.


No final das contas deu certo para ela.

Tinha que respeitar isso, imaginei. — E para você? Sem


arrependimentos aí? — Preparei-me para sua resposta.
— Sobre não estar com ela? Não. Nem um pouco. Não era
para ser.

Eu, pelo menos estava grata por Jace não estar casado
com sua namorada do colégio agora, mesmo se eu não tivesse
uma chance no inferno com ele. Pelo menos ele ainda estava
no mercado.

Fechando meus olhos, saboreei o resto do sol.

Quando os abri alguns minutos depois, fiquei surpresa


ao descobrir que os olhos de Jace não estavam fechados –
estavam em mim.
Capítulo 4

Nathan realmente precisava sair de casa e ganhar um


pouco de dinheiro, então o contratei para me ajudar na limpeza
de um de nossos locais de trabalho no sábado. Quando fui
verificar as coisas por lá, ele disse que ainda não tinha comido,
então resolvi buscar o almoço e trazê-lo.

No meio do caminho para o restaurante, percebi que


havia deixado minha carteira em casa. Então, não tive escolha
a não ser dar uma passada em casa para pegá-la.

Quando abri a porta, Farrah estava sentada no chão da


sala com as pernas cruzadas. Ela usava calças de ioga justas
e um sutiã esportivo roxo. Seu piercing na barriga brilhou
contra seu estômago apertado. Tentei colocar aquela “coisa”
que aconteceu entre nós na piscina alguns dias atrás fora da
minha mente. Entretanto, vendo-a assim? Não estava
ajudando.

Ela se levantou da esteira de exercícios. — Achei que você


tivesse saído para ver como estava Nathan.
— Sim. Fui buscar o almoço para ele e percebi que
esqueci minha carteira. Só vou pegar e voltar. — Ergui meus
olhos para cima. Eles queriam desesperadamente explorar os
montes macios saindo de seu sutiã, mesmo que isso fosse
errado como o inferno.

Ela passou a mão pelo cabelo. — Ah.

Uma música suave tocava na televisão, de onde pude ver


o menu de seu DVD de ioga. Duas velas acesas estavam na
lareira de cada lado da TV.

— É isso que você faz quando não estamos em casa?


Transforma este lugar em seu próprio pequeno reino Zen?

— Às vezes. — Seus olhos brilharam. — Vocês


provavelmente assistem pornografia quando têm a casa só
para vocês. Faço ioga para aliviar o estresse.

Não vou tocar nesse comentário. Limpando a garganta,


disse: — Isso realmente funciona? Essa ioga? Para te acalmar?

— Sim. Quer dizer, não se trata apenas de redução do


estresse. Supõe-se que esse tipo específico ative a energia
espiritual na base da espinha. Foi projetado para ajudá-lo a se
livrar do ego. É chamado de ioga cunnilingus.

O que foi que ela disse? — Isso é o quê?

— Cunnilingus7 yoga, — ela repetiu.

7 Cunilingua – sexo oral na mulher.


Que porra é essa? — Tenho certeza de que não é assim
que se chama, Farrah.

Seus olhos se arregalaram. — O que acabei de dizer?

— Você disse cunnilingus yoga.

Ela pegou a capa do DVD no sofá e balançou a cabeça. —


Kundalini! — Seu rosto ficou vermelho como uma beterraba.
— Kundalini! Não quis dizer cunnilingus. Não sei de onde veio
isso.

— Foi um lapso de língua.

— Merda. — Ela riu.

— Embora, tenho que dizer, cunnilingus yoga seria muito


interessante. — Ok, eu precisava parar. Esta era a irmã mais
nova do meu melhor amigo, e eu iria para o inferno por causa
dessa insinuação.

Ela enxugou a testa. — Oh cara.

— De qualquer forma, é melhor eu encontrar minha


carteira.

— Você... quer experimentar comigo?

Experimentar? Cunnilingus? — Uh... ioga? — Perguntei


estupidamente.

Ela sorriu timidamente. — Sim.


— Eu faria..., mas Nathan está esperando que eu pegue
o almoço.

— Aposto que te ajudaria com todo o estresse pelo qual


está passando. Experimente por cinco minutos. Veja se você
gosta.

Olhei para as velas e de volta para ela.

Estou louco para fazer isso? — Que diabos. Cinco minutos


não vão me matar.

O rosto de Farrah se iluminou. — Deite-se no chão.


Sente-se atrás de mim para ver o que faço. Cruze suas pernas.
Respire fundo e apenas ouça as instruções.

Devo ter ficado doente, porque quando ela exigiu que me


deitasse no chão, continuei a pensar apenas em coisas sujas.
Uma visão de tirar suas calças de ioga e cair sobre ela passou
pela minha mente. Cunnilingus yoga.

É de Farrah que estamos falando. Corta essa merda.

Sentando-me, cruzei as pernas conforme o cara do DVD


instruiu. Farrah se virou para me verificar, exibindo seu lindo
sorriso. Ela era naturalmente linda. Não tinha uma gota de
maquiagem e certamente não precisava. E eu estava feliz que
ela não usasse, porque preferia poder ver como sua pele macia
mudava de cor quando ficava envergonhada. Isso acontecia
muito. Especialmente perto de mim. Definitivamente tenho um
efeito sobre ela, e estaria mentindo se dissesse que não gostei
um pouco. Mas eu levaria isso para o túmulo.
Assisti ao vídeo, seguindo o exemplo de Farrah, pelo que
eu sabia que devia ser mais do que minha cota de cinco
minutos. Ela estava certa. Quando inclinei meu corpo para
frente em pose de criança, percebi que isso estava me
acalmando.

A paz de curta duração acabou no momento em que o


cara da TV nos instruiu a fazer uma pose chamada triângulo.
Foi quando tive problemas. Farrah se inclinou na minha
frente, proporcionando uma visão clara de sua bunda enfiada
diretamente no meu rosto. Suas calças eram tão justas que
quase parecia que não estava usando nada, e eu podia
facilmente ver o contorno de sua bunda.

Cristo.

Graças a Deus eu estava atrás dela, porque descobri que


não tinha controle sobre a reação do meu corpo. Estava tão
relaxado antes disso, não coloquei minha guarda, e meu pau
se moveu para ficar totalmente ereto antes que tivesse a
chance de acalmá-lo. Precisava dar o fora daqui antes que ela
se virasse. Já era ruim o suficiente eu ter ficado duro com a
irmã de Nathan, mas com certeza não iria deixá-la perceber.

Corri em direção à cozinha.

Ela me chamou. — Você está bem?

— Sim. Acho que a ioga realmente faz você relaxar. —


Gritei do corredor.
Uma vez no banheiro, tranquei a porta atrás de mim.
Salpicando um pouco de água no meu rosto, me encarei no
espelho.

O que há de errado com você?

Fiquei esperando que meu corpo rígido relaxasse, mas


não aconteceu. Não havia como voltar lá fora assim.

Meu telefone tocou. Era uma mensagem de Nathan.

Nathan: Onde diabos você está?

Sentindo-me uma merda absoluta, digitei.

Jace: Preso no trânsito. Desculpe.

Olhei para mim mesmo e decidi que, a menos que eu


fizesse algo sobre isso, ficaria preso no banheiro pelo resto do
dia. Abrindo meu jeans, tirei meu pau inchado. Posicionando-
me sobre o vaso sanitário, pensei no visual que me trouxe até
aqui – Farrah se curvou na minha frente – e levou dez segundos
para disparar minha carga. Meu orgasmo pode ter sido rápido,
mas foi intenso. Aparentemente, precisava transar. Enquanto
isso, Farrah provavelmente deve ter pensado que tive diarreia
induzida por ioga aqui.

Dei descarga e lavei minhas mãos, destruindo todas as


evidências de minha transgressão antes de voltar para fora.
Com minha cabeça ainda enfiada na minha bunda, quase
esqueci todo o motivo de ter vindo para casa em primeiro lugar.
Mas não fiz. Parando no meu quarto, peguei minha carteira da
mesa antes de voltar para a sala.

Farrah ergueu o pé atrás das costas enquanto se


espreguiçava.

Quando me viu, abaixou a perna. — Você está bem?

— Sim. É melhor eu ir embora.

— Foi bom ter companhia enquanto durou. — Ela sorriu.


— Devíamos fazer isso de novo algum dia.

De jeito nenhum, a menos que você me venda e corte meu


pau fora. Concordei. — Até logo.

Quando voltei ao local de trabalho para deixar o almoço


de Nathan, já fazia mais de uma hora.

— Que diabos? Você foi para a África para almoçar ou


algo assim?

Dei de ombros. — Desculpe.

A verdade não teria sido interessante?

Bem, Nathan, fui para casa pegar minha carteira e, em vez


disso, decidi fazer ioga cunnilingus com sua irmã. Então, me
tranquei no banheiro e me masturbei. Aqui está seu sanduíche.
Aproveite.
No dia seguinte, meu pai recebeu alta do hospital após
sua última rodada de quimioterapia. Decidi não o incomodar
com coisas de trabalho enquanto estava hospitalizado, mas
precisava falar com ele agora que estava em casa.

Quando cheguei, minha mãe estava cumprindo tarefas,


então fiquei feliz por ter um tempo a sós com ele. Foi nossa
primeira oportunidade de realmente conversar desde o dia em
que descobri o verdadeiro motivo dos problemas financeiros da
empresa.

Caminhando no quarto do meu pai, respirei fundo e disse


exatamente o que achava do que ele tinha feito. Então, passei
por tudo de novo, só para tirar tudo do meu peito. Quando
finalmente voltei para respirar, ele parecia um pouco em
estado de choque.

— Lamento ter desapontado você, filho. Sinto não ser


uma pessoa mais forte. E sinto muito por ter colocado a
empresa em risco.

Enquanto tentava não gritar, não pude evitar a dureza do


meu tom. — Nem mesmo é o jogo, mas o fato de você esconder
isso de mim. Você me deixou arrancar minha vida para vir aqui
para ajudá-lo. Eu não sabia que estava entrando em uma
confusão. — Puxei meu cabelo. — Como diabos vamos
conseguir esse dinheiro?

— Temos opções. Temos a casa.

A casa? — Mamãe tem que sofrer por suas dúvidas? Não


vou deixar você vender a casa de nossa família. Isso não é uma
opção.

— Quando expliquei a ela o que tinha feito, ela ficou


chateada, mas aceitou minhas desculpas. Ela disse que estaria
disposta a vender este lugar e reduzi-lo.

Suspirei. — Bem, vamos manter isso como último


recurso. Tenho uma reunião no banco amanhã para falar
sobre um empréstimo comercial. Se formos aprovados, essa é
a resposta. Mas minha pergunta é: como vou saber que isso
não vai acontecer de novo quando você está saudável o
suficiente para sair de casa?

— Prometo a você, vou procurar terapia. Não vou nem


retomar meu cargo até ter certeza de que não causarei mais
danos à empresa. Sei que você sacrificou muito para vir aqui.
E sinto muito por ter arrastado você para isso.

Era difícil ficar com raiva dele quando parecia tão fraco.
— Eu só queria saber para poder ter ajudado você.

— Eu também, filho. — Ele examinou meu rosto. — Como


vai você?
— O que você quer dizer com 'Como eu vou?' Não é óbvio?
Estou muito puto.

— Eu não quis dizer em termos desta situação. Sei que


você está chateado. Quero dizer, em geral.

— Não sei. — Dei de ombros. — Bem. Eu acho.

— Você ainda mora com Nathan?

— Sim. Estou fazendo isso principalmente para ajudá-lo,


mas, honestamente, é a melhor coisa por agora. Não quero me
comprometer com nenhuma propriedade até saber se vou ficar.
Depois desse fiasco, talvez consiga uma passagem só de ida
para fora daqui e dizer foda-se tudo.

— Você sabe que pode fazer isso, certo? Ninguém está


obrigando você a ficar aqui.

Minha voz se ergueu novamente. — Então o quê? Quem


vai dirigir a empresa enquanto você estiver doente? Quem
estará aqui para a mamãe? Não é como se Kenny ou Thomas
fossem assumir a responsabilidade. Sou só eu.

Meus dois irmãos mais velhos, Kenny e Thomas, eram


filhos de meu pai de seu casamento anterior. Eles eram dez e
onze anos mais velhos que eu e ambos tiveram problemas com
drogas ao longo dos anos. Nenhum dos dois havia terminado a
escola, e a única vez que os vi foi quando estavam tentando
arrancar dinheiro dos meus pais. Na maior parte, eu era filho
único. Jurei não ser nada parecido com eles, então sempre me
destaquei na escola e nos esportes e, quando saí de casa para
a faculdade, prometi fazer algo por mim mesmo, e não ser um
fardo para meus pais. Antes de deixar Charlotte, eu estava
prosperando na minha posição de gerente de propriedade. Era
um trabalho onde poderia continuar crescendo. Mas meu
tempo ali acabou quando tentei fazer a coisa certa ao voltar
para casa para ajudar meu pai. Ele certamente me fez duvidar
dessa decisão.

— Você não deveria ter a responsabilidade exclusiva de


nos tirar da bagunça que fiz, — disse meu pai. — Você poderia
deixar tudo queimar.

Ele me conhecia melhor do que isso.

— Eu não seria capaz de viver comigo mesmo. Você sabe


que pode contar comigo, e provavelmente é por isso que você
não foi mais cuidadoso. Ao contrário de algumas pessoas nesta
família, realmente tenho uma consciência.

Ele bufou. — Muito obrigado, Jace.

— Você merece, velho. — Balancei minha cabeça. — Eu


te amo, mas você merece.

Minha mãe apareceu na porta. — Aí está meu filho lindo!

— Ei mãe. — Aproximei-me e a beijei na bochecha.

Ela colocou um saco de papel na mesa de cabeceira do


meu pai. — Trouxe para você sua sopa favorita do bistrô.
Espero que você esteja se sentindo bem o suficiente para comê-
la.
— Bem, isso depende de nosso filho decidir me perdoar
por sabotar meu próprio negócio.

— Quer eu te perdoe ou não, isso não muda o fato de que


precisamos de uma saída, pai. A última coisa que quero é uma
dúzia de vendedores furiosos atrás de mim por causa do
dinheiro deles.

— Ninguém vai vir atrás de você.

Ele é tão ingênuo? — Você está brincando comigo? James


Moore já veio à minha maldita casa procurando seu dinheiro.
Farrah atendeu a porta. Se ele tivesse feito algo com ela, nunca
teria sido capaz de me perdoar.

— Merda. — Meu pai fechou os olhos brevemente. — Eu


não sabia disso.

— Ela está bem? — Minha mãe perguntou.

— Sim. Ele não fez nada, mas estava puto. Eu disse a ela
para não abrir a porta assim nunca mais.

Mamãe inclinou a cabeça. — Como está Farrah?

— Ela está bem... doce como sempre.

— E bastante atraente, — meu pai interrompeu.

Chicoteei minha cabeça em direção a ele. — Como diabos


você saberia, seu velho sujo?

— A vi no minimercado alguns meses atrás. Mal a


reconheci com aquelas pernas longas. Mulher bonita.
Cerrei meus dentes. — Tire sua mente da sarjeta.

— Não estou morto ainda. Perceber a beleza de uma


mulher não é um crime.

— É quando ela é praticamente uma criança. — Eu disse.

Isso parecia um pouco hipócrita vindo de mim. Mesmo


antes da escalada dessas últimas semanas desconfortáveis,
verifiquei inadequadamente Farrah muitas vezes – muitas para
contar. Mais preocupante, me vi inexplicavelmente atraído por
ela. A doçura em seus olhos. O jeito que ela olhou para mim
como se eu não pudesse fazer nada errado. A maneira como
ela me fez sentir. Talvez estivesse com raiva de mim mesmo,
não do meu pai, no que dizia respeito a Farrah.

— Dê a ela o meu alô, sim? Ela está em uma situação tão


difícil, — disse a mãe. — Ter que crescer sem os pais dela.

Endureci contra a dor no meu peito com a menção dos


pais de Farrah. — Ela está indo muito bem, considerando
todas as coisas, — disse, limpando minha garganta. — Ela é
independente e parece feliz no geral. É com Nathan que me
preocupo. Não tenho certeza de onde ele estaria se não tivesse
sua irmã por perto. O garoto precisa encontrar um novo
emprego. Ele não está tendo sorte. Planejava oferecer a ele
trabalho em tempo integral conosco, mas isso foi antes de eu
perceber que não tínhamos dinheiro para pagá-lo. — Olhei
para meu pai. — O melhor que pude fazer foi contratá-lo para
a limpeza do antigo local do shopping ontem.
Mamãe me lançou um olhar simpático. — As coisas têm
uma maneira de se resolver. Posso perguntar por aí na igreja e
ver se alguém sabe de alguma indicação de emprego para
Nathan.

— Isso seria bom. Sei que ele gostaria disso.

— É o mínimo que posso fazer. Nathan sempre foi como


um irmão para você.

— Sim, especialmente porque os irmãos que tenho estão


sempre fora de serviço.

Levantei minhas chaves da mesa ao lado da cama do meu


pai. — De qualquer forma, tenho que ir. Devo jantar com
Nathan. Não contei a ele sobre nossa situação financeira, mas
acho que vou esta noite. Ele precisa estar alerta caso alguém
tente entrar em casa e fazer merda novamente. Já adiei contar
a ele por tempo suficiente. — Virei-me para meu pai e balancei
minha cabeça.

Mamãe colocou a mão no meu braço. — Tente pegar leve


com seu pai. Ele está doente. O estresse vai deixá-lo pior.

— Talvez se você não fosse tão fácil com ele, não


estaríamos nesta situação em primeiro lugar.

Ela me abraçou. — Sinto muito. Eu sei. Eu amo você.

— Também te amo. — Olhei para meu pai. — Eu te amo,


velho. Cuide-se. Vou nos tirar dessa bagunça. Mas se ouvir
falar de você jogando dinheiro fora de novo, você vai ficar
sozinho. Entendeu?

Meu pai acenou com a cabeça, sua voz frágil. — Entendo,


filho.

Nathan e eu tínhamos planejado nos encontrar em casa


para jantar. Parei em um restaurante mexicano para comprar
comida no caminho de volta da casa dos meus pais. Farrah
aparentemente saiu com as amigas, então seríamos apenas
nós dois.

Nathan estava esperando por mim na cozinha quando


voltei.

Larguei o saco de papel com chips de tortilha no balcão.

— Desculpa por demorar tanto. A fila estava fora da porta.

— Não é problema homem. — Nathan abriu a outra sacola


e começou a tirar o conteúdo, examinando a escrita nos
burritos para determinar qual era dele. — Como está seu pai?

— Saudável. Ele parece estar estável. É tudo o mais que


está bagunçado.
Ele parou de mexer na comida. — Todo o resto? O que
está acontecendo?

— Há algo que eu não te disse. — Admiti.

Seus olhos se estreitaram. — Tudo certo?

— Vamos levar nossa comida para a mesa.

Fizemos isso e passei os minutos seguintes contando a


ele sobre a situação em que meu pai havia metido a Muldoon
Construction.

Ele balançou sua cabeça. — Deus, sempre pensei que Phil


tinha uma cabeça melhor do que isso. Acho que o vício às vezes
leva o melhor deles. Quero dizer, olhe para seus irmãos.

— Sim. — Cerrei meus dentes. — Todos os homens da


minha família têm problemas, aparentemente.

— Então, o que você vai fazer?

— Vou ao banco amanhã para ver se nos qualificamos


para um empréstimo. Só quero pagar esses caras e lidar com
o resto mais tarde.

Ele assentiu. — Bem, eu gostaria de poder ajudar, mas


como sabemos, sou um filho da puta quebrado agora.

— Tem uma maneira que você pode ajudar.

— Como?
— Você pode ficar vigilante. — Preparei-me. — Um dos
caras a quem devemos dinheiro passou em casa outro dia
procurando por mim. Farrah atendeu a porta.

Seu rosto ficou vermelho. — Isso não é bom.

Exalei. — Eu sei. Disse a ela para nunca atender a porta


se um de nós não estiver em casa.

Sabia que nada significava mais para Nathan do que sua


irmã. Ela era a única família que ele tinha.

— Preciso contar a Farrah o que está acontecendo com


seu pai, — disse ele.

— Já contei.

Seus olhos se arregalaram. — Você contou? Quando?

— Outro dia, quando jantamos juntos. Ela entrou na


cozinha e me viu no meu ponto mais baixo. Foi logo depois que
descobri. Ela me perguntou o que estava errado, então lhe
disse.

— Espere... você contou a Farrah naquele dia e só agora


estou descobrindo?

Merda. — Não é que eu estivesse escondendo de você. Só


não queria te chatear. Você parecia estar com um humor
estranho naquele dia. Então optei por esperar.
Ele ergueu a voz. — Talvez eu estivesse com um humor
estranho porque vim para casa e encontrei você com a minha
irmã.

Uau. Que porra é essa? Fingi choque. Eu precisei. — O que


você está falando?

— As coisas pareciam um pouco comprometedoras


quando encontrei vocês dois na piscina. Suas mãos estavam
sobre ela, que estava praticamente nua.

Meu pulso disparou. — Não sei o que você achou, mas


estávamos apenas brincando.

Vários momentos de silêncio se passaram. Foi estranho


pra caralho, e odiei cada segundo.

Então Nathan recuou e encolheu os ombros. — Ok. Se


você diz.

Tentei o meu melhor para acreditar no que disse a seguir.


— Não há nada acontecendo entre nós, Nathan. Eu amo
Farrah... como uma irmã. Ela ajudou a tirar minha mente de
tudo naquele dia. Estávamos nos divertindo, como duas
crianças na piscina. É isso. Você me entende?

Ele olhou para mim por alguns segundos. — Sim.

Reconheci o olhar em seus olhos como um de confiança


cautelosa, o que significava que eu precisava ter cuidado ao
seguir em frente.

— Bom, — eu disse.
O silêncio que se seguiu quando terminamos o jantar me
disse que Nathan ainda estava pensando nisso. Isso é péssimo.
Senti-me uma merda. E estava suando. Porque, no fundo,
sabia que o que estava acontecendo com Farrah ultimamente
não era inocente.
Capítulo 5

Meu turno no escritório de advocacia ia das sete às três.


Era um trabalho confortável e, o que algumas pessoas podem
dizer, foi uma perda de tempo. Eu não ia a lugar nenhum,
arquivando coisas e digitando correspondência. Mas pagava
bem, e eles não se importavam se eu tinha um diploma
universitário, o que tornava meio difícil desistir. Estive
trabalhando lá por quase um ano. O horário era ótimo porque
nunca havia trânsito às três da tarde.

Uma das primeiras coisas que fiz quando voltei do


escritório para casa foi verificar a garota da porta ao lado. A
mãe de Nora a deixava sozinha depois da escola. Sempre me
senti mal por ela porque me identificava. Sabia muito bem o
que era voltar para uma casa vazia quando você precisava de
um abraço ou de alguém com quem conversar.

A mãe dela me deu uma chave para usar para que Nora
nunca tivesse que atender a porta – para evitar abrir
inadvertidamente para a pessoa errada. (Como fiz outro dia.)
Nora estava fazendo o dever de casa quando entrei.
Ela largou o lápis quando me viu. — E aí, como vai?

— Nada demais. Só estou checando você.

— Ainda estou viva.

— Eu sei. Queria ver se você precisava de alguma coisa.

— Ingressos do Shawn Mendes, — ela disse.

Isso me fez rir. — Eu quis dizer algo para comer. Mas ele
está vindo para a cidade?

— Sim. Quero vê-lo. Estou desesperada.

Sentei-me à mesa ao lado dela. — Sua mãe comprará


ingressos para você?

— Ela diz que não tem dinheiro.

— Talvez eu possa perguntar por aí e ver se consigo


encontrar ingressos acessíveis.

Para minha surpresa, ela começou a chorar. — Oh meu


Deus. Isso seria incrível.

Quase tinha esquecido o que era ser uma criança


apaixonada. Oh espere.

Ela fungou. — Esqueci de te dizer, vi você na piscina


outro dia com Jace.

Falando em apaixonada...

— Ouvi respingos, olhei pela janela e pude ver você.


Concordei. — Sim... Jace e eu estávamos nadando.

— Você gosta dele?

Eu não sabia como responder. — Você sabe que Jace é


como um irmão mais velho para mim, certo? Ele é o melhor
amigo de Nathan..., mas... — Hesitei. Estou realmente
pensando em contar a uma criança de onze anos meu segredo
mais sujo? — Aqui entre nós, tenho sim uma queda por ele.

Seus olhos eram como pires. — Ele é bonito.

— Sim. Ele é.

— Não tão fofo quanto Shawn. Você acha que ele gosta de
você?

— Você sabe... antes do outro dia, teria te dito não. Mas


meio que peguei essa vibe dele quando estávamos saindo.
Então, vamos colocar desta forma... Se ele gosta de mim, não
acho que ele queira gostar de mim. É meio deprimente porque
acho que nada pode acontecer entre nós.

Ok, isso era definitivamente muito para ser divulgado


para uma criança.

Ela suspirou. — Isso é como eu e Shawn. Eu o amo, mas


nada pode acontecer porque ele é uma grande estrela. Pelo
menos Jace sabe que você existe.

— Acho que isso pode ser um consolo. — Eu ri antes de


ficar paranoica. — Por favor, nunca mencione a ninguém o que
acabei de dizer, ok? É um segredo.
— Não vou dizer nada.

— Ok. Estou escolhendo confiar em você. — Eu sorri.

Ela voltou a escrever em sua planilha antes de se virar


para mim novamente. — Por que você vem e me verifica o
tempo todo?

Dando de ombros, suspirei. — Acho que posso me


relacionar com a sensação de estar sozinha. Sei que gosto
quando as pessoas me checam, então imaginei que faria o
mesmo por você.

— Lamento que sua mãe não esteja aqui. Quer dizer,


sinto muito por ela ter morrido. Seu pai também.

A tristeza momentânea tomou conta de mim. — Obrigada.

— Foi um acidente, certo? Minha mãe me contou.

— Sim. Tipo isso. Realmente não gosto de falar sobre isso,


ok?

Sua boca se torceu. — Ok. Eu também não gostaria de


falar sobre isso.

Depois de algum silêncio, perguntei: — Tem certeza de


que não quer nada? Eu poderia fazer um sanduíche para você.

— Não. Tenho uma Coca na geladeira e um pouco de Sour


Patch Kids. Estou bem.

— Bem, você pode estar bem, mas seus dentes podem


pensar o contrário.
— Tenho uma cárie.

Levantei minha testa. — Você não diz...

Fiquei cerca de quinze minutos antes de me preparar


para voltar para casa. — Ok, bem, se você precisar de mim,
você tem meu número. Basta me ligar e posso estar aqui em
trinta segundos.

— Literalmente trinta segundos. Quão legal é isso? — Ela


deu uma risadinha.

— Sim. Literalmente.

— Boa sorte com Jace! — Ela gritou enquanto eu saía


pela porta.

Virando-me, coloquei meu dedo indicador sobre minha


boca. — Shh... Lembre-se do que eu disse. Esqueça que te falei
sobre isso.

— Desculpe. — Ela sussurrou.

Preciso examinar minha cabeça por contar a uma criança


sobre meus sentimentos por Jace.

Quando voltei para casa, ironicamente, a caminhonete de


Jace estava na garagem. Assim como no outro dia, quando
saímos na piscina, ele voltou para casa do trabalho mais cedo.

Uma onda de excitação me atingiu, até que entrei em casa


e notei um par de sapatos femininos sob a mesinha no saguão.
Ouvi uma risada abafada vindo do quarto de Jace no final do
corredor.

Minhas bochechas queimaram.

Ele trouxe uma garota para casa no meio do dia?

Ele nunca tinha feito isso antes.

Não só eu estava extremamente ciumenta, mas também


me sentia uma completa idiota. Desde nosso momento na
piscina e nossa breve sessão de ioga, estava tão animada com
a próxima oportunidade de ficar a sós com ele. Convenci-me
de que talvez ele tenha sentido algo quando me segurou em
seus braços por alguns momentos. Deus, sou uma idiota.

De jeito nenhum poderia ficar em casa esta tarde. E ele


sabia que chegava em casa do trabalho nesse horário, então
ele nem mesmo teve a decência de trazê-la aqui quando a casa
estaria vazia. Por que diabos ele não estava trabalhando,
afinal?

Encontrei minhas chaves e voltei para o meu carro de


merda. Isso me irritou porque eu estava tentando economizar
combustível e agora teria que dirigir para algum lugar apenas
para dar o fora daqui. Liguei a ignição – ou tentei, pelo menos.
Meu veículo de baixa qualidade tinha outras ideias. Não iria
começar. Continuei tentando, sem sucesso. Para piorar as
coisas, meu carro estava bem na janela do quarto de Jace.
Então, sabia que ele poderia me ouvir tentando iniciá-lo.

O que agora?
Jace estava dentro, provavelmente transando com
alguma garota, e eu estava presa na casa, a menos que
quisesse ir para algum lugar. Acho que poderia voltar para a
casa de Nora...

Assim como eu tive esse pensamento, Jace saiu da casa.


Seu cabelo estava despenteado, e ele parecia tão malditamente
sexy em sua camiseta branca justa e jeans rasgado. Eu queria
gritar. Fiquei mortificada por tê-lo feito vir aqui.

Ele passou a mão pelo cabelo escuro. — Essa coisa cagou


no lugar de novo, hein? Você não o pegou de volta do Rusty?

Saí do carro e bati a porta. — Sim. Eu, uh, preciso ir, mas
não parece que isso vai acontecer.

— Não devolva mais aquele pervertido. Vou dar uma


olhada nisso esta noite.

— Sim. Bem, não quero incomodá-lo. Você está


claramente ocupado hoje. Sei que você tem um amiga aqui. Vi
os sapatos dela. — Bufei. — Pés grandes. — Jesus, Farrah.
Você pode estar mais obviamente chateada?

Ele não reconheceu meu comentário. — Como eu disse,


vou dar uma olhada nisso esta noite.

O sol brilhou em seus lindos olhos, fazendo-os brilhar.

Encarei meus sapatos. — Obrigada.

— Onde você precisa estar agora?


— Eu, uh, ia encontrar um amigo na praça para tomar
um café, — menti.

— Você precisa de uma carona?

Olhei para cima. — Como você vai me dar uma carona


quando você tem alguém em seu quarto?

— Vou dizer a ela que já volto.

Concluí que interromper a foda de Jace no final da tarde


não era a pior coisa do mundo. Dei de ombros. — Certo. Uma
carona seria ótimo.

— Ok. — Ele voltou para a porta. — Espere.

Enquanto esperava na calçada, percebi que era uma ideia


estúpida. Mas foi isso que ganhei por fingir que tinha um lugar
importante para estar. Não ousei segui-lo de volta para dentro
de casa. Vê-la me deixaria mais chateada.

Jace reapareceu e apertou o alarme para desarmar seu


carro. Entrei

— Então, quem você vai conhecer? — Perguntou


enquanto colocava o cinto de segurança.

Eu também me tranquei. — Um cara. — De onde veio


isso?

Sua testa franzida. — Quem?

— Apenas alguém que conheci on-line.


Seus olhos se estreitaram. — Ele não tem nome?

— É... Sheridan. — Sheridan? Você não poderia ter vindo


com um nome mais comum?

— Faça o que fizer, não entre no carro dele. Você não


conhece esse cara.

— Sou uma garota crescida. Não se preocupe.

— Não vou ficar preocupado enquanto você ficar na


cafeteria. Não entre em carros com estranhos. Você me
escutou?

Senti-me culpada por sua preocupação genuína ter sido


em vão. Mas não tinha escolha agora, exceto continuar esta
charada.

— Jace, não se preocupe. Se eu receber uma vibração


estranha, não vou.

Ele pisou no freio e parou no meio da estrada. — Ok, não


tenho certeza de como me tornar mais claro. Não me importo
que tipo de vibração ele dá a você. Não entre na porra do carro
dele. — Seu rosto ficou vermelho enquanto ele decolava
lentamente novamente.

Odiava amar o Jace zangado. Eu odiava que ele estivesse


com raiva sem motivo – porque não havia nenhum cara. Mas,
acima de tudo, odiava que ele descontasse sua raiva naquela
garota em seu quarto, e não em mim. Eu só podia imaginar
como seria incrível ser fodida com raiva por esse homem.
Não pude evitar. — Quem é a garota lá em casa?

Depois de alguns segundos sem nada, ele decidiu me


agraciar com uma resposta.

— O nome dela é Alyssa.

— Ah. Uma novata? — Olhei pela janela, querendo


arrancar meus olhos.

— Eu acho.

— Então, você se cansou de Linnea e mudou para...


Alyssa?

Seus olhos dispararam. — Parece que você está julgando


um pouco.

— Não. Quase me sinto mal por elas. Você sabe... posso


facilmente me colocar no lugar delas. Linnea gostou muito de
você. Eu poderia dizer. E tenho certeza que essa garota
também. No entanto, você a deixou em seu quarto para me dar
uma carona. Ela deve estar chateada. Ficará ainda mais
irritada quando você parar de ligar para ela porque conheceu
outra pessoa.

— Uau. Ok. Então é assim. — Ele balançou sua cabeça.


— Por que você simplesmente não diz o que quer dizer e me
chama de idiota?

— Desculpe. Estou... irritada... por causa do meu carro.


— Diga-me, Farrah, o que devo estar fazendo neste
momento da minha vida? Não está namorando ninguém?
Como você sabe se clica com alguém a menos que tente? Estou
fazendo o que deveria fazer na minha idade. Não faço
promessas a ninguém e não preciso que você me julgue por
merda que não é da sua conta.

ECA. Fui longe demais. — Eu não queria soar como se


você fosse um idiota. Eu apenas penso...

— Que sou um idiota. — Ele deu uma risadinha.

Suspirei. Deixei meu ciúme sair do controle. A pior parte?


Minhas emoções estavam subindo à superfície. Eu estava
prestes a admitir algo de que me arrependeria.

— Não. Não acho que você seja um idiota. Você tem todo
o direito de viver sua vida. Você tem sido um amigo incrível
para mim e para meu irmão. Você não está fazendo nada
errado. Sou eu. Eu realmente gostaria de não me importar com
nada disso. Se estou agindo estranho, é porque...

Ah não.

Não, não, não.

O que diabos estava prestes a admitir? Precisava prender


minha boca com fita adesiva porque, aparentemente, não tinha
controle sobre isso agora.

Sua mandíbula se apertou. — O que você ia dizer?


— Nenhuma coisa. — Meu coração disparou. — Deixa
para lá.

— Diga-me, — cutucou.

— Por favor, esqueça isso, ok? — Sussurrei.

Ele fez. Ele não disse mais nada e fiquei grata.

A tensão encheu o ar pelo resto da viagem. Jace


eventualmente ligou um pouco de música como um
amortecedor, mas da minha perspectiva, pelo menos, não
ajudou. De jeito nenhum, porque a música que tocou “Drive”
de Halsey – era sobre uma garota que está apaixonada por
alguém e não sabe como dizer a ele. Enquanto eles dirigem
juntos, ela esconde seus sentimentos, que a consomem por
dentro. Excelente. O universo com certeza sabia como jogar.

Jace finalmente entrou no shopping onde o café estava


localizado.

Ele estacionou a caminhonete e se virou para mim. —


Tome cuidado.

— Ok, — eu disse, saindo o mais rápido possível.

Jace esperou que eu entrasse no café antes de partir.

Uma vez lá dentro, pedi um café e sentei-me sozinha à


minha mesa, remoendo o fato de que quase confessara o que
sentia por ele.
Tinha certeza de que meus sentimentos não seriam
nenhuma surpresa para ele, por que mais teria atacado
daquele jeito? Tratei-o injustamente por fazer algo que os
homens fazem todos os dias.

Depois de uma hora de ruminação no café, meu telefone


tocou.

Jace: Você está bem?

Meu batimento cardíaco acelerou enquanto eu digitava.

Farrah: Sim.

Os pontos dançaram quando ele respondeu.

Jace: Como você vai voltar para casa?

Kellianne tinha me enviado uma mensagem alguns


minutos antes de Jace. Então eu pegaria uma carona. Eu disse
a verdade.

Farrah: Kellianne virá me buscar aqui. Vamos jantar e


depois iremos ao The Iguana para Abra seu Coração.

Jace: O que aconteceu com o cara que você conheceu?

ECA. Eu odiava mentir.

Farrah: Um fracasso.

Depois de cerca de um minuto, ele respondeu.

Jace: Fique segura esta noite.


Farrah: Você também.

Minha cabeça girou. Eu precisava começar uma vida,


precisava superar esses sentimentos por um homem que não
poderia retribuí-los. Sentindo-me um pouco fora de controle,
sabia que precisava fazer algo esta noite para gastar toda essa
energia – e rápido. Precisava de uma distração.
Capítulo 6

Nathan chegou cedo naquela noite e pareceu surpreso ao


ver que eu tinha uma convidada.

— Oh, ei. Não tinha certeza se você estaria em casa, —


disse ele.

— Sim. Estamos saindo.

Nathan voltando para casa e me pegando com Alyssa era


exatamente o que eu queria – e a única razão pela qual a trouxe
de volta aqui esta tarde. Depois do outro dia, quando ele me
abordou sobre meu tempo na piscina com Farrah, precisava
distraí-lo. Eu queria que Nathan e Farrah me vissem com ela.
Sabia que Nathan tinha conseguido um trabalho de um dia
ajudando um amigo a pintar um imóvel alugado, então me
certifiquei de que Alyssa e eu ainda estaríamos em casa
quando ele voltasse.

O clima com Alyssa foi definitivamente arruinado depois


que saí para levar Farrah ao café. Ela me deu um sermão
depois que voltei. Aparentemente, ela olhou pela janela do meu
quarto e teve um vislumbre de Farrah. Ela me interrogou sobre
se havia algo acontecendo com minha “colega de quarto”. Fiz o
possível para explicar que Farrah era como uma irmã para
mim, mas aparentemente não era melhor em convencer Alyssa
disso do que a mim mesmo.

Não consegui tirar Farrah da cabeça a tarde toda. Minha


resposta ao encontro dela com um cara foi um pouco
exagerada. Mas recusei a me permitir analisar por que havia
explodido isso fora de proporção. Quaisquer sentimentos
estranhos que eu estava experimentando em relação a ela
precisava ir embora. Quer dizer, que porra é essa? Por que de
repente eu estava pensando na irmãzinha de Nathan o tempo
todo? Não fazia sentido. E precisava parar.

Depois que apresentei Nathan a Alyssa, nós três nos


sentamos do lado de fora da piscina e abrimos algumas
cervejas. Acendi um charuto pela primeira vez em anos e tentei
relaxar. Eu provavelmente precisava de algo muito mais forte
do que um charuto.

— Onde está Farrah? — Nathan perguntou.

Alyssa me olhou de lado enquanto eu respondia.

— Ela aparentemente tinha um encontro. O carro dela


estragou novamente, então, dei uma carona para ela até o café
perto do shopping. — Bufei e soltei um pouco de fumaça.

Seus olhos se estreitaram. — Um encontro com quem?


— Um cara. Seu nome é Sheridan. Ela disse que o
conheceu on-line. Mandei uma mensagem depois para ter
certeza de que ela estava bem. Disse que ele era um fracasso.

— Como ela vai voltar para casa?

— Kellianne iria pega-la. Eu disse a ela para não entrar


no carro daquele cara. Espero que ela esteja dizendo a verdade.

Nathan olhou para a piscina. — É melhor ela estar.

— Acho que ela é inteligente o suficiente para não fazer


nada estúpido. — Soltei mais fumaça, sentindo-me aliviada por
Nathan parecer preocupado com esse outro cara.

Alyssa de repente saltou de sua cadeira. — Importa-se se


eu for nadar?

— Você tem um maiô? — Perguntei.

— Não. Mas posso simplesmente ir de sutiã e calcinha, se


você não se importar.

Soprando anéis de fumaça, disse: — O que quer que você


queira.

Alyssa puxou o vestido pela cabeça e seus seios saltaram


em seu sutiã. Os olhos de Nathan praticamente saltaram das
órbitas enquanto ele olhava boquiaberto para ela. Antes que
pudesse olhar por muito tempo, ela mergulhou na piscina e
começou a nadar. Nós a observamos até que Nathan
interrompeu o silêncio.
— Então, não queria perguntar a você na frente de Alyssa,
mas como foi no banco?

Uma coisa que consegui fazer hoje foi tirar minha mente
dos problemas no trabalho. — Parece que vamos ser aprovados
para um empréstimo. Eles apenas tiveram que executar alguns
relatórios e olhar um pouco mais de perto nossos números. O
cara com quem falei disse que eu deveria saber de algo dentro
de uma semana.

— Bom. Estarei cruzando meus dedos por você.

— Obrigado.

Ele olhou novamente para Alyssa, que ainda estava


nadando de um lado a outro da piscina.

— Qual é o problema com essa loira gostosa?

Dei de ombros. — Deslizou para a direita8. É novo. Muito


cedo para dizer.

Ele deu uma risadinha. — Linnea está totalmente fora de


cena?

— Sim. Não deu certo.

— Por que não?

— Ela... queria mais do que eu poderia dar agora.

— Bem, fique à vontade em passa-las para mim quando


terminar, especialmente esta. — Ele sorriu por trás de sua

8Termo usado principalmente no Tinder quando você dá match em alguém.


garrafa de cerveja. — Estou brincando. Sei que nossa regra
ainda existe.

Ele estava se referindo ao nosso acordo de nunca tocar


nas “sobras” um do outro. Apenas uma vez Nathan e eu
realmente brigamos por causa de uma garota, e foi Kaylee Little
no ensino médio. Quase perdemos nossa amizade por causa
disso. Acho que os hormônios daquela idade tornavam as
coisas mais loucas do que deveriam.

Nathan definitivamente não teve a sorte que eu tive no


departamento feminino. Ele sempre comentava sobre como eu
poderia conseguir qualquer mulher que quisesse. Acho que ele
tinha razão, mas, honestamente, às vezes gostava mais de uma
perseguição. Havia algo excitante em querer alguém que você
não poderia ter.

E agora estou pensando em Farrah novamente. Balancei


minha cabeça. Obrigando-me a pensar em outra coisa,
lembrei-me de algo que precisava contar a Nathan.

— Oh, eu queria que você soubesse, minha mãe pode ter


te dado uma opção de trabalho. Ela falou com esta mulher em
sua igreja. O marido dela é dono da concessionária na Route
One.

— Mesmo?

— O da Ford.

— Sim. Billings Ford. Esse é um dos maiores. — Sua


expressão se iluminou. — Cara, isso seria incrível.
— Ela está me dando os detalhes. Vou repassá-los assim
que os tiver.

— Uau. Obrigado. Por isso e... por tudo.

A culpa se instalou novamente. — Você não tem que me


agradecer. Isso está me beneficiando tanto quanto está te
beneficiando, porque não estou pronto para comprar nada.
Além disso, com certeza não quero morar com meus pais.

— Você acha que vai ficar em Palm Creek? Quer dizer, se


Phil melhorar e não precisar mais de você, vai voltar para a
Carolina do Norte, certo?

Dei outra tragada no meu charuto e exalei lentamente. —


Não sei. Definitivamente, há coisas que perdi na Flórida. Estou
apenas tentando ser feliz no dia a dia, tentando não me
preocupar muito com o futuro.

— Gostaria de poder ser como você, — disse ele.

— O que você quer dizer?

— Gostaria de não precisar me preocupar com o futuro.


Preocupo-me com tudo. Talvez seja apenas a instabilidade de
não ter um emprego que está me assustando. Preocupo-me
com isso, e também me preocupo demais com Farrah.

Engoli. — Por que você está preocupado com Farrah? Ela


parece ter sua merda melhor do que nós dois.

— Não sei. Às vezes sinto... como se a estivesse


segurando. Como se ela não estivesse aqui na Flórida se não
fosse por mim. Quando ela era mais jovem, sempre dizia que
estava indo para a faculdade fora do estado. Mas ela não
completou mais do que algumas aulas na faculdade
comunitária. Está presa no limbo e não posso deixar de me
perguntar o que estaria fazendo se as coisas fossem diferentes.
Ao mesmo tempo, não sei o que faria sem ela aqui.

— Ela se preocupa com você. Concordo que ela hesitaria


em deixá-lo e se mudar, mas ninguém a está impedindo de
verdade. Ainda é sua escolha no final. Não há nada que a
impeça de se inscrever na faculdade quando estiver pronta. Ela
vai mudar de ideia.

Ele olhou para a piscina. — Ela esconde muito da dor


dela, sabe? Vejo-a escrevendo muito à noite. Passo pelo quarto
dela e ela fecha o caderno bem rápido, como se não quisesse
que eu visse. O que ela está escondendo de mim? Ela não fala
comigo sobre como está se sentindo. Apenas coloca uma cara
de brava e engarrafa tudo. Sei que em parte isso é minha culpa,
porque mal consigo falar sobre coisas sozinho. É uma merda
que ela não tenha nenhuma família para se abrir além de mim,
porque sou péssimo nisso.

— Não seja tão duro consigo mesmo. Não sou melhor


quando se trata de falar sobre merdas difíceis.

— Sim. — Ele sorriu. — Nós dois somos péssimos.

Alyssa emergiu da piscina, seus mamilos totalmente


visíveis através de seu sutiã molhado. A boca de Nathan mais
uma vez se abriu. Foi um pouco constrangedor.
— Isso foi incrível. Sinto-me tão revigorada. — Ela se
enrolou em uma toalha, e assim, o pequeno show de Nathan
acabou.

Nós três acabamos grelhando alguns cachorros-quentes


para o jantar, e Alyssa preparou uma salada com os vegetais
que tínhamos deixado na bandeja. Comemos à beira da piscina
enquanto o sol se punha.

Poderia dizer que Alyssa ainda estava irritada que nosso


tempo juntos no início do meu quarto não valeu de nada.
Continuou insinuando que não tinha onde estar esta noite,
mas não estava sentindo isso. Então, inventei uma desculpa.

Levantei-me e anunciei: — Na verdade, disse aos meus


pais que iria à casa deles esta noite. Posso te levar para casa
no caminho.

Seus cílios tremeram. — Oh... presumi que íamos sair


hoje à noite.

— Não, sinto muito. Outra hora.

Alyssa agarrou suas coisas e parecia silenciosamente


irritada quando entramos na minha caminhonete. Ela também
não tinha muito a dizer quando a deixei.

Depois que saí de sua casa, passei pelo quarteirão onde


o The Iguana estava localizado. Farrah me disse que ela iria
para lá esta noite. Perguntei-me se talvez ela tivesse mentido
sobre isso para que eu não reclamasse de entrar no carro do
tal Sheridan.
A curiosidade levou o melhor de mim. Sabia que me
arrependeria, mas impulsivamente estacionei em uma vaga
fora do bar. Se ela não estivesse aqui, saberia que ela estava
mentindo. Convenci-me de que isso não tinha nada a ver com
ser um perseguidor, que minha verificação dela era para o seu
próprio bem. Não haveria mal nenhum em espiar lá dentro
para ver se eu conseguia localizá-la. Então iria embora. Não
tinha certeza do que faria com essa informação – não era como
se pudesse mandar uma mensagem se ela não estivesse aqui
e dizer, sei que você não está realmente no The Iguana. Teria
que manter isso para mim de qualquer maneira. Mesmo assim,
ainda me sentia compelido a fazer isso.

No entanto, quando entrei no bar, nada poderia ter me


preparado para o que vi. Em vez de ser barulhento, o lugar era
quase completamente silencioso. No centro dos holofotes, no
palco, estava Farrah.

Meu coração bateu mais rápido quando percebi que ela


estava prestes a dizer algo. Você teria pensado que eu era o
único a ficar nervoso. Parei de respirar por um momento, até
que sua voz finalmente ecoou pela sala.

— Eu sou Farrah.

— Oi, Farrah, — disse o público em uníssono.

— Esta não vai ser uma das histórias sexy ou


embaraçosas. Então, peço desculpas por isso. Acredite em
mim, tive muitos dos mais embaraçosos recentemente. Talvez
eu confesse um desses outro dia. — Ela pigarreou. — A razão
pela qual estou derramando meu coração hoje... — Ela fez uma
pausa por vários segundos — ...é porque meus pais foram
assassinados.

Algumas pessoas se engasgaram, seguido por sussurros


abafados. Meu peito apertou com o choque.

Farrah respirou fundo e continuou. — Acho que nunca


disse essas palavras em voz alta. Quero dizer, quantas pessoas
perderam os pais por assassinato? Tenho certeza de que
existem pessoas como eu – tipo, no Dateline. Mas somos
poucos e distantes entre si. Quase todos os dias me sinto a
única pessoa na Terra nessa situação, embora saiba que isso
não pode ser verdade.

Ela passou a mão pelo cabelo. — As pessoas


normalmente não sabem o que dizer para mim quando
descobrem o que aconteceu com meus pais. É difícil para mim
ver reações de choque como as suas. Falar sobre isso é uma
verificação indesejada da realidade, que me tira da negação
necessária para a sobrevivência diária. Sei que provavelmente
devo dar mais detalhes sobre o que aconteceu, todos os
detalhes obscenos... porque é isso que fazemos aqui, certo?
Derramar nossos corações? Mas às vezes, simplesmente não
há palavras. Portanto, não poderei dizê-las esta noite.

Farrah soltou um suspiro, amplificado pelo microfone. —


Venho aqui principalmente todas as semanas para ouvir todos
vocês, não apenas para as ocasionais confissões suculentas,
mas para as tristes. São as tristes que me fazem continuar.
Isso me faz sentir menos sozinha. Ouvir alguns de vocês me
ensinou que não há problema em não estar bem, que o
sofrimento humano é uma experiência coletiva. Todos nós
temos algo. Ninguém sai deste mundo ileso. Talvez não
tenhamos sido colocados aqui para facilitar. Talvez a vida seja
aprender a sobreviver à dor e ao luto, duas coisas que afetam
todas as pessoas em algum momento. Minha vez chegou aos
quatorze anos, quando minha vida mudou para sempre.

— Se você não me conhecesse, nunca saberia que passei


por algo horrível. Porque sou muito boa em me esconder atrás
do meu sorriso. Portanto, da próxima vez que você vir alguém
que presumir que está melhor do que você, lembre-se de que
não pode saber o que a pessoa está passando olhando para
ela. Eles podem ter passado por algo agonizante, mas ainda
assim encontraram uma maneira de sorrir. E espero que,
independentemente do que esteja passando, você saiba que
não está sozinho – e que encontre uma maneira de sorrir
também. — Ela acenou com a cabeça uma vez. — Obrigada.

Farrah desceu para uma salva de palmas.

Uau. Estava tão orgulhoso dela por colocar de lado seus


medos.

No entanto, eu deveria ter saído antes. Deveria ter dado


meia volta e dar o fora dali. Em vez disso, congelei. Estava tão
envolvido com o que ela estava dizendo que não percebi que
tinha chegado perto o suficiente do palco e agora estava na
frente dela. Quando ela me viu, sabia que estava fodido.
Como diabos vou explicar isso?
Capítulo 7

No início, pensei que poderia estar passando por uma


alucinação. O que diabos Jace está fazendo aqui? Tive que
piscar várias vezes para confirmar que não estava vendo
coisas. Oh meu Deus. Ele viu todo o meu discurso? Ele ouviu
até a última palavra crua? Como isso pode ter acontecido na
única noite em que decidi ir em frente?

Jace se mexeu em seus pés. — Farrah... isso foi...

— O que você está fazendo aqui?

Ele se atrapalhou em busca de palavras e finalmente


disse: — Não tenho uma boa resposta para isso.

Virei-me para olhar para Kellianne, que estava radiante.


Ela me deu um sinal de positivo com o polegar, claramente
gostando disso um pouco demais.

— Como você poderia saber que eu iria falar hoje à noite?

— Essa é a coisa fodida. Não tinha ideia. Foi pura sorte


chegar agora.
— Por que você está aqui?

Jace mordeu o lábio inferior. — Honestamente? Eu estava


levando aquela garota de volta para a casa dela e passei por
aqui a caminho de casa. Achei melhor dar uma olhada... ver
por que você gosta tanto.

Isso me pareceu estranho. — Ainda estou confusa. Você


sabia que eu estava aqui. Então... você ia dizer olá?

— Possivelmente. Mas quando entrei, você tinha acabado


de entrar no palco. Eu ia me virar e sair depois que você
terminasse, mas então você me viu.

— Por que você sairia?

— Porque não tinha certeza se você se sentiria confortável


sabendo que ouvi tudo.

— Ok... — Balancei minha cabeça. — Você vai ficar?

Seus olhos queimaram os meus. — Você quer que eu


fique?

Engoli. — Sim.

— Tudo bem, — disse ele, olhando ao redor.

— Preciso de uma bebida. O que você quer?

Ele estendeu a mão. — Nada pra mim. Estou dirigindo.

Minhas pernas estavam bambas enquanto caminhava


para o bar – e eu não tinha bebido nada ainda.
Jace estava conversando com Kellianne quando voltei
para a mesa com um mojito para mim e água gelada para ele.
Ainda estava confusa, mas também emocionada por Jace ter
aparecido aqui esta noite. Ele esteve em minha mente o dia
todo, e isso significava que em algum nível, estava pensando
em mim também. Não tinha certeza se estava lendo muito
sobre isso, mas como não poderia? Afinal, eu estava tentando
manifestar esse tipo de atenção de Jace por semanas.
Finalmente estava funcionando?

— Então... — Kellianne disse. — Jace estava me contando


como aconteceu de ele estar dirigindo e decidiu verificar as
coisas. — Ela me lançou um olhar que me fez querer lhe dizer
para parar com essa merda.

Eu sabia o que ela estava pensando. Mas eu também


sabia que isso poderia ter mais a ver com Jace agindo como
um espião em nome de Nathan do que qualquer outra coisa.

Jace olhou ansiosamente ao redor da sala, como se


esperasse que a polícia da moralidade aparecesse a qualquer
minuto e o carregasse para longe.

Estava tão emocionada hoje cedo quando me sentei


sozinha naquele café, com raiva de minha incapacidade de
controlar meus sentimentos, minha incapacidade de seguir em
frente com a situação impossível de querer alguém que eu não
poderia ter. Minhas emoções me deixaram um pouco louca,
acho. (Bem, mais maluca do que o normal.) Durante o jantar
com Kellianne, decidi que iria subir no palco hoje à noite,
acontecesse o diabo ou sol, e cumpri essa promessa. Mas
porque continuei tagarelando, fui a última pessoa a falar. Jace
tinha de alguma forma feito isso na hora certa.

Eventualmente, Kellianne se levantou de sua cadeira. —


Vou indo. Você vem comigo ou...

— Vou levá-la para casa, — Jace disse.

— Imaginei. Só não queria ser presunçosa. — Ela franziu


as sobrancelhas para mim.

Desejei que ela não fosse tão óbvia.

Depois que Kellianne saiu, Jace se virou para mim. —


Pronta para sair daqui?

— Sim.

Bebi o resto da minha bebida até que o canudo fez um


som de sorver. Então Jace liderou o caminho para fora da
porta.

O tempo tinha esfriado muito, e uma brisa rápida soprou


em meu cabelo. Jace desarmou a caminhonete e abriu a porta
do passageiro para mim. Sentei-me em meu assento e puxei o
cinto de segurança sobre mim.

Ele ligou a caminhonete e saiu da vaga. Parecia estar


dirigindo mais devagar do que o normal quando se virou para
mim.
— Não quero que Nathan saiba que estive com você esta
noite, ok? Vou deixar você na esquina da nossa rua para que
ele não veja minha caminhonete.

— Para onde você vai?

— Vou dirigir por aí um pouco.

— Por que você não quer que Nathan nos veja juntos?

Jace suspirou. — Ele me disse que não gostou de nos ver


juntos naquele dia na piscina. No fundo, ele não confia em mim
com você. Embora eu tenha conseguido acalmar seus medos,
não acho que ele vá me dar outra chance se nos encontrar
saindo sozinhos novamente.

Uau. — Então espere. Ele confrontou você?

— Não especificamente sobre isso. Saiu no meio de outra


conversa.

— O que você disse a ele?

— Que ele não tem nada com que se preocupar.

Isso doeu. — Isso é verdade? Será que ele realmente não


tem nada para se preocupar?

Jace rangeu os dentes. — Ele não tem nada com que se


preocupar. Ele apenas pensa que sabe. Por causa do meu
histórico com mulheres, ele assume que todas as mulheres são
iguais na minha mente. — Ele passou a mão pelo cabelo. — É
diferente com você.
Cruzei meus braços quando paramos em um sinal
vermelho. — Sério... o que me torna tão diferente? Você não
tem estado perto de mim nos últimos nove anos. Agora você
não sabe se deve me tratar como a garota que você deixou para
trás ou como a mulher que sou. Isso não muda o fato de que
agora sou uma mulher e não aquela garota.

Ele soltou um longo suspiro enquanto pisava no


acelerador novamente. — Não é uma questão de idade... É uma
questão de respeito. Eu não faria nenhum movimento com você
pelo simples fato de que você é irmã de Nathan e isso o deixaria
chateado. Fim da história.

— Você gostaria, se as coisas fossem diferentes?

Ele mordeu o lábio inferior. — Como o quê?

— Fazer um movimento em mim, se eu não fosse irmã de


Nathan.

— Isso é irrelevante. Não importa se eu quero ou não.

— Isso importa a mim. Eu quero saber.

Ele estava certo. O que importava se ele nunca agiria


sobre isso? Mas queria saber se ele me queria, talvez para que
pudesse marinar nesse conhecimento, fantasiar sobre os “e
se”, e apenas ter a satisfação geral de saber que meu desejo
era correspondido.

Em busca da resposta de que precisava, reformulei minha


pergunta. — Por que você veio ao The Iguana hoje à noite?
Ele fechou os olhos brevemente e exalou. — Não sei,
Farrah. Eu gostaria de poder dar uma resposta que faça
sentido. Foi uma decisão impulsiva. Não estava pensando em
ficar. Acho que estava curioso para saber se você estava me
dizendo a verdade sobre não entrar no carro de um cara.

— Não havia nenhum cara, — confessei.

Ele estreitou os olhos. — O que você quer dizer com não


havia nenhum cara?

Meu rosto estava quente. — Menti.

Ele ergueu a voz. — Por que diabos você faria isso?

Não havia escolha a não ser honesta. Qualquer outra


explicação teria me feito soar como uma mentirosa patológica.
Eu já tinha colocado tudo em risco esta noite ao subir naquele
palco...

Aqui vai.

— Senti-me muito estranha, voltando para casa e


encontrando você com aquela garota. Eu estava saindo para
não ter que estar lá enquanto você estava fazendo Deus sabe o
que com ela no quarto ao lado. Tentei sair sem fazer muito
barulho, mas meu carro idiota não deu partida. Quando você
me perguntou quem eu iria encontrar, apenas disse a primeira
coisa que veio à mente.

Jace não respondeu. Meu coração batia mais rápido a


cada segundo que passava.
Diga algo.

Seus olhos se suavizaram. — Você não precisava mentir.


Você poderia apenas ter me dito que estava desconfortável. Eu
teria saído de casa e ido para outro lugar.

— Por que você tem que fazer isso? É a sua casa também.

— Bem, agora que sei que isso a deixa desconfortável,


tentarei ser mais atencioso.

— Eu não estava brava porque você trouxe uma garota


para a casa em si. Não foi só isso. — Preparei-me. — Era o
momento. Eu estava com raiva porque senti algo entre nós
quando estávamos na piscina. E você trazer uma garota logo
depois me deixou com ciúmes inacreditáveis. — Todos os
músculos do meu corpo se contraíram.

A caminhonete sacudiu quando Jace saiu da estrada


principal e saiu por uma rua lateral.

Onde ele está indo?

Ele finalmente parou em um estacionamento vazio do


playground.

Parecendo um pouco atormentado, desligou a


caminhonete e encostou a cabeça no assento. Então ele se
virou para mim. — Você precisa tirar aquele momento que
aconteceu entre nós da sua cabeça, ok?

— Você está dizendo que não era um momento? Você


também sentiu? Não foi minha imaginação?
— Se eu senti ou não alguma coisa é irrelevante. — Ele
me olhou nos olhos. — Nathan me mataria se eu colocasse a
mão em você.

— Esse momento que compartilhamos tem algo a ver com


o motivo de você ter vindo para o The Iguana esta noite? —
Minha respiração se acelerou. — Foi mais do que apenas
verificar se eu não estava mentindo?

Você poderia ter ouvido um alfinete cair no caminhão


enquanto Jace olhava para o trepa-trepa vazio.

Então ele virou todo o seu corpo para mim. — Ok, olhe.
Divulgação total... você é uma garota linda. Não há como
negar. E sim, houve um momento. Mas foi só um momento,
ok? Um lapso de julgamento da minha parte, assim como foi
aparecer esta noite. Naquele dia na piscina... eu estava me
divertindo muito com você. Eu me sentia mais em paz e
despreocupado do que há algum tempo, há muito tempo. Não
sei se é porque você me lembra de uma época feliz da minha
vida, minha juventude, ou se é mais do que isso. Mas não
posso investigar. Essa é a questão. — Ele fez uma pausa. — Se
as coisas fossem diferentes, seria muito natural sentir-me
atraído por você.

Meu coração queria explodir. — É muito surreal ouvir


você dizer isso. Por muito tempo, parecia que você me via como
aquela garota de 12 anos que você deixou para trás quando se
mudou para a faculdade.
Ele riu enquanto olhava para cima. — Vamos colocar
desta forma: Eu gostaria de ainda poder te ver assim.

— Eu tive uma queda maior por você naquela época, —


admiti.

Ele assentiu. — Eu sei.

— O quê? O que você quer dizer, sabe?

— Eu sabia disso, dessa sua pequena queda por mim. —


Ele sorriu hesitantemente.

Endireitei-me em meu assento. — Como isso é possível?


Nunca contei a ninguém. Eu só escrevi sobre isso no meu
diário.

Um olhar culpado cruzou seu rosto.

— Jace... o que você não está me dizendo?

Ele colocou a cabeça no volante por um momento e


murmurou: — Merda.

— Você olhou no meu diário?

Olhando para cima, ele riu. — Não. Não olhei. Juro.

— Então como você sabia? Porque pensei que eu


disfarçasse muito bem.

— Sua mãe me contou.

— Minha mãe? — Pisquei. — O quê? — Isso não fazia


sentido. Minha mãe nunca teria traído minha confiança.
— Ok, antes de ficar chateada, tente entender que ela
tinha seus melhores interesses em mente quando deixou
escapar.

— Como me dedurar pode significar que ela tem meus


melhores interesses em mente?

— Acho que houve um período em que comecei a levar a


Grace muitas vezes à sua casa. Convidei-a para jantar na casa
de seus pais mais de uma vez. Eu não fazia ideia de que você
se sentia de certa forma por mim. Numa noite, sua mãe bebeu
vinho demais depois do jantar, eu acho. Você desapareceu em
seu quarto e Grace tinha acabado de sair. Eu estava sentado
à mesa com Nathan e seus pais se preparando para jogar
cartas. — Ele olhou para o lado. — Nunca esquecerei isso. Ela
disse: 'Você se importa em tirar minha filha de seu sofrimento
e não convidar tanto Grace para jantar?' Eu não tinha ideia do
que ela estava falando. Então ela explicou.

— Eca.

— Sua mãe estava cuidando de você. — Ele sorriu. — Seu


pai ficou sentado, revirando os olhos.

Encarei o céu noturno. — Não sei como me sentir com


esta notícia. Por um lado, é uma história doce e, por outro,
quero matar minha mãe postumamente. — Balancei minha
cabeça. Então me dei conta. — É raro você mencioná-los.

Jace acenou com a cabeça. — Sim, bem, acho que ouvir


você falar esta noite me trouxe coragem.
Os grilos piaram enquanto eu pensava no que dizer a
seguir. Tive que tomar cuidado para não abrir nenhuma ferida
antiga. — Sempre presumo que isso te machuca muito, então
nunca falo sobre eles na sua frente ou pergunto qualquer
coisa... sobre... você sabe.

— É uma merda porque sinto que deveria ser capaz de


falar sobre isso... por você e Nathan..., mas não posso.
Desculpa por isso.

Descansei minha mão em seu joelho. — Ninguém espera


que você se abra se for muito doloroso. Está tudo bem se você
nunca quiser.

Ele exalou. — Foi definitivamente mais fácil estar em


Charlotte todos esses anos. Se você está tentando não ter que
lidar com algo, a distância ajuda.

— Você não precisa falar sobre isso, mas se quiser, pode


falar comigo. Você sabe disso, certo? Também não é fácil para
mim, mas gostaria de ajudá-lo.

Sua boca se curvou. — Como você se tornou tão forte?

— Tento ser forte pelo Nathan, mas isso não significa que
minha mente não viaje para lugares sombrios.

— É por isso que esta noite foi tão incrível. O que quer
que tenha me trazido para aquele maldito bar... eu nunca
esperei ver você no palco. Estou orgulhoso de você por colocar
seus medos de lado.
Senti-me sorrindo. — Obrigada.

— Sua mensagem, de que está tudo bem não estar bem,


sem dúvida ajudou alguém na plateia esta noite, incluindo eu.
— Os olhos de Jace permaneceram nos meus.

— O que você está pensando agora? — Perguntei.

Ele olhou para a hora no painel. — Estou pensando que


é melhor te levar para casa. Nathan vai se preocupar se você
se atrasar. Ele acha que Kellianne está dirigindo, e ela já
deveria ter levado você de volta.

— Ele teria me enviado uma mensagem se estivesse tão


preocupado. — Fiz uma pausa, olhando para o parquinho na
escuridão. — Gosto de falar com você, Jace.

— Também gosto de falar com você, — ele sussurrou.

Apesar do que ele acabou de dizer, parecia em conflito.

Arqueei minha sobrancelha. — Mas…

— Mas isso não pode ser nada mais do que falar.

De jeito nenhum eu iria parecer desesperada e discutir


sobre isso. Mas me recusei a perder as esperanças. Não estava
imaginando coisas naquele dia na piscina. Foi real.

Sem dizer mais nada, ele ligou a caminhonete e começou


a dirigir pelas ruas ladeadas de palmeiras em direção a nossa
casa.
Como prometido, Jace parou na esquina. — Vejo você em
breve.

— Obrigada pela carona, Kellianne. — Provoquei


enquanto abria a porta.

— Idiota. — Ele murmurou.

Jace ficou no mesmo lugar até que virei a esquina. À


distância, pude ouvi-lo decolar. Esperava que ele não estivesse
indo para a casa de alguma garota.

Seus instintos estavam aparentemente corretos, porém,


porque no segundo em que entrei pela porta, Nathan estava lá,
parecendo preocupado. Não conseguia imaginar o que ele teria
pensado se Jace e eu tivéssemos entrado juntos.

— Você me deixou preocupado, — disse ele. — O bar


fechou há meia hora. Achei que você tivesse se envolvido em
um acidente.

— Por que você não me mandou mensagem se estava


preocupado? — Perguntei.

— Eu estava prestes a fazer.

— Você não deveria ter se preocupado.

— Jace mencionou que você saiu com um cara que


conheceu na Internet hoje cedo. Eu não tinha certeza se você
estava realmente com ele e não com Kellianne.
Senti-me péssima mentindo para meu irmão. Então,
tentei evitá-lo. — Eu estava com Kellianne no The Iguana. E
você nunca vai acreditar no que aconteceu.

— O quê?

— Finalmente me levantei e falei.

— Você fez?

— Sim.

— O que fez você fazer isso esta noite?

— Minhas emoções estavam meio descontroladas o dia


todo e eu precisava tirá-las de alguma forma. Falei sobre o que
aconteceu com mamãe e papai – sem entrar em detalhes.
Honestamente me surpreendi.

— Uau. — Ele me puxou para um abraço. — Estou muito


orgulhoso de você. Gostaria de ter estado lá.

Ele e eu conversamos por cerca de quinze minutos antes


de a porta da frente se abrir.

Nossas cabeças se viraram em uníssono quando Jace


entrou.

Nathan pareceu surpreso. — Ei. Não esperava que você


voltasse. Achei que você voltaria para a casa daquela garota
depois da casa dos seus pais. Que maldita gostosa.

Senti meu rosto esquentar. Não tinha dado uma olhada


nela e agora estava feliz por isso.
— Não. Ela não é minha garota. Ficarei aqui esta noite.

Os olhos de Jace travaram nos meus por um momento, a


culpa escrita em todo o seu rosto. Estranhamente, isso me deu
esperança de que tudo o que estava acontecendo entre nós
estava longe de terminar.

No meio da noite, não conseguia parar de pensar em Jace.


Peguei meu telefone e cliquei em seu nome.

Farrah: Você está acordado?

Fiquei olhando para a tela, esperando sua resposta.

Jace: Por que você está me enviando mensagens de texto?

Farrah: O que você quer dizer?

Jace: Você sabe que seu irmão está sempre pegando a


porra do seu telefone. Você não deveria estar me mandando
mensagens de texto.

Seu raciocínio fazia todo o sentido, mas sua resposta


abrupta ainda me irritou.

Farrah: Você pode me perseguir, mas não posso enviar


uma mensagem de texto?
Ele não respondeu, então depois de alguns minutos,
digitei novamente.

Farrah: Sinto muito por chamá-lo de perseguidor. O fato


de você ter aparecido esta noite me deixou muito feliz. Mas
passei de feliz para chateada depois de nossa conversa, e agora
não consigo dormir.

Os três pontos se moveram por um tempo. Sua resposta


finalmente veio.

Jace: Tente dormir um pouco. E apague esta corrente de


mensagens do seu telefone, ok?

Revirando os olhos, resisti à vontade de gritar de


frustração.

Farrah: Feito.

Passei o nome dele para deletar nosso histórico.


Capítulo 8

Jurei ficar longe de casa o máximo possível na semana


seguinte. Trabalhei no carro de Farrah e o coloquei em
funcionamento novamente, mas fiz o possível para evitá-la.
Tendo cruzado tantos limites com ela na outra noite, não iria
arriscar fazer ou dizer nada imprudente novamente. Já era
ruim o suficiente eu ter ido ao The Iguana para ver como ela
estava, mas também disse que gostaria de transar com ela se
não fosse irmã de Nathan. Encolhi-me. Nunca deveria ter
admitido minha atração por ela.

Apesar do fato de Farrah poder rivalizar com uma maldita


modelo da Victoria's Secret no departamento de aparência, foi
mais do que uma atração física que me atraiu a ela. Sentia-me
muito conectado com Farrah – não apenas porque
compartilhamos um pouco da mesma dor, mas porque sempre
que eu olhava nos olhos dela, me lembrava da inocência e da
paixão e de tudo o que havia de bom no mundo. Sempre achei
que ela podia ver o que há de bom em mim, mesmo que eu
mesmo não pudesse ver. Por anos, sabia sobre sua pequena
paixão, e nunca me senti merecedor disso, ou do jeito que ela
olhava para mim, ainda mais agora. Mas especialmente agora.

De jeito nenhum iria estragar tudo de novo. Precisava


manter meus sentimentos escondidos onde eles pertenciam –
e meu pau escondido também, enquanto eu estava nisso.

Hoje, depois do trabalho, me forcei a visitar meus pais


para evitar topar com Farrah. Sabia que não poderia ficar longe
de casa para sempre, mas ficaria até que a tensão entre nós
diminuísse um pouco. Pode ter sido estúpido presumir que
simplesmente iria embora, mas eu estava esperançoso.

Meu pai estava sentado na cama quando cheguei.

Bati de leve em sua porta. — E aí, meu velho? Como você


está se sentindo?

— Vou ficar melhor se você me disser que fomos


aprovados para o empréstimo.

Sentando na cadeira ao lado de sua cama, esfreguei


minhas têmporas. — O banco está demorando muito para
entrar em contato comigo. Eles pediram mais algumas
informações e pedi a Kristy para enviar o que eles precisavam.
Espero que possamos esclarecer isso.

— Não posso agradecer o suficiente por tudo que você fez.

Concordei. — Deixe-me perguntar de novo... Como você


está se sentindo?
— Tenho me sentido mal à noite, mas, no geral, não posso
reclamar. Sua mãe cuida bem de mim.

— A comida dela curaria qualquer doença.

— Não é só a comida dela. — Ele piscou.

— Com licença enquanto vou vomitar.

— Você sabe que seu pai é um cachorro. — Disse minha


mãe atrás de mim. Ela aparentemente estava parada na porta.

Tal pai, tal filho. Não foi meu pau que me levou ao The
Iguana na outra noite? A paixão é como um vício.

Certo, eu não caracterizaria meus sentimentos por


Farrah como um vício no nível de papai. Mas até agora, não fui
capaz de tirá-la dos meus pensamentos. Desejei que fosse mais
fácil esquecê-la.

— Olha pai. Deixe-me perguntar algo.

— O que é, filho?

— Sei que você tem a melhor das intenções quando se


trata de parar com o jogo, mas como exatamente você planeja
fazer isso? Quer dizer, você diz que vai conseguir ajuda e não
vai fazer de novo, mas se algo é tão difícil de resistir, como você
realmente sabe que pode parar?

Pedindo por um amigo.

Ele suspirou. — Não tenho garantias de que não vou


escorregar. Eu apenas oro a Deus para que eu possa fazer isso.
O principal é me manter fora da atmosfera que me provocaria.
Isso significa nunca mais entrar em um cassino. Ainda há
jogos de azar on-line, é claro, mas isso nunca foi meu estilo.
Não há nada como a pressa de estar nas mesas. Sem dúvida,
não vai ser fácil, mas acho que você precisa chegar a um ponto
em que esteja disposto a passar por sofrimento para fazer o
que é melhor para sua família.

Assentindo silenciosamente, absorvi as palavras do meu


pai. Elas me lembraram de um programa que eu costumava
assistir, Intervention, em que viciados em drogas eram
confrontados por familiares sobre irem ao tratamento. Pelo
menos metade das vezes a pessoa apresentada no programa
tinha uma recaída. Os vícios eram difíceis de quebrar, mesmo
se tudo estivesse em jogo. E eu me preocupava se minha
necessidade de proteger Nathan seria o suficiente para me
manter longe de Farrah. Poderia me relacionar com a tentação
de um comportamento autodestrutivo, mesmo que magoasse
as pessoas. Papai tinha razão, porém, sobre se manter fora do
meio ambiente. Talvez eu precisasse pensar em me mudar da
casa de Nathan assim que ele encontrasse um emprego.

Minha mãe interrompeu meus pensamentos. — Nathan


ligou para Jack McGrath sobre a posição na concessionária
Ford?

Falando no diabo. — Dei a ele o recado. Ele me disse que


ligaria. Espero que dê certo. Ele está realmente chateado por
não ter um emprego.
— Bem, diga a ele para pensar positivamente e isso
acontecerá.

Eu ri. — Você parece Farrah.

— Por que diz isso?

— Quando contei a ela sobre a situação financeira de


Muldoon, foi exatamente o que ela me disse – imaginar que
conseguir o dinheiro seria fácil e de alguma forma eu poderia
manifestá-lo.

— Garota esperta, — disse minha mãe. — Parece que ela


aprendeu a transformar limões em limonada ao longo dos
anos. Essa é a diferença entre alguém que diz 'ai de mim'
quando recebe algo injusto e uma pessoa que persevera. Uma
ótima atitude é tudo.

— Bem, sei que ela está escondendo muita dor, — eu


disse. — Mas ela faz o melhor que pode. Ela tenta ser forte por
Nathan.

— Você disse que ela não está na faculdade, certo?

— Não. Ela não está.

— Você deve incentivá-la a se inscrever.

Isso mesmo, Jace. Você deveria ser o mentor dela,


tentando colocá-la na escola... não a perseguir e fantasiar sobre
dormir com ela.
— Talvez eu vá. Sei que ela teve algumas aulas na
faculdade comunitária, mas não é a mesma coisa. Ela tem um
trabalho de secretária neste escritório de advocacia que paga
decentemente, considerando que ela não tem um diploma. É o
suficiente para sobreviver, mas acho que ela sabe que está
limitando seu potencial por não continuar seus estudos.

Mamãe assentiu. — Imagino que com Nathan sem


emprego, ela ficará ainda mais relutante em pensar em desistir
por enquanto.

— Sim, embora ele não devesse ser responsabilidade dela,


acho que ele impacta muitas das decisões dela. Ela
provavelmente teria se mudado para ir à faculdade se não fosse
por querer estar aqui para ele.

— Talvez agora você possa estar lá para ele, então ela não
precisa estar tanto. — Ela sorriu. —No entanto, sou
tendenciosa ao dizer isso. Sempre fiquei feliz por você ter tido
a chance de sair da Flórida por um tempo, mas espero que
considere ficar aqui desta vez. Não consigo me imaginar
vivendo longe do meu único filho para sempre.

Deixe a viagem de culpa.

— Não posso fazer promessas, mãe.

— Compreendo. Sei que você amava sua vida em


Charlotte.

— Bem, não subestime a necessidade de estar perto da


família. Por mais que eu amasse Charlotte, estava sozinho lá.
— Eu ri. — Mas se sua família é um pé no saco, isso pode ser
uma coisa boa. — Olhei para meu pai e levantei uma
sobrancelha.

— Espero que possamos convencê-lo de alguma forma a


ficar, — ela disse.

— Acho que muito disso dependerá de eu me comportar


ou não, — disse meu pai.

— Muito bem, meu velho.

Eu estava mais preocupado se ele sobreviveria ou não ao


câncer. Mas não queria que ele soubesse o quão preocupado
eu estava. Não importa como as coisas acontecessem com a
empresa, não deixaria Palm Creek até saber que ele estava
bem.

A construção da estrada significava que eu tinha que


pegar outro caminho para casa saindo da casa dos meus pais
naquela noite. Isso não teria sido um problema, exceto que me
forçou a tomar um caminho que normalmente evitei com todas
as minhas forças – a estrada onde o roubo aconteceu sete anos
atrás. Consegui contornar aquele trecho de estrada todo esse
tempo, e agora um desvio havia cruelmente me levado até lá.
Minhas mãos começaram a tremer quando passei pelo
local onde os pais de Farrah foram assassinados. Pisei no
acelerador para passar o mais rápido possível. O suor gotejou
na minha testa enquanto eu agarrava o volante.

Quando finalmente consegui passar, meu pulso


desacelerou.

Muito de tudo na vida estava fora de vista, longe da


mente. De alguma forma, consegui compartimentar as coisas,
mesmo enquanto morava com Nathan e Farrah. Talvez fosse
mais fácil porque eles não moravam na mesma casa que antes.
Mas dirigir naquela estrada trouxe aquela memória terrível
para o primeiro plano. Todas as coisas que eu nunca quis
lembrar passaram pela minha cabeça: os gritos de Elizabeth
quando seu marido foi morto a tiros. O cheiro do tiroteio
quando ela foi morta pouco depois. As horríveis consequências
quando liguei para o 911. Não desejaria essa experiência ao
meu pior inimigo.

Quando voltei para casa, meus nervos estavam à flor da


pele. Parecia que tinha corrido uma maratona com um monte
de tijolos nas costas.

Consegui entrar, mas fiquei na cozinha, olhando para a


parede por um tempo. Meu humor melhorou um pouco quando
vi o sorriso no rosto de Nathan quando ele entrou na casa.
Estava vestindo uma camisa social e gravata, o que era
estranho.

— E aí? — Perguntei.
Ele se virou. — Você está olhando para o mais novo
associado de vendas da Billings Ford.

Sorri. — Você conseguiu?

— Sim.

Batendo em seu ombro, disse: — Parabéns, cara. Minha


mãe estava me perguntando sobre isso, e disse a ela que nem
sabia se você tinha ligado.

— Liguei esta manhã e me disseram para comparecer esta


tarde para uma entrevista. Contrataram-me na hora.

— Bem, essa é a melhor notícia que ouvi o dia todo.

Ele examinou meu rosto. — Você está bem?

— Sim. Por quê?

— Você parecia deprimido quando entrei.

— Apenas estresse relacionado ao trabalho, — menti. —


Isso é tudo.

Imagine se eu tivesse admitido tudo o que estava me


incomodando hoje – não apenas o fato de ter dirigido até o local
onde seus pais foram assassinados, mas também de me sentir
culpado porque gozei forte na noite passada enquanto
imaginava a bunda de sua irmãzinha. Sim. Isso provavelmente
não funcionaria muito bem.
— Vamos comer alguma coisa, tire sua mente das coisas,
— disse ele. — Para comemorar meu novo trabalho também.
Não sei onde Farrah está, mas não precisamos ficar esperando.

Por mais que eu quisesse fugir, porque estar perto de


Nathan me colocava no limite, me forcei a fazer o oposto.
Nathan merecia coisa melhor do que um amigo que não
celebraria seu novo trabalho com ele. Além disso, seria mais
tempo longe de casa e uma maneira de evitar um encontro com
Farrah esta noite.

Eu sorri. — Quer saber, cara? Isso parece muito bom.


Vamos.

Nathan e eu fomos ao Applebee's e saboreamos


hambúrgueres e cervejas. Relembramos nossa infância. Até fiz
questão de flertar com a garçonete para desviar ainda mais do
que estava acontecendo na minha cabeça sobre Farrah. Pelo
menos na superfície, parecia que tudo estava normal. Mas por
dentro, eu ainda sentia que estava à beira de um precipício.

Quando voltamos para casa, Farrah estava esparramada


no sofá assistindo televisão, vestindo apenas um top de biquíni
e um short curto.
Foda-se.

Sério? Consigo evitá-la por dias, e é assim que ela se veste


da primeira vez que a vejo de novo?

— Seria bom se você colocasse algumas roupas malditas,


— Nathan disse.

Engoli em seco.

— Pensei que estava sozinha. — Ela se sentou. — Onde


vocês estavam?

— Applebee's. Comemorando. — Ele acrescentou com um


sorriso.

— Celebrando o que?

— Consegui o emprego na concessionária!

Seus seios saltaram quando ela se levantou do sofá.


Jesus. Forcei meus olhos para longe.

Ela puxou Nathan para um abraço. — Estou tão


orgulhosa de você. Essa é a melhor notícia de todas. Gostaria
de saber que você estava saindo para comemorar. Eu teria ido.

— Bem, você não estava em casa e foi uma decisão


improvisada, — disse ele.

— Estou tão feliz! — Ela deu um tapinha nas costas dele.

— Obrigado. Tenho que mijar. — Nathan disse, passando


por ela para caminhar pela cozinha até o banheiro.
Demorei alguns segundos para perceber que não havia
me movido e que estava pasmo novamente. Farrah sorriu ao
parar na minha frente, parecendo apreciar minha admiração
por seu corpo. Sempre fui tão óbvio? No passado, pensava que
só olhava furtivamente para ela, mas talvez não fosse tão
esperto. Talvez ela tenha notado o tempo todo.

Limpando a garganta, eu disse: — Você deve colocar


algumas roupas.

Seu peito arfou. — Por que você gosta de olhar para mim?

Sim. — Não importa o que eu gosto.

— Não consigo parar de pensar em você, — ela sussurrou.

O som dos passos de Nathan se aproximando fez meu


corpo estremecer em movimento. Passando por Farrah, fui
direto para o banheiro principal. Arranquei minhas roupas e
abri a água fria. Entrando, deixei a água cair sobre mim,
rezando para lavar minha culpa.
Capítulo 9

Tinha acabado de chegar do trabalho quando a


campainha tocou.

Espiando pelo olho mágico, vi Nora segurando uma pilha


de pão sírio.

Abri. — Isso é para mim?

— Preciso de algo para espalhar sobre isso. Não temos


nada em minha casa. Minha mãe precisa ir às compras.

— Entre.

O tio de Nora era dono de uma padaria do Oriente Médio


nas proximidades. Ela me disse que ele se levantava, tipo, às
duas da manhã para assar pão e muitas vezes fazia tanto que
deixava uma pilha na porta delas algumas vezes por semana.
Ela compartilhava comigo com frequência porque ela e a mãe
tinham sobra no freezer. Embora, nunca parecesse ter algo
para comer.

Fui até a geladeira. — O que você tinha em mente? Creme


de queijo... manteiga de amendoim?
— E a manteiga?

— Isso soa bem. Podemos aquecer o pão primeiro, torná-


lo agradável e tostado.

Ela esfregou a barriga enquanto se sentava no balcão. —


Hum.

— Achei que sua mãe tivesse dito para você não sair de
casa, — eu disse enquanto abria o pacote de pão.

— Ela disse. Mas não acho que se importaria que eu


estivesse aqui.

— Ok, mas você pode enviar uma mensagem de texto


dizendo que está aqui para que ela saiba?

Nora acenou com a cabeça e puxou o telefone.

Peguei um pouco do pão árabe e coloquei na torradeira.


— Como foi a escola hoje?

Nora encolheu os ombros. — Estava tudo bem.

— Aprendeu algo interessante?

— Na verdade não, — ela murmurou.

Eu ri. Eu costumava dar a minha mãe o mesmo tipo de


resposta quando me perguntava. Costumava me pressionar
para pensar em uma coisa que aprendi e nunca aceitou minha
resposta original de “nada demais”.

— Por que você parece triste? — Perguntou Nora.


— Pareço? Não percebi isso. Acabei de me lembrar de algo
que me deixou um pouco nostálgica. — Afastei o pensamento
da minha cabeça. — De qualquer forma, o que mais há de novo
com você?

— Não muito. Como está Jace?

Ainda me arrependo de ter contado a ela sobre minha


paixão, então evitei sua pergunta. — Como está Shawn?

— Ele ainda não sabe que estou viva.

— Sim, bem, às vezes isso pode ser melhor do que a


realidade. Ele nunca pode te machucar se não souber que você
existe.

Ela olhou para a torradeira. — O pão vai queimar.

Merda! Pulei. — Você está certa. Obrigada.

Tendo recuperado o pão bem na hora, passei manteiga


nele. O conforto que senti ao devorar aquele pão quente com
manteiga foi exatamente o que o médico receitou.

— Isso é realmente delicioso, — disse com minha boca


cheia. — Obrigada por trazer.

— Obrigada por estar em casa para não ter que comer


sozinha. — Nora sorriu. — E pela manteiga.

— Você é sempre bem-vinda aqui. Mas gosto quando você


pede permissão a sua mãe primeiro.

— Podemos ir nadar?
Parei de mastigar por um momento. — Sim, mas você
teria que perguntar a sua mãe se está tudo bem.

Ela mandou uma mensagem para a mãe novamente.


Depois de um momento, seu telefone apitou com uma resposta
e ela franziu a testa.

— Mamãe quer que eu vá para casa e faça meu dever de


casa. Ela diz que não quer se preocupar comigo nadando
enquanto está no trabalho.

Senti-me mal por Nora, mas conseguia entender a


preocupação de sua mãe. — Vou te dizer uma coisa, talvez
possamos pedir a sua mãe para vir em um desses fins de
semana com você. Aposto que ela ficaria mais confortável com
você nadando na piscina se estivesse aqui para assistir.

— Sim, talvez. — Ainda parecendo triste, ela pulou de seu


assento. — Bem, é melhor eu ir.

— Alegre-se. Faça sua lição de casa para que você possa


relaxar.

Ela acenou. — Tchau, Farrah.

Depois que a porta se fechou atrás dela, deixei escapar


um longo suspiro. Não é fácil para Nora ficar tanto tempo
sozinha; ela merecia um pouco de diversão.

Alguns segundos depois, houve uma batida na porta.


Olhei para o resto do pão árabe no balcão e imaginei que Nora
tinha voltado para pegá-lo. Mas meu coração caiu no segundo
em que abri a porta, pois não era Nora – era aquele homem
zangado, James, o cara que tinha vindo aqui em casa antes,
procurando o dinheiro que a Construtora Muldoon lhe devia.

Meu coração bateu forte quando fechei a porta pela


metade, apenas com a minha cabeça aparecendo. — Como
posso ajudá-lo?

— Você pode me ajudar me dizendo onde diabos Jace


está. Acabei de ir ao escritório dele, mas ele não está lá. Quero
a porra do meu dinheiro e não vou esperar outro dia por isso.

Minha voz estava trêmula. — Escute... entendo


perfeitamente como você se sente. A empresa está passando
por uma situação difícil, e sei que ele está fazendo tudo ao seu
alcance para...

— Eu disse, quero a porra do meu dinheiro! — Ele gritou.


— E não vou embora até que eu pegue.

— Ok, bem, não posso deixar você entrar, então...

— Isso é bom. Vou esperar aqui, porra, até ele voltar.

O medo me consumiu. O que exatamente ele iria fazer se


Jace não pudesse vir com o dinheiro?

Só então a caminhonete de Jace apareceu, parando


bruscamente na frente da casa. Ele nem se incomodou em
parar na garagem antes de bater à porta e correr em nossa
direção.
Sua raiva foi inicialmente dirigida a mim enquanto ele
ofegava. — Eu disse para você não abrir a porra da porta!

— Achei que fosse Nora. Ela estava aqui há apenas um


segundo. É a única razão pela qual não verifiquei.

Ele se virou para James. — Você não tem o direito de vir


aqui.

— Não vou embora até receber meu dinheiro.

Jace esfregou a mão no rosto e soltou um longo suspiro.


— Entre no seu carro e siga-me até o banco na Wheeler Street.

James bufou e relutantemente voltou para seu veículo. A


adrenalina correu por mim enquanto os dois saíam, porque eu
ainda não tinha certeza do que estava acontecendo. Jace iria
tirar dinheiro de sua própria conta? James faria algo se Jace
não pudesse chegar com a quantia total?

Passei a meia hora seguinte me preocupando com o que


estava acontecendo no banco.

Quando a caminhonete de Jace finalmente parou na


garagem e pude ver que ele estava seguro, soltei um enorme
suspiro de alívio. Abri a porta da frente e esperei por ele na
soleira.

— Está tudo bem? — Perguntei quando ele se aproximou.

Ele ignorou minha pergunta e olhou para mim quando


entrou na casa. — O que eu falei sobre abrir a porta quando
você está sozinha em casa, Farrah?
— Já disse, só respondi porque Nora tinha acabado de
sair. Presumi que fosse ela – que ela tivesse esquecido algo. Foi
má sorte. Se eu soubesse que era ele, não teria aberto.

— Ele não tocou em você, não é?

— Não. Ele não colocou a mão em mim. — Suspirei. —


Lamento ter aberto a porta.

Jace expeliu uma respiração longa e lenta e pareceu se


acalmar. — Está bem. Sinto muito por gritar com você.

— O que aconteceu no banco?

— Está resolvido.

— Quão resolvido?

— Dei a ele seus vinte mil.

— De sua própria conta?

— Sim. É uma merda, mas quero que ele nos deixe em


paz.

Não me surpreendeu que Jace tivesse dinheiro suficiente


em sua conta para pagar James de volta. Eu sabia que o
emprego dele em Charlotte pagava bem, e ele não parecia
desperdiçar dinheiro.

— Estava tão preocupada com você. — Estendi a mão e


coloquei-a em sua bochecha. Esfreguei meu polegar ao longo
de sua barba por fazer.
Ele fechou os olhos enquanto sua respiração se acelerava.

Quando ele abriu os olhos, me olhou intensamente. O


calor de seu corpo era palpável. Aproximei-me mais e pude
sentir sua respiração em meus lábios.

— Por favor, diga-me que não sou a única a sentir isso,


— eu disse.

Para minha surpresa, ele sussurrou: — Você não é,


Farrah.

Enfiei meus dedos em seu lindo cabelo preto enquanto ele


murmurava algo sob sua respiração e fechava os olhos
novamente. Inclinei-me, e antes que pudesse piscar, ele tomou
minha boca na dele.

Saboreando a sensação deliciosamente quente de seus


lábios, derreti nele. Jace gemeu. Não conseguia acreditar que
isso estava acontecendo. Pressionando meu corpo contra o
dele, imediatamente notei sua ereção e pude sentir o calor
através de sua calça jeans. Minha calcinha já estava molhada.
Sua boca desceu do meu rosto até o pescoço, onde ele chupou
a pele da minha clavícula. Inclinando minha cabeça para trás,
deixei escapar um som desesperado, incapaz de conter minha
excitação. Jace puxou meu cabelo enquanto inclinava minha
cabeça para trás, chupando ainda mais forte no meu pescoço.

— Porra, Farrah... o que você está fazendo comigo? Isso é


tão errado, mas não consigo parar.

— Você não tem que parar.


Ele falou sobre minha pele. — Sim, eu tenho, porra.

Jace me puxou com mais força contra ele enquanto movia


sua boca de volta para encontrar a minha. Seu beijo foi áspero
e faminto. Ele tinha um gosto melhor do que eu poderia ter
imaginado, como açúcar e especiarias. Podia me sentir ficando
mais molhada a cada segundo. Meu corpo nunca ganhou vida
assim. Rezei para que ele não parasse.

Quando o senti se afastando, agarrei sua camisa e o


trouxe de volta para mim. Ele devorou minha boca, mais forte
e mais rápido. Levantei minha perna para envolvê-la em sua
cintura na esperança de que ele me pegasse e me levasse para
seu quarto. Essa foi, aparentemente, a decisão errada.

Jace se afastou, saindo do transe em que estava. — Porra,


não posso fazer isso.

Respirei pesadamente ao vê-lo: o cabelo que baguncei, os


lábios que deixei vermelhos e inchados, a ereção que causei.
Frenético, meu corpo continuou a zumbir de excitação.

Ele esfregou os lábios com a ponta dos dedos. Minha boca


encheu de água. Eu queria que ele me beijasse novamente.

— Não podemos deixar isso acontecer nunca mais,


Farrah. Eu estava fora da linha agora. Nem sei o que diabos
deu em mim.

— Somos ambos adultos.


Ofegante, ele me olhou nos olhos. — Você realmente acha
que Nathan poderia lidar com isso? Seja honesta.

Não acho que Nathan deveria reagir negativamente à


ideia de Jace e eu, mas eu sabia melhor. Sabia absolutamente
que Nathan nunca aceitaria isso. Teria que desafiá-lo. Se ele
descobrisse, isso arruinaria seu relacionamento com Jace;
uma das duas únicas pessoas em quem Nathan confiava teria
morrido. Jace estava certo. Simplesmente não sabia como
apagar meus sentimentos, especialmente agora que sabia que
eles foram correspondidos... pelo menos no nível físico.

— Ok. Admito que ele aceitaria muito mal.

— Você viu como ele reagiu quando estávamos na piscina.


Não estávamos nem fazendo nada então, e ele me assustou
com isso.

Isso parecia desesperador. Apenas continuei balançando


a cabeça, porque não havia nada para discutir. Isso destruiria
Nathan. Ainda era um enigma para mim, entretanto, porque
eu queria Jace mais do que já quis qualquer coisa na minha
vida – e isso não era exagero.

— Entendo que seria um pesadelo se ele descobrisse. Mas


não sei como desligar meus sentimentos. Estava louca por você
antes de saber que você tinha qualquer interesse em mim. Mas
agora que sei que você também tem sentimentos, eu...

— Apenas tire o que você pensa que sabe da sua cabeça,


ok? Sim, eu me preocupo com você, e isso existe há muito
tempo. E sim, estou inadequadamente atraído por você agora.
Você se tornou uma linda mulher e eu sou um homem – não
posso deixar de me sentir atraído por você. Mas posso rever
minhas ações. Preciso fazer o que é melhor para todos nós.

— Então, o que isso significa exatamente?

— Significa... fingir que o erro que cometi sob uma


quantidade incrível de estresse não aconteceu. Fiquei nervoso.
Estava preocupado e estressado com você, e voltei aqui tão
malditamente feliz em vê-la, tão aliviado por você estar bem.
Tudo que você precisava fazer era olhar para mim e perdi todo
o senso de realidade. Não tinha o direito de ceder aos meus
impulsos. — Sua boca caiu em meus lábios. — A coisa fodida
é... Sei o quão malditamente errado é, mas eu ainda estou
parado aqui querendo fazer isso de novo, e isso me assusta pra
caralho. Por isso tem que parar.

Sua fraqueza me deu esperança. — Você não confia em si


mesmo...

— Não. Você também não deve confiar em mim.

— Por que eu não deveria confiar em você? Pelo que posso


ver, você é um trabalhador, homem decente e uma das poucas
pessoas neste mundo que eu realmente tenho confiança.

Ele puxou o cabelo e olhou para o teto em frustração. —


Mesmo se Nathan não estivesse na equação, Farrah, não sou
certo para você. Você merece um cara que seja bom em
relacionamentos. Eu não sou. Nunca fui. E você merece
alguém que definitivamente vai ficar em Palm Creek. Não me
vejo aqui a longo prazo.

— Isso mudaria se você se sentisse bem em relação a


alguém. Acho que você está apenas tentando fazer um caso,
quando ambos sabemos que se não fosse por Nathan, você
provavelmente estaria dentro de mim agora.

Seus olhos se arregalaram.

Caramba, minhas palavras me chocaram também. Mas


era verdade. Jace cerrou os dentes e olhou para o chão.
Entendi que ele concordou comigo.

Meu olhar vagou para baixo. — Você ainda está duro.


Você me quer.

Seu tom ficou áspero. — Não importa o que meu pau


quer, Farrah. Nada pode acontecer. Ok? Você sabe. E eu sei.
Nós tivemos um gostinho disso. Agora só temos que esquecer.

Eu não queria provar isso. Queria me enterrar nele,


experimentar tudo isso – e não apenas sexo, também. Queria
Jace em todos os sentidos, e parecia tão injusto ter que
suprimir esses sentimentos para sempre. Isso parecia uma
tarefa assustadora.

Senti lágrimas em meus olhos, mas não as deixaria cair.


Merda. Não queria chorar, mas era demais. Eu sabia que ele
estava certo, mas me senti desesperada.

— Não podemos apenas nos esgueirar um pouco?


Ele soltou um suspiro trêmulo e balançou a cabeça. —
Não podemos fazer isso.

— Quem disse? Se Nathan não descobrir, qual é o


problema?

Seus olhos dispararam para encontrar os meus. — Ele


iria descobrir eventualmente. Sem falar que você está se
esquecendo de que todos vivemos juntos. Se algo der errado
entre nós, mesmo que Nathan não saiba sobre isso, seria
impossível lidar com isso vivendo sob o mesmo teto.

Era uma loucura estar disposta a estar com ele em


segredo, apenas para poder vivê-lo. Mas eu estava. Se ele
tivesse concordado, eu teria aceitado em um piscar de olhos.

Esfreguei meus braços. — Ok... então... acho que não há


mais nada para falar aqui. — Senti uma lágrima finalmente
cair enquanto olhava para os meus pés, tão frustrada e sem
esperança.

— Por favor, não chore, Farrah. Porra. Não valho as suas


lágrimas.

— As coisas deveriam apenas voltar ao normal agora? Eu


deveria lidar com você trazendo garotas de novo... depois que
você me beijou?

— Não vou trazer ninguém aqui. Você tem minha palavra.


— Seus olhos se suavizaram, cheios de pesar, enquanto ele
segurava minha bochecha. — A última coisa que quero é
machucar você.
A porta automática da garagem soou, e Jace se encolheu.
Nathan chegou em casa mais cedo.

Limpei meus olhos. — Merda. — Corri para fora da sala


para que Jace ficasse sozinho quando Nathan entrasse.

Corri para o banheiro e me olhei no espelho. Percebi um


hematoma no pescoço feito por Jace. Traçando-o com o dedo,
ainda estava excitada. Nunca me ocorreu o quão excitada eu
estava. Ficar aqui chorando, mas formigando entre minhas
pernas, doendo pelo pau de Jace, era uma combinação
estranha. Mas a necessidade dentro de mim era implacável.
Minha fraqueza era patética. Lambi meus lábios, ainda capaz
de prová-lo, lembrando-me da maneira como ele gemeu
quando nos beijamos.

Os sons abafados de Jace e Nathan conversando


chegaram ao alcance da voz, mas eu não podia dizer o que eles
estavam dizendo. Não tinha certeza se Jace planejava contar
ao meu irmão sobre o que aconteceu com aquele James hoje.

Depois de alguns minutos no banheiro, escapei para o


meu quarto e apliquei um pouco de maquiagem na marca no
meu pescoço antes de cobri-la com meu cabelo. Olhando-me
no espelho, jurei agir o mais indiferente possível quando
encarasse meu irmão.

Quando finalmente entrei na cozinha, Jace se sentou em


frente a Nathan na mesa. Ambos seguravam cervejas.

— Eu disse a Nathan o que aconteceu hoje, — Jace disse.


Decidindo ser uma espertinha, inclinei minha cabeça. —
Sobre o que exatamente?

Ele olhou para mim. — Sobre a visita de James.

— Oh sim. — Dei de ombros. — Não foi grande coisa.

Nathan me encarou. — Bem, nem é preciso dizer que me


aborrece você ter aberto a porta e espero que tenha aprendido
a lição. Você sempre precisa verificar o olho mágico. Pelo
menos esse idiota não vai mais aparecer agora que ele tem seu
dinheiro.

— Ele não vai, — Jace disse. — Mas ela ainda precisa


estar vigilante. Porque essa merda ainda não acabou. Há
outros.

Abri a geladeira e bebi um pouco de suco de laranja direto


da caixa. Isso estava fora do meu personagem, mas minha
cabeça ainda estava em outro lugar.

Coloquei o suco de volta e me virei para Nathan. — Como


vai o novo trabalho?

— Muito bom. — Ele sorriu. — Na verdade, cheguei perto


de vender um carro hoje, mas então a esposa do cara o
convenceu a ir para a outra concessionária do outro lado da
cidade amanhã antes de tomar uma decisão. Então isso foi
péssimo.

Fiz uma careta com simpatia. — Talvez ele volte.

— Sim. Espero que sim.


— Isso é legal, cara, — Jace disse. — Vou cruzar os dedos
para que saia.

— Obrigado. Eu poderia usar o dinheiro extra.

— Vou dar uma volta no quarteirão. Preciso de algum


exercício, — anunciei. Também precisava respirar.

— Divirta-se, — meu irmão falou enquanto eu saía pela


porta sem olhar para Jace.

Quando a brisa quente do início da noite atingiu meu


rosto, fechei os olhos e respirei fundo. Tanto na minha cabeça,
quase esbarrei em uma mulher caminhando com seu cachorro.

— Desculpe! — Gritei.

Incapaz de controlar meus sentimentos mais, precisava


contar a alguém sobre o que aconteceu hoje. A única pessoa
em quem confiava o suficiente era Kellianne. Ela conhecia
minha história com Jace, e eu não teria que explicar tudo
desde o início.

Pegando meu telefone, liguei para ela.

— E aí? — Ela disse quando atendeu.

— Jace me beijou, — anunciei. — E estou fodida.

— Oh meu Deus. O quê? — Ela gritou, quase estourando


meu tímpano. — Comece do início, por favor.

Contei a ela toda a história, voltando para a conversa que


Jace e eu tivemos na noite em que ele me levou para casa
depois do The Iguana, e terminando no beijo de hoje após o
incidente com James.

— Oh meu Deus, Farrah. Isso é tão quente. Ele perdeu


totalmente o controle.

— Eu estava honestamente surpresa com isso. Achei que


todas as esperanças haviam desaparecido depois do que ele
disse em sua caminhonete naquela noite. Mas quando ele me
beijou hoje, percebi o quão longe estou. Eu teria feito qualquer
coisa para continuar beijando-o. Ele fechou tudo, porém,
insistindo que nada mais poderia acontecer entre nós. Como
posso simplesmente... esquecer?

— Esta é uma situação difícil. — Ela suspirou. — Mas eu


não acho que você tem escolha. Você sabe que seu irmão
piraria. Jace está realmente tentando fazer a coisa certa aqui.
Não importa o que aconteça, você e Nathan ficarão bem. É seu
relacionamento com Jace que estaria em jogo.

Parei de andar e olhei para o céu. — Devo ser uma pessoa


horrível por querer me esgueirar pelas costas de Nathan.

Ela suspirou. — Não, você não é uma pessoa má. Você


está apenas um pouco apaixonada – e com muito tesão – por
um homem por quem você tem uma queda desde que era
criança. Mesmo que ficar furtivamente com ele não seja certo,
tenho certeza de que a ideia de ficar com ele é alucinante. Acho
que a única chance que você terá disso é se Jace perder o
controle novamente. Basicamente, ele tem que pensar apenas
com o pau e não com o cérebro. Ele não vai decidir fazer isso.
Simplesmente aconteceria.

— Não quero que Jace carregue qualquer culpa. Não vou


provocá-lo para que perca o controle. Eu só queria que as
coisas fossem diferentes.

— Sim, mas elas não são. Sabendo onde as coisas estão,


tente descobrir como ir embora. Não é fácil porque ele mora
com você, mas você precisa fazer um esforço consciente para
seguir em frente.

— E como faço isso exatamente?

— Você precisa conhecer outra pessoa, tire sua mente de


Jace. Lembra daquela história fictícia de namoro on-line que
você contou a ele? Talvez precisemos fazer você configurar e
tornar isso uma realidade.

Isso parecia miserável, mas eu precisava encontrar uma


maneira de desviar meu foco do homem inatingível que estava
consumindo minha mente e coração por muito tempo.

Após nossa conversa, agradeci a Kellianne e continuei


minha caminhada ao redor do quarteirão.

Quando voltei para casa, a caminhonete de Jace havia


sumido.

Lá dentro, Nathan estava sozinho na cozinha, preparando


o jantar.

— Jace foi embora? — Perguntei.


Ele bateu uma colher de metal contra a panela. — Sim.

— Onde ele foi?

— Não tenho certeza. Provavelmente para a casa daquela


garota Alyssa.

O ciúme queimou em minha garganta. — Entendo.

Nathan ergueu uma sobrancelha. — Por quê? Você


precisa dele para alguma coisa?

Olhando para baixo, balancei minha cabeça. — Não.

Voltando ao meu quarto, passei a próxima hora sem fazer


nada até Nathan me chamar à cozinha para comer um pouco
de massa que ele havia feito.

Depois do jantar, voltei para o meu quarto e ouvi música


pelo resto da noite.

A pior parte? Jace não voltou para casa naquela noite.


Capítulo 10

Desde o dia em que perdi o controle com Farrah, passei


todas as noites na casa dos meus pais. Já era ruim o suficiente
que eu não pudesse mais olhar Nathan nos olhos, mas era
óbvio que precisava ficar longe de Farrah também. Fazia duas
semanas e ainda não tinha coragem de voltar para o meu
quarto na casa deles.

Inventei uma história de que minha mãe precisava de


ajuda em casa com meu pai, então, estaria morando com eles
temporariamente. Enquanto isso, meus pais não entendiam
por que de repente eu queria passar tanto tempo com eles. A
boa notícia era que, embora minha vida pessoal fosse uma
merda, as coisas no trabalho estavam finalmente se
estabilizando. O banco havia aprovado nosso empréstimo
comercial, então Muldoon seria capaz de pagar todo o dinheiro
que devia. Também seria capaz de colocar os vinte mil que dei
a James de volta na minha conta bancária.

A saúde de papai também estava melhor do que nunca.


Após a última varredura, os médicos tiveram certeza de que o
câncer estava em remissão. Era apenas uma questão de tempo
antes que ele voltasse ao trabalho. Então eu poderia decidir se
queria encontrar um emprego aqui ou voltar para Charlotte e
tentar pegar o meu antigo de volta. O último fazia mais sentido;
era a direção que eu estava inclinado.

— Por quanto tempo você vai nos agraciar com sua


presença antes de voltar para a casa de Nathan? — Minha mãe
perguntou uma manhã durante o café da manhã.

— Provavelmente vou voltar lá esta noite.

— Bem, não vou reclamar desse tempo extra que tive com
você, mesmo que eu não entenda. Você se recusou a voltar a
morar conosco quando voltou para casa, então esses dias de
bônus foram bons.

Minha mãe fazia minhas panquecas favoritas todas as


manhãs. Não me sentia digno de ser mimado. Em vez disso,
me senti um traidor sujo. Nathan continuou me mandando
mensagens de texto aleatoriamente, e precisei de cada grama
de esforço que pude reunir para responder com comentários
indiferentes. Sentia-me culpado, não só pelo que aconteceu
com Farrah, mas porque ainda não confiava em mim mesmo
perto dela, apesar de saber das consequências.

Minha mãe colocou outra panqueca quente no meu prato.


— Está tudo bem entre você e Nathan?

— Sim. Por que você pergunta? — Derramei linhas de


xarope sobre a panqueca.
— Só pensei que talvez tivesse algo a ver com o motivo de
você estar aqui.

— Por que tem que haver algo errado para eu querer


visitar meus pais?

— Porque sei que este não é o seu lugar favorito, mesmo


que você nos ama. — Ela caminhou de volta para o fogão, então
se virou. — Esqueci de mencionar que vi Farrah.

Meus ouvidos se animaram. — Oh sim?

— Ela estava com um cara. Parecia que estava em um


encontro.

Parei de mastigar. — O que você quer dizer?

— Bem, o que mais ela estaria fazendo sentada em frente


a um cara bonito no Dean´s?

Dean's era um restaurante não muito longe da casa dos


meus pais, que também ficava perto do trabalho de Farrah.

A calda revirou meu estômago. — Quando foi isso?

— Ontem.

Irritado comigo mesmo por sentir uma pontada de ciúme,


exalei.

— Parece que você ficou chateado, — disse ela.

— O quê? — Senti meu rosto ficar vermelho. — Não! Ela


só... às vezes não tem o melhor julgamento.
— Como você sabe isso?

Porque ela quer ficar comigo, por exemplo. Ignorei sua


pergunta. — Como era esse cara?

— Ele era mais velho.

Meu garfo caiu da minha mão. — Mais velho?

— Talvez em torno da sua idade, possivelmente em seus


trinta e poucos anos.

— Você está me zoando?

— O que há de errado nisso? Seu pai é dez anos mais


velho do que eu.

— Ela é praticamente uma criança. Há uma enorme


diferença entre os vinte e um e o início dos trinta.

Senti como se minha cabeça fosse explodir. Eu queria


pular no meu carro e ir procurá-la. Mas tirei esse pensamento
insano da minha mente.

— O que você acabou de dizer sobre Farrah vai contra


tudo que você me disse antes. Achei que você achasse que ela
era madura.

Esfreguei minhas têmporas. — Ela é... mas isso é porque


ela teve que lidar com muita coisa desde jovem. Isso não
significa que ela está pronta para ficar com um cara na casa
dos trinta. Ela não teve muitos namorados.
Minha mãe inclinou a cabeça e sorriu. — Você parece
especialmente interessado no bem-estar dela.

— Estou, porque me importo com ela, — disse, me


sentindo pego com minhas calças abaixadas.

Mamãe não era burra.

— Tem certeza de que não há mais nada? — Ela


perguntou.

Uma coisa que eu nunca poderia fazer era mentir na cara


da minha mãe. Então, tinha que dar o fora da situação. Eu não
ia admitir que tinha sentimentos inadequados pela irmã de
Nathan, mesmo que fosse verdade.

— O café da manhã estava delicioso. — Minha cadeira


derrapou no chão quando levantei. — Obrigado.

— Ah, o famoso come e corre. Lembro-me disso, quando


costumava confrontá-lo sobre fumar maconha no colégio ou se
você estava fazendo sexo.

— Largue isso, ok? — Corri porta afora para trabalhar.

Sim. Ela sabe.


Naquela noite, me forcei a mostrar meu rosto no Nathan.
Eu não poderia desaparecer de casa para sempre, então
aguentaria e passaria minha primeira noite lá hoje.

Ele tinha acabado de voltar da concessionária quando


cheguei. Eu não tinha visto o carro de Farrah lá fora, então
presumi que ela não estava em casa.

Ele abriu a geladeira e pegou uma cerveja. — Sinto que


não o vejo há anos. Como estão as coisas com seus pais?

Uma onda de culpa me atingiu. — Papai está muito


melhor agora.

— Bom ouvir.

— Como vai o trabalho? — Perguntei.

— Muito bem. Vendi um Escape hoje.

— Isso é incrível, cara.

— Sim. Nunca imaginei que acabaria com algo de que


gostasse mais do que no meu último emprego, mas isso prova
que tudo acontece por um motivo. — Ele deu uma risadinha.
— Agora pareço Farrah.

A menção de seu nome fez meu pulso disparar.

Fiz o meu melhor para agir casual. — Como está Farrah?

— Não a vi muito na última semana.


Hmm... — Isso é provavelmente porque ela está andando
pela cidade com um cara.

Sua testa enrugou. — Que cara?

Foi errado da minha parte dedurá-la, mas meu lado


egoísta queria que Nathan soubesse disso. Além do fato de que
eu provavelmente era o homem mais perigoso com quem
Farrah quase se envolveu, precisávamos ter certeza de que ela
não estava se metendo em problemas.

— Minha mãe disse que a viu com um cara no Dean´s.

— Mesmo? Bem, ela nunca mencionou isso para mim,


mas eu provavelmente sou a última pessoa para quem ela
contaria.

— Só estou dizendo para que você fique de olho,


certifique-se de que ela não esteja andando com o tipo errado
de pessoa.

— Obrigado. Você sabe que farei isso.

Concordei. Apesar de meus melhores esforços,


provavelmente eu também participaria.
Capítulo 11

A Dra. Stein rabiscou algo em um pedaço de papel. — Por


que você acha que decidiu falar com alguém neste momento
da sua vida? Já faz um tempo desde que seus pais morreram.
Por que não antes?

Eu não tinha certeza de como responder, mas fiz o meu


melhor para descobrir. — Sempre foi difícil para me abrir com
qualquer pessoa, em geral, — comecei. — Mas recentemente
me senti muito fora de controle em termos de minhas emoções
– e minhas ações. Sinto que preciso de alguém para me manter
sob controle. Nunca me senti assim – nem mesmo logo depois
que meus pais morreram. Cheguei perto de tomar algumas
decisões precipitadas que poderiam ter sido muito prejudiciais
para as pessoas que amo.

Cerca de uma semana após meu último encontro com


Jace, decidi marcar uma consulta com um terapeuta. Já fazia
muito tempo, algo que eu provavelmente deveria ter feito logo
depois que meus pais morreram. Mas sempre tive medo do que
iria acontecer, que todas as emoções cruas seriam muito
opressivas se trazidas à superfície. Mas depois de subir no The
Iguana, tive uma nova confiança.

A Dra. Alicia Stein foi recomendada por um de meus


colegas de trabalho. Ela tinha um comportamento agradável e
era muito paciente. Esta foi minha terceira sessão com ela. As
duas primeiras foram passadas falando sobre a morte de meus
pais e trabalhando alguns desses sentimentos. Hoje ela mudou
o foco para o meu atual estado de coisas.

— Diga-me o que está acontecendo com você agora. Na


última vez que conversamos, você tinha acabado de conhecer
alguém on-line.

— Sim... Colton. Ele me deixou aqui hoje. Ele é muito


legal. Só estou saindo com ele há algumas semanas.

— Você obviamente se aproximou dele em um curto


espaço de tempo se ele está a trazendo para as sessões de
terapia.

— Na verdade, meu carro é uma porcaria e parou de


funcionar de novo, então ele foi legal o suficiente para me
oferecer uma carona. Não era como se eu precisasse do apoio
dele ou algo assim. Não estamos nesse nível. Mas ele tem me
apoiado muito, em geral, e acabei dizendo que estava vindo
para ver você.

— Como está a situação em casa? — Ela olhou para suas


anotações. — Com seu irmão, Nathan, e... Jace? Esse é o nome
dele, correto? Amigo do seu irmão?
— Sim. Boa memória.

— Bem, tenho isso anotado. — Ela sorriu. — Estava


apenas tentando ler minha própria escrita.

— Sim. É claro. — Mexi-me na cadeira. — Não mencionei


isso antes, mas há um pouco de uma história lá com Jace.
Tenho certeza de que tem muito a ver com o motivo pelo qual
vim ver você quando o fiz. — Pausei. — Algo aconteceu entre
nós.

Seus olhos se arregalaram.

Passei os próximos quinze minutos contando à Dra. Stein


sobre meus sentimentos por Jace ao longo dos anos e terminei
na parte em que nos beijamos. Além de Kellianne, eu não tinha
falado sobre ele com ninguém – exceto minha mãe antes de
morrer.

— Então... — eu disse, — tenho que me perguntar se


pular em algo com Colton é uma ideia tão boa, dado o quão
recentemente tudo aconteceu com Jace. O problema é que sei
que nada pode acontecer entre nós. Jace deixou isso bem
claro. Não há escolha a não ser seguir em frente.

— Você falou com Jace sobre seus sentimentos desde o


dia em que você o beijou?

— Não. Na verdade, não o vi muito nas últimas semanas,


e isso foi intencional da minha parte. Ele ficou com seus pais
nas primeiras semanas depois que nos beijamos, e
honestamente, sei que a desculpa que ele deu a Nathan foi
uma besteira. Ele disse que precisava ajudar seus pais, mas
estava apenas me evitando. Isso é compreensível. Era melhor
não nos vermos por um tempo.

— Ele está de volta à sua casa agora?

— Sim, mas ainda o tenho evitado. Não quero ter que lidar
com nenhuma tensão.

— Ele sabe que você está saindo com Colton?

— Aparentemente sabe, embora não fui eu quem disse a


ele. Nathan me disse que Jace havia mencionado que sua mãe
me viu sair com Colton. Então ele sabe que estou saindo com
alguém.

— Por que você acha que seu irmão seria tão contra que
algo acontecesse entre você e Jace?

Era difícil explicar Nathan para alguém que não o


conhecia. — Meu irmão não é próximo de muitas pessoas. Ele
basicamente tem apenas Jace e eu. Antes de Jace voltar para
a cidade, Nathan era um pouco solitário. Jace é seu único
amigo verdadeiro. Se algo acontecesse entre Jace e eu, e não
desse certo, Nathan teria que escolher um lado. Nathan e Jace
sempre foram competitivos, e por mais que Nathan ame seu
melhor amigo, sei que ele não acharia que Jace era a pessoa
certa para mim. Ele acha que Jace gosta de jogar no campo.
Nathan não confiaria nele.

Dra. Stein acenou com a cabeça. — Jace é proibido. Isso


impulsiona sua atração por ele.
Dei de ombros. — Meus sentimentos por ele remontam à
infância. É muito mais do que o fato de ele ser inatingível. Há
muitas coisas sobre ele que me atraem – sua vulnerabilidade,
apesar de seu exterior áspero... seu humor – desde o momento
em que o conheci, quando éramos duas crianças, fui atraída
por ele. Ele voltou para a Flórida após nove anos longe, e
percebi que não mudou muito em termos de atração, exceto
que agora o admiro por motivos adicionais. Seu desejo de
ajudar seu pai, sua atitude trabalhadora. Claro, a atração
física só cresceu – os homens ficam muito melhores com a
idade, não é?

— Tenho que concordar com você sobre isso. É muito


injusto. — Ela sorriu e olhou para suas anotações novamente.
— Ok, Farrah. Por tudo que posso dizer, você está no caminho
certo. Você sabe que um relacionamento com Jace seria tóxico,
não só porque machucaria seu irmão, mas porque acho que
seus sentimentos por ele beiram a obsessão. Acho que
trabalhar para desenvolver algo genuíno com esse novo cara é
a escolha mais saudável para você agora.

O uso dela da palavra obsessivo me pegou desprevenida


e me fez pensar se eu estava parecendo uma pessoa maluca,
apesar de meus melhores esforços para não fazê-lo. Kellianne
tinha se referido aos meus sentimentos por Jace como uma
obsessão uma vez, também.

A sessão durou mais quinze minutos antes da Dra. Stein


se despedir de mim por enquanto, e deixei o consultório para
encontrar Colton esperando por mim do lado de fora.
— Obrigado novamente por me pegar, — eu disse
enquanto entrava em seu jipe azul elétrico.

— Sem problemas. — Ele se inclinou para me beijar na


bochecha. — Como foi? Quer dizer, você não precisa me dizer
sobre o que falou, mas você conseguiu algo com isso?

— Sim... definitivamente tem sido uma coisa boa para


mim.

— Estou feliz. — Ele colocou a mão no meu joelho. — Você


sabe para onde quer ir? Estou com fome. Você está?

Meu estômago roncou. — Eu poderia comer. Só preciso


passar em casa bem rápido. Preciso ver se recebi o envelope
que estou esperando. É importante e não quero que fique na
caixa de correio.

— Importa-se se eu perguntar o que é? Ou é privado?

— São os ingressos do Shawn Mendes.

Ele riu. — Você gosta dele?

— Na verdade não. Bem, ele é bom, mas os ingressos não


são para mim. São para minha vizinha, Nora. Ela tem onze
anos e é obcecada por ele.

E eu sei um pouco sobre obsessões aparentemente.

— Você comprou para ela?

Dei de ombros. — Ela não tem nenhum dinheiro, e sua


mãe é uma mãe solteira tentando sobreviver. Eu queria fazer
algo de bom para ela. Só espero que sua mãe a deixe ir. Ela
pode ser meio rígida, embora a deixe sozinha todas as tardes
para se defender sozinha.

— Droga. Seria uma pena se ela a impedisse de ir. Essa


garota vai adorar você por esses ingressos.

Concordei. Só de pensar na reação de Nora me fiquei


tonta. — Provavelmente vai fazer seu ano inteiro. Tenho um
contato que conseguiu os ingressos. Alguém com quem
trabalho é casada com um cara que trabalha na bilheteria e
conseguiu dois para mim.

Colton estendeu a mão para me beliscar na bochecha. —


Você é um amor, Farrah. — Seu toque fez minha pele formigar.
Eu estava definitivamente atraída por ele. Com seu cabelo loiro
e olhos azuis, ele era o oposto total de Jace. Considerando
todas as coisas, isso era uma coisa boa. Jace era meu cavaleiro
das trevas proibido, e Colton era mais como um anjo de braços
abertos.

— É gratificante fazer algo bom para alguém.

— O que você colocar no mundo com certeza vai voltar


para você, — ele disse enquanto estacionava na frente da
minha casa.

— Volto já.

Com certeza, quando cheguei à caixa de correio, os


ingressos estavam lá, então foi uma boa decisão ter voltado
para casa. Verifiquei dentro do envelope para ter certeza de que
tudo parecia bem antes de enfiá-lo com segurança dentro da
minha bolsa.

Bem quando eu estava prestes a voltar para Colton, a


caminhonete de Jace parou. Meu coração disparou. Seus olhos
encontraram os meus. Agora que ele me viu, não poderia
simplesmente decolar sem dizer olá. Infelizmente, dizer olá
também significava ter que apresentá-lo a Colton. Isso ia ser
muito estranho, mas tinha que acontecer eventualmente.

Então continuei ao lado da caixa de correio e esperei Jace


sair de sua caminhonete.

Enxugando as palmas das mãos suadas no short, eu


disse: — Ei... como vai?

Jace bateu à porta e seus olhos dispararam para Colton


esperando no Jeep. Ele inclinou a cabeça. — Esse é o seu novo
namorado?

— Ele não é meu namorado, mas Colton e eu estamos


saindo, sim.

Sem dizer mais nada, Jace caminhou até o jipe, levando


Colton a abaixar a janela.

Jace estendeu a mão. — Sou Jace.

Eles tremeram.

— Colton.

— Onde você mora?


— Lá em Hyacinth.

— Qual é o seu sobrenome?

— Sterns.

Jace acenou com a cabeça uma vez e caminhou de volta


para mim. — Tome cuidado.

Exalei. — Eu irei.

Meu coração doeu. Sentia muito a falta dele.

Jace desapareceu dentro da casa, e voltei para o Jeep de


Colton e entrei pela porta do passageiro.

Depois de um silêncio constrangedor, ele ligou o carro. —


Esse era sua colega de quarto?

Limpei minha garganta. — Sim. Esse é Jace, o melhor


amigo do meu irmão e nosso companheiro de quarto
temporário.

— Sem ofensa, mas ele parece um idiota.

Podia entender por que ele se sentia assim, mas ainda me


deixou um pouco na defensiva. — Ele é apenas protetor
comigo. Ele não é diferente de Nathan desse jeito.

— Posso ver por que você não me trouxe ainda.

— Sim, bem, isso precisa mudar. Tenho o direito de trazer


quem eu quiser para minha casa, e meu irmão vai ter que viver
com isso.
Mas se eu realmente quis dizer isso, por que não o
trouxe? Por que não o convidei esta noite? Eu não podia, é
claro, admitir que o motivo tinha mais a ver com o “idiota” que
ele acabara de conhecer do que com meu irmão.

Colton suspirou. — Bem, se conhecer aquele cara foi tão


divertido, só posso imaginar como será conhecer Nathan.

Fiz uma careta. — Sinto muito. Não é fácil quando a única


família que você tem é seu irmão mais velho rabugento e seu
amigo rabugento. A testosterona reina em minha casa.

Sabia que as coisas seriam diferentes se meus pais


estivessem por perto. Nathan investiria menos em meus
negócios pessoais. E minha mãe, em particular, teria adorado
a doce personalidade de Colton.

— Está bem. Eu aguento o calor. — Ele pegou minha mão.


— Vale a pena.

Naquela noite, Colton me levou para casa depois que


saímos para jantar.

Eu disse boa noite para ele na porta, e a última coisa que


esperava quando entrei em casa era encontrar Jace sentado
sozinho perto da piscina.
Empurrei a porta de vidro deslizante de lado, levando-o a
se virar para mim.

— Ei... — eu disse.

Sua voz era baixa. — Ei.

— Onde está Nathan?

— Ele saiu para beber com uns caras da concessionária.


Acho que ele vendeu outro carro hoje, e eles iam comemorar.

— Uau, isso é incrível. Estou muito feliz por ele.

— Sim. Não brinca. Fico feliz em vê-lo feliz.

Aproximei-me e sentei três espreguiçadeiras abaixo da de


Jace, hesitante em chegar muito perto. — Estou surpreso em
vê-lo aqui. Você geralmente está fora.

— Nenhum lugar para estar hoje, acho. Apenas sentado


sozinho com meus pensamentos.

Não havia nenhuma quantia que eu não pagaria para


saber quais pensamentos giravam dentro da cabeça de Jace.

— Não há nada de errado em limpar sua cabeça.

— Já faz um tempo, hein?

— Sim. — Exalei, surpresa. — Estou feliz que nos


encontramos antes. Demorou muito para chegar.

Jace olhou para mim por alguns segundos. — Você gosta


desse cara?
Dei de ombros. — Sim. É muito novo para dizer se é mais
do que apenas uma coisa casual. Ele é muito legal. Não há
nada com que se preocupar, se é isso que você está pensando.
Totalmente inocente.

— Eu sei. Fiz uma verificação de antecedentes dele.

Sorri. — Então foi por isso que você quis saber o


sobrenome dele.

— Sim. — Ele ficou quieto por um momento. — Você pode


chegar mais perto. Não vou morder.

O pensamento dele me mordendo enviou um arrepio na


minha espinha.

Levantei-me e me sentei ao lado dele. — Senti sua falta.

Ele assentiu. — Também senti sua falta.

— Quando você estava com seus pais, me perguntei se


algum dia você voltaria. Mas então, quando você voltou... não
estava pronta para enfrentá-lo, então estou evitando.

— Lamento ter colocado você nessa posição. Esta é sua


casa. Você não deveria se sentir desconfortável.

— Essa é a coisa... estou confortável perto de você. Adoro


quando você está em casa. Mas acho que presumi que te deixei
desconfortável ultimamente.
— Não é isso, Farrah. Você me deixa o oposto de
desconfortável. Meus sentimentos me incomodam. Quando
estou perto de você... fico feliz. É contra isso que luto.

Este homem definitivamente sabia como fazer meu


coração ganhar vida. Ele também sabia como me confundir
profundamente.

Olhei para o céu escuro da noite. — Comecei a ver um


terapeuta.

— Mesmo? Isso é um grande negócio. Desde quando?

— Desde a época em que você começou a ficar com seus


pais. Um colega de trabalho me deu o nome de alguém há
muito tempo e decidi arriscar. Ela tinha disponibilidade para
me atender, então coloquei meus medos de lado e o fiz.

— Bom para você. Fico feliz em ouvir isso. Você acha que
está ajudando?

— É sempre bom colocar os sentimentos reprimidos para


fora, então, diria que está ajudando nesse sentido. Ainda é
muito cedo para dizer qual será o benefício a longo prazo.

— Sim. Entendi.

Hesitei. — Ela parece pensar que meus sentimentos por


você são... doentios. Ela os chamou de obsessivos.

Ele estreitou os olhos. — Você acredita nisso?

— Não sei.
— Isso é besteira, Farrah. Você se sente atraída por mim
porque é da natureza humana se sentir atraído por alguém do
sexo oposto com quem você também tem uma história
profunda e com quem se dá bem. Não há nada doentio nisso.
Não a deixe fazer você acreditar que é errado sentir essas
coisas.

— Estou surpresa de ouvir você dizer isso. Achei que você


sentisse que o que estava acontecendo entre nós era errado.

Ele balançou sua cabeça. — Embora possa ser errado agir


sobre isso, não há nada de errado em como nos sentimos. Não
podemos evitar isso. Desejar você parece muito natural para
mim, mesmo que nada possa acontecer.

Embora suas palavras fossem validantes, também foi


uma pena ouvi-lo reiterar mais uma vez o fato de que nada
poderia acontecer entre nós.

— Colton pensou que você fosse um verdadeiro idiota


hoje.

— Bom. Que isso seja um aviso para ele. Se ele tentar te


machucar, serei seu maior pesadelo de merda.

Compartilhamos um sorriso.

— Ele é... muito legal. Simplesmente não consigo relaxar


o suficiente para deixar as coisas progredirem. — Pausei. —
Nós não... fizemos sexo ou algo assim.

Ele engoliu em seco. — Você não quer?


— Acho que minha cabeça não está no lugar certo para
começar isso com ele agora.

Ele sugou um pouco de ar e depois o soltou. — Você vai


apresentá-lo a Nathan?

— Estou pensando sobre isso.

— Vou me certificar de que estou na frente e no centro


com um pouco de pipoca quando isso acontecer. — Ele deu
uma risadinha.

— Muito obrigada. — Eu ri.

— Sério, Farrah, se você está feliz, eu estou feliz. Por


favor, não pense que você tem que me evitar, ou que você não
pode contar comigo.

— Não me senti assim. Sei que você se preocupa comigo,


não importa o quê. E respeito você por não querer arriscar me
machucar ou a Nathan. Eu só queria...

— Deseja o que?

— Que eu ainda não tivesse esses sentimentos.

O luar brilhou em seus olhos enquanto ele olhava direto


para mim. — Posso te perguntar uma coisa?

— Sim.

— São seus sentimentos por mim... — Ele mordeu o lábio.


— São eles que estão impedindo você de seguir em frente com
esse cara?
Era impossível olhar para ele e negar. — Penso que sim.

Jace fechou os olhos brevemente enquanto ele entendia


minha admissão.

— Como é que você não está com ninguém esta noite? —


Perguntei.

— O que você acha – que eu estou com uma mulher


diferente todas as noites ou algo assim? Não é assim.

— Honestamente não sei.

— Não estou. Não estive com ninguém nas últimas três


semanas.

— Desde que nos beijamos?

Ele assentiu.

— Por quê?

— Porque você não é a única que está ferrada com isso,


Farrah.

— Acho que pensei que você ainda estaria fora... fazendo


o que faz... independentemente.

— Sim, bem, acho que não consigo compartimentar tão


bem quanto você pode ter pensado.

— Você está dizendo que o que sente por mim é mais do


que apenas sexual?
— Claro que é. Por que você ainda tem que perguntar
isso?

— Não sei. — Dei de ombros. — Eu realmente não


entendo como você me vê.

— Você não entende como vejo você? — Sua voz ficou


mais alta. — Vejo você como gentil, amorosa, atenciosa,
trabalhadora... e linda. Não há absolutamente nada para não
gostar em você, Farrah. — Ele olhou para o lado. — Não fui
capaz de olhar Nathan nos olhos – mesmo assim. É por isso
que fiquei um tempo com meus pais. Não sei o que fazer com
essa energia entre nós. É fácil dizer que simplesmente vamos
esquecer isso, mas não é tão fácil quando estou perto de você.

— Conte-me sobre isso.

Não podia acreditar que ele estava se abrindo assim. Mas


quando ele fechou os olhos, novamente parecendo
atormentado, tive um palpite de que havia algo mais.

— Está tudo bem? Você parece deprimido, em geral, esta


noite. Quando entrei, você já estava pensando profundamente.
Tem a ver com a Muldoon?

Ele balançou sua cabeça. — Tudo está ótimo no trabalho,


na verdade. Conseguimos o empréstimo. Então não é isso. —
Ele fez uma pausa. — Tenho que dirigir pela Lincoln Road para
casa todos os dias porque há algumas obras em andamento.
Há um desvio.

Meu coração afundou. — Oh…


— Cada vez que passo de carro, os flashbacks me atingem
como uma tonelada de tijolos. Mas recuso-me a encontrar
outro caminho para casa porque terei de enfrentar esses
sentimentos em algum momento. Nunca fui bom em lidar com
eles.

Quebrou meu coração que ele estava mantendo isso


dentro. — Eu já disse a você antes, mas você sabe que pode
falar comigo sobre isso a qualquer hora, certo? Posso lidar com
isso.

Seus olhos brilharam. — Se eu posso falar com alguém


sobre isso, é você. Não Nathan. Mas ainda não consigo chegar
lá. Isso não significa que não esteja constantemente em minha
mente. Você não pode escapar de seus pensamentos. Parte da
razão pela qual não hesitei em voltar para cá é porque achei
que seria bom para mim finalmente enfrentar todas as coisas
das quais tenho fugido.

— Estou orgulhosa de você por dirigir por lá, embora seja


doloroso.

Ele respirou fundo. — Obrigado.

Disse que não estava pronta para falar sobre isso, mas
havia algo que eu precisava tirar do meu peito.

— Às vezes me pergunto se você se sente culpado por ser


o único sobrevivente. Esse tipo de culpa pode ser bastante
tóxica. Você sabe que não foi sua culpa, certo? Você não tinha
controle sobre nada disso.
Jace colocou sua cabeça em suas mãos. Ele estava
prestes a chorar? Não o via expressar esse tipo de emoção
desde que voltou.

— Eu não queria te chatear, — eu disse. — Só queria que


você soubesse que entendo. Mesmo que eu não estive lá... eu
entendo.

Ele olhou para mim. — Está bem.

Levantei-me. — Posso te dar um pouco de espaço se você


preferir ficar sozinho.

Jace pegou meu braço. — Não. Não quero isso de jeito


nenhum. Fica.

Não havia nada que eu quisesse mais.


Capítulo 12

Ela parecia tão bonita sob o luar. Às vezes era difícil


acreditar que era a mesma garota que costumava roer o cabelo.
Farrah havia se tornado uma mulher tão graciosa e madura.
Por mais que tivesse suas peculiaridades, seus ideais e
perspectivas estavam mais em linha com os meus do que a
maioria das mulheres que conheci na minha vida adulta. Ela
não era crítica e nunca me senti desconfortável perto dela,
apesar de não estar confortável com minha atração por ela.
Agora, eu absolutamente amava estar com ela.

— O que você quer da vida, Farrah? — Perguntei.

Ela sorriu e se inclinou para frente para olhar para mim,


seu olhar penetrante. — Acho que quero recriar a paz que eu
tinha antes da morte de meus pais. No entanto, não tenho
certeza de como fazer isso. Não sei se poderei voltar a me sentir
normal, completamente segura. Também não quero depender
de ninguém para obter apoio financeiro. Quero me sentir
segura, econômica e emocionalmente. Mas estou muito longe
disso. — Ela olhou para as estrelas. — Portanto, minhas três
respostas são paz, felicidade e segurança financeira. — Farrah
ergueu o queixo. — Sinto que você realizou muito. Gostaria de
estar no mesmo barco em algum momento, me formar na
faculdade e na pós-graduação e ter experiência suficiente para
conseguir um bom emprego e cuidar de mim mesma.

Dei de ombros. — Posso ter um bom currículo, mas estou


longe de onde quero estar na vida. Muito disso tem a ver com
o fato de que fugi quando as coisas ficaram difíceis e não lidei
com as coisas. Então, embora possa parecer que tenho minhas
coisas sob controle, é mais uma ilusão.

— Você já conversou sobre seus sentimentos com


alguém?

— Isso é o que estou fazendo agora. — Sorri. — Esta é a


extensão disso. — Suspirei. — Não sei o que devo fazer, para
ser honesto. Não é como se eu pudesse mudar qualquer coisa
que aconteceu. Falar sobre isso realmente ajudará? Não sei.
Sempre me enterrei na faculdade e no trabalho.

— Temos isso em comum, não lidar com as coisas. Tenho


me concentrado em meu trabalho sem sentido e em estar ao
lado de Nathan, mas não sinto que estou vivendo minha vida
da maneira que quero. Honestamente, os últimos sete anos
foram um borrão.

Concordei. — Também sinto que tive duas vidas


diferentes: antes e depois. Você sabe o que quero dizer?

Ela assentiu. — Sei exatamente o que você quer dizer.

Nossos olhos se encontraram.


— Sei que você entende.

— Apesar de como tem sido difícil, — disse ela, — quando


você voltou para a Flórida, foi muito bom. Foi como se eu
tivesse uma parte do 'antes' de volta. Não cresci muito. Eu
tinha meus pais e Nathan, e honestamente, Jace... eu tinha
você. Porque você sempre esteve por perto. Você voltar foi a
melhor coisa que me aconteceu em muito tempo. — Ela ficou
um pouco engasgada. — Sei que compliquei as coisas
mostrando meus sentimentos por você, mas espero que você
saiba que não importa o que aconteça... Sempre vou cuidar de
você.

Uma sensação não identificável borbulhou dentro do meu


peito – uma sensação de calor misturada com intensa culpa.

Queria tanto me inclinar e beijá-la. — Você é incrível,


sabia disso?

— Também acho você incrível. — Ela sussurrou.

— Quando minha mãe me contou sobre ter visto você com


aquele cara, Colton, acho que ela pôde sentir uma vibração
estranha em mim. Ela perguntou se isso me chateava.

Mesmo na escuridão, pude ver suas bochechas ficarem


rosadas.

— Você estava com ciúmes?

Concordei. — Você conhece o ditado, se você não aguenta


o calor, saia da cozinha? Isso é o que fiz. Saí da cozinha,
literalmente, simplesmente me levantei da mesa porque nunca
fui capaz de mentir para minha mãe.

— Por que você estava com medo de contar a ela?

— Eu não queria que ela me convencesse a fazer a coisa


errada. Minha mãe não é uma boa influência. Ela é muito
romântica e te adora loucamente. Acho que ela adoraria se
estivéssemos juntos. Ela tem muito respeito por você.

A expressão de Farrah ficou triste. — Mas ela não conhece


Nathan como nós.

— Sim, — sussurrei.

Ela pigarreou. — Bem, sua mãe é muito doce. Sempre


gostei dela. Ambos os seus pais são ótimos.

— Quando passei essas duas semanas com eles, percebi


como sou sortudo por tê-los. — Imediatamente me arrependi
de ter dito isso. — Sinto muito. Isso foi insensível. Eu só quis
dizer...

— Não, não, não. Está bem. Tive meus pais por algum
tempo... tive muita sorte nesses quatorze anos. — Ela olhou
para a piscina. — Às vezes ainda ouço minha mãe falando
comigo. É como se eu conhecesse o tipo de conselho que ela
me daria para certas situações, mesmo que não esteja aqui.
Não tenho a mesma ligação com meu pai. Ele era um pouco
mais difícil de ler. Mas o fato de que às vezes posso sentir a
presença de minha mãe quando preciso dela é uma coisa boa.
— Ela se virou para mim. — De qualquer forma... estou muito
feliz por você estar aqui esta noite. Faz uma eternidade que
não tenho a chance de falar com você. Estou aliviada por não
estar bravo depois do embaraço que tivemos antes.

— Não tenho nenhum motivo para estar bravo com você.


Só quero que você seja feliz.

Ela encolheu os ombros. — Estou tentando. — Ela olhou


para suas mãos. — Ouça... aquela promessa que você me fez
há um tempo... sobre não trazer garotas aqui – isso não é justo.
Se vou trazer Colton, você deve ser capaz de trazer quem quiser
para casa.

A ideia de ele estar aqui me perturbou. Não ia ser fácil,


mas tinha que apoiá-lo porque Farrah precisava abandonar
todas as ideias que tinha sobre estar comigo.

Arqueei minha sobrancelha. — Você tem certeza disso?

— Sim... não posso garantir que não irei odiá-la, mas não
tenho o direito de dizer a você como viver sua vida. Além disso,
pareceria um pouco estranho para Nathan se você nunca
trouxesse ninguém. Você não acha?

Outras mulheres eram a coisa mais distante da minha


mente agora. Tudo que eu queria era provar os lábios de
Farrah novamente.

— Você vai levar esse cara para a próxima noite de


cinema? — Perguntei.
Ela piscou algumas vezes. — Pode ser. Não pensei sobre
isso.

Decidindo ser um espertinho ciumento, levantei minha


sobrancelha. — Onde você vai se sentar?

Seu rosto ficou vermelho. — O que você quer dizer?

Fui um idiota total por tocar no assunto, mas não pude


evitar. — Você vai tentar se sentar ao meu lado mesmo se ele
estiver lá?

Seu rosto ficou ainda mais vermelho.

— Você pegou meu pequeno jogo de perna. Parabéns.

— Era um pouco óbvio, sim. Especialmente quando sua


perna acidentalmente pressiona contra a minha.

— Sim..., mas você não se mudou exatamente quando


isso aconteceu, não é?

— Não, eu fodidamente não fiz. E provavelmente deveria


ir para o inferno por causa disso.

— Bem, sempre teremos noite de cinema. — Ela piscou.

Meu pau enrijeceu com a ideia de estar tão perto dela


novamente. Farrah não tinha ideia do quanto suas pressões de
pernas me irritaram por dentro.

Mudei o assunto antes que ficasse difícil pensar nisso. —


Ok, então é assim que vamos lidar com isso? Você traz o seu
cara e eu trarei as meninas. Vamos fingir que nada nunca
aconteceu entre nós... vamos continuar com todo o
constrangimento?

— Penso que sim. — Ela mordeu o lábio, não parecendo


ter certeza.

Balancei a cabeça, ainda sentindo ciúme. — Certo.

— Prometa-me uma coisa.

— O quê?

— Prometa que não vai me evitar de agora em diante. Eu


vou fazer o mesmo.

Suspirei, mas jurei agir como um maldito adulto seguindo


em frente.

Posso fazer isso. — Isso soa como um plano.

Minha promessa de não evitar Farrah foi posta à prova


na semana seguinte, quando Nathan me informou que sua
irmã levaria seu novo namorado para um churrasco à beira da
piscina. Não sei por que ele usou esse termo. Farrah havia dito
que as coisas não eram sérias. Algo mudou? Por que diabos eu
estava tão curioso em saber?
Nathan e eu estávamos na cozinha, preparando a comida,
quando ele começou a me perguntar por informações antes de
Farrah chegar.

Nathan espalhou alguns temperos em uma bandeja com


asas de frango. — Você disse que conheceu esse cara
brevemente, certo?

— Sim.

Ele limpou o excesso de tempero das mãos. — Como ele


é?

Enrolei um pouco de carne moída em uma bola e bati com


força – bem, mais como um soco. — Ele parecia bom.
Respeitoso. Acho que ela pode ter uma aparência melhor, mas
isso sou eu sendo superficial. Não tenho nenhum motivo para
não confiar nele. Fiz uma verificação de antecedentes. Nada
sinistro apareceu. Mora em Hyacinth, com seus pais, o que é
ridículo.

Nathan esfregou o frango. — Ele pode ser um perdedor.

— Possivelmente. — Concordei.

— Obrigado por verificá-lo. Vou tentar não lhe dar muita


merda, eu acho, a menos que tenha razão para isso.

— Tenho certeza de que Farrah vai gostar disso.

Nathan lavou as mãos e tirou uma cerveja da geladeira.


— Se esse cara é um cara decente, não tenho nada com que
me preocupar, mesmo que ele more com os pais. Minha
preocupação com Farrah sempre foi que ela acabaria
brincando com o tipo errado de pessoa. Ela é muito frágil,
embora tente não demonstrar. Depois de toda a merda que
passamos, precisa de alguém confiável. Não aguentaria ser
traída. Aquele cara com quem ela namorou no colégio partiu
seu coração, não a traiu, mas a largou antes de ir para a
escola. Farrah precisa encontrar alguém que só queira estar
com uma pessoa, alguém que a trate bem e esteja lá para
quando precisar.

Exatamente. A antítese de mim. — Concordo. Esse é o tipo


de pessoa que ela precisa.

É por isso que, mesmo que ela e eu não tivéssemos tanto


medo de machucar Nathan, ainda não seria a pessoa certa
para ela. Meu histórico é péssimo.

Quando a porta da frente se abriu, fiquei sozinho na


cozinha, batendo as costas da minha mão na carne sem pensar
quando deveria estar transformando-a em hambúrgueres.
Farrah e seu namoradinho estavam conversando na sala de
estar. Não tinha certeza para onde Nathan tinha ido, talvez
para colocar seu calção de banho. Realmente queria que ele
voltasse para cá. Ele deveria ser meu amortecedor.

Passos se aproximaram da cozinha, e a próxima coisa que


eu vi foi Farrah aparecendo, usando um vestido de verão tão
fino que seus mamilos apareciam. Agora que esse cara estava
parado na minha frente, pude ver que ele era bem baixo. Isso
me deixou perversamente feliz.
— Ei, como está indo? — Farrah perguntou.

— Bom, — disse, movendo-me para a pia para lavar


minhas mãos. Quando terminei, segurei e estendi minha mão
para ele. — Como vai você, cara?

— Bem. Prazer em vê-lo de novo. Você já encontrou


alguma sujeira em mim? — Perguntou.

— Não. Você está limpo como um apito. Essa é a única


razão pela qual você está aqui.

— Bom saber. Te respeito por estar cuidando dela.

O encarei diretamente no rosto. — Sempre irei.

Farrah sorriu para mim e nossos olhos se encontraram.


Então Nathan entrou, e meu foco mudou para ele.

— Nathan, este é Colton, — Farrah disse, sua voz um


pouco trêmula. — Colton, este é meu irmão, Nathan.

Colton estendeu a mão. — Prazer em conhecê-lo.

Nathan pegou. — O prazer é meu.

Farrah olhou entre eles. — Nathan me garantiu que vai


se comportar da melhor maneira hoje.

— Contanto que ninguém me dê uma razão para agir de


outra forma, — Nathan disse.

Obrigando-me a estender um ramo de oliveira, disse: —


Quer uma cerveja, Colton?
— Seria ótimo.

— Miller ou Heineken?

— Uma Miller. Obrigado.

Enquanto caminhava até a geladeira, Farrah disse: — O


quê? Sem cerveja para mim?

Preferia que Farrah não bebesse hoje. Suas inibições


diminuiriam, e então ela poderia fazer algo com esse cara que
não faria de outra forma. Sabia como isso acontecia em
primeira mão. No entanto, mais uma vez suguei uma
respiração. — Você quer uma Miller, certo? — Sabia que era a
sua favorita.

— Sim. E estava apenas brincando, Jace. Posso conseguir


sozinha.

O jeito que ela piscou seus cílios me fez querer levantá-la


e levá-la para fora daqui. Estou com sérios problemas. Sabia
que ela preferia estar comigo agora, em vez deste idiota. E me
diverti com isso de uma maneira estranha.

Forçando meus olhos fora dela, fui até a geladeira para


pegar as cervejas.

Depois de entregar as garrafas para Farrah e seu amigo,


abri a minha e tomei um longo gole.

Farrah se aventurou até a área da piscina com Colton, e


fiquei na cozinha, embora meus olhos estivessem grudados
nela através da porta de vidro deslizante. Quando ela deslizou
o vestido pela cabeça, meu batimento cardíaco acelerou. Levou
tudo em mim para não correr lá e cobri-la com uma toalha.
Sempre soube que ela tinha um corpo lindo, mas por algum
motivo parecia dez vezes mais perfeito para mim agora –
provavelmente porque meu ciúme estava amplificando cada
pensamento e emoção.

O que diabos minha vida se tornou? Há alguns meses,


morava na Carolina do Norte, cuidando da minha vida com
uma carreira de sucesso. Agora eu estava de volta à Flórida,
limpando a bagunça que meu pai fez e cobiçando a irmã mais
nova do meu melhor amigo. Pior do que isso, não conseguia
parar de pensar nela, mesmo quando ela não estava por perto.
E critiquei minha família por ter vícios? Ser viciado em um
humano tinha o risco adicional de prejudicar a outra pessoa.

Farrah pulou na piscina, e seu brinquedo de menino a


seguiu. Continuei na cozinha, fatiando o tomate e a cebola de
maneira assassina enquanto olhava furtivamente para a água.
Foi um milagre não ter cortado meu dedo.

Nathan veio atrás de mim. — Ele parece uma boa pessoa.

Praticamente pulei com o som de sua voz. Droga, estava


no limite.

— Sim. Mas é muito cedo para dizer, — disse enquanto


mutilava um tomate.

Ele olhou para a piscina e se virou para mim. — Já que


estamos aqui o dia todo, você deve convidar alguém.
— Por que eu faria isso? Você não estaria em menor
número?

— Na verdade... — Ele deu um sorriso. — Essa garota do


trabalho está chegando. Então…

— Uma garota? — Sorri. — Quem é? E por que você não


me contou sobre ela?

— O nome dela é Crystal. Ela trabalha na recepção da


concessionária. Ela é legal.

— Legal. Já estava na hora.

— O que aconteceu com aquela garota Alyssa? — Ele


perguntou.

Alyssa era a última coisa em minha mente.

— Nenhuma coisa. Ela tem me enviado muitas


mensagens de texto. Só não a vi.

— Por que você não a convida?

Não conseguia pensar em um motivo para não fazer isso,


mesmo que o pensamento não me excitasse. Pode ter parecido
estranho se eu insistisse em ficar sozinho quando Nathan
tinha uma garota vindo. Certamente não queria ser a quinta
roda. E não podia fugir, tanto quanto queria pular essa festa
na piscina inteira.

Relutantemente, peguei meu telefone e mandei uma


mensagem para Alyssa.
Jace: Ei. O que você está fazendo esta tarde?

Sua resposta foi quase imediata.

Alyssa: Apenas fazendo algumas compras. Por quê?

Jace: Você gostaria de vir comer alguns hambúrgueres na


piscina? Estamos fazendo uma pequena reunião.

Alyssa: Adoraria! Quem somos nós?

Jace: Nathan, sua irmã e alguns amigos deles.

Alyssa: Ah. Sim. Parece divertido.

Jace: Legal. Pego você em uma hora?

Não havia nenhuma dúvida em minha mente de que ela


diria sim, considerando que me mandou mensagens de texto
quase todos os dias desde que nos conhecemos, apesar do fato
de eu não ter mostrado muito interesse.

Alyssa: Estou indo para casa agora. Então isso será


perfeito.

Se Alyssa pudesse tirar minha mente de Farrah por um


minuto, convidá-la valeria a pena.
Capítulo 13

Ela era tão bonita que me fez querer puxar meu cabelo –
ou talvez mastigá-lo como nos velhos tempos. No momento em
que Jace entrou com Alyssa, me arrependi de lhe dizer que
deveria voltar a trazer as meninas para a casa. O que diabos
eu estava pensando? Disse que era justo, mas a situação atual
era a prova de que não era algo com que eu pudesse lidar.

Alyssa me examinou tanto quanto eu a ela. Era


basicamente um concurso de encarar. Eu a peguei olhando
para meus seios. Ela me pegou olhando para seu nariz perfeito
e cabelo loiro sedoso. Então ela moveria sua mão para a perna
de Jace, e meus olhos seguiriam como uma forma de
autotortura. O fato de minha atenção ter mudado tão
dramaticamente de Colton para o que estava acontecendo
entre Alyssa e Jace foi uma verdadeira revelação. Pensei que
talvez estivesse dobrando a esquina, encontrando uma
maneira de seguir em frente com Colton. Minha incapacidade
induzida por ciúme de se concentrar provou o contrário.

Pobre Colton. O cara não poderia ter sido mais legal. Ele
simplesmente não fez isso por mim do jeito que Jace fez. Não
tinha uma necessidade incontrolável de pular nele, não sentia
a atração intensa através do meu núcleo que sentia sempre
que Jace estava na sala.

Jace pegou a garrafa vazia de Alyssa enquanto se


levantava. — Quer outra cerveja?

— Adoraria, — disse ela.

O fato dele a ter atendido e me ignorado não deveria ter


me incomodado, já que eu estava sentada ao lado do cara com
quem estava namorando. Colton olhou para mim com
adoração enquanto eu pensava em meus sentimentos
confusos.

Nathan e Crystal brincavam na piscina enquanto o resto


de nós continuava nas espreguiçadeiras. Forcei uma conversa
fiada com Colton enquanto tentava controlar meus
sentimentos.

Foi exaustivo. Pedi licença e fui ao banheiro, prometendo


pegar uma cerveja para Colton no meu caminho de volta. Uma
vez lá dentro, joguei um pouco de água no rosto.

Quando abri a porta para sair, Jace estava caminhando


pelo corredor em minha direção.

Ele parou. — Só vou... pegar uma toalha extra.

Seu corpo estava a poucos centímetros do meu e eu podia


sentir seu calor. Meu olhar viajou por todo o seu peito
esculpido antes de passar para seu rosto. Olhamos nos olhos
um do outro por alguns segundos tensos enquanto ele se
erguia sobre mim. Finalmente me forcei a colocar um pé na
frente do outro e voltar para fora.

Quando pousei de volta no meu assento ao lado de


Colton, meu corpo ainda tremia com o encontro.

— Você esqueceu minha cerveja? — Colton perguntou.

Merda. — Sinto muito. Esqueci.

— Sem problemas. — Ele se levantou. — Vou pegar. Quer


uma?

Limpei um pouco de suor da minha testa. — Não,


obrigado.

Mais tarde, depois que o sol se pôs, Nathan achou que


seria uma boa ideia nós seis assistirmos a um filme. Depois de
muito debate, finalmente decidimos por um dos velhos filmes
Bourne com Matt Damon, porque Crystal nunca tinha visto
aquela série.

Jace e Alyssa fizeram pipoca na cozinha enquanto Nathan


colocava o filme na TV. Nathan deixou Crystal ocupar seu lugar
habitual na cadeira, pegou um travesseiro e sentou-se no chão
perto das pernas dela. Sentei-me em um lugar no sofá ao lado
de Colton, que escolheu sentar-se no final. Isso significava que
havia uma chance de eu estar sentada ao lado de Jace.

Deus. Tudo que eu conseguia pensar era em se sentar ao


lado de Jace?
Quando Alyssa e Jace finalmente voltaram para a sala de
estar, endireitei-me no lugar e tentei parecer indiferente
enquanto Jace se aproximava. Então ele se sentou ao meu
lado, dando a Alyssa nenhuma escolha a não ser sentar-se na
outra extremidade do sofá. Ele pretendia fazer isso? Esta seria
a minha primeira vez sentada perto dele sabendo como era
beijá-lo. Saber que ele estava atraído por mim. Saber que ele
me queria. Saber que ele esteve no meu último jogo de pernas
na noite do filme o tempo todo. Com quatro de nós sentados
em uma fileira, foi um ajuste mais apertado do que o normal,
então, nem tive que mover minha perna para mais perto da
dele; estávamos naturalmente pressionados juntos como
sardinhas.

Nathan começou o filme, mas não consegui me


concentrar. Gostava do calor do corpo de Jace e ficava
obcecada sobre como lidaria com Colton mais tarde. Como
poderia continuar as coisas com ele quando todo esse dia havia
solidificado o fato de que eu ainda estava completa e
totalmente obcecada por outra pessoa?

Cerca de vinte minutos de filme, mudei minha perna para


a esquerda para que ela se inclinasse ainda mais na de Jace.
Devo ser uma pessoa desprezível, porque Colton agarrou
minha mão quase ao mesmo tempo, e, ainda assim, não movi
minha perna. Queria cada pedaço do contato que estava
recebendo da minha esquerda. Meu corpo estava pegando fogo.
E se houvesse alguma dúvida se essa coisa toda era mútua,
quando eu inadvertidamente movi minha perna para longe,
Jace inclinou sua perna de volta na minha. Nem parecia mais
discreto.

Senhor.

Isso tinha que acabar. Naquele momento, sabia que tudo


estava acabado com Colton, porque isso estava errado. Mesmo
que nada pudesse acontecer entre Jace e eu, esta noite era um
testamento de que nada aconteceria com Colton também.
Queria gostar dele... mas não poderia me apaixonar por ele
com força suficiente.

Como fingi estar no filme, senti que ia explodir. Havia


uma chance de Jace ir para casa com Alyssa esta noite – ou
pior, que ela dormiria aqui. Eu não faria nada além de me jogar
e virar pensando sobre isso. Sabia que Colton esperava que eu
fosse embora com ele esta noite também. Ele propôs ficar em
um hotel, já que morava com seus pais e nunca teve qualquer
privacidade. Estava dando desculpas, porque não estava
pronta para dar esse passo. Sabia agora que nunca estaria –
não com ele, pelo menos.

Depois que o filme acabou, nos retiramos para a cozinha.


Alyssa afundou em uma das cadeiras da mesa e chutou seus
pés para cima. Sua linguagem corporal deixou claro que não
estava nem perto de estar pronta para partir. Era evidente a
certeza de que havia se decidido a ficar aqui, esperando ir para
o quarto de Jace esta noite. Isso me deixou louca.
Colton passou o braço em volta de mim e sussurrou em
meu ouvido: — Quer sair daqui? Pegar uma carona? Talvez
encontrar um lugar?

Essa foi a minha deixa. Por mais difícil que fosse


machucá-lo, tinha que fazer a coisa certa.

— Podemos dar um passeio lá fora? — Perguntei, minha


garganta parecendo seca.

Ele franziu a testa, sentindo claramente algo em meu


tom. — Certo.

Colton me seguiu até a frente da casa. Estava quieto na


nossa rua, além do som dos grilos cantando.

— Qual é o problema? — Ele perguntou. — Parece que


algo está te incomodando.

Olhando para os meus pés, eu disse: — Colton... eu


realmente sinto muito. Sei que você queria que fôssemos
sozinhos e desse o próximo passo, mas, simplesmente não
estou lá. E... acho que nunca estarei. — Olhei de volta para
ele. — Isso simplesmente não está funcionando.

Ele olhou para mim de forma estranha. — Desculpe-me...


perdi alguma coisa? Você me trouxe aqui para conhecer seu
irmão porque estávamos ficando mais sérios. Tivemos um
ótimo dia, parece que todos estão se dando bem, assistimos
um filme, e em algum momento durante esse tempo, você
decide que não quer mais ficar comigo? Estou entendendo isso
corretamente?
— Sei que parece repentino, mas estou lutando há um
tempo. — Não diga isso. — Não é você, sou eu.

Eca. Eu disse isso.

Deveria levar um tiro por isso.

Ele inclinou a cabeça para trás e olhou para o céu. —


Simplesmente ótimo. Me deu esperança? Você deveria apenas
ter me dito para sair e bater à porta na minha cara. Isso teria
sido menos doloroso.

Apesar de seu tom beligerante, me senti mal por ele.


Merecia a atitude porque o havia enganado. — Sinto muito,
Colton. Realmente sinto. Você é um cara maravilhoso e merece
o mundo. É por isso que não quero fazer você perder mais o
seu precioso tempo.

Ele soltou um longo suspiro antes de me olhar nos olhos.


— Você tem certeza disso?

Sentindo-me péssima, simplesmente assenti.

Demorou vários segundos para processar isso. — Bem...


cuide-se, eu acho. Não tenho certeza do que mais dizer.

— Você também.

Fiquei na calçada quando ele entrou no carro. Uma


sensação horrível se desenvolveu na boca do estômago
enquanto me questionava por um momento. Cometi um erro?
Ele era um cara muito sério. Balancei minha cabeça,
lembrando a mim mesma que precisava seguir minha intuição
– e meu coração. Eles estavam me dizendo para seguir em
frente, e que eu precisava falar com Jace esta noite.
Urgentemente.

Quando voltei para a cozinha, todos se viraram para mim.


O olhar de Jace foi particularmente penetrante.

— O que aconteceu com Colton? — Nathan perguntou.

— Ele... foi para casa.

Meu irmão parecia confuso. — Presumi que você iria


embora com ele.

— Não, uh, ele tinha que fazer algumas coisas.

Não parecia o momento certo para soltar a bomba que eu


tinha acabado com o cara doce que todos eles conheceram
hoje. Não havia nenhuma explicação que fizesse sentido para
eles.

Alyssa colocou o braço em volta de Jace e me encolhi. No


entanto, seus olhos ainda estavam fixos nos meus. Virei-me e
peguei um copo d'água, ocupando-me na cozinha, e depois de
um momento, Alyssa se levantou para usar o banheiro.

O alívio tomou conta de mim. Parecia minha única


chance de me comunicar com Jace.

Assim que ela estava totalmente fora de vista, me virei


para ele e murmurei: Por favor.

Ele engoliu em seco.


Eu não sabia o que meu pedido significava, não tinha
certeza exatamente do que estava implorando a ele.

Por favor... me tire do meu sofrimento?

Por favor... não a leve de volta para o seu quarto esta noite?

Por favor... vamos a algum lugar?

Não era como se Jace pudesse me perguntar o que diabos


eu quis dizer, também.

Nathan se levantou e levou Crystal para a sala. Agora


éramos apenas Jace e eu. Eu estava prestes a dizer algo mais
quando Alyssa saiu do banheiro.

Para minha surpresa, Jace de repente se levantou. —


Preciso te levar para casa.

Alyssa pareceu pega de surpresa. — Oh... você tem um


lugar para estar?

— Tenho que acordar muito cedo amanhã.

Eu não sabia para onde tudo isso estava indo até que ele
se virou para mim. — Você disse que precisava de uma carona
para a casa de Kellianne, certo?

Puta merda. — Uh... sim. Meu carro estragou de novo.

Seus olhos eram penetrantes. — Posso te levar.

Meu coração bateu rapidamente quando eu assenti. —


Ok... obrigada.
Alyssa revirou os olhos. — Seu carro parece nunca estar
funcionando.

Jace foi para a sala de estar. — Prazer em conhecê-la,


Crystal, — o ouvi dizer.

— Onde você está indo? — Nathan perguntou.

— Levar Alyssa para casa e deixar Farrah na casa de


Kellianne.

— Você vai para a casa de Kellianne tão tarde? — Nathan


questionou.

— Ela está... passando por algumas coisas. Ela só quer


companhia.

Ele pareceu acreditar. — Oh, tudo bem. — Nathan


gostava tanto de Crystal que provavelmente poderia ocorrer
um incêndio na cozinha esta noite e ele não teria notado.

— Foi um prazer conhecê-la, Crystal, — eu disse.

—Você também, Farrah. Talvez possamos tomar um café


algum dia.

— Adoraria. — Sorri e dei uma piscadela discreta para


Nathan para mostrar minha aprovação.

Arrepios salpicaram minha pele enquanto seguia Jace e


Alyssa até sua caminhonete. Ela subiu no banco do passageiro
ao lado dele enquanto eu não tinha escolha a não ser sentar-
me no banco de trás. Mas disse a mim mesma para ser
paciente. Assim que ele a deixasse, o teria só para mim. Meu
corpo zumbia de excitação e nervosismo. Não podia acreditar
que ele tinha aceitado meu vago Por favor. Ele traduziu o que
pedi: um tempo a sós com ele.

A viagem foi silenciosa e desconfortável. Podia


praticamente sentir o desdém de Alyssa vazando por trás de
sua cadeira. Jace ligou o rádio, talvez para abafar o silêncio.

— Você vai deixá-la primeiro? — Ela finalmente


perguntou a ele.

— Não. Faz sentido deixar você primeiro.

Quando chegamos em sua casa, Alyssa se virou para ele


depois que ela saiu. — Ligue-me logo?

— Sim, — disse ele evasivamente.

Ela inclinou a cabeça em direção ao banco de trás. —


Tenha uma boa noite, Farrah.

— Você também.

Como cortesia, esperei ela entrar em casa antes de sair


do banco de trás e ir para o lado do passageiro. Ao afundar no
couro, me senti mais relaxada do que durante toda a noite.
Estar ao lado de Jace me fez sentir novamente em casa.

Ele não olhou para mim quando partimos.

— Onde estamos indo? — Perguntei depois de alguns


minutos de silêncio tenso.
Ele riu quase com raiva. — Dar uma surra em mim.

— Obrigado por arranjar tempo para mim. Sei que minha


mensagem foi vaga.

Seus olhos dispararam em minha direção. — Eu sabia o


que você queria.

Isso me deu calafrios.

Meus olhos se fixaram em suas mãos segurando o


volante.

— O que aconteceu com você e Colton esta noite? — Ele


perguntou.

— Eu disse a ele que não podia mais vê-lo.

Sua respiração engatou. — Achei que você gostasse dele.

— Não do jeito que gosto de você, — disse com


naturalidade.

Jace sugou um pouco mais de ar. — Isso é tão


bagunçado, Farrah. Você estava com aquele cara, e eu deveria
estar com Alyssa, mas tudo que eu queria era sentar-me ao
seu lado durante aquele maldito filme apenas para que
pudesse fodidamente tocar em você.

Suas palavras fizeram os músculos entre minhas pernas


se contraírem.

Jace finalmente parou no mesmo estacionamento


desolado que tínhamos visitado antes.
Ele desligou a ignição. — Você perguntou para onde
estávamos indo. — Depois de uma pausa que durou vários
segundos, ele disse: — Tenho certeza de que é o inferno.

Então ele se inclinou e me beijou como se eu nunca


tivesse sido beijada antes.
Capítulo 14

Minha língua estava praticamente descendo pela


garganta de Farrah. Nunca me senti tão fora de controle em
minha vida. Todas as razões pelas quais sabia que não deveria
estar fazendo isso foram pela janela no segundo em que minha
boca estava na dela. A única coisa que importava agora era
saboreá-la. Estive morrendo de fome o dia todo, pronto para
enlouquecer de ciúme. E esta foi minha recompensa pela lenta
tortura de ter que vê-la com ele.

Cada gemido que escapou dela fez meu pau inchar mais
forte. Puxei seu cabelo para inclinar sua cabeça para trás e
chupar seu pescoço, como se estivesse tentando tirar o doce
néctar de sua pele.

— Por que você tem que ser tão bonita? — Sussurrei,


baixando minha boca para seus seios.

Farrah fez um som ininteligível enquanto eu chupava


suas protuberâncias macias através do tecido de seu vestido.

Ela não estava usando sutiã. Disse a mim mesmo que não
iria despi-la, mas assim que ela puxou a parte de cima do
vestido, ansiosamente coloquei seu seio nu em minha boca. Se
eu achasse que seu pescoço tinha um gosto bom, não era nada
comparado a isso. Sabia que havia outras partes dela que eram
ainda mais doces – partes que eu realmente precisava evitar
tocar esta noite antes que não houvesse mais volta. Afastei
minha boca de um seio e mostrei amor ao outro enquanto ela
passava os dedos pelo meu cabelo. Com cada puxão de sua
mão, cada gemido que escapava dela, eu me sentia como se
estivesse em uma espiral. Não havia um pingo de controle
deixado em mim.

— Quero você, Jace. Por favor... quero você dentro de


mim.

— Não, — respondi. Tive que fazer tudo ao meu alcance


para resistir.

O que ela disse em seguida quase me desfez.

— Quero provar seu pau. Deixe-me chupar você.

— Jesus, Farrah. — Afastei-me, meu pau latejando em


protesto. — Não vamos fazer sexo esta noite. Qualquer tipo de
sexo. Não diga merdas como essa.

Ela parecia corada. — Ok.

Não poderia dizer se ela estava envergonhada ou


desapontada ou ambos. — Nós só... precisamos levar isso com
calma, ok?
Ela lambeu os lábios, e isso foi o suficiente. Apesar das
minhas palavras, o desejo de devorar sua boca novamente
venceu quando a puxei de volta para mim, desta vez beijando-
a com raiva – com raiva dela por ser uma maldita provocadora,
e com raiva de mim mesmo por minha incapacidade de resistir.

— O que eu vou fazer com você? — Murmurei, minha


língua no meio de sua garganta.

— O que você quiser.

Mordi seu lábio inferior suavemente. — Pare de dizer


coisas assim.

— Por quê?

— Porque me faz querer fazer isso.

Ela sorriu sobre meus lábios. — Bom.

— Você não é boa, Farrah. — Eu ri um pouco. — Você


não acha que quero te foder agora? Nunca quis nada mais na
minha vida.

— Não me importo com mais nada, Jace. Só quero você.


Todo você. — Ela implorou. — Por favor.

Baixando minha boca para seu pescoço novamente, falei


em sua pele. — Cristo... pare de implorar por isso.

Então, só precisava tocá-la. Abaixando minha mão,


coloquei sob seu vestido. Sua calcinha estava encharcada e o
calor quente de sua boceta parecia além de incrível na ponta
dos meus dedos.

Ela ofegou. — É uma loucura o que você faz comigo, como


você me deixa molhada.

Mudei meus dedos para dentro e para fora dela enquanto


meu pau doía para substituí-los. Nesse ritmo, sabia que
inevitavelmente estaria dentro dela. Se não fosse esta noite,
seria amanhã ou no dia seguinte. Ainda assim, permaneci
inflexível de que não seria esta noite. Ela merecia coisa melhor
do que ser fodida em um estacionamento. Só estávamos aqui
porque não tínhamos para onde ir.

Precisava fazê-la gozar para que ela parasse de me


provocar.

Muito longe para impedir isso, disse asperamente, —


Venha na minha mão. — Empurrei meus dedos mais
profundamente.

Ela diminuiu o movimento de seus quadris. — E você?

— Não se preocupe comigo.

Ela repetiu seu pedido anterior. — Deixe-me chupar você.


Quero provar seu esperma.

Essas palavras quase fizeram meu pau explodir.

Beijei-a com mais força. — Não vou deixar você cair em


cima de mim na minha caminhonete como uma prostituta.
— Trate-me como uma dama se quiser, mas você pode me
foder como uma prostituta.

Porra. — Você é implacável, Farrah.

Puxei meus dedos para fora dela e lambi sua excitação.


Seu doce sabor me deixou em um frenesi. Envolvi minha mão
em torno de sua cabeça e puxei-a para perto novamente, desta
vez levantando-a no meu colo para que ela montasse em mim.
Este foi o maior teste da minha resistência, porque tudo que
eu queria fazer era tirar meu pau e deixá-la me montar tão
forte quanto sabia que ela faria. Mas em vez disso, a empurrei
para baixo em meu jeans, onde meu pau estava estourando
pelas costuras. Sua umidade escoou por sua calcinha
enquanto ela me montava sobre minhas calças enquanto meu
pau latejava. Ela moveu seus quadris, pressionando seu
clitóris contra mim enquanto eu segurava suas costas. Nossos
olhos estavam fixos um no outro até que a necessidade de
beijá-la superou meu desejo de ver a necessidade em seus
olhos. Chupei sua língua enquanto ela continuava a esfregar
contra mim. Segurei com todas as minhas forças, tentando não
explodir.

Sua voz estava trêmula. — Eu amo a maneira como você


parece entre as minhas pernas.

— Mostre-me o quanto você o ama. Venha no meu pau.

Farrah inclinou a cabeça para trás e respirou fundo.


Parecia que estava tentando prolongar o inevitável, tentando
segurar seu orgasmo – até que não fosse mais capaz. Ela
deixou escapar um som alto de prazer que qualquer pessoa
nas proximidades poderia ter ouvido. Felizmente, estávamos
em um estacionamento vazio. Enquanto ela se esfregava em
mim, não aguentei. Perdi o controle, gozando com força sob ela
enquanto meus olhos rolavam para trás. A moagem diminuiu
até não sobrar mais nada.

Quando olhei em sua direção, ela me deu um sorriso


malicioso – parecendo satisfeita por ter me feito perdê-lo.

Agarrando seu cabelo, eu disse: — Você está feliz agora,


Farrah? Nunca gozei nas minhas malditas calças antes. Essa
foi a primeira vez para mim.

— Estou feliz que você me deixou fazer isso. Só queria que


estivesse dentro de mim.

— Você vai ser o meu fim, — sussurrei, querendo dizer


isso com toda a minha alma.

— O que acontece agora? — Ela saiu de cima de mim e


voltou para seu assento no lado do passageiro.

— Foda-se se eu sei.

Ela estava tão linda com o cabelo todo bagunçado e os


lábios vermelhos dos nossos beijos.

Ainda ofegante, ela disse: — Não podemos tentar


descobrir por um tempo? Só quero um tempo com você.

— E depois? O que acontecerá quando nosso tempo


acabar?
— Então, lidamos com isso quando vier.

— Isso soa como uma receita para o desastre. —


Descansei minha cabeça na parte de trás do meu assento. —
Você merece coisa melhor do que ter que se esgueirar por aí
com alguém.

— Mereço o que eu quero. E você é o que eu quero.

Isso era perigoso. Ela não sabia o que estava dizendo –


mesmo que quisesse dizer isso.

— Você vai se apegar a mim, Farrah. Isso não é saudável.


Não sou certo para você.

— Você realmente acha que já não estou apegada a você?


Você é tudo em que penso. Desde o primeiro momento em que
você me beijou, você me possuiu. Você me possuía, porra, e
esses sentimentos não vão simplesmente desaparecer como
mágica porque digo a eles para irem.

Ouvi-la dizer que eu a possuía fez coisas comigo. Minha


mente correu para encontrar uma solução. Continuei tentando
colocar isso nela quando sabia muito bem que não poderia
parar se tentasse. Estava instigando merdas tanto quanto ela.
O lado realista de mim sabia que era um beco sem saída, mas
meu cérebro ainda tentava encontrar qualquer desculpa para
seguir em frente com o que meu corpo precisava.

Então tive um momento luminoso que provavelmente foi


provocado pelo meu pau: talvez fosse melhor desistir e acabar
com isso. Talvez houvesse uma maneira de fazer isso sem que
Nathan tivesse que saber. Ofereci a ela uma proposta antes
que pudesse mudar de ideia.

— O fato de não podermos manter nossas mãos longe um


do outro não muda o fato de que não temos um futuro juntos,
Farrah. — Quando ela olhou para baixo, coloquei minha mão
em seu queixo para que ela me encarasse. — Olhe para mim.
Isso nunca funcionará a longo prazo. Se escolhermos
continuar brincando com o fogo, temos que fazer isso com o
entendimento de que há um ponto final.

Um olhar de preocupação cruzou seu rosto. — Ponto


final?

— Temos que acabar com isso antes que Nathan


descubra. Ele nunca mais vai falar comigo e vai te tratar como
uma merda. — Devo ter ficado louco com o que estava prestes
a sugerir. — Talvez passemos o próximo mês... tirando isso de
nossos sistemas. Depois que o mês acabar, vou me mudar de
casa, para termos espaço para realmente pensar nas coisas.
Agora que Nathan tem um emprego, me sinto melhor em fazer
isso. Ele não precisa mais de mim.

Ela parecia magoada e eu não podia culpá-la. Mas não


sabia mais como lidar com isso.

Farrah finalmente falou. — Então... ficar juntos por um


mês e depois ir embora? Isso não parece um bom negócio.
— Vamos ver onde as coisas estão nesse ponto. Mas, de
qualquer forma, eu saio de casa, pois acho que é o melhor para
todos nós de qualquer maneira.

Farrah ficou olhando um pouco. — Não quero que você


se mude, mas entendo. É melhor planejar isso, pois não
sabemos como isso vai acabar.

— Concordo.

Ela olhou pela janela, parecendo contemplar minha


proposta.

Então ela se virou para mim e acenou com a cabeça. —


Ok. Um mês. — Ela pegou minha mão e enlaçou seus dedos
com os meus. — Para onde vamos esta noite?

— Não acho que devemos ficar sozinhos esta noite.


Nathan acha que você está na casa de Kellianne. Quais são as
chances dela deixar você dormir lá de verdade?

— Muito altas... a menos que ela tenha um convidado do


sexo masculino, o que é raro.

— Vou para a casa dos meus pais. Deixe Nathan pensar


que mudei de ideia e decidi ficar na casa de Alyssa – com
certeza ele queria ficar sozinho com Crystal de qualquer
maneira.

Cara, eu parecia não ter nenhum problema em mentir


esta noite – mentir para Nathan sobre meu paradeiro e mentir
para mim mesmo, porque, no fundo, sabia que não haveria um
rompimento limpo depois de um mês. Alguém ia se machucar
gravemente. Possivelmente duas pessoas de quem eu gostava.
Tudo por causa do meu egoísmo.

Parecia um trem desgovernado. Eu só esperava que não


quebrasse e queimasse, levando nós três para baixo com ele.

Pensei que talvez tivesse sorte e conseguisse entrar


furtivamente na casa dos meus pais com os dois dormindo.
Tudo que precisava era de alguma forma chegar à gaveta de
roupas íntimas do meu pai. Mas depois que usei minha chave
para entrar, infelizmente encontrei minha mãe sentada no sofá
da sala assistindo televisão.

Ela baixou o volume. — O que você está fazendo aqui?

Sem dizer nada, passei correndo por ela para o quarto


deles. Papai se mexeu na cama enquanto eu abria sua gaveta
o mais silenciosamente possível para pegar uma cueca samba-
canção. Estava muito escuro para encontrar calças, então
simplesmente me contentei com elas. Não podia deixar minha
mãe saber por que precisava trocar de calça. Se ela
perguntasse, puxaria algo da minha bunda.
No caminho de volta para a sala de estar, joguei minha
calça jeans suja em um canto do quarto de hóspedes onde eu
dormiria.

Os olhos da minha mãe se arregalaram quando ela


percebeu que eu estava vestindo apenas uma camiseta e a
cueca boxer gigante do papai. — O que aconteceu?

Sentei-me no sofá. — Vou passar a noite.

— E você encontrou a necessidade de tirar as calças no


segundo que você chegou aqui?

— Eles estão sujas graxa de motor. Eu estava


consertando minha caminhonete. Queria estar confortável.

Seus olhos se estreitaram. — Em que tipo de problema


você se meteu?

— Eu disse a você o que aconteceu.

— Eu não estou falando sobre suas calças. Quero dizer,


por que você está passando a noite?

— Não quero falar sobre isso.

— Isso é sobre Farrah, não é?

Porra.

Coloquei meus pés em cima da mesa de centro e passei


minha mão pelo meu cabelo. — O que você quer que eu diga?
Você sabia da última vez que começou a me atormentar que
algo estava acontecendo lá...
— O Nathan sabe?

Cruzei meus braços. — Não. E ele nunca vai.

— O que aconteceu exatamente?

— Que parte de 'Não quero falar sobre isso' você não


entende, mãe?

Ela sorriu. — Sabe, quando eu era mais jovem, tive um


caso com o melhor amigo do seu tio Rod, Stephen.

Isso me surpreendeu. — Mesmo?

— Oh sim. Eu tinha apenas dezoito anos e Stephen era


alguns anos mais velho. Seu tio nos encontrou juntos,
escondidos no galpão atrás da casa da vovó.

— Santo Deus. O que ele fez?

— Ele deu uma surra em Stephen.

Eu ri. — Isso soa como o tio Rod.

— Foi o fim da amizade deles.

— Nenhuma surpresa aí. E você e Stephen?

— Continuamos a nos esgueirar por um tempo. Ele foi


muito doce comigo, mas eventualmente meus sentimentos
diminuíram, e era muito estressante continuar perturbando
Rod quando não parecia mais valer a pena.

Descansei minha cabeça no encosto do sofá e olhei para


o teto. — Essa história basicamente confirma o que já sei. Se
Nathan descobrisse sobre qualquer coisa que está acontecendo
entre Farrah e eu, nossa amizade estaria acabada.

— Bem, essa é a coisa. Pode acabar temporariamente.


Mas anos depois, Rod realmente admitiu que se arrependeu de
sua reação. Então, foi uma amizade perdida. Entendi que a
maneira como ele descobriu foi chocante. Mas se ele tivesse se
permitido superar isso, e olhado objetivamente, ele teria visto
duas pessoas que eram loucas uma pela outra, e que nunca
tiveram a intenção de machucar ninguém.

— Há uma grande diferença entre a sua situação e a


minha. Você disse que Stephen era um cara legal,
provavelmente o teria tratado como ouro se você tivesse
permitido. Nunca fui bom em relacionamentos. Farrah
acabaria se machucando se eu a fizesse acreditar que havia
um futuro para nós.

Essa não era a única razão pela qual eu não a merecia.


Mas era o único que eu estava disposto a admitir para minha
mãe esta noite.

— Então, se você tem tanta certeza sobre como as coisas


deveriam ser, por que não confia em si mesmo? Por que você
está dormindo aqui esta noite? Você está se sentindo culpado
por algo que já aconteceu, estou certa?

— Acho que terminamos de falar sobre isso esta noite. —


Beijando-a na testa, eu disse: — Vejo você de manhã.
No quarto de hóspedes, me sentei na cama e levei os
dedos ao nariz. Ainda podia sentir o cheiro de Farrah. Puta
merda. Meu pau subiu em atenção enquanto repassava tudo
que tinha acontecido na minha caminhonete – o jeito que ela
me disse que queria me chupar, o gosto de seus lábios e seios,
a maneira como esfregou sua boceta em mim até que ambos
gozássemos. Estava completamente excitado.

Talvez Farrah pudesse sentir minha energia porque uma


mensagem veio dela alguns segundos depois.

Farrah: Você ainda está acordado?

Meu primeiro instinto foi avisá-la mais uma vez para não
pensar em mim, para não ter esperanças. Mas, no final das
contas, relaxei em meu travesseiro e digitei o que realmente
sentia.

Jace: Ainda posso sentir seu cheiro em mim, e isso está


me mantendo acordado.

Farrah: Quando posso te ver de novo?

Jace: Acho que precisamos nos controlar. Vamos esperar


alguns dias. Então veremos.

Veremos. Eu sabia que essas seriam minhas famosas


últimas palavras.

Os pontos se moveram enquanto ela digitava.

Nesse ínterim, enviei outra mensagem.


Jace: Não se esqueça de deletar esse texto.

Um segundo depois, sua resposta veio.

Farrah: Boa noite.

Podia sentir sua decepção. Ela provavelmente queria uma


mensagem mais entusiasmada minha. Acredite em mim, uma
parte de mim queria lhe dizer que eu a pegaria de manhã para
levá-la para casa, para que pudéssemos terminar o que
começamos esta noite, enquanto Nathan estava no trabalho.
Mas da próxima vez que cedêssemos aos nossos sentimentos,
sabia que acabaríamos levando isso longe demais. Isso
marcaria o começo de eu inevitavelmente machucá-la, o que
não tinha pressa em fazer.
Capítulo 15

Dois dias após meu encontro com Jace em sua


caminhonete, recebi uma mensagem às 5 da manhã.

Jace: Nathan está saindo às 8:45. Você pode ligar para o


trabalho dizendo que está doente?

Tive arrepios.

Meu turno normalmente começava às 7h. Teria sido ideal


avisar meu chefe mais se eu não fosse aparecer, mas não havia
como recusar a oportunidade de ficar a sós com Jace.

Farrah: Considere feito.

Enviei uma mensagem de texto à minha supervisora,


informando-a de que estava “doente” e pedindo desculpas pelo
aviso tardio.

Nas horas seguintes, não consegui voltar a dormir.


Jogando e virando, fiquei na minha cama até ouvir o som de
Nathan ligando seu carro.
Depois que ele saiu pela estrada, levantei-me para ir em
busca de Jace. Antes mesmo que eu pudesse sair do meu
quarto, ele apareceu na minha porta.

Sem camisa, ele olhou para mim.

Engoli em seco. Meus olhos vagaram até a fina trilha feliz


que conduzia em sua calça de moletom cinza. Ele já estava
duro.

— Ei — respirei.

— Ei — disse ele, com o peito arfando.

Aproximei-me e perguntei: — O que você tinha em men...

Seus lábios estavam nos meus antes que eu pudesse


pronunciar as palavras. O corpo de Jace pressionado contra
mim enquanto ele procurava minha língua. Podia sentir seu
pau enorme latejando contra mim.

— Oh Deus. — Sussurrei.

Ele abaixou a boca para beijar meu pescoço. — Vou para


o inferno por causa disso.

— Estarei lá com você.

Ele se moveu para trás, seus olhos viajando por todo o


comprimento do meu corpo. — Tire a roupa, — disse ele. —
Quero olhar para você primeiro.

Meus mamilos enrijeceram enquanto arrancava cada


pedaço de roupa, sem prestar atenção para onde joguei as
coisas no chão. Quase perdendo o equilíbrio, chutei meu short
antes de deslizar minha calcinha pelas minhas pernas.

Endireitando meus ombros, fiquei diante dele totalmente


nua, a penugem de pêssego em minhas pernas endurecendo.
Jace olhou para mim por vários segundos, suas pupilas
dilatadas. O olhar de fome em seus olhos me deixou molhada.
Nunca tinha sido olhada enquanto estava nua antes, mas
havia algo tão excitante em se desnudar e ver alguém te
devorar com os olhos. Meus mamilos praticamente se
transformaram em aço.

— Toque-se. — Exigiu.

Abaixei minha mão. Quando comecei a massagear meu


clitóris, Jace abaixou suas calças e as deixou cair no chão. Sua
cueca boxer saiu em seguida. Observei seu pau gigante saltar
para frente. Era perfeito, enorme e brilhante, exatamente do
jeito que imaginei. Salivei, com vontade de o levar na boca.

— Puta merda. — Murmurei. — Você é lindo.

Não tinha visto nada ainda porque ele começou a se


masturbar enquanto olhava para mim. Meus dedos esfregaram
meu clitóris com mais força. Fiquei incrivelmente excitada com
a expressão de fome em seus olhos.

— Pensei neste momento todas as noites durante um


mês, — disse ele.
Ficamos no mesmo lugar por vários minutos, nos
encarando e nos dando prazer. Meu nível de excitação era
insuportável.

— Deite-se na cama e abra as pernas.

Meus joelhos tremeram quando me mudei para a cama e


me deitei, afastando os joelhos o máximo que pude.

Ele puxou seu pau várias vezes antes de se mover para a


cama para pairar sobre mim.

— Encontrei seus comprimidos no banheiro uma vez.


Você ainda está usando?

Concordei.

— Bom. Quero te foder nu, Farrah. Tudo bem? Estou


limpo. Estive seguro com todas as outras.

Não havia nada que eu quisesse mais. — Sim.

De quatro, ele se abaixou para pegar minha boca na dele.


— O quanto você me quer dentro de você?

— Tão malvado. — Respirei.

— Diga-me. Diga-me o quanto você quer que eu te foda


agora.

— Quero você desde que me lembro. Não há nada que eu


queira mais do que sentir você dentro de mim, e que você me
foda mais forte do que já fodeu com alguém. — Soltei um longo
suspiro. — Por favor... por favor, me fode com força.
Ele mordeu minha clavícula. — Tem certeza de que quer
difícil?

— Sim.

— Posso te machucar.

— Não me importo.

Ele voltou a olhar para mim e seus olhos escureceram de


desejo. Agradou-me saber que Jace tinha chegado ao ponto
onde todas as suas dúvidas e inibições foram obliteradas.

Jace abriu minhas pernas mais amplamente, e senti sua


coroa na minha abertura. — Coloque-me dentro de você, —
disse ele.

Colocando minha mão em torno de seu pau rígido, senti


como estava molhado na ponta. Circulei sua coroa em torno
da minha abertura, amando a sensação de seu pré-gozo contra
minha pele. Foi uma validação. Comecei a acariciar seu eixo.

— Continue fazendo isso e gozarei em sua mão e não em


sua linda boceta. Porra, me coloque dentro de você, Farrah,
antes que eu exploda.

Não sabia se deveria prolongar sua agonia ou ceder à


minha própria necessidade. No final das contas, não pude
esperar mais. Esfreguei sua ponta sobre a minha abertura
mais algumas vezes e empurrei seu pau para dentro.

Um longo gemido escapou dele enquanto ele afundava em


mim. — Oh... porra...
Fechei meus olhos com a intensidade. — Jesus Cristo,
Jace.

— Não se mexa, porra, ou vou gozar. Juro, nunca me


senti assim antes. — Ele fechou os olhos com força por um
momento. Ele exalou e começou a se mover lentamente para
dentro e para fora de mim.

O fato de que ele parecia estar lutando para se controlar


me fez quase querer que ele perdesse o controle. Mas também
queria estender o tempo o máximo possível.

Entramos em um ritmo quando ele começou a me foder


de um jeito que combinava com os impulsos ansiosos de meus
quadris. Ele não poderia estar mais profundo dentro de mim.

— Você é o primeiro cara a fazer isso comigo sem


camisinha, e você vai ser o primeiro a gozar dentro de mim.

— Não posso esperar, — ele murmurou.

Ele se moveu mais rápido, batendo em mim com tanta


força que minha cabeça bateu contra o encosto da cama. Não
tenho certeza de como explicaria a Nathan se um buraco
aparecesse de repente na parede.

Minhas mãos agarraram sua bunda, minhas unhas


cravando em sua pele.

— Foda-me mais forte, Jace. Destrua-me, — ofeguei.

Ele empurrou com mais força e riu um pouco. — Cuidado


com a língua, Farrah, ou irei gozar.
— Bom.

Ele acelerou seus movimentos e eu não aguentava mais.


Meu clitóris começou a pulsar enquanto perdia o controle
sobre meu corpo. Minha voz ecoou pela casa enquanto meu
orgasmo me rasgava. Foi, sem exceção, o sentimento mais
intenso que já tive.

Assim que alcancei meu clímax, o corpo de Jace tremeu


quando ele gozou. Ele soltou um som alto e ininteligível
enquanto eu levantava meus quadris para encontrar cada uma
de suas estocadas.

Seu corpo tremia enquanto descia de seu orgasmo. Meu


clitóris ainda latejava, poderia facilmente ter uma segunda
rodada, e fazia apenas um minuto desde que gozei.

Empurrei seu corpo mais fundo em mim, querendo cada


grama de seu esperma dentro de mim, nunca querendo me
mover deste lugar.

— Isso foi... tudo. — Exalei.

Jace continuou a respirar erraticamente. — Não tenho


certeza se algum dia serei capaz de me afastar de você.

Isso me encheu de imensa esperança, mas me avisei para


não levar a sério nada do que fosse dito imediatamente após o
sexo.

— Não importa o que aconteça, nunca vou me arrepender


disso, Jace.
Ele colocou as mãos em volta do meu rosto. — Nem eu,
linda.

Meu coração apertou.

Ele me segurou por vários minutos enquanto o sol da


manhã entrava pela janela.

Eventualmente, Jace se levantou e vestiu as calças. Ele


sorriu. — Venha tomar café da manhã quando estiver pronta.

Parecia um sonho.

Depois de me limpar e colocar um vestido, encontrei-o na


cozinha. Suas lindas costas esculpidas me encararam
enquanto ele estava no fogão fritando ovos. Inspirei
profundamente o cheiro de manteiga.

Não pude deixar de envolver meus braços em volta de seu


corpo enquanto ele cozinhava. Uma onda pesada de realidade
me atingiu naquele momento. Um mês? Um mês e eu deveria
desistir dele? Isso era incompreensível. Agora eu me sentia
mais conectada a ele do que nunca. Nunca poderia me sentar
e vê-lo com outra mulher novamente.

— Eu menti... — confessei. — Não acho que posso fazer


isso. Não posso simplesmente terminar as coisas depois de um
mês com você. Você vai quebrar meu coração.

Seu corpo enrijeceu antes de ele se virar. — Não quero


quebrar seu coração, baby. — Ele largou a espátula. — Você
não é a única que está confusa agora.
Ele me ergueu em seus braços. Envolvi minhas pernas
em torno dele e fiquei desesperada para senti-lo dentro de mim
novamente.

Os ovos escaldantes estavam prestes a queimar.

— Podemos esquecer o café da manhã? — Falei sobre sua


boca.

Ele grunhiu e se virou para desligar o aquecedor. Jace


empurrou suas calças para baixo enquanto ainda conseguia
me carregar. A próxima coisa que eu soube foi que senti seu
pau quente e molhado na ponta da minha calcinha já
encharcada. Ele moveu minha calcinha para o lado e entrou
em mim com um impulso forte. Jace gemeu quando empurrou
seus quadris e começou a me foder em pé. Foi ainda melhor do
que da primeira vez. Enquanto eu corria meus dedos por seu
cabelo, saboreei o gosto de sua boca, sua respiração, incapaz
de me cansar dele.

Foi uma maravilha que eu não caí, dado o quão forte ele
estava empurrando em mim enquanto me segurava ao mesmo
tempo. Minhas unhas cravaram em suas costas enquanto eu
me agarrava para salvar sua vida. O nível de penetração desta
vez foi ainda mais intenso.

Inesperadamente, cheguei ao clímax, meus músculos se


contraíram em torno dele. Olhando profundamente em seus
olhos, ondas de prazer percorreram meu corpo. No meio do
meu orgasmo, seu corpo tremia enquanto ele perdia o controle.
Decidi que não havia nada mais sexy do que olhar nos olhos
desse cara enquanto ele gozava dentro de você. Nada
comparado.

— Você vai ser a minha morte. — Ele enterrou o rosto no


meu pescoço e riu. — Mas não consigo pensar em uma maneira
melhor de morrer.

Jace me deu um longo beijo antes de me colocar no chão.

Escapei para o banheiro, e quando voltei para a cozinha,


ele estava de volta no fogão, refazendo os ovos.

A visão de um Jace sem camisa cozinhando meu café da


manhã me deu arrepios. O café sendo preparado cheirava
quase tão bem quanto ele, quase.

— Espero que você esteja com fome... de comida. — Ele


piscou.

— Depois do treino que você me deu esta manhã, estou


morrendo de fome.

Ele nos serviu ovos e torradas. Comemos em um silêncio


confortável à mesa, destruindo a comida rapidamente.

— Você tem que ir trabalhar? — Perguntei.

— Infelizmente, eu quero... pelo menos por um tempo.


Mas porque não te encontro aqui por volta das quatro. Isso nos
dará mais algum tempo juntos antes de Nathan chegar em
casa.
Nathan estava trabalhando na concessionária quase
todos os dias até as seis.

— Adoraria.

— Se eu puder chegar mais cedo, eu vou.

Ele levou meu prato e o dele até a pia. Peguei as canecas


e coloquei na máquina de lavar.

Quando me virei para ele, o peguei olhando para mim. —


O quê?

Ele moveu uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.


— Você é tão linda, sabia disso? Nem sei como devo manter
minhas mãos longe de você quando ele voltar para casa mais
tarde.

— Bem, então temos que encontrar outro lugar para ir.


Não me importo onde seja, contanto que possa estar com você.

Jace pareceu um pouco perdido por um momento, e então


ele me beijou na testa. — Quero que saiba que não considero
levianamente o que você me deu hoje. Sei que faz muito tempo
que você não está com ninguém. Também sei que você confia
em mim e não vou tomar isso como garantido. Não se trata
apenas de sexo para mim, tanto quanto eu poderia ter sugerido
quando sugeri que... tirássemos isso do nosso sistema. Meus
sentimentos por você vão muito além do físico. Também confio
em você. E respeito você totalmente. Não tive essa sensação
com uma mulher por um longo tempo. Hoje significou muito
para mim.
Meu coração disparou. Por mais que eu tenha gostado do
sexo, precisava ouvir isso. — Agradeço isso, embora ainda não
tenha certeza do que diabos devo fazer quando nosso mês
acabar.

— Vamos tentar não pensar nisso agora. — Jace me


levantou no ar para um último beijo. Pondo-me no chão, ele
disse: — Esteja aqui esperando por mim às quatro, ok?

— É claro.

Ele desapareceu em seu quarto para se vestir e, quando


voltou, me deu um beijo na boca. — Vejo você em breve.

Observando pela janela enquanto ele entrava em sua


caminhonete, deixei escapar um suspiro audível.

Passei o resto do dia limpando a casa como uma louca.


Fazia muito tempo que eu não tirava folga no meio da semana,
então aproveitei para fazer a limpeza profunda que vinha
planejando há algum tempo. Não havia maneira melhor de
fazer uso da energia nervosa que corria pelo meu corpo.

Quando as 3 da tarde chegaram, eu mal podia esperar


Jace voltar. Decidi matar a última hora indo até a casa de Nora
para ver como ela estava. Melhor ainda, decidi finalmente dar
a ela os ingressos do Shawn Mendes que estava segurando.
Depois da manhã eufórica que tive, senti vontade de
comemorar, ansiosa para levar a outra pessoa o tipo de alegria
que estava experimentando.
Usei minha chave para entrar em sua casa e, como
sempre, bati na parte interna da porta.

— Yoo-hoo! É Farrah!

Estava quieto e me perguntei se ela não estaria em casa,


embora isso não fosse bom, já que sua mãe sempre a instruía
a vir direto para cá depois da escola.

Nora finalmente saiu de seu quarto. Ela parecia um


pouco mal-humorada.

— E aí? — Perguntei. — Algo está errado? — Quando ela


não disse nada imediatamente, eu espiei. — Aconteceu alguma
coisa?

Ela balançou a cabeça. — Não.

— Você parece triste.

Nora hesitou. — Eu vi algo hoje, e estou com medo de


dizer o que é. Não quero ter problemas.

Meu pulso disparou. — Ok... hum... bem, não sinta.


Posso lidar com tudo o que você viu.

— Vi você e Jace.

Oh.

Isso me atingiu.

Ah não.

O quê?
Engoli em seco. — Uh... eu e Jace. Você quer dizer... o
que... o que você acha que viu?

— Tive febre esta manhã, então minha mãe me deixou


ficar em casa. Ficamos sem coisas para colocar no pão sírio. Vi
seu carro, mas não tinha certeza se você estava em casa ou se
o carro estava quebrado. Então, fui para o meu quintal e espiei
pela tela perto da piscina. Pude ver você e Jace na cozinha
através da porta de vidro.

Merda.

Eu não precisava mais me perguntar o que ela havia


testemunhado. Fiquei absolutamente mortificado. — Sinto
muito que você nos viu. Eu gostaria que você não tivesse
espiado dentro da casa, mas não é sua culpa. — Finalmente
olhei para cima. — Você quer falar sobre isso?

— Na verdade. — Ela encolheu os ombros. — Eu sei o que


era. Encontrei minha mãe e o ex-namorado dela uma vez.

— Obviamente eu não sabia que você estava em casa


naquela hora do dia. Nem pensei que você pudesse ver isso
claramente em minha casa. Sinto muito.

— Pensei que talvez você ficaria com raiva de mim.

— Não, claro que não. Você estava procurando por mim.


Você não esperava ver nada.

— Ele é seu namorado agora?


— Estamos... passando um tempo juntos. Meu irmão não
sabe, e é importante que continue assim. Vou me certificar de
ser mais cuidadosa. Obrigado por me ensinar uma lição
importante hoje.

Vários segundos de silêncio constrangedor se seguiram,


e me perguntei se talvez este não fosse mais o melhor momento
para sacar os ingressos.

Posso ter deixado você com uma cicatriz para o resto da


vida, mas aqui estão os ingressos para Shawn Mendes para
compensar isso?

No final das contas, decidi que mudar de assunto seria


uma boa coisa para tirar a atenção de um dos momentos mais
constrangedores da minha vida.

Respirei fundo. — Você sabe o que seria ótimo?

— O quê?

— Que tal nós duas esquecermos o que você viu e focar


em algo que é definitivamente para você ver.

— O que você quer dizer?

— Tenho uma surpresa.

— Você tem?

— Sim. É por isso que vim. Estava esperando o momento


certo para dar a você. — Enfiei a mão no bolso e peguei o
envelope.
Nora tirou de mim. — O que é isso?

Esfregando minhas mãos, eu sorri. — Vá em frente e


descubra.

Ela abriu, tirando os ingressos, e quando as palavras


pareceram registrar, seus olhos se arregalaram.

Então ela começou a tremer. — Isso está realmente


acontecendo?

— Isto está. — Mordi meu lábio. — Você vai vê-lo.

— Ingressos para o Shawn? — Ela chorou. — Como?

— Tenho um amigo na bilheteira, — disse com orgulho.

Nora começou a chorar antes de envolver os braços em


volta de mim. Essa distração realmente ajudou a alterar o
clima, graças a Deus.

— Oh meu Deus! — Ela continuou pulando para cima e


para baixo. — Eu simplesmente não consigo acreditar! Vou
ficar no mesmo lugar que ele!

— Você acha que sua mãe vai deixar você ir, certo?

— Ela tem que deixar. Morrerei se ela não o fizer.

— Tenho certeza de que ela vai querer levá-la, mas se por


algum motivo não aceitar, eu ficaria feliz em ir com você.

— Obrigada, obrigada, obrigada, Farrah! Esta é a melhor


coisa que já me aconteceu em toda a minha vida!
Era incrível fazê-la tão feliz. Certamente poderia me
relacionar com aquela sensação de tontura depois da minha
manhã com Jace – conseguir algo que você sempre quis, mas
nunca pensou que teria. Eu ainda estava em euforia, mesmo
sabendo que Nora nos vira atrapalhar as coisas.

— Coloque-os em um lugar seguro, ok? Certifique-se de


me deixar saber o que sua mãe diz, e se ela quer que eu leve
você.

— Ok!

Grata pelos ingressos terem tirado a tensão no ar, fiquei


na casa de Nora por mais uns vinte minutos antes de voltar
para minha casa.

Jace parou às quatro em ponto. Excitação percorreu meu


corpo enquanto o observava sair da caminhonete. Teríamos
apenas algumas horas em casa juntos antes de Nathan voltar,
mas planejava valorizar cada segundo. Mas primeiro teria que
contar a ele sobre Nora.

Antes que eu pudesse pronunciar as palavras, ele passou


pela porta e veio direto para mim, envolvendo minha boca na
sua como se tivesse morrido de vontade de me beijar o dia todo.
Seu coração trovejou contra o meu, a intensidade dessas
batidas me dando esperança.

Quase perdi a linha de pensamento, mas por melhor que


fosse o beijo, precisava conversar com ele sobre o que
aconteceu com Nora. Relutantemente, empurrei-o de volta. —
Tenho que te dizer uma coisa, e você não vai gostar.

Uma expressão de alarme cruzou seu rosto. — O que está


errado?

— A garota da porta ao lado, Nora, ela nos viu antes...


quando estávamos na cozinha.

Seus olhos se arregalaram. — Ela nos viu... fazendo sexo?

— Sim.

— O quê? Como diabos isso aconteceu?

— Ela estava em casa doente hoje. Viu meu carro e


imaginou que talvez eu estivesse em casa. Ela espiou pela área
da piscina e podia ver direto na cozinha através da porta de
vidro deslizante, aparentemente.

Ele fechou os olhos. — Porra. — Balançando a cabeça, ele


disse: — Isso não é bom. É o primeiro dia que escapamos e
alguém já nos pegou?

— Eu sei.

Ele mordeu o lábio. — Você pode confiar que essa garota


não vai dizer nada?

— Ela não vai. Não me pergunte como confio em uma


criança de onze anos..., mas confio.
— É melhor você estar certa. — Jace esfregou a mão no
rosto. — Bem, esta é uma porra de um chamado para acordar.
Nós a bagunçamos?

— Espero que não. Ela afirma que encontrou sua mãe e


um ex-namorado uma vez, mas obviamente essa não é a
maneira certa para uma criança aprender sobre sexo.

— Não posso acreditar que não fui mais cuidadoso –


levando você assim no meio da cozinha em plena luz do dia. O
que diabos há de errado comigo? — Ele estendeu a palma da
mão. — Espere, não responda isso. Tenho deixado meu pau
tomar todas as decisões ultimamente.

— Posso compreender. Eu não podia esperar você chegar


em casa. É por isso que fui até a porta ao lado. Eu estava me
sentindo tão inquieta.

— Pensei em você durante todo o maldito dia.


Praticamente tive um acidente ao dirigir tão rápido para voltar
aqui. — Ele exalou. — Você almoçou?

— Não. Tenho estado muito ligada para comer.

— Eu também. Por que não faço algo para nós?

Se ele estava mais faminto por comida do que por mim,


Jace claramente não estava com vontade de fazer sexo. Agora
que eu tinha descarregado a notícia sobre Nora nos vendo, não
poderia dizer que me sentia diferente.
Acabamos fazendo sanduíches e os levamos para a sala.
Depois de comermos, Jace me segurou no sofá por um tempo
enquanto assistíamos TV. Mesmo que ele estivesse em silêncio,
de alguma forma podia sentir os pensamentos flutuando em
sua cabeça. Ele estava preocupado, preocupado com suas
decisões, preocupado que seríamos pegos. Tínhamos uma
visão clara da frente da casa da janela da sala de estar, caso
Nathan entrasse mais cedo.

Olhei para o relógio. — Nathan deve estar em casa em


meia hora.

Por mais que eu soubesse que era arriscado, ainda meio


que esperava que Jace iniciasse o sexo. Mas ele nunca o fez.
Quanto mais perto chegava do momento em que Nathan
normalmente voltava, mais uma decisão inteligente se tornava.

Quando o carro do meu irmão finalmente parou, Jace se


levantou do sofá como um morcego fora do inferno. Tive que
rir da rapidez com que ele desapareceu para o lado oposto da
casa. Era assim que sempre seria quando Nathan voltasse
para casa agora? Jace e eu agiríamos como um casal de
pássaros embaralhados?

— Ei... — meu irmão disse ao entrar, jogando as chaves


na mesinha perto da porta da frente.

Estiquei-me enquanto me levantava do sofá. — Ei! Como


foi seu dia?

— Bom. Vendi outro carro.


— Oh meu Deus. Sério? Isso é incrível!

— Eu sei. Estive em um rolo.

— O que aconteceu com você hoje? — Ele perguntou.

Essa foi uma maneira meio estranha de formular a


pergunta. Cheia de culpa, disse: — Nada demais. O trabalho
estava chato.

Ele juntou as sobrancelhas. — Não, não estava.

Pensei em fazer xixi nas calças. — Hmm?

— Você não estava no trabalho hoje.

Meu estômago afundou. — O que você está falando?

— Fui à farmácia no caminho para casa e encontrei


aquela garota com quem você trabalha. Denise, acho que é o
nome dela? Ela disse que você estava doente e perguntou se
você estava bem.

Meu coração martelou no meu peito.

— Oh. — Olhei para os meus sapatos, me sentindo tão


culpada por mentir. E ele nem sabia da metade.

— Por que você mentiu para mim?

Meu cérebro lutou por uma resposta. — Eu… tirei um dia


de saúde mental.

— É sobre aquele cara? Ele fez alguma coisa?


Piscando, tive que pensar por um momento. — Colton?
Não. Não estamos mais nos vendo, mas foi minha escolha. Isso
não tem nada a ver com ele. Eu só precisava de uma pausa
hoje e não te disse por que não queria que pensasse mal de
mim por mentir para meu chefe.

Sua expressão se suavizou. — Você sabe que eu não


pensaria isso. Está tudo bem? Você está lutando ou algo
assim?

À medida que sua preocupação genuína por mim crescia,


também crescia meu arrependimento por ter que mentir para
ele. — Não. Estou bem. Senti-me estranha admitindo para você
que faltei no trabalho.

Suas sobrancelhas se juntaram. — Bem, acho que


entendo esse tipo de problema, para ser honesto.

— Sinto muito, Nathan. Ok?

Jace entrou naquele momento. — O que está acontecendo


aqui?

— Minha irmã acha que não há problema em mentir para


mim. Isso é o que está acontecendo.

O rosto de Jace ficou praticamente branco.

Falei antes que ele pudesse pirar muito. — Nathan


encontrou uma das minhas colegas de trabalho na farmácia.
Ela perguntou sobre mim, já que liguei dizendo que estava
doente hoje. Eu disse a Nathan que tinha ido trabalhar porque
me sentia esquisita por contar a verdade. Não deveria ter
mentido.

Os olhos de Jace moveram-se entre Nathan e eu. Ele


parecia tão culpado quanto eu.

— Sim. Concordo. Foi estúpido mentir. — Ele finalmente


disse.

Nathan se virou para mim. — Não é o fato de você ter


ficado em casa sem trabalhar. Eu poderia me importar com
isso. É que você pensou que não havia problema em me olhar
na cara e mentir. Isso me faz pensar sobre o que mais você está
mentindo para mim.

Jace engoliu em seco. — Tudo bem, cara. Vá com calma


com ela. Todo mundo diz mentiras inocentes de vez em
quando.

Sabia que ele sentia a necessidade de me defender porque


se sentia mal por não aguentar parte dessa fúria. Sorri, mas a
paranoia começou a se infiltrar. Se minha mentira sobre o
trabalho deixou meu irmão tão chateado, só podia imaginar
como ficaria se soubesse o verdadeiro motivo de eu ter ficado
em casa hoje.

Nathan saiu repentinamente da sala de estar. — Vou


pegar uma cerveja.

Quando ele saiu, Jace e eu apenas olhamos um para o


outro. Não houve palavras necessárias. Nós dois sabíamos que
estávamos fodidos.
Capítulo 16

Quinze dias.

Por quinze dias estive me escondendo pelas costas do


meu melhor amigo, dormindo com sua irmã e com medo de
dizer que estava amando cada minuto disso.

Também havia se passado quinze dias desde que desisti


de minha moral para ficar com uma garota que eu queria com
cada centímetro do meu ser, mesmo sabendo que era errado.

E levou apenas quinze dias para me perguntar se eu


estava realmente me apaixonando por Farrah. O que uma vez
assumi ser paixão parecia mais forte do que nunca. Você
morreria por alguém por quem estava apaixonado? Não havia
dúvida em minha mente de que morreria por Farrah. Paixão
não parecia a palavra certa para descrever o que tínhamos
mais.

Ela era a primeira coisa em que pensava quando acordava


e a última em que pensava à noite. Eu também ficava
deprimido sempre que pensava sobre meu limite de tempo de
um mês autoimposto, quando deveria simplesmente esquecer
tudo o que havia acontecido entre nós e me mudar. Como
deveria desistir desses sentimentos e fingir que eles nunca
existiram? Sim, queria proteger Nathan. Mas a que custo?

Enquanto isso, Farrah e eu tínhamos sido meticulosos


em não ser pegos. Chega de faltar ao trabalho ou fazer
qualquer coisa fora do comum que pudesse alertar Nathan.
Íamos aos nossos respectivos trabalhos todos os dias, mas à
noite, ela dizia que estava saindo com Kellianne. A amiga dela
era a única que sabia sobre nós, então, agiu como nosso álibi.
Farrah até estacionaria seu carro na casa de Kellianne no caso
de Nathan passar por ali. Eu a encontraria lá e a pegaria na
minha caminhonete. Então, dirigiríamos pelo menos uma hora
de distância – algum lugar onde não seríamos reconhecidos –
e iríamos para um hotel. Em algum momento perto da meia-
noite, a levaria de volta para seu carro na casa de Kellianne, e
ela iria para casa. Depois voltava para o hotel e passava a noite
lá, ou voltava para casa mais tarde, dependendo da noite, para
mudar as coisas. Repetimos esse padrão todos os dias por mais
de duas semanas.

No entanto, esta noite foi um pouco diferente. Nathan


tinha agendado uma noite de cinema em família. Eu teria
preferido ficar sozinho com Farrah e não sob o radar de
Nathan, mas não poderíamos exatamente cancelar. Nathan
convidou Crystal, de modo que serviria como uma distração
extra de quaisquer olhares ou vibrações inadequadas que
Farrah e eu pudéssemos emitir um em relação ao outro.
Crystal preparou macarrão para todos nós e, depois do
jantar, saímos à beira da piscina antes de irmos assistir ao
filme. Farrah e eu tomamos o cuidado de ficar em lados
opostos do pátio, mas não conseguia parar de olhá-la. Quando
ela emergia da piscina, eu me maravilhava com sua beleza e
me perguntava como fui capaz de a ter todas as noites. Então
a pegava olhando para mim de longe e sorria. Ela corava e
levava tudo em mim para não correr até ela e beijá-la sem
sentido. Sentia-me como uma adolescente de novo, sem
nenhuma preocupação no mundo. Não queria que esse
sentimento acabasse.

Como era justo que Nathan pudesse ser abertamente


afetuoso com sua garota e eu não pudesse ser com a minha?
A constatação de que internamente me referi a ela como minha
garota nem me surpreendeu. Ela era minha garota, não era?
Mesmo que eu não pudesse anunciar para o mundo.

A certa altura, enquanto Nathan e Crystal se beijavam em


uma das espreguiçadeiras, Farrah se levantou para ir para a
cozinha. Ela me deu um olhar de venha cá antes de escapar
para dentro de casa. Eu sabia o que ela estava tentando fazer.
Normalmente não teria corrido o risco bem debaixo do nariz de
Nathan, mas estava morrendo de vontade de beijá-la.

Esperei vários minutos depois que ela entrou para segui-


la. Dando uma última olhada em Nathan e Crystal imersos um
no outro, finalmente me levantei e fui em direção à casa.
Meu pau estava duro quando encontrei Farrah. Como um
jogo de esconde-esconde, vasculhei cada cômodo até que
finalmente a encontrei em meu quarto, que ficava no canto
mais distante da casa. Ela se encostou na cômoda. Seus olhos
estavam pesados, cheios de luxúria enquanto seu peito subia.

Minha ereção já estava estourando através da minha


sunga. Pressionei meu corpo no dela para que pudesse sentir
o quão duro estava, querendo que soubesse o que seu
comportamento lá fora tinha feito comigo. Então a beijei com
tanta força que pensei que poderia machucar seus lábios.

Quando o som da porta de correr foi registrado à


distância, Farrah se desvencilhou e saiu correndo do quarto.
Não havia nenhuma maneira de que pudesse ressurgir
ostentando este corpo rígido, então decidi atravessar o
corredor para o chuveiro.

A água escorria em mim enquanto empurrava meu pau


inchado, imaginando tudo que queria fazer com ela. Meus
olhos se fecharam com força quando gozei forte, atirando em
toda a parede de azulejos.

Lavei meu cabelo e corpo, planejando como iria escapar


com Farrah mais tarde.

Depois que me vesti no meu quarto, encontrei Farrah na


cozinha, ainda de biquíni. Fiquei duro novamente ao vê-la.
Nossos olhos se encontraram e ela me deu um sorriso irônico.
Tinha certeza de que ela sabia por que havia demorado tanto
no banheiro.
Nathan e Crystal já estavam na sala preparando o filme,
deixando Farrah e eu sozinhos na cozinha.

— Como foi seu banho? — Ela perguntou.

— Muito... imaginativo.

— Aposto.

— Você estava lá em espírito. — Eu sorri.

Ela olhou para si mesma. — É melhor eu colocar algumas


roupas antes do filme.

Meus olhos caíram em sua boca. — Tem? Meio que gosto


do jeito que você está.

— É melhor me vestir para o seu bem.

Olhei para a sala de estar para me certificar de que


Nathan ainda estava concentrado na conversa e sussurrei: —
Vou te foder com tanta força depois.

Ela lambeu os lábios. — Não espero de outra forma.

Amei o quão rápido ela ficou excitada, o quão molhada


sempre ficava para mim no segundo em que a tocava. E lá
estava eu, duro como uma rocha novamente. Tanto para aquele
chuveiro.

Quando Farrah saiu para se trocar, abri a geladeira para


tentar me refrescar – literalmente enfiei a cabeça dentro.
Finalmente fui para a sala de estar e me ofereci para fazer
pipoca para todos – você sabe, para tentar compensar o fato de
que eu estava transando com a irmã de Nathan pelas costas.
A pipoca deveria expiar esse tipo de traição, certo?

De volta à cozinha, comecei a preparar e coloquei em


quatro tigelas individuais.

Farrah já estava enrolada em um canto do sofá quando


voltei para a sala. Entreguei as tigelas e me sentei no canto
oposto do sofá. Teria parecido óbvio se eu me plantasse bem
ao lado dela. Tentei me concentrar na minha pipoca e não no
fato de que queria sentir o corpo dela ao lado do meu.

Ao longo do filme, centímetro a centímetro, Farrah se


aproximou de mim. Por mais que me doesse, cada vez me
afastava um pouco mais. Então ela se movia um pouco mais
perto novamente. Foi como um jogo. Aos olhos de Nathan, não
haveria nenhuma razão para que eu precisasse me sentar
contra ela se não houvesse uma terceira pessoa neste sofá.
Havia espaço de sobra para nos esticarmos. Farrah sorriu para
mim, seus olhos brilhando.

Finalmente, ela parou e prestamos atenção ao filme por


um tempo. Era quase o fim quando meus olhos se voltaram em
sua direção. Farrah assistia a cena final atentamente, mas
tudo que eu podia focar era em sua bela inocência e perfil
delicado. Por mais arriscado que as últimas semanas tenham
sido, esses dias foram os melhores da minha vida. Não era
apenas o sexo fenomenal; era o fato de que eu sentia que
poderia contar qualquer coisa a ela. Poderíamos nos
relacionar. Queríamos as mesmas coisas da vida. Queríamos
apenas paz. Queríamos ser felizes. E queríamos ficar juntos.

Fazendo muito sexo.

Meu olhar deve ter demorado alguns segundos a mais,


porque quando meu olhar se moveu para Nathan, seus olhos
encontraram os meus.

Naquela noite, Farrah decolou meia hora antes de mim


para ir para a casa de Kellianne.

Mais tarde, encontrei-me com ela no estacionamento fora


do apartamento de sua amiga.

Assim que ela entrou na minha caminhonete, confessei o


que estava pesando sobre mim durante todo o trajeto.

— Seu irmão me pegou olhando para você esta noite.

Ela fechou a porta e colocou o cinto de segurança. — O


que você quer dizer?

— Eu estava olhando para você no final do filme,


pensando em como você é linda, como você me faz feliz... e me
perdi em pensamentos. Olhei para Nathan, e ele estava
olhando para mim. Estava me observando, observando você.
Deus sabe há quanto tempo ele estava me olhando. Ele me deu
uma olhada. Era óbvio. Ele sabe de alguma coisa, Farrah.
Provavelmente pensa que eu só tenho uma queda. Não acho
que ele suspeite de mais nada. Mas ainda assim. Senti que ele
estava atrás de mim. E sabe o que é mais surpreendente?

— O quê?

— Quão pouco me importava. — Agarrei a mão dela. —


Estou começando a ficar ressentido. Lá estava ele hoje,
curtindo sua vida com uma mulher de quem gosta, e eu não
posso estar com aquela de quem gosto porque não posso... o
quê? Machucar seus sentimentos? Enquanto isso, ele está feliz
e eu estou infeliz.

Farrah apertou minha mão com força. — O que você está


dizendo?

Olhei para nossos dedos unidos. — Estou dizendo...


talvez precisemos contar a ele.

Seus olhos se arregalaram. — Mesmo?

— Não sei. O que você acha?

— Acho... as últimas duas semanas mudaram as coisas.


Sinto-me mais perto de você do que jamais imaginei e não
consigo me ver me afastando disso. Não quero machucar meu
irmão. Mas... não quero perder você mais.
Concordei. — Não posso desistir de você, Farrah. Sem
chance. Boa tentativa da minha parte, tentando me convencer
disso por tempo suficiente para morder a bala com você, mas
foi tudo besteira.

Seus olhos se encheram de esperança. — Nunca pensei


que ouviria você dizer isso. Sinto-me da mesma forma.

Finalmente liguei a caminhonete e saí pela estrada. Ainda


perdido na minha cabeça sobre como lidar com o que parecia
uma situação impossível, não estava prestando atenção para
onde estava indo e acabei dirigindo pela estrada onde os pais
de Farrah foram mortos.

Ela me chocou quando disse: — Você pode parar aqui?

Tinha sido um longo dia e tudo que queria era chegar ao


hotel. Mas não pude negar seu pedido.

Diminuí. — Tem certeza?

Ela assentiu.

A estrada era adjacente a um campo vazio. Estacionei o


carro e nós dois saímos.

— Mostre-me o local exato onde aconteceu. — Ela disse.

Todos os músculos do meu corpo se contraíram. Reviver


o momento mais traumático da minha vida não era algo que
eu esperava ter que fazer esta noite. Mas faria qualquer coisa
por ela, mesmo que isso significasse ter que sofrer por isso.
Ela segurou minha mão enquanto eu a levava para onde
me lembrava da caminhonete de seu pai estacionada naquele
dia.

Sentindo náuseas, parei. — Foi bem aqui.

Ficamos juntos na beira da estrada enquanto alguns


carros passavam zunindo. Observei Farrah fechar os olhos e
cair em um estado quase meditativo. Tantas emoções rodaram
através de mim. Acima de tudo: culpa. Ela não sabia a história
completa do que acontecera. Na verdade, se o fizesse,
provavelmente não gostaria de ficar comigo. Estar aqui era um
lembrete de porque a coisa certa a fazer seria deixá-la ir. Era
tarde demais para isso, infelizmente.

— Posso senti-los aqui, — ela disse. — Posso sentir a


presença deles. É incrível. — Ela abriu os olhos e olhou para
mim. — Sinto que eles também podem nos ver.

Meu estômago embrulhou. Sabia em meu coração que os


pais de Farrah não nos quereriam juntos se eles pudessem nos
ver agora. Só podia esperar que eles fossem de alguma forma
capazes de me perdoar. E esperava um dia reunir coragem
para contar a Farrah exatamente o que acontecera.

Ela estendeu a mão para mim, puxando-me para perto


antes de colocar a cabeça no meu coração acelerado.

— Quero que você deixe a dor, Jace.


Soltei a respiração que estava prendendo desde
praticamente o momento em que paramos aqui. — Não sei se
consigo fazer isso.

— Sei que você vive com a culpa de sobrevivente. É hora


de trabalhar para deixá-la ir. Quero ajudar. Acho que
precisamos vir aqui muitas vezes, passar um tempo e nos
habituar à dor. Podemos ajudar um ao outro. Na verdade, meu
terapeuta recomendou exatamente isso, mas não acho que
posso fazer isso sozinha. Te quero comigo.

Vir aqui repetidamente parecia uma tortura, mas talvez a


sugestão dela fizesse algum sentido. Talvez pudesse superar
isso se a tivesse ao meu lado.

Começou a chover, então voltamos para onde minha


caminhonete estava estacionada e entramos.

Estava prestes a ligar a ignição quando Farrah colocou a


mão no meu braço. — Vamos apenas sentar aqui um pouco e
ouvir a chuva.

Olhando a hora, tentei convencê-la do contrário. — Já


passa da meia-noite. Tem certeza que não quer apenas chegar
ao hotel? Talvez possamos fazer isso outro dia.

— Só um pouquinho? Não estou pronta para partir.

Concordei. Se isso era o que ela precisava agora, não iria


discutir.
Ao longo dos próximos minutos, me acomodei em um
estado relaxado enquanto ouvia a chuva atingir minha
caminhonete. Farrah encostou no meu peito enquanto eu
beijava o topo de sua cabeça.

— Nunca estive tão contente em minha vida, — disse ela.


— Sei que deveria sentir o contrário, considerando que temos
que nos esgueirar um com o outro, e isso é meio perigoso, mas
me sinto muito segura quando estou com você.

— Por que você gosta tanto de mim?

Sua resposta foi imediata. — Eu não.

— Você não quer? — Eu ri.

Ela se virou. — Eu não gosto de você... eu te amo.

Meu coração parecia que estava em um aperto.

Ela repetiu em um sussurro, — Eu te amo, Jace.

Deveria ter dito a ela que a amava de volta, mas congelei.


Não queria que ela pensasse que eu só estava dizendo isso
porque ela disse.

Farrah se endireitou para me olhar nos olhos. — Não


sinta que precisa responder, ok? Só queria que você soubesse
como me sinto.

— Não sinto que mereço o seu amor. — Disse. — Mesmo


anos atrás, depois que descobri que você sentia algo por mim,
sempre notei a maneira como me olhava e não me sentia
merecedor dessa admiração. Quando voltei para cá depois de
todos esses anos e descobri que você ainda me olhava assim,
me senti ainda menos merecedor. — Colocando minhas mãos
em torno de seu rosto, tentei o meu melhor para lhe dizer
exatamente como me sentia. — Você disse que faço você se
sentir segura... bem, você me faz sentir o mesmo. Quando
estou com você, não quero nada nem ninguém. Nunca me senti
assim em minha vida. Eu...

O som de batidas me interrompeu. Então veio um flash


de luz que me atingiu nos olhos. No início, foi difícil ver através
das gotas de chuva. Achei que fosse um policial. Mas quando
olhei para o rosto depois de abaixar a janela, imediatamente
pensei que seria melhor a polícia. Virei-me para ela.
Independentemente de quão assustado estava, não havia nada
pior do que ter que testemunhar o medo nos olhos de Farrah.

Ela estremeceu. — Ah não.

Como isso pode estar acontecendo?

Como diabos ele sabia que estávamos aqui?

— Vai ficar tudo bem, — eu disse, esperando que fosse


verdade.

Prometendo ser forte, abri a porta e saí. Farrah fez o


mesmo.

— Que porra está acontecendo? — Nathan gritou na


minha cara.
Tentando o meu melhor para manter a calma, perguntei:
— Por que você está aqui?

Nathan parecia quase possuído, seus olhos saltando das


órbitas e cheios de raiva na chuva torrencial. — Por que estou
aqui? Essa é uma pergunta muito boa. Que tal... não sou tão
estúpido quanto você pensa! Vocês dois saíram todas as noites
da maldita casa? A maneira como vocês olham um para o
outro? Não quis acreditar por muito tempo. Então, esta noite,
simplesmente me atingiu, tipo 'quão estúpido você pode ser,
Nathan?' — Ele voltou sua atenção para Farrah. — Somei dois
mais dois, especialmente depois que você mentiu para mim
sobre ficar em casa sem trabalhar naquele dia. Decidi passar
pela Kellianne depois de deixar Crystal hoje à noite. Claro, seu
carro estava lá, mas ninguém estava em casa. Então, tudo
bem... pensei que talvez por algum acaso eu estivesse errado.
Dei-lhe o benefício da dúvida – imaginei que talvez você tivesse
saído com ela no meio da maldita noite. Então decidi ir para
casa, e o que vejo no meu caminho de volta, a não ser uma
caminhonete que se parece muito com a de Jace estacionada
na beira da estrada – neste lugar de todos os lugares?

A voz de Farrah estava trêmula. Ela enxugou a chuva do


rosto. — Nós íamos te contar, Nathan.

— Oh sério? É fácil dizer agora que te peguei, certo? Você


passou metade da sua vida se jogando contra ele. Finalmente
funcionou para você, hein?
— Não fale assim com ela. — Coloquei meu braço em volta
dela protetoramente.

Ele quase cuspiu em mim quando disse: — Não tenho


nada a dizer a você. Você pode ter qualquer prostituta que
quiser nesta cidade inteira, e você anda por aí com minha
irmã? Sério, quanto mais baixo você consegue? Você vai morar
conosco para me ajudar, e é assim que você faz? Transando
com minha irmã, quando você sabe muito bem que não vai
ficar em Palm Creek?

— Ficarei por ela, — eu disse imediatamente.

— O quê? Você não pode estar falando sério.

— Estou falando sério, Nathan. Não esperava que isso


acontecesse, mas me apaixonei por sua irmã.

Os olhos de Farrah encontraram os meus, e o medo neles


pareceu diminuir um pouco. Não era assim que eu queria
soltar essas palavras, mas aqui estávamos.

— Eu a amo.

— Amar? — Nathan zombou. — Você só pode estar


brincando comigo. Você não sabe nada sobre o amor. — Ele
gritou. — Luxúria, talvez...

Levantando minha voz, gritei de volta: — Entendo que


você esteja com raiva por termos escondido isso de você, mas
precisávamos descobrir as coisas em particular antes de te
contar.
— Não há nada para descobrir. Porque isso não está
acontecendo. — Ele se virou para ela. — Não, se você se
importa com seu relacionamento comigo, não está.

Farrah entrou na cara dele. — Você vai realmente sentar


aqui e dizer que tenho que escolher você ou ele?

Nathan me lançou um olhar diabólico. — Você não tem


ideia de com quem está realmente se envolvendo, irmãzinha.

Suas palavras foram um soco no estômago. O medo


cresceu dentro de mim. E eu sabia. Eu sabia o que estava por
vir. Meu instinto foi olhar para os meus pés para que não
tivesse que ver a dor em seus olhos quando descobrisse.

Farrah continuou a defender minhas ações. — Claro, eu


o conheço! Confio em Jace mais do que na maioria das
pessoas. Ele é seu melhor amigo, pelo amor de Deus. Você deve
confiar nele também.

— Mesmo. Diga-me então, você tinha uma pista de que o


cara que você está transando é provavelmente a razão pela
qual nossos pais não estão aqui?

Farrah agarrou meu lado, minha camisa agora


encharcada. — Como você ousa dizer isso!

Ela não tinha ideia do que estava defendendo.

— Nathan, pare, — exigi.

Ela não poderia descobrir assim.


Ela olhou para mim. — Por que ele diria algo tão cruel?

Senti o mundo se fechando sobre mim. As palavras certas


não estavam em lugar nenhum.

— Por que eu diria isso? — Nathan respondeu. — Porque


é verdade. A única razão pela qual o atirador atirou em nossos
pais naquele dia foi porque Jace decidiu atacá-lo. O cara nunca
teria atirado na mamãe e no papai se Jace não o tivesse
provocado. — Ele me olhou nos olhos. — Ele é a razão pela
qual nossos pais não estão aqui.

Ele soltou essas palavras da maneira mais terrível,


deixando-me sem palavras para me defender.

Farrah, entretanto? Ela nem mesmo vacilou, nem hesitou


em me defender.

— Como diabos você sabe disso, Nathan? Você nem


estava lá.

— Eu não precisava estar. Jace me contou.

Seus olhos brilharam quando ela se virou para mim. —


Isso é verdade?

Mal conseguia pronunciar as palavras. Mas tentei por


causa dela. — Sim... pensei que poderia enfrentá-lo. Tentei...
e... — Minha voz tremeu quando me vi incapaz de explicar meu
raciocínio naquele dia.

Enquanto observava a expressão de dor no rosto de


Farrah, me arrependi do dia, todos aqueles anos atrás, em que
decidi me abrir com Nathan sobre o que aconteceu. Ele nunca
saberia se eu não tivesse contado a ele. Mas cerca de um ano
após o incidente, a verdade estava me corroendo. O fato de eu
ter enfrentado o agressor nunca fez parte do relatório da polícia
porque nunca disse a ninguém. A decisão de tentar conseguir
a arma dele continuou a me assombrar todos os dias da minha
vida. E agora, meu segredo foi aberto para o que parecia ser
todo o mundo ver – ou pelo menos o meu mundo inteiro:
Farrah.

Para meu choque absoluto, em vez de chorar ou vir para


mim com ódio, Farrah colocou os braços em volta de mim
novamente. — Não é sua culpa, Jace. O que quer que você
tenha feito... você pensou que os estava protegendo.

Mas Nathan não iria deixar passar por isso mesmo. — Se


ele realmente acha que não fez nada de errado, então por que
não te contou? Ele escondeu a coisa mais importante para não
impedir suas chances de tirar vantagem de você.

Meus punhos se apertaram. — Isso não é verdade,


Nathan. — Eu sabia que ele estava ferido, mas queria dar um
soco nele agora.

— Você é apenas mais um entalhe em seu cinto, Farrah.

Eu não sabia o que era pior: o fato de Farrah ter que


descobrir dessa forma, o fato de Nathan estar ferido ou o fato
de que, no fundo, eu me preocupava que ele estivesse certo
sobre mim, sobre tudo isso. Farrah me defendendo apenas
solidificou o fato de que ela era muito fácil comigo. Não
demorou nem um minuto para colocar toda a sua fé em mim.
Não merecia o grande passe que ela estava me dando agora.

Nathan apontou o dedo para mim. — Pensei que poderia


te perdoar por aquele grande erro que você cometeu porque
não foi intencional. Mas isso? Fugindo por aí com minha irmã?
Isso foi calculado. Você cruzou a linha. Não vou perdoar isso e
não vou esquecer tudo o mais também.

Farrah ainda não tinha me deixado ir. — Nathan, por


favor. Podemos todos ir para casa e discutir isso?

— Casa? Ele não vai voltar para nossa casa. E você pode
decidir se quer ir com ele ou voltar para casa comigo. Porque
você não pode ter as duas coisas.

— Você só pode estar brincando, — gritou ela.

— Não estou brincando. — Ele olhou para mim. — Você


pode vir amanhã quando eu estiver no trabalho e arrumar
todas as suas coisas.

Nathan não disse mais nada quando voltou para o carro


e saiu em disparada, os pneus girando no cascalho molhado
enquanto ele arrancava.

Continuamos parados na chuva, ambos em estado de


choque. Quando puxei Farrah em meus braços, me senti
impotente. Rapidamente, a conduzi de volta para minha
caminhonete. Nós dois estávamos encharcados.
Este momento foi meu maior pesadelo: Farrah tendo que
fazer uma escolha entre seu irmão e eu. Além disso, sabia que
não era uma escolha. Ela me escolheria, se eu deixasse. Se eu
a levasse comigo esta noite, as coisas poderiam nunca mais
ser as mesmas entre eles. Eu não tinha certeza se poderia viver
com essa culpa. Já me culpei pela morte de seus pais, e agora
iria destruir sua família de outra forma?

Beijando sua testa suavemente, disse: — Vou levá-la até


o seu carro. Depois vou para a casa dos meus pais. Ele precisa
de um tempo para se acalmar, mas se você sair comigo esta
noite, a situação vai piorar dez vezes.

Ela parecia em conflito. — Ok... talvez você esteja certo.

Fiquei aliviado por ela não ter lutado contra isso.

— Talvez de manhã ele se acalme um pouco, mas não


posso voltar lá com você esta noite.

— Sinto muito que isso tenha acontecido. — Uma lágrima


caiu por sua bochecha.

Eu limpei. — Eu também, baby. Eu também.

A viagem de volta para casa foi assustadoramente


silenciosa. Minha culpa parecia sufocante. O que eu tinha feito
claramente não tinha atingido Farrah ainda. Quando o choque
diminuísse e finalmente desaparecesse, as coisas ficariam
feias.
Capítulo 17

Quase uma semana se passou antes que eu visse Jace


novamente. Ele tinha vindo para a casa para pegar todas as
suas coisas um dia depois que Nathan nos pegou, mas fez isso
enquanto nós dois estávamos no trabalho. Ele ligou para me
checar algumas vezes, mas foi só isso. Disse que era melhor
ficar longe um do outro por um tempo. Parecia um pesadelo.

No início, apenas presumi que ele estava evitando


Nathan, mas a cada dia que passava, eu me preocupava que
ele também estivesse me evitando. Não queria perder meu
irmão, mas o medo de perder Jace superou tudo.

Em nossas numerosas discussões na semana passada,


Nathan deixou claro que ele não estava recuando sobre a
traição de Jace. Não só não podia perdoar Jace por namorar
comigo, mas ele abriu uma grande ferida antiga. Isso explicava
muito por que o assalto sempre foi tão difícil para eles falarem.
Mas mesmo sabendo que Jace pode ter feito o atirador atirar,
não poderia culpá-lo por tudo. E eu não entendia como Nathan
poderia. Fiquei triste por Jace ter vivido com essa culpa todo
esse tempo. Preocupei-me que ele tivesse passado a semana
passada se culpando pelo que aconteceu de novo. Estava
preocupada conosco – mas estava mais preocupada com ele.

Quando saí do trabalho na sexta-feira à tarde, minhas


orações finalmente foram atendidas. A caminhonete de Jace
estava estacionada fora do meu prédio.

Finalmente.

Ele saiu e fechou a porta antes de caminhar até mim.

Esperava que ele estendesse a mão e me beijasse, mas


não o fez. Uma sensação de inquietação se desenvolveu em
meu estômago.

— Podemos dar um passeio? — Ele perguntou.

Algo em sua voz fez meu coração afundar. Esperança se


transformou em pavor muito rápido. Descemos o quarteirão,
passamos por uma fileira de lojas e viramos a esquina em um
bairro residencial.

— Posso entender por que você não encontrou com


Nathan, mas por que está me evitando? — Perguntei.

— Eu precisava de tempo para pensar, não apenas sobre


o que quero, mas o mais importante, sobre o que é melhor para
você. Essas duas coisas, infelizmente, não são a mesma coisa.
— Ele parou de andar por um momento e olhou nos meus
olhos. — Não tinha o direito de guardar essa informação sobre
o que realmente aconteceu no dia em que seus pais morreram
de você. Permiti que você se apaixonasse por mim sem divulgar
algo que você tinha todo o direito de saber – algo que,
francamente, deveria ter mudado sua opinião sobre mim.

— Por quê? Por que deveria ter mudado minha opinião?


Você estava agindo em legítima defesa. Você pensou que estava
fazendo a coisa certa. Como poderia te culpar por isso?

— Farrah, há uma chance muito boa de que a escolha


que fiz tenha levado ao resultado. Você não vê isso? — Ele
olhou para o céu e depois para mim. — Você pode não me
culpar agora, mas quando essa névoa de amor em que você
está se dissipar, acabará atingindo você. Você vai acordar um
dia, olhar para mim e não ver nada além do homem
parcialmente responsável por todo o seu mundo ter sido levado
embora.

Balancei minha cabeça. — Sinto muito, mas nunca vou


ver dessa forma.

— Mesmo se você não fizer isso, Nathan deixou claro que


ele pensa assim. Ele não pode ver além disso. Foi algo que não
percebi até a outra noite. Não sabia que ele ainda nutria tanta
raiva e culpa por mim. Saber disso muda muito.

Senti-me à beira do pânico. — O que você está dizendo?


Vá direto ao ponto, Jace.

— Estou dizendo que não quero ser responsável por você


perder a única família que lhe restou, quando já me sinto
responsável por você perder seus pais. Não posso viver com
isso. — Ele fechou os olhos. — Por mais que eu queira que isso
funcione, e porra, Farrah, por mais que eu ame você, não posso
colocá-la nesta situação. Seria o último ato de egoísmo. — Jace
colocou sua cabeça em suas mãos. — Afastar-me de você é a
coisa mais difícil que já tive que fazer.

Indo embora? Ele quase me deixou sem fôlego.

— Indo embora... — repeti.

A dor em seus olhos era palpável. — Preciso ir embora,


Farrah.

Uma onda de sangue viajou para minha cabeça enquanto


eu implorava: — Isso é um erro.

— É a última coisa que quero, mas é o que é melhor para


você, mesmo que não perceba agora.

Queria chorar, mas o choque me impediu de fazer


qualquer coisa. — Onde você está indo?

— Voltar para a Carolina do Norte. Honestamente, esse


sempre foi o plano. Não pertenço aqui.

Sempre o plano?

Minha devastação se transformou em raiva. — Então é


isso? Você iria embora o tempo todo? E agora você vai fingir
que nada aconteceu entre nós? Que você não se apaixonou por
mim?

Jace cobriu o rosto com as mãos. — Eu não disse isso.


Não vou esquecer nada disso. Nunca. — Ele olhou para mim.
— Enquanto eu viver, Farrah. Só espero que você possa me
esquecer. Esta não é uma decisão que eu queira tomar. É a
decisão que tenho que tomar. Há uma diferença.

Senti-me traída. E mais do que isso, fiquei decepcionada


com ele por não lutar, por não estar disposto a arriscar tudo
para estar comigo. Apesar disso, ainda estava tentada a
implorar para que ele não fosse embora. Mas e daí? Não se
tratava mais apenas de Nathan. Era sobre a ferida que Nathan
tinha aberto quando lançou a bomba, e a incapacidade de Jace
de lidar com isso.

Jace estava de volta a fugir de sua culpa como sempre


fazia. Estar comigo significaria ter que enfrentar isso, algo que
ele não parecia disposto a fazer. Por outro lado, eu estava
disposta a desistir de tudo por ele, mas apenas enquanto isso
nos trouxesse felicidade. Agora, ele estava infeliz e com medo.
Isso estava claro. Se ele não estava disposto a deixar o passado
passar para se permitir ser feliz, como isso poderia funcionar?

— Não sei o que dizer, Jace. Estou chocada.

— Você não precisa dizer nada. Realmente não há


palavras para isso. Toda a situação é uma merda. Juro por
Deus, nunca quis te machucar. Apenas sinto que preciso parar
com isso antes de causar um dano irreparável a vocês dois.

Eu não queria dar a notícia a ele que ele já tinha feito


isso. Sua partida nunca seria algo que eu simplesmente
“superaria”. Se ele pensou isso, com certeza subestimou meus
sentimentos por ele. E eu não sabia se poderia perdoar meu
irmão por nos colocar nessa situação.

Ele colocou a mão no meu queixo. — Farrah, olhe para


mim. Preciso que você ouça isso. — Ele exalou. — Não posso...
viver no pedestal que você sempre me colocou. Não mereço
isso. Essa é a verdade. Se eu ficar e arruinar seu
relacionamento com seu irmão, nunca poderei me perdoar.
Ainda estou trabalhando para me perdoar por todo o resto. Não
estou nem perto disso ainda. Além de tudo isso, nunca fui
capaz de manter um relacionamento. Existem muitas
maneiras de machucar você.

Ele não percebeu que já me machucou?

— Você realmente está indo embora? — Minha voz


tremeu.

Ele assentiu. — Sim.

— Quando?

— Esta noite.

— Esta noite? — Enxuguei uma lágrima e balancei a


cabeça. — Jesus. Estou surpresa que você até se deu ao
trabalho de dizer adeus.

— Estou saindo esta noite porque não posso ficar aqui


mais um minuto se souber que não vou ficar com você. É muito
doloroso. Mal posso olhar para você agora.
Reuni coragem para dizer uma última coisa. — Quero que
saiba que, embora pense que está me protegendo, está
tomando a decisão errada. Não preciso de você para me
proteger. Preciso que você confie em mim, me escute. Porque
eu te amaria não importa o quê. Tudo isso. Toda a dor, toda a
merda com Nathan, tudo teria valido a pena. Mas não sei como
te convencer disso.

Seus olhos estavam marejados, mas ele não chorou. —


Por favor, continue com sua vida. Sempre me lembrarei dessa
época com você como meus dias mais felizes.

Por mais que quisesse retribuir o sentimento, porque era


verdade, me recusei a dizer outra palavra. Vazia por dentro,
não tinha mais nada. Não aguentava mais olhar para ele.

Virei-me para caminhar de volta para o meu prédio onde


nossos carros estavam estacionados, e ele caminhou alguns
metros atrás de mim.

Quando cheguei ao meu carro, parei na frente dele e me


virei para encontrar seus olhos uma última vez.

— Sinto muito, Farrah.

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, entrei e liguei meu


carro. Quando pisei no acelerador, olhei no espelho retrovisor
e percebi que ele ficou no mesmo lugar, me observando ir
embora. Jace encolheu mais e mais na distância, mas a dor
que eu sentia ficava cada vez maior. E se agora eu não tivesse
mais nada?
TRÊS ANOS DEPOIS
Capítulo 18

Minha namorada, Kaia, parecia compreensivelmente


chateada quando voltei para a nossa mesa no restaurante
japonês. Seus olhos disparavam adagas. — Você se importa em
me dizer o que diabos foi isso?

Não havia maneira fácil de dizer isso. — Era ela.

— Aquilo foi... — Ela piscou. — Isso foi... Farrah?

— Sim.

Seu rosto ficou vermelho. — De todos os lugares onde


poderíamos almoçar, você me leva ao restaurante onde ela
trabalha? Que diabos, Jace?

— Pelo amor de Deus, Kaia. Eu não sabia. Não fazia ideia


que ela trabalhava aqui. Você acha que eu teria feito você
passar por isso intencionalmente?

Os olhos de Kaia se suavizaram. — Você jura que não


sabia?

— Claro que não.


Este restaurante nem existia da última vez que estive em
Palm Creek. Pelo que eu sabia, Farrah não tinha trabalhado
como garçonete um dia em sua vida, então o fato de ela
trabalhar aqui não fazia sentido. Estava procurando um
almoço tranquilo depois de uma semana horrenda. Em vez
disso, tive o maior choque da minha vida.

Ainda me recuperando do meu encontro com Farrah do


lado de fora, limpei o suor da testa.

— Ela é linda. — Disse Kaia. — Sabe, tipo, você já ouviu


aquele ditado – o cara que lançou mil navios? Helena de Tróia,
acredito? Essa garota é o rosto que levou Jace para fora da
cidade.

Não havia maneira segura de concordar com isso. Kaia já


era uma bomba-relógio. Então fiquei em silêncio.

— Bem, não é como se eu não achasse que ela seria


bonita, — Kaia continuou. — Por que mais você teria arriscado
tudo por ela?

Não poderia discordar disso também. Mais uma vez, este


foi um momento apropriado para calar a boca. Farrah parecia
tão bonita como sempre, embora com uma frieza em seus olhos
que não reconheci.

Kaia afofou o guardanapo de pano quase violentamente.


— O que ela disse para você?

— Não conversamos muito. Ela basicamente... saiu do


prédio. Alcancei-a ao longo da estrada principal depois que ela
cruzou o estacionamento. Ela me perguntou o que eu estava
fazendo na cidade e lhe disse que minha mãe havia morrido.
Ela parecia chateada ao ouvir isso. Ela me deu suas
condolências... perguntou como meu pai estava. Então, disse
que tinha que ir e continuou andando. Foi o fim de tudo.

— Por que diabos ela fugiu em primeiro lugar? Ela não


podia dizer olá? — Ela riu com raiva. — Ou pelo menos poderia
ter feito seu trabalho e levado nosso pedido.

Matou-me que Farrah tivesse corrido daquele jeito. Mas


ela nunca esperava me ver sentado ali. Fugir foi uma reação
instintiva. Deveria saber. — Acho que ela estava apenas em
choque e não sabia como lidar com isso.

— Cara, você deve ter realmente fodido tudo para fazê-la


correr assim.

Esperava que Kaia não estivesse certa. Esperava que


Farrah tivesse superado o que eu tinha feito com ela agora.
Mas todos os sinais apontavam para o fato de que não... em
todo caso, mais uma vez optei por não responder aos
comentários de minha namorada.

Essa coisa toda é uma merda. Kaia não deveria ver


Farrah. Caramba, eu nem deveria vê-la. Kaia e eu estávamos
em Palm Creek por uma semana. Ela iria embora amanhã para
voar de volta para Charlotte, enquanto ficaria para ajudar meu
pai após a perda repentina de minha mãe devido a um ataque
cardíaco.
Kaia e eu estávamos juntos há um ano. Ela nunca
entendeu por que eu não voltava para casa, por que nunca a
levei de volta para a Flórida comigo para conhecer meus pais.
Minha mãe e meu pai vieram a Charlotte algumas vezes para
me visitar naquele primeiro ano depois que parti, mas isso foi
antes de eu conhecer Kaia. Então ela nunca teve a chance de
conhecer minha mãe.

Tudo o que mamãe sempre quis foi que eu voltasse para


casa, na Flórida, e não pude conceder seu desejo, até ela
morrer. Ninguém tinha visto aquele ataque cardíaco chegando.
Não conseguia me lembrar de minha mãe ter adoecido uma
vez. Não era para acontecer assim. Meu pai tinha câncer. Agora
papai estava bem, e minha mãe, que era a cola que mantinha
nossa família unida, tinha sumido. Cinquenta e nove anos.
Não que eu desejasse que meu pai de quase setenta anos
tivesse morrido em vez disso, mas a vida era tão injusta. Perder
a mãe era provavelmente a única coisa que poderia ter
desviado minha atenção de todas as outras razões pelas quais
voltar para casa era traumático. A dor de sua morte cortou tão
profundamente que nada mais poderia competir com ela.

Até a semana passada, minha vida tinha sido muito boa.


Depois de alguns anos me sentindo perdido, me esforcei para
seguir em frente e consegui escapar para uma vida confortável
com Kaia no ano passado. Ela e eu nos conhecemos por meio
de um amigo em comum. Gostava dela, mas estava chegando
ao ponto em que ela queria mais um compromisso de mim, e
eu ainda tinha que dar esse passo. Discutíamos ir morar
juntos, mas continuei adiando.

Depois que papai me ligou para falar sobre minha mãe,


Kaia insistiu em vir para Palm Creek comigo. Quando ela
sentiu meu extremo desconforto, me interrogou até que
finalmente contei as circunstâncias em que deixei a cidade três
anos atrás. Contei a ela sobre tudo, desde o tiroteio até meu
relacionamento com Farrah e as consequências negativas com
Nathan.

A viagem de Charlotte até aqui foi tensa. Kaia continuava


querendo conversar, analisando tudo que eu tinha confessado.
Enquanto isso, eu estava entorpecido porque, pelo amor de
Deus, minha mãe acabara de morrer. Não tinha energia mental
para analisar nada.

Kaia acreditava que devo ter sentimentos não resolvidos


por Farrah. Não era preciso ser um cientista para descobrir
isso. Ainda assim, me recusei a reconhecer como me sentia,
porque desde o dia em que fui embora, fiz tudo ao meu alcance
para bloquear a bagunça que fiz, o que significava tentar
esquecer Farrah. Eu não sentia nada há três anos. E agora,
com minha mãe morta, eu tinha coisas maiores a fazer do que
desenterrar velhas dores. Mas caramba se meu peito não doeu
depois de ver Farrah novamente. Todos os sentimentos que
enterrei pareciam me bater no rosto de uma vez.

Minha mente estava em todo lugar enquanto eu olhava


fixamente para Kaia do outro lado da nossa mesa no
restaurante. Alguém finalmente descobriu que nossa
garçonete estava desaparecida e veio anotar nosso pedido. Ela
nos trouxe duas águas e colocou um bule de chá quente no
centro da mesa. Kaia pediu frango teriyaki. Meu cérebro estava
frito demais para pensar no que eu queria, sem mencionar que
não tinha apetite, então disse à garçonete para me trazer a
mesma coisa.

Kaia serviu um pouco de chá e, em vez de bebê-lo, olhou


para a xícara fumegante. Ela tamborilou com os dedos na
porcelana. — Ouça, tenho pensado muito sobre isso... e depois
do que aconteceu agora, sinto ainda mais forte sobre isso.

Comecei a servir um pouco de chá, mas parei. — O quê?

— Acho que precisamos fazer uma pausa.

— Você está terminando comigo...

— Não. Não exatamente. Só acho que você precisa


descobrir toda a merda que está impedindo você de seguir em
frente. E acho que você precisa fazer isso sem estar amarrado.
— Seus olhos ficaram marejados. — Amo você. Mas agora
percebo que há muitas coisas com as quais você não lidou. Até
que o faça, não tenho certeza se você será o homem de que
preciso.

— Você não acha que parece que está terminando


comigo?

— Bem, não é uma separação. Mas é uma pausa. Um


tempo. Não vou te culpar por nada que aconteça enquanto você
estiver resolvendo sua merda aqui. Faça o que você precisa
fazer. Mas se você voltar para mim, sua bagagem não pode vir
com você.

O que exatamente ela queria que eu descobrisse? — Não


há nada para eu descobrir aqui além de cuidar do meu pai por
um tempo.

— Não é assim que vejo. Principalmente depois do que


aconteceu agora. — Ela tomou um longo gole de chá. — Olha,
você nem pode me dizer quando vai voltar para Charlotte.
Entendo que você precisa ficar aqui por um tempo pelo seu
pai, mas também acho que você precisa lidar com as outras
coisas das quais está fugindo. — Ela fez uma pausa. — Por
mais que eu te ame, tenho que te deixar ir agora.

Eu não tinha certeza de como me sentir. Desapontado?


Aliviado? Estava basicamente entorpecido.

O último namorado de Kaia a deixou para voltar para sua


ex-esposa. Para que eu pudesse entender seu medo quando se
tratava de sentimentos inacabados por um ex.

Concordei. — Se é isso que você sente que precisa fazer,


não vou tentar impedi-la.

Nossa comida chegou, interrompendo a conversa no pior


momento possível.

Começamos a comer em silêncio.


Embora fazer uma pausa tenha sido sua decisão, ela
parecia chateada. Acho que esperava que eu resistisse mais.
Mas isso nunca iria acontecer. Esta semana tinha sugado a
luta para fora de mim.

Meu pai estava sentado sozinho na sala de estar quando


voltei para casa naquela noite. Ele tinha apenas uma pequena
lâmpada acesa, então a maior parte da casa estava às escuras.
Tão deprimente.

— Velho, sou eu. — Joguei minhas chaves em uma mesa.

— Você voltou mais cedo do que eu pensava. Você disse


que não voltaria até amanhã.

— Kaia foi embora. Ela reservou um voo mais cedo.


Apenas a levei para o aeroporto e fiz o checkout do hotel para
vir ficar com você.

Kaia não se sentiu confortável em ficar na casa do meu


pai na semana passada, então alugamos um quarto em um
hotel próximo.

— Parecia uma garota legal.

— Ela era até que me largou. — Eu ri.


— O quê? — Meu pai se endireitou em sua poltrona
reclinável marrom.

— Ela acha que precisamos fazer uma pausa enquanto


estou aqui.

— Ela quer namorar outra pessoa?

— Não. Acho que é mais para se proteger, porque acha


que posso não voltar para Charlotte por um tempo.

— Você não tem que ficar aqui, filho.

Não queria que meu pai se sentisse mal com isso. — Não
está em debate, pai, — expliquei rapidamente. — É o que
mamãe desejaria. É o mínimo que posso fazer.

— Ela não gostaria que você deixasse uma garota legal ir


para que você pudesse cuidar de mim. Ela sempre quis que
você fosse feliz. Sempre se sentiu horrível sobre porque você foi
embora. É por isso que nunca deu a mínima para você sobre
partir tão abruptamente há três anos. Ela entendeu. Quando
você nos contou sobre Kaia, ela ficou feliz, mesmo que
desejasse que as coisas tivessem funcionado para você e
Farrah.

Assim que ele mencionou o nome de Farrah, meus nervos


dispararam. — Falando em Farrah… acho que mamãe pode
estar jogando alguns jogos no céu hoje.

— Sim?
— Levei Kaia para almoçar naquele restaurante japonês
na Rodovia Seminole. Farrah trabalha lá agora,
aparentemente. Ela foi designada para nossa mesa e fugiu
quando me viu.

— Você está me zoando. Ela trabalha em um restaurante


japonês?

— Evidentemente... sim. Corri atrás dela e nos falamos


brevemente. Contei-lhe sobre mamãe. A coisa toda era
inacreditável.

— Bem, isso explica as flores dela que chegaram hoje.

Isso me chocou. — Você está falando sério?

— Estava prestes a lhe contar. — Ele apontou. — Bem ali


na mesa.

Aproximei-me de um buquê de rosas brancas misturadas


com outras flores e levantei o bilhete.

Caro Sr. Muldoon,

Encontrei Jace hoje, que me contou sobre Faye. Sinto muito


por sua perda. Seu sorriso caloroso e gentileza sempre serão
algo que lembrarei. Aceite nossas mais profundas condolências
e saiba que você está em nossas orações.

Com carinho,

Farrah e Nathan Spade


Continuando a olhar para o cartão, disse: — Ela deve ter
encomendado estes no segundo em que fugiu de mim.

— Bem, foi um gesto muito bonito.

Tive que concordar. Tocou-me que Farrah tivesse feito


isso, apesar de como a tratei. Isso falava muito sobre o tipo de
pessoa que ela era.

Não fui capaz de parar de pensar nela o dia todo, apesar


do drama da minha namorada me largando... ou forçando uma
pausa, o que quer que fosse. Foi um alívio que Kaia não
estivesse aqui, entretanto, para continuar analisando cada
expressão e reação minha à menção do nome de Farrah.

A fuga de Farrah me assombrava. Continuei repetindo a


cena em minha cabeça – não apenas a maneira como correu,
mas o quão rápido todos os sentimentos que eu nutria por ela
voltaram quando olhei em seus olhos. Era enervante, mas não
surpreendente, considerando que eu só enterrei minhas
emoções em vez de lidar com elas. Esse foi o meu Modus
Operendi9.

Finalmente coloquei o pequeno cartão de volta no


envelope e coloquei-o sobre a mesa. — Você já comeu, pai?

— Estou bem.

9 Modus operandi é uma expressão em latim que significa "modo de operação". Utilizada para
designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade seguindo geralmente os mesmos
procedimentos.
— Você não comeu, então?

Ele hesitou. — Não.

Meu pobre pai era como um peixe fora d'água. Não tinha
certeza se não havia comido porque não estava com fome ou
porque minha mãe não estava mais aqui para cozinhar para
ele.

Abri o armário. — Quer algumas panquecas?

— Só se você os estiver fazendo para você.

— Na verdade, estou ficando com fome de novo, sim. —


Menti.

Papai foi até a mesa e sentou-se com a cabeça entre as


mãos. Peguei a frigideira antiaderente e liguei o fogo. Quebrou
meu coração vê-lo tão triste e indefeso. Encontrei uma tigela e
comecei a misturar os ingredientes. Enquanto colocava a
massa na frigideira e a observava chiar, lágrimas se formaram
em meus olhos. Pela primeira vez desde que voltei para casa,
as deixei cair. Foi a única vez que chorei desde o momento em
que entrei na I-95 em direção ao norte, três anos atrás.

Essa coisa simples, fazer panquecas, era algo que eu vi


minha mãe fazer centenas de vezes. Fiz o mesmo durante toda
a semana e, neste momento comum, olhando para uma
panqueca, finalmente percebi que ela não mais estava aqui.
Durante a semana seguinte, passei cada dia ajudando
meu pai a mexer nas coisas de mamãe, decidindo quais itens
manter e quais doar. Peneirar os pertences de um ente querido
morto, que ainda tinha o cheiro dela, era o tipo mais puro de
tortura. Papai quebrou várias vezes no processo.

Uma tarde, eu precisava de um descanso dessa rotina,


então decidi ir ao supermercado e fazer algumas coisas. Não
tinha planejado passar pela casa de Farrah, mas de alguma
forma acabei passando pela estrada que precisava tomar para
chegar em casa. Antes que percebesse, estava me aproximando
da vizinhança dela e de Nathan e decidi virar na rua deles.

Meu coração disparou ao ver uma criança brincando na


frente de sua casa. A menina estava em um daqueles carros de
plástico vermelho e amarelo. Uma onda de adrenalina bateu.
De quem é esse filho? De Nathan? De Farrah? Pedi
especificamente a minha mãe que não procurasse informações
sobre eles e, pelo que sei, ela nunca os encontrou nos três anos
que estive fora; ela teria me contado se tivesse. Eu não tinha
ideia do que tinha acontecido com eles porque fiz um esforço
consciente para ficar fora de suas vidas.

Totalmente apavorado, saí da minha caminhonete e me


aproximei da garagem.
Jesus Cristo.

Quanto mais eu olhava para a menina, mais preocupado


ficava. Ela não podia ter mais do que alguns anos, talvez mais
jovem. Fiz as contas de cabeça e um pensamento terrível me
ocorreu. Ela poderia ter sido minha filha? Seu cabelo era quase
preto como o meu. Talvez esse pensamento fosse louco, mas
não estava fora do reino das possibilidades.

Antes que meus nervos tivessem a chance de explodir em


pânico total, uma mulher correu e levou a criança para dentro
da garagem. Ela se virou uma vez e me lançou um olhar
alarmado. Aparentemente, cheguei perto demais e fui
confundido com um sequestrador.

Quem é essa mulher?

A mãe? Uma babá?

Uma amiga de Farrah, talvez?

Passei de possivelmente ter um filho ilegítimo em um


segundo para apenas tonto e confuso no seguinte.

Enquanto continuava parado na frente da casa olhando


fixamente para ela, uma voz à minha esquerda disse: — Ei, eu
te conheço.

Virei-me para encontrar uma adolescente que parecia


vagamente familiar. Então me dei conta. Nora. A garota de 11
anos que morava na casa ao lado agora era um adolescente.
Bem, eu serei amaldiçoado. Senti-me tão velho. — Ei. —
Movi-me em direção a ela. — Nora, certo?

— Sim. Você é Jace. Lembro de você. Você morava lá. —


Ela inclinou a cabeça. — Você está procurando Farrah?

— Hum... não. Na verdade. Eu estava passando e... parei.

— Eles não moram mais aqui.

Meus olhos se arregalaram. — Eles não moram?

— Não. Eles se mudaram há cerca de dois anos.

Meu estômago afundou. — Onde eles moram agora?

— Fora do Tamarindo.

Aquele era um bairro horrível comparado a este.

— Você ainda está em contato com Farrah?

Ela franziu o cenho. — Infelizmente não. Perdi contato


com ela depois que se mudou. Ela sempre foi tão doce comigo.
Sinto muita falta dela.

Sim. Eu também.

Nora sorriu. — Nunca vou me esquecer de quando ela


comprou os ingressos para o Shawn Mendes para mim.
Superei-o agora. Mas naquela época? Ele era tudo. — Ela riu.
— Lembro-me de ter ido até a casa ao lado um dia para dizer
a ela que minha mãe disse que tudo bem se ela me levasse ao
show. Estava muito animada para lhe pedir para ir comigo.
Peguei-a em um momento ruim, no entanto. Estava chorando
e chateada. Perguntei a ela o que havia de errado e disse que
você havia saído da cidade. Nunca vou me esquecer disso. Ela
não queria falar sobre isso. Depois, fiquei com medo de pedir
que fosse comigo porque pensei que não estaria com vontade.
Acabei indo com minha mãe, mas preferia ter ido com Farrah.

Jesus. Eu precisava me afastar disso antes que ela me


dissesse outra coisa que eu não queria ouvir. — Obrigado por
me avisar que eles se mudaram.

— Sem problemas. — Ela desapareceu dentro de sua


casa.

Meu pulso continuou acelerado enquanto eu estava na


calçada. Levaria um tempo para superar aquele longo minuto
em que pensei que poderia ter uma filha. Quão fodido isso teria
sido?

Voltei para a minha caminhonete e descansei minha


cabeça no encosto do banco para me acalmar por alguns
minutos antes de ir para casa.

Pensamentos de Farrah me atormentaram pelo resto


daquela noite. Tive dúvidas. Muitas delas. Por que diabos eles
se mudaram para um bairro de merda? Farrah amava aquela
casa, aquela piscina. Suspeitei que não fosse escolha dela
partir.
Na tarde seguinte, papai cochilou enquanto eu trabalhava
no laptop da sala. Tive a sorte de que meu trabalho de
gerenciamento de propriedade me permitisse lidar com a
maioria das minhas funções remotamente. Eu precisava
delegar mais enquanto estivesse longe, mas gerenciar tudo
daqui tinha sido possível até agora. Provavelmente teria que
voar para Charlotte uma ou duas vezes durante a minha
estadia aqui se eles precisassem de mim no local. Entre meu
trabalho e ajudar papai na Muldoon Construction, estava
muito ocupado.

A campainha tocou, interrompendo meu trabalho.


Levantei-me para ver quem era, provavelmente mais um
vizinho vindo com uma caçarola. Ou talvez fosse alguém da
igreja da mamãe verificando meu pai. Fazia algumas semanas
desde que minha mãe morreu, mas as pessoas ainda
apareciam de vez em quando.

Quando abri a porta, congelei.

Merda.

Diante de mim estava a última pessoa que eu esperava


ver.

Pisquei várias vezes. — Nathan...


Seus olhos eram penetrantes. — Oi, Jace.

Engoli. — Ei.

— Há quanto tempo.

Meu corpo estava rígido. Eu não sabia se devia abraçá-lo


ou me preparar para um soco.

— Posso entrar? — Ele perguntou.

Ainda em choque, balancei a cabeça várias vezes antes de


a resposta sair. — Uh... sim.

Movendo-me para o lado para deixá-lo entrar,


imediatamente percebi que ele estava mancando. Uma de suas
pernas estava praticamente arrastando a outra. Nathan
também havia ganhado algum peso e parecia... rude, por falta
de uma palavra melhor.

— O que aconteceu com você? — Perguntei.

Ainda lutando para chegar ao outro lado da sala, ele


disse: — Tive um acidente há dois anos.

Fiquei tenso. — Acidente? Que tipo de acidente?

— Estava bêbado e me sentei ao volante. A coisa mais


estúpida que já fiz. Tive sorte, no entanto. Não matei ninguém.
Mas me fodi e estou fora por causa da deficiência desde então.

Droga. As coisas começaram a se somar. Meu peito doeu.


Doeu-me não ter ideia do que ele tinha passado.
— Cara, me desculpe.

— É minha própria culpa. Nada para se desculpar. — Ele


olhou ao redor. — De qualquer forma, vim dizer que sinto muito
pela sua mãe. Fiquei chocado ao saber.

— Obrigado. Ainda estamos em choque.

Ele foi até o sofá. — Posso me sentar?

— Sim. É claro.

Por mais cordial que ele fosse, esperei que a bomba


caísse. Embora, essa pessoa não parecesse o mesmo Nathan
que se enfureceu comigo da última vez que o vi.

Depois que ele se sentou, sentei-me na cadeira a sua


frente. Fiquei em silêncio até ele falar.

— Onde está o seu pai? — Ele perguntou.

— Está dormindo.

Nathan acenou com a cabeça, esfregando as palmas das


mãos.

Um relógio batendo no canto da sala era o único som. Isso


foi estranho pra caralho.

— Tenho certeza de que você está... surpreso por eu estar


aqui, — ele finalmente disse.

— Isso é um eufemismo.
— Quando Farrah me disse que encontrou você, não pude
acreditar que estava de volta à cidade, e quando me contou o
motivo, me senti horrível. — Ele fechou os olhos. — Bem, há
muito tempo me sinto péssimo quando se trata de você. — Ele
soltou um longo suspiro e começou a balançar os joelhos para
cima e para baixo.

— Vá com calma. Não vou a lugar nenhum, — eu disse.

Ele parou de bater as pernas. — Lidei com tudo errado


com você, Jace. Errei muito e preciso me desculpar.

Uau. Eu não sabia como responder. Minha primeira


inclinação foi lhe dizer que estava tudo bem, porque ele
aparentemente passou por mais do que o suficiente para
compensar o que quer que tenha feito para mim. Mas outra
parte de mim queria lhe dizer para se foder. Nunca estive mais
confuso na minha vida.

— Nathan, não sei...

— Ouça-me, — ele interrompeu.

— Ok…

— Eu nunca deveria ter usado o que aconteceu com meus


pais contra você na noite em que peguei você e Farrah. Prometi
a você que nunca contaria a ninguém o que você confessou
para mim e, em vez disso, usei isso como munição. Estava com
raiva de você por brincar com a minha irmã. O que fiz foi
absolutamente cruel. Quero que saiba que não te culpo de
forma alguma pelo que aconteceu com eles.
Mais uma vez, não sabia se devia ficar com raiva ou
aliviado ao ouvi-lo dizer isso. Parecia tarde demais. — Teria
sido bom saber disso três malditos anos atrás. — Eu disse em
voz alta. Parecia que a raiva havia vencido.

— Não estava claro para mim até então. Demorei um


pouco para ver as coisas como vejo agora. Meu maior medo na
época era perder Farrah. Tinha certeza de que você iria acabar
machucando-a – ou pior, levando-a de volta para Charlotte
com você. Era egoísta mais do que qualquer outra coisa.
Quando peguei você se esgueirando com ela, me senti traído.
Mas com o tempo, percebi que minha raiva era um reflexo de
minha própria luta, não um reflexo de você ou de qualquer
coisa que você possa ter feito.

— Quando você descobriu tudo isso?

— Infelizmente, estando há tanto tempo sem trabalho,


tive muito tempo para pensar e refletir sobre a minha vida.
Comecei a ir à igreja, acredite ou não.

— Mesmo? Você nunca entrou em uma igreja, pelo que


me lembro...

Ele deu uma risadinha. — Eu sei. Estava deprimido e


desesperado. Só entrei um dia no meio da semana. Era eu e
um bando de velhos. Mas eles eram amigáveis, e depois disso
continuei indo aos domingos. Há um conselheiro que conheci
por meio da paróquia que oferece seus serviços. Tive muitas
sessões com ele. Não é médico nem nada, mas se tornou um
bom amigo e me ajudou a perceber que todas as minhas ações
se resumiam ao medo de ficar sozinho, de abandono. Minha
dependência de Farrah não era saudável, nem minha atitude
em relação a você. Era mais do que apenas estar com raiva de
você por se esgueirar pelas minhas costas. Essa merda
remonta à infância.

Ele me perdeu um pouco. — O que você quer dizer com...


infância?

— Sempre invejei você, sua habilidade de se destacar em


tudo que você tentou, sua habilidade de conseguir garotas, sua
habilidade de fazer algo por si mesmo. Em minha mente, você
tinha tudo. Parecia que você estava pegando a única coisa que
prezo, a única família que me restou, quando poderia ter
praticamente qualquer outra coisa no mundo. Não entendi por
que você precisava de Farrah também. Foram anos de ciúme e
inveja chegando ao ápice. Isso, além de nunca ter lidado com
a morte dos meus pais... simplesmente... explodi.

Esfreguei minhas têmporas. Minha cabeça parecia que ia


explodir enquanto minhas emoções oscilavam entre o alívio e
a raiva por ter perdido os últimos três anos.

Através do meu silêncio, ele continuou. — Quase fui


morto naquele acidente para trabalhar em mim o suficiente
para ver as coisas com mais clareza, — disse ele. — Eu quis
entrar em contato com você tantas vezes, mas nunca tive
coragem porque tinha vergonha de como lidei com tudo. — Ele
exalou. — Mas quando descobri sobre sua mãe e que você
estava de volta, sabia que não poderia adiar mais.
Suspirei. — Entendo por que você ficou desapontado
porque Farrah e eu agimos pelas suas costas, mas nunca tive
a intenção de machucá-la. Meus sentimentos por Farrah eram
genuínos.

— Acho que não percebi o quão profundos eram os


sentimentos de Farrah por você até que você partiu. Isso a
fodeu. Entendo que foi mais do que apenas um caso entre
vocês dois. Não tem nada a ver comigo, mas fiz isso sobre mim.

Meu coração deu um salto. Não queria ouvir o quanto eu


tinha devastado Farrah, mesmo que sempre soubesse que era
o caso.

— Ela estava confusa, — disse ele novamente. — Mas


depois de um tempo, as coisas mudaram. Não sei como
explicar. Ela pareceu superar isso, mas ao mesmo tempo, ela
meio que endureceu. E ela tem sido assim desde então. — Ele
balançou sua cabeça. — Eu me culpo.

— Como ela está lidando com as coisas com você... depois


do seu acidente e tudo mais? — Perguntei, embora não tivesse
certeza se queria saber. — Como ela está no geral?

— O acidente aconteceu cerca de um ano depois que você


saiu. Estive em um centro de reabilitação por um tempo.
Quando fui liberado, Farrah teve que cuidar de mim antes que
eu recuperasse minhas forças. Foram vários meses em que mal
conseguia andar. Ela voltava para casa do trabalho e tinha que
lidar com a minha merda. Foi uma maravilha que ela não
perdeu a cabeça.
— Tudo isso... é por isso que vocês se mudaram...

— Sim. Como você sabia?

— Dirigi até sua antiga casa. Vi outra família morando lá.


A garota da porta ao lado confirmou que você não morava mais
lá.

— Tive que parar de trabalhar e comecei a receber pela


deficiência. Não podíamos pagar aquela hipoteca. Sabia que se
vendêssemos a casa e comprássemos uma menor, sobraria
algum dinheiro para a educação de Farrah.

— Ela não está mais trabalhando no escritório de


advocacia, suponho?

— Ela finalmente começou a estudar no ano passado. —


Ele sorriu. — Como muitas de suas aulas são pela manhã, ela
largou o antigo emprego e agora é garçonete em Mayaka.
Usamos o que restava de nossas economias – o dinheiro que
ganhamos com a casa grande – para pagar o lugar de merda
em que moramos agora. Portanto, o dinheiro que ela ganha ela
usa ir para a faculdade.

Fiquei orgulhoso de que Farrah finalmente estava na


faculdade. Parecia a única coisa boa de todas as coisas que ele
acabou de me dizer.

— Lamento que as coisas tenham sido difíceis.

— Chega de falar sobre mim, — Nathan disse. — Como


você tem estado? Há quanto tempo você está aqui?
— Não sei. Pelo menos um mês ou dois. Talvez mais.
Quando mamãe morreu, meu pai estava vendendo a empresa
e se preparando para se aposentar. Ele tem um comprador,
mas ainda não mudou de mãos. Não está gravado em pedra.
Não sei o que fazer com ele – se vou ajudá-lo a vender a casa e
levá-lo de volta para a Carolina do Norte comigo ou o quê. Ele
está perdido sem ela.

— Imagino. Seus pais foram os protagonistas do cartaz


de um casamento feliz.

Levei alguns momentos para mergulhar na visão de


Nathan na minha frente. — Tenho que dizer, é muito surreal,
sentar aqui tendo uma conversa real com você. Achei que
nunca mais experimentaria isso.

— Posso estar na pior forma física da minha vida, mas


mentalmente vejo com mais clareza. O problema é que já
estraguei tudo, inclusive meu relacionamento com Farrah. Não
sei consertar as coisas. — Ele balançou sua cabeça. — Três
anos atrás, nunca teria pensado que diria isso, mas gostaria
que ela acabasse com você, ao invés do idiota que ela está
namorando agora.

Meu corpo inteiro ficou tenso. — Por quê? Qual é a


história aí?

— Ele é um idiota condescendente. Sua família é


proprietária da rede de lojas de bebidas Bianchi. Ele pensa que
só porque tem dinheiro é melhor do que todos.
O sangue subiu à minha cabeça. — Mesmo…

— Lembra da Crystal?

— Sim... — Eu gostaria que ele tivesse elaborado a


situação de Farrah um pouco mais.

— Aquilo não durou muito. Não tive uma namorada séria


desde ela. É meio difícil impressionar as garotas quando você
está mancando como eu. — Ele suspirou. — Não posso
reclamar, no entanto. Tenho sorte de estar vivo.

Concordei.

Nathan ficou naquela tarde e conversou comigo até meu


pai acordar. Ele deu a papai suas condolências e, antes de sair,
deu-me o novo endereço e disse que eu deveria passar em casa
algum dia.

Não sabia como me sentia sobre isso. Não queria chatear


Farrah. Mas ela era praticamente a única coisa em minha
mente.
Capítulo 19

Uma semana depois da visita surpresa de Nathan, ainda


não conseguia superar sua mudança de opinião. Entre
trabalhar e lidar com papai, consegui me manter ocupado o
suficiente para não fazer nada precipitado. Com o passar dos
dias, porém, a necessidade de ver Farrah tornou-se mais
urgente. Mas dado o que aprendi e a forma como nosso
primeiro encontro tinha sido, não tinha ideia do que esperar se
aparecesse em sua casa.

No entanto, Nathan está colocando de lado o passado e


estendendo a mão me motivou a crescer algumas bolas
malditas e dar o primeiro movimento. Mandei uma mensagem
para Nathan perguntando se ele ficaria bem se eu fosse falar
com Farrah. Ele respondeu que tinha fisioterapia esta manhã,
mas Farrah não tinha aula hoje. Disse que ela provavelmente
estaria em casa até ir trabalhar, às três da tarde. Pedi a ele que
dissesse que passaria por volta das duas. Ele confirmou, mas
não disse nada sobre a reação dela. Tomei isso como uma dica
de que ela estava bem com isso. Pelo menos, esperava que sim.
Enquanto dirigia para a casa deles, não tinha ideia do que
diria a ela. Em vez de ensaiar algo que provavelmente iria
bagunçar de qualquer maneira, passei o dia ruminando. A
nova visão de Nathan sobre tudo ainda me deixava um pouco
zangado. Qual foi o ponto de minha partida, de partir o coração
de sua irmã, apenas para que ele fosse tão misericordioso no
final? Era incrível o que um encontro com a morte poderia fazer
a alguém. Achei que não havia como saber exatamente como
as coisas teriam acontecido se eu tivesse ficado; as coisas
poderiam ter acabado piores do que agora.

Minhas palmas estavam suadas quando dirigi para sua


pequena propriedade. Esta casa era facilmente um terço do
tamanho da última. Doeu-me que Farrah não tivesse mais a
piscina que ela tanto amava. Mas pelo menos eles pagaram
esta casa e não precisaram se preocupar com uma hipoteca.

Saí da minha caminhonete e caminhei até a porta da


frente. Com os nós dos dedos rígidos, bati.

Depois de um momento, Farrah abriu a porta. Meu


coração apertou. Esperava por um sorriso, mas não recebi
nada além de um olhar vazio. Mesmo assim, ela estava de
alguma forma mais bonita do que nunca. Envolvido sobre os
seios, seu cabelo castanho estava mais longo do que eu me
lembrava. Ela alinhava os olhos de uma forma que realçava
sua linda cor avelã com manchas douradas.

Sentindo-me instantaneamente indesejado, levantei


minha mão. — Ei.
Ela engoliu em seco e, em uma voz quase inaudível, disse:
— Oi.

Olhei por cima do meu ombro brevemente. — Você vai


fugir de mim de novo? Estou com meus tênis desta vez. Vim
preparado.

— Realmente quero correr, para ser honesta.

Ai. Brinquei com meus dedos. — Posso entrar?

Ela deu um passo para o lado. — Certo.

Olhando em volta, notei que alguns dos móveis eram os


mesmos, como o velho sofá onde costumávamos sentar na
noite de cinema. Era a única coisa que parecia familiar agora.

— Como você está? — Perguntei.

— Já estive melhor.

— Entendo.

Ela olhou para seus chinelos e fiz o mesmo, percebendo


o esmalte vermelho em seus dedos do pé.

Farrah finalmente olhou para mim. — Corri outro dia


porque minha reação ao ver você me assustou um pouco. Sua
partida me machucou muito, mas percorri um longo caminho
desde três anos atrás. Nunca mais quero ser refém de minhas
emoções assim novamente. Teria feito qualquer coisa para
estar com você. Foi patético.

— Patético? Não me lembro de você desse jeito.


Sua voz ficou mais alta. — Por que você queria me ver,
Jace?

Corri minhas mãos pelo meu cabelo. — Só quero saber se


você está bem.

— Para que? Para que você possa se sentir melhor com a


decisão que tomou de sair? O que está feito, está feito. A vida
continua. Eu sobrevivi. Segui em frente. Não gosto de ser
lembrada de uma época que prefiro esquecer.

A dor se refletiu em seus olhos. Por mais que ela tenha


tentado me convencer do fato de que seguiu em frente, essa
certamente não foi a vibe que eu tive, mesmo que parecesse
diferente da garota que abandonei.

Havia tanto que eu queria dizer, mas tudo o que saiu foi:
— Sinto muito.

Ela desviou. — Como está o seu pai?

— Muito perdido.

— Sinto muito por ouvir isso. — Seus olhos suavizaram.


— Sei o quanto ela significava para você. Foi devastador saber
que Faye faleceu tão repentinamente.

— Obrigado. — Dei alguns passos em sua direção,


percebendo que ela recuou o mesmo número de passos. — E
obrigado pelas flores.

Sua voz era baixa. — É claro.


A linguagem corporal rígida de Farrah me disse para não
ficar confortável, então optei por não me sentar, em vez disso,
continuei à sua frente, mantendo meu espaço.

— Fiquei chocado que Nathan veio me ver, — eu disse. —


Significou muito. Não esperava que ele quisesse falar comigo
novamente, muito menos iniciar uma visita.

— Sim. Bem, ele mudou muito desde o acidente...


encontrou Jesus e tudo.

— Posso ver isso.

— De muitas maneiras, é como se ele e eu trocássemos


de lugar. Ele está muito mais apto a perdoar e esquecer agora.
Enquanto eu confio menos do que antes.

Bem, essa foi uma mensagem clara. Por um momento, o


silêncio foi ensurdecedor. Cada vez que ela me olhava nos
olhos, pegava e olhava para qualquer outro lugar. Meus olhos,
no entanto, permaneceram fixos nela.

— Quem era a mulher com você naquele dia no


restaurante? — Ela finalmente perguntou.

— Minha namorada... bem, minha ex-namorada agora.


Realmente não sei onde ela e eu estamos. Estamos fazendo
uma pausa enquanto estou aqui.

Farrah se inquietou. — Entendo. — Ela olhou para o


relógio. — Bem, eu realmente tenho que ir. Vou me atrasar
para o meu turno.
Merda. Mal tive a chance conversar, e com ela sendo tão
fria, não me senti confortável empurrando coisas.

— Você... precisa de uma carona?

— Não.

Essa foi uma pergunta idiota, mas eu estava desesperado


por mais tempo com ela.

— Ok. Você estava voltando para casa outro dia. Eu não


tinha certeza se você tinha um carro.

— Decidi caminhar naquele dia para fazer exercícios.


Tenho um carro. — Ela apontou para a janela. — Esse é o meu
Focus estacionado do outro lado da rua.

Virando-me, vi o pequeno veículo azul. Era muito melhor


do que o pedaço de lixo que ela costumava dirigir.

— Ok... bem... acho que vou deixar você ir.

Farrah se abraçou. — Sim...

Sentindo-me derrotado, me forcei a ir embora. A conversa


superficial que acabamos de ter me deixou inquieto. Não era
assim que deveria ser. Não disse tudo o que queria lhe dizer.
Ela estava com a guarda levantada. Muitas vezes me perguntei
como seria esse reencontro com Farrah. Isso não era nada
como eu imaginava.
Uma sensação incômoda persistiu quando voltei para o
carro e fui embora. Finalmente tive a oportunidade de
enfrentá-la e estraguei tudo.

Quanto mais eu dirigia, mais sentia que precisava voltar


e abrir meu coração – dizer-lhe o quanto sentia por ir embora,
o quanto me arrependia de tê-la machucado. Não importaria
se ela não dissesse nada. Deveria ter dito mais.

Incapaz de aceitar minha covardia, dei meia volta com


meu carro e dirigi de volta para a casa dela. Diminuindo a
velocidade, pude vê-la entrando em seu carro à distância. Parei
antes de onde ela estava estacionada. Farrah não me viu por
que estava com a cabeça apoiada no volante. Observei
enquanto ela se sentava por um momento, parecendo
perturbada.

Isso mudou as coisas. Era a prova de que seu


comportamento frio era uma fachada, que ela foi afetada por
minha visita. Qualquer coisa mais que eu possa ter a dizer
apenas a deixaria ainda mais aborrecida. Ela tinha o direito a
este momento privado, e parecia errado perturbá-la,
especialmente porque eu era a causa. Por mais que me doesse
não a confortar, fiz o que sabia que ela queria – fui embora
devagar para que nunca soubesse que havia voltado.
Alguns dias depois, fiquei surpreso ao ver o nome de
Nathan aparecer no meu telefone.

Respondi: — Ei, cara.

— Ei. Você está ocupado?

— Não. — Cocei minha cabeça. — E aí?

— Eu estava me perguntando se você tem tempo para


passar por aqui. Meu carro não pega. Não acho que seja a
bateria. Outra coisa está acontecendo. Esperava que você
pudesse dar uma olhada. Poderia levar ao mecânico, mas não
confio muito nele. A última vez que fui lá, custou-me um bom
dinheiro por um trabalho de merda.

Suspeitei que ele pudesse estar procurando uma


desculpa para nos reunirmos para avaliar como as coisas
estavam conosco.

— Sim. Certo. Posso passar aí.

— Não tem que ser imediatamente. Sei que você deve


estar trabalhando a esta hora do dia.

— Não é grande coisa. Meu trabalho é bastante flexível.


Poderia parar de olhar para a tela do computador.

— Legal.

Porém, havia uma coisa que eu precisava saber primeiro.


— Farrah está em casa?
— Não. Ela está na aula e tem um turno no restaurante
esta noite. Ela costuma ir direto da faculdade. Não vai voltar
para casa.

— Ok, bom. Não quero aborrecê-la. — Pausei. — Ela


mencionou algo depois que eu vim vê-la?

— Perguntei-lhe como foi, mas ela disse que não queria


falar sobre isso. Não a forcei a falar.

— Sim. Foi tenso. Não fiquei muito tempo. — Exalei. —


De qualquer forma... posso chegar em breve.

Depois de duas horas, consegui fazer o carro de Nathan


funcionar novamente. Ele quase sempre ficava parado, me
observando enquanto eu trabalhava. Lembramos um pouco
dos velhos tempos, embora, certamente, não falamos do que
aconteceu três anos atrás.

Ele entrou em casa em um ponto e voltou com um


pequeno menu de papel.

— Vou pedir uma pizza, se você estiver com fome, — disse


ele.

— Estou morrendo de fome, na verdade. Soa bem.


Vinte minutos depois, a pizza e os breadsticks10
chegaram. Ele pagou ao entregador e levamos a comida para
dentro.

Nathan colocou a caixa de pizza na mesinha de centro da


sala de estar e trouxe alguns refrigerantes da cozinha.
Enquanto eu consertava seu carro, Nathan me disse que
estava sóbrio desde o acidente, então imaginei que ele não me
ofereceria uma cerveja. Ele tinha a última corrida de Fórmula
1 do fim de semana passado em DVR, e colocou-a depois que
eu disse a ele que não tinha tido a chance de assistir ainda.
Assistir à Fórmula 1 juntos costumava ser uma de nossas
coisas favoritas a fazer.

Embora isso se parecesse com os velhos tempos, sabia


que as coisas nunca mais seriam as mesmas. Mas talvez este
fosse o início de um novo normal.

No meio da corrida, olhei pela janela e vi um carro


estacionar na garagem. — Você está esperando alguém?

— Não, — disse ele antes de inclinar a cabeça para ver


melhor. — Merda.

— O quê?

— É Farrah e seu namorado idiota.

10 Pequenos bastões torrados e secos de pão, com o tamanho aproximado de um pincel.


Meu pulso acelerou quando meu modo de lutar ou fugir
entrou em ação. — Pensei que você tinha dito que ela não
voltaria para casa.

— Ela me disse que não ia.

Droga.

Nunca em toda a minha vida desejei o poder de


desaparecer magicamente até agora. Teria saído se soubesse
que isso poderia acontecer. Levantei-me do sofá e me preparei.
Meu coração parecia pronto para pular do meu peito quando a
porta se abriu.

Farrah foi a primeira a entrar. Quando me viu, congelou.

Ela olhou para Nathan enquanto falava comigo. — O que


você está fazendo aqui?

— Nathan precisava de ajuda consertando seu carro. Não


achei que você estaria em casa.

— Por que você não está na aula? — Nathan perguntou.

— Meu professor estava doente. Eles cancelaram. Niles


me encontrou e me levou para almoçar.

Quando o namorado dela entrou, todas as nossas


cabeças se voltaram para ele em uníssono. Ninguém disse
nada. Ele era alto, com cabelo castanho e nariz romano – de
aparência normal, na melhor das hipóteses. Ninguém jamais
seria bom o suficiente para ela em minha mente, mas depois
do que Nathan disse sobre ele, não gostava dele antes mesmo
de abrir a boca.

— O que está acontecendo? — Ele disse. Antes que


alguém pudesse responder, ele se abaixou para pegar a última
fatia de pizza da caixa.

Que idiota.

Farrah quebrou o gelo. — Niles, este é o amigo do meu


irmão, Jace.

— Ei, — ele disse com a boca cheia. — Essa caminhonete


estacionada do lado de fora é sua?

— Sim.

— Você deve amar sua economia de combustível nessa


coisa. — Ele bufou.

Esse cara não pode estar falando sério.

Semicerrei os olhos para ele, nem mesmo dignificando


seu comentário rude com uma resposta. Pude ver
imediatamente por que Nathan odiava esse cara. Mesmo se ele
não fosse condescendente, eu provavelmente o odiaria, não
importa o quê. Mas agora, realmente o odiava.

Farrah desapareceu na cozinha, mas Niles – que nome


pomposo – decidiu ficar na sala.

— Então, Nate, você pensou na minha oferta de emprego?


Nathan e eu olhamos um para o outro. Ele odiava ser
chamado de Nate. Algo me dizia que ele havia corrigido esse
idiota várias vezes no passado.

— Já disse por que não aceitaria esse emprego.

— Por que você prefere roubar do governo?

Uau. Meus punhos se apertaram. Se eu não achasse que


isso irritaria Farrah, poderia realmente ter dado um soco nele.

— Você sabe que não bebo álcool. Por que diabos eu iria
trabalhar em uma loja de bebidas?

— Porque você deve deixar de lado suas fraquezas por


uma boa oportunidade. Já disse, posso arranjar-lhe um
emprego de gestão.

— E eu disse que não quero um. Por que você fica me


perguntando?

Farrah voltou, parecendo aborrecida. — Pare de


incomodar meu irmão.

Ele falou com a boca cheia novamente. — Só estou


tentando ajudá-lo.

Os olhos de Farrah encontraram os meus. O desejo de


ficar a sós com ela, de conversar, de ter certeza de que estava
bem, especialmente em razão de estar com este idiota, me
oprimiu. Todas as coisas que precisava lhe dizer no outro dia
pareciam estar me sufocando.
Então, fiz algo que esperava que ela entendesse,
murmurando uma mensagem que ela me deu uma vez. Por
favor.

Farrah piscou. Estava louco por esperar que ela


entendesse. Vários momentos de silêncio se passaram.

Mas então...

Ela se virou para o namorado. — Niles, acho que vou tirar


uma soneca antes do trabalho. Não estou me sentindo tão
bem.

— Você quer que eu me deite com você?

A pizza revirou meu estômago.

— Não. — Ela disse. — Você deveria ir ajudar sua avó com


aquela coisa sobre a qual ela ligou para você de qualquer
maneira.

Sim. Vá em frente e ajude sua avó, idiota.

— Ok. — Ele se levantou, jogando a massa de pizza na


caixa. — Tenha uma boa noite de trabalho, baby.

Quando ele se aproximou para lhe dar um beijo, tive que


me afastar.

O alívio tomou conta de mim no segundo que a porta se


fechou atrás dele.
Capítulo 20

— Jace e eu vamos conversar.

Nathan olhou entre Jace e eu como se tivesse perdido


algo. Ele tinha, é claro. Porque não houve conversa, apenas
uma mensagem secreta da qual ele não tinha ideia.

Meu irmão se levantou. — Quer que eu vá embora? Dar a


você um pouco de privacidade?

— Não, eu disse. — Vamos dar um passeio. — Olhei para


Jace. — Vamos.

Ele me seguiu para fora da porta. Uma brisa suave soprou


em meu cabelo enquanto respirei fundo, me sentindo tão
nervosa e despreparada para ficar sozinha com ele.

— Onde você quer ir? — Ele perguntou.

Movendo um pouco do meu cabelo atrás da orelha, eu


disse: — É bom dar a volta no quarteirão.

Descemos a rua.
Jace enfiou as mãos nos bolsos. — Obrigado por
descobrir o que eu estava falando.

— Bem, você roubou minha fala. — Forcei um sorriso.

— Sim. — Ele sorriu, parecendo aliviado.

Por mais que eu tentasse lutar contra meus sentimentos,


a reação física que tive por estar ao lado dele não foi diferente
do que costumava ser. Era exatamente por isso que eu
precisava cortar isso pela raiz.

— Nathan não é louco por seu namorado, — ele disse. —


E agora posso ver o porquê.

— Nathan não gosta de ninguém que tira minha atenção


dele.

— Acho que é mais do que isso neste caso. Mas, contanto


que você esteja feliz. — Ele procurou meus olhos. — Você está
feliz, certo?

Não tinha certeza de como responder a isso. Eu não


estava infeliz, mas a verdadeira felicidade não era algo que eu
sentia há muito tempo. Tampouco era algo que eu buscava ou
esperava mais.

— Estou em paz. A paz é mais importante para mim do


que a felicidade. Fiz uma promessa a mim mesma, depois que
você partiu, de que não permitiria que minha felicidade
dependesse de outras pessoas. Tem que vir de dentro. Ainda
estou trabalhando nisso. Mas não espero que mais ninguém
me faça feliz, muito menos um homem.

— Então, você está dizendo que aquele cara não te faz


feliz, então...

Suspirei. — Niles não é perfeito. Mas ele é o que preciso


agora. É fácil com ele. Não quero estar com alguém que vai me
deixar arrasada e levar meu coração e alma quando ele for.

A respiração de Jace engatou. — Então você está dizendo


que está com esse cara porque não se importa de uma forma
ou de outra se as coisas derem certo?

— Parece seguro. — Dei de ombros. — É o que é.

Jace procurou meus olhos. — Escute, não pedi para que


você me desse tempo para que eu pudesse minar suas
decisões. Só quero dizer o que queria no outro dia antes que
meus nervos tomassem conta de mim.

Parei de andar. — O que resta a dizer? Nada vai mudar o


que aconteceu.

Enquanto ficamos cara a cara, o sol refletiu nos olhos


azuis de Jace. — Eu só... quero que você saiba que se eu
pudesse fazer tudo de novo, teria ficado. Sei que não é isso que
você quer ouvir. E é um pouco tarde demais. Mas ainda quero
me explicar. — Ele chutou o chão um pouco, parecendo
atormentado. — Minha culpa estava fora das cartas naquela
época. Deixei isso governar minhas decisões. E, claro, pensei
que Nathan não tivesse a capacidade de me perdoar. Tudo que
vejo agora, em retrospecto, me deixa ainda mais triste por não
ter seguido meu coração e ficado com você. Não havia
nenhuma parte de mim que queria partir. Na época, senti como
se estivesse lhe fazendo um favor. Sei que é tarde demais para
mudar o passado, mas quero que você saiba o quanto sinto
muito por ter te machucado.

Seus olhos estavam cheios de pesar. Acreditava que ele


estava arrependido. Isso simplesmente não mudou nada para
mim. Poderia perdoá-lo, mas não podia confiar nele.

— Sei que você não teve a intenção de me machucar, e


não guardo nenhuma má vontade em relação a você, Jace. —
Esfreguei meus braços e olhei para a rua antes de olhar para
ele. — Mas trabalhei muito duro para sair da escuridão em que
caí depois que você partiu. Eu estava apaixonada. A maneira
como superei isso foi me treinar para não sentir nada. Quando
você pratica ficar entorpecida por tempo suficiente, realmente
se consegue. É mais ou menos onde estou agora.

— Isso parte meu coração. — Disse ele.

— Bem, o meu quebrou há muito tempo. Mas como você


sabe... descobri que você não precisa de um para funcionar.

Jace balançou a cabeça. — Nathan me contou como as


coisas estavam difíceis depois do acidente. A maneira como
você o fez passar por isso e conseguiu cair de pé é louvável.
Estou orgulhoso de você por isso e por se matricular na
faculdade também.
— Não há nada de louvável em começar a faculdade tarde.
— Eu ri. — Mas obrigada.

Jace exalou, parecendo frustrado. — Farrah, me diga o


que fazer. Diga-me o que você precisa de mim. É para não
voltar novamente? Só concordei em vir hoje porque pensei que
você não estaria aqui. Não quero te aborrecer.

Não havia uma resposta simples para essa pergunta, mas


dizer a ele para ficar longe não estava certo.

— Não quero que você pare de apoiar Nathan, mesmo que


seja difícil eu ter que vê-lo. Meu irmão precisa de você. Ele
precisa daquela amizade de volta. — Fiz uma pausa, pensando
no acidente de Nathan e como pensei que o perderia. Minha
voz tremeu. — Ele quase morreu. E por mais que você diga que
está orgulhoso de mim, estou dez vezes mais orgulhosa dele.
Perdoei-o pelo que fez comigo – para nós. E te perdoo por ir
embora também, ok? Mas uma coisa que não posso fazer é ser
a garota que era quando você partiu. Ela se foi.

Ele olhou para mim por mais tempo enquanto processava


minhas palavras.

— É justo. — Ele acenou com a cabeça enquanto olhava


para seus sapatos. — Entendo, Farrah. Obrigado por dizer que
você me perdoa. Isso significa mais para mim do que você
imagina.
Quando ele encontrou meus olhos novamente, a
intensidade de seu olhar me fez desviar o olhar. — Você ainda
não sabe quanto tempo vai ficar? — Perguntei.

— Não me sinto pronto para voltar. Meu pai não está


mentalmente bem. Ele precisa da minha ajuda. Honestamente,
qualquer coisa para a qual eu voltaria em Charlotte está mais
em ruínas do que aqui. E isso diz muito.

Eu tinha tantas perguntas sobre aquela namorada dele –


sobre sua vida nos últimos anos.

— Você disse que sua namorada... terminou com você?

— Ela acha que tenho negócios pendentes aqui. Ela diz


que não poderei seguir em frente com minha vida até que
resolva tudo. Ela escolheu me dar liberdade para fazer isso.

Isso me deixou ansiosa. O que restou para resolver?


Precisava sair dessa conversa. — É melhor eu voltar, — disse.
— Vou chegar atrasada para o trabalho.

— Sim. É claro. Tenho que ir para casa e verificar o papai


de qualquer maneira.

Voltamos para a casa em um silêncio tenso. Quando


paramos na frente da caminhonete de Jace, mais uma vez ele
olhou profundamente nos meus olhos. Eu estava com medo de
que ele tentasse me abraçar, e rezei para que não o fizesse,
porque não queria sentir todas as emoções que sabia que ser
tocada por ele provocaria.
Ele manteve distância e disse simplesmente: — Tenha
uma boa noite no trabalho.

— Obrigada.

Virando-me, fui até a casa sem olhar para trás.

Lá dentro, meu irmão ainda estava sentado no sofá.

— Sobre o que era tudo isso? — Ele perguntou.

— Nada que você precise se preocupar. Jace e eu não nos


vimos muito desde que ele voltou. Precisávamos conversar.
Queria principalmente ter certeza de que eu estava bem com
ele vir aqui para ver você.

— O que você disse para ele?

— Disse que estava tudo bem. Não vou impedir que


reconstruam sua amizade. Sei o quanto ele significou para
você uma vez, mesmo que tenha arruinado esse
relacionamento sozinho.

Um olhar de genuína tristeza cruzou o rosto de Nathan.


— Ouça... sei o quanto ele significava para você também. E
estraguei tudo. Já disse inúmeras vezes que sinto muito pela
maneira como reagi. Mas vendo você hoje, percebi o quanto
Jace estar aqui está te afetando. Se isso te incomoda, não o
trarei mais aqui.

Meus músculos ficaram tensos. Não gostei do fato de


Nathan ter notado o quão afetada eu estava – quase tanto
quanto não gostei do fato de Jace ainda ter um efeito sobre
mim.

— O que está feito, está feito, Nathan. Reconstruir uma


amizade com ele não vai mudar nada entre ele e eu. — Estou
determinada a ter certeza disso.

— Você vai pelo menos prometer ser honesta comigo? —


Ele perguntou. — Não quero foder com nada para você
novamente. Merda, se você me dissesse hoje que queria
perseguir algo com Jace, ficaria muito mais feliz em vê-la com
ele do que com aquele idiota que você está namorando.

Fiquei surpresa ao ouvi-lo dizer isso. Também me deixou


um pouco amarga. Na verdade, muito amarga. Mas não
admitiria.

Em vez disso, disse: — Você pode não chamar Niles de


idiota? Percebo que ele nem sempre está certo e certamente
não entende o que você está passando, mas me tirou de um
lugar escuro. Ninguém é perfeito.

Três semanas se passaram desde minha caminhada com


Jace. Não tinha visto ou ouvido falar dele, embora soubesse
que ele e Nathan haviam saído algumas vezes. Eles fizeram isso
especificamente quando eu estava trabalhando ou não estava
em casa – não que eu estivesse acompanhando, mas esperava
topar com ele pelo menos uma vez em todo esse tempo.

O hiato de Jace terminou uma noite no trabalho. Foi uma


noite particularmente movimentada em Mayaka, e tivemos que
sentar pessoas de diferentes partes juntas nas mesmas mesas
de hibachi. Num minuto havia uma família com três filhos na
mesa dez; no minuto seguinte, olhei para encontrar Jace e seu
pai sentados na extremidade ao lado deles. Jace parecia
extremamente deslocado, espremido firmemente entre seu pai
e uma garotinha que estava tentando fazer com que ele lhe
mostrasse como usar os hashis. Apesar do meu súbito
nervosismo, a visão aqueceu um pouco meu coração.

Colocando minha calcinha de menina grande, movi meus


ombros para trás e me aproximei deles.

— Senhor Muldoon, é tão bom ver você.

— Da mesma forma, linda. — O pai de Jace sorriu. — E,


por favor, me chame de Phil.

Jace deu um tapinha em seu ombro. — Calma, velho.

Soprando em meu cabelo, perguntei: — O que traz vocês


dois aqui?

— Meu filho disse que estava com vontade de comer um


pouco de japonês, mas acho que na verdade ele estava com
vontade de olhar seu lindo rosto.
— Jesus... — Jace revirou os olhos. — Não posso levar
esse cara a lugar nenhum.

Por mais que eles estarem aqui me deixassem


desconfortável, tive que rir de como o rosto de Jace ficou
vermelho depois daquele comentário.

Peguei o pedido de toda a mesa e entreguei ao chef, e


apreciei o descanso que me proporcionou o retorno à cozinha
enquanto pegava água para todos.

Quando voltei para a sala de jantar, o chef havia


começado a cortar vegetais e fazer sua mágica usual: jogar um
ovo no ar antes que caísse na grelha, queimando toda a carne
e frutos do mar com bela precisão. Além das chamas
disparando, podia ver o sorriso de Jace, o que fez meu peito
doer. Seu pai estava sorrindo também, e fiquei feliz em ver isso.
A menina parecia estar incitando o chef. Ela se ofereceu para
auxiliar Jace. Jace obedeceu. Depois de três tentativas, ele
finalmente pegou um pedaço de frango antes de levantar os
braços em vitória enquanto a mesa inteira aplaudia. Então ele
cumprimentou a menina. Meu coração acelerou, porque nunca
tinha visto Jace interagir com uma criança antes. Isso me fez
imaginar como ele seria como pai, se isso era mesmo algo que
ele queria. Nunca havíamos discutido isso. Perguntei-me o
quão perto ele chegou de se casar com aquela namorada que
tinha na Carolina do Norte, o que poderia ter acontecido se ele
não fosse forçado a voltar para cá. Afastei os pensamentos da
minha cabeça, me lembrando de que essas perguntas eram
irrelevantes. Não deveria estar tão preocupada com as
respostas.

Embora ele roubasse olhares em minha direção, não


parei para conversar com Jace e seu pai. Estava feliz por
estarmos tão ocupados esta noite. Eventualmente, porém, a
outra família na mesa de Jace pagou a conta e saiu. Jace e seu
pai demoraram, então me forcei a ir até lá para ver se eles
queriam mais alguma coisa.

— Posso pegar uma sobremesa para você?

— Meu filho definitivamente gostaria de um pedaço da


sua torta, mas ele é orgulhoso demais para pedir.

Jace fechou os olhos, parecendo mortificado.

Limpei minha garganta. — Você quer dizer torta de maçã


à la mode?

— O que você tiver. — Phil piscou.

— Já está vindo.

Na cozinha, preparei um pedaço de torta, colocando


chantili extra por cima, lembrando que Jace costumava comê-
lo direto da lata quando morava com a gente.

Fui até a mesa deles e coloquei entre eles com dois garfos.

— Espero que goste. — Também baixei a conta. — E sem


pressa. Só queria deixar isso aqui para quando vocês estiverem
prontos.
Antes que eu pudesse escapar novamente, senti a mão de
Jace em volta do meu pulso. Isso enviou o que pareciam ondas
de choque pelo meu corpo.

Ele olhou nos meus olhos. — Obrigado.

Jace soltou meu pulso suavemente. Balancei a cabeça,


desejando que fossem as chamas próximas que me deixaram
tão quente. Senti-me desequilibrada enquanto caminhava para
o outro lado do restaurante.

Depois disso, concentrei-me tão intensamente em servir


outra mesa que não notei Jace e seu pai saindo. Olhando para
seus assentos vazios, senti uma mistura de alívio e
estranhamente... vazio. Talvez sua partida tenha me lembrado
de outra saída repentina três anos atrás. De qualquer forma,
estava melhor agora que ele se foi. Poderia me concentrar no
meu trabalho.

Quando fui até a mesa deles para pegar a conta, percebi


que Jace tinha deixado dinheiro, junto com uma gorjeta
absurdamente grande. Isso não me surpreendeu. Mas a
mensagem escrita no recibo sim.

Você é tão linda que dói.


Capítulo 21

Nathan me pegou na cozinha depois que voltei da aula.


— O que vamos fazer no Dia de Ação de Graças?

— O de sempre. Sabe, faço um peru e pedimos


acompanhamentos da Regina. Fiz o pedido há um tempo.
Então você come tanta sobremesa que fica esfregando o
estômago pelo resto da noite. Por quê?

Ele deu um tapinha na barriga. — Bem, pretendo manter


a tradição a esse respeito, mas eu estava me perguntando se
teríamos espaço extra em nossa mesa este ano?

Arqueei minha sobrancelha. — Para quem?

— Para Jace e seu pai. Este é o primeiro Dia de Ação de


Graças sem Faye. Nenhum deles sabe cozinhar nada além de
panquecas. Perguntei onde eles iriam comer e ele disse que
planejava levar o pai a um restaurante. Achei que seria bom se
pudessem comer uma refeição caseira conosco, ou pelo menos
um peru caseiro.
Minha mente começou a girar. Estava ansiosa por um dia
discreto com meus sentimentos sem qualquer estresse
adicional. Mas como poderia dizer não quando sabia o quão
difícil esse feriado seria para Phil e Jace? Pensar nisso trouxe
de volta memórias do meu primeiro Dia de Ação de Graças sem
nossos pais. Nathan tentou cozinhar um peru para nós e
queimou. Comecei a chorar e acabamos comendo algo do
McDonald's porque era a coisa mais distante da comida de
Ação de Graças. Isso acabou sendo o que nós dois
precisávamos, simplesmente esquecer o feriado naquele
primeiro ano.

Não tive coragem de dizer não. — Suponho que estaria


tudo bem se eles se juntarem a nós.

— Tem certeza?

— Bem, obviamente você sabe que isso vai me deixar um


pouco desconfortável, mas não o suficiente para dizer não.

A boca de Nathan se curvou em um sorriso. — Você é a


melhor. Obrigado.

— Não vou nem precisar pedir mais comida da Regina.


Simplesmente não teremos uma semana de sobras como de
costume.

— Você não convidou Niles, convidou?

— Ele fará a refeição principal com seus pais. Eles nos


convidaram para sua casa, mas eu sabia que você não gostaria
de ir. Ele virá depois do jantar para a sobremesa.
— Acho que posso lidar com isso.

Sorri e reprimi um suspiro. Agora eu simplesmente teria


que lidar com essa sensação de desconforto no estômago até o
fim do Dia de Ação de Graças.

No início da tarde do Dia de Ação de Graças, a campainha


tocou. A hora de começar. Eu teria que me recompor e me
controlar por aproximadamente três horas, talvez mais.

Quando abri a porta, Jace e seu pai estavam parados


atrás de um buquê gigante de flores amarelas e laranja.

— Uau. Você não tinha que fazer isso. — Eu disse,


pegando o arranjo de Jace.

Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Bem, eu não tinha nada


a oferecer no departamento de comida, então imaginei que
flores eram seguras.

Evitando olhar nos olhos de Jace, abracei Phil antes de ir


para a cozinha colocar as flores na água.

Assim que voltei, dei uma boa olhada em Jace pela


primeira vez. Ele usava um suéter marrom apertado e enrolado
nas mangas e cheirava a almíscar e couro. Sua colônia trouxe
de volta uma infinidade de memórias, fazendo com que meu
corpo ganhasse vida de uma forma indesejada. Desejei que
meus malditos hormônios se acalmassem.

Phil vagou pela casa um pouco e deu uma espiada na


pequena sala de jantar antes de ir até a mesa. — Configuração
bonitinha que você tem aqui.

Eu sorri. — Felizmente somos só nós quatro. Não acho


que caberia muito mais pessoas em nossa mesa.

Seus olhos pareciam vidrados, como se fosse chorar. —


Não posso agradecer o suficiente por nos convidar. Não
suportaria estar em nossa casa. Minha esposa sempre
convidava amigos e fazia uma grande confusão sobre este
feriado. Hoje... o silêncio foi ensurdecedor.

Era difícil saber a coisa certa a dizer. — Tenho certeza de


que ela está com você em espírito. Sempre sinto meus pais
conosco durante o feriado, mesmo que não estejam fisicamente
aqui.

Ele assentiu. — Você certamente sabe o que estamos


passando, não é? Tantas pessoas fingem entender a perda,
mas se você nunca perdeu alguém que era o seu mundo
inteiro, você realmente não entende.

Eu sei disso. Abri um sorriso simpático.

Jace e Nathan entraram na sala de jantar.

— Coloque meu filho para trabalhar, Farrah, — disse Phil.


— Na verdade, não há muito o que fazer. Estou apenas
fazendo o peru com molho. Todos os acompanhamentos vêm
da Regina.

— Bem, tenho certeza de que Jace ficará feliz em provar


seu molho. — Phil sorriu.

— Ouvi dizer que o centro de idosos está oferecendo um


almoço grátis hoje. Talvez eu deva deixar você lá? — Jace disse
brincando.

Todos nós rimos. Pelo menos ter Phil aqui quebrou um


pouco o gelo.

Sentindo-me corada, fui em direção à cozinha. — Fiz


alguns aperitivos. Deixe-me pegá-los.

Cerca de um minuto depois, a voz profunda de Jace me


fez pular. — Posso ajudar?

Quando me virei, ele estava perto demais para me


confortar. Deus, ele parece tão bom.

— Não. Obrigada.

Passando por ele, peguei um bolo de queijo coberto de


amêndoas lascadas e um prato de vegetais crus e molho.
Coloquei-os na mesa de centro da sala de estar.

— Não seria um feriado sem o bolo de queijo da minha


irmã. — Nathan disse enquanto pegava um biscoito.
— Bem, amo bolos de queijo. — Eu sorri. — Afinal, vivi
com um por toda a minha vida.

Jace se juntou a seu pai no sofá.

Virei-me para Phil. — Posso pegar algo para você beber?


Não guardamos álcool em casa, mas tenho quase todo o resto.
Refrigerante, soda, cidra espumante?

— Adoraria uma cidra espumante. — Disse ele.

— Ficamos loucos nesta casa com a cidra espumante,


graças a mim, — disse Nathan.

Jace encolheu os ombros. — Estou bem.

Voltei para a cozinha para servir a bebida de Phil.

Quando voltei, verifiquei a hora no meu telefone. — Eu


realmente preciso pegar os acompanhamentos da Regina.
Cronometrei para que o peru esteja pronto quando eu voltar.

Jace saltou do sofá. — Vou dirigindo para ajudá-la a


carregar tudo.

O que devo dizer... não?

Dei de ombros. — Claro, se você quiser.

Jace jogou suas chaves no ar. — Nathan, cuide do velho


enquanto estou fora, sim?

Phil ergueu seu copo. — Pretendo ficar bêbado com essa


coisa.
Jace e eu saímos juntos. Ele desarmou sua caminhonete,
e no momento em que entrei, o déjà vu se instalou, o cheiro de
sua colônia, o couro contra minhas costas, sua proximidade
quando ele se sentou ao meu lado. A única coisa que faltou foi
uma pitada de charuto. Esta não era a mesma caminhonete de
três anos atrás, mas poderia muito bem ser. Parecia que foi
ontem, quando eu era uma garota de 21 anos apaixonada,
desejando o amigo de 27 anos do meu irmão. Agora eu tinha
vinte e quatro anos, tentando com tudo em mim, lutar contra
os mesmos sentimentos de desejo pelo mesmo homem, que
agora tinha trinta. Parecia que a única coisa que havia mudado
eram nossas idades.

— Coloque o cinto de segurança. Quantas vezes tenho


que te dizer? — Ele piscou.

— Estou um pouco distraída com as memórias de estar


em sua caminhonete.

— A maioria delas são boas, espero. — Em um tom


sedutor, ele acrescentou: — Sei que nos divertimos muito em
minha velha caminhonete.

— Todas, exceto uma.

— Sim, — ele sussurrou.

A noite em que Nathan nos pegou foi uma das piores


lembranças da minha vida.

Ele girou a chave e saiu da garagem.


Cerca de oitocentos metros na estrada, ele olhou para
mim. — Não posso te dizer o quanto aprecio você nos receber.
Sei que te deixo nervosa. Mesmo que você esteja tentando não
demonstrar, Farrah, vejo na sua linguagem corporal. Você
desistiu de um feriado tranquilo pela bondade de seu coração,
deveria ter dito não, mas não poderia deixar passar a
oportunidade de distrair o papai. — Ele fez uma pausa. — E
para ver você.

Mexi-me no banco. — O prazer é meu. Significa muito


para Nathan também.

— Sinto-me muito sortudo por tê-lo como amigo


novamente. Ele sempre foi mais como um irmão.

— Ele é um bom irmão, apesar de todos os seus defeitos.

Jace acenou com a cabeça. — Onde está seu namorado


hoje?

— Jantando com sua família. Ele vem para a sobremesa


mais tarde.

Ele engoliu em seco. — Entendo.

Meus olhos permaneceram em seu pomo de adão,


vagaram até a fenda em seu queixo... então seus lábios.

— Há quanto tempo você está namorando-o? — Ele


perguntou.

— Um pouco mais de um ano.


— Como vocês se conheceram?

— Ele puxou conversa um dia na loja de bebidas de sua


família. Eu estava comprando vinho para levar para a casa de
um amigo, já que não bebo mais perto de Nathan. — Limpei
minha garganta. — Nathan e Niles não se dão muito bem, como
você sabe. Não empurro a questão sobre ele vir à nossa casa.
Poderia ter ido para a casa da família de Niles hoje, mas
preferia passar o Dia de Ação de Graças com meu irmão. É
tradição.

— Sei que as tradições são importantes para você. Você e


Nathan ainda têm a noite de cinema?

— Na verdade, essa é a única coisa em que hesitamos. É


mais parecido com a cada dois meses agora.

— Bem, pelo menos vocês tentam.

Ao nos aproximarmos do restaurante, ele diminuiu a


velocidade da caminhonete. — É aqui?

— Sim.

Jace estacionou e nós dois saímos do veículo.

Depois que dei meu nome para a mulher do balcão, ela


me informou que meu pedido ainda não estava pronto, que
estavam com um pequeno atraso devido a um dos fornos
quebrar. Sugeriu que voltássemos em trinta minutos.
— Acho que temos que matar algum tempo, — disse. —
Chegaremos junto com o peru. Talvez eu tenha que pedir a
Nathan para tirá-lo. Mas não vale a pena ir para casa e voltar.

— Não é nada demais. Parece que há um café aberto ao


lado. Vamos até lá tomar um café ou algo assim.

Jace e eu pedimos dois chocolates quentes e os levamos


para o carro dele. O tempo na Flórida finalmente estava frio o
suficiente para justificar uma bebida quente.

Ele colocou a música no mínimo enquanto bebíamos em


silêncio. Olhei pela janela, mas podia sentir seus olhos em
mim.

Jace finalmente quebrou o silêncio. — Você ainda vai


àquele bar para aqueles confessionários?

Balancei minha cabeça. — Parei de ir ao The Iguana há


um tempo, mas pelo que ouvi, eles ainda fazem isso uma vez
por semana.

— O que aconteceu com sua amiga, Kellianne?

— Ainda somos boas amigas. Ela está casada agora e


acabou de ter uma filha.

— Uau. Isso é selvagem.

— Sim.

— Você ainda escreve à noite como costumava fazer?


Olhei para minha xícara. — Não escrevo para mim há
algum tempo. E mesmo que tenha surgido a criatividade, não
tenho muito tempo agora entre a faculdade e o trabalho.

— Sei que nunca falamos sobre isso, mas Nathan me


disse que você está se formando em justiça criminal. Acho isso
foda.

Concordei. — Por muito tempo, não conseguia descobrir


o que queria fazer. Mas quando se tratava de tomar uma
decisão, a justiça criminal parecia certa, provavelmente por
causa do que aconteceu com mamãe e papai.

Os olhos de Jace fixaram-se nos meus. Ele girou o líquido


em sua xícara. — Você acha que vai para a faculdade de
direito?

— Não descartei isso. Há muita coisa que ainda não


decidi.

— Descobrir o que você quer fazer da vida não é uma


decisão fácil. Eu ainda estou descobrindo também. Tenho
hesitado muito ultimamente.

— Como assim?

— Bem, a decisão de meu pai de vender a empresa teve


muito a ver com minha mãe. Eles deveriam viajar pelo mundo
juntos na aposentadoria. Agora que ela se foi, ele não acha que
quer se aposentar ainda. Ele precisa de algo em que se
concentrar.
— Ele está pensando em desistir da venda?

— Sim. Mas o fato é que ele não consegue mais lidar com
tudo sozinho. Não me pediu para ajudar, mas sinto que é isso
que ele quer – que eu fique aqui e cuide dos negócios com ele.

Um sentimento de ansiedade tomou conta de mim com a


perspectiva de Jace ficar em Palm Creek. — É isso que você
quer?

— Sei que não quero deixar a Flórida agora. Ele precisa


de mim. Também estou um pouco preocupado, para ser
sincero. Com minha mãe morta, ele pode cair em velhos
hábitos.

— O jogo, você quer dizer.

— Sim. — Ele suspirou. — Ele não voltou a fazer isso, e


gostaria de mantê-lo assim.

— Posso entender esse medo.

— Então, tenho quase certeza de que vou ficar,


permanentemente desta vez. — Seus olhos permaneceram nos
meus.

Fiquei sentada com o rosto impassível, sem saber o que


dizer. O pensamento dele partindo novamente me assustou
ainda mais do que ele ficar. Eu não estava prestes a analisar o
que isso significava.

— E a sua vida em Charlotte? — Perguntei.


Ele suspirou e colocou sua xícara no suporte. — Não há
muito para onde voltar. Kaia e eu tínhamos um bom
relacionamento, mas não estou apaixonado por ela. Estar
longe me fez perceber isso ainda mais. Tive muito tempo para
refletir. Esse relacionamento era algo que eu deveria ter
terminado antes que ficasse muito sério. Mas eu estava
confortável com ela, e isso foi bom o suficiente por um tempo.
— Ele se virou para mim. — Talvez você possa se relacionar
com isso. Você disse que se sentia... segura... com seu
namorado. Era mais ou menos assim com Kaia. — Ele fez uma
pausa. — No entanto, sentir-se seguro nem sempre significa
que está certo.

Respirei fundo enquanto continuava a olhar para a rua,


recusando-me a olhar em seus olhos para que ele não pudesse
sentir minha fraqueza.

— Você sabe. — Disse ele. — Quando voltei pela primeira


vez, quase tive um ataque cardíaco quando passei por sua
antiga casa, antes de saber que vocês tinham se mudado.

Minha testa enrugou. — Por quê?

— Havia uma menina brincando lá fora. Ela tinha cabelo


preto como o meu. Por um momento, pensei que tinha deixado
para trás mais do que apenas meu coração quando fui embora.

Levei alguns segundos para perceber o que ele quis dizer.


— Você pensou que eu tinha seu bebê?
— Só por tipo, dois minutos, os dois minutos mais longos
da minha vida. Então a mãe dela saiu e a agarrou, pensando
que eu era uma espécie de sequestrador por ficar olhando para
sua filha da calçada.

Minha boca estava aberta. — Uau. Acho que posso ver


como você pode ter pensado isso. — Olhei para o meu colo. —
Depois que você saiu... minha menstruação atrasou.

Seus olhos se arregalaram. — O quê?

— Pensei que estava grávida.

— Merda. — Disse ele. — Isso deve ter sido assustador.

— Foi.

— Você não estava... grávida, entretanto?

— Não. Provavelmente era estresse ou algo assim. Isso


pode atrapalhar seu ciclo. Mas posso me relacionar com seu
pequeno ataque cardíaco. Embora, o meu durou mais de uma
semana.

— Porra. — Ele deitou a cabeça para trás e olhou para


mim. — Se isso tivesse acontecido, eu teria voltado. Você sabe
disso, certo? Nunca teria deixado você passar por isso sozinha.

— Na época, certamente não teria acreditado nisso.

Jace virou seu corpo em direção ao meu e fechou os olhos,


se preparando para dizer algo. — Cometi um grande erro,
Farrah. Saí acreditando que você estaria melhor sem mim por
causa dos meus sentimentos por mim mesmo. Senti-me tão
culpado por meu envolvimento no que aconteceu com seus
pais. Eu nunca tinha lidado com nada disso. E quando Nathan
revelou meu segredo mais profundo assim, isso me fez
quebrar. Deixar você foi uma forma de autopunição. Corri para
não ter que enfrentar minha culpa e vergonha. Se eu pudesse
voltar, ficaria, suportaria a dor. Eu teria enfrentado Nathan e
eu mesmo. Eu teria feito tudo o que pudesse para nos manter
juntos. Mas essa é uma percepção que só é possível
retrospectivamente. Estou pagando por isso agora, porque me
dói olhar para você e não ver a alegria que você tinha nos olhos.
Dói-me ainda mais sentir que fui o responsável...

Por mais que ele estivesse parcialmente certo, não era


justo deixá-lo sentir que todo o fardo era seu para carregar.

— Sou uma pessoa mais forte por isso, — eu disse. —


Precisava perder você para me encontrar, minha força interior.
Sou mais forte do que era. E não vou deixar ninguém destruir
meu coração assim de novo.

A expressão de Jace escureceu, minhas palavras


parecendo atingi-lo onde doía, embora não fossem
intencionais.

Sentindo necessidade de escapar, olhei para a hora. — A


comida já deve estar pronta.

Ele olhou em direção ao prédio. — Oh sim. Você está


certa. Já passou mais de meia hora.
Jace e eu voltamos para dentro para pegar duas tortas e
cinco bandejas de alumínio com comida, batata doce, caçarola
de feijão verde, purê de batata, pão de milho e recheio.
Carreguei duas bandejas de volta para o carro, e Jace
empilhou o resto em seus braços.

A volta para casa foi tranquila. A tensão no ar ainda era


densa, mas me senti mais à vontade perto dele depois da
conversa que tivemos. Foi bom deixar um pouco disso sair. Por
mais difícil que fosse falar sobre o que aconteceu entre nós, de
uma forma estranha, ainda sentia que poderia contar a Jace
qualquer coisa.

De volta a casa, o peru estava pronto para sair do forno.


Jace se ofereceu para pegá-lo para mim. Depois disso, ele o
arrumou e me ajudou a pôr a mesa enquanto Nathan
continuava a entreter Phil na sala de estar.

Mais tarde, Jace se esticou para colocar os talheres em


um dos ambientes perto de onde eu estava arrumando as
laterais. O contato me deu arrepios. Estive lutando contra
minha atração física por ele o dia todo. Foi fácil me convencer
de que ele não era certo para mim, já que quebrou minha
confiança. Era mais um jogo de bola tentando impedir meu
corpo de reagir sempre que ele estava nas proximidades.

Quando nós quatro finalmente nos sentamos, Nathan e


eu estávamos em um lado da mesa de frente para Jace e seu
pai, com Jace sentado diretamente na minha frente.
Nathan fez um anúncio. — Antes de comer, todos
devemos dizer ao que estamos gratos. Mamãe ficaria
desapontada se não o fizéssemos.

— Acho que Faye teria concordado. — Disse Phil.

Cada um de nós se revezou. Nathan falou sobre o quão


grato ele estava por ter se reconectado com Jace, por sua
contínua recuperação do acidente, e como sempre, ele estava
grato por mim. Phil foi em seguida e admitiu que era difícil
estar agradecido por muito este ano. Mas ele estava grato por
acreditar que sua esposa estava cuidando dele e pelo fato de
que estava compartilhando uma refeição com pessoas boas
hoje.

Em seguida, foi a vez de Jace.

Meus olhos estavam fixos nele quando ele começou a


falar.

— Este ano trouxe muitas coisas inesperadas para a


minha vida. Perdi minha mãe, que significava muito para mim.
Esse foi definitivamente o ponto mais baixo. Foi também uma
grande revelação sobre como a vida pode mudar em um
instante. Você não tem uma eternidade para fazer as pazes ou
dizer às pessoas que você as ama. — Seus olhos encontraram
os meus por um momento antes de viajarem até Nathan. — Eu
nunca poderia imaginar que voltar para casa durante um dos
momentos mais sombrios da minha vida teria me trazido uma
paz inesperada e uma segunda chance de amizade. Os últimos
três anos longe não foram fáceis, mas aprendi muito sobre mim
mesmo, como deixei a culpa e o medo tomarem conta da minha
vida por tanto tempo. Cometi erros..., mas nunca tive a
intenção de machucar ninguém. Tenho trabalhado para me
perdoar. — Ele olhou para meu irmão novamente. — Nathan,
sua capacidade de me perdoar tão livremente ajudou nesse
processo. — Ele fez uma pausa. — Então, pelo que sou grato?
Estou grato por ter meu irmão de volta. — Os olhos de Jace
viajaram ao redor da mesa. — Estou grato por estar sentado
aqui com as três pessoas que mais significam para mim no
mundo. — Ele olhou para Phil. — Pai, você me ensinou muito
sobre força desde que mamãe morreu. Você se levanta todos
os dias e segue em frente, embora eu saiba que não é fácil para
você. — Ele se virou para mim. — Nathan e Farrah, vocês me
ensinaram sobre humildade e colocar de lado o orgulho em
favor do perdão. Obrigado novamente por abrir sua casa para
nós. Não importa o que aconteceu no passado, sempre estarei
aqui para vocês, se vocês precisarem de mim.

Uma mistura conflituosa de emoções passou por mim.


Odiava poder sentir a parede que ergui começando a cair. Isso
me apavorou.

Quando todos se voltaram para mim, meu coração


disparou e a primeira coisa que saiu foi: — Estou grata por
Xanax.

Todo mundo riu.

— Sério, sou grata que embora sempre tenhamos sido


apenas Nathan e eu, hoje podemos experimentar um senso de
família através de nossas perdas mútuas. Não importa o que
aconteceu no passado, sou grata por este dia e por este
momento de paz no tempo com vocês. — Eu sorri timidamente.
— Isso é tudo.

Nathan agarrou minha mão e apertou. — Senhor abençoe


esta mesa e esta família. Obrigado por tudo o que você nos deu.

— Amém, — dissemos nós quatro juntos.

Soltei um suspiro e comecei a relaxar agora que Nathan


e Phil passaram a comer. Jace, entretanto? Ele não havia
tocado na comida ainda. Ainda podia sentir seus olhos em
mim, embora fingisse estar focada em servir a mim mesma.
Capítulo 22

Apesar do meu nervosismo anterior, o Dia de Ação de


Graças se tornou um dia bastante calmo. Depois do jantar,
Nathan, Farrah e eu limpamos a bagunça, enquanto papai
assistia futebol na sala de estar.

Quando Nathan saiu para se juntar a ele, Farrah e eu


estávamos sozinhos na cozinha. Sabia com certeza agora que
meus sentimentos por ela eram tão intensos quanto quando
parti. Tentei o meu melhor para não ser pego olhando, mas não
conseguia tirar os olhos dela. Farrah estava incrível em um
vestido justo e saltos altos que a deixavam ainda mais alta do
que já era. Seu longo cabelo castanho estava quase caindo na
bunda. E que bunda linda, o tamanho perfeito. Tive muitas
boas lembranças com aquela bunda linda.

Percebi que ela cantarolava alguma coisa. Era familiar.


Apertando os olhos, ouvi atentamente, determinado a
reconhecer a música. Então me dei conta.

— Essa é uma música do Evanescence.


— Hmm? — Ela pareceu assustada com a minha
interrupção quando parou abruptamente de limpar o balcão.

— A música que você está cantando.

— Não sabia que estava cantarolando.

— Você estava. Era aquela música do Evanescence. Como


é o nome?

Ela desviou o olhar. — 'My Immortal.'

— Sim. Isso mesmo. É linda.

Ela não reconheceu meu sentimento. Em vez disso, virou-


se e continuou o que estava fazendo.

Como diabos eu deveria ficar em Palm Creek e manter


esses sentimentos dentro de mim? A pressão para lhe dizer
como me sentia era imensa. Quando eu estava fora, estava fora
de vista, longe da mente. Mas esta noite? Levou tudo em mim
para não desencadear meus sentimentos. As palavras ainda
estavam na ponta da minha língua enquanto eu empilhava o
resto da comida em um recipiente Tupperware.

Deixe-me te fazer feliz, Farrah. Dê-me outra chance de ser


o tipo de homem que você merece. Prometo que prefiro morrer a
machucar você de novo.

Quando a campainha tocou, meu estômago afundou.


Sabia que ela estava esperando o namorado para a sobremesa.
Esperava que ele não aparecesse.
Farrah saiu da cozinha para atender a porta.
Relutantemente, a segui para a sala.

Nathan já havia deixado Niles entrar.

— Ei, como foi seu jantar? — Ela perguntou a ele.

— Foi bom, — disse ele. — Senti a sua falta. — Quando


ele se inclinou para beijá-la, tive que desviar o olhar. Doeu
mais do que da última vez.

Parecendo nervosa, Farrah se virou para mim. — Você se


lembra do amigo do meu irmão, Jace. — Então ela gesticulou
para meu pai. — E este é o pai dele, Phil.

Ele ofereceu a mão ao meu pai. — Prazer em conhecê-lo,


senhor. — Então ele ergueu o queixo em direção a Nathan. —
E aí.

— Ei, — Nathan disse monotonamente, parecendo tão


feliz em ver esse cara quanto eu.

Niles nem mesmo fez contato visual comigo. Isso me fez


pensar se Farrah havia mencionado nosso passado. De
qualquer maneira, isso não me impediu de olhar para ele. Não
pude evitar. Queria que ele fosse embora.

Ele passou os braços em volta dela por trás, o que me fez


estremecer.

— Ei, boas notícias... — ele disse a ela. — Durante o


jantar de hoje, decidimos passar o Natal na Carolina do Norte.
É melhor você conseguir uma folga. Pois você irá conosco.
Farrah piscou, parecendo não saber o que dizer sobre
isso. Tão legal da parte dele oferecer-lhe uma escolha sobre ir.

— Onde fica na Carolina do Norte? — Perguntei,


forçando-o a me reconhecer.

— Norte. As montanhas. Temos uma casa lá. — Ele olhou


para Nathan. — Você precisa vir também. Sei que ela não vai
querer deixar sua bunda em paz.

— Não, obrigado, — Nathan disse. — Vou ficar bem aqui.


Não se preocupe comigo, Farrah, se quiser ir.

Farrah mordeu o lábio. — Não sei. Vou ter que pensar


sobre isso.

Sabia que devia ser difícil para Nathan admitir que não
ficaria bem vendo-a partir para o Natal longe dele. Tinha
certeza de que a ideia de passar as férias fora do estado com
esse cara o chateava.

— Você não estará sozinho de qualquer maneira, — eu


disse. — Papai e eu vamos precisar de um lugar para dormir
novamente. O Natal não será mais fácil para nós do que o Dia
de Ação de Graças. Você está preso a nós.

A expressão de Nathan iluminou-se. — Soa como um


plano.

Farrah apontou na direção da cozinha. — Vou preparar


as sobremesas.
Depois que ela saiu, Niles se virou para Nathan. — Posso
falar com você lá fora por um minuto? — Sua voz era baixa.

Nathan deu de ombros e se levantou relutantemente. —


Uh... claro.

Que diabos é isso?

Era melhor ele não intimidar Nathan para aceitar aquele


maldito emprego na loja de bebidas novamente. Era
interessante que ele esperou até Farrah entrar na cozinha,
como se não quisesse que soubesse que estava abordando
Nathan. Meus punhos se apertaram. Queria dar um soco nele.

Observei-os conversando pela janela. Nathan parecia


tenso enquanto ouvia tudo o que Niles tinha a dizer. Tentado
a ir lá, me contive.

Depois de alguns minutos, eles voltaram para dentro. Eu


conhecia Nathan há tempo suficiente para ver que algo que
Niles disse lá definitivamente o irritou. Assim que tivesse
chance, teria que perguntar o que aconteceu.

Niles se sentou ao lado de papai e eles começaram a falar


qualquer merda sobre o jogo.

Podia ver Farrah na sala de jantar arrumando os pratos


de sobremesa. Eu estava tão preocupado que deixei de ver se
precisava de alguma coisa. Nenhum outro idiota preguiçoso
nesta casa se ofereceu para ajudar.
— O que posso fazer? — Perguntei, colocando minha
cabeça para dentro.

Ela não olhou para mim. — Nada. Vá se sentar. Só estou


esquentando as tortas. Avisarei para todos quando a
sobremesa estiver pronta.

Farrah olhou em volta, como se tivesse esquecido onde


havia colocado algo. Ela parecia apressada e tensa. Queria
abraçá-la, tirar todo o seu estresse. Em vez de sair da porta,
continuei a observá-la. Acho que não percebi que não havia me
movido até que ela disse: — O quê?

— O que você quer dizer?

— Você está olhando para mim como se quisesse dizer


alguma coisa.

Balancei minha cabeça. — Sinto muito. Não. Estou


apenas... — Eu não disse mais nada.

Todas as palavras não ditas continuaram a borbulhar no


meu peito. Mas se eu não poderia dizê-los antes na
caminhonete, agora certamente não era o momento certo com
Niles na sala ao lado.

Assim que todos se reuniram ao redor da mesa, ficou


claro que alguém teria que se levantar, já que não havia
cadeiras suficientes. Niles foi a quinta roda que atrapalhou
nossa reunião familiar pacífica de quatro, mas,
silenciosamente me ofereci, levando minha torta para o canto
da sala, me encostei na parede. Observei Niles como um falcão
quando se virou para falar com meu pai.

— Então, Phil, o que sua empresa faz?

— Sou proprietário da Muldoon Construction.

— Não brinca? Vocês cuidaram da reforma do antigo


shopping em apartamentos, certo?

Meu pai acenou com a cabeça orgulhosamente. — Sim,


realmente fizemos.

— Meu primo mora lá. Ele está sempre reclamando do


aglomerado barato na cozinha.

Os olhos de Farrah se estreitaram. — Niles...

Que porra é essa?

Foi um milagre eu não ter dado um soco nele ainda.

A resposta de papai não poderia ter me deixado mais feliz.


— Bem, diga ao seu primo que, a menos que ele queira pagar
mais aluguel para morar na melhor parte da cidade, é melhor
ele beijar a bunda daquele aglomerado.

Niles encheu o rosto de torta de maçã e, felizmente, se


calou depois disso.

O que diabos ela vê nesse cara?


— Ei, Jace. Você se importa se eu te mostrar aquela coisa
com o meu carro que estava te falando? — Nathan perguntou
de repente.

Semicerrei os olhos antes de perceber que ele estava


mentindo apenas para nos deixar sozinho. Colocando meu
prato no canto da mesa, disse: — Sim. — Dei um tapinha no
ombro do meu pai. — Volto logo.

— É tão urgente que você tenha que deixar a mesa no


meio da sobremesa, Nathan? — Farrah perguntou.

— Sim. Não quero esquecer. Desculpe. Isso está me


incomodando. Não vai demorar muito.

Uma vez do lado de fora, certifiquei-me de ficar longe da


janela para que Niles não pudesse nos ver.

Mantive minha voz baixa. — E aí cara?

— Temos que fazer algo a respeito dele.

— Sobre Niles?

— Sim.

— O que aconteceu?

— Ele está tentando me convencer a ir para a Carolina do


Norte no Natal com eles, porque não acha que Farrah vai me
deixar aqui.

— Então diga não a ele.


— A razão pela qual ele quer ter certeza de que ela vá é
porque está planejando propor casamento.

De repente, percebi que a Terra estava girando. Correndo


minha mão pelo meu cabelo, murmurei, — Foda-se.

— Jace, seja honesto comigo, ok?

Engolindo em seco, eu assenti. — Tudo bem.

— Você ainda ama minha irmã? Vejo a maneira como


vocês se olham...

Essa era uma questão que eu não tinha respondido em


voz alta até agora. Mas sabia a resposta. — Nunca parei de
amá-la. Sempre tentei esquecer isso.

— Só quero que ela seja feliz. — Sua voz falhou. — Se eu


achasse que ele a faria feliz, não tentaria lutar contra isso. Mas
parece que ela está... não sei... em coma com ele. Apenas
seguindo os movimentos. Não acredito por um segundo que ele
realmente a faz feliz. Ele lhe dá uma sensação de segurança,
talvez. Mas há uma diferença.

— Não sei se Farrah poderia confiar em mim novamente


depois do que eu fiz, Nathan. Você não apenas esquece que
alguém está deixando você assim.

— Reconheço que a joguei nisso. Não posso deixar minha


irmã se casar com alguém que ela não ama, porque está com
muito medo de ter seu coração partido novamente.

A porta se abriu de repente.


Farrah colocou as mãos nos quadris, parecendo chateada
conosco dois. Por mais que eu não quisesse que ela ficasse
brava, o brilho em seus olhos era melhor do que o vazio que eu
tinha visto antes. Ficaria feliz em tirar qualquer emoção dela
agora – até mesmo aborrecimento.

— O que vocês estão fazendo?

— Nada. Já resolvemos. Estávamos entrando, — disse


Nathan.

Seus olhos se moveram entre nós antes de voltar para


dentro.

Fiquei nervoso o resto da noite. Não terminei minha


sobremesa e, embora todos tenham se mudado para a sala de
estar para assistir a um filme, não pude assimilar nada do que
assisti.

Faltava apenas um mês entre agora e o Natal. E se Farrah


decidisse ir para a Carolina do Norte e aceitasse sua proposta?

Eu tinha que pelo menos tentar trazê-la de volta,


recuperar sua confiança. Mas isso não seria possível até que
aprendesse a confiar em mim mesmo.

Antes de papai e eu partirmos naquela noite, Farrah me


parou na garagem. — Aquela música que eu estava
cantarolando na cozinha hoje à noite? Preste atenção na letra.
Escutei muito depois que você saiu. Isso me lembra de você...
e deles... de tudo.
Ela correu de volta para dentro antes que pudesse pedir
para explicar. Pensei nisso durante toda a volta para casa, mas
não queria tocar a música com papai no carro, caso isso me
fizesse perder o controle.

No segundo que voltei para casa, fui para o meu quarto e


puxei a letra de “My Immortal” tentando desesperadamente
decifrá-la enquanto tocava a música. É sobre sentimentos de
abandono e raiva – amor incondicional por alguém que não
consegue retribuir. Dependendo de como você a interpreta, a
música pode ser sobre alguém que morreu ou alguém que saiu
inesperadamente.

Você e eles.

Eu e os pais dela.

Toquei a música em um loop infinito e isso me assombrou


a noite inteira.
Capítulo 23

Saltando o bebê de Kellianne em meus braços, olhei para


seu lindo rosto. O pequeno Karma tinha acabado de completar
três meses. Eu só o tinha visto anteriormente no hospital. Foi
a primeira vez que visitei minha amiga em casa desde que deu
à luz. Foi também a primeira vez que contei sobre o retorno de
Jace à cidade.

— Quanto tempo ele vai ficar? — Ela perguntou.

— Bem, esse é o argumento decisivo. Depois de tudo isso,


ele voltou para a Carolina do Norte alguns dias depois do Dia
de Ação de Graças. Ele está lá agora.

— Já?

— Nathan disse que não tinha certeza de quando ou se


voltaria. Jace não foi específico.

Ele tinha partido há uma semana. E não se incomodou


em se despedir, embora tivesse ligado para Nathan para avisar
que estava indo.

— Você está chateada?


Ajustando o bebê em meus braços, disse: — Não sei como
me sinto, Kellianne. Estou fodida desde que ele voltou, mas
sua saída tão abrupta trouxe de volta algumas memórias
ruins.

— Como você sabe que ele não vai voltar?

— Não sei, mas o maior problema é... por que estou tão
preocupada? Sua volta para casa foi meu maior pesadelo por
tanto tempo. Acho que estava me acostumando com a ideia de
tê-lo de volta na cidade. Adorei o fato de ele e meu irmão terem
encontrado uma maneira de renovar sua amizade. Isso fez o
estresse de seu retorno valer a pena.

Ela dobrou algumas das roupas do filho de um cesto de


roupa suja. — Você contou a Niles sobre seu passado com
Jace?

— Sim. Um tempo atrás. Isso foi um erro. Ele foi o maior


idiota com o pai de Jace no Dia de Ação de Graças.

— O que te fez contar a ele?

— Ele continuou me perguntando por que estava agindo


de forma estranha. Pensou que eu o estava traindo. Cansei de
mentir sobre as coisas. A vida é muito curta. Nada se ganha
em esconder a verdade. Contei-lhe tudo e assegurei-lhe que
não significava mais nada, que foi há muito tempo. Mas acho
que isso o deixou inseguro. Para piorar as coisas, estou uma
bagunça desde que Jace foi embora. Niles também pode sentir
isso.
Kellianne suspirou. — Você ainda tem sentimentos por
Jace. Isso é tudo que sei.

Não havia como negar. — Sua volta me fez perceber que


não importa o que aconteceu entre nós, em primeiro lugar,
Jace ainda é minha família. E embora seu retorno não tenha
sido fácil para mim emocionalmente, foi como receber um
pedaço da minha família de volta. É onde me sinto mais segura
com Jace neste ponto – mantê-lo naquele espaço e não...

— Não dando a ele seu coração.

— Ele quebrou. Mas ainda me preocupo profundamente


com ele. Apenas não o suficiente para confiar nele dessa forma
novamente.

— Sim. Entendo. — Ela pegou o filho que estava inquieto


dos meus braços e o colocou em seu seio enquanto pegava um
travesseiro Boppy11.

O bebê imediatamente pegou.

Sorri ao ver minha amiga amamentando seu filho. — É


tão precioso, Kel.

Kellianne olhou para Karma. — Algum dia você terá um


seu próprio.

— Esperançosamente não tão cedo. Preciso terminar a


faculdade de uma vez por todas. Mas sim... algum dia. —
Suspirei — Quero dar a um filho o tipo de vida que tive quando

11 Travesseiro em formato de meia lua que auxilia no momento da amamentação.


era criança. Quero experimentar aqueles dias novamente
através dos olhos de meus filhos. Só preciso me recompor
primeiro.

Ela sorriu. — Você irá.

Meus pensamentos mudaram para o que Jace tinha me


dito sobre pensar que aquela garotinha fora da minha antiga
casa poderia ser nossa. Perguntei-me por um momento como
seria nossa vida se isso tivesse ocorrido. Perguntei-me um
monte de coisas enquanto caia em um devaneio. Jace estava
se reconciliando com sua ex em Charlotte? Além disso, por que
eu me importava tanto?

No caminho para casa, “So Cruel” do U2 tocou no rádio.


Escutei as palavras, e isso me fez pensar se ser tão fria com
Jace desde que ele voltou finalmente o afastou.

Com o passar dos dias, fiquei obcecada com a ideia de


Jace nunca mais retornar a Palm Creek. Consegui agir o mais
normalmente possível perto de Niles, mas ele não estava feliz
comigo, porque ainda não tinha me comprometido a ir para a
Carolina do Norte com ele no Natal.
Numa sexta-feira à noite, ele estava particularmente
irritado porque lhe disse que estava cansada demais para sair.
Essa era a verdade. Tive uma noite de folga do trabalho e só
queria relaxar em casa.

Nathan e eu estávamos assistindo TV quando o som de


um carro parando na garagem chamou minha atenção para a
janela.

— Quem está aqui? — Perguntei enquanto me levantava.

— Não sei. Não estou esperando ninguém.

Era uma caminhonete preta muito familiar.

Meu coração disparou.

Ele voltou.

Abri a porta antes que Jace tivesse a chance de bater.

Ele usava uma jaqueta de couro preta e cheirava a


sândalo. As luzes de Natal que adornam a frente da casa
brilharam em seus lindos olhos.

Fiquei chocada. — Você está aqui.

— Sim. — Ele procurou meus olhos, sem dúvida


percebendo algo que eu esperava que ele não percebesse.

Mas é muito tarde.


Jace deu alguns passos dentro da casa, então estendeu a
mão e gentilmente enxugou a lágrima que tinha caído do meu
olho.

— É bom ver você, cara, — Nathan disse enquanto se


levantava do sofá. — Sabe, estou desejando um calzone do
Berretti. Falta meia hora antes que fechem às nove. Algum de
vocês quer alguma coisa?

— Não, obrigado, — Jace disse, não tirando os olhos de


mim.

— Eu voltarei, ok? — Nathan passou mancando por Jace,


saindo da casa.

O silêncio encheu a sala.

— Por que você está chorando? — Ele perguntou.

— Eu só... — Minha voz tremeu. — Não achei que você


fosse voltar.

Sem hesitar, ele me puxou para seus braços, envolvendo-


me em seu calor. Resisti por um momento, mas me senti
como... em casa. Sentir seu coração batendo contra minha
bochecha me fez acalmar. Deixei tudo sair, tudo que tenho
guardado dentro nos últimos três anos. Tentei tanto não sentir
nada, mas agora falhei miseravelmente. Nesse momento, senti
tudo. Cada momento de desejo, cada batimento cardíaco
pulado, cada gota de dor... e o amor parecia me atingir de uma
vez.
Ele sussurrou no meu cabelo. — É tão bom segurar você.

Afastei-me para olhar para ele. — Eu não conseguia


imaginar por que você saiu tão abruptamente. Achei que você
tivesse mudado de ideia sobre ficar.

Jace envolveu suas mãos em volta do meu rosto. — Eu


disse que estava voltando para cá. Como você achou que eu
iria pegar todas as minhas coisas? Tive que buscar de alguma
forma.

Sentindo-me estúpida, limpei meus olhos e ri. — Não sei.


Nunca pensei sobre isso.

— Claramente. — Ele beliscou minha bochecha


levemente. — Eu tinha um monte de pontas soltas para
amarrar.

Engoli. — Você viu Kaia?

— Tive que terminar as coisas formalmente com ela, sim.


Ela já havia terminado comigo, mas precisava falar com ela e
encerrar adequadamente esse relacionamento, pedir-lhe
desculpas.

— Como ela reagiu?

— Ela disse que sabia que tinha tomado a decisão certa


assim que a deixei sair da Flórida com tanta facilidade depois
que mamãe morreu. Aceitou por algum tempo que estava
acabado, então não foi surpresa me ouvir confirmar que eu não
voltaria.
— Bem, sinto muito... por ela. Sei como ela se sente.

Ele assentiu. — Sei que você sente. — Ele olhou para seus
sapatos. — Porra.

Enxugando os olhos, eu disse: — Estou chateada por não


ter conseguido controlar minhas emoções esta noite.

Ele balançou sua cabeça. — Eu não estou. Isso me


permitiu ver como você realmente se sente. — Ele se inclinou.
— Você sabe... eu estava pensando em você durante todo o
trajeto até aqui. Sei que você está com alguém, mas não pude
deixar de sentir que, a cada quilômetro e meio mais perto de
você, estava mais perto de onde deveria estar. É meio confuso
que, mesmo que eu não possa estar com você, ainda quero
estar onde você está. Pelo menos aqui sei que posso te proteger.
— Ele colocou a mão no meu queixo. — Olhe para mim. — Ele
trouxe meus olhos para os dele. — Eu nunca vou deixar você
de novo. Você entende?

Nesse momento, uma batida na janela me assustou. Ele


parou e começou de novo com ainda mais força.

A voz de Niles veio através do vidro. — Você é uma


mentirosa do caralho!

Meu coração caiu no meu estômago. Olhei para Jace. —


Ah não.

Ele ficou frio como um pepino. — Está tudo bem. Não


estávamos fazendo nada.
Com medo absoluto, sabia que tinha que abrir a porta.
Quando o fiz, fui recebida pelo olhar aquecido de Niles.

— Que porra é essa, Farrah?

— Não é o que você pensa, — Disse.

— Mesmo? Vim te fazer uma surpresa porque você disse


que não estava se sentindo bem. Vejo sua caminhonete do lado
de fora. O carro de Nathan não está à vista. Então olho pela
sua janela e o vejo praticamente te beijando, e você está
tentando me dizer que nada está acontecendo? Você acha que
sou tão estúpido?

— Não nos beijamos, — insisti. — Estávamos


conversando perto. Isso é tudo.

Jace interveio. — Ela não pediu nada disso. Ela não sabia
que eu viria esta noite. Acabei de chegar aqui.

Niles olhou entre nós. — Não sei em quem acreditar


agora. Tudo que sei é o que vi. E parecia que você não se
importava exatamente em tê-lo em seu rosto.

Escolhi ser honesta. — Sinto muito. Estou muito confusa


agora.

Ele ignorou meu comentário e se virou para Jace.

— Você acha que pode voltar atrás na vida dela? Ela me


contou como você a manipulou quando era mais jovem e
depois foi embora. Agora você voltou e viu que ela seguiu em
frente, então está brincando com ela novamente.
Jace permaneceu calmo. — Nunca tive a intenção de
machucá-la, mas não diga que sabe nada sobre nossa história.
Você não sabe nada.

Niles apontou para a porta. — Você pode nos deixar em


paz?

— Na verdade, não. — Jace disse. — Não vou deixá-la


sozinha com você quando está com raiva.

Isso não me surpreendeu, especialmente depois da


promessa de Jace de me proteger.

— Niles, vamos para o meu quarto e conversar em


particular por um minuto, ok?

Com os braços cruzados, Jace ficou no mesmo lugar,


montando guarda enquanto eu me afastava com Niles.

Fechei a porta do meu quarto e meu namorado enfurecido


se dirigiu a mim.

— Não posso acreditar nisso. Que porra é essa, Farrah?

— Nada aconteceu além do que você viu. Estávamos


conversando e as coisas ficaram um pouco intensas. Não
esperava que ele viesse aqui. Jace não teve nada a ver com o
motivo de eu ter ficado em casa esta noite. Não menti para
você.

Niles não fez nenhum esforço para abaixar a voz. — Não


entendo. Esse cara arrancou seu coração. Por que você está
falando com ele, muito menos permitindo que a manipule?
— Minha história com Jace não é algo que espero que
você compreenda. Mas é uma parte de mim que não posso
apagar. Ele mora aqui em Palm Creek agora. Ele é o melhor
amigo de Nathan, e isso significa que sempre estará na minha
vida.

Ele bateu com a mão na minha escrivaninha. — De jeito


nenhum vou viver na sombra de um cara que você costumava
trepar.

— O que você está dizendo?

— Estou dizendo que é ele ou eu. Não vou aceitar que ele
venha e faça uma lavagem cerebral em você debaixo do meu
nariz, fingindo que está tentando protegê-la quando está
apenas tentando entrar em suas calças novamente.

Inclinei minha cabeça. Talvez esse fosse o catalisador de


que eu precisava para dar um tempo de Niles. As coisas não
estavam perfeitas entre nós por um longo tempo, mesmo antes
de Jace retornar.

Forçando as palavras, disse: — Acho que precisamos


fazer uma pausa.

Niles esfregou as têmporas. — Não posso acreditar nisso.


— Ele balançou a cabeça, olhando para o chão. Após um longo
silêncio, olhou para mim. — Eu ia propor a você no Natal.
Espero que esteja feliz. Agora você pode ficar nessa merda com
seu irmão perdedor para sempre. Eu teria te dado uma boa
vida. Você nunca teria que se preocupar com outra maldita
coisa enquanto vivesse.

Minha cabeça estava girando. Esqueça a bomba da


proposta, mas a coragem dele chamar meu irmão de perdedor.
Ele sempre fez críticas sutis com Nathan, e isso deveria ser
motivo suficiente para deixá-lo meses atrás. Mas agora? Não
toleraria que ele fosse tão descaradamente desrespeitoso. Não
quando meu irmão trabalhou tão duro para mudar sua vida.

Sorri friamente. — Bem, agora você acabou de tornar


minha decisão muito mais fácil.

Ele abriu a porta e saiu furioso. — Ligue-me quando


recobrar o juízo, mas nunca mais fale comigo se deixar que ele
te toque.

O segui até a porta da frente e o observei batê-la ao sair.

Seus pneus cantaram enquanto ele acelerava pela


estrada.

Como uma estátua protetora, Jace estava no mesmo


lugar onde o deixei. — Ele não colocou a mão em você, não é?

Balançando minha cabeça, esfreguei meus braços. —


Não, mas ele não estava feliz.

Ele se aproximou. — A culpa é minha. Mas não sinto


muito, Farrah. Ele não é certo para você. Sem mencionar que
é um idiota. Ouvi cada palavra que ele disse, e levou tudo de
mim para não entrar lá e detoná-lo. Você sabe quantas vezes
tive que me impedir de socar aquele cara desde o momento em
que o conheci?

Concordei. — Precisava dar um tempo no meu


relacionamento com Niles.

— Você está bem?

— Já faz algum tempo que não tenho certeza das coisas


com ele. Não acho que devo continuar a ter um relacionamento
se estou tão confusa. Ele chamar Nathan de perdedor foi a gota
d'água. Preciso ficar sozinha, não em um relacionamento, por
um tempo.

Jace soltou um suspiro de alívio. — Siga o seu instinto.

— Não sei se você ficou sabendo..., mas ele disse que ia


me pedir em casamento no Natal. Não estou pronta para isso.
Então, estou feliz que isso tenha acontecido, porque teria que
dizer não a ele. Isso teria sido um desastre, especialmente se
ele me pedisse em casamento na frente de sua família.

— Sim. — Jace rangeu os dentes. — Sabia sobre seu


plano de propor à você.

— Você sabia? Quando?

— Ele chamou Nathan de lado no Dia de Ação de Graças,


tentando convencê-lo a ir para a Carolina do Norte para que
você pudesse ir.
Isso me fez sentir um pouco triste por ele. — Sei que Niles
pode ser um idiota, mas tenho certeza de que está muito ferido
agora.

O olhar de Jace queimou em mim. — Não importa como


ele está se sentindo. Pense em você, Farrah. Você não deve
nada a ninguém – nem a mim, nem a Niles. Quando você
decide ficar com alguém, deve ser porque é isso que você quer.
Tudo que quero é que você seja feliz. Quero dizer isso com todo
o meu coração. Se ele te fizesse feliz, apoiaria você estar com
ele cem por cento, mesmo se eu quisesse matá-lo na metade
do tempo.

Minha troca com Niles havia esgotado qualquer energia


que me restava esta noite. Quando esfreguei minhas têmporas,
Jace interpretou isso como uma dica.

— Devo ir.

— Não. — Coloquei minha mão em seu braço. — Nathan


vai querer ver você quando ele voltar.

Ele colocou sua mão sobre a minha e apertou. — Posso


te pedir um favor?

— Ok...

— Você vai me deixar ser seu amigo? Prometo que não


vou cruzar nenhuma linha, a menos que você me implore. —
Ele piscou. — Mas, falando sério, só quero poder ver você.

Eu sorri. — Gostaria disso.


— Tenho saudades das nossas conversas à noite na
piscina velha. Sinto falta de tudo sobre aqueles dias.

Nathan interrompeu nosso momento ao entrar segurando


uma caixa de pizza.

— Tudo ainda é normal aqui? — Ele perguntou.

— Agora sim, — eu disse. — Mas você perdeu um grande


drama.

Ele colocou a caixa na mesa de centro. — O quê?

— Niles veio e teve um ataque quando me encontrou com


Jace. Ele me deu um ultimato e basicamente terminamos.

— Você está de brincadeira? — O rosto de Nathan se


iluminou como uma árvore de Natal. — Esta é, tipo, a melhor
notícia de todas. — Seu sorriso desapareceu. — Uh, me
desculpe, no entanto. Você está bem?

— Acho que é o melhor. — Suspirei. — Estou precisando


de um espaço dele há um tempo. — Inclinando minha cabeça,
eu disse: — Você sabia que ele ia me pedir em casamento,
hein?

— Sim. Não vou mentir. Estive pirando com isso.

— Não gosto de como ele tratou você, Nathan. Fechei os


olhos para isso por um longo tempo. Desculpe-me por ter feito
isso. No final das contas, ele nunca me fez feliz de verdade.

— Sinto muito, mana. E realmente quero dizer isso.


Jace deu um tapa nas costas de Nathan. — Escute, vou
deixar vocês dois em paz. Já causei problemas suficientes por
uma noite.

— Bom problema, entretanto, irmão. Bom problema. —


Nathan sorriu.

— Papai está esperando ansiosamente pelo meu retorno


de qualquer maneira. Tenho certeza de que ele está vivendo de
Pop Tarts e panquecas o tempo todo em que estive fora.

Ele me deu um sorriso caloroso e saiu pela porta.

Fui para a cama sentindo como se um peso tivesse sido


tirado. Só agora estava ansiosa com o que o amanhã traria.
Capítulo 24

Se quisesse ganhar a confiança de Farrah novamente,


precisava começar do zero. Três anos atrás, o sexo alimentou
nosso relacionamento pela primeira vez. Não tinha dúvidas de
que a atração intensa ainda estava lá, mas não conseguia
resolver isso. Se quisesse ganhar sua confiança, teria que me
abrir sobre as coisas difíceis tanto quanto gostaria que ela
fizesse o mesmo. A cada ano que passava, segurar tudo se
tornava mais tóxico para mim. Então, recentemente comecei a
ver um terapeuta pela primeira vez na minha vida. Era muito
cedo para dizer, mas esperava que ajudasse.

Farrah estava ocupada com a faculdade quando o


semestre chegou ao fim. Passei a maior parte do meu tempo
trabalhando na transição para minha nova função, chefiando
a Construção Muldoon, sob a tutela do meu pai. Planejava não
ver Farrah até o Natal, embora todas as noites fosse tentado a
mandar uma mensagem para ela com a música “No One's
Gonna Love You” do Band of Horses. Gostaria que ela
entendesse que ninguém jamais a amaria tanto quanto eu.
Yeah, estou fazendo um grande trabalho de lidar com essa coisa
de – vamos ser apenas amigos. Ainda assim, jurei lhe dar
espaço, mantendo toda essa merda dentro por enquanto.

Poucos dias antes do Natal, imagine minha surpresa


quando abri a porta uma tarde e encontrei uma linda morena
parada ali.

— Ei. — Minha boca se espalhou em um largo sorriso.

— Espero que esteja tudo bem eu vir.

Meu pai falou atrás de um jornal. — Confie em mim. Você


acabou melhorar o dia dele.

— Obrigado por me dedurar, meu velho.

— Oi, Farrah. — Papai acenou.

— Oi, Phil.

Sem que eu tivesse que perguntar, meu pai dobrou o


jornal e piscou antes de ir para o quarto para nos dar um
pouco de privacidade.

Ela entrou. — Só pensei em passar por aqui e ver como


você está.

— Estou feliz que você fez. Estava tentando dar-lhe


espaço depois do drama que aconteceu da última vez que
estivemos juntos, mas senti sua falta.

— Como vão as coisas com o trabalho? — Ela perguntou.


— Nathan me disse que você deixou seu emprego na Carolina
do Norte e está mergulhando de cabeça no negócio da
construção.

— Sim. Agora que tomei essa decisão formalmente, me


sinto bem com isso. E as coisas estão muito melhores em
Muldoon do que há três anos. Nenhuma confusão real para
lidar desta vez.

— Bom.

Abaixando minha voz, eu disse: — Realmente preciso


conseguir meu próprio lugar. Amo meu pai, mas sinto falta da
minha privacidade.

— Você está planejando comprar algo?

— Eventualmente. — Senti uma necessidade desesperada


de levá-la para algum lugar. — Quer sair daqui? Ir dar uma
volta? Trago-te de volta para o seu carro depois.

Ela demorou um pouco para responder. — Sim. Certo.

Sim. — Ok. Deixe-me pegar minhas chaves.

Acabamos indo para um lago que descobri recentemente.


Era cerca de meia hora de distância. Ia lá algumas vezes por
semana para clarear minha cabeça no meio do dia. Levei-a
para o meu local favorito sob uma árvore frondosa, com vista
para a água.

Farrah sentou-se no topo de uma rocha e olhou ao redor


para a linda paisagem. — Isso é muito bonito.
— Era o meu esconderijo secreto, já que não é mais tão
secreto.

— Obrigado por compartilhar isso comigo. — Ela respirou


fundo o ar fresco. — Vocês ainda virão para o Natal, certo?

— Se você ainda nos quiser.

Ela sorriu. — Nathan está contando com isso.

Levantei minha sobrancelha. — E você? Contando com


isso ou temendo isso?

Após uma breve demora que me deixou nervoso, ela


respondeu: — Quero você lá também.

Sorri.

Demoramos um pouco para curtir o silêncio, sem sons,


apenas o cantar dos pássaros e o farfalhar das folhas.

— Então... tenho trabalhado em mim mesmo


ultimamente, — anunciei. — Finalmente estou vendo um
terapeuta, o que sei que já deveria ter acontecido.

Ela pegou minha mão. Não percebi o quanto estava


morrendo de fome pelo contato até que me tocou.

— Isso é maravilhoso, Jace. Sabe, parei de ver o meu há


alguns anos, mas preciso voltar. Está achando bom?

— Até agora, sim. Só tive duas sessões. Mas começamos


com as coisas difíceis. Conversamos sobre como minha saída
da cidade três anos atrás não era sobre medo de Nathan ou de
magoá-lo. Foi minha própria culpa que me fez sentir que não
merecia você por causa da culpa que coloquei em mim mesmo.
Até que eu esteja disposto a enfrentar essas memórias e
encarar meu papel em tudo, não começarei a curar.

Ela soltou minha mão. — Por que você acha que é capaz
de enfrentar isso agora e não há três anos?

— Ironicamente, foi preciso perder um dos meus pais


para me fazer perceber que não tenho uma eternidade para
resolver tudo.

Meu terapeuta me encorajou a falar mais com Farrah


sobre algumas das coisas que eu estava guardando, memórias
específicas. Por mais difícil que fosse, decidi colocar isso em
prática.

Olhei para o céu. — Sua mãe estava segurando minha


mão naquele dia. Acho que em algum nível ela sentiu que
precisava me proteger do jeito que faria com seu próprio filho.
— Meus olhos se fecharam com força. — Foi nesses segundos,
segurando a mão dela, que decidi que precisava protegê-los. O
cara estava apontando a arma para seu pai, e contei até cinco
antes de avançar. A arma escorregou de sua mão, mas ele a
agarrou antes que eu pudesse... E foi aí que ele... — Não
consegui terminar a frase.

Com lágrimas nos olhos, ela pegou minha mão


novamente. — Está bem.
— Tenho que aceitar que posso ter causado o que
aconteceu. Mas quando tomei essa decisão, senti que ele
puxaria o gatilho. Não queria que sua mãe tivesse que
testemunhar isso. Não sei se seria diferente se eu não tivesse
pulado. Não sei se isso mudaria o resultado ou apenas as
circunstâncias. Mas manter tudo dentro, tentar bloqueá-lo, foi
tóxico. Quando você não lida com algo assim, ele cresce dentro
de você como um câncer. E, eventualmente, isso vai te matar.
A culpa e as emoções negativas podem matar você.

— Você está tão certo, — disse ela. — Passei a maior parte


da minha adolescência tentando me controlar, nunca
querendo mostrar minha dor ou sobrecarregar os outros com
ela. Mas a verdade é que, às vezes, até hoje, estou com tanta
raiva do mundo, só quero gritar.

Olhei em volta para o vasto lago. — Este parece um lugar


muito bom para fazer isso. Não há ninguém nas proximidades.
— Arqueei minha sobrancelha. — Vou gritar se você gritar.

— Você está falando sério?

— Estou. — Eu sorri. — Vou contar até três, ok?

— Ok. — Ela apertou minha mão.

— Um, dois, três...

Gritamos juntos com toda a força de nossos pulmões


como um casal de lunáticos, nossas vozes ecoando ao ar livre.
Pode ter parecido uma coisa louca de se fazer, mas foi lindo.
Estávamos nos deixando ir, juntos. Cada vez que parávamos,
um de nós fazia de novo. Provavelmente gritamos por três
minutos seguidos.

Quando finalmente paramos, uma calma indescritível


tomou conta de mim. Foi como imaginei que um piloto de
corrida sentia quando finalmente para o carro e sai. Senti a
mesma calma em Farrah quando voltamos a ficar sentados em
silêncio, olhando para o lago.

Cerca de cinco minutos depois, nossa paz foi


interrompida quando um carro da polícia parou na estrada de
cascalho atrás de nós. O policial saiu e se dirigiu para nós. Nós
dois nos levantamos. Farrah tirou um pouco de grama de sua
bunda.

— Está tudo bem, oficial? — Perguntei.

Ele ignorou minha pergunta e foi direto para Farrah. —


Você está bem, senhora? Alguém relatou gritos vindos desta
área. Foi você?

Acho que este lago não era tão privado quanto pensava.

A véspera de Natal com Farrah e Nathan foi discreta e


exatamente o que o médico receitou. Recusei-me a deixar
Farrah suportar o peso de toda a preparação da comida desta
vez, então insisti em cuidar de tudo. Fiz um pedido de um
jantar de presunto inteiro com todos os ingredientes da Regina.
Papai e eu pegamos a comida no caminho para a casa deles.

Tivemos uma refeição agradável, sem drama. Farrah e eu


nos divertimos muito contando a papai a história de como
quase fomos presos por causar um distúrbio público no lago.
A melhor parte da noite? Quando Farrah anunciou que
oficialmente fechou a porta para qualquer reconciliação com
Niles. Ela se encontrou com ele para trocar alguns itens e
deixou claro que as coisas estavam acabadas entre eles para
sempre. Essa notícia foi o melhor presente de Natal maldito.
Mesmo que ela nunca quisesse ficar comigo novamente, pelo
menos eu sabia que aquele idiota não seria o único a tê-la. Ela
merecia muito melhor.

A única coisa que me impediu de relaxar totalmente esta


noite foi a necessidade constante de lhe dizer como me sentia.
Foi como o Dia de Ação de Graças de novo, mas dez vezes pior.
Eu ainda não sabia se ela algum dia estaria pronta para me
dar outra chance. Ela preferia me manter na zona de amizade
para sempre e não correr o risco de se machucar novamente?
Ela tinha acabado de sair de um relacionamento, então não
era exatamente o momento ideal para começar qualquer coisa
com outra pessoa. A incerteza de tudo isso me deixou inquieto
e incapaz de aproveitar totalmente a noite. Precisava liberar
esses sentimentos, mas não queria ouvi-la me dizer que nunca
haveria outra chance para nós. Portanto, manter meu coração
para mim mesmo por agora parecia a coisa mais segura.
Depois do jantar, fomos todos para a sala para assistir a
It's a Wonderful Life. Meus pais sempre insistiram em exibir
aquele filme todo Natal. Este ano foi ainda mais importante
manter essa tradição, porque significava muito para minha
mãe.

Papai se sentou na ponta do sofá, eu estava no meio e


Farrah estava do outro lado. Lembrei-me um pouco de nossos
jogos de perna no passado, mas não fiz nenhum movimento.
No meio do filme, porém, algo incrível aconteceu: Farrah
apoiou a cabeça no meu ombro. Pode ter sido uma coisa
casual, mas para mim, foi um sinal de conforto e confiança.
Isso era um grande negócio, significava tudo. Ainda assim, me
avisei para não tomar isso como um sinal de insistir querendo
mais. Decidi aproveitar sem tentar descobrir o que significava
para o futuro. Inclinando minha cabeça na dela, respirei fundo
seu perfume.

Assim que o filme acabou, papai parecia ansioso para ir,


embora eu não estivesse nem perto de estar pronto para partir.

Meu pai vestiu o paletó.

— Farrah e Nathan, foi um prazer, mas este velho precisa


de seu descanso de beleza.

— Obrigado por esta noite, — disse, puxando Farrah para


um abraço e saboreando cada segundo de seus seios macios
pressionados contra meu peito. Sentir seu coração bater
contra o meu foi um bônus. — Esta foi a melhor véspera de
Natal que poderíamos ter esperado.
Inclinei-me para beijar sua bochecha e notei a mudança
na cor de sua pele. Ela ainda reagia tão fortemente a mim
fisicamente como sempre. No entanto, sabia que não poderia
agir sobre isso.

— Tenha cuidado ao dirigir. — Disse ela.

— Bons sonhos, linda. — Sussurrei em seu ouvido.

Papai e eu nos despedimos de Nathan com um abraço e


seguimos alegremente para casa.

Mais tarde naquela noite, de volta à casa, papai


recuperou o fôlego e se recusou a ir para a cama ainda. Em vez
disso, decidiu fazer um chá e me confrontar sobre meus
sentimentos por Farrah.

Ele embebeu seu saquinho de chá. — Agora que o


namorado estúpido dela está fora de cena, quando você vai se
concentrar na matança?

— Não é assim que funciona, pai. Quebrei o coração dela.


Não posso simplesmente me mover na primeira chance que
tenho. Ainda não ganhei a confiança dela de volta. Para ser
honesto, isso pode nunca acontecer.

Meu pai tomou um gole de chá. — Ainda estou perplexo


com algumas coisas quando se trata de você e ela.

Sentei-me em frente a ele. — O que você não entende?

— Por que você estava com tanto medo de Nathan três


anos atrás? Por que você o deixou expulsar você da cidade?
Eu nunca disse a papai o que realmente aconteceu no dia
em que o Sr. e a Sra. Spade foram mortos. Meus pais sabiam
que eu estava com eles e que tinha escapado de uma lesão,
mas isso era tudo. A véspera de Natal pode não ter sido o
momento oportuno para confessar tudo ao meu pai, mas ele
abriu a porta para essa conversa. Meu pulso acelerou.

Nos minutos seguintes, contei tudo a ele, desde os gritos


da mãe de Farrah até a maneira como ataquei o agressor. Pela
primeira vez, chorei por causa disso, algo que sempre consegui
me impedir de fazer. Acho que todo mundo tem seu ponto de
ruptura.

Compreensivelmente, meu pai ficou em estado de choque.

— Filho, sinto muito. Não acredito que nunca soube que


você estava sofrendo com isso. Por que você achou que não
poderia me dizer?

— Acho que nunca quis que você ou mamãe carregassem


a culpa que carreguei. Não teria ajudado ou mudado nada se
você soubesse.

— Teríamos alegremente carregado parte do fardo e


poderíamos ter ajudado a ver a situação com mais clareza. Eu
teria feito tudo ao meu alcance para convencê-lo de que fazer
o que você acha que é certo é sempre a melhor decisão, mesmo
que o resultado não seja a seu favor. As mortes deles não foram
sua culpa, Jace. Você era uma criança. Você seguiu seu
instinto e suas ações foram bem-intencionadas. Sinto muito
que você tenha passado por isso, mas agora eu certamente
entendo melhor por que ficou longe todos esses anos.

— Não vou mais fugir, pai. Perder a mãe me ajudou a


perceber que não tenho uma eternidade para lidar com meus
demônios. Então, estou aqui enfrentando-os de frente. Eu só
queria não estar perdidamente apaixonado por alguém que
ainda me sinto culpado por magoar.

— Farrah não te culpa. Nathan não te culpa por nada


mais. Parece que a coisa mais difícil é aprender a não se
culpar. O perdão a si mesmo é o tipo mais difícil. Mas se você
pode gerenciar isso, filho, você pode gerenciar qualquer coisa.

— Estou tentando... — hesitei.

— E estou feliz que você esteja procurando ajuda, — ele


acrescentou.

— Eu também. Conversar com minha terapeuta me


ajudou a lembrar de algo. Mas não contei a Farrah ou Nathan.

— O que é isso?

— Senhor Spade não desistiria do dinheiro naquele dia.


Não tenho ideia do porquê. Elizabeth estava implorando para
ele. Eu também. Mas ele não entregou. Era como se ele
achasse que o cara não faria nada. Eu sabia melhor, por isso
tentei pegar a arma. Pergunto-me agora se a coisa toda poderia
ter sido evitada se ele apenas tivesse dado ao cara o maldito
dinheiro.
— Absolutamente. — Meu pai soprou um pouco de ar. —
Isso é inacreditável.

— Mas não acho que poderia mencionar isso a eles.

Ele assentiu. — Você não quer que eles pensem mal de


seu pai.

— Sim. Qual é o ponto? Quem sabe o que ele estava


pensando, e isso só vai fazê-los se sentirem pior. Não quero
isso.

— Concordo. E estou orgulhoso de você. Agora que


conheço toda a história, percebo o quanto você escondeu de
nós ao longo dos anos. Por favor, não hesite em falar comigo
se precisar. Sei que não sou perfeito, mas você é minha maior
conquista. Sua mãe teria se sentido péssima por você segurar
isso por tanto tempo. Tenho certeza de que ela está olhando
para você agora mesmo, sentindo-se tão orgulhosa de você
quanto eu.

— Obrigado, pai.

Depois que meu pai foi para o quarto, fiquei surpreso ao


descobrir que perdi uma mensagem de Farrah cerca de meia
hora atrás.

Farrah: Alguma chance de você voltar aqui esta noite?

Digo o quê?

Meu coração ganhou vida.


Claro que sim.

Digitei o mais rápido possível.

Jace: Desculpe-me por ter perdido sua mensagem. Eu


estava no meio de uma longa conversa com papai. Finalmente
contei tudo a ele... sobre o que aconteceu há uma década.

Farrah: Oh meu Deus. Uau. Por que esta noite?

Jace: O velho não iria dormir. Então começou a bisbilhotar


sobre você e eu. Antes que eu percebesse, estava chorando e
falando sobre o passado.

Farrah: Lamento que você tenha chorado..., mas é bom


soltar. Estou feliz que você contou.

Jace: Então, de volta à sua pergunta original.

Farrah: Não importa. Foi impulsivo. Sei que é tarde.

Jace: Hum, a resposta é ‘porra, sim’. Nunca é tarde para


te ver. Posso chegar aí em vinte minutos. Nathan está dormindo?

Farrah: Sim.

Jace: Esse é um bom lugar para ele.

Farrah: LOL. Não que eu me importe mais com o que ele


pensa, mas me envie uma mensagem quando você chegar aqui
e deixarei você entrar. Prefiro que ele continue dormindo.

Jace: Estarei aí logo.


Meu pai finalmente estava roncando, então deixei um
bilhete explicando aonde eu tinha ido, caso ele se levantasse e
não me encontrasse. Só podia imaginar os comentários
espertos que ele faria amanhã. Ele ficaria feliz por mim.

A viagem de volta a casa de Farrah pareceu durar uma


eternidade.

Quando finalmente estacionei em frente à casa dela,


mandei uma mensagem.

Jace: Aqui.

Sentindo como se estivesse andando no ar, caminhei até


a porta e esperei.

Alguns minutos depois, ela abriu e colocou o dedo


indicador sobre a boca.

Meu coração batia forte enquanto Farrah liderava o


caminho.

Uma vez dentro do quarto, percebi que ela estava


inquieta. Pegando sua mão, incitei-a a se sentar ao meu lado
na cama.

— E aí, linda? Pensei que este era uma chamada para


sexo, mas você parece muito nervosa para isso.

— Estou nervosa...

— Não fique nervosa. Fale comigo.


— Quando você saiu, foi uma tortura porque tudo que
queria era estar perto de você esta noite. Isso me assusta um
pouco.

— Não tenha medo de me dizer o que você quer, Farrah.


Porque é definitivamente a mesma coisa que eu quero.

— Não chamei você aqui para conversar. Mas me sinto


estranha dizendo isso... pedindo por isso.

Meu pau subiu em atenção.

— Deixe-me tentar decifrar o que você quer transmitir,


então – para que você não precise dizer nada. Posso?

— Sim. — Ela sorriu. — Gostaria disso.

— Ok, então... aqui está o que está acontecendo. —


Respirei fundo. — Você me quer. Mas você não quer me dar
uma ideia errada... porque, compreensivelmente, ainda não
ganhei sua confiança de volta. Você ainda não tem certeza de
que me deixar entrar é a coisa certa. Mas quando você está
perto de mim, seu corpo se lembra. Lembra-se que pertence a
mim. Você me quer dentro de você, mesmo que sua mente diga
o contrário. Você pode sentir o quanto te quero também. E isso
só piora as coisas. Estou certo?

Farrah lambeu os lábios e assentiu. — Sim.

— E você me chamou aqui esta noite porque você quer


que eu te foda como eu costumava fazer, sem tirar nenhuma
conclusão sobre o que tudo isso significa. Você quer uma foda
pura, desenfreada e crua, sem palavras. Você só quer se perder
em mim sem se preocupar pelo menos uma vez.

Ela fechou os olhos e respirou: — Sim.

— Posso fazer isso, Farrah. Posso então fazer isso por


tanto tempo quanto você precisa que eu faça. Só quero fazer
você se sentir bem. Dane-se colocar uma etiqueta nisso. Nunca
precisamos rotulá-lo se você não quiser.

Seu peito arfou. — Temos que ficar quietos. Não que eu


esteja me escondendo de Nathan, mas prefiro que ele não
acorde e encontre você aqui.

— Quero dizer, ultimamente, somos mais conhecidos por


nossos gritos. — Pisquei. — Mas eu posso ficar quieto, você
pode?

Ela não teve chance de responder a essa pergunta porque


antes que pudesse dizer qualquer coisa, minha boca estava na
dela. O calor de sua respiração e seu gosto familiar eram meu
paraíso pessoal.

Falei sobre os lábios dela. — Esqueça todas as razões


pelas quais esta é uma má ideia. Apenas fique comigo. Relaxe
seu corpo e deixe-me fazer o trabalho.

Ela caiu de costas na cama, e eu pairava sobre ela,


espalhando seus joelhos.

— Oh meu Deus, — ela murmurou quando abaixei minha


boca e enterrei meu rosto em sua boceta.
Ela estremeceu de prazer, puxando meu cabelo. — Sim.
— Ela respirou. — Sua boca é tão boa. Eu tinha esquecido
como isso é incrível.

— Você não sabe de nada ainda. — Disse enquanto


passava minha língua ao longo de seu clitóris.

Movendo-me para trás, circulei meu polegar por sua


excitação antes de deslizar meus dedos dentro dela. Ela soltou
um som que beirou muito alto. Gemi antes de tomar seu
delicioso monte em minha boca novamente, saboreando cada
pedacinho de seu sabor.

— Senti tanto a falta disso, — sussurrei sobre sua carne


tenra.

Ela enfiou os dedos pelo meu cabelo e puxou para guiar


meus movimentos.

Enfiei minha língua mais profundamente dentro dela,


empurrando para dentro e para fora enquanto ela se movia sob
mim.

— Diga-me o que você quer, baby.

Farrah empurrou seus quadris. — Quero você dentro de


mim.

Beijando meu caminho até sua boca, estava morrendo de


vontade de sentir sua boceta molhada em volta do meu pau.
Beijamo-nos freneticamente enquanto eu abria o zíper da
minha calça e a tirava. Afastei suas pernas antes de afundar
nela, maravilhado com o quão apertada ela estava.

— Droga, esqueci como isso era bom também, — ela


ofegou.

Disse a mim mesmo que iria devagar, fazer amor com ela,
mas aparentemente isso era impossível. Lento e fácil não
durou muito. Eu não aguentava mais, acelerando minhas
estocadas. Tentei regular minha respiração para não gozar,
precisando prolongar isso. Não foi uma tarefa fácil, porque
fazia muito tempo e ela estava muito molhada. A fodi mais forte
enquanto ela cravava suas unhas em minha bunda, a fricção
de sua boceta apertada quase me desfazendo com cada
impulso.

Mais cedo, pensei que talvez ela não estivesse pronta para
isso, mas a maneira como ela agarrou meu corpo, me
incentivando a ir mais rápido, mais forte, mais fundo, tirou
qualquer dúvida.

Fechando meus olhos, silenciosamente agradeci a Deus


por me permitir a oportunidade de estar dentro da mulher que
eu amava novamente. Nunca daria isso como certo, nunca iria
machucá-la novamente. A única parte difícil seria convencê-la
disso.

Em um ponto, ela soltou um suspiro alto, me levando a


cobrir sua boca para que ela não acordasse Nathan. Seus
músculos se contraíram em torno de mim e me soltei também,
esvaziando meu esperma dentro dela.

Deitamos juntos em felicidade saciada enquanto eu


beijava suavemente seu rosto.

— Eu menti, — sussurrei.

— Sobre o quê?

— Sobre isso não significar nada. Significa tudo para


mim, Farrah. E você também. Eu te amo pra caralho, e nunca
deixei de te amar. — Ela ficou quieta enquanto eu continuava.
— Quando você me disse que me amava há três anos, você me
disse para não dizer isso em troca. Você não queria que eu me
sentisse obrigado. Eu te amei tanto então, e te amo ainda mais
hoje. Mas você não me deve essas três palavras ou qualquer
validação agora. A única coisa que quero é que você me deixe
mostrar todos os dias por meio de minhas ações o quanto eu
te amo. Deixe-me compensar o tempo que perdemos.

Ela não disse nada em resposta, mas seus olhos se


encheram de lágrimas. E isso foi bom o suficiente para mim.

Ela acordou e me encontrou olhando para ela. Acordei


cedo e não consegui voltar a dormir.
— O que você está olhando? — Ela brincou.

— Só de pensar na sorte que tenho de estar aqui com você


na manhã de Natal. É o melhor presente que poderia ter
pedido.

Seus dedos delicados traçaram a barba por fazer em meu


queixo. — Você precisa voltar para o seu pai?

— Não estou com pressa. Tenho certeza de que ele ficará


emocionado quando acordar e perceber para onde fui. Deixei
um bilhete para ele. — Beijei sua testa. — Você quer que eu
saia antes que Nathan acorde?

Ela colocou a mão em volta da minha cintura e me puxou


para perto. — Não. Quero você aqui.

— Bom. Porque não estou pronto para deixá-la. — Beijei-


a com firmeza nos lábios. — Deixe-me lidar com qualquer
constrangimento com Nathan esta manhã. Ok? Não quero que
você se estresse.

— Terei prazer em deixar você lidar com isso. — Ela riu.

Ficamos deitados juntos por mais meia hora até que nos
forçamos a levantar e nos vestir. Eu podia ouvir Nathan
mexendo-se na cozinha.

— Está pronta? — Estendi minha mão. — Aqui vamos


nós…

— Sim. — Ela enroscou seus dedos nos meus e suspirou.


Nathan estava no balcão servindo uma xícara de café
quando saímos juntos do quarto de Farrah.

Seus olhos se arregalaram. — Oh... tudo bem então. —


Ele deu uma risadinha.

— Bom dia. — Eu disse.

Seus olhos foram dos de Farrah para os meus. — Dia…

Farrah ficou quieta enquanto se servia de um pouco de


água. Ela se atrapalhou com as canecas, definitivamente
nervosa, mesmo que o medo não fosse mais como costumava
ser.

Nathan puxou uma cadeira e se sentou. — Eu, uh, não


sabia que você tinha voltado aqui ontem à noite. — Ele tomou
um gole de seu café.

Concordei. — Voltei. Sua irmã me queria aqui. — Puxei


uma cadeira em frente a ele, olhei-o nos olhos e fui direto ao
ponto. — Eu a amo muito. Nunca deixei de amá-la. — Fiz uma
pausa para olhar para Farrah, que parou para escutar. — E
não vou embora desta vez, Nathan. Na verdade, nunca mais
quero passar outra noite longe dela. Visto que moro com meu
pai no momento, isso significa que você vai ver muito da minha
bunda por aqui até eu conseguir minha própria casa. Eu
perguntaria se você concordaria com isso, mas, honestamente,
não importa. Não vou cometer o mesmo erro duas vezes. Não
dou a mínima para o que você ou qualquer um pensa mais. Só
me importo com ela. Se você tiver alguma dúvida, pode me
avisar.

Nathan assentiu várias vezes. — Tenho uma pergunta.

Eu apertei minha mandíbula. — Ok...

Ele deu uma risadinha. — O que você vai fazer para o café
da manhã?
Capítulo 25

Seis meses depois do Natal, mantive minha promessa –


passei todas as noites com Farrah. Essa foi a única constante,
apesar de muitas outras coisas que mudaram.

Fiz a transição total para o meu papel como chefe da


Construção Muldoon, com meu pai ocupando um lugar
secundário na empresa. Se o tivesse encorajado a vender, ele
provavelmente teria me ouvido, mas no fundo, eu queria isso.
Continuar com o legado de meu pai foi algo de que sempre me
orgulharia, e dirigir os negócios da família ajudou a me
estabelecer aqui – não que eu precisasse de um motivo para
ficar em Palm Creek. Farrah sempre estaria aqui. Mas agora
que eu sabia que voltei para ficar, era hora de construir raízes.
Isso significava ter um lugar onde Farrah e eu pudéssemos ter
verdadeira privacidade, um lugar só nosso. Tomei uma decisão
com a qual esperava que ela não ficasse chateada. Enquanto
caminhamos pela rua onde Farrah cresceu, estava prestes a
descobrir.

— Por que estamos no meu antigo bairro?


— Traz de volta memórias, não é?

Um minuto depois, estacionei minha caminhonete em


uma casa diagonalmente em frente à casa onde Farrah e
Nathan cresceram.

Farrah torceu o nariz. — Por que estamos visitando o


Velho Dickie?

Dick Lombardi “Velho Dickie” não morava mais aqui, mas


aparentemente Farrah não sabia disso. Dickie era um
mesquinho que costumava gritar comigo e com Nathan por
várias coisas quando éramos mais jovens. Quer estivéssemos
passando rápido demais em nossos skates ou cutucando sua
casa, demos a Dickie muitos motivos para não gostar de nós.
Ele era mau mesmo quando não provocado, mas nós
definitivamente merecíamos um pouco de sua ira.

— Esta não é mais a casa de Dickie, — anunciei.

— Ele faleceu?

— Sim.

— Ah não. Isso é triste. Por mais que ele fosse idiota, me


sinto mal pelos filhos dele.

— Eu realmente conheço o filho dele, Major. Ele é um


cliente.

— Ele mora aqui agora? Vamos visitá-lo?


Destranquei as portas do carro. — Vamos dar uma olhada
por dentro.

Farrah me seguiu para fora da caminhonete e usei minha


chave para entrar.

A casa de Dickie foi totalmente refeita. Os tapetes antigos


tinham sido rasgados para revelar a linda madeira embaixo. A
cozinha tinha sido destruída e novos armários instalados sobre
as bancadas brancas de Corian. Basicamente, a casa de Dickie
era apenas a casca, e tudo dentro era novinho em folha.

Farrah vagou pelo lugar com espanto. — Não se parece


nada com o que eu teria imaginado.

— Depois que ele faleceu, o Major refez tudo antes de


colocar este lugar no mercado.

— Oh meu Deus. Eu amo isso.

— Bom. Porque... é meu. — Eu sorri. — Bem, espero que


seja nosso algum dia.

Sua boca estava aberta. — Você comprou este lugar?


Como você poderia pagar? As casas neste bairro não são
baratas.

— Economizei muito nos últimos cinco anos, e Muldoon


está indo muito bem agora. Então, me dei um aumento.

Farrah passou a mão ao longo da seção bege da sala de


estar. — Não posso acreditar que isso é tudo seu. — Ela foi até
a janela. — Posso ver minha antiga casa daqui.
— Eu sei. É por isso que escolhi este lugar. Embora
tenhamos tentado esquecer certas coisas, há muito mais que
prefiro lembrar neste bairro. — Parado atrás dela na janela,
passei meus braços em volta de sua cintura e descansei meu
queixo em sua cabeça. — Há muito tempo, você me disse que
um de seus maiores desejos era recuperar a paz que tinha
antes de seus pais morrerem. Quero criar essa vida idílica com
você novamente, um dia de cada vez.

Ela se virou para me encarar. — Eu deveria morar com


você?

Eu ri. — Bem, eu não tinha ido tão longe. Não queria jogar
isso em você e colocá-la em uma posição em que você sentisse
que tinha que dizer sim. Claro, quero você aqui comigo, mas
não tem que ser hoje. Por enquanto, este pode ser o nosso
santuário, um lugar onde podemos finalmente ficar sozinhos,
sem ninguém respirando em nosso pescoço. Um dia desses,
quando você estiver confortável, eu acho... talvez você
simplesmente não vá embora.

Farrah moveu a cabeça para frente e para trás. — Não


consigo acreditar.

Sentindo-me uma criança tonta, peguei sua mão. —


Vamos. Nem te mostrei a melhor parte.

A única coisa que Dickie nunca teve foi uma piscina. Eu


não compraria uma casa sem uma, então, nos últimos dois
meses, eu tinha instalado uma.
A boca de Farrah caiu quando ela viu a piscina coberta
com tela.

— Isso se parece com a que Nathan e eu tínhamos...

— Eu sei. É por isso que o projetei assim. A piscina é


totalmente nova. É a única coisa que não veio com a casa.

Radiante, Farrah caminhou ao redor do perímetro. De


repente, ela levantou o vestido sobre a cabeça e saltou,
causando um dilúvio de água em mim. Que diabos? Arranquei
minha camisa e tirei minhas calças antes de pular atrás dela.
Passamos os próximos minutos brincando na água como
costumávamos fazer. Este seria meu novo lugar feliz.

Quando finalmente saímos da piscina, Farrah espremeu


a água de seu cabelo. — Eu definitivamente posso me
acostumar com isso.

Corri para dentro para pegar um par de toalhas.

Depois que voltei, entreguei uma a ela. — Talvez se


Nathan for bom, nós o convidemos para um churrasco. Papai
também. A beleza é que podemos escolher quem vem aqui e
quando – ninguém mais vai se intrometer em nosso espaço.

Farrah enrolou a toalha na cintura. — Honestamente, é a


primeira vez na minha vida que tenho privacidade.

— Podemos foder tão alto quanto quisermos. Fazer o que


quisermos. Fazer Dickie rolar em seu túmulo.
— Aquele velho sujo provavelmente vai gostar de nos
assistir. — Ela deu uma risadinha.

— O fantasma de Dickie...

Ela suspirou e olhou para a piscina. — Isso vai parecer


um comentário estranho depois de toda essa conversa sobre a
nossa nova toca de foda, mas sinto que meus pais estão
conosco agora. E sua mãe também. Eles estão abençoando
esta casa.

Eu esperava que fosse verdade, mas ainda me perguntei


se teria a aprovação dos pais de Farrah. Mas isso não importa.
Apesar da minha dúvida persistente, não deixo mais a culpa
governar minha vida.

A menção de Farrah aos nossos pais me lembrou que


havia outra coisa que ela ainda não tinha visto.

— Vista-se. Não te mostrei os quartos.

No caminho para dentro, parei no corredor para mostrar


a ela uma foto que eu tinha emoldurado na parede.

Era a única foto que eu conhecia que tinha Farrah,


Nathan e nossos pais juntos. Foi tirada no dia em que Nathan
e eu terminamos o ensino médio.

— Uau. — Ela sussurrou enquanto traçava o dedo ao


longo da moldura. — Aquele foi, tipo, o dia mais triste da
minha vida, porque eu sabia que você iria para a faculdade em
breve.
— Desligar não foi fácil para mim. Faz parte da minha
terapia. Quanto mais paro para olhar, mais vejo apenas a
felicidade daquele dia, ao invés da tristeza de dois anos depois.

— Nunca vi essa foto antes. — Farrah continuou olhando


para ela. — Eu amo isso. Obrigada por enquadrá-la.

Envolvendo meu braço em torno dela, apertei seu lado. —


Deixe-me mostrar os quartos...

— Existe um motivo por trás disso?

Beijando o topo de sua cabeça, eu disse: — Só se você


quiser que haja.

Mostrei a ela o principal primeiro, que tinha um banheiro


anexo. Os outros dois quartos eram menores. Transformei um
em uma suíte de hóspedes e a outra em algo que esperava que
ela amasse.

Seus olhos se arregalaram quando deu uma olhada


dentro da sala final.

Duas esteiras de ioga estavam no meio do chão. Coloquei


plantas e velas estrategicamente ao redor do espaço, junto com
alguns espelhos de parede e decorações boêmias penduradas.

— Este é o seu oásis particular, sala de ioga e qualquer


coisa que você quiser.

Ela cobriu a boca. — Isso é incrível. Como você juntou


tudo isso?
— Literalmente rasguei uma página de uma revista sobre
como projetar um espaço de ioga e copiei.

— Vou usar tudo desta sala! — Ela estendeu a mão e deu


um longo beijo em meus lábios. — Sério, esta é a coisa mais
atenciosa que alguém já fez por mim.

Levantei-a no ar. — Talvez possamos tentar aquela ioga


da coluna novamente juntos – o tipo que você me fez fazer uma
vez. Como se chamava?

— Kundalini. — Ela riu.

— Não. Acho que não foi isso. Acho que foi... cunilíngua,
não foi?

Ela cobriu o rosto. — Fiquei tão mortificada naquele dia.

— Eu amei. E amei você em suas calças de ioga quentes


também – um pouco demais. Não deveria estar sentindo assim
então. Foi por isso que tive que fugir para o banheiro, se é que
você me entende.

Ela gargalhou. — De jeito nenhum! Eu lembro disso.


Pensei que você realmente tinha que ir.

— Não. Não consegui conter minha empolgação. — Puxei-


a para perto. — Enfim... prefiro cunnilingus yoga.

— Você construiu um lugar especial para o seu próprio


prazer, não é? — Ela piscou.
— Não consigo pensar em um uso melhor para esta sala
do que dar prazer à minha linda vagina vibrante.

Farrah enterrou o rosto no meu peito. — Não acredito que


você se lembrou disso.

— Como eu poderia esquecer?

Farrah olhou para mim. — A propósito, não vibra mais.

— Dê-me cinco minutos para mudar isso.

Ela abaixou a mão, segurou meu pau e riu em meus


lábios. — As coisas estão definitivamente melhorando.
Epílogo

Jace e eu estávamos indo para casa depois do jantar uma


noite quando ele me surpreendeu ao entrar no estacionamento
do The Iguana.

Bem, isso é uma explosão do passado. — O que você está


fazendo aqui?

Ele estacionou a caminhonete. — Você não vem aqui há


anos, certo?

— Sim. Faz uma eternidade.

— Bem, liguei e verifiquei, e hoje é Abra seu coração. Não


posso acreditar que eles ainda fazem isso. Pensei que talvez
devêssemos dar uma olhada.

Sorrindo, tirei meu cinto de segurança e o segui para fora


da caminhonete.

Era a primavera do meu primeiro ano na faculdade. Esta


semana foi estressante, trabalhando em aplicações para
faculdades de direito. Eu mal podia esperar para relaxar e
tomar alguns drinques em meu antigo refúgio.
Uma onda de nostalgia me atingiu no momento em que
entramos no The Iguana. Até o cheiro era familiar – álcool
misturado com vários perfumes e suor.

Encontramos uma mesa, e Jace foi ao bar pegar um


mojito para mim e uma cerveja para ele.

Quando ele voltou, sentamos de frente para o palco.


Quando as confissões começaram, isso trouxe de volta todos
os meus sentimentos desde o momento em que coloquei meus
medos de lado e subi no palco. As confissões desta noite foram
repletas de emoção – de uma garota que não tinha contado a
sua família que ainda estava grávida a um homem que admitiu
ter roubado a calcinha de sua colega de quarto. Por mais que
eu gostasse de ouvir, alguns deles serviram como um lembrete
de como eu era sortuda por ter um relacionamento estável e
saudável.

Cerca de seis meses depois que Jace me mostrou sua


nova casa pela primeira vez, fui morar com ele. Estávamos
morando juntos há mais de um ano. No começo, eu estava
hesitante em deixar Nathan, mas acabou sendo a melhor
decisão, não apenas para mim, mas para ele. Morar sozinho
realmente pressionou meu irmão a se colocar lá fora e começar
a namorar novamente. Quem sabia o que Nathan precisava o
tempo todo era viver separado de mim?

Vi Jace acenar para um homem no canto.

— Quem é aquele?
— Ninguém.

Jace estava balançando as pernas para cima e para baixo


e se mexendo muito esta noite. Parecia tenso.

Ele de repente se levantou.

— Onde você está indo?

— Sou o último a falar. — Ele piscou.

O quê?

O que ele está fazendo?

Uma vez no palco, Jace ajustou o microfone para sua


altura. Algumas mulheres protestaram.

Seriamente?

Ele bateu no microfone algumas vezes. — Oi, sou Jace.

— Oi, Jace, — o público disse todos juntos.

Cobri minha boca.

— Estou aqui neste palco confessando esta noite...


porque tive a audácia de seduzir a irmã mais nova do meu
melhor amigo.

Uma mistura de aplausos, vivas e assobios soou. Meu


rosto estava quente.

— Parece um caso simples, certo? — Ele olhou para mim.


— Mas a história está longe de ser simples.
Tive arrepios enquanto continuava a observá-lo.

— Farrah era seis anos mais nova que seu irmão, Nathan,
e eu. Quando todos são jovens, essa é uma grande diferença
de idade. Mas ela era uma daquelas crianças com uma velha
alma. Você olharia em seus olhos e veria compaixão e
compreensão muito além de sua idade. Eu sabia sobre sua
pequena paixão pré-adolescente por mim. Achei fofo. — Ele
deu uma risadinha. — Quando fui para a faculdade, ela ainda
era uma criança. Foi o fim de tudo.

Ele fez uma pausa enquanto o público esperava com a


respiração suspensa.

— Então, vamos apenas dizer que algo realmente doloroso


aconteceu e me manteve longe de casa por vários anos.
Durante esse tempo, Farrah perdeu seus pais e eu estava
apenas... perdido. Quando voltei para casa, em Palm Creek,
sete anos depois, aquela doce menininha havia crescido. Aos
21 anos, Farrah estava mais bonita do que nunca. Acabei indo
morar com ela e seu irmão para ajudá-los a pagar o aluguel.
— Ele fez uma pausa. — Aposto que você pode ver onde isso
vai dar?

Olhei em volta enquanto o público ria.

— A atração sexual é uma merda, não é? Tem uma


maneira de agarrar você pelas bolas e não soltar até você ceder.
Resistir à atração por alguém por quem você não só está
atraído, mas que faz você se sentir bem por dentro, alguém
com quem você pode se relacionar... bem, não é fácil. E falhei
miseravelmente. Cedi à tentação e fui pelas costas do meu
amigo. Foi o sexo mais quente da minha vida, aliás, e valeu a
pena cada segundo do risco que corremos.

Meu rosto ficou vermelho enquanto a multidão reagiu


com grande entusiasmo.

— No início, ela e eu dissemos a nós mesmos que não nos


apegaríamos. Você acha que correu bem?

Todo mundo caiu na gargalhada.

— Sim. Isso é quase certo, — ele continuou. — Não


conseguíamos parar de nos ver porque éramos viciados. — Ele
exalou no microfone. — Vou encurtar uma história muito longa
e complicada. Nathan nos pegou e surtou. A merda caiu. E de
alguma forma me convenci de que ela estaria melhor sem mim.
Então, saí da cidade e não a vi por mais três anos.

Quando algumas pessoas ficaram boquiabertas, percebi


como nossa história parecia maluca. Mas também percebi que
passamos por muita coisa juntos.

Os olhos de Jace encontraram os meus. — Não passava


um dia sem que eu pensasse nela. Você pode expulsar alguém
da cidade, mas não pode dizer a quem ele deve amar. Lancei-
me em um relacionamento sem sentido com outra pessoa para
me ajudar a esquecer. Quando fui forçado a voltar para casa
no final daqueles três anos, muita coisa havia mudado. Farrah
mal conseguia olhar para mim. Eu não poderia culpá-la. Ela
perdeu a faísca que eu lembrava. Eu sabia que fui eu quem
tirou isso dela. Nathan já havia me perdoado a essa altura, o
que era inesperado. Nunca pensei que a pessoa que mais me
magoou seria aquela que me ensinaria sobre o perdão. Mas a
pessoa mais difícil de perdoar é sempre você mesmo. Levei
algum tempo. Assim que você puder fazer isso, tudo se tornará
possível.

Jace fez uma pausa. — Então, qual é a moral de tudo


isso? É que às vezes histórias sórdidas... tornam-se histórias
de amor. Você pode ter tudo trabalhando contra você e, no
final, ainda funciona porque era para ser. O amor não é uma
escolha. Não deixe ninguém dizer que você não deve amar
alguém. Às vezes, a voz negativa que você deve ignorar é a sua
própria.

Algumas pessoas aplaudiram, e pensei que era isso, até


que ele disse mais uma coisa.

— Na verdade, nunca me levantei na frente de um público


na minha vida. Esse bar sempre foi um dos lugares favoritos
de Farrah. Ela não volta aqui há anos, mas ela está sentada
bem ali na plateia, me assistindo esta noite. — Ele apontou
enquanto todos os olhos pareciam se voltar em minha direção
ao mesmo tempo. — Ela provavelmente vai me matar, porque
ela não tinha ideia de que eu faria isso. Obrigado por ouvir e
Deus abençoe…

Jace recebeu uma enorme salva de palmas. Enquanto ele


voltava para a mesa, sorri amplamente.
Esfreguei seu ombro. — Você foi ótimo. Obrigada por isso.
Nunca esquecerei isso.

Ele se inclinou e beijou meus lábios. — Achei que você


ficaria surpresa.

— Você foi incrível.

Enquanto ficávamos e terminávamos a última de nossas


bebidas, Jace continuou checando seu telefone. Presumi que
seus nervos de antes tinham a ver com o fato de que ele
planejou subir e falar, mas por que ele ainda estava ansioso?

Ele olhou para o relógio. — É melhor irmos.

Bebi o resto do meu mojito antes de nos levantarmos e


irmos em direção à porta.

A última coisa que eu esperava ver era Nathan entrando


no bar quando estávamos saindo.

— Merda, — disse meu irmão.

O que diabos está acontecendo?

Jace continuou balançando a cabeça como se dissesse a


Nathan para parar de falar. Nathan estava praticamente
ofegante.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei. — E por


que você parece tão sem fôlego?

— Nenhuma razão... uh... Jace me disse para encontrar


vocês aqui.
Olhei entre eles. — Vocês dois estão agindo de forma
muito estranha.

— Porra, — Jace murmurou.

— Sinto muito, Jace, — Nathan disse. — Tentei.

Meus olhos se estreitaram. — Tentou o quê?

— Com licença por um segundo, — Jace disse enquanto


puxava Nathan de lado.

Eles caminharam vários metros à minha frente, então não


pude entender o que estavam dizendo. Então meu irmão saiu
sem nem se despedir.

— O que está acontecendo? — Perguntei quando Jace


voltou. — Onde está Nathan?

— Ele teve que ir.

— Por quê?

Ele colocou a mão nas minhas costas e me guiou em


direção à porta. — Vou explicar para você em um minuto.
Vamos dar um passeio.

Ainda confusa, segui Jace para a caminhonete. Enquanto


partíamos, apenas o encarei. — Você precisa me dizer o que
está acontecendo!

— Por favor, não se preocupe. Não é nada ruim. Explicarei


quando chegarmos em casa. Prometo que tudo fará sentido.
Quando voltamos para casa, Jace me levou para a área
da piscina. A noite estava linda e fria.

— Relaxe aqui. Volto já.

Confusa como o inferno, esperei em uma das


espreguiçadeiras enquanto olhava para o céu estrelado.

Um minuto depois, ele trouxe um prato. Quando ele se


aproximou, percebi que eram morangos com cobertura de
chocolate, minha sobremesa favorita.

— O que é tudo isso?

— Este é o Plano B. — Ele colocou o prato na beira da


minha espreguiçadeira. — Pegue um.

Levantei um dos morangos e o mordi. Falando com a boca


cheia, eu disse: — Isso é tão bom, mas...

— Mas você está confusa como o inferno. Entendo. —


Jace suspirou. — Farrah, esta noite era para ser perfeita.
Liguei para o gerente do bar um tempo atrás e combinei para
ter certeza de que poderia ser o último a subir lá. Eu deveria...
pedir para você se casar comigo no palco esta noite, na frente
de todas aquelas pessoas.

— Oh... Oh meu Deus. O quê?

— Sim.

— Você mudou de ideia?

— Não. — Ele riu. — Não tinha o maldito anel!


— Você o perdeu?

— Tenho que recuar um pouco.

Peguei sua mão. — Ok...

— Antes de minha mãe morrer, ela disse a meu pai que


se alguma coisa acontecesse com ela, para garantir que ele
guardasse sua aliança de casamento para que eu pudesse dá-
la para mulher com quem eventualmente me casasse. O único
problema é, e isso vai soar superficial pra caralho, o anel da
minha mãe é bem pequeno. Eu queria algo maior para você
sem ferir os sentimentos do meu pai. Fui pedir a Nathan seu
conselho sobre como deveria lidar com isso, e algo estranho
aconteceu. Ele saiu da sala e voltou com um anel de diamante
que era exatamente do mesmo tamanho que o da minha mãe.
Era o anel da sua mãe.

Meus olhos se arregalaram. — Mesmo? Eu sabia que


Nathan o tinha, mas pensei que era para ele.

— Ele queria que eu o desse para você. Pensei... o que vou


fazer com dois anéis? Sou um homem de uma mulher só. —
Ele piscou. — Mas então... tive uma ideia. Eu pegaria as duas
pedras e as colocaria um de cada lado da outra. Procurei
aquele joalheiro local – Fred Seales. Ele me ajudou a criar o
anel perfeito para você. Ele me disse que estaria pronto esta
semana, então planejei tudo em torno disso. O problema é que,
quando fui buscá-lo mais cedo, a maldita joalheria havia
fechado mais cedo.
Incapaz de conter minha risada, eu disse: — Oh, não.

— Quase cancelei meus planos no The Iguana, mas então


Nathan de alguma forma teve a brilhante ideia de rastrear o
número de telefone da casa do proprietário. Acontece que sua
esposa entrou em trabalho de parto, então ele fechou a loja
antes que eu tivesse a chance de pegar o anel.

— Oh meu Deus.

— Eu estava com você neste momento, mas ele concordou


em deixar o hospital muito rápido para encontrar Nathan e
abrir a loja para que eu ainda pudesse pedir a você esta noite
no palco. O tempo todo em que estive lá, rezei para que Nathan
entrasse por aquelas portas com o anel bem na hora.

— Então é por isso que Nathan apareceu? Ele estava com


o anel, mas era tarde demais?

— Ele ainda não tinha o anel! — Jace riu. — O cara teve


que se virar porque sua esposa começou a empurrar. Era pegar
meu anel ou perder o nascimento. Nathan não queria me
deixar sem nada para lhe dar esta noite. Então ele foi ao
Walmart e comprou um anel temporário de zircônia, pensando
que poderia fazer isso a tempo. Mas é claro, ele chegou tarde
demais.

— Pobre Nathan. — Cobri meu rosto. — Desculpe-me por


ter feito você me dizer. Estraguei tudo.

— Não se sinta mal. Não acho que conseguiria segurá-lo


em mais um segundo. O estresse quase me matou.
Fomos interrompidos por uma batida forte.

Jace correu para atender a porta e eu o segui.

Quando ele abriu, Nathan ficou lá com a boca


entreaberta, parecendo que estava com medo de dizer alguma
coisa.

Jace o tirou de sua miséria. — Está bem. Ela sabe.

Os ombros de Nathan caíram. — Sinto muito, mana.


Estragamos tudo.

Balancei minha cabeça. — Por que você está se


desculpando? Você não percebe como me sinto ridiculamente
sortuda esta noite? Não só que meu namorado tentou tanto
tornar esta noite especial, mas que meu irmão se importou o
suficiente para correr como uma galinha com a cabeça
decepada? — Comecei a chorar. — Amo muito vocês dois.

— O joalheiro ligou do hospital e disse-me para encontrá-


lo lá. — Nathan entregou a caixa do anel para Jace. — Aqui
está, cara. Parabéns.

Um arrepio percorreu minha espinha.

— Não me dê os parabéns ainda. Ela não disse sim.

Nathan deu um tapinha no ombro de Jace. — Antes de


você fazer isso, tenho que dizer a vocês dois algo incrível. —
Ele fez uma pausa. — Adivinha como chamaram o bebê?

— Como? — Jace perguntou.


Ele parecia prestes a chorar. — Elizabeth.

Sussurrei: — O nome da mamãe.

— Sim.

Jace envolveu seu braço em volta da minha cintura. —


Rezei pela aprovação deles e pedi um sinal. Talvez seja isso.

Nathan olhou entre nós e perguntou: — Devo ir agora?

— Nah. — Jace acenou com a mão. — Você pode muito


bem ficar. Ajustando que sua bunda estará respirando no meu
pescoço quando eu fizer isso, como sempre.

Nathan recuou um pouco e sorriu. Quando olhei de novo,


Jace já estava de joelhos.

— Farrah, isso não saiu nada como deveria, mas


honestamente, algo que já experimentamos juntos saiu de
acordo com o plano? É assim que a gente faz. Eu te amo muito.
Você vai ser a melhor advogada que já existiu. E mal posso
esperar para estar ao seu lado a cada passo do caminho.
Estarei lá para você, não importa aonde a estrada nos leve a
seguir. Te amo mais que a própria vida. Você aceita ser minha
esposa? — Ele abriu a caixa do anel.

Lágrimas encheram meus olhos enquanto eu olhava para


o lindo brilho. Uma grande pedra central era adornada em
cada lado pelos dois diamantes que pertenceram a nossas
mães, que estariam simbolicamente protegendo nossa união
para sempre.
— Eu te amo muito. — Consegui dizer em meio às
lágrimas.

— Isso é um sim? — Ele sorriu.

— Sim! — Eu ri. — É claro!

Nathan ergueu os punhos. — Sim!

Jace se virou para ele. — Isso é um sim seu também?

Limpei as lágrimas dos meus olhos. — Acho que essa


proposta funcionou exatamente como deveria.

— Você sabe o quê? — Jace sorriu. — Eu concordo.

Nathan bateu palmas. — Podemos comemorar?

— Acontece que tenho um pouco de cidra espumante na


geladeira que sobrou do Dia de Ação de Graças, — eu disse.

— Abra, então!

Jace me beijou na bochecha. — Vou pegar.

Eu não conseguia parar de olhar para o meu anel. Jace


voltou com três taças de cidra espumante e a garrafa. Depois
de abrir a rolha, ele serviu um copo para cada um de nós.

Nathan foi o primeiro a brindar. — Para meu irmão de


outra mãe e minha irmã. Que vocês tenham um casamento
longo e feliz. E à mulher de sorte que ainda não conheci e que
algum dia se tornará a orgulhosa recebedora de um anel de
zircônia de cinquenta dólares. Salud12!

Caímos na gargalhada.

Esta noite... Deus, foi perfeita.

Puxando meu noivo para perto, levantei meu copo e fiz


um brinde para mim. — Para a família... aquela em que você
nasceu e aquela que você criou.

Fim

12 Saúde.

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