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SALVAÇÃO DO ESTADO
A salvação será, claro, a do próprio Estado, dos poderes constituídos. Pode
parecer estranho (hoje não tanto), mas em nome da “Ordem e do Progresso”,
tudo é válido, inclusive um Golpe de Estado. Este é o momento em que,
paradoxalmente, para salvar-se o Estado de Direito é preciso abolir o Estado
de Direito. O Estado busca a sua própria salvação e a faz confundir-se com a
salvação da população.
OBEDIÊNCIA ÀS LEIS
À polícia, ao poder, cabe fazer cumprir a lei e prevenir-se das rebeliões. A
obediência garante a condução e portanto a salvação. A população deve
aceitar as condições nas quais está inserida, acatar. A lei existe para levá-las
para um lugar melhor.
Mas a obediência pode ser quebrada por revoltas e insatisfações. O que fazer?
Ora, para a Biopolítica é mais importante prevenir do que remediar. É
simples: quais os principais fatores de revolta? A fome (barriga) e a cabeça
(certos pensamentos).
Ou seja, é imprescindível que a indigência e a pobreza sejam ao menos
suportáveis. Em segundo lugar, o descontentamento, uma opinião
desfavorável do soberano. Se as rebeliões têm causa, também têm remédios. O
pão e circo fazem bem estas funções. Com a barriga cheia e a cabeça distraída
por outros pensamentos, pode-se aceitar praticamente qualquer coisa.
PRODUÇÃO DE VERDADE
O governo produz a sua própria verdade, sua própria narrativa. Ele a fabrica e
veicula das mais diversas maneiras. O objetivo é ao mesmo tempo conhecer
os elementos necessários para a manutenção do Estado e desenvolver as
verdades necessárias para que esta força não seja ameaçada pelos outros. A
verdade passa a ser a imposição de uma opinião, uma única, a sua.
O Estado não pode ser dissociado do conjunto de práticas que fizeram
efetivamente que ele se tornasse uma maneira da governar, uma
maneira de agir, uma maneira também de se relacionar com o governo”
– Foucault, Segurança Território População, p. 369
A nova arte de governar consiste em manipular, distribuir e estabelecer
espaços de competição e concorrência. Mas o espaço de concorrência,
liberdade liberal, deve ser preenchido por individualidades que estejam
dispostas a fazer parte deste tipo de liberdade. Por isso Estado de Policial e
Pastoral se articulam intimamente na Governamentalidade. Trata-se tanto de
uma incitação à competição, ao lucro, ao crescimento econômico e ao mesmo
tempo uma regulação para impedir a desordem e a desobediência.