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Aula 1 - O que vamos estudar

MÓDULO 1 - AULA 1

Aula 1 - O que vamos estudar


19 de Janeiro de 2015

Meta
Apresentar aspectos gerais do conteúdo da disciplina e mostrar sua
relevância às aplicações tecnológicas atuais.

Objetivos
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1. Reconhecer e descrever as aplicações da Fı́sica Estatı́stica e da Fı́sica


da Matéria Condensada.

2. Reconhecer e aplicar os conceitos de média, densidade e concentração


relacionando-os a valores de grandezas macroscópicas.

3. Identificar escalas de tempo, comprimento e energia associadas a alguns


sistemas fı́sicos.

Pré-requisitos
Esta aula requer que você esteja familiarizado com os conceitos de Teo-
ria Cinética dos Gases apresentados na Aula 7 de Fı́sica 2A e com as equações
de Boyle e Gay-Lussac (ou Charles) apresentadas na Aula 8 dessa disciplina.

Introdução
Entender os mecanismos responsáveis pelas propriedades dos materiais
é um dos objetivos básicos da Fı́sica da Matéria Condensada. Saber, por
exemplo, por que o vidro da janela é transparente à luz visı́vel, enquanto
que uma folha de alumı́nio (dessas que se usa na cozinha) não é. Ao mesmo

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tempo, por que o alumı́nio é maleável e o vidro quebradiço? Ou ainda, por


que o cobre conduz bem a eletricidade, graças a isso o usamos na fabricação
de fios elétricos, enquanto que o plástico que reveste esses fios é um isolante
elétrico? Por que alguns materiais são magnéticos (os ı́mãs, que usamos em
tantos dispositivos) e outros não?
Interessa-nos também entender como e por que as propriedades dos
materiais se alteram quando, por exemplo, os aquecemos ou os esfriamos. O
estudo do comportamento térmico de sistemas macroscópicos é realizado pela
Termodinâmica. Você já aprendeu um pouco desse assunto em Fı́sica II-A.
Aqui queremos, a partir do conhecimento dos átomos individuais, encontrar
o comportamento térmico de um sistema macroscópico, ou seja, composto
por um número gigantesco desses átomos. Para tal usaremos uma descrição
estatistica do conjunto de partı́culas. As grandezas macroscópicas serão as-
sociadas a médias sobre diversas configurações possı́veis do sistema. A Fı́sica
Estatı́stica é a parte da Fı́sica dedicada a esse tipo de cálculo. Partimos do
conhecimento da energia de cada partı́cula, usando a Mecânica Quântica, e
obtemos o comportamento macroscópico a partir do cálculo da probabilidade
de cada possı́vel configuração do sistema. Embora atualmente a Fı́sica Es-
tatı́stica tenha aplicações muito amplas, por exemplo em biologia e economia,
sua principal aplicação é o entendimento do comportamento de materiais,
tendo uma relação muito forte com a Fı́sica da Matéria Condensada. Por
esta razão estamos apresentando os dois assuntos numa única disciplina.

Os materiais que encontramos na natureza


É interessante notar que a grande variedade de materiais que encon-
tramos em nosso meio ambiente é basicamente constituı́da por algumas deze-
nas de substâncias, que denominamos elementos quı́micos. Hoje conhecemos
117 desses elementos, dos quais somente os primeiros 94 (e possivelmente
o Califórnio, número atômico 98) ocorrem naturalmente. Os demais foram
produzidos artificialmente em laboratório. Mas, dentre esses 94, muitos são
extremamente raros na crosta terrestre, de modo que grande parte dos ma-
teriais com os quais lidamos são de fato constituı́dos por um número bem
menor de elementos quı́micos. Estes podem ser combinados formando uma
diversidade de compostos ou ligas. Um bom exemplo é o ferro. Quando
adicionamos a ele um pouco de carbono, algo entre 0,02 e 2,0 % em peso,
obtemos diferentes tipos de aço. E se a este adicionamos dois outros metais,

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o nı́quel e o cromo, obtemos o aço inoxidável. Um dos aspectos em que o


aço difere do ferro é sua maior dureza, o que em muitas situações representa
uma clara vantagem. Já o aço inoxidável difere do aço comum por não enfer-
rujar (não se oxida), bem como em relação a outras propriedades mecânicas,
elétricas e magnéticas.
Ao longo do tempo, a Humanidade foi aprendendo a trabalhar os mate-
riais, combinando-os e submetendo-os a tratamentos diversos (por exemplo,
térmicos e mecânicos) de modo a obter matéria prima para fabricação de
utensı́lios domésticos, armas, instrumentos de trabalho diversos, como fer-
ramentas e máquinas, etc. O conhecimento que se adquiriu através desse
processo era fundamentalmente empı́rico, isto é, vinha da experiência. Mas
não era suficiente para dar resposta a muitas perguntas, como por exemplo,
por que um material é magnético e outro não, por que um é condutor e outro
isolante, por que um é transparente e outro opaco à luz visı́vel, etc.

Box de curiosidade
Mencionamos as ligas de ferro, mas há muitas outras de igual importância.
Um exemplo são as ligas de cobre. Este, quando combinado com o zinco
em percentagens que vão de 2 a 45 %, produz o latão, de uso amplo em
utensı́lios domésticos, parafusos e fios elétricos. Já a adição de cerca de 12%
de estanho ao cobre produz o bronze, um material que não só é largamente
utilizado até os dias de hoje (por exemplo, na fabricação de ferramentas), mas
também marcou o inı́cio de uma importante fase na história da Humanidade
- a Idade do Bronze. A história de como a Humanidade aprendeu a fazer uso
dos materiais que encontramos na natureza, muitas vezes combinando-os de
modo a atender necessidades especı́ficas, é fascinante. Ela começa há cerca
de 1,8 milhões de anos, quando o Homo Habilis, um hominı́deo que viveu no
perı́odo entre 2,6 a 1,4 milhões de anos atrás, começou a utilizar pedras na
produção de instrumentos para diversos usos, particularmente para a caça.
Todavia, um avanço realmente marcante ocorreu há cerca de 5,5 mil anos,
quando os primeiros utensı́lios de bronze foram fabricados na região hoje
correspondente ao Irã e Iraque. A importância desse fato é que, para pro-
duzir o bronze, o ser humano teve que aprender a extrair o cobre e o estanho
das rochas (por aquecimento) e combiná-los, o que representa as primeiras
atividades em metalurgia desenvolvidas pela Humanidade. Esse fato também
representa o inı́cio de um processo através do qual o ser humano torna-se pro-
gressivamente capaz de intervir na natureza, manipulando seus elementos de

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modo a obter novos materiais, com os quais novos utensı́lios e instrumentos


puderam ser produzidos. Processo esse que nos dias de hoje, graças ao ad-
mirável desenvolvimento cientı́fico ocorrido desde o inı́cio do século passado,
atinge nı́veis que há algumas décadas não eram sequer imaginados.
Fim do box de curiosidade

O desenvolvimento da Fı́sica da Matéria Con-


densada e sua importância
Uma etapa muito importante no esforço que a Humanidade vem desen-
volvendo no sentido de entender a natureza foi compreender que os materiais
presentes em nosso meio ambiente são constituı́dos por átomos. Richard
Feynman, um dos mais importantes fı́sicos do século XX, disse certa vez
[1]:“Se, por algum cataclismo, todo o conhecimento cientı́fico viesse a ser
destruı́do e somente uma frase pudesse ser transmitida à próxima geração
de criaturas, que afirmação conteria mais informações em menos palavras?
Acredito que seria a hipótese atômica (ou o fato atômico, se você quiser
chamá-lo assim) de que todas as coisas são feitas de átomos - pequenas
partı́culas em movimento perpétuo, atraindo umas às outras quando estão
separadas por uma pequena distância, mas repelindo-se quando comprimidas
umas contra as outras”.
As palavras de Feynman traduzem bem o significado da chamada Teoria
Atômica. Com base nela, torna-se possı́vel entender os mecanismos responsá-
veis pelas propriedades dos materiais, a partir do comportamento dos átomos
que os compõem. Todavia, avanços nesse sentido só se tornaram possı́veis
com o advento da Mecânica Quântica, nas primeiras décadas do século XX.
Como você bem sabe, a aplicação das leis da Fı́sica Clássica a partı́culas
como os átomos e seus constituintes conduz a uma série de resultados em
conflito com a experiência. Assim, foi somente a partir dos últimos anos da
década de 1920, quando a Mecânica Quântica se consolidou, que a Fı́sica da
Matéria Condensada se desenvolveu, permitindo estabelecer relações entre
as propriedades fı́sicas de um material e sua estrutura no nı́vel atômico. Os
resultados das pesquisas que ao longo dos anos vêm sendo conduzidas por
diversos grupos de investigação em todo o mundo, tanto no campo teórico
quanto no experimental, têm tornado possı́vel explicar e prever o comporta-
mento dos materiais sob diversas condições. E o progresso alcançado nessa
área tem repercutido em várias outras, como Ciência dos Materiais, Quı́mica,

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Biologia, Telecomunicações, Transporte e Energia. É importante mencionar


que o entendimento dos mecanismos responsáveis pelas propriedades dos ma-
teriais abre para nós uma perspectiva absolutamente fantástica: a de intervir
nesses mecanismos, alterando assim tais propriedades. Atualmente podemos
ir ainda mais longe, criando materiais artificialmente estruturados, com di-
mensões e composição controladas na escala atômica! Os avanços na Fı́sica
da Matéria Condensada vêm ocorrendo em ritmo crescente e têm propici-
ado o acelerado desenvolvimento tecnológico que assistimos desde meados do
século XX.
Até aqui demos especial ênfase às contribuições da Fı́sica ao desen-
volvimento tecnológico, mas a Fı́sica da Matéria Condensada é também uma
área de pesquisa extremamente interessante sob o ponto de vista de Ciência
Básica. E é, sem dúvida, uma das mais ativas. Ela reúne o maior contingente
de fı́sicos em todos os paı́ses e já foi contemplada com muitos Prêmios Nobel.
E por que o interesse cientı́fico é tão grande? Bem, em geral os sistemas que
ela estuda são constituı́dos por um número muito grande de partı́culas que
interagem entre si e isto dá origem a fenômenos extremamente curiosos e,
algumas vezes, verdadeiramente surpreendentes. Assim foi a descoberta da
supercondutividade, ocorrida no inı́cio do século XX, para dar um exemplo.
Mas também de diversos outros, dos quais trataremos mais adiante.

Um pouco da história da Fı́sica Estatı́stica


A partir do momento em que entendemos a matéria como constituı́da
por átomos, passamos a lidar com um número gigantesco de variáveis para
descrever o sistema. Por exemplo, num volume macroscópico o número de
moléculas de um gás, N, é da ordem do número de Avogadro (NA ), ou
seja, N ∼ 1023 . Qualquer tentativa de entender o comportamento desse
sistema através do conhecimento da posição e da velocidade de cada molécula
será infrutı́fera. Mesmo se conseguı́ssemos ter acesso a todos esses dados, a
qualquer instante de tempo, eles seriam inúteis para responder às perguntas
que geralmente são feitas sobre um sistema como esse, basicamente: quais
são seus valores de pressão, densidade e temperatura. Para conhecer essas
grandezas a partir dos dados atômicos precisamos de alguma forma relacionar
grandezas definidas no nı́vel atômico (como posição e momento linear de cada
átomo) com grandezas macroscópicas (tais como pressão e temperatura do
sistema como um todo).

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A primeira tentativa de descrição microscópica de um sistema macros-


cópico foi feita através Teoria Cinética. Na Aula 7 de Fı́sica 2A você viu a
determinação cinética da pressão de um gás ideal e a sua relação com a lei de
Boyle. Praticamente todas as idéias que serão trabalhadas nas próximas aulas
estão presentes no modelo cinético do gás ideal. Em primeiro lugar temos
um sistema que contém um número elevadı́ssimo de partı́culas. Neste caso o
sistema é um gás de baixa densidade, contido num recipiente macroscópico
de volume V . Através de hipóteses simplificadoras sobre o comportamento
microscópico das moléculas, a teoria cinética possibilita relacionar a pressão
P , que é uma grandeza macroscópica, com as velocidades moleculares ~ui ,
i = 1, 2, . . . N, através do valor médio, hu2 i, do quadrado da velocidade
como:
1
P ≡ ρhu2 i , (1.1)
3
sendo
N
1 X 2
hu2 i ≡ u (1.2)
N i=1 i
e ρ, a densidade volumétrica. Finalmente, a conexão com a temperatu-
ra (outra grandeza macroscópica) pode ser feita a partir de observações
empı́ricas, tais como a lei de Boyle (P V = constante), ou a lei de Gay-
Lussac ou Charles (V/T = constante). Com esse procedimento começamos
com uma visão microscópica, dada pelos valores de 6N variáveis (valores de
ux , uy , uz , x, y e z de cada molécula), e chegamos à macroscópica, com 3
variáveis: P , V e T . O processo de redução dimensional envolveu o cálculo
de valores médios para descrever o conjunto de moléculas.
Podemos considerar que a publicação do livro Hidrodinâmica por Ber-
noulli em 1738 como o inı́cio da Teoria Cinética. Nesse trabalho o fluido
é descrito por grandezas macroscópicas tais como pressão e densidade obti-
das através de médias calculadas a partir das propriedades moleculares. Nos
anos seguintes vários cientistas usaram esse método para obter a descrição
macroscópica de diversos sistemas. A Termodinâmica, que lida apenas com
grandezas macroscópicas, surgiu naturalmente para fundamentar uma série
de observações experimentais, estendendo o princı́pio de conservação de en-
ergia da Mecânica para englobar o calor como forma de energia.

box de atenção: Para o melhor entendimento destes conceitos é importante


que você refaça os Exercı́cios 2, 3 e 4 da Aula 7 de Fı́sica 2A.
fim do box de atenção
No final do século XIX a Termodinâmica já podia ser considerada

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como uma teoria bem estabelecida. Através dela o comportamento térmico


de vários sistemas pôde ser compreendido no nı́vel macroscópico levando a
um grande desenvolvimento tecnológico. A possibilidade de construção de
máquinas térmicas e motores foi fundamental para o que hoje conhecemos
como Revolução Industrial.
Box de curiosidade
A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas
com profundo impacto no processo produtivo em nı́vel econômico e social.
Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo
a partir do século XIX. A Fı́sica desenvolvida nessa época teve um papel
fundamental no desenvolvimento de novas tecnologias. Especificamente, a
Termodinâmica permitiu que fossem construı́das máquinas térmicas mais
eficientes para uso direto no processo industrial, como os teares, ou para a
expansão dos meios de transporte, como o motor a vapor e o motor à com-
bustão interna.
fim do box de curiosidade

Um dos principais ingredientes da formulação matemática da Termodinâ-


mica são as variáveis de estado que, como o nome indica, descreve o estado
macroscópico do sistema. Alguns exemplos são: energia (E), entropia (S),
volume (V ), pressão (P ) e temperatura (T ). O arcabolço da Termodinâmica
é um conjunto de leis a serem obedecidas pelas variáveis de estado. Nor-
malmente parte-se de alguma relação empı́rica entre algumas variáveis de
estado e relações entre outras variáveis podem ser obtidas com o uso das leis
da Temodinâmica. O que falta na Termodinâmica é uma forma sistemática
de encontrar relações entre variáveis de estado a partir de princı́pios fun-
damentais da escala atômico. O objetivo principal da Fı́sica Estatı́stica é
justamente fazer essa conexão, obendo a descrição macroscópica de um sis-
tema fı́sico formado por um número muito grande de partı́culas, a partir do
conhecimento estatı́stico no nı́vel atômico.
Historicamente pode-se considerar a formulação do Teorema H por
Boltzmann em 1872 como o marco inicial da Fı́sica Estatı́stica. Nesse teo-
rema Boltzmann mostra que, enquanto um sistema relaxa para o equilı́brio,
é possı́vel definir-se uma função a função H, que nunca aumenta com o pas-
sar do tempo. A partir dessa função Boltzmann propôs uma definição de
entropia ligada ao grau de desordem do sistema e compatibilizou o princı́pio
do aumento da entropia, existente na Termodinâmica, com a visão estatı́stica
de um sistema fı́sico. Em poucas palavras, Boltzmann mostrou que um sis-

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tema que evolui no tempo, com energia constante, encontra seu equilı́brio
na configuração mais desordenada, que é, como veremos, também a mais
provável. Nessa época a Mecânica Quântica ainda não havia sido formu-
lada, e todo o desenvolvimento inicial da FE foi feito através da descrição
clássica do movimento das partı́culas. Assim, havia uma série de resultados
que conflitavam com observações experimentais, especialmente com relação
ao comportamento a baixas temperaturas.
Foi exatamente na tentativa de descrever a radiação térmica por Planck,
em 1901, que surgiu a idéia de que a energia da radiação eletromagnética
emitida pelos átomos nas paredes de uma cavidade deveria ser quantizada,
e não contı́nua. O modelo proposto por Planck é considerado como o inı́cio
da Mecânica Quântica. À medida que a descrição quântica passou a ser u-
sada, a excelente concordância entre as previsões da Fı́sica Estatı́stica e as
observações experimentais consagraram a teoria.

box de curiosidade:
Ludwig Eduard Boltzmann (Viena, 20 de
Fevereiro de 1844 - Duino-Aurisina, 5 de
Setembro de 1906) foi um fı́sico austrı́aco,
conhecido pelo seu trabalho no campo da ter-
modinâmica estatı́stica. É considerado junto
com Josiah Willard Gibbs e James Clerk
Maxwell como o fundador da Mecânica Es-
tatı́stica. Foi defensor da teoria atômica,
numa época em que esta era bem contro-
versa.
Em 1863 iniciou os seus estudos em fı́sica na universidade de Viena e em 1866
terminou o seu doutoramento na mesma universidade com uma tese sobre
teoria cinética de gases sob a supervisão de Joseph Stefan. No ano seguinte
foi nomeado docente nesta universidade e em 1869 professor na universidade
de Graz. Em 1871 ele visitou Gustav Kirchhoff e Hermann von Helmholtz em
Berlim. Em 1872 ele conheceu Henriette von Aigentler em Graz, enquanto
ela tentava ser admitida extra-oficialmente a assistir a aulas de matemática
e fı́sica na Universidade de Graz numa época em que a entrada de mulhe-
res não era permitida. Seguindo os conselhos de Boltzmann, ela finalmente
conseguiu-o. Em 1873 ele voltou à Universidade de Viena, depois de aı́ ser
nomeado professor de matemática, onde permaneceu até 1876. Boltzmann e
Henriette casaram-se a 17 de Julho de 1876 e do seu casamento nasceram 3
filhas e 2 filhos. Em 1876 ele foi nomeado professor de fı́sica experimental na

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Universidade de Graz. Entre os seus alunos nesta universidade encontravam-


se Svante Arrhenius e Walther Nernst. Em Graz Boltzmann viveu 12 anos
felizes em que desenvolveu os seus conceitos estatı́sticos da natureza. Em
1885 ele é nomeado membro da Academia de Ciências imperial austrı́aca e
em 1887 é eleito presidente da universidade de Graz.
Em 1890 ele foi nomeado como professor de fı́sica teórica na Universi-
dade de Munique, mas em 1893 ele volta a Viena ao ser nomeado sucessor
do seu orientador Joseph Stefan na cátedra de fı́sica teórica dessa universi-
dade. Em Viena ele tem conflitos com alguns dos seus colegas, em particular
com Ernst Mach que foi nomeado professor de filosofia e história das ciências
desta universidade em 1895. Por isso em 1900 Boltzmann mudou-se para
a universidade de Leipzig. No entanto em 1902 Mach reformou-se devido a
problemas de saúde e Boltzmann volta a Viena. Nesta universidade ele teve
como estudantes a Paul Ehrenfest e Lise Meitner. Em Viena, além de fı́sica,
Boltzmann também ensinou filosofia e as suas aulas eram tão populares que
apesar de as dar no maior auditório da universidade e havia pessoas que não
conseguiam lugar a dentro.
Boltzmann sofria de enorme instabilidade emocional, alternando fases
de depressão com outras de enorme excitação ou irritação e pensa-se que
sofria muito provavelmente de distúrbio bipolar. Lise Meitner afirmou que as
pessoas mais próximas dele conheciam os seus ataques de depressão profunda
e as suas tentativas de suicı́dio. Em 5 de Setembro de 1906, enquanto passava
as férias de Verão em Duino, próximo de Trieste, Boltzmann cometeu suicı́dio
num ataque de depressão. Ele foi enterrado em Viena e na sua tumba está
escrita a famosa equação da fı́sica estatı́stica: S = κ ln Ω. Veremos mais
sobre essa definição de entropia na Aula 7.
Referência: Wikipedia
fim do box de curiosidade

Inicialmente criada para o estudo de sistemas fı́sicos, a abrangência


de sua formulação estendeu a aplicabilidade da Fı́sica Estatistica a outras
áreas, como biologia e economia, no final do século XX. Em poucas palavras,
a Fı́sica Estatı́stica fornece um mecanismo sistemático para o cálculo das
probabilidades de ocorrência de configurações microscópicas, como veremos
na Aula 7. Nesse cálculo os ingredientes principais são a energia e a temper-
atura. A Fı́sica Estatı́stica combina o princı́pio de minimização da energia
da Mecânica com a maximização da entropia, princı́pio proveniente da Ter-
modinâmica através da Segunda Lei. O estado de equilı́brio de um sistema é

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determinado por esses dois processos de extremização, sendo a minimização


de energia dominante a baixas temperaturas e a maximização da entropia, a
altas temperaturas.

Medidas, densidade e flutuações

A relação entre as descrições atômica e macroscópica sempre é feita


através do cálculo de algum tipo de média tomada sobre um número muito
grande de partı́culas. É importante que, em qualquer manipulação matemáti-
ca referente a grandezas macroscópicas, um elemento infinitesimal de volume
seja grande suficiente para conter um número muito grande de partı́culas.
Ainda assim ele deve ser infinitesimal, quando comparado a qualquer volume
macroscópico. A enorme diferença entre as escalas de tamanho permite que
esse cálculo tenha sentido: o valor da média é estável, não difere muito se
calculado sobre diferentes elementos de volume. Os conceitos de média e
densidade podem ser usados em qualquer sistema, não apenas os formados
por átomos e moléculas, basta que exista uma grande diferença de escalas.

Atividade 1
(Objetivo 2)
Veja a foto abaixo, que mostra vários grãos de arroz espalhados sobre uma
folha de papel. Como você faria para estimar o número de grãos nessa foto
usando o conceito de densidade?

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diagramador: deixar 5cm

Resposta comentada
Uma inspeção visual mostra que a densidade de grãos é razoavelmente ho-
mogênea, portanto, podemos contar quantos grãos estão num pequeno qua-
drado, e depois calcular a área total. Como definir o tamanho do quadrado?
Ele deve ser grande o suficiente para ter um número razoável de grãos, mas
não muito grande, porque queremos exatamente evitar ter que contar muitas
grãos. Se o quadrado for muito pequeno o número de grãos nele dependerá
muito de onde está colocado, o que levaria a uma dispersão enorme no valor
médio do número de grãos na dada área. Para vermos o efeito dessa escolha
vamos considerar quadrados com 1 cm de lado (linha clara) e área aA = 1
cm2 e com 2 cm de lado (linha escura) e área aB = 4 cm2 . Vamos posicionar
cada quadrado em 5 pontos distintos e contar quantos grãos estão dentro de
cada um. Imediatamente notamos a primeira dificuldade: como lidar com

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grãos que estão parcialmente dentro do quadrado. Vamos estimar as frações


de grão nas bordas dos quadrados.
Comecemos com os quadrados menores, em linha clara. Chamando de
ni o número de grãos no i-ésimo quadrado temos:

n1 = 9 n2 = 11 n3 = 9 n4 = 12 n5 = 12

Calculamos o valor médio:


5
1X
hniA = ni = 10,6
5 i=1
e o desvio quadrático médio:
v
u 5
u1 X
σA = t (ni − hni)2 = 1,4
5 i=1

A grandeza σA é uma medida de quanto os valores inviduais são diferentes


entre si. Dizemos que σA é uma medida das flutuações do valor médio de
grãos. Como a1 é a área dos quadrados claros, calculamos a densidade su-
perficial, grandeza macroscópica de grãos, grandeza macroscópica, definida
como ρA ≡ hniA /aA . Neste caso ficamos com ρA = 10,6 grãos/ cm2. Pode-
mos calcular a flutuação nos valores de densidade: σρA = σA /aA = 1,4 grãos/
cm2. Isso significa que podem-se encontrar valores de densidade entre 9 e 12
grãos/ cm2, dependendo de onde a medida é tomada. A área total da foto é
103,8 cm2, portanto, a estimativa do número total de grãos é 914. Se outra
regra for usada na contagem dos grãos nas bordas, o resultado individual
para cada quadrado pode ser um pouco diferente.
Repetimos o procedimento usando os quadrados maiores, com aB = 4
2
cm . Neste caso encontramos:

n1 = 33 n2 = 32 n3 = 34 n4 = 36 n5 = 37 .

Outras quantidades calculadas são: hniB = 34, 4, σB = 1,85 e ρB = 8,6


grãos/cm2 . A flutuação da densidade média é σρB = 8,6/4 = 0,46 grãos/
cm2. Neste caso o número total de gãos na foto é estimado em 893.
Uma grandeza muito importante é a flutuação relativa. Veja os valores
correspondentes às duas determinações:
σρA 1,4
= = 0,13 = 13%
ρA 10,6
σρB 0,46
= = 0,05 = 5%
ρB 8,6
Fim da atividade

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Escalas de tempo, comprimento e energia


A conexão entre os mundos micro e macroscópico só é possı́vel porque
as escalas de tempo e distância caracterı́sticas das duas descrições são muito
diferentes. Qualquer medição ou observação macroscópica demora um tempo
extremamente longo em comparação aos tempos tı́picos de variações mi-
croscópicas. Podemos fazer algumas estimativas tomando como exemplo um
recipiente macroscópico contendo um mol de hélio à temperatura ambiente
e pressão atmosférica. Começamos por calcular o volume ocupado por 1 mol
de gás. Usamos a equação de estado do gás ideal, P V = nRT , com os dados
n = 1, nas CNPT, ou seja, T = 300 K, P = 105 Pa (≈ 1 atm). Assim,
obtemos:
nRT 1 × 8,314 J/(mol.K) × 300 K
V = = 5
= 24, 9 × 10−3 m3 = 24,9 l (1.3)
P 10 Pa
Com este resultado calculamos o volume médio ocupado por cada molécula
ou átomo, no caso dos gases monoatômicos:
V 24,9 × 10−3 m3 m3 nm3
v≡ = = 4,13 × 10−26
= 41,3 (1.4)
NA 6, 03 × 1023 átomos átomo átomo
Usamos o nanômetro (1 nm = 10−9 m) para escrever a resposta por se tratar
de uma unidade de comprimento mais adequada à escala atômica. Nessa
escala o angstron (1Å = 10−10 m) também é muito usado. Supondo uma
forma cúbica, esse valor de v corresponde a um cubo de 3,45 nm de lado.
Um átomo tem dimensões lineares da ordem de angstron, ou 10−1 nm, assim
vemos que há muito espaço vazio no gás.
Essa estimativa é a mesma para qualquer gás de átomos ou moléculas
nas mesmas pressão e temperatura, valendo também para o ar, por exemplo.
Não percebemos esses vazios nos gases porque eles se dão numa escala de
comprimento muito menor que a nossa. Nossa percepção macroscópica é a
de um gás de densidade homogênea igual à densidade média com relação
às variações microscópicas. Embora tenhamos usado o termo microscópico
em oposição a macroscópico, um sistema com dimensões da ordem de um
micrômetro (1 µm = 10−6 m) é bastante grande. Uma partı́cula sólida com
volume igual a 1µm3 tem cerca de 1011 átomos. Assim, continuamos a usar
o termo microscópico apenas por tradição pois o mais correto é a referir-se à
escala atômica ou nanoscópica.
Atividade 2
(Objetivos 2 e 3)
Estime o número de moléculas de água em um copo.

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diagramador: deixar 5cm

Resposta comentada
Sabemos que um mol de uma substância contém 6,02 × 1023 moléculas ou
átomos da substância. A massa de um mol de água (H2O) é aproximada-
mente 18 gramas (já que a massa molar do oxigênio é aproximadamente 16 g
e a do hidrogênio, 1 g). Assim, 250 ml de água (um copo), à temperatura e
pressão ambientes, pesam cerca de 250 gramas (a densidade da água é aprox-
imadamente 1 g/cm3) e, portanto, contém cerca de (250/18) × 6,02 × 1023 =
8, 36 × 1024 moléculas.
fim da atividade

Atividade 3
(Objetivos 2 e 3)
A condutividade dos metais pode ser explicada por um modelo que conside-
ra um sólido metálico como um recipiente contendo um gás formado pelos
elétrons dos orbitais incompletos mais externos de cada átomo, os elétrons
de condução. Estime a concentração desse gás de elétrons no lı́tio, um metal
com um elétron de condução por átomo, massa molar m = 6,94 g e densi-
dade ρ = 535 kg/m3 . Compare com a concentração de átomos de hélio nas
condições ambientes.

diagramador: deixar 5cm

CEDERJ 14
Aula 1 - O que vamos estudar
MÓDULO 1 - AULA 1

Resposta comentada
Para o gás de elétrons só importam os elétrons de condução, que são prati-
camente livres. Um mol de lı́tio tem NA = 6, 02 × 1023 átomos, portanto, o
mesmo número de elétrons. Precisamos agora calcular o volume de um mol.
Temos
m m 6,94 × 10−3 kg/mol
ρ= → V = = 3 = 1,30 × 10−5 m3 /mol .
V ρ 535 kg/m
A concentração é então:
NA 6,03 × 1023 elétrons/mol
φelétrons = = = 4,64 × 1028 elétrons/m3 . (1.5)
V 1,30 × 10−5 m3 /mol

A concentração do hélio nas CNPT pode ser calculada a partir de (1.4):


1 1 3
φHe = = = 2,42 × 1025 átomos/m . (1.6)
v 4,13 × 10−26 m3 átomos
Esta diferença de concentração nas CNPT implica que esses dois gases não
podem ser tratados com o mesmo modelo. Como veremos na Aula 14, o gás
de elétrons livres num metal é um gás essencialmente quântico à temperatura
ambiente.
fim da atividade
Atividade 4
(Objetivos 2 e 3)
Estime a velocidade das moléculas num gás.
diagramador: deixar 5cm

Resposta comentada
Vamos usar a expressão (1.1), para isso precisamos estimar a densidade de
um gás. Da equação de estado do gás ideal temos que a concentração molar
nas CNPT é
n P 105 N/m2
= = = 0,402 × 102 mol/m3 .
V RT (8,31 J/K.mol )(300 K)

15 CEDERJ
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Física Estatística e
Matéria Condensada

Para o hélio, temos uma massa molar de 4 g, portanto ρHe ≈ 1,7 × 10−1
kg/m3 . No caso do argônio, com massa molar de 40 g, ρAr ≈ 1,7 kg/m3 .
Como estamos fazendo uma estimativa, podemos usar ρ ≈ 1 kg/m3. Esse é
um número interessante de se guardar. Veja que a água tem densidade 103
kg/m3 . Podemos considerar então esse um valor tı́pico para lı́quidos. Assim,
a densidade de um gás é tipicamente mil vezes menor que a de um lı́quido.
Considerando condições ambientes, temos
3P 3 × 105 Pa 2
hu2i = = 4
3 = 30 × 10 (m/s) . (1.7)
ρ 1 kg/m
p
Embora não seja igual à velocidade média, hu2 i em geral difere desse valor
por um fator da ordem da unidade, sendo, portanto, uma ótima estimativa
para a velocidade média.
Com essa aproximação o valor médio das velocidades moleculares é
p
hui ≈ hu2 i = 5,4 × 102 m/s = 1944 km/h . (1.8)

Assim, vemos que na escala atômica tudo é muito pequeno e rápido, em


comparação com nossos padrões macroscópicos.
fim da atividade

Agora vamos verificar as escalas de energia envolvidas. A unidade de energia


mais adequada para esse fim é o elétron-volt (eV), a energia de um elétron
num potencial de um volt. A relação com a unidade de energia no sistema
SI, o Joule, é:

1 eV = 1,60 × 10−19 J ou 1 J = 6,24 × 1018 eV . (1.9)

Começaremos calculando a energia cinética de um objeto macroscópico, uma


bola de tênis. A velocidade da bola num saque é aproximadamente 60 m/s,
e sua massa é cerca de 56 g. Portanto, sua energia cinética é
1 1
Ebola = mu2 = 56 × 10−3 kg (60 m/s)2 = 100, 8 J = 6,30 × 1020 eV .

2 2
(1.10)
O átomo de hélio no gás tem uma velocidade altı́ssima, muito maior que a
da bola de tênis, mas sua massa é muito pequena. A massa de um átomo
é essencialmente a do núcleo, que no caso do hélio equivale, com uma boa
aproximação à massa de dois prótons e dois nêutrons. Assim, a energia
cinética de um átomo de hélio no gás é:
1 1
EHe = mu2 = 4 × (1,67 × 10−27 kg)(5,4 × 102 m/s)2
2 2
= 97,4 × 10−23 J = 6,07 × 10−3 eV = 6,07 meV

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Aula 1 - O que vamos estudar
MÓDULO 1 - AULA 1

Veremos mais adiante (Aula 7) que a energia de agitação térmica de uma


partı́cula, pode ser estimada pelo produto κT , sendo κ a constante de Boltz-
mann. Para temperatura ambiente, ET ≡ κT ≈ 0,025 eV.

Box de atenção: Revise a relação entre a energia cinética média e


temperatura, Eq. (7.17), Aula 7 de Fı́sica 2A.
fim do box de atenção

Comparando com os valores de energia calculados acima, vemos que


a energia da bola é muito maior do que sua energia térmica (ET  Ebola
ao passo o contrário ocorre com a energia cinética de um átomo de hélio
gasoso (ET  EHe ). Isto significa que o efeito da temperatura é irrelevante
para o movimento da bola de tênis, mas não para o comportamento dos
átomos de hélio no gás. Ou seja, o movimento do centro de massa da bola
é determinı́stico, podendo ser perfeitamente descrito pelas leis da Mecânica
Clássica, o mesmo não ocorrendo com o movimento de um átomo de hélio.

Conclusão
Podemos classificar fenômenos fı́sicos em termos de suas escalas de com-
primento, tempo e energia como macro ou microscópicos. Aos macroscópicos,
que são os observados por nós até mesmo sem o uso de equipamentos de me-
dida, estão associados comprimentos grandes, variações lentas e energias al-
tas, muito maiores que a energia térmica κT . A observação desses fenômenos
leva naturalmente à definição de variáveis macroscópicas, tais como pressão,
temperatura e densidade, que representam médias de grandezas atômicas
envolvendo um número gigantesco de partı́culas, tipicamente da ordem do
número de Avogrado. A escala microscópica, ou escala atômica, envolve
grandezas apropriadas para descrever movimentos muito rápidos de átomos
e moléculas que ocorrem com energias comparáveis à energia térmica κT . A
influência da energia térmica na escala atômica acaba afetando as grandezas
macroscópicas através do realização de médias.
Você viu que a importância do estudo da Fı́sica da Matéria Condensada
decorre, em grande medida, do fato de os conhecimentos nesta área terem
impacto direto em nossa experiência cotidiana, uma vez que aborda as pro-
priedades dos materiais com os quais usualmente lidamos. Outro ponto im-
portante é que Fı́sica da Matéria Condensada busca entender as propriedades

17 CEDERJ
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Física Estatística e
Matéria Condensada

macroscópicas dos materiais a partir dos processos que ocorrem no nı́vel


atômico. Assim sendo, sua ferramenta básica é a Mecânica Quântica.

Atividade final
(Objetivos 2 e 3)
Se todas as moléculas de água em 1 g de água fossem distribuı́das uni-
formemente sobre a superfı́cie da Terra, qual seria a densidade superficial
de moléculas? Considere a Terra esférica com raio de 6,4 × 103 km.
diagramador: deixar 5 cm

Resposta comentada
Precisamos calcular o número N de moléculas em um grama e a área A da
superfı́cie da Terra. A molécula de água tem dois hidrogênios e um oxigênio,
portanto tem uma massa molar de 18 g. Um mol tem, portanto, 1/18 de
grama, ou seja,
6,03 × 1023 molécula/mol
N = = 3,35 × 1022 moléculas/g
18 g/mol
A área da superfı́cie da Terra é

A = 4π(6,4 km)2 = 515 km2

Espalhando as moléculas uniformemente terı́amos a concentração


N 3,35 × 1022 moléculas
φs = = 2 = 6,50 × 1019 moléculas/km2
A 515 km
2
= 6,50 × 109 moléculas/cm

O termo densidade usado isoladamente normalmente refere-se a densidade


de massa. Neste caso temos:
6,50 × 109 moléculas/cm2
ρs = φs m = = 1,94 × 10−13 g/cm2
3,35 × 10 moléculas/g
22

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MÓDULO 1 - AULA 1

Resumo
A principal idéia desta aula é a que podemos estudar um sistema us-
ando diferentes nı́veis de descrição, dependendo da informação que desejamos
obter. A passagem do nı́vel mais detalhado para o menos detalhado se dá
através da definição de grandezas médias. Esse é um procedimento comum a
diversas áreas. Por exemplo, as pesquisas de opinião tentam entender como
a população se comporta de uma forma média. O nı́vel microscópico neste
caso é aquele em que as opiniões individuais são coletadas. Na Fı́sica Es-
tatı́stica vamos examinar o comportamento de átomos e moléculas e através
de médias entender como um volume macroscópico se comporta.
Os sistemas estudados no decorrer do semestres serão aqueles formados
por sólidos cristalinos, a partir da descrição dos átomos individuiais. A Fı́sica
da Matéria Condensada é o ramo da Fı́sica que estuda sólidos, lı́quidos e géis,
a partir da descrição quântica de átomos e moléculas. Ela utiliza a Fı́sica
Estatı́stica para realizar médias térmicas e definir grandezas macroscópicas
tais como condutividade elétrica e magnetização.

Informações sobre a próxima aula


Na próxima aula você vai aprender conceitos fundamentais para o trata-
mento estatı́stico de sistemas fı́sicos discretos.

Leitura complementar
• H. Moysés Nussenzveig,
Curso de Fı́sica Básica 2 - Fluı́dos, Oscilações e Ondas, Calor
Editora Edgard Blücher, 2002

• S. R. A. Salinas,
Introdução à Fı́sica Estatı́stica
EdUSP, 2005.

• A Wikipedia é uma excelente fonte de informação em português. Você


pode acessar a página de entrada em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipédia:Página principal

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Aula 1 - O que vamos estudar
Física Estatística e
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Referências
1. R.P. Feynman. Fı́sica em 12 lições. Ediouro Publicações, 2006.

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