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1 A expressão e de Gilles Deleuze e Félix Guatarri apresentada no ensaio “Ano zero – rostidade” (Mil platôs
vol.3) e se refere às inúmeras representações de poder que coordenam a vida social e individual como a
cultura, a língua, o estado político monetário, o princípio biológico de gênero, entre outros.
uma modernidade opressiva, que impede o desenvolvimento móbile e impreciso das
características individuais para fixar autômatos obedientes e alienados. O corpo
transformado em inseto é também a mutação que, há muito tempo ocorrida internamente no
homem subordinado pelo estado político-econômico-cultural, finalmente se dá no plano
físico, como se a própria corporeidade despertasse para o entendimento psicológico e
histórico desse sujeito.
Orlando por sua vez desperta duas vezes de um sono profundo de vários dias.
Na primeira, após a grande geada, engendra-se uma transformação, o início de uma
metamorfose que já se prenuncia ao longo de toda a narrativa.
Orlando, por sua vez, como afirma o biógrafo na última parte do livro, possui
múltiplos eus que se alternam e convivem em diferentes perspectivas e conflitos. Para além
do homem que era e da mulher que se tornou, inúmeras camadas, vezes estranhas, vezes
familiares disputam esse corpo que atravessa a história. O menino que açoita com prazer
um negro, o amante dos animais, a mulher que odeia afazeres domésticos e o homem que
não tem ânsias de poder. Há sempre um estranho e um conhecido insinuado por toda a
narrativa na incompatibilidade – e convivência - do rapaz que lê poesia na solidão
obstinadamente e a mulher que se dá aos festejos febris da sociedade. O coração é aí
também o próprio estranho: o que é a vida, o que é o amor? A personagem se pergunta
repetidamente. Esse sentimento mais interior e profundo da vivência, do amor, é
simultaneamente o oculto, o inquietante. Como dirá Nancy: