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Universidade Federal do Tocantins

Aluno: Isabela Enumo Gottardi


Disciplina: Sociologia e Jornalismo Professor: Antônio Pedroso
Texto: A linguagem autorizada: as condições sociais da eficácia do discurso ritual
Autor: Pierre Bourdieu

No contexto do texto, Pierre Bourdieu enfatiza claramente a significativa relevância


das condições sociais na abordagem e compreensão da força ilocucionária das expressões.
Suas argumentações traçam uma perspectiva em que essa força não se encontra
meramente contida nas palavras em si, mas, de forma intrínseca, enraizada profundamente
nas circunstâncias sociais específicas em que essas expressões são empregadas. O autor
ressalta, de modo particular, que a eficácia do discurso ritual é permanentemente vinculada
a essas condições, assumindo uma natureza essencial para que as expressões linguísticas
alcancem a magnitude necessária para consolidar ações por meio da fala.

Bourdieu apresenta uma crítica incisiva à separação entre a linguística interna e


externa, afirmando de forma sagaz como a busca pelo poder intrínseco das palavras é
significativamente prejudicada quando há negligência em relação ao contexto social
abrangente. Nesse contexto, o autor defende com vigor a ideia de que a força ilocucionária
não pode ser devidamente diferenciada apenas ao se analisar as palavras de maneira
isolada. Ao contrário, ele argumenta que essa força ultrapassa o significado literal das
palavras, sendo moldada e influenciada por fatores como a posição social do locutor e as
complexas condições institucionais que permeiam o cenário comunicativo. Essa perspectiva
confusa e interconectada delimitada por Bourdieu ressalta a necessidade imediata de se
considerar não apenas a estrutura linguística interna, mas também as nuances do ambiente
social em que as expressões são ditas, a fim de se obter uma compreensão abrangente do
impacto e da eficácia comunicativa.

Quando se aborda o tema do ritual, Bourdieu elabora uma definição abrangente,


concebendo-o como um conjunto complexo de práticas simbólicas cuidadosamente
executadas em ambientes sociais específicos. O autor não apenas delineia a natureza
dessas práticas, mas também direciona o foco para a análise do poder próprio ao discurso
ritual. Nesse contexto, ele ressalta que esse poder não está enraizado nas palavras
proferidas durante o ritual, mas, ao contrário, encontra-se firmemente ancorado na
autoridade do locutor e nas condições sociais que transpõem o cenário ritualístico.

Além disso, o autor explora, de maneira aprofundada, a relevância da crença para a


eficácia performativa das expressões linguísticas, especialmente em contextos religiosos.
Sua análise destaca que a crença não é simplesmente um elemento superficial, mas sim
uma construção social de profundidade considerável. Ao fazer isso, o autor evidencia a
complexidade das relações entre linguagem, crença e sociedade, ressaltando como esses
elementos interagem para conferir significado e eficácia ao discurso ritualístico.

Nesse sentido, Bourdieu ressalta como a eficácia performativa não é um fenômeno


isolado, mas sim um fenômeno que se manifesta de maneira distinta sob a influência de
fatores contextuais. O autor estende sua reflexão para explorar a relação entre o capital
linguístico e os capitais social e econômico. Bourdieu enfatiza que o domínio da linguagem
não apenas serve como uma habilidade comunicativa, mas também confere vantagens
sociais. Essa habilidade, em sua análise, torna-se um recurso valioso que pode abrir portas
para oportunidades educacionais e profissionais, evidenciando assim a interconexão entre
linguagem e estratificação social. Portanto, a discussão de Bourdieu transcende a análise
da eficácia performativa, adentrando um terreno mais amplo que destaca as implicações
sociais e econômicas associadas ao capital linguístico.
No contexto dos discursos institucionais, o autor aprofunda sua análise na retórica
que caracteriza essas manifestações comunicativas. Ele sublinha que a autoridade da
linguagem é externalizada, provindo das condições sociais e institucionais nas quais o
discurso é proferido. O autor também destaca a escolha cuidadosa das palavras,
enfatizando como essa decisão estratégica é crucial para a eficácia do discurso. Ele
aprofunda a análise ao abordar a organização discursiva, ressaltando como a estruturação
cuidadosa do discurso desempenha um papel significativo na transmissão efetiva da
mensagem institucional. Além disso, ele ressalta o papel dos recursos retóricos, enfatizando
como sua habilidosa utilização pode influenciar a opinião pública de maneira mais
impactante. Portanto, a exploração de Bourdieu sobre os discursos institucionais não se
restringe apenas à superfície da retórica, mas se aprofunda nas camadas mais profundas
da dinâmica linguística e social, destacando como a autoridade é construída, a mensagem é
transmitida e a persuasão é alcançada no contexto específico dessas manifestações
discursivas.

Por fim, o autor aborda a crise da liturgia dentro do contexto da Igreja Católica. Ele
estabelece conexões entre essa crise e as transformações nas relações de poder,
delimitando como estas se cruzam com as complexas condições sociais que permeiam a
reprodução tanto do corpo sacerdotal quanto dos fiéis. Bourdieu destaca que a crise
litúrgica é um reflexo de mudanças mais profundas no tecido social. No centro da sua
análise, ele ressalta que a diversificação presente na liturgia não é a uma manifestação
isolada, mas sim um indicativo claro de uma redefinição do contrato que vincula o sacerdote
à Igreja e aos fiéis. Essa reconfiguração do contrato não apenas afeta dinâmicas
específicas dentro da liturgia, mas também serve como um sintoma de uma crise mais
ampla da crença. Ele argumenta que a forma como a liturgia é diversificada e reinterpretada
reflete um questionamento mais amplo sobre as bases fundamentais das crenças religiosas,
resultando em uma crise que transpassa os limites do ritual litúrgico. Dessa forma, Bourdieu
encerra sugerindo que a crise observada é enraizada em mudanças mais amplas nas
relações de poder e nas condições sociais, sendo uma expressão visível de uma
transformação na compreensão e prática da fé.

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