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Plantas

hepatoprotetoras.
Prof. Esp. Diêgo Naves Fernandes
Farmacêutico
Introdução

 Há séculos plantas medicinais são utilizadas,


tradicionalmente, para o tratamento de doenças
hepáticas em vários lugares do mundo.

 Entretanto, nas últimas duas décadas, plantas


hepatoprotetoras têm despertado maior
interesse de pesquisadores e especialistas, o
que pode ser explicado pela necessidade de se
investigar novos agentes terapêuticos para
doenças hepáticas, devido a sua alta gravidade.
Efeitos terapêuticos e segurança de plantas
hepatoprotetoras

 Hepatoprotetores são substâncias que têm a capacidade de proteger


as células do fígado contra agentes tóxicos.

 Essa proteção pode ocorrer por meio de vários mecanismos, como


estabilização da membrana do hepatócito, redução do estresse
oxidativo, aumento dos níveis de glutationa, proteção dos
hepatócitos (células hepáticas) da penetração de substâncias tóxicas,
diminuição dos processos inflamatórios no fígado e estímulo da
síntese proteica no fígado .
 Um grande número de agentes pode gerar lesões
hepáticas, incluindo o etanol, medicamentos, o vírus da
hepatite e uma extensa lista de substâncias tóxicas, como o
tetracloreto de carbono, por exemplo. Além do contato com
esses compostos, a desnutrição e o acúmulo de gordura no
fígado também são danosos ao órgão.
 Na presença desses fatores, os hepatócitos sofrem danos, o que leva a um
aumento na produção de radicais livres e, portanto, a um processo de estresse
oxidativo. Os radicais livres, por sua vez, atacam lipídeos presentes nas
membranas e no DNA das células hepáticas, levando à morte e à lise (ruptura da
membrana) celular, além de gerarem aumento da peroxidação lipídica e liberação
de citocinas pró-inflamatórias.

 Os hepatócitos danificados são fagocitados por macrófagos, desencadeando a


produção de moléculas pró-fibrogênicas e, dessa forma, levando à fibrose
hepática. Se o dano hepático persistir, a fibrose pode progredir para um quadro
de cirrose, em que as funções do fígado estão significativamente comprometidas,
podendo evoluir para insuficiência hepática e até para um carcinoma
hepatocelular.
Em geral, as plantas que são conhecidas como
hepatoprotetoras atenuam ou interrompem o processo
de dano hepático, impedindo que as substâncias tóxicas
penetrem nos hepatócitos, inibindo a produção ou
neutralizando radicais livres e bloqueando a ativação de
moléculas pró-inflamatórias e pró-fibrogênicas.

Entre essas plantas, destaca-se, principalmente, a


espécie Silybum marianum (L.), popularmente
conhecida como cardo-mariano ou cardo-santo. Outras
espécies que apresentam vasta utilização popular e
potencial protetor, são o boldo-do-chile (Peumus
boldus), a alcachofra (Cynara scolymus), a soja
(Glycine max) e a cúrcuma (Curcuma longa).
Cardo-mariano

 O cardo-mariano — Silybum marianum (L.).

 A droga vegetal, ou seja, a parte da planta medicinal utilizada com finalidade


terapêutica, são os frutos secos, nos quais encontramos teores aproximados
entre 1,5 e 3,0% do seu principal princípio ativo: uma mistura de flavolignanas,
chamada de silimarina.

 Fitoterápicos à base de extrato dos frutos de cardo-mariano padronizado em


silimarina estão sujeitos a registro simplificado no Brasil como produtos tradicionais
fitoterápicos (PTF) para a utilização como Hepatoprotetores. Isso significa que o
Ministério da Saúde (MS) entende que existem dados suficientes na literatura
cientifica que demonstraram o uso efetivo e seguro de extratos do fruto da espécie
por um período superior a 30 anos e, portanto, a sua utilização pode ser considerada
racional e segura.
 No Brasil, o Primeiro Suplemento do Formulário de
Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (FFFB)
preconiza a utilização de cápsulas contendo extrato
de cardo-mariano em quantidade que corresponda a
200 mg de silimarina por, pelo menos, três
semanas, para indicação como hepatoprotetor.

 Mais de 700 estudos pré-clínicos, em que são


utilizadas células (estudos in vitro) e animais
(estudos in vivo) e dezenas de estudos clínicos já
foram conduzidos com extratos de Silybum
marianum ou com as flavolignanas presentes na
espécie.

 Os extratos de cardo-mariano apresentaram


atividade hepatoprotetora em estudos in vitro e in
vivo em diferentes modelos em que foi induzida
toxicidade hepática aguda e crônica.
Boldo-do-chile

No Brasil é considerada uma espécie importada, o que


significa que ela não se adaptou as nossas condições de solo
e clima, e não pode ser cultivada em território brasileiro. O
Chile, inclusive, exporta toneladas da planta para vários
países, incluindo o Brasil. Existem outras espécies conhecidas
popularmente como boldo, mas, com certeza, a espécie
Peumus boldus é a mais famosa e a que já foi mais estudada.

Assim como o cardo-mariano, medicamentos à base de


extratos da espécie podem ser registrados de forma
simplificada no Brasil como PTF, e ela é recomendada pela
OMS.
 O chá de boldo-do-chile deve ser feito na forma de infuso, ou seja, a água
fervida é colocada sobre o material vegetal, e não as folhas são fervidas junto com
água, o que recebe o nome de decocto. Outra opção seria utilizar a técnica de
maceração, colocando a droga vegetal em contato com água a temperatura
ambiente, como preconizado na monografia da espécie.
 As indicações, neste caso, incluem o tratamento de
dispepsias funcionais e distúrbios gastrointestinais
espasmódicos, e também como colagogo e colerético, ou
seja, que estimulam a secreção de bile e aumentam a
secreção de bile, respectivamente, ajudando na digestão de
alimentos gordurosos.
Outras plantas utilizadas como Hepatoprotetores

 Para muitas não temos estudos que investigaram seu uso, mas
algumas já mostraram que podem ser muito úteis. Pensando no nosso
país, entre as plantas utilizadas na medicina popular no Brasil
podemos citar a alcachofra (Cynara scolymus), a soja (Glycine
max) e a cúrcuma (Curcuma longa) como exemplos.

 A alcachofra é uma planta medicinal de amplo uso no Brasil, tendo


sido incluída na Relação Nacional de Medicamento Essenciais
(RENAME). Ela é indicada, principalmente, como colagogo e
colerético, e também para a dispepsia funcional e tratamento da
hipercolesterolemia leve.
 Já a soja é muito famosa por seu uso por mulheres no climatério,
mas também é utilizada popularmente como hepatoprotetora. Na
Europa existem vários produtos à base de soja que são
comercializados com essa finalidade. O uso medicinal já foi
evidenciado em um estudo clínico com pacientes com hepatite C, que
apresentaram melhoras no quadro de saúde após tratamento com um
fitoterápico à base da espécie.

 A cúrcuma já apresentou alguns resultados bastante promissores em


estudos pré-clínicos de toxicidade hepática, principalmente a
causada pelo fármaco paracetamol e pelo etanol. A parte dessa
planta que é utilizada são os rizomas. Os pesquisadores acreditam
que a curcumina, o principal princípio ativo da cúrcuma, protege as
células do fígado contra a peroxidação lipídica induzida por agentes
tóxicos.
Princípios ativos das plantas hepatoprotetoras

 Em geral, os efeitos terapêuticos sobre o fígado


das plantas hepatoprotetoras são atribuídos aos
compostos fenólicos presentes nessas espécies.

 Com certeza a silimarina é um dos produtos mais


famosos para a proteção hepática. Ela não é
constituída de apenas uma substância, mas é uma
mistura de compostos, incluindo as flavolignanas
silibina, silidianina e silicristina, além do
flavonoide taxifolina.
 Além da silimarina, os frutos do cardo-mariano apresentam em sua
composição uma grande quantidade de lipídios (cerca de 20 a
30%), polissacarídeos e outros flavonoides. Embora a silimarina
seja o principal princípio ativo da espécie, estudos têm mostrado que
seus polissacarídeos também podem contribuir para o seu efeito
terapêutico, principalmente devido à sua atividade antifibrótica.
 Já as folhas secas de boldo-do-chile apresentam em sua composição
alcaloides, flavonoides, taninos, além de óleo essencial. Entre
essas substâncias, o alcaloide boldina é apontado como o principal
componente da espécie com efeito hepatoprotetor, o que,
provavelmente, está relacionado a sua capacidade de inibir o estresse
oxidativo gerado no processo de lesão hepática.
 Em relação às outras plantas hepatoprotetoras que vimos neste capítulo, os
efeitos hepatoprotetores da alcachofra provavelmente estão relacionados às
substâncias fenólicas presentes na espécie, destacando-se ácidos fenólicos e
flavonoides. Substâncias fenólicas são aquelas que têm pelo menos um grupo
fenol em sua estrutura.
Controle de qualidade de plantas
hepatoprotetoras
 O controle de qualidade de plantas medicinais e fitoterápicos é
realizado por meio da identificação e quantificação dos
chamados marcadores.

 Marcadores podem ser do tipo ativo, quando têm relação


com a atividade terapêutica, ou analítico, quando essa relação
não existe ou ainda não foi provada.

 A boldina, por exemplo, é um marcador ativo do boldo-do-


chile.
 Quando dizemos que um extrato é padronizado,
isso significa que foi estabelecido um padrão que
relaciona certa quantidade dos marcadores a
determinado efeito terapêutico.

 Em geral, os extratos padronizados de cardo-


mariano contêm cerca de 60 a 90% da sua
composição de silimarina.

 O termo miligramas de silimarina expressos em


silibina quer dizer que a silimarina é o marcador e
deve ser quantificada como um todo, mas que o
padrão de referência utilizado na análise química é a
substância silibina isolada.

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