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o ministério adventista

Jul/Ago 80
o ministério adventista

Jul/Ago 80
Ano 46
Número 4

Gerente Geral:
Wilson Sarli
De Coração a Coração
Redator-Chefe:
Rubens S. Lessa
Redator:
O Povo de Deus é um no Espírito 3 NaorG. Conrado
Diretor:
Arthur S. Valle
Colaborador Especial:
Daniel Belvedere
O Lar do Pastor
Colaboradores:
Ponha o Casamento em Enoch de Oliveira
José C. Bessa
sua Lista de Coisas a Serem Examinadas 4 Alcides Campolongo
Pável Moura
As Finanças do Lar 8 Direção de Arte:
Erlo G. Köhler
Wilson F. de Almeida

Diagramação:
Paulo S. Gusmão
Teologia Assinatura anual:
Cr$ 180,00
USS 4,00
Unicamente Cristo 11 Editado bimestralmente
pela Casa Publicadora
O que Crêem os Brasileira, Av. Pereira
Barreto, 42 —
Adventistas Sobre a “Parusia” 17 09000-Santo André,
São Paulo.
Em que Sentido a
Esta revista acha-se
Teologia da Libertação Caiu em Erro? 20 registrada na DCDP do
DPF sob n° 899 — P.209/73

Todo artigo ou qualquer


correspondência
para a revista
Obra Pastoral O Ministério Adventista,
devem ser enviados para
o seguinte endereço:
760 Ponce de Leon
Pastorados de Curta Duração 23 Boulevard, Coral Gables,
Florida 33134 U.S.A.
2 JULHO-AGOSTO 5295
O Povo de
Deus É um no Espírito
Para que a Igreja cumpra sua trans- Jorge W. unidade pela qual tem sido identificada
cendente missão mundial de proclamar Brown no decorrer de toda a sua história.
as boas-novas da salvação por meio de 1. Unidade de Crença. O triunfo fi-
Cristo, é imprescindível que ela se Secretário de
Campo da nal do adventismo depende essencial­
mantenha inalteravelmente empenhada mente de nossa preservação da singu­
no cumprimento da memorável oração Divisão lar mensagem de Apocalipse 14 para
de Cristo em favor da unidade, relata­ Interamericana os últimos dias, a qual nos foi confia­
da em S. João 17. Uma Igreja unida da solenemente. Aí se acha incorpora­
num mundo dividido é mais do que um da a totalidade do evangelho redentor
eufemismo teológico. É uma manifes­ que a Igreja deve crer, aceitar, preser-
tação positiva e vivificante da decisão var e proclamar com unidade e poder.
da Igreja de não se deixar influenciar O inabalável sistema de verdade desen­
pelas pressões divisórias de uma so­ volvido pelo estudo das Escrituras e
ciedade em rápida desintegração. A pela orientação da palavra profética
oração de Cristo constitui uma ardente deve permanecer intato. Devemos
e sincera súplica de solidariedade e defender harmoniosamente a “fé que
unidade cristã. uma vez foi dada aos santos”. Não deve
A índole peculiar da igreja remanes- haver divergência de interpretação,
cente é sua capacidade para manter a desvios do evangelho, acomodações das
solidariedade espiritual, doutrinária e reivindicações de Deus a nosso res-
administrativa. Em virtude de sua peito, modificações das normas da Igre-
missão mundial, a Igreja enfrenta cons­ ja por mera conveniência. O Espírito
tantemente um desconcertante acervo de Profecia, da maneira como se ma­
de questões, ideologias e problemas nifestou na vida e nas obras de Ellen
complexos. G. White, deve continuar sendo a au­
O conjunto de membros da Igreja têntica revelação final de Deus à Igreja
ASD, em rápida expansão, consiste de nestes últimos dias. É desígnio de
uma diversidade de pessoas de dife- Deus que tanto os membros como os
rentes raças, formações culturais, qua­ obreiros permaneçam unidos na fé e na
lificações intelectuais, filiações sócio- prática.
políticas e condições econômicas. Es- 2. Unidade de Propósito. A Igreja
ses crentes são içados do turbulento Adventista, como outras denominações
mar internacional de países desenvol­ do passado, pode fossilizar-se e tornar-
vidos e subdesenvolvidos e de instáveis se improdutiva, caso consinta em ser
regiões do terceiro mundo que cla­ vítima da esterilidade da instituciona­
mam por justiça social e maior partici- lização. Deus ordenou que a Igreja
pação na riqueza e no poder mundiais. fosse um contínuo caudal de evange-
Em meio de todas essas divergências, lismo vivificante. Este dinâmico caudal
estratagemas e tensões desconcertan­ evangelístico deve ser uma fonte de
tes, Deus está aperfeiçoando um povo poder redentor que envolva o mundo
cuja solidariedade teológica, espiritual todo e prepare um povo para o reino
e administrativa impressiona o mundo. de Deus. Todo aspecto da Igreja Ad-
Os cristãos ASD provêm de diversas ventista deve ser reconhecido como
formações políticas, étnicas, nacionais, vivo e dinâmico instrumento de evan-
culturais e sociais; contudo, pela gra­ gelismo. A Igreja, como indivíduos e
ça de Deus, continuam sendo uma como coletividade de homens e mu-
agremiação indissolúvel e coesa. Par­ lheres redimidos, tem um encargo de­
ticipamos de uma herança espiritual finido, inequívoco e mundial, segundo
comum, de uma cidadania comum no se acha relatado em S. Mateus 28:19
reino de Deus, de uma comunhão co­ e 20; S. Marcos 16:14 e Apocalipse 14:
mum em Cristo, de uma missão comum 6-12. Todo membro de igreja, toda
para com o mundo, de uma esperança Associação local, toda União e toda Di­
comum e de um destino comum. visão no vasto campo mundial consti­
tui uma parte integrante e correlata
A Tríplice Unidade da Igreja ASD do adventismo mundial.
A Igreja ASD tem a obrigação espi-
De Coração 3. Unidade de Relacionamento. O
ritual e moral de preservar a tríplice a Coração terceiro elemento da tríplice unidade
O MINISTÉRIO 3
dos adventistas é a unidade de relacio- Como povo unido Deus, somos filhos e filhas de Deus.
namento. Esta unidade inseparável e preservado pelo Uma irmandade unida sob a eterna pa­
entre os crentes é essencial para o cum- poder coesivo do ternidade de Deus. Como parte do
primento de nossa grande missão. Co- sangue de Cristo, edifício de Deus, crescemos harmo­
mo povo unido e preservado pelo po- podemos permanecer niosamente “no Senhor”. O segredo
der coesivo do sangue de Cristo, po­ insensíveis às dessa unidade inseparável são as pa-
demos permanecer insensíveis às di­ divergências políticas, lavras: “Edificados juntamente no Se-
vergências políticas, culturais, étnicas culturais, étnicas e nhor”. Quando os cristãos mantêm essa
e outras mais, que podem ser usadas outras mais, que podem relação “no Senhor”, sempre é assegu­
para dividir e romper o harmonioso ser usadas para dividir rada a unidade da Igreja. Como um só
progresso da Igreja. e romper o rebanho, somos “agregados” (S. João
Em Efésios 2:19 e 20, o apóstolo Pau- harmonioso progresso 10:16). Como uma só família, “vivemos
lo emprega três simbolismos primoro­ da Igreja. unidos” (Sal. 133:1). Como um só cor-
po, somos “bem ajustados e consolida­
sos. O Novo Testamento Amplificado dos” (Efés. 4:16). Como um só templo,
(em inglês) verteu estes versículos da também somos “bem ajustados” (Efés.
maneira seguinte: “Portanto, não sois 2:21). Como uma só família, somos
mais estranhos, exilados, emigrantes e “edificados juntamente” (Efés. 2:19 e
forasteiros, excluídos dos direitos de 20). Como um só reino, devemos “lutar
cidadãos, mas partilhais agora da cida­ juntos” (Filip. 1:27).
dania com os santos. Sois o povo que A transcendente necessidade de uni-
pertence a Deus, consagrados e sepa­ dade é descrita persuasivamente por
rados para Ele, e fazeis parte da pró- Ellen G. White: “Uma vez após outra,
pria família de Deus. Sois edificados o anjo me disse, ‘Uni-vos, uni-vos, sede
sobre o fundamento dos apóstolos e de um mesmo pensamento e do mes-
profetas, sendo Ele mesmo Cristo Je- mo parecer.’ Cristo é o dirigente, e
sus, a principal pedra angular. ” vós sois irmãos; segui-O.” — Evange-
Como concidadãos, pertencemos ao lismo, pág. 102.
mesmo governo de Deus. Temos os Oxalá a solene oração de nosso Senhor
mesmos direitos, idênticos privilégios pela unidade cristã se cumpra intei­
e responsabilidades proporcionais. ramente em cada membro da igreja
Como membros da universal família de remanescente.

Ponha o Casamento
em sua Lista de Coisas
a Serem Examinadas
O diagnóstico e o tratamento pre­ Dr. Reger C. tem que ver com nossa felicidade, é
coce de sintomas físicos reduziram Smith deixado à deriva por vários anos, sem
consideravelmente o índice de morta­ Professor ser examinado e renovado.
lidade de certas doenças. Você pode associado de João, de 41 anos de idade, e Maria,
livrar seu casamento da ruína comple­ Assistência de 38, vieram falar comigo depois de
ta pelo mesmo processo. Social na quinze anos de casamento e quando já
Muitas pessoas se submetem cons­ tinham quatro filhos. Ambos haviam
Universidade freqüentado um colégio. João era um
cienciosamente a um check-up anual, Andrews, EE.UU.
a fim de afastar possíveis problemas de administrador de jovens, e Maria uma
saúde. O encontro anual com o co­ dona de casa. Esta senhora tinha um
brador de impostos proporciona o ense­ problema visual progressivo que a dei­
jo de reconsiderar as finanças da fa- xaria cega dentro de alguns anos, e seu
mília. Os proprietários de automóveis marido expressava fluentemente sua
certificam-se de que um especialista preocupação com isso. O problema que
no ramo examine o pulso, a pressão ameaçava seu casamento era, porém,
e a respiração de seus veículos a inter­ de mais longa duração e mais perigoso
valos regulares. Os cristãos aprovei­ para sua relação.
tam os períodos de avivamento e con- João passava dois ou três serões por
sagração para avaliar seu progresso O Lar semana fora de casa, atendendo a com­
espiritual. Mas o casamento, que tanto do Pastor promissos sociais e de negócios rela­
4 JULHO-AGOSTO
cionados com o seu trabalho. Os fins No começo do toda pergunta que vocês julgam re­
de semana também o encontravam fora casamento, Maria querer atenção em seu casamento.
do lar, ao passo que Maria permane­ adotara a atitude de 6. Procurem centralizar a atenção
cia em casa. Ele se empenhava em nu­ que seria uma esposa no que está acontecendo entre vocês
merosas atividades de jovens que amável e deixaria dois, e não a cada um em particular.
abrangiam o dia ou a noite toda de que ele fizesse o que 7. É bom reconhecer certas deficiên­
domingo, e passava longas horas jogan­ achasse melhor. cias perante o outro cônjuge, a fim de
do golfe com os amigos. inspirar a esperança de que haverá
No começo do casamento, Maria ado­ modificações. Contudo, cada um co­
tara a atitude de que seria uma esposa nhece melhor o seu cônjuge e precisa
amável e deixaria que ele fizesse o que decidir se a chocante revelação de al-
achasse melhor. Mas suas frustrações gum procedimento errôneo produzirá
aumentaram à medida que os filhos a mais dano do que bem.
retinham em casa, ao passo que João 8. Após a segunda leitura, consi­
desfrutava tantas atividades agradáveis derem as perguntas que revelam a ne-
no mundo exterior. As palavras fre­ cessidade de modificações em sua
qüentemente repetidas por ela: “Não relação mútua. Algumas alterações po-
me importo, querido; pode prosse­ dem ser efetuadas pela determinação
guir’ , tomaram-se uma realidade. Ela de prioridades no dispêndio do tempo
retirou gradualmente o seu desvelo, e do dinheiro e planejando reservar
para não ficar magoada. Na ocasião em um parte de cada um deles para uma
que vieram aconselhar-se comigo, ela finalidade especial. Melhoras nas atitu­
admitiu sinceramente que restava bem des e reações habituais que prejudi­
pouco amor entre eles. Quão diferen­ cam o casamento podem resultar da
te poderia ter sido a situação se João decisão mútua de realizar modificações
e Maria houvessem examinado perio­ específicas; da oração diária; da atenção
dicamente a condição de sua aliança à maneira como progride a modifica­
matrimonial! ção; e da prontidão mútua para re­
compensar até mesmo o menor passo
Muitos de nós apenas estamos vaga­ na direção certa.
mente cientes dos princípios funda­ 9. Se os seus problemas parecem
mentais que são tão importantes para ser demasiado complicados para serem
o bem-estar de nosso casamento. Não resolvidos dessa maneira, procurem
reconhecemos o início de tendências ajuda profissional. (Um indício seriam
danosas, nem prevemos as pequenas as hostilidades que impossibilitem a rea­
dificuldades matrimoniais que acabam lização do teste pelo casal.) Os con­
se transformando em obstáculos in­ selheiros matrimoniais devem ser pro­
transponíveis. E, se os percebemos, curados com a mesma facilidade que
muitas vezes procuramos olvidar pele os conselheiros legais ou médicos.
maior tempo possível as brechas que
se formam e as necessidades emocio­ O Exame de 11 Pontos da Condição
nais que não têm sido supridas. Matrimonial
Tudo isso, porém, poderá modificar-
se se você e seu cônjuge fizerem o 1. Seu cônjuge recebe de você, re­
exame de onze pontos da condição gularmente, mais estímulos do que
matrimonial, que será apresentado golpes?
mais adiante. Antes disso, eis algumas Descubram o antebraço e demonstrem
sugestões para tomar a experiência o que é um “estímulo”, fazendo uma
mais significativa: carícia com a ponta dos dedos, como
1. Escolham uma ocasião tranqüila se fosse uma pena; e um “golpe”, com
do dia e da semana, quando nenhum uma vigorosa batida com os nós dos
de vocês estiver perturbado. dedos. O estímulo representa o efeito
2. Convidem o Espírito Santo a avi­ que pode ser causado por palavras po­
var suas percepções e abrandar suas sitivas. O golpe representa o dano ou
reações. a irritação causada por palavras negati­
3. Encontrem um lugar em que vas. (Agora, digam um ao outro, por
possam sentar-se confortavelmente, meio desse método, o que acham que
lado a lado, e partilhar uma hora se­ estão recebendo.)
rena. O cônjuge que ouve com regulari­
4. Revezem-se na leitura das per­ dade mais declarações positivas do que
guntas e explanações de um para o negativas, suporta algumas negativas
outro. de vez em quando. As pequenas aten­
5. Dêem-se as mãos enquanto um ções, os numerosos incidentezinhos e
de vocês lê as perguntas pela segunda as simples cortesias da vida compõem
vez. Respondam com um aperto de o conjunto da felicidade da existência.
mão ou coloquem um sinal diante de Semelhantemente, a negligência de
O MINISTÉRIO 5
palavras bondosas, animadoras e afe­ O cônjuge que ouve * Atenham-se ao assunto em lide.
tuosas, e das pequenas cortesias da com regularidade mais Trazer à tona tudo de errado que já
vida, ajuda a formar o conjunto de infe­ declarações positivas aconteceu confunde o ponto principal
licidade da existência. do que negativas, da altercação.
2. Vocês partilham um com o outro suporta algumas * Não ataquem as partes mais vul­
a maior parte de seu agradável tempo negativas de vez em neráveis. O conhecimento íntimo do
disponível? quando. cônjuge expõe certas partes vulnerá-
Muitos casais repartem os serviços veis que nada têm que ver com o pro-
domésticos, e isso produz bons resul- blema que está sendo debatido. Sua
tados. Que acontece, porém, com o seu ira o tentará a trazer à tona alguma de­
tempo de folga? Como você o divide ficiência vergonhosa ou aflitiva. Não o
entre o seu cônjuge e seus amigos? faça.
Se a sua recreação mais agradável é Satanás sempre está pronto a preva-
passada a sós ou com outros fora do lecer-se de qualquer desavença que
casamento, o espírito de cooperação surge. Incitando no marido ou na es­
está perdendo a atração. posa desagradáveis traços de caráter
3. Vocês dispõem pelo menos de um heredirários, ele procurará separar cris-
período de três horas consecutivas, de tãos que uniram a vida numa solene
duas em duas semanas, para estarem aliança matrimonial diante de Deus.
juntos ou de uma “escapulida" de fim- 5. Vocês mantêm razoável equilíbrio
de-semana, de três em três meses? entre os encargos efetuados no lar e
O excesso de atividade pode sufocar os encargos efetuados longe de casa?
o espírito de cooperação, e uma rotina Você está contente com a maneira
interminável de realizações pode ser como o seu cônjuge divide o trabalho?
uma fuga da intimidade. A cooperação Ao determinar a quantidade de traba-
mútua tem de ser planejada; se ela lho que você efetua em casa, é levado
ocorre com regularidade, pode prover em conta o que seu cônjuge realiza
cada vez maior satisfação ao casal que a fora de casa? Uma divisão pela meta­
aguarda com ansiedade ou que dela de de todos os deveres domésticos tal­
sente saudades. vez não seja exeqüível nem convenien­
Planejem um fim-de-semana ocasio­ te. No entanto, mesmo a participação
nal “longe de tudo isso”, numa atmos- restrita nas atividades domésticas pode
fera de lua-de-mel. Poucos de nós ser uma demonstração de desvelo e
compreendemos o quanto somos do­ solicitude pelo cônjuge. O importante
minados e inibidos pelo telefone, pelo não é quanto faz, e, sim como cada
programa diário e pela constante per­ um de vocês se sente no tocante à di­
cepção de que as crianças estão por visão dos serviços caseiros. Como o
perto. marido e a esposa podem dividir os in-
Cristo reconheceu a ligação entre o teresses de sua vida familiar, mantendo
companheirismo e os períodos de la- ainda amoroso e firme apego um ao
zer, recomendando a Seus discípulos: outro? Eles devem ter um interesse
“Vinde repousar um pouco, à parte, unido em tudo que diz respeito aos seus
num lugar deserto; porque eles não ti- afazeres domésticos.
nham tempo nem para comer, visto 6. Em sua relação, vocês procedem
serem numerosos os que iam e vi­ com lisura no que se refere ao dinhei­
nham.” S. Mar. 6:31. ro, ao sexo, ao emprego, etc.?
4. Vocês costumam resolver as de­ No casamento, o sexo e o dinheiro
savenças a contento mútuo e sem ran­ são assuntos comuns de divergências.
cor? Todavia, as causas dessas divergências
Seria um inacreditável milagre de geralmente são mais profundas. “Ele”
longa duração se dois indivíduos inte­ controla o dinheiro e “ela” o sexo. (Ho-
ligentes que vivem juntos jamais dis­ je em dia, a igualdade entre os sexos
cordassem. Os casais que têm sérias aumenta a possibilidade de reversão
dissensões, mas procuram negá-las, nesses casos.) Vocês usam o dinheiro,
simplesmente estão disfarçando e adian­ o sexo ou as horas de trabalho para ex-
do a dificuldade. Vocês têm algumas pressar ira, vingança, necessidade de
regras fundamentais para resolver as dominar ou outros sentimentos disfar­
desavenças, deixando bons sentimen- çados? O amor não guarda ressenti­
tos de um para com o outro depois que mentos. Se amamos a alguém, crere­
findou a discussão? Eis algumas dire­ mos nessa pessoa e esperaremos o me-
trizes que podem ser úteis: lhor de sua parte.
* Não usar a força física. 7. Sua expressão física do sexo é
* Não xingar. Lançar tais epítetos mutuamente satisfatória?
como “estúpido” e “bobo” não ajuda a Não há uma freqüência estabelecida
nenhum de vocês. para a atividade sexual de um casal.
6 JULHO-AGOSTO
Vocês dois se sentem realizados e sa­ Os homens e as Pastores e conselheiros descobrem
tisfeitos neste sentido? Se não, por que mulheres podem às vezes que os casais com problemas
não? Disseram francamente um ao atingir o ideal de Deus matrimoniais de longa duração desis­
outro o que lhes agrada, e o que não para eles se fizerem de tem de procurar melhorar seu casa­
lhes agrada? Cristo o seu mento — como no caso de João e Ma­
8. Um ou outro de vocês está fler­ Ajudador. O que a ria. Um ou outro, ou ambos os côn­
tando perigosamente com alguém? sabedoria humana não juges, podem ter-se conformado com
Muitas intrigas amorosas começam pode realizar, será uma relação desditosa e insatisfatória.
de maneira bem ingênua. Um consor­ efetuado por Sua É muito difícil modificar tal atitude,
te começa a gastar um pouco mais de graça na vida mas é necessário. Ambos os cônjuges
tempo e a gracejar com um pouco mais daqueles que se devem estar dispostos a modificar-se.
de vivacidade com alguém do sexo entregam a Ele em Em todos os casamentos bem sucedi­
oposto. Um ambiente comum para tais amorosa confiança. dos, tanto o marido como a esposa
galanteios é o trabalho. A quantidade procuram manter vivo e crescente
de tempo gasto e o deleite de uma con­ companheirismo.
versação com uma amiga (ou um amigo) Se vocês, pelo menos uma vez ao
tendem a aumentar quase inconscien­ ano, examinarem juntos estas onze
temente, lançando a base para maior questões, poderão descobrir as fendas
envolvimento. Embora tal relação pa­ antes que se transformem em brechas
reça ser divertida, deve ser cortada no irreparáveis. Seus esforços podem re­
início pelas pessoas que encaram o seu dundar em renovada dedicação a um
casamento com seriedade. casamento compensador e nobilitante.
Os homens e as mulheres podem
9. Você se sente desejado, amado e atingir o ideal de Deus para eles se
apreciado? E o que é mais importante fizerem de Cristo o seu Ajudador. O
ainda: Seu cônjuge se sente desejado, que a sabedoria humana não pode
amado e apreciado? realizar, será efetuado por Sua graça
Numa união de duas vidas, cada um na vida daqueles que se entregam a
deve contribuir para a felicidade do
outro. A necessidade de sentir-se de­ Ele em amorosa confiança.
sejado, amado e apreciado é natural e Se vocês dois fizerem de Cristo o
sadia. Se não for satisfeita (e o isola­ seu Ajudador, e se entregarem a Ele
mento de seus parentes, por parte das em amorosa confiança, atingirão o ideal
famílias modernas, impõe um pesado de Deus para a vida de cada um de
encargo aos cônjuges), a lacuna pode vocês, e Sua graça realizará aquilo que
ser preenchida inadequadamente pelo está além da sabedoria humana.
comer em excesso, por uma intriga
amorosa que ensoberbeça o próprio Vocês Examinaram seu Casamento
eu, por exigências desarrazoadas, e Recentemente?
assim por diante. Uma resposta satis­ As respostas sinceras a estas pergun­
fatória a esta pergunta pode depender tas podem ajudá-los a descobrir alguns
das respostas “corretas” às outras dez. sintomas mais comuns de um casamento
10. Em sua relação está faltando doentio.
alguma coisa que vocês consideram ne- 1. Seu cônjuge ( ) Sim ( ) Não
cessária? recebe de você, re­
Às vezes um cônjuge sente falta de gularmente, mais
alguma coisa em seu casamento. Ele “estímulos” do que
ou ela podem procurar viver sem isso, “golpes”?
alterando as expectativas ou encobrin­ 2. Vocês parti- ( ) Sim ( ) Não
do as frustrações pelo excesso de ativi­ lham um com o ou-
dade. Tanto uma acomodação como a tro a maior parte de
outra pode redundar em menor satis­ seu agradável tem-
fação para ambos. Se um necessita de po disponível?
mais afeto, e o outro está disposto a 3. Vocês dispõem ( ) Sim ( ) Não
aprender a ser mais afetuoso, o cônju­ pelo menos de um
ge prejudicado pode procurar reduzir período de três ho­
sua necessidade, facilitando assim o ras consecutivas, de
esforço de seu consorte. Esforçar-se duas em duas sema­
por demonstrar afeto pode ser uma nas, para estarem
experiência nova e arriscada. Se isto juntos, ou de uma
constitui um problema em seu casa­ “escapulida” de fim-
mento, você está disposto a fazer uma de-semana, de três
tentativa? em três meses?
11. Vocês ainda procuramfazer o que 4. Vocês costu- ( ) Sim ( ) Não
está ao seu alcance para ter um ca­ mam resolver as de­
samento feliz? savenças a contento
O MINISTÉRIO 7
mútuo e sem rancor? tando perigosamen­
5. Vocês mantêm ( ) Sim ( ) Não te com alguém?
razoável equilíbrio 9. Você se sente ( ) Sim ( ) Não
entre os encargos desejado, amado e
efetuados no lar e os apreciado? E o que
encargos efetuados é mais importante
longe de casa? ainda: Seu cônjuge
6. Em sua rela- ( ) Sim ( ) Não se sente desejado,
ção, vocês proce­ amado e apreciado?
dem com lisura no 10. Em sua rela- ( ) Sim ( ) Não
que se refere ao di­ ção está faltando al-
nheiro, ao sexo, ao guma coisa que vo-
emprego, etc.? cês consideram ne­
7. Sua expressão ( ) Sim ( ) Não cessária?
física do sexo é mu­ 11. Vocês ainda ( ) Sim ( ) Não
tuamente satisfató­ procuram fazer o
ria? que está ao seu al­
8. Um ou outro ( ) Sim ( ) Não cance para ter um ca­
de vocês está fler- samento feliz?

As Finanças do Lar
Já perguntou a si mesmo por que R. R. Drachenberg pessoas que não fazem orçamentos de
tantas famílias compostas de pessoas Tesoureiro da suas receitas; mas, sem exceção algu-
capazes e inteligentes, com um senso Divisão ma, todos os interrogados me disseram
de responsabilidade bem desenvolvido, Interamericana que praticavam esse método.
oscilam entretanto à beira do desastre Mediante perguntas específicas, logo
financeiro? percebi, porém, que o homem e a
Quase todas as famílias que conhe­ mulher de termo médio nem sequer
cemos são afligidas por problemas de sabem que é um orçamento.
dinheiro. Os peritos em finanças dizem Como ilustração, citarei o caso de
que as preocupações e as disputas so- uma senhora que, depois de haver
bre o manejo do dinheiro são amiúde elogiado amplamente o valor de seu
a causa de divórcio entre os cônjuges orçamento pessoal, me disse como o
e de dificuldades entre os pais e os fazia: “Tenho-o na cabeça. Provavel­
filhos. mente seria melhor se o planejasse
É a sua uma dessas famílias aturdi­ ou o escrevesse. ”
das que não “desfrutam a vida”, ape­ A única coisa que a maioria das
sar de ter receitas adequadas? Deseja pessoas fazem é celebrar uma reunião
saber como livrar-se de dívidas? É afli­ mensal de luta com as contas, e acham
gido pelo problema monetário? Eu que isto é fazer um orçamento. Talvez
também era afligido por ele, mas des­ isto lhes custe bastante tempo e es­
cobri as três causas principais da maio- forço, mas de maneira alguma signifi-
ria dos problemas financeiros familia- ca que são regidos por um orçamento.
res. Se conseguir comprendê-los e Propriamente dito, o orçamento cor-
corrigi-los, seus problemas financeiros reto é um processo bem documentado
serão coisa do passado. que elimina o pesadelo mensal de pro­
curar calcular onde conseguir dinheiro
Primeiro Problema: Falta suficiente para pagar as contas. Apren­
de Orçamento di isto depois de passar anos esca­
Os conselheiros em assuntos finan- moteando contas mensalmente. Pou­
ceiros do lar declaram que a maioria cos sabem como obter bons resultados
dos problemas financeiros familiares de um orçamento.
podem ser atribuídos ao manejo errô­
neo das receitas, e não a entradas Um Princípio Antigo
reduzidas. O certo é que, acima de qualquer
Munido desta informação, efetuei outro livro, a Bíblia indica a verdadeira
uma pesquisa acerca dos orçamentos técnica de fazer um orçamento. Sabia
pessoais. Fiquei surpreso com os re­ que muitos homens famosos buscavam
sultados. Esperava encontrar muitas ajuda prática em suas páginas, mas não
8 JULHO-AGOSTO
compreendia quão claro era o concei­ Os conselheiro» em benefícios potenciais para o consu­
to que tinham os antigos hebreus do assuntos financeiros do midor. Os cartões de crédito, por
manejo de suas receitas. lar declaram que exemplo, eliminam o incômodo e al-
De acordo com as leis estabeleci­ a maioria dos guns dos perigos de levar muito di­
das pelos israelitas, as pessoas eram problemas financeiros nheiro efetivo. As prestações a longo
induzidas a reservar uma porcentagem familiares podem ser prazo e juros baixos possibilitam a
fixa de suas entradas regulares para atribuídos ao manejo aquisição de artigos grandes, como ca­
uso pessoal por ocasião das festas reli­ errôneo das receitas, e sas e automóveis, que de outra manei-
giosas anuais. não a entradas ra não poderiam ser adquiridos por
Este método de estabelecer uma reduzidas. muitas pessoas, em muitos anos.
porcentagem fixa para obrigações futu­ Contudo, muitas famílias jovens são
ras não é usado pela maioria das pes- vítimas dos numerosos embustes do
soas. Em vez disso, segundo parece, sistema de crédito. Charles Neal, di­
a técnica usada pela maioria é pagar retor do Conselho Financeiro para o
todas as contas vencidas depois de re- Instituto Americano de Relações Fami­
ceber o último salário, com qualquer liares, assevera que “a causa de quase
dinheiro disponível. Isto, porém, não todos os casos de bancarrota pessoal
é fazer um orçamento. Em compen­ tem sido o abuso dos créditos; em ou-
sação, o método da porcentagem fixa tras palavras, a impaciência por obter
se enquadra plenamente nessa classifi­ as ‘comodidades da vida ”.
cação. As compras a prestações, e especial-
mente o uso dos cartões de crédito,
Segundo Problema: Abuso suscitam uma ilusão de prosperidade.
de Crédito A “suavidade” dos pagamentos, a de­
Antes da Segunda Guerra Mundial, mora da chegada das cobranças no fim
o sistema de crédito usado pela famí­ do mês, e a dispensa de dinheiro efe­
lia de termo médio era muito limitado tivo no momento de efetuar a compra
e apenas tinha escassa aceitacão. Um fazem com que as comodidades da vi-
empréstimo hipotecário sobre a casa da estejam de repente à nossa dispo-
de alguém era indício de sérias difi- sição.
culdades financeiras, semelhantes à Conforme um jovem empregado,
possibilidade de ter de refugiar-se “às vezes, quando se começa a eco­
num asilo. nomizar e é preciso esperar muito
Às vezes se podia comprar um au- tempo, pode ser que se perca o in­
tomóvel a prazo, e existia o método teresse em adquirir as comodidades
de conseguir pequenos empréstimos que se queria”. Esta espécie de ra­
dos bancos. Mas o volume de opera­ ciocínio é o que ainda incita milhões
ções creditícias era muito reduzido. O de famílias a gastarem o salário antes
mundo das compras a prestações não de recebê-lo.
havia surgido ainda. O sistema de crédito pode ocupar
Desde então, a expansão do sistema seu lugar no seio de qualquer família
de crédito tem sido fenomenal, não só se esta sabe como usá-lo convenien-
nos Estados Unidos, mas no mundo temente.
todo. Hoje em dia, o fantástico domí­ Um Guia Para Usar o Crédito
nio da “compra num instante” é um
dos traços mais característicos de nossa Em geral, os que administram di­
sociedade. nheiro precisam saber primeiro que há
Que dizer, porém, quanto ao uso do duas espécies de gastos. Rex Wilder,
crédito? Você se precipita nas com- no “Guia Para as Finanças Familiares
pras a prestações como a maioria de de- MacMillan”, identifica-os como o
seus vizinhos? Isto é um erro? Talvez que se necessita e o que se deseja.
seu grande problema seja a falta de co­ Ele define o que é necessário como
nhecimento sobre as compras a pres­ “algo que se deseja com urgência e que
tações. amiúde constitui uma necessidade bio­
lógica” (como a casa e a comida). O
O Sistema de Crédito que se deseja é apresentado por ele
— Bom ou Mau? como sendo “o surgimento de um
desejo de ter algo que não se baseia
Seria um disparate dizer que o sis- em nenhuma necessidade imprescin­
tema de crédito, em si, é um erro. dível à vida”. Usado com cautela, o
Princípalmente no mundo dos negó- crédito pode ser aplicado ao que é
cios, o uso do crédito apropriado tem necessário, mas quase nunca deveria
facilitado de modo significativo a afluên­ ser usado para o que é supérfluo.
cia de bens e serviços. Muito se po- A maioria das famílias que têm pro-
deria dizer, no âmbito pessoal, dos blemas financeiros abusam do crédito
O MINISTÉRIO 9
para adquirir coisas que apenas consti­ Há também outro se a experimentá-lo. Mantenha esse
tuem um desejo e que na realidade não princípio que governa dinheiro e não toque nele, a menos que
são necessárias. Até que consigam ter o êxito ou o fracasso ocorra uma autêntica emergência. Você
algumas economias, devem adotar o sis- dos assuntos se surpreenderá ao ver quanto lhe ren­
tema de só comprar o que é supérfluo financeiros e é mais derá o seu dinheiro.
com dinheiro contante. importante do que os
três que acabamos de A Regra Mais Importante
Terceiro Problema: Falta mencionar. Este
de Economia princípio surge de uma Há também outro princípio que go­
As estatísticas referentes às entra­ das fontes menos verna o êxito ou o fracasso dos assun­
das familiares demonstram que o sis- reconhecidas como tos financeiros e é mais importante
tema de economia ou poupança tem-se autoridade financeira do que os três que acabamos de men-
incrementado na última ou nas duas — a Bíblia. cionar. Este princípio surge de uma
últimas décadas. Também é um fato das fontes menos reconhecidas como
estatístico interessante que as famílias autoridade financeira — a Bíblia. Mui-
que economizam não são as que expe­ tos homens de negócios têm compul-
rimentam dificuldades financeiras. sado regularmente as páginas da Bíblia
Quase todas as pessoas com quem a fim de obter orientação para os seus
me encontro e que têm problemas problemas diários. Como eles, tenho
monetários reagem imediatamente da profundo e permanente respeito pe-
seguinte maneira à idéia de economi­ los muitos conselhos práticos e pelas ad­
zar: “Não podemos dar-nos a esse luxo!” vertências da Bíblia, especialmente em
Mas podem dar-se ao luxo de não pra­ assuntos relacionados com o dinheiro.
ticá-la! Quanto mais baixas as entradas, Por exemplo, note o princípio bíblico
tanto mais essencial é praticar o sistema da economia: “Vai ter com a formiga,
correto de economia. ó preguiçoso, considera os seus cami­
Já vimos que para adquirir coisas nhos, e sê sábio. Não tendo ela che­
supérfluas, é melhor a economia que o fe, nem oficial, nem comandante, no
crédito. Mas não me refiro a esta es­ estio prepara o seu pão, na sega ajunta
pécie de economia. O que as pessoas o seu mantimento.” Prov. 6:6-8.
mais necessitam é o que chamo de Nas palavras de Jesus Cristo encon-
“Operação-Economia”, especialmente tramos um conceito mais profundo e
aqueles que vivem com um orçamen­ consistente: “Mais bem-aventurado é
to apertado. dar do que receber. ” Atos 20:35.
A Operação-Economia não se destina ’ Reconheço que não é fácil decidir
a futuros planos de férias, aquisição de dedicar uma parte do que se tem para
utensílios domésticos ou aposentado­ ajudar os necessitados, quando o que
ria, e, sim, a proporcionar os fundos se tem é pouco. Já incluiu alguma vez
necessários para enfrentar despesas im­ em seu orçamento familiar uma parcela
previstas. para este fim — sempre levando em
Não importa quão cuidadosamente conta, naturalmente, os seus recursos
sejam planejados os gastos futuros ao financeiros limitados?
fazer o orçamento, sempre haverá mo- Uma vez que a pessoa admite que,
mentos de dificuldades ou oportuni­ em regra, não necessita de tudo que
dades singulares em que se necessita­ ganha, e uma vez que começa a usar
rá de dinheiro adicional. Quanto mais alguns de seus recursos para ajudar a
pobre for a família, tanto mais impe­ outros, descobrirá que começou a per­
riosa será a necessidade da “Operação- der grande parte de sua atitude egoís­
Economia”. ta. Este princípio de preocupar-se
À medida que forem aumentando as com os outros exerce uma influência
receitas, poderá ser reduzida a propor­ mais estabilizadora sobre a pessoa do
ção das receitas anuais reservadas pa- que os três pontos mencionados. O li-
ra esse fim, mas a família de entradas vro de Provérbios expressa o princí­
medianas deve separar uma porcenta­ pio deste modo: “A quem dá liberal­
gem de suas receitas anuais para essa mente ainda se lhe acrescenta mais e
finalidade. Se as companhias que pos­ mais, ao que retém mais do que é justo,
suem um capital de milhões de dólares ser-lhe-á em pura perda. A alma ge­
sentem necessidade de fazer econo­ nerosa prosperará, e quem dá a beber
mias com este fim, quanto mais não será dessedentado. ” Cap. 11:24 e 25.
deveria senti-la a família de exíguas Milhares de pessoas experimentaram
receitas! uma ampla modificação em sua vida
No momento atual, pode ser que praticando o princípio bíblico da gene­
você pense que este aspecto é menos rosidade.
importante que fazer um orçamento e Em resumo, são estas as três chaves
usar adequadamente o crédito. Mas é do êxito para desfrutar estabilidade
tão importante como tudo isso. Decida- financeira:
10 JULHO-AGOSTO
1. Fazer um orçamento anual que para as emergências.
facilite a maneira de gastar cada che­ E o mais importante de tudo: exa­
que quase identicamente. minar sua própria atitude. É você
2. Evitar o uso do crédito, a menos egoísta ou generoso? Preocupa-se com
que seja para algo inevitável. Econo­ as necessidades dos outros, ou só com
mizar para adquirir as coisas supérfluas. as suas? Eis aqui a base principal da
3. Praticar a “Operação-Economia” felicidade financeira!

Unicamente Cristo
O Princípio Cristomonístico

Esta alocução constitui a nota tônica V. Norskov somente é autêntico Deus; Ele tam-
de uma reunião de dois dias (3 e 4 de Olsen bém é autêntico homem, Jesus de Na­
outubro de 1979) realizada em Wash­ zaré. Como tal, constitui o represen­
ington, D. C., para examinar a jus- tante da humanidade, a qual, nEle e
tiça pela fé em seus aspectos doutriná­ por Seu intermédio, é unida com Deus
rios e espirituais. como o próprio Jesus Cristo o é. “[Deus]
Princípio é uma regra ou verdade nos escolheu nEle [em Cristo] antes
estabelecida que é geral e na qual se da fundação do mundo.” Efés. 1:4.
baseiam outros princípios; uma fonte No Éden foi quebrado o concerto da
ou causa de que provém alguma coisa. vida e ocorreu a queda do homem. Er­
Com base em ambas essas definições, gueu-se um altar do lado de fora do
verificamos que o princípio cristomo- Éden. Mais tarde, Abraão, o pai do povo
nístico está firmemente arraigado nas do concerto, dirigiu-se ao monte Moriá
Escrituras. A palavra cristomonístico com seu filho. Isaque perguntou: “On-
é uma combinação de dois vocábulos de está o cordeiro?” e Abraão respon-
gregos: Christos (Cristo) e monos (úni- deu: “Deus proverá.” Gên. 22:7 e 8.
co), formando assim a expressão: “Uni­ Séculos mais tarde, João Batista deu a
camente Cristo”. resposta completa: “Eis o Cordeiro de
Temos de começar e terminar com Deus. ” S. João 1:29. O drama dos sé­
Cristo. Fora dEle não há verdadeiro culos ocorreu no Calvário.
conhecimento de Deus que leve à sal­ “Unicamente Cristo” de eternidade a
vação e redenção. A própria pessoa de eternidade é uma Pessoa, e nossa re­
Cristo é tanto a fonte como a essência denção e vida dependem de nossa re­
da redenção e do verdadeiro conheci- lação com Ele como uma Pessoa. A
mento de Deus. Escritura apresenta-O na eternidade
passada como “o Cordeiro morto desde
“Unicamente Cristo” de Eternidade a fundação do mundo”, como “o Cor­
a Eternidade deiro de Deus” que veio num tempo
e lugar específico na História, para ti­
Quando buscamos os começos do
princípio não podemos ir além de certo rar os pecados do mundo, e como o
ponto — a concessão do concerto de Cordeiro que através de toda a eterni­
vida. Visto que Deus é Deus e o ho- dade futura receberá “honra, e glória,
mem é homem, esse concerto teria de e louvor” de todos os habitantes do
ser um concerto dominante — obede­ Universo (ver Apoc. 13:8; S. João 1:29;
ça e viva, desobedeça e morra. Esse Apoc. 5:12 e 13).
concerto abrangia o próprio princípio
de vida. “Unicamente Cristo” na História
No mesmo instante em que foi es­
tabelecido o concerto de vida, também “Unicamente Cristo” é o alvo da His-
surgiu o eterno concerto de redenção tória. A Escritura e a cultura hebraico-
entre Deus, o Pai, e Deus, o Filho, cristã compreenderam a História, não
confirmando o feito de que o concerto por meio de uma rotina natural, como su­
de vida realmente se originou em amor. cedeu com muitas culturas antigas, mas
A eterna decisão da graça de Deus faz por meio de um conceito linear. A sin­
parte de Sua essência, arraigada no gularidade do livro de Daniel é seu con-
amor. Entretanto, o Pai não age inde­ ceito linear da História, culminando
pendentemente do Filho. E o Filho não Teologia no aparecimento do Filho do Homem.
O MINISTÉRIO 11
Jesus não somente adotou esse nome O “unicamente Cristo" Ele pelo caminho nos falava, quando
procedente de Daniel 7. Ele baseou da História é uma nos expunha as Escrituras?” S. Luc.
Sua missão terrestre na visão e procla- Pessoa, e Seus feitos 24:27-32. Cristo e Seus discípulos de-
mação desse capítulo. Sabia que tinha devem ser proclamados pois dEle interpretaram o Velho Tes­
uma função no grande drama da Histó- em todo o seu tamento para seus contemporâneos à
ria descrito por Daniel. realismo histórico. luz de Cristo nas Escrituras. A Refor-
Semelhantemente, os apóstolos, a ma Protestante fez a mesma coisa. Há
igreja primitiva e os reformadores pro­ uma diferença entre dizer: “Deus nos
testantes viveram, pregaram e labuta­ livros da Bíblia” e “Cristo nos livros
ram na carregada atmosfera dos “últi- da Bíblia”, assim como há uma dife-
mos dias”. Consideravam seu próprio rença entre dizer: “Educação centrali­
tempo como uma era apocalíptica. Vi­ zada em Deus” e “educação centrali­
veram numa histórica tensão entre o zada em Cristo”.
primeiro e o Segundo Advento. Os A Bíblia não foi escrita como um
apóstolos e os reformadores encaravam credo ou como um manual batismal.
com muita seriedade o realismo histó­ Antes, constitui o relato do que acon-
rico do cristianismo. A força propul­ teceu com as pessoas que tinham
sora de sua missão cristã tinha uma base agora um novo gênero de vida que não
histórica — a proclamação dos podero­ poderiam ter obtido por si mesmas.
sos atos de Deus na pessoa de Jesus Os fatos da vida e obra de Jesus Cristo
Cristo. são fundamentais; a maneira como os
A história do mundo e a história da que entraram em contato com Ele ex­
salvação têm avançado constantemente plicaram o significado desses fatos é a
para um ponto culminante. O apóstolo experiência da salvação. Esta experiên-
Paulo expressa-o nestas palavras: “Pois cia é acessível a todos. O valor do Novo
Deus permitiu que conhecêssemos o Testamento é que as experiências e
segredo de Seu plano, e é o seguinte: os encontros com a pessoa de Jesus
em Sua vontade soberana, Ele deter­ Cristo da Bíblia, segundo foram des­
minou há muito tempo que toda a his- critos nas Escrituras, tornam-se norma­
tória humana seja consumada em Cris- tivos para toda a experiência cristã, a
to, e que tudo quanto existe no Céu qual, por sua vez, deve ser julgada pela
ou na Terra encontre nEle sua perfeição Bíblia.
e cumprimento.” Efés. 1:10, Versão de
Phillips. Por conseguinte, quando houve a
No “unicamente Cristo” da His- formulação de alguns credos no tempo
tória temos a salvação efetuada no pri- da Reforma, eles só tiveram autorida-
de relativa; as Escrituras eram a auto-
meiro advento, trazendo todas as coi- ridade absoluta. O conceito comum é
sas em sujeição a Cristo como Senhor
dos senhores; a salvação a ser efetuada bem expresso na Primeira Confissão
no segundo advento trará todas as de fé de Basel (1534): “Submetemos
coisas em sujeição a Ele como Rei dos esta nossa confissão ao julgamento das
reis. Isto é o adventismo em seu ver­ Escrituras divinas, e estamos dispostos
a sempre obedecer de bom grado a
dadeiro significado. O “unicamente
Cristo” da História é uma Pessoa, e Deus e Sua Palavra, se formos corrigi­
Seus feitos devem ser proclamados em dos pelas referidas Escrituras Sagra­
todo o seu realismo histórico. das.” Portanto, para os reformadores,
a Bíblia era um regulador não regulado
por outro.
O “Unicamente Cristo” da Bíblia Voltemo-nos para Lutero a fim de
A Reforma Protestante tomou-se ilustrar o princípio de “unicamente
uma verdadeira remodelação e reorien- Cristo” na Bíblia. Ele entrou no mos­
tação no âmbito da hermenêutica. Fo- teiro em 1505 e empreendeu seus
ram encontrados novos instrumentos estudos profissionais de teologia desde
exegéticos pelos quais pudesse ser res- o começo de 1507 até receber o dou­
taurada a teologia bíblica e o cristia­ torado em 1512. Em 1513 começou a
nismo do Novo Testamento. O prin­ fazer preleções sobre o livro de salmos,
cípio exegético da Reforma era “unica­ e prosseguiu nessa atividade por mais
mente Cristo”. de dois anos. A maioria dos eruditos
Cristo palestrou com os dois discí- contemporâneos de Lutero afirmam
pulos no caminho de Emaús, no dia de que suas observações sobre o assunto
Sua ressurreição. “E, começando por da justiça pela fé, encontradas em seus
Moisés, discorrendo por todos os pro­ comentários sobre os Salmos 31 e 71,
fetas, expunha-lhes o que a Seu res- realmente expõem seu redescobrimen­
peito constava em todas as Escrituras. to do evangelho segundo aparece em
. . . E disseram um ao outro: Porven­ Romanos 1:17. Em 1515, 1516 e 1517
tura não nos ardia o coração, quando ele passou a prelecionar respectiva­
12 JULHO-AGOSTO
mente sobre Romanos, Gálatas e He- A Bíblia não foi princípio vivo e animado, que se apo­
breus. A chave que abriu a Bíblia para escrita como um credo dera da mente, do coração, dos mo­
Lutero foi o princípio cristomonístico. ou como um manual tivos e de todo o homem. Cristianismo
Ele achou que os Salmos eram gran­ batismal. Antes, — oh, se lhe pudéssemos experimentar
diosos e belos — “um precioso e ama- constitui o relato do a operação! É uma experiência vital,
do livro”, que “bem poderia ser cha- que aconteceu com as pessoal, que eleva e enobrece todo o
mado uma pequena Bíblia”, pois conti­ pessoas que tinham homem.”4
nha sucintamente tudo que se encon­ agora um novo gênero A principal questão religiosa, para
tra na Bíblia. Lutero disse que gênesis de vida que não Lutero, era: “Como ter certeza da sal­
é “um livro extraordinariamente evan­ poderiam ter obtido vação?” Nessa procura, os reformadores
gélico”, mas foi Daniel que recebeu o por si mesmas. avivaram o cristianismo do Novo Tes­
mais longo, o mais pormenorizado e o tamento e cunharam tais expressões
mais sublime prefácio de todos os pro­ teológicas como “só a Bíblia”, “unica­
fetas, pois Lutero achou que ele profe­ mente Cristo”, “só pela graça”, “uni­
tizou tão exata e admiravelmente a res- camente pela fé”. São princípios, con-
peito de Cristo, que “não se pode forme a definição dada no começo des­
passar por alto a vinda de Cristo, a me- te artigo. “Só a Bíblia” é a estrutura
nos que isto seja feito deliberadamen­ dentro da qual nos movemos. E dentro
te”. 1 dessa estrutura há um outro princípio
Cristo expressou o princípio de her­ — “unicamente Cristo” — que atua
menêutica cristomonístico ao dizer: como regra fixa, como fonte e como
“Examinai as Escrituras, ... e são elas a verdade em que se baseiam todas as
mesmas que testificam de Mim.” S. outras. Dentro da estrutura de “unica­
João 5:39. Lutero declarou que no Velho mente Cristo” temos dois outros princí-
Testamento “encontramos as fraldas e a pios que indicam a direção. Um deles
manjedoura em que Cristo jaz... Es- parte de Cristo para o homem (“só pela
sas fraldas são simples e humildes, mas graça”) e o outro parte do homem para
precioso é o tesouro que nelas está: Cristo (“unicamente pela fé”). A dou-
Cristo. ... E que é o Novo Testamen­ trina dos reformadores insistia tão pre­
to se não uma pregação pública e pro­ dominantemente sobre a singularidade
clamação de Cristo, expostas pelas afir­ e a perfeita suficiência de Cristo, que
mações do Velho Testamento e cumpri­ se tomou não somente o impulso de sua
das por meio de Cristo?”2 doutrina a respeito de Cristo, mas tam-
Infelizmente, no pensamento pro­ bém o centro de toda a sua teologia,
testante tem havido alguma ambigüi­ à qual se subordinou até mesmo a
dade no uso da frase “A palavra de doutrina da justificação.
Deus”. Tem-se declarado que a Bíblia
é a Palavra de Deus, que ela contém Em toda a história da igreja cristã,
a Palavra de Deus e que ela dá tes­ os teólogos periodicamente têm desco­
temunho da Palavra de Deus. Em Lu­ berto uma parte negligenciada de certa
tero encontramos estas três coisas man­ doutrina e salientado sua importância.
tidas numa relação que desce da Pala- É assim que deve ser; mas, se essa
vra como Cristo (S. João 1:1) para a parte negligenciada se toma o centro
Palavra como evangelho (S. João 1:14) de um sistema ou movimento teológi­
e para a Palavra como a Bíblia. co, passa a ser perigosa e talvez até
Lutero disse que Cristo é a “estrela herética.
e o âmago” das Escrituras, e “a parte Se determinado aspecto de uma dou-
central do círculo” em tomo do qual trina se toma o centro de uma teoria,
gira tudo o mais. Certa vez ele compa­ é fácil perder a totalidade da mensagem
rou alguns textos bíblicos a nozes duras, bíblica. Por exemplo, Martinho Lutero
cujas cascas não queriam romper-se, e não foi dogmático ao tratar do assunto
disse que, quando as encontrasse, ele da expiação, e, sim, um expositor da
as lançaria contra a Rocha (Cristo), para Escritura. Seus escritos sobre a expiação
que então conseguisse achar dentro contêm declarações que podem ser
delas sua “deliciosa amêndoa”.3 É essa incluídas em classificações comuns:
“deliciosa amêndoa” que o adventismo patrística, oriental, latina, penal, vicá­
procura realçar nas doutrinas da Igreja, ria, etc. No entanto, Lutero se inte­
incluindo a compreensão bíblica da lei ressava em apresentar uma mensagem
e do sábado. Como sucede com a lite- bíblica, e não em expor uma teoria
ratura de Ellen G. White, ele aponta acerca da expiação.
para um dogma cristocêntrico. Ela es- Os reformadores protestantes do sé-
creveu: “A palavra cristianismo tem culo XVI eram teólogos bíblicos que
um sentido muito mais amplo do que procuravam preservar em todas as
muitos lhe têm dado até aqui. Não é discussões dogmáticas, a totalidade da
um credo. É a palavra dAquele que mensagem soteriológica da Bíblia. É
vive e permanece para sempre. É um significativo que Jan D. Kingston Sig-
O MINISTÉRIO 13
gins, em seu livro: Martin Luther's Cristo expressou o tence à alma crente, e o que pertence
Doctrine of Christ (“A Doutrina de princípio de à alma também pertence a Cristo. ”7
Cristo de Martinho Lutero”), afirma hermenêutica Salvação é a entrega pela fé “unica­
que embora Lutero possa ser citado para cristomonístico ao mente a Cristo”. Então o cristão se
apoiar idéias que constam em todas as dizer: "Examinai as acha tão intimamente unido a Cristo
teorias históricas sobre a expiação, ele Escrituras, ... e são que se toma “um só ser”, “um só cor-
certamente não adotou nenhuma teo- elas mesmas que po” com Ele.
ria dessa natureza. Siggins escreve: testificam de Mim. ” A asseveraçao de Lutero de que a
“Talvez, porém, a própria variedade S. João 5:39. justificação é a doutrina magistral, o
das respostas à pergunta acerca do principal artigo e a pedra angular da
ponto de vista de Lutero obscureceu Igreja, precisa ser explicada de duas
a suspeita que deve recair sobre a maneiras. Primeira: Lutero queria
própria pergunta. Pois Lutero não tem dizer muito mais com a palavra “justi­
teoria alguma sobre a expiação.”5 E ficação” do que o conteúdo formal ou
acrescenta: “O estudo comparativo su­ sistemático da doutrina da justificação
perficial pode insinuar que Lutero em seu uso forense. Segunda: para
adotou todos os grandes esquemas (da Lutero a justificação era apenas um
expiação) — ou que ele era um pen­ aspecto, por mais vital que fosse, de
sador confuso que realmente não com­ um assunto muito mais amplo — o
preendeu nenhum deles. Na verdade, assunto de “unicamente Cristo”.
Lutero não está procurando fazer o que
os teólogos tentaram com finalidades Lutero não via discordância alguma
dogmáticas ou apologéticas, e é impos­ entre o ensino de Paulo e o de João.
sível equiparar seu resultado ao deles. Pelo contrário, ele lia a expressão
A estrutura lógica de sua doutrina di­ paulina “em Cristo” à luz da oração de
fere de todas as exposições deles, e S. João 17, que versa sobre a unida­
não pode ser, portanto, enquadrada de de Cristo. Por conseguinte, em mui-
em nenhuma delas. Indubitavelmen­ tos trechos nos quais Lutero chamou
te, porém, pode ser enquadrada na Es­ a justificação de ponto cardeal, ele usou
critura, a qual também não expõe ne- essa palavra para denotar um aspecto
nhuma teoria. ”6 muito mais amplo do que o que é
abrangido pela tradição dogmática.
Lutero definiu a Cristo como a “es­ Empregou-a para indicar toda a exube­
trela” da Escritura ou “o ponto central rância de nossa relação de unidade com
do círculo”. Também podemos dizer Cristo pela fé. Lutero identificou pron­
que Cristo é o “cubo da roda”. Assim tamente o assunto de Paulo, da justi­
como um estrela emite muitos raios, ça pela fé, com a ênfase de João à pes-
do cubo da roda da salvação também soa, à função e ao reino de Cristo.
saem muitos raios — perdão, conver­ Destarte, a forma dogmática em que
são, arrependimento, justificação, san­ a doutrina da justificação é enunciada
tificação, expiação, regeneração, ado­ com finalidades polêmicas constitui
ção, ressurreição e glorificação. Cada uma explicação inadequada para a ri­
um deles é uma tentativa para des­ queza da fé de Lutero. Não a justi­
crever o que acontece com o crente ficação, mas “unicamente Cristo” era a
quando “só pela graça” ele exerce fé norma de sua teologia e o princípio
“unicamente em Cristo”. O aro man­ vivificante de sua fé. “Só pela fé” era
tém todos os aspectos unidos em Cris- simplesmente outra maneira de dizer:
to — preservando a totalidade da men- “Unicamente Cristo”. Estas duas pala-
sagem soteriológica. A fé põe o indiví- vras, como a essência da doutrina e
duo em relação com outra Pessoa — vida cristãs, indicam em que consistiu
uma teologia de experiência na qual toda a Reforma. Disse Lutero: “Não co­
duas pessoas se entregam uma à outra. nheço absolutamente nada, a não ser
Nós o fazemos pela fé; Cristo o faz pela a Cristo unicamente. Oh, se tão-so­
graça. mente pudéssemos firmar tudo isso
Lutero redigiu estas belas palavras: em Cristo!”8 Assim ele realçou a singu­
“A fé não somente confere à alma o su­ laridade pessoal da relação com Cristo
ficiente para que se torne semelhante em que a teoria se transforma num fato
à Palavra divina: afável, livre e aben­ real, as expectativas em realização, e
çoada, mas também une a alma com o desejo em fruição.
Cristo, como a noiva com o noivo, e Para Calvino, igualmente, a gênese,
desse enlace Cristo e a alma se tomam a dinâmica e a essência de sua espiri­
um só corpo. . . .Ambos passam a des­ tualidade encontravam-se unicamente
frutar então de comunhão de bens, em Cristo. Embora reconhecesse a
quer seja a ventura, o infortúnio ou prioridade lógica da justificação, Cal­
qualquer outra coisa; de modo que aqui­ vino acentuava sua inseparável ligação
lo que pertence a Cristo também per- com a santificação. Ele não conside­
14 JULHO-AGOSTO
rava a justificação meramente como “Se nossos esse ponto, como também é o caso da
uma imputação forense de justiça, mas evangelistas fossem doutrina e da obra do Espírito Santo.
como uma tranformação interior. Ela nossos teólogos, e se Lutero asseverava que a fé é “algo
é fé numa pessoa — uma fé que signi- nossos teólogos fossem vivo, criador, ativo e poderoso.” Ele
fica uma união mística com Cristo. nossos evangelistas, achava que a fé “sempre está em ati-
Ouçamos as próprias palavras de Cal­ estaríamos mais perto vidade” e disse que não é mais possí-
vino: “Por que somos justificados pe- da Igreja ideal.” vel separar da fé as obras da lei, do que
la fé? Porque pela fé nos apegamos à separar a luz e o calor de uma chama.
justiça de Cristo, a qual, unicamente, Para ele, cada uma delas, como parte
nos reconcilia com Deus. Mas não po­ da doutrina da salvação, constitui um
demos apegar-nos a isso, sem apode- só ato de Deus. “Se alguém está em
rar-nos, ao mesmo tempo, da santifi­ Cristo, é nova criatura: as coisas anti-
cação. Pois Ele tornou-Se nossa justi­ gas já passaram; eis que se fizeram
ça, sabedoria, santificação e redenção novas.” II Cor. 5:17. O Espírito Santo
(I Cor. 1:30). Portanto, Cristo não jus­ é o agente exclusivo dos atos da salva-
tifica a uma pessoa sem também santi­ ção. Ele torna o crente “um novo
ficá-la. Pois esses benefícios estão liga­ rebento procedente da videira de Cris-
dos por um vínculo eterno; de modo to”, “uma nova criatura, com diferente
que, aos que Ele ilumina com Sua espírito, coração e pensamento”. O
sabedoria, a esses também redime; aos homem passa a ser “um só corpo” com
que redime, a esses também justifica; Cristo.11
aos que justifica, a esses também san­
tifica. Visto, porém, que toda a ques- Na virada do século, quando a Igreja
tão apenas tem que ver com a justiça estava sendo dilacerada pelos liberais
e a santificação, nós nos restringire­ e conservadores, um clérigo disse o
mos a elas. Embora possamos separar seguinte: “Se nossos evangelistas fos­
uma da outra, Cristo contém a ambas sem nossos teólogos, e se nossos teólo­
sem divisão alguma. Desejais então gos fossem nossos evangelistas, estaría­
obter justiça em Cristo? Deveis pos­ mos mais perto da Igreja ideal.” Em
suir primeiro a Cristo. Mas não po­ João Wesley havia uma rara mescla de
deis possuí-Lo sem participar de Sua evangelista, teólogo, educador e admi­
santificação, pois Ele não pode ser di­ nistrador de igreja. Estais lembrados
lacerado. Portanto, visto que o Senhor da experiência de Wesley numa pe-
nunca nos concede a fruição desses quena congregação de Londres. O Pre­
benefícios sem nos dar a Si mesmo, lecionador chegou a este ponto no pre­
Ele nos dá a ambas ao mesmo tempo: fácio de Lutero à Epístola aos Roma-
nunca uma sem a outra. Vemos assim nos: “Fé é uma obra divina em nós,
como é verdade que não somos justi­ que nos transforma e nos toma recém-
ficados sem as obras; contudo, isto não nascidos de Deus; mata o velho Adão,
ocorre pelas obras, pois nossa partici- e nos faz completamente diferentes de
pação em Cristo, pela qual somos jus­ coração, disposição, espírito e todo
tificados, abrange tanto a santificação poder, trazendo o Espírito Santo con­
como a justiça. ”’ sigo. Oh! a fé é algo vivo, criador, ativo
“Nossa salvação consiste destas duas e poderoso, de modo que é impossí-
partes, a saber: que Deus nos rege vel que ela não pratique continuamen­
por Seu Espírito e nos transforma à Sua te boas obras. Nem sequer pergun­
imagem no decorrer de toda a existên­ ta se as boas obras devem ser pra­
cia, e também que Ele sepulta todos ticadas; mas, antes que alguém per­
os pecados.”10 gunte, ela já as praticou, e sempre
está agindo. ”
Para Calvino, a justificação e a santi­
ficação se efetuam continuamente no João Wesley sentiu o coração aque-
cristão: elas coexistem em tensão dia­ cer-se de maneira incomum. Ele foi
lética, denotando contínuo andamento dominado por um novo poder. Sentiu
e progresso. que agora realmente confiava em Cris-
Essa incipiente união com Cristo é a to, e esperava unicamente pela Sua
necessária condição para a vida espiri- salvação. Disse Wesley: “Foi-me dada
tual. Na justificação, a graça é perdão; a certeza de que Ele tirou os meus pe-
na santificação, a graça é poder. A intei­ cados — sim, os meus — e me livrou
reza do aio redentor e restaurador da da lei do pecado e da morte. ”12
parte de Deus significa não só reconci- Esta foi a experiência da conversão
liação, mas também renovação. A pró- de Wesley. A teoria tornou-se um fato
pria fé, o elemento primordial na expe- real; a expectativa encontrou o seu
riência cristã, é considerada dinâmica cumprimento; o desejo transformou-se
e restauradora na vida humana. A dou- em fruição. E a resposta à pregação
trina do batismo dos crentes reforça de João Wesley, tanto por parte de pas­
O MINISTÉRIO 15
tores como de mineiros, encontrou A alma anelante e Please Almanacs para 1978 apresentou
eco nesta exclamação: faminta suplica de as estimativas do total de adeptos das
“Tal qual estou, eis-me, Senhor, modo plangente, como religiões mundiais em 1976. De acordo
Pois o Teu sangue remidor Maria Madalena no com essa fonte, os cristãos eram em
Verteste pelo pecador; passado: “Tiraram número de 1 bilhão; os maometanos,
Ó Salvador, me achego a Ti!” ... o Senhor e não 700 milhões; os hindus, 520 milhões;
O pensamento da Reforma sobre a sabemos onde O os confucionistas, 275 milhões; e os
união com Cristo foi belamente enun­ puseram.” S. João budistas, 260 milhões. O Dr. Ralph
ciado nesta palavras: “Ao nos sujeitar­ 20:2. Winter, do Seminário Fuller, Pasadena,
mos a Cristo, nosso coração se une ao relatou no Church Growth Bulletin, em
Seu, nossa vontade imerge em Sua maio de 1977, que 3 bilhões de pessoas
vontade, nosso espírito toma-se um no mundo são membros de grupos
com Seu espírito, nossos pensamentos sócio-culturais em que não há um só
serão levados cativos a Ele; vivemos cristão praticante.
Sua vida. Isto é o que significa estar Hoje em dia o cristianismo está
trajado com as vestes de Sua justiça. ”13 envolvido em toda parte num duplo
confronto — com as grandes religiões
O “Unicamente Cristo” mundiais, por um lado; e, por outro
da Eclesiologia lado, com o humanismo secular. O de­
Os reformadores protestantes admi­ nominado mundo cristão parece ter
tiam que havia duas características da perdido sua realidade cristã. A teolo­
verdadeira Igreja visível — o evange­ gia, os concílios de igreja e as organi­
lho pregado corretamente e os sacra­ zações eclesiásticas têm-se empenha­
mentos bem administrados. Mas fir­ do em exóticas tolices, com o resulta-
maram ambas essas coisas nos princí- do de que sua alma cristã se acha en­
pios de “unicamente Cristo”. ferma. A alma anelante e faminta su­
O homem constitui um indivíduo plica de modo plangente, como Maria
diante de Deus; mas, como membro Madalena no passado: “Tiraram ... o
do corpo de Cristo, ele também consti­ Senhor e não sabemos onde O puse­
tui um membro do povo do concerto. ram.” S. João 20:2.
Estes dois conceitos precisam conser- A história do pensamento cristão e
var-se unidos. das tendências religiosas modernas
Toologicamente, a Igreja cristã foi demonstra vivida e convincentemente
fundada em Cesaréia de Filipe, quan­ como Cristo tem sido sepultado sob
do Pedro confessou: “Tu és o Cristo, o dogmatismo, liberalismo, instituciona­
o Filho do Deus vivo”, e Cristo decla­ lismo, tendências, questões e sistemas
rou: “Sobre esta pedra edificarei a religiosos.
Minha igreja.” S. Mat. 16:16 e 18.
Os reformadores faziam menção de No entanto, sempre tem havido um
Cristo e da confissão de Pedro a res- remanescente. A pergunta que per­
peito de Cristo como a rocha da Igreja. manece é a seguinte: Como pode o
E a história da igreja cristã atesta o fato remanescente cumprir sua missão num
de que seu êxito ou fracasso está em mundo pagão? Só há uma resposta:
proporção direta com sua confissão O remanescente da atualidade precisa
de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. cumprir sua missão como o fez a Igreja
Aos olhos dos reformadores, a Igreja primitiva. Essa Igreja tinha a mensa-
gem das poderosas obras de Jesus Cris-
tomou-se o anticristo por deixar de to. Os cristãos primitivos impressio-
confessar a Cristo. navam-se com o próprio Jesus. O po-
A Igreja vive hoje em dia numa épo­ der do cristianismo primitivo era con­
ca semelhante ao período anterior a ferido diretamente pela Pessoa de Cris-
Constantino — um mundo pagão. Atual- to. Sua proclamação era a da singulari­
mente, a sexta parte da população dade da salvação da Pessoa de Jesus
mundial é maometana. Nalgumas na­ Cristo, o qual disse: “Atrairei todos a
ções em que cristãos e maometanos Mim mesmo.” S. João 12:32. Ele mes-
competem pela lealdade do povo, os mo era o cristianismo e o evangelho.
maometanos superam os cristãos na Os gregos disseram: “Senhor, quere­
proporção de 10 para 1. mos ver a Jesus.” Verso 21. “Alegra­
Com 60 milhões de habitantes, a Ni­ ram-se, portanto, os discípulos ao ve­
géria tem a maior população de todos rem o Senhor.” S. João 20:20. Os cris-
os países da África; pouco menos da tãos primitivos estavam convencidos,
metade dos nigerianos são maometa­ tinham certeza, e não nutriam dúvida
nos, e um pouco mais de um terço alguma, porque tinham a Cristo e sa­
são cristãos. A maior parte dos restan­ biam o que Ele fizera por eles. Conhe­
tes seguem diversas religiões locais. ciam a experiência da salvação na Pes-
O Reader s Digest and Information soa de Jesus Cristo.
16 JULHO-AGOSTO
João formulou sua experiência em “Aquele que crê no me o Seu poder que opera em nós, a
Í)alavras oriundas de uma significativa Filho de Deus tem em Ele seja a glória, na igreja e em Cris-
luta teológica com o gnosticismo e o si o testemunho. to Jesus, por todas as gerações, para
docetismo, perto do fim do primeiro Aquele que não dá todo o sempre. Amém. ”
século. “Aquele que crê no Filho de crédito a Deus, O faz
Deus tem em si o testemunho. Aque- mentiroso, porque não Bibliografia
le que não dá crédito a Deus, O faz crê no testemunho 1. Luther s Works, págs. 238, 254, 313 e 314.
mentiroso, porque não crê no testemu­ que Deus dá acerca do 2. Idem, págs. 235 e 236.
3. Idem, pág. 368.
nho que Deus dá acerca do Seu Filho. Seu Filho.” 4. Testemunhos para Ministros, págs. 421 e 422.
5. Jan D. Kingston Siggins, Martin Luther's Doctrine
. . . Aquele que tem o Filho tem a vida; of Christ, pág. 109.
aquele que não tem o Filho de Deus 6. Ibidem.
7. W. M. Landeen, Martin Luther's Religious Thought,
não tem a vida. ” I S. João 5:10-12. págs. 141 e 142.
Termino apresentando a bênção do 8. D. Martin Luther's Werke, 47, págs. 154 e 777.
9. Institutes, III. 16.1.
“unicamente Cristo” de Efésios 3:20 e 10. Comm. Malachi, cap. 3, v. 17.
21: “Ora, Àquele que é poderoso para 11. D. Martin Luther's Werke, 45, pág 667; 28, pág
187.
fazer infinitamente mais do que tudo 12. Martin Schmidt, John Wesley, vol. 1, pág. 263.
quanto pedimos, ou pensamos, confor- 13. Parábolas de Jesus, pág 312.

O que Crêem
os Adventistas Sobre
a “Parusia”
Uma série de debates tem surgido Pedro Apolinário preender melhor o assunto.
em tomo da palavra “parusia”, usada Professor de A Bíblia nos apresenta insofismáveis
24 vezes no Novo Testamento: 14 nas Português e provas de como será o regresso de
epístolas paulinas, quatro em Mateus, Crítica Textual Cristo à Terra. Atos 1:10-11; 3:20-21,
duas em Tiago, três em II Pedro e Fil. 3:20; Tito 2:13; Heb. 9:27.
uma em I João. Afinal, qual é o signi­ no Instituto
ficado dessa palavra? Adventista Termos Usados Para o Regresso
A suprema esperança de todos os de Ensino, de Cristo
cristãos, através dos séculos, tem sido São Paulo. A volta de Cristo é chamada com
o cumprimento da promessa de Cristo muita propriedade de “Segunda Vinda”,
de regressar a este mundo para pôr mas nas Escrituras várias palavras são
fim ao domínio de Satanás. Esta espe- usadas para designar este aconteci-
rança se encontra alicerçada nas infalí­ mento, sendo as principais estas:
veis promessas encontradas nas Escri-
turas Sagradas. 1a) Apocalipsis.
“Uma das verdades mais solenes, e É uma transliteração da palavra gre­
não obstante mais gloriosas, reveladas ga, cuja tradução seria revelação de algo
na Escritura Sagrada, é a da Segunda que não se vê.
vinda de Cristo, para completar a gran- O Novo Dicionário da Bíblia, refe­
de obra da redenção. ”... rindo-se a esta palavra afirma:
“A doutrina do segundo advento é “Sua volta será também um apoca-
verdadeiramente, a nota tônica das lipsis, um desvendamento ou desco­
Sagradas Escrituras. ”(1) berta, quando o poder e a glória, que
Apesar das irrefutáveis provas bíbli- agora já Lhe pertencem, em virtude
cas, que apresentam a maneira da Sua de Sua exaltação e presença celestial
segunda vinda, interpretações errôneas (Fil. 2:9; Efé. 1:20-23; Heb. 1:3; 2:9),
têm surgido para explicar este evento serão desvendados diante do mundo
glorioso. (I S. Ped. 1:13).(2)
Uma série de debates tem surgido 2a) Epiphania
em tomo da palavra grega “parusia”. Esta palavra designava no grego
Diante desta realidade, é necessário clássico o aparecimento de uma divin­
estudá-la e compará-la com outras pa- dade que se encontrava escondida.
lavras usadas na Bíblia, para designar Este vocábulo traduzido em portu-
a “Vinda de Cristo”, a fim de com- guês por aparição ou manifestação, re­
O MINISTÉRIO 17
fere-se à vinda de Cristo, como se Ele Apesar das irrefutáveis Afirmam:
saísse de um lugar escondido, para nos provas bíblicas, “A primeira destas é a parusia ou
trazer as ricas bênçãos da salvação. que apresentam a simplesmente 'a vinda’ quando se dará
(II Tess. 2:8; I Tim. 6:14; Tito 2:13). maneira da Sua o rapto dos santos, também chamado
3ª) Faneroo segunda vinda, rapto secreto. ”(3)
O excelente dicionário de Arndt and interpretações Esta vinda será secreta e apenas co-
Gingrich traduz este verbo assim: errôneas têm nhecida pelo desaparecimento dos
a) Revelar, fazer conhecido, mos- surgido para explicar eleitos. Ensinam ainda, que neste
trar: I Cor. 4:5; Tito 1:3. este evento glorioso. evento Cristo não descerá à Terra, mas
b) Tomar visível ou conhecido, ser permanecerá nas alturas sem ser visto
revelado: S. Mar. 4:22; S. João 3:21; pelos homens. Este acontecimento
Rom. 16:26; Efés. 5:13. denomina-se a “vinda para Seus santos”,
c) Aparecer, revelar-se. Aparece em I Tess. 4:15-16, e será seguido por um
quatro passagens com referência à se­ intervalo de sete anos. Durante este
gunda vinda de Cristo: Col. 3:4; I S. período sucederão algumas coisas,
Pedro 5:4; I S. João 2:28; 3:2. assim descritas por eles:
4ª) Parusia “... Esta será seguida de um inter­
Das quatro apresentadas é a mais valo de sete anos, durante os quais o
conhecida e mais importante para des­ mundo será evangelizado, S. Mat. 24:24;
crever a segunda vinda de Cristo, por Israel convertido, Rom. 11:26; a grande
isso requer de nós um estudo mais tribulação ocorrerá, S. Mat. 24:21-22,
minudente. e o anticristo ou o homem de pecado
será revelado, II Tess. 2:8-10. ”(4)
Que é “Parusia”? Esta doutrina não é autorizada pelas
Sagradas Escrituras, porque contém
Palavra grega proveniente do verbo uma série de implicações sem apoio
grego “pareimi” que siginifica estar
presente. bíblico.
A palavra “parusia” é usada 24 vezes Por exemplo:
no Novo Testamento. Catorze vezes A Bíblia nos afirma que a segunda
nas Epístolas Paulinas, quatro em Ma- vinda de Cristo será um só evento.
teus, duas em Tiago, três em II Pedro Será visível como nos confirmam Atos
e uma em I João. 1:11; Heb. 9:27; Apoc. 1:7.
Todos os comentaristas e dicionaris- II — Adas “Testemunhas de Jeová”.
tas são unânimes em afirmar que o Defendem com bastante insistência
termo grego significa, presença, che­ o esdrúxulo ensino de que Cristo já
gada, vinda, volta e que é usado duas voltou à Terra.
vezes para presença (II Cor. 10:10; Fil. Esta heresia teve origem com Carlos
2:12) e 22 vezes para a vinda de Russell, fundador do movimento.
Cristo (S. Mat. 24:3, 27, 37; I Cor. Seu ensino tem sofrido algumas mu-
1:8, etc., etc.) danças, visando harmonizar datas dís­
O alentado “Dicionário do Novo Tes­ pares.
tamento” de Tayer ao estudar a pala­ Carlos Russell dizia que Cristo tinha
vra “parusia” afirma: vindo no ano de 1874. Seus seguidores
“No Novo Testamento acha-se, espe­ afirmam hoje que esta vinda de Cristo
cialmente, relacionada com o Advento, se deu em 1914, e para contornarem
isto é, a futura volta visível de Jesus, esta discrepância dão a seguinte expli-
procedente do Céu, o Messias, que cação:
virá para ressuscitar os mortos, decidir Com a segunda presença de Cristo
o último julgamento e estabelecer de em 1874 se iniciou a idade evangé-
maneira aparente e gloriosa, o Reino lica, que durou por um período de
de Deus. ” 40 anos, isto é, até 1914.
Apesar desta uniformidade, quanto Ensinam as Testemunhas de Jeová
à sua significação, idéias antibíblicas que Cristo já está aqui e que Sua
têm surgido em sua interpretação. vinda se processou de forma invisível
Dentre estas as duas mais conhecidas e que só pode ser vista pelos olhos es-
são: pirituais.
Em que passagens se baseiam para
I — A dos Dispensacionalistas ou negarem a segunda vinda de nosso Sal­
do Arrebatamento Secreto. vador de forma visível e corpórea e de­
Suas idéias sobre a segunda vinda fenderem a presença invisível de Cris-
de Cristo são pregadas insistentemente to? Evidentemente, em nenhum texto
e aceitas por bom número de pessoas. bíblico se encontra esta idéia, que foi
Crêem numa futura dupla vinda de arquitetada, em 1871, na mente do
Cristo separada por um período de fundador da seita — Russell.
sete anos. Estabeleceram suas conclusões ba­
18 JULHO-AGOSTO
seadas em premissas falsas, isto é, in­ O principal problema A maioria dos cristãos, inclusive os
terpretando mal S. Mat. 23:29 e S. João relacionado com a adventistas, crêem no tocante à Segun-
14:19. vinda visível ou da Vinda de Cristo, apenas na veraci­
Afirmam em Make Sure ofAll Things, invisível é uma dade do Testemunho Bíblico. Várias
pág. 321: “O retorno de Cristo será conseqüência da passagens nos esclarecem como será
invisível, porque Ele testificou que o tradução da palavra este glorioso acontecimento, base da
homem não poderia ve-lo, outra vez, grega “parusia”que acalentada esperança cristã.
em forma humana. ” deveria ser traduzida, Henry H. Halley disse:
As afirmativas de Cristo não servem como já vimos, “É melhor não dogmatizar acerca
de fundamento para a suas excêntricas apenas duas vezes por de certos eventos relacionados com Sua
conclusões, porque violaram dois prin- presença, mas eles Segunda Vinda. Porém, se a lingua-
cípios fundamentais da hermenêutica: sempre traduzem desta gem é um veículo do pensamento, cer-
1º) Ao fazer a exegese da Bíblia, o maneira. tamente se requer muita explicação e
intérprete deve ter em vista o contexto. interpretação para retirar das palavras
2?) Esqueceram-se da Regra Áurea de Jesus algo que não signifique o que
da Interpretação, chamada por Oríge­ Ele conceituava sobre Sua Segunda
nes de Analogia da Fé. O texto deve Vinda, apresentada como um evento
ser interpretado através do conjunto histórico, bem definido, no qual, Ele,
das Escrituras e nunca através de pas­ pessoal e literalmente (embora não em
sagens isoladas. Seu corpo de carne, senão em Seu
O principal problema relacionado corpo glorificado) aparecerá para reunir
com vinda visível ou invisível é uma a Si mesmo em eterna glória aqueles
conseqüência da tradução da palavra. que foram redimidos por Seu san­
grega “parusia”, que deveria ser tra­ gue. ”(5)
duzida, como já vimos, apenas duas O ensino da Bíblia, quando à ma-
vezes por presença, mas eles sempre neira da vinda de Cristo, poderia ser
a traduzem desta maneira. Para atingi- sintetizado nos seguintes tópicos:
rem seus objetivos fizeram sua própria 1º) Será um regresso físico.
tradução da Bíblia, a chamada Novo Que o regresso de nosso Senhor
Mundo. será físico, deduz-se claramente de pas­
“Parusia” pode, conforme o contex- sagens bíblicas, tais como: Atos 1:11;
to, ser traduzida por presença, mas na Heb. 9:27 e Apoc. 1:7.
maioria dos casos traduzi-la assim, seria Jesus voltará à Terra em corpo, não
uma violação no sentido — S. Mat. 24: no corpo corrompido pela degradação
3, 27, 37, 39; I Cor. 15:23. ocasionada pelo pecado, mas no corpo
O ensino russelita apresenta algumas renovado e glorioso. Jesus estava dei­
contradições como as seguintes: xando os discípulos em pessoa e assim
1º) A Bíblia ensina que com a vinda mesmo, em pessoa, promete voltar.
de Cristo terminariam os males da hu­ 2?) Será uma vinda repentina.
manidade. Como explicar que milhões A Bíblia nos ensina que esta vinda
de pessoas morreram, desde esse ano, será repentina, inesperada, tomando a
por meio de guerras, terremotos e pes­ muitos de surpresa. S. Mat. 24:37-44;
tilências? 25:1-12; S. Mar. 13:33-37; I Tess. 5:2,
2?) É humanamente impossível har­ 3; Apoc. 3:3; 16:15.
monizar que Cristo tenha vindo em Embora haja muitos sinais, estes
1914, com Suas próprias palavras em S. não nos autorizam a marcar ano, mês
Mat. 24:30, 36. ou dia para este evento. Os sinais são
3?) Se com a presença de Cristo os advertências para nossa preparação,
males aumentaram, as Testemunhas de porque não sabemos o dia nem a hora
Jeová precisavam confessar que Cristo em que Cristo deve voltar.
não é um bom governante. A Bíblia
ensina exatamente o contrário. 3?) Será uma vinda gloriosa.
4?) Os perversos serão destruídos Sua segunda vinda, embora pessoal,
com a Sua vinda. II Tess. 2:8. física e visível, será bem diferente da
Foram eles destruídos em 1874 ou primeira. Não virá no corpo de Sua
em 1914? humilhação, mas no corpo glorificado
e com vestes reais. Virá como Rei dos
5º) Cristo ensinou que a ceia deve­ reis e Senhor dos senhores.
ria ser comemorada até que Ele vol­ 4?) Sua vinda será universalmente
tasse. II Cor. 11:26. Se Ele já voltou visível e até audível. S. Mat. 24:26-31;
as Testemunhas de Jeová não deveriam Apoc. 1:7.
mais comemorá-la. Conclusões
Para uma boa compreensão da se­
gunda vinda de Cristo, é mister saber, Depois de estudar como será a Se-
o que a Bíblia de maneira clara e pre- guda Vinda de Cristo, conforme a Bí-
cisa nos ensina. blia, concluímos:
O MINISTÉRIO 19
A idéia Dispensacionalista, embora As palavras de Jesus em Dia glorioso e feliz para os remidos
bem arquitetada por seus defensores, S. Mat. 24:23 seriam justos e para os que morreram com a
baseia-se em argumentos humanos. A excelente advertência fé e a esperança posta em Jesus Cristo.
autoridade suprema em assuntos reli­ aos que divergem de
giosos — a Bíblia — não os aprova, um assim diz o Senhor, As palavras de Jesus em S. Mat. 24:
portanto não podem ser aceitos. para não acreditarem 23 seriam excelente advertência aos
As idéias russelitas partem de várias em ensinos não que divergem de um assim diz o Se-
premissas falsas à luz da Bíblia, come­ alicerçados nas nhor, para não acreditarem em ensinos
çando pela tradução errada da palavra Escrituras Sagradas. não alicerçados nas Escrituras Sagradas.
grega “parusia”. Sendo a Bíblia a nor­ Demos graças a Deus, prezado leitor,
ma do pesquisador sincero, conclusões pela segura palavra inspirada, que nos
que ela não aprova devem ser colo­ cientifica de que a Segunda Vinda de
cadas de lado. Cristo será visível fisicamente e que
Apesar de exuberante luz encontra­ todos terão a sublime oportunidade
das nas Escrituras Sagradas, há grupos, de vê-Lo em glória e majestade. A Bí-
como os dois já citados, e pessoas iso­ blia confirma: Todo o olho O verá.
ladas que não aceitam os seus ensinos Eu almejo vê-Lo. Não aspira você a
sobre a maneira da Segunda Vinda de idêntico privilégio?
Cristo. Quão terrível será para estes
o glorioso aparecimento nos ares de
Cristo em Sua glória, na glória de Seu Referências
Pai e na glória de miríades de santos 1. O Conflito dos Séculos, Ellen G. White, pág. 323.
anjos! Tétricas são as palavras bíblicas 2. Novo Dicionário da Bíblia, pág. 512.
3. Teologia Sistemática, L. Berkhof, pág 832.
que descrevem a sua angústia. Apoc. 4. Idem, pág 833.
6:15-17. 5. Idem, pág 935.

Em que Sentido
a Teologia da Libertação
Caiu em Erro?
A “teologia da libertação” não é W. Dayton Roberts reação evangélica contra ela.
apenas uma moda passageira como a Vice-presidente 1. A maioria das teologias começam
“morte de Deus”. Tendo-se originado da Missão da a “teologizar” com base nalgumas su­
no Terceiro Mundo, ela constitui uma América Latina posições acerca do conhecimento, da
séria tentativa para dar uma nova olha­ revelação, da existência de Deus ou da
da à tradicional teologia ocidental e re­ experiência cristã. A teologia da li­
jeitar tradições e crendices relaciona- bertação insiste que toda teologização
das com igrejas de classe média no precisa começar com uma entrega à
Ocidente capitalista. libertação dos oprimidos — um ponto
Naturalmente, há muitas diferenças de partida referente à prática, e não
de opinião entre os teólogos da liber­ à teoria.
tação, alguns dos quais são católicos ro­ 2. Se a luta pela libertação é o ponto
manos, e outros, protestantes. Alguns de partida, é importante compreender
têm elevado conceito das Escrituras, sua história, seus antecedentes e suas
outros não. Alguns atuam dentro da inferências. A História toma-se deste
igreja, outros a repudiam. É difícil, modo a maneira de Deus falar-nos em
portanto, falar em termos gerais a res- situações contemporâneas, e os histo­
peito deles; mas temos de assumir esse riadores, sociólogos e economistas se
risco se quisermos efetuar uma expo­ tornam os nossos profetas.
sição simples de seu consenso ou pen- 3. É impossível teologizar fora do
samento concêntrico. contexto. Os teólogos sempre impõem
O que segue é uma lista de declara­ seu próprio contexto a suas análises e à
ções simplificadas que de modo geral, expressão de seus pensamentos. Isto
mas não na totalidade, refletem o ca- é inevitável. Os teólogos ocidentais têm
ráter da teologia da libertação e uma inconscientemente feito teologia no
20 JULHO-AGOSTO
contexto de seu próprio status quo Os teólogos sempre avaliada sob o aspecto da atividade
capitalista. De modo geral, eles têm impõem seu próprio humana, e, sim, dos atos de Deus.
sido insensíveis, portanto, às forças que contexto a suas É muito mais preferível a definição da
oprimem, alienam, desumanizam e análises e à expressão História feita por Moltmann: “Tudo
marginalizam a todos, menos aos pou­ de seus pensamentos. que acontece entre a promessa de Deus
cos felizardos. Uma teologia para as Isto é inevitável. e seu cumprimento.” O propósito de
massas não pode desenvolver-se em Deus é a vara de medir!
semelhante contexto — ela requer de­ 6. O lugar positivo do sofrimento,
dicação prévia à libertação dos oprimi­ do martírio e da “cruz” na experiência
dos. cristã é passado por alto ou subesti­
4. A teologia da libertação reafirma mado. O sofrimento passivo ou injusto
a visão holística do homem, chamando não se adapta ao projeto de libertação
nossa atenção para a tendência da teo- das coisas, exceto, talvez, ao idolatrar
logia ocidental (retomando a suas ori- um herói da causa, como Camilo Torres
gens greco-filosóficas) de dicotomizar ou Che Guevara. A bem-aventurança
tudo. À moda helenística, nossa lógica dos injuriados e perseguidos transfor­
tem sido escravizada pela tese e antí­ ma-se, em vez disso, no grito de com­
tese, pela teoria e prática, por concei­ bate da libertação. Não é um sistema
tos do espírito contra a matéria, da de ética, mas uma Causa.
alma contra o corpo, e assim por diante. Moisés teve de aprender de maneira
O dualismo dos antigos filósofos gre­ penosa quão errônea é essa perspec­
gos, naturalmente, tem deturpado nos- tiva. Seus motivos eram bons quando
sa interpretação das Escrituras. Temos ele procurou vencer a inércia da li­
inferido comumente que as expressões bertação matando o egípcio; mas os
bíblicas ou são “espirituais” ou “físicas” escravos israelitas ainda tiveram à sua
em sua aplicação, mas, via de regra, frente mais 40 anos de injusta tortura
não ambas as coisas. Esta é, porém, e escravização. A opressão e a tirania
a maneira grega, e não hebraica, de — assim como a doença e o sofrimento
encarar as questões. Uma vez que — podem fazer parte do plano disci­
compreendamos este fato, é fácil de plinar de Deus para o Seu povo. Isto
ver como os teólogos da libertação têm não diminui a impiedade da injustiça
conseguindo acrescentar importantes social, nem a aprova. Simplesmente
dimensões à exegese de tais conceitos reconhece que até a volta de Cristo,
bíblicos como justiça, paz, reino, po­ o joio e o trigo crescem juntos e que a
breza, etc. salvação precisa ser avaliada em termos
Obviamente, breves asserções como mais duradouros e holísticos do que
estas não podem descrever a teologia meramente os da libertação sócio-eco­
da libertação de modo adequado. Mas nômica.
podem ajudar a demonstrar que ela 7. Na maioria das expressões da teo-
constitui uma escola de pensamento logia da libertação a presença ativa do
que tanto encerra valores positivos Espírito Santo não é reconhecida —
como riscos perigosos para os que a nem o sobrenatural. A devoção pes-
abraçarem sem meticulosa análise. Há soal, o misticismo, as disciplinas de
alguns aspectos de seus ensinos em piedade, oração e meditação também
que os cristãos evangélicos inevita­ estão sujeitas ao ataque da teologia da
velmente se sentem muito contrafei- libertação.
tos, e outros que podem ser conside­ 8. Outra coisa que faz com que os
rados heréticos. Por outro lado, mui- evangélicos se sintam contrafeitos é a
tas de suas idéias dão positivo realce tendência entre os teólogos da liberta-
ao evangelho. ção de desprezarem, negligenciarem
5. Para os teólogos da libertação, a ou marginalizarem a Igreja.
História é o incontestável cenário da É verdade que alguns teólogos da
teologia. Mas é a história humana, libertação mais voltados para a Bíblia
não a revelação divina, que faz pender têm procurado manter a Igreja no qua­
o prato da balança. Ouvimos Deus fa­ dro. Este esforço, naturalmente, é
lar-nos princípalmente por meio de louvável. Com freqüência, afigura-se,
ocorrências humanas contemporâneas. porém, que eles adotam uma posição
A dinâmica social é melhor compreen­ elitista, chegando mesmo a fazer da
dida pela aplicação de princípios mar­ igreja a base de sua atividade. Seu inte­
xistas. O futuro do homem está em suas resse parece consistir especialmente
próprias mãos. A prática da libertação em “conscientizar” ou produzir uma
é o âmago da salvação. Esta é a índole percepção dos problemas sócio-econô­
da historiologia da libertação. micos de um povo oprimido que mui-
Essa perspectiva parece pôr a Histó- tas vezes desconhece seu próprio
ria fora de foco. Ela não deve ser estado de opressão e escravização.
O MINISTÉRIO 21
9. Mais desconcertante ainda é o O dualismo dos antigos sendo uma indicação básica de como
conceito de salvação por parte desse filósofos gregos, Deus falou num contexto bem diferen­
sistema, a qual é definida em termos naturalmente, tem te, o que deve elucidar Sua fala em
coletivos, com virtual exclusão da re­ deturpado nossa nosso contexto.
denção individual. Isto constitui um interpretação das “É verdade que esta espécie de her­
corretivo necessário a uma compreen- Escrituras. menêutica histórica pode destruir a falsa
são tradicional da salvação que talvez segurança de que a palavra de Deus
tenha sido demasiado pietista ou ego­ foi dada uma vez por todas e o abso­
cêntrica. Mas a teologia da libertação luto da palavra de Deus em si. A pa­
parece ter lançado fora o que é essen­ lavra não existe para nós neste sentido. ”
cial junto com o que não é essencial! — Torres & Eagleson, Theology in
A maioria dos liberacionistas, por América, Orbis, 1975, pág. 299.
assim dizer, equiparam a salvação com Retomamos assim ao nosso ponto de
a libertação sócio-econômica e política. partida. Começamos com a prática da
Isto é uma experiência fortemente opressão ou com a revelação divina?
pelagiana, com um evangelho de “faça- Os liberacionistas dizem que só pode-
o por si mesmo”. A opressão é o ponto mos começar a interpretar a Palavra de
de partida, a história humana é o pal­ Deus depois que nos situarmos em
co e uma raça humana despertada (ou nosso contexto escolhido — porque a
“conscientizada”) é a esperança da li­ natureza de nosso contexto determi­
bertação. Deus está em atividade — nará como interpretaremos a Palavra!
dizem eles — na sociedade secular, o Precisamos resolver, antes de tudo,
que é uma realidade. Mas, na medida identificar-nos com a luta dos oprimi­
em que a salvação é definida em termos dos. Então, e só então, poderemos
de libertação da opressão política e “teologizar”.
econômica, o “evangelho” se toma Os evangélicos respondem que o
universalista. Isto porque a obra de contexto, embora seja importante, é
Deus é encarada como estando no um acidente: Deus fala ao homem no
mundo, antes que na Igreja, e toda Egito de Moisés, no Israel de Davi,
sociedade está lutando pela libertação na Nínive de Jonas, na Pérsia de Da-
(isto é, “salvação”). niel, na Roma de Nero, nos Estados
Os evangélicos têm boas razões para Unidos de Carter e na Nicarágua de
olhar com suspeita essa espécie de Somoza. O contexto é extremamente
soteriologia, pois constitui uma rever­ importante e não pode ser passado por
são direta aos “modernistas” e “evan­ alto. Mas também não pode tomar-se
gélicos sociais” da geração passada. Mi­ um a priori para a revelação de Deus,
na o encontro pessoal com Jesus Cris- a qual se destina a todos os homens
to e a “justificação pela fé”, que sem- em toda parte. Precisamos dar um
pre constituíram os acalentados carac­ contexto a nossa teologia, mas não per­
terísticos da doutrina evangélica. mitir que o contexto usurpe a autorida-
De capital importância nas deturpa­ de ou universalidade da própria Palavra
ções mencionadas mais acima é a opi­ de Deus.
nião dos teólogos da libertação sobre a 11. Finalmente, não nos contenta­
Bíblia. Em termos gerais, ela não é mos de maneira alguma com a com-
muito diferente do que se espera de preensão dos liberacionistas sobre a
teólogos católico-romanos ou protes­ pessoa e o ministério de Jesus Cristo.
tantes liberais. De algum modo, Ele é visto em di­
Hugo Assman é um liberacionista mensões messiânicas, mas não é glori­
mais radical do que a maioria, mas ficado como o Messias. Os relatos dos
continua sendo um de seus respeitados Evangelhos são às vezes alongados
porta-vozes, e um dirigente com o qual até o ponto de retratarem a Jesus como
a escola da teologia de libertação está revolucionário político e alguém que
identificada publicamente. Esta é a tolera a violência (o incidente da pu­
sua atitude: “A palavra de Deus não é rificação do Templo) quando usados
mais algo absoluto e fixo, uma propo­ contra a injustiça. Grande parte de
sição eterna que aceitamos antes de Seus ensinos é desprezada, bem como
analisar os conflitos sociais e antes de a Cristologia das Epístolas Paulinas. A
dedicar-nos à transformação da reali- imagem do herói da teologia da li­
dade histórica. Os apelos de Deus a bertação parece adaptar-se mais a Judas
nós, a palavra de Deus hoje em dia, Macabeus do que a Jesus de Nazaré.
promanam do processo coletivo da per­ A questão decisiva, portanto, acerca
cepção, análise e envolvimento histó­ da teologia da libertação é a seguinte:
ricos, isto é, da prática. A Bíblia e toda Pode-se aceitar alguns de seus concei­
a tradição cristã não falam diretamente tos e evidentes contribuições sem en­
a nós em nossa situação. Mas continuam golir todo o conjunto, com seus refle-
22 JULHO-AGOSTO
xos humanísticos, pelagianos, univer­ Os evangélicos não beracionismo e evangelicalismo — real-
salistas e radicais? Nossa resposta é: podem admitir que um mente não são compatíveis. Os evangé­
Talvez, mas... ! a priori tenha primazia licos não podem admitir que um a
Na realidade, pode-se aceitar os seus sobre a Palavra de priori tenha primazia sobre a Palavra
valores enquanto se rejeita as suas he­ Deus. de Deus. Isto inevitavelmente detur­
resias. Naturalmente, isto é arriscado, pará ou dividirá a verdade. Nossa pri-
mas o risco tem sido sempre a sombra meira lealdade sempre deve ser a Jesus
aderente à teologia. E há demasiado Cristo e ao evangelho. A sociologia, a
valor na teologia da libertação para lan­ economia e a ciência política podem
çá-la completamente fora. muito bem ser auxiliares do evangelho,
Os evangélicos devem ser, porém, mas esta relação não pode ser invertida.
seletivos ao batearem o ouro. Preci­
sam insistir na autoridade normativa e É neste sentido que os teólogos da
decisiva da Palavra de Deus. Pois, em libertação se afastaram do caminho
última análise, os dois sistemas — li- certo! — Christianity Today.

Pastorados
de Curta Duração
Falando de modo geral, os ministros Dr. Amold Diversos fatores estão envolvidos
se mudam com demasiada freqüência. Kurtz no impacto negativo sobre o cresci­
Recentemente, a Igreja Luterana Ame­ Professor de mento das igrejas, dos pastorados de
ricana, uma denominação de aproxima­ curta duração:
damente 3 milhões de membros e Liderança e Primeiro: há evidências convincen­
4.200 pastores em atividade, teve Administração tes de que os anos mais produtivos de
1.200 mudanças de endereços entre de Igreja no um pastorado raramente começam antes
seus clérigos e 950 autênticas mudan- Seminário do quarto, quinto ou mesmo sexto
ças de posição num só ano! Mais de Teológico da ano da permanência de um ministro em
20 por cento de seus profissionais de Universidade determinada congregação. Natural-
tempo integral se mudaram durante Andrews mente, há exceções a esta generaliza­
esse ano. Nalgumas denominações, ção, mas é provável que são muito
os ministros se mudam ou são trans­ raras. O período de “arrancada” num
feridos com mais freqüência ainda. novo pastorado é considerado agora
Muitos pastores que conheço se mu­ como abrangendo doze a dezoito me­
dam de dois em dois ou de três em ses4; por conseguinte, muitos minis-
três anos. As pesquisas reforçam a tros se mudam antes que tenha ocorri­
conclusão de que os pastorados de cur­ do a transição do período de “arran­
ta duração exercem um efeito negati­ cada para o período de significativa
vo sobre as congregações. produtividade. Os pastores que se mu­
Em seu relatório para a Assembléia dam muito cedo, talvez chegando à
Geral da Igreja Presbiteriana Unida, conclusão de que sua obra está ter­
em 1976, a Comissão Especial de minada, quando na realidade apenas
Tendências Entre os Membros de está começando, são grandemente pre­
Igreja declarou o seguinte: “As congre- judicados
gações que crescem ... se caracterizam Além disso, os pastorados de curta
por mais forte liderança pastoral.” “A duração contribuem para a passividade
igreja ... precisa reconhecer ade­ nas congregações. A maioria das con-
quadamente que a forte competência gregações com pastorados de curta du­
pastoral é um fator decisivo para a vi­ ração saúdam o novo pastor de modo
talidade e o desenvolvimento de uma passivo: “Outro pastor, outro progra-
congregação. ”2 Lyle Schaller menciona ma” ou “Ele precisará do primeiro ano
que “dezenas de pesquisas têm de­ para acomodar-se; portanto não emba­
monstrado que as congregações de rá­ lemos a embarcação”. Essa passividade
pido crescimento tendem a ser igrejas é deveras perceptível em igrejas que
com pastorados de longa duração, e as serviram de campo de prova para mi-
congregações estáveis ou em declínio Obra nistros principiantes.
propendem a ter pastorados de curta As igrejas que têm tido um novo
duração.”3 Pastoral pastor pelo menos de três em três
O MINISTÉRIO 23
anos, não somente saúdam o recém- Há evidentes benefícios completado depois de uns quinze me­
chegado com uma atitude passiva, mas para o ministério ses, quando todas as famílias haviam
incidem em maior passividade ainda no e a congregação sido visitadas e se encerrou um ciclo
terceiro ano, pois todos sabem que o em pastorados de longa de ocorrências de um ano de igreja,
pastor logo se mudará para outra loca­ duração. Estes e passamos para o próximo ciclo com
lidade, a fim de “assumir maiores res­ últimos proporcionam um novo conjunto de oficiais. O segun­
ponsabilidades”. Os pastorados de cur­ um ministério estável do capítulo abrangeu a completa remo­
ta duração também aumentam a passi­ num mundo em delação do santuário da igreja e a cons-
vidade de alguns membros que passa­ contínua alteração. trução de um centro recreativo — dois
rão o primeiro ano do mandato do itens proeminentes na agenda dessa
novo ministro lamentando a partida de congregação, quando cheguei lá. O ter-
seu predecessor e decidindo se valerá ceiro capítulo, talvez o mais fecundo
a pena estabelecer laços de amizade para crescimento e desenvolvimento,
com o novo ministro. jamais foi escrito devido a minha trans­
Talvez o motivo mais importante de ferência para o Seminário.
ser prejudicado o crescimento da igreja Os pastores e as congregações tiram
pela freqüente mudança de pastores proveito de mandatos mais longos. Além
tenha que ver com o crescente valor de evadir-se à tensão da mudança
que hoje é dado às relações pessoais. para ele mesmo e sua família, o pastor
Os pastorados de curta duração pode- verifica que pastorados mais longos lhe
riam ser defendidos se adotássemos impõem a contínua necessidade de
um ponto de vista puramente funcio­ estudo e crescimento profissional que
nal do papel desempenhado pelo pas- pode ser evitada no ministério de curta
tor. Hoje em dia, porém, os membros duração. Devido à realidade da inér-
têm tanto interesse em saber quem é cia humana, a tentação de repetir a ro-
o pastor como o que ele fez. Sua sa- tina de nossa arremetida (e também
tisfação total com sua experiência na os sermões) numa congregação após a
igreja está intimamente ligada a sua outra é muito forte e de conseqüên-
relação com o pastor e a seus sentimen- cias funestas.
tos para com ele. As igrejas que cres- Os pastores e as congregações pre-
cem são entusiastas por sua fé, por sua cisam de tempo para aprender como
igreja e por seu pastor. É difícil man- labutar em meio de tensões e situações
ter esse entusiasmo se o pastor é trans­ adversas. À medida que se avolumam
ferido de dois em dois anos. as frustrações e se esgotam nossos re­
O assunto do mandato pastoral está cursos para enfrentá-las, é natural que
recebendo especial estudo. Certo gru- concentremos nossas energias na trans­
po de pesquisa definiu o pastorado de ferência, e não na solução do que
longa duração como sendo aquele que acontece aqui mesmo e agora. É ver-
dura dez anos ou mais. Isto constituiu dade que mudanças periódicas e novas
uma decisão arbitrária influenciada situações têm valor, mas o conceito que
pela pesquisa de Levinson, a qual reve­ estamos salientando neste artigo é a
la pontos de transição nos homens a necessidade de que o pastor obtenha
intervalos de dez anos. Levinson tam- contínua capacidade de trabalhar com
bém considera a dificuldade de manter qualquer congregação por meio de
um sonho por mais tempo do que seis novas compreensões e novas perspec­
a oito anos.5 Alguns acham que um tivas. Isto é impossível para o ministro
período de oito anos constitui uma óti­ cuja carreira passa rapidamente por
ma duração para um ministério numa uma sucessão de pastorados.
congregação, sendo o mínimo de cinco Hoje em dia está havendo crescente
anos. compreensão do efeito debilitador de
Há evidentes benefícios para o mi- freqüentes mudanças pastorais. Algu-
nistério e a congregação em pastorados mas denominações em que as trans­
de longa duração. Estes últimos pro­ ferências pastorais são efetuadas por
porcionam um ministério estável num repartições denominacionais estão ago­
mundo em contínua alteração. Pasto­ ra limitando consideravelmente essas
rados mais longos são necessários para transferências, em especial de uma
efetuar modificações significativas e associação para a outra.
duradouras numa congregação e para
concretizar essas modificações.
Bibliografia
Seria bom que os ministros pensas­
1. Roy M. Oswald, The Pastor as Newcomer, pág. 1.
sem em seu mandato num determinado 2. Lyle Schaller, Asstmilating New Members, pág. 53.
lugar sob o aspecto de capítulos, e 3. Idem, pág. 55.
4. Roy M. Oswald, op. cit., pág. 1.
não de anos. Por exemplo, em minha 5. Daniel Levinson e outros, The Seasons of a Man's
última igreja o primeiro capítulo foi Life.

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