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A Migração de Andaluzes para o Algarve (1850-1914):

os casos de Loulé e Vila Real de Santo António

João Romero Chagas Aleixo

Tese de Doutoramento em História


(área de especialização em História Contemporânea)

(versão corrigida)

Setembro 2021
Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Doutor em História, especialização em História Contemporânea,
realizada sob a orientação científica dos Professores Doutores
Luís Nuno Espinha da Silveira e Paulo Jorge Chalante Azevedo Fernandes.
Canto a Andalucía

Cádiz, salada claridad; Granada,


agua oculta que llora.
Romana y mora, Córdoba callada.
Málaga cantaora.
Almería dorada.
Plateado Jaén. Huelva, la orilla
de las Tres Carabelas...
y Sevilla.

Manuel Machado

(Sevilha, 1874 – Madrid, 1947)

Sou algarvio
E a minha rua tem o mar ao fundo

António Pereira

(Armação de Pêra, 1914 – Lisboa, 1978)


A Maria Hezette Vasquez Formozinho Romero Chagas

(Loulé, 1919 – Loulé, 1954),

a avó que nunca conheci.

A Célia Vasquez Formozinho Romero Magalhães

(Loulé, 1913 – Faro, 2002),

pelo gosto que me transmitiu pela Andaluzia.

Ao Joaquim Romero Magalhães

(Loulé, 1942 – Coimbra, 2018),

pela Amizade, vigilância e exigência constante.

À Mãe,

por tudo.
AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Joaquim Romero Magalhães (1942-2018), louletano descendente, por via
materna, de andaluzes, pela sugestão do tema, pelo incentivo na investigação, pela singular eru-
dição, pela vigilância constante e pela exigência sempre presente.

Ao Professor Doutor Luís Nuno Espinha da Silveira (1954-2021), orientador inicial da


tese – de Janeiro de 2015 a Janeiro de 2020 –, por me ter ajudado a pensar nos fundos arquivís-
ticos a investigar, fornecido a bibliografia inicial, ajudado a arquitecturar a sua estrutura inicial
e pela constante troca de ideias sempre estimulante e profícua.

Ao Professor Doutor Paulo Jorge Fernandes, orientador final da tese – de Janeiro de


2020 a Setembro de 2021 –, pela confiança, incentivo, dissipar de dúvidas e pelo desenho final
que a tese foi tomando.

Ao Professor Doutor Manuel Gonzalez Molina Navarro, professor catedrático da


Universidad Pablo Olavide, em Sevilha, por me ter ajudo a compreender melhor as caracterís-
ticas geográficas, agrícolas e pecuárias do Andévalo andaluz.

Aos incansáveis e sempre disponíveis genealogistas, Dr. António Manuel Capa Horta
Correia, para V.R.S.A., e Arq.º Miguel Centeno Neves, para Loulé, que com as suas anteriores
investigações, sabedoria histórica e infinita generosidade me conduziram sempre para águas
calmas e límpidas. Sem os seus preciosos conhecimentos esta tese não seria a mesma.

À Dr.ª Maria Bella Cumbrera Tavares, para V.R.S.A., e à Dr.ª Maria Regina Delgado e
ao Dr. João Barros Madeira, para Loulé, que, através das suas memórias familiares, me ajuda-
ram a compreender um pouco melhor a vivência social das duas colónias de andaluzes, para
além da generosidade com que me abriram os seus Arquivos Particulares e me facilitaram al-
guns documentos.

Ao primo José Paulo Vasquez, por me ter oferecido alguns documentos relacionados
com a família Alvares Romero que tinha em sua posse.

À Professora Doutora Maria João Raminhos Duarte e ao Dr. Nuno Campos Inácio, para
o concelho de Vila Nova de Portimão; e ao Professor Doutor Hugo Cavaco, para o concelho de
V.R.S.A., que, sempre que interrogados, me elucidaram todas as minhas dúvidas.

IX
Ao Dr. Aurélio Cabrita, que foi crucial para perceber melhor o início da indústria corti-
ceira no concelho de Silves.

Ao Dr. Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, que teve a generosidade de me
oferecer uma cópia dactilografada da inédita monografia de El Almendro, da autoria do Padre
Emiliano Rodriguez (1904).

Ao genealogista Bruno Portugal Gomes, pela sua sabedoria e disponibilidade sempre


que houvesse dúvidas em relação a um antepassado Centeno ou Formozinho/Formosinho.

Ao conservador-chefe João Carlos Viegas Quintino, por me ter ajudado a manobrar os


sempre espessos, burocráticos e poeirentos livros de registo prediais do concelho de Loulé.

Ao colega e investigador Dr. David Gregório, que me ajudou, em muito, na recolha dos
dados relativos aos registos de baptismo das freguesias louletanas de São Clemente (1800‑1905)
e de São Sebastião (1891-1910).

À colega e investigadora Dr.ª Susana Sousa, que me ajudou a recolher os dados relati-
vos aos registos de casamento das freguesias louletanas de São Clemente (1852-1911) e de São
Sebastião (1891-1910).

À Ana Isabel Soares, minha dilecta companheira, pela revisão ortográfica da tese, apro-
veitando, igualmente, para pedir desculpas pelas ausências, silêncios e irritabilidades.

À Gabriela Soares, pelo elegante e sóbrio designer gráfico final, assim como pela fran-
ciscana paciência que soube ter com o autor.

Ao João Gilberto, ao Tom Jobim e ao Caetano Veloso, que, através das suas músicas e
poesias, me acompanharam nas milhares e milhares de horas passadas ao computador.

X
A Migração de Andaluzes para o Algarve (1850-1914):
os casos de Loulé e Vila Real de Santo António
Tese de Doutoramento em História
(área de especialização em História Contemporânea)

The Migration of Andalusians to the Algarve (1850-1914):


the cases of Loulé and Vila Real de Santo António
Tese de Doutoramento em História
(área de especialização em História Contemporânea)

João Romero Chagas Aleixo

RESUMO

O estudo apresentado constitui uma dissertação de Doutoramento em História, variante História


Contemporânea, no domínio historiográfico da História Local, Regional e das Migrações.
Pretendeu-se, com ele, estudar e explicar o fenómeno migratório de andaluzes para o Algarve no
período compreendido entre c. 1850 e 1914. Para tal, procedeu-se a uma aturada e profunda in-
vestigação historiográfica de documentação em vinte arquivos – paroquiais, prediais, municipais,
distritais, provinciais e nacionais, em Portugal e em Espanha –, assim como em vinte centros de
documentação e/ou bibliotecas – municipais, universitários, provinciais e nacionais – daqueles
dois países. Além dos fundos arquivísticos, consultaram-se fontes impressas, periódicas e orais.
Concluiu-se que a emigração andaluza para o Algarve foi localizada no tempo (segunda metade
do século XIX) e no espaço (comarca do Andévalo, província de Huelva). Demonstrou-se que
os primeiros emigrantes começaram por vir durante, e na sequência, da Guerra da Independência
(1808-1814), pelo facto de Villanueva de los Castillejos ter sediado, entre 1810 e 1813, o Quartel-
General das tropas castelhanas que defenderam a região do Condado de Niebla. Viu-se, assim,
que Castillejos e o vizinho município de El Almendro foram dois dos principais emissores de
emigrantes para o Algarve. Inaugurado esse fluxo migratório, outros se seguiram praticamente
ao longo de todo o conflituoso século XIX espanhol. No Algarve, destacaram-se sobretudo duas
colónias de andaluzes: negociantes e comerciantes na vila de Loulé; comerciantes, marítimos
e industriais conserveiros em Vila Real de Santo António. Demonstrou-se que estas formavam
colónias numerosas, empreendedoras e pujantes, que, com os anos, alcançaram estatuto social,
económico e político, conquistando lugares de vereação, em Loulé, ou chegando a assumir a
presidência da autarquia durante diversos mandatos, em Vila Real de Santo António. Aqui foram
os principais impulsionadores das indústrias pesqueira e conserveira, fundando um importante
conjunto de fábricas nas últimas duas décadas do século XIX e introduzindo um conjunto sig-
nificativo de inovações tecnológicas que fizeram maximizar a produção de bens, possibilitando
com isso o crescimento das exportações. Procurou-se ainda, neste âmbito, biografar os principais
industriais conserveiros andaluzes a operar no Algarve: Cayetano Feu Marchena, no concelho

XI
de Vila Nova de Portimão; e Sebastián Ramírez, Francisco Rodríguez Tenório e Juan Maestre
Cumbrera, no concelho de Vila Real de Santo António. A análise do intercâmbio migratório da
região da Andaluzia para o Algarve, concentrado primordialmente naqueles dois concelhos, foi
ao pormenor de exemplos biográficos de alguns dos indivíduos mais relevantes neste curso mi-
gratório. Com este estudo pretendemos adentrar mais profundamente na compreensão do tecido
sócio-económico do Algarve daquela época, no que se espera também contribuir para o seu en-
tendimento histórico alargado ao presente.

ABSTRACT

The present study is a PhD thesis in History, branch of Contemporary History, in the historio-
graphical domain of Local, Regional and Migration History. Its main purpose was to study and
explain the phenomenon of migratory waves of Andalusians to the Algarve in the period compri-
sed between c. 1850 and 1914. To this end, a thorough and in-depth historiographical investiga-
tion of documents was undertaken in twenty different archives – parochial, predial, municipal,
district, provincial, and national, both in Portugal and in Spain – as well as in twenty document
centres and/or libraries – municipal, university, provincial, and national – in these two countries.
In addition to archival funds, printed, periodic, and oral sources were consulted. The conclusion
was that the Andalusian emigration to the Algarve was located in time (in the second half of the
19th century) and in space (from the comarca of Andévalo, Huelva province). It was demons-
trated that the first emigrants began to arrive during, and even after, the War of Independence
(1808-1814), mainly because between 1810 and 1813 Villanueva de los Castillejos hosted the
headquarters of the Castilian troops who defended the Niebla County. Thus, Castillejos and
the neighbouring municipality of El Almendro were the two main emitters of emigrants to the
Algarve. Once this migratory flow was inaugurated, others followed practically throughout the
whole Spanish conflicting 19th century. In the Algarve, two colonies of Andalusians stood out:
merchants and traders in the town of Loulé; traders, seamen, and industrial canners in Vila Real
de Santo António. As the thesis attempts to show, these formed numerous, enterprising, and thri-
ving colonies, whose members went progressively on to achieve social, economic and political
status, conquering council seats in Loulé, and even holding the presidency of the municipality
for several terms in Vila Real de Santo António. Here they were the main leaders of the fishing
and canning industries, founding an important group of factories in the last two decades of the
19th century and introducing a significant set of technological innovations that maximized the
production of goods, thus enabling the growth of exports. In this context, an attempt was also
made in this work to biograph the main Andalusian canning industrials operating in the Algarve:
Cayetano Feu Marchena, in the municipality of Vila Nova de Portimão; and Sebastián Ramírez,
Francisco Rodríguez Tenório and Juan Maestre Cumbrera, in the municipality of Vila Real de
Santo António. The analysis of this migratory exchange from the Andalusia region to the Algarve,
primarily concentrated in those two municipalities, goes into the detail of offering biographical
examples of some of the most relevant individuals in this migratory course. This study was pur-
sued with the intention to further the understanding of the socio-economic fabric of the Algarve
in that historical period, in the hope to contribute to the historical understanding of its present.

PALAVRAS-CHAVE: Migrações, Andaluzia, Algarve

KEYWORDS: Migrations, Andalusia, Algarve

XII
ÍNDICE

Lista de abreviaturasXVI
Lista de siglasXVII
Critérios de edição XIX
Introdução1
1. O Tempo e o Espaço 19
1.1. O espaço inter-regional 19
1.1.1. O Andévalo: uma breve caracterização27
1.2. A análise demográfica dos concelhos Algarvios (1864-1920) 31
1.3. A análise quantitativa do número de estrangeiros residentes no Algarve
(1890-1920)41
1.4. As relações comerciais entre o Algarve e a Andaluzia desde Época Moderna51
2. A emigração espanhola entre 1880 e 192055
2.1. Os principais países de destino da emigração espanhola55
2.2. Causas da emigração espanhola 62
2.2.1. Causas da emigração andaluza 68
2.3. Causas da migração de andaluzes para o Algarve ao longo do século XIX 73
2.3.1. Causas políticas 73
2.3.2. Causas económicas88
2.4. Villanueva de los Castillejos: uma breve caracterização geográfica
e sócio-económica (século XVIII – 1920)98
2.5. El Almendro: uma breve caracterização geográfica e sócio-económica
(século XIX – 1920) 108
3. A emigração de andaluzes para o Baixo Alentejo e para os concelhos algarvios
de Lagos, Vila Nova de Portimão, Lagoa, Silves e Faro117
3.1. Breves notas sobre a emigração andaluza para o (Baixo) Alentejo ao longo
do século XIX117
3.2. A emigração de andaluzes para o concelho de Lagos125
3.3. A emigração de andaluzes para o concelho de Vila Nova de Portimão128
3.3.1. Os estrangeiros residentes em Vila Nova de Portimão 133
3.3.2. Da Catalunha para a Andaluzia ao longo do século XVIII140
3.3.3. A construção da praia da Rocha e a chegada dos primeiros andaluzes147
3.4. A emigração de andaluzes para o concelho de Lagoa148
3.5. A emigração de andaluzes para o concelho de Silves151
3.5.1. Os García Blanco 153
3.5.2. Os Gomes Pablos 156

XIII
3.5.3. A indústria corticeira em Silves157
3.6. A emigração de andaluzes para o concelho de Faro159
3.6.1. O exemplo de Modesto Gomes dos Reyes na indústria
de tecelagem farense 164
4. A emigração de andaluzes para Loulé189
4.1. Os movimentos migratórios inter-regionais189
4.2. A vila de Loulé ao longo da segunda metade do século XIX171
4.3. A migração andaluza para a vila de Loulé172
4.3.1. Padrinhos de baptismo e testemunhas de casamento192
4.4. As redes sociais e as cadeias migratórias em Loulé192
4.5. A importância económica da colónia de andaluzes em Loulé:
comércio, indústria e serviços195
4.5.1. Comércio195
4.5.2. Indústria208
4.5.3. Serviços214
4.6. O estatuto sócio-económico da comunidade andaluza residente em Loulé218
4.7. O estatuto sócio-político da comunidade andaluza residente em Loulé225
4.8. A influência andaluza no culto a Nossa Senhora da Piedade 231
4.8.1. A influência andaluza nas Festas em honra de Nossa Senhora
da Piedade, Mãe Soberana dos louletanos 231
4.8.1.1. As influências andaluzas no léxico utilizado pelos Homens
do Andor 234
4.8.2. A primeira edição do Carnaval Civilizado de Loulé 237
4.9. O intercâmbio Loulé-Andaluzia e manutenção dos laços com a Andaluzia 238
5. A emigração de Andaluzes para Vila Real de Santo António247
5.1. Os movimentos migratórios inter-regionais247
5.2. Monte Gordo249
5.3. Os antecedentes e a fundação de Vila Real de Santo António252
5.4. A colónia de andaluzes residentes em V.R.S.A.: uma quantificação
e caracterização257
5.5. A importância económica da colónia de andaluzes em V.R.S.A. 264
5.5.1. Comércio 264
5.5.1.1. O comércio antes da indústria 267
5.5.2. Indústria270
5.5.3. Serviços284
5.5.3.1. A concessão da iluminação a gás de V.R.S.A.284
5.5.3.2. O sector financeiro: a banca e os seguros288

XIV
5.6. O estatuto sócio-político da comunidade andaluza residente em V.R.S.A.291
5.7. O estatuto sócio-económico da colónia de andaluzes a residir em V.R.S.A.295
5.8. A manutenção dos laços com a Andaluzia297
Conclusão 305
Fontes e bibliografia 321
1. Fontes manuscritas 321
1.1. Arquivos portugueses 321
1.2. Arquivos espanhóis 326
1.3. Arquivos particulares 328
2. Fontes impressas 329
2.1. Fontes impressas portuguesas 329
2.2. Fontes impressas estrangeiras 335
3. Fontes orais 337
4. Periódicos 338
5. Estudos 339
5.1. Obras de caracter geral 339
5.2. Estudos demográficos 340
5.3. Estudos económicos 341
5.4. Estudos sobre migrações de carácter geral 344
5.5. Estudos sobre a emigração espanhola 345
5.6. Estudos sobre a emigração portuguesa 348
5.7. Estudos de História Local e Regional do Algarve 352
5.8. Estudos sobre a Andaluzia 360
5.9. Estudos sobre a Guerra da Independência na Andaluzia 364
5.10. Biografias e memórias (pessoais e familiares) 366
5.11. Metodologia 367
5.12. Obras literárias 367
5.13. Outros estudos 368
6. Webgrafia 370
Índice de quadros 371
Índice de gráficos 374
Apêndice documental 375
Apêndice cartográfico 383
Apêndice biográfico 399
Anexo documental 463
Anexo de imagens489

XV
LISTA DE ABREVIATURAS

AA. VV.: autores vários n./d.: não discriminado


apud: citado em n.e.i.: não existe informação
art.: artigo n./i.: não identificado
art. cit.: artigo citado op. cit.: obra citada
b: baptizado a p. ex.: por exemplo
c: circa p.: página
cd.: caderno pp.: páginas
cf.: conferir r.: reinado
cit.: citado s./d.: sem identificação da data de publicação
coord.: coordenação s./e.: sem identificação do editor
cx.: caixa s./f.: sem número de fólio
doc.: documento s./i.: sem informação
f.: falecido a s./l.: sem identificação do local de publicação
fl.: fólio ss.: seguintes
fls: fólios t.: toneladas
lv.: livro V. N. de Portimão: Vila Nova de Portimão
mç.: maço v.: verso
n.: nascido a V.R.S.A.: Vila Real de Santo António
n.º: número vol.: volume

XVI
LISTA DE SIGLAS

A.C.R.P.C.L.: Arquivo da Conservatória do Registo Predial do Concelho de Loulé


A.D.F.: Arquivo Distrital de Faro
A.G.A.: Archivo General de la Admnistración (em Alcalá de Henares)
A.H.M.A.R.M.: Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes (em Vila Real de Santo
António)
A.H.M.O.: Arquivo Histórico Municipal de Olhão
A.H.M.O.P.T.C: Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
(em Lisboa)
A.H.M.S.: Arquivo Histórico Municipal de Silves
A.H.N.: Archivo Historico Nacional (em Madrid)
A.M.A.: Archivo Municipal de Ayamonte
A.M.E.A.: Archivo Municipal de El Almendro
A.M.Lagoa: Arquivo Municipal de Lagoa
A.M.Lagos: Arquivo Municipal de Lagos
A.M.Lisboa: Arquivo Municipal de Lisboa
A.M.L.P.J.R.M.: Arquivo Municipal de Loulé Professor Joaquim Romero Magalhães
A.M.V.: Archivo Municipal de Villablanca
A.M.V.C.: Archivo Municipal de Villanueva de los Castillejos
A.N.T.T.: Arquivo Nacional da Torre do Tombo (em Lisboa)
A.P.I.N.S.C.: Archivo Parroquial de la Iglesia de Nuestra Senõra de la Concepción (em Villanueva
de los Castillejos)
A.P.N.A.: Archivo de Protocolos Notariales de Ayamonte
B.N.P.: Biblioteca Nacional de Portugal (em Lisboa)
B.P.H.: Biblioteca Provincial de Huelva
C.D.A.H.M.M.P.: Centro de Documentação e Arquivo Histórico do Museu Municipal de Portimão
F.C.D.M.M.L.: Fototeca do Centro de Documentação do Museu Municipal de Loulé

XVII
CRITÉRIOS DE EDIÇÃO

O presente trabalho foi escrito segundo o Acordo Ortográfico de 1945. Nas citações ou trans-
crições de fontes manuscritas optou-se por não actualizar a ortografia. Nas citações ou transcri-
ções de fontes impressas optou-se por actualizar o ortografia. Nas citações ou transcrições de
fontes castelhanas optou-se pela não tradução para a língua portuguesa. Na citação ou transcri-
ção de estudos em língua estrangeira optou-se, sempre, pela tradução para a língua portuguesa.
Os nomes e os apelidos em castelhano surgem citados conforme aparecem na documentação
consultada. Sendo que, tratando-se da documentação portuguesa, os apelidos espanhóis surgem,
a maior parte das vezes, aportuguesados, grafia que se respeitará. Sempre que se publique uma
expressão em castelhano, ou uma alcunha de uma determinada pessoa, esta será editada a itálico.

XIX
INTRODUÇÃO
Palavras prévias

Desde muito novo que ouvia lá por casa ter uma costela andaluza. Não será bem uma costela.
Ser trisneto de três trisavós andaluzes do lado materno – o trisavó Romero, o trisavó Fermosiño,
apelido que, depois de aportuguesado, passou a Formozinho, e o trisavó Vasquez –, e, ainda
para mais, todos naturais do mesmo município – Villanueva de los Castillejos – que, em mea-
dos do século XIX (c. de 1860), resolveram emigrar, fixar residência, abrir negócios e constituir
famílias em Loulé, será, porventura, mais do que uma costela. São muitos vasos sanguíneos.
Não há volta a dar.

Mas seria esta apenas uma peculiar característica familiar? Ou existiriam, também, as-
cendentes andaluzes em outras famílias louletanas? Sem fazer um grande esforço, reuni, men-
talmente, mais de vinte apelidos andaluzes de famílias que se tinham radicado em Loulé e que
por lá ficaram. Todavia, queria saber mais. E, à primeira oportunidade, propus-me a fazer uma
incursão pelo tema. Estávamos em 2011 e eu frequentava o curso de mestrado em História, área
de especialização em História Contemporânea, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa. Assim, na unidade curricular de História Política do Liberalismo
em Portugal, ministrada pelo Professor Doutor Paulo Jorge Fernandes, resolvi escolher como
objecto de investigação para o trabalho final «A Imigração Andaluza para o Reyno dos Algarves
durante o séc. XIX: os casos dos concelhos de Vila Real de Santo António, Castro Marim,
Alcoutim e Loulé». Navegava, então, por um mar nunca antes navegado. Porque tanto quanto
sei, era a primeira vez que alguém se propunha investigar este tema.

Feito o trabalho e já escolhido o objecto de investigação para trabalhar na disserta-


ção de Mestrado, o meu primo, «quase-tio», Joaquim Romero Magalhães, também ele loule-
tano e descendente de andaluzes, convidou-me e incentivou-me a aprofundá-lo numa tese de
Doutoramento. Tal como eu, Romero Magalhães queria saber como é que os nossos antepassa-
dos – os meus três trisavôs eram seus bisavôs – tinham emigrado para Loulé. Porquê? Como?
E que dimensão teria alcançado tal fluxo migratório? Depois deste «convite», advertiu-me de
que deveria alargar o objecto no espaço e no tempo. Devo, pois, a Joaquim Romero Magalhães
(Loulé, 18.04.1942 – Coimbra, 24.12.2018) a escolha, o incentivo, o estímulo, a vigilância ini-
cial e a exigência sempre presente que esta dissertação foi tomando.

1
Definição do objecto de investigação

Dado não existir nenhum levantamento realizado, nem, tampouco, bibliografia publicada sobre
a temática, elegi para trabalhar, numa primeira fase, todos os concelhos do Algarve entre 1800
e 1950: o Algarve como um todo e duas datas redondas.

Comecei, então, por realizar uma recolha, exaustiva e sistemática, das fontes existen-
tes em todos os arquivos municipais do Algarve, assim como no Arquivo Distrital. Nos treze
arquivos em questão – os doze municipais mais o distrital – deparei-me com a existência de
uma fonte documental praticamente comum a todos eles: os Livros de registo dos estrangeiros
residentes no concelho, fonte, normalmente, pertencente ao fundo do administrador de cada
concelho1. Porém, realizado o levantamento de todos esses livros de registo, desde cedo
me apercebi de que as respectivas séries cronológicas não eram coincidentes entre si. Seria
necessário delimitar, no espaço e no tempo, o objecto de investigação. Para tal sobrepus todas
as séries cronológicas levantadas, por forma a encontrar um maior denominador comum a todas
elas. Feita a dita sobreposição o resultado encontrado foi o seguinte:

a) No espaço: os concelhos de Lagos, Vila Nova de Portimão, Lagoa, Silves, na sub-região


do Barlavento algarvio; e Faro, Loulé e Vila Real de Santo António, na sub-região do
Sotavento algarvio;

b) No tempo: desde a segunda metade do século XIX até ao início da Primeira Grande
Guerra Mundial – 1850 a 19142.

Estava encontrado o objecto de investigação.

Para uma mais fácil organização e sistematização das informações e tratamento de


dados, o presente trabalho encontra-se dividido pelo espaço administrativo do concelho. Deste
modo, do ponto de vista cronológico a investigação desenvolveu-se entre o início da segunda
metade do século XIX (1850) e o início da Primeira Grande Guerra Mundial, em 1914, abarcan-
do, assim, o período temporal em que essa migração inter-regional foi mais intensa, isto é, entre

1. Dos dezasseis concelhos que compõem o Algarve, apenas quatro, à época, não possuíam arquivos municipais:
Castro Marim, São Brás de Alportel, Monchique e Aljezur.

2. Séries de estrangeiros residentes que ficaram fora do intervalo temporal escolhido: Albufeira (1937-1951);
Olhão (1929-1930, 1934-1938); Tavira (1929-1941) e Alcoutim (1937); ou que eram pouco significativas por te-
rem poucos anos: Vila do Bispo (1849-1851).

2
a última década do século XIX e a primeira década do século XX. Sendo as balizas cronológi-
cas deste estudo 1850 e 1914, poderá estudar-se o que aconteceu a, pelo menos, três diferentes
gerações de andaluzes emigrados para o Algarve. Por outro lado, ao iniciar o período estudado
em 1850 e ao terminá-lo em 1914, será possível obter uma visão mais alargada, no tempo e no
espaço, com o objectivo de tentar perceber as dinâmicas migratórias que levaram ao grande
crescimento migratório verificado no final do século XIX e início do século XX.

Inquérito historiográfico

As perguntas de partida que se colocaram à presente investigação foram as seguintes: quais os


motivos que estiveram na base dessa emigração de andaluzes para o Algarve? Quais os facto-
res e/ou os critérios de escolha relativos às terras para as quais emigraram? Qual o contributo
das várias colónias de andaluzes no desenvolvimento e no crescimento da economia regional
algarvia, quer ao nível do comércio, da indústria e dos serviços? De que forma se procedeu, ou
não, a integração sócio-cultural e sócio-política dessas várias colónias de andaluzes nos vários
concelhos a estudar?

Formuladas estas questões centrais, pretendeu-se seguir o rasto do seu percurso pelos
concelhos algarvios de Lagos, Vila Nova de Portimão, Lagoa e Silves, no Barlavento; e Loulé,
Faro e V.R.S.A., no Sotavento. E, nesse caso, surgiram um novo e variado conjunto de questões.
Estes emigrantes andaluzes casavam entre si ou com locais? A que negócios e indústrias se de-
dicaram? Que fábricas construíram, e quais as fábricas de que foram proprietários? Que estatuto
social, político e económico tinham nas localidades para as quais emigraram? Agiam de forma
individual ou funcionavam como uma espécie de colónia?

Estado da Arte

No princípio do século XX o monografista algarvio Ataíde Oliveira compilou algumas infor-


mações sobre a presença de andaluzes no «Reyno do Algarve», apontamentos publicados em
alguns dos seus estudos monográficos sobre os concelhos algarvios3. Constituem anotações

3. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Loulé, 3.ª edição, Faro, Algarve em Foco editora, 1989
[1905]; OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Olhão, 3.ª edição, Faro, Algarve em Foco editora, 1999

3
sempre dispersas, mas que podem fornecer algumas pistas de investigação. Todavia, neste au-
têntico marasmo historiográfico, foi a geógrafa Carminda Cavaco que mais contribuiu para o
aprofundamento deste tema. Primeiramente, através de alguns artigos publicados na revista de
Geografia Finisterra (1971 e 1974)4; e, em 1976, com a sua tese de Doutoramento em Geografia
Humana, intitulada O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar5.

Não existindo nenhum estudo sobre o conjunto do Algarve, agruparemos a bibliografia


existente para cada um dos concelhos de modo isolado. Vila Real de Santo António (V.R.S.A.)
é aquele que apresenta mais informações sobre a emigração andaluza. Destacando-se os traba-
lhos mais gerais de Ataíde de Oliveira (1908)6, Carminda Cavaco (1971 e 19767), Hugo Cavaco
(1997)8 e, mais recentemente, os interessantes e muito bem documentados trabalhos de António
Capa Horta Correia (2008, 2019 e 20209).

Hugo Cavaco, referindo-se ao último quartel do século XVIII, apresenta duas ordens de
factores para a chegada de andaluzes a V.R.S.A. Primeiro: as sucessivas guerras legislativas,

[1906]; OLIVEIRA, Ataíde, Monografia de Porches, Concelho de Lagoa, 3.ª edição, Faro, Algarve em Foco
editora, 2003 [1912] e, ainda, OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António,
3.ª edição, Faro, Algarve em Foco editora, 1999 [1908].

4. Cf. CAVACO, Carminda, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve», in Finisterra,


Lisboa, vol. VI, n.º 11, 1971, pp. 41-83. CAVACO, Carminda, «Monte Gordo: aglomerado piscatório e de veraneio
(primeira parte)», in Finisterra, Lisboa, vol. IX, n.º 17, 1974, pp. 75-99; e, ainda, CAVACO, Carminda, «Monte
Gordo: aglomerado piscatório e de veraneio (segunda parte)», in Finisterra, Lisboa, vol. IX, n.º 18, 1974, pp. 245-300.

5. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento
da Região do Algarve, 1976, pp. 408-413.

6. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, 3.ª edição, Faro, Algarve em
Foco editora, 1999 [1908].

7. Cf. CAVACO, Carminda, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve», in Finisterra,


Lisboa, vol. VI, n.º 11, 1971, pp. 41-83 e CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar,
vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento da Região do Algarve, 1976, pp. 407-409.

8. Cf. CAVACO, Hugo, Vila Real de Santo António. Reflexos do Passado em Retractos do Presente. Contributos
para o Estudo da História Vila-Realense, Vila Real de Santo António, edição da Câmara Municipal de Vila Real
de Santo António, 1997.

9. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia, Vila
Real de Santo António, edição da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 2008; CORREIA, António
Horta, Memórias & Documentos, vol. II – Vila Real de Santo António (1863-1909): notas de António dos Santos
Machado, Albufeira, Arandis Editora, 2019; CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III –
Francisco Rodríguez Tenório, Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, Albufeira, Arandis Editora, 2020.

4
travadas entre Carlos III de Espanha e o Marquês de Pombal, relativas aos direitos a pagar
pela pescaria em fresco ou em salgado10. Segundo: a edificação, por iniciativa do Marquês de
Pombal, da nova vila, entre 1774 e 1776. Tendo por base os Arquivos Paroquiais do último
quartel do século XVIII, o autor identifica a chegada à vila de espanhóis com as mais diversas
naturalidades (p. ex: Ayamonte, Alicante, Sevilha, Tarragona, Reino de Granada, Medina del
Campo, Écija, San Lucar de Barrameda, Huelva, Lepe, San Lucar do Guadiana, Villablanca,
entre outras localidades)11.

Por outro lado, António Capa Horta Correia, na sua obra dedicada ao andaluz Sebastián
Ramirez, que, na segunda metade do século XIX, soube ser um dos maiores industriais de todo
o concelho (indústria da tecelagem e das conservas), fornece um conjunto de pequenas infor-
mações sobre a colónia de andaluzes radicada em V.R.S.A. ao longo de Oitocentos. Citando o
Inquérito Industrial de 188112, o autor refere que a fabrica de tecidos que o industrial andaluz
tinha instalado, em 1879, «Emprega oito homens e oito mulheres. Os tecelões são todos espa-
nhóis, mas residentes na localidade»13. Em complemento, Carminda Cavaco informaria, anos
mais tarde, que os tecelões contratados por Sebastián Ramirez «foram durante anos sempre de
nacionalidade espanhola»14.

Em 1878, com a entrada em vigor do Tratado de Pesca Livre nas Costas de Espanha e
de Portugal, são matriculados os dois primeiros galeões portugueses que irão empregar algumas
dezenas de andaluzes residentes na vila15.

Foi igualmente nos finais da década de 1870 e nos primeiros anos da década seguinte que
se instalaram na vila as primeiras quatro fábricas de conservas, duas de proprietários italianos
naturais de Génova e as outras duas de proprietários andaluzes: a fábrica de conservas de atum

10. Cf. CAVACO, Hugo, Vila Real de Santo António. Reflexos do Passado em Retractos do Presente. Contributos
para o Estudo da História Vila-Realense, op. cit., p. 29.

11. Cf. ibidem, p. 33.

12. Cf. Inquérito Industrial de 1881: Inquérito directo, Ministério das Obras Públicas, Comércio e Industria,
6 volumes, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881-1883.

13. Cf. António Horta CORREIA, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 26.

14. Cf. Carminda CAVACO, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve», art. cit., p. 59.

15. Cf. CAVACO, Carminda, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve», art. cit., p. 52.

5
Centenos, Cruz & C.ª e a «S. Francisco», fundada em 1880, por Francisco Rodríguez Tenório16, to-
dos eles naturais de Villanueva de los Castillejos17. Industriais conserveiros radicados em V.R.S.A
que mereceram os seus primeiros apontamentos biográficos e compilações documentais por par-
te de António Capa Horta Correia: Sebastián Ramirez, no livro Sebastian Ramírez (1828-1900).
Subsídio documental para uma biografia (2008); e, anos mais tarde, Francisco Rodríguez Tenório,
Juan Maestre Cumbrera e Sebastián Ramírez, publicados no livro Memórias & Documentos, vo-
lume III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez (2020)18.

Mas a colónia andaluza a residir na vila na segunda metade do século XIX não era só
composta por industriais. Dela também faziam parte «numerosos comerciantes e marçanos es-
panhóis, chegados de Villablanca, Paymogo, Almendro e Villanueva de los Castillejos e outros
ainda de Ayamonte e da Isla Cristina»19. Além de se constituírem como a maior comunidade de
forasteiros a residir em V.R.S.A., terá sido aquela que conquistou posições económicas e sociais
mais elevadas. Os andaluzes controlavam, praticamente, todo o comércio por grosso e retalhis-
ta, a pesca, as conservas e o negócio piscatório. Comunidade numerosa e influente. E, por esse
facto, é sem surpresa que os seus «apelidos figuram frequentemente entre os dos padrinhos de
baptismos e casamentos e, já em 1879, entre os dos principais contribuintes prediais do con-
celho (3 em 6: Ramirez, Centeno e Alvarez Barbosa)»20. Fenómeno virtuoso, escreve Cavaco,
uma vez que «o seu êxito e as suas ofertas estimulavam novos afluxos de espanhóis das suas al-
deias serranas, sobretudo de Castillejos, entre os quais se contam não só marçanos e soldadores
mas também licenciados e proprietários, mais interessados no comércio do que na agricultura
nas terras de xisto» do Andévalo21.

Vinham à procura de trabalho, e, para esse facto, muito terá contribuído o surto con-
serveiro ocorrido nas últimas duas décadas do século XIX. Os fluxos migratórios rumo à vila

16. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 25.

17. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 18 e p. 27 e CAVACO, Carminda, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve»,
art. cit., p. 52.

18. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., 2020.

19. Cf. Carminda CAVACO, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 408.

20. Cf. Carminda CAVACO, vol. II, op. cit., pp. 408-409.

21. Cf. ibidem, p. 409.

6
intensificam-se. A procura de mão-de-obra aumenta. A indústria das conservas precisa de em-
balagens. Surgiam, assim, novas profissões, que, até ao momento, não tinham sido necessárias,
como, por exemplo, o industrial, o soldador, o estanhista, o litógrafo, o tecelão e o serralhei-
ro. Por outro lado, o número de negociantes, traficantes, caixeiros, empregados de escritório,
escriturários, despachantes de alfândegas, pilotos e intérpretes, tornava-se cada vez maior22.
A indústria conserveira contribuía, assim, para o aumento da população residente na vila.

Por outro lado, sabe-se ainda que nas duas últimas décadas do século XIX os empresá-
rios pesqueiros que tinham os seus barcos de cerco matriculados no porto da vila empregavam
numerosos «quadros espanhóis – mestres, contramestres, motoristas…–, com experiência da
arte»23. Eram os espanhóis aqueles que mais percebiam de pesca, sendo o seu trabalho, por esse
facto, disputado pelos proprietários das embarcações pesqueiras.

Os anos foram passando, mas a influência andaluza na vila não. Na primeira metade do
século XX, «as indústrias de salga e de conserva em lata mantiveram-se dominadas por espa-
nhóis»24, fenómeno que se tinha iniciado na segunda metade do século XIX25.

Em 2001, no primeiro volume da obra Loulé no século XX26, Isilda Renda Martins le-
vantou, pela primeira vez, o problema da comunidade de emigrantes andaluzes a residir em
Loulé. Martins começa por referir que «a primeira referência que recolhemos relativa à sua
existência foi no jornal O Pregoeiro, cujo director se revoltava contra o colega de Faro que, em
editorial, ousara troçar dos louletanos, afirmando que quem mandava em Loulé era a colónia
espanhola». «Irritado, o director de O Pregoeiro, cujo jornal era alimentado com os proventos
dos abundantes e generosos anúncios daqueles comerciantes, insurge-se, argumentando que era
mentira porque os espanhóis não podiam votar»27.

22. Cf. CAVACO, Carminda, vol II, op. cit., p. 408.

23. Cf. Carminda CAVACO, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve», art. cit., p. 56.

24. Cf. ibidem, p. 60.

25. Cf. CAVACO, Carminda, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve», art. cit., p.
60.

26. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, Loulé, edições Colibri e Câmara Municipal de Loulé, 2001, pp. 98-114 e pp. 234-239.

27. Cf. Isilda Maria Renda MARTINS, op. cit., pp. 234-235.

7
Mais à frente, a autora credita à «colónia andaluza que se instalou em Loulé», «em tem-
po indeterminado, e, sem património nem preconceitos, o domínio da quase totalidade do co-
mércio local», nos finais do século XIX princípio do século XX28. Ocupando «com [as] suas
lojas a parte baixa da vila de Loulé, a zona urbana da futura freguesia de S. Sebastião, especial-
mente, as ruas S. Sebastião, Santo António e os largos da Barbacã e de S. Francisco»29. Para
Martins não restam dúvidas de que foi o crescimento da vila no sentido poente, provocado pela
numerosa comunidade andaluza nela residente, que terá estado na base da criação de uma nova
freguesia na vila – a de São Sebastião –, em Agosto de 1890, em terrenos que até então perten-
ciam à única freguesia da vila – a de São Clemente30.

Tendo por base vários anúncios recolhidos na imprensa local (O Pregoeiro) e regional
(Folha do Sul), assim como consultando as páginas dos Annuários Commerciais de Portugal,
Ilhas e Ultramar, a autora consegue mapear alguns dos nomes e respectivos negócios da nume-
rosa comunidade andaluza a residir em Loulé. Assim, para o período compreendido entre 1898
e 1910, a autora encontra anúncios comerciais correspondentes a oito industriais31, dezoito co-
merciantes32 e quatro prestadores de serviços33, todos de apelido andaluz34, com os seus negó-
cios sediados naquela vila.

Para o concelho de Vila Nova de Portimão refira-se o precursor trabalho da historiado-


ra Maria João Raminhos Duarte, intitulado Portimão. Industriais Conserveiros na 1.ª Metade

28. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, op. cit., p. 107.

29. Cf. Isilda Maria Renda MARTINS, op. cit., p. 107.

30. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, op. cit., p. 236.

31. Por exemplo: indústrias de sabões, fiação, cera, indústria de confecção, vestuário e restauração, in MARTINS,
Isilda Maria Renda, op. cit., pp. 99-106.

32. Por exemplo: dois proprietários de botequins, três comerciantes de palma e esparto, dois proprietários de dro-
garias, um comerciante de madeiras para construção, dois ourives e relojoeiros, um comerciante de pelo de cabra,
um armazenista de farinhas, cereais, esparto e palma, um lojista de fazendas, um comerciante de vinhos, aguarden-
tes, azeites, petróleo, sabão e fósforos, um exportador de frutos e de obras confeccionadas em palma, um agente
da Companhia de Tabacos de Portugal, um comerciante de fazendas nacionais e estrangeiras e, ainda, um comer-
ciante de sorvetes, entre outros negócios, in ibidem, pp. 108-114.

33. Por exemplo: um agente bancário, um agente de seguros e dois alugadores de carruagens, in ibidem, pp.
112-114.

34. Apelidos, como por exemplo: Álvares [Alvarez], Arés [Arez], Barbosa, Centeno, Corrêa, Cumbrera, Curiel,
Delgado, Díaz, Domingues [Domínguez], Féria, Formosinho [Fermosiño], Garcia, Gomes [Gómez], Macías,
Peres, Romero, Rodrigues [Rodríguez], Vasques [Vásquez], in ibidem, pp. 99-114.

8
do Século XX (2003). Raminhos Duarte destaca, de forma pormenorizada, o papel impulsio-
nador desempenhado pela sociedade mercantil «Feu Hermanos»35, na indústria conserveira em
Portimão, assim como do seu co-proprietário e administrador o industrial andaluz, natural de
Ayamonte, Caeytano Feu Marchena (1882-1946). Família Feu que, anos mais tarde, mereceu
uma singular obra a historiar os seus antepassados desde Mataró, na Catalunha, até chegarem a
Portimão – A Família Feu. Uma Viagem no Tempo (2014)36.

Por último, deve-se acrescentar os inúmeros trabalhos e livros do historiador Marcelo J.


Borges que, desde os inícios da década de 1990, tem-se dedicado a estudar a emigração algarvia
para a Argentina37, assim como a obra do investigador Renato Costa, que estudou a emigração
de algarvios para Gibraltar e Sudoeste da Andaluzia, entre 1834 e 191038.

Depois de lida de forma crítica a bibliografia existente sobre o objecto de investigação,


rapidamente se conclui que a mesma não era suficiente para responder ao inquérito historio-
gráfico efectuado, ou seja, a bibliografia disponível revelava-se insuficiente para responder às
questões de partida da presente investigação.

35. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
Lisboa, Edições Colibri, 2003, pp. 22-23, pp. 51-54 e p. 66.

36. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, Albufeira, Arandis editora, 2014.

37. Dos inúmeros estudos deste autor, destaque-se, por exemplo, os seguintes trabalhos: BORGES, Marcelo J.,
«Portugueses en Buenos Aires en el siglo XIX: características y evolución de una comunidade multisecular», in
Emigração/imigração em Portugal. Actas do Colóquio Internacional sobre Emigração e Imigração em Portugal
(séculos XIX e XX), organização de Nizza da Silva, Ioannis Baganha, Maria José Maranhão e Míriam Halpern
Pereira,Lisboa, Editora Fragmentos, 1993; BORGES, Marcelo J., Portuguese in Two Worlds. A Historical Study of
Migration From Algarve to Argentina, [texto policopiado], tese de Doutoramento em História apresentada à University
of New Jersey, New Jersey, [s.n.], 1997; BORGES, Marcelo J., «Portuguese migrations in Argentina: transatlantic
networks and local experiences», in Portuguese Studies Review, n.º 14(2), 2006, pp. 87-123; BORGES, Marcelo J.,
Chains of Gold. Portuguese Migration to Argentina in Transatlantic Perspective, Studies in Global Social History,
Danvers [U.S.A.], Brill, 2009; BORGES, Marcelo J., «Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no
Sul de Portugal», in Ler História, [número especial sobre Emigração/Imigração], Lisboa, n.º 56, 2009, pp. 83-104;
BORGES, Marcelo J., «Migrações portuguesas na Argentina: redes transatlânticas e experiências locais», in Do Fado
ao Tango. Os Portugueses na Região Platina, organização de Maria Helena Chaves Carreiras e Andrés Malamud,
Lisboa, Mundos Sociais, 2010, pp. 15-42; BORGES, Marcelo J., Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa
para a Argentina em Perspectiva Regional e Transatlântica, Lisboa, I.C.S. Imprensa de Ciências Sociais, 2018.

38. Cf. COSTA, Renato, A emigração de algarvios para Gibraltar e Sudoeste da Andaluzia (1834-1910), Lisboa,
Estar, 2002.

9
Metodologia da investigação

Delimitado o espaço e o tempo do objecto a investigar, o segundo passo seria trabalhar todos
os arquivos algarvios dos sete concelhos selecionados. E, aí, conforme já atrás referido, depa-
rei com a existência de uma fonte documental comum a todos eles – os Livros de registo dos
estrangeiros residentes no concelho. Então procedi ao levantamento integral de todos esses li-
vros de registos, para os concelhos a estudar. Série bastante uniforme ao nível das informações
(nome, naturalidade, nacionalidade, profissão e idade), mas irregular em relação aos anos re-
gistados; havendo, por isso, séries bastantes longas (Vila Nova de Portimão, 1841-1904) ou só
com um ano (Loulé, 1842).

Realizado o levantamento integral de todos esses livros de registo fiquei com uma ideia
mais abrangente em relação às principais naturalidades dos andaluzes a residir no Algarve.
E os registos, nesse aspecto, eram bastante esclarecedores: estes andaluzes eram, maioritaria-
mente, naturais do Andévalo – comarca histórica da província de Huelva – e, mais especifica-
mente, de dois municípios vizinhos entre si: a esmagadora maioria era natural de Villanueva de
los Castillejos, mas também haviam alguns de El Almendro.

Na posse desses dados, o primeiro passo seria conhecer o Andévalo. De que pouco ou
nada, até então, tinha ouvido falar. Comecei por empreender uma pesquisa bibliográfica sobre
os municípios que fazem parte do Andévalo na biblioteca pública provincial de Huelva, numa
primeira fase, e na biblioteca pública provincial de Sevilha, numa segunda fase. E, na ocasião,
fiquei a saber que esses dois municípios – Castillejos e El Almendro – foram várias vezes de-
vastados no decorrer da Guerra da Independência Espanhola (1808-1814), principalmente no
período compreendido entre 1810 e 1813, o que desencadeou uma primeira vaga migratória
rumo a Portugal (Algarve e Baixo Alentejo).

Compilada e lida a bibliografia inicial teria que começar o trabalho de arquivo em


Espanha. E, nesse sentido, o passo seguinte foi fazer uma investigação de arquivo nos arqui-
vos municipais de Villanueva de los Castillejos e de El Almendro, ao mesmo tempo que rea-
lizava uma pesquisa bibliográfica na biblioteca municipal de Villanueva de los Castillejos.
Nos arquivos comecei por ler as actas capitulares (actas de vereação municipal) dos dois mu-
nicípios, por forma a verificar de que forma esse fluxo migratório rumo ao Algarve se encon-
trava registado.

10
Na fase seguinte, e tendo em conta que a Guerra da Independência devastou toda a re-
gião andevaleña, em particular, e a província de Huelva, em geral, alarguei a investigação de
arquivo a outros municípios desta província, o que me levou a investigar em mais dois archivos
municipales – Ayamonte e Villablanca.

Para, numa fase posterior, passar a trabalhar em dois arquivos nacionais de Espanha:
o Archivo Historico Nacional, em Madrid, e o Archivo General de la Administración, em Alcalá
de Henares.

Na segunda parte da tese, decidi estudar os concelhos de Loulé e de V.R.S.A. de uma


forma mais micro. Para tal, tive de me socorrer de um conjunto de outras fontes para cada um
desses concelhos.

Para Loulé comecei por utilizar os registos de baptismo (paróquia de São Clemente,
1800-1905 e paróquia de São Sebastião, 1891-1905) e de casamento (paróquia de São Clemente,
1850-1909 e paróquia de São Sebastião, 1891-1910), que se encontram no Arquivo Nacional
da Torre do Tombo (1800-1851) e no Arquivo Distrital de Faro (1851-1910), das duas fre-
guesias da vila, por forma a tentar quantificar o peso da colónia andaluza residente em Loulé.
De seguida, e por forma a avaliar o peso dessa colónia no comércio, na indústria e nos serviços,
procedi a uma exaustiva análise publicitária nas várias edições do Annuario Commercial ou
Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, entre 1880 e 1914, assim como nos cinco perió-
dicos locais, para o período compreendido entre 1889 e 1910 (O Algarvio, Loulé, 1889‑189339;
O Pregoeiro, Loulé, 1898-190140; Folha do Sul, Loulé, 1902- 190541; Folha de Loulé, Loulé,

39. O Algarvio foi um periódico, publicado em Loulé, entre 31 de Março de 1889 e 19 de Setembro 1893.
De conotação regionalista e afecto ao Partido Regenerador. Era de periodicidade semanal e saía aos Domingos.
Publicaram-se 233 números, in MESQUITA, José Carlos Vilhena, História da Imprensa do Algarve, vol. II, Faro,
Comissão de Coordenação da Região do Algarve e Direcção-Geral da Comunicação Social, 1989, pp. 16-17.

40. O Pregoeiro foi um periódico louletano eminentemente publicitário. Intitulava-se um «Semanário Grátis» e
saía todas as quartas-feiras. Era distribuído por toda a província e muito procurado pela colónia andaluza residente
em Loulé para publicitar as suas casas comerciais, indústrias e prestação de serviços. Publicou-se entre 1 de Agosto
de 1898 e 31 de Outubro de 1901, num total de 155 edições, in ibidem, pp. 89-90.

41. A Folha do Sul foi um periódico, publicado em Loulé, entre 5 de Janeiro de 1902 e 19 de Fevereiro de 1905.
Apresentava-se, no sub-título, como sendo um «Semanário Político, Noticioso e Literário», e politicamente era
conotado com o Partido Regenerador-Liberal, fundado por João Franco. Era de periodicidade semanal e saía aos
Domingos. Publicaram-se 164 números, in ibidem, pp. 50-52.

11
1905-190742; Jornal de Annuncios, Loulé, 1907-191043), por forma a compilar todos os anúncios
publicitários relacionados com negócios detidos pela colónia de andaluzes radicada em Loulé.

No Arquivo da Conservatória do Registo Predial do Concelho de Loulé analisei os


registos prediais (1881-1913) para aferir o peso económico da colónia andaluza a residir na
localidade. E no Arquivo Municipal de Loulé analisei as actas de eleições e de vereações para
averiguar o seu peso político local.

Para o concelho de V.R.S.A. utilizei os registos de baptismo (paróquia de Nossa Senhora


da Encarnação, 1774-1850 e 1860-1930) e de casamento (paróquia de Nossa Senhora da
Encarnação, 1860-1930) da população residente no concelho, para tentar quantificar o peso da
colónia andaluza a residir no concelho. Consultei, igualmente, os registos de licenças de comér-
cio concedidas pela câmara municipal de V.R.S.A (1850-1882), por forma a averiguar o peso
económico dessa colónia. E as actas de tomada de posse das sucessivas vereações municipais
eleitas (1902-1965), de modo a aferir o peso político dessa colónia de andaluzes em V.R.S.A.

As orientações metodológicas da «nova história local»44, apesar de exíguas, também


foram consideradas45. De acordo com a necessidade de compreensão geográfica e topográfica
do património local, nomeadamente daquele que nesta dissertação é referido, tentou-se, sempre
que possível, proceder à sua inventariação e localização topográfica.

O presente estudo apresenta-se, pois, como uma monografia de história local e regional,
que discorre pela história económica, social e política da região algarvia, entre meados do sécu-
lo XIX e o início da Primeira Grande Guerra Mundial.

42. A Folha de Loulé foi um periódico, publicado em Loulé, entre 9 de Abril de 1905 e 27 de Junho de 1907.
Intitulava-se um «Semanário Regenerador-Liberal», por ser afecto ao partido político fundado por João Franco.
Era de periodicidade semanal e saía aos Domingos. Publicaram-se 109 números, in ibidem, pp. 46-49.

43. O Jornal de Annuncios foi um semanário grátis, de duas páginas, de cariz estritamente publicitário. As suas
páginas eram compostas somente por anúncios a casas comerciais, firmas industriais e anúncios oficiais, emitidos
pelo Tribunal da Comarca, pela Câmara Municipal de Loulé pela Conservatória do Registo Predial. Publicou-se
entre 7 de Fevereiro de 1907 e 22 de Dezembro de 1910, num total de 174 edições, in ibidem, p. 61.

44. Cf. TORGAL, Luís Reis, MENDES, José, CATROGA, Fernando, História da História em Portugal, séculos
XIX-XX, Da Historiografia à Memória Histórica, Editora Temas & Debates, 1998, pp. 75-76.

45. Cf. AA. VV., Primeiras Jornadas de História local e regional, coordenação de Álvaro Matos e Raul Rasga,
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Edições Colibri, 2004.

12
Análise qualitativa

Realizado o trabalho de arquivo e de pesquisa bibliográfica, e tendo, grosso modo, a maioria


dos dados recolhidos, partiu-se para a sua análise. Para tal, socorri-me da análise qualitativa e
da análise quantitativa. Na análise qualitativa recorreu-se ao chamado método «hipotético-de-
dutivo», isto é, parti da formulação de hipóteses explicativas que, depois, foram testadas através
de inferências dedutivas. Ou seja: fui testando a predição da ocorrência, ou da não ocorrência,
de fenómenos históricos abrangidos pela hipótese anteriormente colocada. Deste modo, não
parti de nenhum modelo previamente construído, mas, sim, de um exaustivo conjunto de dados,
que, depois de devidamente levantados e trabalhados, me permitiram ir à procura das causas
e dos factores (políticos, económicos e sociais) que estiverem por detrás da decisão de esses
andaluzes emigrarem para o Algarve, enquadrando-os, sempre que possível, no contexto mais
vasto da emigração espanhola para o período compreendido pelo estudo.

Esse levantamento inicial permitiu-me, igualmente, seguir as pisadas desses emigrantes


na região, possibilitando-me, deste modo, averiguar o papel que os mesmos tiveram na moder-
nização económica e industrial do Algarve. Deste modo, recorri aos métodos biográfico («nova
biografia»)46 e prosopográfico47, essenciais na reconstrução de um conjunto de biografias de an-
daluzes, de primeira e de segunda geração, que se destacaram a vários títulos na região.

Realizei, ainda, um conjunto de entrevistas, utilizando a metodologia da entrevista


semi-dirigida, a descendentes directos (filhos, netos e bisnetos) de andaluzes radicados em Loulé
(famílias Formosinho Romero, Barros Madeira, Barros Vasquez, Garcia Delgado, Ascensão
Pablos, Barbosa e Domingues) e em V.R.S.A. (família Cumbrera). Fontes orais que foram es-
senciais para compreender e estabelecer alguns padrões sociais e políticos e para tentar recriar
alguma da vivência social dessas duas colónias. O conjunto de entrevistas revelou-se essencial
para a construção de uma visão mais concreta da dinâmica de funcionamento dessas duas coló-
nias de andaluzes, nomeadamente nos seus usos e costumes, que, de outra forma, ficariam irre-
mediavelmente esquecidos, porque não figuram na pouca bibliografia existente.

46. Cf. TORGAL, Luís Reis, MENDES, José, CATROGA, Fernando, História da História em Portugal, séculos
XIX-XX, Da Historiografia à Memória Histórica, op. cit., pp. 70-72.

47. Cf. Francisco ACOSTA et alli., Elites: prosopografia contemporânea, edição de Pedro Carsa Soto, Secretariado
de Publicaciones, Universidad de Valladolid, Valladolid, 1994.

13
Análise quantitativa

Por outro lado, recorri, sempre que possível, a uma análise quantitativa, fundamental para criar,
sustentar e erguer sólidas propostas de interpretação. No processo de investigação arquivística
fui construindo, para cada concelho, uma respectiva base de dados, em que sistematizava todas
as informações disponíveis para todos os os andaluzes registados. Bases de dados que, mais
tarde, viriam a ser fundamentais para a produção de quadros e de gráficos onde se apresenta,
de forma resumida, toda essa informação. A importância da análise quantitativa dos inúmeros
dados quantitativos e/ou estatísticos recolhidos na fase de pesquisa, convertendo-os e sistema-
tizando-os, muitas vezes, em quadros e gráficos, revelou-se essencial para uma melhor visua-
lização, comparação, ordenação e percepção dos mesmos. Uma vez que uma correcta e bem
organizada arrumação das informações revela-se fundamental na hora de produzir um conjunto
de conclusões, quer elas sejam parciais (por capítulo) ou finais. Além do mais, quando se obtém
informações respeitantes a séries mais ou menos longas, a visualização em gráficos dos respec-
tivos dados permite apercebermo-nos melhor da longa duração, conseguindo, desta forma, tra-
çar tendências evolutivas com uma maior facilidade.

Plano de trabalho

Este trabalho encontra-se dividido em duas partes. A primeira contém a Introdução e mais três
capítulos, sendo a segunda parte composta por dois capítulos, seguidos da conclusão. No final
da tese existe ainda um Apêndice documental, assim como os Anexos.

A primeira parte inicia-se com a Introdução, seguida de três capítulos.

Na Introdução começa-se por justificar a escolha do objecto de investigação, para, de


seguida, explicar a delimitação, no espaço e no tempo. Apresenta-se, igualmente, as questões de
partida e o estado da arte. De seguida, explica-se a metodologia adoptada, o plano de trabalho e,
finalmente, refere-se um pouco os fundos documentais e a bibliografia consultados.

A tese propriamente dita inicia-se com o primeiro capítulo dedicado ao «Espaço e ao


Tempo», onde começo por fazer uma caracterização geográfica das regiões do Algarve e da
Andaluzia, neste último caso centrando-me mais na comarca do Andévalo. De seguida, pro-
cedo a uma análise demográfica para todos os concelho do Algarve entre 1864 e 1920 e uma
análise demográfica mais específica a todos os estrangeiros e espanhóis residentes nos mesmos

14
concelhos para o período compreendido entre 1890 e 1920. Termino este capítulo com uma bre-
ve análise às relações comerciais entre o Algarve e a Andaluzia desde a Época Moderna até ao
início do século XX.

No segundo capítulo abordo os principais factores e consequências da emigração es-


panhola, em geral, e da emigração andaluza, em particular, entre 1870 e 1914. Começo por
identificar os principais países de destino da emigração espanhola, para, depois, identificar
as principais diferenças migratórias entre algumas das províncias da Andaluzia. Passo depois
a recensear as principais causas de emigração espanhola em geral, da emigração andaluza
em geral e da emigração andaluza para o Algarve. De seguida refiro a importância das redes
sociais e das cadeias migratórias no processo migratório, para terminar o capítulo com uma
caracterização geográfica e sócio-económica dos municípios de Villanueva de los Castillejos
e de El Almendro.

No terceiro capítulo começo por me debruçar sobre a emigração andaluza para o Baixo
Alentejo, carreando as informações e os dados mais importantes que encontrei sobre esta te-
mática, no sentido de deixar um conjunto de pistas para investigações futuras. De seguida, de-
bruço-me sobre os andaluzes residentes em quatro concelhos do Barlavento algarvio – Lagos,
Vila Nova de Portimão, Lagoa e Silves. Para terminar com a emigração de andaluzes para o
concelho de Faro.

Para o concelho de Silves centro-me no papel sócio-económico desempenhado por vá-


rios membros, pertencendo a várias gerações, das famílias García Blanco e Gomes Pablos, no-
meadamente aos irmãos Domingos e Sebastião García Blanco (n. El Almendro) que, no final da
década de 1830, foram os introdutores da indústria corticeira em Silves.

Na segunda parte da tese analisarei os concelhos de Loulé e de V.R.S.A.

A segunda parte inicia-se com o quarto capítulo dedicado ao concelho de Loulé. Nele
começo por fazer uma genealogia dos movimentos migratórios inter-regionais, para, de segui-
da, proceder a uma breve caracterização da vila de Loulé ao longo da segunda metade do sécu-
lo XIX. Passo, depois, para uma quantificação dos andaluzes residentes em Loulé. Realizada
essa primeira abordagem quantitativa, passo para uma análise qualitativa, onde pretendo aferir
o peso dessa colónia no comércio, na indústria e nos serviços do concelho. Tento, igualmente,
avaliar o estatuto sócio-económico e sócio-político dessa numerosa colónia.

15
O quinto capítulo é dedicado ao concelho de V.R.S.A. Como no capítulo anterior co-
meço por realizar uma genealogia dos movimentos migratórios inter-regionais. De seguida
procedo a uma breve caracterização da vila ao longo da segunda metade do século XIX e di-
rijo a atenção para os andaluzes residentes no concelho, começando por tentar quantificá-los.
Realizada essa primeira abordagem quantitativa, passo para uma análise qualitativa, onde pre-
tendo aferir o peso dessa colónia no comércio, na indústria e nos serviços. Tento, igualmente,
avaliar o estatuto sócio-económico e sócio-político dessa numerosa colónia. Termino referindo
os laços que essa colónia continua a manter com a Andaluzia, em geral, e com as terras de onde
eram naturais, em particular.

O trabalho termina com uma secção de Apêndices (biográficos e documentais) e outra


de Anexos.

Principais Fundos Documentais e bibliografia

No total, ao longo da investigação arquivística levada a cabo para a produção deste trabalho, in-
vestiguei em vinte arquivos – doze portugueses e oito espanhóis. Cada um destes arquivos reve-
lou-se fundamental e permitiu-me relacionar com dados já recolhidos ou suscitar a necessidade
de buscar outras fontes, alargando assim a pesquisa a outras fontes impressas e a bibliografia
especializada sobre a temática.

Delimitado o espaço e o tempo do objecto a investigar, o primeiro passo seria trabalhar


todos os arquivos algarvios – municipais e distrital – dos sete concelhos selecionados. E, dessa
forma, concentrei as minhas primeiras atenções nos arquivos municipais de Lagos, Portimão,
Silves, Lagoa, Loulé e V.R.S.A., assim como no Arquivo Distrital de Faro, onde se encontra
depositada a documentação relativa ao município de Faro. Entre a documentação consultada
nesses arquivos procedi ao levantamento integral dos Livros dos estrangeiros residentes em
cada um desses concelhos: Lagos (1897-1908), Vila Nova de Portimão (1841-1904), Silves
(1860‑1863), Lagoa (1869-1894), Faro (1889-1921) e Loulé (1842).

Para o caso específico do concelho de Loulé trabalhei, igualmente, no Arquivo da


Conservatória do Registo Predial do Concelho de Loulé.

Por outro lado, o trabalho de investigação que desenvolvi nos arquivos espanhóis, pode
ser dividido em três distintas fases:

16
a) Archivos municipales de Villanueva de los Castillejos e de El Almendro, assim como
no Archivo Parroquial de la Iglesia de Nuestra Senõra de la Concepción (em Villanueva
de los Castillejos);

b) Archivos municipales de outros municípios da província de Huelva: Ayamonte e


Villablanca; e, ainda, no Archivo de Protocolos Notariales de Ayamonte;

c) Archivos Nacionais: Archivo Histórico Nacional, em Madrid, e Archivo General de la


Administración, em Alcalá de Henares.

Nos archivos municipales espanhóis consultei as suas actas capitulares e outras memó-
rias, tanto políticas como militares, do período da Guerra da Independência, com particular in-
cidência nas actas capitulares produzidas pelos cabildos (vereações municipais) de Villanueva
de los Castillejos, entre 1809 e 1816 e de El Almendro, entre 1809 e 1815.

Numa última fase passei a trabalhar em dois arquivos nacionais de Espanha: o Archivo
Histórico Nacional, em Madrid, e o Archivo General de la Administración, em Alcalá de Henares.
No Archivo Histórico Nacional trabalhei os fundos dos consulados de Espanha em Faro (1850-
1930) e em V.R.S.A. (1833-1931), que integram o fundo do Ministério dos Exteriores. E no
Archivo General de la Administración pesquisei, igualmente, o fundo do consulado de Espanha
em V.R.S.A. (1840-1911) e a Secção IX do Ministério da Administração do Reyno de Espanha
(1850-1905), onde se encontram alguns documentos e memórias descritivas – sobre comércio,
emigração, taxação de impostos e alfândegas – relacionadas com Portugal.

Por outro lado, e por forma a complementar a investigação arquivística, realizei uma
intensa pesquisa bibliográfica em cerca de vinte bibliotecas e/ou centros de documentação em
Portugal e Espanha. Deste modo, ao longo deste trabalho, realizei pesquisas em bibliotecas
universitárias (Universidade do Algarve, no polo das Gambelas – Faro, e na Universidad Pablo
Olavide, em Sevilha), bibliotecas públicas municipais em Portugal (Lagos, Portimão, Silves,
Lagoa, Faro, Loulé, Olhão e V.R.S.A.), bibliotecas públicas municipais em Espanha (Ayamonte
e Villanueva de los Castillejos), bibliotecas públicas provinciais na Andaluzia (Huelva e Sevilha),
bibliotecas públicas nacionais dos dois países (Lisboa, Madrid e Alcalá de Henares) e, final-
mente, na biblioteca Gonzalo Torrente Ballester da delegação do Instituto Cervantes em Lisboa.

Refira-se, neste particular, o trabalho de investigação bibliográfico levado a cabo nas


bibliotecas provinciais de Huelva e de Sevilha, que foi essencial para consultar, fotocopiar e

17
digitalizar grande parte das monografias, estudos e artigos relacionados com a Andaluzia,
que se encontram na bibliografia final desta tese. E, ainda, na Biblioteca Nacional de Espanha, em
Madrid, em que pude fotocopiar as várias corografias e dicionários geográficos, estatísticos e his-
tóricos de Espanha e da Andaluzia publicados ao longo do século XIX (1845, 1849, 1850 e 1883).

De referir, igualmente, a gentil oferta48, que me fez o Dr. Luís Miguel Pulido Garcia
Cardoso de Menezes, de uma cópia digitalizada da inédita monografia de El Almendro, escrita,
em Dezembro de 1904, pelo padre Emiliano Rodriguez.

Refira-se, ainda, que consegui obter e digitalizar vários documentos (como por exem-
plo: cartas, fotografias, livros de actas, licenças comerciais, maquetas litográficas, latas de con-
servas, etc…), pertencentes ao espólio da antiga fábrica de conservas «Peninsular», que operou
em V.R.S.A. entre 189449 e 196050.

48. Esta cópia da monografia de El Almendro foi me oferecida pelo Dr. Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de
Menezes no dia 24 de Março de 2019.

49. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 130.

50. Em 1960 a fábrica de conservas Peninsular, juntamente com a fábrica de conservas da família Folque, foi ven-
dida à Cofaco, Comercial e Fabrico de Conservas, Lda.; e em 1962 a Cofaco encerra as suas unidades fabris em
V.R.S.A. e transfere-se, definitivamente, para os Açores. (Informações prestadas na primeira entrevista que realizei
à Dr.ª Maria Bella Cumbrera Tavares, em V.R.S.A., no dia 14 de Junho de 2019).

18
1. O TEMPO E O ESPAÇO

1.1. O espaço inter-regional

Algarve: 4 960 km2; Andaluzia: 87 268 km2. A superfície da Andaluzia é mais de dezassete
vezes a superfície do Algarve, isto é, sensivelmente do tamanho de Portugal continental. Duas
regiões fronteiriças separadas apenas por uma única fronteira natural: o rio Guadiana.

O Algarve é delimitado a Norte pela planície alentejana; a Sul por «uma antecâmara»1
do mar Mediterrâneo e do oceano Atlântico; a Oeste pelo oceano Atlântico; e a Leste pela re-
gião da Baixa Andaluzia, também denominada por Andaluzia Ocidental. A Andaluzia, por sua
vez, tem a delimitá-la, a Norte, as comunidades autonómicas da Extremadura e de Castela –
La Mancha; a Sul o mar Mediterrâneo; a Oeste o Algarve; e a Leste a região de Múrcia.

Para José Mattoso a existência de um reino do Algarve fica-se a dever a duas grandes
ordens de factores: em primeiro lugar «questões políticas de natureza conjuntural, relaciona-
das com a disputa pelas Coroas portuguesas e castelhana sobre a soberania do seu território»;
e, em segundo, «o desejo que os monarcas portugueses tinham de imitar os restantes reis da
Península Ibérica, que ostentavam nos seus respectivos títulos a autoridade sobre vários antigos
reinos»2. Por tal facto, o Algarve constitui um reino à parte do restante território nacional até à
implantação da República em Outubro de 1910. Só assim se explica, por exemplo, a existência
de inúmeras ruas, portas e estradas «de Portugal» em várias localidades algarvias, como, por
exemplo, era o caso de Silves, de Lagos, de Tavira, de Faro ou de Loulé3.

A geologia e a morfologia demonstram que a serra do Algarve pertence à mesma for-


mação da Serra Morena – o Maciço Ibérico –, assim como revelam que o litoral, a Sul, não se
diferencia da depressão Bética4. Deste modo, ao nível geológico e morfológico, as duas regiões
não se distinguem entre si.

1. Cf. Joaquim Romero MAGALHÃES, O Algarve Económico, 1600-1773, s./l., Editorial Estampa, 1993, p. 19.
Veja-se os Anexos cartográficos n.º 1 e n.º 6.

2. Cf. José MATTOSO, Suzanne DAVEUAU, Duarte BELO, Portugal, O Sabor da Terra: Um retrato histórico e
geográfico por regiões, s./l., Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010, p. 644.

3. Cf. MATTOSO, José, DAVEUAU, Suzanne, BELO, Duarte, op. cit., p. 644.

4. Cf. MAGALHÃES, Joaquim Romero, O Algarve Económico, 1600-1773, op. cit., p. 17.

19
Para Orlando Ribeiro o Algarve divide-se, pela sua constituição geológica, numa sé-
rie de faixas paralelas: a Serra, o Barrocal e o Litoral. A Serra xistenta, com a sua cúpula em
Monchique, encontra-se «entalhada por vales profundos ou ondulada num mar de cabeços e
barrancos»5, levando a um certo isolamento das populações. À Serra segue-se, para Sul, «uma
faixa de relevos calcários de uns centos de metros, atravessados por vales largos e colos prati-
cáveis»6, denominada por Barrocal. E, finalmente, o litoral e a sua orla adjacente constituídos
por uma série de anticlinais e de planaltos calcários de arriba até Quarteira, e, para leste, de res-
tingas arenosas que deixam atrás de si lagunas e canais7. Economicamente, o litoral encontra-se
ao mesmo tempo animado pela vida costeira (pesca, salinas, navegação) e por uma intensa cir-
culação interior, que liga entre si todas as cidades e vilas do Algarve8.

Mapa do Algarve

Fonte: BORGES, Marcelo J., Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva
Regional e Transatlântica, Lisboa, I.C.S. Imprensa de Ciências Sociais, 2018, p. 49.

5. Cf. Orlando RIBEIRO, Geografia e Civilização. Temas Portugueses, Lisboa, Instituto de Alta Cultura, Centro
de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, 1961, p. 86.

6. Cf. Orlando RIBEIRO, Geografia e Civilização. Temas Portugueses, op. cit., p. 84.

7. Cf. RIBEIRO, Orlando, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Esboço de relações geográficas, 7.ª edição re-
vista e ampliada, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1998 [1945], p. 162.

8. Cf. RIBEIRO, Orlando, Geografia e Civilização. Temas Portugueses, op. cit., p. 84.

20
À imagem de Orlando Ribeiro (1961) também Gaetano Ferro (1956 e 19749) dividiu o
Algarve nessas três mesmas zonas, sendo, ainda hoje, a divisão mais comumente aceite e a mais
adoptada pela população local. Raul Proença, por seu lado, no Guia de Portugal (1927), esta-
beleceria uma divisão no sentido longitudinal, propondo a existência de três sub-regiões distin-
tas: o Sotavento, de Vila Real de Santo António a Tavira; o Centro, entre Tavira e Albufeira; e o
Barlavento, desde Albufeira até ao Cabo de São Vicente10. Orlando Ribeiro refere que, por ve-
zes, o Algarve também é dividido, mais simplesmente, entre Barlavento (a parte a Ocidente de
Albufeira) e Sotavento (a parte a Oriente de Albufeira), divisão esta que se encontra relacionada
com o vento predominante de Oeste11. Mais recentemente, a geógrafa Carminda Cavaco (1976)
propôs uma divisão mais sintética: Algarve Ocidental e Algarve Oriental12.

Para Suzanne Daveau o «Algarve é a região portuguesa mais individualizada», tese


para a qual contribuem dois factores: o sensível afastamento da faixa principal de actividade
do País, acentuado pela vasta solidão do Baixo Alentejo; pela sua organização interna, que «lhe
assegura uma feição típica de Ribeira mediterrânea: isolado do interior por uma difícil barrei-
ra montanhosa», o Algarve teve que se abrir para o mar numa sucessão de pequenos portos13.
De facto, para José Mattoso, «os relevos montanhosos que o separam das planícies alenteja-
nas, embora em geral não formem uma fronteira nítida, foram sempre um obstáculo difícil de
vencer» quer para as gentes do resto do país quer para os próprios algarvios, pela existência
de poucas passagens aproveitáveis e pela extensão das terras despovoadas14. Ao contrário do
Alentejo, o Algarve corresponde a áreas geralmente exíguas, onde a população se acumula e
vive da cultura intensiva, dominando, neste particular, a economia de base rural.

A influência mourisca no Algarve encontrou-se sempre presente. Desde logo no nome da


região: Algarb, o Ocidente. Mas estende-se a outras características: segundo o geógrafo Orlando

9. Cf. FERRO, Gaetano, L’ Algarve. Monografica regionale, separata dos Annali di recerche e studi di Geografia,
Génova, 1956 e FERRO, Gaetano, «Algarve, Ligúria e Sudoeste siciliano. Tentavia de comparação», in Finisterra.
Revista Portuguesa de Geografia, vol. IX, n.º 17, Lisboa, 1974.

10. Cf. PROENÇA, Raul, Guia de Portugal, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1991 [1927].

11. Cf. RIBEIRO, Orlando, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Esboço de relações geográficas, op. cit., p. 162.

12. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de
Planeamento da Região do Algarve, 1976.

13. Cf. DAVEAU, Suzanne, Portugal Geográfico, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1995, p. 120.

14. Cf. MATTOSO, José, DAVEUAU, Suzanne, BELO, Duarte, op. cit., p. 648.

21
Ribeiro está igualmente presente «nas culturas que eles difundiram ou intensificaram, como a
da figueira e da alfarrobeira; na forma da casa, rematada pela açoteia, que é, consoante os luga-
res, um mirante ou terraço, na arte da rega e no sábio aproveitamento dos talhões da horta»15.

As principais aglomerações populacionais desta região cresceram e consolidaram-se,


mormente através dos recursos da pesca e da navegação. A pesca, em algumas dessas povoa-
ções, constituiu, e ainda continua a constituir, o principal factor de criação de riqueza. A este
propósito, refira-se que, no início do século XIX, das oito maiores povoações algarvias (Lagos,
Vila Nova de Portimão, Silves, Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António) apenas
a vila de Loulé não era, ou não foi, um porto de mar ou de estuário; tendo tido, porém, no fim
da Idade Média, um porto por onde se exportava fruta e açúcar da sua horta16.

Até praticamente ao início do século XX o Algarve foi considerado mais como um


«apêndice»17, para citar a expressão utilizada por Orlando Ribeiro, do que como uma provín-
cia parte integrante do território português18. É disso flagrante exemplo o facto de, até ao final
da monarquia, em Outubro de 1910, os reis usarem o título oficial de «Rei de Portugal e dos
Algarves». A julgar pelas inúmeras memórias e depoimentos escritos e publicados ao longo do
século XIX, até sensivelmente à chegada do caminho-de-ferro até Faro, em Fevereiro de 1889,
a região encontrava-se «distante» do restante território nacional. Como informa João Baptista
da Silva Lopes, em 1841, «as comunicações com o Além Tejo pelos pontos da serra já men-

15. Cf. Orlando RIBEIRO, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Esboço de relações geográficas, op. cit.,
pp. 162-163.

16. Cf. ibidem.

17. Cf. Orlando RIBEIRO, «Portugal e o ‘Algarve’: singularidade de um nome de província», in Boletim de
Filologia, Centro de Estudos Filológicos de Lisboa, Lisboa, tomo XIV, fascículos 3-4, 1953, p. 336.

18. Como bem demonstrou Orlando Ribeiro, dando alguns exemplos desse facto: «Mas, de facto, não só entre os
corógrafos o Algarve figura sempre como reino (e não como província), justaposto a Portugal, como se conserva-
rão por muito tempo expressões como ‘rua chamada de Portugal’, em Loulé, demolida pela maior parte por um
terramoto em 1580; ‘estrada de Portugal’ (ainda em 1607); ‘porta de Portugal’, nas muralhas de Lagos, lembrada
hoje na longa rua de acesso à cidade; curiosa é também a designação de bispo do Algarve, que ainda se usa, quan-
do todos os demais prelados portugueses são nomeados pela cidade da sua Sé (da mesma forma para bispado).
[…] Nestes exemplos fica patente o sentimento de individualidade do Algarve, considerado, em relação ao resto
do país, antes como um apêndice do que como parte integrante dele. […] Esta singularidade entre os nomes das
nossas províncias só pode explicar-se por dois factos: o Algarve, conquistado rapidamente, conservou o essencial
da sua organização na época muçulmana; as pobres e ásperas serranias que o separam do Alentejo mantiveram-no
segredado desta província e, portanto, do conjunto de Portugal, onde ele formou, de facto, um mundo à parte», in
Orlando RIBEIRO, «Portugal e o ‘Algarve’: singularidade de um nome de província», in Boletim de Filologia,
Centro de Estudos Filológicos de Lisboa, Lisboa, tomo XIV, fascículos 3-4, 1953, p. 335, p. 336 e p. 337.

22
cionados são quase intransitáveis»19, para, mais à frente, acrescentar: «Faltam estradas cómo-
das, de que é mister cuidar quanto antes; porque essas comunicações entre as duas províncias
[Algarve e Alentejo] através das serras, são antes carris para cabras, do que veredas transitáveis
por homens»20. Era assim em 1841.

Mas, se o problema estava diagnosticado, faltava encontrar a cura. Deste modo, em


Julho de 1871 teve início a construção da estrada de Faro a Castro Verde. Com ela pretendia-se
encurtar a distância entre o Algarve e a capital do país, uma vez que esta infra-estrutura deixa-
ria o Algarve mais perto das estações de caminhos-de-ferro de Beja (inaugurada em 1864) e de
Casével (inaugurada em 1870), fundamentais para se chegar a Lisboa21. No entanto, em Maio
de 1911 ainda não era possível percorrer esta estrada, que levaria mais de quarenta anos a ser
construída22. Por tais dificuldades, a Andaluzia era o principal parceiro comercial do Algarve.
Dali vinham, mas também iam, bens, trabalhadores sazonais e migrantes. As trocas comerciais
entre as duas regiões faziam-se desde há muitos séculos e até a sua fronteira geográfica23 – o rio
Guadiana – a isso ajudava, por ser um rio de águas calmas e navegáveis.

Segundo Orlando Ribeiro a costa algarvia deve ser vista como uma «espécie de pré-me-
diterrâneo constituído pelo golfo luso-hispano-marroquino»24. Esta descrição seria, anos mais
tarde, retomada por Joaquim Romero Magalhães para defender a tese da existência não de um,
mas sim de vários «Algarves». Ou, mais concretamente, dos «Algarves luso-hispano-marroqui-
no», ampliando, na designação, o espaço geográfico descrito pelo geógrafo. Se Orlando Ribeiro
se referia somente à costa algarvia, Romero Magalhães alargava a designação a toda a região.

19. Cf. João Baptista da Silva Lopes, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do
Algarve, Lisboa, Typografia da Academia, 1841, p. 75.

20. Cf. ibidem, p. 102.

21. Cf. REIS, João Vasco, «Panorama do Algarve em finais de Oitocentos», in Visita Real ao Algarve (1897), s./l.,
edição da Câmara Municipal de Lagoa, 2007, p. 11.

22. Cf. SANTOS, Luís Filipe Rosa, «As vias de comunicação», in O Algarve da Antiguidade aos nossos dias: ele-
mentos para a sua história, coord. de Maria da Graça Maia Marques, s./l., Edições Colibri, 1999, p. 388.

23. Para um melhor conhecimento do processo histórico que levou à fixação da fronteira entre Portugal e Espanha
veja-se o capítulo «O historial da fronteira luso-espanhola», inserida na obra: SILVA, Luís, Identidade Nacional:
Práticas e representações junto à fronteira com o Guadiana, Lisboa, I.C.S.Imprensa de Ciências Sociais, 2016,
pp. 35-42.

24. Cf. Orlando RIBEIRO, Geografia e Civilização. Temas Portugueses, Lisboa, Instituto de Alta Cultura, Centro
de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, 1961, p. 83.

23
O historiador explica:

Um dos traços característicos do Algarve, factor que lhe marca individualidade adentro do con-
junto da terra portuguesa, é a actividade marítima e a solidariedade geográfico-económica dos
Algarves luso-hispano-marroquinos que formam o golfo de Gibraltar25. Um outro factor, não menos
importante, e intimamente relacionado com o anterior, é o isolamento em que vive relativamente a
Portugal. Posição é de verdadeiro peninsularismo26, em que está relativamente à Andaluzia, o que
assenta não na realidade física – a serra não é uma barreira incruzável entre o Algarve e Portugal –
mas nas ligações económicas deste conjunto – Algarve-Andaluzia27.

Para, mais à frente, concluir:

Estamos, portanto, perante uma duplicidade de profundas raízes económico-geográficas: isola-


mento do Alentejo, ligação aos Algarves luso-hispano-marroquinos. É isto que explica o Algarve, já
que a duplicidade é mesmo sentida no seu interior, nas duas sub-regiões naturais em que se diferen-
cia: a serra, muito pobre, de pouco diversificadas actividades económicas, escassamente ocupada, e
o litoral, frutícola, piscatório, de intenso movimento comercial-marítimo, de importantes cidades28.

Durante o século XIX e grande parte do século XX a economia do Algarve teve como
principal base as actividades rurais, que variavam de acordo com cada uma das três zonas eco-
lógicas da região: horticultura irrigada e algum cultivo cerealífero no litoral; cultivo de olivei-
ras, figueiras, amendoeiras e alfarrobeiras nas colinas no Barrocal; e a exploração de sobreiros,
azinheiras e outras árvores, assim como a exploração da cultura cerealífera, na Serra29.

25. «[…] pela vida própria, que provém tanto das montanhas que o isolam de Portugal (até ao século XVII pelo
menos se encontra rasto da oposição ou justaposição dos dois reinos) como da costa que o torna solidário dessa
espécie de pré-mediterrâneo constituído pelo golfo luso-hispano-marroquino; e ainda pelo papel relevante que os
seus portos desempenharam na expansão portuguesa e nas relações marítimas distantes», in Orlando RIBEIRO,
Geografia e Civilização. Temas Portugueses, Lisboa, Instituto de Alta Cultura, Centro de Estudos Geográficos da
Universidade de Lisboa, 1961, p. 83.

26. Expressão da autoria do Professor Vitorino Magalhães Godinho.

27. Cf. Joaquim Romero MAGALHÃES, Para o Estudo do Algarve Económico durante o Séc. XVI, Lisboa,
Edições Cosmos, 1970, p. 233.

28. Cf. ibidem, p. 235.

29. Cf. BONNET, Charles, Memória sobre o Reino do Algarve: Descrição Geográfica e Geológica, [edição fa-
c-similada da 1.ª edição, Lisboa, Typografia da Academia das Ciências, 1850], Faro, Secretaria de Estado da
Cultura, Delegação do Sul, 1990.

24
Em 1914 o Algarve ainda continuava a efectuar mais trocas comerciais por via marítima
com o estrangeiro do que com o resto do país. Esta situação é facilmente verificável quando se
analisa o movimento das mercadorias transaccionadas, por via marítima, através de cada um
dos portos algarvios.

Quadro n.º 1.01: Movimento total das exportações através dos portos do Algarve em 1914
(em toneladas)
Comércio Comércio Comércio Comércio
Portos marítimos
externo (em t.) interno (em t.) externo (em %) interno (em %)
V.R.S.A. 257 948 14 013 94,8 5,2
Faro 13 927 1 366 91,1 8,9
V.N. de Portimão 8 459 811 91,3 8,7
Albufeira 4 831 32 99,3 0,7
Lagos 3 872 685 85 15
Olhão 1 141 2 525 31,1 68,9
Tavira 972 245 79,9 20,1
Total 291 150 19 677 93,7 6,3
Fonte: CABREIRA, Thomaz, O Algarve Económico, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1918, p. 180.

À excepção do porto de Olhão todos os restantes portos algarvios transaccionavam mais


mercadorias para o mercado externo do que para o mercado interno. Atingindo a maioria de-
les percentagens de transaccções para o mercado externo superiores a mais de 90% do total
das exportações, como é o caso do verificado nos portos de Albufeira, V.R.S.A., Vila Nova de
Portimão e Faro.

Por outro lado, quando comparadas as quantidades de mercadorias movimentadas pela


totalidade dos portos algarvios com a totalidade dos portos nacionais, verifica-se uma enorme
discrepância nas suas percentagens relativas, conforme de pode verificar pelo seguinte quadro:

Quadro n.º 1.02: Movimento total dos portos do Algarve e do país em 1914 (em t.)

Algarve Portugal % relativa do Algarve


Mercadorias carregadas 310 827 1 328 712 23,4
Mercadorias descarregadas 54 721 2 344 729 2,3
Movimento total dos portos 365 548 3 673 441 9,9
Fonte: CABREIRA, Thomaz, O Algarve Económico, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1918, p. 180.

25
Deste modo, em 1914, a percentagem das exportações dos portos do Algarve era mui-
to superior à dos restantes portos do país, 23,4% do total, enquanto as importações se ficavam
pelos 2,3%30. Sendo que a maioria das mercadorias exportadas pelos portos algarvios se desti-
navam ao estrangeiro31.

Tal como o Algarve, a Andaluzia também pode ser dividida em duas grandes regiões: a
Andaluzia Ocidental e a Andaluzia Oriental.

A parte mais ocidental da província, também conhecida por Baixa Andaluzia ou


Andaluzia Atlântica, encontra-se marcada pelo vale do Guadalquivir. Caracteriza-se por ser a
planície mais extensa de toda a Espanha e tem a forma geométrica de um triângulo isósceles
inclinado32. Trata-se de uma área que se prolonga desde a zona montanhosa da Serra Morena
até ao Atlântico, pela região do Andévalo (Serras de Aroche e de Aracena)33. Dela fazem
parte quatro províncias: Huelva, Cádiz, Sevilha e Málaga. Sendo a cidade de Sevilha a capital
da Andaluzia.

A Andaluzia Oriental, também conhecida por Alta Andaluzia, Andaluzia Mediterrânea


ou Andaluzia Penibética, encontra-se marcada pelo mar Mediterrâneo. Toda esta Andaluzia é
montanhosa e dominada pelas cordilheiras béticas34, paralelas ao Mediterrâneo35. Dela fazem
parte quatro províncias: Córdoba, Granada, Jaén e Almeria.

30. Cf. CABREIRA, THOMAZ, O Algarve Económico, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1918, p. 180.

31. Neste particular tome-se como exemplo o ocorrido no porto de Vila Nova de Portimão que em 1914 viu ex-
portadas 9 270 toneladas de mercadorias, das quais apenas 811 para o mercado nacional (8,7%), sendo as restantes
(8 459, cerca de 91,3%) para o mercado internacional, in COUTINHO, Valdemar, «Os meios de comunicação ma-
rítimos e terrestres. A circulação de mercadorias, pessoas e ideias», in Portimão e a Revolução Republicana, coord.
de José Tengarrinha, s./l., Texto Editores e Câmara Municipal de Portimão, 2010, p. 169.

32. Cf. CUENCA TORIBIO, José Manuel, Historia general de Andalucía, Córdoba, Almuzara, 2005, p. 16.

33. Cf. ibidem, p. 17.

34. A Cordilheira Bética é um conjunto de sistemas montanhosos que se estende desde o Golfo de Cádiz até
Alicante. Faz parte do chamado Arco de Gibraltar e subdividi-se nas cordilheiras Prebética, Subbética e Penibética.
Prolonga-se por mais de 600 kms.

35. Cf. CUENCA TORIBIO, José Manuel, op. cit., p. 19.

26
1.1.1. O Andévalo: uma breve caracterização36

Por força da documentação estudada, constata-se, de forma bastante clara, que a esmagado-
ra maioria dos emigrantes andaluzes que decidiram rumar até ao Algarve, ao longo do século
XIX e no primeiro terço do século XX, era natural do Andévalo, comarca histórica da província
de Huelva.37

Partindo do conceito mais comum de comarca como sendo uma divisão espacial, de
extensão menor que a província e maior do que o município, que serve para uma melhor admi-
nistração e controlo dos recursos territoriais38, ou seja, um espaço socialmente construído ou
constituível, a comarca do Andévalo encontra-se confinada a Norte com a Serra de Huelva, a
Sul com a costa Ocidental da província de Huelva, com a comarca metropolitana de Huelva e
com El Condado, a Oeste com Portugal e a Este com a Cuenca Minera.

Trata-se de uma região que se estende por 2 651 km2, isto é, cerca de 26% da superfície
total da província de Huelva e cerca de 3% da superfície total da Andaluzia. É uma comar-
ca «periserrana» marcada, de forma indelével, pela fronteira com Portugal39. A região é com-
posta pelos seguintes dezasseis municípios: Alosno, Cabezas Rubias, Calañas, El Almendro,
El Cerro de Andévalo, El Granado, Paymogo, Puebla de Guzmán, San Bartolomé de la Torre,
San Silvestre de Guzmán, Sanlúcar de Guadiana, Santa Bárbara de Casa, Valverde del Camino,
Villablanca, Villanueva de las Cruces e, finalmente, Villanueva de los Castillejos40.

36. Para uma boa síntese histórica, geográfica e social do Andévalo veja-se, por exemplo, a seguinte obra co-
lectiva: AA. VV., El Andévalo: território, história y identidade (actas de las I Jornadas del Patrimonio de
El Andévalo, Alosno, Huelva, 19 y 20 Noviembre 2010), Huelva, Disputación de Huelva, 2011.

37. Veja-se os Anexos cartográficos n.º 1 e n.º 5.

38. Cf. MÁRQUEZ DOMINGUEZ, Juan A., «El Patrimonio Natural de El Andévalo. Territorio y Paisaje em
un Desarrollo Difícil», in AA. VV., El Andévalo: território, história y identidade (actas de las I Jornadas del
Patrimonio de El Andévalo, Alosno, Huelva, 19 y 20 Noviembre 2010), Huelva, Disputación de Huelva, 2011, p. 21.

39. Veja-se o Anexo cartográfico n.º 1.

40. Cf. MÁRQUEZ DOMINGUEZ, Juan A. Márquez, art. cit., p. 20.

27
Mapa da província de Huelva, dividido por municípios

Fonte: https://www.mapasdigitais.com/mapas/mapa-huelva-por-municipios/ [consultado pela última vez no dia


10 de Setembro de 2021]

A comarca sempre se caracterizou, por um lado, pela pobreza agrícola e, por outro,
pelo amplo desenvolvimento ganadeiro, a que se deve acrescentar a produção de mel e de
cera, que, em tempos medievais e modernos, chegaram a ser um dos pilares da sua economia.
Características que determinaram a escassa população, dispersão geográfica, pequeno tamanho
dos núcleos populacionais e ausência de cidades.

A pobreza que caracteriza os solos da região limitou a agricultura tradicional ao cereal


de sequeiro (p. ex.: trigo) e a alguns olivais e a uma policultura de subsistência em pequenas
áreas agrícolas, enquanto que a maior parte da área foi colonizada por pastos, fazendas flores-
tais e, em degradação, por uma montanha mediterrânea que apresenta a morfologia dos «ma-
quis»41, que determinavam a sua exploração florestal e pecuária42.

41. «Maquis» é uma formação vegetal característica da região do Mediterrâneo, que, em geral, se estabelece em
solos siliciosos. Corresponde a uma fase de degradação de áreas onde predominava o sobreiro. É composto por
arbustos muito densos e de difícil penetração.

42. Cf. MÁRQUEZ DOMINGUEZ, Juan A., art. cit., p. 21.

28
A região é caracterizada pela pobreza dos seus solos, compostos maioritariamente por
terras de xisto, que, aliado ao clima árido do Andévalo Ocidental, tem como resultado um baixo
desenvolvimento agrícola. Pelo que, desde cedo, a comarca se virou para a criação ganadeira.
Vocação pecuária que tem sido uma constante desde a conquista castelhana, no século XIII,
até aos nossos dias. Todavia, reconhecendo a importância que os factores físicos e climatéricos
possam ter tido para essa determinada «vocação ganadeira», deve-se acrescentar outros dois
factores que contribuíram para tal «vocação»: a estrutura latifundiária das terras e dos gados e
os interesses económicos dos grandes proprietários que terão favorecido o fomento da criação
de animais em detrimento da aposta na agricultura43.

A paisagem é composta por diferentes pastagens, repovoamento de eucaliptos, núcleos


povoados, montes, núcleos abandonados e poucos pinhais. As pastagens mantêm uma interes-
sante ganadaria de ovelhas e de suínos, e os matagais são usados por cabras e, de forma intermi-
tente, por uma densa economia informal, que extrai as essências da montanha44. Até ao século
XIX as terras centrais da província de Huelva apresentavam uma continuidade paisagística e
humana, com um terreno caracterizado pelo montado e por pequenas povoações de base econó-
mica agro-ganadeira. Porém, no final do século XIX, com a aposta de importantes complexos
mineiros, como, por exemplo, em Riotinto (1873), uma parte dessa região sofreu uma enorme
modificação, que veio alterar a paisagem, a economia regional e a vida das suas populações.
Assim sendo, como resultado dessas transformações, distinguimos o Andévalo em duas distin-
tas partes: a parte Ocidental e a Oriental.

A parte Ocidental é aquela que menos impacto sofreu com a actividade mineira, man-
tendo uma paisagem de montado e uma base económica agro-ganadeira. Por outro lado, no
extremo Oriental, a denominada Cuenca Mineira, os efeitos da indústria mineira foram maio-
res. Porém, entre ambas as regiões surge uma área de transição, a que muitos denominam de
Andévalo Oriental, que, mesmo que tenha albergado importantes núcleos mineiros, manteve
parte da sua economia agrária45.

43. Cf. CÁCERES FERIA, Rafael, «El Andévalo: Una Mirada Desde La Antropología», in AA. VV., El Andévalo:
território, história y identidade (actas de las I Jornadas del Patrimonio de El Andévalo, Alosno, Huelva, 19 y 20
Noviembre 2010), Huelva, Disputación de Huelva, 2011, p. 49.

44. Cf. MÁRQUEZ DOMINGUEZ, Juan A., art. cit., pp. 21-22.

45. Cf. CÁCERES FERIA, Rafael, art. cit., p. 52.

29
Estes dois Andévalos, ainda que apresentem algumas diferenças entre si, encontram-se
unificados pelo predomínio do aproveitamento agropecuário em relação à actividade mineira.
Indústria que, embora congregando uma fatia significativa da mão-de-obra natural e residente
na região, nunca se constituiu como uma referência identitária da comarca, antes pelo contrário,
tudo o que com ela estivesse relacionado havia a tentação de ser interpretado negativamente
frente aos valores positivos do mundo agrário. O camponês possuía uma espécie de superiori-
dade moral quando comparado com o mineiro46.

O carácter fronteiriço também fez condicionar a vida dos seus habitantes, que, por di-
versas razões, os fez aproximar, por via do contrabando, ou afastar, por via de rivalidades e
guerras entre os dois estados, das regiões vizinhas de Portugal. O tráfico de almocreves, que se
ocupavam de vender fora a produção da comarca e de abastecê-la com produtos oriundos de
outras regiões, sempre foi uma das principais características da região. E, por tal facto, muitas
foram as influências que chegaram do exterior, nomeadamente de Portugal47.

Durante séculos a falta de vias de comunicação da comarca com a restante província le-
vou a que os vários povos do Andévalo orientassem as suas relações com Portugal. Esta proxi-
midade não dependia exclusivamente da proximidade com a raia, mas, igualmente, de factores
sócio-económicos. Só assim se explica o facto de Alosno, município situado longe da fronteira,
tivesse mais contactos com Portugal, através do contrabando, do que outras povoações locali-
zadas mais perto da fronteira com Portugal48.

A região é ainda caracterizada pelo predomínio de núcleos populacionais de pequena


dimensão, que sempre impossibilitaram a criação de economias de escala para a instalação de
vários negócios49.

Em geral, a instalação na região da indústria mineira significou um crescimento econó-


mico espúrio, da pilhagem de riqueza por empresas estrangeiras ou multinacionais sediadas em

46. Cf. ibidem, p. 52.

47. Cf. ibidem, p. 41.

48. Cf. ibidem, p. 42.

49. Se analisarmos os vários censos populacionais entre 1842 e 1920 verifica-se que a média populacional para
cada município do Andévalo foi: 1 744 habitantes (censo de 1842); 2 249 habitantes (censo de 1857); 2 186 habi-
tantes (censo de 1860); 2 655 habitantes (censo de 1877); 2 999 habitantes (censo de 1887); 2 964 habitantes (cen-
so de 1897); 2 920 habitantes (censo de 1900); 3 136 habitantes (censo de 1910); 3 559 habitantes (censo de 1920).

30
outros países. Porém, alguns municípios aproveitaram essas possibilidades para impulsionar o
desenvolvimento local. Contudo, após a crise mineira e agrícola de meados do século XX, a re-
gião caiu numa espécie de letargia e agonia económica, de que levou décadas a sair50.

1.2. A análise demográfica dos concelhos Algarvios (1864-1920)51

Entre 1801 e 1849 a população portuguesa cresceu de forma lenta. Durante esse período a taxa
de crescimento anual média (T.C.A.M.) foi de cerca de 0,36%. Porém, entre 1849 e 1911, fruto
da recuperação económica e dos esforços empreendidos na modernização do país, a T.C.A.M.
mais do que duplicou, passando para os 0,79%. No entanto, entre 1911 e 1920, a população na-
cional quase estagnou, fruto, essencialmente, de três factores: a forte emigração nacional (atin-
gindo o pico anual em 1912), a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918) e a epidemia de
gripe de 1918-181952. Vejamos, de seguida, o que se passou no Algarve.

Entre 1864 e 1920 a população do Algarve registou um crescimento populacional bas-


tante significativo, passando dos cerca de 174 500 habitantes (em 1864) para mais de 268 000
(em 1920), num crescimento de cerca de 54%. Exceptuando a ligeira quebra verificada entre os
censos de 1911 e 1920 (decréscimo de 1,7%), provocada pelos elevados indicies de emigração
algarvia rumo, principalmente, à Argentina53, verificou-se uma tendência de crescimento entre
1864 e 1920. Veja-se o seguinte quadro:

50. Cf. MÁRQUEZ DOMINGUEZ, Juan A., art. cit., p. 24.

51. Todos os valores populacionais compilados dizem respeito à «população de facto», isto é, à população efecti-
vamente presente na ocasião do recenseamento.

52. Cf. SILVEIRA, Luís Espinha da Silveira, ALVES, Daniel, LIMA, Nuno Miguel, ALCÂNTARA, Ana, PUIG-
FARRÉ, Josep, «Caminhos de ferro, população e desigualdades territoriais em Portugal, 1801-1930», in Ler
História, n.º 61, 2011, p. 15.

53. Sobre a emigração algarvia rumo à Argentina veja-se, por exemplo, o estudo: BORGES, Marcelo J., Correntes
de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva Regional e Transatlântica, Lisboa, I.C.S.
Imprensa de Ciências Sociais, 2018.

31
Quadro n.º 1.03: População residente em todos os concelhos do Algarve, entre 1864 e 1920

Concelhos 1864 1878 1890 1900 1911 1920

Albufeira 7 305 8 320 9 274 10 967 12 869 13 632


Alcoutim 8 146 7 670 8 907 8 279 8 514 7 881
Aljezur 4 014 4 253 4 574 5 063 5 658 6 134
Castro Marim 7 095 7 648 8 378 8 113 8 571 8 224
Faro 22 436 25 541 29 597 34 219 35 834 24 128
Lagoa 9 620 10 054 10 375 12 098 12 994 12 759
Lagos 11 419 12 270 13 405 13 997 16 259 15 954
Loulé 25 767 30 916 38 502 44 049 43 961 43 937
Monchique 8 115 8 200 10 610 11 484 12 712 12 626
Olhão 13 210 17 255 20 727 23 999 24 998 24 491
S. B. de Alportel 10 961
Silves 18 707 22 611 26 025 29 438 31 713 32 441
Tavira 20 978 21 153 23 858 25 198 25 768 24 660
Vila do Bispo 3 369 4 208 4 273 4 920 5 945 6 027
V. N. de Portimão 9 189 10 520 11 629 13 754 15 931 14 958
V.R.S.A. 5 083 6 838 8 501 9 613 11 134 9 481
Total 174 453 197 457 228 635 255 191 272 861 268 294

Fontes: Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1864, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868;
Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1878, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881; Censo da
População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1896; Censo
da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905;
Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1913; Censo da
População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

Entre 1864 e 1900 a taxa de crescimento da população algarvia foi de 46,28%. Porém,
entre igual período de tempo, houve concelhos que verificaram taxas de crescimento popula-
cional mais elevadas do que a globalidade da região, nomeadamente os concelhos de V.R.S.A.
(89,12%), Olhão (81,67%), Loulé (70,95%), Silves (57,36%), Faro (52,52%) e Vila Nova de
Portimão (49,68%). Nos seis censos compilados verifica-se que o concelho de Loulé foi sem-
pre o concelho mais populoso do Algarve, registando, para o século XIX, taxas de crescimen-
to intercensitárias bastante elevadas: 1864/1878 (19,98%); 1878/1890 (24,54%); 1890/1900
(14,41%).

32
Analisando por sub-regiões verifica-se que o concelho mais populoso do Barlavento é
Silves, do Sotavento é Tavira e do conjunto do Algarve é Loulé. Aliás, ao longo do período es-
tudado, o concelho de Loulé aparece sempre como o concelho mais populoso de toda a região,
surgindo o concelho de Faro – capital da província – como o segundo concelho mais populoso.

Este crescimento populacional em muito se ficou a dever ao sucessivo progresso das


condições de saúde das populações, entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade
do século XX. Este sucesso na luta em prol da saúde pública das populações, deveu-se, essen-
cialmente, às medidas higienistas54 que foram implantadas um pouco por todo o território na-
cional, assim como à acção do poder municipal na luta contra as insalubridades. Medidas como,
por exemplo, a construção de cemitérios na maior parte dos concelhos, a criação e a protecção
das estruturas de fornecimento de águas e dos esgotos públicos, assim como a limpeza dos es-
paços públicos55, aliadas à descoberta de novas vacinas, são alguns dos factores que ajudam a
compreender este aumento da população. Segundo outros autores, também o crescimento re-
gistado na agricultura algarvia contribuiu de forma decisiva para o crescimento demográfico da
região, nomeadamente nos seus concelhos mais agrícolas56.

Outro factor que ajuda a explicar este crescimento populacional no Algarve é a taxa de
nupcialidade por mil habitantes, que, em 1911, era de 8,54 no Algarve, quando a média nacional
era de 6,73. Segundo Robert Rowland esta situação favorável da nupcialidade algarvia foi uma
constante ao longo da segunda metade do século XIX. Outro factor explicativo tem a ver com o
Algarve ocupar o primeiro lugar em todo o país no que diz respeito à taxa de intensidade matri-
monial (I.M.) nas mulheres com uma taxa de 90,0%, a mais elevada do país, e a de solteiras de-
finitivas (S.D.) com uma taxa de 10,0%, a mais baixa do país57. Assim sendo, está-se perante um
modelo de alta pressão demográfica, caracterizado por um matrimónio quase universal e uma

54. Cf. COSME, João, «As preocupações higio-sanitárias em Portugal (2.ª metade do século XIX e princípio do
XX», in Revista da Faculdade de Letras – História, III Série, vol. 7, Porto, 2006, pp. 181-195.

55. Cf. COSME, João, «A mortalidade na freguesia de São Clemente de Loulé (1848-1900», in Atas do II Encontro
de História de Loulé, coord. de Nelson Vaquinhas, Loulé, Câmara Municipal de Loulé – Arquivo Municipal, 2019,
pp. 169-170.

56. Cf. MANIQUE, António Pedro, «O Algarve face ao liberalismo económico», in O Algarve da Antiguidade aos
Nossos Dias: elementos para a sua história, coord. de Maria da Graça Maia MARQUES, Lisboa, Edições Colibri,
1999, pp. 363-366.

57. Cf. ROWLAND, Robert, População, família, sociedade: Portugal, século XIX e XX, Oeiras, Celta Editora,
1997, pp. 187-193.

33
baixa idade da mulher na hora de casar pela primeira vez (24,2 anos). Tais valores contrastam
com os verificados em alguns distritos do Norte do país, como, por exemplo, Braga e Viana do
Castelo, que apresentavam taxas de I.M. nas mulheres inferiores a 70% e de S.D. superiores a
30%58, o que se poderia classificar como um modelo de baixa pressão demográfica.

Por outro lado, a elevada pressão demográfica que, como acabou de se ver, caracterizava
o comportamento da população algarvia, acentua-se ainda mais no concelho de Loulé. Aqui a
taxa de I.M. nas mulheres era de 92,3% e a taxa de S.D. de 7,7%, o que indica uma maior inten-
sidade do matrimónio em Loulé quando comparado com o resto do Algarve59. Estas duas taxas
convertem este concelho, com grande probabilidade, num dos concelhos portugueses que regis-
tou uma maior pressão demográfica durante a segunda metade do século XIX60. O concelho de
V.R.S.A., por comparação, apresenta taxas de I.M. nas mulheres de 91,2% e S.D. de 8,8%, isto
é, superiores à média algarvia, mas, ainda assim, inferiores às taxas apresentadas pelo concelho
de Loulé61.

Este constante crescimento irá ter consequências na orgânica administrativa da região,


passando o Algarve dos 15 concelhos e 66 freguesias em 1890, para os 16 concelhos62 e as 69
freguesias em 1930. Um exemplo disso é a constituição da freguesia de São Sebastião, por de-
creto régio de 13 de Agosto de 1890, em terrenos desanexados da freguesia de São Clemente –
até então a única freguesia da vila –, indicador do crescimento urbano da vila de Loulé63.

Por outro lado, analisando-se a variação populacional entre os diversos censos, obtêm-
-se as seguintes taxas de crescimento intercensitárias:

58. Cf. ROWLAND, Robert, op. cit., p. 187 e p. 191.

59. Cf. ROWLAND, Robert, op. cit., p. 189.

60. Cf. LÓPEZ MARTÍNEZ, Antonio Luis, Cruzar la Raya: portugueses em la Baixa Andalucía, Sevilla,
Fundación Publica Andaluza Centro de Estudios Andaluces, 2011, p. 129.

61. Cf. ROWLAND, Robert, op. cit., p. 189.

62. No dia 1 de Junho de 1914 a freguesia de São Brás de Alportel, até essa data uma das seis freguesias do con-
celho de Faro, é elevada a concelho. Sendo, então, o 16.º e último concelho a ser fundado no Algarve.

63. Para uma boa síntese da evolução administrativa do Algarve ao longo do século XIX veja-se o estudo:
MARQUES, Bernardo de Serpa, «Freguesias e concelhos do Algarve (1798-1900), in al-’ulyà, Revista do Arquivo
Histórico Municipal de Loulé, n.º 1, 1992, pp. 129-142.

34
Quadro n.º 1.04: Variação intercensitária para todos os concelhos do Algarve, entre 1864 e 1920

Concelho 1864/1878 1878/1890 1890/1900 1900/1911 1911/1920


Albufeira 13,89 11,47 18,26 17,34 5,93
Alcoutim -5,84 16,13 -7,05 2,84 -7,43
Aljezur 5,95 7,55 10,69 11,75 8,41
Castro Marim 7,79 9,54 -3,16 5,65 -4,05
Faro 13,84 15,88 15,62 4,72 -32,67
Lagoa 4,51 3,19 16,61 7,41 -1,81
Lagos 7,45 9,25 4,42 16,16 -1,88
Loulé 19,98 24,54 14,41 -0,20 -0,05
Monchique 1,05 29,39 8,24 10,69 -0,68
Olhão 30,62 20,12 15,79 4,16 -2,03
S. B. de Alportel
Silves 20,87 15,10 13,11 7,73 2,30
Tavira 0,83 12,79 5,62 2,26 -4,30
Vila do Bispo 24,90 1,54 15,14 20,83 1,38
V. N. de Portimão 14,48 10,54 18,27 15,83 -6,11
V.R.S.A. 34,53 24,32 13,08 15,82 -14,85

Fontes: Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1864, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868;
Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1878, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881; Censo da
População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1896; Censo
da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905;
Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1913; Censo da
População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

Dividindo o intervalo temporal em dois grandes períodos, verifica-se uma forte acelera-
ção do crescimento populacional do último terço do século XIX, com uma taxa intercensitária
1864/1900 de 46,28%; para, nas primeiras duas décadas do século XX, se verificar um abranda-
mento no crescimento populacional, evidenciado pela taxa intercensitária 1900/1920 de 5,13%.
Entre os censos de 1911 e 1920 verifica-se que onze dos quinze concelhos em análise registam
um decréscimo populacional, impulsionado pelo aumento da emigração algarvia para os países
americanos, nomeadamente para a Argentina e para o Brasil, facto que provocou um ligeiro de-
créscimo de 1,67% no total da população algarvia.

Analisando agora a população residente nas sedes de concelho (vilas ou cidades), ob-
têm-se o seguinte quadro:

35
Quadro n.º 1.05: População residente em todas as sedes de concelho do Algarve (vilas ou ci-
dades)64, entre 1864 e 1920
Sedes de Concelho 1864 1878 1890 1900 1911 1920
Albufeira 4 013 4 481 4 877 5 796 6 846 7 420
Alcoutim 2 450 2 471 3 203 2 785 2 725 2 417
Aljezur 2 310 2 546 2 904 3 239 3 720 4 160
Castro Marim 3 604 3 886 4 126 3 961 4 247 4 055
Faro 8 014 8 561 9 338 11 789 12 680 12 925
Lagoa 5 124 5 273 5 305 6 600 6 972 6 415
Lagos 7 744 7 279 8 259 8 291 9 673 9 443
Loulé 12 081 14 448 18 872 22 478 19 688 16 709
Monchique 5 217 6 135 6 794 7 345 8 038 8 143
Olhão 6 148 6 916 9 069 10 009 10 890 11 050
S. B. de Alportel 10 961
Silves 5 059 6 913 8 362 9 687 9 919 9 557
Tavira 10 529 10 859 11 558 12 175 11 665 11 043
Vila do Bispo 1 709 1 180 1 057 1 194 1 154 1 122
V. N. de Portimão 5 378 6 277 6 819 7 972 9 837 9 123
V.R.S.A. 3 032 4 188 5 499 6 172 7 153 5 568
Total 82 412 91 413 106 042 119 493 125 207 130 111

Fontes: Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1864, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868;
Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1878, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881; Censo da
População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1896; Censo
da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905;
Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1913; Censo da
População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

64. Para esta análise utilizou-se os dados populacionais das respectivas sedes de concelho, a seguir discrimina-
das: freguesia de Albufeira (concelho de Albufeira); freguesia de Alcoutim (concelho de Alcoutim); freguesia de
Aljezur (concelho de Aljezur); freguesia de Castro Marim (concelho de Castro Marim); freguesia de São Pedro e
freguesia da Sé (concelho de Faro); freguesia de Lagoa (concelho de Lagoa); freguesia de Santa Maria e freguesia
São Sebastião (concelho de Lagos); freguesia de São Clemente até ao censo de 1890, acrescida da freguesia de
São Sebastião, a partir do censo de 1900 (concelho de Loulé); freguesia de Monchique (concelho de Monchique);
freguesia de Olhão (concelho de Olhão); freguesia de Silves (concelho de Silves); freguesia de Santa Maria e fre-
guesia de São Thiago (concelho de Tavira); freguesia de Vila do Bispo (concelho de Vila do Bispo); freguesia de
Vila Nova de Portimão (concelho de Vila Nova de Portimão); freguesia de Vila Real de Santo António (concelho
de Vila Real de Santo António).

36
Ao nível das vilas e cidades, sedes de concelho, verifica-se que, à excepção de Loulé,
todas as sedes de concelho mais populosas do Algarve – Vila Nova de Portimão, Lagos, Faro,
Olhão e Tavira – se situam no litoral. Confirma-se, pois, que, desde o primeiro censo (em 1864)
até ao sexto (em 1920) a vila de Loulé, localidade do Barrocal algarvio, surge, sempre, como a
sede de concelho mais populosa do Algarve.

Ao nível da população residente na totalidade das sedes de concelho esta quase que
duplica no intervalo temporal em análise. Se em 1864 viviam mais de 82 000 habitantes no
conjunto de todas as sedes de concelho, em 1920, já contando com uma nova sede de conce-
lho (São Brás de Alportel), esse número ultrapassava as 130 000 pessoas, num crescimento de
cerca de 59%. Entre 1864 e 1920 verifica-se que quatro sedes de concelho apresentam cresci-
mentos muito significativos no número de residentes: V.R.S.A., que passou dos 3 032 residentes
para os mais de 5 568 (83,6%); Olhão, que passou dos 6 148 para os cerca de 11 050 habitan-
tes (79,7%); Vila Nova de Portimão, que passou de 5 378 para os 9 123 (69,6%); e, finalmente,
Faro que passou dos 8 014 para mais de 12 925 habitantes (61,3%). Estes crescimentos popula-
cionais evidenciam uma tendência de forte urbanização das principais sedes de concelho da re-
gião algarvia, por força das alterações verificadas na economia da região. A economia algarvia
passava a ser cada vez menos de base agrícola para passar a ser cada vez mais de base indus-
trial, conforme comprova o surgimento de novas indústrias na região: pescas e conservas, em
V.R.S.A., Vila Nova de Portimão e Olhão; cortiça, em Silves; e tecelagem em Faro. A industria-
lização de alguns concelhos dava, pois, os primeiros passos.

Crescimento demográfico fortemente impulsionado pelo crescimento do comércio e da


indústria. Como para algumas cidades e vilas do Algarve, no resto do país as cidades que mais
crescem do ponto de vista demográfico são aquelas em que a indústria é mais importante. Entre
1864 e 1911 as cidades de Lisboa e do Porto duplicam a sua população (várias indústrias); en-
tre 1864 e 1911 a cidade de Aveiro, onde as fábricas de papel se multiplicam, vê igualmente a
população duplicar; entre 1878 e 1911 Setúbal, fortemente impulsionada pela indústria de con-
servas de peixe, vê igualmente duplicar a população; e, apenas entre 1878 e 1890, a Covilhã,
por força das suas inúmeras unidades fabris ligadas à indústria têxtil, vê a sua população cres-
cer cerca de 62,5%65. Loulé, que já em 1864 era habitada por mais de 12 000 habitantes, chega

65. Cf. PEREIRA, Miriam Halpern, «Demografia e desenvolvimento em Portugal na segunda metade do século
XIX», in Análise Social, vol. VII, n.º 25-26, 1969, p. 102 e p. 104.

37
a 1900 com cerca de 22 500 habitantes, o que resulta num invulgar crescimento de cerca de
87,5% em tão curto espaço de tempo.

No que diz respeito a Loulé sabe-se que a colónia andaluza que se instalou na vila, «em
tempo indeterminado, e, sem património nem preconceitos, detinha o domínio da quase tota-
lidade do comércio local», nos finais do século XIX e princípios do século XX66. Ocupando
«com [as] suas lojas a parte baixa da vila de Loulé, a zona urbana da futura freguesia de
S. Sebastião, especialmente, as ruas S. Sebastião, Santo António e os largos da Barbacã e de
S. Francisco»67. Para a historiadora Isilda Martins não restam dúvidas de que foi o crescimento da
vila de Loulé no sentido poente, provocado pela numerosa comunidade andaluza nela a residir,
que terá estado na base da criação, em Agosto de 1890, de uma nova freguesia na vila – a de São
Sebastião –, em terrenos que até então pertenciam à única freguesia da vila – a de São Clemente68.

Procedendo-se, agora, ao cálculo das respectivas variações intercensitárias obtêm-se os


seguintes valores:

Quadro n.º 1.06: Variação intercensitária das sedes de concelho do Algarve (vilas ou cidades),
entre 1864 e 1920

Sedes de Concelho 1864/1878 1878/1890 1890/1900 1900/1911 1911/1920


Albufeira 11,66 8,84 18,84 18,12 8,38
Alcoutim 0,86 29,62 -13,05 -2,15 -11,30
Aljezur 10,22 14,06 11,54 14,85 11,83
Castro Marim 7,82 6,18 -4,00 7,22 -4,52
Faro 6,83 9,08 26,25 7,56 1,93
Lagoa 2,91 0,61 24,41 5,64 -7,99
Lagos -6,00 13,46 0,39 16,67 -2,38
Loulé 19,59 30,62 19,11 -12,41 -15,13
Monchique 17,60 10,74 8,11 9,43 1,31

66. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, Loulé, Edições Colibri e Câmara Municipal de Loulé, 2001, p. 107.

67. Cf. Isilda Maria Renda MARTINS, op. cit., p. 107.

68. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, op. cit., p. 236.

38
Olhão 12,49 31,13 10,36 8,80 1,47
S. B. de Alportel
Silves 36,65 20,96 15,85 2,39 -3,65
Tavira 3,13 6,44 5,34 -4,19 -5,33
Vila do Bispo -30,95 -10,42 12,96 -3,35 -2,77
V. N. de Portimão 16,72 8,63 16,91 23,39 -7,26
V.R.S.A. 38,13 31,30 12,24 15,89 -22,16

Fontes: Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1864, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868;
Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1878, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881; Censo da
População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1896; Censo
da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905;
Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1913; Censo da
População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

Se avaliarmos a taxa de crescimento intercensitária 1864/1900 verifica-se que as sedes


de concelho que mais cresceram foram V.R.S.A. (103,56%), Silves (91,48%) e Loulé (86,06%),
situação facilmente explicável pelo forte incremento populacional que essas três localidades
obtiveram ao longo do último terço do século XIX: V.R.S.A. através da indústria conserveira,
Silves através da indústria corticeira e Loulé ao nível do comércio.

Quadro n.º 1.07: Densidades populacionais dos concelhos de Loulé, V.R.S.A. e do Algarve

1864 1878 1890 1900 1911 1920


Loulé/km2 33,7 40,48 50,42 57,68 57,57 57,53
V.R.S.A./km2 82,96 114,64 138,79 156,95 181,78 154,79
Algarve/ km2 34,91 39,52 45,75 51,07 54,6 53,69

Fontes: Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1864, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868;
Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1878, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881; Censo da
População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1896; Censo
da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905;
Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1913; Censo da
População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

O concelho de Loulé apresenta uma densidade populacional sempre muito idêntica à do


Algarve, ao contrário do concelho de V.R.S.A. que apresenta densidades populacionais sempre
muito superiores às da região.

39
Quadro n.º 1.08: Percentagem da população total a residir nas sedes de concelho

1864 1878 1890 1900 1911 1920


Loulé 46,89 46,73 49,02 51,03 44,79 38,03
V.R.S.A. 59,65 61,25 64,69 64,20 64,24 58,73
Algarve 47,24 46,30 46,38 46,82 45,89 48,50

Fontes: Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1864, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868;
Estatística de Portugal, Censo no 1.º de Janeiro de 1878, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881; Censo da
População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1896; Censo
da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905;
Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1913; Censo da
População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

Entre 1864 e 1900 os concelhos de Loulé e de V.R.S.A. vêem aumentar a percentagem


da sua população total a residir nas sedes de concelho, isto é, a sua população urbana. As popu-
lações abandonavam os campos e dirigiam-se para as suas sedes de concelho, onde a oferta de
empregos era, por regra, maior. Assiste-se, desta forma, a um processo de uma cada vez maior
desruralização e consequente urbanização dos dois concelhos, como, aliás, sucedeu um pou-
co por todo o território nacional69. Que registou, igualmente, taxas de urbanização70 positivas,
mas em menor grau: 13,14% (1864), 14,06% (1878); 16,46% (1890), 17,86% (1900), 18,95%
(1911) e 22,24% (1920)71.

Comparando os números dos dois concelhos em causa verifica-se que as percentagens


do concelho de Loulé, até 1911, se aproximam muito à média da região. Por seu lado, o conce-
lho de V.R.S.A. apresenta percentagens residenciais mais elevadas, muito por força do aumento
da procura de mão-de-obra na sede concelhia, mas, igualmente, por o concelho possuir apenas
mais outra freguesia (Cacela), ao invés do concelho de Loulé que detinha mais sete freguesias
ditas rurais (Almancil, Alte, Ameixial, Boliqueime, Quarteira, Querença e Salir).

69. Cf. PEREIRA, Miriam Halpern, Livre-Câmbio e Desenvolvimento Económico: Portugal na segunda metade
do século XIX, Lisboa, Sá da Costa Editora, 2.ª edição corrigida, 1983 [1971], pp. 30-32.

70. A taxa de urbanização nacional é calculada dividindo-se o total da população residente nos centros urbanos
sobre o total da população nacional.

71. Cf. SILVEIRA, Luís Espinha da Silveira, ALVES, Daniel, LIMA, Nuno Miguel, ALCÂNTARA, Ana, PUIG-
FARRÉ, Josep, «Caminhos de ferro, população e desigualdades territoriais em Portugal, 1801-1930», in Ler
História, n.º 61, 2011, pp. 21-22.

40
1.3. A análise quantitativa do número de estrangeiros residentes no Algarve (1890-1920)

O primeiro censo geral da população residente em Portugal data de 1864. Porém, só a partir
do terceiro censo geral, realizado em 1890, é que se começa a discriminar os estrangeiros re-
sidentes em Portugal. Esse registo é efectuado a nível distrital e a nível concelhio, e ordenado
por nacionalidades. Deste modo, entre o censo de 1890 e o censo de 1920, a nacionalidade com
mais estrangeiros residentes no país foi sempre a espanhola, seguida, a grande distância, pela
brasileira. Veja-se, então, o seguinte quadro.

Quadro n.º 1.09: Número total de estrangeiros e de espanhóis a residirem em Portugal, entre
1890 e 1920
Anos N.º de estrangeiros N.º de espanhóis % de espanhóis
1890 41 339 27 207 65,81
1900 41 728 27 029 64,77
1911 41 197 20 517 49,80
1920 29 070 17 813 61,28

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1896; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1905; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1913; Censo da População de Portugal – Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

O número de estrangeiros residentes em Portugal manteve-se estável entre os censos de


1890 e 1911, sempre à volta dos 41 000, que se dividiam por cerca de meia dúzia de naciona-
lidades principais. As relações diplomáticas e consulares, culturais, comerciais e técnicas sus-
tentavam a fixação de estrangeiros oriundos de diferentes nacionalidades – francesa, inglesa,
alemã e italiana –, com algumas centenas a poucos milhares de indivíduos por comunidade, fi-
xados, na sua maioria, nas cidades de Lisboa e do Porto72.

Entre 1890 e 1920 eram os espanhóis aqueles que ocupavam a maior percentagem re-
lativa dentro do total dos estrangeiros residentes em Portugal, logo seguido pelos brasileiros.
O peso relativo dos espanhóis sobre o total dos imigrantes residentes apresentou sempre per-
centagens maioritárias: quase dois terços em 1890 e 1900, metade em 1911 e cerca de três

72. Cf. LEITE, Joaquim da Costa, «População e crescimento económico», in História Económica de Portugal,
1700-2000, vol. II, O Século XIX, organizada por Pedro Lains e Álvaro Ferreira da Silva, Lisboa, Imprensa de
Ciências Sociais, 2005, p. 73.

41
quintos em 1920. Todavia, tal como os portugueses, os espanhóis assistiram, entre 1905 e 1914,
ao aumento das oportunidades de emigração para outros destinos mais promissores, nomeada-
mente o americano, o que fez com que o número total de espanhóis decrescesse dos cerca de 27
000 em 1900 para os 17 800 em 1920.

Destes, sabe-se que a esmagadora maioria seriam galegos. Como sucede, pelo menos,
desde o século XVIII. E residentes, preferencialmente, nas duas grandes cidades do país73. Em
1873, o cônsul espanhol no Porto assegurava que os emigrantes galegos representavam cerca de
97% dos emigrantes espanhóis em Portugal, sendo naturais, na sua quase totalidade, de zonas
rurais da Galiza74. Emigrantes que escolhiam as duas grandes cidades do país para se fixarem
conforme dá conta o censo populacional de 1890, em que se fica a saber que 62% dos espanhóis
residentes em Portugal se concentravam na cidade de Lisboa (13 405) ou na do Porto (3 408)75.
Mais: ainda de acordo com o censo de 1890 fica-se a saber que apenas vinte e quatro conce-
lhos dos 263 que existiam na altura no continente, é que não apresentavam nenhum espanhol

73. Sobre a temática da emigração de galegos para Portugal veja-se, por exemplo, os seguintes estudos: ALVES,
Jorge Fernandes, «Imigração de galegos no Norte de Portugal (1500-1900). Algumas notas», in Movilidade e
migrácions internas na Europa Latina, coord. de Antonio Eiras Roel e de Domingo Gonzalez Lopo, Unesco.
Santiago de Compostela: Universidad (Catedra Unesco), 2002, p. 117-126; ALVES, Jorge Fernandes,
«Peregrinos de Traballo. Perspectivas sobre a inmigración galega en Porto», in Estudios Migratórios, n.º 4,
1997, pp. 69-81; GONZÁLEZ LOPO, Domingo L., «La emigración a Portugal desde el Suroeste de Galicia en
los siglos XVIII al XX», Emigração-Imigração em Portugal – Actas do colóquio, Lisboa, Fragmentos, 1993,
pp. 373‑391; GONZÁLEZ LOPO, Domingo L., «Gallegos en Portugal, una emigración (casi) olvidada (1700-1950),
in Migrações, permanências e diversidades, organização de Maria Beatriz Rocha-Trindade, Porto, Afrontamento,
2009, pp. 187-215; MEIJIDE PARDO, A., «La Emigración Gallega Intrapeninsular», in Estudios de Historia
Social de España, tomo IV, 2º ano, Madrid, 1960, pp. 463-605; PAZOS, Carlos, «De João de Redondella a Os ga-
legos são nossos irmãos. Aproximação à imagem da Galiza e dos galegos em Portugal nos inícios do século XX»,
in Imagologías Ibéricas: construyendo la imagen del otro peninsular, coord. de María Jesús Fernández García e
Maria Luísa Leal, Mérida, Gabinete de Iniciativas Transfronterizas, 2012, pp. 379-386; PAZOS, Carlos, A emigra-
ção espanhola em Lisboa na Primeira República: o caso do enclave galego, 2013; PEREIRA, Maria da Conceição
Meireles, «Espanhóis exilados em Portugal no 3.º quartel do século XIX: representações na imprensa portuguesa»,
in Gallegos en la diáspora: exodos y retornos: actas del Coloquio Internacional, Santiago de Compostela, 8-9
de Noviembre 2012, (organiza) Cátedra Unesco 226 sobre Migracións, Santiago de Compostela, Universidade de
Santiago de Compostela, Servizo de Publicacións e Intercambio Científico, 2013, pp. 185-210.

74. Cf. Primeiro Inquérito Parlamentar sobre a Emigração Portugueza pela Commissão da Câmara dos Senhores
Deputados, Lisboa, Imprensa Nacional, 1873, pp. 508-511.

75. Cf. Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, vol. I, Lisboa, Imprensa Nacional,
1896, pp. 276 e seguintes.

42
residente76. Emigração galega antiga e parece que em decréscimo, tendo em conta os números
projectados para o século anterior: 30 000 no princípio do século XVIII, 60 000 a meados do
século e 80 000 no princípio do século XIX77. Porque números mais concretos só se encontram
através do Padre Sarmiento que informa que, em 1748, à volta de 45 000 galegos tinham cum-
prido em Lisboa os seus deveres pascais78.

Passando agora para uma escala regional, verifica-se que o número de estrangeiros a
residir no Algarve, entre os censos de 1890 a 1920, foi de: 744, em 1890; 904, em 1900; 917,
em 1911; e 577, em 1920. Revelando-se uma tendência crescente até 1911, para depois, com o
advento da República, esse número começar a diminuir. Conforme se pode verificar através do
seguinte quadro.

Quadro n.º 1.10: Número total de estrangeiros e de espanhóis por concelho, a residirem no
distrito de Faro, entre 1890 e 1920
1890 1900 1911 1920
Concelhos
Estra. Espanhois Estra. Espanhois Estra. Espanhois Estra. Espanhois
Albufeira 2 0 2 2 8 8 9 9
Alcoutim 22 22 10 10 6 6 0 0
Aljezur 1 1 0 0 4 4 0 0
Castro Marim 37 32 19 19 16 15 0 0
Faro 67 28 136 88 157 66 112 86
Lagoa 16 15 23 17 22 16 25 13
Lagos 69 50 47 33 35 13 31 9
Loulé 55 55 101 98 48 46 48 46
Monchique 1 1 3 0 3 1 1 0
Olhão 27 23 57 27 166 94 87 51
S. B. de Alportel – – – – – – 20 20
Silves 14 13 35 30 19 15 8 5

76. Cf. ALVES, Jorge Fernandes, «Peregrinos de Traballo. Perspectivas sobre a inmigración galega en Porto», in
Estudios Migratórios, n.º 4, 1997, p. 76.

77. Cf. MEIJIDE PARDO, A., «La Emigración Gallega Intrapeninsular», in Estudios de Historia Social de
España, tomo IV, 2º ano, Madrid, 1960, p. 549.

78. Cf. ibidem, p. 551.

43
Tavira 72 64 76 74 56 52 53 48
Vila do Bispo 2 2 9 7 1 1 0 0
V. N. de Portimão 41 20 59 52 117 104 31 24
V.R.S.A. 318 308 327 311 259 248 152 136
Total 744 634 904 768 917 689 577 447

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1896; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1905; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1913; Censo da População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

O quadro demonstra que, entre 1890 e 1920, foi sempre o concelho de V.R.S.A. aquele
que registou o maior número de estrangeiros residentes, atingindo o seu máximo histórico em
1900 com 327 estrangeiros residentes. A seguir a V.R.S.A., mas a uma distância considerável,
seguem os concelhos de Olhão, Faro e Vila Nova de Portimão, que apresentam uma tendência
de crescimento constante entre 1890 e 1911, tendo todos eles a particularidade de registarem o
seu máximo histórico em 1911, para, a partir desse ano, decrescerem. Assim sendo, entre 1890
e 1911, Olhão passa de 27 para 166 estrangeiros residentes, Faro de 67 para 157 e Vila Nova de
Portimão de 41 para 117, num movimento contrário ao verificado nos concelhos de V.R.S.A.,
que passa de 318 para 259, ou de Tavira, que passa de 72 para 56.

Analisando, somente, o número de espanhóis residentes, verifica-se que, para o mesmo


período, Olhão passa de 23 para 94, Faro de 28 para 66, Vila Nova de Portimão de 20 para 104,
também num movimento contrário ao verificado em V.R.S.A. que passa de 308 para 248, ou em
Tavira que passa de 72 para 52. Vila Nova de Portimão viu mais do que quintuplicar o número
de espanhóis residentes entre 1890 (20 espanhóis) e 1911 (104 espanhóis), situação que se ex-
plica tendo em conta as dezenas e dezenas de andaluzes, galegos e catalães que, nesse período,
se fixaram no concelho, dedicando-se às indústrias das conservas, da cortiça e da panificação.

Em tendência contrária, para o período compreendido entre 1911 e 1920, regista-se um


decréscimo no número de estrangeiros (917 para 577) e de espanhóis (689 para 447) para quase
todos os concelhos algarvios. Facto que se fica a dever a factores como o aumento da emigração
espanhola para outros destinos, com o continente americano à cabeça, em que se atinge o máxi-
mo histórico em 1912; a Primeira Guerra Mundial (1914-1918); ou o aumento da mortalidade
em consequência da chamada «Gripe Espanhola» de 1918-1919.

44
Quadro n.º 1.11: Percentagem dos espanhóis residentes sobre o total de imigrantes residentes,
entre 1890 e 1920

Concelhos 1890 1900 1911 1920


Albufeira 0 100 100 100
Alcoutim 100 100 100 0
Aljezur 100 0 100 0
Castro Marim 86,49 100 93,75 0
Faro 41,79 64,71 42,04 76,79
Lagoa 93,75 73,91 72,73 52
Lagos 72,46 70,21 37,14 29,03
Loulé 100 97,03 95,83 95,83
Monchique 100 0 33,33 0
Olhão 85,19 47,37 56,63 58,62
S. B. de Alportel – – – 100
Silves 92,86 85,71 78,95 63,50
Tavira 88,89 97,37 92,86 90,57
Vila do Bispo 100 77,78 100 0
V. N. de Portimão 48,78 88,14 88,89 77,42
V.R.S.A. 96,86 95,11 95,75 89,47
Total 85,22 84,96 75,14 77,47

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Na-
cional, 1896; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1905; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional,
1913; Censo da População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

Analisando as percentagens relativas para os concelhos de Loulé e de V.R.S.A. verifica-


-se que ambos apresentam percentagens bastante altas, tendo mesmo Loulé alcançado os 100%
no censo de 1890. Em Loulé verifica-se que a esmagadora maioria dos estrangeiros residentes
são espanhóis: 55 em 55, em 1890; 98 em 101, em 1900; e 46 em 48, em 1911 e 1920. Para o
mesmo período V.R.S.A. apresenta maiores números absolutos, embora as suas percentagens
relativas sejam ligeiramente inferiores quando comparadas com o concelho de Loulé: 308 em
318, em 1890; 311 em 327, em 1900; 248 em 259, em 1911; e 136 em 152, em 1920. O peso
dos espanhóis em Faro não é tão manifesto uma vez que, como se irá demonstrar, residiam emi-
grantes de várias nacionalidades – italianos, franceses e também holandeses – nesse concelho.

Situação curiosa passa-se nos concelhos do Barlavento analisados no presente tra-


balho. Se, com o decorrer dos anos, Lagoa (93,75% em 1890 para 52% em 1920) e Lagos
(72,46% em 1890 para 29,03% em 1920) vêem o peso dos espanhóis diminuir no número total

45
de estrangeiros residentes, o inverso se verifica com Vila Nova de Portimão (48,78% em 1890
para 77,42% em 1920), muito por força do aumento de andaluzes, mas, também, de galegos e
de catalães que escolheram esse concelho para se fixarem. O concelho de Silves vê também di-
minuir o peso dos espanhóis (92,86% em 1890 para 63,5% em 1920), diminuição, porém, não
tão acentuada como em Lagoa e Lagos. As percentagens de 100% verificadas em alguns anos
para os concelhos de Albufeira, Alcoutim, Aljezur e Vila do Bispo encontram-se relacionadas
com o facto de os números absolutos serem muito baixos.

Calculando-se, agora, o rácio de estrangeiros residentes por 1 000 habitantes para todos
os concelhos do distrito de Faro, chega-se aos seguintes resultados:

Quadro n.º 1.12: Rácio de estrangeiros por 1 000 habitantes a residirem no distrito de Faro,
por concelhos, entre 1890 e 1920

Concelhos 1890 1900 1911 1920


Albufeira 0,22 0,16 0,59 0,60
Alcoutim 2,47 1,17 0,76 0
Aljezur 0,22 0 0,65 0
Castro Marim 4,42 2,22 1,95 0
Faro 2,26 3,80 6,51 3,84
Lagoa 1,54 1,77 1,72 1,88
Lagos 5,15 2,89 2,19 1,86
Loulé 1,43 2,30 1,09 1,06
Monchique 0,09 0,24 0,24 0,07
Olhão 1,30 2,28 6,78 3,06
S. B. de Alportel – – – 1,83
Silves 0,54 1,10 0,59 0,23
Tavira 3,02 2,95 2,27 1,89
Vila do Bispo 0,47 1,51 0,17 0
V. N. de Portimão 3,53 3,70 7,82 1,47
V.R.S.A. 37,41 29,37 27,32 12,20
Total 3,25 3,31 3,42 1,92

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Na-
cional, 1896; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1905; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional,
1913; Censo da População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

Analisando-se o rácio de estrangeiros residentes por 1 000 habitantes verifica-se ser


V.R.S.A. o concelho que apresenta os rácios mais elevados, muito acima dos restantes concelhos.

46
Em 1890 residiam no concelho 37,41 estrangeiros por 1 000 habitantes, número verdadeira-
mente singular mesmo quando comparado com os restantes concelhos a nível nacional. Porém,
depois desse máximo registado em 1890, esse rácio registará uma tendência de constante de-
créscimo, registando os seguintes valores: 29,37 (em 1900), 27,32 (em 1911) e 12,20 (em 1920)
estrangeiros por 1 000 habitantes, ainda assim mais de três vezes superior ao rácio registado
pelo segundo concelho no censo de 1920 (Faro, com 3,84 por 1 000 habitantes).

A seguir a V.R.S.A. surgem os concelhos de Vila Nova de Portimão, Faro e Olhão, que
apresentam uma tendência de crescimento entre 1890 e 1911. Vila Nova de Portimão e Olhão
registam os seus maiores rácios no censo de 1911, com 7,82 e 6,78 respectivamente; sendo
que Faro atinge o seu máximo histórico em 1920, com 3,84 estrangeiros por 1 000 habitantes.
O concelho de Olhão é aquele que regista um maior crescimento do seu rácio, passando de 1,3
estrangeiros por 1 000 habitantes (em 1890) para 6,78 (em 1911), aparecendo, logo a seguir,
o concelho de Vila Nova de Portimão que passa de 3,53 (em 1890) para 7,82 (em 1911), e o
concelho de Faro que passa de 2,26 (em 1890) para 6,51 (em 1911). Por outro lado, verifica-se
uma tendência de decrescimento deste rácio, praticamente para todos os concelhos em análise,
a partir do censo de 1911.

Em 1914, com a criação do concelho de São Brás de Alportel – até essa altura uma das
freguesias pertencentes ao concelho de Faro – o número de concelhos algarvios passa de quinze
para dezasseis, número que desde essa altura nunca mais se alterou.

Analisando agora o número de espanhóis registados por 1 000 habitantes, obtêm-se os


seguintes rácios.

Quadro n.º 1.13: Rácio de espanhóis por 1 000 habitantes a residir no distrito de Faro,
por concelhos, entre 1890 e 1920

Concelhos 1890 1900 1911 1920


Albufeira 0 0,16 0,59 0,60
Alcoutim 2,47 1,17 0,76 0
Aljezur 0,22 0 0,65 0
Castro Marim 3,82 2,22 1,82 0
Faro 0,95 2,46 2,74 2,95
Lagoa 1,45 1,31 1,25 0,98
Lagos 3,73 2,03 0,81 0,54

47
Loulé 1,43 2,23 1,05 1,01
Monchique 0,09 0 0,08 0
Olhão 1,11 1,08 3,84 1,79
S. B. de Alportel – – – 1,83
Silves 0,50 0,95 0,46 0,14
Tavira 2,68 2,87 2,11 1,71
Vila do Bispo 0,47 1,18 0,17 0
V. N. de Portimão 1,72 3,26 6,95 1,14
V.R.S.A. 36,23 27,93 26,16 10,91
Total 2,77 2,81 2,57 1,49

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1896; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1905; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1913; Censo da População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

V.R.S.A. é o concelho que apresenta os rácios mais elevados, muito acima dos restantes
concelhos. Em 1890 residiam no concelho 36,23 espanhóis por 1 000 habitantes, número ver-
dadeiramente singular mesmo quando comparado com os restantes concelhos a nível nacional.
Porém, depois desse máximo registado em 1890, esse rácio registará uma tendência de constan-
te decréscimo, registando os seguintes valores: 27,93 (em 1900), 26,16 (em 1911) e 10,91 (em
1920) espanhóis por 1 000 habitantes, ainda assim quase quatro vezes superior ao rácio regista-
do pelo segundo concelho no censo de 1920 (Faro, com 2,95 por 1 000 habitantes). A seguir a
V.R.S.A. surgem os concelhos de Vila Nova de Portimão, Faro e Olhão, que apresentam uma ten-
dência de crescimento entre 1890 e 1911. Vila Nova de Portimão e Olhão registam os seus maio-
res rácios no censo de 1911, com 6,95 e 3,84 respectivamente; sendo que Faro atinge o seu má-
ximo histórico em 1920, com 2,95 espanhóis por 1 000 habitantes. O concelho de Vila Nova de
Portimão é aquele que regista a maior subida, passando dos 1,72 (em 1890) para os 6,95 (em 1911).

Por outro lado, verifica-se uma tendência de decrescimento deste rácio, praticamente
para todos os concelhos em análise, a partir do censo de 1911, facto que, como já vimos, se
explica pelo aumento da emigração espanhola para outros destinos, nomeadamente o continen-
te americano, a Primeira Guerra Mundial, ou o aumento da mortalidade em consequência da
«Gripe Espanhola».

Analisando o número de estrangeiros por freguesias verifica-se que a freguesia de


V.R.S.A., sede do concelho homónimo, é aquela que regista os números mais elevados em

48
todos os censos estudados. Registe-se, ainda, que a outra freguesia do concelho, Cacela, surge,
em 1890, como a terceira freguesia com um maior número de estrangeiros, 48, apenas superada
por V.R.S.A. e por São Clemente (Loulé). Veja-se o seguinte quadro:

Quadro n.º 1.14: Número total de estrangeiros residentes nas dez freguesias algarvias com
mais estrangeiros residentes

Freguesias 1890 1900 1911 1920


V.R.S.A. 270 309 253 151
Olhão 21 46 138 72
Vila Nova de Portimão 41 57 115 31
Sé (Faro) 43 79 49 62
S.ª Maria do Castelo (Tavira) 42 63 35 46
São Pedro (Faro) 20 34 30 50
São Clemente (Loulé) 55 30 24 18
São Sebastião (Lagos) 39 31 28 20
São Sebastião (Loulé) – 55 18 23
Cacela (V.R.S.A.) 48 18 6 1

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Na-
cional, 1896; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1905; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional,
1913; Censo da População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

As freguesias de Olhão (sede do concelho homónimo) e de Vila Nova de Portimão (sede


do concelho homónimo) registam, ambas, um número bastante elevado de estrangeiros residen-
tes, atingindo ambas o seu máximo histórico em 1911: Olhão com 138 e Vila Nova de Portimão
com 115. Outra particularidade destas duas freguesias é o seu crescimento exponencial ao ní-
vel dos estrangeiros residentes, uma vez que Olhão passa de 21 (em 1890) para 138 (em 1911)
e Vila Nova de Portimão de 41 (em 1890) para 115 (em 1911). Crescimentos explicáveis pela
implantação das primeiras fábricas de conservas nessas vilas ao longo da década de 188079.

Nas dez freguesias que apresentam os maiores números encontram-se três concelhos
duplamente representados: V.R.S.A (V.R.S.A. e Cacela), Faro (Sé e São Pedro) e Loulé (São

79. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século
XX, Lisboa, Edições Colibri, 2003, pp. 20-21 e p. 23 e NOBRE, Antero, História breve da Vila de Olhão da
Restauração, Olhão, edição d’A Voz de Olhão, 1984, p. 127.

49
Clemente e São Sebastião). À excepção de Cacela, todas elas freguesias urbanas dos seus res-
pectivos concelhos. A Sé (Faro) varia os registos de estrangeiros residentes entre 43 (em 1890)
e 79 (em 1900), enquanto São Pedro (Faro) oscila entre 20 (em 1890) e 50 (em 1920). No que
diz respeito às freguesias urbanas do concelho de Loulé, São Clemente varia entre 55 (em 1890)
e 18 (em 1920) e São Sebastião entre 55 (em 1900) e 18 (em 1911).

No entanto, se se proceder a uma análise das dez freguesias do Algarve com mais estran-
geiros residentes por 1 000 habitantes, obtêm-se o seguinte quadro:

Quadro n.º 1.15: Maiores rácios de estrangeiros por 1 000 habitantes, ordenados por freguesias

Concelhos 1890 1900 1911 1920


V.R.S.A. 49,10 50,06 35,37 27,12
Sé (Faro) 8,86 13,24 7,81 9,25
Olhão 2,32 4,60 12,67 6,52
Vila Nova de Portimão 6,01 7,15 11,69 3,39
S.ª Maria do Castelo (Tavira) 6,19 8,98 5,38 7,36
São Sebastião (Lagos) 8,34 6,59 5,02 3,61
São Pedro (Faro) 4,46 5,84 4,68 8,03
Cacela (V.R.S.A.) 15,99 5,23 1,51 0,26
Ferragudo (Lagoa) 0,52 4,30 2,71 9,75
Santa Maria (Lagos) 8,10 2,79 1,47 2,82

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa Na-
cional, 1896; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1905; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa Nacional,
1913; Censo da População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1923.

Nas dez freguesias que apresentam os maiores rácios de estrangeiros por 1 000 habi-
tantes, encontram-se, de novo, três concelhos duplamente representados: V.R.S.A. (V.R.S.A. e
Cacela), Faro (Sé e São Pedro) e Lagos (São Sebastião e Santa Maria). Analisando o quadro
verifica-se que as duas freguesias do concelho de Loulé deixam de figurar, uma vez que, sendo
este, sucessivamente, o concelho mais populoso do Algarve, o número de estrangeiros ali resi-
dentes facilmente se dilui neste determinado rácio. Registe-se, igualmente, que a maioria das
freguesias regista os máximos históricos nos censos mais antigos: Cacela, São Sebastião e Santa
Maria (Lagos), em 1890; e V.R.S.A., Sé (Faro) e Santa Maria do Castelo (Tavira), em 1900.

50
1.4. As relações comerciais entre o Algarve e a Andaluzia desde Época Moderna

Sabe-se que, antes da Época Moderna, o Algarve poucas ou nenhumas relações manteve com o
Condado Portucalense, de que distava muitos dias de viagem. Viagens sempre perigosas, fos-
sem por terra ou pelo mar. Assim, é sem surpresa que as principais relações comercias se desen-
volvessem com a Andaluzia – principalmente com a parte mais ocidental da Andaluzia – e com
o Norte de África, relações facilitadas não só por motivos culturais, mas, principalmente, pela
facilidade de ligações entre um território vasto e unido pelo Guadiana. Porque o Algarve e a
Andaluzia constituem um território contínuo, sem sistemas montanhosos, densamente povoado
e urbanizado e ligado pelo Guadiana80.

Durante praticamente todo o século XVI a Andaluzia assiste a um crescimento desme-


surado da sua população81. A região agiganta-se, a economia refloresce e a população aumenta,
procurando por todo o lado com que se alimentar. E o Algarve Oriental, nomeadamente Tavira,
Arenilha, Castro Marim e Alcoutim, participarão nesse trato diário de alimentos, especialmente
de pescado82.

Vitorino Magalhães Godinho explica:

Devido às chegadas de metal argênteo a Espanha, os preços sobem aí mais depressa do que nas ou-
tras regiões e países e o seu nível é mais alto do que em Portugal; esta diferença vai funcionar como
bomba a aspirar géneros e produtos portugueses, nomeadamente no Algarve, por causa da proximi-
dade da Andaluzia, principal foco da alta [...]83.

Por outro lado, e seguindo igualmente Vitorino Magalhães Godinho, este dá conta de
que, já em 1577, frei João de São José

constatava o declínio demográfico de uma cidade como Tavira: numerosos mercadores e outros ricos
algarvios transferiram a sua residência para Sevilha e outros portos andaluzes, atraídos pelos ganhos

80. Cf. GUERREIRO, Manuel Gomes, «O Algarve Mediterrâneo no contexto nacional», in O Algarve na prespec-
tiva da Antropologia Ecológica, s./l., Instituto Nacional de Investigação Científica, 1989, p. 372.

81. Cf. CUENCA TORIBIO, José Manuel, op. cit., pp. 467-473.

82. Cf. IRIA, Alberto, «As pescarias no Algarve (Subsídios para a sua história)», in Conservas de Peixe, Lisboa,
n.º 216, pp. 149-152.

83. Cf. Vitorino Magalhães GODINHO, Os Descobrimentos e a Economia Mundial, vol. I, Lisboa, Arcádia, 1963,
p. 414.

51
no comércio com a América Castelhana; ora para nele participar impunha-se a residência em terras
castelhanas, de modo a poder fintar as ordenações que proibiam a participação estrangeira84.

Sabe-se, igualmente, que ao longo do século XVI o Algarve exportava navios produzidos
na região para os presídios de Marrocos, para a carreira da Índia e sobretudo para a Andaluzia85.

Em meados do século XVIII, quando se redigiu o interrogatório da Unica Contribucion


(1751), referia-se que Villanueva de los Castillejos (província de Huelva) recebia muita cera
proveniente de Portugal86. E existem fontes que relatam que a «principal entrada es el tráfico de
harriería87, especialmente a Portugal, trayendo pieles y cera para labrarla y conducir a venderla
a otras partes»88.

Ainda durante o século XVIII o bacharel José Viegas de Andrade escrevia, em Abril
de 1774, um suplemento ao seu Memorial Económico do Reino do Algarve (documento que,
em Dezembro de 1770, produzira e entregara ao Marquês do Pombal, e de que não se conhe-
ce vestígio senão este suplemento). O Memorial Económico e o seu Suplemento traçavam «o
diagnóstico dos males de que o Algarve sofria e dos remédios a aplicar»89. Assim sendo, no
Suplemento que fez o Bacharel Jozé Viegas de Andrade Auditor do Regimento de Infantaria
de Lagos, ao Memoreal Económico, e Político sobre a Agricultura, Comércio, e Pescarias do
Reino do Algarve, datado de Abril de 1774, podia-se ler a seguinte inscrição:

Dos castelhanos que ao Algarve vão traficar, e se estabelecem, ou demorão nos lugares, e maes
povoaçoens

Os castelhanos de Vilha Blanca, Castelhejo, Almendro, Paymogo, e de outros lugares dos condados
de Ayamonte, e Niebla, vem ao Reino do Algarve vender por miudo fazendas, vidros, especiarias

84. Cf. GODINHO, Vitorino Magalhães, «Uma constante estrutural da História Portuguesa. A Emigração – sé-
culos XV a XX», in Ensaios e Estudos. Uma maneira de pensar, vol. I, 2.ª edição, Lisboa, Sá da Costa Editora,
2009, p. 185.

85. Cf. MAGALHÃES, Joaquim Romero, Para o Estudo do Algarve Económico durante o Séc. XVI, op. cit., p. 191.

86. Cf. BENDALA GALAN, Antonio de Manuel, in «El Almendro», Consejería de Cultura y Medio Ambiente,
Delegación Provincial Junta da Andalucía, 1992, p. 32.

87. Harriería é o termo utilizado para descrever a actividade desenvolvida pelos almocreves.

88. Cf. Archivo del Arzibispado de Sevilla, Libro de Visitas del Arzibispado, tomo 68.

89. Cf. Joaquim Romero MAGALHÃES, «Uma proposta das Luzes para a economia do Algarve», in O Algarve na
Época Moderna. Miunças 2, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra e Universidade do Algarve, 2012, p. 307.

52
etc.ª contra as leis da Pragmatica o cap. 18, e de 19 de Novembro de 1757; traficão em azeites, e mel,
que da mesma sorte vendem por miudo pelas povoaçoens, sendo fructos do Algarve. Eles são ahi os
que fazem a sera, e muitas vezes levão para Hespanha com peles [41v] cabruas em verde apesar da
prohibição; porque eles, sendo muito praticos nas varedas, e caminhos pouco frequentados, passão
o Guadiana entre Mertola, e Castromarim na extensão de onze legoas. Estes castelhanos se demo-
rão nas povoaçoens do Algarve, e no fim do ano, ou no tempo, que lhes he conveniente, vão ás suas
cazas, e em Hespanha se demorão somente a fazer as vendas do que levão, e a proverem-se dos ge-
neros, em que traficão com bastante variedade, e lanção mão a toda a sorte de pequenos enteresses,
que podem advertir. Os andaluzes são os maes habeis, e animozos contrabandistas90.

Nos finais do século XVIII, numa memória da autoria de Constantino Botelho de


Lacerda Lobo, ficava-se a saber que a praia de Monte Gordo (concelho de V.R.S.A.) mais se
assemelhava a uma «grande Cidade, formada de cabanas, dispostas em diferentes ruas, desde a
Foz do Guadiana até perto de Cacella», sendo que nela se «acomodavão cinco mil homens, que
pela maior parte erão Portuguezes, e Hespanhoes, e também alguns Francezes, e Inglezes»91, a
maior parte deles marítimos de ocupação.

Medida de grande relevo político e impacto económico e comercial foi a promulgação


do Decreto Régio n.º 24, de 6 de Novembro de 1830, que veio liberalizar o sector das pescas,
acabando com o direito senhorial da Coroa sobre a pesca do atum92. A entrada em vigor des-
ta nova reforma veio fomentar a constituição de novas companhias pesqueiras, e, consequen-
temente, aumentar as quantidades de pescado capturado. O que provocou um incremento no

90. Cf. FIDALGO, Andreia, «O Suplemento ao Memorial Económico, e Político sobre a Agricultura, Comércio e
Pescarias do Reino do Algarve, de autoria do Bacharel José Viegas de Andrade», in Anais do Município de Faro,
dirigidos por Joaquim Romero Magalhães, Faro, Câmara Municipal de Faro, vol. XL, 2018, p. 160.

91. Cf. Costantino Botelho de Lacerda LOBO, «Sobre o estado das Pescarias da Costa do Algarve no anno de
1790», in Memorias Economicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa, para Adiantamento da Agricultura,
das Artes, e da Industria em Portugal, e Suas Conquistas, Lisboa, Academia Real das Sciencias de Lisboa, tomo
V, 1815, p. 130.

92. O Decreto Régio n.º 24, de 6 de Novembro de 1830, estipulava, entre várias medidas, as seguintes: abolição
do direito senhorial da Coroa sobre a pesca do atum; proibição do recrutamento forçado de pescadores e de ou-
tro pessoal auxiliar para as armações; os salários deviam ser ajustados entre as partes envolvidas; liberdade total
para a consolidação das Companhias já existentes, embora em novos moldes; fomentação de novas Companhias
pesqueiras de atum, in COSTA, Fausto, A pesca do atum nas armações da costa algarvia, Colecção Documentos,
n.º 7, 2.ª edição, editorial Bizâncio, Lisboa, 2003 [2000], p. 67.

53
comércio de atum com os catalães, que continuavam a ser os principais importadores do atum
pescado na costa portuguesa93.

Neste capítulo demonstrou-se que as regiões vizinhas do Algarve e da Andaluzia, do


ponto de vista geológico e morfológico, não se distinguem entre si: se as suas serras pertencem
ao Maciço Ibérico, os seus litorais não se diferenciam da depressão Bética.

Por outro lado, dentro da Andaluzia Ocidental, caracterizou-se uma das comarcas que
fazem parte da província do Huelva – a comarca do Andévalo –, justamente por nela se situarem
os municípios maiores emissores de andaluzes para o Algarve: Villanueva de los Castillejos e El
Almendro, dois dos dezasseis municípios que compõem a comarca. Concluiu-se ser o Andévalo
caracterizado por solos pobres – terras de xisto –, o que fez orientar as suas populações para a
actividade ganadeira, fomentando a criação de animais em detrimento da aposta na agricultura.

Analisou-se, igualmente, a evolução demográfica ocorrida no Algarve, entre 1864 e


1920, período no qual a população total da região cresceu cerca de 54%. Ou cerca de 46% en-
tre 1864 e 1900. No entanto, durante o último terço do século XIX, concelhos houve que cres-
ceram a um ritmo mais elevado do que a região, com destaque para os concelhos de V.R.S.A.
(89,12%), Olhão (81,67%) e Loulé (70,95%). Sendo que, durante o período estudado, o con-
celho de Loulé foi sempre o mais populoso da província. Crescimentos concelhios e das suas
respectivas sedes de concelho provocados por surtos industriais bem localizados: pescas e con-
servas, em V.R.S.A., Vila Nova de Portimão e Olhão; cortiça, em Silves; e tecelagem em Faro.
A industrialização de alguns concelhos dava, pois, os primeiros passos.

Por outro lado, em relação aos estrangeiros residentes, demonstrou-se ser o concelho
de V.R.S.A. aquele que mais estrangeiros registava. Proximidade com a fronteira que a isso,
decerto, ajudava. V.R.S.A. destacava-se em tudo dos restantes: maior número de estrangeiros
residentes, maior número de espanhóis residentes e maior taxa de estrangeiros e de espanhóis
residentes por 1 000 habitantes. Demonstrou-se, igualmente, que para os concelhos de Loulé e
de V.R.S.A. a percentagem de espanhóis sobre o total de estrangeiros residentes andou quase
sempre pelos 95% ou mais, muito superior à média nacional que, em igual período de tempo,
variou entre os cerca de 50% (em 1911) e os cerca de 66% (em 1890).

93. Cf. COSTA, Fausto, A pesca do atum nas armações da costa algarvia, Colecção Documentos, n.º 7, 2.ª edi-
ção, editorial Bizâncio, Lisboa, 2003 [2000], p. 67.

54
2. A EMIGRAÇÃO ESPANHOLA ENTRE 1880 E 1920

2.1. Os principais países de destino da emigração espanhola

O historiador Ricardo Robledo dá conta dos principais países de destino dos emigrantes es-
panhóis, para o período compreendido entre 1882 e 1920, apresentando as estatísticas oficiais
quer quanto ao número de saídas por mar, quer ao nível do número de espanhóis recenseados
nos países de destino. Vejamos os seguintes quadros:

Quadro n.º 2.01: Principais países de destino da emigração privada espanhola (saídas por mar)
em valores absolutos
Outros
Período Argélia Cuba Argentina Brasil Total
países
1882-1886 84 691 69 364 27 534 4 663 56 055
242 277
1887-1890 74 608 76 548 103 976 15 877 48 710 319 719
1891-1895 86 449 114 027 30 014 39 682 58 340 328 512
1896-1900 79 514 57 192 58 715 29 704 45 230 270 355
1901-1905 99 080 94 443 97 660 29 049 57 261 377 493
1906-1910 105 073 116 479 373 186 55 296 98 166 748 200
1911-1915 113 455 135 759 403 164 31 516 193 651 877 545
1916-1920 22 133 237 724 110 291 10 369 116 950 497 467
Total 665 003 901 536 1 204 540 216 126 674 363 3 661 568

Fontes: Estadística(s) de emigración e inmigración, 1882-1890; 1891-1895; 1896-1900; 1909-1911; 1911-1915.


Annuario Estadístico, 1920 e publicado no seguinte estudo: ROBLEDO, Ricardo, «Crisis agraria y éxodo rural:
emigración española a Ultramar (1880-1920)», in La crisis agraria de fines del siglo XIX, Barcelona,editorial
Critica, 1988, p. 219.

Ora, convertendo-se os valores absolutos da emigração privada espanhola (quadro


n.º 2.01), em percentagens relativas sobre o total dessa emigração, obtêm-se o seguinte quadro:

55
Quadro n.º 2.02: Principais países de destino da emigração privada espanhola (saídas por
mar), entre 1882 e 1920 (em %)

Período Argélia Cuba Argentina Brasil Outros países


1882-1886 34,9 28,6 11,4 1,9 23,2
1887-1890 23,3 23,9 32,5 5 15,3
1891-1895 26,3 34,7 9,1 12,1 17,8
1896-1900 29,4 21,2 21,7 11 16,7
1901-1905 26,2 25 25,9 7,7 15,2
1906-1910 14 15,6 49,9 7,4 13,1
1911-1915 12,9 15,5 45,9 3,6 22,1
1916-1920 4,5 47,8 22,2 2,1 23,4
Total 22,3 30,2 40,3 7,2

Fontes: Estadística(s) de emigración e inmigración, 1882-1890; 1891-1895; 1896-1900; 1909-1911; 1911-1915.


Annuario Estadístico, 1920 e publicado em: ROBLEDO, Ricardo, «Crisis agraria y éxodo rural: emigración españo-
la a Ultramar (1880-1920)», in La crisis agraria de fines del siglo XIX, Barcelona, editorial Critica, 1988, p. 219.

Já na etapa estatística do século XIX, a primeira grande vaga emigratória ocorre nos anos
finais da década de 1880, sendo que o máximo da emigração se verifica em 1889. Pelo contrá-
rio, na segunda metade da década de 1890, a tendência é de descida, ainda que com pequenas
flutuações. O quadro acima enunciado mostra que, praticamente até ao início do século XX, a
Argélia assumia-se como o principal país de destino dos emigrantes espanhóis. Porém, a partir
de 1906, essa primazia volta-se para os países americanos, nomeadamente para a Argentina e
Cuba, que, sozinhos, recebem cerca de 58% do total da emigração espanhola entre 1882 e 1920.

No entanto, logo no princípio do século, a emigração espanhola volta a crescer, alcan-


çando um novo máximo histórico em 1912. Máximo que foi na realidade um momento de apo-
geu emigratório, tendo em conta que este novo fluxo emigratório estará, decerto, subavaliado
em virtude da entrada em vigor da nova Lei da Emigração de 1907, que veio legislar no senti-
do do controlo de saída do número de emigrantes, nomeadamente tentando evitar saídas clan-
destinas, assim como abusos praticados por algumas agências recrutadoras. Um dos objectivos
principais dessa Lei tratava-se de estancar a crescente fuga de mão-de-obra para o estrangeiro,
principalmente aqueles que emigravam de forma clandestina para os chamados países do conti-
nente americano. Nesse sentido, e por forma a contornar a nova Lei, as agências de recrutamento

56
começaram a desviar, com maior frequência, os seus embarques para o porto marítimo de
Gibraltar, protectorado inglês, para, por essa forma, não estarem abrangidas por essa Lei1.

Entre 1880 e 1914 Espanha viu emigrar cerca de 3 milhões dos seus filhos. Na hora de
emigrarem os espanhóis escolhiam maioritariamente os países da América Latina, dada a maior
proximidade ao nível da cultura, da língua e, ainda, pelo facto de alguns deles terem sido an-
tigas colónias espanholas2. Em 1914 os emigrantes espanhóis constituíam a maior comunida-
de de emigrantes em Cuba, a segunda maior na Argentina e no Uruguai e a terceira maior no
Brasil3. Argentina, Uruguai, Cuba e Brasil na América Latina, juntamente com a Argélia, e, a
partir de 1914, para França, agruparam mais de 90% da corrente emigratória espanhola entre
1880 e 1930. A existência de contactos frequentes desde a época colonial e o facto de, à excep-
ção do Brasil, todos esses países terem sido colónias espanholas durante praticamente todo o
século XIX, como Cuba, determinaram a preferência de emigrar para o continente americano4.

Entre os destinos americanos, a Argentina foi aquele que atraiu o maior número de emi-
grantes, em virtude das passagens subsidiadas, pelo governo do país, entre a Primavera e o
Outono de 18895. A vaga emigratória foi extraordinária porque foi fornecida por um financia-
mento governamental a uma emigração já de si latente.

O factor que exerce maior influência sobre as flutuações da curva migratória resulta
ser a actividade económica do Novo Mundo. Tomando como exemplo o caso da Argentina
verifica-se que foi o sector da construção civil, muito dinâmico e com uma forte procura de

1. Cf. CONTRERAS-PÉREZ, Francisco, Tierra de Ausencias. La moderna configuración migratoria de


Andalucía (1880-1930), Sevilla, Universidad de Sevilla – Secretariado de Publicaciones, 2000, p. 90 e, igualmen-
te, CONTRERAS PÉREZ, Francisco, «La difusión de la idea de migrar. Andalucía y América en el tránsito del
siglo XIX al XX», in Anuario de Estudios Americanos, tomo LVII, 1, 2000, p. 527.

2. Cf. SÁNCHEZ ALONSO, Blanca, «Those Who Left and Those Who Stayed behind: Explaining Emigration
from the Regions of Spain, 1880-1914», in The Journal of Economic History, vol. 60, n.º 3, Sep. 2000, p. 732.

3. Cf. ibidem, p. 730.

4. Cf. ALONSO, Blanca Sánchez, Las causas de la emigración española, 1880-1930, Madrid, Alianza Editora,
1995, p. 273.

5. Cf. CONTRERAS PÉREZ, Francisco, Tierra de ausencias: la moderna configuración migratoria de Andalucía
(1880-1930), op. cit., p. 205.

57
mão-de-obra não especializada, o factor que se revelou como a variável de atracção mais pode-
rosa na hora de emigrar6.

Mateo Avilés chegou mesmo a estimar que o «êxodo andaluz resulta, em volume global
– isto é, em total acumulado –, significativo e importante em torno de 15% da aportação espa-
nhola a esse grandioso movimento de população transatlântico»7.

Quadro n.º 2.03: Número total de espanhóis recenseados em alguns países, entre 1880-1881 e
1920-1921
Tx. de crescimento % de espanhóis no
País 1880-1881 1920-1921 intercensitária total de estrangeiros
(em %) recenseados por país
França 73 781 254 980 249,59 16,6
Argélia 114 320 144 328 26,25 19,2
Argentina 73 976 829 701 1 021,58 35,2
Cuba 45 814 245 644 436,18 72,5
Brasil 10 302 219 142 2 027,18 14,0
Uruguai 39 780 54 885 37,97 30,3
México 6 552 26 675 307,13 13,2
Chile 1 223 25 962 2 022,81 21,6
E.U.A. 2 038 49 535 2 330,57 0,4
Venezuela 11 614 5 796 -50,09 8,0
Total 379 400 1 856 648 389,36

Fontes: Estadística de la Emigración e Inmigración de España en los años 1882-1890, Madrid, 1891, p. 57 e Étude
comparative des recensements 1910-1920-1930, Ginebra, 1936.

Ao nível dos espanhóis recenseados neste conjunto de dez países verifica-se que o nú-
mero total passou de cerca de 380 000 (em 1880-1881) para cerca de 1 860 000 (em 1920-
-1921), isto é, mais do que quadruplicou neste espaço temporal.

6. Cf. ALONSO, Blanca Sánchez, Las causas de la emigración española, 1880-1930, op. cit., p. 201.

7. Cf. MATEO AVILÉS, E. de, La emigración andaluza a América (1850-1936), Málaga, Arguval, 1993, pp.
113-127, apud CONTRERAS-PÉREZ, Francisco, Tierra de Ausencias. La moderna configuración migratoria de
Andalucía (1880-1930), op. cit., p. 89.

58
Se em 1880-1881 era a Argélia que congregava o maior número de espanhóis recensea-
dos fora do país, em 1920-1921 era a Argentina que ocupava essa posição. Aliás, entre os dois
recenseamentos, a Argentina viu o número de espanhóis recenseados multiplicar-se por mais
de dez vezes, chegando, em 1920-1921, a estarem recenseados quase 830 000 espanhóis nesse
país. Os crescimentos exponenciais de recenseados entre os dois censos, quer na Argentina quer
no Brasil, muito se ficaram a dever às viagens subsidiadas que ocorreram no final do século
XIX. Em 1889 pelo governo argentino por forma a colmatar a falta de mão-de-obra no sector
da construção civil; e na década de 1890 pelo governo do Brasil cafeeiro, com particular inci-
dência do estado de São Paulo, no sentido de alimentar a mão-de-obra no sector produtivo do
café, que, após o decreto que veio abolir a escravatura (Lei Áurea de 13 de Maio de 1888), ia,
paulatinamente, perdendo a sua força de trabalho escrava.

Por seu lado, países com os E.U.A. e o Chile viram, entre os dois recenseamentos, o nú-
mero de espanhóis recenseados multiplicar-se mais do que vinte vezes, apresentando as maiores
taxas de crescimento inter-recenseamentos dos dez países em análise. Tal situação é facilmente
explicável se tivermos em conta que os três países apresentavam números praticamente resi-
duais aquando do primeiro recenseamento.

Entre as comunidades de estrangeiros recenseados em cada um dos dez países em aná-


lise, os espanhóis figuravam como a maior comunidade em Cuba, no México e no Chile; a se-
gunda maior na Argélia, na Argentina, no Uruguai e na Venezuela; e a terceira maior em França
e no Brasil8.

Por outro lado, na distribuição por sexos e por idades, a emigração espanhola participa
das características básicas, e essencialmente selectivas, de toda a corrente emigratória: uma for-
te presença masculina e elevada concentração nos grupos de idade mais produtivos9. A maioria
destes emigrantes eram agricultores e jornaleiros; porém, com os dados de chegada de alguns
países receptores, conseguiu constatar-se a presença de um significativo grupo de emigrantes
com profissões distintas, como, por exemplo, comerciante10.

8. Cf. ROBLEDO, Ricardo, «Crisis agraria y éxodo rural: emigración española a Ultramar (1880-1920)», in La
crisis agraria de fines del siglo XIX, Barcelona, Editorial Critica, 1988, p. 216.

9. Cf. ibidem, p. 273.

10. Cf. ibidem, p. 273.

59
Espanha, Portugal e Itália

Uma outra característica muito significativa no processo da emigração espanhola, quando com-
parada com a que teve origem em países como Itália ou Portugal, é a sua marcada concentração
cronológica nas primeiras décadas do século XX, em particular entre 1904 e 1914. De facto, é
significativo constatar que não existiu em Espanha uma verdadeira preocupação pela emigra-
ção até às primeiras décadas do século XX, altura em que o fenómeno alcançou magnitudes que
chamaram a atenção da classe política. A Lei da Emigração de 1907 é tardia, quando compara-
da com outros países europeus e o seu carácter tutelar não faz sinal de reflectir a preocupação,
presente em toda a legislação do século XIX, em evitar as saídas clandestinas da população11.

As flutuações da emigração espanhola apresentam grandes similitudes com o que suce-


deu em países como a Itália e Portugal, no período entre 1880 e 1930, excepto durante a década
de 1890, quando Itália e Portugal apresentam máximos que estão ausentes para o caso espanhol.
De facto, a taxa de emigração bruta espanhola é a mais baixa dos três países em questão entre
1891 e 1903, enquanto os níveis não são tão distantes a partir de 1904-1905, quando, por outra
parte, a corrente de emigração espanhola apresenta uma aceleração mais acentuada12.

Diferenças migratórias entre províncias da Andaluzia

Uma das características mais específicas da emigração espanhola é a sua variação provincial.
À imagem do que se sucedia em outros países meridionais, como, por exemplo, Portugal e
Itália, em que as taxas de emigração variavam muito de província para província. A historiadora
Blanca Sánchez Alonso refere que, em 1911-1913, das vinte e cinco províncias espanholas com
maior taxa de emigração, dezassete eram do Norte, cinco do Este e do Sudeste e apenas quatro
se localizavam no Sul (incluindo as Canárias)13. Outra das características apontadas pela histo-
riadora é o facto de a migração interna espanhola, isto é, entre províncias, nunca ter atingido va-
lores elevados, sendo que, em 1887, apenas 8% da população espanhola residia fora da provín-
cia em que tinha nascido, tendo essa percentagem aumentado para 9% em 191014. Percentagem

11. Cf. ibidem, p. 273.

12. Cf. ibidem, p. 274.

13. Cf. ALONSO, Blanca Sánchez, art. cit., pp. 739-740.

14. Cf. ibidem, p. 742.

60
que cresceria com o passar dos anos, quer em Espanha quer em Portugal, passando para os 14%
no período compreendido entre 1890 e 193015. Vejamos, então, algumas das principais diferen-
ças migratórias de província para província.

Almería registou, inicialmente, uma forte corrente emigratória para a Argélia. Porém,
com o aproximar do final do século XIX, essa corrente estava condenada a desaparecer, por for-
ça das alterações que se verificavam nas novas correntes emigratórias que rumavam à América.
Entre os chamados destinos americanos, a Argentina foi aquele que atraiu o maior número de
andaluzes em virtude das passagens subsidiadas, pelo governo do país, entre a Primavera e o
Outono de 188916.

A província de Cádiz também apresentou altos níveis emigratórios: ainda assim, não tão
elevados como os de Almería. A corrente colonial tem especial importância nesta província, em
primeiro lugar rumo a Cuba – com um importante contingente militar – e, no século XX, até
Marrocos, uma vez ali estabelecido, pela assinatura do Tratado de Fez (1912), o protectorado
dual17 e abertas as possibilidades económicas através dos investimentos franceses. Marrocos
parece não ter competido com a Argentina como destino, porquanto ambas as correntes migra-
tórias atraíam, em grande parte, grupos profissionais distintos e bem identificados: mão-de-obra
agrícola para a Argentina e comerciantes para Marrocos. Outra particularidade da emigração
gaditana é o escasso peso evidenciado pela emigração rumo ao Brasil, situação facilmente ex-
plicável se tivermos em conta que a esmagadora maioria da corrente brasileira embarcava pelo

15. Em Portugal o número de pessoas registadas em cada freguesia como tendo nascido fora do concelho a que
esta pertencia variou entre cerca de 512 000 em 1890 e 844 000 em 1930. Em média, estes valores representavam
cerca de 14% do total da população, número pouco elevado tendo em conta o padrão de alguns países europeus,
embora fique em linha com o que se passava em Espanha, in SILVEIRA, Luís Espinha da Silveira, ALVES, Daniel,
LIMA, Nuno Miguel, ALCÂNTARA, Ana, PUIG-FARRÉ, Josep, «Caminhos de ferro, população e desigualdades
territoriais em Portugal, 1801-1930», art. cit., p. 29.

16. Cf. CONTRERAS-PÉREZ, Francisco, Tierra de Ausencias. La moderna configuración migratoria de


Andalucía (1880-1930), op. cit., p. 205.

17. O Tratado de Fez (Marrocos) é celebrado no dia 30 de Março de 1912. Este tratado estipulava que o território
central e sul de Marrocos se transformava no chamado Protectorado Francês de Marrocos. Tal situação permitiria
aos franceses, daí em diante, a construção de novas cidades, feitorias comerciais e portos marítimos.

61
porto marítimo de Gibraltar, porto de embarque de especial importância na emigração rumo ao
estado brasileiro de São Paulo18.

Em Málaga, que apresenta níveis emigratórios intermédios, é de destacar a considerável


dependência das políticas de importação de mão-de-obra dos governos americanos (Argentina,
Brasil e Cuba). É muito provável que o carácter pouco selectivo dos emigrantes que caracteri-
zavam estes recrutamentos reduzisse as posteriores opções da sua inserção sócio-profissional.
Deste modo, podemos encontrar uma explicação para o facto de o grande fluxo emigratório re-
gistado em 1889 não ter sido seguido de um apreciável apoio do fluxo, que, pelo contrário, se
reduziu a níveis inferiores aos anos precedentes19.

Granada revela níveis emigratórios inferiores quando comparados com os níveis das res-
tantes províncias andaluzas. Sendo uma província inter-fronteiriça entre Almería e Málaga, há a
destacar, para o último quartel do século XIX, as correntes rumo à Argélia e ao Brasil. Porém,
e não dispondo esta província de um porto de embarque incluído nas rotas internacionais de
transporte de passageiros, estima-se que a sua emigração tenha permanecido sempre escassa20.

Em Huelva observam-se, igualmente, níveis emigratórios inferiores. Acrescenta-se,


aqui, um dado novo que dificulta a análise quantitativa, isto é, o facto de a maior parte dos na-
turais dessa província, aquando da emigração com destino à América, escolherem maioritaria-
mente o porto de Gibraltar para embarcar, e, por essa razão, não figurarem nas estatísticas (ofi-
ciais) da emigração espanhola21.

2.2. Causas da emigração espanhola

A historiadora Blanca Sánchez Alonso informa que a emigração espanhola, entre 1880 e 1930,
nunca alcançou as proporções de outros países europeus; tendo, ainda, a particularidade de
ter sido um fenómeno muito localizado regionalmente. Em segundo lugar, o fenómeno da

18. Cf. CONTRERAS-PÉREZ, Francisco, Tierra de Ausencias. La moderna configuración migratoria de


Andalucía (1880-1930), op. cit., p. 207.

19. Cf. ibidem.

20. Cf. ibidem.

21. Cf. ibidem, p. 208.

62
emigração «massiva» espanhola coincidiu cronologicamente com os grandes temas de debate
espanhóis do fim do século XIX e muito especialmente pós-98: caciquismo, reconstrução na-
cional, educação, reforma política, questão agrária, etc22.

A historiadora acrescenta que este segundo elemento,

en especial la conciencia de decadencia tras la pérdida de las colonias, explicaría quizá la continui-
dad de ideas en torno a la emigración y, en concreto, la consideración esencialmente negativa del fe-
nómeno. La emigración es un signo más de la decadencia del país, y revela la anemia de un pueblo,
incapaz de retener y ofrecer medios de subsistencia a sus habitantes, igual que había sido incapaz de
conservar sus colonias23.

Porém, a emigração ocorria. E as causas que estavam por detrás dela eram numerosas e
diversas. O historiador Ricardo Robledo sintetizou algumas das principais causas migratórias
por província24. Vejamos o quadro seguinte.

Quadro n.º 2.04: Principais causas migratórias por províncias

Principais causas migratórias Províncias


Decadência ou esgotamento mineiro Almería, Jaén, Murcia e Huelva
Paralisação das ferrarias Guipúzcoa e Vizcaya (País Basco)
Diminuição das quantidades de esparto Almería, Murcia e Albacete
Decadência industrial da panificação Logronho (La Rioja) e Palencia (Castela e Leão)
Decadência industrial da farinha Santander e Palencia
Dificuldades de exportação de bens Orense, Extremadura (gado), Castellón (laranja),
(Tratado de 1892, preço dos câmbios) Cádiz (vinhos), Tarragona (vinhos)
Ruína da produção vitícola Orense (Galiza)
Depreciação suína Canárias
Crise comercial e agrícola provocada pelos
Málaga
agentes de emigração

Fonte: ROBLEDO, Ricardo, «La crisis agraria y éxodo rural: emigración española a Ultramar (1880-1920)», in La
crisis agraria del finís del siglo XIX, Barcelona, Editorial Critica, 1988, p. 227.

22. Cf. Blanca Sánchez ALONSO, Las causas de la emigración andaluza (1880-1930), op. cit., p. 92.

23. Cf. ibidem, pp. 92-93.

24. Cf. ROBLEDO, Ricardo, «La crisis agraria y éxodo rural: emigración española a Ultramar (1880-1920)», in
La crisis agraria del finís del siglo XIX, art. cit., pp. 212-244.

63
Deste modo, e tendo somente em conta as províncias andaluzas, Robledo indica as se-
guintes causas migratórias por províncias: decadência ou esgotamento mineiro (Almería, Jaén
e Huelva); diminuição das quantidades de esparto (Almería); dificuldades de exportação de vi-
nhos produzidos / Tratado de 1892, preço dos câmbios (Cádiz).

O atraso agrícola, mais propriamente a crise agrícola de finais do século XIX, é assina-
lado como um dos grandes factores para o êxodo rural verificado em Espanha. O atraso agrário
e a deterioração das condições de vida campesina, juntamente com a falta de alternativas no
sector urbano e industrial, impulsionaram, sem dúvida, a emigração para o exterior, num mo-
mento histórico favorável pelas possibilidades que ofereciam um determinado conjunto de paí-
ses receptores25.

Por outro lado, o sistema de propriedade é considerado como um dos factores explicati-
vos mais significativos do distinto comportamento emigratório. Os historiadores sustentam que
as áreas caracterizadas pelos pequenos proprietários camponeses resultam ser mais propensas à
emigração, nomeadamente por duas razões fundamentais:

a) Por um lado, perante o crescimento da população, produz-se um aumento da procura de


terra que leva à sua excessiva sub-divisão em parcelas dando lugar a explorações minús-
culas de escassa viabilidade económica;

b) Por outro, o pequeno proprietário agrícola conta com os recursos necessários para
afrontar os custos de emigração (passagem, custos de instalação no novo país e custos
relacionados com a procura do primeiro emprego), mediante o recurso à venda ou à hi-
poteca de parte, ou mesmo da totalidade, do seu património. Pelo contrário, nas áreas
caracterizadas pelo latifúndio, os camponeses são trabalhadores assalariados em gran-
des propriedades que dependem criticamente do nível salarial, por um lado, e não con-
tam com bens alienáveis, por outro. O custo da emigração, em termos monetários, é, em
teoria, mais elevado nestas zonas26.

Antonio M. Bernal foi quem, para o caso espanhol, mais claramente desenvolveu esta
relação positiva de causa-efeito entre o regime de (pequena) propriedade da terra e a emigra-
ção. Bernal assinalou que, durante a crise finissecular, as áreas de minifúndio e de pequena

25. Cf. ALONSO, Blanca Sánchez, Las causas de la emigración española, 1880-1930, op. cit., p. 217.

26. Cf. ibidem, p. 222.

64
propriedade foram aquelas que mais se viram impelidas à emigração; ainda que, em sentido
contrário, as zonas latifundiárias não só não se viram afectadas, como ainda se converteram em
zonas de atracção de mão-de-obra27. Deste modo, normalmente, a decisão de emigrar era toma-
da dentro das unidades familiares como parte de uma estratégia calculada de diversificação de
riscos, isto é, procurava-se trabalho em outros mercados através da emigração de um ou de vá-
rios dos seus membros mais qualificados e do envio de remessas monetárias28.

O atraso agrícola também serve de explicação para a emigração espanhola. Hoje em dia
sabe-se que a protecção à agricultura espanhola de finais do século XIX e começos do século
XX, em especial a derivada da depreciação da peseta em sua combinação com o proteccionismo
fiscal, é um factor de primeira ordem para a compreensão da trajectória da corrente emigratória
espanhola.

Curva que se caracteriza por apresentar um baixo perfil até ao virar do século para
depois apresentar uma brusca aceleração até ao início da 1.ª Guerra Mundial, resultante do
afrouxamento da protecção agrícola por razões monetárias29. O historiador Nicolás Sánchez-
Albornoz pergunta se a protecção tarifária não havia contribuído até então para reter/fixar as
pessoas no campo? Para, de seguida, responder:

La diferencia entre los salarios, más altos en la Argentina que en España, fue acaso un factor de
atracción de emigrantes al país sudamericano? La repuesta no parece ofrecer dudas, pero requie-
re una demonstración más detallada. Por lo que respecta al efecto opusto, la explusión de España,
acaso la protección arancelaria no había contribuido hasta entonces a retener la gente en el campo?
Por lógica, al revalorizarse la peseta a principios de siglo, el efecto protector que ejercía el arancel
fue corregido. Los precios de las subsistencias importadas y la rentabilidad del suelo bajaron y los
agricultores hubieron de abandonar la tierra. Lo tardío del arranque de la emigración española quizá
tenga, pues, una explicación, además, monetaria30.

27. Cf. ibidem, p. 222.

28. Cf. ibidem, p. 278.

29. Cf. ibidem, p. 201.

30. Cf. Nicolás SÁNCHEZ-ALBORNOZ, «Medio siglo de emigración masiva de España hacia Amércia»,
in Españoles hacia América. La emigración en masa, 1880-1930, compilación de Nicolás Sánchez-Albornoz,
Madrid, Alianza Editorial S.A., 1988, p. 25.

65
O atraso agrícola, o lento crescimento urbano e industrial com uma baixa procura de
mão-de-obra, os baixos salários praticados tanto no mundo rural como no espaço urbano, em
suma, a falta de oportunidades para a população em geral, são factores mencionados, na sua
acepção mais geral, como determinantes da emigração para as diversas províncias espanho-
las. Acerca do atraso agrícola pode afirmar-se também, como fazem Hatton e Williamson, que
quanto mais atrasado for o país, menor será a sua emigração, uma vez que, conforme se inicia a
industrialização ou a modernização económica, surge a emigração massiva31.

Outra das causas que estiveram na base da emigração espanhola foram os processos de
desamortização das terras de 1837 e de 1856, e, em especial, a privatização dos patrimónios
municipais comunitários. Exemplo disso são as pastagens comunitárias («propios»32), que vie-
ram originar um maior aprofundamento das diferenças económicas e sociais entre a população,
o que pode ter tido reflexo numa maior propensão para a emigração quando a situação nos paí-
ses receptores era mais favorável33. E foi, justamente, essa situação que se verificou com dois
dos municípios andaluzes maiores emissores de emigrantes para o Algarve: Villanueva de los
Castillejos34 e El Almendro; sendo que em El Almendro a desamortização dos «propios y co-
munales», e o consequente excesso de mão-de-obra, viria a ser absorvido pela exploração das
minas de manganeso que, entretanto, foram descobertas na região, evitando, desta forma, uma
depressão demográfica mais acentuada como a verificada em Villanueva de los Castillejos35.

Porque, conforme sintetizou Cuenca Toribio, o processo de desamortização, levado a


cabo pelo regime liberal, desamparou as classes menos acomodadas da sociedade andaluza;
favoreceu um crescimento geométrico das rendas das terras (agrícolas); permitiu a alienação
dos bens de natureza comunal («propios»), que constituíam, em grande parte, o complemento

31. Cf. HATTON, T. J., WILLIAMSON, J. G., «What Drove the Mass Migrations From Europe in the Late
Nineteenth Century?», in Harvard Institute of Economic Research, Discusion Paper, n.º 1614, Harvard University,
apud ALONSO, Blanca Sánchez, Las causas de la emigración española, 1880-1930, op. cit., p. 217.

32. Designação que se dava aos terrenos baldios comunitários, administrados por cada município, e normalmente
utilizados pelos habitantes para a criação da pecuária.

33. Cf. Blanca Sánchez ALONSO, Las causas de la emigración española, 1880-1930, op. cit., pp. 277-278.

34. Cf. NÚÑEZ MÁRQUEZ, Juan Manuel, «Villanueva de los Castillejos», in Los pueblos de Huelva, tomo IV,
Editora Mediterráneo, Madrid, 1997, p. 1264.

35. Cf. NÚÑEZ MÁRQUEZ, Juan Manuel, «El Almendro», in Los pueblos de Huelva, tomo I, Editora
Mediterráneo, Madrid, 1995, p. 59.

66
económico dos pequenos colonos e ainda de alguns jornaleiros; culminando, desta forma, na
transformação burguesa do antigo sistema de pastagens dos municípios mais agrícolas, à seme-
lhança do que aconteceu em Villanueva de los Castillejos36.

Ou, conforme defende Paul Preston, através do processo de desamortização a «Espanha


deixou de ser uma sociedade feudal em termos legais e económicos. No entanto, continuou a sê-
-lo em termos sociais e políticos», para, de seguida, explicar: uma vez que «as elites rurais tradi-
cionais conservaram o seu poder depois da restauração da monarquia em 1874 e da tentativa de
Antonio Cánovas del Castillo37 de criar um estado moderno com a sua constituição de 1876»38.

Em resumo, Blanca Sánchez Alonso dá conta de que as taxas migratórias variavam mui-
to de país para país, por um lado, e, para o caso espanhol, igualmente de província para provín-
cia. Deste modo, pode concluir-se que, à luz deste conjunto de hipóteses, as regiões e provín-
cias que aparecem como as mais migratórias deveriam responder, em princípio, a uma série de
características:

a) Um crescimento elevado da população nas décadas anteriores;

b) Uma agricultura atrasada incapaz de proporcionar emprego a essa população;

c) Predomínio de pequenos camponeses e arrendatários com problemas de dotação de ca-


pital, mas com possibilidades mínimas para afrontar os custos da emigração;

d) A dotação de terra por trabalhador, assim como o produto agrícola por trabalhador: as
províncias com uma maior dotação de terra por trabalhador mostram uma menor pro-
pensão a emigrar39.

e) Um sistema de herança desigual que impulsione a emigração dos mais desfavorecidos;

36. Cf. CUENCA TORIBIO, José Manuel, Historia general de Andalucía, Córdoba, Almuzara, 2005, p. 704.

37. Antonio Cánovas del Castillo (Málaga, 1828 – Guipúscoa, 1897) foi um destacado historiador, diplomata e
político espanhól. Foi fundador do Partido Liberal-Conservador. Entre diversos cargos políticos para os quais foi
eleito ou nomeado, ocupou por seis vezes o cargo de presidente do conselho de ministros do governo nacional de
Espanha (1874 – 1875, 1875 – 1879, 1879 – 1881, 1884 – 1885, 1890 – 1892 e 1895 – 1897). Em 1897 foi assas-
sinado por um anarquista italiano.

38. Cf. Paul PRESTON, Um Povo Traído: Corrupção, incompetência política e divisão social na Espanha mo-
derna, 1874-2018, Lisboa, Edições 70, 2020, p. 30.

39. Cf. ibidem, pp. 268-269.

67
f) A estrutura da propriedade agrícola, que apresentava duas grandes características: a pri-
meira era a predominância de propriedades muito grandes ou pequenas, com poucas
propriedades intermediárias grandes o suficiente para sustentar confortavelmente uma
família camponesa; a segunda, a concentração geográfica dessa mesma tipologia (mini-
fúndio, no Norte e em Castela Velha; latifúndio, no Sul e em La Mancha)40;

g) Taxas de alfabetização não demasiado baixas que permitam o acesso e a difusão rápida
de informação;

h) Baixos níveis salariais;

i) Escasso desenvolvimento urbano e industrial como alternativa à emigração exterior;

j) E, por último, uma emigração preexistente ou tradição migratória, que, através dos me-
canismos das cadeias migratórias ou do efeito família-amigos, impulse e facilite a deci-
são de emigrar41.

2.2.1. Causas da emigração andaluza

No seu precursor estudo «La emigración de la Andalucía»42 (1988), Antonio M. Bernal começa
por descrever a migração interna para a Andaluzia. Segundo o autor, pode adiantar-se que o flu-
xo migratório para a Andaluzia se veio a acelerar durante a primeira metade do século XIX, com
a chegada de contingentes de galegos, asturianos e santanderinos – os chamados «montañeses»
–, provenientes da cornija cantábrica. Estes «montañeses» vão-se assentando e radicando nos
principais centros urbanos da Andaluzia, e começam a trabalhar, normalmente, em escritórios
de vinhos (Cádiz, Jerez de la Frontera) e em casas comerciais. Porém, galegos, zamoranos, leo-
neses e portugueses (maioritariamente algarvios e alentejanos) moviam-se também, atraídos

40. Cf. SÁNCHEZ ALONSO, Blanca, art. cit., p. 742.

41. Cf. SÁNCHEZ ALONSO, Blanca, Las causas de la emigración española, 1880-1930, op. cit., pp. 230-231;
SÁNCHEZ ALONSO, Blanca, art. cit., pp. 738-742.

42. Cf. BERNAL, Antonio M., «La emigración de la Andalucía», in Españoles hacia América. La emigración en
masa, 1880-1930, compilación de Nicolás Sánchez-Albornoz, Madrid, Alianza Editorial S.A., 1988, pp. 143-165.

68
pelas ofertas sazonais de trabalho em época de colheitas – entre Abril e Agosto –, nomeadamen-
te nas ceifas agrícolas43.

O início da mecanização agrícola, a crise da filoxera, a estrutura da propriedade agrária


e o anarquismo dos jornaleiros

No último quartel do século XIX assiste-se a um processo de alteração profunda no sector da


agricultura nos principais países europeus. A mecanização, a utilização de novos químicos, o
aumento da produtividade agrícola, assim como uma drástica redução do número de campo-
neses agricultores, são aspectos que supõem uma penetração, em profundidade, do capitalis-
mo na agricultura44. Tal situação, ao mesmo tempo que veio maximizar a produção, originou
o desaparecimento de uma grande parte das pequenas explorações agrícolas e a consequente
redução da população activa empregada no sector. Este êxodo rural vem intensificar a corren-
te iniciada com a industrialização de princípios do século XIX de transferência populacional
do campo para a cidade. Mas também a transferência populacional do campo, via emigração,
rumo ao continente americano, por forma a contrariar a crescente falta de trabalho nas planta-
ções andaluzas45.

Outra importante causa da emigração andaluza foi a chamada «crise da filoxera», que, a
partir de 1878-1880, se instalou nos vinhedos andaluzes, tendo, anos antes, estado na origem de
inúmeros prejuízos na produção vitivinícola francesa. Esta praga, que devastava por completo
grandes superfícies de vinhas, veio desencadear uma crise no vinhedo andaluz, principalmente
nas pequenas propriedades localizadas nas províncias de Almería, Málaga, Granada e Cádiz,
arruinando uma considerável massa de camponeses, da qual uma parte optou por emigrar46. A
crise, que incidiu tanto na exportação de vinhos como na exportação de uvas, teve efeitos ca-
tastróficos no desaparecimento de inúmeros postos de trabalho, e levou a anos de dificuldades
generalizadas. Nesse sentido, as províncias orientais conheceram um incremento da emigração,

43. Cf. ibidem, p. 144.

44. Cf. ibidem, 146-147.

45. Cf. ibidem, p. 147.

46. Cf. ibidem, p. 151.

69
que, para 1889, se avalia em 27,15 por 1 000 habitantes para Almería e em 25,59 por 1 000 ha-
bitantes para Málaga, ainda que nesta data já se tivesse reduzido a emigração para a Argélia.

Esta praga, porém, não devastou a Andaluzia de forma idêntica quer no espaço quer no
tempo. Na parte Ocidental da região, nos vinhedos de Jerez, Córdoba (Montilla) e Huelva (zona
do Condado de Niebla), a filoxera estendeu-se até 1890, ainda que a decadência das exporta-
ções, no caso jerezano, tenha-se feito sentir desde anos anteriores47.

Em Almería, a província mais afectada pela chamada primeira vaga de grande emigra-
ção, à crise vitivinícola haveria que se acrescentar o esgotamento das reservas de chumbo na
«Sierra de Gádor»48; juntamente com o êxodo para as capitais andaluzas ocidentais (Huelva,
Sevilha e Cádiz) e ao prolongamento de uma emigração para a Catalunha, parte dos habitantes
se orientaram para a América49.

Deste modo, estima-se que entre 1901 e 1911 tenham emigrado cerca de 10% da popu-
lação total da Andaluzia, sendo que, desses emigrantes, cerca de 80% eram camponeses, obri-
gados ao êxodo rural por problemas resultantes da tipologia da propriedade e do regime de ex-
ploração da terra50.

A cada vez maior penetração do capitalismo na agricultura provocou aquilo a que


Antonio M. Bernal denominou de «descampesinação», processo realizado à custa dos peque-
nos proprietários que não possuíam os recursos necessários para afrontar a necessária moderni-
zação51. Assim, pouco a pouco, foram-se reduzindo as possibilidades de uma economia campe-
sina sustentada nas pequenas explorações, se bem que em certas regiões, como, por exemplo,
na Galiza e nas Canárias, a emigração para a América tenha permitido a sobrevivência de tais
explorações com base nas remessas enviadas pelos emigrantes52. Bernal informa que:

47. Cf. ibidem, p. 152.

48. A «Sierra do Gádor» é um maciço montanhoso situada no extremo Sudoeste da província de Almería, per-
tencente à cordilheira Penibética. Esta serra limita a Norte com a Serra Nevada, a Sul com o mar Mediterrâneo, a
Oeste com a Serra de Contraviesa e a Este com a Serra Alhamilla.

49. Cf. BERNAL, Antonio M., art. cit., p. 152.

50. Cf. ibidem, p. 156.

51. Cf. ibidem, pp. 156-157.

52. Cf. ibidem, p. 157.

70
La crisis afectó duramente a los pequeños propietarios y entre los embargos por impago a la
Hacienda Pública – más de 800 000 fincas rústicas –, la usura y el envilecimiento de los precios,
muchos optaron por realizar el pequeño peculio familiar y buscar nueva vida en horizontes nuevos
tras el Atlántico53.

Por outro lado, e como ficou demonstrado no sub-capítulo anterior, também para a
Andaluzia se verificou uma relação positiva entre a estrutura de propriedade agrária dominante
e a emigração. Emigrava-se mais onde a pequena propriedade era o característico, ainda que
as zonas de latifúndios se tenham convertido em áreas de atração populacional: dificilmente a
emigração para a América sairia dos latifúndios mas sim, pelo contrário, viria das comarcas
onde os pequenos proprietários teriam certa identidade54. De facto, e tendo presente as várias
estatísticas oficiais, conclui-se que as províncias andaluzas que apresentam taxas de emigração
exterior mais elevadas são aquelas onde predomina a pequena propriedade (Almería, Málaga
e Granada), e as que apresentam menores taxas de emigração exterior são as províncias lati-
fundiárias (Sevilha, Córdoba ou Jaén)55. Um século antes da tese defendida pelos historiadores
Antonio M. Bernal e E. de Mateo Avilés, que coincidem em afirmar que os processos de emi-
gração-imigração nas províncias andaluzas se encontram directamente correlacionados com as
estruturas de propriedade agrárias dominantes minifundista-latinfundista (emigra-se mais nas
províncias onde a pequena propriedade é mais característica), já o periódico El Defensor de
Granada (fundado em 1880) observava que o fenómeno crescente da emigração poderia estar
ligado à crise do minifúndio na província de Granada56.

Outra característica bem identificada por Bernal e Avilés é o facto de os andaluzes que
emigram para o exterior o fazerem mais a partir da parte Oriental do que da Ocidental e mais
das comarcas costeiras – com propriedade mais dividida – que do interior. Na hora de emigrar
percebe-se que era mais fácil fazê-lo desde as zonas mais próximas da costa; mas, também, se se
dispunha de certos recursos financeiros, pois as passagens eram, normalmente, dispendiosas57.

53. Cf. Antonio M. Bernal, art. cit., p. 157.

54. Cf. BERNAL, Antonio M., art. cit., p. 157.

55. Cf. ALONSO, Blanca Sánchez, Las causas de la emigración española, 1880-1930, op. cit., p. 223.

56. Cf. CONTRERAS-PÉREZ, Francisco, op. cit., p. 203.

57. A este respeito informa Antonio M. Bernal: «[…] los pasajes eran caros: 600 a 800 pesetas, desde Málaga
o Cádiz, a principios de siglo en vapores franceses o italianos, lo que suponía los ingresos totales de un brace-
ro durante doscientos ochenta y seis días, es decir, algo más de lo que pudiese ganar en año y medio de trabajo,

71
Outra causa emigratória apontada foi o crescimento da ideologia do anarquismo que se
verificou junto dos jornaleiros agrícolas que trabalhavam em algumas produções da Andaluzia:
a chamada «luta de classes». Estas novas ideologias foram trazidas e introduzidas na Andaluzia
por trabalhadores forasteiros, que, a partir da década de 1870, com o início da exploração mi-
neira em municípios andevaleños como Puebla de Guzmán (minas de Las Herrerías), Alosno
(minas de Tharsis), Calañas (minas de La Zarza, El Perrunal e Sotiel), entre outros, vieram para
a região trabalhar na indústria mineira, sob o patrocínio de companhias industriais francesas,
inglesas e belgas58. Tais trabalhadores não trouxeram apenas a força do seu trabalho, mas, tam-
bém, as ideologias operárias revolucionárias que, na altura, se expandiam um pouco por toda
a Europa. E, desta forma, algumas povoações do Andévalo foram das primeiras a ter socieda-
des operárias representadas na Associação Internacional dos Trabalhadores (fundada em 1864),
como, por exemplo, Alosno (1871), Tharsis (1874) e Puebla de Guzmán (1882)59.

A partir de 1880 assiste-se a uma reorganização das formações operárias no campo an-
daluz, ao mesmo tempo que se desencadeia um enfrentamento radical entre jornaleiros e pro-
prietários, que, com intermitências, subsistiu até aos anos da Segunda República (1931-1936).
Os jornaleiros usavam as armas que estavam à sua disposição – greves, incêndios de fogo pos-
to, luta sindical organizada, etc. – enquanto que os proprietários recorriam à repressão. Deste
modo, e por forma a escapar às acções mais repressivas, muitos dos dirigentes sindicais mais
destacados emigram para o continente americano, nomeadamente para a Argentina60. Díaz del
Moral identifica o início desta emigração de anarquistas com a cada vez maior perseguição que
os primeiros governos saídos da Restauração monárquica (1874) desencadearam contra as as-
sociações de trabalhadores rurais, que levou a que muitos deles tivessem que emigrar para a
América, levando para esses países o germe da questão social61.

computado en 180 jornadas por año. Cálculo éste puramente teórico pues, en realidad, un padre de familia jorna-
lero carecía, tenida cuenta los niveles salariales y los días de trabajo que echaba al año, de cualquier capacidad de
ahorro», in Antonio M. BERNAL, art. cit., p. 160.

58. Cf. CÁCERES FERIA, Rafael, «El Andévalo: Una Mirada Desde La Antropología», in AA. VV., El Andévalo:
território, história y identidade (actas de las I Jornadas del Patrimonio de El Andévalo, Alosno, Huelva, 19 y 20
Noviembre 2010), Huelva, Disputación de Huelva, 2011, p. 47.

59. Cf. ibidem. Sobre este assunto veja-se, por exemplo, a obra: DÍAZ DEL MORAL, Juan, Historia de las agita-
ciones campesinas andaluzas. Antecedentes para uma reforma agrária, Madrid, Alianza Editorial, 1973.

60. Cf. BERNAL, Antonio M., art. cit., pp. 160-162.

61. Cf. DÍAZ del MORAL, J., Historia de las agitaciones campesinas andaluzas, Madrid, s./e., 1929, p. 117.

72
Pode-se concluir que, segundo Bernal, tirando os casos da emigração forçada de diri-
gentes sindicais – que regressam, em bastantes casos, quando as circunstâncias políticas se al-
teravam –, a emigração andaluza para a América era de difícil retorno62.

Para o caso espanhol já se assinalou como, com os escassos dados disponíveis, se pode
afirmar que o nível de alfabetização dos emigrantes espanhóis parece ter sido mais elevado do
que a população de Espanha no seu conjunto. Até para os contemporâneos, que se lamentavam
amarguradamente da falta de instrução dos emigrantes, especialmente os andaluzes, pois afir-
mam que «el 90 por ciento de ellos no tenían iluminada su inteligencia ni aun por los destellos
de las primeras letras»63 assinalavam, contraditoriamente, como «emigraban, en general, los
más robustos, instruidos, activos e inteligentes»64.

2.3. Causas da migração de andaluzes para o Algarve ao longo do século XIX

2.3.1. Causas políticas

Villanueva de los Castillejos: a sede do Quartel-General de defesa da região do Condado


de Niebla65

A emigração de andaluzes para o Algarve foi uma emigração relativamente bem delimitada do
ponto de vista geográfico. Se a província de Huelva foi a principal fonte de emigrantes, o seu
município de Villanueva de los Castillejos foi o principal e mais destacado emissor dessa emi-
gração. Mas qual foi o motivo? Porquê este município e não outro? O que fez de Castillejos o
centro nevrálgico dessa emigração?

Ao longo da Guerra da Independência (1808-1814), como é denominada em Espanha,


ou das Invasões Francesas, como é designada em Portugal, a fronteira entre a Baixa Andaluzia
com o Algarve e o Baixo Alentejo representou para a oficialidade militar um lugar chave de

62. Cf. BERNAL, Antonio M., art. cit., p. 164.

63. Cf. Consejo Superior de Emigración (C.S.E.), (1916): La emigración española transoceánica, 1911-1915,
Madrid, p. 413.

64. Cf. ibidem, p. 229 e p. 458.

65. O Condado de Niebla corresponde, grosso modo, ao território que, actualmente, compõem a província de
Huelva.

73
colaboração militar e de resguardo, mas, também, um território propício para o refúgio de «pró-
fugos» (militares que, já incorporados na sua respectiva força militar, optam por desertar) e de
desertores dos seus próprios exércitos66.

Ora, consultando-se a acta capitular, escrita pelo cabildo de Villanueva de los Castillejos,
do dia 16 de Maio de 1813, fica a saber-se que:

El Ayuntamto Constitucional de la Villa de Va nueva de los Castillejos con el devido respeto ante V.S.
[el intendente general de los Ejércitos de Andalucía] dice qe con el motivo de haber sido esta Villa
Quartel Genl de nuestras Tropas 32 meses continuados habersele hecho teatro de la Guerra entrando-
le a fuego ferosmente el Enemigo Frances 17 ocaciones presentandole ataques de mucha sangre en
sus exidos y calles prendidole fuego a todos sus molinos robado las casas y campos llevandose los
ganados único interes de esta tierra, ser ella de calidad de Sierra esteril y secana sin lavores ni cose-
chas y haber emigrado y transmigrado a las brenãs del Guadiana y Reyno de Portugal el Vecindario,
ha quedado este Pueblo en la mayr miseria pobreza y dolorosa indigencia faltandole muchos havi-
tantes, sus havitaciones destruidas, y quemadas, y reducidos sus bienes a menos de la decima parte
qe antes de la Guerra tenian...67

A dita acta informa que Castillejos tinha acabado de albergar o Quartel-General das
tropas castelhanas convocadas para efectuar a defesa da região perante os invasores franceses.
Quartel que permaneceu instalado no município durante trinta e dois meses consecutivos, isto
é, entre Janeiro de 1810 e Agosto de 181268, período durante o qual a povoação sofreu dezasse-
te invasões69, cada uma delas com «repetidas tiranas, inbscions robos, y saqueos»70. Resultado:

66. Cf. SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «La Guerra de la Independencia en la Frontera Sur Hispano-Portuguesa:
Un Espacio Para La Reflexión», in Fortificaciones, Guerra y Frontera en el Marquesado de Gibraleón, edición
de Juan Luis Carriazo Rubio, Huelva, Diputación Provincial de Huelva, Servicio de Publicaciones, 2012, p. 288.
Sobre este assunto veja-se o Anexo cartográfico n.º 3.

67. Cf. A.M.V.C., Libro de Actas Capitulares, 1809-1813, legajo 11, acta de 16 de Mayo de 1813, apud Antonio
MIRA TOSCANO, Juan VILLEGAS MARTÍN, Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, La batalla de Castillejos y la
Guerra de la Independencia en el Andévalo Occidental, Huelva, Diputación de Huelva, 2010, p. 188.

68. Cf. A.M.V.C., Libro de Actas Capitulares, 1809-1813, legajo 11, acta de 16 de Mayo de 1813, s./f.;
RODRIGUEZ, Padre Emiliano, Monografia de El Almendro, El Almendro, 1904, fl. 5.

69. A primeira invasão verificou-se no dia 9 de Julho de 1810 e a 17.ª e última no dia 1 de Agosto de 1812, in ibi-
dem, p. 197.

70. A primeira entrada francesa em Villaneuva de los Castillejos desenrolou-se no dia 9 de Julho de 1810, cons-
tando-se que a última foi no dia 1 de Agosto de 1812. Entre ambas as datas, todo um conjunto de incursões, de «re-
petidas tiranas inbscions robos, y saqueos», que, segundo vários documentos, chegaram ao número de dezassete

74
uma média inferior a uma invasão a cada dois meses. A situação teve como consequência a de-
vastação quase total do município de Villanueva de los Castillejos, assim como do município
vizinho, apenas separados por uma rua, de El Almendro, provocando, pouco a pouco, a ruína
dos seus habitantes. Devastação demográfica e económica.

O desgaste sofrido por três anos de uma continuada guerra originou um conjunto de efei-
tos que se fizeram sentir por toda a comarca do Andévalo, de forma fundamental, em duas ver-
tentes: ao nível dos recursos materiais e ao nível dos recursos humanos. Por um lado, o dinheiro
ou os suprimentos/provisões que deviam ser obrigatoriamente aportados às tropas; por outro, a
sangria de homens com que seria preciso contribuir para os exércitos, acrescidos daqueles que,
pretendendo escapar à disciplina militar ou à ruína dos povos, emigrariam de pronto a outras
terras71. Acima dos conflitos bélicos ou das operações militares, são estes os dois flagelos que
confirmam a dura e crua realidade da região do Andévalo ao largo da Guerra da Independência.

«Quintas», deserções e «prófugos»

Porém, tal situação não se verificou somente a partir da instalação do Quartel-General das tro-
pas castelhanas em Villanueva de los Castillejos. Um ano antes da sua instalação, isto é, em
Abril de 1809, já se fazia referência ao problema das chamadas «quintas» (designação dada
à percentagem de habitantes que eram sorteados para ingressar no exército, isto é, cerca de
20% do total dos homens válidos, com idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos de ida-
de, residentes em cada município) em Castillejos, conforme informa um ofício que explicita
que, três dias depois do sorteio, não se apresentaram os moços «contenidos en el Alistamiento
por hallarse ausentes unos en el Reyno de Portugal y outros en las escardas de sus semente-
ras»72. Conscientes de que «esta dilación infiere gravísimo prejuicio al Real servicio», e sobre-
tudo compelidos pela autoridade, os regedores ordenavam, e assim ficava registado no livro de

em Villanueva de los Castellejos, e outras tantas em El Almendro, cuja proximidade geográfica unia os seus des-
tinos à vila vizinha de Villanueva de los Castillejos, in MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan,
SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit., p. 197.

71. Cf. ibidem, p. 188.

72. Cf. BUTRÓN PRIDA, Gonzalo e SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «Las fracturas del patriotismo: apun-
tes sobre las respuestas a la guerra en el Andalucía napoleónica», in Trocadero: Revista de Historia Moderna y
Contemporánea, n.º 20, 2008, p. 28.

75
quintas, com a data de 29 de Abril, o seguinte: «hacer notorio que inmediatamente comparez-
can en estas casas Capitulares para el fin mandado […] previniendo en dicha Publicación que
los Padres y Madres de los ausentes le despachen Propios a donde quieran que se hallen para
que se verifique su restitucion»73.

Os historiadores Butrón Prida e Saldaña Fernandez estudaram muito pormenorizada-


mente esta questão e concluíram que os meios legais de isenção, ante as irregularidades mani-
festas nos sistemas de sorteio e recrutamento, davam lugar à deserção ilícita em direção à ou-
tra margem do Guadiana74. Acções que eram comuns a vários municípios da região, como, por
exemplo, a Villanueva de los Castillejos, que, por essas mesmas datas, apresentava também
obstáculos gerados nos alistamentos em virtude da emigração de parte da sua população mas-
culina sujeita à denominada «quinta», particularmente em direcção ao vizinho Portugal. Esta
circunstância provocaria ameaças das autoridades75, tão interessadas no retorno dos emigrados
que levaram, por vezes, à aplicação de duros castigos aos familiares (pais) dos não retornados76.

Por outro lado, também resultou muito significativa a contribuição de homens para
o exército exigida a El Almendro. Resumindo a participação do município na Guerra da
Independência, o seu cabildo (vereação municipal) recordava que a vila «puso en campaña […]

73. Cf. Antonio MIRA TOSCANO, Juan VILLEGAS MARTÍN e Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, op. cit., pp.
190-191.

74. Cf. BUTRÓN PRIDA, Gonzalo e SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «Las fracturas del patriotismo: apuntes
sobre las respuestas a la guerra en el Andalucía napoleónica», art. cit., p. 28.

75. «[...] En atención a que con ser pasados tres días no se han presentado los Mozos contenidos en el Alistamiento
anterior por hallarse ausentes unos en el Reyno de Portugal y otros en las escardas de sus sementeras, y que esta
dilación infiere gravísimo perjuicio al Real servicio, buélvase a hacer notorio que inmediatamente comparezcan
en estas casas Capitulares para el fin mandado [...] previniendo en dicha Publicación que los Padres y Madres de
los ausentes le despachen Propios a donde quieran que se hallen para que se verifique su restitución vajo apersevi-
miento que no cumpliendo con dicha determinación serán castigados con el mayor rigor […] veinte y nueve días
del mes de Abril de mil ochocientosnueve», in A.M.V.C., Expedientes de Reclutamiento, legajo 99, s. f.

76. Por exemplo: «habiendo tocado la suerte de soldado en el sorteo practicado en esta dicha villa en el día quatro
del que rige a Bartolomé Xiraldo mozo soltero [...], por hallarse aucente en el Reyno de Portugal se repitió el acto
para sacarle un sobstituto [...], con cuyo motibo se procedió por la Real Justicia della a el apremio por Prición y
embargo de bienes de María Rodríguez, madre del soldado Bartolomé; Villanueva de los Castillejos, 17 de mayo
de 1810», in A.P.N.A., Escribanía de Villanueva de los Castillejos a cargo de Isidro Ponce de Torres, legajo 1066,
fols. 39-40, apud BUTRÓN PRIDA, Gonzalo e SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «Las fracturas del patriotismo:
apuntes sobre las respuestas a la guerra en el Andalucía napoleónica», art. cit., p. 28.

76
ciento y sinquenta hombre [sic], mozos robustos que aun susisten en el servicio de las armas77».
Tratava-se de uma contribuição muito elevada, incluindo para a população com que contava
este povoado antes de começar a guerra78.

O historiador Saldaña Fernández estudou profundamente esta temática79 e concluiu que,


«desde a perspectiva das ordens do Condado, as terras portuguesas teriam um duplo significa-
do: por um lado, um território substancial para a sobrevivência e manutenção das suas partidas,
e por outro, um espaço exterior, à margem do seu controlo directo, que estava propiciando a
contínua perda de efectivos»80. Ora, como seria natural, tais situações eram mais comuns nas
zonas mais próximas da fronteira, como nos revelam os vários ofícios trocados, na altura, entre
os representantes dos dois países vizinhos. Porém, as reclamações das autoridades espanholas
remontavam a momentos anteriores à ocupação, pelas tropas francesas, de praticamente todo o
Condado de Niebla81:

[…] la Junta Superior de Sevilla hace presente a S. M. desde Aiamonte que el Mariscal de Campo
D. Francisco Copons y Navia le ha representado los males que ocasiona el abrigo que encuentran
en Portugal los Desertores y Prófugos españoles que pasan a ese Reyno huiendo de las Partidas y
Justicias que los persiguen, y dejando casi desiertos algunos Pueblos de aquella Provincia para exi-
mirse del servicio militar82.

Passados dois anos, em 1812, tal situação ainda persistia, conforme indica o ofício
seguinte:

77. Cf. A.M.E.A., Libro de Actas Capitulares, legajo 4, acta de 4 Junio de 1815, também citada in Antonio MIRA
TOSCANO, Juan VILLEGAS MARTÍN e Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, op. cit., p 196.

78. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p 196.

79. De entre os muitos estudos que o historiador José Saldaña Fernández publicou sobre este tema veja-se, por
exemplo, o estudo: SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «La Guerra de la Independencia en la Frontera Sur Hispano-
Portuguesa: Un Espacio Para La Reflexión», art. cit, pp. 265-295.

80. Cf. ibidem, p. 288.

81. Em 1808 as tropas francesas começaram por ocupar pontos estratégicos juntos à fronteira com Portugal.
Porém, entre os princípios de 1810 e Agosto de 1812, os exércitos franceses conseguiram posicionarem-se em
Sevilha e, daí, ocuparem grande parte do que então era denominado como Condado de Niebla. O Condado de
Niebla corresponde, grosso modo, ao território que, actualmente, compõem a província de Huelva, in ibidem,
p. 268 e p. 289.

82. Cf. A.H.N., Estado, legajo 4510, caja 1, n.º 92, de 11 de Agosto de 1810, s./f.

77
[…] con este motivo y saviendo S. A. que en Villareal y outros Pueblos del Algarbe se hallan refu-
giados muchos dispersos y desertores de los exércitos de España, como también otros muchos indi-
viduos españoles aptos para el servicio de las armas [...]83.

O mesmo que fizeram algumas autoridades civis e militares fizeram os comuns habitan-
tes da raia, ou seja, procurar resguardo em Portugal como meio de garantir, perante o perigo das
tropas francesas, a sua própria sobrevivência. A proximidade com a fronteira a isso ajudava, e
até estimulava, essa calculada emigração. Como nos provam uma série de testemunhos coevos
relativos aos municípios de Ayamonte84, Aroche85, Villanueva de los Castillejos ou Villabanca –
populações mais ou menos próximas da fronteira com o Algarve.

Na sessão do dia 11 de Junho de 1812, do cabildo municipal de Villanueva de los


Castillejos, pode-se ler que: «[…] a causa de las repetidas imbaciones del enemigo, havien-
do emigrado al Reino de Portugal y a outros Pueblos, con cuyo motibo se mira esta infeliz
Población en la más triste cituación»86.

Por sua vez, em 1818, nos autos do município de Villablanca, pode ler-se o seguinte in-
forme: «[…] se emigraron todos los vecinos en general, pasando los unos a fijar su residencia en
los campos entre bosques y malezas, y los outros con los representantes públicos a los Pueblos
fronterizos de Portugal»87.

Esta emigração de uma grande parte dos seus habitantes para algumas terras portugue-
sas em busca de refúgio e protecção podia assumir, em função da sua duração, duas tipologias:
temporária88 ou permanente89. E, normalmente, provocava inúmeras consequências, quase sem-

83. Cf. A.H.N., Estado, legajo 4514, caja 1, Lisboa, 6 de Enero de 1812, s./f.

84. Cf. A.M.A., Actas Capitulares, legajo 23, sessão de 19 de Octubre de 1811, s./f.

85. Documento escrito em Aroche com a data de 6 de Julio de 1810.

86. Cf. A.M.V.C., Actas Capitulares, legajo 10, sessão de 11 de Junio de 1812, s./f.

87. Cf. A.M.V., Autos, legajo 269, informe de 16 de Marzo de 1818, s./f.

88. «[…] siendo repetidísimas las emigraciones que hicieron todos los vecinos desamparando esta población en
las ocasiones que el Enemigo se dirigió a estes puntos, y luego que se retiraba regresaban aquellos a ocupar sus
antiguos hogares», in A.M.V., Autos, legajo 269, s./f.

89. «[…] esta ciudad se halla enteramente desierta a causa de que sus vecinos […] se hallan Emigrados y aven-
cindados en varias Poblaciones del frontero Reino de Portugal», in A.M.A., legajo 23, ofício de 3 de Diciembre
de 1811, s./f.

78
pre negativas, para essas comunidades fronteiriças. Consequências que tanto podiam estar rela-
cionadas com questões económicas90, militares ou políticas91.

Tal emigração, como se viu, não se explica somente pelo avanço dos militares france-
ses, mas, igualmente, pelo desejo de alguns habitantes da província se eximirem das suas obri-
gações militares. Nesse sentido, Portugal, nomeadamente as regiões do Algarve e do Baixo
Alentejo, representava um território de resguardo frente a umas tropas patrióticas enormemente
exigentes e predadoras92. Situação que trazia consequências negativas à defesa da região, uma
vez que usurpava os exércitos castelhanos de efectivos militares, diminuía a capacidade de
abastecer as tropas, o que, em última instância, reduzia o potencial defensivo da região. Era ne-
cessário estancar esse tráfico emigratório fronteiriço, bem como tentar conseguir o regresso de
alguns desses emigrados às suas povoações93, conforme um documento, assinado por Heredia e
dirigido a Francisco de Copons y Navia, com a data de 30 de Janeiro de 1811:

He hecho presente al Consejo de Regencia el oficio de V. S. de 4 de este mes en que da parte de la


emigración que ha advertido en muchos vecinos de esos pueblos con dirección al Reyno de Portugal,
y solicita la providencia oportuna para su remedio. En su consecuencia ha resuelto S. A. que exija

90. Em Ayamonte, durante uma sessão do Cabildo camarário, discutiu-se sobre «la imposibilidad en que se halla
este Ayuntamiento de poder suministrar cosa alguna a las tropas existentes en esta ciudad, así por el Estado de
ruina en que se halla el vecindario […] como por la Emigración en que se halla todo aquel», in A.M.A., Actas
Capitulares, legajo 23, acta de 19 de Octubre de 1811, s./f.Por outro lado, numa idêntica sessão do Cabildo mas
desta vez no município de Villanueva de los Castillejos assinalava-se que «como asimismo las gruesas cantidades
que se han exigido a este vecindario, el que se halla disminuido en gran manera, a causa de las repetidas imbacio-
nes del enemigo, haviendo emigrado al Reino de Portugal y a outros Pueblos, con suyo motibo se mira esta infeliz
Población en la más triste cituación», in A.M.V.C., Actas Capitulares, legajo 10, acta de 11 de Junio de 1812, s./f.

91. Os membros do Cabildo de Ayamonte, em razão da cada vez mais constante emigração dos seus habitantes,
solicitaram «que en vista de lo expuesto se sirva mandar suspender la propuesta y elección de todo el Ayuntamiento
pleno, concediendo al cuerpo que suplica el que […] continúe en el exercicio de sus respectivas funciones por todo
el año próximo», in A.M.A., Actas Capitulares, legajo 23, acta de 3 de Diciembre de 1811, s./f.Por outro lado, em
Villanueva de los Castillejos apontava-se que «las Personas que la constituyen Emigradas en Portugal y outros
puntos no existen en esta sociedad, y si a de bolber a su antiguo esplendor se ace preciso reemplazarlas», pelo que,
deste modo, era necessário que «se sirban para no herrar hacer Elección Popular de todos los Empleos de Justicia
baliéndose para ello de quantos medios advitrios y formalidades estimen», in A.M.V.C., Actas Capitulares, legajo
10, acta de 12 de Enero de 1812, s./f.

92. Cf. SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «La Guerra de la Independencia en la Frontera Sur Hispano-Portuguesa:
Un Espacio Para La Reflexión», art. cit., p. 291.

93. Cf. ibidem.

79
V. S. de las autoridades de Portugal la entrega de los emigrados y verifique por su parte la recíproca
con los de aquel Reyno en virtud del convenio concluido entre ambas Potencias94.

Preocupação que durou praticamente durante todo o século XIX, centúria marcada por
vários conflitos bélicos em Espanha – a Guerra da Independência, guerras civis de sucessão
ao trono e conflitos militares com algumas das suas colónias ultramarinas. Disso mesmo dava
conta o cônsul de Espanha em Faro, Manuel Gomez Roldán, num despacho enviado a 11 de
Fevereiro de 1861 para o Ministério dos Exteriores de Espanha:

he recibido el Despacho de V.E. de 19 de Enero procsimo pasado, por el que se sirve recomendar,
que los agentes consulares de España en este Reino no dejen de cumplir los encargos que reciben
de las autoridades españolas, de pedir y llevar a cabo las extradiciones de los mozos prófugos de las
quintas, que se refugian en este territorio, alegándose para dilatarlo ó eludirlo la falta de fondos con
que suplir los gastos, que con tal motivo se causen95.

Tratava-se de uma situação preocupante e de difícil resolução.

A emigração como solução

A geral situação de guerra e, em particular, a dureza na sua fase mais aguda com os dois exércitos
operando activamente sobre os municípios da zona, e especialmente com as entradas directas dos
inimigos, levaram ao rápido colapso demográfico das duas vilas de que aqui se trata: Villanueva
de los Castillejos e El Almendro. O que deixaria uma profunda marca, porque resultaria num
grave retrocesso, populacional e económico, de que muito custaria a recuperar no futuro96. Para
se referir a esta época muitos documentos oficiais utilizam frequentemente o termo «transmi-
gración», com que fazem referência ao rápido despovoamento e emigração que conduziu a um

94. Documento firmado por Heredia e dirigido ao Comandante Francisco de Copons y Navia, com a data de 30
de Janeiro de 1811 arquivado na Real Academia de Historia, Colección Francisco Copons y Navia, signatura
9/6969, s./f., apud SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «La Guerra de la Independencia en la Frontera Sur Hispano-
Portuguesa: Un Espacio Para La Reflexión», art. cit., pp. 291-292.

95. Cf. A.H.N., Fondo del Ministerio de Exteriores - H, Consulado de España en Faro, correspondencia del ano
1861, cx. 1886, despacho n.º 2, de 11 de Febrero de 1861.

96. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p. 212.

80
grande número de habitantes dos dois municípios a outros lugares, especialmente a Portugal e a
algumas povoações da costa espanhola97. Designação que terá aparecido por essa altura.

Neste período, o Andévalo onubense converteu-se numa zona de grande perigosidade.


E por várias razões: por estar situado junto da fronteira com Portugal, pelo facto de Villanueva
de los Castillejos e a sua vizinha El Almendro sediarem as bases de operações do exército no
Condado de Niebla, e pela quantidade de conflitos militares que ali tiveram lugar. Tais situa-
ções, aliadas ao facto da falta de homens para incorporar os alistamentos militares, assim como
à insuportável carga que as populações deviam assumir em abastecimentos e contribuições para
as tropas – obrigatoriedade de fornecimento aos exércitos e requisição directa de cavalos –, de-
generaram, de forma muito rápida, numa ausência de expectativas económicas para os habitan-
tes desses municípios98. Isso fez arrastar, de forma irreversível, muitos deles para a emigração.

O abandono alcançou proporções trágicas no município de El Almendro: além de perder


uma enorme quantidade de habitantes, ficou literalmente sem governo pelo facto de as autori-
dades municipais terem emigrado para outros locais mais seguros99.

Mas porquê a escolha do Algarve? Os autores da La batalla de Castillejos y la Guerra de la


Independencia en el Andévalo Occidental (2010) respondem:

La elección de Portugal como destino por parte de estos emigrados respondía a la mayor seguridad
que podían ofrecer aquellas tierras, protegidas por la barrera natural del río Guadiana. A pesar de
que el país vecino también se encontraba en guerra contra Francia, los focos bélicos más importan-
tes se hallaban más al norte (frontera de Olivenza o de Badajoz, plazas fuertes de Campo Mayor o
Elvas) y no hay constancia por estas fechas de incursiones galas en territorio portugués inmediato
a Villanueva de los Castillejos, lo que aliviaba al menos de suministrar al enemigo y de sufrir sus
saqueos. Además, las estrechas relaciones desarrolladas tradicionalmente entre los habitantes de

97. Cf. ibidem, p. 212.

98. «Alimentos para los soldados y las caballerías, vestimenta, arreos, aguardiente, madera y los más diversos su-
ministros que se precisabam para el mantenimiento del ejército debían ser sacados de villas y lugares. Tampoco se
libraron estas poblaciones de las requisas directas, tanto de caballos, como de ganado, ni de los gastos derivados
del alojamiento de soldados, o de los tributos y contribuciones en metálico», in Antonio MIRA TOSCANO, Juan
VILLEGAS MARTÍN, Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, op. cit., p. 198. Sobre a requisição directa de cavalos
veja-se a p. 203 da mesma obra.

99. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p. 213.

81
ambos territorios, tal vez con el recuerdo de una importante emigración portuguesa al Andévalo en
el siglo XVIII, ofrecían el marco adecuado para que los emigrados de Villanueva y El Almendro en-
contraran, a pesar de las estrecheces de la situación, el acomodo preciso100.

Apesar de tudo, o rápido abandono das populações de Villanueva de los Castillejos e de


El Almendro não teria sido tão gravosa se tal emigração constituísse um fenómeno circunstan-
cial. Todavia, em muitos casos, a solução de emigrar não se revelou uma circunstância provi-
sória, mas, sim, uma solução definitiva, conforme se comprova através da leitura de uma parte
da acta do município de Villanueva de los Castillejos de 16 de Setembro de 1814: «durante el
dominio de los enemigos [muchos] han emigrado con sus familias, domiciliandose a Reino es-
traño […] con conocido animo de no volver al pueblo»101. Como foram os casos de dezenas e
dezenas de munícipes que, durante a Guerra da Independência, emigraram para as regiões do
Algarve e do Baixo Alentejo. Vejamos, de seguida, um caso concreto.

Em Julho de 1816 o munícipe Domingo de la Feria Mendoza escrevia para o ayunta-


miento de Castillejos informando da sua emigração, em 1811, para a cidade de Tavira, apro-
veitando a missiva para solicitar que apagassem o seu nome da lista dos contribuintes fiscais
daquele município:

Señores Justicia y Ayuntamiento de esta Villa.

Domingo de la Feria Mendoza, el mayor, natural de esta Villa, vecino hasta de presente en ella, ante
Vuestra Señoría parezco y digo: Que desde el ãno de 1811, temiento al furor de los Franceses y de
esperimentar [sic] mayores desastres en mi casa y con objeto también à restablecer mi salud, que la
tenia demasiado quebrantada por los insultos sufridos en el año de 1810, en que exerci en esta Villa
el empleo de Alcalde de 2º voto, pase con mi família à vivir à la Ciudad de Tavira, del Reyno de
Portugal, donde tengo mi casa y establecimiento; y estando en animo resuelto de continuar habitan-
to en dicha Ciudad de Tavira, donde pago todos los derechos y gavelas que me repranten, por cuyo
motivo esperimento [sic] perjuicio en lo que se me considera es pago en esta Villa, y para evitarlo:
Suplico a Vuestra Señoría se sirva decretar se me tenga por desavecindado en esta Villa y que, en
su consecuencia, se me borre de todos olos Padrones de Reales Contribuciones y en las demás par-
tes que convengan y que de ello, y de lo que a este escrito se provea, se me livre el correspondiente

100. Cf. Antonio MIRA TOSCANO, Juan VILLEGAS MARTÍN e Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, op. cit.,
pp. 213-214.

101. Cf. A.M.E.A., Libro Actas Capitulares, 1810-1814, legajo 4, acta de 16 de Septiembre de 1814, apud Antonio
MIRA TOSCANO, Juan VILLEGAS MARTÍN e Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, op. cit., p. 214.

82
testimonio para mi resguardo y demás efectos que haya // lugar. Así lo espero de la notoria justifica-
ción de Vuestra Señoría en justicia y merced.

Villanueva de los Castillejos, Julio 13 de 1816

[ass] Domingo Feria Mendosa102.

Este exemplo é apenas um dos muitos que se poderiam arrolar de uma emigração de-
finitiva rumo ao Algarve. Emigrava-se e por lá se ficava de forma permanente. Para, passados
uns anos e depois de definitivamente instalados, se solicitar ao ayuntamiento onde pagavam as
suas contribuições fiscais que o seu nome fosse apagado da lista dos contribuintes fiscais desse
município. Hoje sabe-se que estes emigrados eram os habitantes de maiores recursos, de modo
que, instalados já de maneira estável em Portugal e incorporados no seu sistema produtivo, sub-
traíam das suas vilas de origem não só capital humano mas também económico103.

Em 1812 a vila de El Almendro tinha perdido quase 90% da sua população, o que, em
última instância, podia ter acabado por comprometer a própria existência do município. Em
Setembro de 1814 a documentação municipal oferece-nos uma quantificação exacta da perda
demográfica sofrida pelo município: «antes de la Invacn de los Enemigos se titulaba y conponia
de trescientos veinte y quatro vecs, de modo qe durante el dominio de los Enemigos han emi-
grado con sus familias (…) ciento noventa y quatro vecs útiles [...]»104. E passado um ano, em
Junho de 1815, podia ler-se, noutra acta, que a população que tinha optado por permanecer em
El Almendro era a «mas pobre y desdichada»105.

A recuperação demográfica em El Almendro seria mais lenta do que a de Castillejos, de


maneira que, em 1815, os níveis populacionais não alcançavam mais de uma terça parte dos an-
teriores ao conflito106, conforme se pode comprovar através do quadro seguinte:

102. Cf. A.M.V.C., Libro de Actas Capitulares, 1815-1821, legajo 13, acta de 13 de Julio de 1816, s./f.

103. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p. 214.

104. Cf. A.M.E.A., Libro de Actas Capitulares, 1810-1815, legajo 4, acta de 16 de Septiembre de 1814, s./f.

105. Cf. A.M.E.A., Libro de Actas Capitulares, 1810-1815, legajo 4, acta de 6 de Junio de 1815, s./f.

106. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p. 215.

83
«vecinos»
Quadro n.º 2.05: Número de «vecinos» em Villanueva de los Castillejos e El Almendro, entre
1808 e 1815

Ano Villanueva de los Castillejos El Almendro


1808 n.e.i. 324
1809 1 000 n.e.i.
1810 500 a 600 300 a 400
1812 n.e.i. 20 a 35
1814 n.e.i. 130
1815 n.e.i. 108

Fonte: MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, La batalla
de Castillejos y la Guerra de la Independencia en el Andévalo Occidental, Huelva, Diputación de Huelva, 2010,
p. 214. Esta tabela foi elaborada pelos autores a partir dos dados oficiais recolhidos nos A.M.V.C. e no A.M.E.A.
e no Diário de las operaciones del mariscal Copons.

Ao longo do século XIX outros conflitos político-militares foram igualmente causado-


res da emigração de andaluzes para o Algarve. As chamadas três Guerras Carlistas de sucessão
ao trono espanhol (1833–1840; 1846–1849; 1872–1876) também provocaram fluxos migrató-
rios de andaluzes rumo a Portugal, andaluzes (e outros espanhóis) que fugiam ao alistamento
militar obrigatório, ou que, já incorporados nos respectivos exércitos, optavam por desertar107.

Em 1848, no contexto da Segunda Guerra Carlista, os Açores receberam cinquenta e


dois exilados espanhóis conotados com o partido Carlista. Eram todos eles militares que tinham
preferido o exílio à prisão, uns por terem estado envolvidos numa rebelião na Andaluzia e ou-
tros por se terem sublevado a bordo de um navio que viajava para Cuba108.

107. As denominadas «Guerras Carlistas» foram o nome pelo qual passaram à História as três guerras civis de su-
cessão ao torno espanhol, que opuseram, de um lado, os partidários de Carlos Maria Isidro Bourbón (1788-1855),
auto-proclamado rei de Espanha com o nome de Carlos V – e, por esse facto, chamados de «carlistas» – que de-
fendiam um regime de tipo absolutista, aos partidários da sua sobrinha a rainha Isabel II de Espanha (1830-1904;
r. 1833-1868), que defendiam um regime liberal. Estas guerras ocorreram um pouco por todo o território espanhol,
entre, sucessivamente, os seguintes períodos temporais: 1833-1840, 1846-1849 e entre 1872-1876. Sobre este as-
sunto veja-se, por exemplo, o estudo: ROBLEDO, Ricardo, «Crisis agraria y êxodo rural: emigración española a
ultramar, 1880-1920», art. cit., p. 232.

108. Cf. CORDEIRO, Carlos, SILVA, Susana Serpa, “«Mártires da Liberdade». O exílio de revolucionários es-
panhóis nos Açores (1866-1868) na perspectiva da imprensa local”, in Pasado Y Memoria. Revista de Historia
Contemporanéa, 2010, n.º 9, p. 181.

84
Passados alguns anos, em 1866, na sequência do fracassado golpe militar do general
Juan Prim (Reus, 6.12.1814 – Madrid, 30.12.1870), iniciado em Aranjuez (província de Madrid)
a 2 de Janeiro109, Prim e os seus homens tiveram de se refugiar em Portugal. Chegaram à vila de
Barrancos (distrito de Beja) no dia 20 de Janeiro e por lá permaneceram três dias110. Um perió-
dico da cidade do Porto avançou uma estimativa sobre o número de revolucionários revoltosos
que se tinham exilado em Portugal: com Prim vieram mais 1 014 oficiais e soldados espanhóis,
que fugiam ao governo de Isabel II111. Em Portugal os revolucionários espanhóis foram disper-
sos por vários acantonamentos: Peniche, Cascais, Leiria e Setúbal, até ao exílio nas ilhas da
Madeira e dos Açores112. Só as ilhas açorianas receberiam cerca de 450 revoltosos espanhóis113.
Todavia, em 1867, o governo espanhol decide conceder uma amnistia aos soldados e cabos es-
panhóis que estiveram envolvidos nos acontecimentos revolucionários de Janeiro de 1866, e,
deste modo, o governo português fez transportar para Cádiz todos os militares exilados que qui-
seram usufruir dessa amnistia. No caso da Ilha Terceira dos 250 militares exilados embarcaram
182114. E, passado apenas um ano, com a revolução de Setembro de 1868, também conhecida por
«La Gloriosa», esse exílio terminaria115. Confirmada a vitória liberal, os exilados que ainda se
encontravam nos Açores seguiram, em finais de Outubro e início de Novembro, rumo a Lisboa.

109. Cf. O Heroísmo, Angra do Heroísmo, 28 de Janeiro de 1866.

110. Cf. SIMÕES, Dulce, «Exilados e refugiados na fronteira Luso-Espanhola do Baixo Alentejo nos séculos XIX
e XX», in O Pelourinho. Boletín de Relaciones Transfronterizas, Badajoz, Diputaión de Badajoz, n.º 22, 2.ª épo-
ca, 2018, p. 100. Disponível online no seguinte endereço: https://research.unl.pt/ws/portalfiles/portal/12134409/
EXILADOS_E_REFUGIADOS_NA_FRONTEIRA.pdf [consultado pela última vez no dia 1 de Julho de 2021]

111. Cf. SIMÕES, Dulce, «Recriações do passado, memórias e identificações locais. O caso do general Prim em
Barrancos», in Revista de Estudios Extremeños, tomo LXXII, número III, 2016, p. 1976. Disponível online no se-
guinte endereço: https://run.unl.pt/bitstream/10362/31820/1/INET_86860.pdf [consultado pela última vez no dia
1 de Julho de 2021]

112. Cf. Cf. SIMÕES, Dulce, «Exilados e refugiados na fronteira Luso-Espanhola do Baixo Alentejo nos séculos
XIX e XX», art. cit., p. 100.

113. Cf. CORDEIRO, Carlos, SILVA, Susana Serpa, art. cit., p. 178 e p. 180.

114. Cf. ibidem, p. 187.

115. A Revolução de 1868, ou «La Gloriosa» como passou à história, foi um levantamento revolucionário que
ocorreu em Espanha em Setembro de 1868. Essa revolução teve o seu início com o abandono da coroa e de
Espanha da rainha Isabel II, no dia 30 de Setembro. Em Outubro começa a insurreição cubana, forma-se o partido
republicano e dissolvem-se as juntas de governo. Em Junho de 1869 entra em vigor uma nova Constituição, com
o general Francisco Serrano com regente e o general Juan Prim como primeiro-ministro. Para uma boa síntese
deste período veja-se, por exemplo, a obra: CARR, Raymond, España 1808-2008, 5.ª edição, Ariel Historia, 2015
[1969], pp. 259-291.

85
Consultando a documentação existente no fundo arquivístico do consulado de Espanha
em V.R.S.A., depositado no Archivo General de la Administración (A.G.A.), em Alcalá de
Henares, pode observar-se o registo de vários «prófugos» que, na sequência da Real Ordem de
20 de Abril de 1877, se apresentaram no respectivo consulado espanhol. Esta Real Ordem, en-
trada em vigor no seguimento da chamada Terceira Guerra Carlista (1872-1876), indultava to-
dos os militares «prófugos», desde que se apresentassem nos respectivos consulados, por forma
a poderem regressar, novamente, ao reino espanhol116. Neste caso, a documentação revela que,
entre 20 de Abril e 5 de Maio de 1877, foram sete os militares desertores que se apresentaram
no consulado espanhol de V.R.S.A., conforme se pode comprovar pelo seguinte quadro:

Quadro n.º 2.06: Registo de «prófugos» e de desertores que, no seguimento da Real Ordem de
20 de Abril de 1877, se apresentaram no consulado de V.R.S.A. afim de poderem regressar ao
reino de Espanha, ordenados pela data de deserção
Data da Cargo ocupado aquando Regime político em vigor
Nome Naturalidade
deserção da deserção na data da deserção
Regimento de Zamora,
Ramon Monarquia Constitucional;
1871 Málaga 1.º Batalhão da 2.ª
Martin Reys rei Amadeo I
Companhia
Daniel
Julho Coronel de Cavalaria em República presidida por
Fernandez n./d.
de 1873 Córdoba Francisco Pi y Margall
de la Mora
José de Governo conservador
Maio
la Rosa Ayamonte n./d. presidido por Francisco
de 1874
Rodríguez Serrano
Regimento de Soria,
Diego Moron Monarquia «Borbónica»;
1875 2.º Batalhão da 3.º
Bermudez (Sevilha) rei Alfonso XII
Companhia
Soldado da 5.º
Manuel
n./d. Carmona Companhia da Província n./d.
Navas Perez
de Ecija
Jozé Ponce
n./d. Sevilha Negociante n./d.
Casacho
Miguel
n./d. Mingorance Sevilha Cirurgião n./d.
y Marques

Fontes: A.G.A., Fondo del Consulado de España en Villa Real de Santo Antonio, Libro del Registro de correspon-
dencia general años 1869 al 1878, fls. 75-78; CARR, Raymond, España 1808-2008, 5.ª edição, Ariel Historia,
2015 [1969], pp. 686-687.

116. A denominada Terceira Guerra Carlista, desenrolada entre 1872 e 1876, opôs os partidários de Carlos (1848-
1909), auto-intitulado Duque de Madrid, pretendente ao trono com o nome de Carlos VII, e as sucessivas governações
de Amadeu I (1845-1890; r. 1870-1873), da 1.ª República (1873-1874) e de Afonso XII (1857-1885; r. 1874-1885).

86
Analisando os vários anos das deserções verifica-se que ocorreram entre 1871 e 1875,
espaço temporal em que Espanha foi governada por vários regimes políticos de diversas ten-
dências políticas. À excepção do coronel de cavalaria, Daniel Fernandez de la Mora, que foi
enviado para Huelva, todos os restantes desertores foram enviados para Sevilha.

A amostra, apesar de pequena, é rica a um nível qualitativo, uma vez que nos reve-
la que as deserções tanto podiam vir do lado dos conservadores como do lado dos liberais,
uma vez que se sucederam em vários regimes políticos, conforme demonstra a cronologia em
que ocorreram:
Data da
Regime político em vigor à data da deserção
deserção
Monarquia Constitucional, com governos dos unionistas (O’Donnell), dos
1871 progressistas (Sagasta) ou dos radicais (Ruiz Zorrilla), sendo rei Amadeo I
(reinado de Novembro de 1870 a Fevereiro de 1873)117.
Julho República presidida por Francisco Pi y Margall (de 24 de Abril a 18 de Julho
de 1873 de 1873)118. Foi o 2.º presidente da 1.ª República espanhola (1873-1874).
Governo conservador presidido por Francisco Serrano, depois do vitorioso
pronunciamento militar, liderado pelo general Pavia, contra a chamada
Maio
«república de esquerda», desencadeado em Janeiro de 1874119. Francisco
de 1874
Serrano liderou um governo conservador numa espécie de «ditadura
republicana de tendência conservadora», tendo dissolvido as Cortes em 1874.
Monarquia restaurada, sendo rei Alfonso II (reinado de Janeiro de 1875 a
1875
Novembro de 1885)120.

Fonte: CARR, Raymond, España 1808-2008, 5.ª edição, Ariel Historia, 2015 [1969], pp. 686-687.

Em apenas duas semanas compareceram no consulado de V.R.S.A. sete «prófugos»,


mas quantos mais apareceriam nos messes seguintes? E quantos mais é que nunca chegariam a
aparecer, ficando a residir, de forma definitiva, na região algarvia?

117. Cf. CARR, Raymond, España 1808-2008, 5.ª edição, Ariel Historia, 2015 [1969], p. 686.

118. Cf. ibidem, p. 687.

119. Cf. ibidem, p. 687.

120. Cf. ibidem, p. 687.

87
A problemática das deserções

Tendo em conta os testemunhos e as descrições da época, assim como a mais moderna biblio-
grafia sobre o assunto, verifica-se que os emigrantes andaluzes que escolheram o Algarve para
se fixarem, fugiam às seguintes situações: à guerra desde 1810, à destruição das suas povoa-
ções, à obrigatoriedade do alistamento militar nas tropas espanholas, à obrigatoriedade de ter
que fornecer bens alimentares às tropas em combate, à enorme violência perpetrada pelos fran-
ceses, e, finalmente, à incorporação forçada nos exércitos inimigos (francês)121.

2.3.2. Causas económicas

Os factores económicos tiveram um elevado peso na emigração de andaluzes para o


Algarve ao longo do século XIX. Factores que, muitas vezes, se encontravam interligados.
A mais actualizada e moderna bibliografia sobre o assunto atribui essa emigração a causas tão
diferentes, como as seguintes:

a) O baixo desenvolvimento agrícola, provocado pela pobreza dos solos – maioritariamen-


te terras xistosas – e pelo clima árido do Andévalo Ocidental122.

O Andévalo é frequentemente definido como uma comarca eminentemente «ganadera».


A exploração e a criação de animais explica-se pelo pouco desenvolvimento agrícola das suas
terras, compostas maioritariamente por terras de xisto, pela pobreza dos solos agrícolas e pelo
clima árido. Vocação pecuária que sempre foi uma constante na região, desde a conquista caste-
lhana até à actualidade123. Esse baixo desenvolvimento agrícola foi um dos factores que originou
que muitas famílias dessa região emigrassem rumo ao Algarve.

b) A estrutura das propriedades agrícolas da região do Andévalo.

121. Sobre este assunto veja-se, por exemplo, os seguintes estudos: MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS
MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit., pp. 187-188; SALDAÑA FERNÁNDEZ, José,
«La Guerra de la Independencia en la Frontera Sur Hispano-Portuguesa: Un Espacio Para La Reflexión»,
art. cit., pp. 288-292.

122. Cf. ibidem, p. 49.

123. Cf. Rafael CÁCERES FERIA, art. cit., p. 49.

88
A penetração do capitalismo na agricultura supôs o início do chamado processo de «des-
campesinação», desencadeado à custa dos pequenos proprietários. Devido à falta de recursos
necessários para afrontar a modernização agrícola, foram, a pouco e pouco, se reduzindo as
possibilidades de uma economia campesina assente em minúsculas explorações. O que aju-
da a explicar que, para a região andaluza, se emigre mais onde a pequena propriedade é mais
característica124.

c) A fuga à justiça e a determinados compromissos políticos, bem como a oportunidade


única para aumentar o espaço de comercialização e de transacções económicas125.

As regiões vizinhas do Algarve e do Baixo Alentejo também se constituíram, ao longo


da Guerra da Independência, como territórios de resguardo para eludir, entre outros, a acção da
justiça ou compromissos políticos. Saldaña Fernández disso nos dá conta, citando alguma da
correspondência trocada entre os dois países126.

Numa carta datada de finais de 1812, em que um representante espanhol em Lisboa se


dirigia a um representante português nos seguintes termos:

[…] se estipule la exacta y puntual restitución recíproca no sólo de los desertores así españoles
como portugueses que se refugien mutuamente de España a Portugal, sino también de todos aquellos
Yndividuos que estando sujetos al alistamiento se pasan de un Reyno a outro para evitarlo127.

Numa outra, uma memória do município de El Almendro que, no dia 18 de Junho de


1811, envia um representante a Lisboa

[…] para que dos Individuos de aquel Ayuntamiento [de El Almendro] que hace mucho tiempo están
ausentes sin haber querido acudir a tomar posesión de sus empleos en notorio perjuicio de la causa
pública y residen en la Provincia del Alentejo, acudan a desempeñar sus funciones municipales en la
referida villa, obligándoseles a ello por la fuerza en el caso de continuar resistiéndose a presentarse
como lo han hecho hasta aqui128.

124. Cf. BERNAL, Antonio M, art. cit., pp. 156-157.

125. Cf. SALDAÑA FERNÁNDEZ, José, «La Guerra de la Independencia en la Frontera Sur Hispano-Portuguesa:
Un Espacio Para La Reflexión», art. cit., p. 292.

126. Cf. ibidem.

127. Cf. A.H.N., Estado, legajo 4514, caja 1, sem número.

128. Cf. A.H.N., Estado, legajo 4514, caja 2, sem número (18 de Junio de 1811).

89
No caso de Villanueva de los Castillejos sabe-se que o seu regedor municipal em 1810,
Sebastian Rodríguez Fermosiño, justamente o ano da primeira entrada das tropas francesas no
município (9 de Julho), se refugiou no Algarve. E, em 1816, enviou da localidade de Villanueva
de los Castillejos, uma carta para o município de Villanueva de los Castillejos, onde se podia ler:

Sebastian Rodriguez Fermosiño, natural de esta Villa con el debido respeto ante Ustedes hago pre-
sente: Que hay más de seis años que por fines de mi conveniencia levanté de ella mi domicilio, casa
y familia, estableciendome con fija residencia en la aldea de Santa Catalina Fuente de Obispo del
imediato Reyno de Portugal, Provincia del Algarve, termino de la ciudad de Tavira, en donde he sub-
sistido y permanesco invariable y sin diferencia alguna como otro de los Vasallos de Su Magestad y
contribuyendo los impuestos y pechos reales en mi clase, mediante lo qual, y aqui estoy resuelto, y
desde luego abro el domicilio y vecindario de esta Villa con las contribuciones vecinales que hasta
aqui he tolerado y consentido en mi proprio perjuicio y de mis intereses.

Supplico a Ustedes que haviendome por desistido y levantado de este domicilio y cargas vecinales
sean servidos mandar se me tilde y borre en los padrones generales de los demás vecinos, represen-
tandose me en la classe de Hacendado Forastero y incluyendose me en la lista de ellos para la con-
tribución proporcional y justa por las fincas que poseo en esta Villa y su termino.

Asi lo espero en justicia de la recta que este Ilustre Ayuntamiento administre.

Villanueva de los Castillejos, Octubre 30 de 1816.

Sebastián Rodriguez Fermosiño129.

Em 1814, após a derrota e a consequente saída dos franceses, Fermosiño regressaria à


terra natal por uma breve período de tempo. Mas, como se demonstra na carta acima transcrita,
o vínculo a Portugal estava estabelecido, e foi em Santa Catarina da Fonte do Bispo (conce-
lho de Tavira), primeiro, e, a partir de 1831, em Loulé, que estabeleceu a sua residência defi-
nitiva, onde viria a falecer. O seu filho, Sebastián José Rodríguez Fermosiño, ainda residia em
Villanueva de los Castillejos, pelo menos em 1818, altura em que é referido igualmente como
regedor130. Sabe-se, no entanto, que este Sebastián José emigraria, juntamente com a família,

129. Cf. A.M.V.C., Libro de Actas Capitulares, 1815-1821, legajo 13, acta de 30 de Octubre de 1816, s./f.

130. Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves. Refira-se que Sebastián Rodríguez
Fermosiño Rubio era o 7.º avô, pelo lado materno, do genealogista Miguel Centeno Neves.

90
de forma definitiva para o Algarve: de 1831 a 1840, para Loulé, e de 1840 a 1851, para Lagos,
cidade onde viria a falecer131.

d) A crise mineira (decadência e/ou estagnação).

A intensa exploração mineira de finais do século XIX e princípios do século XX levou


a um estancamento e decadência das jazidas mineiras. Com a intensificação da utilização de
técnicas cada vez mais agressivas com o meio ambiente, como, por exemplo, a prática de cal-
cinações ao ar livre utilizando como combustível o monte mediterrâneo, levou ao surgimento
de chuvas ácidas. Estas, por sua vez, começaram a pôr em perigo a continuidade dos trabalhos
agrícolas132.

e) O abandono das «gentes do campo» provocada pela crise vitivinícola originada pela
praga de «filoxera» (1877-1878)133.

Outras das causas que originaram o crescimento da emigração de andaluzes, nomea-


damente das províncias de Cádiz e Málaga, foi a chamada crise da filoxera, de 1877 e 1878134.
Nos anos Setenta do século XIX o sector vinícola já apresentava problemas de escoamento
(sobreprodução) dos seus produtos, com a conseguinte baixa dos preços. Porém, em 1877 e

131. Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves.

132. Cf. MÁRQUEZ DOMÍNGUEZ, Juan A., «El Patrimonio Natural de El Andévalo. Territorio y Paisaje en un
Desarrollo Dificíl», in AA. VV., El Andévalo: território, história y identidade (actas de las I Jornadas del Patrimonio
de El Andévalo, Alosno, Huelva, 19 y 20 Noviembre 2010), Huelva, Disputación de Huelva, 2011, p. 24.

133. Sobre este assunto veja-se, por exemplo, os seguintes estudos: GARCÍA, Cristóbal García, PRIDA, Gonzalo
Butrón, «La Realidade Social Andaluza em el Siglo XIX» (capítulo 6), in Historia de Andalucía Contemporánea,
editada por Leandor Álvarez Rey e Encarnación Lemus López, Huelva, Universidad de Huelva Publicaciones,
1998, p. 183; e, ainda, ROBLEDO, Ricardo, «Crisis agraria y êxodo rural: emigración española a ultramar,
1880‑1920», art. cit., p. 228.

134. «A filoxera é uma doença provocada por um insecto hermafrodita, o filoxera, que se alimenta do suco que
extrai das raízes de certas plantas, nomeadamente das videiras. Nas vinhas europeias, a filoxera provoca nodosida-
des (tumores) nas raízes, que em poucos anos enfraquecem e destroem as cepas.
«Originária da América do Norte, onde foi encontrada pela primeira vez em 1853, nas vinhas selvagens do
Colorado, a filoxera chegou à Europa no início da década de 1860, com as videiras americanas importadas para
combater o oídio. As vinhas francesas foram as primeiras a ser atacadas pela filoxera», in Conceição Andrade
MARTINS, «A filoxera na viticultura nacional», in Análise Social, vol. XXVI, n.º 112-113, 1991, p. 653.

91
1878, com a crise da filoxera, que arruinou muitas plantações de uvas, as exportações do sector
decresceram135.

A destruição dos vinhedos era algo mais do que a perdida de um sector muito intensivo
em mão-de-obra, a que se deve somar as pessoas implicadas na sua comercialização136. Em pou-
co tempo a filoxera destruiu plantações, fez decrescer as exportações e provocou um elevado
índice de desemprego137. E a emigração surgiu com uma solução. Neste particular, a província
de Málaga constituiu um bom exemplo do aumento verificado na emigração, nomeadamente
para o continente americano138.

f) A taxa cambial da moeda espanhola face à moeda portuguesa, que valorizava a peseta
em relação ao real/escudo139.

Trata-se de uma hipótese que até hoje não foi estudada, nem aventada por nenhum in-
vestigador. No entanto, sabe-se que a partir da crise financeira e económica de Portugal de
1891, as moedas dos dois países iniciam um período de desvalorização, que será mais acentua-
do na moeda portuguesa (taxa média de 6,44% ao ano, no caso do real; contra 5,46% ao ano
no caso da peseta), chegando a peseta, em 1898, a valer 204,20 reais. Todavia, a partir de 1898
para o real, e de 1901 para a peseta, assiste-se a um fenómeno de valorização, que, contudo,
será mais sentido no caso do real português até 1907, quando a peseta passa a valer 165,25
reais. Finalmente, as duas moedas passam a seguir caminhos divergentes, com uma progressiva

135. Cf. ROBLEDO, Ricardo, art. cit., p. 228.

136. Cf. ibidem.

137. Para se ficar a saber das consequências da filoxera nos mercados da viticultura veja-se o estudo: MARTINS,
Conceição Andrade, «A filoxera na viticultura nacional», in Análise Social, vol. XXVI, n.º 112-113, 1991,
pp. 653-688.

138. Cf. ROBLEDO, Ricardo, art. cit., p. 228; LACOMBA, J. A., «En Málaga a fines del siglo XIX: filoxera, de-
sindustrialización y crisis general», in Gibralfaro, n.º 26, 1974, p. 119.

139. Para uma boa síntese da política aduaneira e da política cambial na Península Ibérica entre 1850 e 1914
veja-se o estudo: FAÍSCA, Carlos Manuel dos Santos Alves Ferreira, El negocio corchero en Alentejo: explota-
ción forestal, industria y política económica, 1848-1914, tesis doctural en Economía y Empresa, Universidad de
Extremadura, 2019, pp. 240-255. Disponível online no endereço: http://dehesa.unex.es/bitstream/10662/10257/1/
TDUEX_2019_Faisca_CM.pdf (consultada no dia 16 de Junho de 2021).

92
desvalorizarão do real e, a partir de 1911 do escudo, perante uma sempre constante valorização
da peseta, chegando-se a 1914 com uma peseta a valer 0,22 escudos (ou 217,14 reais)140.

A importância das redes sociais e das cadeias migratórias no processo migratório

Conforme escreveu o historiador das migrações Marcelo J. Borges a «escolha de um destino e


a própria mudança resultavam, em grande medida, de mecanismos micro-sociais baseados na
família e nas relações de aldeia»141. Para Borges a imagem do mundo exterior ao local de par-
tida disponível para os aspirantes a migrantes devia muito às relações estabelecidas no interior
dos seus limites.

O historiador que estudou a fundo a emigração portuguesa rumo à Argentina concluiu


que esta não se tratava de um fenómeno nacional, mas, pelo contrário, era um fenómeno com-
posto «por vários fluxos locais baseados em redes sociais». Redes absolutamente centrais na
criação de fluxos migratórios e na adaptação dos novos migrantes aos seus lugares de destino
– facilitando a sua integração, direccionando-os para determinadas actividades e criando um
espaço para a socialização e recriação de laços étnicos142.

As diversas condições geográficas, demográficas e socio-económicas das áreas de ins-


talação ofereciam diferentes tipos de oportunidades e resultaram na formação de comunida-
des distintas. Este nível micro-social revelar-se-ia fundamental para a construção desses fluxos
migratórios locais143. Como aconteceu também para o caso da migração de andaluzes para o
Algarve ao longo do século XIX, com a existência de, pelo menos, dois fluxos migratórios lo-
cais bem identificados: a migração de habitantes de Villanueva de los Castillejos para Loulé e a
de ayamontinos para V.R.S.A. A que se pode acrescentar alguns galegos naturais de Ribadavia

140. Cf. ibidem, pp. 254-255.

141. Cf. Marcelo J. BORGES, «Migrações portuguesas na Argentina: redes transatlânticas e experiências locais»,
in Do Fado ao Tango. Os Portugueses na Região Platina, organização de Maria Helena Chaves Carreiras e de
Andrés Malamud, Lisboa, Mundos Sociais, 2010, p. 16.

142. Cf. BORGES, Marcelo J., «Migrações portuguesas na Argentina: redes transatlânticas e experiências locais»,
art. cit., p. 16.

143. Cf. ibidem, p. 21.

93
(província de Orense) e de Sabajanes (província de Pontevedra) rumo a Vila Nova de Portimão,
ao longo dos últimos anos do século XIX e da primeira década do século XX.

Seguindo os trabalhos de Borges os migrantes não partiam para a Argentina, mas, sim,
para um destino local específico nesse país. Elegendo, igualmente, determinadas actividades,
que, em alguns casos, se transformaram em nichos económicos étnicos. Para, de seguida, nos
fornecer alguns exemplos concretos: os migrantes da Guarda era horticultores nas cercanias
da cidade de Buenos Aires, bem como trabalhadores manuais e agricultores nos concelhos ru-
rais na região Oeste de Buenos Aires; os migrantes oriundos de Leiria trabalhavam nas indús-
trias mineira e cimenteira de Olavarría (nas serras do centro de Buenos Aires); os migrantes de
Viana do Castelo e de Braga tinham-se tornado fabricantes de tijolos nos subúrbios da cidade
de Buenos Aires; os migrantes do Algarve trabalhavam como floricultores e horticultores em
torno da cidade de Buenos Aires e na capital de província, La Plata, e na extracção de petróleo
na Patagónia Central144.

As redes sociais, sendo fundamentais no processo de migração e na consequente instala-


ção do migrante, eram também vitais para a sua integração no mercado de trabalho local. Eram
frequentes os pedidos e as recomendações de trabalhadores por membros da família de pessoas
da mesma aldeia ou região. E, neste caso, as relações entre os determinados membros de uma
família e os seus compatriotas já emigrados constituía um papel essencial na incorporação dos
recém migrantes nos locais de trabalho. Conforme se pode comprovar na existência de corren-
tes migratórias ligadas a lugares de trabalho específicos145.

Por outro lado, as experiências da primeira vaga de migrantes forneciam um esquema


para uma integração de sucesso, ao mesmo tempo que preparavam o caminho para que outros
aspirantes a migrantes também pudessem emigrar. As experiências, os contactos e as diversas
formas de cooperação entre as várias vagas de migrantes ajudaram e estimularam a que essas
redes de migração permanecessem activas durante décadas, ao mesmo tempo que, por outro
lado, também limitavam as possibilidades dos recém-chegados fora do estreito mundo das re-
lações familiares e étnicas146.

144. Cf. ibidem.

145. Cf. ibidem, p. 31.

146. Cf. ibidem, p. 34.

94
Deste modo, e socorrendo-nos novamente dos trabalhos de Marcelo Borges, o historia-
dor dá o exemplo de algumas redes sociais que mantiveram os seus contactos activos durante
décadas entre as vilas de São Brás de Alportel, Boliqueime e Loulé, no Algarve, e a Malcata,
no concelho do Sabugal147. Segundo o historiador as «redes inactivas eram despertadas depois
de um longo hiato, e os aspirantes a migrantes em Portugal, frequentemente, preferiam a fa-
miliaridade destes contactos ao desconhecido mundo dos destinos migratórios alternativos»148.
Ainda segundo o autor esse facto era claramente demonstrado pelo ressurgimento da migração
familiar para Salliqueló (município da província de Buenos Aires) na década de 1950 e início
da década de 1960. Embora as condições sociais e económicas do local de destino se tivessem
alterado, as experiências anteriores e as redes sociais já testadas mostravam o seu magnetismo
e influência, o que deixa pressupor que as forças micro-sociais eram mais poderosas do que os
factores estruturais149.

Deste modo, o aceso aos canais das redes migratórias fornecia conhecimento, oportuni-
dades, mas, ao mesmo tempo, também poderia limitar as opções dos locais de destino. Os mi-
grantes não partiam para um país específico, mas, sim, para um destino local específico dentro
desse determinado país150. Recorrer a tais canais informativos conferia maiores possibilidades
de sucesso relativo aos migrantes que assim procediam.

Deve concluir-se, pois, que seguir o caminho experimentado pelos migrantes que os an-
tecederam e recorrer aos contactos já estabelecidos fazia reduzir os riscos dos novos migrantes
e aumentava as suas oportunidades de sucesso no local de destino151.

Segundo Walter Kamphoefner entre as explicações tradicionais da escolha do destino


pelos migrantes incluem-se as seguintes:

a) O predomínio de um destino principal como opção «por defeito»;

147. Cf. ibidem, p. 37.

148. Cf. Marcelo J. BORGES, «Migrações portuguesas na Argentina: redes transatlânticas e experiências locais»,
art. cit., p. 37.

149. Cf. BORGES, Marcelo J., «Migrações portuguesas na Argentina: redes transatlânticas e experiências locais»,
art. cit., p. 37.

150. Cf. ibidem, p. 37.

151. Cf. ibidem, p. 37.

95
b) A ligação entre emigração e comércio;

c) A continuidade económica e profissional entre os lugares de origem e de destino;

d) A atracção por lugares com religião semelhante aos de origem;

e) A influência do recrutamento directo e da propaganda152.

A que Marcelo Borges, para o caso da migração algarvia para a Argentina, ainda acres-
centa a estas justificações a similitude da língua e uma tradição de contactos e intercâmbios.
Porque, segundo o autor, os migrantes algarvios deveriam preferir, à imagem dos seus restantes
compatriotas nacionais, ter emigrado para o Brasil e não para outro qualquer local de destino.
Porém, não foi isso que aconteceu153. Em 1912, 93% dos migrantes de Portugal continental fo-
ram para o Brasil; contudo, nesse mesmo ano, apenas 16% dos migrantes algarvios seguiram
o mesmo caminho, tendo quase 80% deles decidido rumar até à Argentina154. Concluindo-se,
desta forma e através deste exemplo concreto, que o elemento linguístico não seria necessaria-
mente determinante.

Nos inúmeros trabalhos que a historiadora Maria Ioannis Baganha dedicou ao estu-
do da migração açoriana para o continente americano, em especial para os Estados Unidos da
América e para o Brasil, a autora consegue identificar um «fluxo dicotómico» nessa migração,
isto é, ao escolherem o destino, a influência das redes locais e das experiências migratórias an-
teriores era mais importante do que as características individuais de cada migrante155. A tal con-
clusão já tinha, anteriormente, chegado J. D. Gould ao notar que «é na expansão e sofisticação
crescente do conhecimento sobre o mundo ultramarino que se encontra a mais fundamental de
todas as mudanças históricas relacionadas com a migração intercontinental»156. E, por vezes,

152. Cf. KAMPHOEFNER, Walter, «Quiénes se fueron al sur? La elección de destino entre los inmigrantes
alemanes en el siglo XIX», in Estudios Migratorios Latinoamericanos, n.º 17, 42, pp. 23-26, apud BORGES,
Marcelo J., «Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no Sul de Portugal», in Ler História, Lisboa,
n.º 56, 1999, p. 83.

153. Cf. ibidem.

154. Cf. Emigração Portuguesa, 1901-1912, Lisboa, Imprensa Nacional, 1912, pp. 4-5.

155. Cf. BAGANHA, Maria Ioannis B., Portuguese Emigration to the United States 1820-1930, New York &
London, Garland Publishing Inc., 1990, pp. 30-48.

156. Cf. J. D. GOULD, «European Inter-Continental Emigration, 1815-1914: Patterns and Causes», in Journal of
Economic History, n.º 8, 3, 1979, p. 618.

96
poderia ser esse crescente do conhecimento a chave para um bom processo de migração e para
a sucessiva boa integração na sociedade de acolhimento. Era uma informação transmitida pe-
los pioneiros das correntes migratórias para os que se lhes seguiram. E, normalmente, circulava
por canais pessoais das redes migratórias, que tanto podiam envolver familiares, como amigos
ou vizinhos157.

Contactos que forneciam informações, ajuda e cooperação que serviam de base às ca-
deias migratórias que faziam a ligação entre os lugares de origem e de destino do migrante.
Concluindo Marcelo Borges que o «impacto destas redes primárias torna-se evidente quando
passamos a examinar a distribuição espacial da emigração algarvia do nível regional, mais vas-
to, para o nível micro da emigração por concelho»158.

Verificava-se, deste modo, que a selecção do local de destino era um resultado da análise
e da interação de um conjunto de factores micro e macro. Se, por um lado, a migração represen-
tava uma estratégia laboral na hora de escolher um lugar de estabelecimento temporário ou per-
manente, de acordo com objectivos pessoais e familiares; por outro, tais decisões eram igual-
mente influenciadas por todo um conjunto de circunstâncias – individuais, sociais e locais –,
tomadas no contexto estrutural da mudança159.

Assim, num contexto micro, a escolha do destino dependia das origens locais, dos atri-
butos sócio-demográficos, dos objectivos dos migrantes e da influência das redes sociais e pro-
fissionais. E, num contexto macro, dependia das mudanças ocorridas nos transportes, nos mer-
cados de trabalho e nas políticas migratórias160. Factores, tanto micro como macro, que tanto
podiam criar possibilidades, como estabelecer limites, para o desenvolvimento de determinados
fluxos migratórios.

157. Cf. BORGES, Marcelo J., «Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no Sul de Portugal»,
art. cit., p. 88.

158. Cf. Marcelo J. BORGES, «Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no Sul de Portugal»,
art. cit., p. 94.

159. Cf. BORGES, Marcelo J., «Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no Sul de Portugal»,
art. cit., p. 101.

160. Cf. ibidem, p. 102.

97
2.4. Villanueva de los Castillejos: uma breve caracterização geográfica e sócio-económica
(século XVIII – 1920)

Nos finais do século XVIII Villanueva de los Castillejos era uma povoação próspera e dinâmi-
ca. Localizada a cinco léguas a Oeste de Gibraleón – sede do Marquesado homónimo – e a sete
léguas de Huelva – sede da província homónima. O caminho para Gibraleón fazia a ligação de
Villanueva de los Castillejos a Sevilha, capital da Andaluzia161.

Até ao início da Guerra da Independência, em 1808, a povoação era economicamente


pujante. Não obstante de ter sido castigada economicamente, ao longo do século XVII, com as
guerras de independência portuguesas (1640-1668), Castillejos passou por um período de gran-
de crescimento económico durante o século XVIII, alavancado pela procura de novos recursos
alimentícios para uma população que não parava de crescer em toda aquela zona162. Essa cres-
cente procura de alimentos originou uma necessidade de exploração de novos terrenos agríco-
las, gerando, por vezes, «graves disputas por montes de propios y tierras comunales»163.

Deste modo, através da ocupação agrícola de terrenos até então baldios, estendeu-se o
cultivo de cereais, intensificou-se a exploração de gado ovino e suíno e aproveitaram-se outros
recursos alimentícios (como o mel e o azeite), bem como derivados da cortiça (rolhas de corti-
ça). Esta comercialização provocou uma abertura e um crescimento da povoação a nível econó-
mico, base, por sua vez, de um regular e sustentável crescimento demográfico164.

O crescimento demográfico verificado em Castillejos nos finais do século XVII e ao lon-


go do século XVIII é, assim, impulsionado pelo cada vez maior desenvolvimento das explora-
ções cerealíferas e ganadeiras na região do Andévalo165. Veja-se o seguinte quadro.

161. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p. 29. Sobre este assunto veja-se os Anexos cartográficos n.º 3 e n.º 4.

162. Cf. ibidem, p. 32.

163. Cf. Antonio MIRA TOSCANO, Juan VILLEGAS MARTÍN, Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, op. cit., p. 32.

164. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p. 32.

165. O Andévalo andaluz (ou El Campo de Andévalo) é composto pelos seguintes dezasseis municípios: Almedro
(El), Alosno, Cabezas Rubias, Calañas, Cerro de Andévalo (El), Granado (El), Paymogo, Puebla de Guzmán, San
Bartolomé de la Torre, San Silvestre de Guzmán, Sanlúcar de Guadiana, Santa Bárbara de Casa, Valverde del
Camino, Villablanca, Villanueva de las Cruces e, finalmente, Villanueva de los Castillejos.

98
«vecinos»» de Villanueva de los Castillejos, entre 1693 e 1780
Quadro n.º 2.07: Número de «vecinos

Anos 1693 1744 1751 1780


N.º de «Vecinos» 444 460 555 885

Fontes: MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, La batalla
de Castillejos e la Guerra de la Independencia en el Andévalo occidental, Punta Umbría, Diputación Provincial de
Huelva, Servicio de Publicaciones, 2010, pp. 34-35.

O sector ganadeiro apresentava-se como um dos sectores mais relevantes e dinâmicos


na estrutura económica das povoações do Andévalo. No caso de Castillejos tal facto não fugia
à regra: o seu numeroso e diversificado conjunto de gado (ovelhas, cabras, cavalos, burros, por-
cos e vacas) podia, com facilidade, abastecer-se de pastos no término da vila sem necessidade
de ter de ir para pastagens de municípios vizinhos166. Em 1810 existiam dois grandes rebanhos
de gado na vila: o ovino, com 20 692 cabeças; e o caprino, com 6 891 cabeças167. O que fazia de
Castillejos um dos maiores e mais importantes centros ganadeiros de toda a região.

Refira-se que os denominados «próprios» – designação que se dava aos terrenos baldios
comunitários, administrados por cada município, e normalmente utilizados pelos habitantes
para a criação da pecuária – foram, desde sempre, fundamentais para assegurar as necessárias
pastagens, situação que durante o Antigo Regime se revelou fundamental para sustentar a im-
portância da actividade ganadeira na vila.168.

Outra actividade de relevo em todo o Andévalo, em geral, e em Villanueva de los


Castillejos, em particular, foi a indústria da apicultura, que gozava de enormes extensões «po-
bladas de vegetación de monte»169. Em meados do século XVIII contavam-se na vila 2 785 col-
meias de produção, de onde se colhiam grandes quantidades de mel e cera170. A Igreja era pro-

166. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
pp. 39-40.

167. Cf. ibidem, p. 40.

168. Cf. ibidem.

169. Cf. Antonio MIRA TOSCANO, Juan VILLEGAS MARTÍN, Antonio SUARDÍAZ FIGUEREO, op. cit., p. 40.

170. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit.,
p. 40.

99
prietária de dois moinhos de produção de cera, que tanto podiam servir para seu auto-consumo
como para exportar para Sevilha, Cádiz e a outras regiões da América171.

Além das actividades agrícolas e ganadeiras, a vila contava, igualmente, com outras in-
dústrias, das quais se destacavam algumas fábricas de botões (de ferro e de cobre) e de peles
(extraídas da actividade ganadeira) destinadas à exportação172.

Numa economia de base tão marcadamente agrária era notório o peso do sector primá-
rio no total da população activa. Em 1750 Villanueva de los Castillejos albergava um total de
609 pessoas profissionalmente activas, distribuídas por trinta e cinco ocupações profissionais
diferentes. De entre o total dessa população activa a categoria profissional quantitativamente
mais em evidência era a dos jornaleiros (com 482, cerca de 79%), seguida pelos moleiros (com
37, cerca de 6%), distribuindo-se os restantes noventa trabalhadores por mais trinta e três ocu-
pações distintas173.

Assentando em três diferentes pilares de crescimento ao longo do século XVIII – eco-


nomia activa, crescimento demográfico e local estratégico formando um importante nó de co-
municações174 –, Villanueva de los Castillejos haveria de se ver convertida durante a Guerra da
Independência em Quartel-General das tropas castelhanas a operar na região175. E, deste modo,
em poucos anos os habitantes do Andévalo veriam todas as suas terras, ruas e habitações con-
vertidas em cenário de combates, saques e extorsões sem paralelo. A Guerra da Independência,
que, paradoxalmente, teve o condão de retirar Villanueva de los Castillejos do anonimato histó-
rico, teve, ao mesmo tempo, o condão de punir, de forma severa, toda uma população regional
que não se recuperaria novamente até muito tempo após o término do conflito militar176.

Conforme se comprova através de documentação oficial depositada no Archivo


Municipal de Villanueva de los Castillejos (A.M.V.C.), a Guerra da Independência originou
uma situação de ruína económica para o município, pese embora o cabildo ainda pudesse contar

171. Cf. ibidem, p. 40.

172. Cf. ibidem, p. 41.

173. Cf. ibidem, p. 42.

174. Cf. ibidem, p. 46.

175. Cf. ibidem, p. 46.

176. Cf. ibidem.

100
com o recurso à venda dos seus «montes propios». Em 1812 vendeu-se o «fruto de la bellota de
la Dehesa Yeguar para hacer frente a ‘los crescidos y exorvitantes costos y dispendios que a este
cabildo se le han ofrecido con la continuación de las tropas que han existido en este pueblo’»177.
E através dessa venda conseguiu-se amealhar algum dinheiro.

Sobre toda a ruína provocada pela Guerra da Independência chegou até aos nossos
dias uma acta capitular, datada de 16 de Maio de 1813, conservada no Archivo Municipal de
Villanueva de los Castillejos. A descrição é sintomática da devastação provocada no município:

El Ayuntamto Constitucional de la Villa de Va nueva de los Castillejos con el devido respeto ante V.S.
[el intendente general de los Ejércitos de Andalucía] dice qe con el motivo de haber sido esta Villa
Quartel Genl de nuestras Tropas 32 meses continuados habersele hecho teatro de la Guerra entrando-
le a fuego ferosmente el Enemigo Frances 17 ocaciones presentandole ataques de mucha sangre en
sus exidos y calles prendidole fuego a todos sus molinos robado las casas y campos llevandose los
ganados unico interes de esta tierra, ser ella de calidad de Sierra esteril y secana sin lavores ni cose-
chas y haber emigrado y transmigrado a las breñas del Guadiana y Reyno de Portugal el Vecindario,
ha quedado este Pueblo en la mayr miseria pobreza y doloroza indigencia faltandole muchos havi-
tantes, sus havitaciones destruidas, y quemadas, y reducidos sus bienes a menos de la decima parte
qe antes de la Guerra tenian […]178.

Por outro lado, os dois processos de desamortização levados a cabo em 1837 e 1856 se-
rão responsáveis pelo desaparecimento, mediante leilão, da esmagadora maioria dos «montes
de propios» pertencentes ao município; tendo este apenas conseguido reter 2 500 hectares de
terras que hoje em dia formam parte da sua «Dehesilla Municipal»179. E, como refere Blanca
Sánchez Alonso, estes processos de desamortização, especialmente aqueles em que esteve en-
volvida a privatização de patrimónios municipais comunitários, deram lugar a um maior apro-
fundamento das diferenças económicas e sociais, o que poderá ter tido um reflexo numa maior
propensão para a emigração quando a situação nos países receptores era mais favorável180.

177. Cf.A.M.V.C., «Sobre la venta pública de la bellota de la Dehesa Yeguar, ante los apuros económicos por los
que pasa el cabildo», legajo 202, documento de 1812.

178. Cf. A.M.V.C., Libro de Actas Capitulares, 1809-1813, legajo 11, documento de 16 de Mayo de 1813.

179. Cf. Juan Manuel Núñez MÁRQUEZ, «Villanueva de los Castillejos», art. cit., p. 1264.

180. Cf. ALONSO, Blanca Sánchez, Las causas de la emigración española, 1880-1930, op. cit., pp. 277-278.

101
Em 1850 Pascual Madoz, no seu Diccionario Geografico-Estadistico-Historico de
España y sus Posessiones de Ultramar, descrevia a produção da vila da seguinte maneira: tri-
go, cevada, vinho, figos e azeite; havia também produção de vacas, cabras, porcos e caça maior
e menor181. Em relação à indústria, o mesmo Diccionario referia a existência de varias fábricas
de botões de metal amarelo, dos quais abastecem quase toda a Península; outras de panos ca-
seiros, chamados «frisas»; e, ainda, algumas de curtidos e de cera, cujos artigos exportam em
crescentes quantidades182.

Em finais do século XIX Villanueva de los Castillejos transforma-se no mais próspe-


ro centro do Andévalo, ultrapassando Puebla de Guzmán em importância económica, indús-
tria, comércio e serviços. Em 1858 é justamente em Villanueva de los Castillejos que se inicia
a exploração de manganês (também designado por manganésio), e, atendendo à qualidade do
minério, o registo de concessões de exploração rapidamente se alastra a outros municípios vizi-
nhos. Assim, em poucos anos, foram concedidas licenças para exploração de manganês nos se-
guintes oito municípios: Calarias, Zalamea la Real, Almonaster, Alosno, El Cerro, Valverde del
Camino, El Almendro e Puebla de Guzmán183. Castillejos participa, também, através da emis-
são de mão-de-obra, na «febre mineira» da província de Huelva, iniciada na década de 1870184.

Já perto do final de Oitocentos, isto é, em 1887, Pablo de Riera aludia ao facto de as


principais produções da vila serem os cereais, os legumes, as hortaliças, as frutas, as pastagens,
o vinho e o azeite. Mantendo-se a criação de vários tipos de gado necessário para os trabalhos
agrícolas, assim como vários tipos de caça185. A indústria que mais proliferava na vila era, pois,

181. Cf. PASCUAL MADOZ, Diccionario Geografico-Estadistico-Historico de España y sus Posessiones de


Ultramar, Madrid, s./e., 1845-1850, p. 131.

182. Cf. ibidem.

183. Cf. GARCIA, João Carlos, A Navegação no Baixo Guadiana durante o Ciclo do Minério (1857-1917),
vol. I, [texto policopiado], tese de Doutoramento em Geografia Humana apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Porto, s./n., 1996, p. 122.

184. Cf. AA. VV., Atlas de la Historia del Territorio de Andalucía, s.l., Junta de Andalucía, Consejería de Vivienda
y Ordenación del Territorio, 2009, p. 193.

185. Cf. RIERA, Pablo, Diccionario Geográfico, estadístico, histórico, biográfico, postal, municipal, marítimo
y eclesiástico de España y sus Posesiones de Ultramar, tomo XI, Barcelona, Imprenta y Librería Religiosa y
Científica del Herdeiro de D. Pablo de Riera, 1887, p. 493.

102
a indústria agrícola, ainda que a manufactura se encontrasse representada por um bom número
de teares e outros ofícios mecânicos de maior necessidade186.

No início do século XX, para lá dos cinco moinhos de farinha, o município contava
ainda com as seguintes unidades fabris: uma fábrica de botões de metal, uma fábrica de cur-
tumes, quatro fábricas de chapéus e duas fábricas de telhas187. Havia também uma indústria de
chapéus e outra de doces, nomeadamente de bolachas. Porém, as indústrias mais importantes
em Castillejos eram a dos botões de metal e a dos instrumentos para a ceifa, a qual veio, com os
anos, a perder peso para outras regiões de Espanha188.

Como bem observou o geógrafo João Carlos Garcia, nos alvores do século XX já se as-
sistia a uma «confrontação entre Puebla [de Guzmán] e Castillejos pelo controlo do espaço in-
terior. A primeira e histórica capital do Andévalo agora reanimada pela vida mineira, a segunda
centro agro-pecuário, importante nó viário»189. E era verdade. O epicentro do Andévalo tinha-se
deslocado geograficamente para Castillejos. Para tal, em muito tinham contribuído dois facto-
res: o crescente desenvolvimento da região costeira (como, por exemplo, nos municípios de
Ayamonte, da Isla Cristina e de Punta Umbría) e o fenómeno mineiro de Puebla que, afinal, lhe
escapa em larga medida, já que as explorações activas se encontravam em mãos de sociedades
e de industriais estrangeiros, nomeadamente ingleses190.

186. Cf. ibidem, p. 492.

187. Cf. PINTADO, A., BARRENECHEA, E., A raia de Portugal, a fronteira do subdesenvolvimento, Porto, edi-
tora Afrontamento, 1974, p. 25.

188. Cf. ibidem, p. 25.

189. Em Maio de 1913 é lançada em concurso público a iluminação pública de Villanueva de los Castillejos, in
Boletim Oficial da Provincia de Huelva, 28 de Maio de 1913, p. 3.

190. Cf. GARCIA, João Carlos, A Navegação no Baixo Guadiana durante o Ciclo do Minério (1857-1917),
vol. II, [texto policopiado], tese de Doutoramento em Geografia Humana apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Porto, [s.n.], 1996, p. 610.

103
Quadro n.º 2.08: População presente e legal em Villanueva de los Castillejos, entre 1842 e 1920

População (1) Crescimento entre censos (2) Tx. média


Ano
Presente Legal Presente Legal anual (3)

1842 2 996
1857 3 442
1860 3 350 -92 -30,67
1877 2 853 2 978 -497 -29,24
1887 2 711 2 732 -142 -246 -14,2
1897 2 564 2 660 -147 -72 -14,7
1900 2 537 2 529 -27 -131 -9
1910 2 536 2 554 -1 25 -0,1
1920 2 714 2 803 178 249 17,8

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.
Notas:
(1) A população presente corresponde à «población de hecho», isto é, a população que se encontrava na fregue-
sia à data do censo, incluindo os residentes temporários. A população legal ou população residente corresponde à
«población de derecho», isto é, a população residente no total do município, incluindo aqueles que se encontravam
ausentes à data do censo.
(2) O crescimento entre censos é calculado mediante a subtracção da população no início do período entre os dois
censos à população no final do mesmo período.
(3) A taxa média anual é o rácio calculado entre a variação entre censos da população presente sobre o número de
anos correspondente a esse intervalo censitário.

Gráfico n.º 2.01: População residente em Villanueva de los Castillejos, entre 1842 e 1920

4 000
3 500
3 000
2 500
2 000
1 500
1 000
500
0
1842 1857 1860 1877 1887 1897 1900 1910 1920

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

104
Entre os censos de 1857 e 1900 a população presente em Castillejos apresenta uma ten-
dência de contínuo decréscimo. Nesse período de pouco mais de quatro décadas o município vê
a sua população residente perder 905 habitantes (de 3 442 para 2 537), isto é, um decréscimo
de cerca de 26,3%.

Decompondo por períodos mais curtos verifica-se que as décadas de 1860 e de 1870
foram aquelas em que Castillejos perdeu mais residentes, sendo que entre 1857 e 1877 a popu-
lação residente decresceu a uma taxa média anual de 30; e entre 1877 e 1897 decresceu a uma
taxa média anual de 14. Para tal facto terão concorrido as grandes epidemias de cólera de 1854
e de 1885, assim como a grande fome de 1882, que incidiram sobre uma população já de si de-
bilitada e com escassos recursos191.

Se em 1845 o município contava com 2 996 habitantes, em 1900 só tinha 2 537, crise de-
mográfica surpreendente, tendo em conta o começo da exploração das minas de manganeso na
região (complexos mineiros de Mina Segura, El Carril, Albertina, Plazuelas ou Los Guijos)192.
Deste modo, conclui-se que a emigração de agricultores não foi compensada com a chegada de
novos operários mineiros.

(«Población de Derecho»)
Quadro n.º 2.09: População legal («Población Derecho») em Villanueva de los Castillejos,
Andévalo e província de Huelva, entre 1842 e 1920193

1842 1857 1860 1877 1887 1900 1910 1920


V. de los
2 996 3 442 3 350 2 978 2 732 2 529 2 554 2 803
Castillejos
Andévalo 26 156 33 741 32 795 39 831 44 984 43 798 47 046 53 387
Província
134 818 174 391 176 626 210 447 254 831 260 880 295 898 331 527
de Huelva

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920 e
LEMUS LÓPEZ, Encarnación (coord.), ÁLVAREZ REY, Leandro (coord.), Historia de Andalucía Contemporánea,
Huelva, Universidad de Huelva Publicaciones, 1998, p. 182.

191. Cf. MÁRQUEZ, Juan Manuel Núñez, «Villanueva de los Castillejos», art. cit., p. 1264.

192. Cf. ibidem, p. 1267.

193. Para se ter uma visão mais completa da evolução demográfica registada em alguns municípios da província
de Huelva, assim como da província de Huelva, da Andaluzia e de Espanha, entre 1842 e 1920, veja-se o Apêndice
documental n.º 1.

105
Este decréscimo populacional verificado na segunda metade do século XIX em
Villanueva de los Castillejos mais se evidencia no conjunto da comarca histórica do Andévalo,
em particular, e da província de Huelva, em geral.

De facto, uma análise comparativa com os restantes municípios do Andévalo, revela que
o crescimento negativo da população de Villanueva de los Castillejos avança em contra-ciclo
com os restantes municípios da comarca. De todos os municípios do Andévalo, só Castillejos
e Paymogo é que tinham menos população em 1900 do que em 1842194. Porque, à excepção de
Castillejos e de Paymogo, todos os restantes municípios do Andévalo apresentam taxas de cres-
cimento populacionais positivas entre os censos de 1842 e 1900: Alosno (190,4%), Cabezas
Rubias (28,6%), Calañas (266,5%), El Almendro (39,3%), El Cerro de Andévalo (80,6%), El
Granado (131,6%), Puebla de Guzmán (3,2%), San Bartolomé de la Torre (114,3%), Sanlúcar del
Guadiana (16,3%), Santa Bárbara de Casa (123,6%), Valverde del Camino (25,4%), Villablanca
(120,8%), Villanueva de las Cruces (109,5%), sendo que apenas Paymogo (-1,6%) e Villanueva
de los Castillejos (-15,6%) apresentam taxas de crescimento populacional negativas. Porém, se
se comparar o crescimento negativo da população de Castillejos com a evolução demográfica
da comarca do Andévalo, em particular, e com a província de Huelva, em geral, verifica-se que
o crescimento negativo da população de Castillejos avança também em contra-ciclo com o cres-
cimento positivo verificado no Andévalo (cresce 67,4% entre 1842 e 1900), quer na província
de Huelva (cresce 93,5% entre 1842 e 1900).

Todavia, só a partir da primeira década do século XX, Castillejos vê a sua população


aumentar, tendência que se manterá até 1920. Entre 1900 e 1920, o município revela uma taxa
de crescimento de cerca de 10,8%, em ciclo, mas com menor intensidade, com as taxas de
crescimento populacional verificadas quer no Andévalo (21,9%) quer na província de Huelva
(27,1%), para o mesmo período de tempo.

194. Veja-se o Apêndice documental n.º 1.

106
Quadro n.º 2.10: Variação intercensitária da população legal ou residente em Villanueva de los
Castillejos, Andévalo e província de Huelva, entre 1842 e 1920195 (em %)

1842/57 1857/60 1860/77 1877/87 1887/00 1900/10 1910/20


V. de los
14,89 -2,67 -11,10 -8,26 -7,43 0,99 9,75
Castillejos
Andévalo 29,00 -2,80 21,45 12,94 -2,64 7,42 13,48
Província
29,35 1,28 19,15 21,09 2,37 13,42 12,04
de Huelva

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

Gráfico n.º 2.02: Taxas de crescimento intercensitárias de El Almendro, Villanueva de los


Castillejos e Andévalo (em %)
35
30
25
20
15
10
5
0
1842/1857 1857/1860 1860/1877 1877/1887 1887/1897 1897/1900 1900/1910 1910/1920
-5
-10
-15

El Almendro Villanueva de los Castillejos Total do Andévalo

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 1878, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

Na segunda metade do século XIX Castillejos apresenta cinco taxas de crescimento po-
pulacional intercensitárias negativas consecutivas, numa tendência de constante diminuição da
sua população residente entre 1857 e 1900.

195. Para se ter uma visão mais completa das variações intercensitárias registadas em alguns municípios da pro-
víncia de Huelva, assim como da província de Huelva, da Andaluzia e de Espanha, entre 1842 e 1920, veja-se os
Apêndices documentais n.º 2 e n.º 4.

107
Quadro n.º 2.11: Densidade populacional em Villanueva de los Castillejos, Andévalo, provín-
cia de Huelva, Andaluzia e Espanha entre 1842 e 1920 (em habitantes/km2)

1842 1857 1860 1877 1887 1900 1910 1920


V. de los Castillejos 11,35 13,04 12,69 11,28 10,35 9,58 9,67 10,62
Andévalo 10,42 13,44 13,07 15,87 17,92 17,45 18,74 21,27
Província de Huelva 13,31 17,22 17,44 20,78 25,16 25,76 29,22 32,73
Andaluzia – 33,54 33,99 40,2 41,8 43,0 45,8 50,0
Espanha – – – 32,9 34,7 36,8 39,4 42,2

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

A fraca densidade populacional de Villanueva de los Castillejos, quando comparada


com a da província de Huelva e com a da Andaluzia, deixa evidenciar um município eminente-
mente rural, que vive da agricultura e da criação de gado.

Se, até 1887, as densidades populacionais de Castillejos e do Andévalo eram pratica-


mente idênticas, a partir desse ano a densidade populacional da comarca dispara, para nunca
mais parar de crescer até 1920. Situação explicável pela queda demográfica evidenciada por
Castillejos, em contraponto ao crescimento populacional do Andévalo, que passa dos 44 984
habitantes em 1887 para os 53 387 em 1920.

Comparando-se o Andévalo com o resto da província de Huelva verifica-se que essa


comarca apresenta também densidades populacionais inferiores à província, resultado de o
Andévalo ser também caracterizado por grandes índices de ruralidade.

2.5. El Almendro: uma breve caracterização geográfica e sócio-económica (século XIX –


1920)

O município de El Almendro, ou simplesmente Almendro como também por vezes é referido,


limita a Norte com Puebla de Guzmán, a Sul com El Granado e Villanueva de los Castillejos, a
Este com Alosno e a Oeste com Portugal. A sua localização fronteiriça originou que, ao longo
dos anos, El Almendro tivesse sido palco de inúmeros conflitos militares com Portugal, mas
também uma importante via de comunicação entre a região de Mértola e a província de Huelva.

108
A povoação foi gravemente destruída durante a Guerra da Independência. Desse facto,
dá conta uma memória, manuscrita em 1814, que relata todas as dificuldades pelas quais a po-
voação passou:

Del común más antiguo y desde el de 1809 aquella villa por su situación local y demás buenas cir-
cunstancias, se hizo el punto de reunión de tropas de paysanos (…) destinadas a guarnición y res-
guardo de la raya de Portugal (…) hasta agosto de 1812 em que recibieron a las tropas españolas em
dicha villa de los Castillejos y este su contiguo pueblo de El Almendro, cuartel general de ellas, y por
ello se hizo este terreno el sangriento teatro de las guerra (…) exhaustos totalmente de dineros, gra-
nos, ganados y demás efectos necesarios para suministrar a las tropas residentes que pedían socorro
com la mayor urgencia y perentoriedad, conmiando, amenazando y aun castigando a los indivíduos
del Ayuntamiento y vecinos, y em tal conflicto em cabildo abierto se resolvió disponer de la única
Dehesa de Propios arrendándola temporalmente por via de adjudicamiento a los vecinos ganaderos
que aunque destruidos, podían tener algunos arbitros.

Los grandes apuros que llegó a padecer el vecindario de ella y su Ayuntamiento em abril, mayo e
junio de dicho año de 1812, hallándose dicha corporación y los pocos vecinos que habían quedado
de la emigración casi general, exhaustos totalmente196.

O esforço que a guerra provocou foi elevado, como relatava, em 1904, o Padre Emiliano
Rodriguez na sua inédita monografia de El Almendro:

Para suministrar las raciones de boca y demás artículos y auxilio que necesitaban las tropas españo-
las residentes y transeúntes, durante los anos de mil ochocientos diez, once y doce, viose [sic] el
Ayuntamiento de esta Villa en la imperiosa necesidad de echar mano y valerse de todos los fondos
públicos y erarios comunes de los proprios y arbitrios del pueblo, Pósito Real, Contribuciones y re-
partos vecinales, utensilios para la caballería, limosna de Bulla correspondiente á los dos años de mil
ochocientos diez y once y el precio total en que fue vendida y rematada á publica subasta el encinal
conocido con el nombre de ‘DEHESA DEL TAMUJOSO’ finca de proprios situada entre la Puebla
[de Guzmán] y Paymogo que pertenencia á este Ayuntamiento197.

E, deste modo, muitos habitantes não tiveram outra solução senão emigrar para o vizi-
nho reino de Portugal, conforme nos volta a informar o padre monografista:

196. Cf. A.M.E.A., «La guerra de la Independencia», legajo 72, documento de 1814.

197. Cf. Padre Emiliano RODRIGUEZ, Monografia de El Almendro, El Almendro, 1904, fl. 5.

109
Entonces fue cuando se desmembró esta población emigrando casi todo su vecindario a otros pue-
blos donde no se dejaba sentir el azote de la guerra y muy especialmente al vecino Reino de Portugal,
en donde los mas acaudalados, abandonando para siempre sus [5] moradas, se establecieron y fijaron
definitivamente su residencia198.

A devastação provocada pela Guerra da Independência foi total. Perderam-se animais e


pastagens. E grande parte dos documentos depositados no Arquivo Municipal foram queimados
pelos franceses. O que iria constituir um enorme problema nos anos posteriores, uma vez que as
vereações que se seguiram tiveram grandes dificuldades para apresentar, junto da Intendência
da Andaluzia, os recibos justificativos dos enormes prejuízos que sofreram, e, sem a apresenta-
ção de tal documentação, mais dificilmente seriam indemnizados pela Intendência

[…] quedando al fin esta población casi sin habitantes, sumida en la mas espantosa miseria y sin re-
tribución ni premio que coronara los enormes gastos y prejuicios que lo ocasionó la guerra.

Restablecida ya la paz en la Península se hizo una minuciosa [5v.º] estadística de su restante vecin-
dario, a fines del año mil ochocientos catorce notándose que su población había desceñido, de una
manera rápida, a tercera parte del que antes tenia; es decir, a ciento treinta y dos vecinos, que su-
maban seiscientos treinta habitantes, pobres en su mayor parte199.

Assim, em apenas seis anos a população de El Almendro ficou reduzida a um terço da


que registava antes do conflito com os franceses. Perda demográfica que levaria alguns anos a
ser restabelecida.

Com os processos de desamortizações levados a cabo em 1837 e 1856 o município foi


obrigado a vender legalmente, em leilão, os bens que faziam parte do seu património local, os
chamados «bienes de proprios y comunales», e que, por essa via, constituíam a base de susten-
to de muitas famílias200. O município foi, desta forma, forçado a vender a esmagadora maioria
da superfície que compunha a sua «dehesa boyal», que se estendia por 1 505 hectares de pasta-
gens várias201, e que constituía a principal fonte de alimentação dos animais – maioritariamente

198. Cf. ibidem, fls. 4v.º-5.

199. Cf. ibidem, fls. 5-5v.º.

200. Cf. MÁRQUEZ, Juan Manuel Núñez, «El Almendro», art. cit., p. 61.

201. «Esta se extendía por 1 504 has., 39 áreas y 59 centiáreas, de pastos, jaras, brezos, jaguarzo, cantueso y 83
pinetes, que eran aprovechadas por cabras y otros ganados del vecindario» in «Subasta de la dehesa boyal en el

110
cabras e porcos – criados pelos habitantes da vila202. Este facto originou um impacto negativo
na economia local, levando muitos dos seus habitantes à falência.

Em 1850 o comércio do município era discriminado em três categorias: um reduzido


número de pequenos capitalistas que se dedicavam à compra de cereais, cera e outros frutos no
país; alguns almocreves que exerciam a sua actividade, quase exclusivamente, em Portugal e
na região da Extremadura espanhola; e, ainda, outros almocreves que transacionavam pescado
da costa de Ayamonte203. Fluxo de almocreves com Portugal que vinha, pelo menos, do século
anterior, conforme nos informa uma elucidativa memória de 1751:

En 1751, cuando se redactó el interrogatorio de la Única Contribución, el pueblo contaba con un


molino hidráulico y dos de viento para moler el trigo, y cuatro para exprimir cera, cuya materia pri-
ma procedía, en parte, de las 1 050 colmenas existentes dentro del término, a la que había que su-
mar la procedente de Portugal, ya que, junto a las actividades agrícolas, según un libro de visitas,
la ‘principal entrada es el tráfico de harriería204 [sic], especialmente a Portugal, trayendo pieles y
cera para labrarla y conducir a venderla a otras partes’205. Un siglo después se mantenía esta activi-
dad, pues se mencionan igualmente cuatro o cinco lugares y fábricas de cera206. Otro tanto se puede
decir de la harriería [sic], que mantenía tráfico de mercancías con Portugal, Extremadura y la costa
de Ayamonte207.

Em 1883, no seu Diccionario Geográfico, estadístico, histórico, biográfico, postal, mu-


nicipal, marítimo y eclesiástico de España y sus Posesiones de Ultramar, Pablo Riera informava
que a agricultura continuava a ser a indústria mais importante do município; porém, mencionava,

Almendro», in Boletin Oficial de la Provincia de Huelva, n.º 86, de 29 de Diciembre de 1886, apud MÁRQUEZ,
Juan Manuel Núñez, «El Almendro», art. cit., p. 61.

202. Cf. «Subasta de la dehesa boyal en el Almendro», in Boletin Oficial de la Provincia de Huelva, n.º 86, de 29
de Dezembro de 1886.

203. Cf. MADOZ, Pascual, Diccionario Geografico-Estadistico-Historico de España y sus Posessiones de


Ultramar, Madrid, s./e., 1845-1850, p. 10.

204. «Arriería» é a palavra que designa o ofício de «arrieiro», isto é, aquele que se movimenta através de bestas
de carga, que era o transporte mais comum no século XVIII.

205. Cf. Archivo del Arzibispado de Sevilla, Libro de Visitas, tomo 68.

206. Cf. MADOZ, Pascual, Diccionario Geografico-Estadistico-Historico de España y sus Posessiones de


Ultramar, Madrid, s./e., 1845-1850, tomo 11, p. 100.

207. Cf. BENDALA GALAN, Antonio de Manuel, in «El Almendro», Consejería de Cultura y Medio Ambiente,
Delegación Provincial Junta da Andalucía, 1992, pp. 30-32.

111
igualmente, a existência de fábricas de chapéus, a criação de gado e o comércio de vários fru-
tos. Riera referia que o terreno era bastante montanhoso e pouco fértil, existindo abundantes
pastagens e ervas medicinais. A produção era composta por grãos, legumes e frutas escassas.
A produção ganadeira do município era composta por carneiros, ovelhas, vacas, mulas e cava-
los, muito idêntica à criação ganadeira de Castillejos. A caça era abundante e havia, igualmen-
te, algumas colmeias, que produziam uma excelente cera e mel, que eram vendidos por toda a
região208. Economia local muito idêntica à do município vizinho de Castillejos.

Observe-se, agora, a evolução demográfica desta povoação:

Quadro n.º 2.12: População presente e legal em El Almendro, entre 1842 e 1920

População (1) Crescimento entre censos (2) Tx. média


Ano
Presente Legal Presente Legal anual (3)
1842 794
1857 990
1860 1 070 80 26,67
1877 965 984 -105 -6,18
1887 1 122 1 121 157 137 15,7
1897 1 223 1 125 101 4 10,1
1900 1 261 1 106 38 -19 12,67
1910 1 020 1 017 -241 -89 -24,1
1920 1 318 1 304 298 287 29,8

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

Notas:
(1) A população presente corresponde à «población de hecho», isto é, a população que se encontrava na fregue-
sia à data do censo, incluindo os residentes temporários. A população legal ou população residente corresponde à
«población de derecho», isto é, a população residente no total do município, incluindo aqueles que se encontravam
ausentes à data do censo.
(2) O crescimento entre censos é calculado mediante a subtracção da população no início do período entre os dois
censos à população no final do mesmo período.
(3) A taxa média anual é o rácio calculado entre a variação entre censos da população presente sobre o número de
anos correspondente a esse intervalo censitário.

208. Cf. RIERA, Pablo, Diccionario Geográfico, estadístico, histórico, biográfico, postal, municipal, marítimo
y eclesiástico de España y sus Posesiones de Ultramar, tomo IV, Barcelona, Imprenta y Librería Religiosa y
Científica del Herdeiro de D. Pablo de Riera, 1883, p, 187.

112
Gráfico n.º 2.03: População residente em El Almendro, entre 1842 e 1920
1 400

1 200

1 000

800

600

400

200

0
1842 1857 1860 1877 1887 1897 1900 1910 1920

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

Verifica-se que as décadas em que o município de El Almendro mais decresceu a nível


demográfico foram os períodos entre 1860 e 1877 e entre 1900 e 1910. Durante o primeiro pe-
ríodo a população residente decresceu a uma taxa média anual de 6,18, enquanto que entre 1900
e 1910 o decréscimo se deu a uma taxa média anual de 24,1.

Quadro n.º 2.13: População legal ou residente e número de habitantes por km2 do município
de El Almendro, entre 1842 e 1920

1842 1857 1860 1867 1877 1887 1900 1910 1920


Habitantes 794 990 1 070 984 1 121 1 125 1 106 1 017 1 304
Habitantes/km2 4,64 5,79 6,26 5,75 6,56 6,58 6,47 5,95 7,63

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

Quadro n.º 2.14: Variação percentual intercensitária da população de El Almendro, entre 1842
e 1920

1842/57 1857/60 1860/77 1877/87 1887/97 1897/00 1900/10 1910/20


24,69 8,08 -8,04 13,92 0,36 -1,69 -8,05 28,22

Fontes: Censos gerais de la población española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

113
Neste capítulo concluiu-se que as causas da emigração espanhola foram múltiplas e va-
riadas. Numa análise mais específica do ponto de vista geográfico, verificou-se que a zona de
maior emigração andaluza rumo ao Algarve foi a proveniente da comarca do Andévalo, uma das
três comarcas históricas da província de Huelva. E, no seio desta comarca, dois municípios vizi-
nhos concentraram a larga maioria dos emigrantes: Villanueva de los Castillejos e El Almendro.

A primeira vaga dessa emigração rumo ao Algarve terá ocorrido durante a Guerra da
Independência, nomeadamente, durante o período em que o conflito foi mais intenso na região,
de 1810 a 1813. Para tal, em muito terá contribuído o facto de o Quartel-General das tropas cas-
telhanas que defendiam a região ter ficado sediado, entre Janeiro de 1810 e Agosto de 1812, em
Villanueva de los Castillejos, o que originou que a vila fosse uma das mais massacradas e devas-
tadas em toda a região. A esses massacres há que se acrescentar a obrigatoriedade, por parte das
populações, do fornecimento de homens, alimentos e cavalos a ambos os exércitos em conflito.

Mas as guerras nunca veem só. Trazem, sempre, outros factores e consequências polí-
ticas e económicas. De curta, média e, por vezes, longa duração. Que influem, fortemente, na
decisão – individual ou colectiva – de emigrar. A fuga aos alistamentos militares (as denomina-
das «quintas»), as deserções (os chamados «prófugos»), a fuga à justiça e a determinados com-
promissos políticos, entre outros. Fuga aos alistamentos militares e deserções que não estive-
ram somente bastante presentes durante a Guerra da Independência, mas, igualmente, durante
grande parte do século XIX, através das três Guerras Carlistas de sucessão ao trono espanhol:
1833–1840, 1846–1849 e 1872–1876. E para fugir a um alistamento militar ou desertar de um
exército que melhor maneira haveria do que emigrar? E, de preferência, para a região vizinha
(o Algarve), uma vez que entre ambas só as separam o rio Guadiana, fronteira natural de águas
calmas e tranquilas.

Por outro lado, nos factores económicos devem destacar-se os seguintes: o baixo de-
senvolvimento agrícola, provocado pela pobreza dos solos – maioritariamente terras xistosas
– e pelo clima árido do Andévalo Ocidental; a estrutura das propriedades agrícolas da região; a
oportunidade única para aumentar o espaço de comercialização e de transacções económicas;
a crise mineira (decadência e/ou estagnação); o abandono das «gentes do campo», provocada
pela crise vitivinícola originada pela praga de «filoxera» (1877-1878); a taxa cambial da moeda
espanhola face à moeda portuguesa, que valorizava a peseta em relação ao real, até 1911, e, a
partir de 1911, em relação ao escudo.

114
Factores que originaram a emigração de centenas de andaluzes para Portugal. Com co-
lónias bem demarcadas em relação às suas terras natais. De Villanueva de los Castillejos para
Loulé, de El Almendro para os concelhos de fronteira do distrito de Beja (Beja, Serpa, Moura e
Barrancos) e de Ayamonte e da Isla Cristina para V.R.S.A. Pelo menos é isso que se deve con-
cluir quando se investiga os fluxos entre os locais de origem e os locais de destino.

115
3. A EMIGRAÇÃO DE ANDALUZES PARA O BAIXO ALENTEJO E
PARA OS CONCELHOS ALGARVIOS DE LAGOS, VILA NOVA DE
PORTIMÃO, LAGOA, SILVES E FARO

3.1. Breves notas sobre a emigração andaluza para o (Baixo) Alentejo ao longo do
século XIX

No presente trabalho não foi minha intenção estudar a emigração andaluza para o Baixo
Alentejo, que, tendo em conta os censos gerais da população, deverá ter sido mais significativa,
do ponto de vista quantitativo, do que a verificada para o Algarve. No entanto, como ao longo
da investigação me deparei com inúmeras fontes e bibliografia sobre esta temática, e estando
ela co-relacionada com a emigração andaluza para o Algarve, deixo aqui algumas notas soltas.
Esta correlação prende-se com o facto de os naturais dos municípios vizinhos – apenas separa-
dos por uma rua – de Villanueva de los Castillejos e de El Almendro terem optado por emigrar
para estas duas regiões: os primeiros, preferencialmente, para o Algarve, em geral, e para Loulé,
em particular; os segundos para o Baixo Alentejo, em geral, e para os concelhos de Beja, Serpa,
Moura e Barrancos, todos juntos à fronteira, em particular.

Assim sendo, deixo aqui algumas notas soltas, com a intenção de fazer o estado da arte
sobre este objecto, arrumar a bibliografia existente e lançar algumas pistas de investigação, por
forma a que no futuro possam surgir novos estudos, historiográficos ou não, sobre este objecto
de trabalho.

Não se sabe ao certo quantos andaluzes emigraram para o Alentejo ao longo do século
XIX. Sabe-se, porém, que em 1890 existiam mais espanhóis residentes em cada um dos distri-
tos alentejanos do que no Algarve. Mas quantos desses seriam extremenhos? Ou galegos? Ou,
até, naturais de outras comunidades autónomas? Disso os censos gerais da população não pro-
curavam, e, por tal, não especificam. Registavam somente as nacionalidades.

Desta forma, analisando-se os censos populacionais, por distrito, entre 1890 (o primeiro
censo em que se discrimina as nacionalidades dos estrangeiros residentes) e 1920, verifica-se
que os três distritos alentejanos possuem mais espanhóis residentes quando comparados com o
único distrito algarvio, como se pode observar através do seguinte quadro:

117
Quadro n.º 3.01: Número de espanhóis residentes, por distrito, entre 1890 e 1920

Distritos 1890 1900 1911 1920 Média por censo


Portalegre 784 832 647 507 692,5
Évora 737 647 515 421 580
Beja 727 738 768 448 670,25
Faro 634 768 689 447 634,5

Fontes: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1896, pp. 276; Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, volume I,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1905, p. 286; Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1913, p. 294; Censo da População de Portugal - Dezembro de 1920, volume I, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1923, p. 232.

Verifica-se que nos quatro censos em análise o distrito de Portalegre é aquele que re-
gista um maior número de espanhóis residentes em três censos (1890, 1900 e 1920), sendo que
a excepção é o distrito de Beja que regista o maior número no censo de 1911. Concluindo-se,
desta forma, que o distrito de Faro nunca foi o distrito com mais espanhóis residentes quando
comparado com os três distritos alentejanos.

Porém, procedendo-se a uma análise mais fina do ponto de vista geográfico, isto é por
concelhos, e escolhendo para análise o primeiro censo em que se discrimina as nacionalidades
dos estrangeiros residentes, obtêm-se o seguinte quadro:

Quadro n.º 3.02: Concelhos alentejanos e algarvios com mais de 100 espanhóis residentes,
em 1890

Sub-regiões Concelhos N.º de espanhóis


Elvas 362
Alto Alentejo
Campo Maior 117
Estremoz 144
Alentejo Central
Évora 140
Moura 200
Mértola 172
Baixo Alentejo
Serpa 128
Barrancos 104
Algarve Vila Real de Santo António 308

Fonte: Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1896, p. 278, p. 282, p. 284 e p. 286.

118
Tudo concelhos fronteiriços ou próximos da fronteira, isto é, mais propensos e sensíveis
a intercâmbios populacionais e migratórios.

Como atrás ficou demonstrado o principal local de origem dos emigrantes andaluzes
radicados no Algarve foi Villanueva de los Castillejos. Porém, e tendo em conta as várias fon-
tes1 e estudos2 que chegaram até hoje, é de presumir que o principal local de origem dos emi-
grantes andaluzes radicados no Baixo Alentejo tenha sido El Almendro, povoação vizinha de
Castillejos.

Em 1925, num seminal artigo publicado no periódico Novidades, era publicado um


extenso trabalho sobre a emigração de algumas famílias de El Almendro para a região do
Alentejo3. Nesse estudo dava-se o exemplo de alguns núcleos familiares, naturais desse muni-
cípio andaluz, que, ao longo do século XIX, se tinham fixado em Portugal. Deste modo, ten-
do em conta as fontes e a bibliografia que se conseguiu juntar sobre esta temática, foi possível
compilar duas dúzias de ramos familiares, a grande maioria deles naturais de El Almendro, que,
ao longo do século XIX, emigraram para algumas localidades do Alentejo.

1. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II – Vila Real de Santo António (1863-1909):
notas de António dos Santos Machado, Albufeira, Arandis Editora, 2019; Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de
Fevereiro de 1925, p. 3; RODRIGUEZ, Padre Emiliano, Monografia de El Almendro, El Almendro, 1904.

2. Cf. ASSIS, António Maria de, «Gens Transtagana – II Ortas (A descendência portuguesa de Manuel de Orta, de
Alosno)», in Raízes & Memórias. Órgão Periódico da Associação Portuguesa de Genealogia, direcção de Manuel
Arnão Metello, nº 10, Outubro de 1994, pp. 175-228; CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900).
Subsídio documental para uma biografia, Vila Real de Santo António, edição da Câmara Municipal de Vila Real
de Santo António, 2008; CORREIA, António Horta, «Os do Almendro», in Cadernos Barão do Arêde, Revista do
Centro de Estudos de Genealogia e Herálica Barão de Arêde Coelho, s./l., n.º 2, Outubro-Dezembro de 2014, pp.
11-22; CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan Maestre
Cumbrera, Sebastián Ramírez, Albufeira, Arandis Editora, 2020; GARCIA, António Pulido, Os do Almendro,
s./l., Beja Gráfica, 1998; MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «Os do Almendro: A descendên-
cia de Juan Martin Pulido (1678- ) no distrito de Beja», in Raízes & Memórias, Órgão Periódico da Associação
Portuguesa de Genealogia, direcção de Manuel Arnão Metello, n.º 28, Dezembro de 2011, pp. 77-118; MENEZES,
Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «ALONSO GOMES & C.ª: a actividade mineira e a navegação a vapor
entre Mértola e Vila Real de Santo António e entre Lisboa e os Portos do Algarve (1870-1905)», in Cadernos de
Barão de Arêde, Revista do Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho, s./l., Centro de
Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho, n.º 3, Janeiro-Março de 2015, pp. 5-63.

3. Cf. Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3, artigo mais tarde publicado na seguinte obra:
GARCIA, António Pulido, Os do Almendro, s./l., Beja Gráfica, 1998, pp. 13-18.

119
Quadro n.º 3.03: Locais de origem e de primeiro destino em Portugal de alguns ramos familia-
res naturais de El Almendro, Villanueva de los Castillejos, Alosno e Puebla de Guzmán

Naturalidades ou 1.º local de destino


Ramos familiares Concelho
local de origem em Portugal
Barroso Lisboa Lisboa4
Corras García Lisboa Lisboa5
Domínguez Aldeia Nova de São Bento Serpa6
García Alcantarilha Silves7
García Lagoa Lagoa8
García Vásquez Amareleja Moura9
Garcías Moura Moura10
Barrancos Barrancos11
García, Pérez, Pulido,
Amareleja e Moura Moura 12
Vasques e os Blanco
El Almendro Vidigueira Vidigueira13
Gomez Cano Serpa Serpa14
Gomez Hidalgo Baleizão Beja15
1 2 3
Quadro n.º 3.03: Locais deOrtiz Aldeia Nova
origem e de primeiro de em
destino SãoPortugal
Bento de algunsSerparamos
16
fa-
Pérez Blanco
miliares naturais de El Almendro, Mértola Alosno e Puebla
Villanueva de los Castillejos, Mértola 17
de Guzmán:
Pérez Morano Cuba Cuba18
Naturalidades ou 1.º local de destino
Ramos Pulido
familiares Vidigueira Vidigueira
Concelho19
local de origem em Portugal
Pulido Garcias Amareleja Moura20
Centeno21 / Gómez
Aldeia da Conceição Ourique22
Villanueva de los Vásquez
Barroso Lisboa Lisboa4
ElCastillejos
Almendro Férias Serpa Serpa23
Gomez Alcaria Ruiva Mértola24
Alosno Corras García
Ortas Lisboa
Serpa Lisboa
Serpa25
5

Puebla de Guzmán Domínguez


Gomez Roldán Aldeia
Aldeia Nova
Nova dede São
São Bento
Bento Serpa266
Serpa
García Alcantarilha Silves7
Fontes: A.H.N.E., Fondo del Ministerio de Exteriores – H, Consulado
García Lagoade España en Faro, correspondencia
Lagoa8 del
ano 1855, cx. 1886, despacho n.º 5, de 19 de Abril de 1855; ASSIS, António Maria de, «Gens Transtagana – II
Pulido
Ortas (A descendência portuguesa Garcias
de Manuel Amareleja
de Orta, de Alosno)», Moura
in Raízes & Memórias. Órgão
9
Periódico da
Associação Portuguesa de Genealogia, direcção de Manuel Arnão Metello, nº 10, Outubro de 1994, pp. 175-228;
GARCIA, António Pulido, Os do Almendro, s./l., Beja Gráfica, 1998, p. 11; MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia
Cardoso de, «Os do Almendro: A descendência de Juan Martin Pulido (1678- ) no distrito de Beja», in Raízes &
Memórias, Órgão Periódico da Associação Portuguesa de Genealogia, direcção de Manuel Arnão Metello, n.º 28,
Dezembro de 2011, pp. 77-118; MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «ALONSO GOMES & C.ª: a
actividade mineira e a navegação a vapor entre Mértola e Vila Real de Santo António e entre Lisboa e os Portos do
Algarve (1870-1905)», in Cadernos de Barão de Arêde, Revista do Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica
Barão de Arêde Coelho, s./l., Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho, n.º 3, Janeiro-
Março de 2015, p. 6; Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3; informações prestadas pelo
1.
genealogista Miguel Centeno Neves.

2.

3.
4. Cf. GARCIA, António Pulido, Os do Almendro, s./l., Beja Gráfica, 1998, p. 11.
4. Cf. GARCIA, António Pulido, Os do Almendro, s./l., Beja Gráfica, 1998, p. 11.
5. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 11.
5. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 11.
6. Cf. Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3.
6. Cf. Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3.
7. Cf. ibidem.
120 7. Cf. ibidem.
8. Cf. ibidem.
8. Cf. ibidem.
9. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 20.
2.

3.

4. Cf. GARCIA, António Pulido, Os do Almendro, s./l., Beja Gráfica, 1998, p. 11.

5. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 11.

6. Cf. Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3.

7. Cf. ibidem.

8. Cf. ibidem.

9. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 20.

10. Cf. MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «Os do Almendro: A descendência de Juan Martin
Pulido (1678- ) no distrito de Beja», in Raízes & Memórias, Órgão Periódico da Associação Portuguesa de
Genealogia, direcção de Manuel Arnão Metello, n.º 28, Dezembro de 2011, pp. 78.

11. Cf. GARCIA, António Pulido, Os do Almendro, op. cit., pp. 10-11.

12. Cf. ibidem.

13. Cf. ibidem.

14. Cf. Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3. Nesta fonte o apelido que aparecia inscrito,
de forma incorrecta, era Gomes Cano, e não Gomez Cano como é na realidade.

15. Cf. ibidem. Nesta fonte o apelido que aparecia inscrito, de forma incorrecta, era Gomes Hidalgo, e não Gomez
Hidalgo como é na realidade.

16. Cf. ibidem.

17. Cf. ibidem. Nesta fonte o apelido que aparecia inscrito, de forma incorrecta, era Pery Blanco, e não Perez
Blanco como é na realidade.

18. Cf. ibidem. Nesta fonte o apelido que aparecia inscrito, de forma incorrecta, era Pery Morano, e não Perez
Morano como é na realidade.

19. Sobre a emigração dos Pulido de El Almendro para o distrito de Beja veja-se, por exemplo, o estudo:
MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «Os do Almendro: A descendência de Juan Martin Pulido
(1678- ) no distrito de Beja», art. cit., pp. 77-118.

20. Cf. ibidem, p. 79.

21. Por vezes também surgido na documentação com a alcunha de Centeno «Rojo».

22. Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves.

23. Cf. ASSIS, António Maria de, «Gens Transtagana – II Ortas (A descendência portuguesa de Manuel de Orta,
de Alosno)», in Raízes & Memórias. Órgão Periódico da Associação Portuguesa de Genealogia, direcção de
Manuel Arnão Metello, nº 10, Outubro de 1994, p. 176.

24. Cf. MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «ALONSO GOMES & C.ª: a actividade mineira e a
navegação a vapor entre Mértola e Vila Real de Santo António e entre Lisboa e os Portos do Algarve (1870-1905)»,
in Cadernos de Barão de Arêde, Revista do Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho,
s./l., Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho, n.º 3, Janeiro-Março de 2015, p. 6.

25. Sobre a emigração desta família Orta, de Alosno, para Serpa veja-se o estudo genealógico: ASSIS, António
Maria de, «Gens Transtagana – II Ortas (A descendência portuguesa de Manuel de Orta, de Alosno)», art. cit.,
pp. 175-228.

26. Cf. A.H.N., Fondo del Ministerio de Exteriores - H, Consulado de España en Faro, correspondencia del ano
1855, cx. 1886, despacho n.º 5, de 19 de Abril de 1855.

121
Refira-se que todos os ramos familiares assim como os respectivos lugares atrás men-
cionados foram as primeiras localidades de destino dessa emigração, uma vez que, durante todo
o século XIX, e, em particular, na sua primeira metade, era comum as famílias não se fixarem,
de forma definitiva, na primeira localidade para a qual decidiam emigrar. Encontram-se vários
relatos da mesma família, passados alguns anos, mudar de vila, de concelho e até de distrito27.
Porém, com o passar dos anos e com a progressiva constituição de redes migratórias mais coe-
sas, tal situação deixa de ser tão frequente.

Uma vez passado o Guadiana estes andaluzes instalavam-se um pouco por todo o dis-
trito de Beja – Amareleja, Barrancos, Moura, Vidigueira, entre outras localidades –, sendo que
outros ramos familiares preferem se fixar no distrito de Portalegre e, como vimos, no Algarve.
Ao invés, no distrito de Évora, não se regista a existência de alguma colónia andaluza, embora,
aqui ou ali, se registem algumas fixações a título individual28. Refira-se que em Espanha apenas
terá permanecido uma pequena colónia de naturais de El Almendro em Villanueva del Fresno
(actual província de Badajoz, comunidade autónoma da Extremadura), mesmo junto à raia29.
Onde, ainda hoje, se podem encontrar alguns descendentes almedrinos.

As razões para essa emigração foram as mesmas que tinham levado a emigração de al-
guns dos seus conterrâneos para o Algarve, sendo a principal a devastação e ruína provocadas
pela Guerra da Independência. Desse facto dá conta o padre Emiliano Rodriguez, na sua inédita
Monografia de El Almendro (1904), em que o autor informa de uma das consequências provo-
cadas por esse conflito militar:

Entonces fué cuando se desmembró esta población emigrando casi todo su vecindario a otros pue-
blos donde no se dejaba sentir el azote de la guerra e muy especialmente al vecino Reino de Portugal,
en donde los mas acaudalados, abandonando para siempre sus moradas se establecieran y fijaron
definitivamente su residencia30.

27. Apenas um exemplo: Juan Rodríguez Centeno Rojo (ou João Rodrigues Centeno) e a sua mulher María de
Trinidad Gómez Vásquez (ou Maria da Trindade Gomes Vasques) [que viveu 102 anos, de 1760 a 1862] e filhos,
residiam, em 1829, na aldeia da Conceição (concelho de Ourique). Porém, com o fim da Guerra Civil, em 1834,
resolvem estabelecerem-se em Tavira, para, passados treze anos, em 1847, um dos seus filhos resolver mudar de
residência para Martim Longo, mantendo, contudo, a ligação a Tavira. (Informações prestadas pelo genealogista
Miguel Centeno Neves)

28. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 10.

29. Cf. ibidem.

30. Cf. Padre Emiliano RODRIGUEZ, Monografia de El Almendro, El Almendro, 1904, fl 4v.º e fl. 5.

122
As consequências desta emigração foram desastrosas para a vila, que viu reduzida a sua
população de cerca de 1 300 a 1 400 habitantes, em 1808,31 para 630 habitantes (132 «vecinos»)
depois da Guerra da Independência, em 181432, tendo, segundo o padre Emiliano Rodriguez,
emigrado, de forma definitiva, «ciento noventa vecinos que constituian la parte de población
mas rica, quedando esta Vila despoblada y en la maior ruina»33.

Pensa-se, assim, que foi nessa altura, que terá começado a emigração da povoação de
El Almendro para Portugal, principalmente para as regiões do Algarve e do Baixo Alentejo.
Emigração que, com o decorrer dos anos, terá continuado a se verificar e, quiçá, a aumentar,
como nos prova a abertura de vários vice-consulados de Espanha em alguns concelhos do Baixo
Alentejo: Serpa, Moura, Mértola e Beja34. Prova da existência de vários súbditos espanhóis a
residir e a trabalhar nesses concelhos.

Segundo o investigador António Maria de Assis, que estudou os andaluzes radicados no


concelho de Serpa, o autor conseguiu identificar dois tipos de emigrantes: os que possuem ins-
trução superior (normalmente médicos) e os que não possuem instrução superior (normalmente
jornaleiros e artífices). Situação vantajosa para os emigrantes, dado que, até à chegada destes,
não existiam médicos, por exemplo, em Serpa35. Ainda segundo Assis os emigrantes começa-
vam, quase sempre, por se dedicarem ao comércio e aos negócios, ganhando, assim, dimensão
económica, para, mais tarde, investirem na compra de terras para trabalharem (lavradores) ou
para rentabilizarem (proprietários ou enfiteutas das grandes casas do concelho)36.

Uma vez instalados em Portugal os emigrantes dedicavam-se, sobretudo, ao pequeno


comércio local, que lhes era facilitado pelas casas de maior dimensão comercial de Lisboa,
como, por exemplo, as casas comerciais geridas pelos Corras García e pelos Barroso, ou outras
de mais efémera duração em Sevilha37.

31. Cf. RODRIGUEZ, Padre Emiliano, Monografia de El Almendro, op. cit., fl. 8.

32. Cf. ibidem, fl. 5v.º.

33. Cf. Padre Emiliano RODRIGUEZ apud Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3.

34. Cf. ASSIS, António Maria de, «Gens Transtagana – II Ortas (A descendência portuguesa de Manuel de Orta,
de Alosno)», art. cit., p. 176.

35. Cf. ibidem.

36. Cf. ibidem.

37. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 11.

123
A segunda geração destes emigrantes constitui uma vasta rede familiar que, quase sem-
pre, casavam entre si. Como, por exemplo, o caso dos Vásquez Cano com os Pulido em que três
irmãos e uma irmã do ramo Vásquez Cano casou, respectivamente, com três irmãs e um irmão
do ramo Pulido38. Assim, só na segunda geração nascida em Portugal é que começaram a cele-
brar-se os primeiros casamentos mistos.

António Pulido Garcia, no seu trabalho sobre a emigração de almedrinos para o distrito
de Beja ao longo do século XIX, deixou compiladas as seguintes informações:

Os emigrantes ignoravam completamente as leis civis portuguesas e viviam numa espécie de


comunismo familiar pois em regra não faziam partilhas. Ainda hoje a maior fortuna territorial dos
emigrantes se mantém indivisa.

Só a terceira geração começou a ser vencida pela doçura de Portugal e renunciou definitivamente ao
Espanholismo, e se fez português do coração. Hoje já se estuda em Portugal, e se fala só português
excepto nas colónias de Amareleja e Barrancos.

Os costumes domésticos é que ainda conservam muito de andaluzes: e há ainda uma espécie de aris-
tocracia vinda do Almendro: Garcia, Perez, Pulido, Vasques, Blanco, etc. não se olham como iguais
embora hoje andem já tão cruzados, que se não podem a si mesmo distinguir o que prova que os pe-
queninos sentimentos de unidade são os mais tenazes39.

Deste modo, fica a saber-se que só na terceira geração é que se renunciou definitiva-
mente ao castelhanismo e se naturalizaram portugueses40. E que conservavam religiosamente a
língua castelhana e todos os costumes andaluzes41.

Através dos números oficiais (censos gerais da população portuguesa entre 1890 e 1920),
ficou demonstrado que existiam mais espanhóis residentes em qualquer um dos três distritos
do Alentejo, do que no Algarve. Pressupondo-se, assim, que a emigração espanhola deveria ser
quantitativamente maior para a região alentejana do que para a região algarvia. O que não deve
estranhar. Porque a raia alentejana é composta por uma extensão de fronteira muito superior à

38. Cf. Novidades, ano XLI, n.º 8 858, de 8 de Fevereiro de 1925, p. 3

39. Cf. António Pulido GARCIA, op. cit., p. 11.

40. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., pp. 10-11; MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «Os do
Almendro: A descendência de Juan Martin Pulido (1678- ) no distrito de Beja», art. cit., pp. 78-79.

41. Cf. GARCIA, António Pulido, op. cit., p. 10.

124
fronteira Andaluzia-Algarve. Se a esmagadora maioria dos emigrantes espanhóis radicados no
Algarve eram andaluzes, é de pressupor que, pelo menos, nos distritos de Évora e de Portalegre,
a percentagem relativa de andaluzes fosse menor, havendo também outros emigrantes espanhóis,
nomeadamente extremenhos, dada a proximidade geográfica com a Extremadura espanhola.

No entanto, se nos concentramos somente na emigração andaluza rumo ao distrito de


Beja, verifica-se a preponderância de naturais de El Almendro, sobre outro qualquer municí-
pio: dezanove ramos familiares de El Almendro, quatro de Villanueva de los Castillejos, um de
Alosno e um outro de Puebla de Guzmán. No seio do distrito de Beja os concelhos de destino
mais procurados foram, justamente, aqueles que se encontram junto à fronteira: Beja, Serpa,
Moura e Barrancos.

3.2. A emigração de andaluzes para o concelho de Lagos

A vila de Lagos – elevada a cidade em 1535 – sempre teve um enorme contacto com alguns dos
mercadores estrangeiros estabelecidos no Algarve. Só assim se explica o facto de alguns desses
mesmos mercadores se terem unido para, em 1533, constituírem a irmandade de Nossa Senhora
do Porto Salvo de Lagos42.

Segundo o genealogista Miguel Centeno Neves, que, há mais de vinte anos, estuda a
emigração de andaluzes para alguns concelhos do Algarve, desde, pelo menos, a segunda déca-
da do século XIX que existe uma colónia de andaluzes radicados naquela cidade. E, à imagem
do que se verificou com os restantes concelhos algarvios, essa primeira vaga migratória ficou
a dever-se à Guerra da Independência que assolou a comarca do Andévalo, em particular, e a
província de Huelva, em geral.

Deste modo, através da consulta de alguns registos paroquiais, Centeno Neves conse-
guiu identificar as primeiras famílias andaluzas que emigraram para a cidade de Lagos na se-
gunda década de Oitocentos: os Tenório43, os Centeno44, os Barba, os Giraldo, os Ximenes dos

42. Cf. MATTOSO, José, DAVEUAU, Suzanne, BELO, Duarte, op. cit., p. 657.

43. Sobre este ramo familiar veja-se o Apêndice biográfico n.º 26.

44. Veja-se estas biografias no Apêndice biográfico n.º 4.

125
Santos, entre outros, naturais de Villanueva de los Castillejos; e os Formozinho45, oriundos de
El Almendro.

Em relação a este concelho o Livro de Registo de Bilhetes de Residência a Estrangeiros


no concelho de Lagos, 1897-1950, trata-se, efectivamente, da fonte documental mais precisa, ain-
da que bastante incompleta. Além de se verificar ser uma série com a falta de registos para alguns
anos inteiros, a mesma não faz a discriminação por naturalidades, mas, tão somente, por naciona-
lidades. Os registos limitam-se a discriminar apenas o ano de registo, o nome e a nacionalidade do
respectivo estrangeiro residente no concelho, não fazendo referência nem à profissão nem à idade.

Quadro n.º 3.04: Registo de espanhóis residentes no concelho de Lagos, entre 1897 e 1908

Ano N.º de espanhóis Naturalidades que se conseguiu apurar Masc. Fem.


1897 14 Andaluzes (2); catalães (2) 12 2
1898 13 Andaluzes (2); catalão (1) 12 1
1899 12 Andaluzes (3); catalão (1) 11 1
1900 7 Andaluzes (2) 5 2
1901 7 Andaluzes (2) 6 1
1902 1 1
1904 1 1
1905 7 Andaluz (1); catalão (1) 4 3
1906 2 Andaluz (1); Castela e Leão (1) 2
1908 2 Andaluzes (2) 2

Fonte: A. M. Lagos, Fundo da Câmara Municipal de Lagos, Livro de Registo de Bilhetes de Residência a
Estrangeiros no concelho de Lagos, 1897-1950.

Para alguns registos, porém, surge a informação referente à naturalidade. E, nesse caso,
pode verificar-se emigrantes naturais de Ayamonte e de Villanueva de los Castillejos, na Andalu-
zia, ou de Burgos, na comunidade autónoma de Castela e Leão. Havendo, também, catalães, não
se discriminando de que município. Verificando-se, como esperado, uma superioridade de an-
daluzes em relação às restantes comunidades espanholas (quinze andaluzes para cinco catalães)46.

45. Veja-se estas biografias no Apêndice biográfico n.º 10.

46. Cf. A.M.L.AGOS, Fundo da Câmara Municipal de Lagos, Livro de Registo de Bilhetes de Residência a
Estrangeiros no concelho de Lagos (1897-1950).

126
A nível profissional registe-se a referência a dois industriais corticeiros a residir em
Lagos: Manuel Ojeda Martins, natural da Catalunha, com um primeiro registo de 1897; e
Manuel Ojeda Peres, natural de Ayamonte, com um primeiro registo de 189947. Porém, pou-
co mais se sabe sobre estes dois industriais, conseguindo-se apenas apurar que Manuel Ojeda
Martins era proprietário de uma fábrica de conservas na Estrada de Lagos, em Vila Nova de
Portimão, na década de 192048. Mudança de sector industrial muito provavelmente provocada
pelo enorme surto na procura de alimentos não perecíveis pelos países beligerantes que comba-
tiam na Primeira Grande Guerra Mundial vieram a provocar na indústria conserveira.

Por outro lado, ao nível do número de unidades fabris dedicadas à produção de conser-
vas, Lagos sempre foi o concelho algarvio com um maior número de unidades. Em 1887 con-
tava já com sete – quatro propriedade de franceses e três de portugueses49 –, enquanto que, nes-
se ano, V.R.S.A. contava com cinco. E, passadas mais de duas décadas, isto é em 1908, Lagos
continuava a ser o concelho do Algarve com mais fábricas de conservas instaladas, conforme se
pode comprovar através do seguinte quadro:

Quadro n.º 3.05: Distribuição, por concelho, das unidades fabris de conservas instaladas no
Algarve em 1908

Concelho N.º de fábricas Produção (em toneladas) Valor (em contos)


Lagos 10 2 250 200
Olhão50 7 1 425 128
V.R.S.A. 6 1 266 191
V.N. de Portimão 3 763 68
Faro 2 378 35
Albufeira 1 235 21

Fonte: CABREIRA, Thomaz, O Algarve Económico, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1918, p. 159.

47. Cf. ibidem.

48. Cf. A.D.F., Fundo da 5.ª Circunscrição Industrial, 1896-1975, Vistorias para a atribuição de alvarás em fábri-
cas de conservas de peixe, 1924-1925.

49. Cf. «Lagos», in Novidades, Lisboa, edição de 26 de Fevereiro de 1887, ano III, n.º 745.

50. Em 1905 os industriais conserveiros instalados em Olhão eram os seguintes: F. Delory (que foi o primeiro a ins-
talar-se em Olhão, talvez em 1881), Miguel Migone, Feu & Hermanos, Manuel António Soares, Christina & Quintas,
Goso Amâncio e João Viana Cabrita, todos industriais de conservas de peixe em azeite; João Baptista Trabucho,
Pedenote Seragete Luigi, Atilio Agelo Semino, Agostinho Campa e Valdemiro, industriais de conservas em salmoura,
in NOBRE, Antero, História breve da Vila de Olhão da Restauração, Olhão, edição d’A Voz de Olhão, 1984, p. 128.

127
Três características, porém, diferenciavam as fábricas de conservas instaladas em Lagos
e em Vila Nova de Portimão (Algarve Oriental ou Barlavento) das instaladas em V.R.S.A.
(Algarve Ocidental ou Sotavento):

a) Em Lagos e em Vila Nova de Portimão as conservas produzidas eram maioritariamente


de sardinha, enquanto que em V.R.S.A. eram maioritariamente produzidas conservas de
atum;

b) Em Lagos e em Vila Nova de Portimão a percentagem de operários e operárias natu-


rais da Andaluzia era menor quando comparada com a mesma percentagem nas fábri-
cas instaladas em V.R.S.A., o que se explica por esta última vila ficar na fronteira com
a Andaluzia;

c) Em Lagos as fábricas eram propriedade de franceses, que estavam em maioria, mas,


também, de alguns portugueses; em Vila Nova de Portimão eram maioritariamente de
portugueses; e em V.R.S.A. eram, quase todas, propriedade de italianos de Génova e de
andaluzes da província de Huelva.

3.3. A emigração de andaluzes para o concelho de Vila Nova de Portimão

Corria o ano de 1834 quando um negociante espanhol emigrado para Vila Nova de Portimão
resolveu montar uma «fábrica de salga de sardinha e extracção do azeite pela prensa»51, na re-
ferida vila.

Em meados de Oitocentos tinha Vila Nova de Portimão como principal actividade eco-
nómica o comércio e a exportação de frutos secos e obras de palma, havendo, em 1841, «seis
caiaques maiores e um hiate»52 que se dedicavam a tal fim. Situação que ainda se verificava no
final do século XIX, o que levou Joaquim Ferreira Moutinho, em 1890, a apelidar a vila como
«o principal centro de vida do Algarve»53. Para tal, contribuíam, entre outros, dois factores:

51. Cf. João Baptista da Silva LOPES, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do
Algarve, Lisboa, Typographia da Academia das Sciencias de Lisboa, 1841, vol. I, p. 269.

52. Cf. ibidem.

53. Cf. MOUTINHO, Joaquim Ferreira, O Algarve e a Fundação Patriótica d’uma Colónia Industrial e Agrícola,
Porto, Typographia Elzeveriana, 1890, p. 77.

128
a) A riqueza da exportação dos produtos agrícolas (figo, amêndoa, alfarroba, cortiça, aguar-
dente e palma) e dos produtos marítimos (peixe e conservas);

b) O desenvolvimento e a navegabilidade do rio Arade, situação ideal para uma estrutura


de exportação eficiente54.

Deste modo, em 1889, o porto de Vila Nova de Portimão era considerado o primeiro da
região em condições hidrográficas e topográficas e o segundo em importância comercial, logo
a seguir ao de V.R.S.A55. Para essa classificação em muito contribuía a sua importância co-
mercial, alavancada pela crescente indústria pesqueira e pela exportação internacional de figo
e da amêndoa da maior parte da sub-região barlaventina; ficando somente atrás de V.R.S.A.
em virtude deste último usufruir do grande movimento que lhe proporcionam as minas de São
Domingos (concelho de Mértola), da Lage e das de Côrtes Pereria (concelho de Alcoutim), as-
sim como as províncias do Alentejo e da Andaluzia56.

Por outro lado, a elite social de Vila Nova de Portimão, fechada e restrita até princípios
do século XX, alarga-se e diversifica-se. Abrem-se novos circuitos comerciais de trocas de
produtos, mas, também, de ideias. O comércio da vila cresce e internacionaliza-se. Em 1914,
por exemplo, 91,3% do comércio da vila era realizado para países estrangeiros57. Negócios de
importação, mas, principalmente, de exportação de bens, realizados com diversos países do
Mediterrâneo e do Atlântico, o que originou a abertura de nove consulados na vila, que irão ser
dirigidos por figuras da elite portimonense58. A vila cosmopolizava-se.

Porém, sendo a exportação dos seus produtos agrícolas a actividade mais rentável no
concelho, a indústria das pescas tinha no seu porto o maior bastião pesqueiro do Algarve, quer

54. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
Lisboa, Edições Colibri, 2003, p. 20.

55. Cf. SILVA, António Artur Baldaque da, Roteiro Marítimo da costa Occidental e Meridional de Portugal,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1889, p. 37; MOUTINHO, Joaquim Ferreira, O Algarve e a Fundação Patriótica
d’uma Colónia Industrial e Agrícola, op. cit., pp. 209-210 e p. 220.

56. Cf. SILVA, António Artur Baldaque da, Roteiro Marítimo da costa Occidental e Meridional de Portugal,
op. cit., p. 37; MOUTINHO, Joaquim Ferreira, O Algarve e a Fundação Patriótica d’uma Colónia Industrial e
Agrícola, op. cit., p. 231. Veja-se os Anexos cartográficos n.º 7 e n.º 8.

57. Cf. CABREIRA, Thomaz, O Algarve Económico, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1918, p. 180.

58. Cf. TENGARRINHA, JOSÉ, «Prefácio», in AA. VV., Portimão e a Revolução Republicana, coord. de José
Tengarrinha, Portimão, Câmara Municipal de Portimão e Texto Editores, 2010, p. 14.

129
em número de embarcações quer em número de pescadores inscritos. Disso mesmo nos dá con-
ta Anuário Estatístico de Portugal, publicado em 1907, mas com estatísticas referentes a 1893.

Quadro n.º 3.06: Distribuição, por concelho, do número de embarcações e de pescadores ins-
critos nos portos do Algarve, em 1893
N.º de embarcações N.º de pescadores Média de pescadores
Concelho
de pesca inscritos por embarcação
V. N. de Portimão 304 1 333 4,38
Olhão 218 1 181 5,42
Faro 200 974 4,87
Tavira 196 668 3,41
V.R.S.A. 171 1 007 5,89
Lagos 168 964 5,74
Fuzeta 52 469 9,02
Albufeira 46 367 8,63
Total 1 355 6 993 5,16

Fonte: Anuário Estatístico de Portugal – 1900, Lisboa, Imprensa Nacional, 1907.

A adopção do método catalão e valenciano de preparação do peixe com vários mo-


lhos, assado ou frito em escabeche, deu origem aos denominados «fritos»59 em Vila Nova de
Portimão60. A excelente localização geográfica da vila, assim como a riqueza piscícola da sua
costa, foram, decerto, factores que influíram nessa decisão.

No final do século XIX eram já vários os estrangeiros, em geral, e os espanhóis, em


particular, que se dedicavam à indústria conserveira na vila, fazendo com que esta experimen-
tasse uma evolução até à altura nunca experimentada. João Baptista da Silva Lopes informa
que foram os catalães e os valencianos que introduziram no Algarve a preparação do peixe sal-
gado com vários molhos no tempo dos tomates, o chamado «método catalão ou valenciano de

59. O denominado «frito» era um processo antigo de conservação de sardinha que consistia em fritá-la, após des-
cabeçá-la. Este processo era muito moroso e dispendioso, facto que levou à sua substituição pela cozedura a vapor.

60. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
op. cit., p. 20.

130
preparação de peixe», fazendo dele um consumo considerável. Silva Lopes acrescenta que o
peixe assado ou frito e colocado em escabeche era enviado para Lisboa61.

Registe-se, ainda, a existência de alguma indústria da cortiça e de rolhas62, sendo que


uma dessas fábricas era dirigida, pelo menos desde 1873, por um catalão de San Feliz, província
de Girona, Juan Bordas Marimom63.

Até aos alvores da Primeira Grande Guerra o desenvolvimento da indústria conserveira


na vila foi fortemente impulsionado pelos industriais da «Feu Hermanos» e por Júdice Fialho64,
empresários que controlavam a produção e o mercado na região65. Em 1908 existiam três fá-
bricas de conservas em Vila Nova de Portimão: duas pertencentes ao industrial João António
Júdice Fialho (São José e São Francisco) e a outra de António Feu Marchena (São Francisco)66.

Através das melhorias verificadas nas técnicas de pesca, da introdução de numerosos


«cercos americanos»67 (embarcações a vapor) e de outras armações de pesca propriedade dos

61. Cf. LOPES, João Baptista da Silva, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino
do Algarve, 1.º vol., op. cit., pp. 97-98.

62. Cf. MOUTINHO, Joaquim Ferreira, O Algarve e a Fundação Patriótica d’uma Colónia Industrial e Agrícola,
op. cit., pp. 216-217.

63. Cf. C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Serviço de estrangeiros, Registo de
estrangeiros residentes em Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

64. «O portimonense João António Júdice Fialho (1859-1934) foi o grande obreiro do crescimento e moderniza-
ção desta indústria na sua terra natal e noutros pontos do país. Oriundo de uma família abastada, iniciou a sua ac-
tividade económica como comerciante de grosso trato, enveredando, depois, pela indústria de conservas de peixe,
pelo desenvolvimento agrícola das suas propriedades, dentro e fora do concelho e pela frota pesqueira e mercante.
Dotou as suas fábricas em Portimão e noutros pontos do país da mais actualizada tecnologia da época, dispondo
igualmente de uma bem apetrechada litografia, destinada, essencialmente, à estampagem das latas de conserva e de
folhas de propaganda. A este empresário de vulto se deve, em grande parte, a possibilidade do aumento das conser-
vas de peixe, na segunda década do século XX», in Valdemar COUTINHO, «A Estrutura Económica: Agricultura,
Pesca, Oficinas, Fábricas e Comércio», in Portimão e a Revolução Republicana, op. cit., p. 160.

65. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
op. cit., p. 25.

66. Cf. COUTINHO, Valdemar, «A Estrutura Económica: Agricultura, Pesca, Oficinas, Fábricas e Comércio», in
Portimão e a Revolução Republicana, op. cit., p. 160.

67. O cerco americano foi o percursor do galeão a vapor. Era composto por três barcos. O principal era o galeão,
movido a remos, que transportava uma rede do tamanho de 800 a 900 metros e a lançava em círculo no sentido
contrário ao movimento do cardume. Depois de lançada, a rede ficava mergulhada na vertical até ao fundo, mercê

131
industriais Júdice Fialho, «Feu Hermanos», António do Carmo Provisório e «Roquette suces-
sores», assim como da abundância das espécies piscícolas, fizeram com que, nas vésperas da
Primeira Grande Guerra, Portugal fosse o maior produtor mundial de conservas. Sendo que,
em 1915, 55% do total da produção nacional de conservas de sardinha fosse proveniente do
Algarve68. Nessa época a vila gozava de um papel cimeiro no que diz respeito a esse sector in-
dustrial. As conservas mais exportadas por Portugal para o mercado internacional eram as de
sardinha em azeite ou molhos, desempenhando as vilas de Portimão e de Olhão os principais
centros produtores e exportadores da região algarvia. Com a proliferação das fábricas de con-
servas de sardinha a vila viu crescer, de forma significativa, todo o seu parque industrial (esta-
leiros, fábricas de cortiça, azeite e farinha, fumeiros e lagares)69.

Em 1914 o sistema mais utilizado na pesca da sardinha era, à semelhança da pesca do


atum, o sistema de cercos a remos. Era o mais utilizado, popular e rentável. E, nesse ano, Vila
Nova de Portimão concentrava cerca de 30% das armações de cercos a remos (16 em 5470) e
32% dos cercos a vapor (12 em 3771) para a pesca da sardinha que existiam no Algarve72.

Por outro lado, o deflagrar da Primeira Grande Guerra Mundial, justamente em 1914,
veio proporcionar um grande desenvolvimento a Vila Nova de Portimão, uma vez que o con-
flito militar veio incrementar as quantidades exportadas de conservas de peixe, assim como as

de uma fiada continua de chumbo posta num dos lados da rede e de bóias de cortiça no outro lado, enquanto o batel
de panda, um dos barcos auxiliares, segurava uma das pontas da rede e o outro, o batel vigilante, a acompanha-
va até o galeão fechar o cerco. De seguida a rede era fechada por um cabo forte que circulava dentro das argolas
de bronze, junto ao chumbo, para que a arte se transformasse num grande saco. Depois era «alada», a pulso hu-
mano, até que a sardinha capturada pudesse ser retirada para canoas que a transportava para terra. A composição
de um cerco era muito variável, podendo empregar entre cinquenta a cem homens, in CORREIA, António Horta,
Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909): Notas de António dos Santos Machado,
op. cit., p. 105.

68. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, op. cit., p. 26.

69. Cf. ibidem, p. 27. Sobre este assunto veja-se os Anexos cartográficos n.º 13 e n.º 14.

70. Em 1914 existiam cinquenta e quatro armações de sardinha no Algarve, da seguinte forma distribuídas: de-
zanove em Lagos, dezasseis em Vila Nova de Portimão, cinco em Albufeira, dez em Faro e quatro em Olhão, in
NUNES, Joaquim António, Portimão, Lisboa, Casa do Algarve, 1956, p 73.

71. Em 1914 existiam trinta e sete cercos a vapor para a pesca da sardinha no Algarve, da seguinte forma dis-
tribuídos: doze em Vila Nova de Portimão, dois em Faro, nove em Olhão, um em Tavira e treze em V.R.S.A, in
ibidem, p, 74.

72. Cf. ibidem, pp. 73-74.

132
exportações de todos os produtos agrícolas tradicionais, fazendo com que, por essa altura, o
porto de Portimão fosse o mais importante da província73.

3.3.1. Os estrangeiros residentes em Vila Nova de Portimão

Para se ficar a saber o registo dos estrangeiros residentes em Vila Nova de Portimão procedeu-
-se à análise do Livro de Registo de estrangeiros residentes em Portimão, 1841-190474, docu-
mento pertencente ao fundo arquivístico do administrador do respectivo concelho. Série bas-
tante completa que permite, entre outras informações, ficar a saber das suas naturalidades e/ou
nacionalidades. Tais registos indicam, ainda, o nome, a profissão e a idade de cada estrangeiro
registado. Deste modo, ficamos a saber praticamente todas as naturalidades dos estrangeiros a
residir na vila, podendo, de seguida, passar para a análise e interpretação dos respectivos dados.

Quadro n.º 3.07: Naturalidades dos estrangeiros residentes em Vila Nova de Portimão, entre
1841 e 1904, por regiões autónomas
Outras Outras
Ano Andaluzes Galegos Catalães N./d. Portugueses Total
regiões nacionalidades
1841 3 2 5
1842 1 1

1857 1 1
1858 1 1
1859 1 1

1861 1 1

1871 8 5 2 4 19
1872 4 2 2 2 10
1873 7 4 4 2 3 1 21

73. Cf. PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Portugal Dicionário histórico, corografico, heráldico,
biográfico, bibliográfico, numismático e artístico: abrangendo a minuciosa descrição de todos os factos notáveis
da história portuguesa, etc., etc., vol. VII, Lisboa, João Romano Torres e Companhia Editores, 1915, p. 514.

74. Cf C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Registo de estrangeiros residentes


em Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

133
1874 3 3 1 2 1 10
1875 2 3 2 7
1876 3 1 1 5
1877 1 1
1878 1 1
1879 1 2 3

1882 2 2
1883 2 2 4

1889 7 3 9 19

1891 3 2 8 13

1893 3 1 4
1894 1 1 2

1898 13 8 1 2 3 4 31
1899 7 10 1 1 6 2 27

1901 5 13 2 1 2 23

1904 13 12 3 6 1 2 37

Total 81 68 32 14 31 12 11 249
% 32,53 27,31 12,85 5,62 12,45 4,82 4,42 100

Fonte: C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Registo de estrangeiros residentes em


Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

Regista-se uma grande concentração de andaluzes (32,5%), galegos (27,3%) e catalães


(12,8%) que, somados, totalizam cerca de 72,7% do total de estrangeiros residentes no concelho.

Entre os andaluzes havia naturais de Ayamonte, El Almendro, Huelva, Isla Cristina,


Villablanca e Villanueva de los Castillejos (província de Huelva); mas, também, de Cádiz,
Sevilha, Granada, Alicante e Andújar (província de Jaén).

134
Da Extremadura eram naturais de Mérida. Das Astúrias de Gijon (província de Oviedo).
De Marrocos de Larache.

Da Catalunha a larga maioria era natural de Girona (província de Girona), havendo ainda
alguns naturais de Palafruguell (província de Girona) e de Tarragona (província de Tarragona).

Da Galiza eram, quase todos, naturais de Ribadavia (província de Orense) e de Sabajanes


(província de Pontevedra), havendo ainda alguns naturais de Lugo (província de Lugo). A pou-
ca dispersão ao nível das naturalidades evidenciada por catalães e galegos, em contraposição
com uma maior dispersão dos emigrantes andaluzes, deixa pressupor que as cadeias e as redes
migratórias eram mais eficazes no primeiro caso.

A nível cronológico assiste-se a uma subida no número de estrangeiros residentes a par-


tir de 1889, situação facilmente explicável se tivermos em conta que foi a partir dessa altura
que começaram a surgir as unidades fabris nas indústrias conserveira e corticeira, aumentando,
por esse meio, as necessidades de mão-de-obra operária. Analisando os números para o interva-
lo disponível verifica-se que foi no último ano para o qual existem dados (1904) que o número
de estrangeiros residentes atingiu o seu máximo com trinta e sete estrangeiros, dos quais treze
eram andaluzes e doze galegos.

Quadro n.º 3.08: Estrangeiros residentes em Vila Nova de Portimão, distribuídos por naturali-
dades comunitárias e por profissões, entre 1841 e 1904
Naturalidades
Ano (n.º) Profissões
por comunidades
Andaluzes (3) Negociantes (3)
1841 (5)
Portugueses (2) Negociantes (2)
1842 (1) Andaluz (1) Negociante (1)

1857 (1) Galego (1) Padeiro (1)


1858 (1) Asturiano (1) Ilegível (1)
1859 (1) Galego (1) Padeiro (1)

1861 (1) Galego (1) Criado de servir (1)

135
Andaluzes (8) Comerciante (1), negociante (1), tanoeiro (1) e n./d. (5)
Barbeiro (1), criado de servir (1), padeiro (1), rolheiro
Galegos (5)
1871 (19) (1) e n./d. (1)
Catalães (2) Proprietário e negociante (1) e n./d. (1)
Portugueses (4) Comerciantes (2) e n./d. (2)
Comerciante (1), negociante (1), tanoeiro (1) e uma
Andaluzes (4)
menor de idade (1)
1872 (10) Galegos (2) Rolheiro (1) e uma menor de idade (1)
Catalães (2) Proprietário e negociante (1) e n./d. (1)
Portugueses (2) Comerciante (1) e n./d. (1)
Empregados na fábrica de cortiça (4), comerciante (1),
Andaluzes (7)
negociante (1) e trabalhador (1)
Galegos (4) Padeiros (2), rolheiro (1) e menor de idade (1)

1873 (21) Catalães (4) Negociantes (2), palheiro (1) e n./d. (1)
N./d. (2) Trabalhadores (2)
Portugueses (3) Comerciante (1), trabalhador (1) e n./d. (1)
Outra nacionalidade (1) Fotógrafo (1)
Andaluzes (3) Dourador (1), pintor (1) e trabalhador (1)
Galegos (3) Padeiro (1), rolheiro (1) e trabalhador (1)
1874 (10) Catalão (1) Proprietário e negociante (1)
Outras regiões (2) Dourador (1) e trabalhador (1)
Português (1) N./d. (1)
Andaluzes (2) Trabalhador (1) e n./d. (1)
1875 (7) Galegos (3) Carpinteiro (1), padeiro (1) e rolheiro (1)
Catalães (2) Proprietário e negociante (1) e industrial (1)
Galegos (3) Padeiros (2) e criado de servir (1)
1876 (5) Catalão (1) Proprietário e negociante (1)
N./d. (1) Trabalhor (1)
1877 (1) Andaluz (1) Negociante (1)
1878 (1) Andaluz (1) Trabalhador (1)
Andaluz (1) Negociante (1)
1879 (3)
Galegos (2) Criado de servir (1) e padeiro (1)

1882 (2) Catalães (2) Comerciante (1) e industrial (1)


Andaluzes (2) Empregado no comércio (1) e negociante (1)
1883 (4)
Catalães (2) Comerciante (1) e industrial (1)

136
Andaluzes (7) Negociantes (3), tecedores (2) e n./d. (2)

1889 (19) Catalães (3) Negociantes (3)


Negociantes (3), criados de servir (2), padeiro (1),
N./d. (9)
taberneiro (1), trabalhador (1) e n./d. (1)

Andaluzes (3) N./d. (3)


1891 (13) Catalães (2) Negociantes (2)
N./d. (8) Padeiros (5), tecedores (2) e criado de servir (1)

Catalães (3) Negociantes (2) e n./d. (1)


1893 (4)
N./d. (1) N./d. (1)
Catalão (1) N./d. (1)
1894 (2) Outra região (1)
N./d. (1)
(Mérida)

Negociantes (4), padeiros (3), comerciante (1), criada


Andaluzes (13) de servir (1), pedreiro (1), proprietário (1), servente (1)
e trabalhador (1)
Galegos (8) Serventes (4), padeiros (2), comerciante (1) e n./d. (1)
1898 (31) Catalão (1) Negociante (1)
Outras regiões (2)
Negociante (1) e servente (1)
(Mérida e Larache)
N./d. (3) Padeiro (1), trabalhador (1) e n./d. (1)
Outras nacionalidades (4) Caldeireiros (2), fogueteiro (1) e negociante (1)
Negociantes (2), serventes (2), comerciante (1),
Andaluzes (7)
proprietário (1) e trabalhador (1)
Padeiros (2), trabalhadores (2), serventes (2), gerente
Galegos (10)
de fábrica de cortiça (1), negociante (1) e n./d. (2)
1899 (27) Catalão (1) Negociante (1)
Outra região (Marrocos) (1) Servente (1)
N./d. (6) Serventes (3), trabalhador (1) e n./d. (2)
Outras nacionalidades (2) Negociantes (2)

Andaluzes (5) Negociantes (4) e soldador (1)


Serventes (7), trabalhadores (2), negociante (1),
Galegos (13)
padeiro (1) e n./d. (2)
1901 (23) Catalães (2) Gerente de uma fábrica de cortiça (1) e negociante (1)
Outra província
Doméstica (1)
(Badajoz) (1)
Outras nacionalidades (2) Caldeireiro (1) e negociante (1)

137
Negociantes (3), soldadores (3), serventes (2),
Andaluzes (13) comerciante (1), costureira (1), padeiro (1), pedreiro
(1) e n./d. (1)
Galegos (12) Serventes (11) e negociante (1)
1904 (37) Catalães (3) Serventes (3)
Padeiros (3), corticeiro (1), empregado de comércio
Outras regiões (6)
(1) e servente (1)
N./d. (1) Servente (1)
Outras nacionalidades (2) Caldeireiro (1) e proprietário (1)
Total 249

Fonte: C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Registo de estrangeiros residentes em


Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

Notas:

(1) As designações que estavam escritas em castelhano foram todas transcritas para português.

(2) A categoria «trabalhador» abarca as categorias designadas originalmente por «bracero» e «jornalero».
Decidiu‑se deixar de fora a categoria «servente», constituindo esta uma categoria autónoma.

Assinala-se a existência de um primeiro industrial da cortiça, na altura denominado de


«rolheiro» por praticamente só fabricar rolhas, em Janeiro de 1871: João dos Santos, natural da
província de Pontevedra, na Galiza. Registe-se, igualmente, a existência de alguns trabalhado-
res de nacionalidade espanhola que vieram trabalhar na construção da ponte rodoviária sobre o
rio Arade que foi inaugurada em Abril de 187675. E, por fim, assinale-se o facto de os três sol-
dadores andaluzes – Andre Modesto Rodríguez, José Cante Rodriguez e Thomaz Gonçalves
Nunez –, a residir na vila em 1904, serem todos naturais de Ayamonte, o que indicia que os
mesmos podem ter aprendido a arte de soldar na fábrica dos «Feu Hermanos» em Ayamonte, e,
em 1902, com a abertura da nova unidade fabril em Vila Nova de Portimão, tenham sido trans-
feridos para a sucursal algarvia76.

75. Três operários em 1874 (um pintor de Baeza – Jaén; um trabalhador de Gijón – Oviedo; e um trabalhador de
Benafar – Huelva), dois em 1875 (um carpinteiro da província de Lugo – Galiza; e um trabalhador de Benafar –
Huelva) e um em 1876 (um trabalhador espanhol de naturalidade não indicada).

76. Cf. C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Registo de estrangeiros residentes
em Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

138
O quadro demonstra uma tendência ao nível das profissões, com categorias bem espe-
cíficas segundo as naturalidades. Se os andaluzes eram maioritariamente negociantes e comer-
ciantes, os galegos eram essencialmente padeiros e serventes77. E, à imagem do que aconte-
cia para o concelho de Silves, eram os catalães que estavam afectos à indústria corticeira, ora
como rolheiros, como simples operários ou como director de fábrica, como aconteceu com Juan
Bordas Marimom, director de uma fábrica de cortiça desde 1873.

Verifica-se, deste modo, uma especialização das redes migratórias em relação a deter-
minadas actividades económicas. Tal como o nível micro-social foi crucial para o estabeleci-
mento de circuitos de migração de várias províncias espanholas para Vila Nova de Portimão,
o nível local é igualmente importante para compreender as experiências migrantes no Algarve.
Os migrantes de diferentes localidades tendem a preferir alguns locais de instalação em detri-
mento de outros, bem como determinadas actividades económicas que, nalguns casos, se trans-
formariam em «nichos económicos étnicos» para utilizar a expressão do historiador Marcelo
J. Borges78. Em Vila Nova de Portimão essa especialização ao nível das atividades económicas
também existiu.

77. No caso das restantes colónias de galegos em Portugal as suas ocupações profissionais estavam, quase todas,
relacionadas com trabalhos manuais. Nas casas de lavoura das zonas de maior pendor emigratório, e por forma a
compensar a falta de trabalhadores portugueses, eram criados e/ou jornaleiros em actividades sazonais. Em Lisboa
eram normalmente aguadeiros (vendedores de água porta a porta), carregadores de mercadorias, moços de fretes,
amoladores de tesouras e navalhas, criados de casas de pasto e de botequins, mas, também, condutores de bom-
bas para extinção de incêndios, isto é, encontravam-se organizados em companhias em torno de diversas fontes
onde eram contratados para extinguir incêndios. Porém, assim que tivessem amealhado as poupanças suficientes
tendiam a estabelecerem-se como carvoeiros, taberneiros, estalajeiros e almocreves, in ALVES, Jorge Fernandes,
«Imigração de galegos no Norte de Portugal (1500-1900). Algumas notas», in Movilidade e migrácions internas na
Europa Latina, coordinación de Antonio Eiras Roel e Domingo Gonzalez Lopo, Unesco. Santiago de Compostela:
Universidad (Catedra Unesco), 2002, p. 117‑126. Disponível online no endereço: https://ler.letras.up.pt/uploads/
ficheiros/artigo11211.pdf.; GONZÁLEZ LOPO, Domingo L., «La emigración a Portugal desde el Suroeste de
Galicia en los siglos XVIII al XX», Emigração-Imigração em Portugal – Actas do colóquio, Lisboa, Fragmentos,
1993, pp. 380-381; PAZOS, Carlos, «De João de Redondella a Os galegos são nossos irmãos. Aproximação à
imagem da Galiza e dos galegos em Portugal nos inícios do século XX», in Imagologías Ibéricas: construyendo la
imagen del otro peninsular, coordinación de María Jesús Fernández García e Maria Luísa Leal, Mérida, Gabinete
de Iniciativas Transfronterizas, 2012, pp. 379-380.

78. Cf. Marcelo J. BORGES, «Migrações portuguesas na Argentina: redes transatlânticas e experiências locais»,
art. cit., p. 21.

139
As redes sociais, sendo fundamentais no processo de migração e na consequente instala-
ção do migrante, eram também vitais para a integração do mesmo no mercado de trabalho local.
As relações entre os determinados membros de uma família e os seus compatriotas já emigrados
constituíam um papel fundamental na incorporação dos recém migrantes nos locais de trabalho.

3.3.2. Da Catalunha para a Andaluzia ao longo do século XVIII

A história da presença catalã na costa onubense foi escrita pelo padre José Miravent y Soler79
e consistiu, basicamente, no seguinte: os catalães vinham para a costa onubense atraídos pela
extraordinária abundância de pesca e pela facilidade da sua captura. Uma vez recolhida a pesca
salgavam-na e prensavam-na em pequenos armazéns, que se construíam provisionalmente em
terra. Depois carregava-se os barcos e voltava-se à Catalunha, onde se comercializava a carga.
No ano seguinte regressavam nas mesmas datas, dando lugar a uma presença periódica de ca-
talães nestas costas.

O sal necessário para esta indústria provinha das salinas próximas. O exemplo dos cata-
lães foi seguido por naturais da costa de Huelva, que começaram a adoptar as técnicas de cap-
tura catalãs, desconhecidas até então nessa costa. Tal facto proporcionou trabalho e ocupação
a um bom número de pessoas. Segundo o Cadastro da Real Fazenda, em meados do século
XVIII, estavam registadas cerca de trinta embarcações de pesca somente em Ayamonte80.

Estima-se que a primeira grande vaga de pescadores catalães rumo à Andaluzia se tenha
iniciado por volta de 1720 ou 1730, conforme nos informa o padre Miravent y Soler:

En 1730 hay que constatar la frecuencia de las embarcaciones catalanas y valencianas que venían a
cargar a estas costas y las inmediatas del reino de Portugal de atún y sardinas, beneficiando (salgan-
do) muchas estos géneros en el distrito y con sal de aquel reino81.

79. Cf. MIRAVENT y SOLER, José, Memoria sobre la fundación y progresos de la Real Isla de la Higuerita, Isla
Cristina, 1824.

80. Cf. LÓPEZ MARTÍNEZ, Antonio Luis, Cruzar la Raya: portugueses en la Baixa Andalucía, Sevilla,
Fundación Publica Andaluza Centro de Estudios Andaluces, 2011, pp. 105-106.

81. Cf. José MIRAVENT y SOLER, Historia primitiva de Isla Cristina. Memoria sobre la Fundación y Progresos
de la Real Isla de La Higuerita, Huelva, Diputación Provincial de Huelva, 1824.

140
Estes catalães sentiam-se atraídos pela fama de abundância e de riqueza das reservas
piscícolas da costa Ocidental da Andaluzia e da costa Oriental do Algarve, assim como da ex-
tensa plataforma continental de pouca profundidade que favorecia a pesca do arrasto82. Deste
modo, começaram a surgir, um pouco por toda a costa da Baixa Andaluzia, novas artes de pesca
trazidas por estes novos migrantes internos: catalães e valencianos. Com eles vieram as «xá-
vegas» (conjunto de redes de arrastar em forma de saco)83 e as «parellas de bous» (parelhas de
bois), embarcações com métodos de captura mais eficazes e, consequentemente, rentáveis84.

No princípio do século XVIII estes migrantes naturais de Mataró, na Catalunha85,


fundaram na costa da província de Huelva a povoação de La Higuerita, Figuerilla ou La
Figuereta, como também era denominada86, povoação que, em 1834, passou a denominar-se
por Isla Cristina87.

Mas quem eram eles? Eram pescadores, armadores, salgadores (homens que trabalha-
vam na salga do peixe) e comerciantes que fundaram, na nova localidade, as primeiras socie-
dades pesqueiras e comerciais88. E foi assim que, durante o último quartel do século XVIII, os
primeiros antepassados da família Feu89 deixaram a sua Mataró natal e começaram a participar,
durante a temporada das pescas, em viagens comerciais de cabotagem rumo à Andaluzia, no-

82. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, Albufeira, Arandis editora, 2014, p. 47.

83. Para se ficar a saber como é composta uma «arte de xávega» veja-se, por exemplo, a obra: SILVA, António
Artur Baldaque da, Estado actual das pescas em Portugal comprehendendo a pesca marítima, fluvial e lacus-
tre em todo o continente do reino, referido ao anno de 1886, Lisboa, Ministério da Marinha e Ultramar, 1891,
pp. 245-246.

84. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., p. 47.

85. Mataró é um município da província de Barcelona, comunidade autónoma da Catalunha. Localidade costeira,
banhada pelo mar Mediterrâneo, fica localizada a cerca de 30 kms a Norte da cidade de Barcelona.

86. Diferentes denominações derivadas do maior ou menor grau da catalanização da palavra.

87. «Em 1834 le fue concedida la autorización de la Corona para cambiar el nombre de La Higuerita por el de Isla
Cristina en honor a D.ª Maria Cristina de Borbón, madre de Isabel II», in Amalia Feu MURO, Ayamonte a Través
del Tiempo, s./l., Editora Guadalquivir, 2005, p. 72.

88. Para um bom resumo da fundação de La Higuerita veja-se, por exemplo, a obra: PÉREZ, Asunción Feu,
op. cit, pp. 54-60.

89. Salvador Casanova Ros (1736-1800) e Pedro Feu Blanch (1782-1853). O primeiro desempenhando as funções
de «patron» numa companhia pesqueira e o segundo um comerciante a título individual, in PÉREZ, Asunción Feu,
op. cit., pp. 60-68.

141
meadamente às localidades de La Higuerita e Ayamonte90. E o que começou por ser uma mi-
gração sazonal (temporada das pescas), com o passar dos anos, para muitos deles, passou a ser
uma migração definitiva. Como seria o caso da família Feu.

Em 1841, na Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do


Algarve de João Baptista da Silva Lopes, era justamente desse facto que o autor dava conta, isto
é, que a venda do pescado capturado no Algarve se fazia em grande escala: ou exportado para o
estrangeiro, ou, via almocreves, para o Alentejo. Advertia, porém, que só era exportado o atum
em salgado, sendo essa actividade dominada por catalães. Eram eles que davam consumo à maior
parte desses peixes, deslocando-se ao Algarve companhias deles para o comprar, salgar, prepa-
rar e, finalmente, o transportar para o estrangeiro dentro de pipas das quais vinham providos91.

A fundação da «Feu Hermanos», em 1889

No dia 10 de Fevereiro de 1889 os dois irmãos Antonio Feu Casanova (Ayamonte, 18.01.1851
– Ayamonte, 25.05.1904)92 e Manuel Feu Casanova (Isla Cristina, 24.01.1847 – Lisboa,
25.06.1916)93 constituíram uma sociedade comercial, em Ayamonte, com um capital social ini-
cial de 25 000 pesetas. Na escritura da «Companhia Mercantil Regular Colectiva Feu Hermanos»
podia ler-se que a dita sociedade se dedicaria

al negocio de las pescas por medios de cualquier clase de arte; compra e venta de pescados fres-
cos, salados o en conservas; toda la clase de salazones y preparación de pescados; más cuantas
industrias y operaciones similares deriven de aquellas y sean convenientes para el desarrollo de su
misma industria94.

90. Cf. ibidem, p. 48.

91. Cf. LOPES, João Baptista da Silva, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino
do Algarve, op. cit., p. 95.

92. Sobre este industrial andaluz veja-se o Apêndice biográfico n.º 3.

93. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., p. 218.

94. Cf. ibidem, p. 83.

142
É então 1889 a data oficial da constituição da sociedade, embora exista, conforme escre-
veu um seu descendente, uma referência manuscrita que aponta o início dessa sociedade para
187895.

Entretanto os irmãos Feu Casanova tinham casado e tido filhos. Antonio Feu Casanova
casou com Cristobalina Marchena Vásquez (Huelva, 17.05.1850 – Ayamonte, 7.06.1902)96 e ti-
veram três filhos: Antonio (Ayamonte, 01.041880 – Lisboa, 27.10.1915)97, Cayetano (Ayamonte,
2.08.1882 – Lisboa, 2.07.1946)98 e Bela (Ayamonte, 31.07.1878 – Ayamonte, 6.04.1926)99. E o
seu irmão Manuel casou com Matilde Marchena Vásquez (Ayamonte, 12.05.1853 – Ayamonte,
1.06.1926)100 e tiveram oito filhos, dos quais só sobreviveram quatro: Manuel (Huelva,
28.12.1882 – Ayamonte, 8.05.1958)101, Andrea (Ayamonte, 22.02.1884 – Málaga, 9.10.1967)102,
José e Matilde103.

Numa primeira fase a sociedade desenvolveu os seus negócios em Ayamonte, Huelva e


na Isla Cristina104. Todavia, num contexto de expansão industrial e empresarial, os irmãos Feu
procedem, no início do século XX, à instalação de quatro novas unidades fabris de conservas
em Portugal, a operar em Vila Nova de Portimão, Mexilhoeira da Carregação, Olhão e Porto
Brandão (freguesia da Caparica, concelho de Almada)105. Chegando a «Feu Hermanos» ao iní-
cio do século XX com unidades fabris instaladas em sete localidades diferentes: Ayamonte,
Huelva e Isla Cristina, na Andaluzia; e Vila Nova de Portimão, Mexilhoeira da Carregação,
Olhão e Porto Brandão, em Portugal.

95. Cf. FEU, António, «A família Feu e a industria conserveira», in AA. VV., O Algarve da Antiguidade aos nossos
dias: elementos para a sua história, coord. de Maria da Graça Maia Marques, s./l., Edições Colibri, 1999, p. 412.

96. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., p. 248.

97. Cf. ibidem.

98. Cf. ibidem, p. 257.

99. Cf. ibidem, p. 247.

100. Cf. ibidem, pp. 218-219.

101. Cf. ibidem, p. 219.

102. Cf. ibidem, p. 228.

103. Cf. ibidem, pp. 218-221.

104. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, op. cit., p. 23.

105. Cf. ibidem.

143
Em 1901 o industrial andaluz António Feu Marchena106 deixa a sua Ayamonte natal para
se fixar em Vila Nova de Portimão, vindo a substituir o «Frito» do catalão Rudolfo Torrens107,
situado na estrada para a praia da Rocha, junto ao convento de São Francisco. Pelo que o es-
tabelecimento industrial foi designado de «Fábrica de São Francisco», entrando em laboração
no ano seguinte108. E, pelo menos, desde 1906 tem a laborar outra unidade fabril em Olhão109
Para, após a vinda definitiva de Cayetano Feu Marchena para Vila Nova de Portimão, em 1915,
a empresa adquirir mais duas unidades conserveiras: a «Santo António», na Mexilhoeira da
Carregação; e a «Exportadora Lusitânia», em Setúbal110. Num processo de expansão rápido
e geograficamente diversificado, com a abertura ou a compra de várias unidades fabris, em
Portugal, em poucos anos.

Vivia-se um período de grande desenvolvimento neste sector. Com uma taxa de cresci-
mento de 8% ao ano para o período compreendido entre 1885 e 1900111. O que, tendo em conta que
a esmagadora maioria da produção nacional era exportada para o mercado internacional, levou a
um significativo crescimento na exportação nacional de sardinhas em conserva, que, entre 1889
e 1904, viu triplicada as quantidades exportadas (passou das 7 871 para as 23 788 toneladas)112.

Porém, em 1904, morre Antonio Feu Casanova e os seus filhos Antonio e Cayetano Feu
Marchena assumem, de forma definitiva, a gerência da sociedade «Feu Hermanos», herdando

106. Sobre este industrial veja-se o Apêndice biográfico n.º 16.

107. Rudolfo Torrens era um negociante catalão, provavelmente natural de Girona, província onde nasceu em
1856. A primeira referência documental que se encontra no concelho sobre Rudolfo Torrens regista que ele residia
em Vila Nova de Portimão em 1889, tendo, nessa altura, 33 anos e como ocupação profissional a de «negociante»,
in C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Registo de estrangeiros residentes em
Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5. Depois, no início da década de 1890, abriu um «frito» na estrada para
a praia da Rocha, em Vila Nova de Portimão e dedicou-se igualmente à indústria corticeira, in DUARTE, Maria
João Raminhos, op. cit., p. 21.

108. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, op. cit., pp. 22-23; AMARO, Armando Filipe da Costa, A indústria
conserveira na construção da malha urbana no Algarve: das estruturas produtivas à habitação operária (1900-
1960), dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura apresentado à Escola de Artes da Universidade de
Évora, Évora, 2020, Anexo documental, p. 115. Disponível em: http://hdl.handle.net/10174/28687.

109. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Olhão, 3.ª edição, Faro, Algarve em Foco editora, 1999
[1906], p. 112.

110. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, op. cit., p. 52 e p. 222.

111. Cf. REIS, Jaime, «O atraso económico português em perspectiva histórica (1860-1913)», in Análise Social,
vol. XX, n.º 80, 1984, p. 19.

112. Cf. CASTRO, Armando de, A revolução industrial em Portugal no século XIX, Lisboa, 1971, pp. 278-295.

144
ainda metade de todo o seu património, que, na altura, era constituído pelos seguintes bens: seis
fábricas de conservas – duas na Andaluzia (Ayamonte e Lepe) e mais três em Portugal (Vila Nova
de Portimão, Olhão e Porto Brandão); quatro almadravas (artes fixas para a pesca do atum) ins-
taladas em zonas marítimas da costa andaluza e da costa algarvia; uma arte de cerco para a pesca
da sardinha; dois barcos (San Luis e o Carbonell) para o transporte de mercadorias; um galeão
(barco a vapor acompanhado por um conjunto de embarcações auxiliares que transportava uma
arte de cerco de grandes dimensões – denominada de «tarrafa»113 – para o qual necessitava de
uma tripulação de cerca de oitenta homens); um barco de recreio; vários prédios, armazéns, uma
propriedade na Isla Canela, fazendas e vários terrenos de pastagens114.

Todavia, em 1915, Antonio Feu Marchena falece, de ataque cardíaco, em Lisboa, le-
vando a que o seu irmão Cayetano Feu Marchena tivesse que alterar a residência de Ayamonte,
onde tinha acabado de cumprir um mandato como alcaide da cidade (eleito pelo Partido Liberal
Democrático para o mandato de 1912-1914115), para Vila Nova de Portimão, de modo a liderar
os destinos da empresa em Portugal, país onde iria residir até ao seu falecimento em 1946116.

A importância dos catalães na indústria corticeira em Vila Nova de Portimão

O início da moderna indústria corticeira em Portugal ocorre na década de 1840, no concelho de


Évora. E encontra-se directamente ligado à emigração de catalães para a região Sul de Portugal
(Alentejo e Algarve)117.

Em 1844 o inglês Tomás Reynolds funda uma fábrica de cortiça em Estremoz, criando,
no ano seguinte, outra em Azaruja, freguesia do concelho de Évora também conhecida por São
Bento do Mato. Se o capital investido era inglês, a direcção técnica da fábrica da Azaruja foi,

113. Uma «tarrafa» é uma rede de pesca circular com pequenos pesos distribuídos em torno de toda a circunfe-
rência da malha.

114. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., pp. 87-88.

115. Cf. ibidem, pp. 98-99.

116. Sobre o papel verdadeiramente impulsionador deste industrial na indústria conserveira em Vila Nova de
Portimão / Portimão veja-se o Apêndice biográfico n.º 17.

117. Cf. MATOS, Ana Cardoso de, «A indústria no distrito de Évora, 1836-1890», in Análise Social, vol. XXVI,
n.º 112-113, 1991, p. 571.

145
desde a sua fundação, entregue ao catalão André Camps, que introduziu o método catalão, tam-
bém designado por método de cutelo fixo, na fabricação das rolhas118.

Em 1845, o trabalho de talhar e escolher a cortiça era executado por oito catalães, todos
eles oriundos da província de Barcelona119. Ainda em 1845 a fábrica de Estremoz empregava
quinze a dezasseis operários catalães, e, em 1852, cerca de 80% dos seus operários não meno-
res eram espanhóis (57 em 71)120. O desenvolvimento que a indústria de fabricação de rolhas de
cortiça conheceu na Azaruja tornou esta localidade um ponto de referência dos operários rolhei-
ros em Portugal. «Perguntad a la mayor parte de los fabricantes de Portugal, encargados, gefes
de taller y operários adonde aprendieron a fabricar corcho; y os responderan: en Azaruja»121.
O binómio mantinha-se inalterável: o capital era inglês e a mão-de-obra catalã.

Também em Vila Nova de Portimão esta indústria se encontrava nas mãos de catalães.
Em Janeiro de 1873 sabe-se que Juan Bordas y Marimon (n. Girona – Catalunha, 1848), então
com vinte e quatro anos de idade, aparecia nos registos oficiais como «Director de fábrica de
cortiça»122. Sendo que, nesse mesmo ano, a referida fábrica empregava mais quatro operários
andaluzes: três de Sevilha e um de Andújar, província de Jaén123. Fábrica que não aparecerá
mencionada no Inquérito Industrial de 1881, muito provavelmente por, na época, empregar me-
nos do que os necessários dez operários para figurar no referido Inquérito.

Em Outubro de 1875 seria a vez de Luis Bordas y Marimon (n. Girona – Catalunha, 1851)
também aparecer como empregado na fábrica de cortiça, sendo que, no princípio do século XX,
este operário já aparece como proprietário de uma fábrica de cortiça124. Em 1906, das três unida-
des corticeiras registadas na vila, duas delas eram detidas por catalães: Luis Bordas y Marimon
e Rudolfo Torrens, estando a restante no nome de José Joaquim Fernandes & Comandita.

118. Cf. ibidem, pp. 571-572.

119. Cf. ibidem.

120. Cf. ibidem.

121. Cf. Andrés CAMPS, Pasado, Presente y Futuro dei Corcho y su industria en España y Portugal, Évora, Typ.
de Francisco de Cunha Bravo, 1880, p. 6.

122. Cf. C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Registo de estrangeiros residentes
em Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

123. Cf. ibidem.

124. Cf. ibidem.

146
3.3.3. A construção da praia da Rocha e a chegada dos primeiros andaluzes

A abertura de um casino na praia da Rocha, a 1 de Agosto de 1910 poucos meses antes da im-
plantação da República, é bem sintomático da crescente procura dessa praia como estância bal-
near e marca uma fase de sucessivos melhoramentos que irão atrair alguma aristocracia do Sul
do país, assim como da Andaluzia Ocidental125. Aristocratas como a família Bivar e o visconde
da Rocha, industriais portimonenses como João António Júdice Fialho, altos funcionários como
o Dr. Magalhães Barros ou industriais espanhóis como Cayetano Feu Marchena (n. Ayamonte)
ou Manuel Ojeda Martins (n. Catalunha) povoaram a praia da Rocha com as suas residências,
onde acolhiam numerosos convidados. Residências que ostentavam o apelido da família ou op-
tavam, simplesmente, por um indicativo da sua função: «Meu Repouso», «Week End» ou «Vila
Contente»126.

Em 1915, com o estabelecimento definitivo de Cayetano Feu Marchena na praia da


Rocha, a aristocracia de Ayamonte começa, também ela, a frequentar a Rocha. Clientela que,
com o passar dos anos, se torna regular. Vinham à procura de praia, de descanso e de lazer. E,
deste modo, acorriam em massa às grandes festas da praia da Rocha ou aos grandes espectácu-
los organizados pelo casino.

Neste particular, refira-se que após o estabelecimento definitivo de Cayetano Feu


Marchena na praia da Rocha, este teve um papel primordial no desenvolvimento turístico dessa
estância balnear. Feu Marchena foi um dos fundadores da «Comissão de Iniciativa da Praia da
Rocha», onde organizou a promoção de inúmeros eventos culturais e dinamizou a construção e
melhoramentos de vária ordem127.

Na década de 1920 fundou e dirigiu a «Sociedade Pavilhão Avenida», constituída com


o objectivo de dinamizar a oferta turística da praia da Rocha. «Pavilhão Avenida» que é inau-
gurado no dia 3 de Agosto de 1930 e que irá marcar a vida social da Rocha nos anos trinta do
século XX. Equipamento onde eram realizados inúmeros eventos: concursos da rainha das
praias do Algarve, festivais regionais, concertos musicais e até conferências. A que assistiam e

125. Cf. VENTURA, Maria da Graça Mateus, MARQUES, Maria da Graça Maia, Portimão, Lisboa, Editorial
Presença, 1993, p. 107.

126. Cf. ibidem, p. 107.

127. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, op. cit., p. 53.

147
participavam a colónia balnear, as famílias abastadas e os seus hóspedes, e os inúmeros andalu-
zes trazidos pelas influentes relações de Cayetano Feu Marchena com a elite comercial e indus-
trial da vizinha Andaluzia128. Desta forma, é sem surpresa que, em 1934, pertencesse à nobreza
andaluza a propriedade das melhores residências na praia da Rocha: eram os marqueses de Alba
Serrada, os condes de Marvila, o conde El Castillo de Tagu e a viscondessa de Almocadeu129,
só para referir alguns exemplos.

3.4. A emigração de andaluzes para o concelho de Lagoa

Na Monografia de Porches – concelho de Lagoa (1912), da autoria de Ataíde Oliveira, pode


ler-se o seguinte termo de nascimento:

António, primeiro de nome, filho legítimo de Bento Peres, natural de Castillejos, Arcebispado de
Sevilha, e de Ana Sanches, da mesma vila de Castillejos, moradores neste povo; neto paterno de
Domingos Gomes e de Catarina Horta; materno de Manuel de Jesus e de Antónia Martins, todos da
mesma vila de Castillejos, e nasceu aos vinte e seis do mês de setembro de mil oito centos e quin-
ze, e foi baptizado e lhe foram postos os santos óleos por mim pároco desta igreja, abaixo assina-
do, aos dois do mês de outubro do dito ano; foi padrinho Sebastião Garcia, natural do Almendro,
Arcebispado de Sevilha e ao presente morador no lugar de S. Bartolomeu de Messines130 […]. -
O Pároco Rodrigo Pires Paraíso131.

Eram famílias andaluzas que, fugindo aos invasores franceses, rumaram ao Algarve.
E por lá se fixaram e tiveram descendência. No registo de baptismo compilado pelo monogra-
fista pode comprovar-se a existência de duas famílias andaluzas: uma natural de Villanueva
de los Castillejos e a residir em Porches (concelho de Lagoa); a outra natural de El Almendro
e a residir em São Bartolomeu de Messines (concelho de Silves). Tendo a criança nascido na
vila de Porches em Setembro de 1815, verifica-se que os seus pais, pelo menos nessa altura, já
residiam na vila. Pressupondo-se que os mesmos tenham emigrado para o concelho de Lagoa
na sequência da Guerra da Independência. Como se verificou com outros andaluzes em igual

128. Cf. ibidem, p. 174.

129. Cf. VENTURA, Maria da Graça Mateus, MARQUES, Maria da Graça Maia, Portimão, op. cit., p. 108.

130. São Bartolomeu de Messines é uma freguesia do concelho de Silves.

131. Cf. Ataíde OLIVEIRA, Monografia de Porches – concelho de Lagoa, Porto, Tipografia Universal, 1912,
pp. 73-74.

148
período. Como, por exemplo, uma tal de Maria dos Santos García Blanco, espanhola natural de
El Almendro, «que com outros membros da sua família, em 1808, fugira de Castellejos, provín-
cia de Huelva, perante a violência da invasão dos franceses», para se fixar em Silves132.

Algumas dessas crianças nasceram e foram baptizadas no concelho para o qual os pais
tinham emigrado, para, passados alguns anos, rumarem, de forma definitiva, para outro con-
celho algarvio. Foi o caso da criança baptizada em Porches, em 1815, que, anos mais tarde, se
fixou como comerciante na vila Loulé, sob o nome de António Martins Peres Gomes133. E como
este caso, outros houve.

No concelho de Lagoa a fonte documental mais antiga a recensear, de forma sistematiza-


da, os estrangeiros residentes no concelho é o Livro de registos das residências de Estrangeiros
neste Concelho de Lagoa, 1869-1894. Livro que fornece algumas informações referentes a cada
estrangeiro residente no concelho, nomeadamente a data do registo, o nome, a naturalidade, o
lugar de onde veio, o estado civil, a profissão e a idade de cada estrangeiro.

Assim, depois de compilada toda a informação necessária e de maneira a condensar, sis-


tematizar e sintetizar a informação recolhida, produziu-se o seguinte quadro-resumo:

Quadro n.º 3.09: Naturalidades e profissões dos estrangeiros residentes no concelho de Lagoa,
entre 1869 e 1894

Ano (N.º) Naturalidades Profissões


1869 (5) V. de los Castillejos (5) N./d.
V. de los Castillejos (2) Comerciante e negociante
1870 (4)
Villablanca (2) Comerciante – negociante e proprietário
1871 (4) V. de los Castillejos (4) Negociantes (3) e n./d. (1)

132. Cf. DOMINGUES, J. D. Garcia, Silves, Guia Turístico da Cidade e do Concelho, 2.ª edição, Silves, Câmara
Municipal de Silves, 2002 [1958], p. 54.

133. António Martins Peres Gomes casou com uma sua prima, Maria Rosa Formosinho, também natural de
Villanueva de los Castillejos. Desse casamento nasceram os seguintes filhos: Bento Martins Peres Gomes, Maria
das Dores Martins Correia, Sebastião Martins Peres Gomes e António Martins Peres Gomes, in OLIVEIRA,
Ataíde, Monografia de Porches – concelho de Lagoa, op. cit., pp. 74-75.

149
Carreiros (2), negociante (1) e
V. de los Castillejos (4)
proprietário e negociante (1)
Villabanca (3) Carreiros (2) e n./d. (1)
1872 (9)
El Almendro (1) Proprietário e negociante
Olivença (Badajoz) (1) Padeiro

1875 (1) Ayamonte (1) Padeiro


V. de los Castillejos (1) Comerciante e carreiro
1876 (2)
Villabanca (1) Carreiro

1879 (2) V. de los Castillejos (2) Carreiros (2)


1880 (1) V. de los Castillejos (1) n./d.

1883 (3) V. de los Castillejos (3) Carreiros (3)

1894 (1) V. de los Castillejos (1) Negociante

Fonte: A. M. Lagoa, Livro de registos das residências de Estrangeiros neste Concelho de Lagoa, 1869-1894.

À medida que se avança para o Algarve Ocidental, isto é, quanto maior é a distância da
localidade em relação à fronteira com a Andaluzia, menor é a quantidade de andaluzes residen-
tes nesse concelho. O que, para a segunda metade do século XIX, é praticamente sinónimo dos
estrangeiros residentes no concelho. A esmagadora maioria dos estrangeiros residentes nos vá-
rios concelhos algarvios era de nacionalidade espanhola e de naturalidade andaluza (veja-se o
quadro n.º 1.10). E em Lagoa os números confirmam isso mesmo. Dos trinta e quatro estrangei-
ros recenseados no concelho para o período compreendido entre 1869 e 1894, apenas três não
eram naturais da Andaluzia (um italiano em 1870, um outro italiano em 1882 e um natural de
Olivença, província de Badajoz, em 1872). Números que se podem considerar residuais quando
comparados com os concelhos de Loulé ou de V.R.S.A..

Neste sentido, e à imagem do que acontece, por exemplo, para o concelho de Loulé, o
grosso das naturalidades recaía em Villanueva de los Castillejos (vinte e três), surgindo logo
abaixo o município de Villabanca (seis).

Por outro lado, e também à imagem do concelho louletano, eram maioritariamente ne-
gociantes e comerciantes, havendo igualmente o registo de alguns carreiros – necessários para

150
o transporte do pescado, nomeadamente das sardinhas, do porto para as fábricas de conservas
– todos eles com idades compreendidas entre os dezasseis e os dezanove anos.

Sabe-se, ainda, que em Abril de 1902 a rica proprietária Maria das Dores Martins, viúva
de João Martins Formosinho e Mãe do Comendador João Martins Formosinho134 decidiu arren-
dar «pelo tempo, preço e condições que entender por convenientes á Camara Municipal d’es-
te concelho os altos d’um predio que digo predio urbano, que possuo na rua do Espirito Santo
d’esta villa para a instalação da escolla do ensino oficial […] d’esta mesma villa»135.

3.5. A emigração de andaluzes para o concelho de Silves

A fonte documental mais antiga referente ao registo de estrangeiros residentes no concelho de


Silves trata-se de um relatório anual que o administrador do concelho enviou para o governa-
dor civil de Faro. No mesmo, pode encontrar-se a lista completa dos dezoito estrangeiros que,
no primeiro semestre de 1838, residiam no concelho de Silves, conforme nos indica o seguinte
quadro-resumo.

Quadro n.º 3.10: Registo de estrangeiros residentes no concelho de Silves no primeiro semes-
tre de 1838

Naturalidades Freguesia de residência Profissões


Negociantes e proprietários (4),
Silves (9) negociante e estanqueiro (1), negociante
(1), trabalhador (1) e agentes (2)
El Almendro (14) São Bartolomeu Negociante (1), proprietário (1)
de Messines (3) e almocreve (1)
Alcantarilha (1) Negociante e proprietário (1)
Pêra (1) Proprietário (1)

134. O Comendador João Martins Formosinho (filho) nasceu a 29 de Fevereiro de 1852 na vila de Lagoa. Filho
de João Martins Formosinho e de Maria das Dores Garcia, ambos naturais de Lagoa. Casou no dia 11 de Janeiro
de 1890, na mesma freguesia, com Maria da Purificação Guerra. Faleceu, em Lagoa, em 4 de Outubro de 1926.
Os seus avós, maternos e paternos, eram todos eles naturais de El Almendro. (Informações prestadas pelo genea-
logista Bruno Portugal Gomes)

135. Cf. A.M.Lagoa, Fundo da Família Formosinho, Série 601, Unidade de Instalação n.º 6 905, manuscrito de
3 de Abril de 1902.

151
V. de los Castillejos (1) Silves (1) Negociante (1)
Brandesso (Espanha) (1) Silves (1) Trabalhador (1)
Tarragona (Catalunha (1) Armação de Pêra (1) Negociante e proprietário (1)
São Bartolomeu de
Nápoles (1) Caldeireiro (1)
Messines (1)
Total 18 18

Fonte: A.D.F., Fundo do Governador Civil de Faro, Copiador da correspondência recebida para o ano de 1838,
também publicado no periódico Voz do Sul, n.º 490, de 27 de Novembro de 1927.

Em 1838 haviam dezoito estrangeiros residentes no concelho, repartidos, de forma de-


sigual, pelas suas cinco freguesias: onze em Silves, quatro em São Bartolomeu de Messines,
um em Alcantarilha, um em Armação de Pêra e, finalmente, um em Pêra. À excepção de um
italiano, natural de Nápoles, todos os outros eram espanhóis, dos quais quinze eram andaluzes:
catorze de El Almendro e um de Villanueva de los Castillejos.

Ao contrário de outros concelhos, como, por exemplo, Loulé, Tavira ou V.R.S.A.,


os naturais de El Almendro eram em maior número quando comparados com os naturais de
Villanueva de los Castillejos, facto muito provavelmente explicado pelas redes migratórias que
se construíram entre o concelho de origem e o concelho de destino, uma vez que a primeira fa-
mília andaluza emigrada para Silves, em 1808, era natural de El Almendro, e, depois, alguns
familiares também lhe seguiram as pisadas.

Eram maioritariamente negociantes e/ou proprietários, sendo que nos negociantes há


registo de um estanqueiro (negociante de tabacos) e de um almocreve, evidenciando que o co-
mércio era a actividade económica que mais os ocupava. A referência à existência de vários
proprietários evidência que se tratavam de andaluzes com algumas posses económicas.

Porém, passado sensivelmente um quatro de século, a situação parece que se tinha alte-
rado. Pelo menos a julgar pelos espanhóis que requereram o necessário passaporte para sair do
concelho, entre 1860 e 1863. Passaportes que, na sua maioria, foram requeridos para se deslo-
carem a outras partes do reino de Portugal. Veja-se, então, o seguinte quadro-resumo.

152
Quadro n.º 3.11: Naturalidades e profissões de alguns dos estrangeiros residentes no concelho
de Silves segundo o Livro dos Registo dos passaportes passados nesta Administração
do Concelho (1860-1863)

Ano (N.º) Naturalidades / Nacionalidades Profissões


Catalunha (1) Corticeiro
1860 (3) Madrid (1) Sapateiro
Villanueva de los Castillejos (1) Carreiro
Villanueva de los Castillejos (2) Trabalhador e carreiro
El Almendro (1) Negociante
1861 (5)
Santa Maria de Roberida (1) Mineiro
La Parra (Província de Badajoz) (1) Alerquim (actor cómico)
Villanueva de los Castillejos (3) Negociante, sapateiro e artista
1862 (6) Galiza (2) Afiadores (2)
Itália (1) Músico ambulante
Villanueva de los Castillejos (2) Proprietário e trabalhador
1863 (4) França (1) Corticeiro
Itália (1) Vendedor

Fonte: A.H.M.S., Fundo do Administrador do Concelho de Silves, Livro de Registo de Passaportes passados nesta
Administração do concelho, 1860-1863 e Passaportes de Trânsito (fólios avulsos).

3.5.1. Os García Blanco

Maria dos Santos Tenório García Blanco

Fugida, como tantos outros, de Villanueva de los Castillejos, em virtude da Guerra da


Independência, esta andaluza, natural de El Almendro136, decide refugiar-se no Algarve, em
1808, escolhendo Silves para fixar a sua residência. Em 1834 obteria a nacionalidade portugue-
sa137. Casou com José García Blanco, também ele natural de El Almendro, e desse casamento
resultou um filho – José António García Blanco.

136. Cf. A.N.T.T., Fundo da Paróquia de Silves, Livro de registo de baptismos da paróquia de Silves, 1845-1848,
fl. 23.

137. Cf. DOMINGUES, J. D. Garcia, Silves, Guia Turístico da Cidade e do Concelho, op. cit., p. 54.

153
Sabe-se que foram os seus dois irmãos, Domingos García Blanco e Sebastião Domingues
García Blanco, também eles naturais de El Almendro, que introduziram a indústria de fabrica-
ção de rolhas de cortiça no concelho de Silves entre os anos de 1838 e 1839138.

José António García Blanco

Nasceu em 1821 em El Almendro139. Filho de José García Blanco e de Maria dos Santos
Tenório, ambos naturais do El Almendro140. Era um proprietário.

Foi vereador da câmara municipal de Silves durante os biénios de 1852-1853 e


1854-1855141.

José António García Blanco (Júnior) (Silves, 16.04.1846 – Silves, 10.12.1887)

José António García Blanco (Júnior) nasceu em Silves no dia 16 de Abril de 1846. Filho de José
António García Blanco, natural de El Almendro, e de Maria Joaquina García Blanco, governan-
ta de sua casa, e ambos residentes em Silves. Neto paterno de José García Blanco e de Maria
dos Santos Tenório, ambos do El Almendro e materno de Domingos García Blanco, natural de
El Almendro e de Ana da Purificação, natural de Lagoa. Foi baptizado no dia 4 de Maio de 1846
na paróquia de Silves142.

138. Cf. JÚDICE, Pedro M., «Terras do Algarve – Silves», in Alma Nova, Revista de Ressurgimento Nacional,
III.ª Série, n.º 24, Dezembro de 1924, p. 122.

139. Cf. A.H.M.S., Fundo do Administrador do Concelho de Silves, Livro de Registo de Passaportes passados
nesta Administração do concelho, 1860-1863.

140. Cf. A.N.T.T., Fundo da Paróquia de Silves, Livro de registo de baptismos da paróquia de Silves, 1845-1848,
fl. 23.

141. Cf. A.H.M.S., Fundo da Câmara Municipal de Silves, Livro das Actas da Câmara Municipal de Silves, Auto
de Posse e Juramento, fl. 63vº. e 189vº.

142. Cf. A.N.T.T., Fundo da Paróquia de Silves, Livro de registo de baptismos da paróquia de Silves, 1845-1848,
fl. 23.

154
José António estudou em Inglaterra, no colégio da Grove House, no Sul de Londres,
onde se formou em 1860143. Depois de concluído os estudos regressou a Silves onde foi nomea-
do vice-consul de Inglaterra para o concelho de Vila Nova de Portimão, concelho onde se des-
locava com frequência144.

Casou com Maria Isabel de Sousa Cryne Teixeira, de uma abastada família do Porto,
que, após o falecimento dos pais, herdou uma avultada fortuna145.

Foi vereador, eleito pelo Partido Progressista, da câmara municipal de Silves entre 2 de
Janeiro e 24 de Agosto de 1878. Vereação presidida por Manuel Lopes dos Reis146.

Grande amigo do seu conterrâneo o poeta João Deus (São Bartolomeu de Messines,
8.03.1830 – Lisboa, 11.01.1896), passou à história como o primeiro editor do poeta algarvio,
editando, por sua conta, a primeira obra do poeta (Flores do Campo, Lisboa, 1869)147.

Sempre muito ligado às questões culturais, García Blanco foi um verdadeiro literato, bi-
bliófilo e melómano148. E, além de editor, foi ainda o tradutor para a língua portuguesa de uma
peça teatral inglesa, intitulada «Catarina Howard», facto bem revelador da sua preparação in-
telectual e literária149.

Faleceu em Silves no dia 10 de Dezembro de 1887150. Tinha 41 anos.

143. Cf. ibidem.

144. Cf. DOMINGUES, J. D. Garcia, Silves, op. cit., p. 55.

145. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, João de Deus – Imortal e Intemporal, Lisboa, Edições Colibri e
Câmara Municipal de Silves, 2020, p. 208.

146. Cf. ibidem.

147. Cf. DEUS, João de, Flores do Campo, edição de José António Garcia Blanco, Lisboa, Casa de Ferin &
Robin, Typographia Franco-Portugueza, 1869.

148. Para se ficar a saber mais sobre a biografia de José António García Blanco veja-se, por exemplo, a obra:
DUARTE, Maria João Raminhos, João de Deus – Imortal e Intemporal, op. cit., pp. 207-211.

149. Cf. DOMINGUES, J. D. Garcia, op. cit., p. 55.

150. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de Silves, Livro de registo óbitos da paróquia de Nossa Senhora da Conceição,
em Silves, 1887, fl. 56.

155
3.5.2. Os Gomes Pablos

Francisco Gomes Pablos (Monchique, 30.09.1834 – Silves, 3.03.1908)151

Francisco Gomes Pablos nasceu na freguesia de Monchique (concelho de Monchique) no


dia 30 de Setembro de 1834. Filho de Francisco Gomes Pablos e de Maria da Encarnação
Gonçalves, ambos naturais de El Almendro, que emigraram para o Algarve durante a Guerra da
Independência. Fugiam à guerra e escolheram a vila de Monchique para fixar a sua primeira re-
sidência no Algarve. Era neto paterno de Lourenço Gomes Pablos e de Beatriz Lopes e materno
de João Gonçalves e de Maria […] todos eles naturais do El Almendro. Foi baptizado na igreja
de Monchique no dia 7 de Outubro de 1834, tendo como padrinho Domingos Romero, um an-
daluz natural de Villanueva de los Castillejos, também residente no Algarve.

Os pais eram proprietários agrícolas tendo deixado várias propriedades ao seu filho.
Francisco Gomes Pablos foi um grande proprietário agrícola e urbano, tendo falecido no dia 3
de Março de 1908, na cidade de Silves, aos 73 anos de idade.

Por testamento instituiu seus herdeiros universais, em partes iguais, o hospital da Santa
Casa da Misericórdia de Silves e a câmara municipal de Silves, ambos ficando com as seguintes
obrigações testamentarias: o hospital ficou com o encargo de custear a alimentação dos doentes
do hospital, assim como providenciar a construção de um asilo para os pobres e os inválidos; a
câmara municipal ficou obrigada a construir duas escolas (uma para meninas e outra para me-
ninos) na cidade. Fixou, igualmente, como herdeiro e usufrutuário vitalício dos seus bens o seu
sobrinho João José Gomes Pablos, nascido em Silves, mas à data do falecimento do seu tio, re-
sidente em Loulé.

João José Gomes Pablos (Silves, 15.05.1863 – Silves, 1.10.1932)

João José Gomes Pablos foi um grande proprietário natural de Silves onde nasceu em 15 de Maio
de 1863. Filho de João José Gomes Pablos (El Almendro, 1821 – Silves, 21.12.1867), negociante
natural de El Almendro, e de Beatriz Rodrigues Garcia, sem profissão natural de Silves.

151. Cf. GONÇALVES, Vera, «Exposição ‘O legado de Francisco Gomes Pablos’, in Terra Ruiva, Jornal do
Concelho de Silves, ano XV, n.º 165, de Abril de 2015, p. 16.

156
Casou com Maria Francisca Gonçalves Rocheta (Loulé, 21.09.1862 – Loulé, 1.04.1934),
sem profissão natural de Loulé, na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 9 de Junho
de 1884, tendo como testemunhas de casamento Matheus António Jara, medico municipal resi-
dente em Faro, e Manoel Rodrigues Corrêa, negociante residente em Loulé152.

Foi eleito vereador da câmara municipal de Loulé, pelo Partido Regenerador, entre 1896
e 1898, e, depois, mais duas vezes pelo partido Regenerador Liberal, entre 1908 e 1910153.

Era sobrinho do grande proprietário e benemérito Francisco Gomes Pablos. Com o fale-
cimento do tio, João José Gomes Pablos mudou a sua residência de Loulé para Silves por forma a
administrar os vários bens que o tio lhe tinha deixado. João José Gomes Pablos viveria em Silves
de Outubro de 1910 até ao dia 1 de Outubro de 1932, data em que viria a falecer nessa cidade154.

Artur Gomes Pablos (Loulé, 3.07.1882 – Loulé, 1.10.1955)

Artur Gomes Pablos nasceu em Loulé no dia 3 de Julho de 1882. Filho de João José Gomes
Pablos e de Maria Francisca Rocheta, era neto paterno de João José Gomes Pablos, comerciante
e proprietário natural de El Almendro. Artur Gomes Pablos foi um comerciante e exportador de
frutos secos, sediado em Loulé. Faleceria no dia 1 de Outubro de 1955 em Loulé.

3.5.3. A indústria corticeira em Silves

A indústria corticeira no concelho de Silves surgiu no segundo semestre de 1838 ou em 1839


pela mão de dois irmãos andaluzes, naturais de El Almendro, e radicados na cidade. Foram os ir-
mãos Domingos García Blanco e Sebastião Domingues García Blanco os primeiros fabricantes

152. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1884-1884, lv. 48, fls.
29-29vº.

153. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, Loulé, Edições Colibri e Câmara Municipal de Loulé, 2001, pp. 45-47.

154. Cf. GONÇALVES, Vera, Catálogo da exposição O Legado de Francisco Gomes Pablos, patente ao público
no Arquivo Histórico Municipal de Silves, em Silves, em Abril de 2015.

157
e exportadores de rolhas de cortiça no concelho, conforme se pode concluir através do ofício n.º
106 do copiador dos ofícios do administrador do concelho de Silves referente ao ano de 1839155.

Indústria que rapidamente cresceu empregando muitos operários. Que também chega-
vam do estrangeiro. Em 1860 há o registo de um corticeiro, natural da Catalunha, a residir na
cidade. E, em 1863, há um outro corticeiro, francês, a residir em Alcantarilha, uma das fregue-
sias do concelho156.

Sabe-se que a «Fábrica do Inglês», denominada comercialmente por «Avern, Sons &
Barris e Gregório Nunes Mascarenhas», iniciou a sua laboração antes de 1890, uma vez que no
Inquérito Industrial desse ano já se encontrava referida157. Foram seus sócios fundadores os se-
guintes industriais: Henry Avern, um inglês natural de Londres; Arturo Barris, um catalão natu-
ral da província de Girona; e Gregório Nunes Mascarenhas (1847–1922), um algarvio natural de
Alcantarilha158. Todavia a fábrica passaria à história com a designação de «Fábrica do Inglês»,
por ter sido o sócio de nacionalidade inglesa que entrou com um maior capital social inicial.

Em Março de 1893 Arturo Barris, juntamente com o sócio Henry Avern, compram a
Gregório Nunes Mascarenhas ⅔ partes do terreno onde se estava a construir as instalações da
nova fábrica. Estas modernas instalações serão inauguradas a 2 de Janeiro de 1894 e perma-
necerão em actividade por cerca de um século159. A nova sociedade será agora designada, ofi-
cialmente, por «Avern, Sons & Barris». Em 1902 Gregório Nunes Mascarenhas vendeu a sua
participação social na fábrica aos seus dois sócios, ficando a «Fábrica do Inglês» somente de
capital inglês e espanhol.

O capital espanhol investido na constituição desta unidade fabril era pertença do catalão
Arturo Barris. Este capitalista, filho de José Barris, vivia em Londres e era casado com Caroline

155. Cf. A.D.F., Fundo do Governador Civil de Faro, Copiador da correspondência recebida para o ano de 1839;
JÚDICE, Pedro M., «Terras do Algarve – Silves», art. cit., p. 122.

156. Cf. A.H.M.S., Fundo do Administrador do Concelho de Silves, Livro dos Registo dos passaportes passados
nesta Administração do Concelho (1860-1863).

157. Cf. RAMOS, Manuel F. Castelo, «A Fábrica Avern, Sons & Barris (1884-1995): apontamentos para a sua
compreensão», in Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês. Exposição permanente. Estudos. Catálogo, Silves,
Fábrica do Inglês S. A., 1999, pp. 59-60.

158. Cf. ibidem.

159. Cf. AA. VV., Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês. Exposição permanente. Estudos. Catálogo, Silves,
Fábrica do Inglês S. A., 1999, p. 173.

158
Brigdet Barris. Além da participação que detinha na corticeira sediada em Silves, Barris possuía
fábricas em Palafrugell (Catalunha), Epernay (França) e Manheim (Alemanha), assim como
alguns montados no Norte da Argélia que lhe garantiam a tão necessária matéria-prima para a
laboração das suas unidades fabris160.

Contudo, sabendo-se que eram os catalães os grandes especialistas a trabalhar a cortiça,


conforme já se viu no sub-capítulo dedicado a Vila Nova de Portimão, também a «Fábrica do
Inglês» resolveu contratar um catalão especialista nesta indústria. Deste modo, em Novembro
de 1921, Andrés Lluis Bós (Baget – Girona, 1892 – Silves, 1953), na qualidade de operário
mecânico, deixa a sua função na «Talleres Trill S. A.», antiga fábrica «Trill Hermanos», lo-
calizada no município catalão de Palafrugell, para emigrar para Silves, cidade onde viria a
falecer161. Traz consigo a experiência e, em Silves, monta a oficina de transformação mecani-
zada na «Fábrica do Inglês»162. Poucos anos mais tarde, em 1924, funda uma empresa própria
de fabricação de «gúbias» e montagem de máquinas, denominada «Andrés Lluis & Salgado,
Limitada», grande fornecedora da fábrica de cortiça «Avern, Sons & Barris»163.

3.6. A emigração de andaluzes para o concelho de Faro

A documentação mais completa que chegou até hoje registando os estrangeiros residentes no
concelho de Faro data de entre 1889 e 1921. No entanto, e como o limite temporal da presen-
te investigação termina em 1914, é até esta data que se trabalhará todos os dados compilados.

Ao contrário da maior parte dos restantes concelhos algarvios estudados neste trabalho,
em Faro verifica-se uma maior diversidade no que diz respeito às naturalidades dos andaluzes
residentes, havendo, na cidade, radicados naturais de várias províncias andaluzas. No entanto,
procedendo-se a uma análise mais pormenorizada, verifica-se a preponderância de ayamontinos
e de sevilhanos.

160. Cf. RAMOS, Manuel F. Castelo, «A Fábrica Avern, Sons & Barris (1884-1995): apontamentos para a sua
compreensão», art. cit., p. 64.

161. Cf. AA. VV., Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês. Exposição permanente. Estudos. Catálogo, op. cit.,
p. 173 e p. 175.

162. Cf. ibidem, p. 174.

163. Cf. ibidem, p. 63 e p. 174.

159
Quadro n.º 3.12: Registo de andaluzes residentes em Faro, entre 1889 e 1914

Ano N.º de andaluzes Naturalidades Profissões


Ayamonte Marítimo
1889 3 Villablanca Negociante
Ronda Servente
Villablanca (3) Negociantes (3)
Ayamonte Braceiro
1890 7 Jabugo Relojoeiro
Ronda Trabalhador
Não identifiado Tendeiro
Ayamaonte (2) Braceiro e vendedeiro
1891 4 Jabugo Relojoeiro
Villablanca Negociante
Ayamonte (3) Braceiro, fabricante e vendedeiro
Jabugo Relojoeiro
1892 6
Villablanca Comerciante
V. de los Castillejos Comerciante
Sevilha (5) Tecelões (5)
Ayamonte (3) Braceiros (2) e fabricante (1)
Jabugo Relojoeiro
1893 12
Cádiz Tecelão
Villablanca Comerciante
V. de los Castillejos Comerciante
Ayamonte (3) Fabricantes (2) e braceiro (1)
Granada (2) Tecelões (2)
1894 8
Sevilha (2) Tecelões (2)
Huelva Tecelão
Ayamonte (4) Fabricantes (2) e trabalhadores (2)
Granada (2) Tecelões (2)
1895 9 Huelva Fundidor
Jabugo Relojoeiro
Sevilha Tecelão
Padeiros (3), fabricantes (2),
Ayamonte (7)
1896 8 braceiro (1) e tendeiro (1)
Cabeza Rubia Braceiro
Granada (3) Tecelões (2) e trabalhador (1)
Sevilha (2) Tecelões (2)
1897 7
Ayamonte Comerciante
V. de Castillejos Comerciante

160
Ayamonte (3) Padeiro, relojoeiro e servente
1898 7 Sevilha (2) Tecelãos (2)
V. de los Castillejos (2) Comerciantes (2)
Sevilha (4) Tecelões (4)
1899 6 Ayamonte Servente
Granada Tecelão
1900 0
1901 0
Sevilha Tecelão
1902 2
V. de los Castillejos Comerciante
1903 0
1904 4 Sevilha (4) Tecelões (3) e sapateiro (1)
1905 1 Villablanca Padeiro
1906 0
1907 0
Almería Comerciante
1908 3 Isla Cristina Caixeiro
Sevilha Tecelão
Sevilha (4) Tecelões (3) e doceiro (1)
Almería Comerciante
1909 7
Córdova Doceiro
San Silvestre de Guzmán Jornaleiro
1910 1 San Silvestre de Guzmán Jornaleiro
1911 0
1912 0
1913 0
1914 1 Huelva Padeiro

Fonte: A.D.F., Fundo do Governo Civil de Faro, Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889 – 1921.

Refira-se que no Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889 – 1921, do qual aqui
só se analisam as informações até 1914, não há qualquer registo nominal para os anos de 1900,
1901, 1903, 1906, 1907, 1911, 1912 e 1913. Situação não muito frequente, mas que poderá in-
dicar que, nesses anos, os estrangeiros residentes eram os mesmos que nos anos transactos.

O quadro-resumo mostra uma grande diversidade ao nível das naturalidades registadas.


Com espanhóis oriundos de apenas duas comunidades autónomas: Andaluzia e Extremadura
espanhola. Se da Extremadura os residentes registados eram todos tecelões naturais de Mérida,

161
da Andaluzia a diversidade era maior, havendo registos de residentes naturais dos seguintes mu-
nicípios: Almería, Ayamonte, Cabezas Rubias, Cádiz, Córdoba, Granada, Huelva, Isla Cristina,
Jabugo, Ronda, San Silvestre de Guzmán, Sevilha, Villablanca e Villanueva de los Castillejos,
havendo ainda um município que não se encontra identificado. Esta situação é um pouco dife-
rente da verificada nos restantes concelhos algarvios estudados, em que a dispersão por natu-
ralidades era menor. Tomando como exemplo os concelhos de Loulé e de V.R.S.A., verifica-se
que os andaluzes lá residentes eram na sua maior parte oriundos de municípios da província de
Huelva, ao invés do que se verifica para o concelho de Faro, em que são provenientes pratica-
mente da totalidade das províncias andaluzas.

Refira-se, por curiosidade, a existência de um comerciante natural de Villanueva de los


Castillejos, Manuel Martins Domingues, a residir em São Brás de Alportel, freguesia rural do
concelho de Faro164, pelo menos, entre 1892 e 1902165.

Gráfico n.º 3.01: N.º de andaluzes registados como residentes em Faro, entre 1889 e 1914

14

12

10

0
1889
1890
1891
1892
1893
1894
1895
1896
1897
1898
1899
1900
1901
1902
1903
1904
1905
1906
1907
1908
1909
1910
1911
1912
1913
1914

Fonte: A.D.F., Fundo do Governo Civil de Faro, Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889 – 1921.

164. São Brás de Alportel foi uma freguesia do concelho de Faro até 1 de Julho de 1914, data em que deixa de ser
freguesia para passar a ser um concelho independente.

165. Cf. A.D.F., Fundo do Governo Civil de Faro, Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889 – 1921.

162
O gráfico revela uma inicial tendência de crescimento entre 1889 (três registos) e 1893
(doze registos), em que se atinge o pico dos registos, para, a partir desse ano, se registar uma
tendência de decréscimo que terminará em 1900, ano para o qual não existe nenhum registo.

Gráfico n.º 3.02: Naturalidades dos andaluzes a residir em Faro, entre 1889 e 1914
35

30

25

20

15

10

0
Villablanca

Ayamonte

V. Castillejos
Ronda

Jabugo

N.I.

Sevilha

Cádiz

Granada

Huelva

Cabezas
Rubias

Almeria

Isla Cristina

S. Silvestre
de Guzmán

Córdoba
Fonte: A.D.F., Fundo do Governo Civil de Faro, Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889 – 1921.

O gráfico evidência uma grande diversidade ao nível das naturalidades, com quinze
municípios representados, provenientes de sete das oito províncias andaluzas: Huelva, Sevilha,
Cádiz, Málaga (Ronda), Córdoba, Granada e Almería. Ao contrário da maior parte dos restantes
concelhos algarvios estudados, Villanueva de los Castillejos não ocupa a primazia do local de
origem dos emigrantes: no caso de Faro, eram os municípios de Ayamonte e Sevilha que ocu-
pavam a liderança. Destaque-se ainda a existência de emigrantes de municípios que se situam
mais longe da fronteira, como, por exemplo, Córdoba, Granada ou Almería.

Para os andaluzes registados no concelho de Faro a profissão mais comum era a de te-
celão. Que os há para vários anos e oriundos de três cidades: cinco de Sevilha, em 1893; dois
de Granada, dois de Sevilha e um de Huelva, em 1894; dois de Granada e um de Sevilha, em
1895; dois de Granada e dois de Sevilha, em 1897; dois de Sevilha, em 1898; quatro de Sevilha
e um de Granada, em 1899; um de Sevilha, em 1902; três de Sevilha, em 1904; um de Sevilha,
em 1908; e, finalmente, três de Sevilha em 1909. A estes devem acrescentar-se os restantes es-
panhóis registados como residentes em Faro, todos naturais de Mérida (comunidade autónoma

163
da Extremadura) e também tecelões de profissão: dois em 1893, sete em 1894, sete em 1895,
um em 1896, dois em 1897, um em 1904, um em 1905, um em 1906, um em 1907 e um 1912.

A indústria de tecelagem concentrava, assim, o grosso dos operários de nacionalidade


espanhola a residir em Faro. Facto que ajuda a explicar, ao contrário dos restantes concelhos
algarvios, a pouca preponderância de Villanueva de los Castillejos como terra emissora de emi-
grantes para o concelho, justamente pelo facto de Castillejos não ter tradição nessa indústria.
Indústria de tecelagem (algodões e linhos) que, até à implantação da República em Outubro de
1910, foi aquela que concentrou as percentagens mais elevadas na composição do trabalho in-
dustrial em Portugal: 33,6% em 1845, 37,2% em 1852, 25,5% em 1896 e 38% em 1910166. E
que, no princípio do século XX, fez com que alguns estrangeiros fossem dos industriais mais
ricos e prósperos da cidade: Modesto Gomes dos Reyes (n. Ayamonte), Clemente Boiscaj e o
seu irmão (n. dos Países Baixos) ou Jaime Barrot167.

Se, em relação aos restantes concelhos estudados, a diversidade ao nível das naturali-
dades era maior, o mesmo se passava ao nível das profissões. Ao contrário da maior parte dos
outros concelhos algarvios, em que a maioria dos andaluzes eram negociantes e comerciantes,
em Faro havia uma maior diversidade profissional. Deste modo, ao ler a documentação, encon-
tram-se registadas, por exemplo, as seguintes profissões: caixeiro, doceiro, fundidor, jornalei-
ro, padeiro, relojoeiro, servente, tendeiro, entre outras. Diversidade profissional que pressupõe
uma economia local mais diversificada, pelo menos no respeitante aos serviços, o que era natu-
ral, tratando-se Faro da capital da província.

3.6.1. O exemplo de Modesto Gomes dos Reyes na indústria de tecelagem farense

Sendo a tecelagem a indústria mais representativa da comunidade andaluza a residir em Faro,


tome-se, como exemplo, o caso do industrial tecelão Modesto Gomes dos Reyes nascido, em
1867, na cidade de Ayamonte.

166. Cf. LAINS, Pedro, «A Indústria», in História Económica de Portugal, 1700-2000, vol. II, O Século XIX, or-
ganizada por Pedro Lains e Álvaro Ferreira da Silva, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005, p. 270.

167. Cf. Boletim do Trabalho Industrial, números 17, 18 e 19, de 1907.

164
Em Março de 1889 encontra-mo-lo registado como «tecedor» em Vila Nova de Portimão,
na companhia de um tal Antonio Gomes, também natural de Ayamonte e «tecedor» de profissão,
que, por ter 50 anos, poderá ser o seu Pai168. Porém, passados quatro anos, isto é, em 1893, deci-
de mudar a residência para Faro. Tinha, na altura, 26 anos169. Já instalado em Faro edifica, ainda
no mesmo ano de 1893, uma fábrica de tecelagem, que, em Agosto de 1896, sabe-se através de
uma notícia que relatava ali uma greve de operários, contaria com cerca de cem operários170.

Decorridas mais de duas décadas desde a sua fundação, um inquérito levado a cabo sobre
as indústrias têxteis no país, publicado em 1916 no Boletim do Trabalho Industrial, informava
que Modesto Gomes dos Reyes era «presidente dum trust171, pois que a maioria dos industriais
do Algarve trabalhavam por conta deste senhor»172. A. H. Oliveira Marques informa que o trust
industrial, conquanto limitado, «agrupava fábricas de têxteis em Loulé, Faro, Silves, Vila Real
de Santo António, etc»173. Com a particularidade de duas delas serem propriedade de dois con-
terrâneos andaluzes, também eles radicados no Algarve: a «Ramirez & C.ª», fundada em 1879,
em V.R.S.A., e propriedade do industrial Sebastián Ramírez (n. El Almendro, 1828); e a fábri-
ca de tecelagem do industrial Ricardo Villa Bañez (n. Almonte), fundada em 1898, em Loulé,
esta última fabricando somente por conta do trust industrial celebrado com Modesto Gomes
dos Reyes174. A «Ramirez & C.ª» operava com quinze teares mecânicos e quatro manuais175; a

168. Cf. C.D.A.H.M.M.P., Fundo do Administrador do Concelho de Portimão, Serviço de estrangeiros, Registo de
estrangeiros residentes em Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

169. Cf. A.D.F., Fundo do Governo Civil de Faro, Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889 – 1921.

170. Cf. «Greve em Faro», in A Vanguarda, Lisboa, n.º 1 855, de 13 de Agosto de 1896, p. 3.

171. Trust é a designação que se dá há fusão de várias empresas de modo a formar um monopólio com o intuito
de dominar determinada oferta de produtos e/ou serviços. Pode-se definir trust também como uma organização
empresarial de grande poder de pressão sobre o mercado.

172. Cf. Boletim do Trabalho Industrial, Inquérito sobre as Indústrias Têxteis, Lisboa, Imprensa Nacional, n.º
105, 1916, p. 182.

173. Cf. A. H. de Oliveira Marques, «O Surto Industrial, Portugal da Monarquia para a República», Nova História
de Portugal, dirigida por Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, vol. XI, Editorial Presença, Lisboa, 1991, p. 134.

174. Cf. A.D.F., Fundo do Governo Civil de Faro, Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889-1921;
Boletim do Trabalho Industrial, Inquérito sobre as Indústrias Têxteis, Lisboa, Imprensa Nacional, n.º 105, 1916,
pp. 181-185.

175. Cf. ibidem, p. 185.

165
de Ricardo Villa Bañez era composta por trinta e nove teares manuais e empregava quarenta e
cinco operários – trinta e oito homens e sete mulheres176.

O inquérito informava ainda que a fábrica de Modesto Gomez dos Reys era composta por
quarenta teares manuais. Empregava um mestre, espanhol, e mais quarenta e três operários – trin-
ta e dois homens, dez mulheres e um menor – sem discriminação das nacionalidades. Fabricava
«grossarias de todas as qualidades», numa produção de cerca de 7 000 peças por ano, que lhe
rendiam aproximadamente 60 000$000 réis anuais. O inquérito terminava referindo que «este
industrial tem prosperado, visto que quando em 1893 montou em Faro esta indústria, os seus ca-
pitais eram muito resumidos e actualmente é um dos maiores capitalistas da cidade de Faro»177.

Situação comum a outros industriais estrangeiros a residir na cidade, uma vez que, no
final do século XIX e nos princípios do século XX, alguns dos homens mais ricos e prósperos
de Faro eram industriais estrangeiros, radicados e a operar na cidade. Luna Sequerra e Abrahão
Amram (n. dos Países Baixos) dois judeus radicados na segunda metade do século XIX e que
foram, em simultâneo, industriais de conservas e cortiça178; Clemente Boiscaj e o seu irmão (n.
dos Países Baixos) nos tecidos de algodão; ou Jaime Barrot, nos tecidos, são apenas alguns des-
ses exemplos179.

Neste capítulo, o mais diversificado da tese, analisou-se a emigração de andaluzes para


o Baixo Alentejo, assim como para os concelhos algarvios de Lagos, Vila Nova de Portimão,
Lagoa, Silves, no Barlavento, e Faro, no Sotavento.

Demonstrou-se que a emigração de andaluzes para o distrito de Beja foi, ao que tudo in-
dica, dominada por naturais de El Almendro, enquanto que os seus vizinhos de Castillejos esco-
lheram, maioritariamente, o Algarve para emigrar. Emigração andaluza para o Baixo Alentejo
que se concentrou nos concelhos da raia: Beja, Serpa, Moura e Barrancos.

Em relação à emigração para os concelhos do Barlavento algarvio viu-se que a mesma


vinha do começo do século XIX, logo do início da Guerra da Independência. Porque em 1808

176. Cf. ibidem, p. 181.

177. Cf. ibidem, p. 183.

178. Cf. RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira, «A burguesia farense», in O Algarve da Antiguidade aos Nossos
Dias: elementos para a sua história, op. cit., p. 460.

179. Cf. Boletim do Trabalho Industrial, n.ºs 17, 18 e 19, de 1907.

166
dá-se a chegada dos primeiros andaluzes à vila de Monchique (Gomes Pablos, de El Almendro)
e à cidade de Silves (Tenório e García Blanco, de El Almendro). E na década seguinte já exis-
tem notícias de, pelo menos, seis famílias andaluzas a residir na cidade de Lagos: os Tenório,
os Centeno, os Barba, os Giraldo e os Ximenes dos Santos, oriundos de Villanueva de los
Castillejos; e os Formozinho, naturais de El Almendro. Fugiam das suas povoações por causa
da guerra. E escolheram o Algarve para emigrar. E pelo Algarve ficaram. Para sempre.

Viu-se que quanto mais Oriental fosse o concelho algarvio menor era o peso dos emi-
grantes andaluzes no total dos estrangeiros residentes. Neste particular, demonstrou-se que em
Vila Nova de Portimão também residiam comunidades de galegos e de catalães, fazendo da
vila uma das mais heterogéneas no que diz respeito às naturalidade dos espanhóis radicados.
Que, à imagem de outras localidades, concentravam-se por actividades em «nichos económicos
étnicos» bem específicos: os andaluzes dedicavam-se ao comércio e aos negócios; os galegos
eram, essencialmente, serventes e padeiros; e os catalães estavam ligados à indústria corticei-
ra. Cortiça que, tanto em Vila Nova de Portimão como em Silves, era dominada pelos catalães.

Demonstrou-se a importância de cada indústria por concelho: pescas e conservas, em


Lagos e em Vila Nova de Portimão; cortiça, em Silves; tecelagem, em Faro. Neste particular,
destacou-se os papéis singulares que três industriais ayamontinos desempenharam no cresci-
mento e no desenvolvimento da indústria algarvia: os irmãos António e Cayetano Feu Marchena,
na indústria conserveira em Vila Nova de Portimão; e Modesto Gomes dos Reyes, na indústria
de tecelagem em Faro.

Revelou-se, igualmente, o papel verdadeiramente singular que o industrial Cayetano


Feu Marchena desenvolveu para a dinamização turística da praia da Rocha, atraindo, por esse
facto, alguma da burguesia andaluza, nomeadamente de Ayamonte.

Deu-se nota de que foram alguns emigrantes espanhóis que trouxeram e introduziram
certas inovações tecnológicas na região, contribuindo, assim, para a revolução industrial algar-
via. Inovações tecnológicas trazidas inicialmente para a Baixa Andaluzia, por catalães e valen-
cianos, e, só depois, no decorrer do último quartel do século XIX, importadas e implementadas,
por imitação ou por iniciativa de espanhóis, no Algarve180. Na indústria pesqueira: as xávegas

180. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., pp. 219-220,
pp. 224-226 e p. 462; PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., p. 47.

167
(conjunto de redes em forma de saco, que possibilitavam a captura de volumosos cardumes de
sardinha); as «parellas de bous» ou, em português, «parelhas de bois» (artes de arrastar), estru-
tura de tracção animal que em terra ajudava a puxar as redes lançadas no mar; o chamado «copo
à valenciana», ou, também designadas, por «armações à valenciana», utilizadas para maximizar
a captura do atum e da sardinha; os galeões, numa primeira fase a remos, e, mais tarde, a va-
por (artes de cerco). Na indústria conserveira, foram eles que introduziram o «método catalão
e valenciano» de preparação do peixe com vários molhos, assado ou frito em escabeche, assim
como o método de filetagem das conservas de atum. E na indústria corticeira, implementaram
o «método catalão», também conhecido por «método de cutelo fixo», na fabricação industrial
de rolhas de cortiça.

168
4. A EMIGRAÇÃO DE ANDALUZES PARA LOULÉ

4.1. Os movimentos migratórios inter-regionais

Os movimentos migratórios inter-regionais de andaluzes para o Algarve e de algarvios para a


Andaluzia emergiram no contexto de uma longa tradição migratória e de contactos dentro das
duas regiões mais meridionais da Península Ibérica, que se estendiam a África através do es-
treito de Gibraltar. Este denominado «golfo luso-hispano-marroquino», como bem lhe chamou,
do ponto de vista geográfico, Orlando Ribeiro1, e, do ponto de vista sócio-económico, Joaquim
Romero Magalhães2, integrava uma ampla zona comercial e circulatória da qual faziam parte as
regiões do Algarve, do Sul de Espanha e do Norte de África. E que, «desde Idade Média e dos
inícios da Idade Moderna, viu circular no seu seio um grupo diversificado de migrantes que in-
cluía mercadores, vendedores ambulantes, contrabandistas, artesãos, marinheiros, pescadores,
prisioneiros, soldados, burocratas e colonos dos domínios portugueses no Norte de África»3.
Foi, assim, com base nestes contactos iniciais, que a vasta maioria dos emigrantes algarvios e
andaluzes integraram estes circuitos migratórios até ao início do século XX.

Para o impulsionamento desse movimento migratório inter-regional em muito contribuiu


a conjugação de um múltiplo e diversificado conjunto de factores: «oportunidades económicas
diferenciadas, contactos comerciais e redes de recrutamento laboral, bem como a facilidade
geográfica de passagem da fronteira entre o Algarve e a Andaluzia»4. Passagens estas que se
revelavam com uma importância sócio-económica para um conjunto alargado de famílias de
ambos os lados da fronteira, e, em consequência, para as duas regiões. Tal situação levou a que
o governo português emitisse uma directiva, em Maio de 1878, pela qual permitia aos trabalha-
dores algarvios migrarem para Espanha com salvo-condutos em vez dos, até à data, necessários
passaportes. Directiva que seria reiterada quatro anos mais tarde, em 1882, e, outra vez, em

1. Cf. Orlando RIBEIRO, Geografia e Civilização. Temas Portugueses, op. cit., p. 83.

2. Cf. Joaquim Romero MAGALHÃES, Para o Estudo do Algarve Económico durante o Séc. XVI, op. cit., p. 233.

3. Cf. Marcelo J. BORGES, Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva Regional
e Transatlântica, op. cit., p. 97.

4. Cf. Marcelo J. BORGES, Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva Regional
e Transatlântica, op. cit., p. 106.

169
Julho de 1894 através do Tratado Luso-Espanhol, acabando por ser plenamente adoptada e
aplicada ao nível nacional mediante a Lei da Emigração de 18965.

Das consequências deste facto dá conta Marcelo Borges ao ter estudado o número de
salvo-condutos, isto é, de licenças oficiais passadas para que o requerente pudesse atravessar a
fronteira luso-espanhola, concedidos pelas autoridades locais do concelho de Loulé. E os núme-
ros são bem expressivos: entre 1906 e 1914, a média anual de salvo-condutos passados pelas au-
toridades louletanas foi de 652; entre 1925 e 1928, a média passou para 1 065, para atingir o seu
número máximo em 1928 com perto de 2 000 licenças concedidas para atravessar a fronteira6.

A documentação revela que a maior parte dos salvo-condutos era requerida durante a
Primavera (os meses de Abril, Maio e Junho concentravam 71% dos pedidos de salvo-condutos
entre 1906 e 1914, e 78% entre 1925 e 1928), sendo os principais destinos os campos cerealíferos
de Huelva, Trigueros, Gibraleón e Cartaya (província de Huelva); Bornos, Jerez de la Frontera,
Medina Sidonia e Chiclana de la Frontera (província de Cádiz); e Sevilha, Utrera e El Coronil
(província de Sevilha). Movimento sazonal que terminava, quase sempre, nos meses das colhei-
tas de Junho e Julho7. Estava-se, pois, na presença de uma migração eminentemente sazonal,
uma vez que o que esses emigrantes temporários procuravam era de trabalho nas vastas planta-
ções de cereais da Andaluzia, mas, também, nas minas do Sul do Alentejo e da Andaluzia, como,
por exemplo, nas minas de Riotinto (província de Huelva) abertas à exploração desde 18598.

Conclui, assim, Marcelo Borges, referindo-se ainda a factores que facilitaram as migra-
ções entre as duas regiões, que «a participação dos algarvios no sistema migratório transatlân-
tico surgiu no contexto e sob a influência de um secular sistema migratório sul-ibérico. Esta
transição foi possível graças a meios de transporte mais baratos, políticas que toleravam ou
incentivavam a migração, procura de mão-de-obra, salários diferenciados e redes interpessoais
que ligavam os dois lados do Atlântico e forneciam informação e assistência»9.

5. Cf. BORGES, Marcelo J., Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva
Regional e Transatlântica, op. cit., p. 106.

6. Cf. ibidem, p. 108.

7. Cf. ibidem.

8. Cf. BRITES, Geraldino de, Febres Infecciosas: notas sobre o concelho de Loulé, Coimbra, Imprensa da
Universidade de Coimbra, 1914, p. 135.

9. Cf. Marcelo J. BORGES, Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva Regional
e Transatlântica, op. cit., p. 157.

170
4.2. A vila de Loulé ao longo da segunda metade do século XIX

Loulé gozou de um grande crescimento demográfico, urbanístico e económico ao longo da se-


gunda metade do século XIX, levando a que, em 1864, a vila alcançasse o sétimo lugar na lista
dos maiores aglomerados populacionais do país10. Em 1850 o botânico Charles Bonnet deixara
escrito que «A população, que cresce de uma maneira rápida, é de 11 372 habitantes; o que por
[sic] consequência, faz desta localidade a mais populosa de todo o Algarve»11. E a população da
vila continuou sempre a crescer. Em 1864 era de 12 14612, em 1890 era de 18 872 e o censo de
1900 registava já 22 478 habitantes13.

O crescimento populacional verificado constituiu um factor determinante para o desen-


volvimento proto-industrial a que a vila assistiu. Nesse período, assistiu-se ao desenvolvimen-
to de algumas indústrias, já com tradição no concelho em séculos anteriores, como a indústria
caseira do esparto14. Porém, a manufactura do calçado continuava a ser a actividade com maior
dinamismo no seio do sector industrial15.

Do ponto de vista agrícola o concelho sempre fora rico, e essa riqueza permitiu que
muitos dos produtos da agricultura local – especialmente toda a variedade de frutos secos – fos-
sem exportados. Sabe-se igualmente que, no início do século XX, a indústria caseira de palma
e esparto passava por um período de desenvolvimento económico, conforme se conclui de um

10. Cf. JUSTINO, David, A Formação do Espaço Económico Nacional, 1810-1913, vol. I, Lisboa, Editora Vega,
1988, p. 365.

11. Cf. BONNET, Charles, Algarve (Portugal): Description Géographique et Géologique de cette Province,
Lisbonne, Académie Royale des Sciences de Lisbonne, 1850, p. 97.

12. Cf. JUSTINO, David, A Formação do Espaço Económico Nacional, 1810-1913, vol. I, op. cit., p. 365. David
Justino calcula que, em 1864, residissem no concelho de Loulé 0,31% do total da população residente em Portugal.

13. Cf. BRITES, Geraldino de, Febres Infeccionas: notas sobre o concelho de Loulé, op. cit., p. 104.

14. Cf. BAPTISTA, Patrícia dos Santos, Mercados Públicos – Motores de Desenvolvimento Local: o mercado
municipal de Loulé, 1908-2008, s./l., s./e., p. 28.

15. Cf. RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira, «Produção capitalista e organização do trabalho», in O Algarve
da Antiguidade aos nossos dias: elementos para a sua história, coord. de Maria da Graça Maia Marques, Lisboa,
Edições Colibri, 1999, pp. 394-395.

171
relatório oficial de 1905 que dá conta que «o valor de objectos de palma e esparto, vindo a ma-
téria-prima da costa marroquina, tem notável importância mercantil»16.

A vila era ainda palco de uma das maiores feiras da região e a maior de gado muar da
província, que se realizava, anualmente, nos três últimos dias de Agosto. A feira fazia acorrer à
vila milhares de forasteiros de todo o Algarve. Os géneros eram mais baratos em Loulé do que
em qualquer outra parte da região, sinónimo da importância económica da povoação e reflexo
da sua privilegiada localização geográfica17. Prova dessa importância e centralidade geográfica
é o facto de a primeira estrada a ser construída na região ter sido a ligação Faro-Loulé, inicia-
da em Dezembro de 1849 e concluída em 1857, o que demonstra bem o dinamismo económico
das duas localidades18.

4.3. A migração andaluza para a vila de Loulé

Artur Ângelo Barracosa Mendonça, no estudo intitulado «Migrações internas a partir de Loulé
(1810-1820)»19, analisou os passaportes requeridos na vila de Loulé entre 1810 e 1820. Dos 790
passaportes requeridos 111, o que corresponde a cerca de 14,05% da totalidade, foram requeri-
dos por naturais espanhóis, o que fazia deste grupo a segunda naturalidade mais requerente, de
um total de sessenta naturalidades compiladas.

O autor refere que a esmagadora maioria desses espanhóis eram almocreves e negocian-
tes naturais de Villanueva de los Castillejos. Decompondo o número de passaportes requeridos
por anos, verifica-se que aqueles em que houve mais requerimentos foram 1811 (com vinte e oito
passaportes), 1812 (vinte e dois), 1813 (onze) e 1814 (dezassete)20, isto é, justamente o período
em que Castillejos mais sofreu com a Guerra da Independência, uma vez que, como já vimos,

16. Cf. Estatística Industrial. 1.ª Série. Districtos de Évora, Beja e Faro, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905, p.
XVII e pp. 247-248.

17. Cf. BAPTISTA, Patrícia dos Santos, Mercados Públicos – Motores de Desenvolvimento Local: o mercado
municipal de Loulé, 1908-2008, op. cit., p. 28.

18. Cf. SANTOS, Luís Filipe Rosa, «As vias de comunicação», in O Algarve da Antiguidade aos nossos dias:
elementos para a sua história, art. cit., p. 388.

19. Cf. MENDONÇA, Artur Ângelo Barracosa Mendonça, «Migrações internas a partir de Loulé (1810-1820)»,
in al-úlyá, Revista do Arquivo Municipal de Loulé, Loulé, Arquivo Municipal de Loulé, n.º 11, 2006, pp. 109-139.

20. Cf. ibidem, p. 112 e pp. 124-125.

172
sediou o Quartel-General das tropas espanholas que fizeram a defesa daquela região entre Julho
de 1810 e Março de 181321. Andaluzes que emigraram para Loulé devido ao deflagrar do conflito
militar na região do Andévalo, formando, na vila, uma primeira colónia de andaluzes residentes.

Entretanto, no seguimento da promulgação da Constituição de 1822, foi manifestada na


Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, num extenso Relatório que o Ministro
e Secretário de Estado dos Negócios da Justiça, José da Silva Carvalho, ofereceu ao Soberano
Congresso22, a necessidade de um registo obrigatório de passaportes. Entre as razões invocadas
referia-se os «bandidos espanhóis que, fugitivos, entravam pela extensa raia de Portugal»23. Tal
situação, juntamente com a pretensão de controlar a mobilidade de todos os cidadãos nacionais e
estrangeiros (objectivos de controlo e segurança), assim como de controlar o território nacional
para consolidar os alicerces da Revolução Liberal de 1820, fez com que, por Decreto de 25 de
Maio de 1825, se criasse a Secretaria Geral de Passaportes e a obrigatoriedade de se tirar um pas-
saporte interno para transitar de concelho para concelho, obrigatoriedade que vigorou até 186324.

António de Abreu Xavier, no seu trabalho «Os Livros do Registo de Passaportes do


Arquivo Municipal de Loulé. Análise Histórica do Movimento Migratório (1833-1835)»25,
identificou a existência de uma precoce migração de espanhóis, provenientes de Villanueva de
los Castillejos, para a vila de Loulé26. Segundo o autor os «hispanos estão já presentes e identi-
ficados nos registos de 1831 como mercadores, negociantes e tendeiros, com armazéns e resi-
dência em Loulé, com constantes saídas tanto para feiras e mercados regionais como para pos-
tos fronteiriços»27, como os concelhos de Castro Marim e de V.R.S.A., onde mais facilmente

21. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, La batalla
de Castillejos y la Guerra de la Independencia en el Andévalo Occidental, op. cit., pp. 196-197.

22. Cf. MORAES, Alberto António de Carvalho, Relatório do Governador Civil do Districto Administrativo de
Lisboa. 1859, Lisboa, Imprensa Nacional, 1860.

23. Cf. Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, Diário de Debates, n.º 6, sessão de 3 de Dezembro
de 1822, p. 62, apud António de Abreu XAVIER, «Os Livros do Registo de Passaportes do Arquivo Municipal
de Loulé. Análise Histórica do Movimento Migratório (1833-1835)», in al-úlyá, Revista do Arquivo Municipal de
Loulé, Loulé, Arquivo Municipal de Loulé, n.º 18, 2017, p. 91.

24. Cf. XAVIER, António de Abreu, art. cit., p. 91.

25. Cf. ibidem, pp. 85-123.

26. Cf. ibidem, p. 121.

27. Cf. António de Abreu XAVIER, art. cit., p. 121.

173
podiam atravessar a fronteira rumo à sua Andaluzia natal. Essas deslocações serviam, em regra,
para se abastecerem de mercadorias, nomeadamente fazendas em Ayamonte, que depois ven-
deriam em Loulé; ou para aproveitarem para visitar familiares que residiam em Villanueva de
los Castillejos.

Quadro n.º 4.01: Registo de andaluzes, naturais de Villanueva de los Castillejos e residentes
em Loulé, que requereram, entre 21 de Março de 1833 e 10 de Maio de 1835, passaportes de
trânsito para se deslocarem, ordenados pela quantidade de passaportes requeridos

Número de
Nome do requerente Profissão Destinos
passaportes requeridos
José Mathues Castro Marim,
Rodrigues Negociante 6 Tavira, V.R.S.A.
Formosinho e Lisboa
Sebastían Rodrigues Mercador de loja de Castro Marim,
6
Formosinho28 mercearias Tavira, V.R.S.A.
Mercador de loja
de mercearias e Castro Marim, Vila
Francisco Rodrigues
negociante proprietário 5 Nova de Portimão,
Formosinho29
de uma loja de Tavira, V.R.S.A.
fazendas

28. Sebastián Rodrigues Formosinho, ou de seu nome correcto Sebastián José Rodríguez Fermosiño, nasceu em
Villanueva de los Castillejos no dia 27 de Novembro de 1792. Filho de um dos primeiros negociantes, naturais
de Villanueva de los Castillejos, a se fixar em Loulé. No dia 27 de Novembro de 1816 é testemunha, na fregue-
sia de Santa Catarina da Fonte do Bispo (concelho de Tavira), do casamento da irmã Isabel Santiago Rodríguez
Fermosiño com Diego Bernardo de la Féria Mendoza, onde se refere ser residente em Villanueva de los Castillejos.
No dia 10 de Setembro de 1823, ainda residente em Villanueva de los Castillejos, baptiza na igreja Matriz dessa
localidade a filha Maria Dolores. Só depois de 1823 é que emigra, de forma definitiva, para o Algarve: primei-
ro fixando a sua residência em Loulé e na década de 1840 transferindo-se para Lagos. Era irmão mais velho de
Francisco Rodrigues Formosinho. Faleceu em Lagos no dia 2 de Março de 1851. (Informações prestadas pelo ge-
nealogista Miguel Centeno Neves)

29. Francisco Rodrigues Formosinho, ou de seu nome correcto Francisco de Assis Rodríguez Fermosiño, nasceu
em Villanueva de los Castillejos no dia 3 de Outubro de 1799. Filho de um dos primeiros negociantes naturais de
Villanueva de los Castillejos a se fixar em Loulé. Casou com María de los Dolores Alvarez Barbosa (Villanueva de
los Castillejos, 8.12.1791 – Loulé, 1839) na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 25 de Novembro de
1824, tendo como testemunhas de casamento Fernando Alvares Barbosa e Gaspar Alvarez Barbosa, in A.N.T.T.,
Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1822-1826, lv. C13, fls. 52-52v. Do casa-
mento resultaram dois filhos: Isabel Álvarez Barbosa e Josefa Rodrigues Formosinho (Loulé, 1830 – Loulé, 1879).
Residia em Loulé, na Rua da Praça, n.º 317. (Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves).

174
Diogo Álvares30 Fabricante de Castro Marim e
3
Barbosa aguardente circular pelo Algarve
Rafael Álvares Castro Marim e
Negociante 3
Barbosa31 circular pelo Algarve
Francisco Ramires Negociante 2 V.R.S.A.
Gaspar Álvares Castro Marim e
Negociante 2
Barbosa32 circular pelo Algarve
Santiago Álvares Castro Marim e
Negociante 2
Barbosa33 circular pelo Algarve

Fonte: XAVIER, António de Abreu, «Os Livros do Registo de Passaportes do Arquivo Municipal de Loulé. Análise
Histórica do Movimento Migratório (1833-1835)», in al-úlyá, Revista do Arquivo Municipal de Loulé, Loulé,
Arquivo Municipal de Loulé, n.º 18, 2017, p. 102, pp. 108-109.

Analisando as moradas constantes nos respectivos passaportes Abreu Xavier conclui


que estas residências se localizavam, maioritariamente, no centro urbano da vila – na Rua da
Praça – local, por excelência, associado ao poder político e económico. Tendência igualmente
manifestada através dos avales que, em regra, eram concedidos por outros comerciantes da vila
que também requeriam passaportes34. Passada menos de uma década, isto é, em 1842, o cená-
rio parece não ser muito diferente. Data desse ano o único registo de estrangeiros residentes

30. Na documentação portuguesa o apelido castelhano Alvarez surge umas vezes como Álvares e outras como
Alves. No entanto, e dado tratarem-se de fontes manuscritas, irei respeitar a grafia utilizada.

31. Rafael Alvarez Barbosa nasceu em Villanueva de los Castillejos a 24 de Outubro de 1765. Casou com Josefa
Gómez Fermosiño no dia 24 de Janeiro de 1791. Do casamento resultaram quatro filhos: Bartolomé Alvarez
Barbosa (n. Villanueva de los Castillejos, 24.08.1794), Gaspar Alvarez Barbosa (Villanueva de los Castillejos,
14.05.1797 – Loulé, 19.10.1854), Alfonso Alvarez Barbosa (Villanueva de los Castillejos, 8.07.1800) e María de
los Dolores Alvarez Barbosa (São Brás de Alportel, 28.11.1822 – Tavira, 22.09.1856). (Informações prestadas pelo
genealogista Miguel Centeno Neves).

32. Gaspar Alvarez Barbosa (Villanueva de los Castillejos, 14.05.1797 – Loulé, 19.10.1854). Era filho de Rafael
Alvarez Barbosa e de Josefa Gómez Fermosiño. Casou com María de la Bella Rodríguez Fermosiño (Villanueva
de los Castillejos, 29.12.1797 – Loulé, 10.12.1841) na igreja de Santa Catarina da Fonte do Bispo (concelho de
Tavira), no dia 18 de Fevereiro de 1822. (Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves).

33. Santiago Álvares Barbosa nasceu em Villanueva de los Castillejos. Era filho de Fernando Alvarez Barbosa e
de Beatriz de Orta Delgado. Casou no dia 15 de Dezembro de 1831, na paróquia de Santa Catarina da Fonte do
Bispo, com María Josefa Rodríguez Fermosiño, filha de Sebastián Rodríguez Fermosiño Rubio e de María Josefa
de Orta Gazapo. (Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves)

34. Cf. XAVIER, António de Abreu, art. cit., p. 121.

175
no concelho de Loulé que chegou até aos nossos dias. Fonte oficial de grande importância, por
oferecer um conjunto de informações relevantes para esta investigação.

Quadro n.º 4.02: Registo de estrangeiros residentes no concelho de Loulé, em 1842, ordena-
dos por ordem alfabética
Local de
Nome Naturalidade Profissão Idade
proveniência
Anna de Mendonça com dois Villanueva de los Villanueva de los
Negociante 60
filhos do sexo masculino Castillejos Castillejos
Libonate,
província da
António Rentina Beja Caldeireiro 58
Basilicata, Reino
de Nápoles
Brites Martins com três filhos,
Villanueva de los Villanueva de los
um do sexo masculino Negociante 80
Castillejos Castillejos
e duas do sexo feminino
Constança Gomes Forte com um Villanueva de los
Almodôvar Negociante 45
filho do sexo masculino Castillejos
Francisco Ramires com três Villanueva de los Villanueva de los
Negociante 45
filhos do sexo masculino Castillejos Castillejos
Francisco Rodríguez Formozinho Villanueva de los Santa Catarina da
Negociante 40
com dois filhos do sexo feminino Castillejos Fonte do Bispo
Gaspar Alves Barboza com três
Villanueva de los São Brás de
filhos, um do sexo masculino e Negociante 45
Castillejos Alportel
duas do sexo feminino
Ignez Gomes Forte Villanueva de los São Bartolomeu
Padeira 25
com uma filha Castillejos de Messines
Izidoro Alonço Villanueva de los Villanueva de los
Moleiro 50
com duas filhas Castillejos Castillejos
João Gomes de Corpas
El Almendro Estômbar Trabalhador 30
com uma filha
João Martins com três filhos,
Villanueva de los
um do sexo masculino Cachopo Caldeireiro 60
Castillejos
e duas do sexo feminino
Villanueva de los
João Raphael com dois filhos Almodôvar Negociante 28
Castillejos
Joze Matheos Rodrigues Villanueva de los Villanueva de los
Negociante 50
Formozinho Castillejos Castillejos
Joze Silvestre com sete filhos,
Villanueva de los
quatro do sexo masculino Moncarapacho Negociante 40
Castillejos
e três do sexo feminino
Villanueva de los
Manoel Barranco com um filho Almodôvar Trabalhador 50
Castillejos

176
Manoel de la Velha com um filho Moguer Tavira Trabalhador 58
Manoel Gomes Barranco Alte Tavira Negociante 25
Villanueva de los São Pedro
Maria do Rozario Negociante 50
Castillejos de Solis
Martinho Rodríguez Formozinho Villanueva de los Santa Catarina da
Negociante 32
com uma filha Castillejos Fonte do Bispo
Villanueva de los Santa Catarina da
Santiago Alves Barboza Negociante 40
Castillejos Fonte do Bispo
Sebastião Rodríguez Formozinho
com cinco filhos, dois do Villanueva de los Santa Catarina da
Negociante 50
sexo masculino e três do sexo Castillejos Fonte do Bispo
feminino

Fonte: A.M.L.P.J.R.M., Fundo do Administrador do Concelho de Loulé, Cadastro Geral de todos os Estrangeiros
residentes no dito Concelho no anno de 1842.

O registo indica a preponderância de homens (dezassete) em relação a mulheres (qua-


tro). O facto de essas mulheres, todas naturais de Villanueva de los Castillejos, serem viúvas,
aliado à situação de três delas possuírem, respectivamente, 45, 60 e 80 anos de idade, faz pres-
supor que tenham enviuvado em Portugal e depois continuado os negócios dos maridos.

Em relação às naturalidades e profissões, o registo segue em linha de conta com a conclusão


que se pode extrair do requerimento de «passaportes de trânsito» para o período compreendido
entre 1833-1835: a maioria dos estrangeiros residentes eram negociantes naturais de Villanueva
de los Castillejos. Assim, em 1842, há dezassete naturais de Villanueva de los Castillejos e, ape-
nas, quatro estrangeiros naturais de outras localidades (El Almendro, Alte, Moguer e Nápoles).
E nas profissões a tendência também se mantêm: os naturais de Villanueva de los Castillejos
são treze negociantes, um caldeireiro, um moleiro, um padeiro e um trabalhador; de Alte um
negociante; de El Almendro e de Moguer dois trabalhadores; e de Nápoles um caldeireiro.

Todavia, um terço dos estrangeiros registados em 1842 já apareciam a requerer «passa-


portes de trânsito» para se deslocarem «a negociar» em 1833, concluindo-se, dessa maneira, que
residiriam na vila há, pelo menos, nove anos. Ou talvez há mais tempo, a julgar pela idade de al-
guns desses residentes. São eles: Francisco Ramires, Francisco Rodríguez Formozinho, Gaspar
Alves Barboza, Joze Matheos Rodrigues Formozinho, Santiago Alves Barboza e Sebastião

177
Rodríguez Formozinho, tudo negociantes naturais de Castillejos; assim como António Rentina,
um caldeireiro natural de Nápoles35.

O registo informa, ainda, que nem todos os comerciantes vieram, directamente, da sua
terra natal, num processo de migração directa sem escalas intermédias. Lendo a documenta-
ção fica-se a saber que alguns deles passaram por outras localidades do Algarve (Cachopo e
Santa Catarina da Fonte do Bispo, no concelho de Tavira; Estômbar, no concelho de Lagoa;
Moncarapacho, no concelho de Olhão; São Bartolomeu de Messines, no concelho de Silves;
e São Brás de Alportel, no concelho de Faro), ou do Baixo Alentejo (Almodôvar, Beja e São
Pedro de Solis, no concelho de Mértola), demonstrando-se, desta forma, que Loulé não foi o seu
primeiro lugar de destino. Conclusão: dezasseis desses vinte e um migrantes vieram de outros
locais de destino em Portugal, numa espécie de «trajecto migratório por etapas», para utilizar
a expressão do historiador Jorge Fernandes Alves, fenómeno não raro nessa época36. Mas se-
ria esse processo consciente? Teriam esses migrantes como fim último a vila de Loulé? Não se
sabe ao certo, mas parece que sim, uma vez que a maior parte deles se estabeleceram em Loulé,
e por Loulé ficariam.

Sabe-se ainda da existência de alguns exemplos de migrações de andaluzes entre con-


celhos algarvios, como, por exemplo, o caso verificado com um ramo da família Formozinho/
Formosinho que, primeiramente, emigraram para o concelho de Tavira, nomeadamente para a
sua freguesia rural de Santa Catarina da Fonte do Bispo, onde residiam em 1810, para, na dé-
cada de 1830, passarem à vila de Loulé. Uma vez em Loulé, alguns estabeleceram-se de forma
definitiva e outros deslocaram-se ainda para Lagos, no decorrer da década de 1840, por via de
matrimónios contraídos com outros andaluzes37.

Assinale-se, também, a elevada média etária dos registados – c. 46 anos de idade –, não
sendo por isso de admirar a existência de dois viúvos e de quatro viúvas, assim como a existên-
cia de trinta e oito filhos à sua guarda – dezanove de cada um dos sexos –, o que significa uma
média de 1,81 filhos por estrangeiro residente.

35. Cf. XAVIER, António de Abreu, art. cit., p. 109.

36. Para o caso do distrito do Porto, o historiador Jorge Fernandes Alves indica que a emigração por etapas, em
meados do século XIX, atingia níveis em torno dos 50% no fluxo total dos emigrantes, in ALVES, Jorge Fernandes,
Os Brasileiros. Emigração e Retorno no Porto de Oitocentos, Porto, edição de autor, 1994, pp. 226-236.

37. Veja-se o exemplo de Sebastían Rodríguez Fermosiño.

178
Tal como ficou demonstrado, as fontes ao nível do controlo da mobilidade e do registo
de estrangeiros residentes para o concelho de Loulé, são fracas e as séries bastante diminutas.
Assim, era necessário consultar outra fonte, que nos conferisse uma série mais alargada no tem-
po. E, nesse caso, optou-se por consultar os registos de baptismo (São Clemente, 1800-1905; São
Sebastião, 1891-1905), assim como os registos de casamento (São Clemente, 1850-1909; São
Sebastião, 1891-1910) das duas freguesias urbanas da vila. Fontes oficiais, fidedignas e bastan-
te informativas, para as quais existem séries completas para os intervalos temporais escolhidos.

A 12 de Abril de 1808, na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, é baptizada a pri-


meira criança, ao longo de todo o século XIX, tendo, pelo menos, um dos pais naturais da
Andaluzia mas radicados em Loulé. A pequena Maria era filha de Manoel Sanches de Vargas,
natural de Cádiz, e de Marta Izabel, natural de Lagos. A seguir à Maria, e somente para a pa-
róquia de São Clemente, suceder-se-iam perto de quatro centenas de outras crianças, como o
seguinte quadro nos demonstra:

Quadro n.º 4.03: Baptizados na paróquia de São Clemente tendo, pelo menos, um ascendente
directo (pais ou avós) natural da Andaluzia, entre 1800 e 1905, por décadas
N.º de Baptizados Total de
Décadas Total de Pais Total de Avós
baptizados andaluzes andaluzes
1800-1809 2 925 5 2 2 4
1810-1819 3 244 10 6 13 19
1820-1829 3721 8 15 29 44
1830-1839 3 885 15 15 36 51
1840-1849 4 474 49 53 123 176
1850-1859 4 059 44 35 127 162
1860-1869 5 271 43 28 67 95
1870-1879 5 981 71 37 112 149
1880-1889 6 929 91 58 130 188
1890-1899 4 256 35 22 s./i. 22
1900-1905 2 292 17 13 s./i. 13
Total 47 037 388 284 639 923

Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.
Nota: não foram registadas, nos Livros de registo de baptismo da Paróquia de São Clemente, as naturalidades dos
avós da crianças baptizadas para os períodos compreendidos entre 6 de Junho de 1866 e 5 de Setembro de 1872 e
20 de Janeiro de 1887 a 24 de Maio de 1905.

179
Gráfico n.º 4.01: Total de pais e de avós das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente,
naturais da Andaluzia

200

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0
1800-09 1810-19 1820-29 1830-39 1850-59 1860-69 1870-79 1880-89 1890-99 1900-05

Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.
Nota: não foram registadas, nos Livros de registo de baptismo da Paróquia de São Clemente, as naturalidades dos
avós da crianças baptizadas para os períodos compreendidos entre 6 de Junho de 1866 e 5 de Setembro de 1872 e
20 de Janeiro de 1887 a 24 de Maio de 1905.

A esmagadora maioria destas quase três centenas de pais residia na vila de Loulé, sendo
que uma percentagem residual residia em sítios rurais do concelho38 (p. ex.: Areeiro, Horta do
Curral, ladeira do Monte Seco, Picota, sítio das Pereiras, Vale Telheiro) e três deles na vila de
Quarteira. Tratando-se de residentes em Loulé, com filhos nascidos e baptizados na freguesia de
São Clemente – até 1890 a única freguesia urbana da vila – , desde quando é que cá morariam?
Quando é que teriam deixado a sua Andaluzia natal? Teria a vila de Loulé sido o seu primeiro
local de destino? Ou teriam, primeiramente, emigrado para algumas vilas do Alentejo, como,
por exemplo, Mértola ou Ourique – como há exemplos –, e depois baixado para o Algarve? Ou
teriam, primeiramente, emigrado para outros concelhos do Algarve, como, por exemplo, Lagos

38. Ao nível das crianças baptizadas a residir fora da vila temos os seguintes sítios: quinze na Picota (freguesia de
São Sebastião), seis em Casas / Sítio da Nora dos Velhos (freguesia de São Sebastião), três nas Pereiras (fregue-
sia de Quarteira), duas na ladeira do Monte Seco (freguesia de São Sebastião), uma na Horta do Curral, uma na
Marroquia (freguesia de São Sebastião), uma no Areeiro (freguesia de São Clemente) e, finalmente, uma em Vale
Telheiro (freguesia de São Sebastião).

180
– como há um exemplo –, e depois optando por se fixarem em Loulé? Tudo questões de não
fácil resposta. O que se sabe, ao certo, é que, à data dos baptizados, os pais residiam em Loulé.

Analisando-se o quadro 4.03 conclui-se que há um pico de baptismos de descendentes


de andaluzes no concelho de Loulé nas décadas de 1840 e 1850, para, de seguida, se registar
um decréscimo na década de 1860. Porém, entre 1860 e 1890, os valores praticamente dupli-
cam, passando os pais de 28 na década de 1860 para 58 na década de 1880 e os avós de 67
para 130.

Números de baptizados (ou de nascimentos) de filhos de emigrantes andaluzes, naturais


de Villanueva de los Castillejos, que escolheram Loulé como sua terra de destino, em virtude
do auge da Guerra de Independência nesse município – entre Janeiro de 1810 e Agosto de 1812
Villanueva de los Castillejos sofreu dezassete invasões, com os respectivos saques, por parte
das tropas francesas39 –, ou dos dois processos de desamortizações dos seus «proprios y terras
comunales», desencadeados em 1837 e 185640.

A partir da década de 1890 estes valores entram numa tendência decrescente, uma vez
que é criada uma nova paróquia na malha urbana da vila. Criada, por decreto, a 13 de Agosto de
1890, a paróquia de São Sebastião vai, a partir dessa altura, concentrar a esmagadora maioria
da comunidade andaluza residente em Loulé, dado que a mesma se localizará na parte mais re-
centemente urbanizada da vila. Prova do cada vez maior peso demográfico da freguesia de São
Sebastião foi o facto de, em 1892, a câmara municipal de Loulé construir uma nova escola do
ensino primário masculino em terrenos dessa freguesia41.

Contudo, se se analisar somente as percentagens relativas de ascendentes directos nas


crianças baptizadas, verifica-se que as décadas de 1840 e 1850 são aquelas que apresentam uma
maior percentagem, chegado quase aos 4% do total dos baptizados. Agrupando os mesmos re-
gistos por cinquentenários, obtêm-se os seguintes valores:

39. Cf. MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, La batalla
de Castillejos y la Guerra de la Independencia en el Andévalo Occidental, op. cit., pp. 196-197.

40. Cf. NÚÑEZ MÁRQUEZ, Juan Manuel, «Villanueva de los Castillejos», art. cit., p. 1264.

41. Cf. SIMÕES, João Miguel, História Económica, Social e Urbana de Loulé, Caderno n.º 7 do Arquivo
Municipal de Loulé, Loulé, Arquivo Municipal de Loulé, 2012, pp. 102-103.

181
Quadro n.º 4.04: Baptizados na paróquia de São Clemente tendo, pelo menos, um ascendente
directo (pais ou avós) natural da Andaluzia, entre 1800 e 1899, por cinquentenários
N.º de Baptizados Total de Total de
Décadas Total de Pais
baptizados andaluzes Avós andaluzes
1800-1849 18 249 87 91 203 294
1850-1899 26 496 284 193 436 616
Tx. de crescimento 45,19 226,43 112,09 114,78 109,52

Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.
Nota: não foram registadas, nos Livros de registo de baptismo da Paróquia de São Clemente, as naturalidades dos
avós da crianças baptizadas para os períodos compreendidos entre 6 de Junho de 1866 e 5 de Setembro de 1872 e
20 de Janeiro de 1887 e 24 de Maio de 1905.

Comprova-se, pois, que ao longo da segunda metade do século XIX houve cada vez
mais crianças baptizadas na paróquia de São Clemente descendendo de forma directa de
andaluzes. Da primeira para a segunda metade do século XIX os números relativos dos totais
de pais e de avós andaluzes mais do que duplicam, resultando que o peso relativo de andaluzes
sobre o número total de baptizados também crescesse. Daqui se conclui que a emigração an-
daluza para a vila de Loulé ao longo do século XIX vai aumentando cada vez mais com a pas-
sagem dos anos.

Ora, analisando-se as diferentes naturalidades destes emigrantes andaluzes radicados


em Loulé, verifica-se que mais de três quartos são naturais de um único município andaluz –
Villanueva de los Castillejos. Veja-se o seguinte quadro-resumo:

Quadro n.º 4.05: Número de ascendentes directos (pais ou avós) naturais da Andaluzia, das
crianças baptizadas na paróquia de São Clemente, em Loulé, entre 1800 e 1905
Total de Villanueva % relativa de V. de los
Décadas Total de andaluzes
de los Castillejos Castillejos
1800-1809 4 0 0
1810-1819 19 14 73,68
1820-1829 44 36 81,82
1830-1839 51 45 88,24
1840-1849 176 135 76,70
1850-1859 162 134 82,72

182
1860-1869 95 70 73,68
1870-1879 149 115 77,18
1880-1889 188 127 67,55
1890-1899 22 15 68,18
1900-1905 13 13 100
Total 923 704 76,27

Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.

Gráfico n.º 4.02: Total de pais e de avós das crianças batizadas na paróquia de São Clemente,
naturais da Andaluzia e de Villanueva de los Castillejos

200

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0
1800-09 1810-19 1820-29 1830-39 1850-59 1860-69 1870-79 1880-89 1890-99 1900-05

Legenda:
A azul: totais de pais e de avós, naturais da Andaluzia, das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente, em
Loulé, por década.
A vermelho: totais de pais e de avós, naturais de Villanueva de los Castillejos, das crianças baptizadas na paróquia
de São Clemente, em Loulé, por década.
Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.

183
Quadro n.º 4.06: Número de ascendentes directos (pais ou avós) naturais da Andaluzia e de
Villanueva de los Castillejos, das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente, em Loulé,
entre 1800 e 1905, por década
Naturais de % de naturais de
Grau de parentesco Total de andaluzes Villanueva de los Villanueva de los
Castillejos Castillejos
Pais 162 131 80,86
Mães 122 88 72,13
Avôs paternos 139 105 75,54
Avós paternas 154 112 72,73
Avôs maternos 182 139 76,37
Avós maternas 164 129 78,66
Total 923 704 76,27

Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.

Facto significativo é que a esmagadora maioria dos ascendentes directos (pais ou avós)
dos baptizados é natural do mesmo município – Villanueva de los Castillejos. Se se reduzir a
análise por graus de parentesco verifica-se que existem mais pais (131) do que mães (88) na-
turais de Villanueva de los Castillejos; ao inverso dos avós, em que existem mais avós do lado
materno (268) do que avós do lado paterno (217) naturais de Villanueva de los Castillejos.

Quadro n.º 4.07: Número de ascendentes directos (pais ou avós) naturais da Andaluzia e de
Villanueva de los Castillejos, das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente, em Loulé,
entre 1800 e 1905, por grau de parentesco
Total de V. de los Pais de V. de los Avós de V. de los
Décadas
Castillejos Castillejos Castillejos
1800-1809 0 0 0
1810-1819 14 4 10
1820-1829 36 12 24
1830-1839 45 13 32
1840-1849 135 39 96
1850-1859 134 27 107

184
1860-1869 70 20 50
1870-1879 115 31 84
1880-1889 127 45 82
1890-1899 15 15 0
1900-1905 13 13 0
Total 704 219 485

Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.

Assiste-se a um crescimento contínuo ao nível dos pais naturais de Villanueva de los


Castillejos das crianças baptizadas em São Clemente nas primeiras cinco décadas do século
XIX. Nas décadas de 1850 e 1860 esses valores diminuem, para depois voltarem novamente a
crescer nas duas décadas seguintes.

Quadro n.º 4.08: Baptizados na paróquia de São Sebastião tendo, pelo menos, um dos pais na-
tural da Andaluzia, entre 1891 e 1905
N.º de Crianças
Décadas Total de Pais Pais Mães
baptizados andaluzas
1891-1899 2 866 40 43 29 14
1900-1905 2 175 20 17 9 8
Total 5 041 60 60 38 22

Fontes: A.D.F., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Sebastião, Loulé, 1891-1905.
Nota: não foram registadas, nos Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Sebastião, as naturalidades dos
avós das crianças baptizadas para o período compilado.

Quadro n.º 4.09: Número de pais, naturais da Andaluzia, das crianças baptizadas na paróquia
de São Sebastião, em Loulé, entre 1891 e 1905
Grau de Total de pais Naturais de Villanueva % de naturais de Villanueva
parentesco andaluzes de los Castillejos de los Castillejos
Pais 43 22 51,16
Mães 17 11 64,71
Total 60 33 55

Fontes: A.D.F., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Sebastião, Loulé, 1891-1905.

185
Gráfico n.º 4.03: Total de pregenitores de crianças baptizadas na paróquia de São Sebasitão,
naturais da Andaluzia e de Villanueva de los Castillejos

12

10

0
1891 1892 1893 1894 1895 1896 1897 1898 1899 1900 1901 1902 1903 1904 1905

Legenda:
A azul: totais de pais e de avós, naturais da Andaluzia, das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente, em
Loulé, por década.
A vermelho: totais de pais e de avós, naturais de Villanueva de los Castillejos, das crianças baptizadas na paróquia
de São Clemente, em Loulé, por década.

Fontes: A.D.F., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Sebastião, Loulé, 1891-1905.

O que estes dois quadros demonstram é que, na recém criada freguesia de São Sebastião,
a tendência verificada em São Clemente mantêm-se: existem mais pais (22) do que mães (11)
naturais de Castillejos. No entanto, quando se analisa o peso relativo de naturais de Castillejos
verifica-se que as mães obtêm um peso relativo superior ao dos pais.

Não havendo números concretos para quantificar a dimensão desta colónia sabe-se que,
no dia 27 de Janeiro de 1900, se celebrou, na igreja de Nossa Senhora da Encarnação, em
V.R.S.A., o «casamento luxuoso» de Isabel Maestre Cumbrera, de V.R.S.A., com o comer-
ciante Sebastião Rodrigues Corrêa, de Loulé. Ela filha do industrial conserveiro Juan Maestre
Cumbrera, residente em V.R.S.A. e ele do abastado proprietário Manuel Rodrigues Côrrea, re-
sidente em Loulé. Para assistir à celebração deslocaram-se, propositadamente de Loulé, mui-
tos familiares e amigos do noivo e do seu Pai, que se acomodaram em «dezasseis trens»42.

42. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 151.

186
E, ao longo da boda, os noivos receberam prendas de 125 pessoas, das quais 108 eram andalu-
zas ou descendentes de andaluzes, a maioria deles pertencendo à burguesia comercial loule-
tana43, assim como «uma grande alcatifa» oferecida por sete sócios da Sociedade Recreativa
Commercial de Loulé44.

Quadro n.º 4.10: Naturalidades dos ascendentes directos das 388 crianças baptizadas na paróquia
de São Clemente, com pelo menos um ascendente directo andaluz, entre 1800 e 1905 (em %)
Avôs Avós Avôs Avós
Naturalidades Pais Mães
Paternos Paternos Maternas Maternas
Vila de Loulé 35,5 48,6 15,4 16,5 19,1 22,6
Outras freguesias do
3,5 1,8 7,9 6,4 4,9 3,6
concelho de Loulé
Restante Algarve 8,8 11,7 9,8 7,1 5,9 9,7
Baixo Alentejo 0,8 1,8 1,5 0,8 1,1 0,4
V. de los Castillejos 34,9 21,8 40,2 44,0 49,6 46,2
Restante província
6,1 6,5 7,9 12,0 9,2 6,8
de Huelva
Província de Sevilha 1,1 2,9 1,9 1,1 4,0 3,9
Outras naturalidades 9,3 4,9 15,4 12,0 7,0 6,8
Total 100 100 100 100 100 100

Fontes: A.N.T.T., Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1851; A.D.F., Livros
de registos de baptismo da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1905.
Nota: não foram registadas, nos Livros de registo de baptismo da Paróquia de São Clemente, as naturalidades dos
avós da crianças baptizadas para os períodos compreendidos entre 6 de Junho de 1866 e 5 de Setembro de 1872 e
20 de Janeiro de 1887 e 24 de Maio de 1905.

Analisando o quadro pode constatar-se que havia mais pais do que mães naturais de
Villanueva de los Castillejos, o que confirma que era mais comum um andaluz casar com uma
louletana do que o inverso. A percentagem de pais naturais do concelho de Loulé (cerca de dois
quintos) e de mães (cerca de metade) é superior à percentagem de pais naturais de Castillejos

43. A reportagem jornalística completa, publicada no periódico O Pregoeiro, sobre este casamento pode ser lida
na íntegra no Anexo documental n.º 5.

44. Os sócios da Sociedade Recreativa Commercial de Loulé que ofereceram a alcatifa foram os seguintes:
Domingos Rodrigues Marques, Diogo Rodrigues e Rodrigues, Fernando Álvares Romero, José Rodrigues Peres,
José Féria Correa, José Elias Moreno e Manuel Rodrigues Garcia, in ibidem, p. 3.

187
(cerca de um terço) e superior à de mães (cerca de um quinto). No entanto, esta preponderância
muda se se analisar a geração dos avós: em relação a estes, a percentagem dos naturais da pro-
víncia de Huelva, com Castillejos incluído, é sempre superior às percentagens dos pais, situan-
do-se entre os 50% e os 60%, o que deixa evidenciar que a maior parte dos avós já se encontra-
vam radicados na vila de Loulé dezenas de anos antes.

Refira-se, ainda, as percentagens dos pais naturais de outros concelhos do Algarve, na


ordem dos 10%, valor mais elevado do que o verificado para o concelho de V.R.S.A., sinóni-
mo da constante existência de fluxos de deslocações de algarvios entre concelhos do Algarve
ao longo de Oitocentos. Procuravam melhores condições de trabalho e de vida, e, nesse caso,
muitos deles, escolheriam Loulé pelas suas oportunidades de trabalho, pujança económica e
centralidade geográfica.

Acrescente-se, por último, as residuais percentagens dos pais naturais do Baixo Alentejo
e da província de Sevilha, valores que acompanham os também registados em V.R.S.A.

Quadro n.º 4.11: Naturalidades dos ascendentes directos das sessenta crianças baptizadas na
paróquia de São Sebastião, com, pelo menos, um ascendente directo andaluz, entre 1891 e
1905 (em %)

Naturalidades Pais Mães


Vila de Loulé 13,3 50,0
Outras freguesias do concelho de Loulé 6,7 --
Restante Algarve 8,3 11,7
Villanueva de los Castillejos 41,7 11,7
Restante província de Huelva 15,0 18,3
Província de Sevilha 6,7 6,7
Outras naturalidades 8,3 1,7
Total 100 100

Fontes: A.D.F. , Livros de registos de baptismo da Paróquia de São Sebastião, Loulé, 1891-1905.

Os números para São Sebastião indicam uma tendência muito similar à verificada em
São Clemente: uma maior percentagem de pais naturais de Castillejos do que de Loulé, em
contraponto com uma maior percentagem de mães naturais de Loulé do que de Castillejos. Tal

188
como na outra freguesia da vila, o mais comum era um andaluz casar com uma louletana do
que o seu inverso.

Note-se que os registos de baptismo desta paróquia se encontram incompletos, uma vez
que não fornecem as naturalidades dos respectivos avós, ainda que indiquem os seus nomes.

Para a análise das práticas matrimoniais entre as populações migrantes são úteis os con-
ceitos de homogamia (casamentos que envolvem cônjuges do mesmo grupo), endogamia (ca-
samentos que envolvem cônjuges da mesma família) e exogamia (casamentos que envolvem
cônjuges de grupos diferentes).

Quadro n.º 4.12: Casamentos na paróquia de São Clemente, em Loulé, entre 1850 e 1909

Andaluz com andaluz Andaluz com português


Décadas Total
Masculino Feminino Masculino Feminino
1850-1859 3 3 1 3 10
1860-1869 2 2 3 1 8
1870-1879 1 1 5 3 10
1880-1889 2 2 6 2 12
1890-1899 2 2 1 3 8
1900-1909 0 0 6 0 6
Totais 10 10 22 12 54

Fontes: A.D.F., Livro de Registo de Casamento da Paróquia de São Clemente (Loulé), entre 1851 e 1911.

Quadro n.º 4.13: Casamentos na paróquia de São Sebastião, em Loulé, entre 1891 e 1910

Andaluz com andaluz Andaluz com português


Décadas Total
Masculino Feminino Masculino Feminino
1891-1899 2 2 6 1 11
1900-1910 3 3 5 6 17
Totais 5 5 11 7 28

Fontes: A.D.F., Livro de Registo de Casamento da Paróquia de São Sebastião (Loulé), entre 1891 e 1910.

Na paróquia de São Clemente assiste-se a um movimento contrário nos casamentos


entre andaluzes quando comparados com os chamados casamentos mistos – andaluz(a) com

189
português(a). Com o adiantar das décadas assiste-se a uma diminuição dos casamentos entre
andaluzes (de 3 na década de 1850 para 0 na década de 1900), para se registar um crescimento
dos casamentos mistos (de 4 na década de 1850 para 6 na década de 1900). Verifica-se, ainda,
mais casamentos mistos do que não mistos (34 para 10). E mais casos de andaluzes a casar com
portuguesas do que andaluzas a casar com portugueses (22 para 12).

Registe-se, igualmente, a diversidade de profissões dos nubentes. Entre os homens havia


treze negociantes, três alfaiates, dois sapateiros, dois trabalhadores, um lojista, um oficial de pe-
dreiro, um caixeiro, um barbeiro, um serrador, um criado de servir, um padeiro, um proprietário,
um carpinteiro e um abegão. As mulheres eram maioritariamente domésticas, existindo, porém,
uma costureira e uma proprietária, a que se deve acrescentar treze sem ocupações identificadas.

Por sua vez, na paróquia de São Sebastião o padrão registado parece ser o mesmo: mais
casamentos mistos do que não mistos (18 para 5) e mais casos de andaluzes a casar com portu-
guesas do que portuguesas a casar com andaluzes (11 para 7).

Ao nível das ocupações profissionais também não se revelam grandes diferenças. Nos ho-
mens registam-se dez comerciantes, um negociante, um alfaiate, um soldado e um empregado de
comércio, a que se deve acrescentar um não identificado. Nas mulheres eram todas domésticas.

Em Loulé os andaluzes emigrados começavam por formar uma colónia fechada. No iní-
cio da segunda metade do século XIX privilegiavam casarem-se entre si. Numa ajuda mútua
muito comum a redes sociais e cadeias migratórias sólidas. A influência das práticas culturais e
dos costumes sociais parece que seria bastante significativa.

À semelhança do que acontecia com outras comunidades de emigrantes, em Loulé a co-


lónia andaluza era composta por um número superior de homens do que de mulheres. Esse de-
sequilíbrio de géneros significava que as mulheres andaluzas tinham um maior número de côn-
juges potenciais dentro do seu próprio grupo étnico do que os homens. Tendência que era ainda
reforçada por limitações estruturais ao trabalho das mulheres – maioritariamente doméstico –,
situação que ajuda a explicar a maior influência das redes sociais primárias entre as mulheres, o
que contribuía para uma maior proporção de casamentos homogâmicos entre elas45.

45. Sobre este assunto veja-se o quadro que faz parte do Apêndice biográfico n.º 7, respeitante aos casamentos das
quatro filhas e dos dois filhos do andaluz Juan Maestre Cumbrera.

190
No entanto, à medida que novas famílias chegavam da Andaluzia, com o apoio de fami-
liares e amigos que já se encontravam estabelecidos em Loulé, as redes sociais influenciavam
a socialização dos novos emigrantes e a consequente formação de novas famílias. À medida
que os membros da colónia se instalavam e progrediam na sociedade local, especialmente os
do sexo masculino, a homogamia deixava de ser menos frequente, registando-se, com o passar
dos anos, uma diminuição dos casamentos entre andaluzes, ao mesmo tempo que se verificava
um aumento dos casamentos mistos. A partir do último terço do século XIX os casamentos en-
tre andaluzes começaram a dar lugar a casamentos mistos (preferencialmente de noivo andaluz
com noiva louletana), aumentando, dessa forma, o entrosamento social da colónia andaluza na
sociedade local. E demonstrando que as redes sociais desenvolvidas pelos processos migrató-
rios também influenciavam os padrões matrimoniais da comunidade emigrante, e, por extensão,
a adaptação social no local de destino.

Neste particular, e não havendo estudos sobre os casamentos de emigrantes andalu-


zes com portuguese(a)s, recorra-se às memórias de António Pulido Garcia que, na obra Os de
Almendro (1998), recorda e sistematiza algumas informações sócio-económicas sobre a emi-
gração de almedrinos para o distrito de Beja:

Os do Almendro formam já no meado do século XIX uma vasta rede familiar que se defende no
meio da população portuguesa separando-se interinamente deles pois só casavam uns com os outros
e conservava religiosamente a língua castelhana e todos os costumes andaluzes.

A oposição aos casamentos portugueses era tal que o primeiro casamento misto foi celebrado numa
ermida no campo e esteve um ano secreto no norte. Só o nascimento da primeira neta conseguiu
acalmar a fúria dos velhos.

Só na segunda geração nascida em Portugal começaram os casamentos mistos, sempre mal vistos e
valha a verdade em geral pouco felizes; tanto que hoje se nota uma reacção contra eles e os casamentos
estão a fazer-se de preferência entre parentes, pelo menos nos núcleos mais numerosos de fixação46.

Parece que o que se verificava em Loulé era idêntico ao que se verificava para o distrito
de Beja. Na primeira geração não havia praticamente casamentos mistos, na segunda começava
a haver os primeiros e na terceira eram já uma constante, diluindo-se, desta forma, as diferen-
ças de nacionalidades.

46. Cf. António Pulido GARCIA, Os do Almendro, op. cit., p. 10.

191
4.3.1. Padrinhos de baptismo e testemunhas de casamento

Se se proceder a uma análise sumária aos padrinhos de baptismo e às testemunhas de casamento


verifica-se um padrão praticamente uniforme: quase todos serem escolhidos dentro da comuni-
dade andaluza. Raras, muito raras, são as excepções de padrinhos de baptismo escolhidos sem
qualquer ascendência andaluza.

As escolhas recaiam, normalmente, sobre negociantes abastados – como, por exemplo,


Manoel Rodrigues Corrêa, que, ao longo do último terço do século XIX, apadrinhou dezenas de
baptizados e casamentos em Loulé e até em V.R.S.A – ou, então, familiares directos do recém
baptizado ou de um dos noivos, como, por exemplo, tios ou tias destes.

De realçar que estes padrinhos residiam, na sua maioria, na vila de Loulé; porém, tam-
bém há registos de padrinhos naturais de Villanueva de los Castillejos a residir noutras vilas do
concelho (p. ex.: Quarteira), noutros concelhos algarvios (p. ex.: Lagos, Lagoa, Faro e V.R.S.A.),
noutros concelhos fora do Algarve (p. ex.: Mértola – distrito de Beja; Reguengos do Monsaraz
– distrito de Évora) e, outros ainda, em Villanueva de los Castillejos (província de Huelva).

Este sistema de apadrinhamento revela um conjunto de colónias andaluzas a residir


no Algarve muito fechadas sobre si mesmas, mas, ao mesmo tempo, muito comunicantes en-
tre si. Era frequente existirem familiares próximos residentes em vários concelhos, que, além
de funcionarem em rede nos seus negócios – veja-se o caso dos Formosinho de Loulé com os
Formosinho de Lagos –, muitas vezes deslocavam-se de concelho para concelho para apadri-
nharem baptizados e testemunharem casamentos. Estas deslocações de familiares e de amigos
são muito comuns entre as colónias de andaluzes radicadas em Loulé e em V.R.S.A.

4.4. As redes sociais e as cadeias migratórias em Loulé

Este constante e continuado fluxo emigratório de Villanueva de los Castillejos para a vila de
Loulé constituiu um processo, continuado no tempo, de migração em cadeia, que só se pôde ter
produzido, no espaço e no tempo, através de redes sociais e de cadeias migratórias específicas.
No entanto, ao longo da investigação, não se conseguiu encontrar qualquer notícia de jornal ou
a existência real de engajadores, provavelmente por dois motivos: por se tratar de um fluxo mi-
gratório, do ponto de vista quantitativo, não muito elevado; e pela proximidade geográfica dos
dois municípios, que levava a que esses agentes não fossem necessários. Contudo, a elevada

192
correlação entre o local de origem e o local de destino desse fluxo, que durou grande parte do
século XIX, permite retirar essa conclusão.

Assim, para lá da informação, da ocupação, dos factores demográficos, das possibilida-


des dos mercados de trabalho e das restrições estabelecidas pelas políticas de imigração, a es-
colha do país de destino era claramente influenciada pelas redes sociais de âmbito local. Estas,
nomeadamente nos contactos entre familiares, amigos e vizinhos, forneciam informação, ajuda
e cooperação, constituindo a base das correntes migratórias que ligavam determinados lugares
de origem a determinados lugares de destino47.

Mas o que se entende por uma migração em cadeia? Os historiadores das migrações
Jonh MacDonald e Leatrice MacDonald foram os primeiros a defini-la num seminal artigo
publicado em 1964. Segundo os autores: «A migração em cadeia pode ser definida como esse
movimento pelo qual migrantes potenciais obtêm informações sobre oportunidades de traba-
lho, meios de transporte e, numa fase inicial, alojamento e emprego através de relações sociais
primárias com os migrantes que os antecederam»48.

Na década seguinte, Charles Tilly apresentou uma definição de migração em cadeia, in-
serida numa tipologia migratória mais abrangente: «A migração em cadeia movimenta grupos
aparentados de indivíduos ou famílias de um lugar para outro mediante um conjunto de dispo-
sições sociais pelas quais aqueles que se encontram nos pontos de destino fornecem apoio, in-
formação e encorajamento aos novos migrantes»49.

Assim definidas, estas cadeias migratórias criam as redes ou as relações que se vão es-
tabelecendo entre as áreas de origem e as áreas de destino dos emigrantes. Segundo esta teo-
ria, o emigrante, uma vez estabelecido num determinado lugar de destino, não rompe as várias

47. Cf. BORGES, Marcelo J., Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva
Regional e Transatlântica, op. cit., p. 154.

48. Cf. Jonh MACDONALD e Leatrice MACDONALD, «Chain Migration, Ethnic Neighborhood Formation,
and Social Networks», in The Milbank Memorial Fund Quarterly, 42, n.º 1, January 1964, p. 82, apud Marcelo J.
BORGES, Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva Regional e Transatlântica,
op. cit., p. 176.

49. Cf. Charles TILLY, «Migration in Modern European History», in Human Migration: Patterns, Implications,
Policies, edition the William McNeill e Ruth Adams, Bloomington, Indiana University Press, 1978, p. 53, apud
Marcelo J. BORGES, Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva Regional e
Transatlântica, op. cit., pp. 176-177.

193
relações com o lugar de origem, uma vez que mantém uma série de contactos contínuos com
os familiares, conterrâneos e amigos. Esses contactos são-lhe muito úteis porque lhe facilitam
informação e apoio nas suas deslocações.

Ora, para que se criem estas determinadas cadeias migratórias é necessário que existam
os chamados migrantes pioneiros (os iniciadores da cadeia) que, depois, serão seguidos por ou-
tros novos migrantes (os seguidores da cadeia), unidos aos anteriores por vínculos de parentesco
ou de vizinhança, e que encontram nos primeiros o apoio necessário para empreender a opção
da emigração50. Deste modo, as cadeias migratórias introduzem uma visão sequencial e históri-
ca na análise das migrações frente às interpretações a-históricas realizadas pelos economistas.

E foi isto mesmo que se verificou, ao longo de grande parte do século XIX, entre os na-
turais de Villanueva de los Castillejos que elegeram a vila de Loulé para emigrar. Esta distribui-
ção da emigração por destinos geográficos bem específicos coloca em evidência a importância
das redes sociais na formação desses fluxos migratórios. Porque tais redes dependiam da coo-
peração de familiares, amigos e conterrâneos e eram influenciadas por outros factores, como o
perfil ocupacional e as capacidades de cada emigrante. Esta combinação de factores afectava
não apenas a escolha do país de imigração, como também o destino específico dentro de cada
país51. Acrescido que, como já se viu no início deste capítulo, tal fluxo migratório inter-regio-
nal da Andaluzia para o Algarve gozava de um passado histórico gerado, pelo menos, desde os
inícios da Idade Moderna.

Chegaram até hoje alguns exemplos da operacionalidade destas redes migratórias, onde
alguns membros de uma determinada família, já instalados em Loulé, enviavam bilhetes-pos-
tais e «cartas de chamada» para familiares que tinham ficado nos municípios de origem, no-
meadamente em Villanueva de los Castillejos. Nessas missivas iam informações, contactos,
moradas e referências a oportunidades de emprego. Mas também há correspondência remeti-
da de Castillejos para Loulé: como é o caso de um bilhete-postal enviado por Roque Feria52 a
Santiago Alvares Romero, no dia 11 de Fevereiro de 1883, em que o primeiro, em nome de um
amigo, solicitava ao segundo que este alugasse uma casa em Loulé:

50. Cf. MARTINEZ, Antonio Luis López, Cruzar la Raya: Portugueses en la Baja Andalucía, Sevilla, Fundación
Publica Andaluza, Centro de Estudios Andaluces, 2011, p. 18.

51. Cf. BORGES, Marcelo J., Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva
Regional e Transatlântica, op. cit., p. 155.

52. Sobre este andaluz veja-se o Apêndice biográfico n.º 9.

194
O meo amigo Estevão pede-me para pedir ahí a um amigo que lhe arranje uma casa no largo da feira,
começando na terça-feira próxima; por esta razão eu rogo-te [que] obtenhas ahí a casa e na terça-fei-
ra chegará o nosso amigo Estevão ou alguem que o represente53.

4.5. A importância económica da colónia de andaluzes em Loulé: comércio, indústria e


serviços

4.5.1. No comércio

Se no recenseamento profissional de 1842 havia catorze negociantes andaluzes registados em


Loulé, passado um quarto de século, isto é, em 1867, o número era o mesmo. Em 1867, por in-
termédio de um inquérito mandado fazer em todos os concelhos por parte de uma portaria do
Ministério do Reino (3 de Outubro de 1866), ficava-se a saber que existiam 204 comerciantes
em actividade em todo o concelho, sendo que, desse total, catorze eram andaluzes:

Quadro n.º 4.14: Registo de comerciantes andaluzes residentes e a trabalharem no concelho de


Loulé em 1867

Nome Local de residência Natureza do estabelecimento


António Martins Peres Gomes54 Rua de São Sebastião Fanqueiro55
Baltazar Rodrigues Peres56 Praça Fanqueiro

53. Bilhete-postal enviado por Roque Féria, em Villanueva de los Castillejos, para Santiago Alvares Romero, em
Loulé, no dia 11 de Fevereiro de 1883. Este bilhete-postal pode ser visto no Anexo documental n.º 1.

54. António Martins Peres Gomes nasceu em Loulé em 1859. Filho de António Martins Peres Gomes, negocian-
te, e de Maria Rosa Formozinho, doméstica, ambos naturais de Villanueva de los Castillhejos. Foi baptizado na
igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 30 de Setembro de 1859, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São
Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1857-1860, lv. 55, fl. 153. Era irmão mais novo de Bento Martins Peres
Gomes (n. 1843) e de Sebastião Martins Peres Gomes (n. 1849). E tal como os seus dois irmãos era negociante de
fazendas de lã, linho e seda, com casa comercial estabelecida em Loulé. (Informações prestadas pelo genealogista
Miguel Centeno Neves)

55. Fanqueiro é a designação para um comerciante de fazendas.

56. Baltazar Rodríguez Pérez era filho de Sebastián Rodríguez Tenorio e de Maria Candelaria Rodríguez, todos
de Villanueva de los Castillejos. Casou na igreja de Matriz de São Clemente, em Loulé, a 8 de Junho de 1865,
com Maria Amália Rodrigues Formosinho (n. Loulé, c. 1840), filha de Francisco de Assis Rodríguez Fermosiño
e de María de los Dolores Alvarez Barbosa, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos, in A.D.F., Fundo da
Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1861-1865, lv. 31, fl. 189. Faleceu, em Loulé, no dia 30
de Setembro de 1869. (Informações prestadas pelos genealogistas Bruno Portugal Gomes e Miguel Centeno Neves)

195
Diogo Rodrigues Formosinho57 Praça Fanqueiro
Isabel Gomes [Hespanhola] Rua de Martim Farto Não discriminado
José Clemente [Hespanhol] Rua da Corredoura Bufarinheiro58
José Rodrigues Peres59 Praça Armazém de esparto
Manuel Macías [Hespanhol]60 Praça Fanqueiro (Tem duas lojas)
Manuel Alves Rodrigues Boliqueime Tenda
Manuel José Ponce de Corpas61 Praça Fanqueiro
Manuel Rodrigues Morón62 Rua do Cabo Tenda

57. Diego Rodríguez Fermosiño nasceu em Villanueva de los Castillejos onde foi baptizado a 24 de Maio de
1822. Filho de Sebastián José Rodríguez Fermosiño e de María de las Mercedes Rodríguez Morón. Casou na
igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, a 13 de Abril de 1850, com Josefa Rodrigues Formosinho, natural de
Loulé, filha de Francisco de Assis Rodríguez Fermosiño e de María Dolores Alvarez Barbosa, de Villanueva de
los Castillejos, in A.N.T.T., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1844-1852, lv.
C17, fl. 142v.º. Faleceu em Loulé a 2 de Abril de 1872. Teve uma filha, a que deu o mesmo nome da sua mulher,
que casou com Santiago Alvarez Romero. (Informações prestadas pelos genealogistas Bruno Portugal Gomes e
Miguel Centeno Neves)

58. Bufarinheiro, ou quinquilheiro, é a designação para um vendedor ambulante de bugigangas ou quinquilharias.

59. José Rodríguez Pérez era filho de Sebastián Rodríguez Tenorio e de Maria Candelaria Rodríguez, todos na-
turais de Villanueva de los Castillejos. Casou (c. de 1875) com Maria José Rodríguez Morón, filha de Manuel
Rodríguez Morón e de Josefa Rodríguez Fermosiño, todos de Villanueva de los Castillejos. (Informações prestadas
pelo genealogista Miguel Centeno Neves)

60. Manuel Macías era filho de Caetano Macías e de Lucía de Orta, todos de Villanueva de los Castillejos. Casou
na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, a 16 de Janeiro de 1858, com Maria das Dores Rodrigues Formosinho,
nascida em Loulé em 1832, filha de Sebastián José Rodríguez Fermosiño e de María de las Mercedes Rodríguez
Morón, todos de Villanueva de los Castillejos, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de
Casamentos, 1852-1861, lv. 30, fl. 132. (Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves)

61. Manuel José Ponce de Corpas era filho de Juan José Ponce de Corpas, natural de El Almendro, e de Josefa
María Luciana, natural de Moguer. Casou na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, a 7 de Dezembro de
1864, com Josefa Álvares Barbosa, natural de Loulé, filha de Gaspar Alvarez Barbosa e de María del Carmen
Manuela Feria, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente
[Loulé], Registo de Casamentos, 1861-1865, lv. 31, fls. 158v.º-159. (Informações prestadas pelo genealogista
Miguel Centeno Neves)

62. Manuel Rodríguez Morón era filho de Bartolomé Rodríguez Morón e de María Márquez Tenorio, todos
de Villanueva de los Castillejos. Casou na igreja Matriz de São Clemente, a 30 de Junho de 1852, com Josefa
Rodríguez Fermosiño, nascida em Villanueva de los Castillejos, onde foi baptizada a 11 de Janeiro de 1819, fi-
lha de Sebastián José Rodríguez Fermosiño e de Maria de las Mercedes Rodríguez Morón, in A.D.F., Fundo da
Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1852-1861, lv. 30, fl. 2. (Informações prestadas pelo
genealogista Miguel Centeno Neves). Ele faleceu a 16 de Junho de 1870 e ela faleceu a 29 de Junho de 1865, am-
bos na freguesia de São Clemente, em Loulé. (Informações prestadas pelo genealogista Bruno Portugal Gomes)

196
Maria do Rosário Formosinho63
Praça Fanqueiro (Tem duas lojas)
(Viúva)
Pedro António Nolasco Alte Loja de quinquilharias
Sebastião Rodrigues Formosinho64 Praça Fanqueiro (Tem duas lojas)
Thiago [sic] Alves Barbosa65 Praça Fanqueiro

Fonte: A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Livro do Registo dos Comerciantes, 1867.

O inquérito realizado demonstra a existência de apenas catorze comerciantes andaluzes


a residirem no concelho, representando uma percentagem de cerca de 6,9% da totalidade dos
comerciantes. Acrescente-se que uma significativa parte dos comerciantes portugueses encon-
travam-se referidos na documentação como «vendedores ambulantes». Por outro lado, conclui-
-se que apenas dois deles residiam fora da vila (um em Alte e outro em Boliqueime).

A nível da natureza dos seus estabelecimentos verifica-se a preponderância dos fanquei-


ros (8 em 14), sendo que desses oito três eram proprietários de duas lojas. Há ainda registados
um armazém de esparto, uma loja de quinquilharias, duas tendas e um bufarinheiro (vendedor
ambulante). De onde se conclui que, em 1867, a principal actividade comercial dos andaluzes a
residirem na vila era o comércio de fazendas.

É de referir, igualmente, que a maioria deles vivia na Rua da Praça ou na Praça, como mais
comummente era referida essa artéria, que, pela sua centralidade e dimensão, era uma das mais

63. María del Rosario Rodríguez Fermosiño era irmã de Diego Rodríguez Fermosiño e foi a segunda mulher do
seu primo Francisco de Assis Rodríguez Fermosiño, filho de Sebastián Rodríguez Fermosiño Rubio e de María
Josefa de Orta y Gazapo. Francisco nasceu a 3 de Outubro de 1799 em Villanueva de los Castillejos, e faleceu em
Loulé a 25 de Janeiro de 1853. (Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves)

64. Sebastião Rodrigues Formosinho nasceu em Loulé no dia 20 de Junho de 1846. Filho do segundo matrimónio
de Francisco de Assis Rodrigues Formosinho, negociante natural de Villanueva de los Castillejos, e do primeiro
matrimónio de María del Rosario Rodríguez Morón, doméstica natural de Villanueva de los Castillejos, neto pa-
terno de Sebastião Rodrigues Formosinho e de Josefa de Orta e neto materno de Sebastião Rodríguez Formosinho
e de Maria das Mercês, todos eles naturais de Villanueva de los Castillejos, foi baptizado na igreja Matriz de
São Clemente no dia 30 de Junho de 1846, in A.N.T.T., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de
Baptismos, 1844-1846, lv. B38, fl. 179v.º. Sabe-se que, pelo menos entre 1894 e o dia 28 de Abril de 1902, data
do seu falecimento, foi proprietário de uma fábrica de cera em Loulé. Após o seu falecimento a fábrica de sabão
passou a ser gerida pelo seu filho ilegítimo, José Rodrigues Formosinho, que a manteve em laboração até 1910, in
Folha do Sul, n.º 18, de 4 de Maio de 1902, p. 2; MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. –
Da decadência da Monarquia à implantação da República, op. cit., p. 103.

65. O nome correcto deste fanqueiro era Santiago Alves Barbosa ou Santiago Álvares Barbosa.

197
importantes e comerciais da vila. O facto de lá residirem oito dos catorze comerciantes andaluzes
a viverem em Loulé, é um sinal do estatuto comercial e económico adquirido por essa colónia.

No século XIX o negociante era o grande protagonista da actividade económica. Era


usual que o mesmo negociante se dedicasse a diversas actividades em simultâneo, que pode-
riam ir do comércio por grosso à banca e aos seguros, da agricultura à indústria, fazendo, ainda,
investimentos financeiros em muitas sociedades anónimas que se constituíram a partir da déca-
da de 186066. O negociante é uma personalidade multifacetada e sempre presente na sociedade
portuguesa do século XIX. Uma bem sucedida carreira nos negócios oferecia melhores possibi-
lidades da, sempre almejada, ascensão social. Os negociantes melhor sucedidos podiam, even-
tualmente, elevar-se ao círculo social dos argentários ou capitalistas, como eram designados na
época, justamente por ser na intermediação financeira que se conseguia obter os maiores lu-
cros67. À época, a regra de ouro dos negociantes era «não meter todos os ovos no mesmo saco»,
que é como quem diz conservar uma pluralidade de interesses em diversas áreas, por forma a
não concentrar os investimentos numa determinada actividade, e, por essa forma, diminuir os
riscos dos diversos investimentos.

Se, em 1842 e em 1867, eram catorze os comerciantes andaluzes recenseados no conce-


lho, no final do século e no início do século XX eram mais de trinta.

Como se viu a comunidade continuaria a aumentar. No final do século XIX e no início


do século XX os andaluzes residentes em Loulé eram proprietários de inúmeras e variadas ca-
sas comerciais: drogarias, mercearias, lojas de quinquilharias, lojas de mobiliário, lojas de fa-
zendas, armazéns onde se comercializava palma e esparto, ourivesarias e relojoarias. E ainda
havia os que se dedicavam ao comércio de bens e serviços alimentares, como, por exemplo, os
proprietários de botequins, sorveterias, cervejarias e restaurantes.

Esses vários estabelecimentos localizavam-se, na sua maior parte, na área da recém


constituída freguesia de São Sebastião – criada, como foi referido, em 1890 – nomeadamente
nas seguintes artérias: Rua de São Sebastião (actual Rua 5 de Outubro), Largo de São Francisco,
Rua e Largo da Barbacã (actual Rua da Barbacã), Largo do Chafariz (actual Praça Afonso III),

66. Cf. PEDREIRA, Jorge M., «Tradição e Mudança. Ruralidade e Reconfiguração Social (1834-1890), in
História Social Contemporânea – Portugal: 1808-2000, coord. de António Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro,
Lisboa, Fundação Mafre e editora Objectiva, 2020, p. 113.

67. Cf. ibidem, p. 114.

198
na freguesia de São Sebastião; e, ainda, na Rua da Praça (actual Praça da República), na fregue-
sia de São Clemente.

Quadro n.º 4.15: Actividades comerciais, propriedade de andaluzes na vila de Loulé, entre
1889 e 1913

Anos de
Proprietário Actividade comercial Morada
actividade
Pelo menos
Francisco Barbosa Loja de ferragem, mercearia e
n./i. entre 188969
Formosinho68 drogaria / Fazendas
e 189670
Manoel Rodrigues Depósito de máquinas de costura, Largo de São Pelo menos
Corrêa71 relógios e velocípedes72 Francisco em 188973
Pelo menos
Manuel da Cruz Bella Drogaria n./i.
em 189374

68. Francisco Barbosa Formosinho, também conhecido e assinando por Francisco Rodrigues Formosinho (Loulé,
1853 – Lisboa, 1905), nasceu em Loulé em 1853. Filho de Diego Rodríguez Fermosiño (1822 – 1879), negocian-
te natural de Villanueva de los Castillejos, e de Josefa Rodrigues Formosinho (1830 –1879), natural de Loulé.
Neto paterno de Sebastião Rodrigues Formozinho e de Maria das Mercês e neto materno de Francisco Rodrigues
Formozinho e de Maria das Dôres, todos eles naturais de Villanueva de los Castillejos. Foi baptizado na igreja
Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 1 de Junho de 1853, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente
[Loulé], Registo de Baptismos, 1851-1854, lv. 53, fl. 27. No final do século XIX estabeleceu-se em Lisboa com
«uma casa de comissões e de consignações», in O Heraldo, n.º 1225, de 28 de Outubro de 1905, p. 3. Faleceu na
freguesia de Santa Justa, em Lisboa, no dia 17 de Outubro de 1905 (Informações prestadas pelos genealogistas
Bruno Portugal Gomes e Miguel Centeno Neves).

69. Cf. O Algarvio, n.º 1, de 31 de Março de 1889, p. 4.

70. Cf. Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1896, pp. 1056.

71. Manoel Rodrigues Corrêa nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1843. Filho de Sebastião Rodrigues
Formosinho e de Maria Josefa Corrêa, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Em data que não consegui
apurar emigrou para a vila de Loulé. Nessa vila casou, aos vinte e três anos de idade, com Maria das Dores Martins
Corrêa, natural de Loulé, e filha de António Martins Peres Gomes e de Maria Roza Rodrigues, na igreja Matriz de
São Clemente, em Loulé, no dia 30 de Novembro de 1866, sendo testemunhas do casamento Rafael Alves Barbosa
negociante de Villanueva de los Castillejos, e António Mora Martins negociante de Lagoa, in A.D.F., Paróquia de
São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1865-1868, lv. 32, fl. 62. Do casamento resultaram seis filhos, to-
dos eles nascidos e baptizados em Loulé: Roza (b. 15.10.1868), Sebastião (b. 27.12.1869), Maria (b. 09.02.1871),
as gémeas Izabel e Maria das Dores (b. 18.09.1875) e António (b. 13.09.1879).

72. Representante da casa «Memória» de Santos Beirão & C.ª de Lisboa.

73. Cf. O Algarvio, n.º 4, de 21 de Abril de 1889, p. 5.

74. Cf. Anuario Almanach Commercial, Lisboa, op. cit., 1893, pp. 306-307.

199
Pelo menos
Francisco Barbosa
Obras de palma e de empreita n./i. entre 189475
Formosinho
e 190276
Pelo menos
Bella & Barbosa Drogaria e Ourivesaria n./i.
em 189777
Ventura de Sousa Pelo menos
Arcos de ferro para vasilhame Rua da Praça, 47 a 49
Barbosa78 em 189879
Pelo menos
Ventura de Sousa
Drogaria e Ourivesaria Rua da Praça, 47 a 49 entre 189880
Barbosa
e 190681
Armazém de fazendas / Estância
Pelo menos
Manoel Rodrigues de madeiras em Faro e em Loulé /
Rua de São Sebastião entre 189882
Corrêa Relojoaria / Exportador de frutos e
e 190383
de obra de palma

75. Cf. ibidem, 1894, p. 1255.

76. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional,
1902, pp. 1200.

77. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1897, p. 1101.

78. Ventura de Sousa Barbosa nasceu em Loulé no dia 21 de Abril de 1867. Filho de Ventura do Carmo e Souza,
alfaiate natural de Loulé, e de Maria das Dôres, doméstica natural de Loulé. Foi baptizado na igreja Matriz de
São Clemente, em Loulé, no dia 17 de Maio de 1867, tendo como padrinhos Tiago Alves Barbosa, negociante,
e sua mulher Maria dos Reis Pablo, ambos residentes em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente
[Loulé], Registo de Baptismos, 1867-1867, lv. 60, fl. 59v. O seu avô materno, Gaspar Alves Barbosa, era natural
de Villanueva de los Castillejos. Ventura de Sousa Barbosa foi um destacado comerciante louletano, chegando, no
princípio do século XX, a ser proprietário, em simultâneo, de um café, uma drogaria e uma ourivesaria na principal
artéria da vila de Loulé – a Rua da Praça. Em 1906 foi o presidente da Primeira Comissão Promotora do Carnaval
Civilizado de Loulé, comissão composta por doze personalidades da terra, entre as quais mais um descendente de
andaluzes – Artur Gomes Pablos, in MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da deca-
dência da Monarquia à implantação da República, op. cit., pp. 189-193; MARTINS, Luísa Fernanda Guerreiro,
Carnaval «Civilizado» de Loulé, 1906-1976, Loulé, Câmara Municipal de Loulé, 2015, p. 32; PALMA, Jorge
Filipe Maria da, Dicionário Toponímico – Cidade de Loulé, op. cit., pp. 60-61.

79. Cf. O Pregoeiro, n.º 1, de 4 de Agosto de 1898, p. 2.

80. Cf. ibidem, p. 4.

81. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1906, pp. 1551-1552.

82. Cf. O Pregoeiro, n.º 1, de 4 de Agosto de 1898, p. 4.

83. Cf. Folha do Sul, n.º 62, de 1 de Março de 1903, p. 3.

200
Rua de São Sebastião, Pelo menos
Pablo Garcia
Estabelecimento de fazendas 68-74 e Largo da entre 189885
Delgado84
Barbacã, 10-12. e 191386
Marcos Domingues Pelo menos
Mercearia Alto da rua das Lojas
Martins em 189887
Pelo menos
Labaura & Pepe Comércio de palma n./i.
em 189988
Pelo menos
Manoel Rodrigues
Obras de palma e de empreita n./i. entre 189989
Corrêa
e 190290
Pelo menos
Sebastião Martins
Obras de palma e de empreita n./i. entre 189991
Peres Gomes
e 190792
Pelo menos
José Rodrigues Peres Obras de palma e de empreita n./i. entre 189993
e 191394

84. Existem dois Pablo(s) Garcia(s) Delgado(s), precisamente, com o mesmo nome. Pablo Garcia Delgado (Pai)
foi um negociante natural de Villanueva de los Castillejos (f. Loulé, 22.04.1913). Filho de Pablo Garcia Rodrigues
e de Maria da Conceição Delgado, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Casou com Maria do Carmo
Rodrigues Formozinho, filha de Sebastião Rodrigues Formozinho e de Maria das Dores Vasquez Jaldon, todos
eles naturais de Villanueva de los Castillejos. Do casamento resultaram quatro filhos, todos eles nascidos e bapti-
zados em Loulé: Maria das Dores Garcia Delgado (b. 01.01.1876), Pablo Garcia Delgado (b. 01.08.1877), Maria
da Conceição Garcia Delgado (b. 12.10.1878) e Sebastião Garcia Delgado (b. 01.03.1880). Portanto, este Pablo
Garcia Delgado tanto poderá ser o Pai como o filho, porque ambos assinavam com o mesmo nome.

85. Cf. O Pregoeiro, n.º 1, de 4 de Agosto de 1898, p. 4.

86. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2078-2080.

87. Cf. O Pregoeiro, n.º 15, de 10 de Novembro de 1898, p. 3.

88. Cf. ibidem, n.º 72, de 21 de Dezembro de 1899. p. 1.

89. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1899, p. 957.

90. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1902, p. 1200.

91. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1899, p. 957.

92. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1907, pp. 1660-1661.

93. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1899, p. 957.

94. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2078-2080.

201
Largo da Barbacã, 14 e
José Féria Corrêa95 Estabelecimento de fazendas Pelo menos
Rua de São Sebastião,
(Pépe) (Venda de pelo de cabra)96 em 190097
62-63
Botequim / Doces especiais / Lico-
res finos / Vinho verde de Amarante Pelo menos
Fernando Alvares Largo de São
/ Cafés / Cervejas geladas99 / Venda entre 1900100
Romero98 Francisco
de gelo / Gasosas / Salsaparilha / e 1911101
Mercearias e quinquilharias
Francisco Domingues Pelo menos
Venda de pipas e de quartolas103 Largo do Chafariz
Paco))
Barbosa102 ((Paco em 1900104

95. José Féria Corrêa era um comerciante natural de Villanueva de los Castillejos, onde nasceu em 1866. Filho
de Antonio Féria Domingues e de Maria Luiza Corrêa Martins. Casou com Josefa Formosinho Mourão Peres, do-
méstica natural de Loulé, na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 29 de Abril de 1896, tendo como
testemunhas de casamento Sebastião Martins Peres Gomes, comerciante residente em Loulé, e Gavino Rodrigues
Peres, comerciante residente em V.R.S.A. Refira-se que o sogro, José Rodrigues Peres, era também ele natural
de Villanueva de los Castillejos, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos,
1896-1896, lv. 62, fls. 14-14v.

96. O pêlo de cabra era uma matéria-prima muito requerida pelos alfaiates, costureiros e chapeleiros, uma vez que
era utilizado na confecção de colarinhos, gravatas e chapéus.

97. Cf. O Pregoeiro, n.º 77, de 25 de Janeiro de 1900, p. 2.

98. Fernando Alvares Romero nasceu em Villanueva de los Castillejos. Filho de Thomaz Alvarez Barbosa e de
Maria do Carmo Romero Rodrigues, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Casou com Gertrudes da
Encarnação Martins Caraça, doméstica natural de Loulé, na igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Loulé,
no dia 23 de Dezembro de 1891, tendo como testemunhas de casamento Manoel Rodrigues Corrêa e Santiago
Alvares Romero, negociantes e ambos residentes em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Sebastião
[Loulé], Registo de Casamentos, 1891-1891, lv. 01, fls. 24-24v. Tiveram duas filhas, ambas naturais e baptizadas
em Loulé: Maria do Carmo (b. 6.01.1893) e Gertrudes (b. 5.02.1894). Era irmão de Santiago Alvares Barbosa.

99. A partir do dia 22 de Junho de 1902 esta foi a primeira casa em toda a vila a vender cerveja Pilsner gelada e
com pressão, in Folha do Sul, n.º 25, de 22 de Junho de 1902, p. 3.

100. Cf. O Pregoeiro, n.º105, de 9 de Agosto de 1900, p. 1.

101. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1911, pp. 2184-2186.

102. Francisco Domingues Barbosa era um comerciante natural de Trigueros (província de Huelva), onde nasceu
em 1865. Casou com Joana Martins Barbosa, doméstica natural de São Clemente, na igreja da Ordem Terceira de
São Francisco, na freguesia de São Sebastião, em Loulé, no dia 25 de Dezembro de 1895, tendo como testemunhas
de casamento os irmãos Bento Martins Peres Gomes e Sebastião Martins Peres Gomes, ambos comerciantes e mo-
radores na freguesia de São Sebastião da vila de Loulé. De referir que a sua sogra, Maria das Pedras Albas Barbosa,
era natural de Villanueva de los Castillejos, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Sebastião [Loulé], Registo de
Casamentos, 1895-1895, lv. 05, fls. 35-35v.

103. Cf. O Pregoeiro, n.º 134, 24 de Agosto de 1902, p. 3.

104. Cf. ibidem.

202
Sebastião Rafael Pelo menos
Venda de pipas Rua de Santo António
Garcia em 1900105
Pelo menos
Bartolomeu entre 2 de
Estabelecimento de fazendas /
Rodríguez y Rua de São Sebastião Maio de
Leitos de ferro
Rodríguez106 1901107 e
1913108
Estabelecimento de fazendas /
Sebastião Martins Largo de São Pelo menos
Mercearia / Fábrica de cravos e
Peres Gomes109 Francisco em 1902110
ferraduras / Depósito de tabaco
Estabelecimento de fazendas
Pelo menos
Domingos Rodrigues / Modas / Mercearia / Vidros
Rua da Praça, 53-57 entre 1902112
Marques111 / Leitos de ferro / Coroas para
e 1911113
funerais (antiga Casa Formozinho)

105. Cf. ibidem, n.º108, de 31 de Agosto de 1900, p. 3.

106. Bartolomeu Rodríguez y Rodríguez nasceu em Villanueva de los Castillejos no dia 28 de Outubro de 1861.
Filho de Tomas Rodríguez Gomez e de Filipa Rodríguez Moron, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos.
Foi baptizado em Castillejos no dia 30 de Outubro de 1861, in Archivo Parroquial de Nuestra Señora de la
Concepción, Registro de bautismos, lv. 24, fl. 166. No dia 2 de Maio de 1901 abriu um estabelecimento de fazen-
das de lã, linho, algodão e seda, onde também se comercializavam móveis de ferro, na Rua de São Sebastião (ac-
tual Rua Cinco de Outubro), in O Pregoeiro, n.º 130, de 9 de Maio de 1901, p. 1; Jornal de Annuncios, n.º 65, de
30 de Abril de 1908, p. 1.

107. Cf. O Pregoeiro, n.º 130, de 9 de Maio de 1901, p. 1.

108. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2078-2080.

109. Sebastião Martins Peres Gomes nasceu em Loulé em 1849. Filho de António Martins Peres Gomes, nego-
ciante, e de Maria Rosa Formozinho, doméstica, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Foi baptizado na
igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 10 de Dezembro de 1849. Casou com Maria del Carmen Barbosa
Formozinho, natural de Villanueva de los Castillejos, de onde resultaram o nascimento dos seguintes nove fi-
lhos, todos eles nascidos e baptizados em Loulé: António (n. 1874), Sebastião (n. 1876), Joana (n. 1877), António
(n. 1878), Joana (n. 1880), Joana (n. 1882), Roza (n. 1884), Maria Jozé (n. 1885) e, finalmente, Maria do Carmo
(n. 1889). A nível profissional montou um armazém de cereais no Largo do Chafariz (actual Largo D. Afonso III),
foi comerciante de fazendas de lã, linho e seda e, igualmente, produtor, comerciante e exportador de frutos secos.
(Informações recolhidas numa entrevista realizada ao seu trisneto, Dr. João Barros Madeira, no dia 7 de Junho de
2019, na residência do entrevistado, em Loulé).

110. Cf. Folha do Sul, n.º 5, de 2 de Fevereiro de 1902, p. 4.

111. Domingos Rodrigues Marques desempenhou, pelo menos entre 1903 e 1912, o cargo de vice-cônsul do rei-
no de Espanha para o concelho de Loulé, in Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1903,
pp. 1235-1236; Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1912, pp. 2082-2084.

112. Cf. Folha do Sul, n.º 9, 2 de Março de 1902, p. 3.

113. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1911, pp. 2184-2186.

203
Estabelecimento de fazendas /
Marcos Domingues Pelo menos
Mercearia / Vidros / Leitos de Rua da Barbacã
Martins em 1902114
ferro / Louças
Pelo menos
Sebastião Corpas Depósito de farinhas n./i.
entre 1902115
e 1909116
Pelo menos
Sebastião Martins
Depósito de farinhas n./i. entre 1902117
Peres Gomes
e 1909118
Pelo menos
Ventura de Sousa
Café, loja de bebidas e cervejaria Rua da Praça entre 1902119
Barbosa
e 1910120
Manoel Rodrigues Armazém de cereais, vinho e Rua de São Sebastião Pelo menos
Corrêa aguardente – Loulé em 1903121
Manuel Rodrigues Pelo menos
Tabacaria n./i.
Gomes em 1903122
Leitos de ferro / Lavatórios / Pelo menos
Rua de São Sebastião,
Pablo Garcia Delgado Malas para roupa / Trens de entre 1903123
72-74
aluguer e 1913124
Francisco Domingues Adubos químicos para terras Pelo menos
Largo do Chafariz
Barbosa (Paco) calicentas e areias em 1903125
Pelo menos
Ventura de Sousa
Tabacaria n./i. entre 1903126
Barbosa
e 1910127

114. Cf. Folha do Sul, n.º 9, 2 de Março de 1902, p. 3.

115. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1902, p. 1200.

116. Cf. ibidem, 1909, pp. 1983-1984.

117. Cf. ibidem, 1902, p. 1200.

118. Cf. ibidem, 1909, pp. 1983-1984.

119. Cf. ibidem, 1902, p. 1200; Folha do Sul, n.º 33, 17 de Agosto de 1902, p. 3

120. Cf. ibidem, 1910, pp. 2608-2609.

121. Cf. Folha do Sul, n.º 62, de 1 de Março de 1903, p. 3.

122. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1903, pp. 1235-1236.

123. Cf. Folha do Sul, n.º 78, de 28 de Junho de 1903, p. 4.

124. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1903, pp. 1235-1236.

125. Cf. Folha do Sul, n.º 104, de 25 de Dezembro de 1903, p. 3.

126. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1909, pp. 1983-1984.

127. Cf. ibidem, 1910, pp. 2608-2609.

204
Pelo menos
Fernando Alvares Largo de São
Tabacaria entre 1903128
Romero Francisco
e 1913129
Pelo menos
Francisco
Ourivesaria e relojoaria n./i. entre 1903131
Formosinho Macias130
e 1913132
Pelo menos
Gomes & Móra Loja de fazendas e de leitos de ferro n./i.
em 1905133
Formozinho Macias Pelo menos
Ourivesaria e relojoaria Rua da Praça
& Silva em 1905134
Manuel Alvarez Pelo menos
Tabacaria n./i.
Barbosa em 1905135
Manuel Rodrigues Pelo menos
Vendedor de aguardentes n./i.
Gomes em 1905136
Marcos Domingues Pelo menos
Loja de fazendas Rua da Praça
Martins em 1905137
Pelo menos
Francisco Domingues
Depósito de farinhas n./i. entre 1905138
Barbosa
e 1907139

128. Cf. ibidem, 1903, pp. 1235-1236.

129. Cf. ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

130. Francisco Formozinho Macias nasceu em Loulé em 1869. Filho de Manoel Macías (n. 1831), negociante na-
tural de Villanueva de los Castillejos, e de Maria das Dôres Rodrigues Formozinho (n. 1832), doméstica natural de
Loulé. Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 5 de Novembro de 1869, tendo como pa-
drinhos de baptismo Sebastião Rodrigues Formosinho, negociante na vila de Loulé, e Maria Domingues Rodrigues
Formosinho, solteira, natural de Lagos, mas residente em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente
[Loulé], Registo de Baptismos, 1869-1869, lv. 62, fls. 163v.-164. Foi proprietário de uma ourivesaria e relojoaria,
localizada na Rua de São Sebastião, em Loulé, entre, pelo menos, 1903 e 1913, in MARTINS, Isilda Maria Renda,
Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implantação da República, Loulé, edições Colibri
e Câmara Municipal de Loulé, 2001, p. 113.

131. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1903, pp. 1235-1236.

132. Cf. ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

133. Cf. Folha de Loulé, n.º 5, de 7 de Maio de 1905, p. 4.

134. Cf. ibidem.

135. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1905, pp. 1812-1813.

136. Cf. ibidem, 1905, pp. 1812-1813.

137. Cf. Folha de Loulé, n.º 6, de 14 de Maio de 1905, p. 4.

138. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1905, pp. 1812-1813.

139. Cf. ibidem, 1907, pp. 1660-1661.

205
Pedro Gomes Loja de fazendas e de leitos de Pelo menos
Loulé
Marques140 ferro em 1906141
Manuel Formosinho Pelo menos
Botequim n./i.
Macías em 1911142

Fontes: B.N.P., Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1893, 1894, 1895, 1896; B.N.P., Annuario
Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1897, 1898, 1899, 1900, 1901; B.N.P., Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de
Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912,
1913; O Algarvio, Loulé, 1889-1893; O Pregoeiro, Loulé, 1898-1901; Folha do Sul, Loulé, 1902-1905; Folha de
Loulé, Loulé, 1905-1907; Jornal de Annuncios, Loulé, 1907-1910.

A Feira de Loulé

Pelos princípios do século XX um assunto que dava sempre grande polémica era a localização
da anual Feira de Loulé. Esta Feira, que não tinha local fixo, ocorria, anualmente, de 29 a 31 de
Agosto. E era muito frequentada pela população de todo o concelho, assim como dos concelhos
limítrofes e até do Baixo Alentejo. Todavia, quase todos os anos, se assistia a uma contenda so-
bre a sua localização, que opunha dois distintos grupos de comerciantes louletanos:

a) Os comerciantes da freguesia de São Sebastião, esmagadoramente descendentes de an-


daluzes, que defendiam a localização da Feira no terreno dos Olivais, junto ao convento
de Santo António, na freguesia de São Sebastião (como, de facto, aconteceu em 1904,
1905 e 1907);

b) E os comerciantes da freguesia de São Clemente, que defendiam a sua localização na


Campina de Cima, em terrenos da proprietária D. Elisa Figueiredo de Mascarenhas143.

140. Pedro Gomes Marques nasceu em Loulé em 1888. Filho de Domingos Rodríguez Marquez e de Joana
Gomes Marquez, ambos negociantes naturais de Villanueva de los Castillejos. Foi baptizado na igreja Matriz de
São Clemente, em Loulé, no dia 29 de Fevereiro de 1888, tendo como padrinhos de baptismo Pedro Rodriguez
Marques e a sua mulher Maria das Dores Rodriguez, negociantes ambos residentes em Loulé, in A.D.F., Fundo da
Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1888-1888, lv. 89, fl. 62. Era proprietário de uma loja
de fazendas de lã, linho, algodão e seda, que comercializava, igualmente, todo o tipo de camas de ferro, in Folha
de Loulé, n.º 56, de 13 de Maio de 1906, p. 3.

141. Cf. ibidem.

142. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1911, pp. 2184-2186.

143. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 114.

206
Nesse sentido, na primeira década do século XX, nove destacados andaluzes de segunda
geração escrevem um requerimento ao presidente da câmara municipal de Loulé, solicitando o
seguinte:

Os abaixo assinados, munícipes d’este Concelho, vêem [sic] muito respeitosamente fazer lembrar à
Digna Câmara de Loulé a alta conveniência em que a feira que n’esta Vila se costuma celebrar nos
últimos dias no mês d’Agosto, continue n’esta mesma Vila e quase no mesmo sitio em que sempre
se tem celebrado. Ninguém ignora, e esta Câmara de certo [sic] conhece, os inconvenientes gravís-
simos que sempre resultam da mudança de qualquer feira para outros locais; e que maiores não fos-
sem ao menos o transtorno na escolha dos locais para a armação respectiva da mesma feira, e ain-
da o transtorno por parte dos feirantes vendedores de gado que de longe terras vêem [sic] expor no
mercado o mesmo gado e, ainda os revendedores e compradores d’outros produtos. Acresce no caso
sujeito que o local da feira que se diz ser transferido para a Campina de Cima e que relativamente ao
Concelho fica sendo n’um extremo d’este, e distante da Vila, e de certo muita gente não se incomo-
dará a frequentar a mesma, por lhe ser incomodo. Ora como principalmente esta feira é frequentada
pela gente do barlavento como a feira de Loulé é sua própria e por isso deve ser celebrada n’esta
Vila; como o Exmo Sr. Dr. Galvão consente que nos seus terrenos da Marroquia ali se faça a feira
havendo campo bastante para a mesma – por estes motivos abaixo assinados

Pedem a V. Exas se dignem ordenar que a feira se faça na Marroquia, subúrbios d’esta Vila fazendo
afixar os respectivos editais.

Assim o esperam

E. R. M.ce

Bento Martins Peres Gomes

José Martins Féria

João Féria Domingues

Manuel Róis Corrêa

Diogo Rodrigues e Rodrigues

Sebastião Martins Rodrigues

António Martins Peres Gomes

Sebastião R. Corrêa

Francisco Domingues Barbosa144.

144. Cf. A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Serviços Administrativos, Requerimentos rece-
bidos, mç. 10.

207
De onde se comprova não só a relevância que a colónia andaluza tinha no comércio lo-
cal, como também a capacidade de iniciativa, de trabalho em equipa, assim como a capacidade
de influenciar as decisões camarárias.

4.5.2. Na indústria

Entre a segunda metade do século XIX e o primeiro quartel do século XX a indústria nacional
era, maioritariamente, familiar ou artesanal. E em muitos casos doméstica, com a oficina de tra-
balho a ficar por baixo ou ao lado das residências. Era, como por vezes se dizia na altura, uma
indústria quase ao nível do «vão de escada».

O seu eixo central era o sector têxtil, típico sector de arranque da Revolução Industrial,
mas um sector bastante desigual no seu seio, em que fábricas de uma dimensão razoável coe-
xistiam com uma enorme quantidade de fábricas artesanais de cariz familiar. Em termos gerais,
estava-se na presença de uma indústria antiquada, artesanal e, em muitos casos, de tipo familiar.

Em Loulé dominava a indústria do calçado. Ataíde de Oliveira refere que, em 1905,


o número de sapateiros existentes na vila excederia os oitocentos145. Número verdadeiramen-
te singular no contexto regional. Era uma indústria que se caracterizava por se constituir uma
actividade produtiva essencialmente domiciliária, pertencendo os instrumentos de trabalho ao
operário. Dominava o trabalho manual, pois, nessa altura, o índice de mecanização era prati-
camente insignificante146. Durante esse período a indústria desenvolveu-se de forma modera-
da, ligada a uma política protecionista dos mercados e fortemente marcada pelo predomínio do
sector artesanal147.

Em 1890 sabe-se da existência de uma fábrica de conservas de sardinha na vila de


Quarteira. Parece que bem apetrechada para a função, uma vez que o seu serviço de embar-
que e desembarque dos materiais e produtos era feito em vagonetes, sobre trilhos de ferro, que

145. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Loulé, op. cit., p. 33.

146. Cf. RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira, «Produção capitalista e organização do trabalho», art. cit., p. 396.

147. Cf. TELO, António José, «A crise do Liberalismo (1890-1930)», in História Social Contemporânea –
Portugal: 1808-2000, coord. de António Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro, Lisboa, Fundação Mafre e editora
Objectiva, 2020, p. 157.

208
avançavam pelo mar adentro por uma ponte de madeira. Sendo que grande parte dos operários
era de nacionalidade italiana, e que após a safra anual regressavam ao seu país de origem148.

No entanto, as «indústrias» pertencentes aos andaluzes – aliás, como as pertencentes aos


restantes industriais sediados em Loulé – eram marcadamente caseiras, isto é, caracterizavam-
-se pela oficina localizada perto ou até mesmo nos baixos da respectiva habitação. Tratavam‑se
de pequenas unidades manufactureiras, exemplos daquilo a que os historiadores designam,
normalmente, por «proto-industrialização, isto é, uma «produção industrial doméstica»149.
Era o mundo do pequeno industrial e da pequena oficina, onde predominava a actividade ma-
nual, com recurso à força animal, à energia hidráulica (lagares e moinhos de água) ou à eólica
(moinhos de vento). Equipamentos que existiam um pouco por todo o concelho, como informa
o monografista Ataíde de Oliveira que, em 1905, refere a existência de vinte e oito proprietá-
rios de moinhos de água, vinte e três de moinhos de vento e setenta e seis moleiros para todo o
concelho150. A força de trabalho era, essencialmente, familiar, havendo casos em que uma mes-
ma fábrica era composta por membros de uma única família. Os instrumentos e os meios de
trabalho seriam, também eles, familiares, não existindo qualquer divisão técnica de trabalho151.

Vejamos, então, as indústrias, propriedade de andaluzes, sediadas na vila entre 1889 e


1913.

148. Cf. MOUTINHO, Joaquim F., O Algarve e a Fundação Patriótica Industrial e Agrícola, op. cit., pp. 173-174.

149. Cf. Chantal BEAUCHAMP, Revolução Industrial e Crescimento Económico no século XIX, Lisboa, Edições
70, 1998, p. 26.

150. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Loulé, op. cit., p. 33.

151. Cf. RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira, A Indústria de Curtumes e do Calçado em Loulé (1850-1945),
Loulé, Arquivo Histórico Municipal de Loulé, 2005, pp. 39-40.

209
Quadro n.º 4.16: Indústrias propriedade de andaluzes na vila de Loulé entre, pelo menos, 1889
e 1913

Nome do industrial Indústria Período


Santiago Alvarés Romero152 Sabões Pelo menos entre 1889153 e 1904154
Sebastião Rafael Garcia Sabões Pelo menos entre 1894155 e 1898156
José Rodrigues Peres Sabões Pelo menos em 1897157
Bento Martins Peres Gomes Sabões Pelo menos entre 1898158 e 1913159
Pedro Rodrigues Marques Sabões Pelo menos entre 1906160 e 1907161
Sebastião Rodrigues Formosinho Cera Pelo menos entre 1894162 e 1902163
Sebastião Martins Peres Gomes Cravos e ferraduras Pelo menos em 1902164

152. Santiago Alvares Barbosa Romero nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1855. Filho de Thomaz
Alvarez Barbosa e de Maria do Carmo Romero Rodrigues, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Casou
com Josefa Rodrigues Formozinho, filha de pais naturais de Villanueva de los Castillejos, na igreja Matriz de
São Clemente, em Loulé, no dia 1 de Fevereiro de 1877, sendo testemunhas do casamento Bartholomeu Jaldon
y Jaldon, negociante residente na vila de Quarteira (concelho de Loulé) e Francisco Formosinho, negociante
residente em Loulé, in A.D.F., Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1877-1877, lv. 41, fl. 9.
Tiveram dez filhos, todos nascidos e baptizados em Loulé: Diogo (b. 12.04.1878), Josefa (b. 30.01.1880), Thomaz
(b. 08.01.1881), Santiago (b. 27.06.1882), Maria do Carmo (b. 13.09.1883), Maria Bella (b. 20.03.1889), Eulália
(b. 01.12.1892), Sebastião (b. 27.08.1894), Francisco (b. 02.02.1896) e José (b. 30.01.1898).

153. Cf. O Algarvio, n.º 1, de 31 de Março de 1889, p. 4.

154. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 103.

155. Cf. Anuario Almanach Commercial, Lisboa, op. cit., 1894, p. 1255.

156. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1898, pp. 1118-1119.

157. Cf. ibidem, 1897, p. 1101.

158. Cf. ibidem, 1898, pp. 1118-1119.

159. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2078-2080.

160. Cf. ibidem, 1906, pp. 1151-1152.

161. Cf. ibidem, 1907, pp. 1660-1661.

162. Cf. Anuario Almanach Commercial, Lisboa, op. cit., 1894, p. 1255.

163. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 103.

164. Cf. Folha do Sul, n.º 5, de 2 de Fevereiro de 1902, p. 4.

210
José Rodrigues Formosinho165 Cera Pelo menos entre 1902166 a 1913167
Ricardo Villa Bañez Tecelagem Pelo menos entre 1898168 e 1913169
Manoel Rodrigues Corrêa Fiação170 De 1902171 a 1906172
Joaquim Fernandes Belles Louça de barro Pelo menos entre 1898173 e 1913174
Francisco Garcia Domingues175 Restauração Pelo menos entre 1899176 e 1901177

165. José Rodrigues Formosinho nasceu em Loulé em 1878. Filho ilegítimo de Sebastião Rodrigues Formosinho,
negociante natural de Loulé, e de Maria Antónia, doméstica natural de Loulé. Foi baptizado na igreja Matriz de
São Clemente, em Loulé, no dia 31 de Outubro de 1878, sendo o seu assentamento de baptismo, pelo facto de ser
um filho ilegítimo, somente sido registado nos respectivos livros de registo de baptismos no dia 10 de Maio 1895,
in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1895-1895, lv. 100, fl. 44.

166. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1902, p. 1200.

167. Cf. ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

168. Cf. Boletim do Trabalho Industrial, Inquérito sobre as Indústrias Têxteis, n.º 105, Lisboa, Imprensa Nacional,
1916, p. 181.

169. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2078-2080.

170. Esta fábrica de fiação era composta por doze teares.

171. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1902, p. 1200.

172. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 99.

173. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1898, pp. 1118-1119.

174. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2078-2080.

175. Francisco Garcia Domingues nasceu em Villanueva de los Castillejos. Filho de Bartolomeu García Gomez e
de Constança Domínguez Marquez, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Casou com Maria do Carmo
Rodrigues, doméstica natural de Paymogo, na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 25 de Julho de 1885,
sendo testemunhas do casamento Manoel Rodrigues Corrêa e Bento Martins Peres Gomes, ambos negociantes e
residentes em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1885-1885,
lv. 49, fls. 53-53v.

176. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1899, p. 957.

177. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 106.

211
Confecção de
Manoel Formosinho Macias178 Pelo menos entre 1902180 e 1913181
vestuário179
Confecção de
Manoel Rodrigues Peres182 Pelo menos entre 1905183 e 1913184
vestuário
Confecção de
Manoel José Ponce Corpas185 Pelo menos entre 1905186 e 1910187
vestuário

178. Manoel Formosinho Macias nasceu em Loulé em 1867. Filho de Manoel Macías, negociante natural de
Villanueva de los Castillejos, e de Maria das Dôres Rodrigues Formosinho, doméstica natural de Loulé. Foi bap-
tizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 30 de Julho de 1867, tendo como padrinhos de bap-
tismo Baltazar Rodrigues Peres e Tiago Alves Barbosa, ambos negociantes e residentes em Loulé, in A.D.F.,
Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1867-1867, lv. 60, fl. 88. Casou com Maria
Apolinária da Madre de Deus Santos, doméstica natural de São Clemente, Loulé, na igreja da Ordem Terceira de
São Francisco, freguesia de São Sebastião, em Loulé, no dia 22 de Outubro de 1892, sendo testemunhas do casa-
mento o proprietário Manoel Toronjo Macías e o negociante Santiago Alvares Romero, ambos residentes em Loulé,
in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Sebastião [Loulé], Registo de Casamentos, 1892-1892, lv. 02, fls. 30-30v.
Exerceu sempre a profissão de alfaiate.

179. Em 1905 existiam doze alfaiates a laborar na vila de Loulé, in OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho
de Loulé, op. cit., p. 32.

180. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1902, p. 1200.

181. Cf. ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

182. Manoel Rodrigues Peres nasceu em Loulé em 1879. Filho de José Rodrigues Peres, negociante natural de
Villanueva de los Castillejos, e de Maria José Moron, doméstica natural de Loulé. Neto paterno de Sebastião
Tenório Morgado e de Cândida Peres Rodrigues e neto materno de Manoel Rodrigues Moron e de Josefa Rodrigues
Formozinho, todos naturais de Villanueva de los Castillejos. Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em
Loulé, no dia 5 de Setembro de 1879, tendo como padrinhos de baptismo Manoel Rodrigues Tenório, negocian-
te residente em V.R.S.A., e Josefa Rodrigues Moron, residente em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São
Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1879-1879, lv. 72, fl. 117.

183. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1905, pp. 1812-1813.

184. Cf. ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

185. Manoel José Ponce Corpas nasceu em Loulé, muito provavelmente, no final de 1873 ou no início de 1874.
Filho de José Ponce Corpas, almocreve natural de Loulé, e de Maria da Piedade, doméstica natural de Loulé. O seu
avô paterno, João Ponce Corpas, era natural de El Almendro, e a sua avó paterna, Josefa Maria Luciana, era natural
de Moguer (Huelva). Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 15 de Janeiro de 1874, sen-
do padrinhos de baptismo Manoel Rodrigues Corrêa e Sebastião Martins Peres Gomes, ambos lojistas e residentes
em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1874-1874, lv. 67, fl. 10v.

186. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1905, pp. 1812-1813.

187. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 100.

212
Curtimentos e
José Rodrigues Peres Pelo menos em 1912189
peles188

Fontes: B.N.P., Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1893, 1894, 1895, 1896; B.N.P., Annuario
Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1897, 1898, 1899, 1900, 1901; B.N.P., Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de
Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912,
1913; O Algarvio, Loulé, 1889-1893; O Pregoeiro, Loulé, 1898-1901; Folha do Sul, Loulé, 1902-1905; Folha de
Loulé, Loulé, 1905-1907; Jornal de Annuncios, Loulé, 1907-1910.

Porém, em 1913, o mapa industrial no concelho já se tinha alterado. Conforme se com-


prova através de um ofício enviado pelo administrador interino do concelho190 ao governador
civil de Faro191, datado de Maio de 1913, em que o primeiro informava o segundo quais eram os
seis maiores industriais do concelho, e, nessa lista, apenas figurava um andaluz – o industrial de
tecelagem, natural de Almonte (província de Huelva) Ricardo Villa Bañez192.

Quadro n.º 4.17: Fábricas em actividade no concelho de Loulé em Maio de 1913

Actividade Nome Localização N.º de operários


Tecidos (juta e linho) M.G. Cabeçadas, Lda Loulé 12
Tecidos (juta e linho) Ricardo Vila [sic] Loulé 25
Moagem Moagem Louletana, Lda Loulé 4

188. Sobre a indústria dos curtumes no concelho de Loulé veja-se, por exemplo, o estudo: RODRIGUES, Joaquim
Manuel Vieira, A Indústria de Curtumes e do Calçado em Loulé (1850-1945), Loulé, Arquivo Histórico Municipal
de Loulé, 2005, pp. 41-52.

189. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1912, pp. 2082-2084.

190. Em 1913 o administrador interino do concelho de Loulé era o Sr.º João de Brito Farrajota.

191. Em 1913 o governador civil de Faro era o Dr. Adelino de Oliveira Pinto Furtado.

192. Ricardo Villa Bañez foi um comerciante natural de Almonte (província de Huelva). Filho de Antonio Vila
e de Maria do Rocío y Bañez, ambos naturais de Almonte. Ricardo Villa Bañez emigrou para a vila de Loulé em
data que não se conseguiu apurar, aparecendo sempre nos registos como tendo a ocupação profissional de co-
merciante, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Sebastião [Loulé], Registo de Baptismos, 1903-1903, lv. 13, fls.
7v.-8. Casou com Rosa Rodrigues Martins Correia, doméstica natural de Loulé, na igreja da Ordem Terceira de
São Francisco, freguesia de São Sebastião, Loulé, a 23 de Abril de 1892, tendo como testemunhas de casamento
Manoel Rodrigues Corrêa, comerciante e proprietário residente em Loulé e Pai da nubente e Sebastião Beltram,
comerciante residente na vila de Reguengos do Monsaraz (concelho de Reguengos de Monsaraz – Évora), in
A.D.F., Fundo da Paróquia de São Sebastião [Loulé], Registo de Casamentos, 1892, lv. 02, fls. 11v.-12.

213
Conservas de peixe Mascarenhas Júdice, Lda Quarteira 70
Conservas de peixe São Pedro Quarteira n./i.
Conservas de peixe Júdice, Lda Quarteira n./i.

Fonte: A.M.L.P.J.R.M., Fundo do Administrador do concelho de Loulé, Correspondência Expedida, lv. 45, 1913,
ofício n.º 559, de 13 de Maio de 1913; RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira, A Indústria de Curtumes e do
Calçado em Loulé (1850-1945), Loulé, Arquivo Histórico Municipal de Loulé, 2005, p. 38.

4.5.3. Nos serviços

De acordo com os censos gerais à população portuguesa verifica-se que, entre 1890 e 1930, o
sector terciário (serviços) foi aquele que mais cresceu em Portugal. Um crescimento rápido e
significativo. Se em 1890 trabalhavam neste sector 516 000 portugueses (20,3% do total da po-
pulação activa), em 1911 eram 526 000 nacionais (20,6%) para chegar a 1930 e alcançar os 761
000 portugueses (30,2%)193.

Em Loulé a situação parece não ter sido diferente. Datam do final do século XIX e
do início do século XX as primeiras representações de instituições bancárias (1895), seguros
(1898) e tabacos (1898) de andaluzes no concelho. E todas elas representadas pelo mesmo
agente – o andaluz Manoel Rodrigues Corrêa194, também comerciante (de fazendas, cereais, vi-
nhos, aguardentes e relógios), exportador (de frutos e obras de palma) e industrial (como uma
fábrica de fiação), como atrás já se viu. Talvez o andaluz mais dinâmico e com maior espírito
empresarial a residir em Loulé nos finais do século XIX. Numa diversificação de actividades
não rara naqueles tempos – porque, conforme também se viu, os andaluzes não gostavam de

193. Cf. TELO, António José, História Social Contemporânea – Portugal, 1808-2000, op. cit., p. 158.

194. Manoel Rodrigues Corrêa nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1843. Filho de Sebastião Rodrigues
Formosinho e de Maria Josefa Corrêa, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Em data que não consegui
apurar emigrou para a vila de Loulé. Em Loulé casou, aos vinte e três anos de idade, com Maria das Dores Martins
Corrêa, natural de Loulé e filha de António Martins Peres Gomes e de Maria Roza Rodrigues, na igreja Matriz de
São Clemente, em Loulé, no dia 30 de Novembro de 1866, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé],
Registo de Casamentos, 1865-1868, lv. 32, fl. 62. Do casamento resultaram seis filhos, todos nascidos e baptizados
em Loulé: Roza (b. 15.10.1868), Sebastião (b. 27.12.1869), Maria (b. 09.02.1871), as gémeas Izabel e Maria das
Dores (b. 18.09.1875) e António (b. 13.09.1879).

214
colocar «todos os ovos no mesmo cesto», estratégia de gestão que os levava a diminuir os ris-
cos de investimento.

Com a chegada do comboio até Faro, em Fevereiro de 1889, vindo da estação do


Barreiro195, assim como com o progressivamente maior desenvolvimento da rede viária, as
condições de mobilidade das pessoas alteraram-se. Como a estação de comboios mais perto da
vila ficava – tal como ainda hoje –, situada a 5 km desta, um dos negócios mais rentáveis era o
«transporte a tracção animal», de passageiros e de mercadorias, da vila para a estação e da esta-
ção para a vila, também denominado na época por «aluguer de carruagens». Vendo os andaluzes
que tal situação lhes poderia trazer grandes benefícios económicos, entre 1898 e 1913, cinco
deles constituíram empresas de aluguer de carruagens a tracção animal.

195. E de Faro rapidamente se alargaria ao restante Algarve. Na direcção do Sotavento: Olhão (Maio de 1904),
Fuzeta (Setembro de 1904), Luz de Tavira (Janeiro de 1905), Tavira (Março de 1905) e V.R.S.A. (Abril de 1906).
E na do Barlavento: Algoz (Outubro de 1889), Ferragudo e Mexilhoeira da Carregação – Lagoa (Fevereiro de
1903), Vila Nova de Portimão (1915) e Lagos (Julho de 1922), in SANTOS, Luís Filipe Rosa, «As vias de comu-
nicação», art. cit., pp. 390-391.

215
Quadro n.º 4.18: Serviços prestados por andaluzes na vila de Loulé entre, pelo menos, 1886 e
1913

Nome Serviço Período


Gregório Formozinho Funcionário de correios e telégrafos na estação De 1886197
Macias196 de Loulé a 1903198
Agente do «Banco Economia Portugueza» (entre
Pelo menos entre
Manoel Rodrigues Corrêa 1895 e 1905) e do «Banco de Portugal» (entre
1895200 e 1905201
1903 e 1905199)
Pelo menos entre
Manoel Rodriguês Corrêa Representante em Loulé da seguradora «Tagus»
1898202 a 1905203
Agente da «Companhia dos Tabacos de Pelo menos de
Manoel Rodrigues Corrêa
Portugal» nos concelhos de Loulé e de Albufeira 1898204 e 1905205

196. Gregório Formosinho Macias nasceu em Loulé em 1871. Filho de Manoel Macías (n. 1831), negociante na-
tural de Villanueva de los Castillejos, e de Maria das Dores Rodrigues Formosinho (n. 1832), natural de Loulé. Foi
baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 20 de Maio de 1871, sendo padrinhos de baptismo
Sebastião Rodrigues Formosinho, negociante residente em Loulé, e Sebastiana Rodrigues Formosinho, solteira na-
tural de Lagos, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1871-1871, lv. 64,
fls. 80v.-81. Faleceu, em Loulé, no dia 12 de Maio de 1903, com a idade de 32 anos, in A.D.F., Fundo da Paróquia
de São Clemente, Registo de Óbitos, 1903-1903, lv. 69, fl. 14.

197. Gregório Formosinho Macias foi nomeado «ajudante supranumerário para o exercício de correios e telégra-
fos na estação de Loulé», em portaria datada de 9 de Dezembro de 1886. Ao longo dos anos foi sempre subindo
de posição chegando a «chefe da estação telégrafo-postal de Loulé» no dia 12 de Janeiro de 1898, in Diário do
Governo, n.º 283, de 13 de Dezembro de 1886, p. 3596; ibidem, n.º 180, de 13 de Agosto de 1900, p. 2262.

198. Cf. Anuário Comercial de Portugal, Ilhas e Ultramar, op. cit., 1903, pp. 1235-1236.

199. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 112.

200. Cf. Anuario Almanach Commercial, Lisboa, op. cit., 1895, p. 1261.

201. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 112.

202. «Agente em Loulé da Companhia de Seguros Tagus, fundada em 1877, e sediada em Lisboa. Manuel
Rodrigues Corrêa efectua seguros marítimos e seguros terrestres», in O Pregoeiro, n.º 1, de 4 de Agosto de 1898,
p. 4; ibidem, n. º 3, de 18 de Agosto de 1898, p. 4.

203. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século XX. 1.º Vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., pp. 112-113.

204. Cf. O Pregoeiro, n.º 1, de 4 de Agosto de 1898, p. 4.

205. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1905, pp. 1812-1813.

216
Aluguer de carruagens e transportes Pelo menos entre
Pablo Garcia Delgado206
de tracção animal 1898207 a 1913208
Pelo menos entre
Sebastião Corpas Aluguer de carruagens
1903209 e 1910210
Pelo menos entre
José Rodrigues Peres Aluguer de carruagens
1903211 e 1913212
Pelo menos em
Manuel Rodrigues Gomes Agente de seguros
1905213
Pelo menos em
Pablo Garcia Delgado Agente de seguros
1905214
Pelo menos em
Joaquim Fernandes Belles Aluguer de carruagens
1910215
Bartolomeu Rodríguez y Pelo menos entre
Aluguer de carruagens
Rodríguez 1912216 e 1913217

Fontes: B.N.P., Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1893, 1894, 1895, 1896; B.N.P., Annuario
Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1897, 1898, 1899, 1900, 1901; B.N.P., Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de
Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912,
1913; O Algarvio, Loulé, 1889-1893; O Pregoeiro, Loulé, 1898-1901; Folha do Sul, Loulé, 1902-1905; Folha de
Loulé, Loulé, 1905-1907; Jornal de Annuncios, Loulé, 1907-1910.

206. Pablo Garcia Delgado nasceu em Loulé em 1877. Filho de Pablo Garcia Delgado, negociante natural de
Villanueva de los Castillejos, e de Maria do Carmo Rodrigues Formozinho, doméstica natural de Villanueva de los
Castillejos. Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 1 de Agosto de 1877, tendo como pa-
drinhos de baptismo Manoel Rodrigues Corrêa, negociante, e sua mulher Maria das Dôres Martins Correia, ambos
residentes em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1877-1877,
lv. 70, fl. 107. Foi um múltiplo comerciante louletano, proprietário de uma loja de fazendas (cf. O Pregoeiro, n.º 1,
de 4 de Agosto de 1898, p.4), assim como de uma loja de venda de «leitos de ferro, lavatórios, malas para roupa e
trens de aluguel», in Folha do Sul, n.º 78, de 28 de Junho de 1903, p. 4.

207. Serviço de carruagens entre São Brás e a estação de caminhos de ferro, in O Pregoeiro, n.º 1, de 4 de Agosto
de 1898, p. 4.

208. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2078-2080.

209. Cf. ibidem, 1903, pp. 1235-1236.

210. Cf. ibidem, 1910, pp. 2608-2609.

211. Cf. ibidem, 1903, pp. 1235-1236.

212. Cf. ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

213. Cf. ibidem, 1905, pp, 1812-1813.

214. Cf. ibidem, 1905, pp. 1812-1813.

215. Cf. ibidem, 1910, pp. 2608-2609.

216. Cf. ibidem, 1912, pp. 2082-2084.

217. Cf. ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

217
4.6. O estatuto sócio-económico da comunidade andaluza residente em Loulé

Os proprietários andaluzes nos registos prediais

Os livros mais antigos de descrições prediais da Extinta Conservatória Predial de Loulé que se
conservaram até aos nossos dias datam de 1868218. Para esta situação muito terá contribuído o
incêndio de 25 de Julho de 1861, provocado por alguns «contribuintes descontentes», que, re-
voltados, protestavam contra os impostos, e, para assinalar a revolta, queimaram as matrizes
prediais existentes219.

Dada a impossibilidade física e temporal de analisar milhares de registos prediais para


este estudo, optei por estreitar o intervalo de análise, escolhendo, deste modo, analisar os livros
de registo prediais constantes no Arquivo da Conservatória do Registo Predial e Comercial de
Loulé entre 1881 e 1913.

A colónia andaluza residente em Loulé desde cedo alcançou um poderio económico


assinalável, em consequência de praticamente monopolizar o comércio na vila. A esmagado-
ra maioria das casas comerciais encontravam-se na posse dessa pequena burguesia comercial,
facto que levou a que, de forma rápida, esse grupo crescesse economicamente, e conseguisse
adquirir inúmeras propriedades, quer urbanas quer rurais. Este incentivo à independência eco-
nómica através da aquisição de terras facilitou a rápida transição para uma migração familiar,
ao mesmo tempo que constituía um claro sinal para a fixação a longo prazo, ou até mesmo de-
finitiva, conferindo, ainda, um estatuto e uma posição social diferente na equação capital-traba-
lho220. Veja-se, de seguida, o seguinte quadro-resumo:

218. Informação prestada pelo conservador João Carlos Quintino.

219. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do concelho de Loulé, op. cit., p. 68.

220. Cf. BORGES, Marcelo J, Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva
Regional e Transatlântica, op. cit., p. 327.

218
Quadro n.º 4.19: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1881 e 1913, no conce-
lho de Loulé, distribuídas por freguesias

Anos São Clemente São Sebastião Outras freguesias Totais


1881-1889 22 – 4 26
1890-1899 8 4 7 19
1900-1913 13 25 13 51
Totais 43 29 24 96

Fontes: A.C.R.P.C.L., Livro das Inscrições e Descrições Prediais da Extinta Conservatória do Registo Predial
de Loulé, livros B-1, B-2 e B-4; Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial e Comercial
de Loulé, livros B-1 a B-61; Livro de Registo de Inscrições Diversas, livros F-1 a F-7; Livro de Registo de
Transmissões, livro G-1.

Na última década do século XIX as propriedades registadas em nome de andaluzes na


freguesia de São Clemente eram o dobro das registadas na freguesia de São Sebastião, situação
completamente inversa à evidenciada na década seguinte. No início do século XX assiste-se a
um grande crescimento no registo de propriedades na freguesia de São Sebastião, que passam
de 4 (na década de 1890) para 25 (entre 1900-1913).

A nova freguesia da vila, recém constituída em 1890, crescia para Poente, e, esse cres-
cimento, alargava os limites geográficos da vila. Data dos primeiros anos da última década do
século XIX a abertura de novos arruamentos para estabelecer a ligação entre algumas arté-
rias já existentes221, assim como o calcetamento e a «macadamização» de muitas ruas na nova
freguesia222.

O crescimento demográfico da vila fazia-se sentir, de forma acentuada, desde o início da


segunda metade do século XIX, o que levou a câmara municipal de Loulé a aprovar a constru-
ção de dois novos bairros operários – o bairro de São Francisco, em terrenos da futura fregue-
sia de São Sebastião, cuja construção foi iniciada em 1875223; e o bairro que se encontra a Sul
do convento da Graça, na freguesia de São Clemente, iniciado também na década de 1870224.

221. Cf. SIMÕES, João Miguel, História Económica, Social e Urbana de Loulé, op. cit., p. 99.

222. Cf. ibidem, p. 102. Para a visualização de várias plantas da vila de Loulé veja-se os Anexos cartográficos n.º 9,
10 e 11.

223. Cf. ibidem, p. 95 e p. 98.

224. Cf. ibidem, p. 99.

219
O bairro de São Francisco é um bairro popular de casas de um piso, com planta que pretende
ser mais ou menos ortogonal, destinado, principalmente, a uma mão-de-obra migrante, com-
posta, na sua maioria, por agricultores, comerciantes e operários225. O bairro a Sul do convento
da Graça, por seu lado, é também ele de prédios de um piso, mas mais cuidados e decorados,
foi destinado a uma classe média de funcionários públicos menores e empregados lojistas226.

Outra prova do crescimento demográfico da freguesia de São Sebastião foi o facto de,
em 1892, a câmara municipal de Loulé ter mandado construir uma nova escola do ensino pri-
mário masculino na nova freguesia227.

Outro facto relevante é o registado no que diz respeito ao número de propriedades com-
pradas por andaluzes fora das duas freguesias urbanas da vila de Loulé, isto é, nas restantes
freguesias do concelho e até em outras freguesias do vizinho concelho de Albufeira (Guia228e
Paderne229). Neste particular, verifica-se que, com o passar dos anos, existem cada vez mais
propriedades pertença de andaluzes registadas em outras freguesias do concelho de Loulé230.

Pode comprovar-se, portanto, que, com o passar dos anos, a colónia andaluza a residir em
Loulé evidencia um maior poder financeiro, consubstanciado no aumento do seu poder aquisiti-
vo, uma vez que vai aumentado o número total de propriedades por eles compradas. Isso mesmo

225. Cf. ibidem.

226. Cf. ibidem.

227. Cf. ibidem, pp. 102-103.

228. Uma «Fazenda composta por terras de semear (arvoredo e vinha)», localizada no sítio da Tavagueira (fregue-
sia da Guia), comprada pelo proprietário José do Carmo Pérez, com escritura do dia 17 de Novembro de 1903, in
A.C.R.P.C.L., Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial e Comercial de Loulé, lv. B-28,
fl. 22, registo n.º 10 609.

229. Uma «Terra de semeadura, composta por figueiras, oliveiras, amendoeiras e alfarrobeiras», localizada no sí-
tio do Purgatório (freguesia de Paderne), comprada pelo negociante e proprietário Francisco Barbosa Formosinho,
com escritura do dia 9 de Agosto de 1887, in A.C.R.P.C.L., Livro de Descrições Prediais da Conservatória do
Registo Predial e Comercial de Loulé, lv. B-01, fl. 82v.

230. As vinte e três propriedades pertença de andaluzes registadas fora das duas freguesias urbanas da vila en-
contram-se do seguinte modo distribuídas: freguesia de Boliqueime (duas em 1889, duas em 1898, três em 1903 e
uma em 1905); freguesia de Alte (uma em 1889, uma em 1894, uma em 1896, três em 1901 e uma em 1903); fre-
guesia de Almancil (uma em 1910 e duas em 1913); freguesia de Quarteira (uma em 1890 e mais uma em 1898);
freguesia de Paderne (uma em 1887); freguesia de Querença (uma em 1905); e freguesia da Guia (uma em 1893).

220
se comprova perante o número de propriedades registadas nas últimas duas décadas do século
XIX (45), ser inferior ao número das registadas nos primeiros treze anos do século XX (51).

Quadro n.º 4.20: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1881 e 1913, no conce-
lho de Loulé, distribuídas por urbanas, rústicas e comerciais
Propriedades Propriedades Armazéns e
Anos Totais
urbanas rústicas casas comerciais
1881-1889 16 8 2 26
1890-1899 11 6 2 19
1900-1913 16 33 2 51
Totais 43 47 6 96

Fontes: A.C.R.P.C.L., Livro das Inscrições e Descrições Prediais da Extinta Conservatória do Registo Predial
de Loulé, livros B-1, B-2 e B-4; Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial e Comercial
de Loulé, livros B-1 a B-61; Livro de Registo de Inscrições Diversas, livros F-1 a F-7; Livro de Registo de
Transmissões, livro G-1.

Com o passar dos anos verifica-se que alguns andaluzes começam a comprar pequenas
e médias «courelas de terras» ou «terras de semeadura» para semear algumas árvores de fruto,
que, segundo os registos de propriedade, tanto podiam ser «figueiras», «alfarrobeiras», «oli-
veiras» ou «amendoeiras». Sendo que o tipo de árvore que aparece mais vezes mencionado é a
«alfarrobeira».

As courelas compradas localizavam-se, na sua esmagadora maioria, nas áreas rurais das
duas freguesias da vila, assim como nas freguesias a elas limítrofes. Na documentação consul-
tada encontram-se escrituras de compra de courelas de terras em locais tão remotos como, por
exemplo, na Boa Hora, no Carrascal, no Monte Seco, na Picota, no Poço do Gilvrasinho ou
Gilvrasinho, como por vezes também surge na documentação, no Sítio do Brotual, no Vale da
Boa Hora, em Vale Telheiro ou na Várzea da Mão (na freguesia de São Sebastião); no Barrocal
das Torres de Apra ou na Campina de Cima (na freguesia de São Clemente); nos Barros da
Fonte Santa ou no Sítio das Pereiras (na freguesia de Almancil); na Maritenda ou nas Terras
Ruivas (na freguesia de Boliqueime); no Sítio do Barranco ou em Benafim Grande (na freguesia
de Alte); e, ainda, no Sítio do Serro das Covas (na freguesia de Querença)231.

231. Sobre este assunto veja-se o Apêndice documental n.º 6 (Propriedades compradas por Sebastião Martins
Gomes Peres, no concelho de Loulé, entre 1881 e 1907).

221
Por outro lado, surgem ainda registos de compra de várias residências, contendo, igual-
mente, «cavalariça, palheiro, forno, pocilgo e terras para semear».

No que diz respeito a espaços industriais verifica-se que, em 1905, o proprietário e


comerciante Sebastião Martins Peres Gomes adquire, na rua de Santo António232, um «prédio
urbano que se compõe de um armazém que serve de fábrica de sabão»233que, por sua vez, era
propriedade do seu irmão, Bento Martins Peres Gomes234, que a possuiu entre 1900 e 1910235.
Neste particular, assinale-se que o facto de surgirem registados poucos «armazéns» ou «ca-
sas comerciais» na posse de andaluzes poderá estar relacionado com o facto de essas «casas
comerciais» aparecerem nos registos com a denominação de «prédios urbanos», dado que, à
altura, era muito usual encontrar «prédios urbanos» com a loja no piso térreo e as divisões de
habitação nos pisos superiores, como normalmente se verificava caso o proprietário fosse um
comerciante236.

232. Actual Rua Miguel Bombarda, na freguesia de São Sebastião do concelho de Loulé.

233. Cf. A.C.R.P.C.L., Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial e Comercial de Loulé,
lv. B-35, fl. 96, registo n.º 13 701 (escritura assinada a 1 de Agosto de 1905).

234. Bento Martins Peres Gomes nasceu em Loulé em 1843. Filho de António Martins Peres Gomes e de Maria
Rosa Formozinho, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente,
em Loulé, no dia 21 de Agosto de 1843. Foi proprietário de um «lagar de azeite» e de uma «fábrica de sabão», am-
bas instaladas na Rua de Santo António, em Loulé, além de se destacar ainda como comerciante de fazendas de lã,
linho e seda. Casou com Maria de las Piedras Albas, natural de Villanueva de los Castillejos, de onde resultaram o
nascimento de cinco filhos, todos nascidos e baptizados em Loulé: Maria das Dôres (n. 1878), António (n. 1879),
Sebastião (n. 1880), Maria Rosa (n. 1882) e Izabel (n. 1883). (Informações recolhidos numa entrevista realizada
ao Dr. João Barros Madeira, no dia 7 de Junho de 2019, na residência do entrevistado, em Loulé). Para além de ser
um grande proprietário imobiliário no concelho, pressupõe-se que deveria ser monárquico uma vez que, em 1911,
no seguimento da implantação da Lei de Separação do Estado das Igrejas (de 20 de Abril de 1911), e por forma a
que alguns bens e alfaias religiosas escapassem à inventariação e ao consequente arrolamento ditado pela Lei, a
vestimenta de Nossa Senhora da Soledade, da confraria do Senhor Jesus dos Passos da igreja da Ordem Terceira de
São Francisco, se encontrava guardada em sua casa, in REIS, Maria de Fátima, «A República e a ‘questão religio-
sa’: a execução da Lei de Separação do Estado das Igrejas (1911) em Loulé», in Atas do IV Encontro de História
de Loulé, coord. de Nelson Vaquinhas, Loulé, Câmara Municipal de Loulé – Arquivo Municipal, 2021, p. 279.

235. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 103.

236. Cf. SIMÕES, João Miguel, op. cit., p. 109.

222
Quadro n.º 4.21: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1881 e 1913, na malha
urbana da freguesia de São Clemente, por topónimos

Topónimo Registos Topónimo Registos


Rua da Praça (actual Praça da Rua de João Fernandes (actual R.
3 1
República) Sá de Miranda)
Rua da Graça (actual Lg. Tenente Rua do Cabo (actual R. Marçal
2 1
Cabeçadas) Aboim)
Rua do Terreiro do Ricardo (actual
Rua das Cabanas 2 1
Av. Marçal Pacheco)
Rua dos Ferradores (actual R.
Rua do Chafariz (actual R. Egas
2 Condestável D. Nuno Alvares 1
Moniz)
Pereira)
Rua do Postigo (actual R. Nove de Rua dos Inocentes (actual Lg. Gago
2 1
Abril) Coutinho)
Travessa da Praça (actual Praça da Rua Nova da Vila (actual R. Dr.
2 1
República) Joaquim Nunes Saraiva)
Travessa do Médico (actual Rua Nova de Quarteira (actual R.
2 1
Mercado Municipal, lado Norte) Gil Vivente)
Praça da Vila (actual Praça da Trav. da Rua do Lagar Novo (actual
1 1
República) R. Dr. Cândido Guerreiro)
Rua de João Fernandes (actual R. Sá
1 Total 24
de Miranda)

Fontes e bibliografia: A.C.R.P.C.L., Livro das Inscrições e Descrições Prediais da Extinta Conservatória do
Registo Predial de Loulé, livros B-1, B-2 e B-4; Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial
e Comercial de Loulé, livros B-1 a B-61; Livro de Registo de Inscrições Diversas, livros F-1 a F-7; Livro de
Registo de Transmissões, livro G-1; PALMA, Jorge Filipe Maria da, Dicionário Toponímico – Cidade de Loulé,
Loulé, edição da Câmara Municipal de Loulé, 2009.

Quadro n.º 4.22: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1890 e 1913, na malha
urbana da freguesia de São Sebastião, por topónimos

Topónimo Registos Topónimo Registos


Rua de São Sebastião (actual R. Cinco Travessa do Outeiro (actual
11 2
de Outubro) Travessa da Hora)
Rua de Santo António (actual R.
5 Largo de São Francisco 1
Miguel Bombarda)
Rua Ancha (actual R. Sacadura Cabral) 2 Rua de Portugal 1
Rua da Piedade (actual R. Nossa
2 Total 24
Senhora da Piedade)

Fontes e bibliografia: A.C.R.P.C.L., Livro das Inscrições e Descrições Prediais da Extinta Conservatória do
Registo Predial de Loulé, livros B-1, B-2 e B-4; Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial
e Comercial de Loulé, livros B-1 a B-61; Livro de Registo de Inscrições Diversas, livros F-1 a F-7; Livro de
Registo de Transmissões, livro G-1; PALMA, Jorge Filipe Maria da, Dicionário Toponímico – Cidade de Loulé,
Loulé, edição da Câmara Municipal de Loulé, 2009.

223
Analisando-se a localização toponímica destas quarenta e oito propriedades situadas na
área urbana das duas freguesias de vila, verifica-se uma distribuição não uniforme. Se cada uma
das freguesias regista igual número de propriedades registadas (24), elas distribuem-se de for-
ma desigual, repartindo-se esse número por dezassete topónimos em São Clemente e por apenas
sete em São Sebastião.

A distribuição mais repartida evidenciada pela freguesia de São Clemente, é facilmen-


te compreensível, se for tido em conta que essa freguesia é composta por um maior número de
ruas. Analisando a distribuição das propriedades pelas artérias da então vila, verifica-se uma
centralidade das mesmas: na Rua da Praça (actual Praça da República)237 e na adjacente Rua do
Postigo (actual Rua Nove de Abril)238, ou seja, no centro urbano da vila, local, por excelência,
associado ao poder político e económico, sede dos Paços do Concelho desde 1885239, e do edifí-
cio ex-libris da vila, o seu mercado municipal, desde 1908240. Esta localização é representativa
do estatuto económico adquirido pela comunidade de andaluzes ali estabelecidos.

Na freguesia de São Sebastião destaca-se, de forma clara, a Rua de São Sebastião, com
onze propriedades registadas em nome de andaluzes. Eixo central da freguesia de São Sebastião,
esta artéria é, por excelência, uma rua de comércio, e, mesmo depois da alteração toponímica
republicana para Rua 5 de Outubro241, continuou a ser denominada, na gíria local, como «Rua
das Lojas», o que ainda hoje se verifica. Só nessa artéria, entre 1881 e 1910, adquiriram habi-
tações próprias – «prédio urbano» ou «casas altas», como aparecem nos registos prediais – os
seguintes andaluzes: Manuel Rodrigues Corrêa, em 1881; Bento Martins Peres Gomes, em
1882; Joaquim dos Santos Corrêa, em 1884; Sebastião Martins Peres Gomes, em 1894; António
Martins Peres Gomes, em 1906; e, finalmente, Manoel Formozinho Macias, em 1910242.

237. Alteração toponímica deliberada em reunião de vereação no dia 12 de Outubro de 1910, in PALMA, Jorge
Filipe Maria da, op. cit., p. 320.

238. Alteração toponímica deliberada em reunião de vereação no dia 2 de Maio de 1923, in ibidem, p. 256.

239. Cf. ibidem, p. 320.

240. Cf. ibidem.

241. Alteração toponímica deliberada em reunião de vereação no dia 12 de Outubro de 1910, in ibidem, p. 108.

242. Sobre este assunto veja-se o Apêndice documental n.º 5 (Propriedades compradas por andaluzes radicados
em Loulé, na Rua de São Sebastião, em Loulé, entre 1881 e 1910).

224
Por outro lado, e analisando-se os registos anuais dos quarenta maiores contribuintes do
concelho de Loulé para o período compreendido entre 1881 e 1891, verifica-se que a esmaga-
dora maioria eram proprietários portugueses. No entanto, também se registam dois filhos de an-
daluzes, ambos comerciantes, radicados na vila: Manoel Ponce Corpas, em 1881243 e Sebastião
Martins Peres Gomes, nos anos de 1887, 1888, 1889, 1890 e 1891244.

4.7. O estatuto sócio-político da comunidade andaluza residente em Loulé

No último quartel do século XIX viviam-se tempos de grande agitação política, provocada pela
enorme instabilidade política a nível nacional. Os governos sucediam-se uns atrás dos outros, e,
a nível local, a situação não era diferente. Em 1908 houve até uma vereação em Loulé que du-
rou apenas oito dias, realizando, somente, a sessão de tomada de posse… Entre 1893 e 1917, das
dezanove gestões autárquicas que governaram o município – quinze na Monarquia e quatro na
República –, apenas quatro cumpririam o mandato até ao fim: 1896-1898, 1902-1904 e 1905-
1907, em Monarquia245; e 1914-1917, na República246. Sinónimo dos tempos conturbados que
então se viviam. O rotativismo da segunda metade de Oitocentos ainda vigorava, mas, a partir de
1901, um dos dois partidos rotativos passou por um processo de dissidência, ao ser criado, por João
Franco, o partido Regenerador-Liberal. E os tempos continuaram e continuariam conturbados.

Apesar deste contexto, a comunidade andaluza residente em Loulé, por força do seu tra-
balho, dinamismo e empreendedorismo, rapidamente alcançava um estatuto sócio-económico
e sócio-político de grande relevância na vila. Monopolizava praticamente todo o comércio lo-
cal, com especial relevo nas lojas de roupas e fazendas; assegurava alguns serviços relevantes
(aluguer de carruagens e transportes de tracção animal) e também financeiros (na banca e nos
seguros); sendo, ainda, proprietários de algumas indústrias (sabão, cera, fiação e confecção de

243. Cf. A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Registo de Documentos relativos ao recensea-
mento eleitoral, 1870-1883, lv. 04, fl. 44.

244. Cf. A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Registo de Documentos relativos ao recensea-
mento eleitoral, 1883-1891, cd. 11, folhas avulsas.

245. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 29.

246. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 2.º vol. – A Primeira República, 1910-1926, op.
cit., p. 260.

225
vestuário). Deste modo, por via do estatuto sócio-económico cada vez mais consolidado, esta
pequena e média burguesia comercial, vem a adquirir (ou a conquistar) uma relevância políti-
ca. E sabe-se que, a partir do último quartel do século XIX, era frequente encontrar elementos
da pequena e média burguesia na política local e municipal, estando os lugares de governação
e da política estatal reservados para a grande burguesia. É sem surpresa, pois, que, entre 1893
e 1917, se vissem eleitos ou nomeados andaluzes de segunda geração para oito diferentes ges-
tões autárquicas, correspondendo a um total de doze mandatos de vereação. Tal era sinónimo
do estatuto e do prestígio sócio-político de que alguns membros dessa colónia gozavam na so-
ciedade local.

A nível político-partidário conclui-se que não se tratava de uma colónia homogénea, uma
vez que os vereadores eleitos ou nomeados pertenciam a diferentes partidos políticos: quatro
pelo partido Regenerador (1893-1894, 1896-1898 e 1900-1901), um pelo partido Progressista
(1900), um pelo partido Regenerador Liberal (1908-1910) e dois pelo partido Democrático
(1914-1917).

Veja-se, então, o seguinte quadro-resumo em que se sistematiza e sintetiza a informa-


ção referente às várias vereações municipais da câmara municipal de Loulé, entre 1893 e 1917.

Quadro n.º 4.23: Andaluzes de segunda geração nomeados ou eleitos vereadores municipais
da Câmara Municipal de Loulé, entre as vereações de 1893 a 1917

Mandato Presidente (Partido vencedor) Vereador(es) Pelouro executivo


António Martins Peres
Joaquim Marcelo Adelino Gomes248
1893 e 1894247 n./i.
Pereira (partido Regenerador) Francisco Barbosa
Formosinho249

247. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: Joaquim Marcelo Adelino Pereira (presidente);
Joaquim de Sousa Faísca (vice-presidente); António Martins Peres Gomes, Francisco Barbosa Formosinho,
Jacinto Alexandre Correia Neves, Joaquim Aniceto Faria Aboim, Joaquim Raymundo Maldonado Pires (somen-
te em 1894) (vereadores eleitos); e Joaquim Cláudio Rafael Pinto (secretário da câmara), in Anuario Almanach
Commercial, Lisboa, s./n., 1893, p. 306 e Anuario Almanach Commercial, op. cit., 1894, p. 1255.

248. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 13.

249. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 11.

226
7.01.1896 a Joaquim Marcelo Adelino João José Gomes «Venda de carne e
1898250 Pereira (partido Regenerador) Pablos251
de peixe»
Comendador Joaquim
1.01.1900 a Sebastião Martins Peres «Venda de carne e
de Sousa Faísca (partido
14.11.1900252 Gomes253 de peixe»
Progressista)
Joaquim Marcelo Adelino António Martins Peres
14.11.1900 a «Limpeza»
Pereira (partido
255 Gomes
14.01.1901254
Regenerador) Sebastião Corpas256 «Venda das carnes»
António Martins Peres
14.01.1901 a Joaquim Marcelo Adelino «Limpeza»
Gomes
21.09.1901257 Pereira (partido Regenerador)
Sebastião Corpas «Venda das carnes»
Não chegou a
30.11.1908 a José Fernandes Guerreiro
João José Gomes Pablos haver distribuição
7.12.1908258 (partido Regenerador Liberal)
de pelouros

250. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: Joaquim Marcelo Adelino Pereira (presidente); José
Fernando Guerreiro (vice-presidente); Barros, Joaquim Aniceto Faísca de Aboim, Faísca, João José Gomes Pablos
e Manuel de Sousa Pereira (vereadores efectivos); Joaquim Cláudio Raphael Pinto (secretário da câmara), in
A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Livro das Actas das Sessões da Câmara Municipal de
Loulé, desde 26 de Junho de 1893 a 4 de Outubro de 1897, lv. 37-1, fls. 79-80.

251. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 18.

252. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: Comendador Joaquim de Sousa Faísca (presidente);
José Fernandes Guerreiro (vice-presidente); padre Domingos António Pereira de Miranda, padre Carlos Cristóvão
Genuez Pereira, Jacinto Alexandre Correia das Neves, Joaquim Aniceto Faria d’Aboim e Sebastião Martins Peres
Gomes (vereadores eleitos), in MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da
Monarquia à implantação da República, op. cit., p. 30.

253. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 14.

254. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: Joaquim Marcelo Adelino Pereira (presidente); José
Vaz de Mascarenhas (vice-presidente); António Martins Peres Gomes, José de Sousa Faísca, Sebastião Corpas,
António de Sousa Faísca Teixeira e Joaquim Pedro (vogais), in MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século
Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implantação da República, op. cit., p. 31.

255. Comissão Administrativa nomeada pelo governo Regenerador por decreto governamental de 12 de Novembro
de 1900, in ibidem.

256. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 6.

257. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: Joaquim Marcelo Adelino Pereira (presidente); José
Vaz de Mascarenhas (vice-presidente); António Martins Peres Gomes, José de Sousa Faísca, Sebastião Corpas,
António de Sousa Faísca Teixeira e Joaquim Pedro (vereadores efectivos), in MARTINS, Isilda Maria Renda,
Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implantação da República, op. cit., p. 32.

258. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: José Fernandes Guerreiro (presidente); padre José
Pedro Leal (vice-presidente); António Guerreiro de Barros, António Martins Sancho, João José Gomes Pablos,

227
25.01.1909 a José Fernandes Guerreiro
João José Gomes Pablos «Dos Expostos»
5.10.1910259 (partido Regenerador Liberal)
Francisco Formosinho Vereador
2.01.1914 a António Martins Sancho 261 Macias262 substituto
31.12.19177260 (partido Democrático) Santiago Formosinho Vereador
Romero263 substituto

Fontes: A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Livro das Actas das Sessões da Câmara Municipal
de Loulé, desde 26 de Junho de 1893 a 4 de Outubro de 1897, lv. 37-1, fls. 79-80; B.N.P., Anuario Almanach
Commercial, Lisboa, s./n., 1893, p. 306; B.N.P., Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1894, p. 1255;
MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implantação da
República, Loulé, edições Colibri e Câmara Municipal de Loulé, 2001, pp. 29-47; MARTINS, Isilda Maria Renda,
Loulé no século Vinte. 2.º vol. – A Primeira República, 1910-1926, Loulé, edições Colibri e Câmara Municipal de
Loulé, 2004, p. 260 e pp. 274-275.

Verifica-se, pois, que os andaluzes de segunda geração que serviram de vereadores a vá-
rias vereações eram oriundos de vários quadrantes políticos. Se em 1900 Sebastião Martins Peres
Gomes foi eleito vereador num executivo liderado por um presidente do partido Progressista;
passado apenas um ano, em 1901, seria a vez de o seu irmão, António Martins Peres Gomes,
juntamente com Sebastião Corpas, ser eleito vereador numa vereação encabeçada por um pre-
sidente afecto ao partido Regenerador.

Jacinto Alexandre Correia das Neves (vereadores efectivos), in ibidem, p. 46.

259. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: José Fernandes Guerreiro (presidente); prior José
Pedro Leal (vice-presidente); Manuel Joaquim Afonso, Jacinto Alexandre Correia das Neves, António Martins
Sancho, João José Gomes Pablos e José Marum Teixeira (vereadores efectivos); Joaquim dos Santos Correia (ve-
reador substituto), in ibidem, p. 47.

260. Esta vereação era composta pelos seguintes elementos: António Martins Sancho (presidente); Sebastião
de Jesus Palma, de 1914 a 1915; Francisco de Sousa Faísca, em 1916; Henrique do Nascimento Barros, em
1917 (vice-presidentes); João do Nascimento Guerreiro (secretário); José Augusto da Piedade Júnior, em 1914 e
1915; José Cândido Machado Júnior, em 1916; Francisco Guerreiro Pereira, em 1917 (vice-secretários); Francisco
Formosinho Macias, Santiago Formosinho Romero, João Pedro do Nascimento, José Martins Júnior, Manuel
Filipe Viegas, Manuel Joaquim Afonso e Sebastião Marum Teixeira (vereadores substitutos), in MARTINS, Isilda
Maria Renda, Loulé no século Vinte. 2.º vol. – A Primeira República, 1910-1926, op. cit., pp. 274-276.

261. Primeira vereação republicana eleita através das primeiras eleições autárquicas, realizadas no dia 30 de
Novembro de 1913, ocorridas após a Revolução do 5 de Outubro de 1910.

262. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 15.

263. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 23.

228
João José Gomes Pablos, por seu lado, seria eleito vereador pelo partido Regenerador264,
entre 1896 e 1898, e, cerca de uma década mais tarde, pelo partido Regenerador Liberal265, em
duas vereações (Novembro de 1908 a Outubro de 1910). A segunda destas, de existência eféme-
ra, uma vez que só se reuniu no dia da tomada de posse266; a terceira e última vereação eleita no
regime monárquico267. Gomes Pablos foi, assim, um dissidente político do partido Regenerador
– pelo qual tinha sido eleito vereador em 1896 – para, em 1906, ser um dos fundadores do parti-
do Regenerador Liberal Louletano, chegando, desta forma, a ser eleito vereador municipal pelo
partido Regenerador Liberal nas eleições de 1908 e 1909.

Por último, e cingindo-me somente ao período temporal do presente estudo, verifica-se a


eleição dos primeiros dois vereadores na primeira vereação republicana eleita após a Revolução
de 5 de Outubro de 1910. Esta vereação, eleita através das eleições realizadas no dia 30 de
Novembro de 1913, toma posse no dia 2 de Janeiro de 1914 e cumpre o seu mandato de quatro
anos até ao fim, facto único entre todas as doze vereações municipais que governaram durante a
Primeira República (1910-1926). Dos vinte e quatro vereadores efectivos foram, seguidamente
e de acordo com o Código Administrativo de 1913, eleitos catorze vereadores (sete efectivos
mais sete substitutos) para a Comissão Executiva Municipal. Dos sete vereadores substitutos
dois eram descendentes de andaluzes e os representantes dos interesses do comércio local:
Francisco Formosinho Macias e Santiago Formosinho Romero268.

264. O partido Regenerador foi fundado em 1870 e, tal como o partido Progressista (fundado em 1876), foi um
dos dois partidos que caracterizaram o rotativismo parlamentar no regime da monarquia constitucional. A sua
criação teve como objectivo fazer frente ao partido Histórico e ao partido Reformista, antecedentes do partido
Progressista.

265. O partido Regenerador-Liberal foi fundado por João Franco (Fundão, 1855 – Lisboa, 1929) no dia 16 de
Maio de 1901. Este novo partido resultou de uma cisão de João Franco com Hintze Ribeiro (Ponta Delgada, 1849
– Lisboa, 1907), então líder do partido Regenerador. Em Loulé o Centro Regenerador Liberal Louletano foi fun-
dado em Julho de 1906, e, desde a primeira hora, reuniu no seu seio importantes figuras da política local, como,
por exemplo, o presidente da câmara municipal em actividade, Joaquim Marcelo Adelino Pereira, assim como os
vereadores João Vaz de Mascarenhas e Francisco José Faísca Teixeira, bem como a Sociedade Filarmónica Artistas
de Minerva, in MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à
implantação da República, op. cit., pp. 35-37.

266. Cf. ibidem, pp. 45-46.

267. Cf. ibidem, pp. 47-48.

268. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 2.º vol. – A Primeira República, 1910-1926, op.
cit., pp. 274-276.

229
Outro indicador do estatuto social de alguns andaluzes residentes em Loulé era o facto
de terem sido eleitos para a Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Loulé, cargo sempre muito
concorrido. Ser eleito para este órgão conferia estatuto e prestígio social, ainda que de âmbito
local. E são conhecidas algumas eleições a que concorreram mais do que uma lista, sinónimo
que o cargo era apetecido. Eleições para a Mesa da Misericórdia que, como escreveu Joaquim
Romero Magalhães, nos anos Trinta e Quarenta do século XX, suscitavam, quase sempre, «pe-
ripécias […], nem sempre misericordiosas, com que os profanos se divertiam»269. Deste modo,
é sem surpresa que, pelo menos, três andaluzes de segunda e terceira geração tenham perten-
cido à Mesa da Santa Casa da Misericórdia, entre 1884 e 1935, conforme indica o seguinte
quadro-resumo:

Quadro n.º 4.24: Descendentes de andaluzes presentes nas sucessivas Mesas da Santa Casa da
Misericórdia de Loulé, entre 1884 e 1935

Nome Cargo Mandato


Francisco Rodrigues Formosinho270 Provedor 1884
Artur Gomes Pablos271 Tesoureiro 23.08.1925 – 30.01.1929
Artur Gomes Pablos Secretário da Mesa 31.01.1929 – 12.12.1932
Gaspar Féria Martins Domingues Vice-Provedor 13.12.1932 – 14.12.1935

Fonte: GOMES, Neto, A Santa Casa da Misericórdia de Loulé. Uma vida a fazer o bem, vol. II, s./l., edição da
Santa Casa da Misericórdia de Loulé, 2019, p. 411 e p. 413.

269. Cf. Joaquim Romero MAGALHÃES, «Joaquim da Rocha Peixoto Magalhães. Um tripeiro naturalizado al-
garvio», in Toponímia. Avenida Joaquim Magalhães, coord. de Luís Manuel Mendes Guerreiro, Loulé, Câmara
Municipal de Loulé – Divisão de Cultura e História Local, 2009, pp. 16-17.

270. Francisco Rodrigues Formozinho nasceu em Loulé em 1852. Filho de Francisco Rodrigues Formozinho e de
Maria Rozário Formozinho ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Foi baptizado na igreja Matriz de São
Clemente, em Loulé, no dia 26 de Abril de 1852, tendo como padrinhos de baptismo Manoel Rodrigues Moron,
natural de Villanueva de los Castillejos mas residente em Loulé, e Maria das Dores, tia materna do baptizado,
também ela residente em Loulé, in A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos,
1851-1854, lv. 53, fls. 45-45v. Sabe-se ainda que, em 1884, quando tomou posse como Provedor da Santa Casa
da Misericórdia de Loulé desempenhava as funções de escrivão no Tribunal Judicial de Loulé, in GOMES, Neto,
A Santa Casa da Misericórdia de Loulé. Uma vida a fazer o bem, vol. II, s./l., edição da Santa Casa da Misericórdia
de Loulé, Janeiro de 2019, p. 411.

271. Artur Gomes Pablos nasceu em Loulé no dia 3 de Julho de 1882. Filho de João José Gomes Pablos (Silves,
1863 – Loulé, 1932) e de Maria Francisca Rocheta (Loulé, 1862 – Loulé, 1934), era neto paterno de João José
Gomes Pablos, comerciante e proprietário natural de El Almendro. Artur Gomes Pablos foi um comerciante e ex-
portador de frutos secos, sediado em Loulé. Faleceu no dia 1 de Outubro de 1955 em Loulé.

230
4.8. A influência andaluza no culto a Nossa Senhora da Piedade

Em 1891 um conjunto de cidadãos louletanos resolveu constituir-se em Comissão para envi-


dar todos os esforços para construir uma nova estrada de acesso à ermida de Nossa Senhora
da Piedade, assim como constituir uma «Confraria de Nossa Senhora da Piedade», atendendo
«aos tão conhecidos actos miraculosos da Virgem e tão profunda e sensata a devoção de todo
este concelho e freguesia limítrofes, e ainda de toda a província do Algarve e do baixo Alentejo
[...]272». A dita Comissão era constituída pelas seguintes personalidades: Padre Alexandre João
do Nascimento (Presidente), Alexandre João do Nascimento Pai (tesoureiro), Francisco Barbosa
Formosinho (secretário) e, ainda, pelos restantes vogais: António Victoria Pereira, Francisco
Xavier de Athaíde de Oliveira, Joaquim Faísca, Joaquim Cláudio Rafhael Pinto, Joaquim
Marcelo Adelino Pereira, José d’Azevedo Pacheco, José Faísca e Manuel Rodrigues Corrêa273.

4.8.1. A influência andaluza nas Festas em honra de Nossa Senhora da Piedade, Mãe
Soberana dos louletanos

A procissão em honra de Nossa Senhora da Piedade, em Loulé, tem peculiaridades e especifici-


dades únicas em Portugal. São características específicas e modos de operar que não encontram
paralelo na celebração de outras manifestações religiosas no nosso país. Veja-se algumas dessas
tipicidades louletanas, que ainda hoje se observam:

a) Em Loulé, a Virgem é elegantemente «passeada» pelas principais artérias da cidade, isto


é, o andor de Nossa Senhora da Piedade «dança», em cima dos ombros dos Homens do
Andor, ao ritmo das marchas processionais executadas no momento.

b) Outra característica muito própria da Festa constitui no facto de os populares gritarem


vários tipos de «Vivas!» à passagem da procissão. Gritam-se «Vivas!» à Senhora da
Piedade, à Mãe Soberana, aos Homens do Andor e até mesmo à banda filarmónica, e são
«Vivas!» que já se gritavam no princípio do século XX274.

272. Cf. «É Justo», in O Algarvio, n.º 110, de 3 de Maio de 1891, p. 3.

273. Cf. ibidem.

274. Cf. «Loulé», in Folha do Domingo, número XLI, de 25 de Abril de 1915, p. 3.

231
Os homens que transportam o andor não constituem, em si, diferença relativamente a
outras procissões do país. Porém, em Loulé, o grupo dos Homens do Andor de Nossa Senhora
da Piedade exibe três características muito raras – algumas até inexistentes noutros locais do
país – de encontrar nos restantes homens que transportam andores de Norte a Sul de Portugal:

a) Vestem uma farda de trabalho específica, conhecida como «roupa», somente utilizada
nos dias da Festa Pequena e da Festa Grande em honra de Nossa Senhora da Piedade275;

b) Conservam um léxico específico composto por termos técnicos, expressões, tipismos e


modismos só por eles conhecidos e falados no decurso das Festas anuais276;

c) No grupo dos Homens do Andor existe a figura oficial dos «Tocheiros» ou «Tochas»277:
um conjunto de dois homens que seguem ao lado do andor para ajudar os colegas na
realização das tarefas e manobras mais complicadas.

275. Hoje em dia a farda de trabalho dos Homens do Andor é normalmente designada por «roupa». Dela fazem
parte as seguintes peças: calça branca, camisa branca, casaco preto, meias brancas, laço preto (na Festa Pequena)
ou laço branco (na Festa Grande), luvas brancas de algodão e uma opa branca, com cabeção azul. O calçado são
sapatos pretos. Porém, nem sempre foi assim. No início do século XX a farda dos Homens do Andor era ainda
composta por um colete preto vestido por baixo do casaco preto, sendo o seu calçado botas de elástico, em vez
dos sapatos pretos que se usam hoje em dia. Por sua vez deve referir-se que, sensivelmente até às primeiras duas
décadas do século XX, os «Tochas» vestiam uma farda de trabalho diferente dos restantes Homens do Andor, mas
em tudo idêntica à vestida pelos «capataces» que comandam as quadrilhas de «costaleros» na Semana Santa de
Sevilha. Essa determinada farda apresentava as seguintes diferenças em relação aos restantes Homens do Andor:
fato escuro e gravata preta em vez das tradicionais calças brancas, casaco preto e laço (preto na Festa Pequena e
branco na Festa Grande) vestidos pelos seus colegas de andor. Actualmente os «Tochas» envergam uma farda de
trabalho igual ao dos restantes Homens do Andor.

276. Sobre este assunto veja-se o seguinte estudo: «Dicionário Mãesoberaneiro (O léxico utilizado pelos Homens
do Andor», in ALEIXO, João Romero Chagas, Mãe Soberana. Estudos. Ensaios. Crónicas, Loulé, Câmara
Municipal de Loulé, 2016, pp. 91-109.

277. Os «Tochas» da Mãe Soberana são uma espécie de «olhos do andor», uma vez que a sua principal função é
orientar a marcha do andor. É um cargo de grande responsabilidade, porque é deles que depende o correcto anda-
mento do andor. Estes homens são igualmente responsáveis pela execução das manobras mais difíceis do andor,
nomeadamente «fazer as voltas», as paragens e as entradas e saídas das igrejas. Na procissão pela cidade, bem
como na subida da íngreme ladeira, devem saber abrir espaço à frente do andor, para que este efectue a sua marcha
em tempo certo. Durante a procissão devem dispensar umas palavras e/ou gritos de incentivo para com os seus oito
colegas. Antigamente, isto é, sensivelmente até à segunda década do século XX, a sua farda de trabalho era dife-
rente da dos seus colegas, uma vez que vestiam calças escuras, caso preto e gravata preta, um pouco à semelhança
do que vestem os «capataces» das procissões andaluzas, com a particularidade de transportarem uma tocha branca,
normalmente, na sua mão direita; advindo desse objecto o nome pelo qual são conhecidos. No entanto, em data que
não se sabe, o seu fardamento é uniformizado em relação aos restantes colegas, partindo, desde essa altura, a vesti-
rem todos da mesma maneira. Os «Tochas» da Mãe Soberana, no percurso pela cidade, devem ocupar o lugar ao lado

232
Quem terá trazido para Loulé estas especificidades? Quem as terá imposto? Quando te-
rão sido introduzidas nesta manifestação religiosa? E com que objectivos?

Não fazendo parte as características atrás enumeradas das procissões que se celebram
um pouco de Norte a Sul do nosso país, mas sendo, ao invés, bastante comuns nas procissões
realizadas na vizinha Andaluzia278, facilmente se concluí que tais características e especificida-
des, de carácter eminentemente andaluz, tenham sido importadas e incorporadas na Festa da
Piedade através da colónia andaluza que, ao longo de todo o século XIX, emigrou para a vila
de Loulé. O intuito seria uniformizar e normalizar alguns aspectos relacionadas com a Festa
da Piedade, com o objectivo final de dotá-la de um maior profissionalismo processional, como,
aliás, já se fazia nas mais importantes romarias celebradas na Andaluzia.

Deve referir-se que a numerosa comunidade andaluza a residir em Loulé, composta, como
se viu, por naturais e por descendentes, também fez parte de inúmeras comissões promotoras das
Festas da Piedade. Esse facto é bem visível na década de 1910, quando são constituídas várias
comissões promotoras das Festas, em grande parte por descendentes de emigrantes andaluzes.
Estas festas religiosas já nessa altura eram a maior manifestação religiosa de toda a província
algarvia, e mesmo uma das maiores manifestações religiosas a Sul do Tejo – facto que evidencia

das duas «cantoneiras» da frente do andor; sendo que na subida da ladeira devem ir uns passos mais à frente com o
objectivo de abrir caminho/arranjar espaço para que os seus colegas possam progredir da melhor maneira possível.

278. Veja-se, a título de exemplo, as procissões celebradas em honra da Virgen de las Piedras Albas, que se rea-
liza em Villanueva de los Castillejos; a procissão em honra de la Virgen del Rocío, na aldea del Rocío (Almonte);
ou as procissões em honra da Virgen de la Esperanza Macarena e da Virgen de la Esperanza de Triana, que saem
para as ruas na madrugada de quinta para sexta-feira santa em Sevilha. Piedras Albas é a invocação canónica da
Virgen padroeira dos municípios andaluzes de El Almendro e de Villanueva de los Castillejos. A ermida situa-se
no chamado «prado de Osma», mesmo em frente ao serro denominado por Cabeça del Buey, anterior povoação de
Osma. Encontra-se rodeada por montes. A festa em honra da Virgen de las Piedras Albas inicia-se, anualmente, no
Domingo de Páscoa. O ponto alto da romaria decorre, porém, na terça-feira seguinte ao Domingo de Páscoa, com
a celebração da solene procissão em honra da Virgen de las Piedras Albas. A actual imagem da Virgen data dos
anos Cinquenta do século XX, uma vez que a anterior imagem foi destruída durante a Guerra Civil de Espanha, in
CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia, Vila Real
de Santo António, edição da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 2008, p. 12.

Sobre a religião e a religiosidade popular na comarca do Andévalo veja-se, por exemplo, o estudo: RODRÍGUEZ-
BECERRA, Salvador, HERNANDÉZ GONZÁLEZ, Salvador, «Religión y Religiosidad en la Comarca
del Andévalo (Huelva)», in El Andévalo. Territorio, Historia e Identidad, vol. II, (actas de las II Jornadas del
Patrimonio de El Andévalo, Santa Bárbara de Casa, Huelva 25, 26 y 27 noviembre 2011), Huelva, Diputación
Provincial Huelva, Servicio de Publicaciones, 2012, pp. 99-144. Disponível no seguinte endereço online: .https://
www.researchgate.net/publication/309534367_Religion_y_Religiosidad_en_la_Comarca_del_Andevalo_Huelva
[consultado pela última vez no dia 21 de Abril de 2021].

233
o estatuto sócio-económico de que estes andaluzes de segunda geração gozavam na vila. Tome-
se, como exemplo, a comissão promotora das Festas da Piedade de 1912, composta por cinco
bem-sucedidos comerciantes locais, quatro deles filhos de andaluzes emigrados para Loulé na
segunda metade do século XIX: Bartolomeu Rodríguez y Rodríguez, Pablo Garcia Delgado,
Pedro Gomes Marques e Ignácio Garcia Alvarez; além do português António Martins Sancho279.

4.8.1.1. As influências andaluzas no léxico utilizado pelos Homens do Andor

Conforme foi assinalado, uma das características muito específicas dos Homens do Andor da
Festa em honra de Nossa Senhora da Piedade é o facto de possuírem e utilizarem um léxico
próprio, somente por eles conhecido e falado. Esse léxico, um verdadeiro idiolecto, é composto
por um conjunto alargado de palavras, modismos, expressões e termos técnicos, utilizados uni-
camente neste particular culto mariano. A arte de «pegar no andor» obedece a tecnicismos que
todos os Homens do Andor devem dominar. Desconhecido da maior parte dos fiéis devotos de
Nossa Senhora da Piedade, o léxico é utilizado, praticamente em exclusivo, pela grande família
dos Homens do Andor. É uma linguagem própria, falada por um conjunto restrito de pessoas.

Não se sabe ao certo quando começaram a ser usadas na Festa louletana estas palavras e
expressões. Muito menos se sabe quem terá sido o utilizador primeiro, o importador. Presume-
se que tenham sido moldadas ao longo dos anos, para perdurarem na memória colectiva dos
Homens do Andor. Passaram de geração em geração, por intermédio das bocas daqueles que
emprestaram as suas forças ao transporte do emblemático andor. Até aos nossos dias chegaram
mais de meia centena de termos técnicos ou expressões.

Grande parte deste léxico específico terá sido mais uma importação andaluza para Loulé.
Não se trata, de facto, de uma prática corrente entre os homens que transportam outros andores
nas procissões realizadas no nosso país; ao contrário da Andaluzia, onde a prática é bastante uti-
lizada (destaque-se, neste particular, a existência de obras de referência dedicadas à temática280).

279. Cf. «Festas em Loulé», in O Algarve, n.º 213, de 21 de Abril de 1912, p. 2; O Algarvio, n.º 6, de 28 de Abril
de 1912, p. 3. António Martins Sancho era um comerciante, residente em Loulé, mas natural da freguesia de
São Brás de Alportel (concelho de Faro), in MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 2.º vol. – A
Primeira República, 1910-1926, op. cit., p. 275.

280. Sobre este assunto veja-se, por exemplo, as seguintes obras: BURGOS, Antonio, Folklore de las Cofradías
de Sevilla, 8.ª edición, Colección de Bolsillo, número 6, Sevilla, Universidad de Sevilla, 2014 [1972]; CARRERO

234
A confirmar a tese de que parte deste léxico específico dos Homens do Andor foi, também ele, uma
importação andaluza para a Festa da Piedade, refira-se que, para uma grande parte dos cinquen-
ta e cinco termos compilados no Dicionário Mãesoberaneiro (O léxico utilizado pelos Homens
do Andor)281, é possível encontrar um termo correspondente falado pelos «capataces» e pelos
«costaleros» andaluzes. Veja-se o quadro seguinte, onde se comparam alguns desses termos.

Quadro n.º 4.25: Comparação dos termos e das expressões utilizadas pelos «capataces» e pe-
los «costaleros» na Semana Santa de Sevilha com os correspondentes termos e expressões uti-
lizados pelos Homens do Andor de Nossa Senhora da Piedade, em Loulé
Termo utilizado nas procissões da Semana Termo utilizado pelos Homens do andor de
Santa de Sevilha Nossa Senhora da Piedade, em Loulé
«Al Cielo con Ella!»282 «Vai ao Ar a Mãe Soberana!»
«De costero a costero»283 ou Butaca284. «De palheta a palheta»
«Llevar»285, «Meterse»286, «Ponerse»287,
«Pegar no andor»
«Trabajar»288
«Perder el paso»289 «Perder o andor» ou «perder o varal»
«Revirar», «Dar una vuelta», «Girar»290 «Fazer a volta» ou «voltear»
Bambolear Varejar

RODRÍGUEZ, Juan, Diccionario Cofradiero. Más de 3 580 expresiones de la Semana Santa de Sevilla, y outras
de España, 3.ª edición aumentada, corrigida y actualizada, Sevilla, editoral Castillejo, 2002 [1981]; VELÁZQUEZ
MIJARRA, Emilio, Léxico de Capataces y Costaleros: voces, modismos y giros propios, 3.ª edición, colecção
Biblioteca Guadalquivir, Sevilla, Guadalquivir, 2003 [1994].

281. Sobre este assunto veja-se, por exemplo, o estudo: ALEIXO, João Romero Chagas, «Dicionário
Mãesoberaneiro. O léxico utilizado pelos Homens do Andor», in Mãe Soberana. Estudos. Ensaios. Crónicas,
Loulé, Câmara Municipal de Loulé, 2016, pp. 91-109. Neste dicionário colige-se, de forma sistematizada e cientí-
fica, o conjunto mais alargado possível do léxico falado pelos Homens do Andor.

282. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., pp. 62-65; VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 117-121.

283. Cf. VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 103-104.

284. Cf. CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 58.

285. Cf. ibidem, pp. 265-266.

286. Cf. ibidem, pp. 266-267.

287. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., pp. 57-60.

288. Cf. VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 263-265.

289. Cf. VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., p. 277.

290. Cf. CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 250; VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 183-186.

235
Capataces291 Tochas ou Tocheiros
Capataz Titular 292 Cabo do Grupo dos Homens do Andor
Corriente Delantero293 Meio-à-frente
Corriente Trasero294 Porta-do-quintal ou Meio-atrás
Costero(s)295 Palheta(s) ou Eixo(s)
Cuadrilha296 Equipa
Culear, culebrear297 Pataludo
Ensayo de costaleros298 Experimentação do andor
Marcha299 Marcha
Paso montado300 Armar o andor
Patero(s)301 Cantoneira(s)
Revirá302 Voltear
Reviro303 Volteio
Trabajadera304 Linha

Fontes: BURGOS, Antonio, Folklore de las Cofradías de Sevilla, 8.ª edición, Colección de Bolsillo, número 6,
Sevilla, Universidad de Sevilla, 2014 [1972]; CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, Diccionario Cofradiero. Más de 3
580 expresiones de la Semana Santa de Sevilla, y outras de España, 3.ª edición aumentada, corrigida y actualizada,
Sevilla, editoral Castillejo, 2002 [1981]; VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, Léxico de Capataces y Costaleros: vo-
ces, modismos y giros propios, 3.ª edición, colecção Biblioteca Guadalquivir, Sevilla, Guadalquivir, 2003 [1994].

291. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., pp. 31-33; CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 66; VELÁZQUEZ
MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 127-158.

292. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., pp. 31-33.

293. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., pp. 53-54 e p. 57; CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 91;
VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 67-68.

294. Cf. ibidem.

295. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., p. 54; CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 91; VELÁZQUEZ
MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 65-66.

296. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., pp. 31-33; CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 94; VELÁZQUEZ
MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 256-258.

297. Cf. VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 272-273.

298. Cf. CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 113; VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 286-287.

299. Cf. VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 192-194.

300. Cf. CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 226.

301. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., p. 55; VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 64-65.

302. Cf. CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 250; VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 183-186.

303. Cf. VELÁZQUEZ MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 186-187.

304. Cf. BURGOS, Antonio, op. cit., pp. 50-51; CARRERO RODRÍGUEZ, Juan, op. cit., p. 294; VELÁZQUEZ
MIJARRA, Emilio, op. cit., pp. 52-54.

236
A marca andaluza é indelével: até nas coisas que parecem ser mais insignificantes, se faz
sentir. Se Sevilha era já, no último quartel do século XIX, a grande cidade das procissões em
toda a Península Ibérica, porque não importar algumas das suas características processionais, e
assim dignificar e tornar mais apelativa a principal festa religiosa do concelho de Loulé?

4.8.2. A primeira edição do Carnaval Civilizado de Loulé

Em Janeiro de 1906 o periódico local Folha de Loulé305 informava que «prometem ser deslum-
brantes os festejos carnavalescos que uma comissão composta dos principais cavalheiros d’esta
vila, este ano intenta levar a efeito»306. A dita comissão era constituída por um conjunto de cida-
dãos louletanos que tinha o hábito de se reunir, ao final da tarde, no café Barbosinha, proprie-
dade de Ventura de Sousa Barbosa, neto de andaluzes.

A ideia de organizar um «Carnaval Civilizado», isto é, organizado por uma Comissão


centralizadora de todos os festejos, a decorrer num espaço delimitado e, de preferência, sem brin-
cadeiras violentas, tinha surgido no último trimestre de 1905, justamente no café Barbosinha,
revelando-se o seu proprietário o mais entusiasta promotor da iniciativa307. Deste modo, é
sem surpresa que Ventura de Sousa Barbosa seja nomeado presidente da Primeira Comissão
Promotora do Carnaval Civilizado de Loulé, que se realizará em 1906, comissão que era com-
posta por mais onze personalidades da terra, entre as quais um outro descendente de andaluzes
– Artur Gomes Pablos308.

305. O periódico Folha de Loulé era um semanário afecto ao Partido Regenerador-Liberal, fundado pelo político
João Franco. Publicou-se em Loulé entre 9 de Abril de 1905 e 27 de Junho de 1907, tendo sido editadas um total
de 109 edições. Era publicado aos Domingos.

306. Cf. Folha de Loulé, n.º 42, de 28 de Janeiro de 1906, p. 1.

307. Cf. MARTINS, Luísa Fernanda Guerreiro, Carnaval «Civilizado» de Loulé, 1906-1976, op. cit., p. 29 e p. 32.

308. Recorde-se o nome dos elementos dessa Primeira Comissão Promotora do Carnaval Civilizado de Loulé:
Ventura de Sousa Barbosa, Presidente, António Carrapiço, Segurado Silva, José da Costa Guerreiro, António
Bonixe, Artur Gomes Pablos, Alexandre Gualdino Santos, Sebastião Ramos, Maximiano de Freitas Barros,
Francisco Fernandes da Silva, David Januário e, finalmente, José Joaquim Gonçalves Júnior, in MARTINS, Luísa
Fernanda Guerreiro, Carnaval «Civilizado» de Loulé, 1906-1976, op. cit., p. 32. Para uma descrição pormenoriza-
da da primeira edição do Carnaval Civilizado de Loulé veja-se: MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século
Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implantação da República, op. cit., pp. 190-193.

237
4.9. O intercâmbio Loulé-Andaluzia e manutenção dos laços com a Andaluzia

O intercâmbio Loulé – Andaluzia, no entanto, não se verificou somente ao nível dos emigran-
tes andaluzes que se radicaram em Loulé. Outro intercâmbio existiu, no plano cultural, que é
de assinalar.

No final do século XIX a Sociedade Filarmónica União Marçal Pacheco, vulgo «Música
Velha»309, começa a deslocar-se, com frequência e regularidade, à Andaluzia, para abrilhan-
tar as festividades religiosas de vários municípios andaluzes. Algum tempo depois, também
a Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva, vulgo «Música Nova»310, continuou esta práti-
ca. Estas digressões filarmónicas, iniciadas na última década do século XIX por iniciativa da
«Música Velha», rapidamente se repercutiram na outra sociedade filarmónica louletana: em
1900 já se encontram registos de que a «Artistas de Minerva» foi a filarmónica convidada para
abrilhantar as festas em honra da Virgen de las Angústias, em Ayamonte (7 e 8 de Setembro)311,
e as festas em honra da Virgen del Rosário, em Cartaya (6 a 8 de Outubro)312.

Com o passar dos anos, e com o consequente melhoramento das vias e dos meios de
comunicação, essas presenças louletanas na Andaluzia começaram a ser ainda mais regulares.
Pelo menos é o que deixa entrever a escassa documentação da Sociedade Filarmónica Artistas
de Minerva», que se encontra depositada no Arquivo Municipal de Loulé – Professor Joaquim
Romero Magalhães, e que chegou até aos nossos dias. Analisando-se o Livro de Contas dos

309. A Sociedade Filarmónica União Marçal Pacheco foi fundada no dia 1 de Maio de 1856. Era uma socieda-
de filarmónica afecta, politicamente, ao partido Regenerador. Depois de ser constituída a Sociedade Filarmónica
Artistas de Minerva, a União Marçal Pacheco passou a ser designada, popularmente, por «Música Velha», in
FREITAS, Pedro de, História da Música Popular em Portugal (Versão Tradicional da Música Popular em Loulé),
Lisboa, Tipografia da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, 1946, p. 77 e pp. 87-89.

310. A Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva foi fundada no dia 21 de Maio de 1876. A sua fundação resul-
tou de um processo de dissidência de alguns músicos que, por motivos políticos, resolveram deixar a Sociedade
Filarmónica União Marçal Pacheco. A nova filarmónica era afecta, politicamente, ao partido Progressista, ao con-
trário da que já existia, que era afecta ao partido Regenerador. O seu primeiro regente e mestre foi o político e
músico António Galvão (5.10.1835 – 30.04.1904). António Galvão era licenciado em Direito e fez toda a sua car-
reira política como membro do partido Progressista. À data do seu falecimento ocupava o cargo de administrador
do concelho de Loulé, in FREITAS, Pedro de, Quadros de Loulé Antigo – A Alma de Loulé em Livro, 2.ª edição
corrigida e aumentada, Lisboa, edição da Câmara Municipal de Loulé, 1980 [1964], pp. 99-100; PALMA, Jorge
Filipe Maria da, op. cit., p. 153.

311. Cf. O Pregoeiro, n.º 110, de 13 de Setembro de 1900, p. 1.

312. Cf. ibidem, n.º 111, de 4 de Outubro, 1900, p. 2.

238
Filarmónicos da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva, 1933-1961 e o Livro das Festas e
Nômes dos Musicos, que tomaram parte, com respectivas importâncias, 1966-1971, verifica-se
que, pelo menos entre 1933 e 1971, as digressões dos filarmónicos louletanos à Andaluzia foram
uma constante. Os músicos louletanos foram contratados para abrilhantarem cinquenta e nove
festividades religiosas na Andaluzia (11,07% do total dos 533 serviços para os quais foram con-
tratados durante esse período de tempo313), repartidas por sete municípios andaluzes, todos eles
localizados na província de Huelva: Ayamonte314, Puebla de Guzmán315, Villablanca316, Lepe317,

313. A este respeito refira-se que dos 533 serviços registados nos dois livros de contas da Sociedade Filarmónica
Artistas de Minerva, durante o período compreendido entre 7 de Setembro de 1933 e 12 de Março de 1961 (442
serviços prestados) e depois entre 21 de Julho de 1966 e 10 de Junho de 1971 (91 serviços prestados), cinquenta e
nove desses serviços foram realizados no acompanhamento musical de procissões andaluzas, celebradas em sete
diferentes povoações, in A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva, Livro de Contas
dos Filarmónicos da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva, 1933-1961 e Livro das Festas e Nômes dos
Musicos, que tomaram parte, com respectivas importâncias, 1966- 1971.

314. Em Ayamonte os Artistas de Minerva foram convidados para realizarem duas Fiestas de la Nuestra Señora
de las Angustias, em 1933 e 1968. Estas festividades realizam-se, anualmente, nos dias 7 e 8 de Setembro. Regista-
se, igualmente, o acompanhamento de quatro Semanas Santas, três das quais na totalidade: 1968 (só a procissão de
quinta-feira Santa) e nos anos de 1969, 1970 e 1971 (a Semana Santa completa). Em Ayamonte abrilhantaram, ain-
da, as comemorações organizadas pelo ayuntamiento local para a celebração do primeiro aniversário da Revolução
Espanhola de 1936, comemorado no dia 18 de Junho de 1937, in ibidem.

315. Em Puebla de Guzmán os Artistas de Minerva foram contratados para abrilhantarem as festas religiosas em
honra da Virgen de la Caridad, a padroeira do município, que, actualmente, se celebram no segundo fim-de-se-
mana de Agosto. Estas festividades eram realizadas com o objectivo de agradecer à Virgen de la Caridad pelas
colheitas, assim como a finalização dos trabalhos do trigo. Os Artistas de Minerva foram convidados a incorporar
estas festividades em 1933, 1934, 1935 e 1939, in ibidem.

316. No município de Villablanca os filarmónicos louletanos foram contratados para abrilhantar as principais fes-
tas religiosas do município, as festas que se realizam em honra de Nuestra Senõra de La Blanca, que se celebra-
vam, anualmente, no dia 8 de Setembro. Depois, passados alguns anos, começaram a ser celebradas no último fim-
-de-semana de Setembro, e nos anos em que os músicos louletanos lá se deslocaram as festas ocorreram, sempre,
entre os dias 27 e 30 de Setembro. Durante o período em análise os Artistas de Minerva abrilhantaram essas Festas
por cinco ocasiões: 1933, 1934, 1935, 1969 e 1970, in ibidem.

317. Em Lepe os Artistas de Minerva foram presença assídua no abrilhantamento musical das festividades em
honra dos padroeiros dessa localidade: Nuestra Senõra «La Bella» e San Roque. Estas festividades leperas reali-
zam-se, anualmente, entre os dias 14 e 16 de Agosto. O programa oficial das festas é composto por bailes nocturnos
ao som de variadas orquestras, concertos por parte de grupos de música tradicional andaluza, competições despor-
tivas, arruadas de filarmónicas, queima de fogos de artifício, feira de tapas, etc… Contudo, as atenções principais
dos leperos concentram-se nas procissões em honra dos padroeiros da sua cidade: Nuestra Senõra «La Bella»,
que se realiza, anualmente, no dia 15 de Agosto; e San Roque, que se realiza, anualmente, no dia 16 de Agosto.
Os Artistas de Minerva incorporaram estas festividades em dezasseis anos, assim discriminados: 1934, 1935,
1945, 1949, 1950, 1951, 1952, 1954, 1955, 1957, 1959, 1960, 1966, 1967, 1968 e 1969, in ibidem.

239
Villanueva de los Castillejos318, Cartaya319 e Isla Cristina320. Estas deslocações prolongavam-se,
em média, dois ou três dias e serviam igualmente para conviver, constituir novos laços de amiza-
de e para aqueles músicos perceberem o modo como os andaluzes organizavam e desenvolviam
as suas festas. Conclui-se, assim, que, pelo menos desde o final do século XIX até ao início dos
anos Setenta do século XX, o intercâmbio Loulé–Andaluzia era efectuado em várias frentes.

Por outro lado, os andaluzes radicados em Loulé continuaram a manutenção dos laços
com a Andaluzia. Prova disso são as centenas de notícias publicadas nas secções de «Partidas e
chegadas» que normalmente integravam a maior parte dos periódicos locais e regionais. Notícias
ou simples notas informativas, que davam contam da ausência ou da chegada dos seus assinan-
tes, informando, por vezes, o motivo e o destino dessas temporárias partidas ou chegadas.

Ali se podia ficar a saber que alguns emigrantes andaluzes radicados em Loulé estavam
em constante ligação com os seus familiares a residir em V.R.S.A., conforme se pode ler: «Veio
passar alguns dias nesta Vila em companhia da sua irmã e cunhado o Sr. José Maestre Cumbrera

318. Em Villanueva de los Castillejos os Artistas de Minerva foram contratados para abrilhantar a sua feira anual.
Esta feira de gado realiza-se, anualmente, no último fim-de-semana de Julho. As atracções principais da feira são
o concurso hípico, a exibição e as corridas de cavalo e a mostra de gado. Os músicos louletanos foram convidados
a abrilhantar estas populares festas nos anos de 1934 e 1944, in ibidem.

319. Em Cartaya os filarmónicos louletanos foram contratados para abrilhantar as festas em honra de Nuestra
Senõra La Virgen del Rosario, padroeira da cidade. Estas festividades realizam-se, anualmente, no primeiro fim-
-de-semana de Outubro. Além da procissão em honra da Virgem local, realiza-se, igualmente nessa altura, a Feria
Agrícola e Industrial de Cartaya. Os Artistas de Minerva acompanharam a procissão em honor de la Nuestra
Senõra La Virgen del Rosario nos anos de 1933, 1934, 1935 e 1969, in ibidem.

Para se ficar a conhecer um pouco melhor a ligação dos louletanos ao município de Cartaya veja-se, por exemplo,
as seguintes obras: BARROTE, Susana de Brito, Pedro de Freitas: a vida e a obra de um escritor e musicógra-
fo nacionalista, tese de Doutoramento em História apresentada e defendida na Faculdad de Geografía e Historia
(Departamento de Historia Medieval, Moderna y Contemporánea) da Universidad de Salamanca, Salamanca,
2010, pp. 156-172; FREITAS, Pedro de, Brisas de Espanha: crónicas, Beja, edição de Pedro de Freitas, 1957;
FREITAS, Pedro de, Cinquenta anos depois em Cartaya: 1908–1958, Beja, edição de Pedro de Freitas, 1961.

320. Na Isla Cristina os Artistas de Minerva foram contratados para assegurarem vinte e dois serviços religiosos,
repartidos pelas duas principais festividades religiosas do município. Por quinze vezes realizaram o acompanha-
mento musical da procissão em honra de Nuestra Señora La Virgen del Rosario, festividade que ocorre, normal-
mente, no primeiro fim-de-semana de Outubro. Os filarmónicos louletanos realizaram o acompanhamento musical
dessa procissão nos anos de: 1933, 1934, 1935, 1944, 1945, 1948, 1951, 1953, 1955, 1956, 1957, 1964, 1966, 1968
e 1970. Por outro lado, durante o segundo fim-de-semana de Julho, celebra-se, nessa mesma localidade, as festas
em honra da Virgem local, invocada, popularmente, por El Carmen. Os Artistas de Minerva foram convidados a
abrilhantar essas festividades nos anos de: 1934, 1935, 1952, 1953, 1954, 1955 e 1970, in ibidem.

240
de Vila Real de Santo António»321ou, então, «Acha-se nesta vila D. Joana Peres de Barbosa es-
posa do Sr.º Juan Maestre Cumbrera de Vila Real de Santo António»322.

No entanto, o grosso dessas pequenas notícias dava conta das sucessivas deslocações de
andaluzes a Villanueva de los Castillejos para visitar os familiares mais próximos, que por lá
tinham permanecido. Vejamos apenas alguns exemplos publicados, no periódico Folha do Sul,
entre Fevereiro e Julho de 1902:

[9.02.1902] «Acompanhada por suas filhas partiu para Castillejos, Hespanha, a Sr.ª D.ª
Rosa Móra Corrêa, que veio passar alguns dias n’esta villa em visita a seus filhos»323; [9.02.1902]
«Parte para Castillejos Pablo Garcia Álvares, que encontre todos os seus bem é o que deseja-
mos»324; [16.02.1902] «A fim de visitar seu pai que adoeceu repentinamente partiu para Castillejos
o sr.º José Feria Corrêa, comerciante d’esta praça»325; [16.02.1902] «Regressou de Castillejos,
onde foi passar alguns dias de férias, Baltazar Peres Gomes»326; [30.03.1902] «Partiram para
Castillejos, a passar a Páscoa com o seu pai, os nossos amigos srs. Inácio Garcia Álvares e
Sebastião Garcia Álvares, sobrinhos do nosso amigo sr.º Pablo Garcia Delgado»327; [30.03.1902]
«De passagem esteve nesta Vila, Francisco Barbosa Rodrigues, de Vila Nova de Castillejos»328.

Ou, então, rumo a outros locais e por outros motivos, conforme dá conta esta notícia:

– [13.07.1902] «Na segunda-feira partiu para o centro de Hespanha, em negócio da sua


casa comercial, o nosso velho amigo sr. José Rodrigues Peres. Acompanhou-o seu filho Rafael
Rodrigues Peres»329.

321. Cf. Folha do Sul, n.º 1, 1.º ano, de 5 de Janeiro de 1902, p. 2.

322. Cf. ibidem.

323. Cf. ibidem, n.º 6, 1.º ano, de 9 de Fevereiro de 1902, p. 2.

324. Cf. ibidem.

325. Cf. ibidem, n.º 7, 1.º ano, de 16 de Fevereiro de 1902, p. 2.

326. Cf. ibidem.

327. Cf. ibidem, n.º 13, 1.º ano, de 30 de Março de 1902, p. 2.

328. Cf. ibidem, p. 3.

329. Cf. «Chegadas e partidas», in Folha do Sul, n.º 28, 1.º ano, de 13 de Julho de 1902, p. 2.

241
Refira-se, ainda, a existência na imprensa local e regional da época – décadas de 1900 e
de 1910 –, de vários anúncios a excursões com saídas de Loulé rumo a Sevilha, para acompa-
nharem os tradicionais festejos da Semana Santa celebrados nessa cidade.

A emigração de andaluzes para a vila de Loulé foi uma emigração bem localizada no
espaço e no tempo. Ao nível do espaço, conclui-se que, praticamente, todos os emigrantes an-
daluzes que escolheram a vila de Loulé para se radicarem eram naturais dos municípios que
fazem parte da comarca histórica do Andévalo, situada na província de Huelva. Neste particu-
lar, o município de Villanueva de los Castillejos surge, largamente, como a principal terra de
origem dessa emigração: entre 1800 e 1905 do total de crianças baptizadas na freguesia de São
Clemente com, pelo menos, um dos pais naturais da Andaluzia, c. 81% dos pais e c. 72% das
mães eram naturais de Villanueva de los Castillejos. Mas houve também emigrantes naturais
de El Almendro, Puebla de Guzmán, Villablanca, assim como de Ayamonte ou da Isla Cristina.

A nível temporal verifica-se que o pico dessa emigração terão sido as últimas três déca-
das do século XIX, justamente aquelas em que mais crianças com ascendência directa andaluza
foram baptizadas na vila de Loulé. Entre 1800 e 1905, das 448 crianças baptizadas na vila de
Loulé com, pelo menos, um dos pais ou dos avós naturais da Andaluzia, verifica-se que as úl-
timas três décadas de Oitocentos concentram c. 53% do total de crianças baptizadas (71 na dé-
cada de 1870, 91 na década de 1880 e 75 na década de 1890). Não se sabe ao certo quantos se-
riam os andaluzes a residir em Loulé. Mas uma notícia de um casamento, realizado em Janeiro
de 1900 em V.R.S.A., entre um membro da colónia andaluza residente em Loulé e uma senhora
da colónia andaluza residente em V.R.S.A., informa que os noivos receberam prendas de 108
membros da colónia andaluza a residir de Loulé.

As principais causas emigratórias, como se viu, poderão estar relacionadas com motivos
militares, económicos e sociais.

Em primeiro lugar o facto de Villanueva de los Castillejos ter albergado o Quartel-General


das tropas castelhanas na defesa da região do Condado de Niebla (província de Huelva) na Guerra
da Independência, entre Janeiro de 1810 e Agosto de 1812, terá sido fulcral para a existência des-
se primeiro fluxo emigratório. Recorde-se que, durante o auge da Guerra da Independência na re-
gião (de 1810 a 1813), os municípios vizinhos de Villanueva de los Castillejos e de El Almendro
sofreram dezassete invasões por parte das tropas francesas, o que provocou um rastro de des-
truição e ruína económica nos dois municípios. A que se deve acrescentar que, durante grande

242
parte do conflito militar, os municípios do Andévalo foram obrigados a fornecer as duas tropas
em contenda – a castelhana e a francesa – de homens, bens alimentares e cavalos. A guerra traz
destruição, a destruição traz ruína económica, e a ruína económica traz decréscimo demográfi-
co, numa escalada negativa difícil de superar. E, nesse caso, uma das soluções disponíveis era a
emigração.

Outra das causas que estiveram na base desta emigração foram os dois processos de
desamortização das terras (1837 e 1856), e, em especial, a privatização dos patrimónios muni-
cipais comunitários, como, por exemplo, as pastagens comunitárias, denominadas de «propios
y comunales», dos municípios vizinhos de Villanueva de los Castillejos330 e de El Almendro,
dado que vieram originar um maior aprofundamento das diferenças económicas e sociais entre
a população, o que originou uma maior propensão para a emigração para países receptores onde
a situação era mais favorável331.

Conseguiu-se, desta forma, identificar uma rede migratória de andaluzes naturais de


Villanueva de los Castillejos rumo a Loulé. A documentação disponível revela que, já no início
da década de 1810, eram os andaluzes naturais desse município aqueles que em maior número
residiam na vila. Tendência que se foi avolumando com o passar dos anos, pelo que, no início
do século XX, continuavam a ser de Villanueva de los Castillejos a maior parte dos andaluzes
radicados em Loulé. Para tal, em muito terão contribuído um conjunto alargado de factores –
sociais, culturais e económicos –, que fez com que esses fluxos migratórios se continuassem a
verificar. De entre os vários factores, destacaria:

a) Facilidade de comunicação linguística;

b) Facilidade de integração dos primeiros emigrantes;

c) Êxito económico alcançado pelos primeiros emigrantes;

d) Influência das cadeias migratórias e das redes sociais, na protecção e na ajuda de


emigrantes já instalados na chamada, instalação e consequente integração dos novos
emigrantes;

330. Cf. NÚÑEZ MÁRQUEZ, Juan Manuel, «Villanueva de los Castillejos», art. cit., p. 1264.

331. Cf. Blanca Sánchez ALONSO, Las causas de la emigración española, 1880- 1930, op. cit., pp. 277-278.

243
e) Comunidade comercial local de que os andaluzes eram dos principais elementos;

f) Trabalho em rede com colónias de andaluzes residentes noutros concelhos do Algarve


e até em Lisboa. Sabe-se que os Formosinho de Loulé trabalhavam em rede com os
Formosinho de Lagos (casas comerciais) e que os Centeno de V.R.S.A. trabalhavam
em rede com os Centeno de Lisboa (casas comerciais, negócios vários e a concessão do
contrato de iluminação a gás de V.R.S.A., em 1893332).

Verifica-se, assim, que a selecção do local de destino era resultado da análise e da in-
teração de um conjunto de factores micro e macro. Se, por um lado, a emigração representava
uma estratégia laboral na hora de escolher um lugar de estabelecimento temporário ou perma-
nente, de acordo com objectivos pessoais e familiares; por outro, tais decisões eram igualmente
influenciadas por um outro conjunto de circunstâncias – individuais, sociais e locais –, tomadas
no contexto estrutural da mudança333. Fluxos migratórios que foram crescendo à medida que o
século XIX ia avançando e os emigrantes enviavam as denominadas «cartas de chamada» para
alguns dos seus familiares que tinham ficado em Villanueva de los Castillejos. E que não para-
vam de chegar.

Em Loulé começaram por formar uma colónia fechada. Casavam entre si. Ajudavam-se
mutuamente. Porém, com o passar dos anos, regista-se uma diminuição dos casamentos entre
andaluzes, ao mesmo tempo que se verifica um aumento dos casamentos mistos. À medida que
os membros da colónia, especialmente os do sexo masculino, se instalavam e progrediam na
sociedade, a homogamia passava a ser cada vez menos frequente. Para, a partir do último ter-
ço do século XIX, os casamentos entre andaluzes começaram a dar lugar a casamentos mistos
(preferencialmente de noivo andaluz com noiva louletana), aumentando, dessa forma, o entro-
samento social da colónia andaluza na sociedade local.

Já instalados na vila de Loulé consegue perceber-se que essa colónia se dedica, maiori-
tariamente, ao sector do comércio. Havendo, igualmente, quem também se dedicasse à indústria
e aos serviços; no entanto, e segundo alguns dados compilados, a distribuição dos elementos
masculinos da colónia andaluza por sector de actividade também foi evoluindo com o passar do

332. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909) –
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 355.

333. Cf. BORGES, Marcelo J., «Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no Sul de Portugal»,
art. cit., p. 101.

244
tempo. Em 1867 eram catorze os comerciantes andaluzes recenseados na vila, mas, na passa-
gem do século XIX para o XX, eram mais três dezenas aqueles que se dedicavam ao comércio.
Crescimento comercial em linha de conta, e decerto proporcionado, pelo extraordinário cresci-
mento demográfico que a vila registou na segunda metade do século XIX.

Mas os andaluzes não se dedicavam somente ao comércio. Havia também industriais


(com fábricas de sabões, cera, tecelagem, fiação, louça, confecção de vestuário ou restauran-
te) e prestadores de serviços (nos correios e telégrafos, na banca, nos seguros, nos tabacos, no
transportes de pessoas e de mercadorias, ou no aluguer de carruagens), andaluzes ou filhos de
andaluzes, a operar em Loulé, no final do século XIX e inícios do século XX. Era uma colónia
presente em praticamente todos os sectores de actividade.

Conclui-se que alguns membros dessa colónia usufruíam de um elevado estatuto só-
cio-económico – entre os anos de 1881 e 1891 dois andaluzes figuraram na lista dos quarenta
maiores contribuintes fiscais do concelho de Loulé –, igualmente comprovável pelas aquisições
de imobiliário, que foram aumentando com o passar dos anos. Formavam uma classe rica, que
gostava de investir os rendimentos do seu trabalho.

Dedicando-se, maioritariamente, ao comércio e aos negócios, os membros da colónia


andaluza em Loulé pertenciam à pequena e média burguesia local. E sabe-se que, a partir do úl-
timo quartel do século XIX, era frequente encontrar elementos da pequena e média burguesia na
política local e municipal. E o município louletano não foi excepção: entre 1893 e 1917 foram
eleitos, ou nomeados, andaluzes de segunda geração para várias gestões autárquicas. Eleições
ou nomeações que conferiam estatuto e prestígio social e político, que alguns membros dessa
colónia souberam alcançar na sociedade local. Todavia, a nível político-partidário, não se trata-
va de uma colónia homogénea, uma vez que os vereadores eleitos pertenciam a vários partidos
políticos: quatro pelo partido Regenerador (1893-1894, 1896-1898 e 1900-1901), um pelo par-
tido Progressista (1900), um pelo partido Regenerador Liberal (1908-1910) e dois pelo partido
Democrático (1914-1917).

Tratava-se de uma colónia interessada e empenhada na sociedade local da época. Nesse


sentido, era frequente encontrar os seus membros em algumas comissões ou direcções de so-
ciedades locais, como, por exemplo, na Comissão Promotora do Primeiro Carnaval Civilizado
de Loulé (1906), nas Comissões Organizadoras das Festas da Piedade (p. ex.: em 1912), em
direcções de sociedades filarmónicas (p. ex: na Sociedade Filarmónica União Marçal Pacheco)

245
ou eleitos para a Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Loulé (em 1884 e entre 1925 e 1935),
sinónimo do estatuto e do prestígio social de que essa colónia gozava no seio da comunidade.

Conclui-se, igualmente, que a presença andaluza em Loulé, assim como as constantes


e regulares deslocações das duas sociedades filarmónicas louletanas à Andaluzia, foram essen-
ciais na importação e na introdução de características processionais únicas na principal festa
religiosa da região algarvia: a festa em honra de Nossa Senhora da Piedade, celebrada, anual-
mente, em Loulé. Características relacionadas com o modelo da festividade, com a forma de
transportar o andor ou, mais especificamente, com o grupo dos Homens do Andor.

Refira-se, a terminar, que era frequente os emigrantes andaluzes radicados em Loulé


deslocarem-se à Andaluzia em datas específicas e muito significativas. A manutenção dos laços
com a Andaluzia realizava-se, principalmente, por intermédio de deslocações às suas terras na-
tais. E, neste particular, privilegiavam-se as datas das festividades religiosas, datas fortemente
identitárias e de socialização comunitária por excelência. Nessas ocasiões, os andaluzes apro-
veitavam para rever familiares, recordar tempos de infância ou desfrutar de um certo tradicio-
nalismo andaluz (costumbrismo), nunca renegado nem esquecido.

246
5. A EMIGRAÇÃO DE ANDALUZES PARA VILA REAL DE SANTO
ANTÓNIO

5.1. Os movimentos migratórios inter-regionais

Tal como para o concelho de Loulé, as migrações inter-regionais de trabalhadores eram, igual-
mente, muito frequentes no concelho de V.R.S.A. Todos os anos vários naturais do concelho de
V.R.S.A. abandonavam as suas residências para irem trabalhar para as vastas plantações na vi-
zinha Andaluzia. A tal ponto de, ainda em 1971, a rua 31 de Janeiro em V.R.S.A. ser designada,
na gíria, por «rua de Espanha» por em tempos idos essa artéria ficar despida dos seus habitantes
que, de forma temporária, iam trabalhar para a Andaluzia1.

Essas migrações temporárias de trabalhadores, recrutados normalmente entre as popula-


ções rurais mais pobres, deslocavam-se para as ceifas, para a cultura do arroz e para o corte da
palma e do esparto que se realizavam um pouco por toda a Andaluzia2. Para tal, muito terá con-
tribuído a fixação de espanhóis, tanto em V.R.S.A. como em Loulé, durante praticamente todo
o século XIX, e o êxito que alcançaram no comércio entre os dois países peninsulares, situação
que ajudou a facilitar o estabelecimento de contratos de trabalho, a organização dos fluxos mi-
gratórios e o cumprimento do pagamento dos contratos3.

Eram largas centenas de migrantes que contribuíam, todos os anos, para alimentar essa
migração sazonal, como nos prova o facto de na década de 1860 ter sido edificado um lazareto
em V.R.S.A. por cerca de 600 portugueses retornados das ceifas em Espanha4. Grande parte de-
les deslocavam-se, todos os anos, para trabalhar nas maiores explorações agrícolas nos municí-
pios de Villablanca e de Villanueva de los Castillejos, ambos pertencentes à província de Huelva.

Mas também havia andaluzes que se deslocavam, todos os anos, para virem trabalhar
para V.R.S.A. Normalmente marítimos que vinham trabalhar para a indústria pesqueira perten-
cendo aos quadros das chamadas «companhas». Que tanto podiam ser os detentores dos capitais
investidos ou servir de de mão-de-obra para as respectivas embarcações. Em 1896, no cerco da

1. Cf. CAVACO, Carminda, «Migrações internacionais de trabalhadores do sotavento do Algarve», in Finisterra,


Lisboa, vol. VI, n.º 11, 1971, p. 61.

2. Cf. ibidem, p. 42.

3. Cf. ibidem.

4. Cf. ibidem.

247
«Senhora do Carmo», trabalhavam cerca de sessenta pescadores, entre os quais quinze espa-
nhóis (25%) «experimentados na arte»; e no mesmo ano, no cerco «Capitão Mouzinho», para
um total de setenta e três pescadores matriculados treze deles eram espanhóis (18%)5.

Contudo, em 1895 entrou em vigor uma lei que proibia a admissão de marítimos portu-
gueses nas embarcações e artes espanholas. A lei estipulava que o mestre de cada embarcação
pagasse uma multa de cinquenta duros por cada marítimo português encontrado a bordo6. E,
rapidamente, tal lei gerou revolta dos dois lados da fronteira. Porque a mesma não convinha
a ninguém. Qualquer que fosse o porto de matrícula dos cercos pesqueiros. Nas embarcações
matriculadas no porto de V.R.S.A. valorizava-se muito os quadros espanhóis – mestres, contra-
-mestres, motoristas, entre outro pessoal ajudante –, com larga experiência na arte; e nas em-
barcações matriculadas na Isla Cristina – cerca de trinta – valorizava-se muito a tripulação por-
tuguesa, tradicionalmente pouco exigente, «dócil e dedicada ao trabalho», e então ainda mais
na medida em que a situação ilegal acentuava a dependência patronal, indemnizava, através
da economia de salários, os riscos das multas7. Mas, como para outras situações, havia sempre
forma de contornar a lei. Os armadores espanhóis simulavam uma escritura de venda a cercos
portugueses, que, sem grandes escrúpulos, a aceitavam por uma pequena fracção dos lucros.
Deste modo, esses donos fictícios podiam exercer livremente a pesca nas águas territoriais por-
tuguesas. Em 1903 eram cinco os galeões matriculados no porto de V.R.S.A.8.

Sendo estas migrações sazonais realizadas nos dois sentidos, havia, no entanto, diferen-
ças entre elas. A migração no sentindo Leste-Oeste, isto é, Andaluzia-Algarve era uma migra-
ção sempre de nível económico superior. Porque os espanhóis ocupavam as posições de maior
responsabilidade entre a tripulação dos galeões até 1914. E nas fábricas de pescado localizadas
em V.R.S.A. trabalhavam grupos de «muchameiros» (trabalhadores da muxama) e de soldado-
res, na época, a denominada «aristocracia operária», oriundos de Ayamonte e da Isla Cristina.
Mas não era só a indústria pesqueira que empregava mão-de-obra andaluza. Durante largos

5. Cf. ibidem, pp. 52-53.

6. Cf. ibidem, p. 55.

7. Cf. ibidem, p. 56.

8. Os armadores espanhóis simulavam uma escritura de venda a cercos portugueses, que, sem grandes escrúpulos,
a aceitavam por uma pequena fracção dos lucros. Deste modo, esses donos fictícios podiam exercer livremente
a pesca nas águas territoriais portuguesas. Em 1903 eram cinco os galeões matriculados no porto de V.R.S.A., in
ibidem, pp. 52-53.

248
anos a fábrica de tecelagem do industrial Sebastián Ramirez, fundada em 1879, só empregou
operários e operárias tecelões naturais da Andaluzia9.

Assim, entre a segunda metade do século XIX e o início da Primeira Grande Guerra
Mundial, a lota de V.R.S.A. foi animada pelos armadores e compradores dos dois países. As in-
dústrias de salga e de conservas em lata mantiveram-se dominadas por industriais e empresários
andaluzes, tanto em V.R.S.A. como em Ayamonte e na Isla Cristina. Foram esses industriais que
introduziram e difundiram, nos centros de tratamento entretanto abertos na Andaluzia, o método
de tratamento feito ao atum de direito, introduzido em V.R.S.A., pelos industriais, negociantes e
exportadores genoveses Ângelo Parodi, a partir de 1879, e Sebastião Migoni, a partir de 188110.

5.2. Monte Gordo

Ao longo do século XVIII a praia de Monte Gordo assistiu ao renascimento da pesca, por ini-
ciativa dos marítimos de Castro Marim, mas, sobretudo, pela acção de negociantes e armado-
res andaluzes e catalães. Que tinham emigrado para essa região do Algarve Oriental, bastante
mais rica em peixe11. Mas que, conforme as fontes informam, não era situação recente, uma
vez que já em 1439 Castro Marim pedia ao Rei «isenções de alguns encargos pelos constantes
trabalhos que os moradores têm com os castelhanos, que insistiam em vir pescar ao reino»12.
Pesca antiga, constante e rentável, a julgar pelos avultados rendimentos que a coroa recebia em
impostos sobre a captura de atuns. E que ocupava uma numerosa mão-de-obra. Desse facto dá
conta Frei João de São José, que, em 1577, descreveu a pesca do atum como uma enérgica ac-
tividade familiar13. Ou João Baptista da Silva Lopes, que, em 1841, informa que «o preparo e a
salga desta pescaria ocupa muitos braços não só de homens, mas de mulheres e rapazes; uns em

9. Cf. ibidem, pp. 58-59.

10. Cf. ibidem, p. 60; Inquérito Industrial de 1881. Inquérito directo. Segunda Parte. Visita às Fábricas. Livro
Terceiro, Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881, pp. 18-23.

11. Cf. CAVACO, Carminda, «Monte Gordo: aglomerado piscatório e de veraneio (primeira parte)», in Finisterra,
Lisboa, vol. IX, n.º 17, 1974, p. 78.

12. Cf. Cortes de Lisboa de 1439, capítulo especial de Castro Marim, in A.N.T.T., Chancelaria D. Afonso V, lv.
2, fl. 30 apud Margarida Garcez VENTURA, «Os coutos de homizados nas fronteiras com o direito de asilo», in
Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, História, 2.ª série, vol. XV, número 1, 1998, p. 608.

13. Cf. SÃO JOSÉ, Frei João de, «Corografia do Reino do Algarve (1577)», in Duas Descrições do Reino do
Algarve no século XVI, apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e Joaquim Romero

249
abrir o peixe, outros em o conduzir para os armazéns, cortar em traços, salgar, e meter nas pias
ou dornas de madeira»14. Pesca que foi sempre uma constante no litoral algarvio, tendo como
protagonistas tanto portugueses como espanhóis15. Catalães que, segundo Romero Magalhães,
chegaram e estabeleceram-se em Monte Gordo a partir de 172516.

Mas porquê Monte Gordo? Segundo a geógrafa Carminda Cavaco por uma conjunto va-
riado de factores, de onde se destacam os seguintes:

a) A proximidade com a fronteira espanhola;

b) A riqueza e a diversidade das espécies pelágicas dos pesqueiros da costa algarvia quan-
do comparados com os pesqueiros espanhóis17;

c) A natureza e o declive dos fundos costeiros, que permitiam a utilização de grandes redes;

d) A proximidade com Ayamonte e com outros centros de consumo e de negócios do litoral


da Andaluzia, inclusive pela convergência de almocreves, que faziam a ligação destes
ao interior algarvio, assim como ao Alentejo;

e) E, ainda, pela possibilidade de contornar o pagamento de impostos de pesca e de


comercialização18.

Deste modo, a pesca da sardinha e dos atuns em Monte Gordo era uma actividade de
origem essencialmente andaluza e castelhana, porque o eram os meios de produção, os capitais

Magalhães (edição), Cadernos da Revista de História Económica e Social, n.º 3, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1983,
pp. 121-122.

14. Cf. LOPES, João Baptista da Silva, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino
do Algarve, op. cit., p. 97.

15. Para uma boa síntese histórica do que foi e como foi a pesca do atum na costa Algarvia veja-se, por exemplo,
as seguintes obras: COSTA, Fausto, A Pesca do Atum nas Armações da Costa Algarvia, Colecção Documentos,
n.º 7, 2.ª edição, editorial Bizâncio, Lisboa, 2003 [2000]; LOPES, João Baptista da Silva, Corografia ou Memória
Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, op. cit., pp. 87-95.

16. Cf. MAGALHÃES, Joaquim Romero, O Algarve Económico, 1600-1773, op. cit., p. 397.

17. Para uma boa discrição das zonas e das técnicas piscatórias algarvias veja-se, por exemplo, a seguinte obra:
STANISLAWSKI, Dan, Portugal’s Olther Kingdom: The Algarve, Austin, University of Texas Press, 1963, capí-
tulo 3.

18. Cf. CAVACO, Carminda, «Monte Gordo: aglomerado piscatório e de veraneio (primeira parte)», in Finisterra,
art. cit., pp. 78-79.

250
investidos, os dirigentes e uma grande parte dos marítimos envolvidos19. E, desse facto, dava
notícia o cônsul de Espanha em V.R.S.A, Miguel Peres Ortega, numa bem informativa memória
comercial por si enviada a 16 de Janeiro de 1844 para o Ministério dos Exteriores do seu país:

Las costas del Algarve abundan en pesquerias, esto es, atunes, y sardiñas, y casi toda a la mayor par-
te de ella la congreram en lota publica los traficantes de este ramo de la Isla Cristina y nabegantes de
la Ciudad de Ayamonte; abastecendo los primeiros las Plazas de Valencia, Catalunha, Francia, Italia
& los segundos las de Huelva, Sevilla, Cadiz, Gilbratar y otras20.

Entretanto chega-se à década de 1880 e começasse a difundir as armações de sardinha


e os cercos. Estes últimos principalmente durante o período em que durou o convénio de pes-
ca livre nas águas marítimas de Portugal e Espanha (1878-1885), que veio aumentar a, já de si
forte, concorrência com os galeões espanhóis. Tanto pelo seu número, pela capacidade dos seus
barcos (construídos nos grandes estaleiros de Huelva e da Galiza) como pela dimensão das suas
redes21. Situação concorrencial que fez aumentar o número de galeões andaluzes inscritos no
porto de V.R.S.A., conforme revela o seguinte quadro:

Quadro n.º 5.01: Número de galeões inscritos no porto de V.R.S.A. segundo os seus portos de
registo, entre 1878 e 1884

Ano V.R.S.A. Isla Cristina Ayamonte Cartaya Total


1878 2 19 – – 21
1879 2 16 – – 18
1880 2 17 – – 19
1881 2 18 – – 20
1882 1 17 3 1 22
1883 – 19 2 1 22
1884 – 18 3 1 22

Fonte: CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento
da Região do Algarve, 1976, p. 226.

19. Cf. ibidem, p. 80.

20. Cf. A.H.N., Fondo del Ministerio de Exteriores – H, Consulado de España en Villa Real de San Antonio, cx.
2093, correspondencia del ano de 1844, 16 de Enero de 1844.

21. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 226.

251
Em 1885 é permitida a edificação temporária, nos meses de Agosto e de Setembro, de
dezoito construções de madeira. Sendo que muitas delas eram pertença de comerciantes e in-
dustriais de origem espanhola fixados em Monte Gordo. Porém, passados apenas quatro anos,
isto é, em 1889, a colónia espanhola diversifica-se, uma vez que, nos novos pedidos de licen-
ças para o levantamento de construções temporárias de madeira, surgem igualmente comer-
ciantes e industriais espanhóis radicados em V.R.S.A22. Negócio que gera lucros, é sempre
negócio apetecido.

Mas os andaluzes não se dedicavam somente à pesca. Foi um casal andaluz, ele natu-
ral de Ayamonte e ela natural de Tharsis, que, no início da década de 1910, abriram um esta-
belecimento de comércio misto (mercearia e taberna) onde, depois, começaram a ser servidas
refeições e alugados quartos. A organização em pensão, com a mudança definitiva do ramo de
actividade, não tardou a impor-se à medida que se desenvolvia a clientela espanhola, sobretudo
durante a desvalorização da moeda portuguesa, avaliando-se em mais de duas dezenas o núme-
ro de casas que foram propriedade em Monte Gordo de coronéis, médicos, advogados, notários
e grandes proprietários da Andaluzia, nomeadamente oriundos de Ayamonte, Huelva, Sevilha,
Paymogo, mas também da Extremadura espanhola23.

5.3. Os antecedentes e a fundação de Vila Real de Santo António

Em 1750, com a chegada de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal
(1699-1782), a secretário de estado de D. José I (1714-1777; r. 1750-1777), começa-se a deli-
near um ambicioso programa com vista ao reequilíbrio da balança comercial portuguesa, assim
como ao restabelecimento das finanças nacionais24. Nesse seguimento, a região do Algarve é
identificada como uma região potencialmente rica mas, até essa altura, sub-aproveitada. Após
a identificação dessas características – sector primário marcado por um subaproveitamento

22. Cf. CAVACO, Carminda, «Monte Gordo: aglomerado piscatório e de veraneio (primeira parte)», in Finisterra,
art. cit., p. 92.

23. Cf. ibidem, p. 95.

24. Sebastião José de Carvalho e Melo (Lisboa, 13.05.1699 – Pombal, 8.05.1782), futuro Marquês de Pombal, foi
secretário de estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra entre 2 de Agosto de 1750 e 6 de Junho de 1756 e, de-
pois, secretário de estado dos Negócios Interiores do Reino de 6 de Junho de 1756 a 4 de Março de 1777, sempre
no reinado de D. José I.

252
crónico, capacidade comercial asfixiada por interesses estranhos à região e uma política fiscal
anacrónica –, o Marquês de Pombal decide, no início da década de 1770, edificar uma nova po-
voação que conseguisse solucionar todos esses problemas25.

Um dos maiores problemas identificados era a «evasão fiscal». Que era praticada há
décadas. Nomeadamente aquela que decorria da intensa actividade piscatória e comercial que
era levada a cabo por armadores castelhanos, particularmente catalães, que, desde o início de
Setecentos, se tinham instalado na praia de Monte Gordo26.

Se numa primeira fase se tratava de uma colónia praticamente constituída por catalães,
passados poucos anos começam a vir também andaluzes, impulsionados pela proibição da prá-
tica do «arrasto costeiro» decretada pelo governo espanhol em 172527. E, nesse contexto, a emi-
gração de catalães e andaluzes para a costa Oriental do Algarve surgia como uma boa solução,
porque lá podiam continuar a utilizar a arte de xávega, uma arte tradicional utilizada para a pes-
ca da sardinha.

Assim, em 1750 para um total de sessenta barcas a operar na costa de Monte Gordo per-
to de cinquenta pertenciam a andaluzes e catalães. E em 1770 para um total de uma centena de
embarcações, cerca de oitenta e cinco eram espanholas28. A praia de Monte Gordo era, por essas
décadas, «mais um empório de pesca espanhola do que portuguesa»29.

Em 1790, numa memória da autoria de Constantino Botelho de Lacerda Lobo, ficava a


saber-se como era a praia de Monte Gordo antes de ser edificada, entre 1774 e 1776, a nova vila
idealizada pelo Marquês de Pombal. Escreveu o memorialista:

25. Cf. SANTOS, Marco de Sousa, «A importância da actividade pesqueira para a fundação de Vila Real de
Santo António», in Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, coord. de António Rosa Mendes, s./l.,
Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e Centro de Estudos de Património e História do Algarve da
Universidade do Algarve, 2010, p. 61.

26. Cf. ibidem.

27. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As vilas, o Campo e o Mar, vol. I, op. cit., p. 43.

28. Cf. ibidem.

29. Cf. IRIA, J. Alberto, «Vila Real de Santo António reedificada pelo Marquês de Pombal (1773-1776). Subsídios
para a sua Monografia e Elementos para a História da Administração Pombalina», in revista Ethnos. Revista do
Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, vol. III, Lisboa, 1958, p. 8.

253
Antes da edificação de Vila Real de Santo António, observava-se na praia de Monte Gordo uma
grande Cidade, formada de cabanas, dispostas em diferentes ruas, desde a Foz do Guadiana até
perto de Cacela; nas referidas cabanas se acomodavam cinco mil homens, que pela maior parte
eram Portugueses, e Espanhóis, e também alguns Franceses, e Ingleses; dos quais uns trabalhavam
na Pescaria da Sardinha, e outros na sua preparação. (…) Mandando o Senhor D. José de gloriosa
Memória edificar Vila Real de Santo António no ano de 1774, em menos de cinco meses se reduziu
esta grande Povoação a uma praia deserta, com grande ruína de muitos particulares, e do Estado;
de maneira que no ano de 1790 somente observei na Costa de Monte Gordo nove Xávegas, com
outras tantas barcas, e Enviadeiras; das quais cinco eram da Companhia do Alto Douro, quatro da
Companhia das Pescarias do Algarve, e uma de José Martins da Luz30.

Por outro lado, os consideráveis lucros decorrentes da actividade pesqueira na costa


Oriental do Algarve acabavam por, na sua esmagadora maioria, escapar ao erário público nacio-
nal, indo parar aos cofres castelhanos. Desta forma, e para fazer face à situação, o Marquês de
Pombal decreta um conjunto de novas medidas legislativas com o principal objectivo de invia-
bilizar a saída para o reino vizinho do pescado capturado na costa algarvia, sobrecarregando-o
com taxas e impostos. Medidas extremamente danosas, do ponto de vista económico, para os
armadores castelhanos. Por outro lado, o governo espanhol responde com um pacote de medi-
das legislativas semelhantes, estas contrárias aos interesses comerciais portugueses31.

Chega-se, então, à conclusão que a praia de Monte Gordo não reunia as condições ne-
cessárias para a resolução de todos os problemas anteriormente identificados. Porque a grande
extensão do areal montegordino acarretava consigo algumas indesejadas dificuldades:

a) Encontrava-se sujeito às constantes incursões do mar e à movimentação das areias32;

30. Cf. Costantino Botelho de Lacerda LOBO, «Sobre o estado das Pescarias da Costa do Algarve no anno de
1790», in Memorias Economicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa, para Adiantamento da Agricultura,
das Artes, e da Industria em Portugal, e Suas Conquistas, Lisboa, Academia Real das Sciencias de Lisboa, tomo
V, 1815. p. 130.

31. Cf. SANTOS, Marco de Sousa, «A importância da actividade pesqueira para a fundação de Vila Real de Santo
António», art. cit., pp. 63-65.

32. Cf. CORREIA, José Eduardo Horta, Vila Real de Santo António. Urbanismo e Poder na Política Pombalina,
Porto, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1997, pp. 68-69.

254
b) Dificultava o eficaz controlo da actividade pesqueira, facilitando o contrabando de pei-
xe fresco, situação que acabaria por comprometer as planos de incremento fiscal da
Coroa portuguesa33.

É assim, neste contexto, que se avança para a construção de um nova «vila regular»,
no sítio do Barranco, no termo da desaparecida vila de Santo António de Arenilha, na margem
direita do Guadiana, mesmo de frente para a vila de Ayamonte. Construção que foi ordenada,
através de Carta Régia, emitida no dia 30 de Dezembro de 177334.

O projecto da vila é concebido pela Casa do Risco das Obras Públicas, localizada em
Lisboa, sob a direcção do arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos, com a ajuda de outros en-
genheiros militares35. A nova vila seria erguida «ex-nihilo» no tempo recorde de cinco meses,
segundo os ideais urbanísticos e arquitectónicos da Época das Luzes. Era uma vila concebida à
luz do urbanismo Iluminista, tão ao gosto do Marquês de Pombal.

Em Agosto de 1774 eram colocadas as armas reais no edifício da alfândega, começando


esta, desde logo, a funcionar36.

Por outro lado, por forma a impulsionar economicamente a nova vila, concentrando nela
habitantes, mão-de-obra e tentando tornar mais eficiente a cobrança de impostos alfandegá-
rios, o Marquês de Pombal decreta, entre Setembro de 1774 e Dezembro de 1775, as seguintes
medidas:

a) A 30 de Setembro de 1774, e face à resistência por parte dos residentes da praia de Monte
Gordo em conduzir o pescado até à nova vila, ordena-se que se execute a «transferência
imediata da povoação de Monte Gordo para a Vila de Santo António de Arenilha», ga-
rantindo aos marítimos o direito de aí instalar as suas cabanas, enquanto não se concluía

33. Cf. ibidem, p. 97.

34. Cf. CAVACO, Hugo, Vila Real de Santo António. Reflexos do Passado em Retractos do Presente. Contributos
para o Estudo da História Vila-Realense, Vila Real de Santo António, edição da Câmara Municipal de Vila Real de
Santo António, 1997, pp. 29-30; CORREIA, José Eduardo Horta, Vila Real de Santo António. Urbanismo e Poder
na Política Pombalina, op. cit., pp. 314-315; SANTOS, Marco de Sousa, «A importância da actividade pesqueira
para a fundação de Vila Real de Santo António», art. cit., pp. 68-69.

35. Cf. CAVACO, Hugo, Vila Real de Santo António. Reflexos do Passado em Retractos do Presente. Contributos
para o Estudo da História Vila-Realense, op. cit., p. 31.

36. Cf. ibidem.

255
a construção das novas casas de pedra e cal37, ficando a praia de Monte Gordo, desta
maneira, sem a sua lota de pesca38;

b) Por decreto régio de 12 de Outubro de 1774 é extinta a alfândega de Castro Marim,


passando todo o seu despacho para a alfândega construída na nova vila, onde os ofi-
ciais alfandegários podiam controlar, de forma mais eficiente, a actividade pesqueira e
mercantil39;

c) E, novamente, por decreto régio de 12 de Dezembro de 177540, é decretada a extinção


da câmara municipal de Cacela e a consequente anexação do seu antigo termo ao de
V.R.S.A., passando a vila de Cacela de concelho independente a freguesia do novo cen-
tro urbano41. Medida de grande significado político e económico, uma vez que esta in-
corporação territorial era absolutamente fundamental para a subsistência da nova vila,
na medida em que a anexação de boas terras de cultivo, que escasseavam no território
pertencente à antiga povoação de Arenilha, garantia a auto-suficiência alimentar, factor
essencial para a fixação de novos habitantes42.

Deste modo, no dia 13 de Maio de 1776, dia em que se comemorava o 77.º aniversário
de nascimento do Marquês de Pombal, e passados apenas dezassete meses do lançamento da
primeira pedra que ocorreu a 17 de Março de 1774, é oficialmente inaugurada a nova povoação.
Estava concluída a mais extraordinária das iniciativas desenvolvidas na sequência do pretendi-
do plano de «Restauração do Reino do Algarve».

37. Cf. CORREIA, José Eduardo Horta, Vila Real de Santo António. Urbanismo e Poder na Política Pombalina,
op. cit., pp. 97-98.

38. Cf. CAVACO, Hugo, Vila Real de Santo António. Reflexos do Passado em Retractos do Presente. Contributos
para o Estudo da História Vila-Realense, op. cit., p. 31.

39. Cf. Biblioteca da Alfândega de Lisboa, lv. 35-2, fls. 125-125v. (Rezisto de huma Provizão de Sua Magestade
sobre extinguir a Alfandega de Castro Marim com todos os officiaes e empregos e passar para a nova Villa de Santo
Antonio de Arenilha); SANTOS, Marco de Sousa, «A projecção e edificação da nova Vila», in Vila Real de Santo
António e o Urbanismo Iluminista, op. cit., p. 77.

40. Cf. BANDARRA, Pedro Miguel, O Concelho de Cacela e a sua extinção, Olhão, Gente Singular Editora,
2013, p. 51.

41. Cf. CAVACO, Hugo, A Antiga Vila de Cacela e o seu Alfoz, Vila Real de Santo António, edição da Câmara
Municipal de Vila Real de Santo António, 1984, p. 26.

42. Cf. CORREIA, José Eduardo Horta, Vila Real de Santo António. Urbanismo e Poder na Política Pombalina,
op. cit., p. 81.

256
As sucessivas guerras legislativas travadas entre Carlos III de Espanha (reinado de 1759
a 1788) e o Marquês de Pombal (ministro entre 1750 e 1777) relativas aos direitos a pagar
pela pescaria em fresco ou em salgado nos dois países43, assim como a edificação da nova vila,
provocaram a afluência à vila de um vasto conjunto de trabalhadores naturais de várias re-
giões do reino de Portugal assim como de Espanha44. Analisando-se os vários livros de regis-
tos paroquiais (baptizados e casamentos), para o último quartel do século XVIII, consegue-se
identificar a chegada à vila de pessoas das mais diversas naturalidades, como, por exemplo:
Ayamonte, Écija, Huelva, Lepe, Motril, Reino de Granada, San Lucar de Barrameda, San Lucar
do Guadiana, Sevilha, Villablanca (Andaluzia); Medina del Campo (Castela e Leão); Girona,
Réus, Tarragona (Catalunha); Alicante (Comunidade Valenciana); Orense e Tuy (Galiza);
Cartagena de Levante (Múrcia), entre outras localidades45.

Continuando a análise dos livros de registo de baptismo para o século XIX e início do
século XX verifica-se que este caldo de naturalidades continuou a chegar à vila. Procuravam
trabalho e aí fixavam as suas residências. Na segunda metade do século XIX e nas primeiras
duas décadas do século XX, à parte dos castelhanos (nomeadamente andaluzes e catalães), que
seriam sempre o grupo mais numeroso a aportar à vila, há também o registo de italianos, fran-
ceses, alemães e gregos a residir e estabelecidos na vila.

5.4. A colónia de andaluzes residentes em V.R.S.A.: uma quantificação e caracterização

Consultando os registos de baptismo da única freguesia da vila, Carminda Cavaco consegue


calcular a percentagem de indivíduos com naturalidade andaluza a residir em V.R.S.A., entre
1860 e 1930. Vejamos, então, as percentagens: 1860: 9,7%; 1865: 3,3%; 1870: 6,7%; 1880:
4,6%; 1895: 3,8%; 1910: 5,2%; 1930: 2,4%46.

43. Cf. CAVACO, Hugo, Vila Real de Santo António. Reflexos do Passado em Retractos do Presente. Contributos
para o Estudo da História Vila-Realense, op. cit., p. 29.

44. Cf. ibidem, p. 33.

45. Cf. ibidem.

46. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 408.

257
Quadro n.º 5.02: Número de espanhóis residentes, e respectivas % relativas de espanhóis resi-
dentes, na freguesia de V.R.S.A., entre 1864 e 1911
População V.R.S.A N.º de espanhóis % de espanhóis
Ano
(sede do concelho) residentes residentes em V.R.S.A
1864 3 032 100 3,3%
1878 4 188 193 4,6%
1900 6 172 311 5,04%
1911 7 153 248 3,47%

Fontes: Censos gerais da População de Portugal, para os anos de 1864, 1878, 1900 e 1911; GARCIA, João
Carlos, A Navegação no Baixo Guadiana durante o Ciclo do Minério (1857-1917), [texto policopiado], tese de
doutoramento em Geografia Humana apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, [s.n.],
1996, p. 537, p. 540 e pp. 546-548; CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II,
Faro, Gabinete de Planeamento da Região do Algarve, 1976, p. 408.

Sabendo-se que a esmagadora maioria da colónia espanhola a residir em V.R.S.A. era


natural da Andaluzia, pode-se pressupor que a quebra populacional verificada entre 1900 e 1911
esteja relacionada com a revolução republicana do 5 de Outubro de 1910 e a consequente im-
plementação do regime republicano em Portugal. Durante esse período há relatos de focos de
tensão junto à fronteira, com movimentações de ambos os lados. O conselheiro Ramirez, figura
grada do progressismo regional, foi acusado de ter na sua fábrica de conservas, instalada em
V.R.S.A., «um depósito clandestino de armas, denuncia feita por mais de 300 pessoas, que re-
clamavam do administrador do concelho uma busca criteriosa às instalações fabris»47. Por outro
lado, o semanário regionalista O Algarve informava que «O governo hespanhol mandou para
o rio Guadiana a canhoeira Núñhez Muñoz para proteger os súbditos hespanhóis residentes em
Vila Real de Santo António»48.

47. Cf. VIEGAS, Libertário S., «Algarve (1908-1927)», in Anais do Município de Faro, Faro, Câmara Municipal
de Faro, vol. XVIII, 1988, p. 156.

48. Cf. O Algarve, n.º 134, de 16 de Outubro de 1910, p. 2.

258
Quadro n.º 5.03: Naturalidades da população de V.R.S.A. segundo os registos de baptismo,
entre 1774 e 1850 (em %)
1774-1777 1794-1796 1813-1815 1813-1815 1850 1850
Concelhos
(Pais) (Pais) (Pais) (Avós) (Pais) (Avós)
Baixo Algarve Oriental 54,7 62,1 74,4 53,5 83,6 77,2
V.R.S.A. – 3,8 46,1 – 66,5 59,3
Castro Marim 21,3 38,3 11,1 27,4 2,6 10,1
Tavira 10,6 8,2 3,8 6,8 8,5 8,2
Olhão 5,9 1,9 1,9 3,6 2,3 3,6
São Brás 6,6 2,4 1,1 5,5 – 1,4
Faro 3,8 4,3 3,3 1,9 2,1 2,4
Serra Oriental 5,7 3,0 1,1 3,2 1,6 1,2
Restante Algarve 6,2 6,2 0,6 6,4 – –
Lagos 4,9 – – – – –
Baixo Alentejo 1,5 2,4 1,1 3,5 1,6 2,2
Lisboa 6,4 2,4 1,1 1,9 – –
Espanha 25,549 18,4 18,1 26,950 10,2 14,8
Ayamonte 8,0 7,7 8,8 10,7 5,3 6,2
Outros – 5,3 5,6 4,6 3,0 4,6

Fonte: CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento
da Região do Algarve, 1976, p. 407.

Gráfico n.º 5.01: Percentagem de espanhóis e de ayamontinos na população de V.R.S.A., entre


1774 e 1850
30 Espanhóis

25 Ayamontinos

20

15

10

0
1774-1777 1794-1796 1813-1815 1850
Fonte: CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento
da Região do Algarve, 1976, p. 407.

49. Andaluzia – 12,3% e Catalunha – 5,6%.

50. Catalunha – 5,5%.

259
Estas elevadas percentagens de espanhóis a residir em V.R.S.A. até ao início da segunda
metade do século XIX prendem-se também com o facto de, até essa altura, existir uma signifi-
cativa colónia de catalães a residir no concelho. Em 1774-1777 representavam cerca de 5,6%
do total da população residente e em 1813-1815 cerca de 5,5%51. No entanto, conforme se pode
comprovar através da análise do quadro acima publicado, os naturais de Ayamonte eram aque-
les que mais emigravam para V.R.S.A., variando as suas percentagens entre os 5,3% (em 1850)
e os 10,7% (em 1813-1815) do total da população residente na vila.

Analisando-se o quadro constata-se que em meados do século XIX mais de 80% dos
pais das crianças baptizadas na paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, a única paróquia da
vila, são naturais do Algarve Oriental, a que correspondem 60% dos avós. No que diz respei-
to aos espanhóis – maioritariamente andaluzes – as percentagens eram de 10% entre os pais e
cerca de 15% entre os avós, grande parte destes últimos radicados na vila há dezenas de anos.
Segundo a geógrafa Carminda Cavaco a contração das correntes migratórias, provocada pela
relativa estagnação económica da vila, traduziu-se no esbater das filiações naturais das fregue-
sias serranas e no praticamente desaparecimento do contributo do Algarve Ocidental52.

Quadro n.º 5.04: Naturalidades da população de V.R.S.A., entre 1860 e 1930 (em %)
Castro Marim, Outros
Baixo
Ano V.R.S.A. Alcoutim, Tavira concelhos Espanha Outros
Alentejo
e Olhão do Algarve
1860 – b.a. 44,6 20,4 6,8 0,8 22,3 5,1
1860 – c.p. 54,0 25,4 4,8 1,6 9,7 4,5
1865 – b.p. 70,0 13,0 3,6 1,3 3,3 8,8
1870 – b.p. 70,8 10,753 9,8 0,5 6,754 1,5
1870 – b.a. 74,6 2,6 55
5,9 1,1 12,8 56
3,057

51. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 407.

52. Cf. ibidem, p. 406.

53. Tavira – 2,8%.

54. Ayamonte – 5,1%.

55. Tavira – 5,9%.

56. Ayamonte – 9,1%.

57. Apareceram alguns da Caparica onde se difundiram, também no século XVIII, as xávegas e onde convergiram
igualmente pescadores de Ílhavo.

260
1880 – b.p . 75,5 11,1 2,2 2,2 4,6 3,6
1895 – b.p. 64,4 15,8 2,6 10,5 3,8 2,9
1895 – c.p. 59,5 22,1 6,7 2,4 6,7 2,6
1910 – b.p. 61,4 16,5 6,1 5,8 5,2 5,0
1930 – b.p. 63,1 16,2 6,9 7,2 2,4 3,6

Legenda: b.a. – registos de baptismo dos avós; b.p. – registos de baptismo dos pais; c.p. – registos de casamento
dos pais.
Fonte: CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento
da Região do Algarve, 1976, p. 408.

Gráfico n.º 5.02: Percentagem de espanhóis residentes em V.R.S.A., segundo os registos de


baptismo dos pais, entre 1865 e 1910
8

0
1865 1870 1880 1895

Fonte: CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento
da Região do Algarve, 1976, p. 408.

Nas últimas duas décadas do século XIX, e alavancado em grande medida pelo surto
conserveiro, a população residente na sede de concelho dispara. Se em 1878 eram 4 188, em
1900 eram já 6 172, e em 1911 eram 7 153. Porém, se se alargar o período temporal em análise,
verifica-se uma tendência de crescimento demográfico registada continuadamente entre 1864
e 1911, conforme revelam as taxas de crescimento intercensitárias para esse período: 38,13%,
entre 1864/1878; 31,30%, entre 1878/1890; 12,24%, entre 1890/1900 e, finalmente, 15,89%,
entre 1900/1911. Ou seja: entre 1864 e 1900 a população residente na sede do concelho mais
do que duplica, passando dos 3 032 para os 6 172. À imagem do sucedido com os outros dois
polos conserveiros da região, Olhão e Vila Nova de Portimão, que, também eles, experimentam
um significativo crescimento demográfico: entre os censos de 1878 e 1911 Olhão passa dos 6

261
916 habitantes para os 10 890 (crescimento de 57,5%) e Vila Nova de Portimão passa dos 6 277
para os 9 837 (56,7%). Crescimento demográfico fortemente influenciado pelos surtos conser-
veiros que ocorreram nestas três sedes de concelho.

Os afluxos demográficos que chegam à vila intensificam-se. Os raios de atracção esten-


dem-se a outros locais, resultando que a população da vila fosse, agora, natural e oriunda de
uma maior diversidade de municípios. Aumentam as chegadas de serrenhos e de naturais do
Baixo Alentejo, como, por exemplo, mertolengos, ao mesmo tempo que continuavam a residir
na vila uma boa percentagem de andaluzes, com destaque para os naturais de Ayamonte, que,
em 1870, perfaziam cerca de 76% da totalidade dos pais espanhóis e cerca de 71% da totalidade
dos avós espanhóis radicados na vila58.

O surto conserveiro atraiu contingentes de mão-de-obra até essa altura não necessários,
originando, ainda, a criação de novas profissões. Foi desta forma que, nas últimas duas décadas
do século XIX, surgiram novas profissões na vila como, por exemplo, o industrial, o soldador, o
estanhista, o litógrafo e o serralheiro, ao mesmo tempo que se intensificavam as de negociante,
traficante, caixeiro viajante, piloto, intérprete, empregado de escritório, guarda-livros e despa-
chante de alfândega59.

Dos forasteiros a residir na vila foram os espanhóis, nomeadamente os andaluzes, aque-


les que conquistaram as posições sócio-económicas mais elevadas. Além de controlarem o co-
mércio por grosso e retalhista, as pescas, as conservas e o negócio do peixe, alguns deles se-
riam, anos mais tarde, eleitos ou nomeados presidentes da câmara municipal e vereadores em
sucessivas vereações. É por isso natural que, ao longo da segunda metade do século XIX, os
seus nomes e apelidos aparecerem frequentemente entre os padrinhos de baptismo e de casa-
mento. Em 1879 três desses andaluzes – Ramirez, Centeno e Alvarez Barbosa – figuravam na
lista dos seis maiores contribuintes prediais da vila60. Posição económica e social de destaque
que possibilitava a que muitos deles figurassem no grupo social mais influente e destacado da
vila, conforme se pode concluir através das assinaturas constantes no requerimento, apresentado

58. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental, As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 408.

59. Cf. ibidem.

60. Cf. ibidem, pp. 408-409.

262
em 1891, a pedir a criação de um novo partido médico municipal, dos quais quinze dos quarenta
e cinco requerentes eram andaluzes61.

O êxito alcançado por essa primeira vaga de emigrantes andaluzes que se estabeleceram
na vila, aliado à oferta de novos empregos, estimulou a emigração de novos andaluzes, oriun-
dos sobretudo de Villanueva de los Castillejos. Que estariam, decerto, mais interessados no co-
mércio e na indústria vila-realense do que na agricultura nas suas terras xistosas. Deste modo,
acorrem à vila novos andaluzes que deixavam para trás as suas terras de origem para se estabe-
lecerem, quase sempre de forma definitiva, em V.R.S.A.

Com a chegada da Primeira Grande Guerra Mundial as correntes migratórias andaluzas


reduzem-se, uma vez que data dessa altura o grande surto conserveiro na indústria da sardinha
em azeite no Sudoeste andaluz, que, dessa forma, podia acalentar-se à conquista dos mercados
europeus muito necessitados desse produto em tempos de guerra62. Deste modo, jamais se vol-
taria a registar os fluxos migratórios andaluzes da segunda metade do século XIX; antes pelo
contrário, entre a Primeira Grande Guerra Mundial e o início da Guerra Civil espanhola, o re-
sultado dos movimentos migratórios parece ter tido sentido inverso63.

Quadro n.º 5.05: Profissões da população masculina de V.R.S.A., entre 1860 e 1930 (em %)
Trabalhadores

Funcionários
Proprietários

Empregados
de comércio
e industriais

e escritório
de ofício e
Marítimos

operários

Diversos
públicos
Homens
Anos

1860 - c.p. 3,3 3,3 66,6 15,1 9,9 1,9 –


1860 - c.p.d. 7,1, 2,4 33,3 9,6 19,1 26,1 2,4
1865 - b.p. 2,4 4,3 79,7 11,5 0,7 1,4 –
1870 - b.p. 1,6 1,6 71,4 11,1 3,2 9,5 1,6
1880 - b.p. 10,2 3,5 62,5 11,2 5,1 3,5 4,0
1895 - b.p. – 5,0 38,4 30,7 10,2 15,4 0,3
1895 - c.n. 8,2 29,5 22,7 22,7 3,3 13,6 –

61. Cf. ibidem, p. 409.

62. Cf. ibidem.

63. Cf. ibidem.

263
1910 - b.p. – 14,2 32,1 25,864 12,0 14,6 1,3
1910 - b.p.d. 13,0 7,5 19,1 12,365 28,0 15,0 4,1
1930 - b.p. 1,3 14,8 19,1 36,966 9,9 15,667 2,4

Legenda: c.p. – registos de casamento: profissões dos pais; c.p.d. – registos de casamento: profissões dos padri-
nhos; b.p. – registos de baptismo: profissões dos pais.
Fonte: CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, Faro, Gabinete de Planeamento
da Região do Algarve, 1976, p. 409.

O quadro é bem sintomático das alterações registadas na estrutura económica de


V.R.S.A, no que diz respeito às profissões ocupadas pelo conjunto da população masculina.
Com o passar das décadas a percentagem de marítimos (pescadores) sobre o total das profissões
masculinas decresce, ao invés do aumento registado na percentagem de operários e de empre-
gados de comércio e escritório, assim como de funcionários públicos. A instalação das fábricas
de conservas exigia um avultado número de operários e esse facto repercute-se no aumento da
sua percentagem relativa sobre o total da população masculina da vila. À semelhança de outras
vilas e cidades do Algarve também V.R.S.A. assistia à terceirização da sua economia.

5.5. A importância económica da colónia de andaluzes em V.R.S.A.

5.5.1. No Comércio

O registo de licenças de comércio para o concelho de V.R.S.A., entre 1850 e 1882, revela uma
tendência de crescimento no número das licenças de comércio, concedidas pela câmara muni-
cipal, a súbditos espanhóis, entre 1850 (duas licenças) e 1876 (dezanove licenças). No entanto,
a partir dessa data, inicia-se uma tendência de decréscimo no número das licenças passadas,
para se chegar às dez licenças em 1882. Decréscimo que poderá estar relacionado com o fac-
to de alguns desses comerciantes terem abandonado o ramo comercial e passado para o ramo

64. Inclui, neste caso, os operários das fábricas de conservas de peixe.

65. Soldadores – 9,7%.

66. Soldadores – 4,4%.

67. Soldadores – 7,7%; pedreiros – 5,0%; carpinteiros – 3,5%.

264
industrial, nomeadamente para as indústrias pesqueira, conserveira e salineira, que, a partir da
década de 1880, irão protagonizar um surto industrial na vila.

Entretanto, em 1868, num despacho do consulado de Espanha em V.R.S.A. ficava a sa-


ber-se que o comércio na vila era «compuesto casi en su totalidad de Españoles [...]»68.

Gráfico n.º 5.03: Número de licenças de comércio concedidas a espanhóis no concelho de


V.R.S.A., entre 1850 e 1882

20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1850
1851
1852
1853
1854
1855
1856
1857
1858
1859
1860
1861
1862
1863
1864
1865
1866
1867
1868
1869
1870
1871
1872
1873
1874
1875
1876
1877
1878
1879
1880
1881
1882
Fonte: A.H.M.A.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Licenças de Comércio, para
o concelho de V.R.S.A., entre 1850 e 1882.

A tipologia das licenças era, na sua maior parte, concedidas para «lojas» ou «vendas»
localizadas na vila. No entanto, as licenças emitidas e conservadas até hoje não informam quais
os tipos de bens comercializados. Mas tendo por fonte os Anuários Comerciais de Portugal,
Ilhas e Ultramar que, a partir de 1890, começam a referir os primeiros comerciantes andalu-
zes estabelecidos na vila, comprova-se que, à imagem do verificado na vila de Loulé, tais co-
merciantes se dedicavam à venda de fazendas, quinquilharias, mercearias, madeiras e cereais.
Ainda hoje subsistem descendentes de andaluzes que referem que os seus antepassados se des-
locavam a Ayamonte para se fornecerem de fazendas que depois seriam comercializadas nas
suas casas comerciais em V.R.S.A. Tal como acontecia em Loulé69. Mas havia também quem se

68. Cf. A.H.N., Fondo del Ministerio de Exteriores – H, Consulado de España en Villa Real de San Antonio, 1868,
cx. 2093, despacho n.º 8, de 4 de Junio de 1868.

69. Sobre este assunto veja-se o Anexo documental n.º 2.

265
dedica-se à produção e comercialização de vinhos, de aguardentes e de licores. Ou, também, de
produtos mais populares, de uso diário, como sabões, tabacos e sapatos.

Se a maioria dessas licenças eram respeitantes a casas comerciais, havia também li-
cenças concedidas a «padeiras» (uma padeira em 1874, duas em 1875, uma em 1876, uma em
1877, uma em 1880 e uma outra em 1882), «vendedores ambulantes» (uma vendedora em 1874
e uma vendedora e um vendedor em 1882) e a um «armazém de farinhas» propriedade do in-
dustrial Francisco Rodríguez Tenório (licença de 1882).

Da totalidades das licenças verifica-se que 223 foram para estabelecimentos sediados
na sede do concelho (90,3%), sendo as restantes distribuídas pelas outras povoações do conce-
lho: dezanove para Monte Gordo (7,7%), três para Cacela (1,2%) e duas para o Azinhal (0,8%).

Porém, em Abril de 1901, a situação parecia ter-se alterado. Num relatório de informa-
ção comercial emitido pelo consulado de Espanha em V.R.S.A. este começava por informar
ser «muy reducido el número de artículos de consumo frecuente en la localidad, es, así mismo,
demasiado dificultoso encontrar frequentemente noticias que poder enviar á nuestro comercio
y que les sejan de interés»70. Nesse sentido, o consulado considerava «que os exportadores es-
panõles encontrarían rasión para cobrar favorablemente sus mercancias si procurasen explorar
las demás poblaciones de esta provincia de Algarbe». Aconselhava-se que as «poblaciones de
la parte meridional de España y llegar hasta la vecina ciudad de Ayamonte debrían extender sus
visitas á las principales ciudades de Algarbe».

O objectivo seria fomentar o comércio espanhol, estimulando a que o mesmo alargasse


o raio de acção com a restante região. Porque, segundo o consulado, o resultado dessa iniciati-
va seria introduzir «poco á poco las produciones españolas en este territorio y crearse un mer-
cado beneficioso; debiendo de haceres cargo nuestros productores, que el mismo medio de que
se sirven para colocar sus produtos en mercados nacionales, deben utilizarle para obetener los
mercados estranjeros»71.

70. Cf. A.G.A., Fondo del Consulado de España en Villa Real de Santo Antonio, Libro del Registro de copiador
para el Ministerio de Estado, 1897-1905, despacho n.º 21, de 17 de Abril de 1901.

71. Cf. ibidem.

266
5.5.1.1. O comércio antes da indústria

Alguns dos futuros industriais conserveiros da década de 1880 iniciaram a sua actividade pelo
comércio, na qualidade de caixeiros. Essa foi, por exemplo, a primeira ocupação profissional de
três dos mais bem sucedidos empresários conserveiros do final do século XIX.

No final do século XIX as relações de trabalho nas lojas espanholas apresentavam,


ainda, alguns traços pré-capitalistas, nomeadamente, o paternalismo, a prática do internato e a
indiferenciação social72. As relações entre patrão e caixeiro eram, por essa altura, muito influen-
ciadas por dois factores: por um lado, o facto dos caixeiros começarem a trabalhar muito novos,
grande parte deles recentemente chegados às vilas e às cidades; por outro, pela expectativa de
ascensão social transmitida pela vida atrás do balcão e pelo discurso do patrão73.

Sebastián Ramirez y Rodriguuez74 nasceu na vila de El Almendro em 1828. Em 1949


decide emigrar para V.R.S.A. Tinha, na altura, 21 anos de idade. Na vila inicia a sua actividade
comercial, logo em 1849, como caixeiro75. Para passados apenas quatro anos, em 1853, cons-
tituir a sua primeira sociedade comercial com mais dois sócios, José Mora Gomez e Silvestre
Garcia-Pêgo, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos e também emigrados para V.R.S.A.

A sociedade ficou registada com a designação de «Mora, Ramires & Pêgo», e pagou a
primeira licença de comércio no dia 24 de Junho de 185376. No entanto, a mesma seria dissol-
vida em 1865, provavelmente pelo falecimento do sócio Silvestre Garcia-Pêgo77. A partir desse
ano e até 1877 Sebastián Ramirez trabalha sozinho. Porém, em 1877, Sebastián firma um novo

72. Cf. SEIXAS, Xoxé M. Núñez, «Una clase inexistente? La pequeña burguesía urbana española (1808-1936)»,
in Historia Social, n.º 26, 1996, p. 40.

73. Cf. ALVES, Daniel Ribeiro, A República atrás do balcão. Os lojistas de Lisboa na fase final da Monarquia
(1870-1910), tese de Doutoramento em História Económica e Social, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2010, p. 320.

74. Sobre este industrial andaluz veja-se o Apêndice biográfico n.º 22.

75. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
Vila Real de Santo António, edição da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 2008, p. 18.

76. Cf. ibidem.

77. Cf. ibidem, p. 19.

267
contrato de sociedade com um novo sócio, Jacinto José de Andrade78, que, passados dois anos,
casaria com uma jovem natural de El Almendro.

Francisco Rodríguez Tenório79 nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1843. Filho


de Sebastián Rodríguez Tenorio e de María Candelária Pérez Rodríguez, também eles natu-
rais de Castillejos, que, após o nascimento do filho, emigram para Loulé. Onde, nos finais
da década de 1840, Francisco inicia-se como marçano na loja de Manuel Mourão80. Todavia,
passados alguns anos, nos finais da década de 1850, deixa Loulé para se fixar, de forma de-
finitiva, em V.R.S.A., onde tem como primeira ocupação a profissão de caixeiro na casa co-
mercial de Sebastián Rodríguez Centeno (1820-1876)81, também ele natural de Villanueva de
los Castillejos82. Refira-se que esta casa comercial, com licença de comércio concedida em

78. Cf. ibidem, pp. 22-23. Jacinto José de Andrade nasceu em Mértola, em 1848. Filho de Francisco José de
Andrade e de Aurélia Rita. Casou em V.R.S.A., no dia 18 de Abril de 1879, com Maria Dolores Medeiros, de 33
anos, natural de El Almendro e foram testemunhas de casamento Sebastián Ramírez e Plácido José de Andrade.
Jacinto José de Andrade exerceu por quatro vezes a presidência da Câmara Municipal de V.R.S.A.: 1873-1877,
1881-1887, 1898-1901 e, finalmente, 1905-1910, in ibidem, p. 23.

79. Sobre este industrial andaluz veja-se o Apêndice biográfico n.º 25.

80. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, 3.ª edição, Faro, Algarve em
Foco Editora, 1989 [1908], pp. 9-11.

81. Sebastián Rodríguez Centeno, ou aportugusadamente Sebastião Rodrigues Centeno, nasceu em Villanueva de
los Castillejos, onde foi baptizado a 16 de Março de 1820. Tendo falecido em V.R.S.A. a 15 de Outubro de 1876,
sendo sepultado no respectivo cemitério municipal, em jazigo de família. Filho de Alberto Rodríguez Centeno
e de Maria de la Bella Rodríguez, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Casou pela primeira vez em
Villanueva de los Castillejos, a 26 de Janeiro de 1849, com Isabel Alvarez Barbosa (ou Isabel Alvarez Tenorio),
filha de Francisco Alvarez Barbosa e de Catalina Rodríguez Tenorio (ou Catalina de Orta Tenorio), de quem teve
seis filhos, todos eles nascidos em V.R.S.A. Após o falecimento da primeira mulher, casou pela segunda vez a 6 de
Julho de 1863 com a sua cunhada Lucía Alvarez Barbosa Tenorio (que também se documenta como Lucía Alvarez
Barbosa, Lucía Alvarez Tenorio ou ainda Lucía Alvarez Rodríguez), de quem teve mais dois filhos. Sebastián
Rodríguez Centeno teve uma casa comercial em V.R.S.A., com estreitas ligações às casas comerciais dos seus ir-
mãos Domingo Rodríguez Centeno e Alberto Rodríguez Centeno residentes em Lisboa. (Informações prestadas
pelo genealogista Miguel Centeno Neves)

82. Cf. A.H.M.A.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Licenças de Comércio, para
o concelho de V.R.S.A., entre 1850 e 1882; OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo
António, op. cit., pp. 9-11.

268
185583, operava com estreitas ligações às casas comerciais dos seus irmãos Domingo Rodríguez
Centeno e Alberto Rodríguez Centeno84 que se localizavam em Lisboa85.

E, finalmente, o caso de Juan Maestre Cumbrera86 que nasceu em Villanueva de los


Castillejos em 1840. Na década de 1860 deixa a sua terra natal para se fixar, de forma definiti-
va, V.R.S.A. Em 1865 estabelece-se como comerciante em V.R.S.A., constituindo, para o efei-
to, uma sociedade comercial com mais dois sócios seus conterrâneos e também eles emigrados
na vila: António Velasco Hernández (n. Villanueva de los Castillejos, 1841)87, antigo caixeiro
no estabelecimento de Manuel Álvares Barbosa; e Silvestre Garcia-Pêgo (n. Villanueva de los

83. Cf. A.H.M.A.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Licenças de Comércio, para
o concelho de V.R.S.A., entre 1850 e 1882.

84. Alberto Rodríguez Centeno (Villanueva de los Castillejos – Lisboa) operava como despachante oficial de im-
portações e exportações em Lisboa. Porém, passado alguns anos, entrou no negócio dos transportes marítimos para
pessoas e mercadorias, tendo adquirido uma participação de 25% do capital da Empresa de Navegação por Vapor
para o Algarve e Guadiana, fundada em 1870, por Alonso Gómez (Mértola, 17.01.1819 – Mértola, 17.06.1897)
descendente de exilados andaluzes que se radicaram em Alcaria Ruiva (freguesia do concelho de Mértola), caben-
do-lhe desde essa altura a representação em Lisboa. Alonso Gomes destacou-se na actividade mineira de manga-
nés e de chumbo no Baixo Alentejo e na navegação a vapor entre Mértola e Vila Real de Santo António e entre
Lisboa e os portos do Algarve (1874-1897). Natural da vila de Mértola aí passou a sua juventude onde se casou
com D. Maria Augusta, enviuvando desta em 1 de Setembro de 1870, sem descendência. Era filho de exilados es-
panhóis, Andrés Gomez, que estabeleceu residência em Alcaria Ruiva, lojista e pequeno proprietário, natural de
Villanueva de Castillejos e de sua mulher Maria Rafaela Martin, natural de El Almendro, que morreu em Mértola,
in MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «ALONSO GOMES & C.ª: a actividade mineira e a na-
vegação a vapor entre Mértola e Vila Real de Santo António e entre Lisboa e os portos do Algarve (1870-1905)»,
art. cit., pp. 5-6 e p. 25.

85. Informação prestada pelo genealogista Miguel Centeno Neves.

86. Sobre este industrial andaluz veja-se o Apêndice biográfico n.º 7.

87. António Velasco Hernández nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1841. Filho de António Velasco
González e de Rosalia Hernández. Casou no dia 26 de Maio de 1890, em V.R.S.A., com Joana da Cruz Soares.
Depois desta sociedade teve um estabelecimento próprio, in CORREIA, António Capa Horta, Memórias &
Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, Albufeira,
Arandis Editora, 2020, p. 113.

269
Castillejos, 1841)88, antigo caixeiro da firma «Ramirez & Pêgo»89. A firma, constituída no dia
11 de Agosto desse ano, denominou-se «Velasco, Pêgo & Cumbrera»90.

Anos mais tarde abriu uma casa de câmbio, que, já no decorrer do século XX, acabaria
por vender ao Banco Pinto Magalhães91.

5.5.2. Na Indústria

O grande dinamismo da lota de V.R.S.A., vastamente frequentada por negociantes que chega-
vam por Ayamonte, a abundância de sal de qualidade produzido no concelho vizinho de Castro
Marim, assim como o fácil acesso ao mar, foram factores determinantes para a exportação e o
escoamento dos produtos (pescado e conservas).

Além disso, «Vila Real de Santo António possuía ainda vastos incultos arenosos propí-
cios à instalação de edifícios fabris, tendo sido, por isso, um dos sítios escolhidos pelos empre-
sários conserveiros para a instalação das suas fábricas»92, razão de peso para o florescimento
desta vila como um dos dois maiores centros conserveiros do Algarve – o outro era Vila Nova
de Portimão – e um dos maiores do país.

Deste modo, é sem surpresa que os sectores da salga e da estiva da sardinha se consti-
tuíssem como um dos principais alicerces da indústria algarvia, suporte fundamental na expor-
tação de pescado para a Andaluzia e para Gibraltar. Situação que parece ter sido iniciada a 17
de Agosto de 1827, quando o súbdito britânico Luiz Cassar fundou uma fábrica de salgar, es-
tivar e extrair azeite da sardinha capturada na costa Oriental do Algarve. Para tal, e por forma

88. Silvestre Garcia-Pêgo nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1841. Filho de Sebastião Garcia-Pêgo e
de Joana de Mora Féria. Casou com Isabel Pérez Mora, filha de Pedro Pérez Ponce e de Maria del Carmen Mora.
Depois de 1867 teve um estabelecimento próprio, in ibidem.

89. Cf. ibidem.

90. Cf. ibidem, p. 114.

91. A maior parte dos dados biográficos de Juan Maestre Cumbrera foram recolhidos através de duas entrevistas
realizadas em V.R.S.A. à sua bisneta Dr.ª Maria Bella Cumbrera Tavares, nos dias 14 de Junho de 2019 e 16 de
Julho de 2019.

92. Cf. Márcia Luísa GRILO, «A moderna indústria conserveira em Vila Real de Santo António: aspectos socioe-
conómicos», in Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, catálogo da exposição «Algarve do Reino
à Região», op. cit., p. 158.

270
a adquirir os necessários instrumentos e equipamentos para iniciar a actividade fabril podendo
importar tais instrumentos livre de quaisqueres impostos alfandegários, o empresário reque-
reu à Junta do Comércio todos os «utencilios e materias-primas para conservação e aumento
da mesma Fábrica»93. E, nesse sentido, é-lhe dada autorização imediata para importar milha-
res de aduelas para barris, trinta pipas para azeite, vinte arráteis94 de algodão, pregos e papel
mata-borrão95.

E, no ano seguinte, seria a vez do português António Mello lhe seguir as pisadas.
Construindo a sua fábrica ao lado da de Cassar, na Rua da Rainha. Ambas produziam azeite,
sardinha e atum em salmoura, que envasilhavam em barricas de madeira para depois exporta-
rem maioritariamente para Itália96. Foi assim que surgiram os antecedentes da moderna indústria
conserveira, que iria revolucionar a indústria algarvia a partir do último quintel do século XIX.

Como foi visto no capítulo anterior alguns dos mais bem sucedidos industriais conser-
veiros, do final do século XIX e do início do século XX, começaram a sua actividade profis-
sional na vila em casas comerciais. Eram os famosos caixeiros. Actividade que terá sido essen-
cial para conhecer a sociedade e a economia local, assim como para estabelecer contactos com
outros andaluzes do lado de lá da fronteira, nomeadamente de Ayamonte, onde se deslocavam
com frequência, para se fornecerem de bens (p. ex.: tecidos) que depois eram comercializados
em V.R.S.A.

Presume-se ter sido uma actividade bastante lucrativa, uma vez que foram eles os pri-
meiros a se deslocarem do comércio para a indústria. Para tal era necessário algum capital para
investir, uma vez que os custos de instalação eram necessariamente mais avultados. Mudança
de sector – do comércio para o sector da indústria – que revela que estes antigos comerciantes
possuíam algumas qualidades necessárias para levar a cabo essa mudança: espírito de iniciativa,

93. Cf. A.H.M.O.P.T.C., Fundo da Junta do Comércio, Processo de licenciamento de fábricas e matrícula de ser-
vidores, Salga de sardinha, 1830.

94. Antiga unidade de medida de pesos, correspondente a 459 gramas.

95. Cf. MESQUITA, José Carlos Vilhena, «Economias dominantes e relações periféricas. A proto-industrialização
do Algarve (1810-1852) – ideias síntese», in AA. VV., Estudos II – Faculdade de Economia da Universidade do
Algarve, Faro, Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, 2005, p. 46.

96. Cf. ibidem, pp. 46-47.

271
capacidade de trabalho, empreendedorismo, ambição, visão estratégica, organização de traba-
lho, organização empresarial, foram decerto, características tidas pelos novos empresários.

Por outro lado, sabe-se que «ao longo da segunda metade do século XIX os bancos por-
tugueses se empenharam activamente na concessão de fundos (créditos bancários) a toda uma
série de empresas industriais»97.

O Inquérito Industrial de 1881 confirma o peso da indústria conserveira no sector in-


dustrial do concelho. Das quatro fábricas compiladas e descritas no referido Inquérito só uma é
que não é de conservas, mas sim de tecelagem. No entanto é detida por um andaluz, anos mais
tarde também feito industrial conserveiro, e os seus tecelões eram todos eles espanhóis residen-
tes em V.R.S.A.98

O Inquérito começava por chamar a atenção para as especificidades de cada época de


pesca do atum – as chamadas épocas «de direito» e «de revez». A época «de direito», normal-
mente situada entre finais de Abril e 15 de Julho, era a época em que era pescado o atum que
se dirigia para o Mediterrâneo. Considerada a época principal, por ser a primeira no calen-
dário e aquela que possibilitava maiores lucros. Era pescado nas armações do cabo de Santa
Maria, Ramalhete, Forte e Oira. Por outro lado, a época «de revez» era normalmente reali-
zada entre 15 de Junho e 15 de Setembro, período em que era capturado o atum que volta-
va do Mediterrâneo. Era pescado nas armações de Abobora, Medo das Cascas, Três Irmãos e
Livramento. O Inquérito informava, ainda, que cada uma das oito armações em actividade em-
pregava, em média, cerca de 300 homens99.

Feita esta pequena introdução, o documento passava para a descrição das quatro fábri-
cas. Todas constituídas entre 1879 e 1881. E tendo a particularidade de todos os seus fundadores

97. Cf. Jaime REIS, «A industrialização num país de desenvolvimento lento e tardio: Portugal, 1870-1913», in
Análise Social, vol. XXIII, n.º 96, 1987-2.º, p. 216.

98. Cf. Inquérito Industrial de 1881. Inquérito directo. Segunda Parte. Visita às Fábricas. Livro Terceiro, op. cit.,
p. 18.

99. Cf. ibidem, pp. 19-20.

272
e proprietários serem de naturalidade estrangeira: dois genoveses100e quatro andaluzes (El
Almendro101, Puebla de Guzmán102 e dois de Villanueva de los Castillejos103).

À data do Inquérito três das quatro fábricas empregavam cerca de 258 operários, da se-
guinte forma discriminados: 128 homens, 118 mulheres e doze menores. Vejamos o seguinte
quadro em que se sistematiza alguns dados recolhidos no respectivo Inquérito:

Quadro n.º 5.06: Indústrias instaladas em V.R.S.A. em 1881

matérias-primas
Custo anual das

Produção em
Proprietário

Número de

Facturação
Fundação
Indústria

operários
Nome da
Fábrica

Ano da

(M+F)

anual
1880
Sebastião Tecidos de Sebastião 16
1879 1 281 réis s./i. s./i.
Ramires linho Ramires (8 + 8)
104

Conservas Firma 178


Santa 14 200 54 000
de atum em Parodi & 1879 (100+70+8 335 604 kgs
Maria réis réis
escabeche Roldan menores)
Conservas Francisco 64
São 18 000
de atum em Rodríguez 1880 (20+40+4 6 000 réis 100 kgs
Francisco réis
escabeche Tenório menores)
Conservas Sebastião
Migoni 1881 s./i. s./i. s./i. s./i.
de atum Migoni

Fonte: Inquérito Industrial de 1881. Inquérito directo. Segunda Parte. Visita às Fábricas. Livro Terceiro, Ministério
das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881, pp. 18-23.

O Inquérito de 1881 fornecia, igualmente, informações referentes às matérias-primas


utilizadas e aos principais mercados compradores. Ficava a saber-se que na fábrica de tecela-
gem de Sebastián Ramírez era utilizada como matéria-prima o fio de linho e de estopa, impor-
tado da Escócia, uma vez que o português era mais caro. E que o principal mercado de consumo

100. Ângelo Parodi fu Bartolomeu e Sebastião Migoni.

101. Sebastián Ramirez.

102. Alfonso Gomez Sanches.

103. Maria del Carmen Garcia-Pêgo, viúva de Miguel Gomes Roldan, e Francisco Rodríguez Tenório.

104. Os tecelões são todos espanhóis, mas residentes em V.R.S.A.

273
era o interno105. Por outro lado, nas fábricas de conservas a situação era a seguinte: as maté-
rias-primas vinham de Itália e Espanha (azeite), da Flandres (folha de Flandres) e de Portugal
(madeira para construir os barris)106. No que diz respeito aos mercados de consumo a situação
era a seguinte: tudo o que era produzido na «Santa Maria» ia para a Itália, enquanto que a «São
Francisco» repartia a venda da sua produção por Portugal, Itália e Brasil107.

Importante alteração na indústria local foi a chegada da máquina a vapor a V.R.S.A.


Inovação tecnológica que possibilitava o aumento da produção industrial. As primeiras má-
quinas a vapor que chegaram à vila vieram apetrechar justamente duas conserveiras: a «Santa
Maria», da firma «Parodi & Roldan», em 1879; e a «São Sebastião», de Francisco Rodríguez
Tenório, em 1884. Tinham a potência de quatro e seis cavalos respectivamente e destinavam-se
a fazer funcionar as máquinas operadoras para o fabrico do vazio e/ou a impressão litográfica108.
Que vieram complementar as caldeiras de pressão que estas duas fábricas já possuíam, confor-
me nos dá conta o Inquérito Industrial de 1881109. Caldeiras que eram essenciais para acciona-
rem as máquinas a vapor ou para garantirem a reforma dos meios de esterilização.

E, a seguir a estas três fábricas conserveiras, que, em V.R.S.A., foram as precursoras,


muitas outras se seguiram. Sempre com a preponderância dos andaluzes. Que tanto podiam ser
fundadores, proprietários, investidores de capital e gerentes empresariais. Situação que durou
praticamente duas décadas, uma vez que a primeira fábrica inteiramente detida por industriais
portugueses, a «Guadiana», surgiu somente em 1900, isto é, duas décadas depois da fundação
da primeira fábrica de conservas em V.R.S.A., a «Santa Maria».

105. Cf. Inquérito Industrial de 1881. Inquérito directo. Segunda Parte. Visita às Fábricas. Livro Terceiro, op.
cit., p. 18.

106. Cf. ibidem, p. 22.

107. Cf. ibidem.

108. Cf. CUSTÓDIO, Jorge, «A indústria conserveira vila-realense. Um caso peculiar de urbanização industrial e
de património», in Monumentos, n.º 30, s./l., Instituto de Habitação e da Reabilitação Urbana, Dezembro de 2009,
pp. 117-118.

109. De acordo com o Inquérito Industrial de 1881 a fábrica «Santa Maria» possuía «um motor a vapor, com
uma força de quatro cavalos vapor, empregando dezasseis caldeiras para cozer o atum»; enquanto que a fábrica
«São Francisco» possuía «quatro caldeiras de ferro sem motor», in Inquérito Industrial de 1881. Inquérito directo.
Segunda Parte. Visita às Fábricas. Livro Terceiro, op. cit., pp. 80-81 e pp. 292-293.

274
Procedendo-se à análise das primeiras fábricas de conservas instaladas em V.R.S.A., en-
tre 1879 e 1901, verifica-se a preponderância dos industriais andaluzes (e italianos), radicados
em V.R.S.A., no desenvolvimento deste surto conserveiro. Vejamos.

Quadro n.º 5.07: Primeiras fábricas de conservas de atum em escabeche fundadas em


V.R.S.A., entre 1879 e 1901110

Ano da Nome
Proprietário(s) Naturalidades dos proprietários
fundação da fábrica
Ângelo Parodi fu Bartolomeu
(n. Génova), Maria del Carmen Garcia-
Pêgo (n. Villanueva de los Castillejos),
1879 Santa Maria Firma Parodi & Roldan111
viúva de Miguel Gomes Roldan
(n. Puebla de Guzmán) e por Alfonso
Gomez Sanches (n. Puebla de Guzmán)
Francisco Rodríguez
1880 São Francisco Villanueva de los Castillejos
Tenório
1881 São Sebastião Sebastião Migoni Italiano
1884 Fábrica Ramires Sebastián Ramírez El Almendro
António Soares Barreto (n. Portugal) e
António Soares Barreto e
1886 Barreto & C.ª Juan Maestre Cumbrera (n. Villanueva
Juan Maestre Cumbrera
de los Castillejos)
Alberto Rodrigues Centeno
(n. Villanueva de los Castillejos)
1894 Peninsular Centeno, Cruz & C.ª
e os restantes eram de nacionalidade
portuguesa

110. Para se ficar a saber a localização exacta das fábricas de conservas instaladas em Vila Real de Santo António,
entre 1879 e 1925, veja-se o Anexo cartográfico n.º 12.

111. A primeira fábrica de conservas de peixe fundada em V.R.S.A. foi a «Santa Maria», propriedade da firma
societária «Parodi & Roldan», que, por sua vez, era propriedade do genovês Ângelo Parodi fu Bartolomeu e da
firma associada M. G. Roldan, que começou oficialmente a laborar no dia 2 de Fevereiro de 1879. O genovês
Parodi deu a técnica industrial, enquanto que a M. G. Roldan entrou com o capital inicial. A firma M. G. Roldan
tinha sido fundada por Miguel Gomes Roldan, natural de Puebla de Guzmán (província de Huelva), que dista a
apenas 15 kms de Villanueva de los Castillejos. Porém, como Miguel Gomes Roldan faleceu em 1865, em 1879,
aquando da fundação da fábrica de conservas, a firma era detida pela sua viúva, Maria del Carmen Garcia-Pêgo,
natural de Villanueva de los Castillejos, e pelo seu primo Alfonso Gomez Sanchez, natural de Puebla de Guzmán.
O primeiro gerente dessa mesma firma societária, que consta do Inquérito Industrial de 1881, seria Alfonso Gomez
Sanchez, uma família emigrada que deu um governador civil de Faro e quatro presidentes de Câmara em V.R.S.A.
(Informações prestadas pelo Dr. António Capa Horta Correia).

275
José Fernandes Piloto (Pai) e José
Fernandes Piloto (filho) (n. V.R.S.A.),
1900 Guadiana Pilotos, Gomes & Capa112
Manuel Francisco Gomes113 (n. Mértola)
e José Joaquim Capa (n. Moura)
1901 Esperança Pedro José Cândido & C.ª Português

Fontes: Inquérito Industrial de 1881. Inquérito directo. Segunda Parte. Visita às Fábricas. Livro Terceiro,
Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881, pp. 18-23; AMARO,
Armando Filipe da Costa, A indústria conserveira na construção da malha urbana no Algarve: das estruturas
produtivas à habitação operária (1900-1960), dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura apresentado à
Escola de Artes da Universidade de Évora, Évora, 2020, Anexo documental, pp. 4-11; CORREIA, António Horta,
Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez,
Albufeira, Arandis Editora, 2020, pp. 130-131; GRILO, Márcia Luísa, «A moderna indústria conserveira em Vila
Real de Santo António: aspectos socioeconómicos», in Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista,
coord. de António Rosa Mendes, s./l., Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 2010, p. 158 e p. 187;
MEDEIROS, Ismael Estevens e BANDARRA, Pedro Miguel, «A Indústria Conserveira em Vila Real de Santo
António», in al-madam, revista online, IIª série, n.º 19, tomo II, Janeiro de 2015, p. 109; e informações prestadas
pelo Dr. António Capa Horta Correia.

De referir que, com o decorrer dos anos, duas fábricas de conservas foram adquiri-
das por outros proprietários, também eles maioritariamente estrangeiros. Primeiro foi a fábrica
«Migoni» que, em 1886, foi adquirida pela firma «Parodi & Roldan», que, desde 1879, já detin-
ha a «Santa Maria», com o objectivo de ganhar capacidade de produção114. E, anos mais tarde,
em Julho de 1908, foi a vez da «Peninsular», fundada em 1884, e, desde essa altura, pertença
e administrada pela sociedade «Centeno, Cruz & C.ª», que foi vendida à sociedade «Centeno,
Cumbrera & Rodríguez», composta pelos sócios Alberto Marques Centeno, de Lisboa, e por
Juan Maestre Cumbrera, Esteban Rodrigues y Rodrigues e José Rodríguez Dias115, estes três

112. A sociedade «Pilotos & Capa» usava a expressão «Casa fundada em 1892», apesar de essa fábrica de conser-
vas só ter sido fundada em 1899 por «Pilotos, Gomes & Capa». Tal situação devia-se ao facto de dois dos sócios
remontarem a 1892, por ter sido nesse ano que José Joaquim Capa, que veio a ser o seu principal sócio, ter ini-
ciado a actividade comercial com sócio da «Gomes & Capa», que tinha o seu estabelecimento na Praça Marquês
do Pombal, em V.R.S.A., in CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez
Tenório, Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 154.

113. Comendador e neto de Alonso Gomes.

114. Cf. GRILO, Márcia Luísa, «A moderna indústria conserveira em Vila Real de Santo António: aspectos so-
cioeconómicos», art. cit., p. 158.

115. José Rodríguez Dias era conhecido pela alcunha de «Platero».

276
últimos naturais de Villanueva de los Castillejos mas residentes em V.R.S.A.116. A aquisição da
«Peninsular» custou 18 020$00 réis117.

Deve-se acrescentar que a indústria de conservas originou a criação, por sua vez, de
outros negócios a montante, também eles criados e geridos por conserveiros andaluzes: a
«Litografia Progresso», fundada em 1894, pelos sócios Sebastián García Ramires, G. R. Perez,
S. V. Velasco, E. R. Rodrigues e J. M. Cumbrera118, essencial para a produção das latas de con-
servas; e uma «fábrica de chaves de arame para abrir latas de conservas», fundada em 1911,
pelos sócios Ramires, Perez e Cumbrera119.

Entre 1889 e 1904 a exportação nacional de sardinhas de conserva mais do que triplicou,
passando das 7 871 para as 23 788 toneladas, mantendo sempre uma tendência de crescimen-
to120. Em 1905, um quarto de todas as quantidades pescadas no país provinha dos portos algar-
vios, de onde se destacavam os portos de Vila Nova de Portimão, no Barlavento, e os de Olhão
e de V.R.S.A., no Sotavento121.

Para se ter a dimensão relativa da laboração de cada uma destas unidades fabris, no final
do século XIX e no princípio do século XX, vejamos os seguintes quadros em que se compilam
os valores das matérias-primas laboradas, em 1897, e compradas em lota, em 1902, por cada
uma das fábricas sediadas na vila.

116. Cf. A.H.M.O, Fundo do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Sotavento do Algarve, Firmas ins-
critas no Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do concelho de Olhão (1908-1941).

117. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 297.

118. Cf. Anuario Almanach Commercial, op. cit., 1894, p. 1260.

119. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1911, pp. 2865-2867.

120. Cf. CASTRO, Armando de, A revolução industrial em Portugal no século XIX, Lisboa, 1971, pp. 278-295.

121. Cf. CABRAL, Manuel Villaverde, Portugal na alvorada do século XX: forças sociais, poder político e cres-
cimento económico desde 1890 a 1914, Lisboa, A Regra do Jogo, 1978, p. 281.

277
Quadro n.º 5.08: Número de atuns laborados nas fábricas de V.R.S.A. na temporada de «atum
de direito» de 1897

Industrial ou Sociedade Atuns Atuarros122 Total %


Parodi & Alfonso Gomes 8 505 1 052 9 557 43,60
Féria Tenório 4 021 585 4 606 21,01
Sebastián Ramirez 2 633 580 3 213 14,66
Migoni 1 875 392 2 267 10,34
Centeno, Cruz & C.ª 1 237 254 1 491 6,80
J. E. Dominguez 581 85 666 3,04
Barreto 70 49 119 0,54
Total 18 922 2 997 21 919 100

Fonte: «A conserva de atum no Algarve», in Algarve e Alemtejo [sic], Faro, ano IX, n.º 424, edição de 26 de Junho
de 1898, p. 1.

O quadro demonstra que a sociedade industrial «Parodi & Alfonso Gomes» laborou
mais de dois quintos do total dos atuns nas fábricas de conservas de V.R.S.A. na temporada de
«atum de direito» de 1897. Fica também a saber-se que apenas 0,54% da totalidade do atum foi
transformada numa conserveira de capital nacional, tendo o restante sido laborado em conser-
veiras de capital estrangeiro. Neste particular, surgem as conserveiras de capital inteiramente
andaluz, que trabalharam cerca de 45,51% do total dessa matéria-prima.

Quadro n.º 5.09: Valores de compras da matéria-prima atum, na lota de atum de V.R.S.A., em
1902, por empresa

Industrial ou Sociedade Valores de compras %


Ângelo Parodi fu Bartolomeu 127 897$496 36,15
Ramirez & C.ª 48 939$477 13,83
Francisco Rodríguez Tenório 44 327$643 12,53
Pilotos, Gomes & Capa 24 465$830 6,92
Domenico Migone 21 434$781 6,06
Luigi Pistone 19 350$363 5,47

122. O atuarro é uma das espécies de atum. É também conhecido pela designação de atum-rabilho.

278
Centeno, Cruz & C.ª 7 995$025 2,26
Pedro José Cândido & C.ª 6 956$016 1,97
Miguel Banzini 2 682$081 0,76
Diversos compradores 4 440$748 1,26
Espanha 45 284$406 12,80
Total 353 773$866 100

Fonte: «A pesca de atum na costa do Algarve», in Guadiana, Vila Real de Santo António, ano I, n.º 6, edição de
30 de Abril de 1903, p. 4.

Analisando os valores gastos na compra de atum, no mercado de atum de V.R.S.A. para


o ano de 1902, verifica-se que os mesmos podem ser agrupados em quatro grandes blocos: em-
presários-industriais italianos, com cerca de 48,5%; empresários-industriais andaluzes, com cer-
ca de 29%; empresários-industriais portugueses, com cerca de 9,5%; e, finalmente, o atum que
era exportado para Espanha, que representava cerca de 13% da totalidade dos valores gastos.

Estes dados revelam que cerca de 90% do atum transaccionado na lota de V.R.S.A. para
este período era adquirido por empresários-industriais estrangeiros, sendo que a maioria deles
era proprietário de unidades conserveiras em V.R.S.A. Em 1902, por exemplo, entre os nove
maiores compradores de atum na lota de V.R.S.A. quatro eram italianos, três andaluzes e so-
mente dois eram portugueses.

Refira-se que o mesmo relatório informava que o rendimento arrecadado pelo Estado por
via de impostos foi de aproximadamente 18 000$00, isto é, cerca de 5% do total das vendas123.

Com uma taxa de crescimento de 8% ao ano para o período compreendido entre 1885 e
1900, a indústria conserveira revelava-se um sector apetitoso para o surgimento de novas uni-
dades fabris em solo português. Revelando-se o seu produto, na maior parte dele exportado, ser
muito competitivo124. E foi isso mesmo que aconteceu com a fundação de novas fábricas em
todo o país: se em 1890 eram dezoito (cinco em V.R.S.A.), quinze anos depois eram já setenta

123. «A pesca de atum na costa do Algarve», in Guadiana, Vila Real de Santo António, ano I, n.º 6, edição de 30
de Abril de 1903, p. 4.

124. Cf. REIS, Jaime, «O atraso económico português em perspectiva histórica (1860-1913)», in Análise Social,
vol. XX, n.º 80, 1984, p. 19.

279
e seis (oito em V.R.S.A.) e, em 1922, com o boom conserveiro proporcionado pela Primeira
Guerra Mundial, eram 289125.

Crescimento das unidades fabris que também usufruiu da contribuição dos andaluzes
radicados no Algarve. Deste modo, após a morte de Sebastián Ramírez, em 1900, quatro dos
seus netos, todos eles filhos do Frederico Alexandrino Garcia Ramirez, decidem aumentar as
unidades fabris da conserveira a operarem no Algarve126. Assim sendo, esta terceira geração da
família Ramírez abre uma primeira unidade em Albufeira, em 1908127, e, em Outubro de 1910,
constituem uma sociedade para a exploração de conservas de peixe «em azeite ou molhos e
salmoura» em Olhão128. Expansão fabril à imagem do que já tinha acontecido com a congé-
nere conserveira da «Feu Hermanos» que, depois de aberta a sua primeira fábrica no Algarve,
em Vila Nova de Portimão (em 1902), vai abrir mais duas unidades fabris na região: em Olhão
(c. 1906) e na Mexilhoeira da Carregação (após 1915). Os objectivos deste dinamismo empre-
sarial pareciam claros: crescimento da capacidade produtiva e o consequente aumento da capa-
cidade exportadora dos produtos fabricados e o usufruto de economias de escala.

Com a entrada do século XX dois factores em muito concorreram para o crescimento


da indústria conserveira no Algarve: a escassez de cardumes de sardinha na costa francesa, ao
mesmo tempo em que se verificava a abundância destes na costa algarvia129. Situação que se ve-
rificou até ao início da Primeira Grande Guerra Mundial130. Deste modo, o Algarve beneficiou

125. Cf. PEREIRA, Miriam Halpern, Diversidade e Assimetrias: Portugal nos séculos XIX e XX, Lisboa, Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2001, p. 85.

126. A sociedade foi constituída no dia 7 de Outubro de 1910 e dela faziam parte os seguintes sócios fundadores:
Sebastião Garcia Ramirez, Mário Garcia Ramirez, D. Maria Emilia Garcia Ramirez de Sanchez e D. Maria das Dores
Garcia Ramirez de V. Garcia, in A.H.M.O., Fundo do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Sotavento
do Algarve, Firmas inscritas no Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do concelho de Olhão (1908-1941);
SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos), S.A., 2003, p. 46.

127. Cf. SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, op. cit., p. 44.

128. Cf. A.H.M.O., Fundo do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Sotavento do Algarve, Firmas
inscritas no Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do concelho de Olhão (1908-1941); SOARES, Nelson,
Ramirez – memórias de cinco gerações, op. cit., p. 46.

129. Cf. GRAUX, Lucien, Le Portugal Economique. Rapport a M. le Ministre du Commerce et de l’ Industrie,
Paris, 1937, pp. 153-158.

130. Porém, parece que fora do Algarve, nomeadamente nos distritos de Leiria, Lisboa e Santarém, a situação
era bastante diferente. Em 1900 a oferta de sardinha era considerada bastante inelástica, sendo que, ao mesmo
tempo, reinava a incerteza quanto ao futuro da sua oferta, em virtude da peculiar oceanografia da sardinha por-
tuguesa. Preocupação registada num relatório oficial de 1906 onde se pode ler a seguinte passagem: «as suas

280
da oferta excepcional desta matéria-prima essencial para as conservas de peixe, ao mesmo tem-
po em que assistia à redução da concorrência de alguns produtores estrangeiros localizados em
França131. De facto, conforme já se viu, em 1905 um quatro de toda a pesca nacional provinha
do conjunto dos portos algarvios132.

Entretanto esse crescimento quantitativo também apresentava as suas dificuldades. Que


tinham que ver com a capacidade de absorção pelo mercado internacional das quantidades de
conserva produzidas. Segundo Jaime Reis «Não só não é evidente que a procura fosse tão elástica,
como se pode duvidar que esta indústria dispusesse de oportunidades significativas para reduzir
os seus custos, quer através de economias de escala, quer por meio de melhoramentos técnicos»133.

Porém, a indústria conserveira continuou a sua trajectória de crescimento. Porque, tal


como a indústria corticeira, ambas podiam ser caracterizadas pelos seguintes factores:

a) Indústrias fortemente dinâmicas;

b) As necessidades de equipamento poderiam ser facilmente satisfeitas por firmas


portuguesas134;

c) Eram indústrias de baixa intensidade de capital, conforme se pode avaliar pelo facto de
no princípio do século XX, no Algarve, um dos principais centros destas duas activida-
des, a relação capital-produção ter sido de 0,07, no caso da cortiça, e 0,25, no caso das
conservas de peixe135;

inesperadas flutuações, os seus caprichosos movimentos são o ponto de interrogação que se levanta como a espada
de Dámocles, sempre ameaçadora, sobre a cabeça dos fabricantes: faltará sardinha ao cabo de algum tempo e su-
cederá a nós o mesmo que aos Franceses, que, tendo visto as suas costas povoadas de peixe e criado grande desen-
volvimento a indústria de conservas em todas elas, têm, por mais de uma vez, passado pelo desgosto e o desespero
de as ver abandonadas?», in «Relatório anual. 1905. Distritos de Leiria, Lisboa, Portalegre e Santarém», in Boletim
do Trabalho Industrial, n.º 2, 1906, p. 91.

131. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 300.

132. Cf. CABRAL, Manuel Villaverde, Portugal na alvorada do século XX: forças sociais, poder político e cres-
cimento económico desde 1890 a 1914, op. cit., p. 281.

133. Cf. Jaime REIS, «O atraso económico português em perspectiva histórica (1860-1913)», in Análise Social,
vol. XX, n.º 80, 1984, p. 19.

134. Cf. REIS, Jaime, «A industrialização num país de desenvolvimento lento e tardio: Portugal, 1870-1913», in
Análise Social, vol. XXIII, n.º 96, 1987-2.º, p. 219.

135. Cf. A. MONTEIRO, «Relatório dos Serviços da 4.ª Circunscrição dos Serviços Técnicos da Indústria», in
Boletim do Trabalho Industrial, n.º 18, 1905.

281
d) E, ainda, o facto de estas indústrias escoarem a quase totalidade da sua produção para o
mercado internacional, no caso concreto para países industrializados136.

Desta forma as indústrias conserveira e corticeira foram desenvolvendo-se, obtendo ta-


xas de crescimento anuais muito significativas quando comparadas com as restantes indústrias.
Analisando-se a percentagem de cada um destes produtos no total das exportações portuguesas,
verifica-se que ambas as indústrias gozaram sempre de um tendência de crescimento. Na indús-
tria corticeira desde 1850 a 1914, e na conserveira de 1870 a 1914, conforme se pode compro-
var através do seguinte quadro.

Quadro n.º 5.10: Composição das exportações portuguesas (em %)

Produto 1850-59 1860-69 1870-79 1880-89 1890-99 1900-09 1905-14


Cortiça 2,5 3,6 4,4 8,9 9,3 8,8 9,4
Peixe 0,7 0,8 1,3 1,2 1,3 1,4 1,9
Conservas de peixe – – 0,1 2,1 4,3 5,5 6,4

Fonte: LAINS, Pedro, A Economia Portuguesa no Século XIX. Crescimento Económico e Comércio Externo,
1851-1913, colecção Análise Social, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995, p. 92.

Gráfico n.º 5.04: Percentagem destes dois sectores no total das exportações portuguesas, entre
1850 e 1914

10
9 Cortiça
8
7
Conservas
6 de peixe
5
4
3
2
1
0
1850-59 1860-69 1870-1879 1880-1889 1890-1899 1900-1909 1905-1914

Fonte: LAINS, Pedro, A Economia Portuguesa no Século XIX. Crescimento Económico e Comércio Externo,
1851-1913, colecção Análise Social, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995, p. 92.

136. Cf. PEREIRA, Miriam Halpern, Diversidade e Assimetrias: Portugal nos séculos XIX e XX, op. cit., p. 84.

282
O sector tinha crescido e as fábricas davam emprego a um cada vez maior número de
operários e operárias na vila. Das três fábricas de conservas e dos 258 operários e operárias in-
ventariados no Inquérito Industrial de 1881, passado sensivelmente um quarto de século, isto é,
em 1907, eram já seis fábricas e 1 007 operários e operárias. Sempre com uma enorme prepon-
derância das mulheres. É isto que podemos concluir através da leitura do mapa-resumo produ-
zido pelo monografista Ataíde Oliveira:

Quadro n.º 5.11: Fábricas conserveiras, sediadas em V.R.S.A., em 1907

Proprietários Local Soldadores Trabalhadores Mulheres Menores Total


Pilotos Gomez & Avenida
16 10 120 6 152
C.ª [sic]137 D.ª Amélia138
Avenida
Centeno Cruz & C.ª 12 10 80 4 106
D.ª Amélia
Avenida
Ramires & C.ª 19 40 160 6 225
D.ª Amélia
Francisco Rua do
Rodríguez Tenório Príncipe 18 40 140 6 204
& Sucessores Real139
Pedro J. Candido Rua do
8 10 50 4 72
& C.ª Príncipe Real
Angelo Paroditeu Avenida
28 60 150 10 248
Bartolomeu D.ª Amélia
Totais 101 170 700 36 1007

Fonte: OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, 3.ª edição, Faro, Algarve em
Foco Editora, 1989 [1908], p. 176.

Em 1907 a vila era um dos principais centros conserveiros do país. Atrás de Setúbal e
equiparado a Vila Nova de Portimão. O aumento registado ao nível do operariado conserveiro
na vila (242 em 1881, 388 em 1890, 818 em 1903 e 1 007 em 1907)140 encontrava-se em linha
com o aumento registado no operariado conserveiro a nível nacional, que, entre 1890 e 1907,

137. O nome correcto dos proprietários era «Pilotos, Gomes & Capa».

138. Actual Avenida da República.

139. Actual Rua do Jornal do Algarve.

140. Cf. RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira, «Vila Real de Santo António, centro piscatório e conserveiro», in
O Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias (elementos para a sua história), op. cit., p. 420.

283
tinha quadruplicado, passando dos 2 500 para os 10 000 operários141. Indústria que não parava
de crescer também ao nível da percentagem na totalidade da composição do trabalho industrial
no país: 10,1% em 1896 e 12,9% em 1910142.

Porém, era a cidade de Setúbal que ocupava o papel cimeiro na indústria conserveira a
nível nacional, muito por influência dos industriais conserveiros de nacionalidade francesa que
lá instalaram as suas fábricas: a Firmin Julien, a Garrec, a Delory, a Chancerelle, entre outras.
Entre 1890 e 1910 o número de unidades fabris de conservas em Setúbal passou de quinze para
quarenta e o número de operários de 833 para 3 640143. Setúbal era a capital nacional da indús-
tria conserveira.

5.5.3. Serviços

5.5.3.1. A concessão da iluminação a gás de V.R.S.A.

Em Junho de 1885 a câmara municipal de V.R.S.A. regista um requerimento enviado pelos só-
cios John Clark e João Flores, ambos residentes em Lisboa, a solicitar que a autarquia lhes con-
cedesse o exclusivo, por um período de cinquenta anos, para que estabelecessem «uma fábrica
de gás para a iluminação desta vila»144.

Depois de ser apresentado um projecto para a concessão, a mesma é aprovada, em ses-


são extraordinária de 5 de Agosto de 1885145. Entre as muitas cláusulas aprovadas, ficou estipu-
lado que a câmara municipal «pagasse à parte contratante 13$500 por cada candelabro acesso,
desde o sol posto até ao nascer do sol»146.

141. Cf. MÓNICA, Maria Filomena, «Capitalistas e industriais (1870-1914)», in Análise Social, vol. XXIII, n.º
99, 1987-5.º, p. 842.

142. Cf. LAINS, Pedro, «A Indústria», in História Económica de Portugal, 1700-2000, vol. II, O Século XIX, or-
ganizada por Pedro Lains e Álvaro Ferreira da Silva, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005, p. 270.

143. Cf. MÓNICA, Maria Filomena, «Capitalistas e industriais (1870-1914)», art. cit., p. 842.

144. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909) –
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 351.

145. Cf. ibidem.

146. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, op. cit., p. 178.

284
Relembre-se que, até essa altura, apenas três cidades em todo o país – Lisboa, Porto e
Setúbal – é que gozavam o privilégio de ter iluminação pública a gás de óleo, sendo que V.R.S.A.
seria a quarta localidade a tê-lo, antes de cidades como, por exemplo, Coimbra, Aveiro, Leiria,
Évora, Portalegre ou Viana do Castelo.

Entretanto, no dia 24 de Outubro de 1885, foi aprovado um requerimento de John Clark


e João Flores a solicitar a autorização para trespassarem a concessão que lhes tinha sido con-
cedida à sociedade «The Anglo-Portuguese Gas and General Lighting, Limited», com sede em
Londres. Sociedade que se constituiu com um capital inicial de 20 000 libras147.

Porém, em 1893, a sociedade «Centeno, Gomes, Perez & Companhia», com sede em
V.R.S.A., adquire a exploração da concessão para estabelecimento e fornecimento de gás
a V.R.S.A. e a sua respectiva fábrica148. Esta sociedade tinha sido constituída em 1876, em
V.R.S.A., e era composta pelos seguintes sócios: José António Gomes149, Gavino Rodrigues
Peres150, Alberto Rodríguez Centeno & Companhia151e Domingos Barbosa Centeno152, facto

147. Cf. ibidem.

148. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909) –
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 355.

149. José António Gomes (Ayamonte, c. 1860 – V.R.S.A., 4.02.1909) filho de Cayetano Ascencio e de Josepha
Gomez, ambos naturais de Ayamonte. Casou com Maria Carolina Ribeiro Alves (V.R.S.A., 1864), filha de João
Ribeiro Alves e Isabel Maria de Azevedo, ambos naturais de V.R.S.A. Foi um importante comerciante em V.R.S.A.,
chegando a ser proprietário de duas lojas na Praça. (Informações prestadas pelos genealogistas Dr. António Capa
Horta Correia e Bruno Portugal Gomes).

150. Gavino Rodrigues Peres era um comerciante, residente em V.R.S.A. Filho de Sebastián Tenório Morgado
(1815-1898) e de Candelária Rodríguez Pérez, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos. Gavino Rodrigues
Peres era irmão de Francisco Rodríguez Tenório, António Rodríguez Tenório e de Manuel Rodríguez Tenório, in
CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909). Notas de
António dos Santos Machado, op. cit., pp. 135-136.

151. Negociante, com escritório na rua de São Nicolau, n.º 5, em Lisboa.

152. Domingo Barbosa Centeno (ou Domingo Centeno Barbosa, ou ainda Domingo Rodrigues Centeno, que
usou em vida do Pai) era filho de Sebastián Rodríguez Centeno e de sua primeira mulher Isabel Alvarez Barbosa.
Nasceu em V.R.S.A. no dia 12 de Fevereiro de 1852 tendo falecido na mesma vila no dia 17 de Fevereiro de 1921.
Foi baptizado na igreja de Nossa Senhora da Encarnação, em V.R.S.A., a 24 de Fevereiro de 1852. Foi um im-
portante negociante e proprietário em V.R.S.A. e, anos mais tarde em data que não se conseguiu apurar, passou a
residir em Lisboa onde foi negociante. Residia na Rua dos Douradores, n.º 39, em Lisboa. (Informações prestadas
pelo genealogista Miguel Centeno Neves).

285
que deixa evidenciar o espírito de iniciativa destes quatro sócios, assim como a sua capacidade
financeira e de investimento.

Procedendo-se à análise do percurso migratório destes quatro sócios é possível encon-


trar três tipologias diferentes:

a) Dois andaluzes emigrados para V.R.S.A.: José António Gomes, natural de Ayamonte e
Gavino Rodrigues Peres, natural de Villanueva de los Castillejos;

b) Um andaluz, natural de Villanueva de los Castillejos, emigrado para Lisboa: Alberto


Rodríguez Centeno;

c) E, finalmente, um português, natural de V.R.S.A., filho de andaluzes, e emigrado para


Lisboa: Domingos Barbosa Centeno.

O que revela que o processo migratório Andaluzia-Portugal poderia ter várias modali-
dades e ser realizado em várias etapas. A emigração para Lisboa, de que a presente investigação
não estuda, poderia, assim, ser feita directamente da Andaluzia para Lisboa, ou, então, numa
primeira etapa rumo a V.R.S.A. e numa segunda etapa de V.R.S.A. rumo a Lisboa.

Situação que deixa pressupor uma comunidade dinâmica, com espírito empreendedor e
com ligações, familiares ou não, entre várias localidades. Numa espécie de trabalho em rede privi-
legiando os mesmos negócios. Redes que poderiam ser compostas por laços familiares – veja-se,
por exemplo, o caso dos Centenos de V.R.S.A. com os Centenos de Lisboa, ou dos Formosinho
de Loulé com os Formosinho de Lagos –, e/ou, outras vezes, pelo facto dos envolvidos serem
naturais do mesmo município andaluz, como, por exemplo, de Villanueva de los Castillejos.

Factores familiares ou geográficos (de naturalidade) que desempenhavam um papel de-


terminante na hora de se constituírem como sócios, e, deste modo, criarem uma determinada
sociedade. Que se constituía com o principal objectivo de mais facilmente conseguirem juntar
um certo nível de capital financeiro, por forma a adquirir participações sociais em outras em-
presas já existentes ou então a criar. Era o surgimento dos primeiros capitalistas andaluzes em
solo português – investidores em participações sociais e outros instrumentos financeiros com a
finalidade de obterem rentabilidade financeira –, como foram os casos de, entre outros, Alberto
Rodríguez Centeno e de Domingos Barbosa Centeno, que, na última década do século XIX,
detinham participações sociais em várias empresas e sociedades comerciais e industriais. Ou,

286
então, em companhias pesqueiras, como foi o caso de Manuel Roldan y Pêgo153, engenheiro na-
tural de V.R.S.A. e descendente de pais andaluzes emigrados para V.R.S.A, que, em 1895, era o
segundo maior accionista da «Companhia de Pescarias de Quarteira»154.

Refira-se, ainda, o facto de alguns andaluzes ou andaluzes de segunda geração terem


emigrado, ao longo da segunda metade do século XIX, para Lisboa. Começavam normalmen-
te como caixeiros em casas comerciais já instaladas na capital, para, com o tempo e com o di-
nheiro entretanto amealhado, montarem os seus próprios negócios ou possuírem participações
em outros. Era uma comunidade dinâmica, trabalhadora e em constante relação com V.R.S.A.

Foi isso que aconteceu, por exemplo, com Domingos Barbosa Centeno, conforme
atestam alguns dados da sua biografia: foi negociante e proprietário; dirigente da Associação
Comercial e Industrial de Vila Real de Santo António, que representou no cortejo comemo-
rativo por ocasião do centenário do Marquês de Pombal, em 8 de Maio de 1882155; fundador
e accionista da Companhia Progresso Fabril, criada em Lisboa, em 22 de Fevereiro de 1890,
destinada à fabricação de bolachas, biscoitos e massas alimentícias156; fundador e accionista da
Companhia Portuguesa de Escovas e Pincéis, fundada em 10 de Outubro de 1890157; e, em 1892,
era proprietário de uma cocheira para aluguer de trens e cavalos, na Rua das Pedras Negras, n.º
31, em Lisboa158. Ou, então, andaluzes que emigraram directamente para Lisboa, como foi o
caso de Alberto Rodríguez Centeno159, andaluz natural de Villanueva de los Castillejos, confor-

153. Manuel Roldan y Pêgo nasceu em V.R.S.A. em 1863. Filho de Miguel Gomes Roldan, natural de Puebla
de Guzmán (província de Huelva) e de Maria del Carmen Garcia-Pêgo, natural de Villanueva de los Castillejos.
Formou-se em engenharia de minas, em Lisboa, e casou com Felicidade Bravo Gomes, uma das herdeiras da avul-
tada fortuna de Alonso Gomes.

154. A Companhia de Pescarias de Quarteira foi fundada no dia 12 de Março de 1895, como uma sociedade anóni-
ma de responsabilidade limitada. Tinha o propósito a «pesca de atum, sardinha e outros peixes nos locais dos Olhos
de Água, Conceição Velha, Conceição Nova, na costa de Quarteira, ou em outros locais que sejam concedidos ou
adquiridos nas condições legais, bem como a sua preparação, venda e exportação», in Diário do Governo, n.º 203,
de 10 de Setembro de 1895, pp. 2470-2472.

155. Cf. OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, op. cit., p. 115.

156. Cf. Diário do Governo, n.º 46, de 27 de Fevereiro de 1890, pp. 427-428.

157. Cf. ibidem, n.º 235, de 15 de Outubro de 1890, pp. 2394-2396.

158. Cf. ibidem, n.º 171, de 5 de Agosto de 1898, p. 2059.

159. Refira-se, por curiosidade, que, em 1898, após a declaração de guerra de Espanha contra os Estados Unidos
da América, proferida a 23 de Abril, iniciando, dessa forma, o conflito militar que passou à história como a Guerra

287
me se pode ler numa notícia publicada, em 1898, no Album Ibero Americano, uma revista de
actualidades publicada em Madrid160:

La brillante posición que el Señor Centeno ocupa en el vecino reino la debe a su asiduo y honrado
trabajo, pues habiendo empezado su carrera comercial como simple dependiente ha creado, á fuerza
de constantes sacrificios, la importante casa de Alberto Centeno & C.ª [...]161.

5.5.3.2. O sector financeiro: a banca e os seguros

As instituições de crédito locais eram espaços institucionais onde convergia muito da circu-
lação monetária local e regional, do exercício de influência na vila e no próprio concelho. As
redes, por vezes promiscuas, dos negócios e da política, conferiam poder económico e estatu-
to social e político. Deste modo, ser agente local (também designado por representante) numa
determinada localidade era sempre um cargo de alguma influência, e, por tal, apetecível. Mas,
para o conseguir, era preciso conhecimentos, credibilidade e, por vezes, crédito. Assim, nos
primeiros anos do século XX, o mapa bancário e de seguros, em V.R.S.A., era composto pelos
seguintes agentes, todos andaluzes:

Hispano-Americana, e que conduziu àquilo que ficou conhecido por «El Desastre de 98», isto é, a derrota da
Espanha no referido conflito militar e a consequente independência de três colónias espanholas – Cuba, Porto Rico
e Filipinas – , o Álbum Ibero Americano atestava o poderio económico, assim como o nacionalismo e o patriotis-
mo, de Alberto Rodríguez Centeno da seguinte forma:

«Sr. Don Alberto R. Centeno, Jefe de la Casa Alberto Centeno y C.ª, propietaria de la Empresa de Navegación
de Algarbe y Guadiana en Portugal – Nos complacemos en publicar el retrato de este distinguido compatriota
oriundo de Villanueva de los Castillejos, de la provincia de Huelva, tan amante de España que, al declararse la
guerra con los Estados Unidos, dio mil duros para la suscripción nacional y ofreció 118 caballos de su propriedad
para el ejército.

«El señor Centeno honra la colonia española lisbonense por su acendrado patriotismo, por el interés que siente por
el país que lo acoje en su seno y por hallarse siempre dispuesto á cooperar en toda la obra de caridad y beneficen-
cia», in Álbum Ibero Americano, Madrid, n.º 26, edición de 22 de Julio de 1898.

160. O Álbum Ibero Americano foi uma revista publicada em Madrid, entre 1890 e 1909. Foi uma revista que se
caracterizou por ter uma linha editorial um pouco contraditória, uma vez que, ao longo da sua existência, tentou
manter um equilíbrio entre as ideias feministas que começavam a brotar na sociedade espanhola e as tendências
mais tradicionalistas, contendo artigos de ideologia conservadora.

161. Cf. Álbum Ibero Americano, Madrid, n.º 26, edición de 22 de Julio de 1898.

288
Quadro n.º 5.12: Agentes bancários e de seguros a operar em V.R.S.A. entre 1901 e 1913

Nome Actividade Anos


Pelo menos entre
Ramires & C.ª Agente bancário do banco «Economia Portugueza»
1901162 e 1913163
Agente bancário do «Banco Comercial de Lisboa»164,
Pelo menos entre
Ramires & C.ª do «Banco Comercial do Porto»165, do «Banco do
1905166 e 1907167
Alentejo» e do «Banco Alliança»
Juan Maestre Pelo menos entre
Agente bancário
Cumbrera 1907168 e 1913169
Pelo menos entre
M. G. Roldan Agente bancário
1907170 e 1913171
Juan Maestre Agente de seguros das seguradoras Pelo menos entre
Cumbrera «La Union y Fenix Español» 1905172 e 1913173
Pelo menos entre
Manuel Cumbrera Agente de seguros da «La Equitable»
1905174 e 1912175
Pelo menos entre
Manuel Cumbrera Agente de seguros da «Tagus»
1909176 e 1913177

162. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1901, pp. 1476-1477.

163. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1913, pp. 2830-2832.

164. Instituição bancária fundada em 1821.

165. Instituição bancária fundada em 1835.

166. Cf. MENDONÇA, Artur Ângelo Barracosa, «Contributos para a história da expansão do sistema bancário
no espaço regional (1874-1930): o caso do Algarve», comunicação apresentada no XXXI Encontro da Associação
Portuguesa de História Económica e Social (A.P.H.E.S.), realizado na Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra, no dia 18 de Novembro de 2011, p. 14.

167. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1907, pp. 2194-2195.

168. Cf. ibidem.

169. Cf. ibidem, 1913, pp. 2830-2832.

170. Cf. ibidem, 1907, pp. 2194-2195.

171. Cf. ibidem, 1913, pp. 2830-2832.

172. Cf. ibidem, 1905, pp. 2251-2252.

173. Cf. ibidem, 1913, pp. 2830-2832.

174. Cf. ibidem, 1905, pp. 2251-2252.

175. Cf. ibidem, 1912, pp. 2810-2812.

176. Cf. ibidem, 1909, pp. 2607-2609.

177. Cf. ibidem, 1913, pp. 2830-2832.

289
Pelo menos entre
M. G. Roldan Agente de seguros da «Norvick Union»
1909178 e 1913179
Agente de seguros da «Sociedade Portuguesa Pelo menos entre
Ramires & C.ª
de Seguros» 1911180 e 1913181

Fontes: B.N.P., Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira
Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901; Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira
Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912 e 1913;
MENDONÇA, Artur Ângelo Barracosa, «Contributos para a história da expansão do sistema bancário no es-
paço regional (1874-1930): o caso do Algarve», comunicação apresentada no XXXI Encontro da Associação
Portuguesa de História Económica e Social (A.P.H.E.S.), realizado na Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra, no dia 18 de Novembro de 2011, p. 14.

O quadro revela que algumas das famílias andaluzas mais ricas e prósperas da vila, além
de ligadas às actividades industriais das pescas e das conservas (famílias Ramírez e Cumbrera)
e da extracção mineira (M. G. Roldan), também se dedicavam à banca e aos seguros. Para tal,
eram representantes na vila de várias agências bancárias nacionais e de seguradoras nacionais
e até internacionais.

Mas não eram só as concessões de transportes marítimos182 e de gás, assim como à ban-
ca e aos seguros, que os andaluzes se dedicavam. Havia também outros serviços por eles pres-
tados na vila. Serviços essenciais e de um maior contacto com a população, como, por exem-
plo: Santiago Ponce y Sanches, médico entre 1896183 e 1897184; Carmem Quintana e Cayetana
Raymundo, modistas, entre, pelo menos, 1901185 e 1910186; Rafael Gomes y Gomes, esparteiro,

178. Cf. ibidem, 1909, pp. 2607-2609.

179. Cf. ibidem, 1913, pp. 2830-2832.

180. Cf. ibidem, 1911, pp. 2865-2867.

181. Cf. ibidem, 1913, pp. 2830-2832.

182. Sobre a concessão marítima de Lisboa para os portos do Algarve, assim como de Mértola para V.R.S.A., ve-
ja-se o Apêndice biográfico n.º 12, dedicado ao empresário Alonso Gomes, andaluz de segunda geração.

183. Cf. Anuario Almanach Commercial, op. cit., 1896, p. 1060.

184. Cf. Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit, 1897, p. 1105.

185. Cf. ibidem, 1901, pp. 1476-1477.

186. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, op. cit., 1910, pp. 2739-2741.

290
entre, pelo menos, 1902187 e 1907188; ou Sebastião Rodrigues Tenório, barbeiro, entre, pelo me-
nos, 1903189 e 1913190.

5.6. O estatuto sócio-político da comunidade andaluza residente em V.R.S.A.

No último quartel do século XIX a presença dos industriais nos escalões superiores da vida
política não era uma prática muito comum. Se não muitos se candidatavam e chegavam ao
Parlamento, ao invés, a nível local, a sua presença era mais notória. Eram eleitos presidentes de
câmara, vereadores municipais e, outros ainda, transformavam-se em poderosos caciques locais,
arregimentando e negociando votos junto dos seus operários em troca de favores. Situação não
muito diferente à verificada para o caso britânico, em que existia, desde meados do século XIX,
uma repartição tácita de funções e esferas políticas de actuação: a pequena burguesia concen-
trava-se na política local e municipal e a grande burguesia ocupava-se com a política estatal191.

A nível partidário é frequente encontrarem-se industriais afectos aos dois grandes parti-
dos políticos do último quartel do século XIX: o partido Progressista e o partido Regenerador.
Porém, a maior parte deles estaria mais ligado ao partido Progressista, uma vez que o programa
político desse partido continha algumas das suas aspirações: a necessidade de pautas protec-
cionistas, a descentralização administrativa e a redução das despesas públicas. Propostas e me-
didas políticas que lhes eram mais benéficas do ponto de vista económico. E que terão estado
na base do partido Progressista ter recolhido, inicialmente, apoios importantes, em especial na
região Norte do país192.

Em V.R.S.A. a situação político-partidária não era diferente. Havia mais andaluzes de


segunda geração afectos ao partido Progressista do que ao partido Regenerador. Pelo menos é
essa a conclusão que se deve retirar das listas dos membros eleitos para as sucessivas vereações

187. Cf. ibidem, 1902, p. 1389.

188. Cf. ibidem, 1907, pp. 2194-2195.

189. Cf. ibidem, 1906, pp. 2046-2048.

190. Cf. ibidem, 1913, pp. 2830-2832.

191. Cf. SEIXAS, Xoxé M. Núñez, «Una clase inexistente? La pequeña burguesía urbana española (1808-1936)»,
art. cit., p. 29.

192. Cf. MÓNICA, Maria Filomena, «Capitalistas e industriais (1870-1914)», art. cit., p. 850.

291
(presidentes, vice-presidentes e vereadores), onde se verifica que três dos filhos dos maiores
industriais conserveiros da vila foram eleitos pelo partido Progressista: Frederico Ramires, fi-
lho de Sebastián Ramírez, para presidente da câmara municipal no mandato de 1902-1904;
José Peres Cumbrera, filho de Juan Maestre Cumbrera, para vereador substituto no mandato de
1908-1910; e Rafael Rodrigues Tenório, filho de Francisco Rodríguez Tenório, igualmente para
vereador substituto no mandato de 1908-1910. Tudo famílias ligadas à indústria conserveira.

Por seu lado, o partido Regenerador apenas conseguiu eleger (nomeado por decreto)
para presidente da câmara municipal o andaluz de segunda geração Fernando Barbosa y Pêgo,
num curto mandato cumprido entre os meses de Janeiro e Fevereiro de 1908. Acrescente-se,
ainda, que Manuel Barbosa Cumbrera, o outro filho do industrial conserveiro Juan Maestre
Cumbrera, seria nomeado, no dia 14 de Outubro de 1910, presidente da câmara municipal pelo
partido Republicano.

Conclusão: tal como em Loulé, em V.R.S.A. havia andaluzes de segunda e de terceira


geração em todos os quadrantes políticos. Assim, e analisando somente os presidentes da câma-
ra municipal para o período compreendido entre 1841 e 1913, há presidentes de câmara mili-
tantes de três diferentes partidos.

Além de pertencerem à elite empresarial e económica do concelho, como ficou demons-


trado nos sub-capítulos 5.5.1. (Comércio), 5.5.2. (Indústria) e 5.5.3. (Serviços), a colónia de an-
daluzes radicada em V.R.S.A. fazia também parte da elite político-partidária do concelho. Eram
os líderes dos partidos políticos representados no concelho, e, consequentemente, os principais
candidatos a ocupar cargos políticos municipais e, por vezes, distritais. Por outro lado, perten-
ciam à elite política uma vez que ocuparam, durante vários anos, o cargo de presidente da câma-
ra municipal (eleitos ou nomeados), assim como, por diversas vezes e em sucessivas vereações,
o cargo de vereadores.

Embora estando fora da cronologia deste trabalho de investigação, que termina em


1914, refira-se que houve presidentes da câmara municipal de V.R.S.A. descendentes directos
de andaluzes até Setembro de 1965. Conclusão: entre Janeiro de 1902 e Setembro de 1965 a
esmagadora maioria dos presidentes de câmara que governaram o concelho de V.R.S.A. – dez
presidentes, para um total de dezoito mandatos – foram andaluzes de segunda ou de terceira ge-
ração. Veja-se, então, o seguinte quadro-resumo em que se sistematiza e sintetiza a informação
referente aos presidentes da câmara municipal de V.R.S.A. descendentes directos de andaluzes.

292
Quadro n.º 5.13: Presidentes da câmara municipal de V.R.S.A., naturais ou descendentes
directos de andaluzes, entre 1841-1965

Nome (Naturalidade, datas de


Ascendência Profissão /
Mandato(s) nascimento e de falecimento)
andaluza Ocupação
(Partido pelo qual foi eleito)
1841‑1842; 1846;
Pedro Cabot193 Natural da Isla
1849‑1851;
(aportuguesado para Cabote) Cristina
1858‑1859
Engenheiro
Frederico Alexandrino Garcia Civil, empresário
Ramirez194 conserveiro,
Janeiro de 1902 - Pais naturais de
(V.R.S.A., 26.11.1869 - deputado e, mais
Dezembro de 1904 El Almendro
V.R.S.A., 30.10.1935) tarde, governador
(partido Progressista) civil de Faro (entre
1904 e 1905)195
Avós paternos e
Fernando Barbosa y Pêgo197
maternos todos Engenheiro
2.01.1908 (Lisboa, 12.02.1877 - V.R.S.A.,
naturais de Agrónomo e
- 17.02.1908196 13.10.1936)
Villanueva de proprietário
(partido Regenerador)
los Castillejos
Manuel Cumbrera 199
Pais naturais de
14.10.1910 - 1913; (V.R.S.A., 13.01.1880 - Proprietário e
Villanueva de
1921‑1922; 1926198 V.R.S.A., 21.05.1958) industrial
los Castillejos
(partido Republicano)
1929‑1934;
Matias Gomes Sanches Empresário e
20.11.1935 Pai natural
(Corte do Pinto - Mértola, governador civil de
-18.12.1936; de Puebla de
9.09.1882 - V.R.S.A., Faro (entre 1936 e
24.08.1942 Guzmán
29.01.1953) 1938)200
-12.09.1945

193. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 2.

194. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 21.

195. Cf. GOMES, Neto, Governo Civil do Distrito de Faro – 175 anos de História, 2.ª edição, s./l., edição do
Governo Civil de Faro, 2010 [2009], pp. 185-187.

196. Em Comissão Administrativa, nomeada por decreto ministral assinado por João Franco, presidente do
Conselho de Ministros e Ministro do Reino, in CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila
Real de Santo António (1863-1909). Notas de António dos Santos Machado, op. cit., pp. 282-283.

197. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 1.

198. Em Comissão Executiva Camarária.

199. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 8.

200. Cf. GOMES, Neto, Governo Civil do Distrito de Faro – 175 anos de História, op. cit., pp. 285-286.

293
6.10.1934 Avós naturais de Despachante oficial
-19.11.1935; 1947; José Rodrigues Marques Villanueva de na Alfandega de
6.06.1949-5.12.1950 los Castillejos V.R.S.A.
José Ortigão Gomez Sanchez201 Pai natural
2.01.1942- Médico, empresário
(V.R.S.A., 15.01.1898 - Lisboa, de Puebla de
20.05.1949; 1951 e lavrador
30.04.1980) Guzmán
Avós paternos
Manuel Pereira Fernandes Conservador do
8.07.1952-05.1954 naturais de Jerez
Vargas Registo Civil
de la Frontera202
Alonso Vasques204 Pais naturais de
Agosto de 1928203; Médico e
(V.R.S.A., 09.07.1887 - Villanueva de
5.05.1954-18.07.1956 empresário
V.R.S.A., 23.08.1966) los Castillejos
Avô paterno
Matias Barroso Gomes Sanches natural de
18.09.1957-1963 Empresário
(V.R.S.A., 8.08.1922 - Lisboa) Puebla de
Guzmán
Avô paterno
João Barroso Gomes Sanches
natural de
4.12.1963-27.09.1965 (V.R.S.A., 4.12.1911 - V.R.S.A., Empresário
Puebla de
28.02.1977)
Guzmán

Fonte: A.H.M.A.R.M., Lista completa de todos os presidentes da Câmara Municipal de V.R.S.A., entre 1834 e
2019 e Arquivo Particular do Dr. António Capa Horta Correia.

Por último, refira-se, ainda, que dois elementos da família Roldan (pai e filho), família
natural de Puebla de Guzmán mas emigrada para V.R.S.A. ao longo da década de 1830205, onde
se estabeleceram como negociantes e granjearam a simpatia da colónia andaluza, foram nomea-
dos pela coroa espanhola cônsules de Espanha em dois concelhos algarvios: Manuel Gomes
Roldan (Puebla de Guzmán, 1785 – V.R.S.A., 1869) e o seu filho Miguel Gomes Roldan206

201. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 24.

202. O avô chamava-se Pedro Alvares Fernandez e veio para V.R.S.A. vender vinhos.

203. Com Comissão Executiva.

204. Esta biografia pode ser consultada no Apêndice biográfico n.º 27.

205. Informação prestada pelo Dr. António Capa Horta Correia.

206. Miguel Gomes Roldan (Puebla de Guzmán, 1821 – V.R.S.A., 1865) era um negociante radicado em V.R.S.A.
Durante a década de 1850 foi nomeado cônsul de Espanha em V.R.S.A. Em Julho de 1859 casou, em Lisboa, com
a andaluza Maria del Carmen Garcia-Pêgo natural de Villanueva de los Castillejos, in CORREIA, António Horta,
Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909). Notas de António dos Santos Machado,
op. cit., p. 33.

294
(Puebla de Guzmán, 1821 – V.R.S.A., 1865), respectivamente, em Faro207 e em V.R.S.A.208 ao
longo das décadas de 1850 e 1860. Sabe-se que esta família financiou durante alguns anos a
actividade de extracção mineira na mina de São Domingos (1859) tendo, por via dessa ligação,
obtido avultados rendimentos financeiros209.

5.7. O estatuto sócio-económico da colónia de andaluzes a residir em V.R.S.A.

A colónia de andaluzes a residir em V.R.S.A. ao longo do período temporal que abarca a pre-
sente investigação gozou de um estatuto sócio-económico privilegiado. Por força dos seus ne-
gócios e da sua capacidade empreendedora, esta colónia chegou a uma posição económica de
grande relevo. Em 1879, metade dos seis maiores contribuintes prediais do concelho eram an-
daluzes: Ramírez, Centeno e Alvarez Barbosa210.

Por outro lado, a nível religioso existem registos da oferta de várias alfaias religiosas
necessárias para a celebração do culto, como foram os casos da oferta de uma nova imagem
processional de Nossa Senhora da Soledade, vinda directamente da cidade do Porto e oferecida,
em Março de 1894, por Alonso Gomes e pelo seu sobrinho Manuel Bravo, de Mértola211; ou,
então, a oferta de um novo pálio processional branco, estreado na quinta-feira das Endoenças,
também denominada por quinta-feira Santa, de 1908212, oferecido por uma comissão, que se
constituiu para o comprar, composta pelas Senhoras Rosalía Ribeiro Costa, Cecília Gomes de
Sousa, Catarina Barbosa y Barbosa, Cristina Cumbrera, Luzia Cumbrera, entre outras213.

Colónia que gozava também do seu peso a nível associativo, como prova o facto de
Frederico García Ramirez ocupar, em 1894 e em 1895, o cargo de presidente dos dois únicos

207. Cf. ibidem, p. 51.

208. Cf. ibidem, p. 33.

209. Informação prestada pelo Dr. António Capa Horta Correia.

210. Cf. A.H.M.A.R.M., Actas da Comissão dos Quarenta Maiores Contribuintes; CAVACO, Carminda, O
Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., pp. 408-409.

211. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 114.

212. Em 1908 a quinta-feira das Endoenças ou quinta-feira Santa celebrou-se no dia 16 de Abril.

213. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 289.

295
clubes sócio-recreativos da vila – o Club Recreativo e o Club Democrático214 –, ou, anos mais
tarde, de Francisco Féria Tenório215 ter sido presidente da direcção da Sociedade Filarmónica
1.º de Maio, conhecida na vila por «Música Velha», nos primeiros anos do século XX216.

Constata-se, igualmente, o interesse e o gosto dos andaluzes pela cultura. Só assim se


compreende o facto de, em Julho de 1904, ter partido desta colónia a iniciativa de instalar na
vila o seu primeiro teatro. O chamado «Teatro de Verão» ou «Teatro D.ª Amélia». Um equi-
pamento composto de madeira e de lona e instalado junto à casa da Guarda Fiscal, na ponte
D.ª Amélia. Teatro que foi fundado e era propriedade de uma sociedade composta pelos sócios
Francisco Portillo, João José Rodrigues, Gavino Rodrigues Peres, José António Gomes, José
Rodrigues Dias ou José Platero, Esteban Rodrigues, entre outros217. Nota curiosa é o facto das
peças que foram escolhidas para serem representadas na noite da sua inauguração218 terem sido,
todas elas, de origem espanhola – «La Marcha de Cádiz», «El Terrible Perez» e «Ensinansa
Libre» –, levadas à cena por uma companhia de zarzuela espanhola contratada para o efeito219.
Sinónimo de que os seus proprietários mantinham o gosto pela cultura andaluza, celebrando-a
e difundindo-a em solo português.

Por outro lado, registe-se a curiosidade histórica de os dois primeiros telefones que exis-
tiram na vila terem sido propriedade de andaluzes. O primeiro fazia a ligação entre o escritório e
a fábrica de conservas Ramirez, e funcionou, pela primeira vez, no dia 12 de Março de 1908220.
O segundo fazia a ligação entre o escritório e a fábrica de conservas «Santa Maria», propriedade
da firma Parodi & Roldan, e funcionou, pela primeira vez, no dia 27 de Abril do mesmo ano221.

214. Cf. Anuario Almanach Commercial, Lisboa, 1894, p. 1260; Anuario Almanach Commercial, Lisboa, 1895,
p. 1265.

215. Francisco Féria Tenório ocupava, na altura, o cargo de Tenente da Guarda Fiscal, in CORREIA, António
Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909). Notas de António dos Santos
Machado, op. cit., p. 140.

216. Cf. ibidem, p. 187.

217. Cf. ibidem, p. 205.

218. A inauguração do teatro de Verão ou teatro D.ª Amélia realizou-se na noite de 16 de Julho de 1904.

219. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 205.

220. Cf. ibidem, p. 287.

221. Cf. ibidem, p. 290.

296
5.8. A manutenção dos laços com a Andaluzia

Os emigrantes andaluzes radicados em V.R.S.A. viviam num mundo social caracterizado pelas
exigências de um dupla lealdade. Por um lado, um sentimento patriótico – português, em geral,
e algarvio, em particular; e, por outro, um sentimento de ligação às suas origens étnicas e cul-
turais, andaluzes em particular, e espanholas em geral. O resultado era uma vida multifacetada
que combinava ambos os aspectos numa nova realidade, particularmente para os andaluzes de
segunda geração, isto é, filhos de pais andaluzes mas já nascidos em V.R.S.A.222.

Deste modo, era frequente os emigrantes andaluzes radicados em V.R.S.A. deslocarem-


-se à Andaluzia em datas específicas e muito significativas. Para tal, escolhiam ocasiões come-
morativas que tanto podiam estar ligadas a comemorações históricas, enaltecendo o seu espírito
patriótico e nacionalista, ou a celebrações religiosas, fortemente identitárias da região andaluza
e espaços de socialização colectiva por excelência. As festas religiosas celebradas em honra da
padroeira local serviam, não raras vezes, para reunir a família: os que tinham ficado com os que
tinham decidido emigrar. Pelos registos que chegaram até hoje, torna-se relativamente fácil re-
constituir essas viagens anuais.

No primeiro caso, surgem como exemplo maior as denominadas Festas Colombinas


(celebradas na primeira semana de Agosto)223, em que se comemora a partida do navegador
Cristóvão Colombo do porto de Palos de la Fronteira (província de Huelva) rumo à América.
Entre as celebrações religiosas, três delas concentravam o grosso das deslocações à Andaluzia:

222. Cf. BORGES, Marcelo J., Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva
Regional e Transatlântica, op. cit., pp. 308-309. Para se ficar a saber mais sobre a manutenção dos laços dos
emigrantes algarvios radicados na Argentina com Portugal e com a cultura portuguesa, veja-se, por exemplo, o
sub-capítulo «Vida social e étnica» in BORGES, Marcelo J., Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a
Argentina em Perspectiva Regional e Transatlântica, op. cit., pp. 308-325.

223. As Festas Colombinas realizam-se, de forma oficial, desde 1880. A sua primeira edição, organizada pela Real
Sociedad Colombina Onubense, visava preparar as grandes comemorações do IV centenário do descobrimento da
América por Cristóvão Colombo, que se comemoraria em 1892. Realizam-se, anualmente, ao redor do dia 3 de
Agosto, data em que Colombo saiu do porto marítimo de Palos de la Frontera – município da província de Huelva
– rumo à América. Devido à sua enorme projecção e rápido crescimento são consideradas as Festas da cidade de
Huelva. Sobre as Fiestas Colombinas de 1892 veja-se o seu cartaz oficial no Anexo de imagens n.º 4.

297
a) A romaria de Nuestra Señora de las Angustias, padroeira de Ayamonte (celebrada a 7 de
Setembro)224, pela proximidade geográfica;

b) A romaria da Virgen de las Piedras Albas (celebrada na terça-feira a seguir ao Domingo


de Páscoa)225, padroeira de El Almendro e de Villanueva de los Castillejos, municípios
de onde era natural grande parte dos emigrantes andaluzes a residir em V.R.S.A., apro-
veitando a ocasião para visitarem familiares ali residentes;

c) As festas em honra da Virgen de la Cinta (celebradas a 7 e 8 de Setembro)226, padroeira


da cidade de Huelva.

Além destas ocasiões, existem breves notas informativas publicitando a deslocação às


tradicionais celebrações da Semana Santa de Sevilha, já, nessa altura, a mais importante e im-
ponente Semana Santa de toda a Andaluzia. Mas a tais celebrações não se deslocavam somente
emigrantes andaluzes residentes em V.R.S.A. mas também de Loulé. Era o tradicional regresso
à região natal. Era igualmente frequente deslocarem-se à Andaluzia para visitar familiares, as-
sistir a casamentos ou tomar «banhos de água mineral»227.

224. As festas em honra de Nuestra Señora de las Angústias, padroeira de Ayamonte, realizam-se, anualmente,
nos dias 7 e 8 de Setembro. No final do século XIX e nas primeiras décadas de século XX eram estas festividades
muito frequentadas por portugueses, que se deslocavam um pouco de todo o Algarve, assim como de Beja e de
Lisboa. Foram vários os anos em que a sociedade filarmónica 1.º de Maio, de V.R.S.A., foi contratada para abri-
lhantar os festejos.

225. As festas em honra da Virgen de las Piedras Albas, padroeira dos municípios de El Almendro e de Villanueva
de los Castillejos, realizam-se, anualmente, entre o Domingo de Páscoa e a terça-feira seguinte, ocorrendo neste últi-
mo dia a procissão. Esta festividade realiza-se num prado, o chamado prado de Osma, nas cercanias destes dois pue-
blos. Nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras décadas do século XX há inúmeros registos – cartas ma-
nuscritas e notícias de jornal – de andaluzes naturais e descendentes de naturais a residirem em Loulé e em V.R.S.A.

226. As Festas em honra de Nuestra Señora de la Cinta são realizadas, de forma oficial, desde 1862, sendo que já
anteriormente se celebravam. Realizam-se, anualmente, nos dias 7 e 8 de Setembro e são para a cidade de Huelva
as suas maiores festividades religiosas. A Virgen de la Cinta, como também é denominada, é a padroeira da cidade
de Huelva.

227. «2 de Outubro de 1903 – Partiram hoje para Ciclana [de la Frontera], Espanha, o meu compadre Sr. Alfonso
Gomes, acompanhado pela irmã Sr.ª D. Carmen Sanches, tomar ali banhos de água mineral», in CORREIA,
António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909). Notas de António dos
Santos Machado, op. cit, p. 189. Ciclana de la Frontera é um município andaluz pertencente à província de Cádiz.
Situa-se na Baixa Andaluzia e dista a 20 kms da capital provincial. O município é famoso, desde o século XIX,
pela extensão e pela qualidade das suas praias.

298
Durante a segunda metade do século XIX estas viagens eram realizadas em grupo, em
várias canoas; porém, com a proliferação dos vapores, no início do século XX as canoas foram
substituídas por embarcações a vapor. Esta alteração no meio de transporte comprova-se com a
leitura das seguintes notas do diário de António dos Santos Machado:

2 de Agosto de 1892 – Às 11 horas da manhã, partiram para Huelva gozar os festejos feitos ali, co-
memorando o aniversário da saída de Colon para a descoberta da América, a canoa do Sr. Silva, pi-
loto-mor, aonde ele ia, acompanhado pelos Srs. Francisco G. Sanches, Epaminondas Lopes e quatro
tripulantes, a canoa do meu cunhado João José Rodrigues, aonde foi ele, os irmãos André e Manuel
Bravo, Juan Cumbrera, um médico que não sei o nome, com quatro tripulantes, a canoa do Sr.
Francisco R. Tenório onde foram os Srs. Gavino Peres, Sebastião R. Centeno, José António Gomes,
Francisco Medeiros e M. Huilps, inglês, empregado da Companhia do Gás e quatro tripulantes228.

6 de Setembro de 1904 – Às 9 horas da manhã, partiu de V.R.S.A. para Huelva o vapor espanhol
‘Arroyo Hondo’ conduzindo a bordo a música [da sociedade filarmónica] ‘1.º de Maio’, a velha, e al-
guns passageiros mais, como Manuel Cumbrera, José Martinho Rodrigues, Rafael R. Dias ou Rafael
Platero, Rafael Tenório, […] que foram a Huelva para a festa das Cintas [sic]229.

Tendo em conta a data desta última entrada no referido diário, quando o autor se refere à
«festa das Cintas» em Huelva estará, decerto, a referir-se à festa em honra da Virgen de la Cinta,
realizada anualmente, naquela cidade, nos dias 7 e 8 de Setembro.

Mas a manutenção desses laços com a Andaluzia também se fazia notar através de algu-
mas denominações comerciais, propriedade de andaluzes, que existiram na vila. Denominações
comerciais que não deixam margem para dúvidas que os andaluzes residentes na vila tinham
orgulho na sua terra natal e que não pretendiam esquecer as suas ancestrais raízes. Deste modo,
quem, no início do século XX, se deslocasse a V.R.S.A. podia comprar louça de barro na fá-
brica «La Sevilhana», de Cruz, Rodrigues & Gomes230, que laborou, pelo menos, entre 1902231

228. Cf. ibidem, p. 104.

229. Cf. ibidem, p. 210.

230. Sociedade industrial e comercial composta pelos sócios Manuel Paulino da Cruz, João José Rodrigues e José
António Gomes, este último natural de Ayamonte. Tinham duas lojas de louça de barro em V.R.S.A. (Informações
prestadas pelo Dr. António Capa Horta Correia).

231. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional,
1902, p. 1389.

299
e 1907232; almoçar ou lanchar na «Confeitaria Hespanhola», que abriu ao público em 1909233;
ou realizar um seguro contra todos os riscos nas agências de seguros «La Unión e El Fénix
Español», propriedade de Juan Maestre Cumbrera, que existiram, pelo menos, entre 1905234 e
1913235.

A manutenção dos laços dos andaluzes com a sua região de origem demonstra-se ainda
com outro exemplo, ocorrido com o industrial Sebastián Ramirez, radicado em V.R.S.A. desde
1849. Fruto do seu sucesso comercial e empresarial, este andaluz rapidamente alcançou uma
situação económica e financeira bastante confortável, o que lhe possibilitou ir adquirindo pro-
priedades no seu município natal. Ao longo do último terço do século XIX o industrial foi au-
mentado o seu património imobiliário na região de Almendro, por intermédio da compra de inú-
meras propriedades rurais236, que, à data do seu falecimento, em 1900, perfaziam cerca de 1 535
hectares divididos por vinte e oito propriedades237. Aproveitando as leis das desamortizações
do estado espanhol de 1837 e de 1856, Ramirez comprou três grandes propriedades que perten-
ciam, ou tinham pertencido, aos chamados «próprios» do seu município de origem. Em 1881
comprou a Domingos Vaz y Gomez, por 2 750 pesetas, uma propriedade de 905 hectares na
«Sierra de Três [sic] Piedras y Sierra de Tejada y Vaca»238. Em 1892 comprou, em hasta pública
e por 409 pesetas, duas propriedades, que totalizavam cerca de vinte e sete hectares, que faziam
parte dos «próprios» do município de El Almendro239; e, em 1893, comprou, em hasta pública

232. Cf. ibidem, 1907, pp. 2194-2195.

233. Cf. ibidem, 1909, p. 2607.

234. Cf. ibidem, 1905, pp. 2251-2252.

235. Cf. ibidem, 1913, p. 2830-2832.

236. Em 1874 comprou ao seu sogro, José Garcia Correa, lavrador, três fincas num total de 10,3 hectares. Em
1881 comprou a Domingos Vaz y Gomez 905 hectares de «barros» e «fincas» nos sítios da Sierra de Três Piedras
e da Sierra de Tejada y Vaca, por 2 750 pesetas. Em 1893 comprou ao estado espanhol uma finca com 402 hectares
no sítio da Contienda, finca essa proveniente dos «próprios de El Almendro e de Capelanias», por 6 840 pesetas, in
CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900), Subsídio documental para uma biografia, op. cit., p. 32.

237. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 155.

238. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 32.

239. Cf. ibidem.

300
ao estado espanhol, por 6 840 pesetas, um terreno com 412 hectares no sítio da «Contienda»,
que em tempos pertencera aos «próprios de El Almendro e de Capelanias»240.

Sabe-se, por outro lado, que os laços entre vila-realenses e os municípios andaluzes pró-
ximos da fronteira sempre foram fortes. Neste particular, surge à cabeça o município da Isla
Cristina, até 1834 designado por La Higuerita241. Sobre esta ligação afectiva recíproca escreveu
o monografista algarvio Ataíde de Oliveira:

Se na Ilha Cristina há peixe e não em Vila Real ou Ayamonte, os habitantes da Ilha Cristina apres-
sam-se em fornecer o mercado de Vila Real, pondo em segundo lugar o mercado de Ayamonte. O
mesmo sucede quando em Vila Real há peixe, e os portos de Ayamonte e Ilha Cristina o não têm,
os habitantes de Vila Real apressam-se em fornecer o mercado da Ilha Cristina, pondo Ayamonte
em segundo lugar. São muito mais estreitas as relações comerciais e sociais entre Vila Real e Ilha
Cristina do que entre qualquer destas povoações e Ayamonte242.

Segundo o monografista algarvio a explicação para esta ligação entre as duas comu-
nidades remonta ao século XVIII e à edificação da «vila regular» de V.R.S.A. (1773-1776).
No início do século XIX uma parte significativa dos habitantes da Isla Cristina descendia de
pescadores catalães que, no século anterior, tinham povoado Monte Gordo. Como grande parte
deles não quisera sujeitar-se às ordens do Marquês de Pombal que, em Setembro de 1774, de-
cretara que os mesmos teriam de abandonar Monte Gordo para povoar a nova «vila regular»,
esses pescadores resolveram radicar-se na Isla Cristina – mas mantiveram as relações amigá-
veis que tinham com os que foram habitar a nova vila243.

A testemunhar esta duradoura relação atente-se na notícia do óbito de José Fernandes


Piloto, falecido em V.R.S.A. no dia 7 de Outubro de 1909. Na entrada do diário de António
dos Santos Machado pode ler-se que o respectivo funeral «foi bastante acompanhado, muito

240. Cf. ibidem; CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório,
Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., pp. 155-156.

241. «Em 1834 le fue concedida la autorización de la Corona para cambiar el nombre de La Higuerita por el de
Isla Cristina en honor a D.ª Maria Cristina de Borbón, madre de Isabel II», in Amalia Feu MURO, Ayamonte a
Través del Tiempo, s./l., editora Guadalquivir, 2005, p. 72.

242. Cf. Ataíde OLIVEIRA, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, op. cit., p. 179.

243. Cf. ibidem, pp. 179-180.

301
principalmente pela principal gente de La Higuerita e Ayamonte, com quem [o falecido] tinha
bastantes relações comerciais e amizades [...]»244.

A colónia andaluza de V.R.S.A. tinha raízes profundas na sua Andaluzia natal. Por isso
mesmo, era normal os membros de algumas famílias dessa colónia usarem entre si, assim como
com o seu grupo de amigos mais chegados – que, frequentemente, eram outros andaluzes –, a
língua castelhana. Numa das duas entrevistas que tive a oportunidade de realizar à Dr.ª Maria
Bella Cumbrera Tavares245, bisneta do andaluz Juan Maestre Cumbrera, esta confessou que
as suas tias Cumbrera246, filhas do casamento de Juan Maestre Cumbrera com Joana Peres
Barbosa247, falavam castelhano entre si e com as pessoas que lhes eram mais chegadas, sendo
o seu grupo de amigos normalmente composto por andaluzes ou descendentes destes. Situação
que não deverá causar estranheza, dado que todos os dois filhos e quatro filhas desse casal ca-
saram, entre 1892 e 1914, com descendentes andaluzes radicados em V.R.S.A. ou em Loulé248.
Num exemplo de homogamia (casamentos que envolvem cônjuges do mesmo grupo) muito
comum nessa época.

A bisneta de Juan Maestre Cumbrera recorda-se, igualmente, de ser costume, nas casas
dos Cumbrera, a utilização de termos andaluzes – como «membrilla»249 para designar a marme-
lada. Além disso, um dos pratos que mais cozinhavam e que era mais apreciado era o chamado
«salmorejo» (uma espécie de salada fria feita à base de coelho assado, tomate e pimentos saltea-
dos), um prato muito típico da região do Andévalo, caracterizada por uma gastronomia regional
fortemente assente nos pratos de caça.

244. Cf. António Horta CORREIA, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 331.

245. Entrevistas realizadas em V.R.S.A. nos dias 14 de Junho de 2019 e 16 de Julho de 2019.

246. Cristina Maestre Cumbrera (V.R.S.A., 1872 – V.R.S.A., 1968), Josefa Maestre Perez Cumbrera (V.R.S.A.,
1875 – V.R.S.A., 1951), Isabel Maestre Perez (V.R.S.A., 1877 – Loulé, 1902) e Luzia Maestre Perez (V.R.S.A.,
1881 – V.R.S.A., 1978).

247. Juan Maestre Cumbrera (Villanueva de los Castillejos, 1840 – V.R.S.A., 10.04.1923) casou com Joana Peres
Barbosa (Villanueva de los Castillejos, 1850 – V.R.S.A., 17.09.1927) e tiveram seis filhos: quatro raparigas e dois
rapazes.

248. Sobre este assunto veja-se o quadro do Apêndice biográfico n.º 7 (cf. p. 414).

249. O termo «membrillo» em castelhano significa marmelo.

302
A colónia andaluza a residir em V.R.S.A. era, por certo, a colónia estrangeira mais nu-
merosa a residir em qualquer um dos concelhos algarvios. Pelo menos é o que nos demonstram
todos os censos gerais da população, entre 1890 e 1920. Numerosa, trabalhadora, empreende-
dora, conseguiu, por mérito próprio, alcançar um prestígio sócio-económico e sócio-político
ímpar no Algarve. Que se fez sentir e repercutir por sucessivas gerações.

Colónia heterogénea e interclassista. Porque havia um pouco de tudo. Homens do mar


– mestres, contra-mestres, pescadores e salgadores –, naturais dos municípios do litoral da
província de Huelva (Ayamonte e Isla Cristina), que se misturavam com negociantes, comer-
ciantes e caixeiros, naturais de municípios do interior da mesma província (Villanueva de los
Castillejos, El Almendro, Puebla de Guzmán ou Villablanca). Comércio que teve o seu período
áureo entre 1850 e 1880. Em 1868, num despacho do consulado de Espanha em V.R.S.A., fica-
va-se a saber que o comércio na vila era «compuesto casi en su totalidad de Españoles [...]»250.

No entanto, no dia 2 de Fevereiro de 1879 entrou em laboração a primeira fábrica de


conservas da vila: a «Santa Maria», da sociedade composta pelo genovês Ângelo Parodi fu
Bartolomeu, que aportava o conhecimento técnico, e de Maria del Carmen Garcia-Pêgo (n. de
Villanueva de los Castillejos), que entrava com o capital financeiro. E a vila nunca mais foi a
mesma. O surto conserveiro foi rápido e alterou, em grande parte, a vida sócio-económica da
vila. Até 1901 seriam fundadas mais sete unidades conserveiras. Quase todas de capital es-
trangeiro: quatro de capital andaluz, duas de capital português e mais uma de capital italiano.
E foram as de capital andaluz e genovês as que mais prosperaram. Andaluzes que deixaram a
actividade comercial para se tornarem empresários e industriais conserveiros bem sucedidos,
fundando, inclusive, unidades fabris em outros concelhos (Ramires em Olhão). Neste particu-
lar, destaque-se a actividade desenvolvida pelos três principais capitães andaluzes da indús-
tria conserveira: Sebastián Ramírez (n. de El Almendro), Francisco Rodríguez Tenório (n. de
Villanueva de los Castillejos) e Juan Maestre Cumbrera (n. de Villanueva de los Castillejos),
que dominaram, por largos anos, a indústria conserveira na vila. E na primeira década do século
XX é também vê-los a monopolizar a representação da banca e dos seguros no concelho. Gente
influente e com capital.

250. Cf. A.H.N., Fondo del Ministerio de Exteriores – H, Consulado de España en Villa Real de San Antonio,
1868, cx. 2093, despacho n.º 8, de 4 de Junio de 1868.

303
A segunda e a terceira geração de andaluzes, alguns deles mantendo-se à frente dos
negócios herdados da família, parece que dedicou mais do seu tempo à política. Só assim se
compreende que, entre 1902 e 1965, dez andaluzes de segunda e de terceira geração tenham
exercido, por dezoito ocasiões – duas na década de 1900, uma na década de 1910, quatro na dé-
cada de 1920, duas na década de 1930, quatro na década de 1940, quatro na década de 1950 e,
finalmente, uma na década de 1960 –, o cargo de presidente da câmara municipal de V.R.S.A.
Caso único, provavelmente, a nível nacional. Mas quem eram estes homens? Quem era esta eli-
te política local? Eram andaluzes de segunda ou de terceira geração, normalmente licenciados,
proprietários e/ou empresários, que geriam as heranças herdadas dos seus familiares, fortunas
essas já realizadas em Portugal.

Andaluzes de segunda e de terceira geração que não se ficaram somente pela política
local. Ocuparam, igualmente, cargos políticos de âmbito distrital e nacional. Uns por eleição,
outros por nomeação. Apenas três exemplos: Frederico Alexandrino Garcia Ramirez, além de
presidente da câmara municipal, foi o líder do partido Progressista no Algarve durante vários
anos; deputado eleito, pelo partido Progressista, para a Câmara dos Deputados, entre 1892 e
1908; e governador civil do distrito de Faro, entre 1904 e 1905. Matias Gomes Sanches, além de
presidente da câmara municipal, desempenhou, entre 1936 e 1938, o cargo de governador civil
do distrito de Faro. E, por último, Sebastião Garcia Ramires, filho de Frederico Alexandrino e
neto de Sebastián Ramirez, que foi nomeado ministro do Comércio, Indústria e Agricultura, en-
tre 1932 e 1933; ministro do Comércio e Indústria, entre 1933 e 1936; e deputado, pela União
Nacional, para a Assembleia Nacional, entre 1934 e 1969. Cargos políticos só possíveis de se-
rem alcançados em virtude dos seus talentos, conhecimentos e amizades políticas e concordân-
cia política com os regimes de então.

Colónia que manteve os laços com a Andaluzia. Sob as mais diversas formas. Deslocando-
se, anualmente, às festividades religiosas celebradas em honra das padroeiras de Ayamonte
(Virgen de las Angustias), Villanueva de los Castillejos e Almendro (Virgen de las Piedras
Albas) e de Huelva (Virgen de la Cinta). Ou, então, contratando grupos teatrais e de cantores
andaluzes para actuarem no teatro da vila, ou conferindo designações castelhanas a alguns dos
seus estabelecimentos. Sinónimo que, mesmo há muitos anos radicados na vila, não pretendiam
perder as raízes andaluzas.

304
CONCLUSÃO

A emigração andaluza para o Algarve foi uma emigração bastante concentrada do ponto de vis-
ta geográfico, sendo a esmagadora maioria desses emigrantes naturais da província de Huelva,
durante o período contemplado nesta investigação.

Os emigrantes começavam, normalmente, por trabalhar no comércio, como simples cai-


xeiros de casas comerciais, o que fazia deles trabalhadores assalariados. No entanto, com o
passar do tempo e com a melhoria da situação económica e financeira, muitos passavam de
caixeiros (empregados) a lojistas (proprietários) de casas comerciais: foi o que aconteceu, por
exemplo, em Loulé ou em V.R.S.A., nas dezenas de lojas de fazendas, quinquilharias e mercea-
rias que por lá haviam. Porém, em V.R.S.A., durante a década de 1880, alguns deles também se
transformaram em industriais conserveiros. Este perfil socio-económico contrastante influen-
ciava as estratégias de emigração, nomeadamente em três pontos: o tempo de permanência, a
transição ou não para a migração familiar e a abordagem às relações trabalho-capital1.

No caso de Loulé verificou-se que a emigração de andaluzes foi uma emigração bem lo-
calizada no espaço e no tempo. Praticamente todos os emigrantes andaluzes que escolheram a
vila de Loulé para se radicarem eram naturais dos municípios que fazem parte da comarca his-
tórica do Andévalo, na província de Huelva. Neste particular, o município de Villanueva de los
Castillejos surge, largamente, como a principal terra de origem desses emigrantes: entre 1800
e 1905 do total de crianças baptizadas na freguesia de São Clemente (Loulé) com, pelo menos,
um dos pais naturais da Andaluzia, cerca de 81% dos pais e de 72% das mães eram naturais de
Villanueva de los Castillejos2. Mas havia também emigrantes naturais de El Almendro, Puebla
de Guzmán, Villablanca, assim como de Ayamonte ou da Isla Cristina3. Em comum tinham o
facto de pertencerem todos à província de Huelva.

O pico temporal dessa emigração terá sido a segunda metade do século XIX, justa-
mente por ter sido nesse período que mais crianças com ascendência directa andaluza foram

1. Cf. BORGES, Marcelo J. Correntes de Ouro. Emigração Portuguesa para a Argentina em Perspectiva Regional
e Transatlântica, op. cit., p. 326.

2. Sobre este assunto veja-se o quadro n.º 4.06.

3. Sobre este assunto veja-se o quadro n.º 4.10.

305
baptizadas na vila de Loulé. Entre 1800 e 1905, das 448 crianças baptizadas na vila de Loulé
com, pelo menos, um dos pais ou dos avós naturais da Andaluzia, setenta e uma foram baptiza-
das na década de 1870, noventa e uma na década de 1880 e setenta e cinco na década de 1890,
verificando-se que essas três décadas concentram cerca de 53% do total de crianças baptizadas.

As principais causas emigratórias

As principais causas emigratórias poderão ter estado relacionadas com motivos militares, eco-
nómicos e sociais.

Em primeiro lugar o facto de Villanueva de los Castillejos ter albergado o Quartel-


General das tropas castelhanas na defesa da região do Condado de Niebla (província de Huelva)
na Guerra da Independência, entre Janeiro de 1810 e Agosto de 1812, terá sido fulcral para a
existência de um primeiro fluxo emigratório. Recorde-se que, durante o auge dessa Guerra na
região, os municípios vizinhos de Villanueva de los Castillejos e de El Almendro sofreram de-
zassete invasões das tropas francesas, o que provocou um rastro de ruína económica nos dois
municípios. Além do mais, durante grande parte do conflito militar, os municípios do Andévalo
estavam obrigados a fornecer as duas tropas em contenda – a castelhana e a francesa – de ho-
mens, bens alimentares e cavalos. A guerra traz destruição, a destruição traz ruína económica,
a ruína económica traz decréscimo demográfico, numa escalada negativa difícil de superar. E,
nesse caso, uma das soluções disponíveis era a emigração.

Outra das causas que estiveram na base desta emigração foram os dois processos de de-
samortização das terras (1837 e 1856), e, em especial, a privatização dos «propios y comuna-
les» (terrenos municipais comunitários, administrados por cada município, e normalmente utili-
zados pelos habitantes para a criação da pecuária) dos municípios vizinhos de Villanueva de los
Castillejos4 e de El Almendro, dado que provocaram um maior aprofundamento das diferenças
económicas e sociais entre a população, o que originou uma maior propensão para a emigração
para países receptores onde a situação era mais favorável.

Conseguiu identificar-se, pelo menos, uma rede migratória de andaluzes naturais de


Villanueva de los Castillejos rumo a Loulé. A documentação disponível revela que, já no início

4. Cf. NÚÑEZ MÁRQUEZ, Juan Manuel, «Villanueva de los Castillejos», art. cit., p. 1264.

306
da década de 1810, eram os andaluzes naturais desse município aqueles que em maior número
residiam na vila e que solicitavam passaportes para da vila se deslocarem. Tendência que foi-
-se avolumando com o passar dos anos, pelo que, no início do século XX, continuavam a ser
de Villanueva de los Castillejos a maior parte dos emigrantes andaluzes radicados em Loulé.

Mas as guerras nunca veem só. Trazem, sempre, outros factores e consequências polí-
ticas e económicas. De curta, média e, por vezes, longa duração. Que influem, fortemente, na
decisão de emigrar. A fuga às «quintas» (alistamentos militares), o aumento dos «prófugos»
(desertores), a fuga à justiça e a determinados compromissos políticos. Situações que não es-
tiveram somente bastante presentes durante a Guerra da Independência, mas, igualmente, ao
longo de grande parte do século XIX, através das três Guerras Carlistas de sucessão ao trono
espanhol: 1833–1840, 1846–1849 e 1872–1876. E para fugir a um alistamento militar ou deser-
tar de um exército que melhor maneira haveria do que emigrar? E, de preferência, para a região
vizinha (o Algarve), uma vez que entre ambas só as separam o rio Guadiana, fronteira natural
de águas calmas e tranquilas.

A que se devem acrescentar mais um conjunto de factores económicos: o baixo desen-


volvimento agrícola, provocado pela pobreza dos solos – maioritariamente terras xistosas – e
pelo clima árido do Andévalo Ocidental; a estrutura das propriedades agrícolas da região; a
oportunidade única para aumentar o espaço de comercialização e de transacções económicas;
a crise mineira (decadência e/ou estagnação); o abandono das «gentes do campo», provoca-
da pela crise vitivinícola originada pela praga de «filoxera» (1877-1878); ou a taxa cambial
da moeda espanhola face à moeda portuguesa, que valorizava a peseta em relação ao real, até
1911, e, a partir de 1911, em relação ao escudo. Factores que originaram a emigração de cente-
nas de andaluzes para Portugal. Com colónias bem demarcadas em relação às suas terras natais:
de Villanueva de los Castillejos para Loulé; de Ayamonnte, da Isla Cristina e de vários municí-
pios do Andévalo para V.R.S.A.; e de El Almendro para o distrito de Beja, no Baixo Alentejo.
Pelo menos é isso que se pode concluir quando se correlaciona os fluxos migratórios entre os
locais de origem e os locais de destino.

Verificava-se, pois, que a selecção do local de destino era resultado da análise e da inte-
ração de um conjunto de factores micro e macro. Se, por um lado, a emigração representava uma
estratégia laboral na hora de escolher um lugar de estabelecimento temporário ou permanente,
de acordo com objectivos pessoais e familiares; por outro, tais decisões eram influenciadas por

307
um outro conjunto de circunstâncias – individuais, sociais e locais – tomadas no contexto es-
trutural da mudança5.

Assim, em resumo, para o desencadear desse acto de emigrar, em muito terão contribuí-
do um conjunto alargado de factores – sociais, culturais e económicos – que fez com que esses
fluxos migratórios continuassem a verificar-se. De entre os vários factores, destacaria:

a) Facilidade de comunicação linguística;

b) Facilidade de integração dos primeiros emigrantes;

c) Êxito económico alcançado pelos primeiros emigrantes (almocreves, negociantes e


comerciantes);

d) Influência das cadeias migratórias e das redes sociais na protecção e na ajuda de emigran-
tes já instalados na chamada, instalação e consequente integração dos novos emigrantes;

e) Trabalho em rede com colónias de andaluzes residentes noutros concelhos do Algarve


e até em Lisboa. Sabe-se que os Formosinho de Loulé trabalhavam em rede com os
Formosinho de Lagos (casas comerciais) e que os Centeno de V.R.S.A. trabalhavam
em rede com os Centeno de Lisboa (casas comerciais, negócios vários e a concessão do
contrato de iluminação a gás de V.R.S.A., em 18936).

Redes sociais e cadeias migratórias

A importância das redes sociais e das cadeias migratórias ficou demonstrada pelos fluxos
migratórios dos naturais dos dois municípios vizinhos – separados apenas por uma rua – de
Villanueva de los Castillejos e de El Almendro ao longo do século XIX. Se os primeiros pre-
feriram emigrar para o Algarve, escolhendo, preferencialmente, a vila de Loulé; já os segun-
dos optaram pelo Baixo Alentejo, optando, preferencialmente, pelos concelhos de Beja, Serpa,
Moura e Barrancos, juntos à fronteira. Fluxos que eram alimentados por redes migratórias, que,

5. Cf. BORGES, Marcelo J., «Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no Sul de Portugal», art. cit.,
p. 101.

6. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909) –
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 355.

308
ao longo de várias gerações, serviram para atrair andaluzes dos mesmos municípios. Tendo por
base as informações sobre os lugares de origem e os lugares de destino desses fluxos migrató-
rios – uma vez que não se encontraram notícias de jornais relacionadas com a existência de en-
gajadores, provavelmente por se tratar de fluxos quantitativos pouco significativos, assim como
pelo facto dos locais se situarem em regiões de fronteira –, conseguiu-se, ao longo da presente
investigação, identificar os seguintes fluxos:

Quadro n.º 1: Fluxos migratórios que se conseguiram identificar através da presente


investigação

Local de Origem Local de Destino Período do fluxo migratório


Praticamente desde 1810 até
Villanueva de los Castillejos Loulé
ao final do século XIX7
Ayamonte V.R.S.A. Século XIX8
El Almendro Silves Década de 18309
Ribadavia (província de
Orense) e de Sabajanes Vila Nova de Portimão c. 1890 – c. 191010
(província de Pontevedra)
Aldeia Nova de São Bento, Ao longo da primeira metade
El Almendro
Moura, Serpa e Vidigueira do século XIX11

Refira-se que as respectivas localidades, assim como todos os ramos familiares, foram
as primeiras localidades de destino dessa emigração, uma vez que, durante todo o século XIX,
e, em particular, na sua primeira metade, não era raro as famílias não se fixarem, de forma defi-
nitiva, na primeira localidade para a qual decidiam emigrar. Encontra-se vários relatos da mes-
ma família, passados alguns anos, mudar de localidade, de concelho e até de distrito. Porém,
com o passar dos anos e com a progressiva constituição de redes migratórias mais coesas, tal
situação deixa de ser tão frequente12.

7. Sobre este assunto veja-se os quadros n.º 4.05, n.º 4.06, n.º 4.07, n.º 4.09, n.º 4.10 e n.º 4.11.

8. Sobre este assunto veja-se o quadro n.º 5.02, n.º 5.03 e n.º 5.04.

9. Sobre este assunto veja-se o quadro n.º 3.10.

10. Sobre este assunto veja-se os quadros n.º 3.07 e n.º 3.08.

11. Sobre este assunto veja-se o quadro n.º 3.03.

12. Juan Rodríguez Centeno Rojo (ou João Rodrigues Centeno), sua mulher María de Trinidad Gómez Vásquez
(Maria da Trindade Gomes Vasques) [que viveu 102 anos, de 1760 a 1862] e filhos, residiam em 1829 na aldeia da

309
A relevância das redes sociais passava por vários aspectos: os emigrantes casavam-se
dentro dos seus próprios grupos, apadrinhavam-se entre si (testemunhas de casamento ou pa-
drinhos e madrinhas de baptizado) e, como há casos relatados para os concelhos de Loulé e de
V.R.S.A., falavam em castelhano uns com os outros. No entanto, com o passar dos anos e das
gerações, os emigrantes de segunda e de terceira geração foram cada vez mais se inserindo nas
sociedades locais, alguns deles alcançando – por eleição ou por nomeação – cargos públicos de
enorme relevo nas sociedades locais, regionais e até nacional.

Homogamia e endogamia: uma característica inicial

O espaço da mulher andaluza centrava-se, sobretudo, na esfera doméstica e no convívio com


outras famílias andaluzas radicadas nos concelhos algarvios, o que resultava num maior núme-
ro de casamentos dentro do grupo emigrante. Todavia, à medida que os membros das colónias
se instalavam e progrediam nas sociedades locais, especialmente os do sexo masculino, a ho-
mogamia (casamentos que envolvem cônjuges do mesmo grupo) deixava de ser tão frequen-
te e, com o passar dos anos, diminuíram os casamentos entre andaluzes, ao mesmo tempo que
aumentaram os casamentos mistos. Preferencialmente de noivo andaluz com noiva algarvia,
consolidando, por essa forma, o entrosamento social das colónias andaluzas nas sociedades lo-
cais. E demonstrando que as redes sociais desenvolvidas pelos processos migratórios também
influenciavam os padrões matrimoniais da comunidade emigrante, e, por extensão, a adaptação
social no local de destino.

Registe-se, ainda, a existência de casos de endogamia matrimonial (casamentos dentro


da própria família), isto é, casamentos entre primo-direitos, entre primos em segundo grau, en-
tre tios e sobrinhas, etc…, mais comuns nas primeiras fases migratórias.

O Comércio e a Indústria

As vilas de Loulé e de V.R.S.A. gozaram de um enorme crescimento demográfico ao longo


da segunda metade do século XIX: entre 1864 e 1900 a população residente na vila de Loulé

Conceição, concelho de Ourique. Depois estabeleceram-se em Tavira, com o fim da Guerra Civil, em 1834. E um
filho passou depois, c. 1847, a residir em Martim Longo, mantendo a ligação a Tavira.

310
passou de 12 081 para 22 478 (crescimento de 86,06%), e a de V.R.S.A. de 3 032 para 6 172
(crescimento de 103,56%). Incremento populacional que ajudava a fazer crescer o comércio e
a diversificar hábitos de consumo. Situação que não deve ter passado despercebida aos andalu-
zes radicados nas duas vilas, que tão bem a souberam explorar. Porque só assim se entende o
aumento dos andaluzes ligados ao comércio: em Loulé passam de catorze, em 184213 ou em
186714, para mais de trinta no princípio do século XX15; e em V.R.S.A. as licenças de comér-
cio concedidas a súbditos espanhóis aumentam de duas, em 1850, para dezanove em 187616.
Mesmo antes, em 1868, já um despacho do consulado de Espanha em V.R.S.A. informava que
o comércio na vila era «compuesto casi en su totalidad de Españoles [...]»17.

V.R.S.A. integrava uma colónia heterogénea e interclassista. Havia um pouco de tudo.


Homens ligados ao mar – mestres, contra-mestres, pescadores e salgadores –, naturais dos mu-
nicípios do litoral da província de Huelva (Ayamonte e Isla Cristina), que se misturavam com
negociantes, comerciantes e caixeiros, naturais de municípios do interior da mesma província
(Villanueva de los Castillejos, El Almendro, Puebla de Guzmán ou Villablanca). E numerosa.
Pelo menos em relação ao número de espanhóis residentes (que, para este período, é pratica-
mente o mesmo que dizer-se de andaluzes): 100 em 1864, 193 em 1878, 311 em 1900 e 248 em
191118.

No sector industrial, porém, as coisas eram bem diferentes: se a indústria em Loulé po-
dia ser caracterizada por uma «produção industrial doméstica» (proto-indústria); em V.R.S.A.
os sectores ligados ao mar – pescas, salinas e conservas – começavam a sua industrialização.

13. Cf. A.M.L.P.J.R.M., Fundo do Administrador do Concelho de Loulé, Cadastro Geral de todos os Estrangeiros
residentes no dito Concelho no anno de 1842. Sobre este assunto veja-se o quadro n.º 4.02.

14. Cf. A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Livro do Registo dos Comerciantes, 1867. Sobre
este assunto veja-se o quadro n.º 4.14.

15. Sobre este assunto veja-se o quadro n.º 4.15.

16. Cf. A.H.M.A.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Licenças de Comércio, para
o concelho de V.R.S.A., entre 1850 e 1882.

17. Cf. A.H.N., Fondo del Ministerio de Exteriores – H, Consulado de España en Villa Real de San Antonio, 1868,
cx. 2093, despacho n.º 8, de 4 de Junio de 1868.

18. Sobre este assunto veja-se o quadro 5.02.

311
No sector pesqueiro a pesca deixava de ser uma actividade eminentemente artesanal,
para dar lugar a uma indústria forte e cada vez mais pujante, com a entrada em acção das pri-
meiras traineiras ou galeões a vapor.

Nas conservas, a partir de 1879, fundam-se as primeiras fábricas, propriedade de geno-


veses e de andaluzes. E a vila nunca mais foi a mesma. O surto conserveiro foi rápido e alterou,
em grande parte, a vida sócio-económica da vila. Até 1901 seriam fundadas mais sete unida-
des conserveiras. Quase todas de capital estrangeiro: quatro de capital andaluz, duas de capital
português e mais uma de capital italiano. E foram as de capital andaluz e genovês as que mais
prosperaram. Andaluzes que deixaram a actividade comercial para se tornarem empresários e
industriais conserveiros bem sucedidos, abrindo, inclusive, unidades fabris em outros conce-
lhos (Ramirez em Olhão).

Fábricas que irão precisar, cada vez mais, de mão-de-obra para alimentá-las. Originando,
assim, o crescimento do operariado conserveiro a trabalhar na vila, que se processa de forma
rápida: 242 operários e operárias em 1881, 388 em 1890, 818 em 1903 e 1 007 em 190719.
Chegam novos andaluzes, provenientes do Andévalo. E adquirem-se as primeiras máquinas
a vapor (para a fábrica de conservas «Santa Maria», da firma «Parodi & Roldan», em 1879;
e para a fábrica de conservas «São Sebastião», de Francisco Rodríguez Tenório, em 1884), que se
destinavam a fazer funcionar as máquinas operadoras para o fabrico do vazio e/ou a impressão li-
tográfica, assim como complementar as caldeiras de pressão que estas duas fábricas já possuíam20.

O papel dos industriais andaluzes na industrialização do Algarve

Ao longo da segunda metade do século XIX o Algarve assistiu a uma processo de industrializa-
ção, em grande parte impulsionado por um conjunto de empresários estrangeiros, grande parte
deles andaluzes21.

19. Cf. RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira, «Vila Real de Santo António, centro piscatório e conserveiro», in
O Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias (elementos para a sua história), op. cit., p. 420.

20. Cf. CUSTÓDIO, Jorge, «A indústria conserveira vila-realense. Um caso peculiar de urbanização industrial e
de património», art. cit., pp. 117-118.

21. O historiador José Carlos Vilhena Mesquita fornece alguns exemplos: os britânicos Barr Crispin, os france-
ses Barrot, os suíços Landerset, os dinamarqueses Weinholtz, os italianos Parodi, e os espanhóis Cúmano, Feu,
Ramirez, Cumbrera, Roldan, Gomez, Centeno, Drago, Valverde, Ávila, entre outros, in MESQUITA, José Carlos

312
Se na primeira metade do século, como bem notou José Carlos Vilhena Mesquita, a in-
dústria algarvia poderia ser caracterizada como uma «proto-industrialização»22, aquilo que os
historiadores designam por uma «produção industrial doméstica»23, ao longo da segunda me-
tade do século essa «proto-industrialização» foi evoluindo para uma industrialização. A partir
das últimas duas décadas de Oitocentos, nomeadamente nas indústrias pesqueira, conserveira
e corticeira, este processo de industrialização, foi em grande parte organizado, dirigido e im-
pulsionado por empresários e industriais andaluzes naturais da província de Huelva, que anos
antes se tinham iniciado no comércio e agora transitavam para a indústria24. O processo manual
passou a maquinal. As oficinas caseiras deram lugar às fábricas, alimentadas por uma mão-de-
-obra que, em grande parte, trocou o trabalho agrícola pelo industrial. As pessoas a trabalhar
por conta de outra aumentaram. As quantidades produzidas de bens crescem, o que fez com que
as mesmas pudessem começar a ser exportadas para mercados externos à região de produção,
nomeadamente para mercados internacionais25

Este processo de industrialização foi iniciado pelas indústrias da tecelagem e das con-
servas, e teve como principais palcos os concelhos de Vila Real de Santo António, a partir de
1879, e de Vila Nova de Portimão, a partir da última década do século XIX.

Em V.R.S.A., e só na indústria conserveira, os principais capitães dessa revolução fo-


ram três andaluzes: Sebastián Ramírez (El Almendro, 1828 – V.R.S.A., 1900), Juan Maestre
Cumbrera (Villanueva de los Castillejos, 1840 – V.R.S.A., 1923) e Francisco Rodríguez Tenório
(Villanueva de los Castillejos, 1843 – V.R.S.A., 1907), que dominaram, por largos anos, a in-
dústria conserveira na vila. Com a curiosidade de, duas das empresas por eles fundadas há cerca
de 140 anos, ainda continuarem a produção de conservas de peixe hoje em dia (a Ramirez e a

Vilhena, «Economias dominantes e relações periféricas. A proto-industrialização do Algarve (1810-1852) – ideias


síntese», in Estudos II – Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, Faro, Faculdade de Economia da
Universidade do Algarve, Novembro de 2005, p. 29.

22. Cf. ibidem, p. 25.

23. Cf. Chantal BEAUCHAMP, Revolução Industrial e Crescimento Económico no século XIX, Lisboa, Edições
70, 1998, p. 26.

24. Cf. MESQUITA, José Carlos Vilhena, «Economias dominantes e relações periféricas. A proto-industrialização
do Algarve (1810-1852) – ideias síntese», art. cit., p. 29.

25. Para uma caracterização dos conceitos de «proto-indústria» e de industrialização veja-se, por exemplo, o es-
tudo: BEAUCHAMP, Chantal, Revolução Industrial e Crescimento Económico no século XIX, Lisboa, Edições
70, 1998, pp. 25-29.

313
Tenório). E na primeira década do século XX é também vê-los a monopolizar a representação
da banca e dos seguros no concelho. Gente influente e com capital.

Em Vila Nova de Portimão, Mexilhoeira da Carregação e Olhão, e igualmente na in-


dústria conserveira, destacaram-se dois irmãos ayamontinos: numa fase inicial António Feu
Marchena (Ayamonte, 1880 – Lisboa, 1915), e, após o seu prematuro falecimento, o irmão
Cayetano Feu Marchena (Ayamonte, 1882 – Lisboa, 1946). Cayetano que teve um papel pri-
mordial no concelho de Portimão: verticalizou as unidades fabris herdadas da família, mandou
construir o primeiro bairro social para operários conserveiros a nível nacional (inaugurado em
1936) e foi um dos primeiros grandes dinamizadores da praia da Rocha como estância turística
de referência, papel que desempenhou praticamente desde a sua mudança para Vila Nova de
Portimão, em 1915.

Mas não foi só na indústria conserveira que a presença dos andaluzes se fez notar. Noutros
sectores de actividade e indústrias outros andaluzes se destacaram a nível regional e até nacio-
nal, como, por exemplo: a família Roldan, natural de Puebla de Guzmán, mas estabelecida em
V.R.S.A desde meados da década de 1830, que se dedicou aos negócios, à industria conserveira
e pesqueira, com a participação accionista em várias sociedades pesqueiras; Alberto Rodríguez
Centeno (Villanueva de los Castillejos, 1828 – Lisboa, 1904), num armazém de comércio por
atacado em Lisboa; Alonso Gomes (Mértola, 1819 – Mértola, 1897), na exploração e na extra-
ção mineira, no distrito de Beja, e na navegação a vapor em todo o Sul do país, em geral, e no
Baixo Guadiana, em particular; Modesto Gomes dos Reyes (Ayamonte, 1867), na indústria da
tecelagem, nos concelhos de Vila Nova de Portimão e Faro; os irmãos Domingos García Blanco
e Sebastião Domingues García Blanco, naturais de El Almendro, os primeiros fabricantes e ex-
portadores de rolhas de cortiça no concelho de Silves (c. 1838); Roque Féria (Villanueva de los
Castillejos, 1856 – Tavira, 1889), na imprensa e nas artes tipográficas nos concelhos de Faro,
Olhão e Tavira; Sebastián Rodríguez Centeno (Villanueva de los Castillejos, 1820 – V.R.S.A.,
1876), no sector do comércio no concelho de V.R.S.A., entre tantos outros exemplos. Além do
comprovado empreendedorismo dos andaluzes, estes trouxeram consigo uma dinâmica indus-
trial, empresarial e comercial, que contribuiu, em elevada escala, para o início do processo de
industrialização do Algarve.

De referir, ainda, que alguns deles foram uns dos primeiros representantes de institui-
ções bancárias nacionais e de seguradoras, nacionais e internacionais, em Loulé (desde 1895)

314
e em V.R.S.A. (desde 1901), num sector financeiro que, por esses anos, evoluía a passos largos
na região algarvia.

As inovações tecnológicas e a revolução industrial no Algarve

Tão ou mais importante do que o seu dinamismo, empreendedorismo, capacidade de trabalho e


estruturas empresariais, o que estes espanhóis – catalães, valencianos e andaluzes – trouxeram
para o Algarve, e souberam implementar na região, foi um conjunto de significativas e impor-
tantes inovações tecnológicas. Implementadas, ao longo do século XIX, nas indústrias da pesca,
das conservas e da cortiça, contribuindo, também assim, para a revolução industrial algarvia.

Na indústria pesqueira deve-se, no entanto, referir que as inovações tecnológicas foram


trazidas, inicialmente, para a Baixa Andaluzia, por catalães e valencianos, e, só depois, impor-
tadas e implementadas, por imitação ou por iniciativa de espanhóis, no Algarve, ao longo do
último quartel do século XIX26. Deste modo, deve-se aos espanhóis a introdução de inovações
tecnológicas, como, por exemplo: as xávegas (conjunto de redes em forma de saco, que possi-
bilitavam a captura de volumosos cardumes de sardinha, nomeadamente no extremo oriental
do Sotavento)27; as «parellas de bous» ou, em português, «parelhas de bois» (artes de arrastar),
estrutura de tracção animal que em terra ajudava a puxar as redes lançadas no mar; o «copo à
valenciana»28, ou, também designadas, por «armações à valenciana»29, utilizadas para maxi-

26. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., pp. 219-220,
pp. 224-226 e p. 462; PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., p. 47.

27. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 221. Para se ficar
a saber como é composta uma «arte de xávega», veja-se: SILVA, António Artur Baldaque da, Estado actual das
pescas em Portugal comprehendendo a pesca marítima, fluvial e lacustre em todo o continente do reino, referido
ao anno de 1886, op. cit., pp. 245-246.

28. O «copo à valenciana» era um novo compartimento do corpo da armação de pesca, de planta trapezoidal, fe-
chado pelo fundo e fechável no contacto com o bucho por duas portas, constituídas, tal como aquele e as paredes
do copo, por panos de rede de malha mais miúda do que a dos restantes compartimentos. A rede do fundo pode
ser levantada à superfície e com ela os peixes aprisionados no copo, mais rapidamente do que com as sacadas,
in CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., pp. 219-220; SILVA,
Joaquim Lino da, Armações de Pesca, vol. I, [texto policopiado], Lisboa, 1966, p. 182.

29. Para se ficar a saber como é composta uma «armação à valenciana», veja-se: SILVA, António Artur Baldaque
da, Estado actual das pescas em Portugal comprehendendo a pesca marítima, fluvial e lacustre em todo o conti-
nente do reino, referido ao anno de 1886, op. cit., pp. 225-226.

315
mizar a captura do atum e da sardinha; os galeões, numa primeira fase a remos, e, mais tarde,
a vapor (artes de cerco); as traineiras; e dos arrastões para mariscos30. Concluindo-se, assim,
que a estrutura moderna das armações de atum foi definida na segunda metade do século XIX,
período caracterizado no Algarve por um forte dinamismo, a nível tecnológico, empresarial e
comercial, no sector pesqueiro.

Na indústria conserveira, foram eles que introduziram o «método catalão e valenciano» de


preparação do peixe com vários molhos, assado ou frito em escabeche, assim como o método de
filetagem das conservas de atum. E na indústria corticeira, implementaram o «método catalão»,
também conhecido por «método de cutelo fixo», na fabricação industrial de rolhas de cortiça.

Política e sociedade: uma questão de estatuto

Andaluzes de primeira, de segunda e de terceira geração que souberam alcançar um estatuto


sócio-político de relevância a nível local, distrital e nacional. Em Loulé com sucessivos verea-
dores, eleitos ou nomeados, para oito gestões autárquicas (num total de doze mandatos), entre
1893 e 191731.

Em V.R.S.A., todavia, o seu peso político fez-se sentir de uma forma mais significativa.
Entre 1841 e 1965 onze andaluzes de primeira, de segunda ou de terceira geração, presidiram,
por vinte e duas ocasiões diferentes, os destinos da autarquia32. Caso único, provavelmente,
a nível nacional. Se nos fixarmos somente entre 1902 e 1965 dez andaluzes de segunda e de
terceira geração cumpriram o cargo de presidente da câmara municipal por dezoito ocasiões:
duas na década de 1900, uma na década de 1910, quatro na década de 1920, duas na década
de 1930, quatro na década de 1940, quatro na década de 1950 e, finalmente, uma na déca-
da de 1960. Gente influente e da confiança do regime estado-novista, só assim se compreen-
de a quantidade de vezes que ocupou a presidência da câmara municipal após 1930, década
a partir da qual os presidentes de câmara começaram a ser nomeados pelo regime político.
Mas não se ficaram somente pela política local, ocupando, igualmente, cargos políticos de

30. Cf. CAVACO, Carminda, O Algarve Oriental. As Vilas, o Campo e o Mar, vol. II, op. cit., p. 462.

31. Veja-se no capítulo 4 o quadro n.º 4.23.

32. Veja-se no capítulo 5 o quadro n.º 5.13.

316
âmbito nacional: dois deputados da nação33, dois governadores civis do distrito de Faro34e até
um ministro de Salazar35.

Gente influente e preocupada com os destinos locais. E de diversas tendências políticas,


porque os havia regeneradores e progressistas, monárquicos e republicanos, democratas e sala-
zaristas. E, em V.R.S.A., até maçons havia36. Se Frederico Alexandrino Garcia Ramirez foi, du-
rante muitos anos, o líder do partido Progressista no Algarve e deputado eleito por esse partido
durante dezasseis anos; o seu filho Sebastião seria ministro de Salazar e deputado pela União
Nacional durante cerca de trinta e cinco anos consecutivos. Ou, então, o caso de Cayetano Feu
Marchena, em Portimão, um dos maiores entusiastas e implementadores da política social cor-
porativa do Estado Novo37. Cargos só possíveis de alcançar em virtude dos seus talentos, conhe-
cimentos a vários níveis e concordância política com os regimes de então.

Mas a influência local não se fazia sentir só a nível político e partidário. Encontra-mo-
los, sem dificuldade, um pouco por todo o lado: em direcções de associações recreativas, clubes
associativos e recreativos, sociedades filarmónicas, companhias teatrais, comissões promoto-
ras do Carnaval, comissões organizadoras de festividades religiosas, na Mesa da Santa Casa da
Misericórdia, etc… Estavam um pouco por todo o lado. E a sua influência, popularidade e êxito
comercial levava a que fossem propostos ou eleitos para uma tão grande variedade de cargos
directivos. E parece que não se faziam rogados.

33. Frederico Alexandrino Garcia Ramirez, deputado eleito, pelo partido Progressista, para a Câmara dos
Deputados, entre 1892 e 1908, e, anos mais tarde, o seu filho Sebastião Garcia Ramires, deputado, pela União
Nacional, para a Assembleia Nacional, entre 1934 e 1969. Veja-se o Apêndice biográfico n.º 21.

34. Frederico Alexandrino Garcia Ramirez, entre 1904 e 1905, e Matias Gomes Sanches, entre 1936 e 1938.

35. Sebastião Garcia Ramires, ministro do Comércio, Indústria e Agricultura, entre 1932 e 1933, e, depois, minis-
tro do Comércio e Indústria, entre 1933 e 1936. Veja-se o Apêndice biográfico n.º 20.

36. Manuel Pérez Cumbrera foi um destacado membro da Maçonaria no concelho, tendo sido iniciado a 12 de
Abril de 1911 no «Triângulo n.º 163» de V.R.S.A. com o nome simbólico de «Pombal». Foi, ainda, fundador da
Loja «Guadiana n.º 371», com «atestado de quite» de 21 de Maio de 1916. Veja-se o Apêndice biográfico n.º 8.

37. Veja-se o Apêndice biográfico n.º 17.

317
Os laços com a Andaluzia

As colónias de andaluzes radicadas em Loulé e em V.R.S.A. cultivavam as sociabilidades com a


Andaluzia natal. O que fazia com que as colónias de andaluzes radicadas nesses dois concelhos
ali se deslocassem com frequência. Para visitar familiares ou rever amigos. E, neste particular,
privilegiavam-se as datas das festividades religiosas, datas fortemente identitárias e de sociali-
zação comunitária por excelência. Nomeadamente as celebradas em honra das padroeiras e pro-
tectoras locais: os naturais de Villanueva de los Castillejos e de El Almendro aproveitavam as
festividades em honra de Nuestra Señora de las Piedras Albas, padroeira dos dois municípios;
enquanto os naturais de Ayamonte privilegiavam as festividades em honra de Nuestra Señora
de las Angustias. Gesto que se repetia ano após ano. Nessas ocasiões aproveitava-se para rever
familiares, recordar tempos de infância ou desfrutar de um certo tradicionalismo andaluz (cos-
tumbrismo), nunca renegado nem esquecido.

Mas a ligação à Andaluzia também se verificava com a denominação de várias empre-


sas existentes em V.R.S.A., na primeira década do século XX – a fábrica de louça de barro «La
Sevilhana», a confeitaria «Hespanhola» ou a agência de seguros «El Fénix Español», tudo pro-
priedade de andaluzes radicados na vila.

Uma ligação que se estendia até à gastronomia. Na casa dos Cumbrera, em V.R.S.A., era
muito natural cozinhar-se «salmorejo»38 e outros pratos à base de caça, característicos da região
do Andévalo; e em Loulé, por alturas da Páscoa, não faltava a tradicional «caldeireta»39 à mesa
das famílias andaluzas, tradição que, ainda hoje, alguns descendentes fazem questão de continuar.

No entanto, quando comparados, não surpreende que os laços com a Andaluzia manti-
dos pela colónia residente em V.R.S.A. fosse superior à de Loulé. A proximidade geográfica e o
facto de ser mais numerosa a isso ajudava. O intercâmbio entre V.R.S.A. e Ayamonte, na outra
margem do Guadiana, era profícuo, constante e antigo, e, com o passar dos anos, intensificou-
-se. Intercâmbio realizado a diversos níveis: económico, comercial e cultural. Era raro o ano em
que uma das duas sociedades filarmónicas louletanas não era contratada para abrilhantar uma
festa religiosa na Andaluzia. Foi assim durante muitos anos. Praticamente até à década de 1970.

38. Salada fria confeccioada à base de coelho assado, tomate e pimentos salteados.

39. Prato refogado à base de cabrito, que, posteriormente, é temperado com vinho da região de Huelva. Era tradi-
cional comer este prato pela Páscoa.

318
Os filarmónicos louletanos aproveitavam para observar e aprender novos modismos e tipismos
locais, trazendo para Loulé novas pautas com marchas processionais e passodobles espanhóis,
num processo de intercâmbio musical muito apreciado pelos louletanos.

+++

Com esta investigação pretendi contribuir para a História das migrações inter-regionais,
assim como para a História Económica e Social do Algarve, em particular, e para a História
Regional do Algarve, no geral. Acreditando na importância que as monografias e os estudos de
carácter local e regional podem e devem contribuir para o conhecimento da História global de
um país, porque sem o contributo da História Local e da História Regional ficará sempre mais
difícil construir uma História Nacional40. Porque, disso não tenhamos dúvidas, há toda uma bela
história ainda por escrever...

40. Cf. COELHO, P. M. Laranjo, Vantagens do estudo das monografias locais para o conhecimento da história
geral portuguesa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1926, p. 8.

319
FONTES E BIBLIOGRAFIA

1. Fontes manuscritas

1.1. Arquivos portugueses

ARQUIVO DA CONSERVATÓRIA DO REGISTO PREDIAL DO CONCELHO DE LOULÉ

Livro das Inscrições e Descrições Prediais da Extinta Conservatória do Registo Predial


de Loulé, livros B-1, B-2 e B-4.

Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial e Comercial de Loulé,


livros B-1, B-2, B-3, B-4, B-5, B-6, B-7, B-8, B-9, B-10, B-211, B-12, B-13, B-14,
B-15, B-16, B-17, B-18, B-19, B-20, B-21, B-22, B-23, B-24, B-25, B-26, B-27, B-28,
B-29, B-30, B-31, B-32, B-33, B-34, B-35, B-36, B-37, B-38, B-39, B-40, B-41, B-42,
B-43, B-44, B-45, B-46, B-47, B-48, B-49, B-50, B-51, B-52, B-53, B-54, B-55, B-56,
B-57, B-58, B-59, B-60 e B-61.

Livro de Registo de Inscrições Diversas, livros F-1, F-2, F-3, F-4, F-5, F-6 e F-7.

Livro de Registo de Transmissões, livro G-1.

ARQUIVO DISTRITAL DE FARO

Fundo do Governador Civil de Faro

Copiador da correspondência recebida para o ano de 1839.

Livro de Registos de Bilhetes de Residência, 1889-1921.

Fundo da 5.ª Circunscrição Industrial, 1896-1975

Vistorias para a atribuição de alvarás em fábricas de conservas de peixe, 1924-1925.

Fundo da Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, em Vila Real de Santo António

Livro de registo de baptismos da Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, em Vila


Real de Santo António, 1869-1869, 1877-1877, 1880-1880 e 1898-1898.

321
Fundo da Paróquia de São Clemente, Loulé

Livro de registo de baptismos da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1851-1854, 1854-1857,


1857-1860, 1860-1862, 1862-1863, 1863-1865, 1865-1866, 1867-1867, 1868-1868,
1869-1869, 1870-1870, 1871-1871, 1872-1872, 1873-1873, 1874-1874, 1875-1875,
1876-1876, 1877-1877, 1878-1878, 1879-1879, 1880-1880, 1880-1880, 1881-1881,
1881-1881, 1882-1882, 1882-1882, 1883-1883, 1883-1883, 1884-1884, 1884-1884,
1885-1885, 1885-1885, 1886-1886, 1886-1886, 1887-1887, 1887-1887, 1888-1888,
1888-1888, 1889-1889, 1889-1889, 1890-1890, 1890-1890, 1891-1891, 1891-1891,
1892-1892, 1893-1893, 1894-1894, 1895-1895, 1896-1896, 1897-1897, 1898-1898,
1899-1899, 1900-1900, 1901-1901, 1902-1902, 1903-1903, 1904-1904 e 1905-1905.

Livro de registos de casamentos da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1852-1861,


1861-1865, 1865-1868, 1869-1869, 1870-1870, 1871-1871, 1872-1872, 1873-1873,
1874-1874, 1875-1875, 1876-1876, 1877-1877, 1878-1878, 1879-1879, 1880-1880,
1881-1881, 1882-1882, 1883-1883, 1884-1884, 1885-1885, 1885-1885, 1886-1886,
1887-1887, 1888-1888, 1889-1889, 1889-1889, 1890-1890, 1891-1891, 1892-1892,
1893-1893, 1894-1894, 1895-1895, 1896-1896, 1897-1897, 1898-1898, 1899-1899,
1900-1900, 1901-1901, 1902-1902, 1903-1903, 1904-1904, 1905-1905, 1906-1906,
1907-1907, 1908-1908, 1909-1909, 1910-1910 e 1911-1911.

Livro de registos de óbitos da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1903-1903.

Fundo da Paróquia de São Sebastião, Loulé

Livro de registos de baptismos da Paróquia de São Sebastião, Loulé, 1891-1891, 1892-1892,


1893-1893, 1894-1894, 1895-1895, 1896-1896, 1897-1897, 1898-1898, 1899-1899,
1900-1900, 1901-1901, 1902-1902, 1903-1903, 1904-1904 e 1905-1905.

Livro de registos de casamento da Paróquia de São Sebastião, Loulé, 1891-1891,


1892-1892, 1893-1893, 1894-1894, 1895-1895, 1896-1896, 1897-1897, 1898-1898,
1899-1899, 1900-1900, 1901-1901, 1902-1902, 1903-1903, 1904-1904, 1905-1905,
1906-1906, 1907-1907, 1908-1908, 1909-1909 e 1910-1910.

Fundo da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Silves

Livro de registo óbitos da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Silves, 1887.

322
ARQUIVO HISTÓRICO DO MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, TRANSPORTES E
COMUNICAÇÕES

Fundo da Junta do Comércio

Processo de licenciamento de fábricas e matrícula de servidores, Salga de sardinha,


1830.

ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL ANTÓNIO ROSA MENDES (EM VILA REAL DE


SANTO ANTÓNIO)

Fundo da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António

Licenças de Comércio, para o concelho de V.R.S.A., entre 1850 e 1882.

Lista completa de todos os presidentes da Câmara Municipal de V.R.S.A., entre 1834 e


2019.

Livro de Registo das Actas de Vereação da Câmara Municipal de V.R.S.A., desde 18 de


Outubro de 1886 a 30 de Dezembro de 1893, lv. 005, acta de vereação do dia 25 de
Fevereiro de 1888, fl. 106.

Livro de Actas da Comissão dos Quarenta Maiores Contribuintes.

ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE OLHÃO

Fundo do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Sotavento do Algarve

Firmas inscritas no Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do concelho de Olhão


(1908-1941).

ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE SILVES

Fundo do Administrador do Concelho de Silves

Livro de Registo de Passaportes passados nesta Administração do concelho, 1860-1863


e Passaportes de Trânsito (fólios avulsos).

323
Fundo da Câmara Municipal de Silves

Livro das Actas da Câmara Municipal de Silves, Auto de Posse e Juramento, fl. 63v. e
189v.

ARQUIVO MUNICIPAL DE LAGOA

Fundo da Administração do Concelho de Lagoa

Livro de registos das residências de Estrangeiros neste Concelho de Lagoa, 1869-1894.

Fundo da Família Formosinho

Série 601, Unidade de Instalação n.º 6 905, manuscrito de 3 de Abril de 1902.

ARQUIVO MUNICIPAL DE LAGOS

Fundo da Câmara Municipal de Lagos

Livro de Registo de Bilhetes de Residência a Estrangeiros no concelho de Lagos,


1897-1950.

ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA

Licenças para Estabelecimentos de Comércio e Indústria, 1890, licença n.º 7451.

Licenças para Estabelecimentos de Comércio e Indústria, 1900, licença n.º 6042.

Licenças para Estabelecimentos de Comércio e Indústria, 1910, licença n.º 3827.

ARQUIVO MUNICIPAL DE LOULÉ PROFESSOR JOAQUIM ROMERO MAGALHÃES

Fundo do Administrador do Concelho de Loulé

Cadastro Geral de todos os Estrangeiros residentes no dito Concelho no anno de 1842.

Correspondência Expedida, lv. 45, 1913, ofício n.º 559, de 13 de Maio de 1913.

324
Fundo da Câmara Municipal de Loulé

Livro das Actas das Sessões da Câmara Municipal de Loulé, desde 26 de Junho de 1893
a 4 de Outubro de 1897, lv. 37-1.

Livro do Registo dos Comerciantes, 1867.

Registo de Documentos relativos ao recenseamento eleitoral, 1870-1883, lv. 04.

Registo de Documentos relativos ao recenseamento eleitoral, 1883-1891, cd. 11, folhas


avulsas.

Serviços Administrativos, Requerimentos recebidos, mç. 10.

Fundo da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva

Livro de Contas dos Filarmónicos da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva,


1933-1961.

Livro das Festas e Nômes dos Musicos, que tomaram parte, com respectivas importâncias,
1966-1971.

ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO

Fundo da Paróquia de São Clemente, Loulé

Livro de registo de baptismos da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1800-1806,


1806-1809, 1809-1813, 1813-1816, 1816-1821, 1821-1824, 1824-1826, 1826-1830,
1830-1834, 1834-1838, 1838-1841, 1841-1844, 1844-1846, 1846-1848 e 1848-1851.

Livro de registos de casamentos da Paróquia de São Clemente, Loulé, 1801-1807,


1807-1815, 1815-1822, 1822-1826, 1826-1833, 1833-1836, 1836-1844 e 1844-1852.

Fundo da Paróquia de Silves

Livro de registo de baptismos da paróquia de Silves, 1845-1848.

Processos Políticos do Reinado de D. Miguel, mç. 15, n.º 7 e mç. 68, n.º 11.

325
BIBLIOTECA DA ALFÂNDEGA DE LISBOA

Livro 35-2, fls 125-125v. (Rezisto de huma Provizão de Sua Magestade sobre extinguir
a Alfandega de Castro Marim com todos os officiaes e empregos e passar para a nova
Villa de Santo Antonio de Arenilha).

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO ARQUIVO HISTÓRICO DO MUSEU MUNICIPAL


DE PORTIMÃO

Fundo do Administrador do Concelho de Portimão

Registo de estrangeiros residentes em Portimão, 1841-1904, caixa 18, capilla 5.

1.2. Arquivos espanhóis

ARCHIVO DEL ARZIBISPADO DE SEVILLA

Libro de Visitas, tomo 68.

ARCHIVO GENERAL DE LA ADMNISTRACIÓN (EM ALCALÁ DE HENARES)

Fondo del Consulado de España en Villa Real de Santo Antonio

Libro del Registro de correspondencia general años 1869 al 1878.

Libro del Registro de copiador para el Ministerio de Estado, 1897-1905, despacho n.º 21,
de 17 de Abril de 1901.

ARCHIVO HISTÓRICO NACIONAL (EM MADRID)

Estado, legajo 4510, caja 1, n.º 92, de 11 de Agosto de 1810.

Estado, legajo 4514, caja 1, s./f., Lisboa, 6 de Enero de 1812.

326
Estado, legajo 4514, caja 1, s./f., 274.

Estado, legajo 4514, caja 2, s./f., de 18 de Junio de 1811.

Fondo del Ministerio de Exteriores – H

Consulado de España en Faro, correspondencia del ano 1855, cx. 1886, despacho n.º 5,
de 19 de Abril de 1855.

Consulado de España en Faro, correspondencia del ano 1861, cx. 1886, despacho n.º 2,
de 11 de Febrero de 1861.

Consulado de España en Villa Real de San Antonio del ano de 1844, cx. 2093,
correspondencia del ano de 1844, 16 de Enero de 1844.

Consulado de España en Villa Real de San Antonio del ano de 1868, cx. 2093, despacho
n.º 8, de 4 de Junio de 1868.

ARCHIVO MUNICIPAL DE AYAMONTE

Actas Capitulares, legajo 23, acta de 19 de Octubre de 1811; acta de 3 de Diciembre de


1811.

Libro de Actas Capitulares, legajo 32, sessões de Enero de 1903 a Setiembre de 1906, fl. 2.

«La guerra de la Independencia», legajo 72, 1814.

ARCHIVO MUNICIPAL DE EL ALMENDRO

Libro de Actas Capitulares, 1810-1815, legajo 4, acta de 16 de Septiembre de 1814, s./f.;


acta de 4 Junio de 1815, s./f.; acta de 6 de Junio de 1815, s./f.

ARCHIVO MUNICIPAL DE VILLABLANCA

Autos, legajo 269, informe de 16 de Marzo de 1818.

327
ARCHIVO MUNICIPAL DE VILLANUEVA DE LOS CASTILLEJOS

Libro de Actas Capitulares, 1809-1813, legajo 11, acta de 12 de Enero de 1812, s./f.;acta
de 11 de Junio de 1812, s./f.; acta de 16 de Mayo de 1813, s./f.

Libro de Actas Capitulares, 1815-1821, legajo 13, acta de 13 de Julio de 1816, s./f.; acta
de 30 de Octubre de 1816, s./f.

Expedientes de Reclutamiento, legajo 99, s./f.

«Sobre la venta pública de la bellota de la Dehesa Yeguar, ante los apuros económicos
por los que pasa el cabildo», legajo 202, 1812.

ARCHIVO PARROQUIAL DE LA IGLESIA DE NUESTRA SEÑORA DE LA CONCEPCIÓN


(EM VILLANUEVA DE LOS CASTILLEJOS)

Libro de Registro de bautismos, lv. 24, fl. 166.

ARCHIVO DE PROTOCOLOS NOTARIALES DE AYAMONTE

Escribanía de Villanueva de los Castillejos a cargo de Isidro Ponce de Torres, legajo


1066, fls. 39-40.

1.3. Arquivos particulares

António Capa Horta Correia

Bruno Portugal Gomes

Descendentes de Angel Delgado Pérez

João Barros Madeira

João Romero Chagas Aleixo

José Paulo Vásquez

328
Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes

Maria Bella Cumbrera Tavares

Maria Isete Romero Chagas Aleixo

Nuno Campos Inácio

2. Fontes impressas

2.1. Fontes impressas portuguesas

AA. VV., Inquérito sobre a pesca em Portugal Continental e Ilhas no ano de 1890, Lisboa,
Ministério da Marinha, 1890.

«A conserva de atum no Algarve», in Algarve e Alemtejo [sic], Faro, ano IX, n.º 424, edição de
26 de Junho de 1898, p. 1.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1902.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1903.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1904.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1905.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1906.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1907.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1908.

329
Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1909.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1910.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1911.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1912.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1913.

Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de Caldeira Pires, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1914.

Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de


Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1897.

Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de


Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1898.

Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de


Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1899.

Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de


Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1900.

Annuario Commercial ou Annuario Official de Portugal Ilhas e Ultramar, coordenação de


Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901.

Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1893.

Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1894.

Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1895.

Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1896.

330
Anuário Estatístico de Portugal – 1900, Lisboa, Imprensa Nacional, 1907.

«A pesca de atum na costa do Algarve», in Guadiana, Vila Real de Santo António, ano I, n.º 6,
edição de 30 de Abril de 1903, p. 4.

Boletim do Trabalho Industrial, Inquérito sobre as Indústrias Têxteis, Lisboa, Imprensa


Nacional, n.º 105, 1916.

Boletim do Trabalho Industrial, Inquérito sobre as Indústrias Têxteis, n.º 105, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1916.

Boletim do Trabalho Industrial, n.º 17, 18 e 19, de 1907.

BONNET, Charles, Memória sobre o Reino do Algarve: Descrição Geográfica e Geológica,


[edição fac-similada da 1.ª edição, Lisboa, Typografia da Academia das Ciências, 1850],
Faro, Secretaria de Estado da Cultura, Delegação do Sul, 1990.

BRITES, Geraldino da Silva Baltasar, Febres Infecciosas. Notas sobre o Concelho de Loulé,
Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1914.

CABREIRA, Thomaz, O Algarve Económico, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1918.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1880.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1881.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1882.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1883.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1884.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1885.

331
CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia
Universal, 1886.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1887.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1888.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1889.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1890.

CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Almanach Commercial de Lisboa, Lisboa, Typografia


Universal, 1891.

CASTRO, Padre João Bautista de, Mappa de Portugal Antigo, e Moderno, 3 volumes, Lisboa,
Officina Patriarcal de Francifco Luiz Ameno, 1762-1763.

Censo da População de Portugal – Dezembro de 1920, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional,


1923.

Censo da População de Portugal no 1.º de Dezembro de 1911, parte I, Lisboa, Imprensa


Nacional, 1913.

Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1890, volume I, Lisboa,


Imprensa Nacional, 1896.

Censo da População do Reino de Portugal no 1.º de Dezembro de 1900, Lisboa, Imprensa


Nacional, 1905.

Censo no 1.º de Janeiro de 1864, Lisboa, Impressa Nacional, 1868.

Censo no 1.º de Janeiro de 1878, Lisboa, Impressa Nacional, 1881.

Collecção de Leis Sobre a Pesca desde Julho de 1860 a Dezembro de 1894, coordenação de
Joaquim de Sant’Anna Fonseca Júnior, Lisboa, Imprensa Nacional, 1894.

332
Diário do Governo, n.º 283, de 13 de Dezembro de 1886, p. 3596.

Diário do Governo, n.º 46, de 27 de Fevereiro de 1890, pp. 427-428.

Diário do Governo, n.º 235, de 15 de Outubro de 1890, pp. 2394-2396.

Diário do Governo, n.º 203, de 10 de Setembro de 1895, pp. 2470-2472.

Diário do Governo, n.º 171, de 5 de Agosto de 1898, p. 2059.

Diário do Governo, n.º 180, de 13 de Agosto de 1900, p. 2262.

Documentos Apresentados ás cortes na sessão Legislativa de 1874 pelo Ministro e Secretário


d’ Estado dos Negocios Estrangeiros – Emigração Portugueza, Lisboa, Imprensa Nacional,
1874.

Emigração Portuguesa, 1901-1910, Lisboa, Imprensa Nacional, 1910.

Emigração Portuguesa, 1901-1912, Lisboa, Imprensa Nacional, 1912.

Estatística Industrial. 1.ª Série. Districtos de Évora, Beja e Faro, Lisboa, Imprensa Nacional,
1905.

FIDALGO, Andreia, «O Suplemento ao Memorial Económico, e Político sobre a Agricultura,


Comércio e Pescarias do Reino do Algarve, de autoria do Bacharel José Viegas de Andrade»,
in Anais do Município de Faro, dirigidos por Joaquim Romero Magalhães, Faro, Câmara
Municipal de Faro, vol. XL, 2018, pp. 95-184.

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Industria, 6 volumes, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881-1883.

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333
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do Reino do Algarve, Lisboa, Typographia da Academia das Sciencias de Lisboa, 1841.

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do Reino do Algarve, 2 volumes, 2.ª edição, Faro, Algarve em Foco Editora, 1988 [1841].

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Memorias economicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa, para o adiantamento da


agricultura, das artes, e da industria em Portugal, e suas conquistas, 5 tomos, Lisboa,
Officina da Academia Real das Sciencias, 1789-1815.

«Memória sobre o estado das pescarias da costa do Algarve no ano de 1790», in Memórias
Económicas, volume V, Lisboa, Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1815, pp. 94-137.

Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nova Colecção de Tratados, Acordos, Convenções,


Contratos e Actos Públicos Celebrados entre Portugal e as mais Potências, Coimbra,
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Editora, 1999 [1906].

OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, 3.ª edição, Faro,
Algarve em Foco Editora, 1999 [1908] .

334
OLIVEIRA, Ataíde, Monografia de Porches, Concelho de Lagoa, 3.ª edição, Faro, Algarve em
Foco Editora, 2003 [1912].

PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Portugal Dicionário histórico, corografico,


heráldico, biográfico, bibliográfico, numismático e artístico: abrangendo a minuciosa
descrição… de todos os factos notáveis da história portuguesa, etc. etc., João Romano
Torres e C.ª Editores, Lisboa, 7 volumes, 1904-1915.

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dos Senhores Deputados, Lisboa, Imprensa Nacional, 1873.

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1909.

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2.2. Fontes impressas estrangeiras

Estadística de la Emigración e Inmigración de España en los años 1882-1890, Madrid, 1891.

Boletín Oficial de la Provincia de Huelva, n.º 86, de 29 de Diciembre de 1886.

335
Boletín Oficial de la Provincia de Huelva, 28 de Maio de 1913, p. 3.

BONNET, Charles, Algarve (Portugal): Description Géographique et Géologique de cette


Province, Lisbonne, Académie Royale des Sciences de Lisbonne, 1850.

CAMPS, Andrés, Pasado, Presente y Futuro dei Corcho y su industria en España y Portugal,
Évora, Typ. de Francisco de Cunha Bravo, 1880.

Censos da Población General de España, para o ano de 1842.

Censos da Población General de España, para o ano de 1857.

Censos da Población General de España, para o ano de 1860.

Censos da Población General de España, para o ano de 1877.

Censos da Población General de España, para o ano de 1887.

Censos da Población General de España, para o ano de 1897.

Censos da Población General de España, para o ano de 1900.

Censos da Población General de España, para o ano de 1910.

Censos da Población General de España, para o ano de 1920.

Consejo Superior de Emigración, 1916: La emigración española transoceánica, 1911-1915,


Madrid.

Estadística(s) de emigración e inmigración, 1882-1890; 1891-1895; 1896-1900; 1909-1911.

Étude comparative des recensements 1910-1920-1930, Ginebra, 1936.

FERRO, Gaetano, «La Pesca Nel Mare Dell’Algarve», in Annali di recerche e studi di geografia,
volume X, 4, Settembre-Dicembre di 1954, Società d’Arte Poligrafica, 1954.

FIGUEIREDO, Alphonse de, Le Portugal. Considerations sur l’etat de l’administration, des


finances, de l’industrie et du commerce de ce royaume et de ses colonies, 1873.

GRAUX, Lucien, Le Portugal Economique. Rapport a M. le Ministre du Commerce et de l’


Industrie, Paris, 1937.

336
MADOZ, Pascual, Diccionario Geográfico-estadístico-histórico de Andalucía, 8 volumes,
1845-1850.

MADOZ, Pascual, Diccionario Geografico-Estadistico-Histórico de España y sus Posessiones


de Ultramar, Madrid, s./e., 1845-1850.

MIÑANO Y BEDOYA, Sebastián, El Diccionario Geográfico y Estadístico de España y


Portugal, 11 volumes, 1826-1829.

MIRAVENT y SOLER, José, Historia primitiva de Isla Cristina. Memoria sobre la Fundación
y Progresos de la Real Isla de La Higuerita, Huelva, Diputación Provincial de Huelva, 1824.

MIRAVENT y SOLER, José, Memoria sobre la fundación y progresos de la Real Isla de la


Higuerita, Isla Cristina, 1824.

RIERA, Pablo, Diccionario Geográfico, estadístico, histórico, biográfico, postal, municipal,


marítimo y eclesiástico de España y sus Posesiones de Ultramar, tomo IV, Barcelona, Imprenta
y Librería Religiosa y Científica del Herdeiro de D. Pablo de Riera, 12 volumes, 1881-1887.

RODRIGUEZ, Padre Emiliano, Monografia de El Almendro, El Almendro, Dezembro de 1904.


(monografia inédita)

3. Fontes orais

CORREIA, António Manuel Capa Horta. Entrevista dirigida com o autor. Registo de aponta-
mentos e notas em caderno. Monte Gordo, 17 de Julho de 2019.

DELGADO, Maria Regina Sintra Delgado. Entrevista semi-dirigida com o autor. Registo de
apontamentos e notas em caderno. Loulé, 7 de Junho de 2019.

FARRAJOTA, Maria Cristina. Entrevista semi-dirigida com o autor. Registo de apontamentos


e notas em caderno. Loulé, 11 de Setembro de 2021.

FEU, António. Entrevista dirigida, realizada por e-mail, com o autor. Loulé, 26 de Agosto de 2020.

MADEIRA, João Barros Madeira. Entrevista semi-dirigida com o autor. Registo de apontamen-
tos e notas em caderno. Loulé, 7 de Junho de 2019.

337
MOLINA NAVARRO, Manuel Gonzalez de. Entrevista dirigida com o autor. Registo de apon-
tamentos e notas em caderno. Universidad Pablo de Olavide, em Sevilha, 27 de Janeiro de
2015.

TAVARES, Maria Bella Cumbrera. Entrevista semi-dirigida com o autor. Registo de aponta-
mentos e notas em caderno. Vila Real de Santo António, 14 de Junho de 2019 e 16 de Julho
de 2019.

4. Periódicos

A Indústria, Setúbal, 1935, 1943.

Álbum Ibero Americano, Madrid, 1898.

Algarve e Alemtejo [sic], Faro, 1898, 1899.

A Vanguarda, Lisboa, 1896.

A Voz do Guadiana, Vila Real de Santo António, 1900.

Comércio de Portimão, Portimão, 1929, 1930, 1932, 1933, 1937, 1941.

Ecos do Sul, Vila Real de Santo António, 1938.

Folha de Loulé, Loulé, 1905, 1906, 1907.

Folha do Domingo, Faro, 1915.

Folha do Sul, Loulé, 1902, 1903, 1904, 1905.

Guadiana, Vila Real de Santo António, 1903, 1907.

Jornal de Annuncios, Loulé, 1907, 1908, 1909, 1910.

Jornal do Algarve, Vila Real de Santo António, 1972.

Novidades, Lisboa, 1925.

O Algarve, Faro, 1910, 1931.

338
O Algarvio, Loulé, 1889, 1890, 1891, 1892, 1893.

O Heraldo, Tavira, 1905.

O Heroísmo, Angra do Heroísmo (Açores), 1866

O Pregoeiro, Loulé, 1898, 1899, 1900, 1901.

O Século, Lisboa, 1908.

Voz do Sul, Silves, 1927.

5. Estudos

5.1. Obras de caracter geral

AA. VV., Historia Economica Regional de España: siglos XIX y XX, edición de Enrique Llopis,
Jordi Maluquer de Motes, Luis Germán Zuebero, Santiago Zapata, Barcelona, Editorial
Crítica, 2001.

AA. VV., Nova História de Portugal, dirigida por Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, vol.
XI, Editorial Presença, Lisboa, 1991.

AA. VV., Rotas por Descobrir: Espanha, Porto, Dorling Kindersley – Civilização, Editores,
2009.

BRAUDEL, Fernand, O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na época de Filipe II, vol. II,
2.ª edição, Lisboa, Dom Quixote, 1995 [1983].

CARR, Raymond, España 1808-2008, edición revisada y actualizada por Juan Pablo FUSI,
5.ª edição, s./l., Ariel Historia, 2015 [1969].

GODINHO, Vitorino Magalhães, Os Descobrimentos e a Economia Mundial, vol. I, Lisboa,


Arcádia, 1963.

MATTOSO, José, DAVEUAU, Suzanne, BELO, Duarte, Portugal, O Sabor da Terra: Um


retrato histórico e geográfico por regiões, s./l., Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010.

NOGUEIRA, Franco, História de Portugal, vol. II, Porto, Livraria Civilização, 1981.

339
PÉREZ-REVERTE, Arturo, Uma História de Espanha, Alfragide, Edições Asa, 2020.

PRESTON, Paul, Um Povo Traído: Corrupcção, Incompetência Política e Divisão Social na


Espanha Moderna, 1874-2018, Lisboa, Edições 70, 2020.

PROENÇA, Raul, Guia de Portugal, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1991 [1927].

RAMÓN VILLARES y Javier MORENO LUZÓN, Restauración y Dictadura, vol. 7 da


Historia de España, Barcelona/Madrid, Crítica/Marcial Pons, 2009.

5.2. Estudos demográficos

BAGANHA, Maria Ioannis B., MARQUES, José Carlos, «População», in Estatísticas


Históricas Portuguesas, coordenação de Nuno Valério, Lisboa, Instituto Nacional de Esta-
tística, 2001, pp. 33-126.

BARBANCHO, Alfonso G., La población andaluza, Granada, Universidad de Granada, 1980.

LEITE, Joaquim da Costa, «População e crescimento económico», in História Económica de


Portugal, 1700-2000, vol. II, O Século XIX, organizada por Pedro Lains e Álvaro Ferreira da
Silva, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005, pp. 43-81.

MIRA TOSCANO, Antonio, «La población de Cartaya a lo largo de la Historia», in Cartaya,


la villa y el tiempo, coordenação de Juan Villegas Martín, Huelva, Diputación Provincial /
Ayuntamiento de Cartaya, 2008, pp. 371-425.

NADAL, Jordi, La Población Española, Barcelona, Ariel, 1984, pp. 138-186.

PEREIRA, Miriam Halpern, «Demografia e desenvolvimento em Portugal na segunda metade


do século XIX», in Análise Social, vol. VII, n.º 25-26, 1969, pp. 85-117.

PÉREZ SERRANO, J., «La población rural en la Andalucía Contemporánea. Viejos y nuevos
enfoques», in La historia de Andalucía a debate. II. El campo andaluz, coordinación e
edición de Manuel González de Molina, Granada, 2002, pp. 44-60.

ROWLAND, Robert, População, Família, Sociedade: Portugal, Séculos XIX e XX, Oeiras,
Celta Editora, 1997.

340
SÁNCHEZ AGUILERA, D., «Demografía urbana y demografía rural de Andalucía a finales del
siglo XIX» in Actas del III Congreso de Historia de Andalucía. Andalucía Contemporánea,
vol. I, Córdoba, 1996, pp. 15-31.

SÁNCHEZ LORA, José Luis, Demografia y análisis histórico: Ayamonte, 1600-1860, Huelva,
Diputación Provincial, 1987.

SILVEIRA, Luís Espinha da Silveira, ALVES, Daniel, LIMA, Nuno Miguel, ALCÂNTARA,
Ana, PUIG-FARRÉ, Josep, «Caminhos de ferro, população e desigualdades territoriais em
Portugal, 1801-1930», in Ler História, n.º 61, 2011, pp. 7-38. Disponível online no seguinte
endereço: http://hdl.handle.net/10362/11029.

VEIGA, Teresa Rodrigues, A população portuguesa no século XIX, Porto, Afrontamento /


C.E.P.E.S.E., 2004.

5.3. Estudos económicos

ALVES, Daniel Ribeiro, A República atrás do balcão. Os lojistas de Lisboa na fase final
da Monarquia (1870-1910), tese de Doutoramento em História Económica e Social
Contemporânea, realizada sobre a orientação do Professor Luís Nuno Espinha da Silveira,
Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2010.

ALVES, Daniel, «Entre o balcão e a política: os lojistas de Lisboa e o republicanismo


(1890-1910)», in Ler História, n.º 59, 2010, pp. 101-123.

ALVES, Daniel Ribeiro, A República atrás do balcão. Os lojistas de Lisboa e o fim da Monarquia
(1870-1910), Chamusca, Cosmos, 2012.

BEAUCHAMP, Chantal, Revolução Industrial e Crescimento Económico no século XIX,


Lisboa, Edições 70, 1998.

CABRAL, Manuel Villaverde, O Desenvolvimento do Capitalismo em Portugal no século XIX,


2.ª edição revista e acrescentada, Lisboa, A Regra do Jogo, 1977.

CABRAL, Manuel Villaverde, Portugal na alvorada do século XX: forças sociais, poder
político e crescimento económico desde 1890 a 1914, Lisboa, A Regra do Jogo, 1978.

341
CASTRO, Armando de, A revolução industrial em Portugal no século XIX, Lisboa, 1971.

FAÍSCA, Carlos Manuel dos Santos Alves Ferreira, El negocio corchero en Alentejo: explotación
forestal, industria y política económica, 1848-1914, tesis doctoral en Economía y Empresa,
Universidad de Extremadura, 2019. Disponível online no seguinte endereço: http://dehesa.
unex.es/bitstream/10662/10257/1/TDUEX_2019_Faisca_CM.pdf [consultada pela última
vez no dia 16 de Junho de 2021].

JUSTINO, David, A Formação do Espaço Económico Nacional, 1810-1913, vol. I, Lisboa,


Editora Vega, 1988.

LAINS, Pedro, A Economia Portuguesa no século XIX. Crescimento económico e comércio


externo, 1851-1913, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995.

LAINS, Pedro, O Progresso do Atraso. Uma Nova História Económica de Portugal, 1842-1992,
Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2003.

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365
5.10. Biografias e memórias (pessoais e familiares)

BARROTE, Susana de Brito, Pedro de Freitas: a vida e a obra de um escritor e musicógrafo


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SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos),
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366
5.11. Metodologia

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Raul Rasga, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Edições Colibri, 2004.

ACOSTA, Francisco, et alli., Elites: prosopografia contemporânea, edição de Pedro Carsa


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CARDINA, Miguel, «História Oral – caminhos, problemas, potencialidades», in Usos da


memória e práticas do património, coordenação de Paula Godinho, Lisboa, Edições Colibri,
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COELHO, P. M. Laranjo, Vantagens do estudo das monografias locais para o conhecimento da


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GODINHO, Vitorino Magalhães, Introdução à História Económica, Lisboa, Livros Horizonte,


1970.

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TORGAL, Luís Reis, MENDES, José, CATROGA, Fernando, História da História em Portugal,
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5.12. Obras literárias

DEUS, João de, Flores do Campo, edição de José António Garcia Blanco, Lisboa, casa de Ferin
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FREITAS, Pedro de, Brisas de Espanha: crónicas, Beja, edição de Pedro de Freitas, 1957.

367
GOMES, Manuel Teixeira, Cartas sem moral nenhuma, Lisboa, Livraria e Editora Tavares
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GOMES, Manuel Teixeira, Gente Singular, Lisboa, Editora Clássica, 1909.

5.13. Outros estudos

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ARROYO BERRONES, Enrique, «Dos memoriales para recuperar Portugal (2003)», in


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COLLANTES, Fernando, «The decline of Agrarian societies in the European countryside:


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FEIJÓ, Rui Graça, Liberalismo e Transformação Social. A Região de Viana do Antigo Regime
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e 14 de Novembro de 2014, no Departamento de Geografia da Universidade do Minho.
Disponível online no seguinte endereço: https://www.academia.edu/17649349/Geografias_
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369
6. Webgrafia

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nuevos-casos-de- -covid-19-en-la-localidad/ [consultado pela última vez no dia 15 de
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[consultado pela última vez no dia 15 de Setembro de 2021].

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[consultado pela última vez no dia 10 de Setembro de 2021].

https://www.mapasdigitais.com/mapas/mapa-huelva-por-municipios/ [consultado pela última


vez no dia 10 de Setembro de 2021].

370
ÍNDICE DE QUADROS

Quadro n.º 1.01: Movimento total das exportações através dos portos do Algarve em 1914 (em toneladas) 24
Quadro n.º 1.02: Movimento total dos portos do Algarve e do país em 1914 (em t.) 25
Quadro n.º 1.03: População residente em todos os concelhos do Algarve, entre 1864 e 1920 30
Quadro n.º 1.04: Variação intercensitária para todos os concelhos do Algarve, entre 1864 e 1920 33
Quadro n.º 1.05: População residente em todas as sedes de concelho do Algarve (vilas ou cidades),
entre 1864 e 1920 35
Quadro n.º 1.06: Variação intercensitária das sedes de concelho do Algarve (vilas ou cidades),
entre 1864 e 1920 37
Quadro n.º 1.07: Densidades populacionais dos concelhos de Loulé, V.R.S.A. e do Algarve 38
Quadro n.º 1.08: Percentagem da população total a residir nas sedes de concelho 39
Quadro n.º 1.09: Número total de estrangeiros e de espanhóis a residirem em Portugal, entre 1890 e 1920 40
Quadro n.º 1.10: Número total de estrangeiros e de espanhóis por concelho, a residirem no distrito de Faro,
entre 1890 e 1920 42
Quadro n.º 1.11: Percentagem dos espanhóis residentes sobre o total de emigrantes residentes, entre 1890
e 1920 44
Quadro n.º 1.12: Rácio de estrangeiros por 1 000 habitantes a residirem no distrito de Faro, por concelhos,
entre 1890 e 1920 45
Quadro n.º 1.13: Rácio de espanhóis por 1 000 habitantes a residir no distrito de Faro, por concelhos,
entre 1890 e 1920 46
Quadro n.º 1.14: Número total de estrangeiros residentes nas dez freguesias algarvias com mais
estrangeiros residentes 48
Quadro n.º 1.15: Maiores rácios de estrangeiros por 1 000 habitantes, ordenados por freguesias 49
Quadro n.º 2.01: Principais países de destino da emigração privada espanhola (saídas por mar)
em valores absolutos 55
Quadro n.º 2.02: Principais países de destino da emigração privada espanhola (saídas por mar),
entre 1882 e 1920 (em %) 56
Quadro n.º 2.03: Número total de espanhóis recenseados em alguns países, entre 1880-1881 e 1920-1921 58
Quadro n.º 2.04: Principais causas migratórias por províncias 63
Quadro n.º 2.05: Número de «vecinos» em Villanueva de los Castillejos e El Almendro, entre 1808 e 1815 84
Quadro n.º 2.06: Registo de «prófugos» e de desertores que, no seguimento da Real Ordem de 20 de Abril
de 1877, se apresentaram no consulado de V.R.S.A. afim de poderem regressar ao reino de Espanha,
ordenados pela data de deserção 86
Quadro n.º 2.07: Número de «vecinos» de Villanueva de los Castillejos, entre 1693 e 1780 99
Quadro n.º 2.08: População presente e legal em Villanueva de los Castillejos, entre 1842 e 1920 104
Quadro n.º 2.09: População legal («Población de Derecho») em Villanueva de los Castillejos,
Andévalo e província de Huelva, entre 1842 e 1920 105

371
Quadro n.º 2.10: Variação intercensitária da população legal ou residente em Villanueva de los Castillejos,
Andévalo e província de Huelva, entre 1842 e 1920 (em %) 107
Quadro n.º 2.11: Densidade populacional em Villanueva de los Castillejos, Andévalo, província
de Huelva, Andaluzia e Espanha entre 1842 e 1920 (em habitantes/km2) 108
Quadro n.º 2.12: População presente e legal em El Almendro, entre 1842 e 1920 112
Quadro n.º 2.13: População legal ou residente e número de habitantes por km2 do município
de El Almendro, entre 1842 e 1920 113
Quadro n.º 2.14: Variação percentual intercensitária da população de El Almendro, entre 1842 e 1920 113
Quadro n.º 3.01: Número de espanhóis residentes, por distrito, entre 1890 e 1920 118
Quadro n.º 3.02: Concelhos alentejanos e algarvios com mais de 100 espanhóis residentes, em 1890 118
Quadro n.º 3.03: Locais de origem e de primeiro destino em Portugal de alguns ramos familiares
naturais de El Almendro, Villanueva de los Castillejos, Alosno e Puebla de Guzmán: 120
Quadro n.º 3.04: Registo de espanhóis residentes no concelho de Lagos, entre 1897 e 1908 126
Quadro n.º 3.05: Distribuição, por concelho, das unidades fabris de conservas instaladas no Algarve
em 1908 127
Quadro n.º 3.06: Distribuição, por concelho, do número de embarcações e de pescadores inscritos
nos portos do Algarve, em 1893 130
Quadro n.º 3.07: Naturalidades dos estrangeiros residentes em Vila Nova de Portimão, entre 1841
e 1904, por regiões autónomas 133
Quadro n.º 3.08: Estrangeiros residentes em Vila Nova de Portimão, distribuídos por naturalidades
comunitárias e por profissões, entre 1841 e 1904 135
Quadro n.º 3.09: Naturalidades e profissões dos estrangeiros residentes no concelho de Lagoa,
entre 1869 e 1894 149
Quadro n.º 3.10: Registo de estrangeiros residentes no concelho de Silves no primeiro semestre de 1838 151
Quadro n.º 3.11: Naturalidades e profissões dos estrangeiros residentes no concelho de Silves segundo
o Livro dos Registo dos passaportes passados nesta Administração do Concelho (1860-1863) 153
Quadro n.º 3.12: Registo de andaluzes residentes em Faro, entre 1889 e 1914 160
Quadro n.º 4.01: Registo de andaluzes, naturais de Villanueva de los Castillejos e residentes em Loulé,
que requereram, entre 21 de Março de 1833 e 10 de Maio de 1835, passaportes de trânsito para se
deslocarem, ordenados pela quantidade de passaportes requeridos 174
Quadro n.º 4.02: Registo de estrangeiros residentes no concelho de Loulé, em 1842, ordenados
por ordem alfabética 176
Quadro n.º 4.03: Baptizados na paróquia de São Clemente tendo, pelo menos, um ascendente directo
(pais ou avós) natural da Andaluzia, entre 1800 e 1905, por décadas 179
Quadro n.º 4.04: Baptizados na paróquia de São Clemente tendo, pelo menos, um ascendente directo
(pais ou avós) natural da Andaluzia, entre 1800 e 1899, por cinquentenários 182
Quadro n.º 4.05: Número de ascendentes directos (pais ou avós) naturais da Andaluzia, das crianças
baptizadas na paróquia de São Clemente, em Loulé, entre 1800 e 1905 182
Quadro n.º 4.06: Número de ascendentes directos (pais ou avós) naturais da Andaluzia e de Villanueva
de los Castillejos, das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente, em Loulé, entre 1800 e 1905,
por década 184

372
Quadro n.º 4.07: Número de ascendentes directos (pais ou avós) naturais da Andaluzia e de Villanueva
de los Castillejos, das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente, em Loulé, entre 1800 e 1905,
por grau de parentesco 184
Quadro n.º 4.08: Baptizados na paróquia de São Sebastião tendo, pelo menos, um dos pais natural
da Andaluzia, entre 1891 e 1905 185
Quadro n.º 4.09: Número de pais, naturais da Andaluzia, das crianças baptizadas na paróquia
de São Sebastião, em Loulé, entre 1891 e 1905 185
Quadro n.º 4.10: Naturalidades dos ascendentes directos das 388 crianças baptizadas na paróquia
de São Clemente, com pelo menos um ascendente directo andaluz, entre 1800 e 1905 (em %) 187
Quadro n.º 4.11: Naturalidades dos ascendentes directos das sessenta crianças baptizadas na paróquia
de São Sebastião, com, pelo menos, um ascendente directo andaluz, entre 1891 e 1905 (em %) 188
Quadro n.º 4.12: Casamentos na paróquia de São Clemente, em Loulé, entre 1850 e 1909 189
Quadro n.º 4.13: Casamentos na paróquia de São Sebastião, em Loulé, entre 1891 e 1910 189
Quadro n.º 4.14: Registo de comerciantes andaluzes residentes e a trabalharem no concelho de Loulé
em 1867 195
Quadro n.º 4.15: Actividades comerciais, propriedade de andaluzes na vila de Loulé, entre 1889 e 1913 199
Quadro n.º 4.16: Indústrias propriedade de andaluzes na vila de Loulé entre, pelo menos, 1889 e 1913 210
Quadro n.º 4.17: Fábricas em actividade no concelho de Loulé em Maio de 1913 213
Quadro n.º 4.18: Serviços prestados por andaluzes na vila de Loulé entre, pelo menos, 1886 e 1913 216
Quadro n.º 4.19: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1881 e 1913, no concelho
de Loulé, distribuídas por freguesias 219
Quadro n.º 4.20: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1881 e 1913, no concelho
de Loulé, distribuídas por urbanas, rústicas e comerciais 221
Quadro n.º 4.21: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1881 e 1913, na malha urbana
da freguesia de São Clemente, por topónimos 223
Quadro n.º 4.22: Propriedades registadas em nome de andaluzes, entre 1890 e 1913, na malha urbana
da freguesia de São Sebastião, por topónimos 223
Quadro n.º 4.23: Andaluzes de segunda geração nomeados ou eleitos vereadores municipais da Câmara
Municipal de Loulé, entre as vereações de 1893 a 1917 226
Quadro n.º 4.24: Descendentes de andaluzes presentes nas sucessivas Mesas da Santa Casa da Misericórdia de
Loulé, entre 1884 e 1935 230
Quadro n.º 4.25: Comparação dos termos e das expressões utilizadas pelos «capataces» e pelos
«costaleros» na Semana Santa de Sevilha com os correspondentes termos e expressões utilizados
pelos Homens do Andor de Nossa Senhora da Piedade, em Loulé 235
Quadro n.º 5.01: Número de galeões inscritos no porto de V.R.S.A. segundo os seus portos de registo,
entre 1878 e 1884 251
Quadro n.º 5.02: Número de espanhóis residentes, e respectivas % relativas de espanhóis residentes,
na freguesia de V.R.S.A., entre 1864 e 1911 258
Quadro n.º 5.03: Naturalidades da população de V.R.S.A. segundo os registos de baptismo,
entre 1774 e 1850 (em %) 259
Quadro n.º 5.04: Naturalidades da população de V.R.S.A., entre 1860 e 1930 (em %) 260

373
Quadro n.º 5.05: Profissões da população masculina de V.R.S.A., entre 1860 e 1930 (em %) 263
Quadro n.º 5.06: Indústrias instaladas em V.R.S.A. em 1881 273
Quadro n.º 5.07: Primeiras fábricas de conservas de atum em escabeche fundadas em V.R.S.A.,
entre 1879 e 1901 275
Quadro n.º 5.08: Número de atuns laborados nas fábricas de V.R.S.A. na temporada de «atum de direito»
de 1897 278
Quadro n.º 5.09: Valores de compras da matéria-prima atum, na lota de atum de V.R.S.A., em 1902,
por empresa 278
Quadro n.º 5.10: Composição das exportações portuguesas (em %) 282
Quadro n.º 5.11: Fábricas conserveiras, sediadas em V.R.S.A., em 1907 283
Quadro n.º 5.12: Agentes bancários e de seguros a operar em V.R.S.A. entre 1901 e 1913 289
Quadro n.º 5.13: Presidentes da câmara municipal de V.R.S.A., naturais ou descendentes directos
de andaluzes, entre 1841-1965 293

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico n.º 2.01: População residente em Villanueva de los Castillejos, entre 1842 e 1920 104
Gráfico n.º 2.02: Taxas de crescimento intercensitárias de El Almendro, Villanueva de los Castillejos
e Andévalo (em %) 107
Gráfico n.º 2.03: População residente em El Almendro, entre 1842 e 1920 113
Gráfico n.º 3.01: N.º de andaluzes registados como residentes em Faro, entre 1889 e 1914 162
Gráfico n.º 3.02: Naturalidades dos andaluzes a residir em Faro, entre 1889 e 1914 163
Gráfico n.º 4.01: Total de pais e de avós das crianças baptizadas na paróquia de São Clemente,
naturais da Andaluzia 180
Gráfico n.º 4.02: Total de pais e de avós das crianças batizadas na paróquia de São Clemente,
naturais da Andaluzia e de Villanueva de los Castillejos 183
Gráfico n.º 4.03: Total de pregenitores de crianças baptizadas na paróquia de São Sebasitão,
naturais da Andaluzia e de Villanueva de los Castillejos 186
Gráfico n.º 5.01: Percentagem de espanhóis e de ayamontinos na população de V.R.S.A.,
entre 1774 e 1850 259
Gráfico n.º 5.02: Percentagem de espanhóis residentes em V.R.S.A., segundo os registos de baptismo
dos pais, entre 1865 e 1910 261
Gráfico n.º 5.03: Número de licenças de comércio concedidas a espanhóis no concelho de V.R.S.A.,
entre 1850 e 1882 265
Gráfico n.º 5.04: Percentagem destes dois sectores no total das exportações portuguesas,
entre 1850 e 1914 282

374
APÊNDICE DOCUMENTAL
(«Población de Derecho»)
Apêndice n.º 1: População Legal («Población Derecho») para todos os municípios
da comarca do Andévalo, assim como para Ayamonte, Cartaya, Lepe e Isla Cristina,
entre 1842 e 1920
População Legal de alguns municípios da província de Huelva, entre 1842 e 1920
Municípios 1842 1857 1860 1877 1887 1897 1900 1910 1920
Alonso 2 884 5 431 4 038 8 558 10 785 9 515 8 375 5 691 6 702
Cabezas
885 1 078 1 087 1 140 1 322 1 026 1 138 1 055 1 334
Rubias
Calañas 1 948 2 798 2 832 3 160 6 721 7 033 7 139 11 587 11 782
El Almendro 794 990 1 070 984 1 121 1 125 1 106 1 017 1 304
El Cerro de
2 728 3 856 3 360 3 950 4 536 4 693 4 926 5 484 5 536
Andévalo
El Granado 345 490 486 619 635 694 799 777 852
Paymogo 1 520 1 895 1 940 1 251 1 652 1 465 1 496 1 573 2 130
Puebla de
3 855 3 715 3 986 4 149 3 816 3 976 3 979 3 555 4 448
Guzmán
San
Bartolomé de 586 973 1 033 1 261 1 162 1 179 1 256 1 490 2 015
la Torre
San Silvestre
n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i.
de Guzmán
Sanlúcar de
639 744 768 783 746 740 743 756 710
Guadiana
Santa
Bárbara de 641 878 885 1 015 1 209 1 469 1 433 1 587 1 864
Casa
Valverde del
5 329 5 470 6 076 7 817 6 233 6 558 6 684 7 461 9 230
Camino
Villablanca 775 1 624 1 550 1 814 1 838 1 847 1 711 1 900 2 065
Villanueva de
231 357 334 352 476 477 484 559 612
las Cruces
Villanueva
de los 2 996 3 442 3 350 2 978 2 732 2 660 2 529 2 554 2 803
Castillejos
Total do
26 156 33 741 32 795 39 831 44 984 44 457 43 798 47 046 53 387
Andévalo
Média por
1 744 2 249 2 186 2 655 2 999 2 964 2 920 3 136 3 559
município
Ayamonte 4 675 5 969 5 854 6 063 6 511 7 412 7 600 9 547 13 214
Cartaya 4 097 4 941 5 013 5 480 5 177 5 164 5 504 5 911 6 903
Lepe 3 024 3 794 3 979 4 910 5 483 5 307 5 570 6 720 7 548
Isla Cristina 1 819 3 126 3 191 4 467 4 925 5 831 5 991 6 575 9 000

Província de
134 818 174 391 176 626 210 447 254 831 250 901 260 880 295 898 331 527
Huelva
Reigão da
2 927 348 2 966 487 3 283 436 3 431 555 3 562 606
Andaluzia
Espanha 15 464 340 15 645 072 16 622 175 17 549 608 18 065 635 18 616 630 19 990 669 21 388 551

Fontes: Censos gerais de la Población Española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

377
Apêndice n.º 2: Taxa de crescimento intercensitária, tendo em conta a População Legal,
para todos os municípios da comarca do Andévalo, assim como para Ayamonte, Cartaya, Lepe
e Isla Cristina, entre 1842 e 1920
Taxa de crescimento inter-censitária, tendo por base a População Legal, de alguns municípios da província de Huelva
Municípios 1842/1857 1857/1860 1860/1877 1877/1887 1887/1897 1897/1900 1900/1910 1910/1920
Alonso 88,31 -25,65 111,94 26,02 -11,78 -11,98 -32,05 17,76
Cabezas
21,81 0,83 4,88 15,96 -22,39 10,92 -7,29 26,45
Rubias
Calañas 43,63 1,22 11,58 112,69 4,64 1,51 62,31 1,68
El Almendro 24,69 8,08 -8,04 13,92 0,36 -1,69 -8,05 28,22
El Cerro de
41,35 -12,86 17,56 14,84 3,46 4,96 11,33 0,95
Andévalo
El Granado 42,03 -0,82 27,37 2,58 9,29 15,13 -2,75 9,65
Paymogo 24,67 2,37 -35,52 32,05 -11,32 2,12 5,15 35,41
Puebla de
-3,63 7,29 4,09 -8,03 4,19 0,08 -10,66 25,12
Guzmán
San Bartolomé
66,04 6,17 22,07 -7,85 1,46 6,53 18,63 35,23
de la Torre
San Silvestre
de Guzmán
Sanlúcar de
16,43 3,23 1,95 -4,73 -0,80 0,41 1,75 -6,08
Guadiana
Santa Bárbara
36,97 0,80 14,69 19,11 21,51 -2,45 10,75 17,45
de Casa
Valverde del
2,65 11,08 28,65 -20,26 5,21 1,92 11,62 23,71
Camino
Villablanca 109,55 -4,56 17,03 1,32 0,49 -7,36 11,05 8,68
Villanueva de
54,55 -6,44 5,39 35,23 0,21 1,47 15,50 9,48
las Cruces
Villanueva de
14,89 -2,67 -11,10 -8,26 -2,64 -4,92 0,99 9,75
los Castillejos
Total do
29,00 -2,80 21,45 12,94 -1,17 -1,48 7,42 13,48
Andévalo

Ayamonte 27,68 -1,93 3,57 7,39 13,84 2,54 25,62 38,41


Cartaya 20,60 1,46 9,32 -5,53 -0,25 6,58 7,39 16,78
Lepe 25,46 4,88 23,40 11,67 -3,21 4,96 20,65 12,32
Isla Cristina 71,85 2,08 39,99 10,25 18,40 2,74 9,75 36,88

Província de
29,35 1,28 19,15 21,09 -1,54 3,98 13,42 12,04
Huelva
Reigão da
1,34 10,68 4,51
Andaluzia
Espanha 1,17 6,25 5,58 2,94 3,05 7,38 6,99

Fontes: Censos gerais de la Población Española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

378
(«Población de Hecho»)
Apêndice n.º 3: População Presente («Población Hecho») para todos os municípios
da comarca do Andévalo, assim como para Ayamonte, Cartaya, Lepe e Isla Cristina,
entre 1842 e 1920
População Presente de alguns municípios da província de Huelva, entre 1842 e 1920
Municípios 1842 1857 1860 1877 1887 1897 1900 1910 1920
Alonso 5 431 4 038 9 079 12 045 9 178 8 187 5 843 6 684
Cabezas
1 078 1 087 1 102 1 330 1 003 977 944 1 096
Rubias
Calañas 2 798 2 832 3 243 9 644 8 163 8 307 12 707 11 794
El Almendro 990 1 070 965 1 122 1 223 1 261 1 020 1 318
El Cerro de
3 856 3 360 3 786 4 485 4 231 4 504 5 351 5 460
Andévalo
El Granado 490 486 591 636 735 799 823 1 046
Paymogo 1 895 1 940 1 217 1 725 1 467 1 469 1 515 2 250
Puebla de
3 715 3 986 3 871 3 909 3 955 3 911 3 496 4 380
Guzmán
San
Bartolomé 973 1 033 1 337 1 152 1 152 1 166 1 442 2 033
de la Torre
San Silvestre
n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i. n.e.i.
de Guzmán
Sanlúcar de
744 768 763 803 738 724 747 820
Guadiana
Santa
Bárbara de 878 885 895 1 143 1 324 1 131 1 124 1 635
Casa
Valverde del
5 470 6 076 7 014 6 038 6 518 6 495 7 675 8 887
Camino
Villablanca 1 624 1 550 1 814 1 838 1 847 1 711 1 900 2 065
Villanueva
de las 357 334 375 564 478 491 572 639
Cruces
Villanueva
de los 3 442 3 350 2 853 2 711 2 564 2 537 2 536 2 414
Castillejos
Total do
33 741 32 795 38 905 49 145 44 576 43 670 47 695 52 521
Andévalo

Ayamonte 5 969 5 854 5 866 6 585 7 503 7 530 9 471 13 207


Cartaya 4 941 5 013 5 430 5 217 5 369 5 552 5 995 6 971
Lepe 3 794 3 979 4 870 5 505 4 947 5 125 6 525 7 716
Isla Cristina 3 126 3 191 4 480 5 187 5 910 5 969 8 312 9 567

Província de
134 818 174 391 176 626 210 447 254 831 250 901 260 880 295 898 331 527
Huelva
Reigão da
2 927 348 2 966 487 3 283 436 3 431 555 3 562 606
Andaluzia
Espanha 15 464 340 15 645 072 16 622 175 17 549 608 18 065 635

Fontes: Censos gerais de la Población Española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

379
Apêndice n.º 4: Taxa de crescimento intercensitária, tendo em conta a População Presente,
para todos os municípios da comarca do Andévalo, assim como para Ayamonte, Cartaya, Lepe
e Isla Cristina, entre 1842 e 1920
Taxa de crescimento inter-censitária, tendo por base a População Presente, de alguns municípios da província de Huelva
Municípios 1842/1857 1857/1860 1860/1877 1877/1887 1887/1897 1897/1900 1900/1910 1910/1920
Alonso -25,65 124,84 32,67 -23,80 -10,80 -28,63 14,39
Cabezas
0,83 1,38 20,69 -24,59 -2,59 -3,38 16,10
Rubias
Calañas 1,22 14,51 197,38 -15,36 1,76 52,97 -7,19
El
8,08 -9,81 16,27 9,00 3,11 -19,11 29,22
Almendro
El Cerro de
-12,86 12,68 18,46 -5,66 6,45 18,81 2,04
Andévalo
El Granado -0,82 21,60 7,61 15,57 8,71 3,00 27,10
Paymogo 2,37 -37,27 41,74 -14,96 0,14 3,13 48,51
Puebla de
7,29 -2,89 0,98 1,18 -1,11 -10,61 25,29
Guzmán
San
Bartolomé 6,17 29,43 -13,84 0,00 1,22 23,67 40,98
de la Torre
San
Silvestre de
Guzmán
Sanlúcar de
3,23 -0,65 5,24 -8,09 -1,90 3,18 9,77
Guadiana
Santa
Bárbara de 0,80 1,13 27,71 15,84 -14,58 -0,62 45,46
Casa
Valverde del
11,08 15,44 -13,92 7,95 -0,35 18,17 15,79
Camino
Villablanca -4,56 17,03 1,32 0,49 -7,36 11,05 8,68
Villanueva
de las -6,44 12,28 50,40 -15,25 2,72 16,50 11,71
Cruces
Villanueva
de los -2,67 -14,84 -4,98 -5,42 -1,05 -0,04 -4,81
Castillejos
Total do
-2,80 18,63 26,32 -9,30 -2,03 9,22 10,12
Andévalo

Ayamonte -1,93 0,20 12,26 13,94 0,36 25,78 39,45


Cartaya 1,46 8,32 -3,92 2,91 3,41 7,98 16,28
Lepe 4,88 22,39 13,04 -10,14 3,60 27,32 18,25
Isla Cristina 2,08 40,39 15,78 13,94 1,00 39,25 15,10

Província de
29,35 1,28 19,15 21,09 -1,54 3,98 13,42 12,04
Huelva
Reigão da
1,34 10,68 4,51
Andaluzia
Espanha 1,17 6,25 5,58 2,94

Fontes: Censos gerais de la Población Española, de 1842, 1857, 1860, 18778, 1887, 1897, 1900, 1910 e 1920.

380
Apêndice n.º 5: Propriedades compradas por andaluzes radicados em Loulé, na Rua de São
Sebastião, em Loulé, entre 1881 e 1910

Data Proprietário Registo de propriedade

1881 Manuel Rodrigues Corrêa Prédio urbano.

1882 Bento Martins Peres Gomes Prédio urbano com oito compartimentos altos e baixos.

1883 Manuel Rodrigues Corrêa Morada de casas térreas.


Nove altos com os baixos e mais um respectivo
1884 Joaquim dos Santos Corrêa
quintal.
1894 Sebastião Martins Peres Gomes Morada de casas altas.

1894 Manuel Rodrigues Corrêa Um armazém.

1905 Sebastião Martins Peres Gomes Casas altas e respectivos baixos.


Um prédio nobre que se compõe por oito altos e
1906 António Martins Peres Gomes
baixos, duas varandas e um sobrado.
Prédio de quatro casas térreas, quintal, cavalariça,
1910 Manoel Formozinho Macias
palheiro e um sobrado.
s./d. Manoel Rodrigues Corrêa Prédio urbano.

Fontes: A.C.R.P.C.L., Livro das Inscrições e Descrições Prediais da Extinta Conservatória do Registo Predial
de Loulé, Livros B-1, B-2 e B-4; Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial e Comercial
de Loulé, Livros B-1 a B-61; Livro de Registo de Inscrições Diversas, Livros F-1 a F-7; Livro de Registo de
Transmissões, Livro G-1.

381
Apêndice n.º 6: Propriedades compradas por Sebastião Martins Gomes Peres, no concelho
de Loulé, entre 1881 e 1907
Ano da
Registo predial Localização
compra
1881 Vários armazéns. Rua do Chafariz

1883 Três casas e um quintal. Travessa do Médico

1889 Uma courella de terra de sementeira com figueiras e uma alfarrobeira. Boliqueime

1889 Casas térreas com quintal. Rua de Santo António.

1894 Morada de casas altas. Rua de São Sebastião

1894 Um armazém. Rua de São Sebastião

1894 Duas casas térreas, forno, pocilgo e um logradouro. Poço do Gilvarisno

1896 Morada de casas térreas. R. do Cabo

1905 Armazém com duas casas dentro. Rua Nova da Vila

1905 Morada de casas térreas com quintal. Quarteira

1905 Casas térreas com quatro compartimentos. Praia de Quarteira

1905 Uma courella de terra de semeadura e arvoredo. Poço do Gilvarsino

1905 Prédio urbano que se compõe de um armazém que serve de fábrica de sabão. Rua de Santo António
Terras de semear composta por figueiras, alfarrobeiras, oliveiras e
1905 Espraguina
amendoeiras.
1905 Terras de semeadura e diferente arvoredo. Sítio do Serro das Covas

1905 Terreno de semear e diferentes árvores Sítio do Carrascal


Dois armazéns, uma morada de casas de habitação e terrenos de semear
1905 Rua de São Sebastião
com arvoredo.
1905 Terra de semeadura com figueiras, alfarrobeiras e outras árvores Vale Telheiro
Residência com 3 casas, cavalariça, palheiro, forno, pocilgo e terras de
1905 Vale da Rosa
semeadura
1905 Terras de semeadura com vário arvoredo São Sebastião
Monte que se compõe de várias habitações, palheiro, pocilgo e metade de
1907 Picota
um forno de pão
1907 Uma courella de terra de semear com alfarrobeiras Sítio do Vale Mulher

1909 Uma terra de semear com árvores e casas de residência. Sítio da Alfarrobeira

Fontes: A.C.R.P.C.L., Livro das Inscrições e Descrições Prediais da Extinta Conservatória do Registo Predial
de Loulé, Livros B-1, B-2 e B-4; Livro de Descrições Prediais da Conservatória do Registo Predial e Comercial
de Loulé, Livros B-1 a B-61; Livro de Registo de Inscrições Diversas, Livros F-1 a F-7; Livro de Registo de
Transmissões, Livro G-1.

382
APÊNDICE CARTOGRÁFICO
Anexo n.º 1: Mapa do Algarve e do Andévalo Andaluz

Fonte: Mapa destacável inserido in AA. VV., Rotas por Descobrir: Espanha, Porto, Dorling Kindersley –
Civilização, Editores, 2009.

385
Anexo n.º 2: Mapa das vilas de Villanueva de los Castillejos e de El Almendro em 1810

Fonte: MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit., p. 45.

386
Anexo n.º 3: Movimentos das tropas registados, em Janeiro de 1811, no Sudoeste do Andévalo

Fonte: MIRA TOSCANO, Antonio, VILLEGAS MARTÍN, Juan, SUARDÍAZ FIGUEREO, Antonio, op. cit., p. 98.

387
Anexo n.º 4: Mapa da província de Huelva, dividido por municípios

Fonte: https://www.mapasdigitais.com/mapas/mapa-huelva-por-municipios/ [consultado pela última vez no dia


10 de Setembro de 2021]

388
Anexo n.º 5: Mapa ilustrado da província de Huelva

Fonte: https://www.domestika.org/pt/projects/577761-ilustracion-mapa-de-la-provincia-de-huelva [consultado


pela última vez no dia 10 de Setembro de 2021]

389
Anexo n.º 6: Carta corográfica do reino do Algarve, que faz parte da corografia do mesmo reino
publicada por João Baptista da Silva Lopes em 1842

Fonte: LOPES, João Baptista da Silva, Lisboa, Officina Lithográfica de Manuel Luiz da Costa. Disponível online
no seguinte endereço: https://purl.pt/3973 [consultado pela última vez no dia 10 de Setembro de 2021]

390
Anexo n.º 7: Plano hidrográfico da barra e porto do rio Guadiana levantado de 1874 a 1876, sob a
direcção dos Conselheiros F. Folque e P. da Silva directores dos Trabalhos Geodésicos do Reino;
por A. M. Reis, engenheiro hidrográfico; pelos capitães do Exército A. Pery e G. Pery; grav.
Carvalho e Santos

Fonte: Lisboa, Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos, 1881. Disponível online no seguinte endereço:
https://purl.pt/1955 [consultado pela última vez no dia 10 de Setembro de 2021]

391
Anexo n.º 8: Plano hidrográfico da barra e porto do rio Guadiana, por A. M. dos Reis, A. Pery,
G. Pery; gr. Carvalho e Santos

Fonte: Lisboa, Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos, 1881. Disponível online no seguinte endereço:
https://purl.pt/3850 [consultado pela última vez no dia 10 de Setembro de 2021]

392
Anexo n.º 9: Planta da vila de Loulé levantada e desenhada em Janeiro de 1913 e actualizada
em Agosto de 1944

Fonte: Fototeca do Centro de Documentação do Museu Municipal de Loulé

393
Anexo n.º 10: Planta da vila de Loulé em 1914

Fonte: Fototeca do Centro de Documentação do Museu Municipal de Loulé

394
Anexo n.º 11: Planta da vila de Loulé em 1936

Fonte: Fototeca do Centro de Documentação do Museu Municipal de Loulé

395
Anexo n.º 12: Mapa topográfico das fábricas de conservas instaladas em Vila Real de Santo
António, entre 1879 e 1925

Fonte: AMARO, Armando Filipe da Costa, A indústria conserveira na construção da malha urbana no Algarve:
das estruturas produtivas à habitação operária (1900-1960), dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura
apresentado à Escola de Artes da Universidade de Évora, Évora, 2020, Anexo de Arqueologia Industrial, pp. 4-5.
Disponível online no seguinte endereço: http://hdl.handle.net/10174/28687 [consultado pela última vez no dia 10
de Setembro de 2021]

396
Anexo n.º 13: Mapa topográfico das fábricas de conservas instaladas nas duas margens do rio
Arade, entre 1892 e 1960

Fonte: AMARO, Armando Filipe da Costa, A indústria conserveira na construção da malha urbana no Algarve:
das estruturas produtivas à habitação operária (1900-1960), dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura
apresentado à Escola de Artes da Universidade de Évora, Évora, 2020, Anexo de Arqueologia Industrial,
pp. 110-111. Disponível online no seguinte endereço: http://hdl.handle.net/10174/28687 [consultado pela
última vez no dia 10 de Setembro de 2021]

397
Anexo n.º 14: Mapa das fábricas de conservas em Portimão

Fonte: DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão: Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
Lisboa, Edições Colibri, 2003, p. 221.

398
APÊNDICE BIOGRÁFICO
ÍNDICE BIOGRÁFICO

1. BARBOSA y PÊGO, Fernando (Lisboa, 1877 – V.R.S.A., 1936)

2. CABOT, Pedro (Isla Cristina, c. 1820)

3. CASANOVA, António Feu (Ayamonte, 1851 – Ayamonte, 1904)

4. CENTENO, Bartolomé Eusébio Rodríguez (Villanueva de los Castillejos, 1773)

5. CENTENO, Sebastián Rodriguez (Villanueva de los Castillejos, 1820 – V.R.S.A., 1876)

6. CORPAS, Sebastião (São Brás de Alportel, 1845)

7. CUMBRERA, Juan Maestre (Villanueva de los Castillejos, 1840 – V.R.S.A., 1923)

8. CUMBRERA, Manuel Pérez (V.R.S.A., 1880 - V.R.S.A., 1958)

9. FÉRIA, Roque (Villanueva de los Castillejos, 1856 – Tavira, 1889)

10. FERMOSIÑO, Benito Gómez (El Almendro, c. 1806)

11. FORMOSINHO, Francisco Barbosa (Loulé, 1853 – Lisboa, 1905)

12. GOMES, Alonso (Mértola, 1819 – Mértola, 1897)

13. GOMES, António Martins Peres (Loulé, 1859)

14. GOMES, Sebastião Martins Peres (Loulé, 1849)

15. MACÍAS, Francisco Formosinho (Loulé, 1869)

16. MARCHENA, António Feu (Ayamonte, 1880 – Lisboa, 1915)

17. MARCHENA, Cayetano Feu (Ayamonte, 1882 – Lisboa, 1946)

18. PABLOS, João José Gomes (Silves, 1863 – Silves, 1932)

19. PÉREZ, Angel Delgado (Villanueva de los Castillejos, 1885 – Loulé, 1960)

20. RAMIRES, Sebastião Garcia (Lisboa, 1898 – Porto, 1972)

21. RAMIREZ, Frederico Alexandrino Garcia (V.R.S.A., 1869 – V.R.S.A., 1935)

22. RAMIREZ, Sebastián (El Almendro, 1828 – V.R.S.A., 1900)

23. ROMERO, Santiago Formosinho (Loulé, 1882 – Loulé, 1962)

24. SANCHEZ, José Ortigão Gomes (V.R.S.A., 1898 – Lisboa, 1980)

25. TENÓRIO, Francisco Rodríguez (Villanueva de los Castillejos, 1843 – V.R.S.A., 1907)

26. OS TENORIO

27. VASQUES, Alonso (V.R.S.A., 1887 – V.R.S.A., 1966)

401
1. Fernando BARBOSA y PÊGO
(Lisboa, 12.02.1877 – V.R.S.A., 13.10.1936)

Fernando Barbosa y Pêgo nasceu em Lisboa no dia 12 de Fevereiro de 1877. Filho de Manuel
Alvares Barbosa, natural de Castro Marim, e de Maria Isabel Sanchez Garcia Pego, natural de
Setúbal. Todos os seus quatro avós eram naturais de Villanueva de los Castillejos, e emigrados
para Portugal ao longo do século XIX.

Completou a licenciatura em agronomia, sendo declarado engenheiro agrónomo, for-


mação que nunca exerceu. Herdeiro de um elevado património limitou-se, ao longo da vida, a
administrá-lo.

Em 1908 seria nomeado, por decreto assinado por João Franco (1855-1929), então pre-
sidente do Conselho de Ministros e Ministro do Reino, presidente da comissão administrativa
municipal pelo partido Regenerador, comissão que vigorou apenas entre os dias 2 de Janeiro e
17 de Fevereiro de 19081. Porque, a 1 de Fevereiro de 1908, dá-se o regicídio do rei D. Carlos
e do príncipe herdeiro Luís Filipe e, como consequência, João Franco é acusado de extremar
as posições políticas, demitindo-se do cargo de presidente do Conselho de Ministros do Reino
e Ministro do Reino, sendo substituído, no dia 4 de Fevereiro, pelo militar Francisco Joaquim
Ferreira do Amaral (1844-1923). Que, por decreto do dia 15 de Fevereiro, irá exonerar a citada
Comissão presidida por Barbosa y Pêgo e renomear a Comissão Administrativa afecta ao parti-
do Progressista que tinha sido deposta pelo decreto de 2 de Janeiro2. Tomando esta última posse
no dia 18 de Fevereiro.

Porém, passados poucos meses, isto é, no dia 2 de Novembro de 1908 realizam-se no-
vas eleições municipais, ganhas, uma vez mais, pelo partido Progressista, desta vez «por apenas

1. A Comissão Administrativa Municipal que tomou posse era composta pelos seguintes elementos: Fernando
Barbosa y Pêgo, presidente, Francisco de Sousa Camarada, vice-presidente, e Artur de Sousa Carmo, José
Fernandes Piloto Júnior e José Madeira da Silva, de Cacela, vogais, in CORREIA, António Horta, Memórias &
Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909). Notas de António dos Santos Machado, op. cit.,
pp. 282-283 e pp. 285-286.

2. A Comissão Administrativa Municipal que reassumiu as suas funções era composta pelos seguintes elementos:
Jacinto José de Andrade, João António Carrilho, Martinho José Rodrigues, Damião de Sousa Medeiros Júnior e
António Gil Madeira, de Cacela, in ibidem, pp. 285-286.

403
oitenta e quatro votos de maioria»3. No acto eleitoral foram eleitos, como vereadores substi-
tutos, Martinho José Rodrigues, José Peres Cumbrera, José Pedro de Lima, Rafael Rodrigues
Tenório e Joaquim Guerreiro da Silva, este último de Cacela4.

Veio a revolução republicana e a República é proclamada em Portugal. E, de imediato,


teve consequências na fronteira Algarve-Andaluzia, conforme nos informa uma notícia publi-
cada no dia 16 de Outubro de 1910 no semanário O Algarve: «O governo hespanhol mandou
para o rio Guadiana a canhoeira Núñhez Muñoz para proteger os súbditos hespanhóis residentes
em Vila Real de Santo António»5.

Faleceu, em V.R.S.A., a 13 de Outubro de 1936. Tinha 59 anos6.

3. Cf. ibidem, p. 304.

4. Cf. ibidem, pp. 304-305.

5. Cf. O Algarve, n.º 134, de 16 de Outubro de 1910, p. 2.

6. Informações prestadas pelo Dr.º António Capa Horta Correia.

404
2. Pedro CABOT
(Isla Cristina, c. 1820)

Pouco ou nada se sabe sobre este andaluz, natural da Isla Cristina. A documentação oficial re-
fere que, entre 1841 e 1859, assumiu o cargo de presidente da Câmara Municipal de V.R.S.A.
por quadro ocasiões: 1841-1842, 1846, 1849-1851 e 1858-1859. Sabe-se que tinha, pelo menos,
um filho com o mesmo nome. Na documentação oficial aparece com o apelido aportuguesado
para Cabote.

405
3. António Feu CASANOVA
(Ayamonte, 18.01.1851 – Ayamonte, 25.05.1904)

Fonte: PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, Albufeira, Arandis Editora, 2014, p. 80.

António Feu Casanova nasceu a 18 de Janeiro de 1851 em Ayamonte. Filho de Manuel Feu
Zamorano e de Bella Casanova Valverdun, da Isla Cristina. Foi negociante e armador de pesca,
com uma armação de pesca da sardinha na foz do Guadiana e, mais tarde, em 1901, com a ar-
mação para a pesca de atum «Reina Regina», com a mesma localização.

Em 1889 constituiu, em conjunto com o irmão Manuel Feu Casanova, a sociedade «Feu
Hermanos», em Ayamonte, com o capital de 25 mil pesetas, para o negócio das pescas e indús-
tria de preparação de qualquer espécie de peixe. A sua fábrica de conservas foi das primeiras
que se instalaram em Ayamonte.

Casou com Cristobalina Marchena Conde, de onde resultaram três filhos: Maria de las
Mercedes Feu Marchena casada com Lopo Furtado Leote Tavares; José António Feu Marchena
406
casado Maria da Glória Júdice Magalhães Barros; e Ernesto Feu Marchena casado com
Assunción Perez Freire7.

A nível político exerceu, por diversas vezes, o cargo de vereador da câmara municipal
de Ayamonte, tendo sido mesmo alcaide desse município durante o triénio de 1893 a 18958.

Em 1903 era o segundo maior contribuinte do município de Ayamonte9.

Faleceu em Ayamonte, vítima de um cancro no estômago, no dia 25 de Maio de 1904.


Tinha 53 anos.

7. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 201.

8. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, op. cit., p. 87.

9. Cf. A.M.A., Libro de Actas Capitulares, legajo 32, Enero de 1903 a Setiembre de 1906, fl. 2.

407
4. Bartolomé Eusébio Rodríguez CENTENO
(Villanueva de los Castillejos, 21.06.1773)

Bartolomé Eusébio Rodríguez Centeno (ou Bartolomeu Rodrigues Centeno) nasceu a 21 de


Junho de 1773 em Villanueva de los Castillejos. Filho de Juan Rodríguez Centeno e de Leonor
Domínguez Romero. Casou em Villanueva de los Castillejos a 21 de Outubro de 1795 com
Lucía Ramírez Mendoza (ou Luísa Ramires de Mendonça). Emigraram para Lagos antes de
Outubro de 1810.

Em 1823 Bartolomé e um dos filhos, Domingo Rodríguez Centeno (ou Domingos


Rodrigues Centeno) foram incluídos na devassa promovida pelo juiz de fora Joaquim da Costa
Pinto Ataíde contra um conjunto de liberais e filiados na loja maçónica «Philantropia ao Oriente
de Lagos», mas só o filho seria pronunciado. Domingos foi novamente acusado de liberal «por,
apesar de estrangeiro, frequentar em Lagos os clubes revolucionários donde saíra a revolu-
ção do Algarve de Maio de 1828». Foi levado para Lisboa, onde esteve preso na cadeia do
Limoeiro, mas, por acórdão de 24 de Julho de 1830, teve «confirmada a sentença de absolvição
do Conservador da Nação Espanhola»10.

10. Cf. A.N.T.T., Processos Políticos do Reinado de D. Miguel, mç. 15, n.º 7 e mç. 68, n.º 11; ROCHA, Manuel
João Paulo, Monografia de Lagos: As forças militares de Lagos nas Guerras da Restauração e Peninsular e nas
pugnas pela Liberdade, Porto, Typographia Universal, 1909, pp. 337-342.

408
5. Sebastián Rodríguez CENTENO
(Villanueva de los Castillejos, 9.03.1820 – V.R.S.A., 15.10.1876)

Fonte: Arquivo Particular do genealogista Bruno Portugal Gomes.

409
Sebastián Rodríguez Centeno (ou Sebastião Rodrigues Centeno) nasceu em Villanueva de los
Castillejos, onde foi baptizado a 16 de Março de 1820. Faleceu em V.R.S.A. a 15 de Outubro de
1876, sendo sepultado, em jazigo de família, no respectivo cemitério municipal.

Casou, uma primeira vez, em Villanueva de los Castillejos, a 26 de Janeiro de 1849, com
Isabel Alvarez Barbosa (ou Isabel Alvarez Tenorio), filha de Francisco Alvarez Barbosa e de
Catalina Rodríguez Tenorio (ou Catalina de Orta Tenorio). Do casamento resultaram seis filhos,
todos nascidos em V.R.S.A.

Após o falecimento da primeira mulher, casou, pela segunda vez, a 6 de Julho de 1863,
com a sua cunhada Lucía Alvarez Barbosa Tenorio (que também se documenta como Lucía
Alvarez Barbosa, Lucía Alvarez Tenorio ou ainda Lucía Alvarez Rodríguez), de quem teve
mais 2 filhos.

Sebastián Rodríguez Centeno teve uma importante casa comercial em V.R.S.A., com
estreitas ligações às casas comerciais dos irmãos Domingo Rodríguez Centeno e Alberto
Rodríguez Centeno, residentes em Lisboa. Este último operava como despachante oficial de
importações e exportações e depois entrou no negócio dos transportes marítimos para pessoas e
mercadorias, tendo adquirido uma participação de 25% do capital da «Empresa de Navegação
por Vapor para o Algarve e Guadiana», empresa de transportes marítimos fundada em 1870 por
Alonso Gomes (n. Mértola), cabendo-lhe a representação da referida empresa em Lisboa.

410
6. Sebastião CORPAS
(São Brás de Alportel, 1845)

Sebastião Corpas foi um negociante natural da freguesia de São Brás de Alportel (freguesia, até
1914, pertencente ao concelho de Faro), onde nasceu em 1845. Filho de João Ponce de Corpas,
natural de El Almendro, e de Josefa Maria Luciana, natural de Moguer, ambos os municípios
localizados na província de Huelva.

Casou com Maria do Carmo, doméstica natural de Loulé, na igreja Matriz de São
Clemente, em Loulé, no dia 11 de Fevereiro de 1885, tendo como testemunhas de casamento
José de Mendonça e Marçal António, ambos negociantes residentes em Loulé11.

Foi eleito vereador da câmara municipal de Loulé, pelo partido Regenerador, em duas
vereações consecutivas, isto é, entre 14 de Novembro de 1900 e 21 de Setembro de 190112.

11. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1885-1885, lv. 49, fl. 21v.

12. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., pp. 31-32.

411
7. Juan Maestre CUMBRERA
(Villanueva de los Castillejos, 1840 – V.R.S.A., 10.04.1923)13

Fonte: CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório,
Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, Albufeira, Arandis Editora, 2020, p. 116.

13. Uma grande parte dos dados biográficos de Juan Maestre Cumbrera foram recolhidos através de duas entrevis-
tas realizadas, em V.R.S.A., à sua bisneta Dr.ª Maria Bella Cumbrera Tavares, nos dias 14 de Junho e 16 de Julho
de 2019.

412
Juan Maestre Cumbrera nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1840. Filho de Manuel
Maestre Barbosa e de Cristina Cumbrera, ambos naturais de Villanueva de los Castillejos14.

Não se sabe ao certo o ano em que se radicou, juntamente com os pais, em V.R.S.A. No
entanto, a referência documental mais antiga da presença desde andaluz na vila data de 1865,
ano em que lhe foi concedida, a ele e a mais dois sócios, uma licença de comércio para a aber-
tura de uma loja de fazendas em V.R.S.A.15.

No dia 11 de Junho 1871 casa, na igreja paroquial de V.R.S.A., com Juana Pérez
Barbosa (Villanueva de los Castillejos, 1850 – V.R.S.A., 17.09.1927), também ela emigrada
para V.R.S.A.16 A esposa era filha de José Pérez Vásquez e de Josefa Álvarez Rodríguez. Os
noivos eram primos entre si, pelo facto de ambos serem bisnetos de Francisco Álvarez Barbosa
e de Josefa Maria Álvarez17. Do casamento resultaram seis filhos18 – quatro raparigas e dois
rapazes – que tiveram a particularidade de se casarem com conjugues todos eles naturais ou
descendentes de andaluzes, conforme se pode comprovar através do seguinte quadro-resumo:

14. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 109.

15. Cf. A.H.M.A.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Licenças de Comércio, para
o concelho de V.R.S.A., entre 1850 e 1882.

16. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 109.

17. Cf. ibidem, p. 110.

18. Cristina Maestre Cumbrera (V.R.S.A., 1872 – V.R.S.A., 1968); Isabel Maestre Perez (V.R.S.A., 1877 – Loulé,
1902); José Pérez Cumbrera (V.R.S.A., 1873 – V.R.S.A., 1942); Josefa Maestre Perez Cumbrera (V.R.S.A., 1875 –
V.R.S.A., 1951); Manuel Maestre Cumbrera (V.R.S.A., 1880 – V.R.S.A., 1958) e Luzia Maestre Perez (V.R.S.A.,
1881 – V.R.S.A., 1978).

413
Quadro n.º Apêndice.1: Dados referentes aos casamentos dos seis filhos de Juan Maestre
Cumbrera e de Joana Peres Barbosa

Data e local
Família Cumbrera Conjugue Pais do conjugue
do casamento
Sebastián Cláudio Ramírez Sebastián Ramírez y
26.06.1892, Cristina Maestre Cumbrera
Garcia Rodriguez e Maria Dolores
V.R.S.A. (V.R.S.A, 1872 – V.R.S.A., 1968)
(El Almendro, 1868) Garcia y Martin
Maria Dolores Barbosa Bento Martins Peres
José Perez Cumbrera
1895, Loulé (Villanueva de los Gomes e Maria Piedras
(V.R.S.A., 1873 – V.R.S.A., 1942)
Castillejos) Albas Barbosa
Francisco Rodríguez
19.09.1898, Josefa Maestre Perez
Francisco Féria Tenório Tenório e Maria Dolores
V.R.S.A (V.R.S.A., 1875 – V.R.S.A., 1951)
Féria Limon
27.01.1900, Isabel Maestre Perez Sebastião Rodriguez Corrêa Manuel Rodriguez Corrêa e
V.R.S.A. (V.R.S.A., 1877 – Loulé, 1902) (Loulé, c. 1875) Maria Dolores Martim
Maria Bella Ribeiro Gomes José António Gomes
7.06.1911, Manuel Maestre Cumbrera (V.R.S.A.,
(V.R.S.A., 1890 – Cacela, e Maria Carolina Ribeiro
V.R.S.A. 1880 – V.R.S.A., 1958)
1921) Alves
João Pedro de Sousa
18.02.1914, Luzia Maestre Perez João Centeno
e Catalina Rodrigues
V.R.S.A. (V.R.S.A., 1881 – V.R.S.A., 1978) de Sousa
Centeno

Fonte: Arquivo Particular do Dr. António Capa Horta Correia.

Em 1865 estabelece-se como comerciante em V.R.S.A., constituindo para o efeito uma


sociedade comercial com mais dois sócios seus conterrâneos e também eles emigrados para a
vila: António Velasco Hernández (n. Villanueva de los Castillejos, 1841)19, antigo caixeiro no
estabelecimento de Manuel Álvares Barbosa; e Silvestre Garcia-Pêgo (n. Villanueva de los
Castillejos, 1841)20, antigo caixeiro da firma «Ramirez & Pêgo»21. A firma, constituída no dia
11 de Agosto de 1865, denominou-se «Velasco, Pêgo & Cumbrera»22.

19. António Velasco Hernández nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1841. Filho de António Velasco
González e de Rosalia Hernández. Casou no dia 26 de Maio de 1890, em V.R.S.A., com Joana da Cruz Soares.
Depois desta sociedade teve um estabelecimento próprio, in CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos,
vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 113.

20. Silvestre Garcia-Pêgo nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1841. Filho de Sebastião Garcia-Pêgo e
de Joana de Mora Féria. Casou com Isabel Pérez Mora, filha de Pedro Pérez Ponce e de Maria del Carmen Mora.
Depois de 1867 teve um estabelecimento próprio, in ibidem.

21. Cf. ibidem.

22. Cf. ibidem, p. 114.

414
Em V.R.S.A. começou por montar uma loja-mercearia nos baixos da sua residência.
E, anos mais tarde, abriu uma casa de câmbio, que, já no decorrer do século XX, venderia ao
Banco Pinto Magalhães.

Em 1886, atraído pelo surto conserveiro que por esses anos assolava a vila, constitui,
com António Soares Barreto, a sociedade «Barreto & Companhia», que tinha por iniciativa a
produção e a comercialização de conservas de atum e sardinha em V.R.S.A.23 Esta sociedade
durará apenas três anos, dissolvendo-se em 188924.

Em Outubro de 1893 Juan Maestre Cumbrera entra no capital social da «Lithographia


Progresso», sociedade em nome colectivo, detida por cinco sócios: Juan Maestre Cumbrera, o
seu genro Sebastián Ramírez Garcia, Gavino Rodríguez Pérez, Simon Vasquez Velasco e ainda
Estebán Rodríguez y Rodríguez25.

Em 1908 regressa à indústria conserveira, tendo para tal adquirido a fábrica de conser-
vas «Peninsular»26, que tinha sido construída pela sociedade «Centeno, Cruz & Companhia»,
em Janeiro de 189427. Através dos inúmeros anúncios publicados na imprensa local e regional,
fica-se a saber que, em 1906, a «Fábrica de conservas Peninsular» de Centeno, Cruz & C.ª era
a fornecedora da Casa Real28 e já tinha sido premiada em várias exposições internacionais29.

Em 1916 resolve associar os dois filhos à sua casa comercial, tendo, para o efeito, criado
a sociedade comercial «Juan M. Cumbrera & Filhos»30.

Juan Maestre Cumbrera falece no dia 10 de Abril de 1923 em V.R.S.A. Deixando um vasto
património avaliado em 167 930$50, do qual faziam parte vinte e oito prédios urbanos e rústicos,

23. Cf. ibidem, p. 119.

24. Cf. ibidem, p. 121.

25. Cf. ibidem, p. 122.

26. Cf. ibidem, p. 130.

27. Cf. ibidem.

28. Cf. ibidem, p. 136.

29. Medalhas de ouro nas Exposições de Bruxelas em 1895; Turim (em Itália) em 1900; e de S. Luiz em 1904;
medalhas de prata nas exposições do Palácio de Cristal do Porto em 1898 e 1903/1904, e na Exposição de Paris
em 1900, in ibidem.

30. Cf. ibidem, p. 142.

415
a esmagadora maioria localizados no concelho de V.R.S.A.; e, ainda, a participação social em
três sociedades comerciais – «Ramirez, Perez, Cumbrera & C.ª», que sucedeu à «Lithographia
Progresso»; «Centeno, Cumbrera & Rodrigues» e «Cumbrera, Centeno & Rodrigues»31.

O seu filho mais novo, Manuel Maestre Cumbrera (n. V.R.S.A., 1880)32, chegaria a ocu-
par o cargo de presidente da Câmara Municipal de V.R.S.A. em três distintas ocasiões: 1910 –
1913; 1921 – 1922 e em 1926 (em Comissão Executiva).

Em 1960 a «Peninsular», juntamente com a fábrica da família Folque, é vendida à


«COFACO, Comercial e Fabrico de Conservas, Lda.»; e, em 1962, a «Cofaco» encerra as suas
unidades fabris em V.R.S.A. e transfere-se, definitivamente, para os Açores.

31. Cf. ibidem, p. 146.

32. Manuel Cumbrera nasceu em V.R.S.A., no dia 13 de Janeiro de 1880. Era filho de Juan Maestre Cumbrera,
rico proprietário e industrial residente na vila. Ao longo da sua vida foi, também ele, proprietário e industrial,
tendo desempenhado inúmeros cargos políticos, de onde se destacam os seguintes: administrador do concelho
de V.R.S.A. (1910), presidente da câmara municipal de V.R.S.A. (1910-1913; 1921-1922; 1926, em Comissão
Executiva), delegado do concelho de V.R.S.A. na Casa do Algarve em Lisboa. Foi igualmente um destacado mem-
bro da Maçonaria no concelho, tendo sido iniciado a 12 de Abril de 1911 no Triângulo n.º 163 de V.R.S.A. com o
nome simbólico de «Pombal». Foi, ainda, fundador da Loja «Guadiana» n.º 371, com «atestado de quite» em 21 de
Maio de 1916. Foi preso pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (P.V.D.E.), em V.R.S.A., no dia 1 de Abril
de 1942, transferido para o Forte de Caxias a 5 de Maio e libertado, condicionalmente, a 12 de Junho de 1942.
Seria de novo preso no Forte de Caxias no dia 2 de Julho de 1942 para ser libertado, condicionalmente, no dia 18 de
Julho de 1942, in VENTURA, António, A Maçonaria no Algarve, 1816-1936, Olhão, Sul, Sol e Sal, 2019, p. 332.

416
8. Manuel Pérez CUMBRERA
(V.R.S.A., 13.01.1880 - V.R.S.A., 21.05.1958)

Fonte: VENTURA, António, A Maçonaria no Algarve, 1816-1936, Olhão, Sul, Sol e Sal, 2019, p. 332.

Manuel Pérez Cumbrera nasceu em V.R.S.A no dia 13 de Janeiro de 1880. Filho de Juan Maestre
Cumbrera e de Joana Peres Barbosa ambos negociantes naturais de Villanueva de los Castillejos.
Neto paterno de Manoel Maestre Barbosa e de Christina Cumbrera e materno de José Peres e
de Josepha Barbosa. Foi baptizado na igreja paroquial de Nossa Senhora da Encarnação, em
V.R.S.A., no dia 2 de Fevereiro de 1880, tendo como padrinhos Sebastião Rodrigues Centeno
e Luzia Maestre Cumbrera33.

33. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação [V.R.S.A.], Registos de Baptismo, 1880-
1880, lv. 31, fls. 6v.-7.

417
Ao longo da vida foi, como o seu Pai também já o havia sido, proprietário agrícola e
industrial no ramo conserveiro.

A nível político foi nomeado, pelo partido Republicano, no dia 14 de Outubro de 1910, o
primeiro presidente da câmara municipal de V.R.S.A. no regime político da Primeira República.
Seria ainda presidente da câmara municipal de V.R.S.A. por mais duas ocasiões: em 1921-1922
e em 192634, sendo que em nenhuma delas conseguiu terminar o mandato. Consequências do
conturbado período político que nunca deixou de ser a Primeira República.

Desempenhou, ainda, outros cargos, como, por exemplo, administrador do concelho de


V.R.S.A. (em 1910) e delegado do concelho de V.R.S.A. na Casa do Algarve em Lisboa.

Foi, igualmente, um destacado membro da Maçonaria no concelho, tendo sido iniciado a


12 de Abril de 1911 no «Triângulo n.º 163» de V.R.S.A. com o nome simbólico de «Pombal». Foi,
ainda, fundador da Loja «Guadiana n.º 371», com «atestado de quite» de 21 de Maio de 191635.

Democrata, anti-fascista e opositor ao regime do Estado Novo foi preso pela Polícia de
Vigilância e Defesa do Estado (P.V.D.E.) por duas ocasiões. A primeira, em V.R.S.A., no dia 1
de Abril de 1942, sendo transferido para a prisão do Forte de Caxias a 5 de Maio do mesmo ano,
para ser libertado, condicionalmente, a 12 de Junho de 1942. A segunda, novamente na prisão
do Forte de Caxias, no dia 2 de Julho de 1942, para ser libertado, condicionalmente, no dia 18
de Julho de 194236.

Faleceu, em V.R.S.A., a 21 de Maio de 1958. Tinha 78 anos.

34. Em Comissão Executiva Camarária.

35. Cf. VENTURA, António, A Maçonaria no Algarve, 1816-1936, op. cit., p. 332.

36. Cf. ibidem.

418
9. Roque FÉRIA37
(Villanueva de los Castillejos, 1856 – Tavira, 20.04.1889)

«Roque Féria nasceu em Villanueva de los Castillejos, província de Huelva, em 1856. Filho
de Roque Féria Pai e de Beatriz Rodrigues Gomes ambos naturais de Castillejos. Casou com
Inocência Sousa Fava, com quem residia em Olhão. Faleceu no dia 20 de Abril de 1889, na rua
da Misericórdia, freguesia de Santa Maria, em Tavira, indo a enterrar no cemitério da Ordem
Terceira do Carmo.

Profissionalmente, foi comerciante de produtos alimentares num negócio de importação


e exportação.

À margem da sua profissão, dedicava-se entusiasmadamente ao jornalismo e à causa da


República. Fez parte do corpo redactorial do Jornal dos Artistas (de inspiração republicana),
com Gomes Leal e José Alexandrino de Avelar, publicado em Portimão entre 11 de Novembro
de 1875 e 20 de Setembro de 1877. Para melhor dar largas às suas convicções políticas com-
prou, em Faro, o parque da Tipografia Minerva, de João Frederico Tavares Belo, e instalou-o na
Rua Nova Grande, 7, em Tavira, designando-a Tipografia Democrática.

Aí imprimiu o jornal A Província do Algarve («Folha Republicana») entre 30 de Março


de 1886 e 1 de Março de 1887, que se extinguiu para dar lugar a O Combate, fundado a 5 de
Abril de 1887 e extinto a 4 de Outubro de 1888, por força de um processo interposto por Manuel
Cipriano da Costa Ribeiro, comandante do regimento de caçadores, n.º 4, alegando abuso de li-
berdade de imprensa. Ambos foram acérrimos defensores do republicanismo, ajudando a orga-
nizar o movimento republicano no Algarve e, por isso, padecendo contrariedades várias. Após
ver extintos os dois periódicos que fundou, Roque Féria mudou-se para Olhão, onde instalou
a sua Tipografia Democrática e continuou a aventura do jornalismo com o jornal O Porvir

37. Esta biografia foi retirada, de forma integral, da entrada biográfica que a Doutora Patrícia de Jesus Palma es-
creveu no seguinte estudo: PALMA, Patrícia de Jesus, A produção literária impressa no Algarve durante os sécu-
los XIX e XX, vol. II (Apêndice documental), dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2008, pp. 416-417. Para se ficar a saber mais sobre o papel
de Roque Feria na política algarvia, em geral, e no seio do partido Republicano Português (P.R.P.), em particular,
veja-se, por exemplo, o seguinte estudo: PIRES, Maria de Fátima Pegado Martins de Almeida, O surto das ideias
republicanas no Algarve (1876-1910) através da imprensa, dissertação de Mestrado em História do Algarve, rea-
lizada sob a orientação científica do Professor Doutor António Rosa Mendes e do Professor Doutor António Paulo
Oliveira, defendida na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, Faro, 2012, pp. 48-50.

419
(«Justiça. Independência. Imparcialidade. Direito. Liberdade. Humanidade»), que se publicou
de 28 de Outubro de 1888 a 8 de Fevereiro de 1891, não sem novas dificuldades. De acordo com
as palavras de Vilhena Mesquita, ‘o seu discurso jornalístico era radical e extremista, denotan-
do algumas influências anarquistas e propalando a União Ibérica, no espírito do mais avança-
do Socialismo peninsular. Mais uma vez se sentiu perseguido pelos políticos instalados e pelas
elites autóctones [em Olhão], que não viam com bons olhos a impertinente irreverência de um
espanhol, republicano, maçon, iberista e algo socialista’»38.

38. MESQUITA, José Carlos Vilhena, História da imprensa do Algarve, vol. II, Faro, Comissão de Coordenação
da Região do Algarve e Direcção-Geral da Comunicação Social, 1989, p. 489.

420
10. Benito Gómez FERMOSIÑO
(El Almendro, c. 1806)

Em relação aos Formosinho existem dois ramos familiares radicados em Lagos. O primeiro,
emigrado, directamente de El Almendro, ao longo da década de 1820; e, um segundo ramo,
emigrado, primeiramente, para Loulé, para, na década de 1840, passar para Lagos.

Benito Gómez Fermosiño (ou Bento Gomes Formosinho), filho de José Gómez
Fermosiño e de María Romero Martín, todos naturais de El Almendro. Nascido c. 1806 emigrou
para Lagos onde já nasceram todos os seus oito filhos. Registe-se a particularidade dos filhos
de que se conhece o casamento o terem feito com portugueses, facto nada usual nesta primeira
geração de emigrantes. Refira-se que, para o caso do concelho de Loulé, o primeiro casamento
misto só se realizou em 1855.

E, depois, a linha dos Rodríguez Fermosiño, de Villanueva de los Castillejos: Sebastián


José Rodríguez Fermosiño (ou Sebastião Rodrigues Formosinho), que viveu primeiro em Loulé
e que passou a Lagos c. 184039.

39. Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves.

421
11. Francisco Barbosa FORMOSINHO
(Loulé, 1853 – Lisboa, 17.10.1905)

Francisco Barbosa Formosinho, também conhecido e assinando por Francisco Rodrigues


Formosinho, nasceu em Loulé em 1853. Filho de Diego Rodríguez Fermosiño (1822–1879), ne-
gociante natural de Villanueva de los Castillejos, e de Josefa Rodrigues Formosinho (1830–1879),
natural de Loulé. Neto paterno de Sebastião Rodrigues Formozinho e de Maria das Mercês e
neto materno de Francisco Rodrigues Formozinho e de Maria das Dôres, todos eles naturais de
Villanueva de los Castillejos. Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia
1 de Junho de 185340.

Foi eleito vereador da câmara municipal de Loulé, pelo partido Regenerador, para o
mandato de 1893 e 189441.

Depois de cumprir o mandado de vereador, por volta de 1895, estabeleceu-se em Lisboa


com «uma casa de comissões e de consignações»42.

Faleceu na freguesia de Santa Justa, em Lisboa, no dia 17 de Outubro de 190543.

40. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1851-1854, lv. 53, fl. 27.

41. Cf. B.N.P., Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1893, p. 306; Anuario Almanach Commercial,
Lisboa, 1894, p. 1255.

42. Cf. «Loulé», in O Heraldo, n.º 1225, de 28 de Outubro de 1905, p. 3

43. Informações prestadas pelos genealogistas Bruno Portugal Gomes e Miguel Centeno Neves.

422
12. Alonso GOMES
(Mértola, 17.01.1819 – Mértola, 17.06.1897)

Alonso Gomes (Mértola, 17.01.1819 – Mértola, 17.06.1897) foi um dos maiores empreendedo-
res, industriais e empresários do concelho de Beja ao longo da segunda metade do século XIX.
Filho de Andrés Gomez, natural de Villanueva de los Castillejos, e de Maria Rafaela Martin,
natural de El Almendro, que, com a Guerra da Independência, tinham emigrado da Andaluzia
para se estabelecerem na povoação de Alcaria Ruiva, freguesia do concelho de Mértola. O Pai
estabeleceu-se como pequeno lojista e pequeno proprietário44.

44. Cf. MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, «ALONSO GOMES & C.ª: a actividade mineira e a
navegação a vapor entre Mértola e Vila Real de Santo António e entre Lisboa e os Portos do Algarve (1870-1905)»,
art. cit., p. 6.

423
Alonso Gomes foi o maior descobridor e explorador de minas de manganés (também
designado por manganésio)45 – minério existente em abundância nas terras natais dos seus pais
–, ao longo da segunda metade do século XIX, na região do Baixo Alentejo, chegando, no auge
da sua actividade mineira, a empregar mais de cinco centenas de operários nas suas explorações
mineiras46. Entre 1861 e 1886 Alonso conseguiu obter mais de quarenta concessões definitivas
de exploração mineira de manganés e de chumbo na região do Baixo Alentejo47. O minério
extraído das minas alentejanas exploradas por Alonso Gomes era maioritariamente exportado
para Newcastle (Inglaterra), onde era consumido em grandes quantidades pelas fábricas de vi-
dro, produtos químicos e adubos da região48.

O geógrafo João Carlos Garcia informa que o barco a vapor surgiu no Baixo Guadiana
«na sequência (e como consequência) da instalação da grande Mina de S. Domingos», em 1859,
uma vez que, nessa altura, não existiam «concorrentes sérios e directos ao longo do vale, como
é o caso do caminho de ferro ou das estradas»49. Deste modo, a primeira frota de embarcações
existente em permanência foi a comprada para os trabalhos de escoamento do minério entre o
Pomarão e a foz do Guadiana. Pequena, mas indispensável. Uma outra frota era a constituída
pelos numerosos vapores que subiam o rio para carregar as pirites50.

Passados alguns anos vão estabelecer-se carreiras regulares de circulação de passagei-


ros e de mercadorias no vale do Guadiana. Para tal muito terá contribuído a abertura e o desen-
volvimento da exploração mineira de São Domingos e a chegada do caminho de ferro a Beja
e à margem esquerda do rio51. O processo inicia-se com a apresentação nas Cortes do projecto

45. O manganésio era normalmente utilizado na indústria vidreira, nos produtos químicos, na metalurgia, as-
sim como na cerâmica e na pintura, in ALMEIDA, J. M. Costa, «Considerações a propósito do manganésio do
Alentejo», in Separata de Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro, Porto, vol. I-II, 1945, p. 16.

46. Cf. MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, art. cit., p. 6.

47. Cf. ibidem.

48. Cf. ibidem, p. 17.

49. Cf. João Carlos GARCIA, A Navegação no Baixo Guadiana durante o Ciclo do Minério (1857-1917), [texto
policopiado], tese de doutoramento em Geografia Humana apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, vol. I, Porto, 1996, p. 295.

50. Cf. GARCIA, João Carlos A Navegação no Baixo Guadiana durante o Ciclo do Minério (1857-1917), op.
cit., p. 295.

51. Cf. ibidem, p. 361.

424
de lei, datado de 11 de Março de 1873, em que o governo, mediante concurso público, conce-
dia um subsídio anual de 7 000$00 réis a qualquer empresa de navegação a vapor o exclusivo
das ligações marítimas entre Lisboa e os portos do Algarve52. Deste modo, e por projecto-lei
governamental, as carreiras para o Algarve são entregues, em 1874, à «Empresa de Navegação
a Vapor para o Algarve e Guadiana», de Alonso Gomes, que contratualiza a ligação de Lisboa
aos portos do Algarve, assim como uma carreira diária (exceptuando os domingos) de vapor
entre Mértola e V.R.S.A., fazendo sempre escala pelo Pomarão e por Alcoutim53. O comércio
e os serviços ganhavam uma acrescida força ao longo do rio, influenciados pelo ciclo do mi-
nério, o que veio a justificar a introdução da carreira diária entre Mértola e V.R.S.A. Contratos
que renovar-se-ão entre o governo e a empresa de Alonso Gomes em 1884 e 1893. Sempre com
atribuladas lutas parlamentares entre deputados e partidos aquando da discussão dos mesmos54.

O contrato de 1884 fixava as seguintes condições para o concessionário: duas viagens


redondas de ida e volta mensais entre Lisboa e o Algarve (a sair todos os dias 1 e 16 de cada mês
do porto de Lisboa), não excedendo cada viagem oito dias, com escalas nos portos de Sines,
Lagos, Vila Nova de Portimão, Faro, Olhão e V.R.S.A., sendo obrigatório a entrada nos portos
de Faro, Olhão e V.R.S.A.55.

Deste modo, entre 1870 e 1905 a «Empresa de Navegação a Vapor para o Algarve e
Guadiana», de Alonso Gomes, representará, isolada, a navegação portuguesa a vapor nos por-
tos do litoral, usufruindo, desde 1874, do exclusivo das navegações a vapor de Lisboa para os
portos do Algarve56.

Assim, e para fazer face aos sucessivos contratos celebrados com o governo, acompa-
nhar o aumento da circulação de passageiros e de mercadorias, mas, igualmente, por forma a
compensar os três naufrágios sofridos57, Alonso Gomes foi comprando sucessivas unidades

52. Cf. ibidem, p. 352.

53. Cf. ibidem, pp. 361-362.

54. Cf. ibidem, pp. 362-364.

55. Cf. ibidem, p. 353.

56. Cf. ibidem, p. 352.

57. Do «Gomes 5.º», em 1888; do «Gomes 7.º», em 1893; e do «Gomes VIII» também na década de 1890.

425
navais para somar à primeira embarcação adquirida em 1874. E, deste modo, adquiriu sete no-
vas embarcações a vapor entre 1875 e 189358.

Em 1884 o andaluz Alberto Rodríguez Centeno59, natural de Villanueva de los Castillejos


e despachante oficial de importações e exportações em Lisboa, compra 25% da quota da
«Empresa de Navegação a Vapor para o Algarve e Guadiana», ficando, desde essa altura, como
sócio minoritário e representante da empresa em Lisboa60.

Alonso Gomes morreu a 17 de Junho de 1897. E com o seu falecimento se desmoronou


o império que construíra e mantivera no Baixo Alentejo61.

58. O«Gomes 2.º», em 1875; o «Gomes 3.º», em 1876; o «Gomes IV», em 1884; o «Gomes 5.º», em 1887; o
«Gomes VI», em 1889; o «Gomes 7.º», em 1891; e, finalmente, o «Gomes VIII», em 1893.

59. Alberto Rodríguez Centeno (Villanueva de los Castillejos, 07.01.1828 – Lisboa, 17.03.1904) operava como
despachante oficial de importações e exportações em Lisboa. Foi um importante comerciante. Fundou a casa co-
mercial Alberto R. Centeno & Companhia, com sede na Rua de São Nicolau, n.º 5, em Lisboa, onde operava como
despachante oficial de importações e exportações. Entre 1890 e 1910 foi proprietário de uma loja e armazém de
comércio por atacado na indústria de torneiros, na freguesia de São Nicolau, em Lisboa, in Arquivo Municipal de
Lisboa, Licenças para Estabelecimentos de Comércio e Indústria, 1890, licença nº 7 451; 1900, licença nº 6 042;
1910, licença nº 3 827. (Informações prestadas pelo genealogista Miguel Centeno Neves e pelo Professor Doutor
Daniel Ribeiro Alves).

60. Cf. MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, art. cit., p. 25.

61. Cf. João Carlos GARCIA, A Navegação no Baixo Guadiana durante o Ciclo do Minério (1857-1917), op.
cit., p. 364.

426
13. António Martins Peres GOMES
(Loulé, 1859)

António Martins Peres Gomes nasceu em Loulé em 1859. Filho de António Martins Peres
Gomes, negociante, e de Maria Rosa Formozinho, doméstica, ambos naturais de Villanueva
de los Castillhejos. Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 30
de Setembro de 185962. Era irmão mais novo de Bento Martins Peres Gomes (n. 1843) e de
Sebastião Martins Peres Gomes (n. 1849).

Tal como os seus irmãos foi negociante de fazendas de lã, linho e seda, com casa co-
mercial em Loulé.

Foi eleito vereador da câmara municipal de Loulé, pelo partido Regenerador, em três
vereações: entre 1893 e 1894, entre 14 de Novembro de 1900 e 14 de Janeiro de 1901 e, final-
mente, entre 14 de Janeiro e 21 de Setembro de 190163.

62. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1857-1860, lv. 55, fls 45-46.

63. Cf. B.N.P., Anuario Almanach Commercial, Lisboa, s./n., 1893, p. 306; Anuario Almanach Commercial,
Lisboa, s./n., 1894, p. 1255; MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da
Monarquia à implantação da República, op. cit., pp. 31-32.

427
14. Sebastião Martins Peres GOMES
(Loulé, 1849)

Fonte: Arquivo Particular do Dr. João Barros Madeira.

Sebastião Martins Peres Gomes nasceu em Loulé em 1849. Filho de António Martins Peres
Gomes e de Maria Rosa Formozinho, ambos naturais de Villanueva de los Castillhejos. Foi bap-
tizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 10 de Dezembro de 1849.

Montou um armazém de cereais no Largo do Chafariz, foi comerciante de fazendas de


lã, linho e seda e, igualmente, produtor, comerciante e exportador de frutos secos.

Casou com Maria del Carmen Barbosa Formozinho, natural de Villanueva de los
Castillejos, de onde resultaram o nascimento de nove filhos, todos eles nascidos e baptizados

428
em Loulé: António (n. 1874), Sebastião (n. 1876), Joana (n. 1877), António (n. 1878), Joana
(n. 1880), Joana (n. 1882), Roza (n. 1884), Maria Jozé (n. 1885) e Maria do Carmo (n. 1889)64.

Foi eleito vereador da câmara municipal de Loulé, pelo partido Progressista, na verea-
ção municipal que governou de 1 de Janeiro a 14 de Novembro de 190065.

Era irmão mais velho do também vereador António Martins Peres Gomes.

64. Informações recolhidas numa entrevista realizada ao seu trisneto, Dr.º João Barros Madeira, no dia 7 de Junho
de 2019, na residência do entrevistado, em Loulé.

65. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implan-
tação da República, op. cit., p. 30.

429
15. Francisco Formosinho MACÍAS
(Loulé, 1869)

Francisco Formosinho Macías nasceu em Loulé em 1869. Filho de Manoel Macías (n. 1831),
negociante natural de Villanueva de los Castillejos, e de Maria das Dôres Rodrigues Formozinho
(n. 1832), doméstica natural de Loulé. Neto paterno de Caetano Macías e de Luzia da Horta
e materno de Sebastião Rodrigues Formosinho e de Maria das Mercês. Foi baptizado na igre-
ja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 5 de Novembro de 1869, tendo como padri-
nhos Sebastião Rodrigues Formosinho, negociante residente em Loulé, e Maria Domingues
Rodrigues Formosinho, solteira natural de Lagos66.

Foi proprietário de uma ourivesaria e relojoaria, localizada na Rua de São Sebastião, em


Loulé, entre, pelo menos, 1903 e 191367.

Foi eleito vereador substituto da câmara municipal de Loulé, pelo partido Democrático,
para o mandato de 2 de Janeiro de 1914 a 31 de Dezembro de 1917.68

66. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Baptismos, 1869-1869, lv. 62, fls.
163v.-164.

67. Cf. Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional,
1903, pp. 1235-1236; ibidem, 1913, pp. 2078-2080.

68. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 2.º vol. – A Primeira República, 1910-1926, op.
cit., p. 260 e pp. 274-275.

430
16. António Feu MARCHENA
(Ayamonte, 1880 – Lisboa, 27.10.1915)

Fonte: PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, Albufeira, Arandis
Editora, 2014, p. 135.

António Feu Marchena nasceu em 1880 em Ayamonte.

Emigrou, em 1900, ainda solteiro, para Vila Nova de Portimão. Com o objetivo de
expandir a empresa conserveira da «Feu Hermanos», sediada em Ayamonte, para a região do
Algarve.

Em 1905 casou com a sua prima, Cristobalina Marchena Conde, e alugou uma vivenda
na Rua José Falcão (actual Rua D. Carlos I), em Vila Nova de Portimão, que se situava pratica-
mente em frente da sua fábrica de conservas, para aí viver com a família.

431
Faleceu no dia 27 de Outubro de 1915, num hotel de Lisboa, vítima de ataque cardíaco.
O seu falecimento motivou que o irmão mais novo, Cayetano Feu Marchena, tivesse que dei-
xar a actividade política, exercida em Ayamonte e em Madrid, para se dedicar, a tempo inteiro,
à administração da empresa conserveira «Feu Hermanos», detentora de várias unidades fabris
espalhadas pela Andaluzia e por Portugal69.

69. Informações prestadas pelo seu neto, Dr.º António Feu, numa entrevista realizada por e-mail no dia 26 de
Agosto de 2020.

432
17. Cayetano Feu MARCHENA
(Ayamonte, 2.08.1882 – Lisboa, 2.07.1946)

Fonte: PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, Albufeira, Arandis Editora, 2014, p. 137.

433
Cayetano Feu Marchena nasceu em Ayamonte no dia 2 de Agosto de 1882. Filho de António
Feu Casanova e de Cristobalina Marchena Vasquez. Cayetano Feu Marchena era descendente,
pela parte paterna, de Pedro Feu, catalão, cuja família estava ligada às actividades piscatórias,
e que, no início do século XIX, se tinha instalado na Andaluzia, integrando o movimento mi-
gratório de catalães que se fixou na zona de Huelva e da Isla Cristina, a fim de continuarem as
actividades comerciais70. Os seus descendentes continuaram o negócio ligado à pesca e à salga
de peixe.

Em 1889 os seus netos, António e Manuel Feu Casanova, fundaram, em Ayamonte, a


«Sociedade Mercantil Regular Colectiva Feu Hermanos de Ayamonte», que, inicialmente, se
dedicou ao comércio e à indústria das conservas de peixe. Numa primeira fase a sociedade de-
senvolveu os negócios em Ayamonte, Huelva e na Isla Cristina71.

Porém, num contexto de expansão industrial e empresarial da sociedade, os dois filhos


de António Feu Casanova, os irmãos António e Cayetano Feu Marchena, procedem à instalação
de três novas fábricas de conservas em Portugal, a operar em Vila Nova de Portimão, Olhão e
Porto Brandão (freguesia da Caparica, concelho de Almada)72. Chegando a «Feu Hermanos»
a deter unidades fabris instaladas em seis localidades diferentes: Ayamonte, Huelva e Isla
Cristina, na Andaluzia; e Vila Nova de Portimão, Olhão e Porto Brandão, em Portugal.

Em 1904, por morte do Pai António Feu Casanova, António Feu Marchena (n. Ayamonte,
1880) e o irmão Cayetano Feu Marchena (n. Ayamonte, 1882) herdam metade da empresa de
conservas, que, nessa altura, já possuía estabelecimentos em Portugal (Vila Nova de Portimão,
Olhão e Porto Brandão), assim como uma frota de barcos de pesca, fábricas de «guano» e em-
presas de almadravas no litoral andaluz e algarvio73.

Porém, Cayetano Feu continuou a residir em Ayamonte, casando-se, em 1906, com


Lúcia Martin Mora, natural dessa cidade andaluza. Do casamento resultou uma filha: Lúcia Feu
Martin, nascida em Ayamonte, em 191374.

70. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
op. cit., p. 51.

71. Cf. ibidem.

72. Cf. ibidem, p. 23

73. Cf. ibidem, p. 51

434 74. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, op. cit., p. 97.
Em 1911 é reconhecido como líder do partido Liberal Democrático no município de
Ayamonte, sendo indicado por esse partido para concorrer às eleições municipais de Novembro
desse ano. Nessa altura Feu Marchena era já sócio da empresa comercial «Feu Hermanos», da
sociedade anónima «La Almadrabera75 Ayamontina», e gerente e director de quatro unidades
fabris instaladas em Ayamonte, Lepe, Olhão e Vila Nova de Portimão.

O partido Democrático Liberal, aliado ao partido Conservador e ao dos Liberais, vence


as eleições municipais de Novembro de 1911, conseguindo eleger sete dos oito lugares dispo-
níveis, sendo o restante ocupado por um socialista76. Cayetano Feu Marchena toma posse como
alcaide de Ayamonte em Janeiro de 191277, permanecendo nesse cargo até 191478. Durante o
mandato arrancaram as obras para a construção de um novo matadouro municipal e conseguiu-se
que o ministro das Finanças reduzisse as tarifas alfandegárias para a importação de sardinha79.

Todavia, em 1915, o irmão, António Feu Marchena, falece, inesperadamente, vítima de


síncope cardíaca, no hotel Metrópole, em Lisboa. O que provoca que Cayetano Feu Marchena
seja nomeado sócio gerente da empresa «Feu Hermanos», tendo que, nesse mesmo ano, mudar
a residência de Ayamonte, onde sempre vivera, para Vila Nova de Portimão80.

75. «La Almadrabera», ou almadrava em português, era a designação que se dava às artes fixas para a pesca do atum.

76. Joaquin Feu Moreno (Ayamonte, 1880), primo segundo de Cayetano Feu Marchena. Joaquin foi um destaca-
do líder anarco-sindicalista tendo sido o representante dos operários conserveiros de Ayamonte no 1.º Congresso
Nacional da C.N.T., realizado, em 1911, em Barcelona. Nesse mesmo ano, e na sequência de ter liderado uma gre-
ve na fábrica de conservas onde trabalhava em Ayamonte, viu-se forçado a se exilar em V.R.S.A. onde permaneceu
até 1913. Após o seu regresso a Ayamonte toma posse como o primeiro vereador socialista eleito para a câmara
municipal de Ayamonte, in PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., pp. 101-102.

77. Durante o seu mandato ocuparam a vereação os seguintes vereadores, todos eles com ligações familia-
res a Cayetano Feu Marchena: Joaquin Feu Moreno (primo segundo), José Pérez Barroso (tio por afinidade),
Manuel Feu Marchena (primo direito), Pedro Gutiérrez Feu (primo segundo), Manuel Feu Casanova (tio), Aurélio
Marchena Garcia (primo segundo), José Antonio Gómez Morales (cunhado), Antonio Gutiérrez Feu (primo se-
gundo), Crsitobal Marchena García (tio avô), Celedónio Garcia Ortega (primo segundo), Ramón Martin y Molino
(sogro), Francisco Feu Barroso (primo segundo) e Manuel Pérez y Feu (primo direito), in ibidem, p. 99.

78. Cf. ibidem, p. 98.

79. Cf. ibidem, p. 99.

80. Cf. ibidem, p. 136.

435
Em Vila Nova de Portimão casa, em segunda núpcias, com Johanna Wolkman Luders,
uma jovem alemã natural de Hamburgo. Do casamento resultam mais duas filhas: María del
Carmen e María Luiza81.

Já em Vila Nova de Portimão, o empresário procura dinamizar a «Feu Hermanos», pro-


cedendo à verticalização da indústria familiar que tinha herdado de seu Pai. Nesse sentido,
empreende um conjunto de iniciativas que levam ao aumento da capacidade produtiva das fá-
bricas, entre elas as seguintes: aumenta a frota pesqueira da sociedade e constrói um estaleiro
naval, oficinas de vazio para a fabricação de embalagens em lata e oficinas de mecânica e ou-
tras instalações complementares. E adquire, ainda, duas novas fábricas de conservas: a «Santo
António», na Mexilhoeira da Carregação; e a «Exportadora Lusitânia», em Setúbal82.

No dia 15 de Março de 1928 a parte espanhola da sociedade comercial separa-se, fican-


do a «Feu Hermanos» a operar, somente, em Portugal83.

Refira-se, igualmente, que este empresário teve um papel preponderante na concretiza-


ção da política social corporativa do Estado Novo em Portimão. Para isso criou na sua fábrica
vários equipamentos sociais: uma cantina para os operários, uma creche para as crianças filhas
dos operários e operárias e um refeitório para as mesmas crianças. Foi a primeira grande fábri-
ca de conservas a fazê-lo. E seria igualmente a primeira fábrica, a nível nacional, a projectar e
a construir um bairro social destinado aos operários conserveiros. Bairro aprovado em 1934 e
inaugurado em 193684.

81. Cf. ibidem, p. 136.

82. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
op. cit., p. 52.

83. Cf. ibidem, p. 52; FEU, António, «A família Feu e a industria conserveira», in O Algarve da Antiguidade aos
nossos dias: elementos para a sua história, art. cit., p 414.

84. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
op. cit., p. 141. «Aprovado desde 1934, o bairro foi inaugurado a 7 de Junho de 1936. Nesse dia foi distribuído um
almoço de carne, toucinho, grão e arroz a 2 400 operárias. Na cerimónia de inauguração, que contou com a pre-
sença de Duarte Pacheco, Sebastião Ramirez e outras entidades públicas nacionais, regionais e locais, os operários
foram chamados a participar. As fábrica encerraram para que estivessem na recepção aos membros do governo, e
se incorporassem no cortejo, que saiu do Largo do Município para o novo bairro. Depois dos discursos habituais,
a pedido dos ministros, o operário José Rocha foi encarregado de anunciar que o Bairro teria o nome de ‘Oliveira
Salazar’, o ‘que foi acolhido com uma grande salva de palmas’. Seguidamente, foi oferecido pelo C.P.C.P., uma
merenda a 1 400 operários conserveiros», in Maria João Raminhos DUARTE, Portimão. Industriais Conserveiros
436 na Primeira Metade do Século XX op. cit., pp. 141-142.
Em Março de 1930, e após quinze anos a residir em Portugal, obtêm a nacionalidade
portuguesa, provavelmente requerida pela entrada em vigor do decreto n.º 15 360, de 14 de
Abril de 1928, que proibia a estrangeiros a propriedade de navios mercantes ou de pesca85.

Cayetano Feu Marchena soube ser um dos mais destacados entusiastas e promotores do
regionalismo algarvio. Em 1931 é nomeado sócio benemérito da Casa do Algarve em Lisboa.
Ao longo da década de 1930 torna-se presidente, administrador e sócio benemérito de várias as-
sociações e grupos locais e regionais. É um dos fundadores da «Comissão de Iniciativa da Praia
da Rocha», sendo um dos grandes impulsionadores do desenvolvimento da praia da Rocha en-
quanto estância balnear e turística86.

Em 1935, juntamente com Sebastião Ramirez, faz parte da constituição da «Sociedade


Portuguesa de Siderurgia»87.

No dia 18 de Julho de 1936 a «Feu Hermanos» é autorizada a transformar-se em socie-


dade portuguesa, alterando a designação para «Feu Hermanos, responsabilidade limitada», com
sede social em Portimão88.

Nos finais da década de 1930 assume o cargo de presidente da Comissão Administrativa


das Caldas de Monchique, empreendendo, nos seus mandatos, sucessivos melhoramentos nessa
estância termal.

Durante as décadas de 1920 e de 1930 assumiu vários cargos, de onde se destacam os


seguintes:

– Direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Portimão89;

85. Cf. PÉREZ, Asunción Feu, op. cit., p. 136.

86. Cf. DUARTE, Maria João Raminhos, Portimão. Industriais Conserveiros na Primeira Metade do Século XX,
op. cit., p. 53.

87. Cf. ibidem.

88. Cf. ibidem, pp. 53-54; FEU, António, «A família Feu e a industria conserveira», in O Algarve da Antiguidade
aos nossos dias: elementos para a sua história, art. cit., p 415.

89. Cf. «Incêndios», in Comércio de Portimão, n.º 310, de 24 de Julho de 1932, p. 1.

437
– Benemérito e «o maior contribuinte em géneros e em dinheiro» da Santa Casa da
Misericórdia de Portimão e do seu Hospital90;

– Primeiro «delegado concelhio por Portimão» da Casa do Algarve em Lisboa91;

– Membro da Comissão Administrativa das Caldas de Monchique92;

– Presidente, a partir de 1929, da Comissão Organizadora das Festas de Santa Catarina93;

– Membro da «Comissão de Iniciativa da Praia da Rocha»94;

– Fundador do «Pavilhão Avenida», na praia da Rocha, que foi inaugurado no dia 3 de


Agosto de 193095.

Durante os primeiros anos do Estado Novo assume o papel de representante maior da


elite conserveira nacional.

Faleceu na sua casa de férias («febre da carraça»), em Lisboa, no dia 2 de Julho de 1946.
Tinha 63 anos96.

Em 1957 na revista das Conservas de Peixe podia ler-se a seguinte evocação dedicada
a este industrial conserveiro:

«Morreu um grande industrial. Aos 63 anos de idade, quando havia muito ainda a es-
perar da sua actividade, da sua inteligência e da profunda experiência que tinha das indústrias
de conservas e pesca, finou-se Cayetano Feu Marchena, o D. Cayetano, como o tratavam os
seus amigos, colegas, colaboradores e operários. Espanhol de origem, mas português por natu-
ralização, Cayetano Feu Marchena foi estruturalmente um industrial, a quem os problemas da
nossa indústria sempre apaixonaram. Vindo de Ayamonte sua terra natal, há cerca de 45 anos,

90. Cf. «Santa Casa da Misericórdia de Portimão», in ibidem, n.º 778, de 15 de Julho de 1941, p. 1.

91. Cf. «Casa do Algarve», in ibidem, n.º 348, de 16 de Abril de 1933, p. 1.

92. Cf. «Caldas de Monchique», in ibidem, n.º 561, de 16 de Maio de 1937, p. 1.

93. Cf. «As Festas na Rocha», in ibidem, Comércio de Portimão, n.º 166, de 29 de Setembro de 1929, p. 1.

94. Cf. Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 174.

95. Cf. «Pavilhão Avenida», in Comércio de Portimão, n.º 209, de 10 de Agosto de 1930, p. 1.

96. Cf. Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 54.

438
fixou-se em Portimão e tendo, pela morte do seu irmão, Antonio Feu Marchena, tomado a direc-
ção dos negócios da casa Feu Hermanos em Portugal, D. Cayetano Feu conseguiu, mercê dum
trabalho honesto e constante, transformar o pequeno frito de Rodolfo Torrents, na bela fábrica
de São Francisco que aquela firma possui em Portimão. Mais tarde a aquisição duma velha fá-
brica da Mexilhoeira da Carregação, deu-lhe ensejo para transformar um edifício acanhado e
deficiente num dos mais modernos estabelecimentos fabris do país, como é hoje a fábrica de
Santo António. Espírito aberto às ideias modernas, estava sempre pronto a aplicar nas suas fá-
bricas tudo o que representasse um real progresso para a indústria de conservas. De coração
generoso, interessando-se pelo bem estar dos seus operários, a sua preocupação maior era a de
fazer laborar o mais possível as suas fábricas, para que não faltasse o pão àqueles que ele con-
siderava seus colaboradores. Precedendo a aplicação de muitos dos princípios do nosso Estado
Corporativo, D. Cayetano Feu foi o iniciador das primeiras construções do que mais tarde viria
a ser o belo Bairro Operário Dr. Oliveira Salazar, de Portimão; fundou cantinas e creches e co-
meçou, há alguns anos, a reformar os seus trabalhadores de ambos os sexos, os homens aos 60
anos e as mulheres aos 55. Conhecedor profundo dos mercados estrangeiros, que visitava re-
gularmente antes da guerra, D. Cayetano Feu alcançou para a sua firma um lugar proeminente
nalguns desses importantes mercados, graças à reconhecida excelência dos produtos das suas
fábricas, aos métodos honestos de trabalho e ao escrupulosíssimo respeito pelos compromissos
que assumia. Dum fino trato para toda a gente e duma lealdade inexcedível para os amigos e
colegas, D. Cayetano sabia cativar os que dele se acercavam e deixa em todos que o conheciam
uma profunda saudade»97.

97. Cf. Asunción Feu PÉREZ, op. cit., p. 175.

439
18. João José Gomes PABLOS
(Silves, 15.05.1863 – Silves, 1.10.1932)

João José Gomes Pablos foi um grande proprietário natural de Silves onde nasceu em 1863.
Filho de João José Gomes Pablo (El Almendro, 1821 – Silves, 21.12.1867), negociante natural
de El Almendro, e de Beatriz Rodrigues Garcia, natural de Silves. Casou com Maria Francisca
Gonçalves Rocheta (Loulé, 21.09.1862 – Loulé, 1.04.1934), na igreja Matriz de São Clemente,
em Loulé, no dia 9 de Junho de 1884, tendo como testemunhas Matheus António Jara, médi-
co municipal residente em Faro, e Manoel Rodrigues Corrêa, negociante residente em Loulé98.

Era sobrinho de Francisco Gomes Pablos (Monchique, 30.09.1834 – Silves, 3.03.1908).


Os seus pais, Francisco Gomes Pablos e Maria da Encarnação Gonçalves, ambos naturais de
El Almendro, proprietários agrícolas, tinham-se radicado na vila de Monchique na sequencia
da Guerra da Independência (c. de 1808). Francisco Gomes Pablos foi um grande proprietário
agrícola e urbano, tendo falecido no dia 3 de Março de 1908, na cidade de Silves, aos 73 anos
de idade. Por testamento institui seus herdeiros universais, em partes iguais, o hospital da Santa
Casa da Misericórdia de Silves e a câmara municipal de Silves. Fixou, igualmente, como usu-
frutuário vitalício dos seus bens o sobrinho João José Gomes Pablos.

João José Gomes Pablos foi eleito vereador da câmara municipal de Loulé por três dis-
tintas ocasiões: pelo partido Regenerador, entre 7 de Janeiro de 1896 e 1898; e, mais duas vezes,
pelo partido Regenerador Liberal, entre 30 de Novembro e 7 de Dezembro de 1908, e entre 25
de Janeiro de 1909 e 5 de Outubro de 191099.

Com o falecimento do tio, mudar-se-ia de Loulé para Silves por forma a administrar os
vários bens que o tio lhe tinha deixado em testamento. Viveria em Silves de 1910 a Outubro de
1932, data em que viria a falecer100.

98. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de São Clemente [Loulé], Registo de Casamentos, 1884-1884, lv. 48, fls. 29-29v.

99. Cf. A.M.L.P.J.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Loulé, Livro das Actas das Sessões da Câmara Municipal
de Loulé, desde 26 de Junho de 1893 a 4 de Outubro de 1897, fls. 79-80; MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no
século Vinte. 1.º vol. – Da decadência da Monarquia à implantação da República, op. cit., pp. 45-47.

100. Cf. GONÇALVES, Vera, Catálogo da exposição O Legado de Francisco Gomes Pablo patente ao público no
Arquivo Municipal de Silves, em Silves, em Abril de 2015.

440
19. Angel Delgado PÉREZ
(Villanueva de los Castillejos, 1885 – Loulé, 1960)

Fonte: Descendentes de Angel Delgado Pérez

441
Angel Delgado Pérez nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1885. Filho de Francisco
Delgado Gonçalves, e de Beatriz Pérez Domínguez, ambos naturais de Villanueva de los
Castillejos.

Em 1897, com doze anos de idade, emigrou para Loulé, para começar a trabalhar como
marçano na loja de fazendas do seu tio, Pablo García Delgado, também ele natural de Villanueva
de los Castillejos. A loja situava-se na Rua de São Francisco (actual Rua 5 de Outubro).

Casou em Loulé, em 1912, com Beatriz Augusta Guerreiro (14.07.1879-1964), natural


do sítio da Rocha Baixinha (concelho de Albufeira), e professora do ensino particular em casa.
Com a ajuda financeira da mulher, compra o estabelecimento de fazendas ao tio, ficando a ge-
ri-lo, de forma permanente, até à data do seu falecimento.

Refira-se que este estabelecimento ficou célebre em toda a vila por ter sido a primeira
loja a vender gabardinas na vila. Acrescente-se, igualmente, que o comerciante deslocava-se,
com frequência, até Ayamonte para adquirir novas fazendas, por lá serem mais baratas, que
depois eram vendidas em Loulé.

Faleceu, em Loulé, em 1960. Tinha 75 anos101.

101. Esta biografia foi escrita com base nas informações recolhidas através de duas entrevistas semi-dirigidas à
Senhora Dona Maria Regina Sintra Delgado, no dia 7 de Junho de 2019 e à Dr.ª Maria Cristina Farrajota, no dia
11 de Setembro de 2021.

442
20. Sebastião Garcia RAMIRES102
(Lisboa, 5.04.1898 – Porto, 2.10.1972)

Fonte: https://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/r/ramires_sebastiao_
garcia.pdf [consultado pela última vez no dia 15 de Setembro de 2021]

«Sebastião Garcia Ramires (Lisboa, 5.04.1898 – Porto, 2.10.1972), engenheiro, industrial, pro-
prietário e político, licenciou-se em engenharia mecânica pelo Instituto Superior Técnico, em
1920.

102. Esta biografia foi retirada, de forma integral, da seguinte obra: Joaquim Manuel Vieira RODRIGUES, «Vila
Real de Santo António, centro piscatório e conserveiro», in O Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias (elementos
para a sua história), op. cit., pp. 422-423.

443
Desempenhou o cargo de Ministro do Comércio, Indústria e Agricultura (5.07.1932
– 11.04.1933). Foi um dos principais organizadores do Congresso Nacional das Pescas e
Conservas, realizado em Setúbal, em 1927. Em 1931, fora eleito director da Associação
Industrial Portuguesa (A.I.P.). De 11.04.1933 a 27.07.1933, será nomeado novamente para
aquele cargo ministerial e para Ministro do Comércio e Indústria de 24.07.1933 a 18.01.1936.
Foi deputado pela União Nacional, desde 1934 até ao final da IX Legislatura (1965-1969), ten-
do chegado a desempenhar o cargo de vice-presidente da Assembleia Nacional. Foi adminis-
trador da Sociedade Nacional de Fósforos, presidente da Junta Central da Legião Portuguesa e
pertenceu ao Conselho de Administração da Companhia Portuguesa de Siderurgia103.

Durante a Guerra Civil de Espanha serviu como intermediário entre Salazar e Franco104,
sendo «amigo íntimo» de Gil Robles105. Deslocava-se «com frequência a Espanha para se avis-
tar com o político espanhol, que se encontra[va] no centro dos acontecimentos; Gil Robles fa-
la-lhe com grande franqueza e minúcia; e Ramires tudo transmite a Salazar, num quadro que é
pelo menos sombrio»106. Manifestou enorme congratulação pela entrada dos nacionalistas espa-
nhóis em Barcelona: «A vitória do exército de Franco representa para nós portugueses, motivo
de consolação muito íntima, porque desde o primeiro momento as relações entre Portugal e a
Espanha nacionalista foram sempre aquelas que existiram entre as duas nações irmãs»107.

Acompanhou Salazar no seu périplo conserveiro ao Algarve, em Novembro de 1931108.


Desempenhou um papel destacado na organização corporativa da produção e comércio de vá-
rios produtos, designadamente do arroz, do bacalhau, dos vinhos e, obviamente, das conservas

103. Cf. A Indústria, Setúbal, Secção dos Fabricantes de Conservas de Setúbal, n.º 576, de 25 de Julho de 1935,
p. 2; A Indústria, Setúbal, Secção dos Fabricantes de Conservas de Setúbal, n.º 873, de 29 de Setembro de 1943,
p. 3; Jornal do Algarve, edição de 7 de Outubro de 1972, pp. 1-2.

104. Cf. NOGUEIRA, Franco, História de Portugal, vol. II, Porto, Livraria Civilização, 1981, p. 168.

105. Gil Robles (1898-1980). Professor de Direito e político espanhol. Foi presidente e um dos fundadores da
«Confederación Española de Derechas Autónomas. Apoiou a sublevação militar de 1936 que dará origem à Guerra
Civil de Espanha.

106. Cf. NOGUEIRA, Franco, Salazar. As grandes crises, 1936-1945, vol. III, 3.ª edição, Porto, Livraria
Civilização, 1986 [1978], p. 10 e p. 56.

107. Cf. Diário das Sessões, 27 de Janeiro de 1939, p. 1.

108. Cf. O Algarve, edição de 22 de Novembro de 1931, p. 2.

444
(Consórcio Português das Conservas de Peixe, 1932, depois, Instituto Português das Conservas
de Peixe, a partir de 1936).

Em 1972, era presidente do conselho de administração da Sociedade de Iniciativas de


Aproveitamentos Florestais e da Babcock-Wilcox Portuguesa109.

Sebastião Ramires foi ainda gerente das fábricas de conservas da firma Ramirez & C.ª,
localizadas em V.R.S.A., Olhão, Albufeira e Setúbal».

Sebastião Garcia Ramires era filho de Frederico Alexandrino Garcia Ramirez e neto pa-
terno de Sebastián Ramírez.

109. Cf. Grande Enciclopédia, vol. X da Actualização, p. 25.

445
21. Frederico Alexandrino Garcia RAMIREZ
(V.R.S.A., 26.11.1869 – V.R.S.A., 13.10.1935)

Fonte: SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos), S.A.,
2003, p. 40.

Frederico Alexandrino Garcia Ramirez nasceu em V.R.S.A. no dia 26 de Novembro de 1869.


Filho de Sebastián Ramírez, comerciante, e de Maria das Dores Garcia, sem profissão, ambos
naturais de El Almendro. Neto paterno de Francisco Ramirez e de Maria dos Ramos Rodrigues
e materno de José Garcia e de Catarina Martins Blanco, todos naturais de El Almendro. Foi
baptizado na igreja paroquial de Nossa Senhora da Encarnação, em V.R.S.A., no dia 20 de

446
Dezembro de 1869, tenho como padrinhos Joaquim da Encarnação Ribeiro Alves e sua Mãe
Josefa Antónia Fernandes110.

Em Fevereiro de 1888 requereu a mudança de cidadania, com um documento apresen-


tado na câmara municipal de V.R.S.A., em que declarava oficialmente querer ser cidadão por-
tuguês111. Formou-se em engenharia civil na Escola Oficial do Exército, em Lisboa, em 1892.

Casou com a sua prima Maria Garcia Barroso, filha de Marcos Santiago Garcia y Martin
e de Emília Perez Barroso112.

A nível político foi eleito e nomeado para vários cargos. Foi o líder do partido Progressista
na região do Algarve entre a última década do século XIX e a primeira década do século XX.

Venceu as eleições municipais realizadas a 3 Novembro de 1901, tendo tomado posse


em Janeiro de 1902, pelo partido Progressista113. Porém, durante o mandato no município, seria
reeleito deputado parlamentar da Nação pelo círculo de Faro. Foi deputado eleito para a câmara
dos Deputados para as eleições realizadas entre 1892114 e 5 de Abril de 1908115. Entre Janeiro

110. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação [V.R.S.A.], Registos de Baptismo, 1869-
1869, lv. 20, fls. 48-48v.

111. Cf. A.H.M.A.R.M., Fundo da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Livro de Registo das Actas
de Vereação da Câmara Municipal de V.R.S.A., desde 18 de Outubro de 1886 a 30 de Dezembro de 1893, lv. 5, acta
de vereação do dia 25 de Fevereiro de 1888, fl. 106.

112. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 17.

113. A vereação eleita que tomou posse era composta pelos seguintes elementos: Frederico Ramires, engenheiro,
João António Carrilho, farmacêutico, José Joaquim Capa, comerciante, João de Sousa Medeiros, proprietário, e
António Gil Madeira, de Cacela, proprietário, in CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila
Real de Santo António (1863-1909). Notas de António dos Santos Machado, op. cit., pp. 165-166.

114. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 17.

115. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 143, p. 203 e p. 288.

Registe-se, por curiosidade, que os resultados finais das eleições legislativas realizadas no dia 5 de Abril
de 1908 foram os seguintes: Regeneradores: 62 deputados; Progressistas: 58 deputados; Independentes: 16

447
de 1903 e Dezembro de 1904 seria substituído no cargo de presidente da câmara municipal de
V.R.S.A. pelo presidente interino João António Carilho.

Enquanto desempenhou o cargo de deputado da Nação V.R.S.A. viu, entre outras coi-
sas, ser criada uma comarca judicial na vila (Janeiro de 1899)116, chegar a linha dos caminhos-
-de-ferro (17 de Março de 1906)117 e ser criada uma nova Associação de Providência, denomi-
nada de «Marítima» (Março de 1906)118. Outras importantes medidas para o concelho que lhe
são atribuídas foram a regulamentação relativa ao azeite a ser utilizado nas conservas de peixe
de todo o país (legislação de 1903), em que ficou definido que o azeite deveria ser estrangeiro,
dado que o azeite nacional era mais caro119; ou, então, a colocação da sementeira de penisco
(semente de pinheiro bravo), ao redor de Monte Gordo, por forma a abrigar a areia que açoitava
toda aquela povoação (Novembro de 1909)120.

A 26 de Outubro de 1904 foi nomeado Governador Civil do Algarve, tendo tomado pos-
se do cargo no dia 30 do mesmo mês121, cargo que ocuparia até 1905122.

Foi, ainda, vice-presidente da Associação Industrial Portuguesa123.

Faleceu, em V.R.S.A., a 13 de Outubro de 1935124. Tinha 65 anos.

deputados; Republicanos: 7 deputados; Dissidentes Progressistas: 7 deputados; Regeneradores-Liberais: 3 deputa-


dos; Nacionalistas: 1 deputado, in O Século, de 10 de Abril de 1908, p. 1.

116. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., pp. 142-143.

117. Cf. ibidem, p. 248.

118. Cf. ibidem, p. 249.

119. Cf. ibidem, pp. 194-195.

120. Cf. ibidem, p. 333.

121. Cf. ibidem, pp. 213-214.

122. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 17.

123. Cf. SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, op. cit., p. 40.

124. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 17.

448
22. Sebastián RAMÍREZ
(El Almendro, 1828 – V.R.S.A., 1900)

Fontes: CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório,
Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, Albufeira, Arandis Editora, 2020, p. 151.

449
Sebastián Ramírez y Rodriguez nasceu na vila de El Almendro em 1828. Filho de Francisco
Ramírez e de Maria de los Ramos Rodriguez, ambos naturais de El Almendro125.

Pensa-se que terá emigrado para V.R.S.A. com dezasseis ou dezassete anos de idade.
Documentalmente, só se consegue comprovar a sua presença na vila em 1949, ao servir como
testemunha, e, passados três anos, como padrinho de baptismo de uma criança126.

A 21 e Março de 1861 casa, em El Almendro, com Maria de los Dolores Garcia y Martin
(El Almendro, 1838 – V.R.S.A., 1915), também ela natural dessa povoação. Maria de los Dolores
era filha de José Garcia Correa e de Catalina Martin Ponce, ambos naturais de El Almendro127.

Do casamento entre Sebastián Ramírez e Maria de los Dolores resultaram onze fi-
lhos, dos quais cinco faleceram em tenra idade: Catalina (Almendro, 1861 – V.R.S.A., 1864);
Francisco (V.R.S.A, 1863 – V.R.S.A., 1867); José (V.R.S.A, 1865 – V.R.S.A., 1867); Francisco
(V.R.S.A, 1867 – V.R.S.A., 1867); Sebastian Cláudio (Almendro, 1868); Frederico (V.R.S.A,
1869); Maria (V.R.S.A, 1871); Catalina (V.R.S.A., 1874 V.R.S.A., 1874); Manuel (V.R.S.A.,
1876); António (V.R.S.A., 1877); e, finalmente, Emilio (V.R.S.A., 1882)128.

Alguns dos filhos concluíram os estudos no estrangeiro: Sebastián Cláudio Ramírez


Garcia concluiu os estudos em Liverpool (Inglaterra); Frederico formou-se em engenharia civil
na Escola Oficial do Exército, em Lisboa; Emilio Garcia Ramírez frequentou o curso de enge-
nharia eletrotécnica em Liége (Bélgica)129.

125. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 12.

126. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 150.

127. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 13.

128. Cf. ibidem, pp. 14-15.

129. Cf. ibidem, p. 17.

450
Sebastián Ramírez iniciou a sua actividade comercial em V.R.S.A., em 1849, como
caixeiro130, no estabelecimento comercial dos irmãos Francisco e João de Sousa Medeiros131.
Porém, em 1853, constitui a sua primeira sociedade comercial com José Mora Gomez e Silvestre
Garcia-Pêgo (n. Villanueva de los Castillejos). A sociedade ficou registada com a designação
de «Mora, Ramires & Pêgo», e pagou a primeira licença de comércio no dia 24 de Junho
de 1853132. Em 1857, após a saída do sócio Mora Gomez, a sociedade passa a denominar-se
«Ramires & Pêgo»133. A sociedade seria dissolvida em 1865, provavelmente pelo falecimento
do sócio Silvestre Garcia-Pêgo134.

A partir desse ano e até 1877 Sebastián Ramírez trabalhou sozinho. No entanto, em
1877, firma um novo contrato de sociedade como um novo sócio – Jacinto José de Andrade135.
A partir do início da década de 1860 Sebastián começa a investir na indústria da pesca da sar-
dinha, como mostram as sucessivas compras de barcos, redes de pesca e apetrechos vários que
realizou ao longo dos anos (1861136, 1865137e 1882138).

130. Cf. ibidem, p. 18.

131. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 150.

132. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 18.

133. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, Albufeira, op. cit., p. 152.

134. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p .19.

135. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., pp. 22-23. Jacinto José de Andrade nasceu em Mértola em 1848. Filho de Francisco José de Andrade e de
Aurélia Rita. Casou em V.R.S.A., no dia 18 de Abril de 1879, com Maria Dolores Medeiros, de 33 anos, natural de El
Almendro e foram testemunhas de casamento Sebastián Ramírez e Plácido José de Andrade. Jacinto José de Andrade
exerceu por quatro vezes a presidência da Câmara Municipal de V.R.S.A.: 1873-1877, 1881-1887, 1898-1901
e, finalmente, 1905-1910, in CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental
para uma biografia, op. cit., p. 23.

136. Em 1861 a sociedade «Ramires & Pêgo» compra metade de uma barca, duas redes e respectivos apetrechos
por 215$000 réis, in ibidem.

137. Em 1865 Sebastián Ramírez compra a João António Guimarães a barca «Santo António e Almas» e todos os
seus pertences, por 200$000 réis, in ibidem.

138. Em 1882, por intermédio da compra de todas as acções aos restantes sócios da sociedade, Sebastián Ramírez
fica como único proprietário do «Galeão n.º 1» com todos os seus apetrechos, pertences e utensílios vários, in

451
Em 1879 funda uma fábrica de «tecidos de linho»139, que, passados dois anos, já possuía
dez teares manuais e tinha encomendado mais dois, empregando cerca de dezasseis operários
(oito homens e oito mulheres)140.

Em 1883, querendo entrar no negócio das conservas, compra a fábrica de conservas


de sardinha «São Francisco» (fundada em 1880) ao seu fundador e proprietário Francisco
Rodríguez Tenório141. Deste modo, no Verão de 1883, Ramírez inicia-se no fabrico de conser-
vas de peixe, embora a sua fábrica definitiva só tivesse sido construída no ano seguinte142. Em
1896 inicia-se, também, na pesca do atum143.

O industrial viria a falecer em 1900, tendo-se, nesse ano, constituído a sociedade


«Ramírez & C.ª» com o capital inicial de 75 contos de réis. Esta nova sociedade, formada pelos
sócios Jacinto José de Andrade e pelos seus filhos Sebastián, Frederico, Manuel e Emílio, tinha
como objectivo a fabricação de conservas alimentícias e tecelagem de linho e de juta144.

Refira-se que ao longo das últimas duas décadas do século XIX o industrial foi au-
mentado o património imobiliário na sua terra natal, por intermédio da compra de inúmeras
propriedades rurais145. Para tal beneficiou das leis de desamortizações do estado espanhol de

ibidem, p. 25.

139. Cf. ibidem, p. 26.

140. Cf. Inquérito Industrial de 1881. Inquérito directo. Segunda Parte. Visita às Fábricas. Livro Terceiro, op.
cit., p. 18.

141. Cf. CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
op. cit., p. 29.

142. Cf. ibidem; CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório,
Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 153.

143. Em 1896/1897 lançou-se para o mar a «Armação do Cabeço», de que era proprietário Jacinto José de Andrade.
Essa armação pescava atum de direito e de revés, situando-se a mesma de frente da costa de Cacela. Esta arma-
ção deveria ainda operar em 1903, uma vez que data desse ano a aquisição de dois barcos de apoio - «Aurélia» e
«Maria Emília» - para essa armação. Esses barcos foram adquiridos ao ayamontino Juan Rodriguez Samudio pela
sociedade «Ramírez & C.ª» pelo valor de 80$000 réis cada um, in CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez
(1828-1900). Subsídio documental para uma biografia, op. cit., p. 25.

144. Cf. ibidem, pp. 29-30.

145. Em 1874 comprou ao seu sogro, José Garcia Correa, lavrador, três fincas num total de 10,3 hectares. Em
1881 comprou a Domingos Vaz y Gomez 905 hectares de «barros» e «fincas» nos sítios da Sierra de Três Piedras
e da Sierra de Tejada y Vaca, por 2 750 pesetas. Em 1893 comprou ao estado espanhol uma finca com 402 hectares

452
1837 e 1856, uma vez que três das suas maiores propriedades compradas em hasta pública
(1881, 1892 e 1893) pertenciam, ou tinha pertencido, aos chamados «próprios» do município
de El Almendro146. Património que, à data do seu falecimento, prefacia cerca de 1 535 hectares
divididos por vinte e oito propriedades147.

Faleceu, em V.R.S.A., em 1900. Tinha 62 anos. Ao funeral acorreram diversas perso-


nalidades entre as quais o cônsul de Espanha, os vice-cônsules francês e inglês, o delegado do
Procurador Régio, os administradores dos concelhos de V.R.S.A, Castro Marim e Alcoutim,
uma representação da câmara municipal de V.R.S.A, oficiais da Guarda Fiscal e demais funcio-
nalismo público, entre outros148.

no sítio da Contienda, finca essa proveniente dos «próprios de El Almendro e de Capelanias», por 6 840 pesetas,
in ibidem, p. 32.

146. Em 1881 comprou uma propriedade a Domingos Vaz y Gomez, por 2 750 pesetas. Tinha cerca de 905 hecta-
res e situava-se na «Sierra de Três Piedras y Sierra de Tejada y Vaca», in ibidem, p. 32.

Em 1892 comprou, em hasta pública e por 409 pesetas, duas propriedades, no total de vinte e sete hectares, que
faziam parte dos «próprios» de El Almendro. Em 1893 comprou, por 6 840 pesetas, ao estado espanhol uma quin-
ta com 412 hectares no sítio da «Contienda», que em tempos tinha pertencido aos «próprios de El Almendro e de
Capelanias». Esta terra era imprópria para qualquer trabalho agrícola, in CORREIA, António Horta, Sebastian
Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia, op. cit., p. 32; CORREIA, António Horta,
Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez,
op. cit., pp. 155-156.

147. Cf. ibidem.

148. Cf. A Voz do Guadiana, n.º 36, de 29 de Abril de 1900, p. 1. Sobre este assunto veja-se o Anexo documental n.º 6

453
23. Santiago Formosinho ROMERO
(Loulé, 23.04.1882 – Loulé, 15.07.1962)

Fonte: Arquivo Particular de Maria Isete Romero Chagas Aleixo.

454
Santiago Formosinho Romero (Loulé, 23.04.1882 – Loulé, 15.07.1962) era filho de Santiago
Alvarez Barbosa Romero (n. 1855), negociante natural de Villanueva de los Castillejos, e de
Josefa Rodrigues Formosinho (n. 1860), doméstica, filha de pais andaluzes, mas natural de Loulé.

Santiago Alvarez Romero e Josefa Formosinho casaram na igreja Matriz de São


Clemente, em Loulé, no dia 1 de Fevereiro de 1877 e tiveram dez filhos, sendo Santiago o quar-
to filho do casal. Santiago era neto materno de Thomas Alvarez Barbosa, negociante natural
de Villanueva de los Castillejos, e de Maria do Carmo Romero Rodríguez, também ela natural
de Villanueva de los Castillejos, e neto materno de Diogo Rodríguez Formozinho e de Josefa
Rodríguez Formozinho, ambos naturais de Loulé.

Foi baptizado na igreja Matriz de São Clemente, em Loulé, no dia 27 de Junho de 1882.
Completou o curso de administração e contabilidade no Ateneu Comercial de Lisboa, regres-
sando a Loulé para desempenhar o cargo de administrador do lagar do Rossio, propriedade do
Sr. José da Costa Guerreiro, localizado em Loulé.

Foi, ainda, chefe da secretaria da administração do Concelho de Loulé e, de seguida,


chefe da secretaria da câmara municipal de Loulé149. E foi eleito vereador substituto da câmara
municipal de Loulé, pelo partido Democrático, para o mandato de 1914-1917150.

Após a reforma dedicou-se, por inteiro, à administração do lagar do Rossio. Desem-


penhou, igualmente, durante várias e sucessivas direcções, o cargo de secretário da Sociedade
Filarmónica União Marçal Pacheco, conhecida, também, por «Música Velha»151.

149. Informações prestadas pelo Professor Doutor Joaquim Romero Magalhães, neto mais velho, por via materna,
de Santiago Formosinho Romero.

150. Cf. MARTINS, Isilda Maria Renda, Loulé no século Vinte. 2.º vol. – A Primeira República, 1910-1926, op.
cit., p. 260 e pp. 274-275.

151. A «Música Velha» era o nome pela qual era conhecida a Sociedade Filarmónica União Marçal Pacheco.
Fundada no dia 1 de Maio de 1856, esta sociedade filarmónica era afecta, politicamente, ao Partido Regenerador, in
FREITAS, Pedro de, História da Música Popular em Portugal (Versão Tradicional da Música Popular em Loulé),
op. cit., p. 77 e pp. 87-89.

455
24. José Ortigão Gomes SANCHEZ
(V.R.S.A., 15.05.1898 – Lisboa, 1980)

José Ortigão Gomez Sanchez nasceu em V.R.S.A. no dia 15 de Maio de 1898. Filho de Francisco
Gomez Sanchez, comerciante natural de Puebla de Guzmán, e de Rita Ramalho d’Abreu de
Ortigão, natural da freguesia de São Pedro (Faro).

Foi baptizado na igreja paroquial de Nossa Senhora da Encarnação, em V.R.S.A., no dia


31 de Agosto de 1898152.

Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa e, anos mais tarde, casou com
Maria Ramirez Cumbrera, filha de Sebastián Ramírez Garcia e de Cristina Maestre Cumbrera153.

152. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação [V.R.S.A.], Registos de Baptismo, 1898-
1898, lv. 49, fls. 51-5v.

153. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. II, Vila Real de Santo António (1863-1909).
Notas de António dos Santos Machado, op. cit., p. 138.

456
25. Francisco Rodríguez TENÓRIO
(Villanueva de los Castillejos, 1843 – V.R.S.A., 14.05.1907)

Fonte: OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, 3.ª edição, Faro, Algarve em
Foco editora, 1999 [1908], p. 5.

457
Francisco Rodríguez Tenório nasceu em Villanueva de los Castillejos em 1843154. Filho de
Sebastián Tenório Morgado e de Maria Candelária Perez, ambos naturais de Villanueva de
los Castillejos155.

Ainda muito jovem emigra para Portugal na companhia do seu irmão mais velho,
Baltazar Rodríguez Pérez (n. Villanueva de los Castillejos, 1841), tendo ambos se fixado na
vila de Loulé156. Francisco começa por ser marçano em Loulé, na loja de Manuel Mourão157.

Porém, no final da década de 1850, troca, juntamente com os seus pais, Loulé por
V.R.S.A., localidade onde irá viver até à data do seu falecimento. Em V.R.S.A. começa por
trabalhar como caixeiro na casa comercial do seu conterrâneo Sebastião Rodrigues Centeno158.

Em 1865, com apenas 22 anos de idade, constitui a sua primeira sociedade (uma loja co-
mercial em V.R.S.A.), juntamente com os sócios Joaquim Martins Afonso e António Flores159.

Em 1881 a sua fábrica de conservas já aparece referida no Inquérito Industrial, onde


se informa que a mesma foi fundada em 1880 com capital ilimitado. Possui quatro caldeiras e
emprega quinze a vinte homens, trinta a quarenta mulheres e quatro menores. E os seus mer-
cados de consumo são Portugal, Itália e Brasil, onde concorrem vantajosamente com produtos
similares estrangeiros160.

No entanto, em 1882, o industrial decide construir um novo edifício fabril, ao lado da


anterior fábrica que tinha começado a laborar em 1880. Nova unidade fabril que, em Março de
1883, acabará por vender a Sebastián Ramírez, permitindo, desta forma, que este último indus-
trial se iniciasse na indústria conserveira161.

154. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., p. 16.

155. Cf. ibidem, p. 17.

156. Cf. ibidem, p. 16.

157. Cf. ibidem.

158. Cf. ibidem.

159. Cf. ibidem, p. 18.

160. Cf. ibidem, p. 31.

161. Cf. ibidem, p. 38.

458
Passados dois anos, em Junho de 1884, e por forma a se dedicar somente à indústria
conserveira, toma a decisão de abandonar o sector do comércio, trespassando o seu estabele-
cimento comercial ao irmão Gavino Rodríguez Pérez, também ele comerciante e residente em
V.R.S.A.162

Faleceu, vítima de congestão pulmonar, em V.R.S.A., no dia 16 de Maio de 1907. Tinha


63 anos163.

Passadas cerca de três décadas sobre o falecimento, isto é, no dia 28 de Agosto de 1938,
a câmara municipal de V.R.S.A. prestou-lhe uma pública homenagem atribuindo o seu nome
a uma rua na vila164. Refira-se, a título de curiosidade, que Francisco Rodríguez Tenório foi o
primeiro andaluz e o segundo industrial a ser patrono de um topónimo em V.R.S.A., seguindo o
que já tinha acontecido uns anos antes com o industrial genovês Ângelo Parodi165.

162. Cf. ibidem, p. 44.

163. Cf. ibidem, p. 102. Sobre este assunto veja-se o Anexo documental n.º 7.

164. Cf. Ecos do Sul, de 4 de Setembro de 1838, p. 1,

165. Cf. CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório, Juan
Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, op. cit., pp. 106-107. Anexo documental n.º 11.

459
26. Os TENORIO

Sebastián Rodríguez Tenorio, filho de outro Sebastián Rodríguez Tenorio e de Isabel Márquez,
casado com Rosa Domínguez, filha de José Gómez e de Inés Domínguez, todos naturais de
Villanueva de los Castillejos. Tiveram, pelo menos, duas filhas: Isabel Rodríguez Tenorio, casa-
da a 7 de Novembro de 1813 na igreja de São Sebastião (em Lagos) com Domingo García, filho
de António García e María de las Mercedes, de El Almendro; e Inés Rodríguez Tenorio, casada
a primeira vez c. 1815 com Diego Domínguez, natural de El Almendro. Com geração (uma fi-
lha, Beatriz Domingues, casou com Manuel Rodríguez Fermosiño, São Sebastião de Lagos, a 9
de Outubro de 1840); Inés casou a segunda vez c. 1830 com José Custódio Pereira.

460
27. Alonso VASQUES
(V.R.S.A., 9.07.1887 – V.R.S.A., 1966)

Alonso Vasques nasceu em V.R.S.A. no dia 9 de Julho de 1887. Filho de Simão Vasques e de
Catalina Domingues Barbosa ambos negociantes naturais de Villanueva de los Castillejos. Neto
paterno de Alonso Vasques Martins e de Elvira Velasco e materno de Sebastião Domingues
Rodrigues e de Catalina Alvarez Barbosa. Foi baptizado na igreja paroquial de Nossa Senhora
da Encarnação, em V.R.S.A., no dia 11 de Agosto de 1887, tendo como padrinhos de baptismo
Francisco Barbosa Rodrigues e sua mulher Candelaria Velasco, ambos negociantes e moradores
em Villanueva de los Castillejos166.

166. Cf. A.D.F., Fundo da Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação [V.R.S.A.], Registos de Baptismo, 1877-
1877, lv. 38, fls. 49-49v.

461
ANEXO DOCUMENTAL
Anexo n.º 1: Bilhete-postal manuscrito, datado de 11 de Fevereiro de 1883, enviado por
Roque Feria, em Villanueva de los Castillejos, para Santiago Alvares Romero, em Loulé.

«O meo amigo Estevão pede-me para pedir ahí a um amigo que lhe arranje uma casa no largo
da feira, começando na terça-feira próxima; por esta razão eu rogo-te [que] obtenhas ahí a casa
e na terça-feira chegará o nosso amigo Estevão ou alguem que o represente».

Fonte: Arquivo Particular do autor.

465
Anexo n.º 2: Bilhete-postal manuscrito, datado de 16 de Abril de 1883, enviado por Gavino
[Rodrigues Peres], em Vila Real de Santo António, para Santiago Alvares Romero, em Loulé.

«Los pañuelos que me pides no los hay en esta ocasion los tengo pedido y no devem demorar».

Fonte: Arquivo Particular do autor.

466
Anexo n.º 3: Bilhete-postal impresso, datado de Janeiro de 1885, enviado por Joaquim Dias
Ferreira, em Lisboa, para Santiago Alvares Romero, em Loulé.

«Joaquim Dias Ferreira participa a V. S.ª que mudou o seu escritório e armazém de fazendas
para a Rua da Prata n.º 133-1.º onde espera receber a continuação de suas estimáveis ordens.

Lisboa Janeiro de 1885»

Fonte: Arquivo Particular do autor.

467
Anexo n.º 4: Capítulo intitulado «Invasión de los Franceses en esta Vila», que faz par-
te da inédita (e dactilografada) Monografia de El Almendro,
Almendro, da autoria do Padre Emiliano
RODRIGUEZ, El Almendro, Diciembre de 1904, fls 4-5v.º:

«El día 9 de Julio del año 1810 fue invadido por primera vez su suelo por las tropas de Napoleón.
Desde este día continuaron haciendo con frecuencia otras furiosas invasiones en las que murie-
ron asesinados muchos de sus honrados vecinos contándose entre las primeras victimas de tan
bárbaros atropellos a un Sacerdote, hijo de esta Villa1. Para detener el [4v.º] empuje del grueso
de las tropas francesas que avanzaban en dirección a estas Villas se resolvió a hacerles frente el
General D. Francisco Ballesteros y adelantándose al enemigo llegó con las tropas de su mando a
esta Villa que por estar coronada de altos cabezos que dominan el perímetro de este pueblo y del
inmediato de Castillejos con sus alrededores ofrecía excelentes condiciones estratégicas para la
resistencia que intentaba hacer a las tropas invasoras. Según la tradición fraccionó en tres gru-
pos las escasas fuerzas de que disponía colocando los dos primeros con toda la artillería en las
Cumbres y solanas de la ‘SIERRA de las SIERPES’ y ‘CABEZO de MARIA GIL’ quedándose
él en retaguardia, con el grueso de las tropas, en esta Villa.

Las fuerzas enemigas compuesta por dos divisiones que sumaban nueve mil hombre
eran muy superiores en numero á las de Ballesteros, (4 000 soldados) mas fiado este, en la va-
lentina y en la ventajosa posición de sus tropas se decidió temerariamente a resistir el empuje de
las francesas, acaudilladas por el Mariscal Mortier. No obstante el fuego de la artillería colocada
en las dos mencionadas cumbres, los franceses invadieron las Villas y el día veinte y cinco de

1. Para conmemorar la muerte de este Sacerdote llamado D. Andrés Domínguez Roxo, de 47 años de edad, que
ocurrió el día 9 de Julio de 1810, se levantó en el mismo lugar en que cayó muerto del caballo que montaba, co-
nocido por el nombre del Calvario próximo al PILAR VIEJO, un modesto monumento consistente en un cuerpo
de material en forma de pirámide truncada constituida por cuatro grades de ladrillos sobre las que descansaba un
pedestal redondo, que aun se contempla derribado en el suelo: sobre este se ergia [sic] una columna de mármol de
metro y medio de altura, rematando esta con una Cruz de hierro, cuya mirada recordaba a los hijos de este Pueblo
la barbara hazaña perpetrada en un ministro del Altísimo y demandaba una plegaria para su alma.
Su cadáver fue enterrado en la sepultura de en medio de la serie que esta en contacto y paralela a la ultima grada
del Presbiterio de la Iglesia destinada entonces para sepelio de los Sres. Sacerdotes. A causa del pavor y descon-
cierto que reinaba en la Villa el día de su muerte fue enterrado precipitadamente y con las mismas vestiduras que
llevaba. A exhumarse sus restos se encontró en la sepultura una buena cantidad de dinero que tenia el cadáver al
ser [ilegível].

468
Enero del año mil ocho cientos once vieronse [sic] sus ejidos y calles convertidos en teatro de
sangrienta lucha en donde resultaron los nuestros completamente derrotados2.

Dueños ya por completo los franceses de ambas Villas y sin obstáculos materiales que
los contuvieran, dieron rienda suelta a sus instintos sanguinarios de venganza, talando sus ar-
boledas, saqueando las moradas particulares profanando os edificios sagrados (hasta el punto
que los altares de la Iglesia sirvieron para pesebres de sus caballos) destruyendo y utilizando
para usos viles y indecentes los libros, papeles y documentos del Archivo Publico. Entonces fue
cuando se desmembró esta población emigrando casi todo su vecindario a otros pueblos don-
de no se dejaba sentir el azote de la guerra y muy especialmente al vecino Reino de Portugal,
en donde los mas acaudalados, abandonando para siempre sus [5] moradas, se establecieron y
fijaron definitivamente su residencia. A consecuencia de tan tristes sucesos quedó reducido el
vecindario de El Almendro a una tercera parte del que antes tenia y convertida la Villa en un
lugar rural casi desierto.

Para suministrar las raciones de boca y demás artículos y auxilio que necesitaban las
tropas españolas residentes y transeúntes, durante los anos de mil ochocientos diez, once y
doce, viose [sic] el Ayuntamiento de esta Villa en la imperiosa necesidad de echar mano y
valerse de todos los fondos públicos y erarios comunes de los proprios y arbitrios del pue-
blo, Pósito Real, Contribuciones y repartos vecinales, utensilios para la caballería, limosna de
Bula correspondiente a los dos años de mil ochocientos diez y once y el precio total en que fue
vendida y rematada a publica subasta el encinal conocido con el nombre de ‘DEHESA DEL
TAMUJOSO’ finca de proprios situada entre la Puebla [de Guzmán] y Paymogo que pertenen-
cia a este Ayuntamiento3.

Terminada la Guerra de la Independencia, expidió el Rey Fernando VII una Real Orden
comunicada a esta Villa el día trece de Enero del mil ochocientos quince, mandando a los
Intendentes militares que procuraran averiguar con la exactitud posible los suministros hechos

2. Treinta y siete soldados de los que murieron en la refriega, están enterrados según tradición oral, en la mayor
de las dos ‘BERMEJERAS’ (recinto de tierra roja que no cría monte) situadas en la falda Este del Cabezo cono-
cido por el Nombre de ‘PIE CASTILLO’. Refierese [sic] también que terminaba la acción amontonaron junto a la
fuente publica de Castillejos, situada entre ambas Villas, los soldados y caballos muertos. Les prendieron fuego y
por espacio de 12 años próximamente se conservó la mancha que produjo tal fogata.

3. Se vendió al municipio e la Puebla [de Guzmán] en cincuenta mil reales vellón; precio muy inferior a su valor,
pero con la condición, de que los vecinos labradores de El Almendro pudieran cortar en ella la madera precisa para
la confección de arados y otros instrumentos de agricultura.

469
a las tropas por los Ayuntamientos de su respectiva jurisdicción, a fin de reintegrarlos en los
gastos y perjuicios ocasionados por las tropas beligerantes. A pesar de las múltiples gestiones y
trabajos hechos por este Ayuntamiento para poder presentar en la Intendencia de Andalucía los
recibos justificantes de los enormes suministros que hizo, no pudo efectuarlo por el destrozo
que hinchieron lo franceses en los papeles del Archivo Municipal, entre los que se encontraban
dichos recibos, y por otras razones y dificultades que no pudieron superarse quedando al fin esta
población casi sin habitantes, sumida en la mas espantosa miseria y sin retribución ni premio
que coronara los enormes gastos y prejuicios que lo ocasionó la guerra.

Restablecida ya la paz en la Península se hizo una minuciosa [5v.º] estadística de su res-


tante vecindario, a fines del año mil ochocientos catorce notándose que su población había des-
cendido, de una manera rápida, a tercera parte del que antes tenia; es decir, a ciento treinta y dos
vecinos, que sumaban seiscientos treinta habitantes, pobres en su mayor parte».

470
Anexo n.º 5: Notícia de um casamento, celebrado em Vila Real de Santo António, entre um
noivo pertencente à colónia de andaluzes residente em Loulé e uma noiva pertencente à coló-
nia de andaluzes residente em Vila Real de Santo António, publicado no periódico
O Pregoeiro,
Pregoeiro, n.º 92, de 8 de Fevereiro de 1900, pp. 1-3:

«Realizou-se no dia 27, em Vila Real de Santo António, o enlace matrimonial da Exm.ª Sra.
D. Isabel Maestre Peres com o nosso querido amigo Sr. Sebastião Rodrigues Correa, foram pa-
drinhos os Srs. Juan Maestre Cumbrera, pai na noiva, e Manoel Rodrigues Correa, pai do noivo,
e madrinhas as Exmas Sras. D. Maria das Dores Correa, mãe do noivo, e D. Catalina Centeno
de Sousa, prima da noiva.

Acompanharam os noivos à igreja as Exmas Sras D. Alice Passos, D. Aurélia d’ Andrade,


D. Beatriz Barbosa Peres, D. Catalina D. Vasques, D. Cristina M. Peres Ramires, D. Isabel
Domingues Barbosa, D. Isabel Martins Correa, D. Josepha Correa de Mattos, D. Josepha M.
Peres Tenório, D. Luzia M. Peres, D. Maria das Dores Barbosa Martins, D. Maria Martins
Correa, D. Maria da Glória Rodrigues, D. Piedras Albas4 Martins, D. Rita Centeno, D. Rosa
Correa Villa e as meninas Catalina B. Vasques, Joana Barbosa e Josefa Rodrigues Dias.

E os Srs. Alberto R. Centeno, Dr. António Passos, António Marques Peres, Estêvão
Rodrigues, Francisco Rodríguez Tenório, Francisco Féria Tenório, Gavino Rodrigues Peres,
Jacinto d’ Andrade, José Cumbrera, J. A. Narciso d’Andrade, Joaquim Henriques, Dr. Manoel
Mexia de Mattos, Manuel Cumbrera, Manuel Martins Domingues, Mathias Peres Rojo, Pablo
Garcia Delgado, Rafael Rodrigues, Ricardo Villa e Sebastião Ramires Garcia.

Finda a cerimónia nupcial, foi servido a todos os convidados, em casa dos pais da noi-
va, um profuso e dedicado copo d’água; ali se achavam, além das pessoas já mencionadas, as
Exmas. Sras. D. Adelaide Vargas Passos, D. Catalina Peres Rojo, D. Dolores Marques Peres,
D. Luzia Álvares Centeno, D. Luzia M. Cumbrera, D. Maria M. Álvares Peres, D. Marina Peres
Rojo, D. Marina Marques Peres, D. Rosário Dias Martins e D. Trinidad Martin.

Às seis horas começou o jantar, a que assistiram todos os convidados já mencionados e,


findo ele, os noivos partiram para Loulé, onde fixam a sua residência.

4. Piedras Albas é a designação canónica da Virgen padroeira dos pueblos andaluzes de El Almendro e de
Villanueva de los Castillejos.

471
N’esta vila eram os noivos esperados por muitas pessoas das suas relações e pela filar-
mónica Artistas de Minerva; a rua estava atapetada de flores e verdura, junto à porta da casa de
residência do nosso querido e bom amigo Sr. Manoel Rodrigues Correa, onde os noivos vieram
apear-se, estendia-se um grande e magnífico tapete, que um grupo de amigos íntimos do noivo
ali vieram colocar à passagem d’este. A escada também se achava atapetada e linda e vistosa-
mente ornamentada.

Em casa d’este nosso amigo foi servido mais um jantar a que assistiram apenas a famí-
lia e as Exmas Sras. Cristina Mascarenhas Ramires e D. Luzia M. Peres e os Srs. Juan Maestre
Cumbrera, Martins Peres Rojo, Sebastião Ramires e Joaquim Henriques, que acompanharam os
noivos de Vila Real de Santo António a esta vila.

À noite foi cumprimentar o noivo um grande número dos seus amigos achando-se nu-
merosamente representado o comércio d’esta vila, que como todos os habitantes d’ela, tri-
buta por aquele uma sincera estima e admiração, do que ele é muito digno pelas qualidades
excepcionais que o caracterizam e que, digamos a verdade, são raras em rapazes da idade de
Sebastião Correa, e tão raras, que jamais as encontrámos entre tantos que conhecemos. A todos
foi servida uma abundante ceia.

Ao som dos acordes executados por um sexteto, dançou-se animadamente até à uma
hora da noite, retirando-se todos intimamente satisfeitos por assistirem a uma tão brilhante festa
e muito penhorados pela afabilidade dos donos da casa que foram, como sempre, pródigos nas
mais amáveis atenções.

[…]

Os noivos receberam as seguintes prendas.

Do noivo à noiva um belíssimo adereço de brilhantes.

Da noiva ao noivo, uma rica abotoadura d’ouro.

De D. Maria das Dores Correa e Manoel Rodrigues Correa, pais no noivo, uma châte-
laine e relógio d’ouro, uma bandeja de prata, um relógio e corrente de ouro e medalha com um
brilhante.

De D. Joana Peres Maestre e João Maestre Cumbrera, pais da noiva um meio adresse
d’ouro e pérolas.

472
De D. Catalina Centeno de Sousa, madrinha da noiva, uma carteira de prata para bilhe-
tes e um alfinete de gravata.

De D. Luzia Barbosa Centeno, um talher de prata.

De D. Josepha Correa de Mattos e Dr. Manuel Mexia de Mattos, um faqueiro de prata.

De D. Cristina M. Ramires e Sebastião Ramires, um par de palmatórias de prata.

De D. Rosa Correa Villa e Ricardo Villa, um faqueiro de prata.

De D. Josepha M. Tenório e Francisco Féria Tenório, uma garrafa de toilette com prato
e copo de prata e duas boquilhas d’âmbar.

De D. Maria das Dores Martins, um paliteiro de prata.

De José Maestre Peres, uma palmatória de prata e uma bengala com castão do mesmo
metal.

De António Rodrigues Correa, um açucareiro de prata e vaso do mesmo metal.

De Manuel Maestre Peres, um estojo com doze colheres de prata para chá, uma concha
para açúcar e uma carteira com monograma de prata.

De D. Piedras Albas Martins e Bento Martins, um paliteiro de prata.

De D. Catalina Peres Rojo e Martins Peres Rojo, uma salva de prata.

De Sebastião Martins Peres Gomes, uma abotoadura d’ouro.

De D. Catalina Domingues Vasques, um par de jarras.

De D. Carmen Garcia e Pablo G. Delgado, uma dúzia de colheres de prata para chá.

De D. Beatriz Domingues Peres e Gavino Rodrigues Peres, um par de argolas de prata


para guardanapo.

De D. Dolores G. Ramires e Sebastião Ramires, uma salva de prata.

De D. Marina Peres Rojo, uma compoteira de cristal.

De Alberto R. Ceteno, uma abotoadura d’ouro.

De António Mar. Peres Gomes, uma salva de prata para 12 copos d’água.

473
De D. Maria G. Barroso Ramires e Frederico Ramires, uma linda bilheteira de prata.

De D. Isabel R. Correa, umas contas de madre pérola encastoadas em ouro.

De D. Maria Bella Centeno Rocha, um par de brincos de coral.

De D. Isabel Domingues Rodrigues e Estêvão Rodrigues, uma Senhora da Conceição,


em vulto.

De Alberto M. Centeno, um par de brincos de brilhantes e um alfinete de gravata com


um brilhante.

De D. Maria Garcia Domingues e Manuel Martins Domingues, uma cigarreira de fili-


grana de prata.

De D. Pilar Garcez, uma sombrinha bordada.

De D. Adelaide Passos e Dr. António Passos, um centro de mesa com pé de bronze.

De D. Rita Centeno, um livro de missa e um lenço bordado.

De D. Maria R. D’ Almeida Rocha, um castão de prata para bengala.

De D. Joana M. Barbosa e Francisco Domingues Barbosa, duas argolas de prata para


guardanapo.

De D. Maria Álvares Peres, um par de jarras para toilette.

De Pedro R. Marques e Domingos R. Marques, um tinteiro e caneta de prata e um estojo


com uma caneta de prata dourada.

De Rafael D. Barbosa, um tête-a-tête de porcelana.

De D. Maria da Glória Rodrigues e Bartolomeu Rodrigues, um galheteiro de prata e cristal.

De António M. Barbosa Gomes, um alfinete de ouro para gravata.

De D. Isabel Vicente Barbosa, um copo para doce.

De D. Maria das Dores Barroso, um espelho.

De D. Alice Passos, dois vidros com perfumes.

474
De D. Rafaela Cordeiro, um jarro para água, em cristal rosa.

D. Manuela Rodrigues Mora, um crucifixo de prata assente em veludo e um lenço


bordado.

De João Peres Rojo, um anel de ouro.

De António Martins Barbosa, um alfinete de ouro para gravata.

De D. Francisca Parra Barroso, um centro de mesa.

De D. Joana Celeste D’ Almeida, uma caneta de prata.

De D. Maria Sant’Anna da Piedade, um jarro de cristal para água.

De João Lopes do Rosário, uma boquilha d’ambar com guarda-fogo de ouro.

De Joaquim Henriques, duas chávenas e colheres, de prata fosca, estilo Luís XV.

De Diogo da Silva & C.º, um estojo-mala de viagem.

De F. Barbosa Formosinho, uma mesa de costura.

De José Vaz de Mascarenhas, uma escoava para fato, assente em prata.

De Alexandre J. N. Santos, farmacêutico, um licoreiro.

De D. Hermenegilda Moreno e J. Olias Moreno, uma colcha bordada e um castão de


prata para bengala.

De Diogo Rodrigues, um Livro – portefeuille de fotografias de todos os países do mundo.

De Ildefonso dos Santos, uma caixa de sabonetes.

De Alexandre J. N. Santos, comerciante, uma lapiseira de prata.

De Sebastião Corpas, uma chávena, pires e colher de prata dourada.

De D. Maria da Piedade Aboim, um cesto formado de flores naturais.

De Sebastião R. Mora, uma caixa de lenços de linho bordados.

De Francisco Garcia Domingues, um passe-partout.

475
De José Martins Vasques, um estojo d’ escritório, em prata dourada.

De Francisco Rodrigues Mora, um centro de mesa em cristal rosa.

De Fernando Álvares Romero, um jarro e seis copos de cristal azul para cerveja.

De Sebastião Rodríguez y Rodrigues, uma bandeja com um serviço d’almoço para 12


pessoas.

De José Peres, 18 garrafas de vinho Manzanilla.

De Pablo G. Álvares e Inácio G. Álvares, uma abotoadura de ouro.

De José Féria Correa, um par de botões de ouro para punhos.

Das meninas Maria Barros Santos e Cecília Barros Santos, um bouquet de flores natu-
rais, com fitas de cetim bordadas.

Da menina Maria de Lourdes B. Vasques, um bouquet de flores naturais.

De Santiago Álvares Romero, um par de jarras.

De João Pedro do Nascimento, um candeeiro de sala.

De Miguel Joaquim da Silva, um estojo com um talher de prata.

De João Bernardo dos Santos, um candeeiro de sala.

De Francisco Álvares Romero, uma abotoadura de ouro.

De João F. Domingues, uma caixa de charutos.

De D. Isabel da Piedade Aires, uma colcha de damasco de seda.

De Sebastião Martins Rodrigues, um botão de ouro para camisa.

De José Francisco Guiomar, um centro de toilette e uma cigarreira.

De José António Gonçalves, um galheteiro.

De Manuel Rodrigues Garcia, um anel de ouro.

De Diogo da C. Quintino, um espelho e uma caixa de charutos.

476
Dos sócios do Recreio Comercial, uma grande alcatifa.

De Manuel Dias Cordeiro, um par de jarras.

De Salvador Segundo, uma linda polka intitulada Isabel.

De Joaquim Rosa e Inácia Correia, uma dúzia de colheres de prata para chá.

De Angelina Rosa, uma garrafa para vinho.

De Bárbara Carrusca, uma manteigueira de cristofle.

De Gertrudes da P. Pimentel, uma pia de porcelana para água benta.

De Antónia da Conceição Moreira, uma palmatória de porcelana.

De Maria Bernarda, um açucareiro de cristal.

De Maria José, uma manteigueira de cristal.

De Maria Ângela, um par de jarras para toilette.

De Felicidade Carrusca, uma palmatória de porcelana.

De Catarina Beja, uma palmatória de cristal.

Rectifica-se que a alcatifa não foi oferecida pela Sociedade Recreativa Commercial5,
mas por alguns sócios, a saber:

Domingos Rodrigues Marques

Diogo Rodrigues e Rodrigues

Fernando Álvares Romero

José Rodrigues Peres

José Féria Correa

José Elias Moreno

Manuel Rodrigues Garcia».

5. Todos os sócios enumerados pertencem à comunidade andaluza radicada em Loulé.

477
Anexo n.º 6: Notícia do falecimento do industrial Sebastián Ramírez, publicada no periódico
A Voz do Guadiana,
Guadiana, V.R.S.A., ano I, n. 36, de 29 de Abril de 1900, p. 1:

«Ao centro erguia-se o catafalco, coberto com um rico pano e achava-se rodeado por grande
número de castiçais e tocheiros. Na frente o retrato de Sebastião Ramirez.

Na capela-mor assistiram a acto o cônsul de Espanha, vice-cônsules francês e inglês,


Delegado do Procurador Régio, administradores dos concelhos de Vila Real, Castro Marim e
Alcoutim, representação da Câmara Municipal, oficiais da Guarda Fiscal e demais funcionalis-
mo público e inúmeros amigos que enchiam o templo.

Da família do finado, estavam em lugar reservado os filhos Sebastián, Frederico e


Manuel.

Terminado o ofício, foi celebrada a missa pelo pároco Filipe António de Brito, acolita-
do pelos priores de Castro Marim e Santa Catarina, e presentes os padres Dr. João Gonçalves
Medeiros, João Manuel d’Horta, Romão António Vaz, Piedade e Francisco José Ferro, acompa-
nhados pela Orquestra do Grupo Tália […].

A cerimónia terminou com o Libera-me».

478
Anexo n.º 7: Notícia do falecimento do industrial Francisco Rodríguez Tenório, publicada no
periódico Guadiana, V.R.S.A., ano V, n.º 208, de 23 de Maio de 1907, p. 3:

«Francisco Rodríguez Tenório

Numa breve e lacónica notícia nos referimos a semana passada à morte deste conhecido
e benquisto industrial. A hora adiantada a que recebemos a dolorosa informação, já quando o
nosso jornal ia entrar na máquina, a isso nos forçou, adiando para o presente número as palavras
que o coração e uma sincera amizade pelo falecido nos ditavam. Francisco Rodríguez Tenório
era incontestavelmente um industrial activo e inteligente, tendo conseguido para as suas marcas
industriais uma extrema simpatia por parte do comércio e do público; mas havia nele uma qua-
lidade que sobrelevava a todas as outras e que o tornou um dos homens mais queridos e mais
simpáticos desta vila – o seu generosíssimo coração e a afabilidade e extraordinário carinho
com que ele tratava toda a gente e muito especialmente as classes pobres que tinham nele um
grande amigo e benfeitor.

Quem desconhece a forma verdadeiramente altruísta como ele tratava todo o numeroso
pessoal da sua fábrica? A quem são estranhos os actos de generosidade com que ele retribuía
qualquer serviço, por mais insignificante que lhe fosse prestado?

Francisco Rodríguez Tenório pode dizer-se que tinha em cada habitante desta vila um
amigo e um admirador. Não tinha inimigos e a sua memória ficará indelevelmente gravada no
coração do povo desta Vila. Que descanse em paz o benemérito cidadão!

O enterro do Sr. Francisco Rodríguez Tenório realizou-se pelas 5 e meia horas da tarde
do dia 17 do corrente. Acto imponentíssimo de que não há memória de outro igual há muitos
anos. Era uma mole imensa de povo que, comovidamente, acompanhava à sua última morada
os restos mortais dum benemérito.

E ao olharmos para aquela massa compacta, aonde se divisava um grande pesar, acu-
dia-nos ao espírito uma ideia consoladora – lembremo-nos da santa e recta justiça do Povo!
Manifestações daquelas, não se explicam facilmente, – é preciso que o homem que delas foi
alvo depois de morto, tivesse sido um bom e um justo.

O corpo encerrado numa rica urna era conduzido na carreta da agência funerária do Sr.
João Henrique Grego.

479
À frente e formando alas a classe dos soldadores desta vila empunhando cada um uma
vela, seguia-se o carro fúnebre conduzindo o corpo que era acompanhado pelos reverendos pa-
dres srs. Jorge Leiria e Dr. João Gonçalves Medeiros.

Às borlas do caixão iam os Srs. conselheiro Frederico Ramirez, comendador José


Vicente do Carmo, Alphonso Gomes Sanchez, João Francisco Salles Barroso, Jacinto José de
Andrade e Francisco Gomes Sanchez.

Logo atrás do féretro ia fardada e formada a filarmónica ‘1.º de Maio’, vul-


go a Velha, de quem o falecido foi sempre um desvelado protector e amigo, se-
guindo-se uma numerosíssima multidão aonde se viam representantes de todas
as classes:

Notas:

– Sobre o féretro foram depostas muitas coroas, nas quais se liam comoventes dedicató-
rias, não só de sua família mas de amigos íntimos.

– Um dos actos que mais nos impressionou foi o convulsivo choro que rebentou do peito
e olhos de centenares de mulheres e homens ao aparecer à porta da rua o caixão em que vinha
encerrado o corpo. Foi uma cena deveras lancinante.

– Logo que se espalhou a notícia da morte acorreram à casa de residência do falecido


muitas pessoas e a partir desse momento até à hora do funeral nunca mais o corpo deixou de ser
velado por um grande número de pessoas amigas.

– A Câmara Municipal desta vila, em sua sessão de 17 do corrente, deliberou consignar


na acta um voto de sentimento pela morte de tão prestimoso cidadão.

– Todos os estabelecimentos comerciais fecharam meias portas ao saber-se do faleci-


mento do Sr. Tenório e fecharam na tarde do enterro.

– As fábricas de conservas içaram as bandeiras a meio pau em sinal de luto e o mesmo


fez a sociedade ‘1.º de Maio’».

480
Anexo n.º 8: Almoço de Natal de algumas famílias andaluzas radicadas em Loulé, Loulé,
Parque Municipal, Dezembro de 1910

De pé, da esquerda para a direita: Martins Barbosa, Sebastião Martins Barbosa, António Cortes,
Maria José Martins Barbosa, Manuel Rodrigues Corrêa, Rosa Martins Barbosa, Joana Martins
Barbosa e Casimiro d’Aragão Barros.

Sentados, da esquerda para a direita: Pedro Martins Barbosa, Maria Salva Martins, não
identificada, Maria do Carmo Cortes Rosa, Sebastião Martins Peres Gomes, não identifica-
da, João d’Aragão Barros, Casimiro d’Aragão Barros, José d’Aragão Barros e Ana d’Aragão
Barros.

Fila de baixo (três pessoas): António Cortes, Manuel Corrêa e Joana d’Aragão Barros.

Fonte: fotografia gentilmente cedida pelo Dr. João Barros Madeira ao autor, no dia 7 de Junho de 2019.

481
Anexo n.º 9: Carta manuscrita sobre papel, datada de 25 de Maio de 1912, enviada por
Santiago Alvares Romero, em Lisboa, para o seu filho Santiago Formosinho Romero, em Loulé

«Santiago

Sciente do que me dizes na tua estimada de 22 do corrente não tenho objeção alguma
a fazer ao teu projectado casamento, visto teres tomado esse compromisso, ao qual não deves
faltar, e mais sendo a tua eleita uma menina de tão bons predicados.

Só o que tenho a advertir-te (o que já deves ter pensado) é que com a realização do ca-
samento toma o homem uma grande responsabilidade, e bem grande e para quem como tú não
tem uma posição verdadeiramente definida e nem meios de fortuna para fazer face às contigen-
cias da vida; e é muito doloroso para a mulher e marido que se amem mutuamente terem que
listar com dificuldades. Tú irás confiado no futuro, pois para mim que amo os meus filhos como
um verdadeiro pae, que já só aspiro às suas felicidades, será de satisfação que te seja prospero,
para que não tenhas motivos de te arrependeres.

Desejando a efectivez em boa hora, espero [que] apresentes os meus afectuosos compri-
mentos a Marquinhas e tú recebe uma abraço de teu pae que te estima

Santiago A[lvares] Romero

Lisboa, 25/5/912».

482
Fonte: Arquivo Particular do autor.

483
Anexo n.º 10: Postal manuscrito com a imagem do Sagrado Corazón de Jesús de 1916

De Agueda, sem morada, para Dona Piedad, em Castillejos

«para mi estimada amiga Piedad le dedico esta postal que representa la imagen de Jesus
desendo [sic] que siempre te tenga en memoria para que feliz sean y que sean tan amiga y de
todas estimada es lo que te deseca tu amigo que te estima».

484
Fonte: Arquivo Particular do autor.

485
Anexo n.º 11: Reportagem da cerimónia de atribuição de uma rua ao industrial Francisco
Rodríguez Tenório, em V.R.S.A., publicada no periódico Ecos do Sul,
Sul, V.R.S.A., ano II, de 4
de Setembro de 1938, p. 1:

«No passado dia 28 do mês de Agosto realizou-se nesta vila uma homenagem póstuma a
Francisco Rodríguez Tenório, falecido há anos e que foi homem de probidade a toda a prova,
amigo dos pobres, amigo de todos, amigo da sua terra que naquele dia o recordou com o cora-
ção repleto de uma saudade pungente, a um tempo triste pela recordação do seu grande amigo,
e contente por ter o ensejo de o homenagear, com simplicidade embora mas com verdadeira
sinceridade.

Há tempos, a Câmara Municipal desta vila, por proposta do seu presidente, resolveu
homenagear dois grandes industriais da vila como preito de saudade dos munícipes. Segundo a
proposta, a homenagem consistia em dar a duas ruas desta vila o nome desses dois grandes in-
dustriais: Ângelo Parodi e Francisco Rodríguez Tenório.

A homenagem ao primeiro foi prestada há já tempo e dela demos ao público devido co-
nhecimento. A do segundo realizou-se no dia referido e dela vamos dar pálido resumo, pois do
que foi essa homenagem não podemos mais fazer que resumo singelo e pálido. Ei-lo pois:

Às 19 horas desse dia estavam reunidas na Praça Marquez de Pombal as deputações


dos organismos locais, como bombeiros, filarmónica, sindicatos, Mocidade e Legião, que não
se apresentaram sob formatura por estarem em férias, escolas, pilotos da barra, etc. O corte-
jo teve início naquela praça, incorporando-se nele, além dos organismos referidos, a Câmara
Municipal com o seu estandarte e funcionalismo.

Ao som festivo de uma área executada pela Filarmónica, passou o cortejo pela rua Dr.
Miguel Bombarda, rodando dessa para a que ia receber o nome do homenageado. No extremo
oriental desta rua parou o cortejo. Ia realizar-se a cerimónia. Antes, porém, o Sr. José Victor
Adragão explicou a razão de ser da homenagem e quais os motivos que levaram a Câmara
Municipal da sua presidência a fazê-la celebrar. O Sr. Dr. João Medeiros, presidente da comis-
são concelhia da União Nacional, referiu-se a Francisco Rodríguez Tenório que ainda foi do seu
tempo e recordou com saudade o tempo em que aquele grande industrial, que tornou conhecido
o nome desta vila nos centros comerciais do estrangeiro, era para os vilarealenses o pai dos po-
bres. Recordou ainda a grande manifestação de saudade que foi o seu funeral, o mais concorrido

486
que esta vila ainda viu, e terminou incitando todos a levarem a vida de probidade que Francisco
Rodríguez Tenório modelara e praticara.

Então o Sr. Presidente do Município pediu à Exma. Sr.ª D. Isabel Tenório Diogo, neta
do homenageado, a descerrar a lápide que se encontrava coberta com a bandeira municipal e
que dizia Rua Francisco Rodríguez Tenório. A Filarmónica entoou a Maria da Fonte, foguetes
estoiraram alegremente no céu e entre palmas duma multidão compacta de gente de todas as
condições sociais e em que se destacavam os operários de conservas, aquela senhora descer-
rou a lápide Mais e mais palmas vincaram bem a tocante homenagem. Os membros da família,
que se achava representada pelos filhos e netos do homenageado e pelo representante da firma
comercial, dirigiram-se ao Sr. Presidente da Câmara a quem agradeceram, abraçando-o, a ce-
rimónia que se acabava de realizar. O Sr. Francisco Rodríguez Tenório, em curto e comovido
discurso, agradeceu à Câmara e ao povo da sua terra o terem-se lembrado do seu saudoso pai.

Estava terminada a cerimónia.

O cortejo dirigiu pela avenida para a praça, onde se destroçou».

487
ANEXO DE IMAGENS
Anexo n.º 1:
1: Quintal exterior da casa onde nasceu, em 1828, Sebastián Ramírez, na localidade
de El Almendro, província de Huelva

Fonte: SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos), S.A.,
2003, p. 28.

491
Anexo n.º 2:
2: Placa de identificação de guarda florestal do Huerto Ramírez

Fonte: SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos), S.A.,
2003, p. 29.

492
Anexo n.º 3:
3: Sebastián Ramírez e sua mulher María de los Dolores

Fonte: CORREIA, António Horta, Sebastian Ramírez (1828-1900). Subsídio documental para uma biografia,
Vila Real de Santo António, edição da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 2008, p. 36.

493
Anexo n.º 4:
4: Cartel das Fiestas Colombinas de 1892, realizadas, anualmente,
na cidade de Huelva

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/80/Cartel_Colombinas_Huelva_0002.jpg [consultado


pela última vez no dia 15 de Setembro de 2021]

494
Anexo n.º 5:
5: Anúncio publicitário aos serviços de transporte e de aluguer de carruagens
de Pablo Garcia Delgado, em Loulé

Fonte: O Pregoeiro, n.º 1, de 4 de Agosto de 1898, p. 4.

495
Anexo n.º 6:
6: Anúncio publicitário às fábricas de tecidos de linho e de juta e de conservas
e salga de peixe de «Ramirez & C.ª», dos sucessores de Sebastián Ramírez,
em Vila Real de Santo António

Fonte: Guadiana, n.º 6, de 30 de Abril e 1903, p. 6.

496
Anexo n.º 7:
7: Imagem publicitária da empresa litográfica de Ramirez, Perez, Cumbrera & C.ª,
sediada em Vila Real de Santo António, mas com sucursais abertas nas localidade de Olhão,
Portimão e Ayamonte (c. 1900)

Fonte: SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos), S.A.,
2003, p. 32.

497
Anexo n.º 8:
8: Anúncio publicitário à «Lithografia Progresso», de Ramirez, Perez,
Cumbrera & C.ª, em Vila Real de Santo António

Fonte: Guadiana, n.º 6, de 30 de Abril e 1903, p. 6.

498
Anexo n.º 9:
9: Anúncio publicitário à empresa «Ramirez & C.ª» no Anuário Comercial de 1906

Fonte: Annuario Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar, coord. de Caldeira Pires, Lisboa, Imprensa Nacional,
1906, p. 2410.

499
Anexo n.º 10:
10: Anúncio publicitário à fábrica de conservas «Peninsular», de Centenos,
Cruz & C.ª, em Vila Real de Santo António, s./d.

Fonte: CORREIA, António Horta, Memórias & Documentos, vol. III – Francisco Rodríguez Tenório,
Juan Maestre Cumbrera, Sebastián Ramírez, Albufeira, Arandis Editora, 2020, p. 136.

500
Anexo n.º 11:
11: Lata de 125 gramas (ração individual) das conservas Tenório,
de Francisco Rodríguez Tenório, Vila Real de Santo António, s./d.

Fonte: https://conservasdeportugal.com/francisco-rodrigues-tenorio/ [consultado pela última vez no dia 15 de


Setembro de 2021]

501
Anexo n.º 12:
12: Lata de 10 quilogramas de conservas «Ramires» produzida especialmente
para exportação para Itália (c. 1930)

Fonte: SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos), S.A.,
2003, p. 51.

502
Anexo n.º 13:
13: Residência da família Marchena, na actual Plaza de la Laguna, n.º 1,
desde a década de 1920 sede do Ayuntamiento de Ayamonte, província de Huelva

Fonte: https://huelvabuenasnoticias.com/2020/08/05/ayamonte-confirma-la-presencia-de-tres-nuevos-casos-de-
-covid-19-en-la-localidad/ [consultado pela última vez no dia 15 de Setembro de 2021]

503
Anexo n.º 14:
14: Palácio Ramirez, na actual Avenida da República, em V.R.S.A.,
projecto da autoria do Arquitecto Raul Lino

Fonte: SOARES, Nelson, Ramirez – memórias de cinco gerações, s./l., Ramirez & Companhia (Filhos), S.A.,
2003, p. 55.

504
Anexo n.º 15:
15: Fábrica de conservas «La Rose», da empresa conserveira «Feu Hermanos»,
em Portimão, s./d.

Fonte: PÉREZ, Asunción Feu, A Família Feu. Uma Viagem no Tempo, Albufeira, Arandis Editora, 2014, p. 159.

505
Anexo n.º 16:
16: Carro de carnaval das conservas «La Rose», produzidas pela empresa
conserveira «Feu Hermanos», desfilando no corso carnavalesco de Portimão (c. de 1960)

Fonte: Arquivo Particular do Dr. Nuno Campos Inácio.

506
A Migração de Andaluzes para o Algarve (1850-1914): os casos de Loulé e Vila Real de Santo António

João Romero Chagas Aleixo

Tese de Doutoramento em História (área de especialização em História Contemporânea)

Setembro 2021

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