Você está na página 1de 12

http://www.phy-6.weebly.

com/ 1

NOTAÇÃO DE DIRAC

Quando estamos no âmbito da Mecânica Clássica, usamos constantemente vetores


em um espaço Euclidiano de até três dimensões (ℝ3 ). Tais vetores são basicamente
setas no espaço com tamanho, direção e sentido bem definidos.

Já na Mecânica Quântica, esse significado muda. O estudo é probabilístico, com isso


precisamos de mais dimensões (podendo ser infinitas). Paul Dirac desenvolveu uma
nova notação matemática, definindo os ket-vetores e os bra-vetores. Além disso, tais
vetores estão no espaço de Hilbert (espaço complexo que pode ter dimensões finitas ou
infinitas).

Ket-vetor

Um ket-vetor é denotado por |𝐴⟩ e deve respeitar as seguintes propriedades:

1. A soma de dois kets quaisquer resulta em outro ket.

|𝐴⟩ + |𝐵⟩ = |𝐶⟩

2. A adição é comutativa.

|𝐴⟩ + |𝐵⟩ = |𝐵⟩ + |𝐴⟩

3. A adição é associativa.

(|𝐴⟩ + |𝐵⟩) + |𝐶⟩ = |𝐴⟩ + (|𝐵⟩ + |𝐶⟩)

4. Existe um único vetor |0⟩, chamado de elemento neutro, que quando somado a
um ket retorna o ket.

|𝐴⟩ + |0⟩ = |𝐴⟩

5. Existe um único ket −|𝐴⟩, chamado de simétrico, que quando somado ao ket |𝐴⟩
se obtém o elemento neutro.

|𝐴⟩ + (−|𝐴⟩) = |0⟩

6. A multiplicação por um escalar 𝑧 ∈ ℂ é linear.

|𝑧𝐴⟩ = 𝑧|𝐴⟩ = |𝐵⟩

7. Sendo 𝑧, 𝑤 ∈ ℂ, as propriedades distributivas se mantêm.

𝑧(|𝐴⟩ + |𝐵⟩) = 𝑧|𝐴⟩ + 𝑧|𝐵⟩

(𝑧 + 𝑤)|𝐴⟩ = 𝑧|𝐴⟩ + 𝑤|𝐴⟩


http://www.phy-6.weebly.com/ 2

A diferença desta definição de vetor para a tradicional está nas propriedades 6 e 7.


Um vetor real não pode ser multiplicado por um número complexo. Isso o removeria do
seu espaço real.

O ket-vetor pode ser representado também por uma matriz-coluna, de forma análoga
aos vetores reais. Ou seja, escritos como:

𝛼1 (𝑧)
𝛼 (𝑧)
|𝐴⟩ = ( 2 )

𝛼𝑛 (𝑧)

Onde 𝛼𝑖 (𝑧) é a componente 𝑖 do ket |𝐴⟩, que está contido no espaço ℂ𝑛 , e função do
número complexo 𝑧.

Bra-vetor

A notação de um bra-vetor é ⟨𝐴| e segue as mesmas propriedades do ket.

1. A soma de dois bras quaisquer resulta em outro bra.

⟨𝐴| + ⟨𝐵| = ⟨𝐶|

2. A adição é comutativa.

⟨𝐴| + ⟨𝐵| = ⟨𝐵| + ⟨𝐴|

3. A adição é associativa.

(⟨𝐴| + ⟨𝐵|) + ⟨𝐶| = ⟨𝐴| + (⟨𝐵| + ⟨𝐶|)

4. Existe um único vetor ⟨0|, chamado de elemento neutro, que quando somado a
um bra retorna o bra.

⟨𝐴| + ⟨0| = ⟨𝐴|

5. Existe um único bra −⟨𝐴|, chamado de simétrico, que quando somado ao bra
⟨𝐴| se obtém o elemento neutro.

⟨𝐴| + (−⟨𝐴|) = ⟨0|

6. A multiplicação por um escalar 𝑧 ∈ ℂ é linear.

⟨𝑧𝐴| = ⟨𝐴|𝑧 = ⟨𝐵|

7. Sendo 𝑧, 𝑤 ∈ ℂ, as propriedades distributivas se mantêm.

(⟨𝐴| + ⟨𝐵|)𝑧 = ⟨𝐴|𝑧 + ⟨𝐵|𝑧


http://www.phy-6.weebly.com/ 3

⟨𝐴|(𝑧 + 𝑤) = ⟨𝐴|𝑧 + ⟨𝐴|𝑤

Em forma matricial, o bra-vetor é uma matriz-linha:

⟨𝐴| = (𝛼1∗ (𝑧) 𝛼2∗ (𝑧) … 𝛼𝑛∗ (𝑧))

Onde 𝛼𝑖∗ (𝑧) é a componente 𝑖 do bra ⟨𝐴| e o conjugado complexo de 𝛼𝑖 (𝑧).

Os bras e kets se relacionam pelo conjugado complexo. Ou seja, para um dado ket
|𝐴⟩ existe um bra ⟨𝐴| tal que:

⟨𝐴| = (|𝐴⟩)∗ ↔ |𝐴⟩ = (⟨𝐴|)∗

Onde 𝑧 ∗ denota o conjugado complexo de 𝑧. Se analisarmos matricialmente,


poderemos observar que além de aplicar o conjugado complexo devemos calcular a
transposta do vetor, ou seja:

⟨𝐴| = ((|𝐴⟩)∗ )𝑇 = ((|𝐴⟩)𝑇 )∗ ↔ |𝐴⟩ = ((⟨𝐴|)∗ )𝑇 = ((⟨𝐴|)𝑇 )∗

Note que calcular a transposta da matriz conjugada é igual a calcular o conjugado da


matriz transposta. Para simplificar notação, usaremos o conjugado Hermitiano, que para
o ket |𝐴⟩ é denotado por |𝐴⟩† e definido por:

|𝐴⟩† = ((|𝐴 ⟩)∗ )𝑇

Analogamente para o bra ⟨𝐴|, temos:

⟨𝐴|† = ((⟨𝐴|)∗ )𝑇

O bra-vetor está sempre no espaço dual do seu ket-vetor correspondente.

Produto Interno

O produto interno é sempre definido entre um bra e um ket, e dado por:

⟨𝐴|𝐵⟩ = (⟨𝐴|)(|𝐵⟩)

O resultado desta operação é um número complexo. Para provar isso, basta fazer o
produto da forma matricial.

𝛽1
𝛽
⟨𝐴|𝐵⟩ = (𝛼1∗ 𝛼2∗ … 𝛼𝑛∗ ) ( 2 ) = 𝛼1∗ 𝛽1 + 𝛼2∗ 𝛽2 + ⋯ + 𝛼𝑛∗ 𝛽𝑛

𝛽𝑛

Nessa representação também podemos ver a importância da ordem dos produtos (ou
seja, ⟨𝐴|𝐵⟩ ≠ |𝐵⟩⟨𝐴|) e o número de dimensões deve ser igual.
http://www.phy-6.weebly.com/ 4

Do produto interno seguem duas propriedades:

1. O produto interno é linear.

⟨𝐶|(|𝐴⟩ + |𝐵⟩) = ⟨𝐶|𝐴⟩ + ⟨𝐶|𝐵⟩

(⟨𝐴| + ⟨𝐵|)|𝐶⟩ = ⟨𝐴|𝐶⟩ + ⟨𝐵|𝐶⟩

2. Troca entre bras e kets corresponde a um conjugado Hermitiano.

⟨𝐵|𝐴⟩ = ⟨𝐴|𝐵⟩†

Além disso, podemos definir um vetor normalizado (ou unitário), que é dado quando
sua norma é unitária. Isto é,

⟨𝐴|𝐴⟩ = 1

Dois vetores são ditos ortogonais quando seu produto interno é nulo:

⟨𝐴|𝐵⟩ = 0

Com isso, podemos descrever um espaço de 𝑛 dimensões com 𝑛 vetores ortonormais


(vetores unitários cujo produto interno é nulo), que são chamados de base ortonormal.
Para isso acontecer, precisamos que esses 𝑛 vetores sejam linearmente independentes.

Dada uma base ortonormal de ket, denotada pelos vetores |𝑒𝑖 ⟩, podemos escrever o
vetor |𝐴⟩ como:
𝑛

|𝐴⟩ = ∑ 𝛼𝑖 |𝑒𝑖 ⟩
𝑖=1

Onde 𝛼𝑖 é a componente 𝑖 do vetor |𝐴⟩. Se quisermos conhecer uma componente


específica de |𝐴⟩, vamos supor 𝑖 = 𝑗, podemos fazer o produto interno por um vetor
base do espaço dual ⟨𝑒𝑗 |, tal que:
𝑛

⟨𝑒𝑗 |𝐴⟩ = ∑ 𝛼𝑖 ⟨𝑒𝑗 |𝑒𝑖 ⟩


𝑖=1

Abrindo o somatório, vem:


𝑛

⟨𝑒𝑗 |𝐴⟩ = ∑ 𝛼𝑖 ⟨𝑒𝑗 |𝑒𝑖 ⟩ + 𝛼𝑖 ⟨𝑒𝑗 |𝑒𝑖 ⟩𝛿𝑗𝑖


𝑖≠𝑗
http://www.phy-6.weebly.com/ 5

Onde 𝛿𝑗𝑖 é a delta de Kronecker. Como |𝑒𝑖 ⟩ é uma base ortonormal, significa que,
quando 𝑖 ≠ 𝑗, o produto ⟨𝑒𝑗 |𝑒𝑖 ⟩ é nulo e, quando 𝑖 = 𝑗, o produto ⟨𝑒𝑖 |𝑒𝑖 ⟩ é unitário.
Portanto, teremos:

⟨𝑒𝑗 |𝐴⟩ = 𝛼𝑗

Desse jeito, podemos reescrever o vetor |𝐴⟩ como:


𝑛

|𝐴⟩ = ∑|𝑒𝑖 ⟩⟨𝑒𝑖 |𝐴⟩


𝑖=1

O mesmo vale para o bra ⟨𝐴|:


𝑛

⟨𝐴| = ∑⟨𝐴|𝑒𝑖 ⟩⟨𝑒𝑖 |


𝑖=1

Significado físico

Na Mecânica Clássica, os vetores são usados para definir posição, velocidade,


aceleração e etc. Tudo que possa ter módulo, direção e sentido. Já na Mecânica
Quântica, os bras e kets estão relacionados à probabilidade de algo acontecer.

A componente de um ket (ou bra) é também chamada de amplitude de


probabilidade. O que é diferente da probabilidade em si. Esses vetores estão associados
ao estado de um fenômeno.

Imagine que você tenha um dado de seis faces numeradas. Cada valor que podemos
obter é um estado do dado. Ou seja, o dado pode estar no estado |1⟩,|2⟩, |3⟩, |4⟩, |5⟩ ou
|6⟩. Uma moeda tem os estados |𝑐𝑎𝑟𝑎⟩ e |𝑐𝑜𝑟𝑜𝑎⟩. Com isso, cada vetor de estado terá
uma dimensão diferente, dependendo do que estamos falando.

A probabilidade 𝑃𝑖 de se encontrar o vetor de estado |𝐴⟩ no estado |𝑒𝑖 ⟩ é dada pelo


quadrado da amplitude de probabilidade, ou seja:

𝑃𝑖 = |⟨𝑒𝑖 |𝐴⟩|2

Ou ainda,

𝑃𝑖 = ⟨𝐴|𝑒𝑖 ⟩⟨𝑒𝑖 |𝐴⟩

Se o vetor |𝐴⟩ for normalizado, teremos que a soma das probabilidades será unitária
(ou 100%):
http://www.phy-6.weebly.com/ 6

𝑛 𝑛

∑ 𝑃𝑖 = ∑⟨𝐴|𝑒𝑖 ⟩⟨𝑒𝑖 |𝐴⟩ = 1


𝑖=1 𝑖=1

Operadores Lineares

Em mecânica quântica, todo observável físico (algo que pode ser medido, como
energia, momentum, posição, etc.) pode ser descrito por um operador linear. Podemos
pensar em um operador linear como uma máquina que transforma um vetor de estado
em outro vetor.

̂ , tal que:
Um operador é denotado por 𝑀

̂ |𝐴⟩ = |𝐵⟩
𝑀

Ou ainda,

̂ = ⟨𝐵|
⟨𝐴|𝑀

Dos operadores seguem duas propriedades:

1. Associativa

̂ [|𝐴⟩ + |𝐵⟩] = 𝑀
𝑀 ̂ |𝐴⟩ + 𝑀
̂ |𝐵⟩

̂ = ⟨𝐴|𝑀
[⟨𝐴| + ⟨𝐵|]𝑀 ̂ + ⟨𝐵|𝑀
̂

2. Multiplicação por escalar

̂ |𝑧𝐴⟩ = 𝑧𝑀
𝑀 ̂ |𝐴⟩

̂ = 𝑧⟨𝐵|𝑀
⟨𝑧𝐵|𝑀 ̂

Onde 𝑧 é uma constante complexa.

̂ |𝐴⟩ = |𝐵⟩, temos:


Em termos de componente, quando 𝑀

̂ |𝐴⟩ = 𝑀
𝑀 ̂ ∑ 𝛼𝑗 |𝑒𝑗 ⟩
𝑗

̂ |𝐴⟩ = ∑ 𝛼𝑗 𝑀
𝑀 ̂ |𝑒𝑗 ⟩ = ∑ 𝛽𝑗 |𝑒𝑗 ⟩
𝑗 𝑗

Multiplicando por ⟨𝑒𝑘 |, vem:

̂ |𝑒𝑗 ⟩ = ∑ 𝛽𝑗 ⟨𝑒𝑘 |𝑒𝑗 ⟩


∑ 𝛼𝑗 ⟨𝑒𝑘 |𝑀
𝑗 𝑗
http://www.phy-6.weebly.com/ 7

Como ⟨𝑒𝑘 |𝑒𝑗 ⟩ = 𝛿𝑘𝑗 , logo:

̂ |𝑒𝑗 ⟩
𝛽𝑘 = ∑ 𝛼𝑗 ⟨𝑒𝑘 |𝑀
𝑗

̂ |𝑒𝑗 ⟩, teremos:
Se abreviarmos 𝑚𝑘𝑗 = ⟨𝑒𝑘 |𝑀

𝛽𝑘 = ∑ 𝑚𝑘𝑗 𝛼𝑗
𝑗

̂ , que pode ser


Os termos 𝑚𝑘𝑗 são chamados de elementos de matriz de 𝑀
representado por uma matriz quadrada 𝑁 × 𝑁:

𝑚11 𝑚12 … 𝑚1𝑁


𝑚 𝑚22 … 𝑚2𝑁
̂ = ( 21
𝑀 … … … … )
𝑚𝑁1 𝑚𝑁2 … 𝑚𝑁𝑁

̂ |𝐴⟩ = |𝐵⟩ como:


Assim, podemos reescrever 𝑀

𝑚11 𝑚12 … 𝑚1𝑁 𝛼1 𝛽1


𝑚21 𝑚22 … 𝑚2𝑁 𝛼2 𝛽2
( … … … … )(… ) = (…)
𝑚𝑁1 𝑚𝑁2 … 𝑚𝑁𝑁 𝛼𝑁 𝛽𝑁

̂ = ⟨𝐵| vem:
Analogamente, para ⟨𝐴|𝑀

𝑚11 𝑚12 … 𝑚1𝑁


𝑚21 𝑚22 … 𝑚2𝑁
(𝛼1 𝛼2 … 𝛼𝑁 ) (
… … … … ) = (𝛽1 𝛽2 … 𝛽𝑁 )
𝑚𝑁1 𝑚𝑁2 … 𝑚𝑁𝑁

Autovetores e Autovalores

Para os operadores, existem certos vetores de estado, tal que o vetor de entrada é
igual ao vetor de saída. Isto é:

̂ |𝜆⟩ = 𝜆|𝜆⟩
𝑀

̂ , com autovetor |𝜆⟩.


Onde 𝜆 é chamado de autovalor de 𝑀

Exemplo: Calcule os autovalores e autovetores para o operador linear:

̂ = (0 −1)
𝑀
1 0

Solução: Usando a equação de autovetor, teremos:

̂ |𝜆⟩ = 𝜆|𝜆⟩ → (𝑀
𝑀 ̂ − 𝜆𝕀)|𝜆⟩ = 0
http://www.phy-6.weebly.com/ 8

Onde 𝕀 é a matriz identidade.

0 −1 𝜆 0 |𝜆⟩
[( )−( )] =0
1 0 0 𝜆
−𝜆 −1 |𝜆⟩
( ) =0
1 −𝜆
−𝜆 −1
Para qualquer |𝜆⟩ ≠ 0, temos que det ( ) = 0. Assim, temos:
1 −𝜆
𝜆1 = 𝑖
𝜆2 + 1 = 0 → {
𝜆2 = −𝑖
𝛼1
Seja |𝜆⟩ = (𝛼 ), para 𝜆1 = 𝑖, vem:
2

−𝑖 −1 𝛼1 0 −𝑖𝛼1 − 𝛼2 = 0
( ) (𝛼 ) = ( ) → {
1 −𝑖 2 0 𝛼1 − 𝑖𝛼2 = 0

As duas equações são linearmente independentes (LD), basta multiplicar a primeira


por 𝑖. Então, 𝛼1 = 𝑖𝛼2 . Para qualquer 𝑘 = 𝛼2 , teremos:

|𝜆1 ⟩ = 𝑘 ( 𝑖 )
1

Para 𝜆2 = −𝑖, vem:

𝑖 −1 𝛼1 0 𝑖𝛼 − 𝛼2 = 0
( ) (𝛼 ) = ( ) → { 1
1 𝑖 2 0 𝛼1 + 𝑖𝛼2 = 0

Novamente, as duas equações são LD (multiplique a segunda por 𝑖). Assim, temos
que 𝛼1 = −𝑖𝛼2 . Ou seja,

|𝜆2 ⟩ = 𝑘 (1)
𝑖

Operadores Hermitianos

̂ , tal que 𝑀
Seja um operador linear 𝑀 ̂ |𝐴⟩ = |𝐵⟩, teremos o conjugado:

̂ † = ⟨𝐵|
⟨𝐴|𝑀

∗ 𝑇
̂ † = ((𝑀
Onde 𝑀 ̂ ) ) é o conjugado Hermitiano do operador 𝑀
̂.

̂ é dito operador Hermitiano se, e somente se:


O operador 𝑀

̂ =𝑀
𝑀 ̂†

Um fato curioso surge quando usamos a definição de operador Hermitiano na


equação de autovalor e autovetor.
http://www.phy-6.weebly.com/ 9

̂ dada por:
Seja a autoequação de 𝑀

̂ |𝜆⟩ = 𝜆|𝜆⟩
𝑀

Aplicando o conjugado Hermitiano na autoequação, vem:

̂ † = ⟨𝜆|𝜆∗
⟨𝜆|𝑀

̂† = 𝑀
Sendo Hermitiano, 𝑀 ̂ , então:

̂ = ⟨𝜆|𝜆∗
⟨𝜆|𝑀

Se fizermos um produto pelo autovetor na autoequação e na autoequação conjugada,


encontraremos:

̂ |𝜆⟩ = 𝜆⟨𝜆|𝜆⟩
⟨𝜆|𝑀
{
⟨𝜆|𝑀̂ |𝜆⟩ = 𝜆∗ ⟨𝜆|𝜆⟩

Para ser verdade, temos que 𝜆 = 𝜆∗. Ou seja, um número complexo é igual ao seu
conjugado. Em consequência disso, 𝜆 deve ser real. Portanto, todo operador Hermitiano
possui apenas autovalores reais.

Seja um operador Hermitiano 𝐿̂, com autovalores 𝜆1 e 𝜆2 , teremos as autoequações:

𝐿̂|𝜆1 ⟩ = 𝜆1 |𝜆1 ⟩
{
𝐿̂|𝜆2 ⟩ = 𝜆2 |𝜆2 ⟩

Aplicando o conjugado Hermitiano na primeira equação, teremos:

⟨𝜆1 |𝐿̂ = ⟨𝜆1 |𝜆1


{
𝐿̂|𝜆2 ⟩ = 𝜆2 |𝜆2 ⟩

Multiplicando a primeira equação por |𝜆2 ⟩ e a segunda por ⟨𝜆1 |, vem:

⟨𝜆1 |𝐿̂|𝜆2 ⟩ = 𝜆1 ⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩


{
⟨𝜆1 |𝐿̂|𝜆2 ⟩ = 𝜆2 ⟨𝜆1|𝜆2 ⟩

Subtraindo as equações, surge:

(𝜆1 − 𝜆2 )⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩ = 0

Se 𝜆1 ≠ 𝜆2 , então ⟨𝜆1|𝜆2 ⟩ = 0. Ou seja, se os autovalores forem distintos, os


autovetores deverão ser ortogonais. Se 𝜆1 = 𝜆2 = 𝜆, podemos escolher autovetores
ortogonais. Suponha que:

𝐿̂|𝜆1 ⟩ = 𝜆|𝜆1 ⟩
{
𝐿̂|𝜆2 ⟩ = 𝜆|𝜆2 ⟩
http://www.phy-6.weebly.com/ 10

Definindo uma combinação linear dos dois autovetores, tal que:

|𝐴⟩ = 𝛼|𝜆1 ⟩ + 𝛽|𝜆2 ⟩

Aplicando o operador 𝐿̂, surge:

𝐿̂|𝐴⟩ = 𝛼𝐿̂|𝜆1 ⟩ + 𝛽𝐿̂|𝜆2 ⟩

𝐿̂|𝐴⟩ = 𝛼𝜆|𝜆1 ⟩ + 𝛽𝜆|𝜆2 ⟩ → 𝐿̂|𝐴⟩ = 𝜆(𝛼|𝜆1 ⟩ + 𝛽|𝜆2 ⟩)

𝐿̂|𝐴⟩ = 𝜆|𝐴⟩

Ou seja, a combinação linear de dois autovetores também é autovetor de 𝐿̂. Esses


autovetores precisam ser linearmente independentes para podermos fazer tal
combinação linear. Com isso, ⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩ = 0.

Procedimento de Gram-Schmidt

Sejam dois estados |𝜆1 ⟩ e |𝜆2 ⟩ não ortogonais, podemos sempre escolher outros
estados que sejam ortogonais. Por exemplo, fixando |𝜆1 ⟩, o vetor |𝜆2⊥ ⟩ = |𝜆2 ⟩ −
⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩|𝜆1 ⟩ é ortogonal a |𝜆1 ⟩. Fazendo ⟨𝜆1 |𝜆2⊥ ⟩, teremos:

⟨𝜆1|𝜆2⊥ ⟩ = ⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩ − ⟨𝜆1 |(⟨𝜆1|𝜆2 ⟩)|𝜆1 ⟩

⟨𝜆1 |𝜆2⊥ ⟩ = ⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩ − ⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩⟨𝜆1 |𝜆1⟩

Como ⟨𝜆1|𝜆1 ⟩ = 1, então:

⟨𝜆1 |𝜆2⊥ ⟩ = 0

Note que ⟨𝜆1 |𝜆2 ⟩|𝜆1 ⟩ é a projeção de |𝜆2 ⟩ na direção |𝜆1 ⟩.

Produto Externo

Da mesma forma que definimos o produto interno entre dois vetores, podemos
também definir o produto externo entre |𝐴⟩ e |𝐵⟩, tal que:

(|𝐴⟩)(⟨𝐵|) = |𝐴⟩⟨𝐵|

Além disso, podemos relacionar o produto externo com o produto interno de tal
maneira que:

(|𝐴⟩⟨𝐵|)|𝐶⟩ ≡ |𝐴⟩⟨𝐵|𝐶⟩

Ou ainda,

⟨𝐶|(|𝐴⟩⟨𝐵|) ≡ ⟨𝐶|𝐴⟩⟨𝐵|
http://www.phy-6.weebly.com/ 11

Se fizermos o produto |𝐴⟩⟨𝐴|, assumindo que |𝐴⟩ é normalizado, este produto é


chamado de operador-projeção. Isto é,

|𝐴⟩⟨𝐴| |𝐵⟩ = |𝐴⟩ ⟨𝐴|𝐵⟩

Note que este vetor é paralelo a |𝐴⟩. Ou seja, ele projetou o vetor |𝐵⟩ na direção |𝐴⟩.

Do operador-projeção seguem algumas propriedades:

1. Operadores-projeção são Hermitianos.

2. O vetor |𝐴⟩ é um autovetor de seu operador-projeção |𝐴⟩⟨𝐴| com autovalor 1.

|𝐴⟩⟨𝐴| |𝐴⟩ = |𝐴⟩

3. Qualquer vetor ortogonal a |𝐴⟩ é um autovetor com autovalor zero.


Consequentemente, o operador-projeção só possui autovalores 1 e 0, onde só existe um
autovetor (|𝐴⟩) com autovalor unitário.

4. O quadrado de um operador-projeção é igual ao operador-projeção.

(|𝐴⟩⟨𝐴|)2 = |𝐴⟩⟨𝐴| |𝐴⟩⟨𝐴| = |𝐴⟩(⟨𝐴|𝐴⟩)⟨𝐴| = |𝐴⟩⟨𝐴|

5. O traço de um operador-projeção é unitário.

𝑇𝑟(𝐿̂) = ∑⟨𝑒𝑗 |𝐿̂|𝑒𝑗 ⟩


𝑗

𝑇𝑟(|𝐴⟩⟨𝐴|) = ∑⟨𝑒𝑗 | |𝐴⟩⟨𝐴| |𝑒𝑗 ⟩ = ∑⟨𝑒𝑗 |𝐴⟩⟨𝐴|𝑒𝑗 ⟩ = ∑ 𝑃𝑗 = 1


𝑗 𝑗 𝑗

6. A soma de todos os operadores-projeção de um sistema base forma o operador-


identidade.

𝐼̂ = ∑|𝑒𝑗 ⟩⟨𝑒𝑗 |
𝑗

7. O valor esperado do operador 𝐿̂ no estado |𝐴⟩ é dado por:

⟨𝐿̂⟩ = ⟨𝐴|𝐿̂|𝐴⟩ = 𝑇𝑟(|𝐴⟩⟨𝐴|𝐿̂)

Demonstração:

𝑇𝑟(|𝐴⟩⟨𝐴|𝐿̂) = ∑⟨𝑒𝑗 |𝐴⟩⟨𝐴|𝐿̂|𝑒𝑗 ⟩ = ∑⟨𝐴|𝐿̂|𝑒𝑗 ⟩⟨𝑒𝑗 |𝐴⟩


𝑗 𝑗

𝑇𝑟(|𝐴⟩⟨𝐴|𝐿̂) = ⟨𝐴|𝐿̂𝐼|𝐴⟩ = ⟨𝐴|𝐿̂|𝐴⟩


http://www.phy-6.weebly.com/ 12

Matriz Densidade

Suponha que existam dois estados possíveis, |𝐴⟩ e |𝐵⟩, para um observável 𝐿̂. Se a
probabilidade de se medir este observável for igual (50% ou 1/2) nos dois estados,
então o valor esperado será:

1 1
⟨𝐿̂⟩ = 𝑇𝑟(|𝐴⟩⟨𝐴|𝐿̂) + 𝑇𝑟(|𝐵⟩⟨𝐵|𝐿̂)
2 2

A matriz densidade 𝜌̂ será definida como:

1 1
𝜌̂ = |𝐴⟩⟨𝐴| + |𝐵⟩⟨𝐵|
2 2

De forma geral, se existirem 𝑁 estados |𝐴𝑗 ⟩, cada um com probabilidade 𝑃𝑗 , para um


observável 𝐿̂, então:

𝜌̂ = 𝑃1 |𝐴1 ⟩⟨𝐴1 | + 𝑃2 |𝐴2 ⟩⟨𝐴2 | + ⋯ + 𝑃𝑁 |𝐴𝑁 ⟩⟨𝐴𝑁 |


𝑁

𝜌̂ = ∑ 𝑃𝑗 |𝐴𝑗 ⟩⟨𝐴𝑗 |
𝑗

Se existir apenas um estado possível (𝑁 = 1), dizemos que o estado é puro. Caso
contrário, a matriz densidade representa um estado misto.

Usando a definição de matriz densidade, podemos reescrever o valor esperado do


operador 𝐿̂:

⟨𝐿̂⟩ = 𝑇𝑟(𝜌̂𝐿̂)

Escrevendo a matriz densidade em termos de uma base |𝑎⟩, teremos a componente:

𝜌𝑎,𝑎′ = ⟨𝑎|𝜌̂|𝑎′ ⟩

Seja 𝐿𝑎,𝑎′ a representação matricial do operador 𝐿̂, então:

⟨𝐿̂⟩ = ∑ 𝜌𝑎,𝑎′ 𝐿𝑎,𝑎′


𝑎,𝑎′

Algumas propriedades da matriz densidade:

1. Matriz densidade é Hermitiana: 𝜌𝑎,𝑎′ = 𝜌𝑎∗ ′ ,𝑎


2. O traço da matriz densidade é unitário: 𝑇𝑟(𝜌̂) = 1
3. Os autovalores da matriz densidade são todos positivos e estão entre 0 e 1.
4. Para um estado puro 𝜌̂2 = 𝜌̂ e 𝑇𝑟(𝜌̂2 ) = 1.
5. Para um estado misto (ou emaranhado) 𝜌̂2 ≠ 𝜌̂ e 𝑇𝑟(𝜌̂2 ) < 1.

Você também pode gostar