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Este artigo é parte de um trabalho de pesquisa que investigou as crenças e representações
dos professores do ensino fundamental sobre o construtivismo, os parâmetros curriculares nacionais e as
inovações pedagógicas. O trabalho na integra constituiu a Dissertação de Mestrado da primeira autora
desenvolvido sob a orientação do segundo autor, no programa de Psicologia da FFCLRP/USP, com
subvenção da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAPESP).
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Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade Filosofia Ciências
e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Coordenador do Grupo de estudos e Pesquisas
Sociodrama Educacional. Home page: http:/ www.gepsed.ffclrp.usp.br
Mestre em Educação pela Faculdade Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo (FFCLRP/USP) e Professora na Faculdade Santa Giulia/ Taquaritinga - S. P. e - mail:
patrosca@usp.br.
O impacto do construtivismo na prática docente
Resumo
revelou ter uma noção imprecisa e, às vezes, até equivocada sobre o construtivismo.
concordam é com a maneira como esta mudança foi implantada e conduzida. Destaca-se
processo de elaboração das reformas no ensino, bem como terem o devido respaldo
docente.
fundamental.
The impact of the constructivism in practice educational
Abstract
In the present article the faiths and the teachers' representations are presented
about the constructivism investigated through depth interview, with forty teachers of the
fundamental teaching of two schools of a city of the interior of São Paulo. The results of
the recorded interviews and transcribed literally they were submitted to the Analysis of
Content. It is ended that the teachers' great majority revealed to have an imprecise
notion and, sometimes, even mistaken about the constructivism. They considered that
doesn't have I prepare for us to work with the constructivism, for lack of studies, of
orientations and of support of the school. Most of the teachers is not unfavorable to the
constructivism in the daily school. The one that they don't harmonize is with the way as
this change was implanted and led. They stands out among the educational implications,
that the teachers should be involved in the process of elaboration of the reforms in the
teaching, as well as they have the due back-up after your implantation, could contribute
2001).
Para Duarte (2001), nas últimas décadas foi muito grande a divulgação da
maioria deles não tem noção das implicações de ser um professor construtivista. Não há
percebidos com fazendo a coisa certa e, sendo assim, eles próprios criaram uma
1999)
Para Hernández (1998), o construtivismo, apesar de não ser utilizado da maneira
metodologia, muito menos uma técnica educacional, ou uma teoria determinada. Ele
está sendo percebido como uma imposição gratuita ou, simplesmente, uma imposição
Sotavento, 1999; Elby, 2000), algumas pesquisas em que o construtivismo está inserido
Tenenbaum e cols., 2001; Pear & Crone - Todd, 2002; Arendt, 2003; Chermack &
Merwe, 2003) e, por último, pesquisas que ilustraram as convicções dos professores
sobre o construtivismo e a prática docente, as quais, por estarem relacionadas com este
estratégias pedagógicas mais efetivas para induzir no estudante uma mudança conceitual
atividades de grupo, entrevistas de grupos focais, notas de campo e foi solicitado a cada
utilizadas o tempo todo. Por mais que existissem professores que estavam envolvidos
trabalharem com a nova perspectiva teórica. Contudo, eles tiveram mais tempo para
construtivistas, tornava-a muito mais difícil. Contudo, ao longo do curso, a partir das
participar das atividades propostas. Foram encontradas várias doutrinas básicas sobre o
período de 1985 a 1990. Dentre os vários resultados encontrados, destaca-se que: sobre
também ilustraram que, dos nove programas, quatro foram classificados como tendo
Tatto (1999) realizou uma pesquisa com professores rurais do México, após a
de PARE (Programa para Abatir el Rezago Educativo), cujo objetivo principal foi
com a teoria e pelo que ela poderia significar na prática. Contudo, outros relataram que
poderiam ter dificuldades de aplicação desta teoria na sala de aula. Alguns professores
programa ter sido muito proveitoso, alguns professores relataram que não será nada
fácil por em prática a teoria construtivista se não tiverem apoio, orientação e se forem
pressionados a mudarem sua forma de ensinar. Dentre os vários aspectos apontados pela
contínua para todos os docentes, tanto para os que estão atuando na escola, como para
os professores ingressantes na escola, caso ela deseje que todos se envolvam com a
alunos.
construções deles, como sendo profissionais efetivos. Oito professores de quatro escolas
Keys e Bryan (2001) propõem a necessidade de mais pesquisas nas áreas das
reformas. As colocações dos autores estão baseadas no estudo que realizaram a partir de
de Brewer e Daane (2002) que fizeram um estudo com oito professores de matemática
construtivismo era a teoria que orientava suas ações educacionais. O objetivo desta
gravadas em vídeo tape. A partir das entrevistas foram encontrados quatro temas
que eles tinham sobre a sua aplicação na sala de aula: (1) aprender é um processo ativo,
provavelmente contribuiu para eles falarem melhor sobre esta teoria. Os dados também
demonstraram que estes professores estavam inserindo a teoria construtivista nas suas
constante. Os autores, a partir dos resultados obtidos, sugerem que pelo menos dois
compartilhado.
Aldrich e
dos professores sobre a perspectiva construtivista, bem como seu impacto na prática
docente.
Metodologia
Participantes
duas escolas da rede pública estadual, de uma cidade do interior de São Paulo. Na
Ensino Fundamental.
pedagógicas.
dos professores. Os temas escolhidos para a primeira sessão foram: “As Experiências
Pedagógicas”.
Em cada sessão, utilizamos três cartões nos quais constavam apenas um dos temas
a ser investigado. Os três cartões, referentes a cada uma das duas sessões, eram
tema pelo qual gostaria de iniciar a entrevista, os outros dois cartões eram guardados
entrevistado o que lhe vinha à mente quando lia o tema escrito no cartão, quais eram os
entrevistado se dedicasse, pelo tempo que desejasse a, em silêncio, pensar sobre o tema.
papel pautado, que continha, na parte superior, o tema escolhido e lhe era solicitado que
etapa anterior, uma a uma. Para iniciar, perguntávamos ao entrevistado: “o que te fez
lembrar esta palavra ou expressão quando você a escreveu?”. Procedíamos desta forma
para cada uma das palavras ou expressões anotadas na etapa anterior. Esta “expansão”
já mencionadas pelo entrevistado. Este procedimento foi realizado com todos os temas
(1979). Dentre as várias técnicas de análise de conteúdo descritas por essa autora, foi
Resultados
Através da análise das entrevistas dos vinte professores da Escola “A” e dos vinte
Implantação do Construtivismo”.
o aluno construir seu próprio conhecimento, enquanto para outros seria um método de
modismo, mal aplicado e mal trabalhado nas escolas. O professor assume um novo
método que não deu certo" não, não é que ele não deu certo, mas quais foram as
pessoas que foram trabalhar com esse método? Essas pessoas foram preparadas
para realizar esse trabalho? Essas pessoas tiveram condições para realizar esse
trabalho? (...) mas ele não foi aplicado, quem pegou ele foi trabalhado de uma
descobrindo por si, levar o aluno a determinados caminhos que ele mesmo vai
dentro do seu ambiente para o mundo exterior, eu acho isso muito válido,
Uma minoria de professores parece ter uma visão mais crítica em relação ao
Construtivismo, apesar de não ter conhecimento preciso sobre esta perspectiva teórica.
eu não acho que é deixar a criança construir (...) o que Piaget passou né,
Vygotsky também trabalha o Construtivismo, a teoria deles, ela foi talvez, não
sei se mal traduzida (...) Construtivismo não é isso. Não é soltar e deixar a
criança fazer do jeito que ela quer...(...) É por isso que eu te falo que eu não
gosto muito do Construtivismo, não gosto como ele foi aplicado, se ele foi
aplicado. (...) eu acho que a teoria de Vygotsky e Piaget foi mal interpretada
“(...) eu acho que tudo isso que eles colocam de teoria para gente é utopia,
é chato, é uma leitura chata, é ficar lendo Emília Ferreiro (...). Eu não sei o que
Alguns professores acreditam que tanto na escola particular como na estadual não
crianças (...). Falava que era Construtivista, a escola claro! (...) mas eu não vi
isso (...) quando ele começou a chegar na Escola Pública, eu acho que ele já
“Uns falam que em alguma escola particular está sendo feito que em algum
lugar está sendo aplicado o método construtivista, você vai lá e não é, nada
daquilo é, não é verdade? Você vai lá e é tudo a mesma coisa que a gente faz
aqui (...). N verdade ninguém sabe o que é construtivismo. Eu acho que nem as
pessoas que aplicaram.” (Prof. 01 - Escola B)
professores que se referiu a este assunto não participou de estudos ou cursos em relação
professores não levavam muito a sério este trabalho. Comentaram também que por mais
“O Construtivismo você ia fazer um curso ali, um curso aqui, outro curso lá,
eles eram vistos bem por cima, mas também ninguém sentava para estudar a
(Prof. 01 - Escola A)
“(...) eu tive um curso três dias, eu achei ótimo o curso, mas a gente sabe que
na hora de pôr em prática não dá (...). (...) a gente sempre aprende, mas depois
disso já faz uns ... sete anos e mais, não tive mais nada que desse mais base para
eu poder trabalhar mais (...).” (Prof. 03 - Escola A)
“(...) na Escola Padrão né, foi discutido (...) a coordenadora na época,
trouxe muito material, lemos tudo, é aquela história na teoria uma coisa, na
prática é outra. Ela trouxe recortes de jornal, de revistas, livros sobre Piaget,
“(...) é tudo de um dia para o outro, não tem curso, não tem nada, então você
sala de aula. Dar uma aula diferente não significa ser construtivista.
estudei com este método, então desconheço como trabalhar mesmo (...). (...)
você procura dar, uma maneira diferente de dar, mas esta maneira diferente
para mim não é o Construtivismo, você entendeu? A gente precisa ter mais
condições dentro de sala, como fazer um trabalho adequado com 45 alunos (...).
Mas eu acho que o fator mais importante mesmo, é a gente não ser preparada
é que a escola se perdeu, sabe, tá certo que tinha que ser mudado alguma coisa.
Esta maneira de construir seria o ideal, mas eu acho que a grande maioria dos
professores não estavam preparados, eu acho ainda que não estão preparados,
eu acredito que ainda hoje tem muita gente querendo fazer alguma coisa, mas
“(...) eu acho que ele foi mal interpretado e não aplicado como deveria (...).
(...) pegaram uma teoria e jogaram dentro da Escola Pública ou jogaram dentro
da escola Particular. (...) eu não gosto da maneira que ele foi aplicado, sem
embasamento teórico, sem estudar a teoria a fundo (...).” (Prof.01 - Escola B)
“Isso também é mais uma das coisas impostas pelo Governo, eles não falam
o que vocês acham disso para aplicar e explicar o que é direitinho para gente e
a gente ter a liberdade de falar sim ou não. Nesta escola não funciona pode ser
professores acredita que foi muito de repente e os professores não foram preparados
“ (...) ele não sabe, ele não foi formado para trabalhar no Construtivismo
muitos professores largaram as crianças mesmo... foi uma loucura (...) logo no
não entendia o que ele escrevia (...) e isso só ocorreu porque foi deixando. Foi logo
quando comecei a lecionar, no O. J., em 91 (...) mas foi de repente, (...) assim de
um ano para outro, sem preparo, sem cursos, sem nada. Então eles falavam: “de
Escola B)
Discussão
O que parece ter ficado evidente nos relatos dos professores é que eles não são
julgam preparados. Percebeu-se, também, que existem professores que parecem ter uma
aqueles que ignoram o construtivismo e que não acreditam ser importante para a sua
Os professores fizeram várias considerações sobre este tema. Para muitos deles, o
aponta que o construtivismo não é uma metodologia, bem como as idéias de Duarte
(2001) que ressalta que o Construtivismo, no Brasil, tornou-se um modismo a partir da
Outro aspecto a destacar é que os professores têm uma visão bastante superficial
sobre o assunto e se consideram incapazes de trabalhar com esta proposta de ensino por
nas escolas. Além do construtivismo, para alguns professores, não passar de uma
que demonstra que o construtivismo está sendo percebido como uma imposição gratuita
ou, simplesmente uma imposição metodológica e estas coisas são muito prejudiciais.
professor é o orientador.
Sobre estas questões, Carvalho (2001) esclarece que o construtivismo que chegou
nas escolas parece que mais confundiu, desorientou do que esclareceu ou orientou o
fazendo a coisa certa e sendo assim, eles próprios criaram uma filosofia de ensinar,
que a partir das entrevistas com professores detectou que consideram que ao trabalhar
estudo de Brewer e Daane (2002) também demonstra que os professores acreditam que
Os relatos da maioria dos professores parecem nos revelar que estes não são
contra o construtivismo que ocorreu no ensino. O que eles não concordam, o que os
revolta, é a maneira como foi implantado. Na opinião deles, esta perspectiva foi
não foi consultado, não foi incluído na elaboração desta reforma e o contexto escolar
que o construtivismo foi “jogado” nas escolas, este foi retirado abruptamente. O
relataram que não será nada fácil por em prática a teoria construtivista se não tiverem
Bryan (2001) propõem a necessidade de mais pesquisas nas áreas das convicções de
parte relacionada com a participação das professoras. Suas vozes precisam ser incluídas
Conclusões
2) Parece ter ficado bastante evidente nos relatos dos professores que eles não são
contra o construtivismo no ensino, mas a maneira como este foi implantado. Queixam-
3) Percebe-se, através dos relatos dos professores, que as reformas estão sendo
feitas de forma impositiva e, além de terem que assimilá-las rapidamente para utilizá-
las, não são incluídos nas elaborações das propostas e são muito mal informados.
4) Apesar da insatisfação, mágoa, às vezes, e até revolta quanto à forma com que
as reformas são introduzidas nas escolas, os professores acreditam que, se elas fossem
Implicações Educacionais
valorizado.
precisam ser levados em conta quando se pretendem fazer as mudanças no ensino serem
bem sucedidas.
professor. É importante que este se sinta parte integrante dos momentos de mudanças,
devido respaldo depois da sua implantação, podendo assim contribuir para o sucesso
destas.
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