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3 de abril de 33 – Por que

acreditamos ser impossível


saber a data exata da morte
de Cristo?
Em nosso novo livro, The Final Days of Jesus: The Most Important
Week of the Most Important Person Who Ever Lived [Os últimos dias de
Jesus: A semana mais importante da pessoa mais importante que já viveu],
assumimos, mas não discutimos a data precisa da crucificação de Jesus.
Praticamente todos os estudiosos acreditam que, por várias razões, Jesus foi
crucificado na primavera de 30 ou de 33 d.C., com a maioria optando pela
primeira data. "A evidência da astronomia" restringe as possibilidades a 27,
30, 33, ou 34). No entanto, queremos estabelecer nossa tese para a data de
sexta-feira, 3 de abril de 33, como o dia exato em que Cristo morreu por
nossos pecados.
Para sermos claros, a Bíblia não explicita a data exata da crucificação
de Jesus, o que não é uma verdade soteriológica essencial; isso, contudo,
não torna a questão irreconhecível ou desimportante. Em virtude de o
cristianismo ser uma religião histórica e os acontecimentos da vida de
Cristo terem ocorrido juntamente com outros eventos históricos bem
conhecidos, é útil localizar a data da morte de Jesus tão precisamente
quanto a evidência disponível permita – dentro, pois, do contexto maior da
história humana.
Entre os escritores do Evangelho, ninguém insiste tanto nesse ponto
quanto Lucas, o médico gentio que se tornou historiador e inspirado
cronista do cristianismo primitivo.

O ano em que o ministério de João Batista começou


Lucas sugere que João Batista começou seu ministério público pouco
antes do de Jesus, dando-nos um ponto de referência histórico àquele: "No
décimo quinto ano do império de Tibério César . . . " (Lc 3.1).
Sabemos por historiadores romanos que Tibério sucedeu Augusto
como imperador e foi ratificado pelo Senado romano em 19 de agosto de
14 d.C.. Ele governou até 37. "O décimo quinto ano do império de Tibério
César" parece uma data simples, mas existem algumas ambiguidades, a
começar pelo termo inicial do cálculo. Muito provavelmente, o reinado de
Tibério foi contado a partir do dia em que ele assumira o cargo em 14 d.C.
ou a partir de 1o de janeiro do ano seguinte, 15 d.C.. A data mais próxima
possível em que o reinado de quinze anos começara seria em meados de
agosto de 28 d.C., e a última data possível em que o seu "décimo quinto
ano" se encerrou, 31 de dezembro de 29 d.C.. Assim, o ministério de João
Batista teria começado em qualquer ponto entre meados de 28 d.C. e
algum momento do ano de 29 d.C.

O ano em que o ministério de Jesus Cristo começou


Se Jesus, como os Evangelhos parecem indicar, iniciou seu ministério
não muito tempo depois de João, em seguida, com base nos cálculos acima,
a data mais antiga para o batismo de Jesus seria 28 d.C.. No entanto, é mais
provável situá-lo em algum momento do primeiro semestre do ano de 29
d.C., por terem decorrido, provavelmente, alguns meses entre o início do
ministério de João e o de Jesus (e o ano 30 d.C. é a última data possível).
Assim, o ministério de Cristo deve ter começado entre no mínimo o final
de 28 e no máximo em 30 d.C..
Isso é coerente com a menção de Lucas de que "Jesus, ao começar seu
ministério, tinha cerca de trinta anos de idade" (Lucas 3.23). Se ele nasceu
em 6 ou 5 a.C, como é mais provável, Jesus teria aproximadamente 32 a 34
anos de idade entre fins de 28 e 30 d.C., correspondendo ao intervalo em
que ele teria "cerca de trinta anos de idade".

A duração do ministério de Jesus Cristo


Agora precisamos saber quanto tempo o ministério público de Jesus
durou, pois, caso tenha se prolongado por dois anos ou mais,
aparentemente fica excluída a primavera de 30 d.C. como data possível
para a crucificação.
O Evangelho de João menciona que Jesus teria participado de pelo
menos três Páscoas (possivelmente quatro), que se davam uma vez por ano,
na primavera:

• Houve uma Páscoa em Jerusalém no início do seu ministério público


(João 2.13, 23).
• Houve uma Páscoa na Galileia no meio de seu ministério público
(João 6.4).
• Houve uma última Páscoa em Jerusalém no final do seu ministério
público, ou seja, no tempo de sua crucificação (João 11.55; 12.1).
• E Jesus pode ter assistido mais uma Páscoa, não registrada em João,
mas talvez em um ou vários dos Evangelhos sinópticos (ou seja, Mateus,
Marcos e Lucas).

Mesmo que houvesse apenas três Páscoas, isso ainda faria do ano 30
d.C. impossível como data de crucificação. Como mencionado acima, a
data provável de início do ministério de Jesus a partir de Lucas 3.1 é fins de
28 d.C.. Assim, a primeira dessas Páscoas (no início do ministério de Jesus,
João 2.13) cairia em 14 de nisã de 29 (porque nisã dá-se em março/abril,
perto do início do ano). A segunda cairia pelo menos em 30 d.C., e a
terceira, em 31 d.C., no mínimo. Isto significa que se o ministério de Jesus
coincidiu com pelo menos três Páscoas, e se a primeira foi em 29, ele não
poderia ter sido crucificado em 30 d.C..
Mas, se João Batista iniciara seu ministério em 29, Jesus
provavelmente começou o seu no fim de 29 ou início de 30. Desse modo,
as Páscoas do Evangelho de João teriam ocorrido nas seguintes datas:

14 de nisã 30 d.C. João 2.13

14 de nisã 31 d.C. Tanto a festa não identificada de João 5:1 como a outra Páscoa não
mencionada por ele (mas que estaria sugerida nos Evangelhos
sinópticos)

14 de nisã 32 d.C. João 6.4

14 de nisã 33 d.C João 11.55, a Páscoa em que Jesus foi crucificado.

Jesus foi crucificado no dia de preparação da Páscoa


João também menciona que Jesus foi crucificado no "dia da
preparação" (João 19.31), ou seja, na sexta-feira antes do sábado da semana
da Páscoa (Marcos 15.42). Na noite anterior, quinta-feira à noite, Jesus
comeu uma ceia pascal com os doze (Marcos 14.12), sua "última ceia".
No calendário farisaico-rabínico comumente usado nos dias de Jesus,
a Páscoa sempre cai no décimo quarto dia de nisã (Êx 12.6) que começa
quinta-feira depois do pôr do sol e termina sexta-feira ao pôr do sol. Em 33
d.C., o ano mais provável da crucificação de Jesus, 14 de nisã caiu em 3 de
abril, resultando o 3 de abril de 33 d.C. como a data mais provável para a
crucificação. Em “Os últimos dias de Jesus”, construímos então o seguinte
gráfico para mostrar as datas da última semana de Jesus em 33:

Quinta-feira
2 de 14 de Dia de preparação da
(entre o anoitecer de quarta Última ceia
abril nisã Páscoa
e o de quinta-feira)

Sexta-feira
3 de 15 de Páscoa; início da festa
(entre o anoitecer de quinta Crucificação
abril nisã dos pães asmos
e o de sexta-feira)

4 de 16 de Sábado (entre anoitecer de


Sabá
abril nisã sexta e sábado)
Domingo (entre
5 de 17 de Primeiro dia da
anoitecer de sábado e Ressurreição
abril nisã semana
domingo)

Conclusão
Os cálculos acima podem parecer complicados, mas em poucas
palavras o argumento funciona da seguinte forma:

Informação histórica Ano

Início do reinado de Tibério 14 d.C.

Décimo-quinto ano do reinado de Tibério: Início do ministério


28 d.C.
de João Batista

Poucos meses depois: Início do ministério de Jesus 29 d.C.

Duração mínima de três anos do ministério de Jesus: Mais 33 d.C. (3 de


provável data de crucificação de Jesus abril)

Enquanto em nosso parecer esse seja o cenário mais provável, deve-se


ter em conta que muitos acreditam que Jesus tenha sido crucificado no ano
30, não em 33. No entanto, se o início do reinado de Tibério é colocado no
ano 14, é praticamente impossível acomodar 15 anos do reinado de Tibério
e três anos do ministério de Jesus entre 14 e 30. Por esta razão, alguns
postularam uma co-regência (duunvirato) de Tibério e Augusto durante os
últimos anos do reinado de Augusto. Não há, contudo, nenhuma evidência
histórica confiável para a alegação de co-regência.
Conclui-se que Jesus foi crucificado provavelmente no dia 3 de abril
de 33. Enquanto outras datas sejam possíveis, os cristãos podem tomar
como garantia que os eventos históricos mais importantes da vida de Jesus,
como a crucificação, estão firmemente ancorados na história. Ao
celebrarmos a Páscoa, assim como ao caminharmos com Jesus todos os
dias do ano, podemos, pois, ter a convicção de que nossa fé é baseada não
apenas na garantia pessoal subjetiva, mas em dados históricos confiáveis,
tornando nossa fé eminentemente racional.
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* Texto original disponível em: http://www.firstthings.com/web-


exclusives/2014/04/april-3-ad-33. Tradução de Paulo Gallo.

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