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P r i me i r a C â ma r a C r i mi n a l

Correição Parcial n. 0052551-98.2013.8.19.0000


RECLAMANTE: VALDENIO GODINHO BEZERRA DA SILVA
RECLAMADO: JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL – I
TRINUNAL DO JÚRI DA COMARCA DA CAPITAL
RELATOR: DES. KATYA MARIA MONNERAT

Correição Parcial. Triplo homicídio. Absolvição pelo


Tribunal do Júri. Transcrição da instrução realizada na
sessão plenária do Juri. Não há obrigatoriedade de de-
gravação. A prova oral é obtida e registrada pelos meios
ou recursos de gravação magnética, eletrônica, estenoti-
pia ou técnica. O parágrafo único do artigo 475, do CPP
deve ser interpretado com base no disposto no seu caput,
que assegura “maior fidelidade e celeridade na colheita
da prova”. É inexigível a transcrição dos depoimentos e
do interrogatório colhidos no plenário do Tribunal do
Júri, salvo se absolutamente indispensável. Celeridade
processual trazida pelas Leis 11.689/2008 e
11.719/2008. Ausência de ilegalidade na decisão que in-
deferiu o pleito defensivo de degravação dos depoimen-
tos colhidos. Improvido o pedido formulado na
Correição.

KATYA MARIA DE PAULA MENEZES MONNERAT:000014562 Assinado em 05/02/2014 15:08:58


Local: GAB. DES(A). KATYA MARIA DE PAULA MENEZES MONNERAT
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VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Correição Parcial


no processo nº. 0052551-98.2013.8.19.0000 em que é reclamante Valdenio
Godinho Bezerra da Silva e reclamado Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal
– I Tribunal do Júri da Comarca da Capital.

ACORDAM, por unanimidade, os Desembargadores que com-


põem a Egrégia Primeira Câmara Criminal deste Tribunal de Justiça do Esta-
do do Rio de Janeiro, em negar provimento à Correição formulada, nos
termos do voto do Relator.

Trata-se de correição parcial, em processo perante o Tribunal do


Juri , deflagrada pela pronunciado Valdenio Godinho Bezerra da Silva, em fa-
ce de decisão proferida pelo Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal – I Tribu-
nal do Júri da Comarca da Capital, que indeferiu seu pedido de transcrição
dos depoimentos prestados em plenário e armazenados em meio audiovisual.

O reclamante, com base no parágrafo único, do artigo 475 Códi-


go de Processo Penal, sustenta a obrigatoriedade do registro escrito de todos
os depoimentos colhidos no procedimento do Júri. Aduz que a ampla defesa
implica na garantia do devido acesso ao conjunto probatório, não podendo
qualquer argumento em prol da rapidez do julgamento prejudicar o referido
direito constitucional. Alega que a transcrição dos depoimentos prestados em

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Plenário é imprescindível para o oferecimento das contrarrazões ao recurso


ministerial interposto face à absolvição do reclamante. Requer, portanto, seja
determinada a transcrição da mídia audiovisual gravada por ocasião da Sessão
Plenária, por profissional com aptidão técnica para tanto. (pasta 2)

Informações do Juízo Reclamado no sentido da manutenção da


decisão impugnada. (pasta 37)

A douta Procuradoria de Justiça opinou pelo desprovimento da


correição parcial. (pasta 45)

É o relatório, passo a decidir.

Não obstante os argumentos veiculados na reclamação, não há


como acolher a pretensão formulada pela defesa.

Inegável que os direitos à produção de prova e ao contraditório


são assegurados às partes pela Constituição da República. Todavia, a celeri-
dade processual trazida pelas Leis 11.689/2008 e 11.719/2008 não pode ser
esquecida, sob pena de se vulnerar o direito fundamental à razoável duração
do processo, também consagrado no texto constitucional (art. 5º, LXXVIII).

O procedimento do Tribunal do Júri é bifásico. Na primeira fase,


deve ser observado o disposto nos arts. 406 a 412 do Código de Processo Pe-

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nal, enquanto, na segunda, deve ser adotado o procedimento previsto no arti-


go. 475 e seguintes do mesmo diploma legal.

O parágrafo único, do artigo 475, do Código de Processo Penal,


com a redação dada pela Lei nº 11.689/08, ao dispor que deverá constar dos
autos, após feita a degravação, a transcrição do registro dos depoimentos e do
interrogatório feitos pelos meios ou recursos de gravação magnética, eletrô-
nica, estenotipia ou técnica similar, deve ser interpretado em conformidade
com o objetivo da utilização daqueles meios ou recursos, conforme expresso
no caput do referido artigo 475: “... destinada a obter maior fidelidade e cele-
ridade na colheita da prova”.
A redação do caput do artigo 475 é a mesma do §1º, do artigo
405, também do Código de Processo Penal, dada pela Lei nº11.719/08, que
entrou em vigor dias após a norma que modificou o artigo 475, que, em seu §
2º, reza o seguinte:
“No caso de registro por meio audiovisual,
será encaminhado às partes cópia do registro original,
sem necessidade de transcrição”.

Este dispositivo legal, embora não se refira ao processo do júri,


serve de norte à interpretação do parágrafo único, do artigo 475,do Código de

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Processo Penal, tanto mais no caso de registro em mídia dos depoimentos co-
lhidos em Plenário.
Assim, a interpretação mais lógica do parágrafo único do artigo
475,do Código de Processo Penal, é que, se feita a degravação, a transcrição
do registro, por óbvio, constará dos autos. Em outras palavras, é inexigível a
transcrição dos depoimentos e do interrogatório colhidos no plenário do Tri-
bunal do Júri.
Ao tratar da questão, Guilherme Nucci leciona que:
“essa medida somente será realizada se for absolutamente in-
dispensável. Não é compatível com a celeridade e a fidelidade,
exigidas pela própria lei, que se faça a degravação de uma fi-
ta de muitas horas, transcrevendo-se os depoimentos como se
tivessem sido tomados por mero ditado.
(...)
Ademais, se o julgamento for registrado em vídeo, como fazer
a degravação plena? Tal medida é completamente inviável.
Transcrever palavras, sem possibilidade de se fazer o mesmo
com as imagens, sob pena de se transformar o processo em
autêntica “revista em quadrinhos”, seria manietar a colheita
prova. Filmando-se a reação de determinada testemunha ao
responder à indagação formulada pela parte ou mesmo a aca-
reação realizada, deve o Tribunal apreciar a fita gravada e
não somente a transcrição do depoimento, como se não hou-
vesse imagem. A opção pelo caminho mais fácil não se coadu-
na com a celeridade na colheita de prova em primeira

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instância, nem mesmo com a fidelidade da apreciação da pro-


va em segunda instância.”1

Não se verifica, portanto, qualquer ilegalidade na decisão recla-


mada, que indeferiu o pedido defensivo de degravação dos depoimentos pres-
tados pois a medida não se apresenta absolutamente indispensável.
Pelo exposto, julga-se improcedente a presente correição parcial.

Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 2014.

DES. KATYA MARIA DE PAULA MENEZES MONNERAT


RELATOR

1
Código de Processo Penal Comentado, 11ª ed. RT, p. 860-861

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