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OS DESAFIOS DA CRIANÇA DISLÉXICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

NA SALA DE AULA REGULAR

Polyana Silva de Oliveira 1


Queren Carolina Martins da Silva ¹
Rafael Andrey Góes Correa ¹
Raquel Beserra Rebouças ¹
José Felício da Silva 2

RESUMO
O objetivo deste trabalho é compreender os desafios enfrentados pela criança disléxica no processo de
alfabetização na sala de aula regular. Logo, faz-se fundamental entender o que é a dislexia, quais as
causas e sintomas desse transtorno específico da aprendizagem, além do papel da escola, professores e
responsáveis para promover a superação desses desafios e possibilitar a alfabetização dessa criança. A
metodologia escolhida foi a pesquisa bibliográfica, com base em artigos, livros e sites relacionados a
dislexia, alfabetização, acompanhamento familiar e gestão educacional. Também utilizou-se a
pesquisa de campo para observar o comportamento do disléxico infantil, em sala de aula, e na
realização de questionários aos professores, a fim auxiliar na fundamentação desta pesquisa, de
maneira empírica. Sendo assim, julga-se que este trabalho contribuirá para os estudos sobre a
alfabetização da criança com dislexia, eslarecendo as dúvidas sobre esse transtorno da aprendizagem e
evidenciando as possibilidades de aprendizagens da criança com dislexia.

Palavras-chave: Dislexia; Alfabetização; Aprendizagem; Sala de aula.

1. INTRODUÇÃO
A dislexia é um transtorno específico da aprendizagem (TEA), caracterizada pela
dificuldade nos processos de aquisição da linguagem (leitura e escrita), causando várias
adversidades à criança em seu processo de alfabetização na sala de aula regular. Destaca-se
que esse TEA já é uma realidade na sala de aula. No entanto, ainda há crianças sem
diagnóstico. Em função disso, o professor alfabetizador torna-se o principal agente na
identificação desses estudantes, justamente por estar em contato constante com eles.
Nesse contexto, surgem as problemáticas: Quais os desafios da criança disléxica no
processo de alfabetização na sala de aula regular? Como o professor alfabetizador pode
possibilitar aprendizagens a essa criança nesse processo? Qual a influência da família na

1 Acadêmicos do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Fametro, 2022. E-mail:


polyana.3d@gmail.com; queremsilva20@gmail.com; raquel.reboucas16.rr@gmail.com;
ragc140596@gmail.com.

2 Professor Orientador do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Fametro, 2022. E-mail:


josefeliciod@gmail.com.
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alfabetização da criança com dislexia? A partir desses questionamentos, o presente artigo


busca investigar o contexto da criança disléxica, avaliando-a dentro da sala de aula, assim
como, o processo de alfabetização em que ela está inserida.
Portanto, esta pesquisa é fundamental para responder às questões acima, as quais
buscam compreender as dificuldades enfrentadas pela criança com dislexia no processo de
alfabetização. Para isso, foram realizados dois tipos de obtenção de dados em relação a essa
temática: a pesquisa bibliográfica, para analisar tal conteúdo na perspectiva de outros autores,
e assim, construir uma fundamentação teórica sólida e coerente; e a pesquisa de campo, para
observar na prática, a realidade dos desafios da criança disléxica na sala de aula regular, seus
problemas de aprendizagem, a prática docente em função dela e o acompanhamento familiar
(sua existência e influências). De modo que, todo esse estudo viabilize o fomento às
intervenções metodológicas (inclusivas), porquanto, à medida em que o espaço escolar não
dispõe de recursos didáticos metodológicos adequados às necessidades do disléxico infantil,
provocam-se atrasos no seu desenvolvimento socioeducacional, ocasionando em sua evasão
escolar e na carência de melhores perspectivas em sua qualidade de vida.

2. A DISLEXIA NO ÂMBITO ESCOLAR

2.1. A DISLEXIA

Conforme a Associação Brasileira de Dislexia (2016), a dislexia é um transtorno de


aprendizagem, a qual pode ser definida pela dificuldade do indivíduo no aprendizado dos
processos de linguagem, como a aquisição das habilidades de leitura e escrita. Ela é causada
por fatores neurobiológicos, os quais resultam em consequências fonológicas na linguagem,
assim como, em outras habilidades cognitivas e sociais.

Desse modo, destaca-se que a dislexia não é uma doença, e sim, um distúrbio da
aprendizagem, resultante de um processo de malformação do cérebro, o qual compromete a
capacidade da pessoa no aprendizado das práticas linguísticas, como a soletração,
decodificação e associação de palavras e textos literários. Vale ressaltar que a dislexia não
impede o estudante de adquirir essas aprendizagens, ela somente dificulta esse
desenvolvimento. Sendo incorreto afirmar que a criança disléxica é incapaz de assimilar os
conhecimentos acerca da linguagem.
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Portanto, torna-se necessário investigar os conceitos acerca da dislexia, desde a sua


origem até os dias atuais, para conseguir identificá-la corretamente no contexto escolar.
Segundo Olivier (2007, p. 7), “a palavra dislexia possui origem grega e significa dificuldade
na leitura”. Esse termo foi atribuído inicialmente para indicar pessoas incapazes de aprender a
ler e escrever. No entanto, a partir da construção de análises mais específicas, novos conceitos
foram surgindo, e a dislexia foi distanciando-se da ideia de incapacidade, passando a ser
entendida como uma dificuldade no processamento da linguagem, a qual pode ser superada.

A dislexia é hereditária, tratando-se de um transtorno herdado geneticamente.


Carvalhais e Silva (2007), afirmam que ela é causada a partir de lesões cerebrais na região
onde fica localizado o centro nervoso responsável pela linguagem (lobo parietal). Veras
(2012), aponta que os estudos mais específicos acerca da dislexia tiveram início por volta de
1872, através do oftalmologista chamado Dr. Rudolph Berlim, o qual analisou vários de seus
pacientes que eram incapazes de ler corretamente. Eles não apresentaram nenhum problema
visual, sendo assim, considerados pessoas com uma "inteligência normal". Logo, defendeu-se
o termo "cegueira verbal" para os problemas relacionados à dificuldade na leitura.

Em geral, a criança com dislexia apresenta um funcionamento particular do cérebro


para os processamentos linguísticos relacionados à construção da linguagem. Os primeiros
sintomas surgem com problemas na aprendizagem das práticas de leitura e escrita, como a
dificuldade em copiar de livros e da lousa, ler corretamente em voz alta e compreender aquilo
que foi lido, além de se confundir, constantemente, para associar o símbolo gráfico as letras,
ao som que elas representam e organizá-las, mentalmente, numa sequência temporal. Outros
indícios também podem evidenciar o disléxico infantil, entre eles, a desatenção, dispersão e
desorganização total. Ainda assim, é comum uma criança mostrar esses tipos de dificuldades,
contudo, o disléxico caracteriza-se por expressar essas complicações em proporções extremas.

Outras análises foram realizadas para desvendar a complexidade da dislexia. Por meio
delas foi possível não apenas indicar suas origens e causas, como também, diferenciar os tipos
existentes desse TEA. De acordo com Olivier (2007), existem três tipos de dislexia: a visual,
auditiva e mista. Na dislexia visual, os erros na leitura são devido a má visualização das
palavras; a dislexia auditiva ocorre quando há uma carência em relação à proporção dos tipos
de sons, causando assim, dificuldade na fala; por fim, a dislexia mista, trata-se da união de
dois ou mais tipos de dislexia. Nesse sentido, para Olivier (2007, p. 52), “é preciso entender
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que a dislexia, assim como outros vários distúrbios de aprendizagem, existem em diversos
níveis, ou seja, não apresentam um único tipo”.

A tabela abaixo mostra um contexto geral sobre as características da dislexia:

➔ Dela resultam problemas constantes relacionados a:


● Leitura;
● Soletração (escrita com erros de adição, omissão ou substituição de vogal ou de
consoante);
● Escrita.

➔ Associa-se comumente a dificuldades de:


● Concentração;
● Memória de curto prazo;
● Organização;
● Sequência temporal e ordenação (do alfabeto, dos dias da semana e dos meses etc.).

➔ A dislexia não é causada por:


● Baixas capacidades intelectuais;
● Escolaridade deficitária;
● Estrutura familiar frágil;
● Falta de aprendizagem.

Fonte: Tabela de acordo com a International Dyslexia.

A dislexia não é causada por problemas na visão, audição ou coordenação motora. A


criança com dislexia, ao contrário do que muitos pensam, não são menos inteligentes do que
outras, nem preguiçosas como costumam ser chamadas. Mesmo que o disléxico manifeste
dificuldades na leitura e escrita, ele ainda possui a capacidade para desempenhar suas
atividades escolares. Para Hennigh (2003 p. 34), “[...] crianças disléxicas podem ser muito
inteligentes e ter muitos talentos aos quais devem ser dadas a oportunidade de se
manifestarem”. A diferença está interligada na duração do aprendizado desse estudante. A
dislexia não tem cura, entretanto, existem tratamentos que podem ser realizados para auxiliar
essa criança a se desenvolver e ter uma vida social de qualidade.

2.2. O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA DISLÉXICA


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A alfabetização é um ato primordial para o ser humano. Ela possibilita ao indivíduo o


desenvolvimento de suas capacidades intelectuais e sociais, assim como, alcançar
possibilidades melhores em sua qualidade de vida. Sem o acesso às habilidades de leitura e
escrita, a pessoa está permanentemente numa condição alienada à sociedade, não exercendo o
pleno exercício de sua cidadania, nem gozando de seus direitos civis.
A alfabetização refere-se a uma atitude didática objetiva: "ensinar o indivíduo a ler e
escrever" (SOARES, 2012, p. 1). De modo que, a aquisição dessas habilidades envolve o
reconhecimento das letras e palavras (decodificação), a associação dos símbolos às letras, o
aprendizado dos fonemas e grafemas, a soletração e junção das letras para formar palavras,
frases e textos.
Nessa perspectiva, vê-se o quanto a dislexia é intrínseca ao processo de alfabetização,
sendo possível durante ele detectar o estudante que possui tal transtorno de aprendizagem.
Porquanto, conforme o Instituto NeuroSaber (2020), é mais comum a dislexia aparecer
durante a etapa alfabetizadora, já que ela se trata diretamente da aprendizagem dos processos
da linguagem.
Com base nesse contexto, afirma-se que a alfabetização, mais do que ensinar um
indivíduo a ler e escrever, serve como instrumento de diagnóstico para identificar a dislexia
na sala de aula regular. É absolutamente normal uma criança apresentar complicações no
aprendizado da leitura e escrita. No entanto, à medida que adquire os conhecimentos
necessários, vai superando esses desafios. Já o disléxico infantil, mesmo sendo instruído, terá
dificuldades constantes e atípicas durante a aquisição dessas aprendizagens.
Portanto, o plano de aula para alfabetização deve ser bem estruturado, abrangendo
modelos de alfabetização diversificados e adequados às características desse educando. Pois,
Menezes (2007) apud Oliveira (2020, p. 7 e 8), sustenta: "crianças com dificuldades de
aprendizagem não conseguem aprender através de métodos pedagógicos convencionais, mas
mesmo assim, são capazes de aprender". Sendo assim, cabe ao professor alfabetizador
desenvolver novas possibilidades de aprendizagem, levando em consideração, principalmente,
a compreensão dos desafios da criança disléxica no processo de alfabetização, além da sua
motivação pelo aprendizado. Visto que, o disléxico tende a perder o interesse pela leitura e
escrita com mais facilidade, devido a tamanha dificuldade em compreender os textos que lê e
ter uma caligrafia com muitos erros.
Em função disso, ressalta-se a importância de uma metodologia mais humanizada e
atenta às adversidades dessa criança na fase de alfabetização. O docente deve ter um olhar e
uma atitude diferenciada, não tratando o transtorno da aprendizagem como insuficiência
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pedagógica, ausência de interesse ou esforço do disléxico. Essa falta de compreensão,


segundo Oliveira (2020, p. 8), "acabará desmotivando-os, consequentemente estará
contribuindo negativamente neste processo de má formação linguística, fazendo com que a
escola se torne um ambiente menos acolhedor e socializador para estas crianças".
Como já mencionado, a dislexia não impede a criança de aprender a ler e escrever.
Mesmo com o transtorno, o disléxico infantil ainda pode ser alfabetizado. Contudo, as
atividades a serem realizadas pelo professor alfabetizador deverão adequar-se integralmente a
realidade dele, de forma que, não só ajude-o em suas dificuldades, como também potencialize
suas facilidades.
Portanto, os métodos tradicionais de ensino podem ser insuficientes para possibilitar à
criança disléxica a superação dos seus desafios durante a alfabetização. Sendo essencial, a
elaboração de práticas educativas que atendam às necessidades socioeducacionais desse
estudante. À vista disso, Fernandes e Pena (2008) apud Oliveira (2020, p. 10) exemplificam:

Ao trabalhar com a compreensão de texto, são introduzidas atividades de


interpretação em que a criança deva, após leitura do texto, pensar sobre o conteúdo
numa discussão ou representando o significado por meio de desenhos, recorte e
colagem, deixando assim os momentos de leitura mais prazerosos para está criança.
(FERNANDES E PENA, 2008 apud OLIVEIRA, 2020, p. 10).

De acordo com o Instituto NeuroSaber (2020), são evidenciadas duas propostas


pedagógicas para alfabetizar crianças disléxicas. A primeira chama-se "instrução explícita", a
qual consiste em possibilitar a aprendizagem de maneira clara e objetiva. Como a dislexia
causa atrasos na aquisição e interpretação da linguagem escrita e oral, as experiências
alfabetizadoras devem ser elaboradas de maneira mais explícita e prática, com explicações
simples e diretas, de fácil compreensão, sempre levando em consideração, o nível e o tipo de
dislexia apresentada pela criança.
Posto isso, torna-se fundamental a utilização da segunda proposta (já bastante
utilizada), o "ensino diagnóstico". Esse recurso pedagógico permite ao professor alfabetizador
avaliar as condições do disléxico infantil durante o processo de alfabetização. De maneira
que, essa avaliação seja feita partindo de um olhar individualizado para uma "alfabetização
multissensorial", baseada na repetição metódica, com frequentes revisões das práticas de
leitura e escrita executadas na sala de aula regular, visando uma aprendizagem fundamentada,
não somente na correção dos erros gráficos, mas principalmente, no aperfeiçoamento das
facilidades e qualidades da criança disléxica, bem como, a superação dos seus desafios no
processo de alfabetização.
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2.3. O PAPEL DA ESCOLA E DO DOCENTE NA ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA


DISLÉXICA

A dislexia é uma dificuldade, a qual muitas crianças enfrentam quando estão na sala
de aula, sendo comumente confundida com falta de interesse, preguiça ou incapacidade
cognitiva. Nesse contexto, cabe à escola e ao professor alfabetizador uma atenção e mediação
das aprendizagens de forma diferenciada, compreendendo a dislexia, não como o resultado de
um processo de má formação pedagógica ou desinteresse da criança. Em função disso, o
docente deve buscar conhecer e entender as causas e características desse transtorno da
aprendizagem, tal como suas consequências, a fim de intervir de maneira adequada na
alfabetização do disléxico infantil, e assim, fazer adaptações em suas aulas para que a criança
com dislexia possa desenvolver-se juntamente com os demais alunos.

Concernente às práticas de leitura e escrita, Morais (2006, apud SILVA, 2015, p. 15)
afirma:

A leitura envolve, primeiramente, a identificação dos símbolos (letras, palavras) e o


relacionamento destes símbolos com o que ela representa [...]. No que se refere à
escrita, pode-se dizer que este ato é o inverso da leitura se estabelece uma relação
entre som significado palavra impressa. (MORAIS, 2006 apud SILVA, 2015, p. 15).

Para desenvolver essas práticas, de maneira satisfatória, o professor alfabetizador


precisará do apoio constante da escola, visto que esta, tem a responsabilidade de
disponibilizar os recursos e as ferramentas pedagógicas necessárias para alfabetizar a criança
disléxica, buscando a aprendizagem das competências e habilidades referentes ao processo de
alfabetização e o progresso socioeducacional desse estudante como objetivos principais dessa
intervenção. No entanto, "ainda é necessário que a instituição escolar garanta um conjunto de
práticas planejadas com o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem dos
conteúdos de maneira crítica e construtiva”. (BRASIL, 1997, p. 31).

O disléxico infantil pode desenvolver-se com os outros estudantes, contudo, as práticas


pedagógicas em sua alfabetização devem ser trabalhadas por meio de uma didática e
metodologias adaptadas às suas características. Esse processo requer paciência por parte dos
familiares e docentes, porquanto, “os alunos precisam de mais tempo para aprender e
processar informações com mais eficiência. Algumas crianças com dificuldades mais severas
levam mais tempo para chegar aos resultados desejados”. (ALMEIDA; CAVALCANTE;
SILVA; ROQUE, 2021, p.156).
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Sendo assim, tanto a escola quanto o professor alfabetizador, não podem prender-se
somente aos métodos tradicionais de ensino, ao contrário, eles devem buscar novas
possibilidades de aprendizagens, as quais estejam em adequação às adversidades enfrentadas
pelo disléxico infantil, englobando não somente as dificuldades sofridas no âmbito escolar,
como também, as necessidades e competências requeridas na vida social. Para isso, além de
qualificar a criança disléxica para superar os desafios do processo de alfabetização, a
instituição de ensino, assim como o docente, deverão formá-la como cidadão consciente dos
seus direitos e responsabilidades na comunidade, exercendo a função de mediadores entre o
disléxico, a família e a sociedade.

2.4. A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO FAMILIAR NA


ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA DISLÉXICA

Embora possam existir certas contradições, atualmente tem sido bastante ressaltada a
concepção da família como sendo parte essencial do processo de formação escolar da criança,
de modo que, para o disléxico infantil a participação encorajadora do núcleo familiar em sua
alfabetização torna-se um recurso indispensável e extremamente necessário para seu
desenvolvimento linguístico.

Segundo Costa, Silva e Souza (2019, p. 8), "as famílias são os primeiros núcleos
formativos dos sujeitos, portanto, possuem um papel fundamental no processo de ensino-
aprendizagem das crianças". Pode-se afirmar que a função da família, em geral, direciona a
trajetória educacional e social do indivíduo. Porquanto, a família é o ambiente no qual a
criança possui maior convívio, sendo a responsável imediata em construir os elementos
fundamentais na formação da sua personalidade e na organização de suas emoções. Pois,
como afirmam Firman, Santana e Ramos (2015, p. 124), "a família é a primeira instituição
social que irá levar à criança, valores éticos e morais [...]". Nesse sentido, compreende-se que
a presença ativa, respeitosa e harmoniosa dos familiares na vida da criança com dislexia,
resulta em um processo de alfabetização mais apropriado.

Portanto, é importante que a família acompanhe frequentemente a alfabetização dessa


criança. Conforme Firman, Santana e Ramos (2015, p. 124), "[...] quanto mais os pais
demonstram interesse pela vida escolar de seus filhos, mais a educação dos mesmos, em
termos de ambiente escolar, se torna eficiente". Do mesmo modo, quanto mais assídua no
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percurso escolar a família estiver, maiores as chances do disléxico progredir na superação dos
seus desafios educacionais.

Vale ressaltar que a relevância desse apoio familiar também se dá pelo contexto
emocional da criança disléxica, o qual tende a possuir baixa autoestima, insegurança e
ansiedade, por sentir-se incapaz de realizar as atividades propostas para a sua alfabetização na
sala de aula regular. De maneira que, esses insucessos podem resultar em desinteresse pelo
aprendizado, além de outras consequências preocupantes, como o analfabetismo e a evasão
escolar.

Sendo assim, a família configura-se como eixo fundamental do processo de ensino e


aprendizagem na alfabetização do disléxico infantil, cooperando no diagnóstico e na aceitação
das dificuldades sofridas pela criança, gerando condições socioemocionais para que o
educando, apesar do seu transtorno de aprendizagem, não desista de sua trajetória escolar. À
vista disso, é imprescindível a persistência dos familiares no empenho pela alfabetização da
criança disléxica, a partir do acompanhamento escolar diligente e participativo, assim como,
na construção de um ambiente familliar acolhedor, encorajador e de apoio incondicional, o
qual compreende a dislexia, de fato, como um transtorno da aprendizagem capaz de ser
tratado e superado, e não como uma insuficiência pedagógica, falta de interesse ou esforço da
criança.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Na realização deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), as metodologias


utilizadas foram a de pesquisa bibliográfica para a fundamentação teórica. Porquanto, busca-
se a compreensão objetiva e analítica do tema pesquisado. Além da pesquisa de campo, para
introduzir mais embasamento ao trabalho, a partir de situações vivenciadas no local de
observação (sala de aula regular).
A escolha do tema surgiu com base nas experiências observadas durante o período de
estágio, na Escola Maria do Carmo Rebello de Souza, nas quais percebia-se dificuldades
anormais e constantes em determinadas crianças no aprendizado da leitura e escrita, mesmo já
tendo passado pelo processo de alfabetização e receberem reforço do mesmo, posteriormente.
Anexo a esse contexto, observou-se também as limitações didáticas dos docentes para lidar
com essas adversidades, e tampouco identificá-las. O presente trabalho foi realizado no
período de 5 meses, em que foi escolhido e investigado o material bibliográfico, assim como,
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efetuada a pesquisa de campo, sendo elas, de igual modo, essenciais para a construção desta
pesquisa.
Esta pesquisa refere-se a uma investigação elaborada a partir da problemática: "Quais
os desafios da criança disléxica no processo de alfabetização na sala de aula regular?". Afinal,
a dislexia é um tema recente, e logo, pouco compreendido e identificado no ambiente escolar
e na práxis docente. Por isso, geralmente passa despercebida ou até mesmo confunde-se com
preguiça, "burrice" ou falta de interesse/esforço do estudante. Portanto, entende-se que o
conhecimento e a compreensão desse transtorno pelo professor alfabetizador e os demais, é
indispensável para elaboração das possibilidades de aprendizagens na sala de aula, levando
em consideração, as características que a criança apresenta. Em vista disso, a pesquisa
fundamenta-se nas teorias de: Olivier (2007), Silva (2007), Veras (2012), Soares (2012), Silva
(2015), Associação Brasileira de Dislexia (2016), Oliveira (2020), NeuroSaber (2020),
Almeida (2022).
Durante esse período de 5 meses, também foi concretizada a pesquisa de campo na
Escola Maria do Carmo Rebello de Souza, para observar e coletar dados sobre os desafios da
criança disléxica no processo de alfabetização, a partir de experiências e situações vivenciadas
na sala de aula regular por esse público. Foram observados os disléxicos do 1° ao 3° ano do
Ensino Fundamental I - Anos Iniciais, avaliando dados sobre o comportamento deles, mais
especificamente, sua atenção e participação nas aulas, interação com os professores e os
demais alunos, e o inverso. Também analisou-se as metodologias e atividades aplicadas pelo
professor alfabetizador durante as aulas, vendo a maneira como a criança disléxica reagiu à
ação docente e as práticas alfabetizadoras propostas.
Conjuntamente, eram feitas entrevistas (com questionários previamente elaborados)
com os professores alfabetizadores e a pedagoga da escola, para conhecer os projetos e as
práticas pedagógicas executadas no ambiente escolar, as quais atendessem às necessidades do
disléico infantil, como também, ter a compreensão e o posicionamento deles acerca dessa
temática e tudo o que ela envolve, por exemplo, o acompanhamento familiar nesse contexto, o
modo como ele acontece, a relação disléxico-escola-familia e o entendimento da escola sobre
a importância da família para a alfabetização da criança com dislexia.
Após o período de observação e entrevistas, partiu-se para a construção das práticas
pedagógicas, em que levou-se em consideração, todos os subsídios coletados, de modo que, as
atividades realizadas não foram exclusivas à criança disléxica, e sim, com a participação de
toda a sala de aula, a fim de produzir um ambiente inclusivo e acolhedor, e as quais
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possibilitaram a superação dos desafios do disléxico na alfabetização, por meio da interação


com os demais alunos e professores.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica e de campo, juntamente


com a aplicação de uma atividade realizada na Escola Municipal Maria do Carmo Rebello de
Souza, com a participação da professora da turma. Tendo como público principal, a criança
disléxica do 3º ano C do Ensino Fundamental I - Anos Iniciais, do turno vespertino.

Nessa turma continham 32 alunos, sendo 17 meninas e 15 meninos, na faixa etária


entre 9 e 10 anos. Primeiramente, observou-se que apesar da grande interação social entre os
estudantes na sala de aula, a criança disléxica era tímida na participação das atividades
propostas. Por isso, a elaboração dessa prática pedagógica teve como objetivo o envolvimento
de toda a classe como base desse plano de ação.

Para a execução dessa atividade, levou-se o jogo pedagógico: "Passar a Lata''. O qual
continha as letras do alfabeto. No primeiro momento, foi realizado um diálogo com as
crianças sobre os fonemas, esclarecendo-os acerca de suas definições e características. No
segundo momento, os estudantes foram organizados em círculos, sentando-se no chão. Em
seguida, foi cantada a música: “Passa a lata, pela roda sem a roda desmanchar, quem ficar
com a lata, uma letra vai tirar”. A primeira criança retirou a letra B e falou a palavra
"BANANA''. Logo, foi perguntado quantos fonemas haviam nessa palavra e ela respondeu 6,
o qual é correspondente ao número de letras. Na segunda rodada, outra criança retirou a letra
P e optou por associá-la ao seu nome, "PAULO''.

Através da ludicidade da atividade “passar a lata”, despertou-se na criança disléxica o


interesse pela leitura, desenvolvendo sua habilidade fonética na citação das letras
apresentadas. A aula tornou-se agradável e envolvente, com ela sendo participativa, tendo sua
autonomia e empenho estimulados na realização da prática pedagógica proposta. Sendo assim,
compreendeu-se que as práticas com recursos lúdicos despertam mais atenção e geram uma
melhor percepção dos conteúdos, isto é, quando o disléxico observa o objeto em questão,
surgem interesses e curiosidades, tornando o ambiente escolar e a aprendizagem, estímulos
mais desejáveis em seu processo de alfabetização.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O objetivo desse trabalho foi investigar sobre os desafios da criança disléxica no


processo de alfabetização na sala de aula regular. Além disso, esse estudo buscou identificar
através de análises bibliográficas e pesquisa de campo, qual o papel da escola, professores e
família na construção das práticas dessa aprendizagem.

Logo, os desafios identificados foram: dificuldade na escrita, leitura e interpretação de


textos; as metodologias utilizadas pelo professor (sendo muitas, ainda na perspectiva
tradicional); a falta de diagnóstico; baixo acompanhamento familiar na aprendizagem e
contato com a escola; carência de um sistema de métodos e avaliações adaptados às suas
características e habilidades.

Contudo, o maior impasse encontrado no decorrer dessa pesquisa foi compreender a


dimensão do quanto a dislexia está presente e cada vez mais frequente na sala de aula regular,
mostrando-se uma realidade já existente nas dificuldades relacionadas às práticas de leitura e
escrita e ao desenvolvimento socioeducacional da criança, a qual carece de uma conexão
efetiva entre família e escola, uma vez que, a presença da família nas práticas alfabetizadoras,
consolida-se com um investimento valioso no processo de alfabetização do disléxico infantil.

Portanto, devido a essa complexidade sobre o contexto, as causas e consequências da


dislexia na vida de uma criança, os diálogos entre a escola e os familiares devem ser
constantes, baseados numa orientação profissional inteligente, transparente e acolhedora, com
a escola assumindo a sua função mediadora, promovendo esclarecimentos acerca desse
transtorno específico da aprendizagem aos professores e responsáveis, a fim de torná-los mais
qualificados e participativos, respectivamente, na alfabetização das crianças com dislexia.

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19 de outubro de 2022.
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SILVA, Michelle Polyana Assis. COSTA, Victória Gualberto Rufo. Estratégias de Ensino
Componente Curricular Língua Portuguesa para Crianças com Dislexia nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental. publicado na XI mostra científica pedagógica e I
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de 2022. disponivel em: <Vista do ESTRATÉGIAS DE ENSINO DO COMPONENTE
CURRICULAR LÍNGUA PORTUGUESA PARA CRIANÇAS COM DISLEXIA NOS
ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL (unievangelica.edu.br)> acessado em: 16
de outubro de 2022.

SILVA, Jailma Xavier. Dislexia: reflexões sobre o papel da família e da escola. Alagoas,
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acessado em: 19 de setembro de 2022.

SOARES, Magda; Letramento, um tema em três gêneros. 2d. BH: editora autêntica, 2012.

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