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Un iv e r sid a d e d o M in h o

Escola de Direito

Catarina da Silva Arteiro Serra

PG52406

A exposição da im agem da criança nas redes sociais – o problem a do


sharenting

Projeto de Dissertação de Mestrado em Direito das Crianças, Família e Sucessões a


submeter à apreciação do Conselho Científico da Escola de Direito da Universidade
do Minho

Sob a orientação da Professora Maria João Lourenço

Dezembro de 2023
Ín d ic e

1. Apresentação do tema ................................................................................................................ 3

1.1 Enquadramento do problema em análise – sharenting............................................................ 3

1.2 Atualidade e pertinência do tema .................................................................................................. 4

1.3 O desenvolvimento da questão de acordo com a doutrina e jurisprudência ................................................ 5

1.4 Novo regime........................................................................................................................ 6

2. Índice provisório da dissertação...................................................................................................... 7

3. Planificação e calendarização ........................................................................................................ 8

4. Rol de referências provisório.......................................................................................................... 9

2
1. A p r e se n ta ç ã o d o te m a 1

1.1 Enquadramento do problema em análise – sharenting

A palavra sharenting surge da junção dos vocábulos share (partilhar) e parenting (parentalidade),
referindo-se a um hábito que certos progenitores têm vindo a adotar nos últimos tempos, hábito este que
se consubstancia na partilha ativa e constante de imagens e informações sobre os seus filhos nas redes
sociais, assim como fotos, vídeos e detalhes da vida quotidiana destes ou de toda a família2.

Este comportamento é impulsionado pelo desejo que os pais têm em compartilhar momentos e
conquistas dos seus filhos com amigos e familiares, no entanto, esta prática levanta sérias e vareadas
questões relacionadas com a privacidade e segurança das crianças online.

Os filhos estão sujeitos às responsabilidades parentais, sendo estas exercidas pelos progenitores
até à maioridade ou emancipação no interesse dos filhos, nos termos do art.1877.º e 1878.º do Código
Civil (CC). Desta forma, os filhos estão sob o cuidado dos pais, no entanto, estes têm a obrigação de agir
sempre tendo em consideração o superior interesse da criança, princípio basilar do Direito da Família3.

Desde a Convenção sobre os Direitos da Criança esta é vista como um verdadeiro sujeito de
direitos, no entanto, a capacidade de exercer estes direitos está limitada até o menor atingir a maioridade
ou emancipação (art.129.º e 130.º do CC). Desta forma, serão os pais a representar os filhos até estes
terem a plena capacidade de exercerem os seus direitos, enquanto titulares do exercício das
responsabilidades parentais. Sendo que ao exporem os filhos na internet serão os próprios pais a violar
certos direitos dos filhos, direitos estes ditos de personalidade, previstos no art.70.º e seguintes do CC,
nomeadamente o direito à imagem (art.79.º do CC e art.26.º da Constituição da República Portuguesa).

1
O presente projeto de dissertação tem como base um trabalho já realizado no âmbito da Unidade Curricular “A criança e a
família” no presente ano letivo, intitulado de “A exposição da imagem da criança nas redes sociais – o problema do
Sharenting”.
2
CARVALHO, Andreia F. Pereira de, A Criança nas Redes Sociais: Tutela da Personalidade e Responsabilidade Parental na
Divulgação da Imagem, 1.ª edição, Coimbra, Gestlegal, 2021, pp. 62-64.
3
CRUZ, Rossana Martingo, «A criança no (admirável?) mundo novo das redes sociais», in 5.º Congresso Internacional de
Direito na Lusofonia, Direito na Lusofonia. Direito e novas tecnologias, Braga, Escola de Direito da Universidade do Minho -
Centro de Investigação em Justiça e Governação (Jusgov), 2018, p. 452.

3
Desta forma, o sharenting vem introduzir um conjunto de novos desafios e preocupações, uma vez
que os pais necessitam de encontrar um equilíbrio entre o desejo legítimo de compartilhar momentos
significantes com os seus filhos com a necessidade de proteger a sua privacidade e segurança.

1.2 A tu a lid a d e e p e r tin ê n c ia d o te m a

Nos dias de hoje, com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e, por
conseguinte, com a eclosão das redes sociais, os progenitores, titulares do exercício das
responsabilidades parentais, começaram a exibir notoriamente a imagem e a vida privada dos seus filhos.
Ora, é crucial e, acima de tudo, urgente e necessário apreciar a repercussão deste comportamento na
vida das crianças, nomeadamente, o efeito desta extemporânea criação da pegada digital destas
crianças.

Desta forma, a pertinência do sharenting está intrinsecamente ligada ao avanço tecnológico que
permitiu a existência de uma conetividade instantânea e global na sociedade, sendo que, atualmente, os
pais têm a possibilidade e capacidade de documentar e partilhar quase todos os momentos da vida dos
seus filhos. Não obstante, essa partilha levanta sérias questões relacionadas com a privacidade,
segurança e o respetivo impacto a longo prazo na vida das crianças.

A atualidade do tema é evidente na ubiquidade relativa às redes sociais e na influência que estas
exercem na vida quotidiana de quase todas as famílias portuguesas e de todo o mundo. Ora, a exposição
excessiva de informações acerca da infância pode ter implicações significativas, desde a vulnerabilidade
destas crianças a predadores online até questões mais sutis relacionadas com a autonomia e o
consentimento, mais evidente quando estas criança começam a crescer e a perceber o impacto que a
exposição que sofrem pode ter.

Assim, o sharenting não é apenas um fenômeno do momento, mas um tópico fundamental que
necessita de ser falado e desenvolvido, uma vez que este transcende fronteiras culturais e geográficas,
exigindo uma reflexão contínua sobre as práticas do compartilhamento online e as respetivas implicações
para as gerações futuras.

4
1 .3 O d e se n v o lv im e n to d a q u e stã o d e a c o r d o c o m a d o u tr in a e ju r isp r u d ê n c ia

Em Portugal, a jurisprudência ainda está muito aquém do que seria desejado no que concerne
à exposição das crianças nas redes sociais feita pelos próprios progenitores – problema do sharenting.
Este é um problema cada vez mais recorrente na sociedade atual devido à era digital em que vivemos,
sendo que as crianças vêm todos os dias a sua imagem exposta na internet. Relativamente a esta matéria
existe apenas um acórdão, inovador, proferido pelo Tribunal da Relação de Évora, datado de 25 de junho
de 20154, no entanto, o mesmo nunca utilizou expressamente o termo em questão. Neste mesmo
acórdão, o sharenting é reconhecido como um risco sério e real para o desenvolvimento da criança,
sendo que a decisão proferida pelo mesmo Tribunal veio favorecer a proteção da imagem, da privacidade
e da segurança da criança acima da autonomia privada dos pais. Ora, o presente caso surgiu no
desenrolar de um processo de regulação do exercício das responsabilidades parentais, vindo confirmar
a decisão já proferida, corretamente, pela primeira instância. Assim, o Tribunal da Relação veio negar
procedência ao recurso e confirmar a decisão recorrida, no sentido de obrigar os progenitores a
absterem-se de partilhar e expor imagens nas redes sociais relativamente à filha de ambos. Ademais, o
Tribunal da Relação veio proferir as seguintes palavras: “(…) é uma obrigação dos pais, tão natural
quanto a de garantir o sustento, a saúde e a educação dos filhos e o respeito pelos demais direitos
designadamente o direito à imagem e à reserva da vida privada”, pois “os filhos não são coisas ou objetos
pertencentes aos pais e de que estes podem dispor a seu belo prazer”.

Apesar de existir um acórdão sobre a questão, a verdade é que o tema ainda não foi muito
desenvolvido pela jurisprudência. É imperioso saber o que fazer nestas situações por forma a que o
direito das crianças seja protegido e salvaguardado. Ademais, é necessário dar resposta a certas
questões pertinentes neste contexto e que ainda não têm uma resposta concreta.
No que toca à doutrina, já algumas pessoas vieram escrever sobre esta questão, suscitando a
pertinência do tema e a falta de uma consequência concreta para este comportamento, no entanto, este
dilema acaba por ser muito recente e ainda não contém uma doutrina maioritária. Ora, o entendimento
e a abordagem legal a este fenómeno varia significativamente de país para país, consoante a lei de cada
país atribua maior ou menor importância aos direitos de personalidade e ao reconhecimento da criança
como um sujeito de direitos.

Acórdão do Tribunal da Relação de Évora, de 25.12.2015, processo nº 789/13.7TMSTB-B.E1, disponível em


4

Acórdão do Tribunal da Relação de Évora (dgsi.pt) [13.12.2023].

5
Neste seguimento, Rossana Martingo Cruz foi uma das pessoas que já se pronunciou sobre o
tema em análise defendendo que “No caso da disposição do direito à imagem entendemos que apenas
se se revelar do interesse da criança deve essa imagem ser tornada pública ou divulgada. Não se
vislumbra o interesse que o menor possa ter em que a sua imagem seja amplamente divulgada nas
redes sociais”5. Ademais, também Andreia Carvalho escreveu sobre o tema referindo que “Ao passo que
os adultos têm a faculdade de fixar os seus próprios parâmetros quanto à partilha de informação pessoal
no mundo virtual, às crianças não é facultada essa possibilidade de controlo da sua pegada digital, a
menos que existam limites à atuação dos pais6”.

1.4 Novo regime

Deste modo, aparenta existir uma inatividade legislativa relativamente a este tema por parte do ordenamento
jurídico português, uma vez que o mesmo não tem escoltado as evoluções da sociedade contemporânea e os novos desafios
trazidos com o surgimento e desenvolvimento das redes sociais na vida das famílias.
Assim, consideramos, tendo apenas como fundamento uma visão geral e superficial do tema, que é necessária
uma urgente intervenção e resposta, pelo que será extremamente relevante incidirmos sobre esta temática. Portanto, será
útil refletir e desenvolver um novo regime, regime este que compatibilize os direitos da criança e a celebração da vida
familiar.
Assim sendo, comprometemo-nos a investigar e aprofundar esta problemática, por forma a encontrar uma
harmonia apropriada aos interesses e direitos em questão, tendo sempre como base um ponto de vista informado e
atualizado, nomeadamente quanto aos direitos e princípios fundamentais pertinentes, assim como os contributos já
realizados neste âmbito. Ademais, propomo-nos responder às seguintes questões:
− No âmbito das responsabilidades parentais, é legítimo os pais exporem a imagem dos seus filhos
nas redes sociais?
− Quais são as consequências desse comportamento?
− É aqui tido em conta o superior interesse da criança, princípio basilar do Direito da Família?
− Haverá um regime legislativo efetivo para resolver a violação do direito de imagem da crianç

5
CRUZ, Rossana Martingo, «A criança no (admirável?) mundo novo das redes sociais», in 5.º Congresso Internacional de
Direito na Lusofonia, Direito na Lusofonia. Direito e novas tecnologias, Braga, Escola de Direito da Universidade do Minho -
Centro de Investigação em Justiça e Governação (Jusgov), 2018, p. 457.
6
CARVALHO, Andreia F. Pereira de, A Criança nas Redes Sociais: Tutela da Personalidade e Responsabilidade Parental na
Divulgação da Imagem, 1.ª edição, Coimbra, Gestlegal, 2021, p. 66.

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2. Ín d ic e p r o v isó r io d a d isse r ta ç ã o

P a r te I – C o n sid e r a ç õ e s in ic ia is

P a r te II – C o n c e ito s b á sic o s in tr o d u tó r io s
1. As responsabilidades parentais
2. Os direitos da criança
2.1 A criança como sujeito de direitos
2.2 O direito à imagem
2.3 O direito à reserva da vida privada

P a r te III – R e fle x ã o so b r e o d e se n v o lv im e n to d a s r e d e s so c ia is n a v id a d a s c r ia n ç a s
1. Os principais perigos das redes sociais
2. A exposição do menor nas redes sociais

P a r te IV – O su r g im e n to d o sha re nting
1. O problema do sharenting
2. Primeiros reflexos na jurisprudência

P a r te V – C o n sid e r a ç õ e s so b r e u m a p o ssív e l so lu ç ã o

P a r te V I – C o n sid e r a ç õ e s fin a is

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3. P la n ific a ç ã o e c a le n d a r iz a ç ã o
Inicialmente, iremos analisar a literatura científica relacionada com os temas em questão,
abrangendo exposições académicas de autoria nacional disponível em fontes secundárias. Tanto o
Código Civil como a Convenção sobre os Direitos da Criança serão instrumentos normativos nacionais e
internacionais importantíssimos por forma a alcançar os objetivos pretendidos. Deste modo, nesta fase,
será importante não apenas examinar elementos jurídicos, mas também explorar elementos sociológicos
relevantes, dado o contexto sociológico da questão. Por fim, procederemos à coleta de jurisprudência
relevante e pertinente á questão em análise.

Já numa segunda fase, examinaremos dignamente todos os dados e elementos reunidos na


etapa anterior visando compreender o contexto sociológico da questão, assim como o seu surgimento
na atualidade. Neste seguimento, procuraremos formular possibilidades e apresentar conclusões ou
propostas com o objetivo de encontrar a resposta mais razoável para o problema em estudo.
Posteriormente, passaremos à produção escrita por forma a desenvolver o texto onde conterá as ilações
explicações e desenlaces obtidos por conta da investigação realizada.

Ora, todo trabalho desenvolvido será escoltado pelo orientador através de diversas reuniões ao
longo do tempo circunscrito à elaboração da dissertação, sendo estas mais incisivas no momento da
escriva da mesma.

Sendo que a calendarização dos trabalhos será realizada da seguinte forma:

Set Ou t No v De z Jan Fev Mar A br Mai Jun Jul Set


F a se d e
p e sq u isa X X X
F a se d e
tr a ta m e n to X X X X
F a se d e
redaç ão X X X X X X
R e u n iõ e s
com o
X X X X X X
o r ie n ta d o r

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4. R o l d e r e fe r ê n c ia s p r o v isó r io

Referências Bibliográficas:

ANTUNES, Ana Filipa Morais, Comentário aos artigos 70º a 81º do Código Civil (Direitos de
Personalidade), Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 2012.

BARBOSA, Mafalda Miranda, «Podem os pais publicar fotografias dos filhos menores nas redes
sociais? Acórdão do Tribunal da Relação de Évora, 25 de junho de 2015», Ab Instantia (Revista do
Instituto do Conhecimento AB), n.º 5, ano III, 2015.
CAMPOS, Diogo Leite de, «Lições de Direitos da Personalidade», Boletim da Faculdade de Direito,
vol. LXVII, 1991.
CARVALHO, Andreia F. Pereira de, A Criança nas Redes Sociais: Tutela da Personalidade e
Responsabilidade Parental na Divulgação da Imagem, 1.ª edição, Coimbra, Gestlegal, 2021.

CECÍLIO, Tiago, MOREIRA, Teresa Coelho e SANTOS, Alexandre, «A protecção dos menores na
sociedade de informação: desafios criados pelas redes sociais», Scientia Ivridica, tomo LXV, n.º 341,
2016.
CRUZ, Rossana Martingo, «A criança no (admirável?) mundo novo das redes sociais», in 5.º
Congresso Internacional de Direito na Lusofonia, Direito na Lusofonia. Direito e novas tecnologias, Braga,
Escola de Direito da Universidade do Minho - Centro de Investigação em Justiça e Governação (Jusgov),
2018.

CRUZ, Rossana Martingo, «A divulgação da imagem do filho menor nas redes sociais e o superior
interesse da criança», in IV Colóquio Luso-Brasileiro Direito e Informação, Direito e Informação na
Sociedade em rede: Atas, Porto, Faculdade de Direito da Universidade do Porto, 2016,

HÖRSTER, Heinrich Ewald, A parte Geral do Código Civil Português – Teoria Geral do Direito Civil,
Coimbra, Almedina, 1992.

MOREIRA, Sónia, «A responsabilidade dos pais pela violação do direito à imagem dos filhos», in
Atas das Jornadas Internacionais “Igualdade e Responsabilidade nas Relações Familiares”, Braga, Escola
de Direito da Universidade do Minho - Centro de Investigação em Justiça e Governação (Jusgov), 2020.

OLIVEIRA, Guilherme de, «Protecção de Menores/ Protecção Familiar», in Temas de Direito da


Família, Coimbra, Coimbra Editora, 1999.

9
SOUSA, Rabindranath Capelo de, O direito geral de personalidade, Coimbra, Coimbra Editora,
1995.

SOUSA, Rabindranath Capelo de,Teoria Geral do Direito Civil, vol. I, Coimbra, Coimbra Editora,
2003.

Acórdão do Tribunal da Relação de Évora, de 25.12.2015, processo nº 789/13.7TMSTB-B.E1,


disponível em Acórdão do Tribunal da Relação de Évora (dgsi.pt) [13.12.2023].
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 02.05.2017, processo nº 1123/10.3T2AMD-
A.L1-6, disponível em Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (dgsi.pt) [13.12.2023].

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