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Conteúdo
Introdução....................................................................................................................2
Contextualização.........................................................................................................4
Escrita Queiroziana......................................................................................................5
Simbologia...................................................................................................................5
Hipocrisia.....................................................................................................................7
Componente Epistolar.................................................................................................9
As três versões.............................................................................................................9
Conclusão...................................................................................................................13
Bibliografia.................................................................................................................14
Eça de Queiroz foi dos autores com maior importância para a literatura portuguesa,
deixando como herança grandes clássicos, não só O Crime do Padre Amaro, como
também Os Maias, A Cidade e as Serras, entre outros. Trazendo e desenvolvendo um
novo estilo literário, o realismo. É nesse parâmetro que se inicia este trabalho, ou seja,
vou fazer uma breve contextualização de como surge o realismo, e de que forma Eça o
aplica. De seguida, irei desenvolver a questão do simbólico, onde se observa que
certos nomes e locais não são ao acaso. Também irei debruçar-me na hipocrisia
espelhada pelo autor, por parte do clero. Sendo esta, das maiores obras anticlericais
até hoje escritas. Ao longo do trabalho algumas características, da escrita de Eça, serão
mencionadas, sendo que resolvi enfatizar a componente epistolar. Finalizando, com a
evolução do próprio texto, pois o escritor foi aperfeiçoando-o, ao longo das três
primeiras edições.
Contextualização
O realismo é uma corrente artístico-literária que surge em França, em 1857, através
das mãos de Gustave Flaubert, com a sua obra Madame Bovary. Este género, vem
confrontar e contrariar, até então, o Romantismo, grande corrente do século XIX. Se os
autores românticos eram excessivos no modo de expor os sentimentos, os realistas
defendiam uma nova arte que procurasse trazer a anatomia do carácter e descrever e
provocar sentimentos verdadeiros e emoções reais aos leitores.
Escrita Queiroziana
Por Eça de Queiroz ter vivido alguns anos em Inglaterra e em França, devido à sua
carreira diplomática, começa a introduzir uma série de neologismos e estrangeirismos
ingleses e franceses, enriquecendo assim a língua portuguesa.
Simbologia
Podemos comprovar a existência da questão do simbólico presente n’O Crime do
Padre Amaro. Em alguns momentos, a simbologia é facilmente interpretada, como por
exemplo, o facto da história ser passada em Leiria, pois a obra foi idealizada entre
1871 e 1872, altura em que Eça de Queiroz desempenhava a função de administrador
do concelho na mesma cidade. A simbologia está presente não só nos locais
mencionados, mas também em nomes, como os dos protagonistas. Amélia e Amaro.
“revolvia-se sem dormir e, no fundo das suas imaginações e dos seus sonhos, ardia,
como uma braza silenciosa, o desejo da Mulher.
Na sua cella havia uma imagem da Virgem coroada de estrelas, pousada sobre a
esphera, com o olhar errante pela luz immortal, (…) ficando a contemplar a
lithographia, esquecia a santidade da Virgem, via apenas diante de si uma linda
moça loura; amava-a; suspirava; despindo-se olhava-a de revez lubricamente; e
mesmo a sua curiosidade ousava erguer as pregas castas da tunica azul da imagem
e suppôr fórmas, redondezas, uma carne branca…”
Hipocrisia
Eça de Queiroz, ao longo da sua obra, vai mencionando a hipocrisia do clero, tanto a
nível dos membros como da instituição, por vezes, o manifesto é evidenciado de forma
mais passiva, no caso de determinadas ações, por outras, de forma mais ativa, quando
esta está presente nas falas das personagens. Considerei que existem três momentos
de maior importância e que devem de ser destacados.
- Muita obreza por aqui, muita pobreza! dizia o bom abbade. Ó Dias, mais
este bocadinho da aza! (…)
- Então que diabo querias tu que elles comessem? exclamou o conego Dias
lambendo os dedos depois de ter esburgado a aza do capão. (…)
O excerto acima representado, revela uma colossal hipocrisia por parte dos padres.
Esta, começa por estarem a cometer um dos sete pecados mortais, o pecado da gula,
pois encontram-se perante um farto e excessivo almoço. De seguida, o confronto entre
o mendigo que passa fome e que leva somente uma broa, enquanto existe uma mesa
repleta de comer, ilustra uma crueldade, uma injusta e uma discrepância e
desigualdade entre classes, sobretudo, pela a ação ser representada no domínio
eclesiástico, pois choca com os valores apregoados pela igreja, o que vai de encontro
com o facto de considerarem importante a existência de pobreza na sociedade. Pode-
se atentar como um reconhecimento, por parte dos padres, de que necessitam que
- Pois o senhor toma a confissão a sério? (…) O que eu quero dizer é que
é um meio de persuasão, de saber o que se passa, de dirigir o rebanho
para aqui ou para alli…”
- Ahi é que está o mal, disse Amaro, é que nos não respeitam! Não
fazem senão desacreditar-nos (…)
Componente Epistolar
Outra grande característica de Eça de Queiroz, e do realismo, é a componente
epistolar, fortemente presente e divulgada nas suas obras, e O Crime do Padre Amaro
não é exceção. A carta, no século XIX, tem uma particularidade muito própria, é um
meio privilegiado para que exista intimidade. Ao longo do texto, é nos divulgado cerca
de cinco cartas. Estas, permitem que o leitor entre na intimidade das personagens,
sem que se esconda nada do lente, e assim, que se deixe enredar pela história.
Exemplo de uma dessas cartas é a de Amélia a João Eduardo, para findar o noivado:
O que estava decidido a respeito do nosso casamento era na persuasão que era V.
S.ª uma pessoa de bem e que me poderia fazer feliz; mas como se sabe tudo, e que
foi o senhor que escreveu o artigo do Districto, e calumniou os amigos da casa e me
insultou a mim, e como os seus costumes não me dão garantia de felicidade na vida
de casada, deve desde hoje considerar tudo acabado entre nós, pois não ha banhos
publicados nem despezas feitas. E eu espero, bem como a mamã, qué o senhor seja
bastante delicado para não nos voltar a casa, nem perseguir-nos na rua. O que tudo
lhe comunico por ordem da mamã, e sou criada de V. S.ª
Amelia Caminha”
As três versões
É curioso ver que a versão atualmente conhecida de O Crime do Padre Amaro, não
corresponde à primeira versão. A obra foi sempre alterada ao longo das três primeiras
edições, estas em 1875, 1876 e 1880. Ao longo da leitura das três primeiras edições,
A personagem principal, o Padre Amaro Vieira, sofre uma grande mudança, quase
radical, a nível de carácter. Se nas duas primeiras versões é descrito como apaixonado,
revelando timidez e aspectos carinhosos, quase cândidos, que leva o lente a ter
alguma compaixão pelo mesmo, já na versão final é sedutor, tendo essa consciência, e
apresenta uma personalidade sem escrúpulos, passando bruscamente da candura
inicial a um ser desprezível. Também nesta, o nível de corrupção, de cinismo e de
luxúria aumenta, em Amaro. Através de pequenos pormenores, podemos ir vendo as
diferenças ao longo da evolução das edições.
Apesar de ser mais curta, a primeira versão da história exerce uma maior intensidade e
força na relação sexual dos protagonistas e, talvez, exista uma maior acentuação na
manifestação carnal como lei da natureza humana, sendo quase impossível de
As próprias técnicas narrativas vão sofrendo evolução, pois numa primeira fase existia
uma relação mais vincada e explicita entre o narrador e o leitor, esta é contada na
terceira pessoa e o narrador tem necessidade de ir comentando e explicando a
narrativa, o que já não acontece com tanta frequência e proximidade nas versões
posteriores.
É no final que existe a grande mudança e distinção das versões. Se na primeira versão,
Amélia e Amaro são pais de uma menina, na segunda e na terceira existe a alteração
do sexo, passando a um rapaz. Este fator, pode ser explicado por o autor querer evitar
um certo paralelismo entre a história e a sua própria vida, pois análises indicam que as
figuras de Amaro e Amélia são espelhadas, parcialmente, pelo pai e pela mãe de Eça.
Também existe, uma mudança abrupta em relação ao final do filho de ambos. Se na
primeira e segunda edição, é o padre Amaro que comete infanticídio, ao atirar o filho
para um ribeiro, na terceira edição o infanticídio é cometido indiretamente, pois
Amaro entrega-o a uma ama, que tem a reputação de matar as crianças, apesar de
este refletir um ligeiro arrependimento, sendo demasiado tarde para o ter.
No fundo, pode-se observar que a primeira edição é mais crua e simples, até na
imagem transmitida de um clero mais corrupto; e existe uma evolução no conteúdo,
por exemplo, a conversa que demonstra uma certa inocência de Amaro, em confronto
com os maus costumes dos restantes padres, é transferida do quarto do pároco – na
primeira edição - para o episódio do jantar em casa do abade – na versão final. Mas
não só, o progresso também se sucede nas ideias, na forma de escrita e na
A história, é uma forte crítica à igreja, e respetivos membros, onde o autor ataca as
perversões da devoção e do meio eclesiástico, a falta de vocação de alguns padres e a
decadência da instituição católica, esta que foi perdendo força no período oitocentista.
No fundo, Eça tem o intuito de abalar os alicerces da sociedade.
É curioso saber, a forma como a narrativa foi evoluindo, e quais foram as alterações
para o escritor chegar à perfeição da mesma. A escrita queiroziana está repleta de
particularidades, fazendo a distinção entre outros autores. Entre as diversas
características, existe a questão simbólica e a componente epistolar.
De importante salientar, mais uma vez, que o objetivo de Eça de Queiroz, face à época,
é incitar o pensamento, de forma a alterar as mentalidades, transmitindo sempre uma
mensagem, como podemos constatar, por exemplo, com a hipocrisia, ou ainda melhor,
através do último pano de fundo da trama, o Largo de Camões, em Lisboa,
estimulando uma visão mais atenta e preocupada do romancista como observador da
sociedade.
Outras informações:
- Apontamentos de aula
- http://purl.pt/226/4/l-41873-p_PDF/l-41873-p_PDF_24-C-R0150/l-41873-
p_0000_capa-capa_t24-C-R0150.pdf
- https://www.culturagenial.com/livro-o-crime-do-padre-amaro-de-eca-de-queiros/
- https://www.infoescola.com/literatura/escritores-do-realismo-portugues/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/E%C3%A7a_de_Queiroz
- http://valiteratura.blogspot.com/2011/08/o-crime-do-pe-amaro-1875-eca-de-
queiros.html
- http://www.ufjf.br/revistaipotesi/files/2011/05/CAP06-77-90.pdf
- https://www.publico.pt/2002/11/26/jornal/o-crime-do-padre-amaro-o-livro-e-o-
filme-176923
-
https://content.gulbenkian.pt/wp-content/uploads/2018/12/04154128/01_Newsletter
FCG_204_web.pdf