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Os Heróis: Importância e Culto

(Por A.Demétrios H.S.R. dirigente do thíasos Hierokrithari)

A hierarquia divina na religião helênica, em síntese é: no topo os Theoi, os deuses


propriamente ditos, o panteão olímpico especialmente, entre outros. Em seguida, os
Daimones, divindades menores, por exemplo, as ninfas e sua rica diversidade. Logo, os
Heróis e Heroínas e por fim os ancestrais. A diferença entre deuses e daimones, no culto,
muitas vezes é pouco nítida, ambas classes divinas são amplamente respeitadas e
veneradas.

Definição sintética de Herói/Heroína: um morto poderoso, cujo culto é ctônico e


aparentado ao rendido aos ancestrais, de cunho funerário. A heroicização é sempre após a
morte. O herói foi um mortal que exerceu grande impressão no povo, é portador de
qualidade extraordinária (força, beleza, astúcia, piedade, etc). Ou também, Possuidor de
“algo imprevisível e sinistro que fica para trás, mas está sempre presente”, como diz Walter
Burkert. Segundo os estudiosos, o culto heróico aparece sob influência da poesia e com o
desenvolvimento da pólis.

Ao contrário dos deuses, os heróis possuem caráter territorial, pertencem a uma


comunidade, por vezes é seu ancestral fundador. É considerado símbolo de identidade local
de grupo. Ele recebe suas honrarias em seu túmulo, onde em tese habitam seus restos
mortais e dali exerce funções guardiãs sobre o território ou nocivas, conforme caráter. Na
História de Heródoto contam-se casos de heróis que surgem no campo de batalha para
auxiliar seus compatriotas.

Os semideuses, frutos da união de deuses e mortais, e quase todos os personagens


da epopéia homérica são considerados heróis e heroínas. Alguns de fato se tornaram
deuses, cuja apoteose é narrada pelos mitos, a exemplo de Héracles. E ainda assim, no
caso dele, recebia culto enquanto deus e herói, separadamente.
Existem paralelos entre o culto heróico e o dos santos da Igreja católica: suas
tumbas são sagradas e dali exercem seu poder. Contudo, os heróis gregos não dependem
de virtudes morais, e sim de qualquer outra grande característica que apresentou em
vida,como já explicado acima.

Em princípio, seu culto é do tipo ctônico, mas suas honrarias pouco diferem das dos
Theoi celestes. Deles se espera tanto males, quanto benefícios, assim como dos deuses.
Alguns heróis recebem culto mais para serem apaziguados e não lançarem castigos do que
propriamente se estabelecer uma amizade fundada na Kháris (reciprocidade). Eles podiam
receber sacrifício animal, ofertas de alimentos diversos, libações. Banquetes em sua honra
eram comuns, e frequentemente eram representados reclinados durante a refeição.

Enagisma é um termo corrente que designa o sacrifício aos mortos e aos heróis,
mas estudiosos apontam que para estes últimos o uso dessa palavra não há registros antes
do século 2 A.E.C. “Enagizein” se refere a consagrar por inteiro as oferendas, abandonar
por completo à divindade. Este é um contraste em relação ao sacrifício normalmente
dirigido aos Olimpianos, onde uma parte do sacrifício pode ser consumida pelos
celebrantes. E, ainda, Enagisma, podia ser oferecido também aos deuses celestes, a
depender do intuito.

Na época arcaica, os fundadores de colônias recebem culto heróico. Na época


clássica, a heroicização é rara, porém,no período helenístico, torna-se quase que uma
rotina.

Referências Bibliográficas

Burket, Walter. A Religião grega na época clássica e arcaica. Fundação Calouste


Gulbenkian, 1993.
Coulanges, Foustel de. A Cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito e as
instituições da Grécia e Roma. São Paulo/Bauru: Edipro, 2009.
Vernant, Jean-Pierre. “Mito e Religião na Grécia Antiga”. Tradução de Joana
Angélica DÁvila Melo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2006.
Zaidman, Louise Bruit. Os gregos e seus deuses. Tradução de Mariana Paolozzi
Sérvulo da Cunha. São Paulo: Edições Loyola, 2010.

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