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RESUMO
No ano de 2018 a eleição do governo Bolsonaro afirmou um tempo de incertezas e
crise para a democracia em solo nacional. A polarização entre esquerda e direita se
fazia como a base de sustentação da democracia, porém, o que era uma discuta
política e ideológica tornou uma guerra, em que a oposição era considerada como
verdadeiros inimigos. Diante disso, o artigo tem por objetivo refletir sobre a teoria do
atualismo e a crise na democracia apresentada pela sociedade contemporânea.
Para a realização do artigo foi utilizado o procedimento metodológico da revisão
bibliográfica com abordagem qualitativa, em que autores como: Araújo e Pereira
(2019/2020), Nobre (2020), Bauman (2007), entre outros, foram consultados. Com a
pesquisa foi possível compreender que a crise na democracia é resultado da guerra
impulsionada por governos autoritários que não respeitam a liberdade de expressão
da mídia, utilizam-se de fake news para legitimar ideários sem fundamentos
científicos, ignoram o bem-estar e saúde social para manter jogos políticos, além de
incentivarem verdadeiras guerras entre oposições políticas.
ABSTRACT
In 2018, the election of the Bolsonaro government declared a time of uncertainty and
crisis for democracy on national soil. The polarization between left and right was
made as the basis for sustaining democracy, however, what was a political and
ideological debate turned into a war, in which the opposition was considered as real
enemies. Therefore, the article aims to reflect on the theory of actualism and the
crisis in democracy presented by contemporary society. To carry out the article, the
methodological procedure of bibliographic review with a qualitative approach was
used, in which authors such as: Araújo and Pereira (2019/2020), Nobre (2020),
Bauman (2007), among others, were consulted. With the research it was possible to
understand that the crisis in democracy is a result of the war driven by authoritarian
governments that do not respect the freedom of expression of the media, use fake
news to legitimize ideas without scientific foundations, ignore the welfare and social
health to maintain political games, in addition to encouraging real wars between
political oppositions.
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Universidade Federal de Ouro Preto, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Mariana, MG, Brasil
Matrícula: 16.2.37.50 felipe.correa@aluno.ufop.edu.br
1 INTRODUÇÃO
Após a Revolução Industrial e a sociedade produtora, houve a transformação
para a sociedade do consumo, em que, tanto as mercadorias quanto as pessoas
passaram a serem consideradas obsoletas se não passassem por constantes
atualizações. Dessa forma, a teoria do atualismo compreende que diante da
dinâmica contemporânea, principalmente advinda da Revolução Tecnológica e
globalização, a temporalidade e a narrativa histórica sofreram grandes alterações
em sua concepção.
As relações sociais foram modificadas a partir do avanço tecnológico que
proporcionou uma maior conectividade ao mesmo passo que impactou em um maior
isolamento. Esse fato demonstra a negatividade da globalização e a informação e
conhecimento como novo produto do capitalismo contemporâneo, no sentido de que
as informações criam e se recriam em uma velocidade quase instantânea, porém,
sem preocupações em sua veracidade, configurando uma grande dispersão de
ideais.
Diante disso, o presente artigo pretende responder o seguinte
questionamento: qual é a ligação entre o atualismo e a crise da democracia
vivenciada pela sociedade contemporânea? O objetivo geral do trabalho é refletir
sobre a teoria do atualismo e a crise na democracia apresentada pela sociedade
contemporânea. Os objetivos específicos são: apresentar o conceito de atualismo;
descrever a concepção de democracia e analisar o fenômeno do autoritarismo
propagado pelo atualismo e sua ligação com a crise da democracia.
A escolha do tema se faz relevante e atual como forma de contribuir para que
haja a reflexão sobre a ameaça da democracia por governos autoritários que se
afirmam na ideia do atualismo, ferindo direitos fundamentais e liberdades de
expressão, bem como, atentando contra os princípios das Instituições que garantem
a prática democrática na sociedade.
Para a realização do artigo foi utilizado o procedimento metodológico da
revisão bibliográfica com abordagem qualitativa, em que autores como: Araújo e
Pereira (2019/2020), Nobre (2020), Bauman (2007), entre outros, foram consultados.
No primeiro tópico é abordado o conceito de atualismo, no segundo tópico se faz um
breve histórico da democracia e descreve-se o seu conceito, no terceiro tópico
analisa-se a crise da democracia sob a luz da teoria atualista.
2 O CONCEITO DE ATUALISMO
O conceito de Atualismo se refere a uma nova teoria para a história que
representa a aceleração da experiência do tempo presente, demandando uma nova
organização e respostas as questões contemporâneas. A partir da identificação de
termos como update e updatism, Araújo e Pereira (2019) explicam a articulação do
passado e presente para o historiador contemporâneo, que vê o conceito de
progresso substituído pelo de atualização.
Foi a partir da cultura de consumo e obsolescência disseminada pelo avanço
industrial a partir da década de 1970 que a ideia de atualização passou a vigorar na
sociedade ocidental, com a perspectiva de avanços tecnológicos e científicos, a
narrativa histórica e a noção de temporalidade foram, profundamente, alteradas: “O
que chamamos atualismo é o crescimento vertiginoso de certa acepção da
possibilidade humana de se relacionar com o tempo histórico como atualização
repetidora” (PEREIRA; ARAÚJO, 2020).
Bauman (2007) afirmara que a modernidade estava caracterizada pela troca
de liberdades individuais por segurança, sendo, então, os indivíduos, submetidos a
ordem, repressão e regulações do prazer. Dessa forma, a estabilidade em todas as
esferas da vida social, fazia com que as pessoas admitissem algum autoritarismo do
Estado.
Já para a sociedade contemporânea é notado a forte característica da fluidez
e do individualismo, em que se cria o pensamento de que a felicidade é
responsabilidade individual em sua busca, o que confere maior liberdade, mas,
também, responsabilidade pelos atos individuais. Baunam (2007), então, afirma que
a sociedade pós-moderna é líquida pois é permeada de incertezas quanto ao futuro,
o que gera angústia ao saber que a dinâmica das rápidas transformações é a única
coisa permanente:
Para que haja a compreensão do impacto das redes sociais na esfera política
e na crise da democracia é importante notar como a esquerda e a direita vem sendo
representada na base atualista. Para tanto, Araújo e Pereira (2020) exemplificam a
questão caracterizando a direita obsoleta como um motorista de aplicativo que
defende moldes sociais tradicionalistas e a esquerda obsoleta como um líder sindical
que luta por direitos sociais, o que eles têm em comum é o cultivo da nostalgia. Já o
defensor da direita atualista é caracterizado como um empreendedor inovador que
atuam alimentados pela alta tecnologia e competitividade que podem substitui-lo a
qualquer momento: “Esses atualizados são igualmente a inteligência do atualismo,
que, em revistas, redes sociais, tvs e palestras, segregam diariamente a doutrina da
atualização e suas promessas” (ARAÚJO; PEREIRA, 2020, p.132).
Os atualistas da direita vendem o discurso da automatização de todos os
serviços, inclusive os do governo, eliminando os funcionários públicos e o sindicato,
o que favorece os capitalistas da vigilância. Anunciam que as tecnologias eliminaram
as profissões que são atualmente conhecidas e que o caminho da “evolução” é
inevitável, dessa forma, ao passo que agregam o discurso tecnológico destroem os
meios de política e democracia: “A questão é que o fim do governo sonhado pelos
atualizados de direita é o fim da política e da democracia, por isso poderiam não se
sentir ameaçados pelo obscurantismo bolsonarista” (ARAÚJO; PEREIRA, 2020,
p.134).
Já para os atualizados da esquerda o apocalipse se apresentou na forma da
eleição do Bolsonaro, porém, mesmo que caminhando pelas ondas da atualização
compreendem que precisam lutar contra as tendencias de automatização do
capitalismo atualista, o que os aproxima do tradicionalismo da esquerda.
Araújo e Pereira (2020), nesse contexto, enfatiza que o poder das redes
sociais se mostrou contra a esquerda que não conseguiu se articular entre obsoletos
e atualizados, já a direita se articulou rapidamente entre obsoletos e atualizados em
um discurso tecnológico e de automatização que reuniu elementos de uma
fantasiosa nostalgia, ao mesmo passo que um futuro de progresso promissor.
Cada vida que perdemos traz a dúvida inevitável: será que essa morte
poderia ter sido evitada se não fosse a irresponsabilidade e a
desumanidade de Bolsonaro com a população de seu próprio país? A raiva
desmesurada que desperta o escárnio presidencial pela vida precisa
encontrar a sua devida canalização institucional democrática, não pode
transbordar no desejo de morte que seria, no fundo, uma confirmação da
cultura bolsonarista (NOBRE, 2020, p.55).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Valdei Lopes de; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Vozes sobre
Bolsonaro: Esquerda e Direita em tempo atualista. In: KLEN, Bruna S.; ARAÚJO,
Valdei Lopes de; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria (orgs.). Do fake ao fato:
(des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Milfontes, 2020.
DURKEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. 2ª. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.