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Termos Integrantes

GR0545 - (Fuvest) MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa
vassoura como tua mãe!
A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando
madrugar iremos procurar.
OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu
conheço o burro...
MACÁRIO: E minha mala?
A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...
MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma
cadeira no chão)
O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?
MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...
O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o
chamareis...
MACÁRIO: Porém a raiva...
Contribui para o efeito de humor da tirinha [...]
a) a pergunta retórica feita no primeiro quadrinho. O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia.
Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de
b) a palavra "dinheiro" empregada em sentido conotativo
vinho?
no segundo quadrinho.
MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma
c) o emprego de pleonasmo no terceiro quadrinho. perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...
d) a antítese entre "poemas" e "dinheiro" no terceiro O DESCONHECIDO: Fumais?
quadrinho. MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a
e) o acréscimo do complemento nominal "ao dinheiro" viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher
no terceiro quadrinho. – não me pergunteis se fumo!
[...]

GR0296 -
MACÁRIO: E vós?
(Unesp) O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro
Trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo. cachimbo e fuma)
MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem.
casa! Vosso nome?
UMA VOZ (de fora): Senhor! O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?
MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte
aqui... primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso,
A VOZ: O burro? talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só:
MACÁRIO: A mala, burro! amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres
A VOZ: A mala com o burro? e odeio o romantismo.
MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam
burro na cerca. a mão)
A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro? MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de
MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro. um poema, mais de um beijo que do soneto mais
A VOZ: Um moço que parece estudante? harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar
MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala. sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente
A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é
pé? sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer
morrer de sono.

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O DESCONHECIDO: E a poesia? aqui também: a pandemia de Covid-19 deveria tornar
MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só ainda mais urgente o combate à outra pandemia, a de
pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em obesidade.
moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de O excesso de peso, por si só, já é um fator de
taverna que não tenha esse vintém azinhavrado 1. risco importante para o agravamento da infecção pelo
Entendeis-me? Sars-CoV 2, como lembram os autores. A probabilidade
O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular de uma pessoa com obesidade severa morrer de Covid-
tornou- se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para 19 chega a ser 27% maior do que a de indivíduos com
o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém... obesidade grau 1, isto é, com um índice de massa
(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.) corporal entre 30 e 34,9 quilos por metro quadrado, de
acordo com a plataforma de registros OpenSAFELY.
1 azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor O editorial cita uma série de outros dados e
verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou possíveis razões para a associação entre a má evolução
latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao de certos casos de Covid-19 e a obesidade. No entanto, o
ar úmido). que mais destaca é o ambiente obesogênico que o novo
coronavírus encontrou no planeta.
“MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma Nos Estados Unidos e no Reino Unido, para citar
aqui...” Na oração em que está inserido, o termo dois exemplos, entre 65% e 70% da população
sublinhado é um verbo que pede apresentam um peso maior do que o recomendado para
o bem da saúde. E, assim, os autores apontam o dedo
a) objeto direto, expresso pelo vocábulo “mala”, e objeto
para a indústria de alimentos que, em sua opinião, em
indireto, expresso pelo vocábulo “ma”. todo o globo não parou de promover produtos
b) apenas objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”. ultraprocessados, com muito açúcar, uma quantidade
c) apenas objeto direto, expresso pelo vocábulo “ma”. excessiva de sódio e gorduras além da conta.
d) objeto direto, expresso pelo vocábulo “burro”, e A crítica do editorial é mesmo cortante: “Fica
objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”. claro que a indústria de alimentos divide a culpa não
e) objeto direto e objeto indireto, ambos expressos pelo apenas pela pandemia de obesidade como pelos casos
vocábulo “ma”. mais graves de Covid-19 e suas consequências
devastadoras”, está escrito.
E os autores cobram medidas, lembrando que o
GR0175 - (Eear)
confinamento exigido pela Covid-19 aparentemente
piorou o estado nutricional das pessoas, em parte pela
Relacione as colunas e, em seguida, assinale a alternativa
falta de acesso a alimentos frescos, em outra parte
com a sequência correta.
porque o pânico fez muita gente estocar itens
1 – objeto direto
ultraprocessados em casa, já que esses costumam ter
2 – objeto indireto
maior vida de prateleira, inclusive na despensa.
3 – complemento nominal
Mas o que deixou os autores realmente
desconfortáveis foram as ações de marketing de algumas
(__) Estava confiante na vitória.
marcas nesses tempos desafiadores. Todas, claro,
(__) Há grandes festejos naquele bairro.
querendo demonstrar o seu envolvimento com iniciativas
(__) Cedeu aos caprichos infantis.
de responsabilidade social, mas dando tiros que, para
(__) Não me convidou para o lanche.
olhos mais atentos, decididamente saíram pela culatra.
(__) Peço-lhe paciência com os jovens.
Por exemplo, quando uma indústria bem popular na
a) 3 – 2 – 1 – 1 – 2 Inglaterra distribuiu nada menos do que meio milhão de
b) 1 – 2 – 3 – 3 – 1 calóricos donuts para profissionais na linha de frente do
National Health Service britânico.
c) 2 – 1 – 3 – 2 – 3
A impressão é de que as indústrias de alimentos
d) 3 – 1 – 2 – 1 – 2
verdadeiramente preocupadas com a população, cada
vez mais acometida pela obesidade, deveriam aproveitar

GR0172 - (Espcex)
a crise atual para botar a mão na consciência, parar de
promover itens pouco saudáveis e reformular boa parte
E a indústria de alimentos na pandemia? do seu portfólio. As mortes por Covid-19 dão a pista de
O editorial da edição de 10 de junho do British que essa é a maior causa que elas poderiam abraçar no
Medical Journal, assinado por professores da Queen momento.
Mary University of London, na Inglaterra, propõe uma Fonte: Adaptado de https://abeso.org.br/e-a-industria-
reflexão tão interessante que vale provocá-la entre nós, de-alimentos-na-pandemia. Publicado em 30 de junho de

@professorferretto @prof_ferretto 2
2020. Acessado em 09 Mar 21. pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias
GLOSSÁRIO: O termo “ambiente obesogênico” foi criado consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
pelo professor de Bioengenharia da Universidade da do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
Califórnia, nos EUA, Bruce Blumberg. Segundo ele, são os alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
Obesogênicos os responsáveis por contribuir no ganho de de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
peso sem que o indivíduo tenha consciência de que está falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
engordando. outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
No trecho “A crítica do editorial é mesmo cortante.”, o finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
termo destacado é para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
a) sujeito simples.
antigos, e dando-se à prática de excessos menos
b) objeto direto. merecedores de exorcismos que de cadeia.
c) predicativo do sujeito. Dizem as folhas (^4) que a polícia,
d) predicativo do objeto. competentemente munida de bentinhos (^5) e de
e) complemento nominal. revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem
o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da
diligência, disse que o delegado achou dentro da casa
GR0290 - (Unesp)
sinistra — um velho pardieiro (^6) que fica no topo de
uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que
A crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E
originalmente em 1902.
acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tentando apagar as velas acesas que os sitiante (^7)
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
empunhavam”.
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
Esta nota de morcegos deve ser um chique
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
tempo passou.
temor, os patifes vão rejubilando.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
O novo espectro que nos aparece é o de
Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato,
(^1) esbatido: de tom pálido.
pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e
(^2) a desoras: muito tarde.
louvável modéstia. E tão esbatido (^1) passava o seu
(^3) avantesma: alma do outro mundo, fantasma,
vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das
espectro.
casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o
(^4) folha: periódico diário, jornal.
viram não puderam em consciência dizer se era duende
(^5) bentinho: objeto de devoção contendo orações
macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava —
escritas.
naturalmente por saber de longa data que pela boca é
(^6) pardieiro: prédio velho ou arruinado.
que morrem os peixes e os fantasmas... Também,
(^7) sitiante: policial.
ninguém lhe falava — não por experiência, mas por
medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num
A expressão sublinhada em “No fundo da alma de todo o
século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do
repórter há sempre um poeta...” (5º parágrafo) exerce a
liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e
mesma função sintática da expressão sublinhada em
não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar
disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na
rua, a desoras (^2), uma avantesma (^3)...
Assim, um profundo mistério cercava a existência
do lobisomem de Catumbi — quando começaram de
aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já

@professorferretto @prof_ferretto 3
GR0260 -
a) “Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico
do noticiarista.” (5º parágrafo) (Unesp)
b) “Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bryson, para
pouco dessa primitiva credulidade.” (1º parágrafo) responder à questão.
c) “Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia
dúvida os frangões roubados aos quintais das casas...” dos que adulteravam alimentos. O açúcar e outros
(5º parágrafo) ingredientes caros muitas vezes eram aumentados com
gesso, areia e poeira. A manteiga tinha o volume
d) “Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as
aumentado com sebo e banha. Quem tomasse chá,
galinhas, daquela outra as joias...” (3º parágrafo)
segundo autoridades da época, poderia ingerir, sem
e) “Dizem as folhas que a polícia, competentemente querer, uma série de coisas, desde serragem até esterco
munida de bentinhos e de revólveres, de amuletos e de carneiro pulverizado. Um carregamento inspecionado,
de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma.” relata Judith Flanders, demonstrou conter apenas a
(4º parágrafo) metade de chá; o resto era composto de areia e sujeira.
Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre para dar mais

GR0180 - (Unifesp)
acidez; giz ao leite; terebintina1 ao gim. O arsenito de
cobre era usado para tornar os vegetais mais verdes, ou
Leia o poema de Fernando Pessoa para fazer a geleia brilhar. O cromato de chumbo dava
um brilho dourado aos pães e também à mostarda. O
Cruz na porta da tabacaria! acetato de chumbo era adicionado às bebidas como
Quem morreu? O próprio Alves? Dou adoçante, e o chumbo avermelhado deixava o queijo
Ao diabo o bem-’star que trazia. Gloucester, se não mais seguro para comer, mais belo
Desde ontem a cidade mudou. para olhar.
Não havia praticamente nenhum gênero que não
Quem era? Ora, era quem eu via. pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para
Todos os dias o via. Estou o varejista por meio de um pouquinho de manipulação e
Agora sem essa monotonia. engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smollett,
Desde ontem a cidade mudou. ganhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente,
na boca do vendedor antes de serem colocadas em
Ele era o dono da tabacaria. exposição. Quantas damas inocentes, perguntava ele,
Um ponto de referência de quem sou. tinham saboreado um prato de deliciosas cerejas que
Eu passava ali de noite e de dia. haviam sido “umedecidas e roladas entre os maxilares
Desde ontem a cidade mudou. imundos e, talvez, ulcerados de um mascate de Saint
Giles”?
Meu coração tem pouca alegria, O pão era particularmente atingido. Em seu
E isto diz que é morte aquilo onde estou. romance de 1771, The expedition of Humphry Clinker,
Horror fechado da tabacaria! Smollett definiu o pão de Londres como um composto
Desde ontem a cidade mudou. tóxico de “giz, alume 2 e cinzas de ossos, insípido ao
(Obra poética, 1997.) paladar e destrutivo para a constituição”; mas acusações
assim já eram comuns na época. A primeira acusação
Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de formal já encontrada sobre a adulteração generalizada do
ênfase, pode o objeto direto vir repetido. Essa reiteração pão está em um livro chamado Poison detected: or
recebe o nome de objeto direto pleonástico. frightful truths, escrito anonimamente em 1757, que
(Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, revelou segundo “uma autoridade altamente confiável”
1997. Adaptado.) que “sacos de ossos velhos são usados por alguns
padeiros, não infrequentemente”, e que “os ossuários
O eu lírico lança mão desse recurso expressivo no verso dos mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao
alimento dos vivos”.
a) “Todos os dias o via. Estou” (2ª estrofe)
(Em casa, 2011. Adaptado.)
b) “E isto diz que é morte aquilo onde estou.” (4ª estrofe)
c) “Ele era fixo, eu, o que vou,” (5ª estrofe) 1 terebintina: resina extraída de uma planta e usada na
d) “Mas ao menos a ele alguém o via,” (5ª estrofe) fabricação de vernizes, diluição de tintas etc.
e) “Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1ª estrofe) 2 alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e
metais alcalinos, com propriedades adstringentes, usado
na fabricação de corantes, papel, porcelana, na
purificação de água, na clarificação de açúcar etc

@professorferretto @prof_ferretto 4
interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a
Em “Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que
que adulteravam alimentos” (1º parágrafo), o termo por ocasião deste serviço se cometem.
sublinhado é um verbo (Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017.
Adaptado.)
a) transitivo direto.
b) intransitivo. Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de
c) de ligação. ênfase, pode o objeto direto vir repetido. Essa reiteração
d) transitivo indireto. recebe o nome de objeto direto pleonástico.
e) transitivo direto e indireto. (Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática,
1997. Adaptado.)

GR0268 - (Unesp)
Antônio Vieira recorre a esse recurso expressivo em:
No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me a) “Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para
manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de o provimento de duas praças, respondeu que ambos
haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só lhe descontentavam” (3º parágrafo)
governador. b) “e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos,
Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e respondeu-me” (4º parágrafo)
hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi
c) “e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100
toscamente o que me parece.
mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão
Digo que menos mal será um ladrão que dois; e
logrando bem as indústrias” (3º parágrafo)
que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem
que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos d) “São lastimosas as misérias que passa esta pobre
gente das Ilhas” (5º parágrafo)
para o provimento de duas praças, respondeu que ambos
lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro e) “Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as
porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores sei muito menos” (2º parágrafo)
em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não

GR0184 -
tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não
sei qual é maior tentação, se a 1 , se a 2 . Tudo quanto há (Enem)
na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil
cruzados, como é notório, e desta terra há de tirar Inácio
do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo
se lhe vão logrando bem as indústrias.
Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes
índios, aos quais trata como tão escravos seus, que
nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele
nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça
que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas
necessidades os portugueses e de perecerem os pobres.
Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher,
das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas O humor da tira decorre da reação de uma das cobras
lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram com relação ao uso de pronome pessoal reto, em vez de
em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, pronome oblíquo. De acordo com a norma padrão da
consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu- língua, esse uso é inadequado, pois
me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão
a) contraria o uso previsto para o registro oral da língua.
pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os
sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve b) contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito
também.” São lastimosas as misérias que passa esta e objeto.
pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que c) gera inadequação na concordância com o verbo.
agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, d) gera ambiguidade na leitura do texto.
senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. e) apresenta dupla marcação de sujeito.
por piedade deverá mandar acudir.
Tornando aos índios do Pará, dos quais, como
dizia, se serve quem ali governa como se foram seus
escravos, e os traz quase todos ocupados em seus
GR0174 - (Eear)

@professorferretto @prof_ferretto 5
Coloque (PO) para predicativo do objeto e (PS) para do último dia 2 [de março de 2014]. É o primeiro filme de
predicativo do sujeito. Em seguida, assinale a alternativa um diretor negro a ganhar a estatueta. (...)
com a sequência correta. Antes do filme, lançado no ano passado, quase
ninguém conhecia a história de Salomon Northup, negro
(__) A finalização da pintura resultou magnífica. livre e bem-educado de Nova York. Em 1842, ele foi
(__) A doença o deixou irreconhecível. sequestrado e forçado à escravidão, por 12 anos, em
(__) As duas mulheres entraram no recinto sérias. fazendas no sul dos Estados Unidos. (05) Resgatado por
(__) Achavam-no um gênio. seus amigos brancos, Northup lutou pela abolição da
escravatura e contou sua história a um escritor de livros,
a) PO – PS – PS – PO
David Wilson (06). O texto foi encontrado e reeditado em
b) PS – PO – PS – PO 1960, sem grande repercussão, até chegar às mãos de
c) PO – PO – PS – PS McQueen. (01) “Minha ideia era transformar Northup
d) PS – PO – PO – PS num herói, porque ele é um verdadeiro herói americano”
(02), disse o cineasta.
A consagração do filme, ao mesmo tempo, serviu
GR0176 - (Famema) para realçar como a escravidão de negros, abolida nos
Estados Unidos há 148 anos e no Brasil há 125, ainda é
Leia o trecho do poema “Amor feinho”, de Adélia Prado e
responda. pouco conhecida. No Brasil, por mais de um século,
prevaleceu a crença de que seria improdutivo vasculhar o
Eu quero amor feinho. passado dos negros. Os arquivos sobre a escravidão,
Amor feinho não olha um pro outro. dizia-se, perderam-se em 1890. (...)
Uma vez encontrado é igual fé, “A carência e a imprecisão de registros históricos
não teologa mais. reduziu o brilho de heróis nacionais”, diz Patrícia Xavier,
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo mestre em história social pela PUC-SP. Em sua tese de
e filhos tem os quantos haja. mestrado, Patrícia estudou a vida de Francisco José do
Tudo que não fala, faz. Nascimento, O Chico da Matilde, líder abolicionista morto
Planta beijo de três cores ao redor da casa em 6 de março de 1914 — portanto, há 100 anos. Sua
e saudade roxa e branca, vida também daria um filme. Negro livre, Chico
da comum e da dobrada. trabalhava como prático no porto da província do Ceará.
Amor feinho é bom porque não fica velho. Segundo relatos da época, em 1881, Chico liderou os
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: jangadeiros ao se recusar transportar escravos.
eu sou homem você é mulher. Influenciado pela insurreição dos jangadeiros, o Ceará
Amor feinho não tem ilusão, aboliu a escravidão em 1884, quatro anos antes da
o que ele tem é esperança: Princesa Isabel assinar a Lei Áurea. (...)
eu quero amor feinho. O resgate histórico do período de escravidão
(Bagagem, 2011) ganha força à medida que documentos são descobertos e
que a sociedade ganha distanciamento. Um século e
“Eu quero amor feinho.” O verbo sublinhado é transitivo meio de abolição é pouco tempo, mesmo para países
direto, assim como o verbo sublinhado em: jovens como EUA e Brasil. O diretor Steve McQueen pôde
usar, em seu filme, fazendas do Mississippi onde houve a
a) “Cuida do essencial” escravidão. O tronco onde dois escravos são espancados,
b) “não teologa mais.” na obra de ficção, foi usado para o chicoteamento, um
c) “Uma vez encontrado é igual fé,” século atrás. “Aquelas árvores viram tudo”, diz McQueen.
Método de trabalho largamente empregado na Europa,
d) “Amor feinho é bom porque não fica velho.”
na Ásia e na África, a escravidão foi extinta apenas na
e) “Planta beijo de três cores ao redor da casa”
década de 1980 em países como Serra Leoa.
(03) Suas feridas continuam abertas (04).

GR0182 - (Epcar)
Época/nº823, 10 mar. 2014. Editora Globo, p.55.

As feridas abertas da escravidão Leia o trecho abaixo para responder à questão que se
Mais de um século após abolir a escravatura, segue.
Brasil e EUA apenas agora começam a reconstruir a
história de seus heróis negros. “Resgatado por eus amigos brancos, Northup
Doze anos de escravidão, produção do diretor lutou pela abolição da escravatura e contou sua
britânico Steve McQueen, entrou para a história do história a um escritor de livros, David Wilson.” (05)(06)
cinema ao ganhar o Oscar de Melhor Filme, na premiação

@professorferretto @prof_ferretto 6
Sobre as preposições acima, é INCORRETO afirmar que humano, lugar dos sonhos, ao contrário da ciência, é
coisa imprecisa. Disse certo o poeta: Viver não é preciso.
a) “Por” introduz um agente da passiva. Primeiro vem o impreciso desejo. Primeiro vem o
b) “Pela” expressa uma finalidade. impreciso desejo de navegar. Só depois vem a precisa
c) “Da” liga um complemento nominal a um substantivo. ciência de navegar.
d) “De” relaciona o objeto indireto ao verbo. Naus e navegação têm sido uma das mais
poderosas imagens na mente dos poetas. Ezra Pound
inicia seus Cânticos dizendo: E pois com a nau no mar /
GR0179 - (Efomm) assestamos a quilha contra as vagas... Cecília Meireles:
Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra, monótona /
O homem deve reencontrar o Paraíso...
Rubem Alves parece-nos fraca ilusão! Queremos a ilusão do grande
Era uma família grande, todos amigos. Viviam mar / multiplicada em suas malhas de perigo. E
como todos nós: moscas presas na enorme teia de Nietzsche: Amareis a terra de vossos filhos, terra não
aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha descoberta, no mar mais distante. Que as vossas velas
lhes arrancava um pedaço. Ficaram cansados. Resolveram não se cansem de procurar esta terra! O nosso leme nos
mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco, o conduz para a terra dos nossos filhos... Viver é navegar
mar, o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. no grande mar!
Venderam o que tinham, compraram um barco capaz de Não só os poetas: C. Wright Mills, um sociólogo
atravessar mares e sobreviver tempestades. sábio, comparou a nossa civilização a uma galera que
Mas para navegar não basta sonhar. É preciso navega pelos mares. Nos porões estão os remadores.
saber. São muitos os saberes necessários para se navegar. Remam com precisão cada vez maior. A cada novo dia
Puseram-se então a estudar cada um aquilo que teria de recebem remos novos, mais perfeitos. O ritmo das
fazer no barco: manutenção do casco, instrumentos de remadas acelera. Sabem tudo sobre a ciência do remar. A
navegação, astronomia, meteorologia, as velas, as cordas, galera navega cada vez mais rápido. Mas, perguntados
as polias e roldanas, os mastros, o leme, os parafusos, o sobre o porto do destino, respondem os remadores: O
motor, o radar, o rádio, as ligações elétricas, os mares, os porto não nos importa. O que importa é a velocidade
mapas... Disse certo o poeta: Navegar é preciso, a ciência com que navegamos.
da navegação é saber preciso, exige aparelhos, números C. Wright Mills usou esta metáfora para
e medições. Barcos se fazem com precisão, astronomia se descrever a nossa civilização por meio duma imagem
aprende com o rigor da geometria, velas se fazem com plástica: multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao
saberes exatos sobre tecidos, cordas e ventos, nosso dispor, que fazem com que as mudanças sejam
instrumentos de navegação não informam mais ou cada vez mais rápidas; mas não temos ideia alguma de
menos. Assim, eles se tomaram cientistas, especialistas, para onde navegamos. Para onde? Somente um
cada um na sua - juntos para navegar. navegador louco ou perdido navegaria sem ter ideia do
Chegou então o momento da grande decisão - para onde. Em relação à vida da sociedade, ela contém a
para onde navegar. Um sugeria as geleiras do sul do Chile, busca de uma utopia. Utopia, na linguagem comum, é
outro os canais dos fiordes da Nomega, um outro queria usada como sonho impossível de ser realizado. Mas não
conhecer os exóticos mares e praias das ilhas do Pacífico, é isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma
e houve mesmo quem quisesse navegar nas rotas de direção.
Colombo. E foi então que compreenderam que, quando o Mário Quintana explicou a utopia com um verso:
assunto era a escolha do destino, as ciências que Se as coisas são inatingíveis... ora! / Não é motivo para
conheciam para nada serviam. não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora/ A
De nada valiam números, tabelas, gráficos, mágica presença das es frei as! Karl Mannheim, outro
estatísticas. Os computadores, coitados, chamados a dar sociólogo sábio que poucos leem, já na década de 1920
o seu palpite, ficaram em silêncio. Os computadores não diagnosticava a doença da nossa civilização: Não temos
têm preferências - falta-lhes essa sutil capacidade de consciência de direções, não escolhemos direções.
gostar, que é a essência da vida humana. Perguntados Faltam-nos estrelas que nos indiquem o destino.
sobre o porto de sua escolha, disseram que não Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são
entendiam a pergunta, que não lhes importava para onde feitas, determinadas pelo pragmatismo da tecnologia (o
se estava indo. importante é produzir o objeto) e pelo objetivismo da
Se os barcos se fazem com ciência, a navegação ciência (o importante é saber como funciona), são: Como
faz-se com os sonhos. Infelizmente a ciência, utilíssima, posso fazer tal coisa? Como posso resolver este problema
especialista em saber como as coisas funcionam, tudo concreto particular? E conclui: E em todas essas
ignora sobre o coração humano. É preciso sonhar para se perguntas sentimos o eco otimista: não preciso de me
decidir sobre o destino da navegação. Mas o coração preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo.

@professorferretto @prof_ferretto 7
Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa a) Mas para navegar não basta sonhar. E preciso saber.
ciência da navegação, sem que os estudantes sejam b) Disse certo o poeta: ‘Navegar é preciso a ciência da
levados a sonhar com as estrelas. A nau navega veloz e navegação é saber preciso (...)
sem rumo. Nas universidades, essa doença assume a
c) É preciso sonhar para se decidir sobre o destino da
forma de peste epidêmica: cada especialista se dedica,
navegação.
com paixão e competência, a fazer pesquisas sobre o seu
parafuso, sua polia, sua vela, seu mastro. d) Naus e navegação têm sido uma das mais poderosas
Dizem que seu dever é produzir conhecimento. imagens na mente dos poetas.
Se forem bem-sucedidas, suas pesquisas serão e) O meu sonho para a educação foi dito
publicadas em revistas internacionais. Quando se lhes por Bachelard (...)
pergunta: Para onde seu barco está navegando?, eles

GR0181 -
respondem: Isso não é científico. Os sonhos não são
objetos de conhecimento científico... (Unifesp)
E assim ficam os homens comuns abandonados É, suponho que é em mim, como um dos
por aqueles que, por conhecerem mares e estrelas, lhes representantes de nós, que devo procurar por que está
poderiam mostrar o rumo. Não posso pensar a missão doendo a morte de um facínora1. E por que é que mais
das escolas, começando com as crianças e continuando me adianta contar os treze tiros que mataram
com os cientistas, como outra que não a da realização do
Mineirinho2do que os seus crimes. Perguntei a minha
dito do poeta: Navegar é preciso. Viver não é preciso.
cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto
E necessário ensinar os precisos saberes da
a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não
navegação enquanto ciência. Mas é necessário apontar
entender o que se sente, o de precisar trair sensações
com imprecisos sinais para os destinos da navegação: A
contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos
terra dos filhos dos meus filhos, no mar distante... Na
irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta
verdade, a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os
compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria
homens sonham com navegar. Depois aprendem a
perplexidade diante de não poder esquecer que
ciência da navegação. E inútil ensinar a ciência da
Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto
navegação a quem mora nas montanhas...
nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco,
O meu sonho para a educação foi dito por
vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com
Bachelard: O universo tem um destino de felicidade. O
alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma,
homem deve reencontrar o Paraíso. O paraíso é jardim,
respondeu fria: “O que eu sinto não serve para se dizer.
lugar de felicidade, prazeres e alegrias para os homens e
Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas
mulheres. Mas há um pesadelo que me atormenta: o
tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”.
deserto. Houve um momento em que se viu, por entre as
Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não
estrelas, um brilho chamado progresso. Está na bandeira
matou”.
nacional... E, quilha contra as vagas, a galera navega em
Por quê? No entanto a primeira lei, a que
direção ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e
protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não
ninguém questiona a direção. E é assim que as florestas
matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me
são destruídas, os rios se transformam em esgotos de
matam, porque eu não quero morrer, e assim não me
fezes e veneno, o ar se enche de gases, os campos se
deixam matar, porque ter matado será a escuridão para
cobrem de lixo - e tudo ficou feio e triste.
mim.
Sugiro aos educadores que pensem menos nas
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz
tecnologias do ensino - psicologias e quinquilharias - e
ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de
tratem de sonhar, com os seus alunos, sonhos de um
segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto
Paraíso.
desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de
OBS.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo
vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração
Ortográfico.
batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está
trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de
Assinalea alternativa em que o termo
Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo
sublinhado NÃO cumpre a função de sujeito.
terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro.
Porque eu quero ser o outro.
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio,
humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e
falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que
minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever
que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o

@professorferretto @prof_ferretto 8
meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa 1moteto: tipo de composição musical medieval.
estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa
está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser O predicativo do sujeito é o termo que qualifica (ou
erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos caracteriza) o sujeito da oração. O termo sublinhado
salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e com horror exerce a função de predicativo do sujeito em:
digo tarde demais – vinte e oito anos depois que
Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse a) "Nelas temos duas fontes de existência de criaturas".
não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de b) "a arte é uma atividade produtora".
uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é c) "ambas insurgem-se contra o nada".
apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto
d) "O artista sente um impulso irresistível de violentar o
nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu
nada".
espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um
e) "São frutos da arte tanto um moteto de Palestrina
homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na
quanto um automóvel".
sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta
e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu
modo de viver.
(Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.) GR0173 - (Unesp)
A crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
1 facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime originalmente em 1902.
com crueldade ou perversidade acentuada. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
2 Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
polícia, acabou crivado de balas e seu corpo foi para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
encontrado à margem da Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
Rio de Janeiro. de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
“Até que treze tiros nos acordam, e com horror tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
digo tarde demais - vinte e oito anos depois que dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é
Mineirinho nasceu - que ao homem acuado, que a esse ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
não nos matem.” (4º parágrafo) termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
Os termos “a esse” e “nos” constituem, respectivamente, temor, os patifes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de
a) objeto indireto e objeto direto. Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato,
b) objeto indireto e objeto indireto. pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e
c) objeto direto preposicionado e objeto direto. louvável modéstia. E tão esbatido1passava o seu vulto na
d) objeto direto preposicionado e objeto indireto. treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas
e) objeto direto e objeto indireto. adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram
não puderam em consciência dizer se era duende macho
ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava —
GR0178 - (Uea)
naturalmente por saber de longa data que pela boca é
que morrem os peixes e os fantasmas... Também,
Leia o texto de João Vicente Ganzarolli de Oliveira.
ninguém lhe falava — não por experiência, mas por
No sentido amplo, a arte é uma atividade
medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num
produtora, responsável pela criação de seres que, sem a
século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do
intervenção humana, não existiriam. Entendendo dessa
liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e
forma, são frutos da arte tanto um moteto1de Palestrina não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar
quanto um automóvel; uma ferramenta pré-histórica e disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na
um computador. Como a arte, também a natureza é
geradora. Nelas temos duas fontes de existência das rua, a desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência
criaturas; ambas insurgem-se contra o nada. Como diz
do lobisomem de Catumbi — quando começaram de
Étienne Gilson, "A missão do artista é enriquecer o
aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já
mundo com novos seres. O artista sente um impulso
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
irresistível de violentar o nada".
(A humanização da arte, 2006. Adaptado.) crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados

@professorferretto @prof_ferretto 9
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado a) “Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai do noticiarista.” (5] parágrafo)
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela b) “Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram pouco dessa primitiva credulidade.” (1º parágrafo)
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
c) “Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
dúvida os frangões roubados aos quintais das casas...”
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
(5º parágrafo)
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados d) “Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as
antigos, e dando-se à prática de excessos menos galinhas, daquela outra as joias...” (3º parágrafo)
merecedores de exorcismos que de cadeia. e) “Dizem as folhas que a polícia, competentemente
munida de bentinhos e de revólveres, de amuletos e
Dizem as folhas4que a polícia, competentemente
de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma.”
munida de bentinhos5e de revólveres, de amuletos e de (4º parágrafo)
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro6que
fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos
GR0170 - (Puccamp)
O tempo e suas medidas
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a 1O homem vive dentro do tempo, o tempo que
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam ele preenche, mede, avalia, ama e teme. Para marcar a
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os passagem e as medidas do tempo, inventou o relógio. A
sitiante7empunhavam”. palavra vem do latim horologium, e 2se refere a um
Esta nota de morcegos deve ser um chique quadrante do céu que os antigos aprenderam a observar
romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o para se orientarem no tempo e no espaço. 3Os artefatos
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, construídos para medir a passagem do tempo sofreram
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, ao longo dos séculos uma grande evolução. No início 4o
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do Sol era a referência natural para a separação entre o dia e
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de a noite, mas depois os relógios solares foram seguidos de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram outros que vieram a utilizar o escoamento de líquidos, de
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das areia, ou a queima de fluidos, até chegar aos dispositivos
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu mecânicos que originaram as pêndulas. 5Com a
tempo passou. eletrônica, surgiram os relógios de quartzo e de césio,
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) aposentando os chamados “relógios de corda”. O
mostrador digital que está no seu pulso ou no seu celular
tem muita história: tudo teria começado com a haste
1esbatido: de tom pálido.
vertical ao sol, que projetava sua sombra num plano
2a desoras: muito tarde. horizontal demarcado. 6A ampulheta e a clepsidra são as
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. simpáticas bisavós das atuais engenhocas eletrônicas, e
até hoje intrigam e divertem crianças de todas as idades.
4folha: periódico diário, jornal.
7Mas a evolução dos maquinismos humanos
5bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas. 8que dividem e medem as horas não suprimiu nem
6pardieiro: prédio velho ou arruinado. diminuiu a preocupação dos homens com o Tempo, 9essa
entidade implacável, sempre a lembrar a condição da
7sitiante: policial.
nossa mortalidade. Na mitologia grega, o deus Chronos
era o senhor do tempo que se podia medir, por isso
A expressão sublinhada em “No fundo da alma de todo o chamado “cronológico”, 10a fluir incessantemente. No
repórter há sempre um poeta...” (5º parágrafo) exerce a entanto, 11a memória e a imaginação humanas criam
mesma função sintática da expressão sublinhada em tempos outros: uma autobiografia recupera o passado, a
ficção científica pretende vislumbrar o futuro. No Brasil,
muito da força de um 12José Lins do Rego, de um Manuel
Bandeira ou de um Pedro Nava vem do memorialismo
artisticamente trabalhado. A própria história nacional
13sofre os efeitos de uma intervenção no passado:
escritores românticos, logo depois da Independência,
sentiram necessidade de emprestar ao país um passado
glorioso, e recorreram às idealizações do Indianismo.

@professorferretto @prof_ferretto 10
No cinema, uma das homenagens mais bonitas a) a expressão Por vezes pode ser substituída por “As
ao tempo passado é a do filme Amarcord (“eu me vezes” sem que haja prejuízo da correção gramatical,
recordo”, em dialeto italiano), do cineasta Federico pois nada justificaria o emprego do acento indicativo
Fellini. São lembranças pessoais de uma época dura, da crase.
quando o fascismo crescia e dominava a Itália. Já um b) os dois-pontos introduzem não um esclarecimento do
tempo futuro terrivelmente sombrio é projetado no filme que foi dito antes, mas uma enumeração; no caso,
“Blade Runner, o caçador de androides”, do diretor Ridley enumeração dos passatempos.
Scott, no cenário futurista de uma metrópole caótica.
c) a sequência “e apelamos para um jogo, uma
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o
brincadeira, um ‘passatempo’ como as palavras
tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o
cruzadas” poderia ter a ordem dos complementos
tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no
verbais alterada sem prejuízo do sentido original.
filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e
eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris. Aliás, a d) a forma “queixamo-nos” é gramaticalmente correta,
arte da música é, sempre, uma habitação especial do assim como o é a destacada em “Ele me fez uma
tempo: as notas combinam-se, ritmam e produzem gentileza, é hora de retribui-lo”.
melodias, adensando as horas com seu envolvimento. e) o emprego das aspas, nas três ocorrências, é indicativo
São diferentes as qualidades do tempo e as de palavra e expressões típicas da linguagem
circunstâncias de seus respectivos relógios: há o “relógio coloquial.
biológico”, que regula o ritmo do nosso corpo; há o

GR0183 -
“relógio de ponto”, que controla a presença do
trabalhador numa empresa; e há a necessidade de (Ufrgs)
“acertar os relógios”, para combinar uma ação em grupo; A história não tem sido (1) favorável à Polônia (4)
há o desafio de “correr contra o relógio”, obrigando-nos à e à sua literatura. Os duzentos anos durante os quais (8)
pressa; e há quem “seja como um relógio”, quando o país esteve dividido entre as potências vizinhas - Rússia,
extremamente pontual. Prússia e Áustria - exerceram uma influência de longo
14Por vezes barateamos o sentido do tempo, alcance sobre sua literatura. Os opressores (11) não
15tornando-o uma espécie de vazio a preencher: é apenas tentaram impor (14) seu domínio político (12),
quando fazemos algo para “passar o tempo”, e apelamos mas erradicar (15) a cultura do povo conquistado (13).
para um jogo, uma brincadeira, um “passatempo” como Um dos principais alvos era a língua: ________ do uso
as palavras cruzadas. Em compensação, nas horas de oficial e das cerimônias públicas. A literatura polonesa
grande expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não teve de adotar o difícil papel de guardiã do idioma,
passa”. “Tempo é dinheiro” é o lema dos capitalistas e ameaçado pela expansão dos opressores e de sua língua.
investidores e dos operadores da Bolsa; e é uma As obras literárias passaram a ser o único santuário (5)
obsessão para os atletas olímpicos em busca de recordes. onde (9) a língua ameaçada poderia florescer.
Nos relógios primitivos, nos cronômetros Consequentemente (16), o país, que (6) tinha
sofisticados, nos sinos das velhas igrejas, no pulsar do ficado (2) privado de seu exército regular, formou uma
coração e da pressão das artérias, a expressão do tempo divisão de poetas, com a crença profunda de que
se confunde com a evidência mesma do que é vivo. No ________ mais efetivos que unidades militares. A língua
tic-tac da pêndula de um relógio de sala, na casa da avó, era sua única arma contra a opressão do Estado.
os netinhos ouvem inconscientemente o tempo passar. O Acreditava-se que perder a língua nacional significaria
Big Ben londrino marcou horas terríveis sob o perder a identidade cultural, crença essa jamais
bombardeio nazista. Na passagem de um ano para outro, questionada.
contamos os últimos dez segundos cantando e Assim (17), a poesia polonesa sentiu, desde a
festejando, na esperança de um novo tempo, de um ano época das partições, o terrível peso do dever público.
melhor. Isso originou uma série de conflitos dentro da própria
(Péricles Alcântara, inédito) literatura. Os poetas, cuja principal tarefa (10) era
preservar - por via da língua - o sentido de identidade
Por vezes barateamos o sentido do tempo, tornando-o nacional, tiveram de refrear a voz individual, uma vez que
uma espécie de vazio a preencher: é quando fazemos serviam (3) à causa polonesa, supraindividual. Tiveram de
algo para “passar o tempo”, e apelamos para um jogo, suspender a alegria criativa da picardia e da
uma brincadeira, um “passatempo” como as palavras irresponsabilidade, por causa da gravidade de seus
cruzadas. Em compensação, nas horas de grande objetivos. A poesia estava associada, inextricavelmente, à
expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não passa”. extrema seriedade da missão.
E, mesmo que (18) ________ obras escritas por
No trecho acima transcrito, poetas em momentos descomprometidos da vida,
quando desfrutavam dos prazeres terrenos ou se (7)

@professorferretto @prof_ferretto 11
GR0171 -
deliciavam com horas de ócio, estes não tinham sido
incluídos no cânone literário. Na Polônia, a seriedade do (Unesp)
objetivo modelou a ideia popular do que a poesia é e (19) Trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.
deveria (20) ser. MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de
(Adaptado de: JARNIEWICZ, J. Língua contra língua. In: casa!
PETERSON, M. (Org.) A literatura soberana: ensaios sobre UMA VOZ (de fora): Senhor!
as literaturas da Europa Centro-Oriental. São Paulo: MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma
Humanitas, 2010. p. 191-192.) aqui...
A VOZ: O burro?
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações MACÁRIO: A mala, burro!
abaixo, referentes a funções sintáticas de palavras e A VOZ: A mala com o burro?
segmentos do texto. MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o
burro na cerca.
(__) O segmento à Polônia (4) exerce função de objeto A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?
indireto. MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.
(__) O segmento o único santuário (5) exerce a função de A VOZ: Um moço que parece estudante?
predicativo do sujeito. MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.
(__) O pronome que (6) desempenha a função de sujeito A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a
da oração em que aparece. pé?
(__) O pronome se (7) é um índice de indeterminação do MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa
sujeito. vassoura como tua mãe!
A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, madrugar iremos procurar.
de cima para baixo, é OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu
conheço o burro...
a) F - V - V - F.
MACÁRIO: E minha mala?
b) F - F - V - V.
A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...
c) V - F - F - V. MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma
d) V - V - F - F. cadeira no chão)
e) V - F - V - F. O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?
MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...
O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o
GR0548 - (Espm) chamareis...
MACÁRIO: Porém a raiva...
Dos pronomes relativos em destaque nos segmentos
abaixo, assinale aquele que exerça função sintática de [...]
objeto direto: O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia.
Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de
a) “A promulgação da Lei do Ventre Livre, em 1871, vinho?
definia que os bebês que as mulheres escravizadas MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma
parissem a partir daquela data estariam livres.” perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...
b) “O tema tem adquirido muita relevância nos círculos O DESCONHECIDO: Fumais?
feministas no Brasil, onde mulheres têm desenvolvido MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a
suas ações.” viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher
c) “...especialmente em nosso país, marcadamente – não me pergunteis se fumo!
caracterizado por inúmeras desigualdades sociais e O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um
pela ausência de políticas públicas que garantam cachimbo primoroso.
acesso a serviços de saúde, educação, saneamento [...]
básico, segurança, entre outros.” MACÁRIO: E vós?
O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro
d) “...Instituto da Mulher Negra, cuja organização é
cachimbo e fuma)
pioneira na luta e defesa dos direitos das mulheres
MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem.
negras, entre outros.”
Vosso nome?
e) “...procura racializar as discussões, ao trazer para o
O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?
debate assuntos que foram ignorados pelos
MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte
feminismos brancos.”
primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso,
talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só:

@professorferretto @prof_ferretto 12
amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres descreve o comportamento dos átomos e das partículas
e odeio o romantismo. subatômicas, e que está por trás de toda a revolução
O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam digital que rege a sociedade moderna.
a mão) Ao final do século XIX, a física estava com muito
MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de prestígio. A mecânica de Newton, a teoria
um poema, mais de um beijo que do soneto mais eletromagnética de Faraday e Maxwell, a compreensão
harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar dos fenômenos térmicos, tudo levava a crer que a ciência
sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente estava perto de chegar ao seu objetivo final, a
insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é compreensão de toda a Natureza. Para a surpresa de
sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer muitos, experimentos revelaram fenômenos que não
morrer de sono. podiam ser explicados pelas teorias da chamada era
O DESCONHECIDO: E a poesia? clássica. Não se sabia, por exemplo, se átomos eram ou
MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só não entidades reais, já que a física clássica previa que
pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em seriam instáveis. Gradualmente, ficou claro que uma
moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de nova física era necessária para lidar com o mundo do
taverna que não tenha esse vintém azinhavrado (1). muito pequeno. Mas que física seria essa? Ninguém
Entendeis-me? queria mudanças muito radicais. Ou quase ninguém.
O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular A primeira ideia da nova era veio de Max Planck.
tornou- se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para Eis como Planck relatou em 1900 seu estado emocional
o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém... ao propor a ideia do quantum (o menor valor que certas
(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.) grandezas físicas podem apresentar): “Resumidamente,
(1) azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor posso descrever minha atitude como um ato de
verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou desespero, já que por natureza sou uma pessoa pacífica e
latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao contrária a aventuras irresponsáveis.” O uso da palavra
ar úmido). “desespero” é revelador. Planck viu-se forçado a propor
algo novo, que ia contra tudo o que havia aprendido até
“MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma então e que acreditava ser correto sobre a Natureza.
aqui...” Na oração em que está inserido, o termo Abandonar o velho e propor o novo requer muita
sublinhado é um verbo que pede coragem intelectual. E muita humildade, algo que faltava
aos que achavam que a física estava quase completa.
a) objeto direto, expresso pelo vocábulo “mala”, e objeto
Planck sabia que a física tem como missão explicar o
indireto, expresso pelo vocábulo “ma”.
mundo natural, mesmo que a explicação contrarie nossas
b) apenas objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”. ideias preconcebidas. Nunca devemos arrogar que nossas
c) apenas objeto direto, expresso pelo vocábulo “ma”. ideias tenham precedência sobre o que a Natureza nos
d) objeto direto, expresso pelo vocábulo “burro”, e diz.
objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”. (O caldeirão azul, 2019. Adaptado.)
e) objeto direto e objeto indireto, ambos expressos pelo
vocábulo “ma”. Exerce a função sintática de objeto direto o termo
sublinhado em:

GR0177 - (Fmj)
Leia o trecho do artigo “Flertando com o desconhecido”,
de Marcelo Gleiser.
Muita gente acha que a ciência é uma atividade
sem emoções, destituída de drama, fria e racional. Na
verdade, é justamente o oposto. A premissa da ciência é
a nossa ignorância, nossa vulnerabilidade em relação ao
desconhecido, ao que não sabemos. Muitas vezes,
quando experimentos revelam novos aspectos da
Natureza que sequer haviam sido conjecturados, a
sensação de tatearmos no escuro pode levar ao
desespero. E agora? Se nossas teorias não podem
explicar o que estamos observando, como ir adiante?
Nenhum exemplo na história da ciência ilustra melhor
esse drama do que o nascimento da física quântica, que

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a) “E muita humildade, algo que faltava aos que achavam
que a física estava quase completa.” (3º parágrafo)
b) “Para a surpresa de muitos, experimentos revelaram
fenômenos que não podiam ser explicados pelas
teorias da chamada era clássica.” (2º parágrafo)
c) “A premissa da ciência é a nossa ignorância, nossa
vulnerabilidade em relação ao desconhecido,
ao que não sabemos.” (1º parágrafo)
d) “Muitas vezes, quando experimentos revelam novos
aspectos da Natureza que sequer haviam sido
conjecturados, a sensação de tatearmos no escuro
pode levar ao desespero.” (1º parágrafo)
e) “Planck viu-se forçado a propor algo novo, que ia
contra tudo o que havia aprendido até então e que
acreditava ser correto sobre a Natureza.” (3º
parágrafo)

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