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ESCRITA E CONHECIMENTO

EXPLÍCITO DA LÍNGUA
CONTEÚD OS TRANSVERS AI S – O CASO DA
PONTUAÇÃ O

Carla Marques & Inês Silva


CONTEÚDOS TRANSVERSAIS – O CASO
DA PONTUAÇÃO
• O conhecimento explícito de regras de pontuação com
recurso ao conhecimento gramatical, nomeadamente no
plano da sintaxe, funciona como um complemento muito
importante ao serviço do desenvolvimento da escrita.

• É possível operacionalizar oficinas de conhecimento explícito


da língua que se coloquem ao serviço da revisão textual em
contexto de oficina de escrita.

• A pontuação é claramente um conteúdo que possibilita a


promoção de conhecimentos transversais.
CONTEÚDOS TRANSVERSAIS – O CASO
DA PONTUAÇÃO
• Passamos a apresentar uma proposta de abordagem da
pontuação centrada em critérios sintáticos, tais como:

• Funções sintáticas;
• Relações oracionais;
• Estruturação frásica.

• Este conhecimento explícito poderá ser mobilizado,


com vantagens claras, ao serviço da produção
textual por parte dos alunos, incidindo nos aspetos
que se considerem menos consolidados.
PONTUAÇÃO

Vírgula
,
PONTUAÇÃO

• «A vírgula marca uma pausa de pequena duração.


Definição da gramática tradicional que convém
descartar.
• A vírgula emprega-se não só para separar elementos de
uma oração, mas também orações de um só período.»
Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Port uguês Cont emporâneo. Lisboa, Ed. João Sá da
Costa, 1988, p. 640.

Mas !
• Há pausas que fazemos na oralidade que não podem
ser assinaladas por vírgula.
• Há vírgulas que nem sempre correspondem a uma
pausa natural.
PONTUAÇÃO

• Para saber pontuar corretamente é preciso saber


um pouco de gramática…

FUNÇÕES SINTÁTICAS
Algumas regras
de pontuação centradas
na perspetiva gramatical
GRUPOS DE PALAVRAS

Numa frase, as palavras têm tendência a funcionar


em grupos.

Os alunos da minha escola leem livros de aventuras.

Os alunos da minha escola leem livros de aventuras


livros de aventuras
Grupo nominal - Núcleo nominal
Grupo de palavras cujo constituinte principal é um nome ou um
pronome e que funciona como uma unidade sintática.

COMPOSIÇÃO DO GRUPO NOMINAL

1. Exclusivamente um 1. Finalmente, oiço verdades!


nome ou pronome

2. Determinante e/ou 2. A verdade era a sua vida.


quantificador 2. Qualquer verdade era a sua vida.
Nome
(núcleo) 3. Complemento(s) 3. A construção da casa foi longa.
+
4. Modificador(es) 4. A verdade dos segredos obscuros
era a sua vida.
Grupo adjetival

Grupo de palavras cujo constituinte principal é um adjetivo e


que funciona como uma unidade sintática.

COMPOSIÇÃO DO GRUPO ADJETIVAL


1. (exclusivamente 1. Sinto-me cansada!
um adjetivo)

2. Complemento 2. Sinto-me feliz com o meu sucesso.


Adjetivo
(núcleo)
+
3. Advérbio de
quantidade e grau 3. Sinto-me tão/muito cansada!

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Grupo verbal
O grupo verbal tem como categoria sintática nuclear um verbo.

COMPOSIÇÃO DO GRUPO VERBAL


1. (exclusivamente um 1. Ele escreve.
verbo)

2. Complemento(s) 2. Ele escreve uma carta à Rita.


Verbo
(núcleo) 2. Ele gosta da Rita.
+
2. Ele mora lá.

3. Modificador(es) 3. Ele escreveu uma carta ontem.


Funções sintáticas

Espaço que poderá ser


preenchido por unidades de
natureza diversificada,
que formam um grupo de palavras

A maçã é verde. A que eu comi é verde.


sujeito sujeito
FUNÇÕES SINTÁTICAS - SUJEITO

Sujeito →substituível por um pronome pessoal


(ele/ela/eles/elas/…) ou por isto/isso

• O João/ele pintou o quadro.

• Surgiram dificuldades inesperadas/elas.

• Dói-me a cabeça/ela.

• O João/ele conhece a Maria.

• O que me sucedeu/ isto foi inesperado

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FUNÇÕES SINTÁTICAS - SUJEITO

Tipos de sujeito
SUJEITO SIMPLES: constituído por um grupo nominal ou por uma
oração.
O João está doente.
Quem não arrisca não petisca.
SUJEITO COMPOSTO: constituído por dois ou mais grupos
nominais coordenados, por orações e/ou pronomes .
O João e o Rui vivem aqui.

SUJEITO NULO
Vou às compras.
Diz-se isso por aí.
Choveu todo o dia.
FUNÇÕES SINTÁTICAS - PREDICADO

 Função sintática desempenhada pelo grupo


verbal (verbo + complemento(s) +
modificador(es))

O João pôs os brinquedos na caixa ontem.


FUNÇÕES SINTÁTICAS - VOCATIVO

Função sintática desempenhada por um constituinte que:

• é utilizado em contextos de chamamento ou interpelação


do interlocutor;

• não controla a concordância verbal:

- (Ó) Ana, vem cá!

O vocativo ocorre muito frequentemente em frases


imperativas, interrogativas e exclamativas .
FUNÇÕES SINTÁTICAS - MODIFICADOR

Função sintática desempenhada por constituintes


não selecionados por nenhum elemento do grupo
sintático de que fazem parte.

O modificador pode relacionar-se com uma frase ou


oração, com o grupo verbal ou o grupo nominal.

Por não ser selecionado, a sua omissão geralmente


não afeta a gramaticalidade de uma frase.
Certamente, o João já chegou.
FUNÇÕES SINTÁTICAS
FUNÇÕES SINTÁTICAS INTERNAS AO
GRUPO VERBAL (PREDICADO)
FUNÇÕES SINTÁTICAS

Complementos do Verbo

• grupos de palavras escolhidos pelo verbo para


completar o seu sentido
FUNÇÕES SINTÁTICAS

Complemento Direto

• substituível pelos pronomes pessoais


o/os/a/as ou pelo pronome demonstrativo
átono o.

• O Luís leu o livro / -o.


• Ele respeita a todos / -os .
• O Luís disse que o João leu o livro / -o.
FUNÇÕES SINTÁTICAS

Complemento Indireto

• pode ser substituído pelo pronome


pessoal na forma dativa "lhe" / "lhes".

• A Maria ofereceu flores à mãe. / -lhe


• Ela telefonou a quem tinha deixado
recado / -lhe.
FUNÇÕES SINTÁTICAS

Complemento Oblíquo

• não pode ser substituído pelo pronome pessoal "lhe" /


"lhes“, mas é necessário ao verbo para que este
complete o seu sentido.

• A Maria foi a Coimbra. (*A Maria foi-lhe.)


• A Maria gosta de bolos. (*A Maria gosta-lhe)
FUNÇÕES SINTÁTICAS –
COMPLEMENTO OBLÍQUO
Alguns verbos que necessitam de complemento oblíquo para
completar o seu sentido:

• assistir (a) → O Mário assistiu a tudo.


• acabar (com) → Aquele filme acaba com qualquer crítica.
• beneficiar (de) → Portugal vai beneficiar de ajuda externa.
• brindar (a) → Ele brindou ao sucesso dos alunos.
• candidatar-se (a) → A Rita e a Joana candidataram-se a este emprego.
• chocar (com) → Ela chocou com o João.
• colocar (em) → O aluno colocou o livro em cima da mesa.
• concordar (com) → Eu concordo contigo.
• discordar (de) → Eu discordo dos teus argumentos.
• encarregar-se (de) → O delegado de turma encarregou-se de apagar o
quadro.
• falar (de) → Hoje, falo-vos de gramática.
• gostar (de) → As crianças gostam de brincar.
• guardar (em) → Os alunos guardam as mochilas nos cacifos.
• interessar-se (por) → Aquele aluno sempre se interessou por Física.
• ir (a) → Eu vou a Viseu.
• ocupar-se (de) → Eu ocupo-me dos alunos durante a tarde.
• residir (em) → A Maria reside no Porto.
FUNÇÕES SINTÁTICAS – PREDICATIVO
DO SUJEITO
Função sintática desempenhada pelo constituinte que ocorre
em frases com verbos copulativos. Este constituinte predica
algo sobre o sujeito.

O João é [professor de Matemática].→ grupo nominal

Os alunos estão [muito interessados]. → grupo adjetival

A Joana ficou [na escola]. → grupo preposicional

A minha casa é [aqui]. → grupo adverbial


FUNÇÕES SINTÁTICAS – COMPLEMENTO
AGENTE DA PASSIVA

• Função sintática do grupo preposicional, introduzido


pela preposição “por”, numa frase passiva.

• Corresponde ao sujeito na frase ativa com o mesmo


significado.

Frase Passiva: O carro roubado foi encontrado pela


polícia.

Frase Ativa: A polícia encontrou o carro roubado.


FUNÇÕES SINTÁTICAS – MODIFICADOR
(DO VERBO)

• Grupo preposicional ou grupo adverbial


que não é selecionado pelo verbo.

• Pode ser eliminado da frase sem alterar o


sentido nuclear do verbo.

A Joana foi à biblioteca ontem.


Usos da vírgula

,
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Nunca se usa vírgula entre:


• Sujeito e verbo:

,
• O João e a Rita foram ao cinema.

• O que escreveste , fascina-me.

• Entre o verbo e os seus complementos:


• Ele escreveu , um texto interessante.
• Ele dedicou-o , à sua mãe.

• Este texto foi escrito , pelo João.


• Ele gosta , de ler e de escrever.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Nunca se usa vírgula entre:

• Verbo e predicativo do sujeito:


• Todos os alunos da escola são , simpáticos.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Usa-se vírgula para pôr em relevo:


• o vocativo
• Ó Manuel, vem cá!
• Vem cá, Manuel!

• o aposto (modificador apositivo):


• João, grande médico das Beiras, ganhou um prémio.

• Um grupo de palavras com valor explicativo:


• Leu o Ensaio sobre a Cegueira, romance de Saramago, duas
vezes.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Usa-se vírgula para pôr em relevo:

• Um inciso:
• O livro, disse a professora, está na biblioteca.

• Certos advérbios ou locuções adverbiais, quando no meio do


enunciado:
• Esta situação exige do Governo e, particularmente, da secretaria
de estado uma tomada de posição.
• Estava tudo calmo, mas, de repente, ouviu-se um grito.

• O valor enunciativo dos advérbios sim e não:


• Quero, sim.
• Não, ela não quer voltar àquele lugar.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Usa-se vírgula para destacar:

• o modificador (de verbo), quando colocado em ordem


inversa:
• Ontem, recebi este livro.
• Já em pequeno, gostava de ler.
PONTUAÇÃO

• Para saber pontuar corretamente é preciso saber


um pouco de gramática…

Orações
ORAÇÕES

• A oração subordinante é o núcleo da frase:


• Eu penso [que a Maria disse a verdade].

• As orações subordinadas
• são orações encaixadas em orações subordinantes
• desempenham funções sintáticas:
• Sujeito
• [Quem vai ao mar] perde o lugar.

• Complemento
• Ele defende [que devemos trabalhar].

• Modificador (de frase, de grupo verbal ou de nome)


• Este livro [, que é muito bonito,] é muito caro.
ORAÇÕES

• Subdividem-se em três tipos


(segundo o tipo de encaixe e a sua
função sintática):

• Orações subordinadas substantivas

• Orações subordinadas adjetivas

• Orações subordinadas adverbiais


ORAÇÕES SUBORDINADAS
ADVERBIAIS
Final Ele estuda para entrar na universidade.
Causal Ele estuda porque gosta da matéria.
Temporal Ele estuda quando lhe apetece.
Concessiva Ele estuda ainda que não goste da matéria.
Condicional Ele estuda se a matéria lhe interessar.
Comparativa Ele estuda como um aluno empenhado (estuda).
Consecutiva Ele estuda tanto que vai ter bons resultados.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Usa-se vírgula com orações subordinadas adverbiais


principalmente quando :

• Surgem antepostas à oração subordinante:


• Para entrar na universidade, ele estuda.
• Porque gosta da matéria, ele estuda.
• Quando lhe apetece, ele estuda.
• Ainda que não goste da matéria, ele estuda.
• Se a matéria lhe interessar, ele estuda.
• Como um aluno empenhado (estuda), ele estuda.

•N.B.:
•As orações subordinadas consecutivas não surgem antepostas à subordinante:
•Ele estuda tanto que vai ter bons resultados.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Usa-se vírgula com orações adverbiais intercalares


(incisas):

• Ele, para entrar na universidade, estuda.


• Ele, porque gosta da matéria, estuda.
• Ele, quando lhe apetece, estuda.
• Ele, ainda que não goste da matéria, estuda.
• Ele, se a matéria lhe interessar, estuda.
• Ele, como um aluno empenhado (estuda), estuda.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• A vírgula é frequentemente facultativa quando a


oração adverbial surge após a subordinante:
•Ele estuda para entrar na universidade.
•Ele estuda porque gosta da matéria.
•Ele estuda quando lhe apetece.
•Ele estuda ainda que não goste da matéria.
•Ele estuda se a matéria lhe interessar.
•Ele estuda como um aluno empenhado (estuda).

•Não se utiliza vírgula com orações subordinadas


consecutivas.
•Ele estuda tanto que vai ter bons resultados.
ORAÇÕES SUBORDINADAS
SUBSTANTIVAS

Completiva Eu defendo que esta ideia é ótima.


Relativas
(sem
antecedente) Quem vai ao ar perde o lugar.
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Não se usa vírgula

• com orações completivas


• porque estas desempenham a função de complemento
direto:
• Eu quero , que tu venhas a minha casa.

• com orações relativas sem antecedente


• porque estas funcionam como um nome, tendo as funções
de sujeito:
• Quem tudo quer , tudo perde.
ORAÇÕES SUBORDINADAS
SUBSTANTIVAS
ORAÇÕES COMPLETIVAS

Ele quer que tu venhas ter com ele.


Ele quer isto.

O João afirma que comprou o jornal.


O João afirma-o.

21:51 43
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• Não se usa vírgula depois de conjunções :

Ele quer que , tu venhas ter com ele.

O João afirma que , comprou o jornal.


ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS
ORAÇÕES RELATIVAS (COM ANTECEDENTE)

Os alunos passaram de ano. Os alunos


estudaram.

Os alunos que estudaram passaram de ano.

Oração relativa
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

• A vírgula muda o sentido da oração relativa :

• Os alunos que estudaram passaram de ano. → Relativa restritiva


(= os alunos que estudaram passaram, os outros não.)

• Os alunos , que estudaram, passaram de ano. → Relativa explicativa


(= Todos os alunos passaram de ano porque estudaram muito.)
SINAIS DE PONTUAÇÃO – A VÍRGULA

porém, todavia, contudo, no entanto, logo,


portanto, por conseguinte, por consequência;
• São seguidos de vírgula, quando se encontram no início da frase
ou depois de ponto e vírgula:
• Todavia, ele acabou por vir à festa.

• São antecedidos de vírgula, quando surgem no interior da frase:


• Ele não gostava de conviver , todavia acabou por vir à festa.

• Surgem entre vírgulas quando aparecem no interior da oração a


que pertencem:
• Ele, todavia, acabou por vir à festa.
PONTUAÇÃO

Ponto e vírgula

;
PONTUAÇÃO – O PONTO E VÍRGULA

• Separa orações longas, que já contêm vírgulas no seu


interior:
;
• Quando chegou a hora, o João decidiu estudar História a
Maria, que sempre tivera aversão ao estudo, preferiu
continuar a jogar.

• Separa segmentos linguísticos de uma enumeração se


dentro deles já foram utilizadas vírgulas:
• O livro tem qualidades de sobra: a escrita, que é densa e
atraente; o tema, na sua maioria atuais; a construção das
personagens, surpreendente e profunda; o preço, fator que
não deve ser descurado nos tempos que correm.
PONTUAÇÃO – O PONTO E VÍRGULA

• Separa os pontos de uma enumeração:

• O texto deverá ser composto por várias partes:


• o índice;
• uma introdução;
• o corpo do texto;
• a conclusão;
• a bibliografia.
PONTUAÇÃO

Dois pontos

:
PONTUAÇÃO – OS DOIS PONTOS

• Para além de introduzirem o discurso direto,


usam-se para marcar uma relação entre termos
com o valor de:
• consequência: Ele estudou muito: vai passar de ano.
• causa: Ele vai passar de ano: estudou muito.
• oposição: Ele queria estudar mais: está muito cansado.

anunciam uma enumeração:


• Aconteceu tudo o que defendia: a escola era respeitada, os
alunos estudavam, os professores eram felizes!

anunciam uma explicação:


• Eu já não conseguia dormir: aquele tempo quente sufocava-
me e deixava-me torpe.

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