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Ser professor implica ler centenas de linhas escritas por alunos de todas as idades. Esta
experiência, que pode ter muito de reconfortante (a escrita evidencia o progresso, a visão do
mundo, a sensibilidade …), implica também necessariamente a convivência com o erro. Alguns
erros são pontuais, outros aparecem intermitentemente, mas os que incomodam
verdadeiramente são os persistentes. Há erros que estão em todo o lado (testes, trabalhos,
cartazes, slides…) e que os professores são forçados a ler e corrigir vezes sem conta.
A utilização do advérbio relativo onde em construções desta natureza tem vindo a crescer e
revela dois problemas: onde não tem um antecedente que denote lugar e o próprio advérbio
não tem um valor locativo no interior da sua oração;
A colocação do hífen a separar os sufixos flexionais da base verbal acontecerá por aproximação
à colocação dos clíticos em posição pós-verbal, cujas formas são iguais ou próximas das que
encontramos nestes erros: -me, -te, -se, -nos;
A utilização de construções relativas sem recurso à preposição regida pelo verbo ocorre num
número muito significativo de situações de uso. Para identificar os contextos em que a
preposição é obrigatória, é importante autonomizar a oração relativa: «Eu gosto de música». Se
o verbo gostar rege a preposição de, na oração relativa esta preposição tem de surgir antes do
pronome relativo: «A música de que mais gosto»;
É quase obrigatória a confusão entre «ir de encontro a», que significa “dar um encontrão,
contrariar, opor-se” e «ir ao encontro de», que significa “estar de acordo”. Na maioria dos
casos, os alunos querem dizer «Isto vai ao encontro do que eu penso»;
A não colocação de acento grave na forma contraída à é quase generalizada. O mesmo ocorre
nas formas àquele/àqueles. A única forma de distinguir a forma simples do artigo definido a ou
da preposição a da forma contraída do artigo com a preposição é através do acento;
O recurso a esta forma do verbo haver evidencia que o aluno considera que o constituinte
«muitas pessoas» é sujeito, o que é incorreto porque haver é um verbo impessoal que é usado
apenas na 3.ª pessoa do singular, não tendo sujeito;
De facto, os professores precisam de expurgar a sua mente e os seus olhos destes e de outros
erros, para que possam voltar a ter a paciência de os corrigir uma e outra vez. No entanto,
olhar os erros para procurar as suas possíveis causas poderá propiciar uma abordagem didática
que reduza o número de erros a corrigir. Um erro a menos é sempre uma vitória!
O que é mais preocupante, todavia, é que, um dia, estes alunos vão naturalmente deixar a
escola e muitos levarão com eles os erros que sempre deram. Fora do ambiente escolar,
poucos serão aqueles que terão a paciência (que o professor teve) de corrigir os seus erros. E
quantos darão por eles?
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