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O fundacionalismo Clássico

Ou Empirismo
David Hume, Vida e Obra
• David Hume (1711 - 1776, Edimburgo) filósofo e historiador escocês é um dos
principais representantes do empirismo inglês, juntamente com John Locke e
George Berkeley.

• Desde a juventude que se dedicou ao estudo da filosofia e dos clássicos e foi


considerado uma das figuras mais importantes do iluminismo escocês.

• Principais obras:
• Tratado da Natureza Humana

• Investigação sobre o Entendimento Humano

• Investigação sobre os Princípios da Moral

• Diálogos Sobre a Religião Natural

• Ensaios Morais, Políticos e Literários

• A História de Inglaterra

• História Natural da Religião


Crítica de Hume à dúvida Cartesiana
• Hume considerou a dúvida de Descartes inultrapassável.

• Nunca poderia conduzir a nenhuma certeza, inclusive a de que


duvidava. A dúvida será também uma dúvida e nunca uma certeza

• Por isso, opõe-se ao racionalismo cartesiano e propõe uma solução


diferente para o problema da possibilidade do conhecimento.

Tradução: - “A dúvida metódica em três Pontos:


• A sua proposta é igualmente fundacionalista, porém coloca na
1º tu duvidas,
experiência sensível o maior grau de evidência a que podemos
2º tu duvidas e
aspirar para sabermos como são as coisas.
3º tu duvidas.
- Tens a certeza?”
Pressupostos

David Hume e o fundacionalismo Empirista


David Hume faz uma profunda investigação sobre a origem, possibilidade,
valor e limites do conhecimento humano.

Na tradição de J. Locke, D. Hume defende o princípio de que “a mente


humana é como uma tábua rasa”, considerando que nada está na mente que
não esteja primeiramente nos sentidos – princípio da cópia (aristotélico).

Todo o conhecimento humano tem a sua origem na experiência. As crenças


provindas da nossa experiência sensível imediata constituem a
base/fundamento do conhecimento.
Perceções
– o conteúdo da
nossa mente
Impressões e ideias - O princípio da
Cópia
“Todas as perceções da mente humana se reduzem a dois tipos diferentes que denominei de
impressões e ideias. A diferença entre ambos consiste no grau de força e de vivacidade
com que incidem na mente e abrem caminho no nosso pensamento e na nossa consciência. Às
perceções que se manifestam com mais força e mais vigor na mente podemos chamar
impressões. E incluo sob este nome todas as nossas sensações, paixões e emoções tal como
fazem a sua aparição na alma. Por ideias entendo as imagens débeis das impressões quando
pensamos e raciocinamos.
Contentar-nos-emos [por agora] com o estabelecimento geral de que as nossas ideias simples no
seu primeiro aparecimento são derivadas de impressões simples, que lhe correspondem e que
elas representam exatamente.
Para saber de que lado se encontra a dependência, considero a ordem da sua primeira aparição;
e verifico, por experiência constante, que as impressões simples precedem sempre as
ideias correspondentes e nunca aparecem na ordem contrária. Para dar a uma criança a
ideia de escarlate ou laranja, de doce ou amargo, mostro-lhe os objetos, ou por outras palavras,
propicio-lhe estas impressões, mas não procedo tão absurdamente como tentar produzir as
impressões pela excitação das ideias. As nossas ideias, ao apresentarem-se, não produzem as
impressões que lhe correspondem, e não percebemos nenhuma cor, ou sentimos nenhuma
sensação, meramente por pensar nelas
(…) As impressões são as causas das nossas ideias e não as nossas ideias das nossas
impressões.” Montagem de textos de D. Hume Tratado sobre a Natureza Humana e Ensaio Sobre o Entendimento Humano
Os elementos básicos das operações mentais

• Tudo começa com a perceção. Esta divide-se em 2 espécies:

• Impressões: são os dados originários do nosso conhecimento e correspondem aos dados


da experiência atual, tais como: Sensações (cores, formas, textura, sons), paixões e
emoções.

• Ideias: são as representações ou imagens débeis e enfraquecidas das impressões na


memória. São as marcas deixadas pelas impressões no pensamento depois
destas desaparecerem.
Ex: Tenho a perceção deste automóvel, recebo impressões como a cor,
forma, o ruído do motor, (etc.). Fecho os olhos e na minha mente continua
a imagem do automóvel, ou seja, continuo a percecionar o mesmo objeto,
mas a impressão é menos viva – a isto Hume chamou ideia.

A dependência verifica das ideias em relação às impressões.


Em que princípio baseia D.
Hume a distinção entre
impressões e ideias?
O princípio da cópia
• Para David Hume, sentir é sempre mais vivo e intenso do que pensar. Ao pensar
apenas se recorda. Por isso, reformula o princípio aristotélico da cópia…

“Todas as ideias humanas são cópias de impressões.”

… baseado na ideia de que um cego de nascença jamais conseguiria imaginar a cor azul,
porque nunca a tinha visto.

• Será isto verdade?


Não teremos ideias que não correspondem a impressões? Então como justificar as ideias
de centauro, sereia, quimera, de Deus, …? Como se explica a formação destas ideias?
Texto manual pag. 60
Em suma:
Perceções
– conteúdos na mente

Ideias
Impressões maior Grau de menor (pensamentos)
força e
vivacidade

Perceções mais fortes e vivas As ideias derivam Perceções menos fortes e


(sensações, emoções e das impressões, vivas (representações das
paixões). são cópias delas. impressões).

Princípio da cópia
Exemplo: (nada está na mente que não esteja Exemplo:
• impressão visual de uma primeiramente no sentidos) • a imagem da árvore na
árvore. memória.

Não existem ideias inatas.


Existem:
Não admitem qualquer separação ou divisão.

Simples

Exemplo: Exemplo:
• impressão de um • ideia de um tom
tom de azul. de azul.
Ideias
Impressões
(pensamentos)
Exemplo: Exemplo:
• impressão de uma • ideia de uma
equipa de futebol. equipa de futebol.

Complexas

Podem ser divididas em partes, resultando da


combinação das impressões ou das ideias simples.
Em suma:
 simples – indivisíveis
Impressões:
(imagens ou sentimentos que derivam
da experiência sensível imediata
(sensações, sentimentos, emoções).  complexas – divisíveis em
São perceções fortes. partes

Perceções
(conteúdo da mente)

Simples –
indivisíveis (memória)
Ideias:
(cópias ou imagens
débeis das impressões guardadas Complexa – divisíveis
na memória ou produzidas pela (combinação inédita de ideias
simples – sereia (combinação de forma de
imaginação). mulher com forma de peixe)
Para Hume,

• todas as ideias (simples ou complexas) que possuímos tiveram origem na experiência,


mais precisamente em impressões (simples ou complexas).

• a diferença entre impressões e ideias reside no grau de vivacidade com que incidem na
mente e não na sua natureza.

• não existem ideias inatas, opondo-se ao racionalismo cartesiano. Tudo o que podemos
pensar e imaginar tem uma origem a posteriori, em última análise, provém do contacto
com as coisas do mundo.

Então, como justificar as ideias de centauro, sereia, quimera, de Deus, …?


Como se explica a formação destas ideias?
Texto manual pag. 60
Para Hume, a ideia de Deus:

… é uma ideia complexa criada a partir de ideias simples (bondade e


sabedoria humanas) que a mente e a vontade compõem e potenciam.

… resulta da relação entre as impressões e as ideias e entre as ideias


simples e as ideias complexas de características humanas, extrapoladas
pela mente e pela vontade.

• Ao contrário de Descartes, Hume rejeita que a ideia de Deus


corresponda a um ser que existe fora da mente do sujeito e seja,
simultaneamente, a causa de tudo quanto existe e fundamento seguro do
conhecimento.
A bifurcação
de Hume
2 Tipos de conhecimentos
“Todos os objetos da razão ou investigação humanas podem naturalmente dividir-se em duas classes, a
saber, Relações e ideias e Questões de factos . Do primeiro tipo são as ciências da geometria, álgebra e
aritmética, e, em suma, toda a informação que é intuitiva e demonstrativamente certa. Que o quadrado
da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos dois lados é uma proposição que exprime uma relação
entre estas figuras. Que três vezes cinco é igual à metade de 30 expressa uma relação entre estes
números. Proposições deste tipo podem descobrir-se pela simples operação do pensamento, sem
dependerem do que existe em alguma parte do universo. Ainda que nunca tivesse havido um círculo ou
triangulo na natureza, as verdades demonstradas por Euclides conservariam para sempre a sua certeza
e evidência.
As Questões de factos que constituem os segundos objetos da razão humana não são indagados da
mesma maneira, nem a nossa evidência da sua verdade, por maior que seja, é de natureza semelhante
à precedente. O contrário de toda a questão de facto é ainda possível, porque jamais pode implicar
uma contradição, e é concebido pela mente com a mesma facilidade e nitidez como se fosse idêntico à
realidade. Que o sol não se há-de levantar amanhã não é uma proposição menos inteligível e não
implica maior contradição do que a afirmação de que ele se levantará. Por conseguinte, em vão
tentaríamos demonstrar a sua falsidade. Se fosse demonstrativamente falsa, implicaria uma contradição
e nunca poderia ser distintamente concebida pela mente.”
Montagem de textos de D. Hume
Tratado sobre a Natureza Humana e Ensaio Sobre o Entendimento Humano

Manual Pag.62
Segundo D. Hume, há dois...

Modos de conhecimento

Conhecimento de relações de ideias Conhecimento de questões de facto


(conhecimento a priori) (conhecimento a posteriori)

As proposições expressam verdades As proposições expressam


necessárias. verdades contingentes.
Juízos analíticos Juízos sintéticos
“3 + 4 = 7.” “O Porto é uma cidade.”
“Nenhum casado é solteiro.” “O rio Tejo nasce em Espanha.”
Exemplos
“Um carro azul tem cor.” “Kant escreveu sobre ética.”
“Chove ou não chove.” “Alguns metais dilatam no verão.”

Não temos
conhecimento a priori
sobre o mundo.
Relação de Ideias
... expressam-se num conjunto de proposições cujo valor de verdade não depende da
experiência. São verdades necessárias cuja negação implica contradição, a sua certeza é
absoluta.

Ex: O triângulo tem 3 lados.

• Esta proposição estabelece uma relação verdadeira entre as ideias de triângulo e


lados (ter 3 lados faz parte de ser triângulo).

• A verdade desta relação é conhecida unicamente pela análise lógica do seu conteúdo,
isto é, é conhecida a priori, independente de toda a experiência.

• É um juízo analítico ou a priori – o predicado está contido no sujeito.


Questões de factos
… expressam-se em proposições cujo valor de verdade depende da experiência, implica a
inspeção do mundo dos factos. São verdades contingentes e negá-las não implica contradição e
as certezas não são absolutas.

Ex: Esta mala tem livros.

• Esta proposição estabelece uma relação verdadeira entre as ideias de mala e livros (ter
livros não faz parte de ser mala).

• A aferição da verdade desta relação requer a verificação experimental, ou seja, o


seu conhecimento só nos é dado a posteriori.

• É um juízo da experiência ou a posteriori - o predicado é acrescentado ao sujeito e a sua


verdade depende da confirmação da experiência.
Em suma:

• Embora, H. defenda que todas as ideias têm o seu fundamento nas impressões, é
possível conhecer sem recorrer às impressões.

• Este é o caso dos conhecimentos lógicos e matemáticos - conhecimentos


tautológicos - porém, não acrescentam nada ao conhecimento do mundo, apenas
relacionam ideias.

• O conhecimento do mundo é baseado em questões de facto. Estas fornecem


informações sobre o mundo e baseiam-se na experiência ou não passarão de um
conjunto de suposições hipotéticas sem fundamento.
A experiência
Produz
Perceções
Impressões Ideias (cópias)

Podem ser

Sensações Paixões emoções

Questões de facto Relações de ideias

Física Matemática e Lógica


(verdades contingentes) (verdades necessárias)
A sua negação não implica contradição A sua negação implica contradição
Rejeição do ceticismo radical
• Hume rejeita a conclusão do argumento cético da regressão infinita, considerando
ser possível encontrar um facto autoevidente, presente à memória ou aos sentidos,
que não precisa de justificação.

• Critério para avaliar o valor de uma investigação:


• Caso se trate de investigação sobre questões de facto, terá de se basear em impressões.

• Se a investigação não se basear em impressões, então não poderá ultrapassar o âmbito


da relação de ideias (rejeição de conhecimento metafísico).

Todo o nosso conhecimento do mundo baseia-se, necessariamente, em impressões.


Estas são as crenças básicas, autojustificadas e justificativas do conhecimento.
Investiga o que
aprendeste!

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david-hume

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