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Teoria do Fingimento Poético

O fingimento é a característica mais marcante de Pessoa Ortónimo e


Heterónimo.
O poeta metaforicamente apresenta-se como um fingidor e finge, que
finge a dor verdadeira. A dor fingida é a que é comunicada através da
linguagem escrita. O poeta é um racionalizador do sentimento e a produção
poética é um ato lúdico. O distanciamento do poeta em relação ao real fá-lo
criar novas relações significativas, através da interação entre o pensamento e a
sensibilidade.
O poeta nega: não finge no sentido de falsear, faltar a verdade, não
mente ao escrever: O que faz é racionalizar os sentimentos. (sente com a
imaginação não usa o coração). Para Pessoa, o que importa é o fingimento
poético, síntese da sensação com imaginação. Entre a realidade e o
fingimento, há quatro relações: realidade sem fingimento, fingimento sem
realidade, fingimento da realidade e realidade do fingimento. Diz Pessoa que
fingir é conhecer-se.
O fingimento poético, nova conceção de arte, traduz-se por uma forma
anti-romântica, despersonalizada, sendo a expressão de sensações
intelectualizadas, produto de uma forte elaboração mental. É a busca do novo,
do ainda não dito, de um mundo melhor. A imaginação porque intelectual é a
grande responsável por este processo.
Para Fernando Pessoa, um poema é um produto intelectual, que não
acontece no momento da emoção, mas no momento da sua recordação, e, só
assim, existe “intelectualmente”. Ao não ser um produto directo da emoção,
mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-se com um
“fingimento”.
Na criação artística, o poeta parte da realidade, mas só consegue, com
autêntica sinceridade, representar com palavras o fingimento, que é uma
realidade nova, elaborada mentalmente graças à conceção de novas relações
significativas, que a distanciação do real lhe permitiu.
O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de
representar, de exprimir intelectualmente as emoções, ou, o que quer
representar.

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