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Harmonia Funcional:

Análise COMPLETA Matéria:


da canção "Garota Quem foi
de Ipanema" Francisco
Alves
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Partitura
c/ Áudio

Editora
Harmonia Essencial
Quem foi
Francisco Alves
Eis Francisco Alves, também conhecido
como o "REI DA VOZ".

E realmente, Francisco tinha uma voz


ímpar. Afinação extrema e com uma voz
barítona aveludada, Francisco foi dos mais

populares cantores do Brasil na primeira metade do século


XX.

Francisco de Morais Alves nasceu no Rio de Janeiro em


1898. Por causa de seu nome e do envolvimento com a
música, também era conhecido como Chico Alves ou Chico
Viola.

Seu pai era imigrante português e tinha um bar no centro do


Rio de Janeiro. Francisco tinha mais 4 irmãos, e foi de um
deles que ganhou o seu primeiro instrumento, uma guitarra.

A família tinha um certo dom artístico. Uma de suas irmãs


tornou-se atriz. No entanto, Francisco passou muitas
dificuldades na infância. Trabalhou como engraxate, em
fábrica de chapéus entre outros empregos para se manter.
Na adolescência morava próximo a um batalhão de polícia
e aproveitava os ensaios da banda militar para aprender
algo, demonstrando o seu interesse pela música.

Aos 20 anos começou a


cantar profissionalmente.
Junto à música, trabalhava
como taxista. Tinha grande
admiração por VICENTE
CELESTINO e sua bela voz
tenor.

Francisco possuía uma voz


mais aveludada que a de seu
ídolo, mas o estilo de ambos
era bem parecido como
iremos ver posteriormente.

Em 1919, Sinhô, um dos mais talentosos compositores


de samba, para muitos o maior da primeira fase do samba
carioca, e o filho de Chiquinha Gonzaga estavam fazendo
uma fábrica de discos no Rio de Janeiro, assim Francisco
teve a oportunidade de gravar seu DISCO POPULAR com 2
canções, uma marchinha e um samba.

Sinhô foi quem ajudou Francisco Alves com a técnica vocal.

A partir de 1920 participou como protagonista como teatro


de revista e fez gravações com algumas gravadoras da
época como a ODEON e Parlophon.

O interessante é que mesmo com o seu


trabalho artístico, não deixou a sua
antiga profissão, a de taxista.

Teve um momento que fez gravações


pela ODEON e Parlophon
simultânemente.
Em uma, utilizava o seu nome, "Francisco Alves", em outra
utilizava "Chico Viola" como também era conhecido.

Isso causava certa confusão entre os ouvintes que discutiam


sobre quem era melhor, Francisco Alves ou Chico Viola, sem
saber que se tratava da mesma pessoa.
Nesta mesma época, participou de um
programa da famosa Rádio Mayrink
Veiga. Tal emissora de rádio foi o reduto
de novos talentos e ícones da
chamada Era do Rádio, assim como
ocorreu na ERA DOS FESTIVAIS, tema
abordado em revistas antereiores. Teve
o radialista César Ladeira (Grande nome
da era do rádio) como diretor artístico.

Carmen Miranda, Pixinguinha, Chico Anysio era uma das


que participavam do grupo com Alves que já era então
consagrado como artista e ídolo popular.
INTERESSANTE

Noel Rosa em começo de carreira, com


apenas 21 anos (faleceu com 26),
participou de um grupo de samba
chamado "Ases do Samba", no qual tinha
principal nome Francisco Alves.

"Aquarela do Brasil" é uma das mais populares


canções brasileiras de todos os tempos, escrita
pelo compositor mineiro Ary Barroso em 1939. O samba foi
gravado a primeira vez por Francisco Alves, com arranjos e
acompanhamento de Radamés Gnattali e sua orquestra, e
lançada pela Odeon Records.

Ouça a canção
ORIGINAL da Aquarela
do Brasil cantada por
Francisco Alves. Clique

Na época da II Guerra, radionovelas e a


participação do na Guerra Mundial, os
cantores perderam momentaneamente a
condição de protagonistas do rádio e os
noticiários que somente abordavam assuntos
referentes aos acontecimentos mundias da
época.
Ainda assim, Francisco Alves era
o “maioral” dentro do rádio
carioca. Era o mais popular, o
mais ouvido e o mais caro de
todos”. “Francisco Alves, o
“Chico Viola”, não passa, não
cansa nem nada... Ele está aí,
com o mesmíssimo cartaz:
continua sendo o melhor, o
primeiro, o popularíssimo e o
ouvidíssimo”. (Matéria da
época).
Alves mantinha o seu status. Não dispersou os ganhos com
as fãs ou a boemia como é comum de se ver.

Isso em 1949...Você já ouviu essa história ?


rsrsrs
Editorial da revista "A Cena Muda " - 1949

É de se lamentar que os cantores estavam a perder


seu espaço para programas de auditório de mau
gosto ou para as novelas, com os seus horários
modificados para os de menor audiência: afirmando
que
abandonando os seus intérpretes, as emissoras
brasileiras estão matando aos poucos a nossa música
popular e que o rádio brasileiro precisa debater o mal
que vem causando à nossa música !!
Além de excelente músico e cantor, podemos
aprender com o REI DA VOZ o seu lado
empreendedor.
Chico cuidava bem dos negócios. Tinha vários
imóveis, uma loja em Miguel Pereira-RJ e os
cavalos de corrida.

Alves gravou canções de vários compositores importantes


da épica, como Herivelto Martins, Catulo da Paixão
Cearense, Lamartine Babo, Grande Otelo, Dorival
Caymmi entre outros.

Participou de filmes e também do


teatro.

Infelizmente Chico faleceu aos 52 anos


vítima de um acidente automobilístico
na rodovia presidente Dutra, na cidade
de Pindamonhangaba.
A morte repentina do rei da voz causou alvoroço à
população. Diversas homenagens pelo Brasil todo.

Fato que não vale a pena ser lembrado mas foi real, é que
Perpétua, sua "antiga esposa", meretriz que conhecera
ainda jovem e casou-se com a mesma onde o casamento
durou apenas 9 dias, após a morte de Chico, alegou ter dois
filhos com o mesmo e entrou na justiça para ficar com os
bens do cantor.
Perpétua, que vivera alguns dias com Chico
Alves, tornou-se senhora de todo o patrimônio
que acumulara e dos direitos sobre suas músicas.

Mas o fato importante é que


Francisco Alves foi o detentor de
uma das mais belas vozes da
música brasileira. Deixou centenas
de canções que, no presente, são
objeto de atenção por estudiosos e
investigadores culturais. Sua longa

carreira como artista foi de importância capital para a


formação de muitos dos gêneros da música popular
brasileira.

Depoimentos da época.
"Francisco Alves é um cantor que sabe ser artista
(...) Chico não se barateia ante o público, mesmo
quando se apresenta diante de uma auditório
que sente a presença marcante do “Rei da Voz”.

"Francisco Alves é um cantor que sabe ser artista


(...) Chico não se barateia ante o público, mesmo
quando se apresenta diante de uma auditório
que sente a presença marcante do “Rei da Voz”.
"Mantêm ainda a grande classe dos velhos tempos, o que
equivale dizer que soube conservar-se com a sua voz em
forma e não se deixara baratear ou vulgarizar-se”

Que tal ouvir alguns sucessos de


Chico Alves e conhecer melhor a
carreira do REI DA VOZ?
Tipos de Vozes
Masculina
Vimos que o estilo de voz de
Francisco Alves era classificada como
BARÍTONO, diferente da voz de seu
ídolo, Vicente Celestino, que era
tenor.
Você conhece tais classificações?

Vamos analisá-las?

Extensão
Vocal

Vale lembrar que, uma EXTENSÃO VOCAL está relacionada


ao conjunto de todas as notas que um cantor consegue
atingir, independente da qualidade da nota a ser
alcançada, se fica "forçado ou não".

No entanto, enquanto que a extensão representa todas


as notas fisicamente "alcançáveis" pelo cantor, a
TESSITURA está relacionada a faixa de extensão vocal onde
é mantida a qualidade e "saúde" da nota musical,
podendo assim dizer, onde o cantor articula as notas
naturalmente, sem "forçar".
Barítono

Barítono é a voz masculina intermediária, que


se encontra entre as extensões
vocais de baixo e tenor.
É uma voz mais grave e aveludada que a dos
tenores, mas geralmente sem a mesma
agilidade.
É volumosa e produz notas graves e com maturidade, como
a de Francisco Alves, onde estamos comentando na edição
dessa revista.

Geralmente, a sua extensão vocal está entre os limites


do G2 ao B3.

Existem vários tipos como, Barítono


Dramático, Barítono Martin, Barítono Verdi e
Lírico, mas no geral, a sua definição básica é
a que está descrita no começo da página.

Diferentemente de seu ídolo, Vicente


Celestino, "O REI DA VOZ" é um exemplo
clássico de barítono

enquanto Celestino, é um exemplo clássico de voz masculina


Tenor, como iremos ver a seguir.
Tenor
O Tenor é o tipo de voz masculina mais aguda
produzida, sem precisar utilizar a técnica
de falsete.
Sua extensão vocal vai do C3 ao F4 . Em
trabalho solo, o alcance chega até o C5,ou
mais. O extremo grave é o G2, e o extremo
agudo, depende do tenor, até D5.
O Tenor é o tipo de voz masculina mais aguda produzida,
sem precisar utilizar a técnica de falsete.
Sua extensão vocal vai do C3 ao F4 . Em trabalho solo, o
alcance chega até o C5,ou mais. O extremo grave é o G2, e o
extremo agudo, depende do tenor, até D5.

Vicente Celestino é um bom exemplo


do estilo de voz tenor.

Bela voz aguda e "sustentável",


firme, é uma de suas características.

Foi o primeiro cantor a gravar o hino


nacional brasileiro.
Ouça a voz de Vicente
Celestino e conheça o seu
excelente e magnífico
trabalho.

Também existem diversos tipos de Tenores como, tenor


leggero, tenor dramático, tenor mozartiano etc... No
entanto, a descrição acima satisfaz e explica tal
característica de voz.

Baixo
Baixo é o tipo de voz mais grave e
rara masculina, e tem o menor alcance
vocal de todos os tipos de voz.

A sua tessitura média costuma estender-se do


E2 ao E4.
Zé Ramalho é um bom exemplo de voz "BAIXO".

Alguns nomes da atualidade como, Mayck e Lyan, Jads e


Jadson, Manutti, João Carreiro entre outros.

Compare os tipos de vozes. Note a voz barítona de Francisco


Alves e a Tenor de seu ídolo Vicente Celestino. Compare com
a voz "baixo" de Zé Ramalho. Quantas variedades não? A
música é muito RICA !!
Andinho em...
Já leu a série Andinho ?

Neste EPISÓDIO 1, Andinho faz


um show muito ESQUISITO no
buteco do Bozó.

Você já fez algum show estranho


em sua vida?

Duvido que tenha sido mais


estranho que este show que
Andinho fez kk

Ainda neste episódio, Andinho mostra OS 7 HÁBITOS DO


MÚSICO MALA, quem sabe você não se identifica com
algum rsrsrs Brincadeira :)

Baixe o PDF e tenha uma BOA LEITURA!!

BAIXAR PDF
O que são
QUIÁLTERAS
Resumindo, quiáltera é uma divisão do
tempo de forma irregular!

Um exemplo comum é a TERCINA. Se em


UM tempo temos uma semínima como
base, se subdividirmos em colcheias,
teremos portanto DUAS colcheias.

Agora, se neste mesmo tempo


colocarmos 3 COLCHEIAS, teremos uma tercina.

Compare no tempo UM na parte


de cima e na parte de baixo. Na
parte de cima, em todo o tempo,
temos 3 colcheias, cada uma se
equivalendo 0.33 do tempo,
dizendo em formas matemáticas
(1/3).
Na parte de baixo, há somente 2 colcheias, indicando que
daca uma equivale 1/2 do tempo "completo". Assim, na
parte de cima, caracteriza-se uma QUIÁLTERA, onde se
forma uma divisão IRREGULAR do tempo. O número 3 sobre
as colcheias indica a TERCINA.
Neste outro exemplo
temos uma quiáltera
com semínimas.
Observe nos tempos 3
e 4. Na parte debaixo
vemos que cada
semínima ocupa o seu

espaço completo, cada uma se equivalendo a UM tempo


completo.

Já na parte de cima, temos que 3 semínimas ocupam os


tempos 3 e 4, ou seja, elas não estão divididas
uniformemente, não se equivalem a UM tempo específico
cada uma.

3 semínimas divididas em 2 tempos, cada uma se


equivalendo a 0.66, onde, somando as três semínimas,
teremos 2 tempos completos.

O número 3 e o colchete ligando as 3 semínimas indica que


se trata de uma QUIÁLTERA, ou seja, uma divisão IRREGULAR
do tempo do compasso.
Curiosidade

Em 24 de agosto de 1972 a lei


estadual paranaense nº 6.314
emancipou o município com o
nome que homenageia o cantor,
sendo instalada apenas em 1 de
fevereiro de 1977; Francisco
Alves é também chamada pelas
pessoas de "Chico Viola". Os
nascidos ali são os "alvenses".

Também na década de 70, na


casa em que Alves morou na
cidade de Miguel Pereira - Rio
de Janeiro, conhecida como
"Castelinho", foi inaugurado
o Museu Francisco Alves.

Além de ali ter uma rua com


seu nome. Situado no centro
da cidade, dentro do Jardim
Municipal Francisco Marinho
Andreiolo, o museu traz
importantes peças pessoais
do artista, dentre as quais em
destaque está seu violão.

Veja esse microfone,


que capricho !

A localização exata
do museu é Av.
Roberto Silveira,
428-500 - Village
São Roque, Miguel
Pereira - RJ.

Clique na Imagem
para ver no MAPA.
Chico Viola não Morreu é
um filme brasilo-
argentino de 1955 escrito por Gilda de
Abreu e dirigido por Román Viñoly
Barreto.
Chico Viola é interpretado por Cyll Farney, numa atuação
que lhe rendeu os prêmios de melhor ator em dois festivais
de cinema brasileiros da época.

O filme, até o momento que está sendo realizado esta


edição da revista, está disponível no youtube na íntegra.

Aproveite e veja todo o estilo dos personagens da época


(Filme em preto e branco) e conheça mais Chico Viola.

Clique e
assista
Harmonia Funcional:
"GAROTA DE IPANEMA" - Aula
Vamos estudar HARMONIA FUNCIONAL profundamente
com a famosa GAROTA DE IPANEMA de Tom Jobim e seu
amigo Vinicius de Moraes?

Realmente será um estudo e tanto! Irá perceber. Portanto,


estude com calma cada detalhe da análise.

Primeiramente iremos ver a canção de uma


maneira geral, sem análise.

Logo abaixo está a partitura da canção. Faça uma


prévia análise, tente descobrir a tonalidade da
música, se há acordes que não pertencem ao
respectivo campo harmônico, se possuem
dominantes primários e secundários, II cadenciais
etc...
Ou seja, dê uma geral na música com o seu próprio
conhecimento e depois compare com a análise já
pronta no decorrer do estudo.

Vamos lá !! Segue partitura para que analise os acordes e


linha melódica da canção Garota de Ipanema.
Música sem análise:
De maneira geral, percebemos que apareceu UM BEMOL na
armadura de clave.
Isto indica que a canção está na
tonalidade de FÁ MAIOR ou seu relativo
menor, RÉ MENOR.

Vejamos os dois campos harmônicos

CAMPO HARMÔNICO DE FÁ MAIOR:

F7M - Gm7 - Am7 - Bb7M - C7 - Dm7 - Em7(b5)

CAMPO HARMÔNICO DE RÉ MENOR (Simplificado):

Dm7 - Em7(b5) - F7M - Gm7 - Am7 - Bb7M - C7


A7
No entanto, percebemos que a canção corre em torno de FÁ
MAIOR, tanto que começa por este acorde, não que isso seja
uma regra geral, mas todo o contexto harmônico indica que
se trata da tonalidade de FÁ MAIOR. Veremos os detalhes.
Note também que a fórmula de
compasso da música é 2/2.

Vamos focar no estudo da Harmonia


Funcional agora.
Dividiremos a música em 3 partes para que as explicações
fiquem mais didáticas.

Parte 1

Sendo assim, sabemos que a música está em FÁ MAIOR e em


2/2. Apareceram os seguintes acordes:

F7M - G7(13) - Gm7 -


Gb7(#11) - Ab7 - Am7 -
Db7M(9)
Comparando com o Campo harmônico de Fá maior:

F7M - Gm7 - Am7 - Bb7M - C7 - Dm7 - Em7(b5)


Deste modo, estes acordes Estes acordes não pertencem
são diatônicos à FÁ MAIOR. à FÁ MAIOR.

F7M - Gm7 - Am7 G7(13) Gb7(#11) - Ab7


- Db7M(9)
F7M, Gm7 e Am7 são respectivamente o I7M, IIm7 e IIIm7 do
campo harmônico de FÁ MAIOR, todos pertencendo ao
campo harmônico do mesmo.

Obviamente, sobre todos estes acordes estamos utilizando


a escala de fá maior também. Note que a melodia não
passou por notas cromáticas, mas somente diatônicas.

Vamos analisar o grupo de acordes não diatônicos agora?

G7(13) Gb7(#11) - Ab7


- Db7M(9)

O acorde G7(13)
ocupa os compassos
3 e 4. Ele não é
diatônico pois o
acorde de SOL
no campo harmônico de FÁ MAIOR é menor (Gm7 - IIm7),
localizado no segundo grau. Ou seja, G7(13) é um
dominante, e todo acorde dominante tende a resolver em
seu respectivo acorde esperado, neste caso, se tratando da
tonalidade de FÁ MAIOR, esperamos que tal acorde resolva
em C7, o respectivo V grau do campo harmônico.

Caminho esperado do dominante:

G7(13) - C7 ...
Porém, nem isso acabou ocorrendo. G7(13) não resolveu em
C7 como o esperado. Em vez disso, após os 2 compassos,
seguiu para o acorde Gm7.

Poderíamos considerar tal acorde como sendo um


DOMINANTE COM RESOLUÇÃO DECEPTIVA, pois o
dominante não resolveu no acorde esperado, mas não é o
caso deste acorde.

Este dominante tem uma função muito peculiar dentro da


Harmonia Funcional. Atente que tal acorde nos dá a
sensação de que "não possui a intenção de RESOLVER em Dó
maior", tanto que a sua utilização teve o seu tempo
prolongado, ocupando dois compassos inteiros da canção!

Se fosse um dominante autêntico, logo iria resolver no


acorde de resolução. Portanto, G7(13) trata-se de um
DOMINANTE SEM FUNÇÃO DE DOMINANTE, ou seja, um
acorde DE ESTRUTURA DOMINANTE mas SEM FUNÇÃO DE
DOMINANTE.
Um outro caminho de análise seria
considerar este acorde como sendo de
EMPRÉSTIMO MODAL, emprestado lá
do campo harmônico de FÁ LÍDIO.

Seria uma outra possibilidade de


análise bem racional.
CAMPO HARMÔNICO DE FÁ LÍDIO:

F7M - G7 - Am7 - Bm7(b5) - C7M - Dm7 - Em7

FÁ LÍDIO é o mesmo que o campo harmônico de DÓ MAIOR


iniciado pelo IV GRAU.

Porém, sendo um ou outro, o fato é que se trata de um


acorde de estrutura dominante mas sem função de
dominante.

Tal acorde é muito comum em tonalidade menor, mas


aparece também em tom maior.

O II7, como podemos analisar tal acorde,


é muito comum na BOSSA NOVA!.

Comece a observar os clássicos e irá


encontrar vários deles.

EXEMPLOS DE MAIS MÚSICAS:

Ouça "DESAFINADO"

Ouça "O Pato"


O próximo acorde não diatônico que iremos analisar é o
Gb7(#11). É também um acorde dominante, este com sua
tensão característica de #11 (Décima primeira aumentada).
SubV7 Chamamos este acorde
de DOMINANTE
SUBSTITUTO, ou
simplesmente de SubV7.

Neste caso, trata-se de um SubV7 primário, pois tem a


tendência de resolver semitom abaixo no acorde do I Grau.

Além disso, Gm7 e Gb7(#11) formam juntos o que


chamamos de II CADENCIAL SUBV7. Ainda assim, tal acorde
não resolveu em seu acorde de resolução esperado, o I GRAU
- F7M.

Portanto, neste caso sim, houve uma RESOLUÇÃO


DECEPTIVA.
Geralmente sobre o dominante SubV7
utilizamos a escala LÍDIA b7, onde o
intervalo de #11 é característico de tal
acorde e escala. No acorde de Gb7(#11),
a #11 é a nota DÓ, onde a melodia foi
bem enfatizada.
Seguindo o raciocínio.

Neste trecho marcado acima, dos três


acordes marcados, somente o Am7 é
diatônico.
Veja que interessante e quão complexo também. Cada
acorde ocupa UM tempo do compasso.
1 2 1 2

Portanto são acordes com passagens rápidas. O acorde Ab7


é o DOMINANTE que resolve em Db7M(9). O Gb7(#11)
sabemos que é o SubV7 Primário.

Db7M(9)
Dessa forma, o acorde Db7M(9) não é diatônico a
tonalidade de FÁ MAIOR. Se trata de um ACORDE DE
EMPRÉSTIMO MODAL. Este, foi emprestado lá da tonalidade
de FÁ MENOR, sendo o bVI GRAU desse campo harmônico.

Veja:
CAMPO HARMÔNICO DE FÁ MENOR (Simplificado):

Fm7 - Gm7(b5) - Ab7M - Bbm7 - Cm7 - Db7M - Eb7


C7

Estes acordes emprestados de outra tonalidade são


fantásticos pois geram uma "quebra" e um brilho na linha
harmônica da canção.

Já que Ab7 é seu respectivo dominante, denominamos os


DOMINANTES DOS ACORDES DE EMPRÉSTIMO MODAL como
DOMINANTES AUXILIARES.

Podemos ir ainda mais longe. A sequencia:

Am7 - Ab7 - Db7M


Pode ser entendida como sendo um II CADENCIAL do Db7M,
onde o Am7 seria o SUBII deste cadencial.

COMPLICOU? Viu como é interessante e libertador o estudo


da HARMONIA FUNCIONAL?
O ritornelo indica que a canção
voltou ao início, fazendo todo o
processo da PARTE 1.

Quanta coisa! E essa foi somente


a primeira parte !
Parte 2

Depois de passar pelo F7M, o tom "original da canção",


nesta parte 2 houve algumas coisas "estranhas".

Vamos dividindo por trechos.

A PARTE 2 de Garota de Ipanema já começa com o acorde


F#. Apesar de que na partitura não houve uma alteração da
armadura de clave, neste trecho ocorreu uma MODULAÇÃO.
Modulação de quê?

De FÁ MAIOR para FÁ# MAIOR.


Fá# MAIOR

Campo Harmônico de FÁ# MAIOR:


F#7M - G#m7 - A#m7 - B7M - C#7 - D#m7 - E#m7(b5)

Pois bem, o acorde seguinte é um


dominante B7(9), porém no
campo harmônico de FÁ# MAIOR

o acorde de SI é com sétima maior - B7M. B7(9) poderia ser


interpretado como sendo o V grau de Mi, mas este acorde
não consta no campo harmônico e nem na música. Também
poderia ser considerado como sendo o SubV7 deceptivo de
A#m7, o III GRAU, mas também não seria o caso.

Sendo assim, e novamente, trata-se de um DOMINANTE SEM


FUNÇÃO DE DOMINANTE no contexto harmônico maior, este
localizado no IV grau (IV7).

Este acorde é muito comum na HARMONIA BLUES, onde os


acordes, no "Blues original", são acordes dominantes sem
função de dominantes, numa sequência do tipo I7 - IV7 - V7.

Dpois de B7(9), surgiu o F#m7. Obviamente, tal acorde


também não pertence à tonalidade de F# MAIOR, ou seja,
a canção modulou novamente.
Fá# Menor

Neste caso, houve uma modulação para Fá# menor. Na


verdade, esta PARTE 2 da canção é cheia de modulações
rápidas e transitórias como irá perceber.
Campo Harmônico de FÁ# MENOR (simplificado):
F#m7 - G#m7(b5) - A7M - Bm7 - C#m7 - D7M - E7
C#7
No que o acorde seguinte é D7(9), e assim como no exemplo
anterior, este acorde de RÉ MAIOR na tonalidade de F#
MENOR é um acorde com sétima maior D7M, o bVI GRAU.

Novamente, este não faz parte do campo harmônico


relacionado. D7(9) é um dominante sem função de
dominante. Mas o mais interessante deste trecho é a linha
melódica, perceba os intervalos utilizados sobre os acordes
de F#m7 e D7(9):

9 b3 9 1 9 1 9 3
Todo este trecho foi exatamente transposto meio tom acima,
tanto os acordes assim como a linha melódica, havendo
assim uma nova modulação. Observe:

Sol Menor

9 9 1 9 1
b3

9 3

De FÁ# MENOR, modulou para SOL MENOR mantendo a


linha melódica praticamente intacta. Gm7 é o I GRAU do
campo harmônico e Eb7(9), assim como D7(9) em FÁ#
MENOR, é o bVI GRAU sendo um dominante sem função de
dominante.

Quando ouvir o áudio que será disponibilizado logo a seguir,


atente para este trecho da música e perceba que houve uma
modulação semitom acima mantendo os mesmos acordes e
linha melódica.
Após passar pelas tonalidades de FÁ#
MAIOR, FÁ# MENOR e SOL MENOR, a
canção retorna para a tonalidade
origem através de II CADENCIAIS
ESTENDIDOS.
Uma das funções dos II CADENCIAIS ESTENDIDOS é alcançar
o acorde ALVO, neste caso, será para alcançar F7M.

Fá Maior V7 IIm7

V7 I7M

Os dois cadenciais interligados em si alcançaram o acorde


alvo. O movimento Am7 - D7(b9) ---- Gm7 - C7(b9) teve
como fim F7M.

Destes acordes, somente D7(b9) não é diatônico, sendo o


dominante do II GRAU, Gm7.

É claro que poderia haver mais encadeamentos de II


CADENCIAIS para se alcançar algum acorde alvo, mas o
exemplo utilizado foi muito bom para mostrar o que são II
CADENCIAIS ESTENDIDOS.

Assim, retornando para a tonalidade origem, a canção


segue para a parte 3 e também para a sua finalização.
Parte 3

A parte 3 é semelhante a parte 1, exceto pelo final, onde


alterna-se entre o acorde do I GRAU e seu respectivo SubV7,
F7M e Gb7(#11).

Finalizando

Garota de Ipanema, assim como todas as demais


composições do Maestro Tom Jobim, possuem um alto grau
de complexidade e uma harmonia muito rica onde podemos
aprender e retirar diversas lições e ideias também.

Acredito que as explicações acima foram bem detalhadas e


esmiuçadas. Você pode encontrar divergências de
pensamentos, mas isso faz parte do processo.
Logo abaixo, segue a partitura analisada, os respectivos
PDF'S para DOWNLOAD e o ÁUDIO da partitura também.
Bons estudos !
Música com análise:
DOWNLOADS
Baixe os PDF'S com todas as
partituras e o áudio da canção
para complementar o estudo.
Obrigado por ser
nosso aluno
#VivaEmHarmonia
Como um alpinista que não
consegue chegar ao cume por
falta de resistência, uma
pessoa que não consegue
superar a falta de concentração
fica incapacitada

de buscar a realidade. Ele


pode ter percepções fugazes
da realidade, mas não
poderá vê-la claramente.

É como um músico que ouve


uma música divina em um
sonho, mas não consegue
lembrar-se dela em seus
momentos de vigília e não
consegue reproduzir o sonho.

Pág.30 - LUZ sobre o YOGA - B.K.S IYENGAR


Harmonia
Essencial

Maio 2019 Francisco


Alves

Editora
Harmonia Essencial

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