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O termo "ecologià' foi cunhado pelo zoólogo alemão Ernst Haeckel, em 1 866. De
rivado do grego oikos, que significa casa ou habitat, foi usado por Haeckel para designar
"o estudo de todas as relações do animal com seu ambiente orgânico e inorgânico".
Desde os primeiros anos do século XX, a ecologia é reconhecida como um ramo da
biologia que estuda a relação entre os organismos vivos e seu ambiente. Aos poucos,
porém, ela se converteu em um termo político, devido ao uso que o crescente movimen
to "verde" faz dela, em especial desde os anos 1 960.
Como ideologia política, o ecologismo baseia-se na crença de que a natureza é um
todo inter-relacionado, que abrange os seres humanos e não humanos, bem como o
mundo inanimado. Os ecologistas adotam desse modo uma perspectiva ecocêntrica ou
biocêntrica, que prioriza a natureza ou o planeta, diferindo, assim, das perspectivas an
tropocêntricas (ou centradas no homem) das correntes ideológicas convencionais.
Porém, existem diferentes forças e tendências nessa ideologia. Alguns ecologistas
dedicam-se a uma ecologia "superficial" (às vezes vista como ambientalismo, e não como
ecologismo), que tenta aproveitar as lições da ecologia para atender às necessidades e aos
objetivos humanos, adotando uma abordagem moderada ou reformista da mudança
ambiental. Os chamados ecologistas "profundos", por sua vez, rejeitam por completo
qualquer crença persistente de que a espécie humana é de alguma forma superior ou mais
importante do que outras espécies. Além disso, o ecologismo baseia-se em várias outras
ideologias, em especial no socialismo, no anarquismo, no feminismo, no fascismo e no
conservadorismo, criando uma série de subcorrentes como o ecossocialismo e o ecofemi
nismo. Cada uma delas oferece uma análise diferente das origens da crise ecológica
contemporânea, um conjunto diferente de soluções e um modelo diferente de sociedade
ecologicamente viável para o futuro.
Origens e evolução
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Ideologias p o l íticas - Do fem i n ismo ao m u ltirnlturalismo (v. 2 )
ecologismo era, e em grande parte continua a ser, uma reação ao processo de indus
trialização. Isso ficou evidente no século XIX, quando o desenvolvimento da vida
urbana e industrial gerou uma profunda nostalgia de uma existência rural idealizada,
transmitida por romancistas como Thomas Hardy e pensadores políticos como o so
cialista libertário britânico William Morris ( 1 834-1 896) e Piotr Kropotkin (veja na p.
1 93 do v. 1). Essa reação foi bem mais forte nos países que vi
venciaram um processo de industrialização mais veloz e drástico.
Por exemplo, a rápida industrialização da Alemanha no século
XIX deixou profundas marcas em sua cultura política e contri
buiu para a criação de mitos poderosos sobre a pureza e a
dignidade da vida camponesa, além de dar origem a um forte
movimento de "volta à naturezà' entre a juventude alemã. Esse
pastoralismo romântico foi explorado no século XX por nacio
nalistas e fascistas.
O crescimento do ecologismo a partir do final do século XX foi provocado pelo
avanço maior e mais intenso da industrialização e da urbanização, ligado ao surgimento
de uma sensibilidade pós-material sobretudo entre os jovens. A preocupação ambiental
tornou-se maior em razão do medo de que o crescimento econômico estivesse colocando
em risco a sobrevivência da raça humana e do próprio planeta.
Essas inquietações estão expressas em uma literatura que não para de crescer. A
primavera silenciosa ( The silent spring, 1 962) , de Rachel Carson, é tido como o primei
ro livro a chamar a atenção para a crise ecológica que então surgia. A autora faz uma
crítica aos danos causados à vida selvagem e à humanidade pelo elevado uso de inseti
cidas e demais produtos químicos agrícolas. Entre outros importantes trabalhos
pioneiros estão Como ser um sobrevivente (How to be a survivor, 1971), de Paul Ehrlich
e Richard Harriman; Projeto para a sobrevivência (Blueprint for survival, 1 972) , de
Edward Goldsmith e outros; Somente uma Terra (Only one Earth, 1 972) , relatório ex
traoflcial da ONU; e Os limites do crescimento ( The limits ofgrowth, 1 972), do Clube
de Roma. Ao mesmo tempo, surgiu também uma nova geração de grupos de pressão
- desde o Greenpeace e os Amigos da Terra até os ativistas pela libertação animal e os
chamados grupos "ecoguerreiros". Eles promovem campanhas que procuram alertar
para questões como os perigos da poluição, a diminuição das reservas de combustíveis
fósseis, o desmatamento e as experiências com animais. Junto com grupos muito
maiores e já estabelecidos, como o Fundo Mundial para a Natureza (Worldwide Fund
for Nature - WWF), isso levou ao surgimento de um movimento ambientalista am
plamente divulgado e cada vez mais poderoso. Desde os anos 1 980, as questões
ambientais têm sido mantidas em posição de destaque na agenda política pelos parti
dos verdes, que agora existem na maioria dos países industrializados e costumam se
espelhar na iniciativa pioneira dos Verdes alemães.
As questões ambientais também se tornaram um foco cada vez mais importante da
atividade internacional. Aliás, a crise ambiental pode ser considerada a maior questão
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Ecologismo
tràn�c.:endem os limites
em Estocolmo, em 1 972, foi a primeira tentativa de estabelecer •·.• r1��i()t1<lis {assim; .têm
uma estrutura internacional para promover uma abordagem �f!]·c<J(á�et 8ue • ·.• .
.·. 1.1\tr(ipass<i fronteiréls.
.• . . .
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- Do feminismo a o m11ltirnltura!ismo (v. 2)
Ecologia
O princípio fundamental de todas as formas do pensamento ecológico é a ecolo
gia. Ela evoluiu como um ramo específico da biologia por meio do crescente
reconhecimento de que as plantas e os animais são mantidos
ec:olo!:Jia� �stlído das por sistemas naturais autorreguladores - os ecossistemas -
.
relações• érítre Ôs ; :
organismp� y\vp�e.p •.• .•
·
ec()l()gi.a e�.�âti�a·a .
·
Figura 3.1
Um lago visto como ecossistema
48
a vida humana. Isso ocorreu de várias formas. Dentre elas
écocéntrismo:
destacam-se o crescimento exponencial da população mundial; o ófie11taÇãô teórica que
esgotamento de reservas finitas e não renováveis de combustíveis prioriza a mam1tenção
d.o eq u ilíbri o ecológico
como carvão, petróleo e gás natural; a destruição de florestas tro emdetri m e � to da
picais que ajudam a limpar o ar e a regular o clima da Terra; a conquista de objetivos
hum anos:
poluição de rios, lagos, florestas e do próprio ar; o uso de produtos
químicos, hormônios e outros tipos de aditivos nos gêneros ali
mentícios; e a ameaça à biodiversidade, gerada pelo aumento em antropacentrislllo:
erença de, que as
mil vezes do número de espécies em extinção, coincidente com o necessidades e
domínio da espécie humana. interesses.humanos
tê(Yl irr)porfânda moral
O ecologismo oferece uma visão radicalmente diferente da � filosiJfica prioritária.
natureza e do papel dos seres humanos dentro dela, uma visão que () ppost() do ·
ecocentrismçi.
promove o ecocenttismo e questiona o antropocentrismo. Con
tudo, pensadores "verdes" e ambientalistas aplicam as ideias
ecológicas de maneiras distintas, e às vezes chegam a conclusões ecologia superficial:
bem diferentes. A distinção mais importante no movimento perspeétiva ideológica
que utiliza as lições da
ambientalista é entre o que o filósofo norueguês Arne Naess ecologia para
( 1 9 1 2-2009) chamou de "ecologia superficial" e "ecologia pro necessidades e
objetivos humanos e
funda". A perspectiva "superficial" aceita as lições da ecologia, .está assçici�da a valores
mas utiliza-as para as necessidades e os objetivos humanos. Em como sustentabilidade
e preservação.
outras palavras, ela prega que, se preservarmos e respeitarmos o
mundo natural, ele continuará a manter a vida humana. Essa vi
são se reflete numa preocupação específica com questões como o ·. ecologia 11rofunda:
controle do crescimento populacional, a diminuição do uso de perspectjva ideológica
·. que. rejeita o
recursos finitos e não renováveis e a redução da poluição. Enquan · ánt ropacéntrismo e
to alguns consideram essa postura uma forma de "ecologismo prioriza a conser vação
da natureza. Está
fraco", há quem a classifique de ambientalismo, para diferenciá associada a valores
-la mais claramente do ecologismo. como igualdade
biocêntrica,
Os ecologistas "profundos" veem o ecologismo "superficial" diversidade e
como uma forma mal disfarçada de antropocentrismo, argumen descentralização.
por completo qualquer crença persistente de que a espécie huma p()lítita do.meio
<!fribJeote natural. Ao
na seja, de alguma maneira, superior ou então mais importante do contráiiodo
que qualquer outra espécie, ou até do que a própria natureza. Ela écologisrnci; costuma
ser usado para denotar
se baseia na ideia mais instigante de que o propósito da vida hu . uma a bordagem
mana é, na verdade, ajudar a manter a natureza, e não o inverso. reformista da natu reza,
que reflete a s
Assim, o que Arne Naess (1 989) chamou de "ecosofià' representa hécessidades e
preocupações
uma visão de mundo fundamentalmente nova, baseada na ecolo
humanas.
gia filosófica, bem como uma visão moral cem por cento original.
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Ideologias p o l íticas - Do femi n i s m o ao m u lticulturalismo {v. 2 )
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50
Ecologismo
que ela apoia doutrinas irracionais ou místicas e porque defende .• soçiedacle humana
J�irdól'.la (!e �cordo com
soluções totalmente irrealistas que, de qualquer maneira, têm p:rin.dpios.ecológicos, o.
pouca probabilidade de alcançar grande apelo diante das popu •qtle i�fica a crença na
· • Í:f�rfT1on,ianatural e na
lações humanas. A ideia alternativa da ecologia social será .•. nece�sidil,de de equilí
abordada mais adiante ainda neste capítulo, em relação ao eco .bdo éntre a huma
nidade é a natureza.
anarquismo.
Holismo
As ideologias políticas tradicionais em geral pressupõem que os seres humanos são os
senhores do mundo natural e, dessa forma, consideram a natureza pouco mais do que
um recurso econômico. Nesse sentido, elas têm sido parte do problema e não da solução.
Em O ponto de mutação ( The turning point, 1 982), Fritjof Capra encontrou a origem
dessas ideias em cientistas e filósofos como René Descartes ( 1 596-1 650) e Isaac Newton
(1642-1727). Antes, o mundo era visto como orgânico, mas esses filósofos do século
xvn caracterizaram-no como uma máquina, cujas peças podiam
ser analisadas e entendidas por meio do método científico recém cientificismo: crença
dé que o método
-descoberto. A ciência possibilitou avanços notáveis no conheci científico é o único
mento humano e forneceu a base para o desenvolvimento da meio imparcial e
objetivo de estabelecer
tecnologia e da indústria moderna. Os frutos da ciência eram tão averdade, e pode ser
impressionantes que a investigação intelectual do mundo moder aplicado a todas as
áreas do aprendizado.
no passou a ser dominada pelo dentffidsmo. Contudo, Capra
51
- Do feminismo ao m 11ltic11lt11ra l ismo (11. 2 )
argumentou que a ciência ortodoxa, a que ele s e referiu como o "paradigma cartesiano
-newtoniano", corresponde à base filosófica da crise ambiental contemporânea. A ciência
trata a natureza como máquina, sugerindo que, como qualquer outra máquina, ela pode
ser revirada, consertada, aperfeiçoada ou até substituída. Para que os seres humanos
entendam que são apenas uma parte do mundo natural, e não seus senhores, Capra su
gere que essa fixação com o "mundo-máquina newtoniano" seja eliminada e substituída
por um novo paradigma.
Na busca desse novo paradigma, os pensadores ecológicos ou verdes são atraídos por
uma série de ideias e teorias, extraídas da ciência moderna e de antigos mitos e religiões.
Porém, o tema que une todas essas ideias é a noção de holismo, termo cunhado em 1 926
por Jan Smuts, um general bôer que por duas vezes foi primeiro
-ministro da Áfiica do Sul. Ele o usou para descrever a ideia de
que o mundo natural só pode ser entendido como um todo e não
por meio de suas partes individuais. Smuts acreditava que a ciên
cia peca pelo reducionismo: ela decompõe tudo o que estuda para
isolar as partes e tentar entender cada parte em si. Em contrapar
tida, o holismo entende que cada parte só tem sentido em relação
às demais partes e, em última instância, em relação ao todo. Por exemplo, a linha holís
tica da medicina não considera as indisposições físicas de maneira isolada; ela as vê como
manifestações de desequilíbrios do paciente como um todo, levando em consideração
fatores psicológicos, emocionais, sociais e ambientais.
Embora muitos ecologistas critiquem a ciência, outros sugeriram que a ciência
moderna pode oferecer um novo paradigma para o pensamento humano. Capra, por
exemplo, argumentou que a visão cartesiano-newtoniana do mundo já foi abando
nada por muitos cientistas, em especial por físicos como ele próprio. Durante o
século XX, com o avanço da "nova física'', a física deu um passo muito além das
ideias mecanicistas e reducionistas de Newton. O grande salto foi dado no início do
século XX por Albert Einstein ( 1 879- 1 955), físico alemão radicado nos Estados
Unidos que elaborou a teoria da relatividade e desafiou em sua essência os conceitos
tradicionais de tempo e espaço. O trabalho de Einstein evoluiu para a teoria quân
tica, desenvolvida por físicos como o dinamarquês Niels Bohr ( 1 8 8 5 - 1 962) e o
alemão Werner Heisenberg ( 1 90 1 - 1 976) . De acordo com ela, o mundo físico é en
tendido não como um conjunto de moléculas, átomos ou mesmo partículas
individuais, e sim como um sistema ou, para ser mais preciso, uma rede de sistemas.
A visão de sistemas do mundo não se concentra nos blocos de construção indivi
duais, mas nos princípios de organização dentro do sistema. Portanto, ela enfatiza as
relações no interior do sistema e a integração de seus vários elementos dentro do
todo. Essa visão tem algumas implicações bem radicais. O conhecimento objetivo,
por exemplo, é impossível, pois o próprio ato de observar altera o que está sendo
observado. O cientista não está isolado do seu experimento, mas tem uma ligação
intrínseca com ele: sujeito e objeto são, portanto, um. Isso levou Heisenberg a pro-
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Ecologismo
por seu "princípio da incerteza'', que evidencia a influência que o observador sempre
tem sobre aquilo que é observado.
Uma fonte alternativa e particularmente fértil de novos conceitos e teorias é a reli
gião. Em O Tao da física ( The Tao ofphysics, 1 975), Capta chama a atenção para
paralelos importantes entre as ideias da física moderna e as do misticismo oriental. Ele
afirma que religiões como o hinduísmo, o taoismo e o budismo, em especial o zen
-budismo, há muito tempo pregam a união ou a unidade de todas as coisas, uma
descoberta que a ciência ocidental só fez no século XX. Muitos adeptos do movimen
to verde são atraídos pelo misticismo oriental, vendo nele uma filosofia que dá
expressão à sabedoria ecológica e um modo de vida que estimula a compaixão por
outros seres humanos, outras espécies e pelo mundo natural. Outros escritores acredi
tam que princípios ecológicos são personificados em religiões monoteístas como o
cristianismo, o judaísmo e o islamismo, as quais consideram a humanidade e a natu
reza produtos da criação divina. Em tais circunstâncias, os seres humanos são vistos
como administradores de Deus na Terra, e dessa maneira têm o dever de cuidar do
planeta e preservá-lo.
No entanto, talvez os conceitos que mais influenciaram os ecologistas modernos
tenham sido desenvolvidos com base nas ideias espirituais do pré-cristianismo. Em
geral, as religiões primitivas não diferenciavam os seres humanos de outras formas de
vida e faziam pouca distinção entre objetos vivos e não vivos. Tudo era considerado
vivo: pedras, rios, montanhas e até mesmo a própria Terra, muitas vezes concebida
como a "Mãe Terra''. Essa visão da Terra como mãe é importante principalmente para
os ecologistas que tentam estruturar uma nova relação entre os seres humanos e o
mundo natural, e em especial para os simpatizantes do ecofeminismo, assunto que
será examinado mais adiante neste capítulo. James Lovelock desenvolveu a ideia de
Químico atmosférico, inventor e teórico mancista Wil li a m Goldi ng). E m bora a h i pó
ambientalista canadense, radicado na Cornua tese Gaia a m plie a ideia eco l ógica quando
lha (Inglaterra). Cientista independente, Lo a p licada à Terra como ecossistema e ofere
velock colaborou com o programa espacial ça u m a a bordagem h o l ística da natureza,
da Nasa, como consultor sobre maneiras de Lovelock a poia a tecnologia e a ind ustriali
se procurar vida em Marte. zação e opõe-se ao misticismo da "volta à
A influência de Lovelock no movimento natureza" e a ideias de veneração à Terra.
ecológico resulta sobretudo d o fato de ter Seus l ivros mais importantes incluem: Gaia
caracterizado a biosfera da Terra como u m - Um novo olhar sobre a vida na Terra ( 1 979)
"ser" vivo com plexo e a utorregu lado, q u e e As idades de Gaia - Uma biografia de nossa
e l e chamou de G a i a (por sugestão d o ro- Terra viva ( 1 989).
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- Do femi n i s m o ao m 11ltirnlt11ralismo (v. 2 )
Jlipót�se Gaià:. � í:Jrr�.• que o próprio planeta é vivo e chamou-o de "Gaià', nome da
seguildo a qual a Terrn : .
deusa grega da Terra. Segundo a hipótese Gaia, "a biosfera, a
émais.berri ernte.tididá ·.
corno. uma entidáde'•.. • .
atmosfera, os oceanos e o solo da Terrà' apresentam exatamente
Vt\la que <Jge para } � '.' \ o tipo de comportamento autorregulador que caracteriza outras
mantera própria , • : ·.·. ·
.
existência. · ·
formas de vida. Gaia vem mantendo a "homeostase", um estado
de equilíbrio dinâmico, apesar de todas as mudanças relevantes
no sistema solar. A maior prova disso é o fato de a temperatura na Terra e a composi
ção de sua atmosfera permanecerem praticamente inalteradas mesmo que o Sol tenha
ficado 25% mais quente desde o surgimento da vida em nosso planeta.
A ideia de Gaia evoluiu para uma "ideologia ecológicà', transmitindo a forte mensa
gem de que os seres humanos devem respeitar a saúde do planeta e tomar atitudes para
preservar sua beleza e seus recursos. Ela também contém uma visão revolucionária da
relação entre o mundo animado e o inanimado. Contudo, a filosofia Gaia nem sempre
corresponde às preocupações do movimento ambientalista. Os ecologistas superficiais
costumam lutar pela mudança de políticas e posturas para assegurar a continuação da
sobrevivência da espécie humana. Gaia, por outro lado, é não humana, e a teoria de Gaia
sugere que a saúde do planeta é mais importante do que a de qualquer espécie que hoje
nele vive. Lovelock afirma que as espécies que prosperaram foram as que ajudaram Gaia
a regular sua própria existência. Além disso, afirma que qualquer espécie que represente
uma ameaça ao delicado equilíbrio de Gaia, como os seres humanos o fazem hoje em
dia, tende a ser extinta. Lovelock também tem um firme compromisso com a ciência e,
ao contrário da visão de muitos no movimento ambientalista, enfatiza a importância da
energia nuclear na solução da crise ambiental.
Sustentabilidade
Os ecologistas argumentam que a premissa arraigada dos credos políticos convencio
nais, enunciada pela grande maioria dos partidos políticos tradicionais (os chamados
"partidos cinzà'), é que a vida humana tem possibilidades ilimitadas de prosperidade e
crescimento material. De fato, os pensadores do movimento verde costumam colocar o
capitalismo e o socialismo j untos, e caracterizam ambos como exemplos de "industria
lismo". Uma metáfora particularmente influente no movimento ambientalista é a ideia
da "espaçonave Terrà', porque ela prega a noção de riqueza limitada e exaurível. A
ideia de que a Terra deve ser vista como uma espaçonave foi sugerida pela primeira vez
por Kenneth Boulding (1 966) . Ele argumenta que os seres humanos costumam agir
como se vivessem numa "economia de caubói", uma economia com oportunidades ili
mitadas, como no período de expansão da fronteira Oeste dos Estados Unidos. Boulding
afirma que isso estimula um "comportamento negligente, explorador e violento", como
ocorreu no Oeste americano. Porém, como uma espaçonave é uma cápsula, ela é um
sistema "fechado". Os sistemas "abertos" recebem energia e insumos de fora. Por exem
plo, todos os ecossistemas da Terra - lagos, florestas, lagoas e mares - são mantidos pelo
Sol. Entretanto, os sistemas "fechados" - como a própria Terra passa a ser considerada
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Ecoiogismo
, � lal�slrialismo
55
- Do feminismo a o m ulticu l tu ra lismo 2)
Economista e teórico ambientalista alemão que leva em conta as pessoas (1 973), de Schuma-
radicado no Reino Unido. Schumacher mudou-se cher, defende a causa da produção em escala
para a Grã-Bretanha em 1 930, como bolsista da humana e apresenta uma filosofia econômica
Rhodes em Oxford, e adquiriu experiência práti- "budista" (a economia "que leva em conta as
ca em negócios, agricultura e jornalismo antes pessoas"), que enfatiza a importância da mora-
de voltar à vida acadêmica. Foi conselheiro lidade e da "subsistência correta''. Mesmo se
econômico da Comissão Britânica de Con- opondo ao gigantismo industrial, Schumacher
trole na Alemanha ( 1 946-1 950) e do Conselho acreditava na produção em escala "adequada" e
Nacional do Carvão (1 950-1 970). O inspirador O foi um ferrenho defensor da tecnologia "inter-
negócio é ser pequeno - Um estudo de economia mediária''.
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ondas. Elas são sustentáveis por sua própria natureza e podem ser tratadas como "rendi
mentos" em vez de "capital natural".
Entretanto, a sustentabilidade não exige a mera implantação de controles governa
mentais ou de regimes tributários para assegurar o uso mais inteligente dos recursos
naturais, mas sim, em um nível mais profundo, a adoção de um enfoque alternativo da
atividade econômica. Foi exatamente isso que Schumacher (1 973) procurou oferecer na
sua ideia de "economia budistà'. Segundo ele, a economia budista baseia-se no princípio
da "subsistência corretà' e se posiciona em total contraste com as teorias econômicas
convencionais, que pressupõem que os indivíduos não são nada além de "maximizadores
de utilidade". Os budistas acreditam que, além de gerar bens e serviços, o processo de
produção promove o crescimento pessoal ao desenvolver habilidades e talentos, e ajuda
a superar o egocentrismo ao engendrar laços sociais e ao estimular as pessoas a trabalhar
juntas. Essa visão coloca a economia muito longe da atual obsessão com a geração de
riqueza, obsessão que, segundo os ecologistas, deu pouca atenção à natureza ou ao aspec
to espiritual da vida humana.
Existe uma discussão considerável acerca do que isso implica na prática. Os cha
mados verdes "claros'', conhecidos na Alemanha como Realos (realistas), aprovam a
ideia do crescimento sustentável: ou seja, enriquecer, porém mais devagar. Segundo
essa visão, as vantagens advindas do desejo de prosperidade material podem ser pon
deradas se for levado em conta o custo ambiental. Uma forma de alcançar isso é por
meio da modificação do sistema tributário, seja para penalizar e desestimular a po
luição, seja para reduzir o uso de recursos finitos. No entanto, os verdes "escuros",
conhecidos na Alemanha como Fundis (fundamentalistas) , afirmam que essa abor
dagem não é suficientemente radical. Desse ponto de vista, a noção de crescimento
sustentável não passa de retórica vazia acerca dos temores ambientais, permitindo
que os seres humanos continuem vivendo como se não houvesse nada errado. Se,
conforme insistem os verdes "escuros", a origem da crise ecológica está no materia
lismo, no consumismo e na fixação pelo crescimento econômico, então a solução
está no "crescimento zero" e na construção da "era pós-industrial", em que as pes
soas passarão a viver em pequenas comunidades rurais e recorrerão a suas habilidades
manuais. Isso significa uma rejeição fundamental e abrangente da indústria e da
tecnologia moderna ou, literalmente, uma "volta à naturezà' .
Ética ambiental
A política ecológica, em todas as suas formas, busca a ampliação do pensamento
moral em uma série de novas direções. Isso porque os sistemas éticos convencionais são
claramente antropocêntricos, voltados para o prazer, as necessidades e os interesses dos
seres humanos. Essas filosofias só atribuem valor ao mundo não humano quando ele
satisfaz os objetivos humanos. Uma questão ética que até os humanistas ou os ecologistas
"superficiais" discutem com fervor é a polêmica sobre nossas obrigações morais em rela
ção às futuras gerações. Os assuntos ambientais giram em torno da ideia de que muitas
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- Do femi n i s m o ao m u lt i c u lt u ra l ismo (v. 2 )
das consequências de nossas ações só serão sentidas daqui a décadas ou mesmo séculos.
Por exemplo, por que nos preocuparmos com o acúmulo de lixo nuclear se as gerações
que terão de lidar com ele ainda nem nasceram?
Sem dúvida, a preocupação com nossos próprios interesses, e talvez com os de nossa
família e amigos próximos, estende-se apenas a um futuro bem imediato. Desse modo,
os ecologistas têm de ampliar o conceito de interesse humano para que ele abranja a
espécie humana como um todo, sem fazer distinção entre a geração atual e as futuras,
entre os que já nasceram e os que ainda estão por nascer. Essa "atenção ao futuro" pode
ser justificada de diferentes maneiras. Os ecoconservadores, por exemplo, podem
relacioná-la à tradição e à continuidade, à ideia de que a geração atual é mera "guardiâ'
da riqueza que foi produzida pelas gerações passadas, devendo preservá-la em benefício
das futuras. Os ecossocialistas, por sua vez, podem argumentar que a preocupação com
as gerações futuras é mero reflexo do fato de que a compaixão e o amor pela humanida
de se estendem ao longo do tempo, assim como ultrapassam as fronteiras nacionais,
éticas, de gênero e outras.
Uma abordagem alternativa à ética ambiental estende a outras espécies e organismos
os padrões e valores morais criados para os seres humanos. A tentativa mais conhecida
de se fazer isso são os "direitos dos animais". A defesa do bem-estar dos animais feita
por Peter Singer ( 1 975) causou um impacto considerável no crescente movimento de
libertação dos animais. Singer afirma que a preocupação altruísta com o bem-estar
de outras espécies deriva do fato de que, como seres vivos, eles
são passíveis de sofrimento. Baseado no utilitarismo, ele observa
que os animais, assim como os seres humanos, procuram evitar a
dor física. A partir dessa premissa, condena e vê como "especis
mo " qualquer tentativa de colocar os interesses humanos acima
dos interesses dos animais.
Porém, a preocupação altruísta com outras espécies não implica tratamento igual.
O argumento de Singer não se aplica a formas de vida inanimadas, como árvores,
rochas e rios. Além do dever moral está o repúdio ao sofrimento, com especial con
sideração aos animais mais desenvolvidos e autoconscientes, particularmente os
macacos antropoides. Por outro lado, o argumento de Singer implica que uma con
sideração moral menor deva ser dada a fetos humanos e a pessoas com sério
comprometimento mental, que não vivenciam o sofrimento (Singer, 1 993).
No entanto, a postura moral da ecologia "profundà' vai muito mais longe, em parti
cular ao sugerir que a natureza tem valor por si só, isto é, valor intrínseco. Nessa
perspectiva, a ética ambiental não tem nenhuma relação com o meio humano e não
pode ser enunciada pela simples extensão de valores humanos ao mundo não humano.
Goodin (1992), por exemplo, procurou desenvolver a "teoria verde do valor", que de-·
fende que os recursos devem ser valorizados exatamente por resultarem de processos
naturais e não de atividades humanas. Todavia, uma vez que esse valor provém do fato
de que o cenário natural ajuda as pessoas a ver "algum sentido e padrão em sua vidà' e
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Ecologismo
a valorizar "algo maior" do que elas mesmas, ele personifica um humanismo residual que
não consegue satisfazer alguns ecologistas profundos.
Um exemplo clássico da posição mais radical desses ecologistas está na noção de
"ética da terra'', expressa na obra Pensar como uma montanha (Sand County Almanac,
[1 948] 1 968), de Aldo Leopold: "Uma coisa está certa quando tende a preservar a inte
gridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica. E está errada quando tende ao
contrário". Assim, a própria natureza é caracterizada como uma comunidade ética, o que
significa que os seres humanos não passam de "cidadãos comuns" que não têm mais
direitos nem merecem mais respeito do que qualquer outro mem
igualdade biocêntri
bro da comunidade. Essa postura moral implica uma "igualdade ca::prindpio segundo
o qual todos os
biocêntrka". Para Arne Naess (1 989), isso é visto como o "direi
organismos e
to igual de viver e florescer". Essa posição moral também implica entic!ades óa ecosfera
têm valor moral igual,
apoio à "biodiversidade", sob a alegação de que, quanto mais sendo cada um deles
ampla a gama de diversidade na comunidade biótica, mais saudá parte de um todo
inter-relacionado.
vel e mais estável será essa comunidade.
Autorrealização
Uma vez que um dos temas constantes do ecologismo é a re
pós-materialismo:
jeição à ganância material e ao egoísmo dos seres humanos, ele teoriasegundo a qual
procura desenvolver uma filosofia alternativa que relacione a rea as questões e
preocupações acerca
lização pessoal ao equilíbrio com a natureza. A crescente de "qualidade de vida"
preocupação com as questões ambientais a partir da década de te'ndem a substituir as
econômicas, conforme
1 960 costuma ser associada ao fenômeno do pós-materialismo aumenta a riqueza
(Inglehart, 1 977). A ideia do pós-materialismo está associada à material.
Natureza e política
60
Ecologismo
Ecologismo de direita
As primeiras manifestações de ecologia política tinham uma orientação essencialmen
te direitista (Bramwell, 1 989). O exemplo mais patente é o surgimento de uma forma
de ecologismo fascista durante o período nazista, na Alemanha. Seu principal expoente
foi Walther Darré, ministro da Agricultura do governo Hitler entre 1 933 e 1 942 e que
também ocupou o posto de líder nazista dos camponeses. A experiência da rápida indus
trialização vivida pela Alemanha no final do século XIX gerou um forte movimento de
"volta ao campo", que exerceu especial atração sobre os estudantes e os jovens. O Movi
mento da Juventude Alemã surgiu dos Wándervogel, grupos de estudantes alemães que
se refugiavam em florestas e montanhas para escapar da alienação da vida urbana. As
próprias ideias de Darré eram uma mistura de racialismo nórdico (veja na p. 222 do v.
1) e idealização da vida camponesa ou rural, amalgamadas em uma filosofia agrícola de
"sangue e solo", que coincidia em vários aspectos com o nacional-socialismo. Como líder
camponês, Darré foi responsável pela implantação da lei da hereditariedade rural - que
dava total garantia de posse aos pequenos e médios proprietários rurais - e também
pelo estabelecimento da Agência Nacional de Alimentos do Reich, a fim de comerciali
zar a produção agrícola com o objetivo de manter os preços dos alimentos em alta e
sustentar a prosperidade rural.
Apesar de ,ter ligação com os nazistas, as ideias de Darré têm muito em comum com
o movimento verde moderno. Em primeiro lugar, ele estava convencido de que só a vida
próxima da natureza e do campo é verdadeiramente gratificante. Assim, ele desejava re-·
criar uma Alemanha camponesa. Essas ideias foram retomadas por ecologistas modernos
como Edward Goldsmith (1 988) . Além disso, Darré tornou-se um ferrenho defensor da
agricultura orgânica, que usa apenas fertilizantes naturais, como dejetos de animais.
Darré acreditava no ciclo orgânico animal-solo-alimento-homem, que ele descobriu nos
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Ideologias p o l íticas - Do feminismo ao m u l t i c u lturalismo (v. 2 )
Ecossodalismo
Há uma vertente socialista distinta no movimento verde, presente sobretudo entre os
Verdes alemães, cujos líderes eram em sua maioria antigos membros de grupos de extre
ma esquerda. O ecossocialismo baseou-se no socialismo pastoral de pensadores como
William Morris, que exaltavam as virtudes das comunidades artesanais de pequena
escala que viviam próximas à natureza. Porém, ele costuma ser mais associado ao mar
xismo. Por exemplo, Rudolf Bahro ( 1 982), um dos principais ecossocialistas alemães,
argumentava que a raiz da crise ambiental é o capitalismo. O mundo natural foi saquea
do pela industrialização, e isso é mera consequência da busca implacável de lucro pelo
capitalismo. Assim, o capitalismo é caracterizado não só pela luta de classes, mas também
pela destruição do meio ambiente natural. O trabalho humano e o mundo natural são
explorados porque são tratados apenas como recursos econômicos. Qualquer tentativa
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Ecologismo
Ecoanarquismo
Talvez a ideologia que tenha o melhor argumento para se declarar "ambientalmente
sensível" seja o anarquismo. Alguns meses antes da publicação de A primavera silenciosa,
de Rachel Carson, Murray Bookchin lançou Nosso meio ambiente sintético ( Our synthetic
environment, [1 962] 1 975) . No movimento verde, também há quem reconheça uma
dívida com os anarcocomunistas do século XIX, em particular Piotr Kropotkin.
Bookchin ( 1 977) sugeriu que há uma dara correspondência entre as ideias do anarquis
mo e os princípios da ecologia, articulada na ideia da "ecologia social", a crença de que
o equilíbrio ecológico é a base mais segura da estabilidade social. Os anarquistas acredi
tam em uma sociedade sem a presença do Estado, em que a harmonia surge do respeito
mútuo e da solidariedade social entre os seres humanos. A riqueza de tal sociedade
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- Do feminism o ao m ultirnltura lism o (v. 2 )
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o enfraquecimento do governo possa simplesmente abrir espaço para as forças que gera
ram a industrialização e destruíram o meio ambiente natural.
Ecofeminismo
A ideia de que o feminismo oferece uma abordagem diferenciada e valiosa das ques
tões ecológicas cresceu a tal ponto que o ecofeminismo evoluiu para uma das mais
importantes escolas filosóficas do pensamento ambientalista. Seu tema principal é o de
que a destruição ecológica tem origem no patriarcado: a natureza está sob a ameaça não
da humanidade, e sim dos homens e das instituições de poder
patriarcado:
masculino. As feministas que adotam uma visão andrógina ou literalmente, o ''governo
do pai". O termo é
assexuada da natureza humana argumentam que o patriarcado
usado num sentido
deturpou os instintos e a sensibilidade dos homens ao dissociá-los inais amplo para
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Ideologias p olíticas - Do feminismo a o multicultura l i s m o (v. 2 )
As perspectivas para o ecologismo no século XXI parecem ter forte ligação com a
posição atual da crise ambiental e o nível geral de compreensão das questões e problemas
ambientais. À medida que os sinais da destruição da natureza se acumulam - com a
mudança climática que resulta em aquecimento global, a redução dos níveis de fertilida
de masculina causada pela poluição, a erradicação de espécies de animais e plantas, e
assim por diante -, é certo que se intensificará a busca de uma alternativa ao industria
lismo obcecado pelo crescimento. A sorte instável dos partidos verdes e de grupos
ambientalistas não dá nenhuma indicação confiável da força das ideias e dos valores
ecológicos. Um dos problemas que os partidos verdes enfrentam é que seus adversários
mais importantes - e muito maiores que eles - assumiram posições "favoráveis à ecolo
già' que já foram exclusivamente suas. Da mesma forma, o conjunto de integrantes e
ativistas de grupos ambientalistas não reflete o número de "simpatizantes" na sociedade
como um todo, nem de todos aqueles que adotam regularmente práticas ecológicas co
mo a reciclagem e o uso de alimentos orgânicos. Também é digno de nota o fato de
grupos ambientalistas e ativistas ecológicos serem importantes no emergente movimento
antiglobalização. Dessa perspectiva, a única opção da humanidade no século XXI será
reverter as políticas e práticas que acabaram conduzindo a espécie humana e o mundo
natural a um ponto bem próximo da destruição.
Entretanto, a teoria ecológica enfrenta uma série de problemas. Em primeiro lugar, é
difícil enxergar como o ecologismo pode se tornar uma ideologia genuinamente mun
dial. No que se refere aos países do mundo em desenvolvimento, suas limitações parecem
negar-lhes a oportunidade de alcançar o Ocidente. Os países ocidentais se desenvolve
ram por meio da industrialização em grande escala, da exploração de recursos finitos e
da inclinação a poluir o mundo natural, práticas que hoje são negadas ao mundo em
desenvolvimento. Por exemplo, o crescimento econômico na China resultou na abertu
ra, em média, de uma nova central elétrica a carvão a cada semana durante 2006. Em
resultado, oito das dez cidades mais poluídas do mundo encontram-se naquele país.
Mas, tal como o mundo em desenvolvimento, o Ocidente industrializado também não
está propenso a adotar plenamente as prioridades ecológicas. Afinal, isso significaria que
ele, como o maior consumidor de energia e recursos, teria de abdicar da prosperidade
que já conseguiu. Isso fica claro na relutância de países como os Estados Unidos e a
Austrália em assinar o Protocolo de Kyoto.
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Ecologismo
BRAMWELL, A. Ecology in the twentieth century - A history. New Haven e Londres: Yale
University Press, 1 989. Detalhado e polêmico, trata-se de um estudo extremamente
influente da história intelectual e política do movimento ecológico.
CAPRA, F. The web oflife -A new synthesis ofmind and matter. Londres: Flamingo, 1 997.
[A teia da vida - Uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix,
2006.] Tentativa ousada de desenvolver uma nova base para a política ecológica, usan
do a ecologia profunda como paradigma teórico.
DoBSON, A. Green política! thought. 4.a ed. Londres: Roudedge, 2007. Relato acessível e
muito proveitoso das ideias por trás da política verde. Às vezes, considerado o texto
clássico sobre o tema.
___ . The green reader. Londres: Andre Deutsch, 1 99 1 . Excelente coletânea de breves
trechos de textos importantes de pensadores ecológicos. Boa base para outras leituras.
EcKERSLEY, R. Environmentalism and política! theory - Towards an ecocentric approach.
Londres: UCL Press, 1 992. Análise detalhada e abrangente do impacto das ideias am
bientalistas sobre o pensamento político contemporâneo.
MARSHALL, P. Nature's web - Rethinking our place on Earth. Londres: Cassell, 1 995. Um
histórico de ideias ecológicas que serve como compêndio das diversas abordagens em
relação à natureza em diferentes períodos, partindo da perspectiva de variadas culturas.
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