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Verde
Cor de Direito
Lições de Direito
do Ambiente
ALMEDINA
CAPÍTULO I
AMBIENTE E DIREITO
VERDES SÃO TAMBÉM OS DIREITOS DO HOMEM
2 O que não significa que, anteriormente, não tenham existido manifestações da-
quilo a que VIRIATO SOROMENHO MARQUES designa por manifestações de «"arqueologia" da
18 Lições de Direito do Ambiente
SUGESTÕES DE LEITURA
T.D.J. CHAPPELL, «The Philosophy of the Environment»,
Edinburgh University Press, Edinburgh, 1997.
LUC FÉRRY, «A Nova Ordem Ecológica - A Árvore, o
Animal, o Homem» (trad.), Asa, Porto, 1993.
JEAN JACOB, «Histoire de L' Écologie Politique», Albin
Michel, Paris, 1999.
VIRIATO SOROMENHO MARQUES, «O Futuro Frágil - Os
Desafios da Crise Global do Ambiente», Europa-América, Mem
Martins, 1998.
rica, Mem Martins, 1998; JOANAZ DE MELO / CARLOS PIMENTA, « O Que é Ecologia?»,
Difusão Cultural, Lisboa, 1993; DOMINGOS MOURA / FRANCISCO FERREIRA / F. NUNES
CORREIA/ G. RIBEIRO TELLES / V. SOROMENHO - MARQUES, «Ecologia e Ideologia»,
Livros e Leituras, Lisboa, 1999; JORGE PAIVA, «A Crise Ambiental, Apocalipse ou
Advento de uma Nova Era», Liga dos Amigos de Conimbriga, Lisboa, 1998. MARIA TERESA
PITÉ / TERESA AVELAR, «Ecologia das Populações e das Comunidades - Uma Abordagem
Evolutiva do Estudo da Biodiversidade», Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1996.
Ambiente e Direito. Verdes são também os Direitos do Homem 7
Nomos, 1981.
24 Lições de Direito do Ambiente
1 Para uma caracterização mais desenvolvida dos modelos de Estado Liberal, Social
e Pós-social vide VASCO PEREIRA DA SILVA, «Em Busca do A . A . P.», cit, pp. 4 3 e ss.
2 RUEDIGER BREUER, «Umweltschutzrecht», in SCHMIDT-ASSMANN, «Besonderes
Verwaltungsrecht», 10 edição, Walter de Gruyter, Berlin / New York, 1995, página 438.
a
titular de direitos subjectivos, vide JOERG LEIMBACHER, «Rechte der Natur und ihre
Einbindung ins Recht», in ROSSNAGEL / NEUSER (coord.), «Reformperspektiven im
Umweltrecht», Nomos, Baden-Baden, 1996, páginas 123 e seguintes; MANFRIED WELAN,
«Oekologisierung der Rechtsordnung», in WEBER / RATH-KAHREIN, «Neue Wege der
Allgemeinen Staatslehre Symposium zum 60. Geburtstag von Peter Pernthalter », Wilhelm
Braumueller, 1996, páginas 59 e seguintes.
2 A expressão "direitos dos animais" é muitas vezes utilizada sem grande rigor,
com um conteúdo mais político do que jurídico, surgindo mesmo em documentos interna-
cionais como a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, de Paris, de 1978, elabo-
rada no âmbito da UNESCO.
Sobre o problema dos direitos dos animais, e admitindo a sua "personificação
jurídica", ainda que em termos dubitativos, com base em argumentos de ordem biológica,
vide MICHAEL RADFORD, «Can Rights Extend to Animais?», in CONNOR GEARTY / ADAM
TOMKINS «Understanding Human Rights», Pinter, London and New York, 1996 ( I reimp. A
1999), páginas 403 e seguintes. Algo diferente a perspectiva daqueles que, parecendo con-
fundir titularidade de direitos sujectivos e tutela jurídica objectiva, falam em "direitos dos
animais", mas consideram que eles «são unicamente objecto de situações jurídicas, não
são erigidos a sujeitos dessas relações», não são «titulares de situações jurídicas» (JORGE
BACELAR GOUVEIA, «A Prática de Tiro aos Pombos, a Nova Lei de Protecção dos Animais
e a Constituição Portuguesa», in «Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente», n° 13,
Junho 2000, página 242). Pelo que «as vantagens que os animais retiram das disposições
legais que lhes são favoráveis constituem efeitos secundários e reflexos da tutela jurídica
que lhes é indirectamente dispensada» - vide ANTÓNIO PEREIRA DA COSTA, «DOS Animais
(O Direito e os Direitos), Coimbra Editora, Coimbra, 1998, página 18.
3 WILHELM HENKE, «Das Subjektive Recht im System des oeffentlichen Rechts»,
in «Die oeffentliche Verwaltung», n° 17, Agosto de 1980, página 622.
Ambiente e Direito. Verdes são também os Direitos do Homem 27
tiva de bens ambientais . E uma coisa são os direitos das pessoas, nas
1
creio bem que a melhor forma de defender o ambiente passa pela tomada
de consciência pelas pessoas dos direitos que possuem neste domínio e 3
e em que tudo gira em torno dos interesses, das preocupações, das aspirações e das neces-
sidades do Homem» (FREITAS DO AMARAL, «Apresentação», in «Direito do A » cit
p. 17). Na mesma linha, CARLA GOMES entende que «só um passo firme na direcção de
um ecocentrismo moderado - sem pôr em causa, naturalmente, o valor do Homem em face
da Natureza - ajudaria a dignificar o Direito do Ambiente e a banir, de uma vez por todas,
a visão utilitarista», ainda que admita que «a visão ecocêntrica, levada ao extremo, é tão
inoperativa como a perspectiva antropocêntrica - porque é, além de irrealista, tecnica-
mente impossível (os recursos naturais, não tendo personalidade jurídica, não são sujeitos
de direito)» (CARLA GOMES, «O Ambiente como Objecto e os Objectos do Direito do
Ambiente», in «Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente, n° 11/12, Junho / Dezem-
bro, 1999, página 65).
1Semelhante é a posição dos que autores que defendem um "antropocentrismo
alargado" ("extended stewardship ideology"), ainda que tal expressão me pareça menos
feliz. Vide por todos JOSÉ CUNHAL SENDIM, «Responsabilidade Civil por Danos Ecológi-
cos - Da Reparação do Dano Através de restauração Natural», Coimbra Editora, Coimbra,
1998, páginas 85 e seguintes.
2 Defendendo também a superação da clássica dicotomia antropocentrismo-eco-
centrismo, ainda que sem partir de uma concepção tão caramente subjectivista como a que
defendo, vide também KRISTIAN KUEHL, «Anthropozentrische oder nichtanthropo-
zentrische Rechtsgueter im Umweltstrafrecht?», in NIDA-RUEMELIN / PFORDTEN (coord.),
«Oekologische Ethik und Rechtstheorie», Nomos, Baden-Baden, 1995, páginas 245 e
seguintes.
3 FREITAS DO AMARAL, «Apresentação», in «Direito do A.», cit., pp. 16 e 17.
Ambiente e Direito. Verdes são também os Direitos do Homem 31
fundamental . 3
lidade de vida), «todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente
equilibrado e o dever de o defender».
2 Os direitos fundamentais, que nasceram como direitos de defesa contra o Estado
valem, hoje, também nas relações privadas (vide o artigo 18.°, n° 1, da Constituição).
Ainda que se considere que a vinculação das entidades privadas pelos direitos fundamen-
tais não é tão intensa como relativamente a entidades públicas e se possa distinguir entre
«uma vinculação a título principal, que cabe às entidades privadas dotadas de poder, pela
qual estas se encontram obrigadas a um dever activo de cooperação com os particulares
que, em face delas, podem invocar direitos fundamentais; e uma vinculação a título
secundário, que cabe a todo e qualquer indivíduo de respeitar um direito fundamental
reconhecido a outrém em face do poder e cujo reflexo, nas relações interprivadas é (...)
[um] dever geral de respeito» (VASCO PEREIRA DA SILVA, «A Vinculação das Entidades
Privadas pelos Direitos, Liberdades e Garantias», in «Revista de Direito e Estudos So-
ciais», n° 2, 1987, página 272).
3 KONRAD HESSE, «Grundzuege des Verfassungsrechts der Bundesrepublik
Deutschland», 20 edição, C. F. Mueller, Heidelberg, 1995, p. 127.
a
4 VIEIRA DE ANDRADE, «Os Direitos F. na C. P. de 1976», cit., pp. 159, 160 e 161.
5 Conforme escreve HESSE, na sua «vertente negativa», os direitos fundamentais sio
«"direitos de defesa" "Abwehrrechte") contra os poderes estaduais», pois «permitem
Ambiente e Direito. Verdes são também os Direitos do Homem 33
aos indivíduos defender o seu "status" constitucional contra violações ilegais dos pode-
res públicos sob formas jurídicas»; enquanto que, na sua vertente positiva, eles vin-
culam a actuação dos poderes públicos, que devem procurar a sua «concretização»
("Aktualisierung") (KONRAD HESSE, «Grundzuege des V . der B. D . » , cit., pp. 130 e 131).
1 VASCO PEREIRA DA SILVA, «Em Busca do A. A. P.», cit., p. 178.
2 No sentido da consideração dos direitos fundamentais como direitos subjectivos,
vide também GOMES CANOTILHO, «Direito C. e T. da C . » , cit., pp. 1121 e ss.. Diferente é
a posição de JORGE MIRANDA, que adopta uma concepção restritiva de direito subjectivo
público (vide JORGE MIRANDA, «Manual de D. C. - D. F.», tomo I V , cit., pp. 5 3 e ss..
3 Sobre as dificuldades de aplicação do direito fundamental ao ambiente, no di-
reito anglo-saxónico, vide SLONALDH DOUGLAS-SCOTT, «Environmental Rights: Taking the
Environment Seriously», in CONNOR GEARTY / ADAM TOMKINS «Understanding Human
Rights», Pinter, London and New York, 1996 (l. reimp. 1999), páginas 423 e seguintes.
a
SUGESTÕES DE LEITURA
FREITAS DO AMARAL, «Apresentação», in «Direito do Am-
biente», Instituto Nacional de Administração, Lisboa, 1994, páginas
13 e seguintes.
GOMES CANOTILHO, «Juridicização da Ecologia ou Ecologiza-
ção do Direito», in «Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente»,
n° 4, Dezembro 1995, páginas 69 e seguintes.
FRANÇOIS OST, «A Natureza à Margem da Lei - A Ecologia à
Prova do Direito» (trad.), Instituto Piaget, Lisboa, 1997.
MICHAEL RADFORD, «Can Rights Extend to Animais?», in
CONNOR GEARTY / ADAM TOMKINS «Understanding Human Rights»,
Pinter, London and New York, 1996 (I reimp. 1999), páginas 403 e
a
seguintes.
1 VASCO PEREIRA DA SILVA, «Da Protecção Jurídica Ambiental: Os Denominados
Embargos Administrativos em Matéria de Ambiente», A.A.F.D.L., Lisboa, 1996, p. 8;
também publicado sob o título «Os Denominados Embargos Administrativos em Matéria
de Ambiente», in «Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente», n° 5/6, Jun./Dez. 1996,
página 204.
2 VASCO PEREIRA DA SILVA, «Da Protecção J. A.: Os D. E. A. em M. de A.», cit.,
p. 9; também publicado sob o título «Os Denominados E. A. em M. de A.», cit., p. 205.
3 O tratamento da matéria do presente capítulo, até este ponto, tem seguido de
perto, com os necessários desenvolvimentos e adaptações, o texto antes publicado sob o
título «Verdes são Também os Direitos do Homem; Responsabilidade Administrativa em
Matéria de Ambiente», Principia, Cascais, 2000.
36 Lições de Direito do Ambiente
-ia dizer, como PEINE, que a codificação apresenta como vantagens uma
«maior utilidade do direito em consequência da redução da complexidade
mediante a adopção de concepções gerais unitárias, uma maior facilidade
de utilização e de execução, uma maior acessibilidade do direito mesmo
para leigos, um aumento da consciência ambiental dos cidadãos, um maior
reconhecimento da importância da protecção ambiental» . 4
SUGESTÕES DE LEITURA
FRANCESCO FONDERICO / PIERPAOLO MASCIOCCHI, «Piu
Ambiente con Meno Burocrazia - Verso la Procedura Única di Auto-
rizzazione Ambientale», Ipaservizi Editore, Milano 1999.
GERTRUDE LUEBBE-WOLFF, «Modernisierung des Umwel-
tordnungsrechts, Vollziehbarkeit - Deregulierung - Effizienz», Eco-
nomica Verlag, Bonn, 1996.
JÚLIO PINA MARTINS, «A Aplicabilidade das Normas Comu-
nitárias no Direito Interno», in «Direito do Ambiente», Instituto
Nacional de Administração, Lisboa, 1994, páginas 185 e seguintes.
44 Lições de Direito do Ambiente
valem "erga omnes", para todos, mas também obrigações que valem só
para algumas classes de Estados; assim ele compõe-se de regras subs-
tantivas, mas também de outras que têm natureza procedimental; assim,
ele faz-se cada vez mais por tratados multilaterais universais, mas, se
algumas vezes estas disciplinas são realmente uniformes, outras vezes
são-no apenas nominalmente, porque o sistema das reservas o vai parti-
cularizando» (PAULO CANELAS DE CASTRO). Mais ainda, continuando a
citar a impressiva caracterização de CANELAS DE CASTRO, trata-se «de
um direito que, para além da técnica dos tratados, recorre cada vez mais,
também, à das resoluções das Organizações Internacionais. Por isso,
para além de aparecer como um direito "hard", como obrigações bem
recortadas e seguras, ele é também, muitas vezes uma "soft law" que se
refugia nos princípios, eles próprios de conteúdo e sentido diversos, na
impossibilidade de avançar desde logo com regras impositivas, mas tam-
bém porque pretende ser um contributo para a sua adaptação a novos
desafios» .
1
533). Nesta última tendência se incluiriam «entre tantas constituições, a italiana (art. 9.°); a
suíça (art. 22.° - quater, 24.° -bis, 24.° - sexies e 24.° - septies); a indiana (art. 48.° -A e
51.°, g)); a espanhola (art. 45.°); a equatoriana (art. 51.°); a chinesa (arts. 9.° e 26.°); a holan-
desa (art. 21.°); a da Guiné-Bissau (art. 15.°); a iraniana (art. 50.°); a filipina (secção 16,
art. II); a brasileira (arts. 5.° LXXIII, 129° -IV, 182.°; 183.° e 225.°); a de S. Tomé e
Príncipe (arts. 10.° d) e 48.°); a namibiana (art. 11.°); a moçambicana (arts. 36.° e 37.°); a
búlgara (arts. 15.° e 55.°); a romena (arts. 14.°, n° 2 e)) ; a cabo-verdiana (art. 70.°); a
angolana (art. 24.°); a russa (art. 58.°); a alemã (art. 20.° -A, aditado em 1994); a sul-africana
(art. 24.°)» (JORGE MIRANDA, «Manual de D. C. - D. F.», t. IV, cit., p. 533, nota 2).
3 Vide o Capítulo II, «Da Constituição Verde para as Relações Jurídicas Multila-
terais de Ambiente».
48 Lições de Direito do Ambiente
1 Vide, infra, no Capitulo V, o ponto intitulado «Breve Nota sobre a Tutela Penal
e Contra-ordenacional do Ambiente».
2 VASCO PEREIRA DA SILVA, «Da Protecção Jurídica Ambiental - Os Denominados
Embargos Administrativos em Matéria de Ambiente», Associação Académica da Facul-
dade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1997, página 10.
3 Sobre esta questão vide MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, «Legitimidade Processual
e Acção Popular no Direito do Ambiente», in «Direito do Ambiente», Instituto Nacional
de Administração, Lisboa, 1994, páginas 4 0 9 e seguintes; JOSÉ LEBRE DE FREITAS,
«A Acção Popular ao Serviço do Ambiente», in «Lusíada - Revista de Ciência e Cultura»,
n. 2 3 - 2 4 - 2 5 , Novembro de 1995, páginas 2 3 1 e seguintes.
os
ecológico», mas também «a ecologia não vale senão ao serviço dos fins do
homem e da humanidade» (SOUSA FRANCO) . 1
«Direito do A.», cit., pp. 377 e ss.; JOÃO DE MENEZES LEITÃO, «Instrumentos de Direito
Privado para Protecção do Ambiente», in «Revista Jurídica do Urbanismo e do Am-
biente», n° 7, Junho 1997, páginas 29 e seguintes.
1 Acerca do entendimento das normas relativas às relações privadas de vizinhança
como instrumento de defesa do ambiente, vide HARM PETER WESTERMANN, «Das Private
Nachbarrecht ais Instrument des Umweltschutzes», in «Umweltschutz und P. - 5. T. K.
zum U. und T. vom 24. bis 26. S. 1989», cit., páginas 103 e seguintes.
2 GOMES CANOTILHO, «Juridicização da Ecologia ou Ecologização do Direito», in
«Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente», n° 4, Dezembro 1995, páginas 76 e 77.
3 Vide também FILIPA URBANO CAL VÃO, «Direito do Ambiente e Tutela Pro-
cessual das Relações de Vizinhança», in «Júris et de Jure - Nos Vinte Anos da Faculdade
de Direito da Universidade Católica Portuguesa», Publicações da Universidade Católica
Portuguesa, Porto, 1998, páginas 573 e seguintes; MAFALDA CARMONA, «O "efeito lega-
lizador" dos Actos Administrativos», Relatório da Parte Escolar do Mestrado, apresen-
tado na disciplina de Direito do Ambiente, na Faculdade de Direito de Lisboa, 1999/ 2000,
inédito.
4 Sobre a problemática da responsabilidade ambiental da perspectiva do Direito
civil, vide ERICH STEFFEN, «Verschuldenshaftung und Gefaehrdungshaftung fuer
Umweltschaeden», in «Umweltschutz und P. - 5. T. K. zum U. und T. vom 24. bis 26.
S. 1989», cit., pp. 71 e ss.; GUENTER HAGER, «Umwelthaftung und Produkthaftung»,
in «Umweltschutz und P. - 5. T. K. zum U. und T. vom 24. bis 26. S. 1989», cit., pp. 133
e ss..
52 Lições de Direito do Ambiente
SUGESTÕES DE LEITURA
GOMES CANOTILHO (coord.), «Introdução ao Direito do
Ambiente», Universidade Aberta, 1998 (páginas 17 e seguintes).
PAULO CANELAS DE CASTRO, «Mutações e Constâncias do
Direito Internacional do Ambiente», in «Revista Jurídica do Ur-
banismo e do Ambiente», n° 2, Dezembro 1994, páginas 145 e
seguintes.
MENEZES CORDEIRO, «Tutela do Ambiente e Direito Civil», in
«Direito do Ambiente», Instituto Nacional de Administração, Lisboa,
1994, páginas 377 e seguintes.
EDUARDO PAZ FERREIRA, «Fiscalidade Ecológica - Uma
Ideia em Busca de Afirmação», in «Revista de Direito do Ambiente e
Ordenamento do Território», números 6 e 7, 2001, páginas 9 e
seguintes.
SOUSA FRANCO, «Ambiente e Desenvolvimento - Enquadra-
mento e Fundamento do Direito do Ambiente», in «Direito do Am-
biente», Instituto Nacional de Administração, Lisboa, 1994, páginas
35 e seguintes.
CARLA AMADO GOMES, «O Ambiente como Objecto e os
Objectos do Direito do Ambiente», in «Revista Jurídica do Urba-
Ambiente e Direito. Verdes são também os Direitos do Homem 55
1 De acordo com o artigo 9.°, alínea d), constitui tarefa fundamental do Estado
«promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os por-
tugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais,
mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais».
Da Constituição Verde para as Relações Jurídicas Multilaterais... 85
1 Vide OTTO BACHOF, «Die Dogmatik des Verwaltungsrechts vor den Gegenwarts-
aufgaben der Verwaltung», in «Veroeffentlichungen der Vereinigung der Deutschen
Staatsrechtslehrer», n° 30 (Reunião que teve lugar em Regensburg, de 29 de Setembro a
2 de Outubro de 1971), Walter de Gruyter, Berlin, 1972, páginas 193 e seguintes (maxime
páginas 277 e seguintes).
Da Constituição Verde para as Relações Jurídicas Multilaterais... 87
Assim, do ponto de vista dogmático, está-se agora perante direitos que têm
por conteúdo prestações estaduais e que, no quadro das relações jurídicas
públicas, assumem a natureza de direitos relativos ou obrigacionais.
Mas, do ponto de vista jurídico-dogmático, o Estado Social vai
implicar ainda uma outra transformação da teoria dos direitos fundamen-
tais. É que, mesmo os direitos fundamentais "clássicos", ou de primeira
geração, não dependem apenas de uma mera abstenção estadual, como até
aí se dizia, antes implicam também a colaboração do Estado para a sua
realização. Pois, também os direitos de primeira geração necessitam que
as autoridades estaduais criem condições para a sua realização, mediante
a actuação dos órgãos dos poderes legislativo, administrativo e ju-
dicial.
Sirva de exemplo o direito de voto, que não se realiza se não houver
leis eleitorais, recenseamento, eleições, apuramento dos resultados, para
só referir algumas das muitas actuações públicas necessárias para a sua
concretização. Mas o mesmo se diga, v.g. da liberdade de expressão, da
liberdade religiosa, do direito de propriedade, do direito de associação,
que implicam não só a existência de leis reguladoras do respectivo exercí-
cio como também a colaboração activa de entidades administrativas para
a sua concretização (v.g. garantindo a segurança, a ordem pública, apoiando
e subvencionando iniciativas privadas), para além de postularem a exis-
tência de um sistema judicial que garanta a tutela plena e efectiva de tais
direitos. Daí a necessidade de repensar a teoria dos direitos fundamentais,
abandonando a ideia de que se trata de direitos de mera abstenção ou
de direitos de natureza absoluta, considerando antes que todos os direitos
fundamentais se concretizam tanto através da ausência de agressões como
mediante actuações estaduais.
Mas, como antes se referiu, as coisas não se ficam por aqui em
matéria de direitos fundamentais. O Estado Pós-social em que vivemos -
para além das mudanças introduzidas ao nível do modelo político, econó-
mico e do surgimento da "Administração infra-estrutural" (FÁBER) " - 1 2
rais - que tipicamente têm por objecto prestações, e não uma mera abstenção, ou um qual-
quer "dever geral de respeito", são considerados como direitos fundamentais» (VASCO
PEREIRA DA SILVA, «Em Busca do A . A . P.», cit., p. 180).
1 Neste sentido GOMES CANOTILHO, «Direito Constitucional e Teoria da Consti-
tuição», 4 edição, Almedina, Coimbra, 2000, maxime páginas 461 3 seguintes.
a
90 Lições de Direito do Ambiente
KONRAD HESSE, «Grundzuege des V. der B. D.», cit., pp. 127 e ss..
Da Constituição Verde para as Relações Jurídicas Multilaterais... 91
que se torna agora necessário proceder a uma espécie de "prova dos nove"
do seu acerto, procurando refutar algumas das principais objecções que
contra ela têm sido apresentadas. É o que se passa a fazer, relativamente
aos seguintes argumentos:
a) o de que a teoria dos direitos subjectivos públicos teria andado,
historicamente, ligada a concepções positivistas e estatistas. O que não
obsta a que a noção jurídica de direito subjectivo público ou a teoria do
estatuto não sejam susceptíveis de ser entendidas, em nossos dias, à luz de
diferentes pressupostos.
Pois, conforme anteriormente escrevi , aderir a uma "moderna dou-
3
SUGESTÕES DE LEITURA
VIEIRA DE ANDRADE, «OS Direitos Fundamentais na Consti-
tuição Portuguesa de 1976», 2 edição, Almedina, Coimbra, 2001.
a
sujeitos das ligações administrativas outros privados que não apenas aque-
les a quem são aplicáveis normas ordinárias de cariz indiscutivelmente sub-
jectivo, ou que são os imediatos destinatários de actos administrativos.
Esses particulares, titulares de direitos subjectivos públicos, já não podem
mais ser considerados "terceiros" em face da Administração, ou perante
aqueloutros privados imediatamente destinatários da sua actuação, antes
como autónomos sujeitos de uma relação multilateral, que tem de incluir
direitos e deveres recíprocos dos particulares (de cada um deles rela-
tivamente ao outro, ou outros, e de cada um deles em face da autoridade
administrativa) e da Administração (relativamente a cada um dos parti-
culares)» .1-2
1 Daí que, em rigor, seja incorrecta a designação tradicional destes direitos subjec-
tivos, na dogmática alemã, como "direitos subjectivos de terceiros". Vide supra.
2 VASCO PEREIRA DA SILVA, «Em Busca do A . A . P.», cit., p. 273.
3 VASCO PEREIRA DA SILVA, «Em Busca do A . A. P.», cit., p. 2 9 1 .
Da Constituição Verde para as Relações Jurídicas Multilaterais... 105
GLÓRIA GARCIA / JOÃO RAPOSO / PEDRO SIZA VIEIRA / VASCO PEREIRA DA SILVA - « C ó -
digo do Procedimento Administrativo - Anotado», 3 edição, Almedina, Coimbra, 1997,
A
SUGESTÕES DE LEITURA
FREITAS DO AMARAL / JOÃO CAUPERS / JOÃO MARTINS
CLARO / MARIA DA GLÓRIA GARCIA / JOÃO RAPOSO / PEDRO
SIZA VIEIRA / VASCO PEREIRA DA SILVA - «Código do Procedi-
mento Administrativo - Anotado», 3 edição, Almedina, Coimbra,
a
SUGESTÕES DE LEITURA
ADA PELLEGRINI GRINOVER, «A Acção Popular Portuguesa:
uma Análise Comparativa», in «Lusíada - Revista de Ciência e
Cultura», Número especial (Actas do I Congresso Internacional de
Direito do Ambiente da Universidade Lusíada - Porto), 1996, páginas
245 e seguintes.
Ruí MACHETE, «Acção Procedimental e Acção Popular -
Alguns dos Problemas Suscitados pela Lei n° 83/95, de 31 de
Agosto», in «Lusíada - Revista de Ciência e Cultura», Número espe-
cial (Actas do I Congresso Internacional de Direito do Ambiente da
Universidade Lusíada - Porto), 1996, páginas 263 e seguintes.
ANTÓNIO PAYAN MARTINS, «Class Actions em Portugal»,
Cosmos, Lisboa, 1999.
VASCO PEREIRA DA SILVA, «Verdes são Também os Direitos
do Homem; Responsabilidade Administrativa em Matéria de Am-
biente», Principia, Cascais, 2000, páginas 23 e seguintes.
penas severas, porque pensam e sabem que são pouquíssimos aqueles que
lhes são trazidos para serem julgados. E pensam e sabem que esses
poucos, a quem eles têm a possibilidade de aplicar uma qualquer pena, são
também os menos indicados para personificarem a realidade dos atentados
contra o ambiente» (HASSEMER) . 5
Direito» .2
soa humana, mas sem que isso signifique a banalização do Direito Penal
do Ambiente, pois o modo "normal" de reacção contra delitos ambientais
deve ser antes o das sanções administrativas ou contra-ordenações. Assim,
de acordo com FERNANDA PALMA, se a tutela ambiental não dispensa a
tipificação de crimes ambientais, ela deve estar submetida a «limites
rigorosos, não podendo ultrapassar, legitimamente, a evidente repercussão
humana (já tomando em conta as gerações futuras)»; ao passo que que a
tutela contra-ordenacional, «pelos meios sancionatórios que oferece
(sobretudo ao nível das sanções acessórias) e por não ser seu critério pre-
dominante de fim e medida da sanção a culpa, mas antes a reparação do
dano e a desmotivação do infractor através do prejuízo pecuniário cau-
sado pela sanção, (...) oferece mecanismos ideais relativamente a condutas
anti-ambientais não imediatamente anti-humanas ou só remotamente
perigosas para os bens jurídicos pessoais ou sociais» (FERNANDA
PALMA) . 1