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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

OS CRIMES DO COLARINHO BRANCO

LUANDA/2024

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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

OS CRIMES DO COLARINHO BRANCO

Integrantes do grupo nº 7

1. António Domingos Ribeiro


2. António Jorge
3. Ângela André
4. Abiel Menezes
5. Africano Maiombe
6. Dário Viana
7. Delfina Borges
8. Domingos Mateus
9. Gelson Monga
10. Guito João
11. Joelson Lima
12. Jorge João
13. Manilson Albano
Curso: Ciências Criminais
Período: Manhã
Cadeira: Introdução a Criminologia
1º Ano

O Docente
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LUANDA/2024

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SÚMARIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................4

2. OBJECTIVOS.........................................................................................................................5

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................................6

3.1 Surgimento dos Crimes do Colarinho Branco......................................................................7

3.2 Da Materialidade do Delito..................................................................................................9

3.3 Crimes Típicos e Conceitos Legais do Crime de Colarinho Branco..................................11

3.4 Modalidades dos crimes de colarinho branco.....................................................................13

CONCLUSÃO..........................................................................................................................14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................15

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1. INTRODUÇÃO

A corrupção e os crimes da orla económica, também denominados por “crimes de


colarinho branco”, são considerados fenómenos criminais intemporais de tal modo que tem sido
abordados por diversos autores de áreas distintas, ao longo da história humana, através da
publicação de estudos académicos, livros, revistas, relatórios, entre outros (Farrales, 2005).

Na área da criminologia as primeiras menções à necessidade de análise e combate a este


tipo de criminalidade são realizadas pelo próprio Cesare Beccaria, considerado como o
progenitor da criminologia, na sua obra “Dos Delitos e das Penas” escrita em 1764, no entanto
o termo de “Crime de Colarinho Branco” apenas seria cunhado por Edwin Sutherland na
primeira metade do século XX (Forti e Visconti, 2007). Sutherland (1940), à semelhança de
outros futuros autores, referia a dificuldade inata de uma definição legal abrangente para a
corrupção, uma vez que o conceito demonstra alguma volatilidade. Contudo após cuidadas
investigações sobre o tema o investigador projeta os autores do “crime de colarinho branco”
como indivíduos pertencentes às classes mais privilegiadas, os quais se encontram melhor
colocados para cometer esse tipo de crimes.

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2. OBJECTIVOS

2.1 Geral

Analisar e compreender os crimes do colarinho branco, causas e consequências dos crimes


econômicos cometidos por indivíduos em posições de poder e influência.

2.2 Especificos

 Descrever o surgimento dos Crimes do Colarinho Branco.


 Descrever Crimes Típicos e Conceitos Legais do Crime de Colarinho Branco;
 Descrever Modalidades dos crimes de colarinho branco;

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para se poder compreender a origem do conceito de crime de colarinho branco e a lógica


de raciocínio utilizada por Sutherland para o designar, é primeiramente necessário abordar o
contexto histórico dos crimes que englobam este fenómeno criminal. A corrupção,
especialmente quando considerada com um significado mais amplo, é frequentemente descrita
como um problema de carácter intemporal, o qual acompanha a própria história da humanidade,
sendo que já se encontrava enraizada nas culturas mais antigas.

De facto, Biswas e Tortajada (2018) referem a tipificação do crime de corrupção e


punições para os casos suborno no “código penal” da primeira dinastia egípcia, considerada
uma das primeiras civilizações da antiguidade. No caso da China ancestral, a legislação penal
da dinastia Qin continha duras punições para a corrupção e fraude, sendo que os funcionários
governamentais eram frequentemente investigados por tais crimes (Farrales, 2005).

A Grécia antiga, considerada atualmente como o berço da democracia moderna, também


não era isenta do surgimento deste tipo de criminalidade, tendo sido necessário criar leis
(Nomos Eisangeltikos e Graphē Dekasmou) e assembleias de juízes específicas para o combate
à corrupção política (Conover, 2014).

O Império Romano apresenta-se regularmente citado em relação aos crimes


considerados atualmente de colarinho branco, por exemplo Apsitis e Joksts (2018) mencionam
a existência de mecanismos e iniciativas legais concebidas para combater a extorsão (Lex Julia
Repetundarum), praticada por funcionários públicos durante o exercício das suas funções.
Lintott (1990), afirma que já antes da existência do império, ou seja, no período da república, o
sistema político e eleitoral Romano encontrava-se praguejado de corrupção (ambitus), onde a
troca de favores e o suborno eram frequentemente utilizados pelos candidatos a cargos estatais.

A época medieval europeia demonstrou diversas mudanças nas dinâmicas sociais


destacando-se o papel da religião na luta contra o que na altura se entendia por corrupção moral,
assim como as ideias que os poderes atribuídos aos reis e outros órgãos de poder advinham de
ação divina (Barcham, 2012). Estas novas noções promoveram um clima de aceitação da
corrupção política como um mal necessário e não como um problema de moralidade.

Sutherland partindo de estudos criminológicos definiu os citados crimes como: “crime


de colarinho branco pode ser definido, aproximadamente, como um crime cometido por uma

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pessoa de respeitabilidade e elevado status social no exercício da sua profissão”. Assim sendo,
partindo desta definição em que o primeiro capítulo do presente estudo se ocupará, buscando
deixar cristalizado o conceito do delito, bem como os delitos que estão capitulados por esta
definição e seus elementos (SUTHERLAND, 2015).

3.1 Surgimento dos Crimes do Colarinho Branco

Foi em 1939, que Edwin H. Sutherland desenvolveu o nome para capitulação de crimes que
envolvam determinadas categorias de pessoas, sendo o então chamado: Crime de Colarinho Branco
(“White Collar Crime”).

A princípio, Sutherland não adentrou diretamente no tema tratando e abordando sob os


aspectos do delito e seus caracteres subjetivos para a determinação do crime de colarinho branco,
pelo contrário, preteritamente Sutherland criou a teoria da associação diferencial, a qual buscava
explicar a aprendizagem delituosa praticada por jovens que viviam as margens da sociedade. Assim
sendo, denota-se de início que a inclinação dos estudos criminológicos de Sutherland tinha como
premissa as condições em que a figura do agente delituoso estava envolvida em seu meio social
(SUTHERLAND, 2015).

Quando se diz que crimes de colarinho branco são praticados por determinadas classes de
pessoas, deve se atentar quanto às diversas condições que este agente ostenta perante a sociedade,
não busquemos apenas observar o seu status econômico. Se disséssemos apenas que crimes de
colarinho branco são praticados por pessoas de alta classe econômica, poderiam entrar nesse
conceito a prática do crime de homicídio, calúnia, e dentre outros delitos que nada tem a ver com o
que pretendemos demonstrar (TRES, 2017).

Na evolução histórica dos crimes de colarinho branco, Sutherland começou suas pesquisas
indagando quanto ao indivíduo fora da conexão de crimes comuns:

As estatísticas criminais mostram inequivocamente que crime, como popularmente


conhecido e oficialmente definido, tem uma alta incidência na classe socioeconômica
mais baixa e uma baixa incidência socioeconômica mais alta. Crime, assim entendido,
inclui as violações ordinárias do código penal, tais como homicídio, assalto,
arrombamento furto, pequenas subtrações, violações de trânsito. (2015, p. 27).

No decorrer do desenvolvimento da nomenclatura da espécie de delitos de colarinho branco,


em uma visão criminológica, Sutherland abordou o seguinte aspecto sociológico:

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Por que a pobreza, quando distribuída especialmente em área da cidade, mostra uma
uniformidade notável e alta associação com crime, porém quando distribuída
cronologicamente em ciclos de mercado mostra uma leve e inconsistente associação
com o crime? A resposta é que o fator casual não é a pobreza, no sentido de necessidade
econômica, mas as relações sociais e interpessoais que estão associadas algumas vezes
com a pobreza e algumas vezes com a riqueza, e algumas vezes com os dois fatores.
(2015, p. 31-32). (nosso grifo).

É nesse sentido que percebemos que o autor descartou completamente que as práticas dos
crimes são executadas apenas por pessoas que possuem baixo rendimento econômico. Assim sendo,
a influência trazida ao indivíduo que pratica o crime está voltada as suas relações interpessoais e
sociais (DIAS, 1999).

Nesse complexo de estudos, Sutherland, escreveu o livro intitulado “O Ladrão Profissional”,


o qual teve como objetivo indagar como uma pessoa de elevada condição econômica e de
privilégios, poderia se envolver em práticas delituosas? (SUTHERLAND, 2015).

No desenrolar de seus estudos passou a definir o que são crimes de colarinho branco, nos
quais são aqueles praticados por uma pessoa ou em um conjunto de agentes, sendo estes participes
de vontades recíprocas que visam o enriquecimento próprio. Nesse sentido, o entendimento quanto
à axiologia do agente delituoso que pratica a referida classe de crimes, pode ser entendida como
uma pessoa dotada de privilégios, e, em um patamar elevado de conhecimento quanto aos demais
indivíduos integrantes da sociedade (TRES, 2017).

Quanto ao conceito desenvolvido por Sutherland, é indubitável que o agente delituoso


possui determinado poder para a prática do delito, prevalecendo de seu status profissional, bem
como as relações de confiança e conhecimento específico (VERAS, 2010).

Nessa esfera, busquemos a conceituação de outro autor quanto ao tema, define que: "Um
crime de colarinho branco é definido como uma violação da lei que regula os negócios, cometido
em favor de uma empresa, pela própria empresa ou seus agentes no giro dos seus negócios”.
(NUCCI, 2008, p.117).

Como bem mencionado pelo autor acima, o crime de colarinho branco pode ser entendido
como aquele que viola dispositivo inerente à regulamentação de negócios, o que por sua vez,
“negócio” deva ser entendido como atividade com fim lucrativo (VERAS, 2010).

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A titulação de crimes de colarinho branco abarca um enorme complexo de delitos previstos
na legislação ordinária, bem como em leis complementares. Nessa gama de exposição, bem como
as observações feitas hodiernamente as práticas delituosas que abarcam crimes de colarinho branco
atingem desde a esfera da administração pública até os setores privados, causando um imenso
impacto na economia e na segurança jurídica.

3.2 Da Materialidade do Delito

A materialidade dos crimes de colarinho branco, por seu turno, se exaure na transgressão de
algum bem jurídico tutelado, tendo como alvo principal nesse cenário delituoso a economia, desse
modo o efeito causado quando o agente criminoso atua contrário às normas legais têm resultados
devastadores frente aos crimes praticados nas ruas. Acerca deste resultado em comparação aos
crimes comuns, Sutherland abordou nesse mesmo sentido, que:

O custo financeiro do crime de colarinho branco é provavelmente muitas vezes superior


ao do custo financeira de todos os crimes que são costumeiramente considerados como
constituindo 'o problema criminal'. Um empregado de uma rede de armazéns apropriou-
se em um ano de USD 600.000,00, que foi seis vezes superior das perdas anuais
decorrentes de quinhentos furtos e roubos sofridos pela mesma rede. Inimigos públicos,
de um a seis dos mais importantes, obtiveram USD 130.000,00 através de furtos e
roubos em 1938, enquanto a soma furtada por Krueger [um criminoso de colarinho
branco norte-americano] é estimada em USD 250.000,00 ou aproximadamente duas
vezes mais. [...] A perda financeira decorrente do crime de colarinho branco, mesmo tão
elevada, é menos importante do que os danos provocados às relações sociais. Crimes de
colarinho branco violam a confiança e, portanto, criam desconfiança, que diminui a
moral social e produz desorganização social em larga escala. Outros crimes produzem
relativamente menores efeitos nas instituições sociais ou nas organizações sociais
(SALINGER, 1995, p. 32).

De outro modo, quanto à verificação da materialidade dos crimes de colarinho branco não
se comparam comumente ao procedimento adotado para a verificação de outros crimes, como por
exemplo, o exame de corpo delito utilizado para verificar a ofensa ao bem jurídico, vida ou a
integridade física da vítima (objeto material) (NUCCI, 2017.).
Portanto, a materialidade surge quando existente a ofensa ao bem jurídico tutelado pelo
Estado. Vejamos o ensinamento de Guilherme Nucci, quanto à abordagem:

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Por outro lado, num prisma material, aponta para algo apto a satisfazer as necessidades
humanas, integrando seu patrimônio. Quando se fala em bem comum, denota-se o nível
das condições favoráveis ao êxito coletivo. Em suma, o bem se apresenta vinculado aos
mais precisos interesses humanos, seja do ponto de vista material, seja do prisma
incorpóreo (moral ou ético) (NUCCI, 2017, p. 07).

A materialidade é pressuposto fundamental para que haja condenação, contudo, em


decorrência dos grandes meios fraudulentos utilizados pelo agente criminoso frente à carência de
mecanismos necessários para a verificação do delito, torna-se vulnerável à sociedade por essa
defeituosidade em investigações, ou seja, para que haja condenação de um crime é necessário um
conjunto de certeza, os quais são obtidos por meios de provas, faltando à certeza o princípio da não
culpabilidade irá se sobrepuser àquela (TRES, 2017).

Como em todo ordenamento jurídico, são admitidos meios de provas lícitas a fim de
comprovarem a prática delitiva do agente. Nesse sentido, imaginemos o crime de sonegação fiscal,
o qual poderá ser demonstrado por perícia técnica, e até mesmo corroborado por prova testemunhal
para efetiva comprovação da prática delitiva (TRES, 2017).

Como dito preteritamente, a título de exemplo de um crime não corpóreo, o de sonegação


fiscal, diante de certo grau de sofisticação, ou seja, o praticante da atividade delituosa está munido
de conhecimentos científicos e técnicos, exigindo do Estado a mesma proporcionalidade de
conhecimentos para verificação de elementos probatórios da prática criminosa (TRES, 2017).

Preleciona Celso Tres:

De ver-se que, no colarinho branco, frequentemente, mais que atestada, representada


por perícia,a materialidade está representada nos autos, como na sonegação fiscal,
juntando-se o processo administrativo-fiscal, cuja instrução conste documentação (livro
caixa, dados bancários, notas fiscais, etc.) que materializa os valores sonegados. (2017,
p. 115-116).

A causar transtorno na constatação de um suposto crime contra a ordem econômica surgem


questões que são debatidas fora do Poder Judiciário, bem como do Ministério Público em razão da
divisão de atribuições para fiscalização de determinadas atividades. Sendo que assim diante do uso
de suas atribuições passam a deter o poder para suprimir o “opinio delicti” do parquet, e, ademais,
a supressão total de reconhecimento e aplicabilidade da sanção estatal pelo Poder Judiciário (TRES,
2017).

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Nesse sentido, os órgãos especializados incumbidos para regularem atividades
financeiras e que detêm informações rotineiras de operações da mesma devem remeter
informações que investem de irregularidades aos demais órgãos

3.3 Crimes Típicos e Conceitos Legais do Crime de Colarinho Branco

Os termos de crime de colarinho branco, crime corporativo/empresarial e crime


ocupacional, são apenas expressões conceptuais cunhadas por ilustres figuras da sociologia e
da criminologia, como tal não podem ser considerados como definições legais. De facto, os
problemas inerentes às definições do crime de colarinho branco, como por exemplo a
ambiguidade legal de certos comportamentos (melhor descrito no ponto anterior), não permitem
que sejam tipificados numa só classe dentro dos códigos penais (Rorie e Simpson, 2016).
Todavia, podemos abordar e caracterizar individualmente alguns dos crimes tipicamente
considerados, tanto pelos investigadores académicos como pelos órgãos de autoridade, como
crimes de colarinho branco.

No panorama nacional, Santos (2001) afirma a inexistência de um conceito ou categoria


jurídico-penal para o crime de colarinho branco na lei penal, como sendo uma das deficiências
do direito português. Contudo, a investigadora decide aplicar as definições da criminologia,
nomeadamente “corporate crime” e “occupational crime”, de forma a poder explorar e
identificar os crimes característicos do crime de colarinho branco. A autora após realizar a sua
categorização, enumera os seguintes crimes de colarinho branco: as fraudes, os crimes fiscais,
a publicidade fraudulenta, os delitos ambientais, as infrações de regras de segurança no
emprego, as burlas, incluindo a burla de trabalho, as violações do direito de autor, a
criminalidade informática, os crimes praticados por médicos/advogados e magistrados, os
vários crimes de corrupção e crimes praticados por titulares de cargos políticos.

Importa também referir que em Portugal o combate aos crimes de colarinho branco são,
na sua maioria, competência da UNCC (Unidade Nacional de Combate à Corrupção) da polícia
judiciária e do Ministério Público. De acordo com a Lei n.º 36/94, de 29 de setembro, cabe a
UNCC prevenir, investigar e reprimir todos os fenómenos criminais tipicamente relacionados
com o crime económico e financeiro. De acordo com a Polícia Judiciária (2017), a UNCC tem
como função principal combater os seguintes crimes de colarinho branco: prevaricação e abuso
de poderes, certos tipos de fraude (subsídios e créditos), contrafações, crimes do mercado de
valores mobiliários, administração danosa, branqueamento de capitais, certos crimes

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tributários, crimes organizados com recurso à tecnologia informática, crimes transnacionais e
internacionais e ainda outros crimes conexos.

Nos Estados Unidos, um dos órgãos de polícia criminal que investiga este tipo de delitos,
denominado FBI (Federal Bureau of Investigation), refere-se ao crime de colarinho branco
como sendo um conjunto de crimes não violentos e com vítimas pouco aparentes, mas com a
capacidade inata de destruir economicamente indivíduos, empresas e corporações, assim como
de erodir a confiança do público nas instituições públicas e privadas. O FBI também apresenta
alguns exemplos de crimes típicos da criminalidade de colarinho branco como: crimes de
falsificação financeira, abuso de informação privilegiada, branqueamento de capitais e
corrupção, variados tipos de fraude e ainda os crimes de pirataria informática (FBI, 2022).

Ghaffar e Korai (2017), à semelhança do FBI, indicam que embora os crimes de


colarinho branco não sejam propriamente violentos, apresentam um carácter destrutivo e
perigoso para a economia e sociedade. Os autores denotam também a existência de grande
sofisticação e complexidade na execução deste tipo de crimes, os quais requerem aptidões e
conhecimentos específicos, assim como o uso de tecnologia moderna. Para além disso, os
investigadores constroem uma lista de crimes que consideram como exemplos típicos do crime
de colarinho branco, sendo estes: vários tipos de fraude como a fraude fiscal, o peculato, os
crimes contra a genuinidade, qualidade ou composição de alimentos, o contrabando, os crimes
associados a más práticas médicas, a corrupção, os crimes internacionais e ainda os diversos
crimes de tráfico.

Gottschalk (2018), após analisar as características principais do crime de colarinho


branco, conclui que a prática de tais atos criminais é motivada pela ganância do ofensor, ou
seja, o objetivo principal desta tipologia criminal é na maioria dos casos, o ganho económico
ou financeiro. Desta forma, o autor seleciona 4 principais categorias de crime económico-
financeiro: a fraude, o roubo, a manipulação e a corrupção. Dentro destas categorias são
também apresentadas inúmeras subcategorias, onde se pode observar crimes considerados mais
característicos do crime de colarinho branco como: fraudes ficais e bancárias, peculato, roubo
intelectual, manipulação do mercado, evasão fiscal, crimes informáticos, branqueamento de
capitais, corrupção sob a forma de suborno, entre outros.

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Os crimes mencionados ao longo deste tópico são apenas alguns dos inúmeros delitos
englobados na definição de crime de colarinho branco. Efetivamente, devido à natureza
abrangente do conceito, o qual integra crimes que vão desde as fraudes até aos delitos
ambientais, podemos afirmar que não seria viável abordar todos os atos ilícitos classificados
nesta tipologia. Desta forma, decidiu-se destacar alguns dos crimes característicos como: os
diversos crimes de corrupção, alguns tipos de fraude e burla, o branqueamento de capitais e o
enriquecimento ilícito.

3.4 Modalidades dos crimes de colarinho branco

Conforme pôde-se constatar, os crimes de colarinho branco são crimespraticados por


pessoas que pertencem a alta sociedade em atividade profissional e tem um alto poder lesivo
para a sociedade, por serem delitos que afetam a ordem econômica do país e impedem
investimento nos principais setores para a população.
Afirmava Zaffaroni (2001, pg.42):

A lei é feita para todos, mas só ao pobre obriga. A lei é teia de aranha, em minha
ignorância tentarei explicar. Não a tema os ricos, nem jamais os que mandam,
pois o bicho grande a destrói e só os pequeninos aprisiona. A lei é como chuva,
nunca pode ser igual para todos. Quem a suporte se queixa, mas a explicação é
simples: a lei é como a faca que não fere a quem empunha.

As modalidades dos crimes de colarinho branco abrangem uma variedade de práticas


fraudulentas e ilícitas cometidas por indivíduos em posições de poder e influência. Sutherland
(1939) introduziu o conceito de crimes de colarinho branco, destacando que esses delitos eram
frequentemente cometidos por pessoas respeitáveis em ambientes corporativos.

Entre as modalidades comuns estão a fraude financeira, evasão fiscal, corrupção


corporativa e insider trading (Akers & Sellers, 2013). Esses crimes são caracterizados pela
natureza não violenta e pela manipulação de informações privilegiadas para benefício próprio
ou da organização.

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CONCLUSÃO
Os crimes de colarinho branco representam uma faceta complexa e desafiadora no
mundo jurídico e sociológico. Estas transgressões, geralmente cometidas por indivíduos em
posições de poder e influência, destacam as brechas nos sistemas legais e éticos que precisam
ser abordadas.

A análise desses crimes revela não apenas os danos econômicos diretos, mas
também os impactos sociais e a erosão da confiança nas instituições. A impunidade muitas
vezes associada a esses crimes ressalta a necessidade urgente de reformas e mecanismos mais
eficazes de prevenção e punição. Para combater os crimes de colarinho branco, é imperativo
que haja uma abordagem holística, envolvendo esforços regulatórios mais rigorosos, educação
pública, transparência corporativa e sistemas judiciais eficientes. Além disso, é crucial
incentivar uma cultura ética que desencoraje práticas fraudulentas e promova a
responsabilidade corporativa.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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