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Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância

Mestrado em Saúde Pública


Ética e Direitos Humanos em Saúde Pública
Nomes dos elementos do grupo: Andre Jose Paulo perengue
Argentina lili Mario Magaia

Abilito Abilio jose Pintainho

Os Problemas da imperícia, imprudência e negligencia em hospitais públicos de


Moçambique: questões Bioéticas.

Introdução

Com o objetivo de oferecer melhores cuidados de saúde aos utentes que buscam por cuidados
e melhorar a qualidade assistencial, bem como reduzir os erros médicos, temas como
imperícia, imprudência e negligência médica tem merecido cada vez mais atenção não só por
parte das entidades que regulam a actividade médica, bem como dos advogados e pùblico em
geral.

o presente trabalho ira abordar os problemas ligados a imperícia, imprudência e negligência,


seus aspetos bioéticos no contexto dos hospitais públicos moçambicanos, todavia, Para
melhor compreender-se o tópico em discussão, seguir-se á a definição de cada um dos
subtítulos.

Palavras chaves: Hospital, imperícia, imprudência, negligência, emfermagem.

1. Imperícia:

imperícia é a falta de habilidade ou treinamento para executar uma determinada tarefa, que
geralmente pela posição que o individuo ocupa, deveria ser capaz de executá-la. também
chamamos imperícia quando o acto é praticado sem o domínio na matéria, ou seja,
diferenciamos a imperícia da negligência porque na imperícia, o individuo tem falta de
conhecimento, mas mesmo assim faz, enquanto na negligência, o individuo é dotado de
conhecimento, mas mesmo assim faz errado deliberadamente.

juntamente com a Imprudência e a Negligência, a Imperícia já levanta debate no seio dos


investigadores que se ocupam da melhoria de qualidade dos serviços de saúde oferecidos a
população, infelizmente esse debate ainda é tímido em algumas plataformas, principalmente
quando se trata de moçambique.

A imperícia mexe diretamente com os princípio da bioética, principalmente o de não


maleficência e de justiça. Passa a citar se um exemplo, onde houve clara situação de
imperícia com prejuízo dos princípios de bioéticos e violação dos direitos humanos. Em
2016, no distrito de Búzi, uma senhora que tinha uma úlcera no escalpo que surgiu devido a
extração de uma verruga que ela teve no escalpo. Apois a primeira extração, a verruga
recidivou o que motivou a sua extração pela segunda vez, só que desta vez a surgiu uma
úlcera que não sarrava com nenhum tratamento feito. Sucede que a pessoa que fez extração
da verruga das duas vezes foi um técnico de cirurgia treinado para fazer algumas cirurgias
abdominais e cesarianas, a conduta a ser tomada na altura em que a senhora se apresentou
com a verruga pela primeira vez, deveria ser transferida a senhora para um local com melhor
capacidade diagnostica e com médicos treinados para tratar de problemas da cabeça e pele.

Evidentemente transferiu se a senhora, apesar de tarde.

O técnico agiu com imperícia, o que custou a saúde da senhora:

 Redução de autoestima
 Surgimento de depressão
 Ficou 2 anos privada de ter a sua vida sexual normal porque não se sentia bem
fazendo, com úlcera na cabeça
 Ficou 2 anos alienada a um lenço para cobrir a sua cabeça
 Parou de ter as suas relações sociais pelo cheiro fétido que a úlcera emitia.

Infelizmente o técnico não teve o tratamento legal que merecia, e nem sequer foi levantado
um procedimento disciplinar pois nessa altura não se falava nada desse tema.

Nos hospitais públicos moçambicanos, a imperícia constantemente acontece e podem ser


levantadas causas a vários níveis:
 O sistema nacional de saúde tem uma evidente falta de pessoal, o que faz com que em
algumas unidades sanitárias periféricas tenha apenas um técnico para os vários
serviços, não é incomum encontrar unidades sanitárias em quem assiste os partos são
técnicos de medicina preventiva ou mesmo agentes de serviço, pessoal que não tem a
mínima noção técnica, entretanto se vê na obrigação de fazer alguma coisa para
aliviar o sofrimento das senhoras, pois se deixarem para seguir o procedimento
normal de transferência para um local com capacidade de oferta de melhor serviço,
pode ser tarde demais, uma vez que as vias de acesso não favorecem o transito e
mesmo quando favorecem o transito, a distancia de uma unidade sanitária a outra
pode ser um factor para agravamento e ate mesmo morte do paciente que está sendo
transportado.
 A indisponibilidade de produtos de primeira necessidade em algumas zonas, faz com
que os profissionais alocados naquela região que tenham domínio de determinado
procedimento, ausentem-se com frequência da unidade sanitária, o que faz com que
na sua ausência, os casos que deveriam ser atendidos por si, sejam atendidos por
qualquer outra pessoa que não tem perícia na matéria. E como não há supervisão,
essas ausências são frentes.
 A formação dos técnicos de saúde atualmente é bastante deficiente, principalmente
aquela que é feita em instituições com fins lucrativos. Com a alienação da educação
básica no país, associado a formação em escolas em que o avançar dos níveis depende
de se o estudante tem as propinas em dia e não do desempenho académico, os
técnicos de saúde saem bastante crus para o mercado de emprego, e como as
contratações não são baseadas em concursos claros, são absorvidos técnicos sem
qualidade e o resultado é a perpetuação da imperícia.

Em 2021 a Ordem de advogados de Moçambique (OAM), SEKELEKANI, MISA


MOCAMBIQUE E OBSERVATORIO RURAL, notificaram a ministra da saúde porque o
ministério dirigido por essa não forneceu dados ligados a erros médicos, alegadamente
porque esses não acontecem no país e não tem uma base de dados para reporte dos mesmos. (
Tribunal administrativo, Processo número 03/2019-P, acórdão número 127/2021). Isto é uma
prova de que a questão da imperícia nos hospitais públicos de moçambique ainda esta muito
longe de ser resolvida, uma vez que o próprio governo não reconhece como um problema.
2. Imprudência

Prudência vem do latim prudentia que significa calma. Prudência é agir com paciência
procurando prever e evitar acidentes, perigos. Imprudência então é agir pressa, com falta de
cuidados. Em outras palavras imprudência acontece quando o profissional de enfermagem faz
o procedimento correndo riscos (Moreira, 2020). Segundo Paixão (2021), a Imprudência: “é a
conduta precipitada. Enquanto em uma situação de negligência o erro está em ser omisso
(não fazer), na imprudência o erro está justamente na acção realizada, porém sem a devida
cautela e sensatez que a situação exige. O risco envolvido é conhecido, mas as medidas de
segurança ou não são tomadas ou são realizadas sem o rigor necessário. Ou seja, a equipe de
enfermagem exerce suas práticas.”

A imprudência decorre da acção açodada, precipitada e sem a devida precaução. É


imprudente quem expõe o paciente/ cliente a riscos desnecessários ou que não se esforça para
minimizá-los. “A equipe de enfermagem, ao cuidar de um cliente não se obriga a curá-
lo,contudo deve utilizar todos os recursos humanos e técnicos possíveis e disponíveis para
garantir uma assistência de enfermagem segura e eficaz, isto é, isenta de riscos de ocorrências
prejudiciais, tendo como desvelo a conduta inapta, imprudente ou negligente do profissional
de enfermagem. Para tanto, faz-se mister distinguir os riscos inerentes aos procedimentos
terapêuticos e às acções de enfermagem” (Forte, 2017).

Por riscos inerentes entendem-se aqueles em que o profissional de enfermagem (ciente da sua
existência e possibilidade de ocorrência) não anui e nem contribui para que tais riscos possam
se concretizar. “Por isso, quando os riscos forem indesvencilháveis do procedimento ou da
acção, o profissional deve resguardar-se, informando ao cliente ou responsável legal sobre
tais riscos, a fim de obter o consentimento, antes mesmo de implementar a conduta. Quando o
prejuízo ao cliente for decorrente do agir ou da omissão do profissional, pode-se caracterizar
infracção ou ocorrência ética, dando-se ensejo ao questionamento sobre a responsabilidade
ético— legal. Averigua-se a culpa e orienta o profissional em relação às consequências
danosas do seu agir” (Cortez et al, 2021).

Contudo, a responsabilidade jurídica pode ser aferida, independentemente da


responsabilidade ética, através da indenização ou ressarcimento dos danos acarretados ao
cliente, ou “mesmo impondo-se penas de ordem não pecuniárias, como a proibição do
exercício profissional por determinado período ou a cassação do direito de exercer a
profissão. Face às ponderações feitas, é imperioso que os profissionais de enfermagem não
deixem de delatar as condições de trabalho que sejam incompatíveis com o exercício seguro
da enfermagem à clientela, bem como não sejam coniventes com condutas inadequadas de
profissionais, expondo a segurança e a integridade física e moral dos clientes sob sua
responsabilidade” (Forte, 2017).

2.1 Erros de enfermagem que caracterizam imprudência

Os exemplos mais comuns de imprudência são: antecipar o horário de um medicamento,


deixar de administrá-lo no horário correto, ou ainda, administrar o medicamento
erroneamente. “A equipe de enfermagem constitui o elo final do processo de administração
de medicamento e, geralmente, seus actos marcam a transição de um erro previsível para um
erro real. Comentários inadvertidos sobre prognósticos e ou doenças, em corredores, que
podem ser ouvidos pelos pacientes podem ser considerados imprudência” (Paixão, 2021).

O artigo 82 do CEPE descreve que o profissional de enfermagem deve “manter segredo sobre
fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto casos
previstos em lei, ordem judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de
seu representante legal”. Ressalta ainda que “permanece o dever mesmo quando o fato seja
de conhecimento público e em caso de falecimento da pessoa envolvida e que em atividade
multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado quando necessário à prestação da
assistência. O enfermeiro que autoriza a realização de uma cirurgia sem as condições
necessárias e preconizadas comete um ato de imprudência" (Moreira, 2020).

O enfermeiro gerência o bloco cirúrgico e ao compactuar com a realização de cirurgias em


condições ambientais e ou técnicas inadequadas e inseguras para o cliente comete infracção
ética. A situação em que o membro da equipe de enfermagem não verifica os sinais vitais do
paciente, porém os copia da anotação anterior exemplifica imprudência.

3. Negligência Médica

Etimologicamente a expressão negligência tem sua origem do latim que se escreve


“negligência”, que significa falta de atenção, descuidar de algo, agir com irresponsabilidade,
falta de zelo…Estas expressões ao longo dos anos foram adoptadas por vários dicionários que
aposterior usaram para definir a expressão negligência. Na base desta definição ilustrativa,
este artigo vai procurar trazer a expressão negligência na vertente médica, olhando para os
hospitais moçambicanos. De salientar que a negligência médica varia desde a omissão de
tratamento, Abandono de paciente, negligência de um médico pela omissão de outro,
Prática ilegal por pessoal técnico e a letra do médico.

A profissão médica esta sujeita a vários riscos criminais, além do escrutino ético e civil, na
Grécia antiga vários médicos abandonaram a profissão por causa dos processos criminais que
esta camada estava sujeita. Na Grécia antiga quando um médico cometesse um erro no
exercício da sua função era condenado, as penas variavam desde a amputação até a morte,
dependendo dos danos cometidos ao paciente. Por falta de médicos internos, a Greceas
precisou de importar alguns médicos para preencher as lacunas.

3.1 Abandono do paciente

Pela informação recolhida em diferentes fontes, nos hospitais de Moçambicanos este


fenómeno tem se verificado, principalmente nas grandes cidades onde os médicos além de
trabalhar no estado, exercem também algumas actividades nos hospitais privados, é neste
contexto em que os médicos na sua maioria abandonam os pacientes para servir outros
hospitais, quebrando a relação médico-paciente e a ética. A justificativa é sempre a mesma,
alegam que nos hospitais privados o salário é mais elevado do que no hospital público. O
outro fenómeno de abandono ao paciente verifica se no turno da noite, onde os médicos até
por vezes os auxiliares abandonam o seu posto para irem dormir e em casos extremos vão
para casa.

Segundo a direcção do hospital provincial da Matola, este é um fenómeno antigo e


preocupa muito os que estão nos cargos da chefia porque tem trazido mãos resultados em
termos da recuperação dos pacientes, porque estes não tomam os medicamentos na hora
certa. Como solução a direcção colocou em cada equipe um supervisor só para zelar pelo
tempo de entrada e saída dos médicos, enfermeiros e auxiliares.

3.2 Omissão do tratamento

O médico tem a obrigatoriedade de informar aos seus pacientes todos os procedimentos a


efectuar, em nenhum momento o médico deverá omitir a informação de um possível
tratamento, cirurgia ou medicação ao paciente, mesmo com a intenção de evitar um possível
constrangimento ao paciente, a escolha deve ser do paciente, caso contrário, o médico será
considerado negligente.

Negligente é considerado também aquele médico que retarda o tratamento de um paciente,


por exemplo: quando um clínico observa que um certo paciente precisa de uma intervenção
cirúrgica, mas mesmo assim continua dando medicamentos ao paciente. Nesta situação, ao
andar do tempo vai se constatar que o paciente desenvolveu algum tipo de anomalia por
conta da falta da cirurgia.

3.3 Negligência de um médico pela omissão de outro médico

No caso dos hospitais situados nas grandes cidades de Moçambique, este tipo de negligência
tem sido recorrente, esta, dá se quando o médico em serviço sai antes do substituto chegar,
esto é, quando o substituto atrasar a chegar. A pergunta é: de quem é a negligência ? Do
médico que abandonou o paciente ou de aquele que atrasou? Segundo o códico da Ética
médica, os does médicos agiram com negligência, porque a ética médica diz que o médico é
proibido de abandonar o seu posto mesmo que seja por um instante, ou ser for o caso, deve
deixar outro médico para zelar pelos pacientes. Para o caso do médico atrasado, também a
ética Médica repudia dizendo que, o médico tem que se apresentar no serviço no horário
estabelecido, salvo se tiver uma justifica aplausível, mas mesmo que assem, esta deve ser
antipacidamente submetida.

Muitas das vezes adverte se aos médicos para não deixar os seus postos mesmo que tenham
outros a fazer, caso esteja equivocado este poderá consultar o Director Clínico, para que
este possa fazer alguns reajusto.

3.4 Prática ilegal por pessoal técnico

Este tipo de negligência verifica se quando um médico orienta um auxiliar para realizar
uma tarefa que é da competência do médico e o auxiliar comete um erro, a equipe técnica
poderá avaliar até que ponto esta tarefa competia ao médico e se for comprovado que era
mesmo a tarefa do médico, este agiu com negligência. Em muitos hospitais moçambicanos
este fenómeno tem dominado, há muitos auxiliares a exercer a função do médico,
principalmente nos postos de saúde onde há falta de médicos.

3.5 Letra de médico

A letra do médico tem sido o calcanhar de Aquiles para os pacientes e a população leiga no
geral, e tem sido um objeto de zombaria no meio da população porque as pessoas não
conseguem decifra-lo, muitos perguntam: será que nas escolas de medicina aprendem a
escrever tão mal assem? Ou é uma coisa propositada para dificultar a leitura de uma pessoa
que não é da área? Mas a grande preocupação é: se o farmacêutico não conseguir fazer a
leitura certa da receita e consequentemente receitar ao paciente comprimidos errados e por
conta desse erro, o paciente passar mal. De quem será a culpa, do médico que escreveu mal
ou do farmacêutico que fez uma ma leitura?

De acordo com ética médica os dois são culpados porque o médico ao fazer a receita tem
que ter em conta as consequências dos danos que isso poderá causar ao ser mal interpretada
a sua caligrafia, e o farmacêutico tem que ter a certeza do que esta a receitar e tem que agir
sem nenhuma margem de erro, caso ao contrário, os dois estarão a agir com negligência.
Em países desenvolvidos os médicos são sempre recomendados a escrever a receita pelo
computador para evitar este tipo de erros.
Bibliografia

Faria, P. (2011). Erro em Medicina e o Direito Penal, in Lex Medicinae. Coimbra.

Fragata, J, at all. (2004). O erro em Medicina, Perspectivas do indivíduo, da organização e da


sociedade.

Pina, E. (2003). A responsabilidade dos médicos, 3ª Edição Revista, actualizada e ampliada.

Dias, A. (2012). Direito dos Pacientes e Responsabilidade Médica, Dissertação de


Doutoramento, Coimbra.

Paixão, T. (2021). Emfermagem no século XXI. Lisboa: Impressa Nacional.

Cortez et al. (2021). Direitos do paciente e responsabolidades do Medico. NY: University


Press.

Moreira, V. (2020). Medicina ao servico da População e os CSP. Leiria.

Forte, E .(2017). Bioetica e suas diversidades Médicas. Brazilia.

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