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25 de Abril

Dia da Liberdade

O golpe militar de 25 de abril de 1974 pôs fim a quase cinquenta


anos de ditadura, durante a qual houve muitas perseguições políticas.
Havia censura ao que se escrevia em livros e jornais, e quem fosse contra
o Governo corria o risco de ser preso ou deportado.
Para a Guiné, Angola e Moçambique partiam os nossos soldados
e muitos por lá morriam, combatendo os movimentos de libertação dos
territórios ultramarinos.
Foram jovens capitães, com a dolorosa experiência da Guerra Colonial,
que se revoltaram e, sonhando com a paz e a liberdade, pegaram em armas.
Não dispararam um único tiro e nos canos das suas espingardas o povo
pôs cravos vermelhos e brancos. Por isso lhe chamam a Revolução dos
Cravos.
Nesta data celebra-se o Dia da Liberdade.
Dia da Liberdade

Não havia escola. A Sofia levantou-se mais tarde e estava, ainda de pijama, a ver
televisão no sofá.
Ainda bem que inventaram este feriado – disse. – Hoje é o dia da preguiça.
Não – respondeu a mãe. – Hoje é o 25 de abril. Sabes o que aconteceu neste dia em
1974?
Mas ela não sabia. Então a mãe sentou-se a seu lado no sofá e contou:
No dia 25 de abril de 1974, eu tinha a tua idade. Levantei-me cedo para ir para a
escola, mas a rádio avisou que havia uma Revolução. Pensei logo que iam estourar tiros
e bombas. Podíamos até morrer! Fiquei cheia de medo. Deixámo-nos estar todos em
casa a ouvir as notícias e as canções que transmitiam. A certa altura o teu avô José
exclamou:
– Não fico nem mais um minuto aqui dentro. Vou juntar-me a eles!
E saiu, acompanhado do teu tio Manel, que tinha mais cinco anos que eu. Então
espreitei à janela e vi tanques de guerra que se aproximavam, soldados com capacetes,
armados. De toda a parte surgia gente nova, velha, todos falavam, muitos abraçaram-se.
Os rapazes trepavam às árvores do Largo do Carmo, onde vivíamos, e davam vivas à
Revolução. Parecia uma festa.
Então pedi à minha mãe que nos juntássemos àquela multidão.
De repente, apareceu uma rapariga com um cesto de cravos vermelhos.
Também ela sorria, feliz. Pegou numa flor e, num gesto lindo, meteu-a no cano de
uma espingarda. Depois olhou para mim e disse:
– Queres ajudar-me?
Fiquei radiante por estar a pôr cravos nas espingardas. Havia pessoas a rir. Um
homem de cabelos brancos chorava de emoção:
– Esperei mais de quarenta anos por isto ... Estive preso e fui torturado por dizer o
que pensava.
O meu pai pôs-me às cavalitas para ver o capitão que falava num altifalante,
pedindo aos governantes que se rendessem. Era muito jovem e chamava-se Salgueiro
Maia. Foi ele o grande herói daquele dia. Escusado será dizer-te que a Revolução venceu.
Sem lutas. Sem verter uma gota de sangue.
À noite, antes de me deitar, o meu pai abraçou-me e disse-me:
– Nunca te esqueças deste dia. Recorda-o mais tarde aos teus filhos. Hoje é o Dia
da Liberdade!
A Sofia ficou séria. Depois levantou-se para regar o craveiro que floria na varanda.

Luísa Ducla Soares, O livro das Datas, Civilização Editora, 1.ª Edição, 2009

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