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Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM

Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas – ICTE


Disciplina: Laboratório de Fundamentos de Fenômenos de Transportes

PRÁTICA 09 – DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE


TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM REGIME TRANSIENTE

1. INTRODUÇÃO
No escoamento externo de um fluido à temperatura T1 sobre um corpo sólido, à
temperatura T2 (≠T1), verificam-se dois fenômenos de transferência de calor: i)
convecção entre o fluido e a superfície do sólido, ii) condução no interior do sólido,
como mostra a Figura 1. Exemplos desse tipo de escoamento é o movimento de um
fluido sobre uma placa plana e escoamento sobre superfícies curvas tais como esferas,
cilindros, aerofólios, lâminas de bombas e turbinas.

Figura 1 – Esquema de escoamento externo de um fluido sobre um corpo sólido


esférico.

O escoamento externo pode ser forçado ou natural. Na convecção forçada, o


movimento relativo entre o fluido e a superfície do sólido é mantido por meios
externos, tais como ventiladores ou bombas. Na convecção natural, o fluido
movimenta-se por flutuações em sua massa específica devido aos gradientes de
temperatura.
Em alguns casos, os valores do coeficiente de transferência de calor (h),
também conhecido como coeficiente de película, para o fenômeno convectivo não é
conhecido e, portanto, devem ser estimados. Para casos específicos, como escoamento
laminar sobre placas ou escoamento sobre esferas ou cilindros, dentre outros, a
estimativa do coeficiente convectivo de transferência de calor pode ser realizada
através de correlações empíricas. O coeficiente de película também pode ser
determinado experimentalmente e é definido segundo a Equação 1.

q = ± h( Ts − T f ) (1)

sendo q fluxo de calor na superfície do sólido, Ts temperatura na superfície do sólido


e Tf temperatura de referência no fluido. O sinal na Equação 1 deve ser escolhido de
modo a tornar positivo o valor do h.
O processo de aquecimento ou resfriamento do sólido ocorre em regime
transiente. Admitindo-se que a resistência à condução de calor no interior do sólido é
desprezível em relação à resistência ao transporte convectivo entre o fluido e a
superfície do sólido, tem-se:
hL
Bi = < 0 ,1 (2)
k

sendo Bi número de Biot, h coeficiente médio de transferência de calor, L dimensão


característica de comprimento e k condutividade térmica do material. Assim,
considera-se a temperatura no sólido uniforme e se avalia o gradiente de temperatura
na camada limite térmica do fluido.
Considera-se o corpo sólido inicialmente a uma temperatura Tso (temperatura de
sua superfície no instante inicial) no interior de um fluido infinito em estagnação ou
em movimento uniforme a uma temperatura Tf (temperatura constante do fluido, em
região exterior à camada limite térmica) com as hipóteses: i)temperatura uniforme no
interior do sólido (incluindo a superfície); ii) a camada de fluido em contato direto
com a superfície do sólido assume o valor da temperatura no sólido; iii) as
propriedades físicas do sólido são constantes.
Aplicando-se a primeira lei da Termodinâmica em um sistema constituído por
um corpo sólido e que possui um fluido como vizinhança, a taxa de transferência de
calor no corpo sólido pode ser calculada segundo a Equação 3:
. dTs
q = ρ s C pV (3)
dt

sendo ρs massa específica do sólido, Cp calor específico do sólido, V volume do


sólido, Ts temperatura do sólido e t tempo. O calor específico do sólido representa a
capacidade que esse sólido possui em absorver ou liberar calor e possui unidades de
[J/kgK] segundo o sistema internacional de unidades.
.
Sabe-se ainda que a taxa de transferência de calor ( q ) pode ser obtida
integrando-se o fluxo local de calor (q) através da área superficial do sistema (A),
como mostra a Equação 4.
.
q = ∫∫ qdA (4)
A

Considerando-se que na superfície do sólido a temperatura da camada de fluido


adjacente à superfície é a mesma do sólido, Ts, e tomando-se como temperatura de
referência a temperatura do fluido na região de fluxo livre, Tf, obtém-se a taxa
convectiva de transferência de calor (Equação 5), considerando a temperatura do
fluido maior que a temperatura do sólido.

.
q = −∫∫ h( Ts − T f )dA (5)
A

Considerando o valor de h médio, chega-se à Equação 6:

.
q = −h( T s−T f ) A (6)

A taxa de transferência de calor no corpo sólido é igual à taxa de transferência


de calor convectivo entre a superfície do sólido e o fluido, uma vez que se considera
que o sólido oferece resistência desprezível ao transporte condutivo. Assim,
igualando-se as taxas, temos as Equações 7 e 8.

' dTs $
ρ s C pV % " = −h( T s −T f ) A (7)
& dt #
dTs − hA
= dt (8)
( T s −T f ) ρ s C pV

A Equação 8 apresenta resolução simplificada se a variável dependente, Ts, for


adimensionalizada, assim, define-se:

Ts − T f
ψ= (9)
Ts0 − T f

Fazendo a derivada de ψ em relação à Ts e calculando dψ /ψ chega-se à


Equação 10.
dψ − hA
= dt (10)
ψ ρ s C pV

com Ts = Ts0 para t=0, ou seja, ψ = 1. Integrando-se a Equação 10, obtém-se a


Equação 11.
− hA
lnψ = t → y = αt (11)
ρ s C pV

Com base na Equação 11, para um determinado fluido e uma determinada


condição de escoamento, o valor de h médio poderá ser obtido através de
determinações simultâneas de temperatura e tempo, tanto para o mecanismo de
convecção natural como para o de convecção forçada. A Equação 11 indica um
comportamento linear em relação aos dados de lnψ (y) e t (x), considerando-se um
− hA
coeficiente angular α = .
ρ s C pV
Caso os dados experimentais se afastem muito da linearidade prevista pela
Equação 11, tem-se uma situação em que o fenômeno não é representativo das
hipóteses formuladas para a obtenção desta equação, isto é, Bi > 0,1; em consequência
da significativa resistência condutiva no sólido.
A partir do gráfico, no caso de se obter uma reta, procede-se à determinação do
coeficiente angular, α, que está relacionado com h pela Equação 12:
− αρ s C pV
h= (12)
A

Tem-se, desta maneira, o valor de h médio determinado através do experimento.

2. OBJETIVO
Avaliar a transferência de calor entre um fluido aquecido e corpos sólidos
constituídos de diferentes materiais e com formatos distintos, e determinar os valores
experimentais de coeficiente de transferência de calor para cada caso analisado.

3. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
• equipamento didático “Determinação do coeficiente de transferência de calor
em regime transiente”;
• água para preencher os tanques do equipamento.

3.1 Descrição do Equipamento


O equipamento encontra-se esquematizado na Figura 2. A unidade experimental
consiste basicamente de um sistema de escoamento de água, circuito para
aquecimento da água e circuito de medida de temperatura.
O sistema de escoamento de água é composto por dois reservatórios cilíndricos,
com capacidades em torno de 22 L (Reservatório A) e 15 L (Reservatório B). Uma
bomba centrífuga (4), tubos para o escoamento de água (Tubos A, B, C, D e E), uma
válvula tipo gaveta (5), e a tubulação para retorno da água mediante drenagem (6),
entre os dois reservatórios. Na região de entrada do fluido, ou seja, na base do tanque,
tem-se instalada uma placa perfurada para homogeneização do escoamento no
reservatório B. Os reservatórios (10) e (11) são revestidos com isolantes térmicos.
A bomba centrífuga possui uma chave seletora que permite regular a vazão de
escoamento do fluido entre os tanques. Na descarga da bomba (Tubo A), a tubulação
é dividida em duas vias, permitindo que a água possa escoar entre os Reservatórios A
e B, através dos Tubos E, A e C, desde que mantida fechada a válvula (5). A abertura
da válvula (5) permite a drenagem da água presente nos reservatórios, através do
Tubo D.
O suporte (8), acoplado na parte superior do Reservatório A, contém uma
resistência elétrica (7) fixada pela sua extremidade.
Figura 2 – Esquema do equipamento didático “Determinação do coeficiente de
transferência de calor em regime transiente”.

Legenda da Figura 1:
1 – Corpo de prova;
2 – Medidor de temperatura e chave seletora;
3 – Suporte dos corpos de prova;
4 – Bomba;
5 – Válvula de descarga do banho;
6 – Retorno para o tanque de aquecimento (dreno);
7 – Resistência elétrica;
8 – Suporte para a resistência;
9 – Estrutura para o suporte do equipamento;
10 – Tanque de aquecimento (Reservatório A);
11 – Tanque de imersão dos corpos (Reservatório B).
!

O circuito de medidas de temperatura possui um medidor de temperatura (2),


110 V ou 220 V selecionável, com referência à temperatura ambiente; cinco
termopares e uma chave seletora (2) para visualização das medidas referentes a cada
termopar.
Para o presente experimento serão utilizados quatro corpos de prova, a serem
submersos no reservatório B: uma placa de cobre; uma placa, um cilindro e uma
esfera de alumínio. De acordo com a Figura 3, a parte superior dos corpos é dotada de
um suporte que permite seu acoplamento no suporte (3) do Reservatório B. O suporte
é constituído de aço inox, com forma e dimensões que permitem a imersão individual
dos corpos (1).

Figura 3 – Esquema com os corpos de prova utilizados na prática experimental: duas


placas (cobre e alumínio), um cilindro e uma esfera (alumínio).
4. METODOLOGIA
1) Medir as dimensões dos corpos de prova com o auxílio de um paquímetro.
Assim, calcula-se a área e o volume para cada corpo de prova.
2) Ligar o medidor de temperatura e posicionar a chave seletora no número
correspondente ao termopar a ser usado.
3) Ligar o banho termostático e acompanhar a temperatura da água no
reservatório B, através do termopar e do medidor de temperatura, até que a
temperatura do banho atinja cerca de 70 °C.
4) Acoplar um segundo termopar no primeiro corpo de prova a ser utilizado
(placa de cobre) e realizar a imersão do corpo de prova no interior do
Reservatório B com o auxílio do suporte; modificar a chave seletora do
medidor para o referido termopar.
5) Medir a temperatura inicial do corpo de prova, Ts0.
6) Posicionar a chave seletora da bomba centrífuga na posição III e ligá-la
para promover a imersão do corpo de prova.
7) Anotar o valor da temperatura do sólido, Ts, indicada no medidor em
função do tempo, t, (utilizando um cronômetro) durante o processo de
aquecimento do corpo, até que a temperatura de equilíbrio seja atingida.
8) Desligar a bomba centrífuga.
9) Retirar o corpo de prova do Recipiente B, mantendo-o apoiado no suporte.
10) Reposicionar o suporte no Reservatório B e repetir o procedimento para a
placa, o cilindro e a esfera de alumínio.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Registre os dados experimentais e calculados segundo as Tabelas 1-5. Para o
cálculo de ψ utilize a Equação (9).

Tabela 1 – Dimensões dos corpos de prova (C: comprimento, L: largura, E: espessura,


D: diâmetro).
Corpo de prova Dimensões
Placa de cobre C: L: E:
Placa alumínio C: L: E:
Cilindro alumínio C: D:
Esfera alumínio D:
Tabela 2 – Resultados experimentais para determinação do coeficiente de
transferência de calor em regime transiente para a placa de cobre.
Placa de cobre
Temperatura constante do fluido:
Temperatura inicial do sólido:
Tempo Temperatura Tempo Temperatura
Ψ ln Ψ Ψ ln Ψ
(s) do sólido (°C) (s) do sólido (°C)
0 52
4 56
8 60
12 64
16 68
20 72
24 76
28 80
32 84
36 88
40 92
44 96
48 100

Tabela 3 – Resultados experimentais para determinação do coeficiente de


transferência de calor em regime transiente para a placa de alumínio.
Placa de alumínio
Temperatura constante do fluido:
Temperatura inicial do sólido:
Tempo Temperatura Tempo Temperatura
Ψ ln Ψ Ψ ln Ψ
(s) do sólido (°C) (s) do sólido (°C)
0 52
4 56
8 60
12 64
16 68
20 72
24 76
28 80
32 84
36 88
40 92
44 96
48 100
Tabela 4 – Resultados experimentais para determinação do coeficiente de
transferência de calor em regime transiente para o cilindro de alumínio.
Cilindro de alumínio
Temperatura constante do fluido:
Temperatura inicial do sólido:
Tempo Temperatura Tempo Temperatura
Ψ ln Ψ Ψ ln Ψ
(s) do sólido (°C) (s) do sólido (°C)
0 52
4 56
8 60
12 64
16 68
20 72
24 76
28 80
32 84
36 88
40 92
44 96
48 100

Tabela 5 – Resultados experimentais para determinação do coeficiente de


transferência de calor em regime transiente para a esfera de alumínio.
Esfera de alumínio
Temperatura constante do fluido:
Temperatura inicial do sólido:
Tempo Temperatura Tempo Temperatura
Ψ ln Ψ Ψ ln Ψ
(s) do sólido (°C) (s) do sólido (°C)
0 52
4 56
8 60
12 64
16 68
20 72
24 76
28 80
32 84
36 88
40 92
44 96
48 100
1) Para cada corpo de prova, construa os gráficos lnψ (y) e t (x) e realize a
regressão linear para os dados obtidos.

2) Sabendo que os coeficientes angulares dos ajustes realizados são


− hA
α= , determine os valores de h médio para cada caso de escoamento
ρ s C pV
de fluido sobre os corpos de prova. Considere as propriedades dos sólidos
constantes: Cp para o cobre 0,38 J/gK; Cp para o alumínio 0,90 J/gK; ρs para
o cobre 8960 kg/m3 e ρs para o alumínio 2698 kg/m3.

3) Comparando-se as placas constituídas de diferentes materiais, cobre ou


alumínio, para qual dos corpos a temperatura levou maior tempo para se
estabilizar? Explique os motivos. Para qual dos dois casos o valor
experimental do coeficiente médio de película é mais elevado? Por quê?

4) Comparando-se os diferentes corpos de prova de alumínio: placa, cilindro e


esfera; explique os motivos para as diferenças nos valores estimados
experimentalmente para o coeficiente médio de película.
! ! !
SEGURANÇA
Neste experimento os aspectos sobre segurança estão relacionados ao contato
com a água aquecida presente nos tanques e com a manipulação dos corpos de prova.
A água e os corpos de prova podem atingir altas temperaturas durante o experimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNETT, C. O.; MYERS, J. E. Fenômenos de transporte: quantidade de
movimento, calor e massa. São Paulo: McGraw-Hill, 1978. 812 p.

INCROPERA, F. P. et al. Fundamentos de transferência de calor e de massa. Rio


de Janeiro: LTC, 2011. 643 p.

TÓPICOS DE LABORATÓRIO DIDÁTICO EM FENÔMENOS DE


TRANSPORTE, 2ª edição, DEQ/UFSCar.

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