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Cavaleiros Imortais 1

Cavaleiro Imortal
Marcy Jacks

Alistair é um cavaleiro imortal encarregado de proteger a


humanidade e os shifters das forças das trevas que os afligem. Perigoso
e mortal, Alistair passou centenas de anos sem se preocupar com o seu
dever, após o assassinato brutal de sua companheira, e não quer nada
mais do que ser deixado em paz e sozinho.
Quando seus irmãos descobrem o que eles acreditam ser um
bruxo das trevas vagando pelos bosques perto de sua casa, Alistair fica
furioso. As bruxas mataram sua companheira, e ele não fez nenhuma
matança em muito tempo.
Um olhar para os olhos com cores diferentes de Kevin, deixa
Alistair desconcertado. Ele imediatamente entra em modo protetor,
protegendo seu companheiro de seus irmãos, que querem Kevin morto.
Kevin é o companheiro de Alistair, reencarnado depois de ter
sido assassinado por seu inimigo. Parece estranho, mas quando Alistair o
beija, Kevin não consegue resistir. Ele quer ser tomado por esse homem,
quer ser dominado, mesmo quando memórias horríveis do passado
começam a retornar.

Revisora do Livro
Capítulo Um

Kevin Alartis se encolheu quando jogou fora a última das


aranhas de sua mochila.
Isso era o que conseguia por sentar naquele lugar sem ver onde
estava sentando. Deus, ele odiava aranhas, sempre fez, e quando elas
foram tiradas de sua mochila, ele não sentiu nenhuma culpa em queimar
essas pequenas otárias com uma chama rápida de sua mão.
Não usou um isqueiro ou algo assim. A chama realmente veio
de suas mãos. Ele sempre foi um pouco estranho, podia fazer coisas
estranhas e inexplicáveis desde que era criança, e agora era o momento
perfeito para colocar esses dons estranhos em uso.
Kevin fodidamente odiava o fogo, mas odiava ainda mais as
aranhas, e essas coisas tinham cometido o pior dos pecados quando se
arrastaram para sua mochila.
Ele apagou as minúsculas chamas deixadas no chão com seu
pé, depois tocou as folhas e a grama quentes, dizendo-lhes uma rápida
desculpa, empurrando energia para que as plantas não queimassem
sozinhas quando ele tivesse ido embora. Gostava de plantas. Kevin não
queria que elas morressem porque as tinha incendiado em sua missão
de matar as aranhas.
Kevin escolheu outro ponto para parar para descansar antes de
retirar seu mapa. Mais duas horas e estaria na cidade. Um lugar
agradável chamado Green Lake. Perto das montanhas, da floresta e de
todos os lugares. Essas trilhas eram ótimas para caminhadas e passeios.
Seus pais não estavam brincando. Eles estavam muito mais felizes ao
ouvir que seu filho iria para o Canadá em seu primeiro verão depois de
terminar a faculdade do que passear pela Europa. Eles tinham visto
filmes de terror e muitas notícias ultimamente que os convenceu de que
não queriam que seu garoto viajasse pela Europa. Kevin achou que
estavam exagerando, mas também não tinha dinheiro para ir para o
exterior de qualquer maneira.
Canadá, e estava feliz por ter vindo, mesmo se as aranhas eram
maiores do que estava acostumado.
Seus pais tinham caminhado juntos nessas trilhas na sua lua de
mel, que foi como Kevin tinha nascido, e enquanto ambos haviam
sugerido o quanto deveria trazer alguém especial com ele, Kevin estava
feliz por estar sozinho.
Pegar Carl se acariciando com seu parceiro de estudo em sua
cama não tinha sido tão legal, por isso queria ficar sozinho, Kevin não
tinha contado a seus pais sobre isso ainda.
Ele não podia esperar para entrar na cidade, reservar um
quarto, tomar um banho quente, e deitar numa cama verdadeira.
Camping e caminhadas eram legais, mas Kevin ainda precisava de sua
dose de civilização de vez em quando.
Além disso, achou difícil dormir quando havia uma fogueira,
então a apagava todas as noites, o deixando com um pouco de frio.
Kevin poderia estar ao redor do fogo e trabalhar com ele quando
precisava, mas dormir enquanto estava queimando a fogueira... não.
Isso não ia acontecer.
Tomando mais um gole de sua garrafa de água, Kevin suspirou,
levantando-se. Começou a andar novamente.
Uma boa ceia, um chuveiro ou uma banheira iriam ajudá-lo a
esquecer sobre Carl, como ele implorou para que Kevin lhe desse outra
oportunidade e Kevin se sentiu tão vazio que quase não se importava
com mais nada.
Kevin tinha pensado que estava apenas dormente, entorpecido,
mas agora... algo estava errado. Carl nunca tinha sido o único, e talvez
Kevin fosse muito jovem para estar procurando por um companheiro,
mas não podia evitar.
Estava só. Ele estava sozinho desde que rompeu com Carl, mas
não era Carl que ele queria. Esta coisa tinha estado dentro dele, desde
antes de Carl.
Mesmo quando Kevin achava que estava apaixonado, nunca
contara a Carl sobre seus dons. Se Kevin não estava confortável em
compartilhá-los com Carl, como ficaria confortável em compartilhar o
que podia fazer com alguém?
Kevin encarava a possibilidade de que pudesse ficar sozinho
pelo resto de sua vida, e não sabia o que fazer a respeito.
O súbito puxão de um galho atrás dele, seguido por um
profundo ronronar, fez Kevin girar observando ao redor.
Apesar de seu choque e repentino pânico, mesmo a visão de
não ter nada lá não era suficiente para acalmá-lo completamente. Não
imediatamente. Não quando tinha tanta certeza de que algo estava a
poucos centímetros atrás dele.
Algo grande.
Kevin engoliu em seco. Manteve os olhos bem abertos e
arregalados, apenas no caso de ele piscar e ver algo.
— Tem alguém aí?
Tão estúpido. Se houvesse uma pessoa lá, teria já aparecido e
dito algo para ele, não continuaria se escondendo nos arbustos fazendo
barulho, tentando assustá-lo.
Não havia nada. Nada tinha feito qualquer tipo de barulho, e por
alguma estranha razão, Kevin não se acalmou com isso.
Ele virou e começou a andar, rapidamente. Precisava ir para a
cidade. Se houvesse ursos, então não queria estar aqui se pensassem
que ele era um lanche. De jeito nenhum.
Pura sorte, ser o que era, reagiu no instante em que pensou na
palavra urso.
De todas as coisas, um urso surgiu no meio de seu caminho, um
urso gigante. Um urso pardo. Jesus Cristo, tinha que ser o maior deles
por aqui. Não que Kevin soubesse sobre o tamanho dos ursos, mas isso
não se parecia com nada que já tinha visto no Discovery Channel.
E estava olhando para ele, segurando Kevin no lugar com
aquele olhar monstruoso.
Merda. Ele ia morrer. Merda.
O urso andou mais perto, cheirando e bufando nele. Kevin
recuou. Ele viu as garras. Torturou-se, olhando a partir delas para a cara
do urso, e vice-versa.
O que seria pior? Dentes ou garras?
Então parou. Não, espere, isso ia ficar bem. Talvez. Ele ainda
pudesse se defender.
Mais ou menos.
Kevin ergueu as mãos, as palmas das mãos e os dedos quando
o fogo apareceu, como se estivesse segurando pedaços de chamas em
suas mãos.
Animais selvagens detestavam fogo, certo? Certo.
O urso rugiu para ele. Kevin fez o fogo subir tão alto quanto
poderia fazê-lo ir, o que não era muito, mas esperava que o urso não
percebesse isso.
— Vá embora! Para trás! — Kevin deu um passo para frente,
desesperado para assustar o urso com o fogo.
O urso não se moveu.
— Vamos. Por favor, saia daqui, — implorou Kevin.
É claro que o urso não respondeu, mas ao invés disso, uma
neblina o cercou, seu corpo parecia se transformar e mudar antes de se
erguer sobre as patas traseiras, revelando um homem de ombros largos,
bem ali em roupas finas, onde um homem não tinha estado em pé
antes.
Ele não parecia feliz. Olhou para Kevin com aqueles olhos
escuros, como se Kevin tivesse feito algo errado aqui.
— Quer me dizer como você pode fazer essa merda, bruxinho?
Kevin perdeu o controle do fogo. Queimou suas palmas. Ele
sibilou e largou.
— Merda! — Pisou nas chamas antes que pudessem se espalhar,
esquecendo por apenas um segundo sobre o homem irritado e
assustador que tinha acabado de aparecer, transformado de urso para
ser humano bem na frente de seus olhos.
Kevin ofegou para respirar quando teve certeza de que as
chamas não se propagariam, mas seu coração ainda batia forte, como se
acabasse de terminar uma meia maratona.
Quase não queria olhar para o homem à sua frente. Quando o
fez, percebeu que havia outra pessoa alta e imponente ao lado dele,
ambos olhando para Kevin, ele deu um passo atrás. Isso não era normal.
Isso não era certo, e Kevin era um cara que podia fazer fogo com suas
mãos.
Ele podia fazer isso, e isso era muito assustador para ele.
Isto parecia como Blair Witch1, e estava dando o fora daqui.
Kevin virou-se abruptamente para correr, apenas para bater seu
rosto no peito de outro enorme homem. Tinha batido contra ele com
tanta força que caiu em seu traseiro com uma maldição.
Olhou para o que devia ser um cara asiático mais alto e mais
largo que já tinha visto em toda a sua vida, e tinha escamas em seu
corpo? Aquelas tinham que ser tatuagens.
Mas não. As tatuagens estavam se movendo, afundando de
volta em sua pele, como se também tivesse se transformado de... algo
mais que um homem.
— Ele é claramente um bruxo. Posso cheirar seu fedor por toda
parte.
Kevin piscou.
— O que?
— Devemos matá-lo.
— O que?
Os homens ao seu redor fingiram não ouvir uma palavra que ele
estava dizendo.
— Não podemos matá-lo. Ainda não. Ele pode saber onde os
outros estão. Podemos descobrir onde Keaton está se escondendo.
Passaram-se anos desde que tivemos algo assim.
— Ok, espere, espere! — Kevin se levantou correndo, notando a
maneira como os homens ao redor dele ficaram tensos, como se
esperassem que Kevin os atacasse.

1 As Bruxas de Blair.
Como se pudesse fazer algo assim.
— Ok, eu não sei o que está acontecendo, mas prometo que não
sou um bruxo.
O homem que tinha sido o urso estreitou os olhos.
— Certo. E isso não foi fogo que vi em suas mãos.
Kevin balançou a cabeça.
— Não é desse jeito. Eu não... não sou como um adorador do
diabo ou qualquer coisa. Não tenho ideia de quem seja Keaton. Estou
apenas caminhando aqui.
— Não acredito nele, — disse o homem atrás dele.
Kevin ficou tenso. Mal podia respirar. Em sua mente passava
por todos os cenários onde poderia tentar fugir, o quanto conseguiria
correr, o quão longe, e quais eram suas chances de escapar.
Esses caras poderiam correr mais rápido do que Kevin. Ele
provavelmente não conseguiria dar dez passos, mas isso não o impediu
de querer correr de qualquer maneira. Suas pernas coçavam para fazê-
lo.
— Ele vai fugir. Apenas pegue-o e nós podemos questioná-lo
mais tarde.
Oh, merda. Kevin correu.
— Lá vai ele.
— Agarre-o!
Assim como esperava, não chegou longe antes de ser atacado.
Kevin gritou quando caiu com força. Seu rosto bateu na terra dura, e
queimou quando foi arrastado um pouco.
— Peguei!
— Saia de cima de mim!
Kevin lutou, mas sua luta não fazia nem cócegas para os
homens atrás dele. Agarraram-no pelos pulsos e puxaram as mãos para
trás como se a força de Kevin não fosse nada.
Kevin gritou com eles novamente. Amaldiçoou e lutou e chutou
as pernas, desesperado para tirar esses homens dele, mas eles não se
moviam. Lidavam com ele como se fosse apenas uma criança, o que
poderia muito bem ser, considerado o pouco que poderia fazer contra
essas pessoas. O homem que tinha sido um urso levantou Kevin por
cima do ombro.
— Solte-me! Solte-me!
— Cale-se. Você tem sorte de não tê-lo matando.
Era o fato de que ele tinha ameaçado matar Kevin novamente
que o enviou para o fundo do poço. Esses homens iriam matá-lo.
Estavam sequestrando-o e falavam sobre matá-lo, e esse foi o problema.
Kevin explodiu em chamas com um grito alto, e então continuou
gritando porque estava em chamas, mesmo quando o estranho shifter
gritou e o deixou cair.
Kevin não conseguia parar de gritar ou berrar. O calor era
intenso, e estava cercado pelo fogo. Tinha a intenção de correr quando o
shifter o deixou cair, mas não conseguiu. Ainda estava queimando.
Estava queimando, e estava pirando, e não havia nada que pudesse
fazer para impedir que isso acontecesse.
As plantas e a grama ao redor dele começaram a queimar.
Podia sentir o cheiro e o calor. Kevin cheirava-se queimando, e quando
gritou todo o ar de seus pulmões saiu, então Kevin percebeu que não
podia aspirar outra respiração. O calor era demais. Estava queimando e
não podia respirar, e agora ia morrer. Ia morrer por causa dele e não
por causa desses caras.
Kevin gritou mesmo quando não havia mais ar em seus
pulmões, silêncio, após um ruído desesperado enquanto tentava
absorver todo o oxigênio que possivelmente conseguisse. Tentou e
falhou antes de desmaiar.

Capítulo Dois

Kevin acordou com um suspiro. Ele abriu os olhos no quarto


escuro. O ar estava fresco, e ele praticamente respirou pesadamente
enquanto seu peito expandia e contraia.
Ele estava vivo. Não era um sonho. Isso não poderia ser um
sonho. Estava definitivamente vivo e não queimando. Estava respirando.
Kevin deixou suas mãos deslizarem para baixo e em torno de
seu corpo, sobre seu pescoço e rosto. O fogo que o fez entrar em pânico,
que quase o matara, desaparecera. Não sentia nenhuma dor ou tinha
uma cicatriz horrível. Olhando para as mãos, também não havia nada lá.
Estava bem. Estava bem.
Exceto pela corrente algemada em torno de seu tornozelo. Essa
foi a próxima coisa que notou depois que acordou.
Merda.
Kevin estendeu a mão. Agarrou o grilhão de ferro e puxou a
corrente. Era forte e grossa. Não se abriu magicamente quando a tocou,
o que era uma vergonha, já que estava começando a perder a sua
mente novamente como antes.
Santo Deus, ele estava vivo, e isso era ótimo, mas agora estava
preso no porão de Buffalo Bill2, acorrentado a uma cama de armação de
aço.
O coração de Kevin bateu contra seu peito enquanto raspava as
unhas contra o grilhão. Não havia janelas neste quarto, e o ar frio e
úmido fazia com que se sentisse como um porão.
Ele estava fodido. Estava tão fodido. Tudo o que aqueles
homens haviam dito que queriam fazer com ele voltou da maneira mais
assombrosa possível. Eles queriam matá-lo. Queriam rasgar sua cabeça
fora e matá-lo porque pensaram que ele era um bruxo.
Isso não era o que ele era, mas tinha certeza que iria usar
qualquer poder que possuía para sair daqui.
Então ia gritar com seu pai, que dizia que o Canadá era mais
seguro do que a Europa. Besteira.
— Merda. Vamos. Vamos!
Kevin puxou o grilhão e a corrente, desesperado para tirá-los.
Não se moveram, nem mesmo quando tentou abrir a fechadura com sua
mente.
Normalmente tinha problemas com isso. Muitas vezes, quando
Kevin tentava mover alguma coisa com sua mente, isso não acontecia, e
quando podia fazer, geralmente acontecia um acidente.
E agora, quando precisava dessa habilidade mais do que jamais
precisou alguma vez em sua vida, não conseguia abrir a maldita coisa.
Kevin queria gritar, especialmente quando acidentalmente se
arranhou tentando arrancar o grilhão fora.
Kevin manteve a boca fechada. Não ousou fazer nenhum som.
Não queria chamar a atenção para si mesmo no caso de alguém entrar

2 William Frederick Cody, ou simplesmente Buffalo Bill, foi aventureiro americano nascido no Condado de Scott, Iowa,
EUA. Matou milhares de búfalos num curto espaço de tempo, ficando por isso com o apelido de Buffalo Bill.
aqui com uma faca. Seu rosto não tinha sido queimado, mas ainda doía
de quando foi atacado batendo no chão da floresta.
Ok, o grilhão não estava saindo. Ele precisava descobrir a
quantidade de folga havia sido dada. Talvez pudesse chegar à porta. Se
descobrisse onde estava, poderia sair daqui.
Tão logo seus pés descalços tocaram o chão de concreto frio,
Kevin ouviu alguns dos piores gritos em toda a sua vida. Não era o tipo
de grito que sugeria que um homem estava sofrendo em algum lugar,
mas ritos de raiva, de alguém que estava indo em direção de sua cela,
ou quarto, e estava muito, muito zangado.
Kevin congelou. Merda. Deveria voltar para a cama e fingir que
estava dormindo? Deveria ficar aqui e esperar quem entraria em sua
cela? Não sabia o que fazer, e nunca desejou tanto seus pais em toda a
sua vida adulta.
Um golpe duro soou na porta. Kevin saltou, mas quem estava
do outro lado estava parado. Algumas das vozes eram familiares. Os
homens que o haviam raptado? Mas uma única voz, a voz que mais
gritava, não estava se acalmando de jeito nenhum.
— Podemos fazer-lhe perguntas! Alistair! Acalme-se! Ele pode
conhecer alguém!
— Você trouxe um puto bruxo para minha casa! Vou arrancar a
cabeça dele quando me disser onde Keaton está!
Se houvesse alguma coisa na bexiga de Kevin, ele a teria
esvaziado naquele momento. Alguém queria entrar e matá-lo. Precisava
encontrar uma arma, alguma coisa, qualquer coisa que pudesse usar
para protegê-lo, mas não havia nada no quarto com ele. Havia apenas
lençóis finos, colchão e a cama que estava aparafusada no chão,
portanto, não poderia empurrá-la contra a porta.
— Alistair! Pare com isso!
Ruídos estridentes soavam com o que tinha de serem as
fechaduras sendo abertas, e a porta de metal pesada abriu
suficientemente forte que bateu contra a parede da cela de Kevin.
Outro grande e forte homem marchou em sua direção. Kevin
recuou, segurando as mãos.
— Não sou um bruxo, e não conheço nenhum Keaton! Por favor!
Eu não fiz nada!
O homem grande com os olhos brilhantes âmbar não parecia
ouvir Kevin, e se fez, com certeza não parecia se importar com nada que
Kevin estava dizendo quando agarrou Kevin pela garganta e empurrou-o
forte contra a parede da cela.
Kevin mal tinha folga suficiente na corrente em torno de seu
tornozelo, então teve sorte que foi capaz de ir tão longe sem o pé ser
arrancado fora, porque estava certo de que era o que teria acontecido se
este cara não parasse.
Kevin segurou firmemente o braço do homem para que não
engasgasse.
— Meu nome é Kevin Alartis. Moro em Michigan com meus pais.
Eles sabem que estou aqui em cima, e vão procurar por mim. Acabei de
sair da faculdade, pelo amor de Deus. Não quero morrer. Por favor, não
me mate!
A qualquer momento, esperava que o homem apertasse os
dedos um pouco mais apertados na garganta de Kevin, para sufocá-lo e
acabar com ele. Kevin não percebeu que estava chorando até que
passaram alguns segundos e ainda conseguia respirar. Ele não conseguia
entender.
Exceto que ainda não estava sendo sufocado até a morte. O
homem gigante apenas continuou olhando para ele, olhando para ele, na
verdade.
— Uh, ei, Alistair?
Kevin quase esqueceu que havia pessoas atrás dele, que os
homens que o haviam sequestrado ainda estavam em sua cela com esse
novo cara.
O novo cara, Alistair, ainda estava olhando para ele, como se
não tivesse visto nada como Kevin em toda a sua vida.
O homem provavelmente poderia sentir a pulsação de Kevin em
seu pescoço ainda martelando, mas estava apenas olhando para ele.
Talvez isso fosse uma coisa boa. Talvez significasse que o cara
não queria matar Kevin e ainda havia uma chance de ele conseguir sair
disso com sua vida.
— Não sou um bruxo. Não sou o que seus amigos disseram
sobre mim. Isto é um erro. Por favor, não me mate.
— Por que seus olhos são assim?
Kevin piscou. Agora estava realmente começando a ficar
maluco.
— Eu nasci assim.
— Um olho dourado e outro azul? Bem desse jeito?
Kevin não entendeu qual era o problema. Claro, havia pessoas
que gostavam de seus olhos. Tinha conseguido encontros por causa
disso, mas se esse homem estava hesitante em matá-lo porque achava
que os olhos de Kevin eram interessantes, então Kevin usaria isso em
seu proveito.
— Sim, apenas assim. Não sou um bruxo. Não fiz isso para
mim. Nasci assim.
O homem continuou a olhar para ele, a mão ao redor do
pescoço de Kevin não tão ameaçadora mais, já não estava segurando
tão apertado.
Mas ainda era uma ameaça.
Alistair não estava olhando mais, então isso era algo. Sua
expressão parecia um pouco mais relaxada quando se inclinou e,
inesperadamente, passou a língua pela garganta de Kevin.
Kevin estremeceu, e gemeu sem querer. A onda de prazer foi
súbita e completamente inesperada. O toque daquela língua morna e
molhada em sua pele era diferente de tudo o que Kevin já sentira antes
em toda a sua vida, e não só seu mamilo endureceu, mas também o seu
pênis.
Os homens atrás deles falaram mais uma vez.
— Alistair? Você está bem?
— Sim, o que você está fazendo?
Kevin não podia desviar o olhar do outro homem agora. Sentiu
os pés dele tocando o chão enquanto Alistair o abaixava, e enquanto sua
mão já não agarrava o pescoço de Kevin, seus dedos permaneceram na
pele de Kevin.
O toque queimou como não tinha antes. Ou talvez tivesse, e
esta foi a primeira vez que Kevin percebeu. Estava paralisado, e não
podia parar de olhar para o outro homem.
Que diabos tinha acontecido? Por que esse homem parecia tão
familiar?
— Eu... eu conheço você?
A mão de Alistair ainda estava sobre ele, descansando
suavemente no ombro de Kevin, seus dedos tocando a garganta de
Kevin. Parecia ter dedos ásperos e com calos, mas não tinha. As mãos
do homem estavam cicatrizadas, como por fogo, mas o toque de seus
dedos era suave e reconfortante. Davam uma sensação de prazer agora
que Kevin não achava que esse homem iria matá-lo. Queria ser tocado
mais.
Kevin se viu inclinando para frente. Queria mais desse toque.
Também não podia desviar os olhos daqueles olhos.
Estavam sugando-o, intoxicando-o, acalmando-o.
— Alistair!
Um dos homens atrás de Alistair agarrou-o pelo ombro,
puxando-o. Sua expressão era sombria enquanto olhava para Kevin,
tomando seu amigo pelos ombros.
— O que você tem? Estale fora dele! Ele está lançando um
feitiço em você!
Kevin ficou tenso.
— O que? Não, eu não estou! — Ele estava ficando com raiva
agora. — Você vai parar com a coisa de bruxo? Você me raptou!
— Eles fizeram isso na sua cara?
Kevin piscou.
— O que?
Alistair estendeu a mão, os dedos suavemente tocando o rosto
de Kevin, bem no ponto onde mais machucou.
— Desculpe, — Alistair disse quando se encolheu.
Kevin nem sequer sabia o quão ruim parecia. De repente,
estava consciente disso, de como estava horrível e desfigurado,
enquanto estava flertando com um dos homens que o havia
sequestrado. Bem, Alistair não estava lá no sequestro, mas disse que
queria matá-lo.
— Eles fizeram isso, não é? — Alistair fez um barulho baixo e
ameaçador enquanto se voltava para os amigos.
— Pelo bem dos Deuses, Alistair. Nós somos seus amigos, seus
irmãos! Ele está lançando um feitiço em você.
— Não, eu não estou! — Kevin disse.
Ele não tinha ideia do que estava acontecendo, além do fato de
que era Alistair quem parecia ser o mais interessado em proteger Kevin
dessas pessoas, e mantê-lo de se machucar. Kevin pegou a mão de
Alistair e apertou-a com força. Não se importou como fodido isto era. Se
Alistair era sua única esperança, então Kevin faria qualquer coisa e tudo
em seu poder para ficar do lado bom do homem.
— Por favor, não deixe que eles me matem. Tenho pais. Quero
poder vê-los novamente. Acabei de me formar na faculdade. Não quero
morrer.
— Não vou deixar que eles te toquem, — Alistair rosnou,
andando completamente entre Kevin e os homens que o tinham
sequestrado.
Kevin não questionou. Colocou as mãos nas costas de Alistair,
agarrando a jaqueta de couro do homem, desesperado para manter
Alistair com ele, para não deixar o homem ir. Também o segurava assim
evitando cair. Uma fraqueza repentina o atingiu, fazendo seus joelhos
caírem sob o peso de seu próprio corpo. Kevin precisava de ajuda para
ficar de pé.
Seu cérebro estava sendo inundado com alguma coisa, com
muita informação, e não conseguia se concentrar em nada, exceto num
único fato.
Alistair estava segurando-o. Alistair podia ser confiável. Kevin
não se importava que esses pensamentos fossem estranhos nesse
contexto, porque não queria morrer. Não queria ser morto. Mal
começara a viver.
— Nenhum de vocês estará machucando-o. Ele está vindo para
cima comigo.
— Você não pode estar falando sério.
— Yuki, se você tentar ficar no meu caminho, irei te machucar.
Kevin estremeceu.
Outro dos homens falou.
— Ele é um bruxo! Dez segundos atrás estávamos tentando
impedir que você o matasse! Você não vê o que está acontecendo!
Alistair sacudiu a cabeça.
— Ele não é um bruxo.
Kevin olhou para cima quando percebeu que Alistair estava
olhando para ele, algo tão afetuoso e quente em seus olhos que a
agradável sensação vibrante retornou ao intestino de Kevin.
A sensação de que ele estava bem aonde pertencia.
— Ele é um feiticeiro.
Kevin não entendeu. Aparentemente, nem os amigos de Alistair.
— O que? Como você sabe?
— Não há mais feiticeiros.
— Ele é um. Não sinto nenhum negrume ou antinatural nele. Se
vocês idiotas se incomodassem em prestar atenção, também poderiam
sentir isso.
Todo mundo estava quieto. O único ruído no quarto que Kevin
podia ouvir era o som de seu próprio coração batendo contra seus
tímpanos.
— Eu... não sei o que é um feiticeiro, e não tenho certeza se sou
um, — Kevin começou, — mas isso significa que não vai me matar?
Alistair balançou a cabeça, algo em sua voz mudando, quase
quebrando.
— Não, querido. Eu nunca te machucaria. Juro pelos deuses,
não o faria.
Será que este homem apenas chamou Kevin de querido?
Ele sentiu como se devesse protestar contra isso. Não conhecia
esse homem, e ainda estava em um estranho grilhão que parecia
amortecer seus dons.
Mas ouvir aquela palavra da boca de Alistair soou bem. Isso fez
Kevin querer cair no peito de Alistair e segurar firme. Não iria querer
deixá-lo ir enquanto inalava seu cheiro e se aconchegava lá, como um
gatinho, como se fosse aonde pertencesse.
Não, era mais forte do que isso. O sentimento não era apenas
um sentimento de pertencer. Era uma sensação de estar longe por muito
tempo e apenas estar voltando para casa agora.
Alistair ajoelhou-se. Agarrou o grilhão e a corrente que
mantinha Kevin preso no chão, e com um puxão duro que fez Kevin
saltar, Alistair arrancou o grilhão, destruindo o metal e libertando a
perna de Kevin.
— Alistair! Você é louco?
— Ele é meu companheiro, Garrick, — Alistair disse, chocando
Kevin.
Companheiro? Essa palavra não era algo que parecia se aplicar
aos seres humanos. Os seres humanos tinham namorados ou
namoradas, cônjuges e parceiros, mas não companheiros.
E, no entanto, como tudo mais, aquela palavra fez Kevin se
derreter em quão perfeitamente adequada era. Era como se tudo dentro
dele estivesse esperando por esse homem para chamá-lo disso, estava
esperando Alistair por toda a sua vida, e a palavra companheiro parecia
solidificar algo que se acumulava dentro do corpo de Kevin.
Kevin não se conteve desta vez. Ele se inclinou contra o peito de
Alistair com um suspiro. Colocou os braços ao redor da cintura de
Alistair, sem saber por que, mas fazendo isso de qualquer maneira
porque se sentia muito bem, e não queria questionar isso.
Alistair beijou e acariciou o cabelo de Kevin.
— Isso mesmo, querido, você está em casa. — Outro beijo
suave, outro gesto reconfortante antes da voz de Alistair rachar. — Sinto
muito por ter falhado com você.
Kevin não tinha certeza do que ele estava falando ou por que se
sentia tão calmo agora, mas sabia que isso era certo. Isso era tudo que
sempre quis em toda a sua vida, e agora que estava aqui, realmente se
sentia como se estivesse em casa.

Capítulo Três

Alistair queria chorar. Sua companheira. Sua linda Kinsey estava


de volta aqui, com ele. Aqueles olhos, os poderes que seus irmãos
falaram, e o sentimento que Alistair teve quando tocou e lambeu o
homem podia ser apenas uma coisa.
Alistair não estava apenas certo disso. Sabia disso. Tinha olhado
longamente o suficiente nesses olhos para ver os restos de sua
companheira.
Ela tinha voltado para ele. Ela estava com ele mais uma vez.
Estava recebendo outra chance, e Alistair não se importava que ela
voltasse para ele como um homem. Ele a aceitaria como fosse.
Garrick deu um passo à frente, colocando a mão no ombro de
Alistair.
Alistair se afastou, rosnando para o homem.
Garrick ergueu as mãos e deu um passo para trás com Yuki e
Bramwell.
— Nós não vamos fazer nada, mas tem que nos dizer o que está
acontecendo. Quem é esse?
Yuki parecia menos impressionado. Ele olhou para Alistair com
total suspeita em seus olhos e dirigiu isso mais para Kevin.
— Você chamou esse homem de seu companheiro. Isso é
impossível.
Alistair balançou a cabeça, olhando amorosamente para o
homem em seus braços. Mesma cor e altura do cabelo. Era tão fácil
segurar esse homem que só agora Alistair foi capaz de sentir como
estava perdido.
— Não é impossível.
— Kinsey está morta, Alistair, — disse Bramwell, embora não
havia maldade quando seu olhar baixou. — Todas elas estão. Elas não
vão voltar.
Porque o fogo as tinha matado, todas elas.
Agora não. Ela não estava mais morta, e Alistair os faria ver
isso.
— Kinsey voltou! Esta é Kinsey!
Alistair odiava fazê-lo, mas gentilmente sacudiu seu
companheiro antes que o jovem pudesse adormecer.
— Me diga seu nome. Acorde. Preciso saber.
A exaustão e a adrenalina estavam o nocauteando. Kinsey
também sofria de fraqueza ocasional sempre que usava muito do seu
poder. A corrente tinha sido construída para sufocar esse tipo de dom,
mas a energia ainda teria sido usada e expulsa do corpo do homem.
Alistair o sacudiu um pouco mais. Quando o rapaz abriu os
olhos, revelando as brilhantes cores douradas e azuis do companheiro de
Alistair, ele ficou mais uma vez aliviado ao vê-los, para ver como sua
companheira estava viva e bem mais uma vez.
— O quê?
— Seu nome, Kinsey. Diga-me seu novo nome. Seu nome ainda
é Kinsey?
— Esse é um homem, Alistair — disse Bramwell suavemente.
— É Kinsey!
— Meu nome é Kevin, — Kevin respondeu, olhando para Alistair,
uma leve sobrancelha levantou em sua testa. — Quem é Kinsey?
Yuki estalou a língua.
— Vê isso? Ele mesmo admite. Ele não é seu companheiro.
Nossas companheiras estão mortas.
Não era possível. Era Kinsey. Kevin agora, nesta vida. Ela tinha
sido poderosa, mas não nas artes das trevas. Kinsey tinha um dom para
magias de luz, todas as coisas abençoadas pelos Deuses, era um oposto
completo do que as bruxas poderiam fazer.
Ela deve ter lançado algum tipo de feitiço para se trazer de
volta. Devia ter feito isso.
— Você se lembra de mim? Kinsey era seu nome anterior.
Kevin continuou franzindo a testa, parecendo sonolento, antes
que sacudisse a cabeça e desviasse o olhar, sua mão subindo, cobrindo
seus olhos.
— Estou com dor de cabeça.
Alistair não hesitou em levantar seu companheiro em seus
braços, embalando o homem perto de seu peito.
— Então vou levá-lo para o nosso quarto.
Yuki andou em seu caminho, um erro que poderia ser fatal,
enquanto Alistair rosnava contra o dragão, deixando sua pele e garras
para fora.
— A única razão pela qual não vou mudar agora e matá-lo é
porque Kinsey está aqui.
Yuki olhou para ele.
— Esse não é Kinsey, e você atacaria seu irmão por um homem
que acabou de conhecer?
Alistair pensou nisso. Olhou para Kinsey. Kevin, ele deveria
dizer. Os olhos do homem estavam fechados pacificamente, mas as
marcas em seu rosto ainda precisavam de tratamento.
— Este homem é meu companheiro. Kinsey voltou para mim.
Não sei como ela foi capaz de fazê-lo, ou por que agora, depois de
tantos anos, mas este é ela. — Alistair olhou para seus amigos. — Não
me importo como ela voltou. Esse homem é meu. Se você tentar tirá-lo
de mim, não hesitarei em matar você.
Os olhos de seus irmãos alargaram.
Garrick olhou para Kevin.
— Você tem certeza?
A chama de afeto e amor que tinha sido roubada de Alistair
desde o assassinato foi acesa mais uma vez quando olhou para baixo no
rosto de Kevin.
— Tenho certeza. Este é ela, e vou levar o meu companheiro
para o meu quarto. Preciso limpar sua ferida e ver o que ele pode se
lembrar.
Kinsey tinha sido esperta. Ela teria planejado isso, não teria? Ou
os fogos a mataram tão rapidamente que ela não tinha tido muito tempo
para planejar algo como lançar seus feitiços enquanto era queimada
viva?
Alistair não se importava. Tinha seu companheiro de volta, e
essa era a única coisa no mundo que se preocupava.
— Saia do meu caminho, Yuki. Quero dizer isso, ou machucarei
você. Posso até te matar.
Yuki olhou nos olhos de Alistair antes de olhar brevemente para
o homem em seus braços. Ele silenciosamente se afastou.
Alistair soltou um suspiro de alívio. Ele passou por seus irmãos,
caminhando em direção à porta que tinha quebrado.
Yuki o chamou quando ele virou a esquina.
— E se você estiver errado, Alistair?
Alistair não parou.
— Não estou errado.
Ele não estava errado. Este era o companheiro de Alistair, e iria
protegê-lo.
Alistair olhou para o rosto de Kevin. Este amor que sentia não
era falso, não era produto de um feitiço ou da sua imaginação.
Seu companheiro tinha finalmente voltado para casa para ele, e
Alistair pensou que iria morrer de felicidade.
Kevin entrava e saia da consciência. O sonho que o rodeava era
estranho e assustador.
Não assustador. Assustador era uma palavra que as crianças
usavam para descrever os monstros que achavam que estavam sob suas
camas. Isso era absolutamente aterrorizante, mais horrível do que
quando Kevin pensou que estava se queimando acidentalmente
enquanto tentava livrar-se de seus sequestradores.
Neste sonho, estava sendo queimado vivo. Estava gritando.
Havia mulheres gritando em torno dele, bebês, também. Bateram nas
portas, tentando escapar do lugar em que estavam trancadas, mas seus
vestidos incendiaram-se. Alguns dos homens tentavam derrubá-las, mas
não adiantava.
Algumas estavam chorando, agarrando-se aos filhos e
abaixando no chão, mas as chamas estavam tão perto que os cabelos e
as roupas queimavam.
Alistair! Alistair! Ajude-me!
Ele gritou de novo e de novo. Não queria morrer! Não queria
morrer.
Mas então uma ideia se formou em sua cabeça, mesmo
enquanto sua pele queimava, uma que podia o salvar, podia salvar a
todos, se somente pudesse cantar o feitiço corretamente, sem deixar de
fora qualquer palavra, ou para apressar as coisas, enquanto queimava.
Ele poderia voltar. Todos poderiam porque Alistair não iria chegar a
tempo para fazer alguma coisa.
Através da dor e do pânico, Kevin começou a cantar, mas não
conseguia entender as palavras porque era apenas um sonho, afinal, e
nada disso fazia sentido.
— Kevin? Kevin, acorde para mim. Trouxe algo para você.
Kevin abriu os olhos, piscando várias vezes enquanto olhava em
volta, percebeu que estava em outra cama e, pela segunda vez, suspirou
e agradeceu a Deus por não estar realmente queimando vivo.
O rosto de Alistair estava sobre ele, olhando para ele, olhos
preocupados.
— Com o que você estava sonhando?
Kevin piscou as lágrimas de seus olhos. Merda, ele realmente
estava chorando enquanto dormia?
— Eu só... acho que quando estava em chamas isso me
assustou.
Alistair ficou tenso.
— Quando você estava em chamas?
— Quando seus amigos tentaram me sequestrar. Tentei
combatê-los para fugir, mas acidentalmente me incendiei e entrei em
pânico. Sonhei que estava em chamas novamente. Foi... não quero falar
sobre isso.
Alistair, no entanto, não parecia querer deixar isso para lá.
— Onde você estava? Quando estava pegando fogo?
Kevin piscou.
— Oh, no bosque, uma das trilhas para caminhadas.
Alistair sacudiu a cabeça.
— Não, querido, quando estava no fogo em seu sonho?
Pergunta estranha a fazer, mas Kevin achou que ele também
poderia responder. Este homem estava salvando sua vida, e tinha uma
bandeja de comida na cama. Kevin provavelmente deveria manter suas
boas graças.
Pelo menos era o que ele mesmo dizia. Na realidade, o desejo
de dar tudo o que Alistair queria era demasiado forte para ignorar.
Kevin pensou sobre isso.
— Eu... não sei onde estava. Havia outras pessoas ao meu
redor.
— Quem eram eles?
Kevin não entendeu a pergunta ou porque o incomodava tanto
ter que reviver esse sonho. Não só o incomodava, mas aquele medo, o
medo que tinha do fogo, correu através dele.
— Eram mulheres. Não tenho certeza quem elas eram. Não,
espere, havia um ou dois caras lá, e um monte de crianças, bebês.
O coração de Kevin bateu duro e pesado em seu peito. Ele de
repente sentiu como se suas costelas estivessem demasiadas apertadas,
que não podia respirar. Estendeu as mãos para cima, pressionando-as
sobre seu coração. Precisava se concentrar, mas não podia fazer isso até
que Alistair o tocou, puxando-o para perto.
Kevin sugou uma respiração aguda quando sentiu os braços
fortes ao redor dele. Eram quentes, confortantes, e Kevin tinha aquela
sensação familiar de estar em casa quando estava neles.
Estendeu a mão, segurando o outro homem o mais apertado
que podia, precisando sentir aquele conforto que o impediria de ter esse
ataque de pânico.
— Sinto muito. — Havia um toque de dor na voz de Alistair que
Kevin não entendeu. — Eu não estava lá. Deveria ter estado lá. Sinto
muito.
Kevin pressionou o rosto para o ombro de Alistair.
— Foi apenas um pesadelo, — disse ele. Isso era verdade, não
era?
Alistair se afastou para olhar para ele, e Kevin ficou novamente
chocado ao ver o homem, à maneira como seus olhos brilhavam, como
se Alistair estivesse à beira das lágrimas, embora estivesse sorrindo.
— Não importa. Nada disso importa mais. Você está aqui. Você
está aqui comigo. Isso é tudo que me importa.
Alistair tocou o rosto de Kevin, um toque lento e suave das
mãos cicatrizadas.
Com cicatrizes, como se tivessem conhecido a lambida do fogo.
Kevin tinha que saber. Tinha que saber ao certo o que estava
acontecendo.
— Quem é você?
Alistair continuou a sorrir.
— Eu sou seu companheiro.
Kevin molhou seus lábios.
— Você já disse isso. Quero dizer, quem é você para mim? Por
que você... por que se sente como se estivesse em casa?
Kevin estava ligeiramente envergonhado por fazer uma
pergunta como aquela, quando saiu de sua boca, mas não havia nada
que pudesse fazer sobre isso agora. Queria saber, mesmo se perguntar
uma coisa assim o fizesse parecer estranho.
Não era estranho o suficiente por querer os braços de Alistair.
Ele poderia ficar aqui para sempre, não importava o quanto isso o
envergonhava. Era onde deveria estar.
— Você era meu amante, — disse Alistair, seus olhos se
tornando esperançosos enquanto afagava algumas mechas de cabelo do
rosto de Kevin. — Você me reconhece?
Kevin pensou sobre isso. Não teve que pensar por muito tempo.
— Acho que você parece familiar. Estava te chamando no meu
sonho.
Isso fez Alistair estremecer, embora Kevin não entendesse por
quê. Não era como se tudo o que acontecesse no sonho de Kevin fosse
culpa de Alistair.
Embora Alistair ainda olhasse como se quisesse pedir desculpas
repetidas vezes. Kevin não entendeu nada. Desejava poder entender,
mas também se sentia à vontade sem saber. Tudo parecia horrível
demais para querer os detalhes.
— Vou ficar aqui com você?
Os olhos de Alistair transformaram numa sombra brilhante de
ouro.
— Sim.
Kevin acenou com a cabeça, seu sangue aquecendo, sua
respiração se tornando difícil.
— Você é um shifter, como esses outros caras?
Alistair assentiu.
— Isso e muito mais.
— E eu sou um bruxo?
Alistair grunhiu um pouco com isso, seu sorriso desaparecendo.
— Nunca te chamaria de uma coisa dessas. Você é um feiticeiro.
Meu feiticeiro. Isso é o que você sempre foi, e desta vez, farei tudo em
meu poder para protegê-lo. Se você nunca se lembrar do que tínhamos
antes, não vou me importar, contanto que eu tenha você agora.
Kevin acenou com a cabeça, ainda não totalmente
compreendendo, mas sabia o que aquelas palavras estavam fazendo
com ele. Teve que dar respirações mais profundas, teve que se forçar a
parar de ser tão inquieto porque tudo dentro dele parecia estar gritando
sobre uma coisa.
Kevin queria sexo. Nunca tinha fodido uma pessoa que tinha
acabado de conhecer. Claro, Carl tinha sido o primeiro, e estavam juntos
quase tanto tempo quanto Kevin tinha começado a namorar.
No entanto, estava tendo a impressão de que não era o único a
sentir essas coisas. Kevin quase podia provar a luxúria que rodopiava no
ar, vindo tanto dele como de Alistair. Eles iam acabar fazendo sexo, e
isso estava mais do que bem para Kevin.
— Você vai me beijar?
Alistair colocou a mão atrás do pescoço de Kevin. Ele não
respondeu. Apenas se inclinou para perto, o toque de seus lábios contra
Kevin foi leve, quase fazendo cócegas. O repentino prazer, o calor da
respiração de Alistair, era demais. O beijo foi doce, mas Kevin quase
imediatamente percebeu que precisava de mais, e quando abriu a boca,
Alistair gemeu e empurrou a língua para frente, colocando-a dentro da
boca de Kevin.
Kevin apertou firmemente os ombros de Alistair. Estava tendo
aquela sensação embriagadora novamente, só que desta vez não estava
vindo de uma falta de energia. Desta vez o problema era muita energia.
Kevin tinha muita energia, e isso era bom. Deus, era tão bom sentir isso,
e quando enrolou os braços ao redor dos ombros do homem, foi o
suficiente para fazer Kevin se sentir completo pela primeira vez em sua
vida. Nunca tinha percebido que estava incompleto até agora. Essa era a
coisa estranha sobre tudo o que estava acontecendo agora.
Os lábios de Alistair acariciavam Kevin habilmente, fazendo
Kevin não perceber quando Alistair angulou seu queixo de tal forma que
encorajou Kevin a abrir a boca um pouco mais, para empurrar a língua
contra a de Alistair.
Kevin gemeu quando a mão de Alistair entrou entre suas
pernas, segurando a protuberância firme lá. Seu pênis tinha estado duro
desde antes que Alistair o tivesse beijado.
Alistair puxou a boca para trás, mas sua mão ainda estava se
movendo.
— Vou fazer amor com você.
O coração de Kevin realmente acelerou nisso.
— OK.
Alistair sorriu, com a mão ainda em movimento.
— Você gosta disso?
Kevin acenou com a cabeça, seu rosto quente, seu corpo inteiro
ardendo.
— Uh-huh.
Alistair sorriu.
— Bom. Você já fez isso antes?
Kevin parecia tão jovem?
— Sim.
Alistair franziu o cenho um pouco.
— Isso é ruim?
Alistair sacudiu a cabeça.
— Não. Isso é realmente muito bom, porque nunca fiz isso
antes. Você pode me ajudar nisso.
Kevin imediatamente saiu da neblina cheia de luxúria em que
havia caído.
— De jeito nenhum. Você não é virgem.
Ele era muito bonito para que isso fosse possível.
Alistair piscou muito antes de rir, balançando a cabeça.
— Não, querido. Estou longe de virgem. Deuses, foi isso que
você pensou?
Kevin não achava que um homem tão bonito como Alistair
poderia permanecer virgem por muito tempo. Era provavelmente o tipo
de cara que fazia sexo sempre que queria.
Mas se ele não sabia o que ele estava fazendo com Kevin, mas
ainda era capaz de rir da ideia de que poderia ser virgem, isso poderia
significar apenas uma coisa.
— Você nunca esteve com outro homem antes?
Alistair sacudiu a cabeça.
— Você será meu primeiro.
Kevin gostava disso. Gostava muito mais do que quando ele e
Carl perderam sua virgindade, um para o outro. Bem, Kevin tinha
perdido o seu para Carl. Desde que descobriu que o outro homem o
estava traindo, não havia como saber quantos outros Carl tinha estado
ou se eram realmente os primeiros de cada um.
Kevin gostava de saber que ele iria ser o primeiro de Alistair em
algo, embora também estivesse nervoso.
— Você tem certeza que quer fazer isso então? — Kevin
realmente esperava que ele não mudasse de ideia. — Quero dizer, você
pode se arrepender.
Aqueles olhos dourados escureceram.
— Nunca me arrependeria.
Foi a segurança na voz de Alistair que puxou Kevin de volta, e
então, não se importou com mais nada. Não se importava com as
estranhas circunstâncias que o haviam trazido até aqui, e ele certamente
não se importava com o fato de que estava entre outras pessoas com
dons estranhos, alguns dos quais queriam matá-lo. Só se preocupava em
ser beijado e tocado por Alistair porque era o que era certo.
Kevin soltou um grito quando agarrou a parte de trás da cabeça
de Alistair, seus dedos passando por seus cabelos ruivos e segurando-o
com tanta força que Alistair gemeu do desconforto.
Kevin não o deixou ir. Tinha um estranho medo de que se o
deixasse ir, Alistair desapareceria da existência de Kevin e nunca mais o
veria. Sentiu como se tivesse que fazer qualquer coisa e tudo em seu
poder para impedir que isso acontecesse, como se isso fosse um destino
pior do que a morte.
— Quero você. Por favor, eu... preciso de você.
Kevin não conseguia articular exatamente o que queria e
precisava. Queria que Alistair o tocasse, o fodesse, é claro que fazia, e ia
dizer a Alistair que fizesse todas aquelas coisas, mas havia outra coisa
que queria que o outro homem fizesse, que Kevin não conseguia saber.
— Eu preciso... preciso...
— Shhh.
A voz suave de Alistair, a maneira como tocou docemente os
lábios de Kevin antes de rastejar sobre ele, mostrou como Alistair sabia
o que estava fazendo. A confiança que exalava ao se empurrar entre as
pernas de Kevin era prova suficiente disso.
— Eu sei exatamente o que você precisa, e vou dar a você.
Aquela mão de novo, aquela mão perversa e bela que acariciava
e brincava com o pau de Kevin através de sua calça jeans, fazia seus
dedos curvarem e sua bunda arquear.
— Você promete?
Alistair molhou seus lábios.
— Faço.

Capítulo Quatro

Alistair adorava beijá-lo. Sentiu-se como antes. Ele não era


mais Kinsey, mas como Kevin, sua boca tinha o mesmo gosto como
Alistair se lembrava, e estava com fome de mais. Estava morrendo de
fome por mais do que um gosto.
A mandíbula de Kevin era diferente, mais larga, mas não era um
homem grande. Era um pouco magro, especialmente quando comparado
com Alistair e seus irmãos. Kevin era provavelmente um pouco abaixo
da média de tamanho para homens humanos, e Alistair estava ansioso
para descobrir todas essas pequenas diferenças e para pressionar sua
boca e língua em cada polegada de pele que poderia encontrar.
— Tira as tuas roupas. Depressa, antes que eu as rasgue em
pedaços.
Kevin se moveu rapidamente, como se houvesse insetos em
suas roupas e precisava se livrar delas.
Alistair observou. Observou enquanto o peito de seu
companheiro era revelado. Não seios, apenas um toque de músculo em
seus peitorais. Ele não tinha abdômen como Alistair fazia, mas era claro
que ainda era um homem.
Era um homem bonito. Alistair conseguiu admitir isso. Havia
uma pequena trilha de pelo que levava do umbigo de Kevin até o pelo
pubiano e o pênis duro. Por causa de seu cabelo louro com listras
douradas, este pelo não era demasiado visível até que aninhava em
torno do pau de Kevin, mas ainda estava lá.
Alistair o tocou. Estava fascinado por ele e satisfeito por sentir o
quão agradável se sentia contra seus dedos, bem como a maneira como
Kevin estremeceu quando Alistair acariciou sua mão sobre o estômago
do homem.
— Você gosta quando toco em você?
Kevin assentiu com a cabeça. Suas bochechas eram um tom
brilhante de rosa. As bochechas de Kinsey faziam isso também quando
ela estava em luxúria ou envergonhada com alguma coisa. Kevin era
Kinsey, apenas em outro corpo.
— Você é lindo, — disse Alistair, notando a maneira como os
olhos de Kevin se alargaram brevemente, antes que Alistair se inclinasse
para frente e beijasse seu companheiro. Ele tomou os lábios cor-de-rosa
de Kevin e os beijou, sugou-os, os encorajou a abrir e ficou contente
quando o fez.
Isso era algo que Alistair podia fazer facilmente. Ele podia beijar
e reivindicar seu companheiro desta maneira, mesmo se não tivesse
certeza de como reivindicar um homem.
O desejo de reivindicar soou alto nos ouvidos de Alistair. Kevin
não era o único a experimentá-lo, e cada batida que Alistair sentiu em
seu pau foi o suficiente para causar-lhe alguma dor. Seus testículos
estavam pesados, mas não sabia como reivindicar um homem, e embora
claramente soubesse como beijar um, a frustração causada por sua falta
de conhecimento o fez rosnar um pouco.
Kevin se afastou com um suspiro de fôlego. Ofegou
pesadamente, o peito se expandindo e se contraindo com cada puxada
de ar em seus pulmões.
— Deus, estou superaquecendo.
— Eu sei. — Alistair tocou a cintura de Kevin, saboreando a
sensação da pele antes de apertar sua boca contra a garganta de Kevin.
Estava quente, muito mais quente do que deveria ter sido, e foi glorioso.
— Eu quero te foder, — disse Alistair. — Como faço isso?
Os olhos de Kevin arregalaram, bem antes de aquela cor
vermelha surgir pelo pescoço dele e se acomodar em seu rosto,
iluminando a cor que já estava lá ainda mais.
— Oh, certo, uh... — Kevin parecia pensar sobre isso, como se
ele próprio não soubesse a resposta que estava procurando.
Até que finalmente conseguiu.
— Você vai precisar de lubrificante. Vou precisar ser esticado
um pouco, mas você não precisa se preocupar. Posso fazer essa parte.
Alistair não entendeu.
— Por que me preocuparia com isso?
Mais uma vez, aquela cor nas bochechas de Kevin se
aprofundou.
— Eu só não quero que você tenha que se preocupar em fazer
muito trabalho.
Alistair sorriu para seu amante.
— Você teme que se eu tiver que brincar com sua bunda, vou
perder o interesse?
Alistair empurrou Kevin de costas, sentando-se sobre ele,
inclinando-se sobre e dominando-o.
Alistair sentiu aumentar os batimentos cardíacos de Kevin, a
maneira como acelerou quando se inclinou sobre ele.
— Talvez um pouco, — ele finalmente admitiu depois de engolir
duro.
Alistair beijou seu companheiro docemente na boca, apenas um
breve sabor daqueles lábios que não conseguia obter o suficiente antes
de puxar para trás.
— Você nunca precisa temer isso. Eu te amo, não importa em
que corpo esteja.
Os olhos de Kevin arregalaram.
— Você me ama?
Alistair riu. Decidiu não responder, no entanto, só porque queria
dar algo ao seu companheiro para pensar antes de Alistair fazer amor
com ele.
— Tenho algo que podemos usar. Fique aí e fique nu. Entendeu?
Kevin assentiu com a cabeça, os olhos ainda largos e a boca
aberta ligeiramente do comentário de amor.
Era verdade, então por que não diria uma coisa dessas?
Alistair não tinha sido casto nesses últimos cem anos. Durante o
primeiro século ou dois depois que sua companheira morreu, tinha sido
um desastre, todos haviam sido destruídos por suas perdas, mas Alistair
e seus irmãos tinham sobrevivido, avançando para uma extensão em
que eles foram capazes de sair para o mundo em busca de amantes
temporários para satisfazer-se sempre que o desejo surgia.
E era por isso que Alistair tinha lubrificante em seu quarto.
Sempre que não o usava para as noites solitárias que ainda tinha, era
útil para as mulheres que trazia para casa.
Agora iria usá-lo em seu companheiro. Quando Alistair pegou a
garrafa do guarda-roupa, pareceu-lhe grosseiro usar uma garrafa que
usara com outras mulheres que não amara. Ele teria que sair e comprar
outra garrafa, uma garrafa nova, quando terminasse de reivindicar o seu
companheiro.
Não podia esperar para começar.
Alistair tirou a roupa, jogando a jaqueta de couro no chão e
desfazendo a calça. Mesmo que não tivesse certeza de como fazer amor
com um homem, estava certo de que poderia fazê-lo e torná-lo
agradável para seu companheiro. As mulheres gostavam de sexo anal o
tempo todo, e uma ou duas vezes ele fazia essas coisas com as amantes
que trouxera para casa com ele.
Não devia ser muito diferente. Elas tinham se divertido, então
ele poderia fazer Kevin se divertir também.
Certo. Isso seria como estar com uma mulher. A única diferença
era que Kevin era um homem.
Alistair riu quando colocou os joelhos na cama.
— A última vez que eu estive tão nervoso durante o sexo foi a
primeira vez que você e eu estivemos juntos.
Kevin inclinou a cabeça para o lado.
— Primeira vez?
— Em sua outra vida, quando você era minha esposa.
Kevin recuou um pouco.
Alistair riu.
— Vou explicar depois.
— O-ok.
Alistair pegou seu companheiro pelas coxas, levantando-as para
que o traseiro de Kevin estivesse sentado no colo de Alistair.
— Você confia em mim?
Kevin engoliu em seco.
— Sim.
— Bom.
Isso era tão bom, e isso fez com que Alistair ficasse feliz por
ouvir uma coisa dessas, que seu companheiro confiava nele.
Alistair abriu a garrafa, espremendo um pouco do lubrificante
claro em sua palma.
— Prometo, nunca, nunca, trair essa confiança.
— Ok.
Kevin estava nervoso. Alistair podia ouvi-lo na voz do homem.
Não culpava seu companheiro, mas desejava que o homem confiasse
nele um pouco mais, que relaxasse um pouco.
Talvez Alistair tivesse dito demais, mas esperava que seu
companheiro ouvisse suas palavras e imediatamente soubesse a verdade
quando lhe fosse apresentada.
Isso era ótimo. Alistair diria a seu companheiro a verdade a
tempo. Por enquanto, era o suficiente que ele estivesse aqui. Era um
milagre que Alistair não tinha a intenção de desperdiçar.
Alistair primeiro deixou as pontas dos dedos girarem ao redor
do ânus de Kevin, sentindo o homem tenso e tremendo. Ele era sensível.
Kinsey sempre fora sensível ao toque de Alistair, e parecia que era outra
coisa que a seguira nessa reencarnação.
— Você me diz quando for demais. — Alistair empurrou a ponta
de um dedo para dentro. — Prometo que vamos levá-lo tão devagar
como precisar.
Kevin sorriu para ele, exibindo dentes perfeitamente retos e
brancos.
— Dou conta disso.
— Você está certo disso? — Alistair pegou um dos pulsos de
Kevin, trazendo-o para baixo e forçando o homem a tocar seu pênis,
para que seus dedos sentissem a circunferência do que logo estaria
dentro dele.
Os olhos de Kevin arregalaram.
— O que…? Como diabos não notei isso antes?
Alistair o soltou, satisfeito com a reação.
— Eu lembro que seus olhos estavam no meu rosto.
— Você é enorme.
— Sou, e isso vai lhe dar grande prazer. — Alistair ronronou as
palavras, mas depois mordiscou um suave gemido quando seu amante,
seu companheiro, acariciou suavemente seu pênis.
Deuses, o toque dos dedos de seu companheiro em seu membro
ingurgitado era quase demais. Cada batida suave fazia o pau de Alistair
pulsar, e aquela dor de precisar estar dentro de seu amante, estava
chegando a ser demais, quase demais para lidar.
Ele cuidaria disso. Alistair era um guerreiro, um Cavaleiro para
os Deuses. Podia fazer isso pelo seu companheiro.
Empurrou seu dedo num toque mais profundo, sentindo o ânus
do homem apertar firmemente ao redor dele. Alistair foi rapidamente
capaz de entrar no ritmo das coisas, ler a linguagem corporal de seu
companheiro e responder de todas as maneiras que tinha certeza que
seu companheiro iria gostar. Observou o rosto de Kevin e a forma como
ele ofegava quando Alistair enganchou seus dedos, pressionando-os
mais fundo e encontrando a próstata de seu companheiro.
Kevin abriu a boca em um longo suspiro, arqueando os quadris
para frente, ofegante para respirar enquanto se abaixava para acariciar
seu pênis.
Alistair perguntou-se como seria o ter em sua boca. Nunca tinha
pensado tal coisa antes, nunca foi curioso sobre isso, mas agora não
podia esperar para experimentá-lo.
Depois. Depois ele reivindicar seu companheiro, e só então.
Agora, estava desesperado para seguir em frente.
— Você está apertado em torno de meus dedos. — Alistair
gemeu. — Quão apertado você ficará quando eu estiver dentro de você?
Kevin sorriu pra ele.
— Acho que você ficará satisfeito com isso.
Alistair mordeu um gemido. Esse olhar em seus olhos, aqueles
maravilhosos lindos e incompatíveis olhos.
— Você me deixa louco.
Kevin gemeu suavemente quando Alistair encontrou e provocou
sua próstata novamente.
— Acabamos de nos conhecer.
— Nós nos conhecemos há muito tempo.
Kevin não questionou. Isso podia ter sido por causa do prazer
que ainda estava experimentando, mas Alistair esperava que fosse
porque alguma parte de Kevin reconhecia isso como a verdade.
Sua pele estava quente, e a sensação do seu ânus apertando
firmemente ao redor dos dedos de Alistair fez o sangue de Alistair cantar
em seu corpo. O doce calor de seu companheiro e a forma como Kevin
apertou seus olhos fechados quando ofegou e gemeu para respirar, era
demais para suportar.
— Desculpe. Não posso esperar mais.
Alistair puxou os dedos do ânus de Kevin. Ele rapidamente
acariciou um pouco do lubrificante sobre seu pênis pesado,
estremecendo quando o prazer desse toque o trouxe cada vez mais
perto do orgasmo, mas então estava pressionando a cabeça de seu pênis
inchado contra o ânus de Kevin e empurrando para dentro.
A pressão estava lá, a resistência natural, mas por alguns
segundos, Alistair temia que não tivesse feito o suficiente para dar ao
seu companheiro o que ele precisava, para aceitar o pênis de Alistair em
seu corpo.
Kevin fechou os olhos com força, apertando os dentes, mas não
pediu que Alistair desacelerasse ou parasse, então Alistair não o fez.
Alistair soltou um suspiro de alívio quando o corpo de Kevin se
soltou repentinamente para acomodá-lo, e Alistair, quase sem aviso,
pulou através do anel de músculos.
Ele suspirou. Seu corpo inteiro coçava e tremia, ansioso para se
mover, desesperado para empurrar dentro duro e acabar com isso, foder
e reivindicar.
Não, isso era diferente do que estava acostumado, e Alistair se
lembrou, precisamente a tempo, de que precisava aguardar um
momento antes que seu companheiro estivesse perfeitamente pronto,
antes que seu corpo pudesse aceitar a intrusão dentro dele.
O corpo de Kevin parecia derreter um pouco. O homem menor
se remexia, os quadris bombeando, o corpo se contorcendo.
— Merda... eu não posso... agora, por favor. Não posso esperar
mais.
— Não vou fazer você esperar mais. — Alistair apertou suas
mãos para baixo em cada lado da cabeça de Kevin quando e começou a
bombear seus quadris para frente e para trás. O movimento foi duro e
áspero desde o início. Alistair queria que isso fosse lento e constante.
Tinha sonhado com isso por séculos, a fantasiado ter seu companheiro
de volta e fazendo amor lento.
Não era assim que isso ia acontecer, e Alistair só podia esperar
que Kevin o perdoasse por ser tão rápido e áspero.
Embora ele não parecesse ter qualquer queixas.
Kevin jogou a cabeça para trás, seu braço subindo por cima de
seus olhos enquanto lamentava em ruídos quebrados de prazer, o pênis
do homem balançava para cima e para baixo em seu estômago
achatado.
Alistair não parou. Não podia. Bombeou seus quadris duro e
rápido até que ouviu um som áspero batendo no ar e percebeu que era o
som de seus quadris batendo duro contra a bunda de Kevin enquanto o
fodia.
— Oh Deus, continue... continue fazendo isso, — implorou
Kevin. — Bem desse jeito. Sim.
— O que você quiser, — disse Alistair, inclinando os quadris
para frente com mais força, segurando seu pau no lugar quando estava
todo dentro de modo que seu companheiro poderia sentir a cabeça do
pau de Alistair batendo contra sua próstata.
Tinha o efeito desejado que Alistair estava procurando enquanto
seu companheiro gemia e se debatia debaixo dele. Alistair pressionou a
mão no peito de Kevin, mantendo-o imóvel, sentindo o pesado
batimento cardíaco contra sua palma.
— Você vai saltar para fora de sua pele se continuar fazendo
isso.
Kevin não respondeu. Ele cerrou os olhos e gemeu novamente,
jogando a cabeça para trás quando sua boca se abriu com um suspiro
pesado.
Sua garganta exposta era demais para Alistair resistir quando se
inclinou para baixo e apertou sua língua ao longo da carne. Assim como
sentiu com a palma da mão no peito de Kevin, Alistair sentiu o forte
batimento cardíaco de Kevin contra sua língua.
Ele saboreava quente e doce. Era o mesmo que quando Alistair
o lambeu lá embaixo no porão. Ele estava tão curioso lá embaixo, e
agora que estava lambendo-o novamente, lambendo e chupando essa
pele lisa, o gosto não tinha mudado.
Alistair temia que tivesse esquecido o gosto. Quase o tinha
feito, mas agora, agora, iria se certificar de que nunca esqueceria o
gosto, que nunca perderia a sensação daquela doçura em sua língua.
Kevin abriu os olhos, ainda ofegante enquanto olhava para o
rosto de Alistair.
— M-me toque, por favor, me toque.
Alistair parou de lamber e acenou com a cabeça. Pegou o pau
de Kevin na mão, segurando-o como se fosse a coisa mais natural do
mundo para tocar o pau de outro homem. Era natural. Parecia certo.
Enquanto Alistair empurrava e fodia dentro de seu amante,
levou-lhe alguns golpes antes que fosse capaz de entrar no ritmo
adequado que estava procurando. Deixou sua mão deslizar para cima e
para baixo pelo comprimento do pênis de Kevin, bombeando o pau do
homem no mesmo ritmo de seus impulsos.
Isso era algo que era capaz de fazer. Não era como se Alistair
nunca tivesse tido um pau na mão antes, mas a diferença era que
sempre fora o seu.
Kevin não parecia se importar quando gemeu e bombeou seus
quadris mais fortes contra a mão de Alistair, empurrando sua bunda
para baixo sobre o pênis de Alistair enquanto empurrava seu pau na mão
de Alistair.
O cheiro almíscar era pesado no ar e intoxicante. O leão dentro
de Alistair rugiu com os sons molhados, os ruídos que seu companheiro
fazia enquanto saltava no pênis de Alistair, e a maneira como sua cama
chiava enquanto fodia duro e pesado sobre ele.
A intensidade do prazer era demais. Isso acumulou dentro dele,
e não havia para onde ir, mas Alistair se inclinou sobre seu companheiro.
Pegou Kevin pelos pulsos e puxou-os sobre a cabeça, segurando-os no
lugar enquanto Alistair gemia e apertava os lábios contra Kevin.
Kevin ofegava, sua boca se abria um pouco, mas Alistair não
empurrou sua língua para dentro. Queria continuar saboreando aqueles
lábios. Queria memorizá-los e nunca esquecer como se sentiam. Eram
um pouco mais ásperos do que se lembrava, mas isso fazia parte da
emoção de beijar seu companheiro agora. Alistair iria aprender tantas
coisas novas sobre ele.
Kevin gemeu contra os lábios de Alistair. Lutou e se contorceu
sob o peso do corpo de Alistair, e Alistair sentiu o pau duro de Kevin
preso entre suas barrigas, bem antes que Kevin gozasse com um grito
alto contra a boca de Alistair.
A onda de calor contra a barriga de Alistair fez o desespero e a
intensidade do prazer aumentarem. Alistair não podia segurar mais o
prazer, que estado aumentado dentro dele, fazendo seus testículos
apertarem e cada músculo em seu corpo apertar com prazer.
Alistair gozou com um duro gemido, derramando seu sêmen
quente dentro de seu companheiro. O sêmen lubrificou ainda mais seu
companheiro, fazendo com que deslizasse para frente e para trás mais
fácil e muito mais escorregadio, e Alistair fodeu duro e rápido, com força
suficiente que ouviu o tapa áspero de sua pélvis contra a bunda de
Kevin, até que não restava mais nada para Alistair dar.
Ele desabou em cima de seu companheiro com um suspiro
pesado, o peito levantando enquanto liberava os pulsos de Kevin,
segurando o homem pequeno, tocando-o, precisando dele.
Alistair poderia ter chorado.
— Eu senti tanto sua falta.
Kevin colocou as mãos nos ombros de Alistair e disse a última
coisa no mundo que Alistair esperava.
— Estou bem aqui.

Capítulo Cinco

Kevin não conseguia entender por que estava tão cansado


ultimamente. Algo tinha que estar errado com ele, certo? Não era normal
que as pessoas dormissem tanto tempo quando não havia uma lesão na
cabeça.
O que tornou ainda mais estranho porque o fato de que ele
estava ciente de que estava sonhando tudo significava que não poderia
haver nenhuma lesão na cabeça.
Ele esperava.
Tudo que sabia era que tinha tido o melhor sexo de sua vida
com alguém que acabara de conhecer, alguém que o chamava de
companheiro e esposa, alegava ter sentido falta dele, e queria protegê-
lo, e nada disso incomodava Kevin. Era estranho, mas estava bem com
isso.
Exceto quando Kevin sonhou com o fogo novamente. Era um
maldito pesadelo de que não podia escapar. As chamas lamberam-no,
fizeram-no estremecer e se afastar, mas estavam por toda parte, e os
gritos estavam empurrando contra o ponto de ruptura de Kevin.
Ele estava na mesma sala em que estivera durante seu último
sonho, só que desta vez não era só ele que estava em chamas. Viu dois
homens ao seu redor, mas eram principalmente mulheres e crianças.
Eles eram os que queimavam, e Kevin não podia olhar para eles. Ele não
podia suportar, não conseguia olhar para os rostos das pessoas que
gritavam por suas vidas, que gritavam porque estavam nas chamas e os
machucava.
Kevin não estava em dor. Mas os gritos o faziam tremer.
Pressionou as mãos em seus olhos até que isso machucou antes de
cobrir suas orelhas. Nada abafava os ruídos, e o desejo de olhar era
muito grande.
Assim ele fez.
Olhou para a pessoa que mais chamou sua atenção, a que
tremeu enquanto ela gritava, seu vestido em estilo medieval, em
chamas agora, mas ela gritava palavras através de seus choros e
lágrimas. Palavras que Kevin não entendia, não verbalmente, de
qualquer forma, mas entendia o que estava fazendo, mesmo que as
palavras soassem estranhas aos seus ouvidos.
Ela estava chamando por sua alma, a alma de seu bebê, e as
almas de seus amigos e seus bebês para ficarem. Ela implorou para que
não saíssem, mas para procurar humanos para renascerem, para que
pudessem encontrar seus companheiros novamente.
Quando o cabelo da mulher queimou, Kevin se viu se
acalmando. Não tinha certeza do que era, não no início, mas mesmo que
alguns segundos atrás não conseguia olhar para ela, agora Kevin não
podia se forçar a se afastar mesmo que quisesse.
Seus olhos eram iguais aos dele. Não tinha notado
primeiramente por causa da fumaça no ar e suas lágrimas, enquanto ela
estava no chão de pedra. Ela estava de costas, encarando de volta para
Kevin enquanto falava. Os homens na sala ainda tentavam bater contra
as portas trancadas e janelas, mesmo enquanto queimavam, mas a
exaustão e a dor os fizeram cair inconsciente enquanto as tapeçarias e
móveis queimavam ao redor deles. Uma mulher havia parado de gritar a
muito tempo, seu corpo carbonizado.
E ainda assim, Kevin não podia desviar o olhar dessa mulher.
Seus olhos eram iguais aos dele. Seus cabelos, quando estavam em
chamas, eram iguais. Ela poderia ter sido sua irmã, sua gêmea.
Com uma súbita clareza, sabia que era mais profundo do que
isso. Olhá-la era como olhar para um espelho, olhando para sua própria
alma enquanto olhava para aqueles olhos.
Ela era ele. O que ele costumava ser. Ela era uma feiticeira,
como Alistair alegou que Kevin era, e estava usando todo o poder em
seu corpo para voltar, para voltar para seu companheiro, uma vez que
não podia apagar o fogo.
Kevin não podia respirar de repente enquanto a observava. Ele
se lembrou agora. Sentiu a dor e a força de vontade necessária para
continuar com o feitiço. Ele, de volta quando era ela, era suposto ser um
feiticeiro dos Deuses. Eles eram como bruxas, mas o que seria conhecido
hoje como uma bruxa branca. Ela não tinha nenhum dom ou poder que
pudesse ferir ou machucar qualquer coisa, isso era por que o fogo estava
além dela, mas podia fazer isso.
Se ao menos pudesse dizer as palavras a tempo de desmaiar. A
garganta de Kevin queimou. Ele a sentiu, vacilando enquanto tossia para
respirar, concentrando-se quando ela concentrou todo seu poder no
feitiço e nada em sua cura ou controle de sua dor.
Kevin queria ajudá-la, mas não sabia o que fazer.
A mulher queimando no chão piscou para ele e sorriu.
— Funcionou.
Kevin ofegou, aspirando uma respiração profunda enquanto se
afastava da mulher, para sentar em uma sala que estava livre de fumaça
e fogo.
O coração de Kevin bombeou pesadamente contra seu peito, e
jurou que estava batendo em seus ouvidos, também.
Sentou-se lá ofegante, deixando seu cérebro absorver o fato de
que ele não estava em chamas, não havia fogo em volta dele, e a
queimadura que pensou que tinha sentido em sua garganta tinha ido
embora. Não havia nada, apenas o ar limpo no quarto. Estava sozinho, e
estava vivo.
Kevin estava sob os grossos lençóis azuis na enorme cama. Era
mais do que espaço suficiente para duas pessoas. Talvez até para cinco
pessoas, mas tão confortável como estava, não queria estar lá.
Kevin empurrou-se para a borda, seu corpo tremendo quando
deixou seus pés deslizarem para fora da cama e sentar-se no chão.
Ele suspirou. Era isso que precisava para se concentrar. Agora
podia respirar, concentrar-se no que vira.
A cabeça de Kevin latejava. Ele se inclinou, descansando a
cabeça em suas mãos enquanto lutava para não vomitar.
Santo Deus. Kevin queria dizer que tudo isso era um sonho ruim
agora que estava acordado, mas não podia. Não podia fazê-lo porque
não importava o quão duro tentasse, não era um sonho ruim e não podia
enganar-se em pensar que era.
Aqueles tinham sido memórias. De uma vida passada?
Kevin afastou as mãos de seu cabelo antes que pudesse se
tornar careca. Seus dedos tremiam. Mal podia mantê-los firmes.
Tinha sido morto antes. Alguém o havia matado, e aquele feitiço
que tinha lançado...
Claramente, ele o lançara para voltar em outra vida, para
encontrar Alistair para que pudessem estar juntos novamente, e isso
funcionou.
Mais ou menos.
Ele era um homem agora. Não deveria ser uma mulher?
Kevin se sentia bem como um homem. Sentia-se bem em seu
corpo, e sempre pensara em si mesmo como um homem, e ainda assim
tinha lembranças claras de si mesmo como uma mulher agora. Era tão
estranho, mas sabia que era verdade, tanto quanto sabia que havia um
coração batendo dentro dele.
Alistair, oh Deus, Alistair.
Não era só ele que ele se lembrava, mas era Alistair, seu
companheiro, seu leão e seu cavaleiro. Seu marido. Kevin estava
chorando por ele quando ele e os outros perceberam que estavam
trancados no salão principal do castelo onde moravam.
Alistair e o resto dos cavaleiros tinham sido chamados,
enganados. Alguém os havia traído. Um dos guardas, e Alistair achou
que havia uma aldeia sendo saqueada por bruxas.
Ele e os outros tinham partido, e Kevin, juntamente com todos
os seus amigos, alguns dos quais mal conseguia se lembrar, tinham sido
levados para o grande salão.
Eles não tinham suspeitado de nada até que as portas se
fecharam e ninguém podia sair. As janelas haviam sido rapidamente
barradas também, e ninguém tinha sido capaz de abri-las. Os guardas
que tinham sido leais tinham sido mortos, ele podia se lembrar disso.
Kevin tinha usado seu poder, tinha chamado por Alistair
imediatamente para voltar para casa, dizendo-lhe que algo estava
errado. Kevin podia fazer isso. Podia se lembrar daquele poder agora, o
poder de chamar seu companheiro sempre que havia perigo e saber que
Alistair viria para ele.
Quando as portas se abriram novamente, Kevin respirou um
suspiro de alívio, até que os guardas jogaram algumas garrafas de álcool
flamejante dentro.
Um castelo de pedra não deveria ter sido suficiente para
queimar, mesmo com todos os móveis e tapeçarias, mas fora o álcool
que selara seus destinos.
Os homens correram para as portas, mas não chegaram a
tempo antes de serem fechadas e trancadas mais uma vez. Todos
gritaram, e Kevin chamou Alistair novamente, entrando em pânico desta
vez porque seu vestido estava em chamas.
Em menos de um minuto, Kevin percebera que Alistair não
chegaria a tempo, e ele começara outro feitiço. Não os salvaria de uma
morte brutal, mas permitiria que eles voltassem.
Kevin respirou profundo. Dentro e fora, novamente e
novamente, tentando acalmar o aperto em seu peito.
Quantos anos atrás tinha sido isso? Claramente algumas
centenas se as roupas e as espadas e o castelo fossem qualquer coisa
perto, mas não, Alistair era velho. Milhares de anos. Kevin se lembrou
disso. Eles tinham falado sobre a idade de Alistair. Era suposto Kevin
tornar-se imortal como Alistair por causa do acasalamento, mas ele tinha
sido assassinado.
Isso poderia ter sido há mil anos ou mais. As coisas ainda
estavam tão confusas.
Mas ele estava vivo. Não era uma mulher agora, o que Kevin
estava meio agradecido, porque realmente gostava de ser um homem,
muito obrigado, mas isso não mudava o fato de que tinha sido
brutalmente assassinado, queimado até a morte por alguém que ele e o
resto de seus amigos tinham confiado.
E agora estava de volta, e Alistair sabia que era ele, que Kevin
era seu companheiro voltando para ele antes que Kevin soubesse.
— Eu senti tanto sua falta.
O coração de Kevin sacudiu. Alistair estava sozinho. Kevin o
deixara em paz. Ele não tinha a intenção, mas isso era o que tinha
acontecido. Ele deixara seu companheiro sozinho, incapaz de dizer a ele
o que planejara fazer. O feitiço funcionou para todos os outros? E seus
bebês? Não era de admirar que os homens por aqui quisessem matar
Kevin tanto se eles pensavam que ele era um bruxo. Eles pensaram que
ele era uma das criaturas que haviam matado suas companheiras e
filhos.
As bruxas tinham feito isso. Kevin não tinha certeza de como
sabia disso, mas sabia. Talvez fosse algum tipo de memória, mas tinha
certeza disso.
Todo o preto no salão não tinha sido apenas fumaça. Figuras
escuras e esqueléticas apareciam e desapareciam, chamando feitiços
que fizeram o fogo piorar, mais quente, mais brilhante.
Kevin não conseguia respirar. De repente, sentiu como se
estivesse de volta àquela sala ardente, queimando até a morte,
escutando enquanto sua amiga queimava e morria, e ele não conseguia
lidar com isso.
— Alistair? — Ele queria Alistair de volta aqui. Parecia mais
importante do que nunca que Kevin tivesse seu companheiro de volta
agora. Precisava dele.
Mas Kevin não tinha ideia de onde ele estava ou para onde
Alistair tinha ido. Kevin colocou as mãos sobre os olhos. Pensou em
Alistair de novo, pensando no calor de seus lábios e no toque de suas
mãos marcadas. Gritou por ele, implorou a Alistair para ouvi-lo e vir até
ele, exatamente como havia feito naquela outra vida quando implorou a
Alistair para vir salvá-lo e aos outros antes que morressem.
Desta vez, Alistair não estava muito longe, e Kevin sentiu o
bater pesado dos passos de Alistair em toda a casa antes que eles
ficassem cada vez mais altos, bem antes da porta do quarto em que
Kevin estava abrir.
Alistair estava lá, seu cabelo comprido solto ao redor dele, seu
olhar procurando, como se também esperasse ver algum tipo de
pesadelo.
Kevin gemeu quando viu o homem, e empurrou-se para ficar de
pé, tropeçando nu para o outro homem antes de Alistair ir para frente,
pegando Kevin em seus braços antes que pudesse cair.
Ele caiu de qualquer maneira. Ambos fizeram, de joelhos,
enquanto Kevin segurava firmemente o outro homem e fazia tudo ao seu
alcance para nunca deixá-lo ir.
— Eu sinto Muito! Sinto Muito!
— O que aconteceu? Você está a salvo? Havia alguém aqui?
Kevin balançou a cabeça.
— Eu esqueci de você. Sinto muito!
Poderia ter chorado. Quase fez. Kevin não estava fazendo um
trabalho tão grande de manter suas emoções sobcontrole, como devia,
mas precisava disso. Kevin precisava segurar e tocar seu companheiro.
Agora que percebeu que tinha feito isso antes, percebeu que era algo
que estava sentindo falta toda a sua vida, Kevin sentiu a dor da perda.
Mesmo que tivesse passado toda a vida sem saber que Alistair
existia, não podia deixar de lamentar o que haviam perdido agora.
Kevin apertou Alistair com força, como se ele fosse o que tinha
passado centenas, talvez até milhares de anos sem seu companheiro.
Kevin sentiu aquela dor, sentiu a agonia que Alistair passara agora que
quase podia se lembrar de tudo.
Tanto tempo roubado deles.
Alistair estava tenso. Kevin podia sentir isso no corpo do outro
homem. Estava tão tenso que parecia que iria quebrar se Kevin o
segurasse mais forte.
Não parou de fazer exatamente isso. Não conseguia se conter.
Precisava disso. Precisava segurar seu companheiro porque tinha
passado centenas de anos ou mais desde que tinha feito isso, e agora
Kevin precisava recuperar o tempo perdido.
Pensou que Alistair iria se afastar dele até que sentiu aqueles
braços fortes envolverem mais apertados em torno dele, segurando com
uma força tal que Kevin não podia respirar por alguns segundos.
— Sabia que era você, — Alistair sufocou. — Eu sabia. Sabia
quando olhei em seus olhos. Sabia quando saboreei você.
Kevin lembrou-se da lambida que sentira contra sua garganta, e
como, na ocasião, pensou que tinha sido uma coisa estranha para o
outro homem fazer.
Agora estava feliz por isso.
— A-Alistair. Não consigo respirar.
— Eu não me importo!
Bem, talvez Kevin pudesse respirar um pouquinho. Ele poderia
lidar com ser espremido um pouco mais.
Agora que Kevin conseguiu se concentrar um pouco mais,
percebeu que não era ele quem tremia. Era Alistair. Seu grande corpo
tremia enquanto segurava firmemente Kevin, como se estivesse
apavorado que Kevin desaparecesse se afrouxasse seu aperto.
Kevin estava com medo de que isso acontecesse também. Isso
era tudo muito surreal, e agora que estava aqui, que estava nos braços
de Alistair, Kevin tinha o mesmo medo, que tudo isso desaparecesse se
fechasse os olhos por muito tempo.
— Desculpe por ter ido embora por tanto tempo, — disse Kevin,
ainda lutando para conseguir ar suficiente para cada palavra que falava,
mas tinha que tirar isso. — Eu não quis fazer você esperar.
Alistair sacudiu a cabeça.
— Você não tem que se sentir culpado por nada. Nada disto é
culpa sua. Isso não está nem perto de ser sua culpa. Sinto muito por não
estar lá. Deveria ter estado lá. Você não tem ideia do quanto isso me
assombrou, quanto pensei sobre você, senti sua falta. Você era meu
mundo, e falhei com você.
Kevin balançou a cabeça.
— Não é sua culpa.
— Foi, — Alistair disse, sua voz quebrando. — É culpa minha,
porque não estava lá. Tentei te pegar. Corri para o castelo quando voltei.
Não parei. Queria te pegar. Juro pelos deuses que tentei, mas o telhado
caiu em vários lugares. Não conseguia passar. Tentei abrir caminho.
Kevin pensou nas cicatrizes nos dedos de Alistair. Cicatrizes de
queimadura.
— Foi assim que você obteve as cicatrizes em suas mãos?
Alistair estremeceu.
— Juro que teria entrado lá. Teria cavado até que minhas mãos
queimassem. Os outros tentaram me arrastar para fora. Eles tentaram
entrar, também, mas...
Alistair não conseguiu terminar. Não precisava. Kevin já sabia o
que ia dizer.
— Eles já sabiam que tinham morrido. Se o lugar estava
arruinado, não haveria ninguém para salvar.
Um ruído estrangulado deixou a garganta de Alistair, e se
encolheu.
— Ainda penso sobre isso, sobre se poderia ter entrado, ter
corrido para casa mais rápido.
Kevin não conseguia se lembrar de todos os detalhes ainda,
mas sabia que se houvesse alguma chance de resgate, Alistair e os
outros estariam lá.
— Estou feliz que eles pararam você. As chamas eram intensas.
Lembro delas. Você não teria conseguido entrar sem se matar. Suas
mãos são prova disso.
— Eu deveria ter tentado...
— Não, não pense assim. Você fez tudo o que podia, e sou
grato. Estou aqui agora. Estou com você. — Kevin riu um pouco, um
som sufocado desde que ainda não sabia como se sentia sobre tudo isso.
— Estou com você, e isso é tudo que importa. Eu não me importo com
mais nada. Estou de volta, e você está aqui.
Ele disse isso uma e outra vez até que quase não fazia sentido.
Tudo o que Kevin sabia era que estava com o homem que amava e
estava feliz com isso, feliz por sentir a maneira como Alistair passava a
mão pelo cabelo de Kevin.
— Você se lembra de tudo?
Kevin pensou sobre o que ele lembrava, mas também sobre as
lacunas gigantes em sua memória que também não podia explicar.
— Não, mas acho que me lembro o suficiente. Não me lembro
quando nos conhecemos, mas lembro que estávamos casados. Lembro
que te amo. Lembro-me do fogo.
Kevin estremeceu.
Alistair o balançou em seus braços.
— Juro que vou te proteger dessa vez. Não vou deixar que nada
aconteça com você.
— Você não se importa se eu sou um homem agora? — Kevin
precisava saber isso. Provavelmente devia ter sido óbvio, considerando a
forma como Alistair estava se prendendo a ele agora, mas tinha que ter
certeza. — Não acho que posso deixar crescer o meu cabelo longo como
o seu ou começar a usar vestidos.
Alistair riu.
— Estava dentro de você ontem à noite. Não tem nada a temer.
Adoraria você, não importando como se parecesse.
Kevin suspirou e enviou um agradecimento silencioso ao homem
lá em cima. Ele amava Alistair, mas não tinha certeza de que estaria
disposto a colocar saltos e delineador para ele.
Bem, conhecia alguns caras que gostavam de delineador, mas
Kevin não gostava disso.
— De verdade, Alistair. Preciso ser capaz de respirar.
Alistair riu, afastando-se dele, finalmente dando aos pulmões de
Kevin a chance de respirar.
Kevin sorriu para o outro homem, satisfeito quando ele não
desapareceu porque ainda tinha um medo estranho que isso aconteceria.
— Isso realmente está acontecendo? Não estou alucinando?
Alistair riu, seus olhos dançando.
— Estou mais preocupado se não sou o único sonhando. Falei
com meus irmãos antes de me chamar. Eles confirmaram que eu não
estava sonhando ontem à noite ou quando acordei esta manhã e vi você
lá.
— É manhã?
Havia luz vindo através da janela, mas quando Kevin tinha
desmaiado a primeira vez depois de acender-se no fogo, tinha estado
claro, então, também. Isso significava que fazia quase vinte e quatro
horas desde que ele fora sequestrado.
— Eu estava fazendo o café da manhã — disse Alistair. —
Provavelmente está queimado agora.
— Desculpe, — Kevin disse, sentindo-se mal que Alistair tinha
vindo por nada.
Alistair riu dele.
— Pare de pedir desculpas! Estou na lua que você está de volta
comigo. Eu não poderia me importar menos com os ovos mexidos.
O estômago de Kevin parecia preocupado porque escolheu
aquele momento exato para começar a roncar.
Alistair deu um risinho de novo, depois o beijou.
— Quero te alimentar. Você está com fome. Vou buscar suas
roupas, e podemos descer.
Kevin olhou em volta.
— Onde estão minhas roupas?
Elas não estavam no chão ou dobradas em uma cadeira em
algum lugar.
— Eu as mandei para a lavagem. Se não estiverem terminadas,
então posso te dar um manto. Quero que volte a ver meus irmãos.
Um toque de medo acendeu no peito de Kevin.
— Eles não vão, uh...
— Não. — Os olhos de Alistair escureceram. — Eu falei com eles
bastante severamente sobre isso. Yuki ainda não acredita muito, mas
deixei claro que você é meu. Você pode não ser Kinsey, mas você ainda
é meu.
Kevin conseguiu respirar quando ouviu isso. Capaz de relaxar e
confiar em seu companheiro.
— Tudo bem.
— Você confia em mim?
Ele não precisava pensar em sua resposta.
— Eu confio em você.

Capítulo Seis

Keaton abriu os olhos naquela manhã com a sensação de... algo


estar errado.
Não conseguia saber exatamente, mas sentia algo no ar que
não estava certo. Algo que não deveria ser estar.
Levantou-se da cama, tão sozinho quanto sempre estivera, e
observou o espaço ao seu redor. Nada estava errado. Não sentiu outra
presença além do Sombra, que dormia profundamente em sua cesta.
Keaton pôs os pés no chão e levantou-se. Algo ainda não estava
certo. Não havia ninguém em sua casa. Estava certo disso. Não
conseguia sentir outra presença, e mesmo se alguém conseguisse passar
por ele, os sentidos de Sombra haviam se mostrado mais exigentes do
que os de Keaton às vezes. Ela saberia se alguém tivesse vindo para
atacá-lo.
E, no entanto, havia algo no ar.
Uma mão invisível o socou no estômago. Keaton agarrou seu
estômago, seus joelhos curvaram quando ele caiu no chão.
As orelhas de Sombra levantaram. Ela pulou para fora da cesta
e correu para ele, seu nariz cheirando em seu rosto quando Keaton
prendeu a respiração.
Ele afastou-a. Não conseguia respirar, e estava piorando.
Keaton sabia o que era isso, e quase não podia acreditar.
Ela estava de volta. Ele a tinha matado há tanto tempo, mas
estava de volta.
Como?
Keaton não teve que pensar muito antes de ter a resposta.
Aquela maldita feiticeira. Ele deveria ter sabido que ela iria encontrar
uma maneira de voltar. Claro que faria. Seus dons eram fracos, nada
como as criaturas que Keaton trouxera à vida. Amor e feitiços de plantas
não eram para guerreiros, mas o poder que ela tinha era forte. Ela tinha
claramente feito isso.
Para voltar à vida. Foi incrível.
Keaton olhou para cima, forçando um pouco de compostura em
si mesmo quando olhou para o seu cão. A criatura abanou a cauda,
incerta para ele.
Keaton não pôde deixar de sorrir. Ela voltou. Keaton precisaria
vê-la.

Kevin apertou firmemente a mão de Alistair quando desceram


para a cozinha. Kevin tinha visto como a casa era enorme durante
aquela caminhada, e agora que estava aqui embaixo, olhando para todos
os guerreiros em pé ao redor, alguns olhando para ele com
desconfiança, Kevin sentiu mais algumas lembranças voltando para ele.
Guerreiros imortais. Irmãos. Eles foram criados pelos Deuses
para proteger as criaturas da luz das trevas. Criaturas de luz consistiam
na maioria das coisas vivas hoje, até mesmo os animais que comiam, o
que deu a Kevin a impressão de que eles também estavam chateados
com a comida desperdiçada quando Alistair a deixou para verificar Kevin.
Os guerreiros comiam animais, mas também agradeciam por
seu sacrifício. Queimar bacon e ovos era um desperdício para esse
sacrifício e desperdício para qualquer outra pessoa ao redor do mundo
que poderia ter comido em vez disso. O cheiro queimado ainda estava
no ar, lembrando-lhes que Kevin era a razão para isso.
Não ajudou que suas roupas não estivessem prontas, então
estava usando o roupão de banho de Alistair. Era quase como ficar nu
diante de um grupo de homens que poderiam matá-lo se realmente
quisessem. Não havia muita confiança inspirada nisso.
Kevin pigarreou.
— Lamento que Alistair tenha deixado o fogão. Não quis fazer
com que ele desperdiçasse a comida chamando-o para mim.
Yuki ergueu a sobrancelha, e Kevin percebeu que se lembrava
de todos os seus nomes.
— Alistair lhe disse isso? Que não gostamos de desperdiçar
carne animal?
Alistair rosnou um pouco para seu irmão.
Kevin não se importava. Balançou a cabeça em primeiro lugar,
depois balançou a cabeça porque isso teria sido uma mentira. Precisava
parar de ficar tão nervoso.
— Ele me disse que tinha queimado a comida deixando o fogão,
mas posso me lembrar disso sobre você.
Burne, Bramwell, William, Yuki e Garrick levantaram as
sobrancelhas para ele, bem antes de olharem para Alistair, como para
confirmar isso.
Alistair sorriu como uma criança, como se fosse o aniversário
dele, o Dia das Bruxas, o Quarto de Julho, e o Natal de alguma forma
magicamente se transformou em um.
— Eu te disse. Kinsey voltou para mim. Ela é o Kevin agora.
Alistair olhou para Kevin com tanta adoração e carinho em seus
olhos que Kevin teve que olhar para longe. Não era só que era um pouco
embaraçoso receber a atenção, mas também a sinceridade da expressão
que lhe chegava.
Alistair não se importava que estivesse acasalado com um
homem. Não parecia incomodá-lo no mínimo. Tudo o que lhe importava
era que Kinsey tinha voltado para ele, mesmo que estivesse no corpo de
Kevin.
— Prove-nos isso, — disse Yuki. — Prove-nos que você não tem
Alistair sob um feitiço.
As mãos de Alistair cerraram em punhos. Kevin teve que abrir
os dedos suavemente antes que o homem pudesse esmagar a mão de
Kevin.
— Está bem.
— Não está bem.
— Está, — Kevin insistiu. Agora era ele que apertava a mão de
Alistair, certificando-se de que tinha a atenção do homem. — Eles te
amaram e te protegeram desde antes de estarmos juntos. Em ambas as
vidas. Eles tinham feito isso por mais tempo do que estivemos juntos.
Está tudo bem que não confiem em mim.
Os olhos e a expressão de Alistair ainda estavam duros. Parecia
quase como se quisesse continuar discutindo, para continuar lutando,
mas deixou passar. Estava relutante, mas ainda assim o deixou.
Kevin olhou para os outros homens que estavam ao seu redor.
Lembrou-se de que conhecia esses homens. Lembrou-se deles
vagamente, mas o que sabia deles como homens de família felizmente
acasalados desapareceu. Isso foi há centenas, senão milhares, de anos
atrás. Kevin tinha esquecido de perguntar a Alistair quanto tempo tinha
sido, mas esse não era o ponto. A questão era que esses homens
haviam sido destruídos pela perda de seus entes queridos. Eles não
seriam os mesmos que Kevin se lembrava.
Kevin apontou para Yuki.
— Seu nome é Yuki. Você foi nomeado para a neve, e pode se
transformar em um dragão. Sua companheira, uma jovem, eu acho,
morreu no mesmo fogo que eu fiz. — Kevin se virou para Garrick. — Seu
nome é Garrick, e pode se transformar em um gato grande. Sua
companheira gostava disso. Ela era uma pessoa de gatos, e você
costumava rondar ao redor do castelo apenas para fazê-la rir.
Os olhos castanhos de Garrick alargaram, o suficiente para que
Kevin pudesse ver os brancos ao redor deles.
Kevin não se lembrava muito. Cada coisa que conseguia lembrar
de todos era apenas uma fina memória, algo que nem sequer tinha
certeza de que fosse verdade.
As reações ao redor eram as mesmas. Todo mundo tinha um
olhar em seus rostos como se estivessem vendo um fantasma pela
primeira vez em suas vidas.
— É verdade, então? — Perguntou Bramwell, olhando em volta
para os irmãos por confirmação que ele já acreditava ter feito. — Você é
Kinsey?
— Kevin.
Kevin não ia deixar que nenhum deles o chamasse assim. Só
porque costumava ser uma mulher não significava que era uma agora.
Alistair parecia mais do que bem com ele, então esperava que ninguém
mais pensasse que isso era muito estranho.
Alistair rosnou.
— Você parece confuso, Yuki. Há algo que você queira dizer?
Kevin pensou que poderia se lembrar de Yuki como sendo o
mais teimoso e desconfiado de seus irmãos. Yuki sacudiu a cabeça.
— Você poderia ter contado a ele essas coisas sobre nós.
Alistair bateu a mão sobre a mesa, rachando a madeira maciça.
— Ele não é um bruxo! Ele é meu!
A intensidade das palavras de Alistair e o volume eram
suficientes para fazer Kevin saltar.
Yuki não disse nada. Olhou para seu irmão, e para Kevin, mas
ele calmamente saiu da cozinha.
Ele não precisava dizer nada. Kevin pegou a mensagem
deixada. Yuki ia ficar de olho em Kevin.
E Kevin percebeu que estava bem com isso. Desde que Yuki não
tentasse matá-lo, estava perfeitamente bem que Yuki quisesse observá-
lo. Foi assim que os Cavaleiros haviam sobrevivido por tantos anos. Eles
cuidavam um do outro.
Kevin não esperaria nada menos agora só porque Kevin alegou
ser alguém que Yuki costumava conhecer. Alguém que tinha morrido em
um fogo brutal.
Quando Yuki se foi, os outros cavaleiros correram para frente.
Eles falaram tão de repente e sem dar um ao outro tempo que suas
palavras foram perdidas para Kevin.
Eles pareciam estar perguntando a ele sobre sua vida, sobre
como tinha voltado, o que estava fazendo, e o pior, quando Kevin
finalmente o pegou, era se ele também tinha trazido suas companheiras
de volta.
Eles estavam tão animados, tão ansiosos, e Kevin não queria
decepcioná-los, mas não havia nada que pudesse dar a eles.
— Caras, esperem, por favor. — Kevin ergueu as mãos,
recuando, precisando do espaço, chocado quando Alistair colocou Kevin
atrás dele e olhou para seus irmãos.
Todos recuaram, embora o ar de expectativa e excitação em
torno deles não diminuísse.
— Nós só queríamos fazer-lhe algumas perguntas, — disse
Burne. — Ele poderia ter trazido de volta Farah. Ela poderia estar viva.
— Ou Tomas — disse Bramwell, olhando para Kevin como se ele
fosse a segunda vinda de Cristo. — Você trouxe Tomas de volta?
O interior do peito de Kevin rachou e sangrou um pouco por
esses homens. Nem uma vez, enquanto estivera com Alistair, pensou
neles ou no que eles iriam passar se Kevin conseguisse que qualquer um
deles acreditasse que era quem ele disse que era.
— Eu sinto muito. Não sei. Lembro-me de tentar. Lembro-me de
tentar conseguir todos, mas não sei. Não sei o que aconteceu depois que
tudo ficou preto.
Mesmo que Kevin tivesse morrido num incêndio, mesmo
estando em chamas, o próprio fogo não o matara. Olhando para trás,
sabia que era a inalação de fumaça que tinha feito isso, e ele poderia até
se lembrar de sentir-se aliviado por ter terminado, apesar de não ter
terminado seu feitiço.
— Não acho que eu deveria voltar. Não terminei o feitiço.
Realmente não consigo me lembrar o que eu estava dizendo, — disse
Kevin. — Quero dizer, eles podem voltar. Talvez? Mas não posso
prometer isso.
Ele não deveria ter dito assim. A esperança que tinha tentado
dar-lhes, bem antes de esmagá-lo com uma falta de promessas, fez seus
rostos tristes, fez com que todos ao seu redor o olhasse como se os seus
cães tivessem acabado de morrer.
— Sinto muito. — O peito de Kevin doeu. Queria dar-lhes mais,
para dar-lhes as respostas que queriam, mas não podia.
Quebrou seu maldito coração ao saber que esses homens
haviam segurado seus amores perdidos, seus amores mortos, por tantos
anos, e não havia nada que Kevin pudesse fazer para aliviar sua dor.
— Desculpem, — ele disse novamente.
— Você não tem nada para se desculpar, — Alistair respondeu
rapidamente. Ele colocou a mão nos ombros de Kevin. O toque era bom,
reconfortante. Kevin sorriu para o homem, sentindo-se tímido de novo,
desde que estava nu debaixo desta túnica.
Alistair olhou para seus irmãos, depois para Kevin.
— Vou fazer-lhe outro café da manhã. Você deve estar com
fome.
— Morrendo de fome — disse Kevin, embora não sentisse que a
conversa com os outros guerreiros estava terminada. Eles estavam
olhando para ele, como se estivessem esperando mais. Mais do que
Kevin não podia dar a eles.
Mas isso não fazia parecer certo ignorá-los.
A mesa estava rachada quando ele foi sentar-se, mas ainda
estava forte. Alistair puxou sua cadeira também, o que parecia
desnecessário, mas Kevin deixou o outro homem fazer isso de qualquer
maneira. Alistair estava feliz por ter seu amante de volta, e Kevin não
queria estragar sua diversão, então deixou o outro homem se apressar
em torno dele e mimá-lo um pouco.
Alistair abriu a geladeira, pegando todos os tipos de coisas.
Frutas, ovos, queijo, pão e bacon. Não foi até que ele agarrou o presunto
e um bife que William riu para ele.
— Você irá cozinhar para nós também?
— Não em sua vida — disse Alistair.
Kevin sorriu para o homem.
— Eu não vou poder comer tudo isso.
Alistair olhou para ele, pestanejou amplamente, e depois
devolveu lentamente o presunto.
— Ah, certo. Você é um homem agora, mas ainda é humano.
Pelo menos isso era algo. Alistair pensou que estava tratando
Kevin como um cara e superalimentando-o, embora Kevin não tivesse
certeza sobre o resto. Humano. Hã. Acho que fazia sentido que Kevin
não fosse tão forte quanto esses caras. Todos vibravam como alfas e
eram enormes.
— Vocês parecem que precisam comer dez mil calorias por dia
apenas para manter esse tamanho.
Garrick riu, tomando uma das cadeiras e sentando-se ao lado de
Kevin.
— Você ficaria chocado com o quanto podemos comer.
— Vocês não fazem exercícios? — O ciúme subiu dentro dele,
feio e verde. — Quando eu era criança, fui mandado para um
acampamento de gordura3 porque estava ficando muito grande.
— E eu adoraria você mesmo se você fosse maior, — disse
Alistair.
— Acredito em você, — Kevin respondeu, seu rosto esquentando
naquelas palavras. Alistair... estava aceitando muito bem Kevin. Isso era
certo.
— Quanto você se lembra? — William perguntou, inclinando-se
para perto de modo que seu cabelo louro escuro caiu em torno de seu
rosto. — Por que voltar agora?
— E por que você se acende em fogo? — Perguntou Bramwell.
Ok, isso era pior do que os elogios de Alistair, e o
constrangimento era quase demais para lidar.
— Eu, uh, não queria me acender em fogo. Foi um acidente.
— Tinha esquecido sobre isso, — Alistair respondeu, sem olhar
para longe do fogão ou a carne que preparou em uma das panelas. Sua
voz era mais baixa, como se ele não pudesse acreditar em si mesmo que
isso aparentemente tinha acontecido.
Kevin estremeceu.
— Eu não queria. Foi, um acidente. Kevin olhou para os outros
homens ao redor da mesa. — Fiquei com medo e tentei fazer com que
Yuki e Bramwell recuassem.
— Mas como você pode controlar o fogo em tudo? — William
perguntou. — Você pode fazer isso agora?
— Se eu quiser, — Kevin disse. — Mas realmente não quero.

3 Um acampamento residencial em que as crianças passam por um programa de exercícios, mudança de dieta, etc. destinado a ajudá-
los a perder peso.
— Como você pode usar o fogo? — Alistair perguntou desde que
Kevin não tinha respondido a essa parte.
Kevin engoliu em seco.
— Honestamente, eu não sei. Nunca gostei muito do fogo.
Sempre estava um pouco assustado de estar muito perto de fogo ou de
uma vela queimando durante a noite. Posso estar perto do fogo, mas
deixar isso sozinho me incomoda. Nunca soube explicar, mas acho que
agora que sei como morri, faz mais sentido.
Alistair voltou-se para olhá-lo.
— Você não precisa mais explicar. Desculpe por ter feito você
nos contar isso.
Kevin balançou a cabeça.
— Está bem. Não estava desconfortável ou qualquer coisa.
O que era uma mentira, mas Kevin era um adulto, e certamente
poderia responder algumas perguntas por vontade própria.
Alistair rapidamente mudou de assunto.
— Depois de comer, vou pegar suas roupas. Elas devem estar
prontas. Vou dar-lhe um passeio pela casa e os terrenos. — Alistair usou
a espátula para prender os ovos de Kevin, colocando a torrada e bacon
em seguida antes de pegar uma faca e habilmente cortar uma maçã.
Poderia ter sido um chef com a maneira como seus dedos se moveram.
Colocou o prato na frente de Kevin, voltando para o bife, salgando-o
antes de colocar mais ovos em cima dele. Ele trouxe para a mesa,
olhando furiosamente para William, que lhe sorriu de volta.
— Algo que eu possa te ajudar, irmão? — Ele disse tão
docemente que era quase como se não percebesse o que Alistair poderia
estar olhando para ele.
Alistair sorriu de volta, muito menos docemente.
— Sim, você pode mover seu traseiro. Esse é o meu lugar.
William riu, assim como os outros ao redor da mesa.
Kevin relaxou. A maneira como eles falavam entre si soava
rude, mas era familiar. Foi assim que se uniram como irmãos, e Kevin
percebeu que realmente não tinha nada com o que se preocupar, mesmo
que Alistair rosnasse para eles, e mesmo se eles acabassem lutando uns
com os outros, ainda seriam amigos.
Alistair sentou-se ao lado de Kevin, e mesmo que ele não
olhasse para Kevin, Kevin ainda sentia o mesmo sentimento de felicidade
por poder sentar lá.
— Bem, já que você é um idiota e não está cozinhando para
nós, e nos deixou famintos... — William foi até a geladeira, abriu-a
pegando outro bife. Os outros se levantaram para fazer o mesmo,
fazendo suas refeições ansiosamente.
Kevin tinha a impressão de que eles também estavam
cozinhando apenas para ter uma desculpa para se sentar à mesa e fazer
mais perguntas enquanto eles comiam.
Alistair parecia entender isso também.
— Se nos apressarmos, podemos pegar suas roupas e partir
daqui.
Kevin acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco culpado por
abandonar os homens que possuíam esta casa, uma casa na qual ele era
um convidado, mas Kevin ainda queria mais tempo sozinho com Alistair,
e pretendia obter o máximo de tempo possível.
Capítulo Sete

Kevin não podia acreditar no tamanho da casa. Ele pensou que


era grande enquanto andava por dentro. Agora que estava no terreno,
olhar o vasto gramado do lado de fora, o estava atordoado.
— Você basicamente vive no Palace Windsor.
Alistair sorriu.
— Você gosta disso? É nosso. Meus irmãos e eu vivemos aqui há
cinquenta anos. Ainda estamos nos acomodando, mas com você aqui,
será muito melhor para todos.
Kevin tropeçou nessas palavras.
— Jesus, demora cinquenta anos para se acomodar em algum
lugar?
As mãos de Alistair estavam nos bolsos.
— Foi uma brincadeira.
— Oh! — Kevin riu um pouco. — Certo.
— Levamos apenas dez anos para nos instalar.
Os olhos de Kevin arregalaram. Ele sentiu que Alistair não
estava brincando dessa vez.
— Posso te fazer uma pergunta?
Alistair olhou para ele.
— Certo.
Kevin desviou o olhar, coçando a parte de trás de seu pescoço
enquanto seguiam pelo caminho em volta da enorme casa.
— Quantos anos você tem?
— Você não se lembra?
Kevin balançou a cabeça.
— Não, mas você disse que foi feito pelos Deuses. Isso meio
que traz à mente uma situação de Percy Jackson.
Alistair sacudiu a cabeça.
— Não esses Deuses, embora os Deuses que nos criou também
estão mortos.
— Eles estão mortos?
Alistair assentiu.
— Você ficaria surpreso com quantos Deuses havia no mundo ao
mesmo tempo. Quando meus irmãos e eu começamos a existir, muitos
deles também haviam morrido. Várias razões. Guerra uns com os outros,
uma falta de adoração, esse tipo de coisa. Os Deuses que nos criaram
nem sequer eram tão poderosos. Eram velhos, mas não poderosos.
— Que tipo de Deuses eram?
Alistair encolheu os ombros.
— Deuses menores. O Deus das Fontes do verão. O Deus da
Primeira Chuva. O Deus do Rugido do Leão, o Deus do Primeiro Voo do
Falcão, esse tipo de coisa, Yuki leva principalmente o Primeiro Beijo do
Deus do Gelo.
— O que é isso?
— Congelamento.
Kevin riu.
— Faz sentido. O Deus que te criou foi o Rugido do Leão?
Alistair assentiu antes que seu sorriso desaparecesse.
— Keaton era o Primeiro Voo do Falcão.
— Oh. — Keaton, o homem que matou Kevin e as outras
companheiras.
Os nomes dos Deuses não soavam tão impressionantes como
Zeus e os Olimpianos ou qualquer coisa que veio do Cristianismo, que
tinha anjos suficientes para rezar para que eles pudessem quase ser
considerados Deuses menores.
— Quanto à idade que temos — disse Alistair com um suspiro,
os dois caminhavam lentamente pelo caminho. — Três mil.
Os olhos de Kevin arregalaram.
— Três mil?
Alistair sorriu.
— E algumas décadas. Todos nós sabemos nossos próprios
aniversários. Eles são no mesmo dia, mas depois de certo ponto, você
para de contar.
Isso fazia sentido.
— Quando você e eu nos conhecemos? — Isso parecia
importante.
Alistair olhou para ele de repente, como se não tivesse esperado
a pergunta.
— Você não se lembra?
Sentindo-se mal, Kevin desviou o olhar. Balançou sua cabeça.
Alistair não respondeu imediatamente. Parecia estar analisando
aquela nova informação de que seu companheiro não sabia como eles se
conheceram juntos na vida anterior.
— Queria poder me lembrar de tudo, mas em outros momentos
estou feliz por não poder.
O quanto podia se lembrar sobre o fogo já parecia muito. Já era
ruim o suficiente se lembrar de como tinha cheirado quando ele e suas
amigas haviam queimado, mas Kevin não queria saber mais do que isso.
Não queria ouvir todos os gritos, lembrar a dor ou o medo. Por que tinha
que ficar preso com essas lembranças, mas não conseguia se lembrar
mais desse homem? Esse homem que amava e confiava com todo seu
coração.
— Entendo, — Alistair respondeu, esfregando sua mandíbula. —
Nós nos encontramos no mercado de uma pequena aldeia na Europa.
Você estava trocando pão para comer por suas pulseiras. Olhei para
você e soube. Era onde meus irmãos e eu morávamos antes de virmos
para cá.
— Sério? Você não tem sotaque, — disse Kevin.
Bem, talvez ele tivesse um pouco, mas não era muito
perceptível. Kevin apenas pensou que era a maneira que Alistair falava.
Alistair sorriu para ele.
— Se eu falasse em minha língua original, você não entenderia
uma palavra que saísse da minha boca.
— Oh. — Kevin queria ouvir. Sua voz em outro idioma, em um
sotaque mais forte, soaria tão sexy quanto sua voz fazia agora.
Suprimindo um arrepio, Kevin os trouxe de volta ao tópico em
questão.
— Então, nós nos encontramos em uma aldeia?
Alistair assentiu. Ele sorriu, como se recordando uma memória
boa.
— Você tinha flores em seu cabelo, e era a mulher mais linda da
aldeia.
Kevin riu nervosamente.
— Hei, não acho que isso iria se aplicar agora.
— Você é o homem mais bonito que já vi há muito tempo, então
acho que sim, — respondeu Alistair. — Senti algo diferente sobre você,
mas não sabia o que era de imediato, não até o dia em que salvou
minha vida.
Kevin ficou um pouco surpreso.
— Eu fiz? Sério?
Alistair assentiu. Ele ainda estava sorrindo. Estava claramente
satisfeito por poder contar tudo isso para Kevin.
— Você fez. Eu fui tolo, não pensei, e fiquei preso na armadilha
de um caçador. Duas das minhas patas estavam quase arruinadas.
Kevin estremeceu.
Alistair balançou a cabeça e balançou os dedos.
— Como você pode ver, ainda uso minhas mãos, mas os leões
não são nativos da Europa. Não sabia de onde vinham até anos mais
tarde. Eu me considerava uma besta estranha sempre que me
transformava, e até mesmo as pessoas que eu estava encarregado de
proteger pensavam assim. Eles colocaram armadilhas, e enquanto eu
estava rondando, acabei pisando em dois deles.
— Ouch — disse Kevin. — Então, isso significa que vim e te
salvei?
O sorriso de Alistair mostrou os dentes.
— Você fez. Não só isso, mas curou minhas feridas. Seus dons
para cura não eram tão fortes então precisei ser ajudado e enfaixado. A
primeira vez que mudei na sua frente, você ficou claramente chocado,
mas não me deixou. Pensei que o faria, mas não fez. Quando me trouxe
de volta à sua aldeia, mentimos e dissemos que fui atacado por uma
besta.
A voz de Alistair baixou ligeiramente.
— Uma mulher não deveria levar um homem tão facilmente a
sua casa, mesmo neste dia, e naquela época era muito mais perigoso,
mas você o fez de qualquer maneira, me permitiu comer em sua mesa e
descansar em sua cama. Claro, não se juntou a mim, mesmo quando eu
pedi.
Kevin sorriu.
— Parece que eu era muito responsável.
— Você sempre foi. — Alistair suspirou. — Os outros aldeões
não apreciaram isso em você, e os rumores se espalharam, mas até lá,
eu já tinha feito planos para torná-la minha de qualquer maneira, então
as fofocas e os esnobes não me importavam. Acho que você sabia o que
eu planejava, porque não parecia se importar quando alguns dos aldeões
a evitavam, mas insistiu que poderia ficar, poderia fazer coisas boas com
eles.
— É claro, os caçadores logo viram suas armadilhas cheias de
sangues, e perceberam o que tinha acontecido. Eles vieram para nós, e
tive que lutar. Eu o raptei e levei para o meu castelo.
— Ok. — Isso estava começando a soar mais e mais como um
romance, mas quanto mais Kevin ouvia, mais tinha que admitir que ele
gostava. — Parece que tivemos um início emocionante.
Alistair ergueu as mãos, segurando-as atrás da cabeça
enquanto caminhavam.
— Sabia que você era minha companheira no momento em que
a levei daquela aldeia. Era a única explicação para minhas ações.
Desnecessário dizer que você acreditou em mim, e quaisquer reservas
que tinha parecia derreter. Começamos nosso acasalamento
rapidamente depois disso.
Alistair tinha uma expressão tão feliz em seu rosto, como se
toda a coisa fosse a melhor lembrança que tinha.
Kevin desejava que pudesse se lembrar disso, apenas para que
pudesse ter um visual bom, mas tudo o que Alistair disse soou verdade
para seus ouvidos.
Kevin acreditou nele.
— Por que fui morto? Quero dizer, eu e os outros.
Ele não queria esquecer que outras pessoas tinham morrido
naquele salão com ele.
Alistair fez um barulho baixo e profundo no peito.
— Tem certeza de que não se lembra de mais nada sobre
aquela noite?
Kevin olhou para longe dele.
— Não. — Ele mentiu. Lembrou-se o suficiente para saber que
não queria se lembrar, e pensou que Keaton estava envolvido, mas
precisava ouvir de Alistair.
Não queria mais se lembrar daquela noite. Queria se lembrar de
tudo o mais. Por agora, apenas saber por que tinha acontecido parecia
quase como demais.
— Não é uma boa história para contar, — disse Alistair.
Kevin apertou os punhos.
— Acho que preciso ouvir isso mesmo. Preciso ouvir por mim
mesmo o que aconteceu. Está me incomodando que não sei.
Ele olhou para os olhos de Alistair, aqueles surpreendentemente
grandes olhos cor de âmbar que tinha Kevin totalmente paralisado.
Parecia ser suficiente para fazer com que Alistair falasse.
O homem mais alto suspirou.
— Tudo bem, tudo bem. — Ele passou os dedos pelos seus
longos cabelos ruivos. Tinha soltado o rabo de cavalo, mas agora os fios
estavam um pouco desarrumados.
— Você se lembra de Keaton? Você nomeou todos os meus
outros irmãos.
Kevin assentiu com a cabeça.
— Na verdade, sim. Eu faço. Ele não está aqui. Onde está?
Podia estar errado. Não queria acusar Keaton se estivesse
errado, mas Alistair e seus irmãos pareciam tão chateados com a
menção de Keaton. Os irmãos de Alistair tinham raptado Kevin por causa
desse homem.
— Você se lembra que ele não morava conosco quando você
estava lá? Ou quando meus outros irmãos encontraram suas
companheiras?
Kevin precisou pensar brevemente sobre isso novamente.
— Eu... não realmente. Lembro-me de seu nome, e que ele não
se dava muito bem com vocês. Ele não morava conosco? Pensei que
todos vivessem juntos.
— Vivíamos — disse Alistair. — Keaton viveu conosco, viajou
conosco, comeu conosco e protegeu os fracos conosco, mas nos deixou
antes que eu encontrasse você.
— Oh. — Kevin tentou lembrar por que, se ele alguma vez tinha
ouvido algo em sua vida anterior que explicasse isso, mas não conseguia
se lembrar de nada. — Por que ele saiu?
Alistair molhou seus lábios.
— Seu companheiro e filho foram assassinados.
Kevin piscou.
— Oh. Eu... sinto muito em ouvir isso. — Era ruim, mas Kevin
precisava perguntar. — Você sabe quem fez isso?
Alistair esfregou a nuca.
— Alguns humanos, e acho que havia alguns shifters. Keaton foi
o primeiro de nós a encontrar uma companheira. Todos nós adorávamos
Golda. Ela era uma feiticeira, como você, seu talento natural era a cura,
então todos nós tínhamos que ficar do lado bom dela, se quiséssemos
que cuidasse de nossas feridas mais graves.
O ar ao redor de Alistair ficou um pouco mais escuro naquele
momento.
— Ela foi para a aldeia local para curar alguns dos doentes. Eles
tinham uma espécie de verme em sua pele, infectando seus corpos. Ela
estava puxando-os para fora, mas eles entraram em pânico. Chamaram-
na de bruxa. Estavam tentando se sentir poderosos depois de ficarem
impotentes por tanto tempo. Não importava que ela estivesse grávida ou
que estava curando-os. Eu não estava lá. Golda partira sozinha, sem
proteção. Acredito que pensou que estava segura, mas não estava.
— Deus. — Kevin estremeceu. — Eles apenas a mataram? Por
tentar ajudá-los?
— Os ignorantes podem ser perigosos. No velho mundo, bruxas,
shifters e doença estão no mesmo grau, e são ainda mais perigosos. As
pessoas podem ser ovelhas quando elas se aglomeram e se apavoram, e
Golda não teve chance. — Alistair parou de falar por um momento. —
Não vou te dar os detalhes, mas foi... brutal.
— Aposto.
Alistair olhou para ele.
— Naturalmente, Keaton queria matar os aldeões. Queria
destruí-los, e queria que seus irmãos o ajudassem. Ele nos suplicou que
o ajudássemos.
O coração de Kevin começou a bater forte novamente.
— O que você fez?
— Nós não ajudamos.
Kevin suspirou, seus ombros cedendo.
— Cristo, quero dizer... parte de mim pensa que você deveria
ter ajudado, mas estou realmente feliz por você não ter feito isso.
Kevin não queria que seu companheiro, o homem que estava
apaixonado e destinado a estar, fosse um monstro disfarçado. Isso iria
quebrar seu coração demais.
Então Kevin pensou em outra coisa.
— Espere, quer dizer então que ele matou os aldeões?
— Ele tentou.
Os punhos de Alistair apertaram, e os olhos de Kevin não
perderam a súbita tensão sob a roupa do outro homem.
— Ele tentou matá-los, e nós o paramos. Pela maior parte. Foi
uma luta para segurá-lo, enquanto Bramwell tirava Golda... não importa,
mas ainda era uma luta. Os aldeões se espalharam, e Keaton foi traído.
Ele nos odiou por não ajudá-lo, e jurou que nos mataria, mas não
acreditamos nele.
Alistair parou de andar de repente, e Kevin parou com ele.
— Você precisa saber o seguinte sobre nós, que não somos boas
pessoas.
— Sim, você é. — Kevin não podia acreditar que ouviu uma
coisa dessas. — Você é uma boa pessoa. Sei que é. Posso sentir isso.
— Nós mantivemos nosso irmão trancado em correntes na
masmorra do castelo onde vivemos por dez anos. Fomos obrigados a
enterrar sua companheira sem ele lá. Nós o mantivemos lá porque
pensávamos que ele precisava entender, para saber que ele iria contra
nossos criadores.
Kevin não conseguiu segurar o olhar de Alistair por muito
tempo, não depois de ouvir algo assim. Mas ainda não era culpa dele.
— O que mais esperava fazer? Ele queria matar pessoas.
Ameaçou matá-lo.
— Às vezes acho que poderíamos ter feito mais. — Alistair se
encolheu. — Tentamos ser indulgentes. Ele não foi para o calabouço no
começo. Tentamos trancá-lo em sua câmara. Ele esmagou os móveis e
usou-os para nos atacar. Tiramos seus móveis depois disso.
Eventualmente, ele conseguiu escapar e correu para a aldeia. Matou dez
homens e mulheres antes que pudéssemos pará-lo. Toda vez que
tentávamos falar com ele, e o deixávamos sair, mesmo que por apenas
um dia, as coisas davam erradas. Nós desistimos dele. Ele passou tanto
tempo nas masmorras porque começamos a esquecer dele, e que tipo de
família faz isso?
Kevin deu uma respiração profunda, em seguida, outra.
— Isso é uma coisa muito pesada que você acabou de me dizer.
Alistair assentiu.
— É, e você precisa estar ciente disso, com o que vai viver, se
decidir ficar com a gente.
Kevin olhou para o outro homem, e balançou a cabeça.
— Quero ficar com você. Acabei de te encontrar de novo! Você
não vai se livrar de mim por causa de algo que aconteceu há milhares de
anos.
— Kevin — a voz de Alistair era suave, e Kevin notou pela
primeira vez como Alistair não o tocava. — Keaton foi quem criou as
bruxas como as conhecemos hoje. Ele foi quem as mandou para o
castelo, que nos enganou para sair quando pensávamos que nossas
companheiras estariam seguras. Colocou espiões em nossos guardas, e
ordenou tudo. Matou você e as outras por causa das decisões que
tomamos.
Um rigoroso frio atingiu a pele de Kevin. Os fios de cabelo e os
pelos em seus braços arrepiaram.
Alistair ficou ali, sem falar nada.
— Você parece que está esperando que eu o julgue.
— Estou.
Kevin mal conseguia engolir o nó em sua garganta. Isso era
demais, ouvir tudo isso era demais.
Kevin tinha sido morto em uma vida passada porque um dos
irmãos de Alistair tinha ordenado isso?
— Por que ele faria isso? Nunca fizemos nada para ele. Mesmo
se estava com raiva de você e dos outros, isso não faz sentido.
— Faz todo o sentido — disse Alistair num suspiro. — Queria
que sofrêssemos como ele fez. Queria que soubéssemos como é perder
nossas companheiras e filhos. Conseguiu seu desejo. Conhecemos bem
aquela perda, e quando éramos os únicos a não deixar Keaton
assassinar os aldeões quando ele estava com dor, ninguém estava lá
para nos impedir de matar brutalmente os homens que nos traíram, e
Kevin, fiz-lhes implorar-me para matá-los antes de permitir que
morressem.
Aquele frio no sangue de Kevin piorou.
Alistair continuou.
— Penso nisso algumas noites. Sobre como minha vingança
valia mais do que a de Keaton, mas gostaria que tivesse tido outros para
me segurar. Não ser acusado de punir os culpados. Estou encarregado
de destruir o mal somente quando é de outro mundo. Não sou humano.
Isso era para ser deixado para outros seres humanos lidarem.
— V-você matou alguém desde então?
— Alguns — admitiu Alistair. — Não é desculpa, mas tentei
raciocinar comigo mesmo, dizendo que eram malignos, quase humanos.
Violadores, assassinos e molestadores de crianças. Iria matá-los quando
os encontrasse.
— Isso não é algo para se sentir culpado. Todos parecem
pessoas maléficas.
Alistair ergueu uma sobrancelha para ele.
— Esse não é o ponto, Kevin. O ponto é que tirei a vida que não
era minha para tomar.
— Sim, mas eu não vou me sentir mal por um pedófilo.
Os olhos de Alistair o examinaram de cima a baixo, como se
procurasse algo.
— Se tivesse um na sua frente agora, o mataria?
Kevin ficou tenso.
— O que? O que você quer dizer?
— Quero dizer exatamente isso. Se tivesse um homem, ou uma
mulher, na sua frente, e tivesse uma arma e eles não, bem como a
prova que eles cometeram algo. Você poderia até pegá-los tocando ou
molestando uma criança. Iria matá-los?
— Bem, não, provavelmente não.
— Por que não? — Alistair perguntou. — Estas são pessoas más,
depois de tudo. O mundo certamente iria elogiá-lo por fazê-lo, e
ninguém iria derramar uma lágrima quando tal pessoa fosse embora. Eu
até disse que você poderia ter uma arma e eles não teriam. Há
consequências para suas ações, e dependendo da arma, você não terá
que fazer muito esforço para fazê-lo, tampouco.
Kevin imaginou que agora sabia onde Alistair estava indo com
isso, e se fosse honesto, não gostava de olhar isso.
— Não acho que eu possa fazer isso, — disse ele.
— Por quê?
Kevin olhou um pouco para ele. Alistair parecia uma pessoa
inteiramente diferente, nada como o altivo cavaleiro alfa que acabara de
encontrar.
— Porque acho que não está em mim, matar alguém. Parece
errado.
Alistair assentiu.
— E é por isso que eu deveria sentir culpa. Se eles mereciam ou
não. Não era meu lugar para tirar suas vidas.
— Você faria de novo?
— Sim. — Ele nem hesitou. Não tanto para pensar sobre isso. —
Se você estivesse em perigo, ou eles estivessem prestes a me matar, eu
faria isso, mas de outra forma, nos últimos cem anos, meus irmãos e eu
estivemos nos esquivando de nossos deveres. Nós ficamos de fora, não
querendo cair nessa escuridão de novo.
Kevin franziu o cenho para ele, acotovelando-se.
— Não me importo. — Alistair inclinou a cabeça, então Kevin
continuou. — Não me importo com o que você fez naquela época.
Realmente não.
— Acabei de lhe contar como tratei meu irmão.
— E estou dizendo que não importa. — A frustração se
acumulou no peito de Kevin, e levantou alto e rápido. — Se esta é uma
tentativa estranha de se livrar de mim, poderia fazer um trabalho melhor
do que isto.
Os olhos de Alistair arregalaram.
— Me livrar de você?
— Sim! Porque se você pensar por um segundo que vou a
algum lugar depois que descobri tudo isso, então você pode-mmph!
Kevin foi abruptamente interrompido quando Alistair agarrou-o
áspero e puxou suas bocas juntas pressionando Kevin rapidamente para
trás em uma das árvores atrás dele.
Um pequeno ramo escavou nas costas de Kevin, e era
desconfortável e até um pouco doloroso, mas ele não se importava. Não
se importava, porque este era o melhor maldito sentimento que ele tinha
tido em toda sua vida quando Alistair o beijou.
O calor de seus lábios, o doce toque de sua língua, e a sensação
de seu pênis duro pressionando contra a virilha de Kevin, quente e
latejante, era demais. O prazer foi súbito e instantâneo. Kevin quase não
conseguia lidar com isso.
Assim que ele estava começando a balançar as coisas, assim
como ele estava se acostumando com o calor, Alistair puxou sua boca
com um áspero suspiro de ar.
— Eu nunca vou deixar você ir.
O calor nos olhos de Alistair e o tom agudo em sua voz estavam
agitados.
— O quê?
Alistair sacudiu a cabeça.
— Você realmente acha que eu poderia tão facilmente deixá-lo
ir embora, depois que te encontrei? Depois que você foi trazido a mim
por alguma sorte do acaso? Nunca vou mandá-lo embora, e é um tolo se
acha que eu sonho com tal coisa.
Kevin piscou.
— Pensei que você estava com medo que eu fosse embora.
Agora, parece que não quer me deixar ir.
— Me mataria se você partisse — disse Alistair com um rosnado.
— Eu permitiria apenas se isso fosse prendê-lo, se fosse sua escolha em
ir, mas mandá-lo embora? Isso é loucura, — disse ele novamente, desta
vez com alguma afeição em sua voz.
Kevin abriu a boca para dizer algo, qualquer coisa, mas não
havia nada que pudesse dizer, enquanto Alistair esmagava seus lábios
mais uma vez e Kevin estava perdido no calor e na luxúria do beijo.
Enrolou os braços ao redor dos ombros de Alistair, deixando o
homem mais alto, seu cavaleiro alfa, dominá-lo, e Kevin estava
totalmente disposto com isso. Ele deixaria esse homem dominá-lo a
qualquer hora do dia.

Capítulo Oito

Alistair não podia acreditar que uma ideia tão ridícula e até
estúpida pudesse vir de alguém tão inteligente quanto seu companheiro.
Que Alistair quisesse afastar seu companheiro era ridiculamente
tolo, e tinha toda a intenção de mostrar ao seu companheiro o quão tolo
esse pensamento era quando beijou e sugou os lábios do homem,
enquanto enfiava a língua na boca de Kevin e lambeu-o profundamente,
enquanto empurrava seu joelho entre as pernas de Kevin, ouvindo
aquele suave gemido enquanto Alistair reivindicava o que amava.
Kevin gemeu. Estendeu a mão e apertou firmemente o cabelo
de Alistair antes que seus dedos se movessem para a parte de trás do
pescoço de Alistair, em seguida, para seus ombros, como se não
conseguisse descobrir por si mesmo onde queria que suas mãos fossem.
Alistair não se importou quando seu companheiro decidiu tocá-
lo. Alistair afastou as bocas com outro suspiro áspero.
— Me toque em todo lugar. É isso, querido, adoro quando suas
mãos estão em mim.
— Assim?
Kevin colocou as mãos na parte de trás do pescoço de Alistair, e
os olhos de Alistair se fecharam através do prazer do contato simples
pele com pele. Ele assentiu.
— Assim, mas mais.
Ele precisava de mais. Alistair olhou ao redor, avaliando quanto
tempo levaria para que os dois voltassem para a casa e fossem para seu
quarto antes que pudessem ficar nus, e decidiu que demoraria muito.
— Não posso esperar para chegar ao nosso quarto. Preciso de
você aqui. Agora mesmo.
— Agora mesmo?
Alistair resmungou.
— Agora mesmo.
Kevin piscou, embora não parecesse pensar muito antes de
assentir e começou a puxar a jaqueta de couro e a camisa branca de
Alistair.
— Tire isso.
O gato dentro de Alistair rugiu para a vida.
— E eu aqui estava preocupado que você teria alguns
escrúpulos em fazer amor ao ar livre.
— Pare de falar. Você pode me fazer pensar duas vezes sobre
isso.
Alistair riu, suas próprias mãos puxando o cinto e o jeans de
Kevin.
Kevin parecia estar tentando deixar Alistair nu. Alistair
simplesmente queria tirar a calça de seu companheiro. Eles não
precisavam estar totalmente nus para o que Alistair tinha em mente.
Na verdade, achava que estava bom o suficiente quando
colocou a calça de Kevin em torno de seus joelhos. Tirá-la
completamente estava fora de questão considerando que os sapatos de
Kevin iriam dificultar isso, mas Alistair não se importava.
O desespero em seu peito, em seu pênis e bolas, era muito
doloroso.
— Vire-se.
Kevin não o questionou. Fez o que lhe mandara, encostando-se
a árvore e afastando-o.
— É isso que você quer?
— Tem sido tudo que eu pude pensar por séculos.
Algo nos olhos de Kevin suavizou naquelas palavras. Merda.
Alistair não queria lembrar da sua companheira das coisas mais sombrias
em seu passado compartilhado, mas era tarde demais.
Alistair corajosamente fingiu que não tinha dito nada que
pudesse arruinar o humor que estavam. Simplesmente se inclinou sobre
as costas de seu companheiro e pressionou beijos quentes e aquecidos
para o ombro e pescoço de Kevin, balançando os quadris contra o
traseiro de Kevin, gemendo enquanto seu pau grosso empurrava entre
as bochechas da bunda de Kevin.
Isso se sentiu bem, então Alistair fez isso de novo, empurrando
seu pau para aquele espaço apertado. Pressionou as bochechas de Kevin
juntas para fazer a sensação apertada muito mais erótica e sensual.
Kevin gemeu, deixando cair sua testa contra o braço, tremendo
com a antecipação.
— Você gosta quando pressiono meu pau contra sua bunda
assim.
Ele não estava fazendo uma pergunta, e Kevin acenou com a
cabeça.
— Bom menino.
— Nós... — Kevin teve que fazer uma pausa, aparentemente
para respirar. — Nós fizemos sexo assim, você sabe, na nossa vida
passada? Todo sensual e ao ar livre, coisas assim?
— Fizemos, — disse Alistair. — Estou feliz por você querer as
mesmas coisas que antes. Estava preocupado que não saberia como
agradar você neste corpo.
Alistair substituiu seu pênis com os dedos, e desta vez
pressionou firmemente contra o ânus de Kevin, usando o pré-sêmen que
deixara como um lubrificante. Não era muito, mas era algo, e foi capaz
de deslizar um dedo dentro.
— Tem certeza de que isso não o incomoda? Que sou um
homem?
Alistair parou, pensando na pergunta antes que rosnasse baixo
em seu peito.
Enganchando um braço em torno do peito de Kevin, Alistair
empurrou o dedo mais fundo dentro do corpo de Kevin, profundamente o
suficiente para que pudesse empurrar todo o caminho até seu terceiro
nó e sentir o arrepio e a vibração do gemido de Kevin contra seu peito
quando Alistair acariciou a próstata do homem.
Isso era o quão perto estavam um do outro. Alistair estava de
costas para o peito de Kevin, e Alistair não tinha intenção de deixar seu
companheiro ir.
— Isso parece que não quero você? Que isso me incomoda?
Alistair deixou seu dedo escorregar mais uma vez contra a
próstata de seu companheiro.
Seu corpo inteiro sacudiu, mas não parecia que iria gozar ainda.
Alistair rosnou no ouvido de Kevin, mordendo a orelha enquanto
se agarrava a ele.
— Quero você. Não vou dizer isso de novo. Você é meu
companheiro, e não desejo mais ninguém, além de você.
Alistair era um mentiroso, e até mesmo ele sabia disso. Disse
que não iria dizer isso de novo, mas se isso era algo que seu
companheiro precisava ser tranquilizado todos os dias pelo resto de suas
vidas, Alistair iria fazê-lo. Faria qualquer coisa para cuidar da segurança
e felicidade de seu companheiro.
Eu me machuquei antes. Falhei com você uma vez antes. Não
vou fazer isso de novo.
Kevin sacudiu e balançou abaixo dele.
— Al-Alistair! Eu preciso disso! Por favor, eu preciso disso!
— Você quer meu pau dentro de sua bunda?
— Sim!
Alistair riu.
— Meus dedos não te agradam o suficiente?
Kevin hesitou, como se em um leve pânico sobre se sua
resposta causaria qualquer ofensa. No final, ele pareceu desistir de
cuidar de qualquer ofensa possível, dado que balançou a cabeça.
— Não é o suficiente. Preciso de mais. Quero você dentro de
mim, por favor. Sinto que vou explodir.
Alistair acreditou nele.
— Posso sentir a tensão em seu corpo. Você quer isso. Seu
desejo. Alistair mordeu o lóbulo da orelha de seu companheiro mais uma
vez, decidindo que era um de seus lugares favoritos no corpo de seu
companheiro. — Você só esteve vivo por algumas décadas, mas os
séculos de luxúria e desejo ainda estão lá. Você quis isso. Você precisou
disso. Mesmo que você não soubesse.
Kevin acenou com a cabeça, ofegante por respirar, enquanto
arqueava contra o dedo de Alistair.
— É provocação demais para você? Você está realmente tão
desesperado?
Kevin gemeu.
— Estou! — Ele gritou.
Mais dessas provocações e Alistair teria seu companheiro
soluçando com desespero e necessidade. Não podia fazer isso com seu
companheiro. Precisava mostrar um toque de bondade.
— Sinto muito, querido. — Alistair tirou o dedo do ânus de
Kevin. Kevin não disse nada, mas gemeu profundamente quando o dedo
de Alistair não estava mais dentro dele.
Se era de alívio para o que estava por vir, a coisa que Kevin
claramente queria mais, ou a decepção com o que tinha acabado de
perder, Alistair não tinha certeza absoluta.
O jeans de Alistair estava solto em torno de seus quadris. Kevin
não tinha tido êxito quando tentou despreocupadamente empurrar a
roupa de Alistair para baixo, mas pelo menos isso significava que o
lubrificante que Alistair mantinha em seu bolso estava em fácil alcance.
Kevin franziu o cenho um pouco enquanto olhava por cima do
ombro dele, então balançou a cabeça em uma risada morosa.
— Você realmente trouxe isso?
— Não finja que não está aliviado, querido, — Alistair ronronou.
— Você está feliz que eu o trouxe junto.
Kevin encolheu os ombros, tentando fingir indiferença, mas
Alistair o conhecia.
— Acho que foi uma boa ideia.
— Você acha, não é?
Alistair deixou sua mão deslizar para frente do estômago de
Kevin, sentindo o estremecimento de seu companheiro ao longo de sua
barriga lisa.
— Eu deveria te ensinar uma lição?
— Essa lição envolve estar dentro de mim?
— Não, isso envolve eu te provocando e provando até que você
implore por meu perdão e exija ter meu pau dentro de você.
Kevin gemeu.
— Estou implorando agora. Por favor, não me faça esperar
mais.
Alistair estalou a língua.
— Suponho que sim.
Suas palavras tiveram o efeito desejado. Kevin soltou um
grunhido curto quando finalmente perdeu toda a paciência e virou-se
para Alistair.
— Desculpe! Está bem! Estava apenas brincando, meu pau e
bolas estão começando a doer seriamente! Por favor! Preciso disso! Quer
que eu diga de novo?
— Não.
Alistair não precisava ouvir de novo porque estava no mesmo
barco que seu companheiro.
Alistair nunca tinha feito um trabalho mais descuidado em sua
vida de lubrificar seu pênis. Acariciou uma camada rápida sobre o
comprimento de seu eixo antes de pressionar a cabeça do pênis contra o
ânus de Kevin.
— Você está tremendo.
— Posso lidar com isso. Realmente preciso disso, — Kevin disse
em um gemido, e Alistair realmente acreditou nele naquele momento.
Alistair avançou. Segurou a base de seu pênis firme contra a
primeira resistência inicial. Saltou facilmente através dessa barreira. O
sexo que ele e Kevin tiveram na noite passada preparou o corpo de
Kevin o suficiente para ser penetrado novamente, e parecia que Kevin
ainda estava pronto para ele.
Seu companheiro suspirou, embora o resto de seu corpo
permanecesse tenso enquanto Alistair empurrava mais profundo dentro
dele.
— Relaxe, querido. Não quero te machucar.
Kevin assentiu com a cabeça.
— Eu sei. Não posso evitar. Apenas continue. Tão bom.
— Isso é bom? — Alistair afundou-se mais profundamente
dentro de seu amante.
Kevin apertou os olhos, balançando a cabeça, em seguida,
gemendo.
— Sim. Deus, é como voltar para casa.
Isso era só porque estava voltando para casa. Eles eram a casa
um do outro, e Alistair se sentia da mesma maneira sempre que estava
dentro de seu companheiro, mas especialmente quando estava
profundamente dentro até as bolas em seu companheiro.
Alistair gemeu, um som profundo e gutural enquanto beijava e
chupava o lado da garganta de Kevin, muito feliz, também em paz para
fazer qualquer outra coisa além de beijá-lo e adorá-lo.
Sim, isto era exatamente o que se sentia como casa. Agora que
Alistair tinha o encontrado, como diabos conseguiu sobreviver por tanto
tempo sem ele?
Kevin não esperou. Era aparentemente um homem de ação
enquanto empurrava seu traseiro contra o pesado pau de Alistair, seu
ânus encheu com o pênis de Alistair enquanto Kevin procurava seu
próprio prazer.
Alistair sorriu, olhando para o traseiro de seu companheiro
enquanto empurrava para frente e para trás contra seu pau.
— Você é perfeito. Poderia ficar aqui assim, apenas assistindo
você. Não há nada melhor que isso.
Kevin estourou em uma pequena risada, olhando por cima do
ombro.
— Tem certeza disso?
Alistair só precisou pensar nisso por um momento antes de ter
sua resposta.
— Você está certo. Há algo melhor.
Alistair agarrou Kevin com força pelos quadris antes de bater
para frente, duro e rápido dentro do corpo de seu companheiro.
O gemido duro e pesado que escapou da garganta de Kevin,
quase como se estivesse puxado contra sua vontade, era mais que
suficiente para fazer Alistair continuar, para fazê-lo segurar seu
companheiro mais apertado, fodendo-o mais duramente, até Kevin não
apenas precisar segurar na árvore na frente dele para se sustentar
enquanto mantinha o traseiro para trás, mas também usá-la para evitar
ser fodido no chão.
Alistair não conseguia evitar. Como ontem à noite, quando
queria que as coisas fossem lentas, para fazer amor lentamente como
havia pensado durante tantos séculos, isso não era o que foi capaz de
dar ao seu companheiro. Aquilo era mais duro, mais áspero e rápido e
nada romântico ou digno de seu companheiro, mas não conseguia se
conter, e Kevin quase não parecia se importar.
— Foda-me, assim. Oh merda, ali mesmo!
Ele definitivamente parecia estar desfrutando do que estava
acontecendo, e suas palavras, seus gemidos e seus suspiros só
incentivavam Alistair a continuar, a foder com mais força enquanto
continuava apontando para aquele ponto doce, para continuar cutucando
com a cabeça de seu pênis.
— É este o ponto? Bem aqui?
Kevin assentiu com a cabeça, os olhos ainda fechados com
força, embora sua boca permanecesse aberta enquanto gemia e
suspirava.
Isso não foi bom o suficiente.
— Responda-me, gatinho. Você estava tão falando antes.
Kevin rosnou, olhando por cima do ombro para Alistair com
luxúria em seus olhos.
— Quero que você... continue fazendo... oh! Que! Continue
fazendo isso!
— Não tenho certeza do que você está falando. — Alistair
gostava de ser engraçadinho, embora estivesse claro que seu
companheiro não o apreciava.
— Você sabe o que eu quis dizer!
Alistair sorriu através do prazer. Seus dedos curvaram e
apertaram a cintura de Kevin, machucando o homem, mas continuou a
jogar seu jogo.
— Você quer dizer isso?
Alistair inclinou os quadris para frente, criando um amplo círculo
que forçou seu pênis a empurrar contra a próstata de Kevin e
permanecer lá.
Aparentemente, a partir dos sons que seu companheiro estava
fazendo, parecia que o ato não era apenas agradável, mas também um
pouco doloroso em sua provocação.
— Se você não gostar tanto, então deve me dizer para parar. —
Alistair estendeu a mão, encontrando as bolas apertadas de Kevin logo
atrás de seu pênis. Kevin gemeu impotente quando foi tocado assim,
enquanto Alistair revirava os dedos e massageava as bolas de Kevin.
— Elas estão apertadas. — Alistair gemeu, precisando soltá-las
enquanto golpeava seus quadris para frente e para trás, apertando os
dentes pelo jeito que seu companheiro continuava a espremer seu
traseiro ao redor do seu pau. — Se for demais, então me diga.
— Não muito! — Kevin gemeu, balançando a cabeça. — Deus,
não muito.
Bom. Isso foi muito bom. Alistair puxou seu pau de volta antes
de empurrá-lo profundamente dentro de seu companheiro. Olhou para
baixo, observando como o comprimento de seu pau aparecia e
desaparecia dentro desse espaço apertado, sentindo a maneira como
Kevin apertava firmemente em torno dele.
— Você quer isso tanto quanto eu, não é?
Kevin ofegou impotente, segurando a árvore enquanto assentia
com a cabeça.
— Sim.
Kevin olhou de volta para ele para que Alistair pudesse ver a
explosão cheia de luxúria que vinha desses olhos coloridos. Olhos de seu
companheiro.
Alistair abrandou o impulso de seus quadris, mas segurou tão
firmemente a cintura de Kevin, fazendo o homem gemer enquanto
empurrava para frente duro, batendo na sua bunda.
— Acho que você quer isso mais do que qualquer outra coisa, —
Alistair ronronou. Beijou o lado da garganta de Kevin, saboreando cada
ondulação de prazer que corria através dele cada vez que empurrava seu
pênis para frente, batendo naquele ponto doce.
— Todo barulho que faz, cada tremor de seu corpo, isso é tudo
para mim. É por causa disto. Ninguém nunca vai fazer você se sentir tão
bem, estar tão completo. Você entende?
Kevin assentiu, embora não dissesse nada. Desesperado,
indefeso e gemendo nada deixou sua garganta enquanto lutava para
respirar.
Alistair lutou para conter seu próprio prazer, para manter isso
acontecendo o maior tempo possível, mas não parecia que pudesse ir
tão longe e por muito tempo. Ele queria. Deuses, queria a habilidade de
fazer amor com seu companheiro por horas, para que fosse apenas os
dois e ninguém mais.
Não ia ser assim. Mesmo sendo um cavaleiro imortal como ele,
não conseguiria conter o apelo do prazer para sempre. Gozou quase
contra a sua vontade, e Alistair gritou alto através da corrida de energia
e sensação. Mordeu o ombro de Kevin, desesperado para abafar o som.
Kevin gritou e gozou antes que seu ânus apertasse ao redor do
pau de Alistair, espremendo ainda mais o prazer de seu corpo.
Alistair gritou novamente, primeiro pelo prazer e, depois, pela
dor, em seguida, o repentino alívio de prazer novamente quando os
espasmos Kevin tornaram-se mais suave. O outro homem caiu enquanto
Alistair terminava.
— Ainda não terminou, querido. — Alistair lambeu o lugar no
ombro de Kevin que tinha mordido. Ia deixar um hematoma lá por causa
disso. Já tinha deixado tantos hematomas de amor em seu companheiro.
Alistair precisava aprender um pouco de autocontrole, ao que parecia.
— Oh Deus, oh meu Deus, — Kevin gemeu, balançando a
cabeça. — Acho que não posso ficar mais tempo de pé.
Alistair sorriu, beijando as marcas de amor que deixara.
— Você não está de pé agora.
Kevin olhou para ele.
— O que?
Alistair riu.
— Estou segurando você. Eu e aquela árvore, de qualquer
maneira.
Kevin olhou para os braços de Alistair em torno de sua cintura,
em seguida, a árvore, então deve ter percebido que não havia força em
seus joelhos. Ele gemeu.
— Merda, desculpe.
— Nunca se desculpe. — Alistair gentilmente virou seu
companheiro para que pudesse olhar naqueles olhos lindos mais uma
vez. Beijou Kevin docemente na boca. — Você nunca precisa se
desculpar. Acho que é muito adorável.
Kevin gemeu, insinuando que não achava que fosse tão
adorável, mas abriu a boca, deixando-se beijar, ser provado, e Alistair
estava no céu enquanto empurrava sua língua dentro da boca de seu
companheiro.
Seu companheiro se sentiu diferente do que Alistair lembrava,
mas isso era apenas do lado de fora, Alistair achou que ele era capaz de
se acostumar rapidamente.
No interior, parecia o mesmo. Kevin tinha a mesma
personalidade e doçura que Alistair amava, e isso era a única coisa que
importava.
Até que Alistair sentiu uma dor súbita e aguda em sua parte
inferior das costas.
Ele se afastou de seu companheiro, girando ao redor com um
rugido áspero, balançando suas garras fora para o homem que tinha
ousado interrompê-lo.
Keaton saltou para trás, evitando habilmente as garras do gato
de Alistair.
Alistair ofegava, a dor era demais, mas não ousava afastar os
olhos de seu alvo. Ainda estava ciente do que estava acontecendo atrás
dele enquanto Kevin se apressava para endireitar sua roupa, fazendo
com que ele não estivesse tão exposto diante de um possível ataque.
Alistair grunhiu ao ver que o corpo de Keaton estava
ligeiramente inclinado para o lado, observando Kevin.
Alistair pisou de lado.
— Não ouse olhar para ele.
Keaton voltou sua atenção para Alistair, onde deveria ter estado
o tempo todo. Ele franziu a testa um pouco.
— Eu não sabia que você preferia a companhia de homens.
— Não é seu negócio o que eu prefiro. Saia daqui.
— Jesus Cristo, Alistair! Ele te esfaqueou pelas costas!
Kevin aproximou-se dele, aproximando-se. Alistair sentiu o
toque das mãos de seu companheiro na parte inferior das costas, mas
Kevin pareceu hesitante em colocar as mãos na ferida.
Keaton devia ter visto os olhos de Kevin, no entanto, e isso era
tudo o que precisava ver antes que o outro desse mais um passo.
— Ela voltou.
Ele disse isso como se estivesse olhando para um fantasma
vivo, respirando, e cada instinto protetor dentro de Alistair brilhou para a
vida quando subitamente transformou-se em sua forma de leão.

Capítulo Nove

Kevin observou horrorizado, como Alistair de repente, e


aparentemente sem aviso, destruiu suas roupas e se lançou ao homem
que o tinha esfaqueado. A faca ainda estava na parte inferior das costas
de Alistair, quando se transformou num enorme leão.
Os joelhos de Kevin ainda estavam fracos do orgasmo e do
choque da violência na frente dele, mas de alguma forma, sabia que
tinha sido um truque, que o outro homem queria Alistair fora do
caminho, porque no momento que Alistair se transformou no enorme
leão, o outro homem com quase nenhuma expressão em seu rosto, se
transformou num pássaro e voou.
Ele voou em torno do corpo de Alistair, habilmente evitando
suas garras e circundando ao redor até que aterrissasse na frente de
Kevin.
Sem poupar um segundo, o falcão voltou a ser um homem, de
alguma forma conseguiu manter suas roupas intactas, ao contrário de
Alistair, e Kevin ficou tenso quando sentiu algo duro e fino pressionando
seu pescoço.
Uma faca. Esse cara tinha uma faca na sua garganta.
— Você vai mudar saindo dessa coisa bárbara e enfrentar-me
como um homem, ou vou cortar a garganta dele na sua frente.
Kevin queria ser corajoso, realmente queria, mas não era
corajoso. Não era o tipo de cara que facilmente enfrentava qualquer
ameaça que chegava a ele. Odiava a confrontação, e não podia acreditar
que havia uma faca em sua garganta.
Foi um pequeno milagre que não estava desmaiando de medo.
Como isso estava acontecendo? Que diabos estava acontecendo
aqui? Dez segundos atrás estava se divertindo com seu amante,
perdendo-se no toque de Alistair e no prazer que lhe deu.
Agora havia um sujeito assustador atrás dele com uma faca em
sua garganta, e Kevin não podia descobrir o que diabos estava
acontecendo.
Alistair mudou imediatamente. Era o olhar de horror que fez
Kevin questionar se os minutos que deixaria aquela terra estavam
contados, especialmente quando Alistair abaixou nu aos joelhos.
— Keaton... não.
Kevin sugou um suspiro, quase esquecendo a faca. Quase virou
a cabeça para olhar para o outro homem, mas se deteve antes que
pudesse cortar sua própria garganta naquela faca.
Este era Keaton? Este era o irmão de Alistair, aquele que
matara Kevin e todas as outras companheiras e seus filhos, ordenando
que fossem queimadas vivas quando Alistair e os outros haviam partido.
Kevin não queria olhar para ele. Não queria olhar para o rosto
de seu assassino, mas Keaton não parecia querer dar a Kevin essa
escolha. Ele pegou um punhado de cabelo de Kevin em seu punho,
forçando Kevin a virar a cabeça, para enfrentar o outro homem de
qualquer maneira.
Keaton olhou bem nos olhos dele. Alistair tinha dito repetidas
vezes como os olhos de Kevin eram os mesmos em ambas as vidas. Um
dourado e outro um tom brilhante de azul. Seu cabelo, supostamente,
era também o mesmo, cabelo loiro macio, com fios dourados escuros.
Keaton balançou a cabeça, os lábios se separando ligeiramente
enquanto olhava de volta para Alistair antes de se virar para Kevin mais
uma vez.
— Como isso é possível? Como você fez isso?
Alistair sacudiu a cabeça.
— Não é o que você pensa. Ele só se parece com Kinsey.
— Besteira. Vejo claramente como eles são um.
Kevin desejou que Yuki o visse tão claramente como Keaton
aparentemente podia. Isso teria resolvido alguns problemas, mas agora
ele estava aqui, e Keaton segurava o cabelo de Kevin com força
suficiente para que ele grunhisse de dor.
— Diga-me como você fez isso, agora, ou vou matá-lo.
O coração de Kevin bateu contra suas costelas. Ia morrer, e não
havia nada que pudesse fazer sobre isso.
— Eu não... não sei. Foi um feitiço. Mal consigo me lembrar
disso.
— Você pode. Diga-me que mágica usou. Quem você estava
chamando? O Deus da Nova Vida? Não, isso estaria além de você. A
Deusa da Primeira Respiração de um Bebê?
Kevin não sabia. Não tinha ideia do que tinha feito, a quem
tinha chamado, ou mesmo as palavras que usou.
— Por favor, não me mate novamente.
Keaton rugiu em seu rosto.
— Não vou te matar se me disser o que você fez!
Kevin estremeceu.
Alistair rapidamente falou.
— Ele fala a verdade. Acabei de encontrá-lo, e suas memórias
estão voltando. Ele ainda não sabe tudo.
Essa resposta não pareceu agradar a Keaton. Ele brevemente
mordeu seus lábios. Kevin podia sentir a faca tremendo contra sua
garganta. Um movimento errado e seria dividido de orelha a orelha.
— Diga-me como você conseguiu.
— Por favor, não sei.
— Você está mentindo! — gritou Keaton.
Ele pressionou a faca com força na pele de Kevin, com força
suficiente para que estivesse certo de que o homem estava realmente
cortando-o, e Kevin não ousou respirar no caso de a faca o cortar. Um
gotejamento quente deslizou pela garganta de Kevin, indicando que já
tinha sido cortado um pouco.
— Pare com isso! Pare com isso! — Alistair gritou.
— Então me diga o que ele fez! Não estou parando!
O cérebro de Kevin procurava uma resposta. Sentiu como se
estivesse em pânico demais que não podia se concentrar em nada além
de seu medo.
Porque ele estava assustado. Estava fodidamente aterrorizado.
Mas uma rápida lembrança, uma pequena memória finalmente
chegou até ele.
— Você quer Golda de volta?
Keaton olhou para ele, e Kevin soube que fez a pergunta certa.
— Consegues fazê-lo?
Kevin lutou para não tremer enquanto a faca fria se sentia como
se estivesse afundando mais profundamente em sua pele.
— Eu posso. Se você não me matar.
Keaton apenas olhou para ele por um momento, pelo maior
momento da vida de Kevin.
Quase não sentiu quando a faca foi afastada de sua pele e
finalmente conseguiu respirar. As mãos de Kevin voaram para seu
pescoço. Sangue. Isso era definitivamente sangue que sentia, mas não
estava esguichando fora dele em correntes espessas.
Ainda estava lá. Uma faca tinha chegado a centímetros de
destruir sua garganta, e não gostou.
Kevin grunhiu quando Keaton o agarrou pelos cabelos mais uma
vez e puxou com força. Alistair levantou-se, como se estivesse disposto
a agir.
— Faça isso agora mesmo. Traga ela de volta agora.
— Agora?
A ponta daquela faca desagradável e de aparência serrilhada
subiu até seu rosto, até o ponto em que Kevin não podia se concentrar
nela, apenas no agarre apertado da mão de Keaton.
— Não me teste. Você vai fazer isso agora.
Kevin pensou rapidamente, o que não era dizer muito,
considerando que seu cérebro ainda estava em pânico.
— Mas se eu a trouxer de volta agora ela não aparecerá na sua
frente! Ela terá que renascer. Alguém terá que ficar grávida e carregá-la.
Ela vai precisar crescer. Pode nem ser uma mulher!
— Não me importo. Posso esperar mais vinte anos, faça ou vou
te matar.
Ele queria isso. Kevin não precisava verificar como esse cara
falava sério. Se alguma coisa, poderia estar ansioso pela chance de fazê-
lo, se Alistair estava certo, Keaton realmente odiava seus irmãos muito.
— Está bem, está bem. Vou fazer isso.
Kevin apertou as mãos. Olhou para Alistair e para Keaton.
Keaton pareceu perder ainda mais a paciência.
— O que você está esperando? Vá em frente!
— Eu vou! — Kevin se encolheu para longe do homem quando
ele levantou o punho, como se estivesse prestes a bater em Kevin.
— Keaton! — Alistair deu um passo à frente.
Keaton apontou a lâmina na direção de Alistair.
— Não se mova. Se o quiser de volta, eu o devolverei, mas em
quantas partes irá depender tanto de você como de sua capacidade de
executar.
Kevin engoliu em seco. Alistair parecia estar prestes a explodir.
Então Alistair parou, puxou de volta, e observou, ainda olhando,
todos os músculos tensos.
— O que você está fazendo? — Keaton perguntou, olhando para
Kevin, como se estivesse esperando que ele começasse a lançar feitiços
como se fosse a fada madrinha da Cinderela. Tudo que ele precisava era
uma varinha e uma canção.
Kevin não tinha ideia do que estava fazendo, mas sabia que não
estava trazendo uma mulher morta que nunca tinha conhecido.
— Estou me concentrando. Concentrando. Você está estragando
tudo.
Keaton olhou para ele e apontou a faca para trás em seu rosto.
— Melhor não ser um truque.
Era um truque, mas Kevin com certeza não iria dizer isso a ele.
Não tinha ideia se o que estava fazendo iria funcionar, mas ia tentar de
qualquer maneira.
Kevin pressionou as mãos firmemente, como se em oração, mas
realmente estava chamando os irmãos de Alistair, os outros cavaleiros
que ainda estavam na propriedade.
Ele tinha conseguido se conectar com Alistair uma vez antes.
Talvez pudesse se conectar com eles, avisar que ele e Alistair estavam
em apuros, que precisavam de ajuda e que precisavam disso agora.
Por favor, ouçam-me. Nós precisamos de ajuda. Keaton está
aqui. Ele tem uma faca, e Alistair está muito preocupado que ele vá
fazer alguma coisa. Ajude-nos, por favor, ajude-nos.
Kevin pensou nessas palavras, e as pensou duramente por cerca
de dois minutos enquanto Keaton o rodeava. Kevin fechou os olhos, em
parte porque fingia se concentrar e também porque não conseguia olhar
para o rosto do homem que queria matá-lo. Era muito para suportar, e
realmente estava mexendo com seu foco.
— Por que você não está dizendo nada? Deveria estar dizendo
algo, cantando o feitiço, — Keaton estalou, pressionando sua mão contra
o ombro de Kevin.
Alistair rosnou, o sangue ainda escorria pelas costas e nas
pernas, da ferida na parte inferior das costas.
— Não toque nele.
— Vou matá-lo na sua frente desta vez, se não calar a boca.
Vou queimá-lo e fazer você assistir, então fique para trás.
Foi a parte em que Keaton ameaçou queimar Kevin que o fez
pensar.
Talvez pudesse usar isso. Kevin sabia como se acender no fogo,
e como não estava muito certo se os outros vinham...
Seria a distração que precisava. Kevin odiava o fogo. Odiava a
ideia de ser incendiado ainda mais, mas precisava disso. Precisava ser
capaz de distrair Keaton e dar a Alistair a chance que precisava para
atacar. Era a única maneira.
— Eu me sinto quente, — Kevin disse, falando a verdade
quando sentiu o calor correndo dentro dele. Um novo tipo de pânico
brilhou dentro dele. Não queria fazer isso. Mas tinha que fazê-lo, e tinha
que fazê-lo rapidamente. Era tarde demais para voltar agora, e não
permitiria que esse babaca machucasse a ele ou ao seu companheiro.
Keaton franziu o cenho para ele.
— Qual o problema com você?
Alistair tinha uma expressão mais preocupada em seus olhos.
— Kevin?
Kevin precisava deixar tudo sair. Uma grande explosão de fogo
para que pudesse acabar com isso. O fogo saiu de suas mãos primeiro,
quente e grande. Keaton saltou para trás.
Kevin gritou. A visão disso em sua pele, em suas mãos e
braços, era demais. Não gostou. Não podia pensar quando estava assim,
mas agora o fogo tinha uma vida própria e não poderia controlá-lo,
mesmo que quisesse. Isso o consumiu, engolindo todo o seu corpo, e
Kevin caiu de joelhos enquanto Keaton pulava para longe dele, recuando
do calor.
Através de seus próprios gritos, Kevin estava ciente do rugido
de Alistair. Fúria e pânico estavam vivos nele quando correu para
Keaton, garras para fora enquanto atacava o outro homem. Ele acertou
no lado do rosto de Keaton antes que Keaton abaixasse sua faca para o
peito de Alistair.
Alistair mudou de volta em forma de leão, e nesse ponto, Kevin
perdeu a noção do que aconteceu com o calor, o ardor e a dor o
consumindo.
Foi pior do que a última vez que tentou assustar os irmãos de
Alistair. Oh Deus, isso era muito pior, e não podia lidar com isso. Não
conseguia pensar, não podia respirar!
— Alistair! — Kevin gritou para o homem, precisando dele,
querendo-o porquê isto tinha sido de longe a pior ideia da vida de Kevin,
e agora iria morrer, novamente, e desta vez seria por sua própria culpa
estúpida.
Frio. Um frio gelou o corpo de Kevin. Não, não um salpicar. Era
mais como uma explosão insana de ar que o pegou desprevenido,
tirando o calor e o fogo que estava se preparando para consumi-lo.
Kevin respirou. Podia finalmente respirar agora, e enquanto há
dois segundos se sentiu muito quente, quente o suficiente para derreter
a pele de seus ossos, agora estava com muito frio. Tremeu quando seu
corpo reagiu às súbitas mudanças nas temperaturas ao redor dele.
— É o bastante! Yuki! É o bastante!
O frio o deixou, e o ar quente do verão foi se espalhando mais
uma vez. Kevin ainda não se sentia quente até que os braços grandes de
Alistair o envolveram, segurando-o apertado.
— Querido, o que ele fez com você?
— Não toque nele, idiota! Precisamos verificar se há
machucados das queimaduras!
Os braços confortáveis, quentes e fortes de Alistair deixaram
Kevin tão depressa que foi surpreendente. Ele queria afundar-se neles,
absorver mais calor e conforto, mas não podia, porque agora Alistair de
repente estava segurando Kevin longe, verificando-o.
Kevin sentiu geada em seus cílios e em seu cabelo. Olhou para
Yuki e se lembrou que era um dragão de geada.
— O-obrigado. — Seus dentes bateram quando falou.
Yuki assentiu.
— Não vejo nenhum dano. Você ainda tem o cabelo e as
sobrancelhas.
— Onde está K-Keaton?
— Já se foi, querido. Eu prometo. Tem certeza que está bem?
Deixe-me ver.
Alistair virou delicadamente a cabeça de Kevin de um lado para
o outro, examinando o pescoço e o rosto.
— Nada profundo, — ele murmurou. Tinha que estar falando
sobre o corte na garganta de Kevin antes de aqueles dedos espessos e
com cicatrizes roçassem o cabelo de Kevin, procurando seu couro
cabeludo por qualquer sinal de dano.
Kevin sibilou um pouco, e os olhos de Alistair apertaram em
raiva quando se inclinou para examinar o dano.
— Está ruim?
Alistair fez um barulho de desagrado.
— Um pouco de sangue, provavelmente quando puxou seu
cabelo.
Kevin engoliu em seco.
— Tem certeza de que ele se foi?
Isso tinha sido aterrorizante. Kevin não podia acreditar que
tinha se acendido em fogo. Mais uma vez.
— Sim. Nós o perseguimos, — disse Yuki.
— Nós?
Garrick saiu através dos arbustos, pisoteando algumas das
flores.
— Ele voou para o sul. O idiota. Não seremos capazes de segui-
lo.
Burne surgiu atrás de seu irmão, seus olhos examinando a
bagunça que Kevin tinha se tornado.
— Como você está se sentindo?
— Como uma merda, — Kevin respondeu, ainda com frio, mas
pelo menos agora era capaz de controlar melhor a si mesmo e sua voz.
Não estava tremendo tanto, e isso era uma vantagem.
— Você se acendeu em fogo novamente? — Yuki perguntou.
Ele parecia irritado. A leve ondulação no canto da boca sugeriu
que achava isso engraçado.
Ou achava que Kevin era um idiota. Kevin não podia realmente
ter certeza de qual era.
Kevin engoliu em seco.
— Pensei que isso o distrairia ou levaria Keaton longe de
Alistair. — Kevin estremeceu. — Perdi o controle novamente.
Burne balançou a cabeça, cruzando os braços.
— Você não deve fazer isso se mal consegue controlar o fogo.
Alistair olhou furioso para seu irmão.
— Cale a boca, você não está ajudando.
Quando enrolou os braços em torno dos ombros de Kevin,
puxando-o para mais perto, Kevin não lutou. Precisava estar lá.
Precisava estar nos braços de Alistair, e suspirou quando estava neles,
embora ainda tremesse.
Kevin era um idiota. Ele era um cara, e ainda assim estava
caído impotente nos braços de seu companheiro porque não podia lidar
com nada, quando havia perigo ao redor.
— Desculpe. Não queria te assustar, — disse Kevin. Agora que
era capaz de pensar no contexto com segurança, parecia mais provável
que Alistair tivesse visto Kevin queimando e assumiu que Keaton o tinha
acendido em chamas.
Alistair apertou-o, apertado o suficiente para que quase não
pudesse respirar.
Como a primeira vez que se abraçaram assim.
— Não se desculpe. Sei por que fez isso. Você queria uma
distração. Entendi. Foi inteligente. Continuei procurando por uma
abertura para correr até ele e fiquei aterrorizado por não encontrá-lo até
que você fez isso. Sua distração foi perfeita e assustou Keaton tão mal
que ele se afastou de você.
Kevin tinha tentado ver a luta, mas o horror de estar sendo
consumido pelo fogo tinha sido demais para ele. Quase desmaiou
novamente. Estava bastante confiante de que teria desmaiado se não
fosse Yuki apagando o fogo por ele.
Kevin não achava que poderia agradecer ao outro homem o
suficiente por isso, então repetiu mais uma vez.
— Obrigado.
Yuki assentiu com a cabeça, e parecia que ia voltar ao seu eu
silencioso.
— Como diabos Keaton sabe onde moramos? — Perguntou
Bramwell. — Não o vimos, em quê? Cem anos?
— Não me importo, — Alistair disse, rosnando enquanto
apertava Kevin um pouco mais apertado. — Nós vamos colocar feitiços
em torno da casa. Camuflar, impedi-lo de ser capaz de voar perto.
— Ele conhece a área em que estamos. Um feitiço de
camuflagem não ajudará muito.
— Nós vamos fazer isso de qualquer maneira, — disse Alistair.
— Esta é a nossa casa. Não vou deixá-lo destruir aqui como destruiu
nossa última casa. Não quero que ele consiga se esgueirar sobre nós
nunca mais. Se alguém estiver caminhando pela propriedade, não quero
que seja capaz de nos ver. Não me importo o quão bem a magia
funciona. Não o deixarei voar sobre nós e espionar-nos.
— E como você espera que nós possamos manter um feitiço
assim? — Yuki perguntou. — Você tem alguma ideia de quanta energia
vai levar? Mesmo com nós seis, isso irá nos drenar. Não somos
feiticeiros.
Kevin era um feiticeiro.
— Posso ajudá-lo a fazer isso?
Todo mundo olhou para ele, como se de repente lembrassem
que ele estava lá. Kevin não tinha certeza de quanto gostava da ideia de
ser esquecido, mas estava disposto a superar isso. Um pouco.
— Querido, está tudo bem. Você já fez o suficiente.
— Quero fazer mais. — Kevin estava pingando agora da neve
que tinha derretido em sua pele e corpo, mas olhou para Alistair,
determinado. — Se posso fazer as coisas de que você está falando,
então me ensine como fazê-las. Quero aprender. Quero saber como
cuidar de você e de todos os outros. Eu tenho pais! Não quero Keaton os
rastreando através de mim e descobrindo onde eles moram!
Parecia estranho, de repente, que Kevin estava apenas agora
percebendo que não tinha ligado para dizer que tinha um novo
namorado. Bem, companheiro, mas pensou que seus pais não iriam
entender isso, não sem uma explicação enorme.
Se ele ligasse, Keaton seria capaz de rastrear o telefonema?
Isso parecia ser uma coisa importante para saber naquele momento.
— Quero ajudar. Por favor, deixe-me ajudar!
Kevin não estava disposto a aceitar um não por resposta.

Capítulo Dez

Kevin não fazia ideia de como fazer esse estranho poder


funcionar, mas desde que Alistair estivesse junto com ele, ensinando-o e
ajudando a controlá-lo, e até mesmo sobre os outros poderes que tinha,
não se importava de continuar.
Mas por enquanto.
A primeira coisa que Kevin precisava fazer era ir para casa.
Alistair tinha entrado em algum modo alfa de proteção depois de
finalmente concordar em permitir que Kevin tentasse usar qualquer
poder que tinha, mas só depois que Kevin tirasse suas roupas molhadas
e tomasse um banho quente e depois dormisse um pouco em sua cama.
Era estranho, mas, ao mesmo tempo, se sentiu um pouco bem.
Agora que Kevin estava a salvo, tinha que admitir que havia algo de bom
no fato de que tinha alguém ao redor que se preocupava com ele e era
muito protetor.
Bem, Kevin achou que iria ficar irritado com isso, mas estava
feliz em saber que seu companheiro amava cuidar dele.
O que foi ótimo porque Kevin acabou ficando na cama o dia
todo, quando ficou claro, a partir do centésimo espirro, que a súbita
onda de frio em seu corpo lhe tinha causado um verdadeiro resfriado.
Kevin teve outro show de amor e devoção de Alistair naquele
momento. Assistiu enquanto seu companheiro se apressava, em trazer
sopa quente e bebidas ainda mais quentes com gengibre e limão neles.
Kevin jurou que Alistair poderia ter pensado que Kevin estava
morrendo com a maneira como estava cuidando dele. Kevin literalmente
conseguiu tudo o que pediu. Se Kevin pedisse um telefone para que
pudesse ligar para seus pais, então conseguiu, independentemente de
como Alistair estava preocupado com os telefonemas. Se estava cansado
e queria dormir, ele conseguia. Se queria dormir enquanto segurava a
mão de Alistair, conseguia isso também.
Sim, era infantil, mas Kevin quase tinha sido morto, e imaginou
que estaria se sentindo despreocupado por pouco tempo. Ele não se
sentia seguro quando Alistair não estava por perto, e isso era um novo
hábito que teria de aprender, se fosse viver entre essas pessoas.
Cavaleiros imortais com poderes para se transformar em
animais e, em alguns casos, controlar os elementos ao seu redor.
Kevin sonhou com o fogo novamente. Queria que isso parasse.
Não gostava de sonhar com o fogo, e só queria que a maldita coisa fosse
embora. Não queria vê-lo, ouvir aqueles gritos ou sentir a dor.
O problema era como ficava preso em seu próprio pesadelo
sempre que sonhava com essas coisas. O fogo. Os golpes nas portas
enquanto os dois homens os trancavam dentro e os outros tentavam sair
enquanto Kevin estava no chão sufocando até a morte enquanto
queimava, enquanto tentava desesperadamente sair do feitiço que não
só salvaria sua vida, mas salvaria a vida de...
Kevin sugou um duro suspiro.
Isto não era um sonho, e não se sentia como uma visão. O calor
era brutal em sua intensidade, e os sons de gritos, de choros de crianças
e bebês eram suficientemente próximos para que aqueles ruídos
pudessem estar ao lado dos ouvidos de Kevin. De alguma forma, aqueles
sons pareciam mais ruidosos do que o fogo propriamente dito.
E Kevin podia ouvir as palavras que cantava. Não era um feitiço.
Ele não estava chamando os deuses ou cantando em alguma língua
estranha.
Estava implorando, no entanto. Sua voz soava como se
houvesse um pequeno eco ao redor dele, sugerindo que havia algo
especial nessas palavras, algo que tinha um tipo de magia dentro delas.
— Nós vamos voltar. Nós vamos voltar. Por favor, nos faça
voltar. Encontre-os novamente. Encontre-os novamente.
Kevin disse essas coisas uma e outra vez, palavras saindo
através dos soluços enquanto apertava seu estômago e assistia
enquanto suas amigas sucumbiam ao calor e a fumaça caindo enquanto
o fogo as consumia.
Kevin gritou mais alto, gritando suas palavras enquanto a dor
tornava-se demasiado, muito quente para lidar, mesmo que estava
tentando salvar a si mesmo e seu filho, e gritou até que a inalação de
fumaça em sua garganta queimou finalmente o fazendo desmaiar.
Era isso. Ele estava morto.
Kevin sugou uma respiração profunda enquanto levantava da
cama, o corpo molhado de suor e os lençóis em volta dele, tão úmidos.
Ofegou pesadamente, olhando ao redor do grande quarto e certificando-
se de que não havia nenhum sinal de fogo em qualquer lugar ao seu
redor.
Kevin empurrou-se para fora da cama, os lençóis esfriando
agora de todo o suor. Não conseguia fazer as pernas trabalharem,
enquanto tropeçava de joelhos.
Kevin continuou a respirar, segurando as mãos no chão de
madeira, olhando para seus dedos enquanto lutava em busca de
equilíbrio.
Outro sonho, mas não, isso não tinha sido um sonho. Tinha sido
o mais perto de uma memória real que poderia obter.
Não se via como Kinsey naquele tempo, mas tinha estado em
seu próprio corpo enquanto tinha queimado.
Oh Deus, o cheiro ainda estava no nariz. Carne e cabelo...
queimado.
Não vomite. Vamos, não vomite.
Kevin conseguiu controlar a si mesmo, lentamente sentando-se
sobre seus tornozelos enquanto apenas focava na respiração.
Abriu os olhos, olhando ao redor do quarto, sem marcas de fogo
e totalmente seguro.
Não houve feitiço. Isso era inesperado para dizer o mínimo, e
Kevin teve que focar realmente nisso. De acordo com Yuki e Alistair,
feitiços oficiais existiam. Inferno, até mesmo Keaton parecia pensar que
Kevin tinha trazido de volta à vida rezando a um Deus de algum tipo.
Ninguém tinha a força ou a vontade para lançar um feitiço
complicado enquanto estava queimando vivo e sufocando até a morte.
Então, Kevin estava fazendo a única coisa que podia fazer
naquela época, soltar as palavras, implorar a qualquer pessoa e qualquer
coisa que pudesse ouvir, gritando com toda a magia em seu corpo,
enviando-a para o éter4 e esperando que houvesse uma reação.
Tinha conseguido seu desejo. Ele voltou. Em um corpo
diferente, mas Kevin estava bem com isso. Era um homem, e se sentia
como um homem, mas agora que sabia o que estava carregando...
Quando tinha sido Kinsey, Kevin não estava apenas implorando
por sua própria vida ou pela vida de seus amigos. Estava implorando
pela vida de seus filhos, os bebês que já tinham nascido e os que ainda
iriam vir.
Kinsey estava grávida do primeiro filho de Alistair quando o fogo
a queimou, e agora que Kevin era um homem, renascido com o corpo de
um homem, não havia maneira de haver uma criança para eles.
Kevin teve dificuldade em respirar novamente. Seus olhos
arderam e encheram de lágrimas e não conseguia parar a reação.
Deus, passou toda a sua vida sem saber que algo estava
faltando até agora, sem saber que deveria ser pai.
Agora que sabia disso, sentiu a perda. Kevin lembrou-se da
barriga inchada, da esperança em ter uma criança e como seu filho ou
filha poderia parecer, chorou pela morte.
Um barulho oco e choroso deixou sua garganta. Kevin não
conseguiu segurá-lo quando chamou por Alistair, precisando dele, onde
quer que estivesse.
Parecia que seu companheiro não estava tão distante, porque
no instante em que Kevin chamou, ouviu o ruído de passos em frente à
porta.

4-As regiões do espaço além da atmosfera terrestre; os céus. Civilizações antigas e medievais que ocupavam o espaço acima da
esfera da lua e compunham as estrelas e planetas.
A porta foi aberta com um estrondo. Alistair quase deixou cair a
bandeja de comida em suas mãos quando viu Kevin no chão e mal
parecia lembrar de colocá-lo na cama antes de ficar de joelhos ao lado
de Kevin.
— Vou parar de sair do quarto se você continuar acordando
antes de eu voltar.
— É verdade? — Kevin engasgou com as palavras. Ele não podia
evitar. Era muito para lidar com isso. A dor latejava em seu peito, e doía
tão fodidamente que mal podia respirar.
Alistair piscou, como se não entendesse o que isso poderia
significar.
— O que é verdade?
— Eu estava grávida? Naquela época. Quando o fogo começou.
Kevin mal podia falar sobre isso. Sentiu como se um membro
tivesse acabado de ser arrancado. Agora que sabia disso, que sentia a
perda, a intensidade foi surpreendente e fez o seu coração vibrar
dolorosamente.
Sua barriga não tinha estado tão grande, em sua vida passada
quando tinha sido mulher, mas agora mais lembranças estavam
voltando, e podia se lembrar explicitamente de estar animada, tricotando
um cobertor de bebê, e conseguindo um berço feito por Alistair.
A expressão de Alistair suavizou, e Kevin soube que ele estava
certo. Isso não estava apenas em sua cabeça. Isso realmente aconteceu,
e agora estava sentado aqui, no chão, sentindo-se tão completamente e
totalmente vazio que não tinha ideia do que deveria fazer sobre isso.
— Venha aqui, querido. — Alistair passou os braços em volta
dos ombros de Kevin, abraçando-o com força, segurando-o perto e
balançando-o, pois a dor era demais. Kevin chorou. Realmente chorou, e
não conseguia se conter, apesar de se sentir meio estúpido por fazê-lo.
Ele era um homem, não era como se tivesse perdido um bebê
nesta vida. Isso era impossível, mas sentiu mesmo assim. Ele não
conseguia se livrar desse sentimento. Algo havia morrido dentro dele.
Alistair o silenciou, falando suavemente, deixou Kevin chorar
tudo que precisava, e não o julgou por ser tão emocional.
Eles ficaram assim por alguns minutos, mesmo por muito tempo
depois que Kevin terminou de chorar, Alistair o deixou sentado em seu
colo, acariciando suas costas suavemente e seu cabelo e o beijando.
— Você está se sentindo bem para comer?
Kevin estava morrendo de fome, mas balançou a cabeça.
— Não, desculpe. Não quis fazer você passar por todo esse
problema.
Alistair riu.
— Não é problema nenhum. — Ele acariciou com as mãos o
cabelo de Kevin novamente. — Tem certeza de que está bem?
Kevin balançou a cabeça antes de assentir.
— Eu só não posso acreditar que tinha me esquecido sobre isso.
Agora que me lembro, parece uma coisa terrível esquecer.
— Você fez o seu melhor para voltar para mim. Isso é tudo que
me importa.
Mas isso deixou Kevin com um novo conjunto de preocupações.
Ainda estava se acostumando com o fato de que Alistair estava bem com
o retorno de seu companheiro como homem, mas parecia
completamente diferente agora que Kevin percebeu que nunca seria
capaz de lhe dar filhos.
Alistair tinha milhares de anos. Já era mais velho quando Kevin
o conheceu em sua vida anterior, e pessoas com valores mais antigos
não iriam querer filhos? Isso não era importante para eles?
O fato de que Kevin nunca seria capaz de dar a Alistair as
crianças que poderia querer, crianças que definitivamente merecia, sua
adoeceu a mente de Kevin.
Alistair beijou a mandíbula de Kevin, sacudindo a cabeça.
— Seus pensamentos são altos. Quantas vezes tenho de lhe
dizer que você é meu?
Os olhos de Kevin arregalaram quando olhou para seu
companheiro.
— Como diabos você está fazendo isso?
— Fazendo o que?
— Lendo minha mente assim! — Era meio estranho, e Kevin não
podia decidir se era assustador ou não, mas de qualquer forma, era
perturbador.
— Não estou lendo sua mente. — Alistair passou os dedos pelos
cabelos de Kevin. — Nem um pouco. Isso está escrito em todo o seu
rosto. Posso dizer do que tem medo, e isso não me incomoda.
— Como isso não pode incomodá-lo!
Kevin estava enlouquecendo. Ia ter um ataque de pânico, e aqui
estava seu companheiro, fingindo que estava tudo bem.
Kevin continuou gritando. Não queria, mas tampouco conseguia
evitar.
— Está me incomodando! Acabei de descobrir sobre isso, e está
me incomodando tanto que mal posso suportar! Meu peito dói por causa
disso! Sinto que alguém que amei acabou de morrer!
Alguém que amava havia morrido. Aconteceu há muito tempo
atrás, e só agora conseguiu chorar.
— Kevin.
Kevin parou seu discurso, apenas sendo capaz de relaxar e de
respirar quando Alistair pegou sua mão e segurou firme. A expressão em
seu rosto forte era de calma. Kevin podia afundar naquele olhar e ser
completamente e totalmente arrebatado, e não se importaria com nada.
— Ouça-me e ouça com atenção.
Kevin assentiu com a cabeça.
— Ok.
Alistair sorriu para ele, mas não atingiu exatamente seus olhos.
— Eu estava reagindo quase da mesma forma que você está
agora depois que o fogo foi finalmente apagado. Demorou dias, mesmo
com o poder de Yuki, e poderia ter levado mais tempo para apagar o
óleo e o álcool em chamas se não tivesse chovido, mas eu estava como
você. Todos nós estávamos. Frenéticos, morrendo um pouco por dentro,
porque sabíamos que não havia chance para sobreviventes, sem
esperança. Tinha arruinado minhas mãos tentando remover você no
castelo em fogo e tive que ser arrastado para longe. Quando o fogo foi
finalmente apagado, não queria mais remover porque sabia o que iria
encontrar não se pareceria com você em tudo. Seria o seu resto
carbonizado, e eu era um covarde. Não queria vê-la assim. Já era ruim o
suficiente, saber que você estava lá dentro, que você e a criança
estavam perdidos para mim, mas não tive coragem de procurar por
você.
Alistair abaixou o olhar, como se tivesse vergonha da memória.
— Nenhum de nós. Nós esperamos por semanas, usando a
desculpa de que estávamos apenas esperando cada brasa queimar antes
de começar a remover. Estávamos desesperados e impotentes porque
sabíamos o que encontraríamos. Nossas companheiras e nossos filhos,
mortos.
A respiração de Kevin ficou presa em sua garganta. Ele engoliu
em seco.
— Você... você não deveria se sentir mal por isso. Também não
gostaria de fazer isso.
Alistair sorriu ironicamente desta vez.
— A diferença é que sou um guerreiro. Fui criado para enfrentar
meus medos a todo custo, para proteger a vida, não importando o que
estivesse em jogo, mas nunca soube que covarde eu poderia ser, que
hipócrita, até que perdi as coisas que me faziam querer sorrir diante a
morte.
Kevin ouviu, tranquilizado, sentindo como se ele quase
conseguisse ver aquela versão de homem tão forte, maior do que a vida,
e quando Alistair encontrou seus olhos, Kevin sabia que seu
companheiro significava tudo para ele.
— Keaton matou nossas companheiras e filhos para que
pudéssemos conhecer a dor da perda, então também conheceríamos o
desejo profundo e aquecido da vingança. Todo homem que capturamos
implorou para morrer. Já te disse isso, sim?
Kevin assentiu com a cabeça.
— Sim.
Ele teve que desviar o olhar por um breve segundo, mas só
porque tudo parecia tão horrível.
Alistair franziu o cenho.
— Sei que disse a você, mas quero que você realmente pense
sobre o que isso significa. Torturei-os. Todos nós fizemos. Os nossos
guardas, nós confiamos neles como amigos, permitindo-os em nossas
casas. Aqueles que não nos traíram também foram assassinados, quer
durante a luta para assumir o castelo ou no fogo. Eram bruxas, criaturas
escuras que Keaton criou. Quando meus irmãos e eu estávamos
finalmente livres de seus feitiços, conseguimos sentir o que estava
errado naquele tempo todo. Mal conhecíamos aqueles homens, e mesmo
assim eles nos convenceram de que éramos amigos há muito tempo.
Eles nos enganaram, e eu tive o prazer de matá-los. Tive um prazer
ainda maior em torturá-los. Não fui criado para isso, e ainda assim foi o
que fiz. Recusei a Keaton aquela vingança que ele queria, mas quando
fui eu, quando era minha companheira e meu filho que tinha sido morto,
não pensei duas vezes e não hesitei.
— Desde então, não tenho feito um bom trabalho protegendo os
humanos das bruxas. Nenhum de nós tem. Se algum dia nos
deparássemos com uma bruxa por acaso, tínhamos a certeza de matá-
la, mas acabávamos por voltar atrás em nosso propósito maior. É por
isso que os seres humanos hoje não conhecem os feiticeiros e shifters.
Eles foram praticamente destruídos pelas criações de Keaton.
Alistair abaixou a cabeça.
— Às vezes acho que ele foi tão longe de propósito. Outras
vezes, creio que ele se afastou dele, que não pretendia ir tão longe, mas
não importa suas intenções, não posso perdoá-lo, mas também não
posso julgá-lo muito duramente porque não sou melhor do que ele. Isso
é o que tenho carregado comigo desde o dia em que você foi tirado de
mim, desde o dia em que a criança foi tirada de mim, então sei a sua
dor, mas você deve saber que é melhor assim. Eu não deveria ter filhos.
Não gostaria de passar meu poder, e meu ódio, para eles.
Kevin engoliu em seco. Percebeu que Alistair estava esperando
que ele falasse, mas o que deveria dizer depois de tudo isso?
Ficou calado por um momento enquanto pensava nisso, mas
então, do nada, a resposta veio para ele, e Kevin sabia exatamente o
que deveria dizer enquanto agarrava a camisa de Alistair com dois
punhos, puxando o homem para baixo com força, então seus narizes
estavam quase tocando.
— Você não é nada como ele é!
Os olhos de Alistair arregalaram.
Ele tinha surpreendido o outro homem. Bom. Era exatamente
isso que Kevin queria.
— Você me escute e escuta bem! Você não é igual a Keaton. Ele
colocou uma faca na minha garganta! Você nunca faria isso. Ele me
matou em uma vida anterior. Matou o garoto que íamos ter. Você nunca
teria feito isso. Não me importo com o que você fez com aqueles homens
que me machucaram ou aos nossos amigos. Eu também teria feito isso.
Alistair balançou a cabeça, mas Kevin ia ser condenado antes de
deixar Alistair negar isso.
— Não! Estou certo sobre isso. Quem quer queimar pessoas
inocentes e crianças vivas merece morrer! Não tenho vergonha de dizer
isso, e você não é uma pessoa má por querer matá-los ou por se
esconder todos esses anos. Nenhum de vocês é! Nem mesmo Yuki, que
tenho certeza que ainda me odeia.
Alistair sorriu.
— Ele não odeia você. Ele não desconfia de você, depois que
Keaton veio aqui. Ele está convencido de que você é quem disse que é.
— Bem, ótimo. Tudo bem, — disse Kevin. — Eu só... queria que
você soubesse disso. Você não é uma pessoa má. Não para mim, e
provavelmente não para qualquer deus morto que te fez. Agora que
estou de volta, pode começar a cumprir o seu propósito se é isso que
você realmente quer, também.
— Meu propósito?
Kevin assentiu com a cabeça.
— Sair e proteger os inocentes. Você disse que ainda havia
shifters e feiticeiros lá fora sendo feridos pelas coisas que Keaton fez.
Então os encontre e os detenha. Faça isso por mim e compense pelo que
fez. Embora, deva saber, depois que eu disse tudo isso, não acho que
você tenha algo para compensar.
Alistair rapidamente tomou Kevin pela nuca e o puxou para
frente em um grande beijo.
Kevin sugou para trás uma respiração profunda quando seus
lábios se conectaram, mas o calor de seu companheiro, o desespero,
desejos e luxúria se sentiram pulsando através do outro homem e dentro
do corpo de Kevin tornando mais fácil beijá-lo de volta.

Capítulo Onze

Kevin derreteu. Ele não podia evitar. Parecia uma reação natural
quando Alistair o tocava, e muito mais quando o beijava.
Porque seus beijos eram como uma grande cerveja, intoxicante
e totalmente viciante, deixando Kevin querendo mais.
Ele queria mais, não só porque era bom beijar e ser beijado por
esse homem, mas também porque Kevin podia sentir o quanto seu
companheiro precisava disso também. Alistair mostrou seu outro lado
para Kevin. Dizer a Kevin todas aquelas coisas tinha exposto como frágil
tinha sido durante todos esses anos.
Foi quase um alívio. Kevin não queria que seu companheiro se
machucasse, permanecesse sofrendo porque Kevin não estivera lá, mas
saber que Alistair poderia ser um homem normal como qualquer outra
pessoa.
Pelo menos isso era algo que ele poderia ajudar ao seu
companheiro. Era algo que Kevin poderia fazer pelo homem que amava.
Puxou gentilmente as roupas de Alistair, inclinando-se para trás
até que seu companheiro estivesse em cima dele.
— Nós podemos fazer isso na cama, você sabe, — Alistair disse,
sua voz era um pequeno ronronar.
Agora que Kevin tinha visto seu companheiro naquela forma de
leão, o som de seu ronrono o fez estremecer.
— Eu sei que podemos, mas então vamos derrubar a comida
que você trouxe.
Alistair olhou de volta para a cama, em seguida, para Kevin, sua
expressão endurecida como se estivesse chegando a uma decisão.
— Tudo bem, sexo primeiro e depois comida. Você precisa de
vitaminas e proteínas.
Kevin suspirou.
— Parece bom para mim.
Ele estendeu a mão, para o cinto e a calça de Alistair. Não
precisava deixá-lo totalmente nu para isso. Só precisava baixar a calça,
então era tudo o que Kevin estava fazendo naquele momento.
Alistair teve a ideia rapidamente, embora parecesse um pouco
mais determinado a deixar Kevin nu. O fato de que Kevin estava apenas
com um shorts longo e uma camiseta lisa provavelmente tinha algo a
ver com isso, embora Kevin soltou um barulho chocado quando Alistair
não se incomodou em tirá-los. Em vez disso, os rasgou, em pedaços.
— Alistair!
— Vou comprar alguns novos, — Alistair prometeu.
Na verdade, Kevin não estava tão ofendido, mais chocado do
que qualquer coisa, e além disso, Alistair tinha comprado essas roupas
para começar, então não parecia uma coisa muito grande que ele
também iria rasgá-los.
Especialmente quando suas bocas se juntaram novamente,
quente e sensual. Kevin gemeu quando foi beijado, enquanto as mãos de
Alistair acariciavam seu lado e sua cintura. Alistair estava sendo muito
mais gentil com Kevin desta vez. Provavelmente por causa de todas as
marcas de amor que deixara antes. Muitas e, eventualmente, começou a
parecer como péssimos hematomas.
Kevin gostava disso. Gostava que Alistair estivesse sendo tão
firme com ele e, no entanto, levando-o com calma. A ideia de que estava
sendo muito estimado era suficiente para fazer o interior do peito de
Kevin doer, e agarrou Alistair mais apertado.
— Apresse-se, — ele implorou. — Quero você dentro de mim.
Alistair não respondeu, não com palavras de qualquer maneira,
mas Kevin pegou a mensagem, alto e claro quando Alistair beijou o peito
e o estômago de Kevin. Deu um breve deleite ao pau de Kevin,
lambendo-o em torno da cabeça e acariciando-o na base antes de sua
boca encontrar os testículos de Kevin brincando e os sugando por um
tempo.
Alistair alcançou debaixo do colchão da cama onde guardava um
pouco do óleo que gostava de usar em Kevin.
— Vou colocar suas pernas em meus ombros.
Kevin assentiu com a cabeça.
— B-bom. — Ele queria ser tomado. Queria sentir esse grande
homem reivindicando-o de todas as maneiras que podia. Estar à mercê
de Alistair assim... nada soava melhor.
Alistair assentiu com a cabeça, lambendo dois de seus dedos
antes de circundá-los em torno do ânus de Kevin.
Kevin apertou-se instintivamente, e suas unhas arranharam o
tapete debaixo dele, mas Alistair riu.
— Você sempre faz isso.
— É uma força de hábito — disse Kevin.
Alistair sacudiu a cabeça, abrindo o frasco de óleo com os
dentes antes de cuspir a rolha.
— Não se preocupe. Gosto disso.
Kevin exalou uma respiração aguda, quase dolorosa. Ok, ele
estava errado. Havia outra coisa que podia fazer seu coração doer e isso
era ouvir o quanto Alistair o amava e o queria, o quanto gostava de
todas as pequenas coisas que Kevin fazia com as quais Carl às vezes se
sentia frustrado.
Kevin sorriu para seu companheiro.
— Eu te amo.
Alistair fez uma pausa, olhando Kevin nos olhos antes que sua
expressão se suavizasse.
— Eu também te amo. Muito.
Ele disse quase como se fosse um pequeno gemido antes de se
inclinar e esmagar a boca na de Kevin mais uma vez. Ao fazê-lo,
empurrou os dedos para frente tão inesperadamente que Kevin grunhiu,
apertando novamente em torno da intrusão súbita.
Kevin rapidamente relaxou. Sempre fazia isso quando Alistair
usava esse óleo. Kevin não tinha ideia do que era, talvez alguma coisa
imortal dos deuses de que Alistair sempre falava, mas facilitava a
penetração e fazia o interior do corpo liso e aquecido, pronto para
Alistair estar dentro dele.
— Depressa, depressa — pediu Kevin.
Aqueles dedos alcançaram profundamente dentro dele, mas
Deus, era como se Alistair estivesse deliberadamente não tocando sua
próstata, tocando ao redor dela, provocando-a sem realmente acariciá-
la.
— Levante as pernas.
Oh sim. Kevin quase se esqueceu disso. Levantou os joelhos,
mas ainda precisava da ajuda de Alistair para colocar seus joelhos sobre
os ombros do outro homem.
Era uma posição embaraçosa e vulnerável. Kevin engoliu em
seco, sentindo-se mais exposto do que quando tinha rasgado suas
roupas.
Não importava. Kevin se colocaria de bom grado nessa posição
mil vezes se fosse o que seu companheiro queria.
Kevin confiava nele completamente.
— Estou tão feliz por ter te encontrado de novo. — Kevin nem
sequer estava olhando. Essa era a coisa assustadora.
Alistair sorriu suavemente para ele.
— Sim, eu também.
O primeiro impulso tinha aquela resistência inicial que Kevin
esperava. Estava sempre lá, não importava quem era seu parceiro, mas
com Alistair era diferente. O corpo de Kevin parecia relaxar muito mais
rápido. Aceitava a intrusão, embora ainda queimasse até certo ponto,
mas a forma como o fazia sentir-se era bem melhor, e Kevin era capaz
de apreciá-lo muito mais quando seu corpo parou de tentar
instintivamente empurrar seu companheiro para fora.
Eles suspiraram, aparentemente ao mesmo tempo. Kevin riu um
pouco quando Alistair colocou os antebraços no tapete ao lado da cabeça
de Kevin.
— Você está dobrando-me ao meio.
Os quadris de Alistair já haviam começado a mover-se, fazendo
com que Kevin empurrasse para frente.
— É demais?
Kevin balançou a cabeça.
— Nem sequer perto. — Ele apertou os olhos fechados quando a
cabeça do pau de Alistair cutucou a próstata de Kevin.
Kevin ficou tenso, apertando os dentes, e envolveu os braços ao
redor de Alistair o mais forte que podia.
Ele iria afundar na pele do homem e ficar lá para o resto de
suas vidas, se pudesse porque nunca iria querer se separar dele.
Kevin ouvia atentamente a cada grunhido de prazer, os ruídos
que seus corpos faziam quando Alistair empurrava dentro e fora dele. O
deslizamento para frente e para trás, a corrida do prazer e a maneira
como o pênis de Kevin estava preso entre seus corpos, recebendo um
atrito por si próprio enquanto Alistair se movia, era demais. Era muito
bom, e Kevin já sentia atingindo o pico.
— Eu vou gozar.
Queria durar mais tempo. Era humilhante que não pudesse.
Alistair ofegou para respirar, o calor de cada inalação e exalação
sobre o corpo de Kevin.
— Faça isso, querido, goze para mim.
— Mas...
— Quero isso.
Bem, se ele estava insistindo, então Kevin não poderia negá-lo,
não é?
Alcançou seu pênis. Não havia muito espaço entre o estômago
dele e Alistair, mas Kevin conseguiu apertar sua mão lá dentro. Pré-
sêmen tinha gotejado no estômago de Kevin, e cerrou os dentes com
força quando usou-o como lubrificante para seu pênis, acariciando-o
lentamente, mas seu aperto era forte.
Não conseguiria reter seu prazer mesmo que Kevin tentasse
isso.
— Foda-me mais, — ele implorou. — Preciso disso. Preciso mais
duro.
— Você quer meu pau empurrando dentro de você mais
duramente?
Kevin assentiu com a cabeça.
— Mais rápido?
Kevin gemeu.
— Sim! Sim, depressa!
Ele não queria gozar até Alistair estar fodendo-o duro o
suficiente que teria uma queimadura em suas costas do tapete.
Felizmente, Alistair não o provocou depois disso. Apenas fez
como Kevin implorou para ele e bateu seus quadris para frente
duramente, rápido, rápido o suficiente para que Kevin se sentisse sendo
fodido no chão, e não se importava. Lidaria com o tapete queimando
suas costas mais tarde e esperava que não ficasse tão ruim. Por
enquanto, só queria mais disto.
Kevin apertou suas coxas o suficiente para que Alistair tivesse
que segurar firmemente seus tornozelos, e quando gozou, seus
testículos liberaram todo o prazer reprimido que havia dentro de si, não
havia nada que pudesse segurá-lo e era um alívio poder deixá-lo ir.
Kevin ofegou para respirar enquanto aquela corrida forçava seu
caminho através dele e depois para fora dele. Caiu no chão, totalmente
relaxado e suado, embora ainda muito consciente da maneira como
Alistair estava se movendo dentro dele, da forma como seu companheiro
apertou os olhos fechados e gemeu antes de gozar dentro do corpo de
Kevin.
Ele suspirou. Era isso que queria. Isso era exatamente o que
precisava, mas algo estava faltando.
Alistair deixou as pernas de Kevin deslizar para fora de seus
ombros antes de inclinar-se, pressionando seus lábios à boca de Kevin,
reivindicando-o em um beijo doce.
Oh sim, isso era o que estava faltando. Kevin tomou o rosto de
Alistair, segurando o outro homem, enquanto estava tão lindamente
sendo beijado. Nunca queria deixá-lo ir.
Keaton voltou para casa e imediatamente bateu a porta o
suficiente para que a quebrasse de suas dobradiças. Sombra correu para
se esconder quando Keaton perdeu sua mente maldita quebrando a
porta e caminhando através da madeira e metal. Esmagar isso não
ajudou. Isso só o deixou ainda mais irritado.
Ela estava de volta. Aquela vadia tinha voltado. Bem, ela não
era mais ela, mas não importava. Os olhos eram os mesmos. Keaton
tinha escapado da prisão que seus irmãos criaram para ele muito antes
dela chegar, mas sabia que era ela. Sabia por que Keaton tinha sido um
dos guardas do castelo. Um simples feitiço tinha sido tudo que precisava
para se disfarçar, e tinha falado com ela uma ou duas vezes antes.
Lamentou ter que matá-la. Ela tinha sido gentil, tinha dito
coisas boas sobre ele e até mesmo tentou oferecer-lhe doces da cozinha,
acreditando que seu estado de ânimo constante era um produto da
pobreza da aldeia local.
Mas cometeu o erro de se acasalar com seu irmão. Qualquer um
que concordasse com aquele pedaço de merda, com o que os irmãos de
Keaton tinham feito a ele, era tão mau quanto eles, e merecia seu
destino.
Não. Keaton tinha odiado ver a felicidade que seus irmãos
tinham, mas a ele tinha sido negado.
Isso era diferente agora. Ele a matou, para provar um ponto
para seus irmãos, para provar que ele não era o monstro que pensavam
que era, simplesmente porque queria vingança. O processo de
pensamento não tinha sentido, mas para um homem com tanta
escuridão em sua alma, tinha feito sentido.
Keaton apanhou os últimos dois pedaços maiores da porta e
bateu-lhes com força suficiente no chão que as extremidades
perfurantes presas na madeira a mantiveram no lugar, como se ele as
tivesse colocado lá como estavas.
Keaton caminhou através de sua casa. Ele a tinha roubado de
alguma família rica da cidade, mas eles ainda não sabiam que ele a tinha
roubado, nem eram prováveis descobrir se o feitiço que Keaton usava
sobre eles continuasse a funcionar.
Sério. Era um feitiço muito fácil. Keaton simplesmente fez o pai
da família acreditar que ele e sua esposa haviam contratado Keaton
como caseiro, para manter as pragas e outros invasores longe. Às vezes,
mandavam-lhe cheques pelo trabalho que fazia, e sempre que o pai dizia
que estaria chegando com sua família, e que Keaton deveria encontrar
outro lugar para viver por algumas semanas, outro feitiço simples
dispersava essa vontade. Keaton só tinha que fazer isso duas ou três
vezes por ano, durante os meses de férias de verão, inverno e
primavera, por isso não era muito incômodo, e Keaton tinha esta casa de
campo só para si.
Agora ia ter que fechar aquela maldita porta.
Ele ligaria para um reparador e imploraria para consertar e teria
que pagar pelos reparos quando, na realidade, não o tinha feito.
Keaton tirou uma cerveja da geladeira, abriu a tampa com um
pequeno assobio e bebeu da garrafa enquanto se apoiava no balcão de
mármore.
Kinsey era um homem agora, mas devia saber como trazer
Golda de volta. Ele estava no meio de fazê-lo quando explodiu em
chamas.
Ou tinha sido tudo isso um truque?
As marcas das malditas garras de Alistair machucaram muito.
Elas queimavam e latejavam calorosamente em seus lados, mas ignorou
isso. O calor o deixou um pouco menos furioso com o mundo, e era a
única coisa que Keaton queria agora.
Ele não se importaria se seu cão se apresentasse e talvez
dissesse olá, como o melhor amigo de um homem era destinado a fazer,
mas o animal traidor estava fora mijando o mais provável.
Keaton realmente deveria se livrar da besta. Era uma criatura
inútil.
Além disso, agora que tinha algo novo em que pensar. Os
últimos cem anos tinham sido chatos, mas isso poderia animar as coisas
um pouco.
Keaton precisava de papel. Ele só conseguia trabalhar quando
algo estava escrito, e precisava fazer planos, descobrir como se fechar
naquela casa. Seus irmãos estariam preparando feitiços para ocultar sua
localização, mas mesmo que Keaton não pudesse vê-los fisicamente, e
pudesse ficar confuso se chegasse perto demais, ainda conhecia a
localização geral.
Keaton entrou no escritório. Havia papel que poderia usar lá e
um número de canetas diferentes.
Ele se sentou na mesa e começou a escrever o que sabia e o
que queria ser feito.
Kinsey estava de volta. Não importava que ela fosse agora um
homem. O ponto era ela estava de volta, e este jovem poderia ser usado
para trazer de volta a Golda. Ele podia até ter o poder de fazê-lo agora.
Keaton cerrou os dentes. Seus irmãos não iriam esconder algo
de tal importância dele. Seriam tão cruéis. Eles iriam impedi-lo de obter
Golda de volta depois de todo esse tempo.
Keaton sacudiu a cabeça. Continuou escrevendo tudo o que
sabia, tudo o que queria e o que poderia fazer para encontrar aquele
jovem e tirá-lo da casa.
Ele tinha que ter sobrevivido ao fogo. Yuki tinha vindo ajudar, e
era apenas um fogo minúsculo, realmente. Só tinha cercado o corpo do
outro homem.
Talvez isso fosse resultado do modo como ele havia morrido em
sua vida anterior? Morte por fogo em uma vida, então ele tinha
desenvolvido uma habilidade para se defender do fogo? Esses gritos
pareciam mais de pânico do que dor, e Keaton sabia a diferença.
Ele circundou essa teoria muitas vezes. Keaton teria que cuidar
do fogo, especialmente se o pequeno idiota não soubesse como controlá-
lo.
Keaton precisava levá-lo. Keaton iria forçá-lo a trazer Golda de
volta com a ameaça de morte se tivesse que fazer, só que desta vez,
Alistair não estaria lá para salvá-lo se as coisas dessem erradas.
Keaton ofegou por causa da dor de suas feridas quando
terminou. Seu plano era uma merda, e não era suficiente, mas estava lá.
A primeira coisa que precisava fazer era convocar as bruxas e
enviá-las para aquela casa. Ele não as usava há anos. Elas ainda
obedeceriam a ele?
Keaton bateu a caneta contra sua boca.
Coisas estranhas aconteciam ao seu redor o tempo todo. Ele
estava acostumado com isso, mas como diabos Kinsey conseguiu trazer
a criança de volta em um corpo que era do sexo masculino?
Capítulo Doze

Alistair não percebeu imediatamente, e vendo seu companheiro,


podia sentir que nem mesmo Kevin.
Kevin não podia senti-lo. Não da maneira como Alistair podia
senti-lo, mas estava lá, crescendo dentro dele, ganhando força a cada
dia, e, com um batimento cardíaco real.
Alistair não disse ao seu companheiro estas coisas
imediatamente. Kevin tinha tanta coisa para pensar, tanta coisa para
fazer, e Alistair não queria perturbar o homem quando ainda estava
contando a sua mãe pelo computador, que ele tinha conhecido alguém.
Kevin ainda estava lutando para sair da apresentação de
Alistair.
— Ela sempre quer conhecer meus namorados, mas nunca os
apresento imediatamente. Não queria que eles fugissem depois de
conhecer meus pais e pensar que eu queria um compromisso sério.
Kevin disse com um sorriso tão despreocupado em seu rosto
que era impossível para Alistair ter ciúmes de quaisquer amantes
anteriores que seu companheiro tivesse. Alistair teve amantes ao longo
dos anos, e se alguma vez precisasse se acalmar sobre algum ciúme
mesquinho, só precisava se lembrar desse fato.
Alistair não sabia quando ele ia contar para Kevin o que tinha
acontecido, mas tinha que fazê-lo em breve. Depois de duas semanas, o
próprio Kevin começou a comentar a quantidade de comida que estava
comendo, quão cansado se sentia, e até mesmo sua náusea na parte da
manhã.
— Desculpe. Continuo comendo toda sua comida, e então fico
doente.
Kevin segurou suas mãos sobre o estômago, seus lábios um
pouco tortos enquanto lutava para conter a agitação acontecendo dentro
de sua barriga, sem dúvida.
— Não se desculpe. Tudo que quiser nesta casa é seu.
Kevin olhou para ele. Alistair simplesmente sorriu. Eles já
haviam tido essa discussão antes, a primeira discussão que tiveram
sobre muitas que viriam durante o resto de suas longas vidas, e Alistair
estava feliz por ser sido sobre algo tão trivial.
— Se vou morar nesta casa, preciso pagar meu próprio
sustento.
— Você já está trabalhando nos jardins.
— Isso não traz dinheiro.
Alistair tinha tentado dizer ao seu companheiro repetidas vezes
que não havia necessidade de tais coisas. Depois de milhares de anos
existentes, economizando seu dinheiro e investindo, ele e seus irmãos
estavam bastante bem. Eles não precisavam se preocupar com comida
ou roupas, se um dos carros quebrava, nada disso. Eles estavam
perfeitamente satisfeitos e felizes com seus arranjos de vida, e se algum
dinheiro vinha de seus investimentos, então poderiam facilmente viver
os próximos cinquenta anos de suas vidas em conforto. Mais do que isso,
Alistair estava bastante certo, mas não conseguia convencer seu
companheiro de que não havia necessidade de se preocupar.
Se Kevin quisesse um trabalho, Alistair ficaria mais do que feliz
em ver seu companheiro correndo para o mundo e florescendo, mas
tinha a criança no caminho e o fato de que Keaton sabia onde eles
estavam era o que o incomodava mais.
— Sei que você quer trabalhar para trazer uma renda, — disse
Alistair, suavemente facilitando seu caminho para isso. — Mas talvez
você devesse deixar isso comigo. Por pelo menos um ano, divirta-se
comigo. Podemos ter um ao outro se você quiser isso.
Kevin desviou o olhar, um sorriso puxando seus lábios antes de
olhar para Alistair, balançando lentamente a cabeça.
— Sim, isso parece bom, mas você tem certeza?
Alistair assentiu.
— Seja qual for suas dívidas, deixe-me cuidar delas. Se você
quiser visitar seus pais, vou pagar sua passagem de avião também.
— Sinto que estou me aproveitando de você.
— Você não está. — Alistair não poderia insistir nisso o
suficiente. — Só quero que nos divirtamos. Keaton tentou te machucar.
Preciso mantê-lo perto.
Kevin assentiu com a cabeça.
— Acho que você tem razão sobre isso. Mas quero te pagar de
volta o dinheiro que você me der.
Alistair tinha um companheiro de vontade forte ao que parecia.
Bom. Kevin tinha sido assim quando tinha sido Kinsey, e Alistair teria
odiado se essa parte da personalidade de Kinsey tivesse sido perdida
durante a reencarnação.
Alistair puxou seu companheiro para mais perto, satisfeito
quando Kevin deslizou tão facilmente em seus braços. Seu corpo estava
quente, acolhedor, e era tão fácil para Alistair relaxar agora que tinha
Kevin em seus braços.
Beijou o lado da cabeça de seu companheiro. Precisava dizer a
ele. Estava quase na hora de descer com os outros, e era melhor deixar
Kevin saber o que estava acontecendo.
— Sei por que você esteve doente nos últimos dois dias.
— Sushi estragado? — Kevin brincou.
Alistair riu.
— Não, idiota. Nenhum sushi estragado.
— Oh, ok, o que é? — Kevin olhou para ele, seus olhos grandes
e curiosos. Havia também um pouco de preocupação neles, e Alistair não
gostava de deixar seu companheiro em suspense. — Há algo de errado
comigo?
Alistair sacudiu a cabeça. Ele mal conseguia conter a excitação
que borbulhava pelo sangue. Isso era real, e agora estava prestes a
compartilhá-lo com o seu companheiro.
— Seu presente.
Kevin piscou.
— Presente?
Alistair assentiu.
— O mesmo presente que te trouxe de volta para mim. O
mesmo presente que te faz tão maravilhoso.
Kevin não pareceu entender o que Alistair estava dizendo a ele,
então Alistair teve que revelá-lo de verdade desta vez.
— Uma criança, querido. Não sei como você fez isso, mas fez
isso. Está dentro de você, agora. Está crescendo, e é forte. Posso sentir
isso.
Kevin não se aproximou do sorriso imediato que Alistair
esperava dele com tão boas notícias. Simplesmente continuou a olhar
para Alistair, como se esperasse que ele revelasse que suas palavras
eram apenas uma piada.
Alistair não lhe daria isso porque não era uma brincadeira.
— Você está falando sério? — Kevin finalmente perguntou, sua
boca abrindo.
Alistair não conseguiu parar de sorrir.
— Estou. Não consegui sentir isso antes, mas agora posso.
Ele esperava que Keaton não pudesse sentir a criança. O outro
homem era sempre tão consciente de seu entorno e capaz de ver coisas
que não eram óbvias para os outros, mas isso era para ser um momento
feliz, e Alistair não iria sobrecarregar seu companheiro ainda com
pensamentos tão severos.
As mãos de Kevin lentamente foram para sua barriga. Ele olhou
para si mesmo, como se esperasse ver um grande estômago lá.
— Jesus Cristo! Você tem certeza?
Alistair riu de seu companheiro.
— Agora não é o momento para rir! Você está louco? É sério...
você tem certeza?
Alistair parou de rir. Olhou para seu companheiro, realmente
olhou para ele, e percebeu que não poderia dizer se Kevin estava
surpreso com isso ou genuinamente enojado.
— Isso te incomoda? Você pareceu chateado quando soube da
criança.
Kevin ficou tenso. Não disse nada por muito tempo, e Alistair
sabia que seu companheiro estava pensando cuidadosamente sobre suas
próximas palavras e o que elas significariam para os dois.
— Estou feliz. Eu... — Kevin sorriu para ele, um sorriso que
atingiu seus olhos e fez aqueles olhos incompatíveis brilharem. —
Realmente estou! Você acha que é o mesmo bebê? Tem que ser, certo?
Alistair não sabia, mas, considerando o que Kevin fizera naquela
sala ardente, sua companheira poderia ter pensado em algo assim.
— Acredito que é o mesmo. Mesmo que você seja um homem
agora, o feitiço que você lançou deve ter trazido nosso filho para nós.
Kevin franziu o cenho de repente, ainda olhando para si mesmo,
como se não soubesse o que fazer com isso.
— O que acontece... quero dizer, como vai sair? Como vou tê-
lo? — Kevin cutucou seu estômago. — Tem que haver um ventre lá
agora, certo?
Alistair gostava das perguntas, apreciava o quanto seu
companheiro estava pensando sobre isso, e gostava de como parecia
estar em paz com o que estava acontecendo com ele.
— Você deve. É a única maneira da criança sobreviver. —
Alistair pensou sobre isso e esfregou o queixo por um pouco, mas
também não conseguiu descobrir como seu companheiro iria trazer a
criança para o mundo.
— Nós vamos chegar a isso quando chegar o momento. Na pior
das hipóteses, a criança pode ter que ser retirada de sua barriga, mas na
melhor das hipóteses, teremos que esperar e ver o que acontece com
seu corpo.
As mãos de Kevin de repente dispararam contra seu peito, seus
olhos tão grandes que Alistair podia ver os brancos todo o caminho ao
redor deles.
— Jesus. Você acha que vou crescer seios?
Alistair riu novamente. Ele não podia evitar quando seu
companheiro continuou a fazer perguntas tão engraçadas.
— Não é engraçado! — Kevin gritou, mas então passou a esticar
o pescoço de sua camisa e olhar para dentro, como se verificasse seus
mamilos por inchaços e crescimento com uma expressão miserável em
seu rosto.
Alistair sacudiu a cabeça.
— É engraçado. Você é engraçado, e é adorável.
— Não vou ser tão adorável quando estiver todo gordo e
inchado, — Kevin disse, pegando Alistair pela mão, olhando para seus
olhos enquanto apertava os dedos de Alistair. — Estou feliz com isso,
embora também esteja sendo um resmungão. Mas estou nervoso.
Alistair se inclinou para baixo. Pressionou sua boca suavemente
para Kevin, tomando o gosto do homem e sua doçura.
Kevin não tinha nada para se envergonhar. É claro que pensaria
sobre essas coisas e se preocuparia com elas. Por que não iria? Nesta
vida, era um homem, e Alistair estaria mentindo se ele não admitisse,
pelo menos para si mesmo, que estava aterrorizado.
A expressão de Kevin mudou para calma e sossegada quando
Alistair afastou de seu beijo. Alistair ficou satisfeito ao ver seu
companheiro tão corado e aturdido.
— Não fique constrangido, e não se preocupe. Prometi que te
protegeria, e quero dizer isso. Você e a criança nunca conhecerão
dificuldades enquanto eu puder evitar.
Kevin apertou os lábios.
Alistair sorriu e balançou a cabeça.
— Eu sei eu sei. Você quer ter o seu próprio sustento. Não
tentarei pará-lo. Não depois que Keaton for tratado. Até lá, por favor,
fique aqui comigo. Será mais seguro.
Alistair ficou satisfeito quando Kevin acenou com a cabeça.
— Acho que posso fazer isso.
Suspirando, Alistair jogou seu braço sobre o ombro de Kevin.
— Bom. Agora vamos descer. Os outros estão esperando.
— Eles estão? — Kevin perguntou. — Eles sabem que eu estou,
uh, grávido?
Ele soou como se estivesse testando a palavra em sua língua.
Alistair achava que precisaria de algum tempo para se acostumar.
— Yuki faz. Imagino que os outros já pegaram a dica, mas não
disse a eles.
— Oh. Então, vamos anunciar a eles?
Kevin sempre parecia curioso e interessado sobre o que Alistair
e seus irmãos faziam ao redor da casa, quais eram suas tradições e
como se comportavam. Agora não parecia diferente.
— De certa forma, mas também, quero que você esteja lá
quando pegarmos nossas espadas fora do armazenamento no porão.
Os olhos de Kevin quase escureceram enquanto caminhavam
pelo corredor.
— Todos têm espadas?
— Claro, — Alistair soprou o peito, orgulhoso do fato de possuir
uma arma tão valente. — Depois que Keaton tomou tudo de nós, todos
nós colocamos nossos deveres de lado. Nós não íamos lutar se
pudéssemos evitar. Não havia nenhum ponto, mas agora que você está
aqui, temos algo para lutar novamente, e se Keaton retornar, conhecerá
nossa força.
— Mas por que espadas? Por que não usar armas?
— Porque é a idade moderna?
— Bem, sim. Eu acho.
Alistair sorriu para seu companheiro, apertando-o em torno do
ombro um pouco mais.
— Que tipo de cavaleiros seríamos se não tivéssemos espadas?
FIM

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