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AVENIDA BRASIL

SINOPSE DE JOÃO EMANUEL CARNEIRO

“Gente sofrida é perigosa, sabe que pode sobreviver”

Frase da personagem de Juliette Binoche no filme “Perdas e Danos”, de Louis Malle

Nesse início de século, nós no Brasil assistimos à ascensão da classe C. Uma nova classe média
que já corresponde a mais da metade da população, elege os governantes e é responsável por
grande parte do consumo. Ou seja, uma nova classe dominante.
As aspirações e expressões culturais dessa classe vêm sendo afirmadas, enquanto os valores
daquilo que podemos chamar de “antiga classe média”, ou de “elite pensante” se pulverizam.
Ao retratar o microcosmo de Divino, um bairro fictício no subúrbio no Rio de Janeiro, a novela
pretende fazer uma crônica bem humorada desse momento de mutação da sociedade
brasileira. Numa inversão do quadro mais óbvio, a riqueza está na periferia, e não na área
nobre da cidade.
Enquanto jogadores de futebol, pequenos empresários e comerciantes no subúrbio vivem seu
apogeu, do outro lado do túnel, grã-finos decadentes vão ter que se reinventar para conseguir
sobreviver.
O fio condutor da história é a cruzada de vingança da jovem cozinheira Nina contra sua patroa.
Subvertendo novamente o óbvio, Nina será a nossa heroína que às vezes é obrigada a agir
como vilã ao lutar por uma causa mais do que justa.

A novela compreende duas fases, a primeira, de no máximo quatro capítulos, se passa em


1999, e a segunda, em 2012, quando se passa todo o resto da história

Rio de Janeiro, 1999

O EQUÍVOCO

Eufórico, Jorge Renato, o “Jorge Tufão”, pisa fundo no acelerador de seu bólido importado
recém adquirido por dez vezes o valor do casebre onde nasceu e viveu em Divino, subúrbio do
Rio. Acaba de marcar os dois gols que deram ao seu time o título de campeão brasileiro.
Depois daquela noite de glória no Maracanã, carregado nos ombros pela torcida em cena
repetida em câmera lenta no Jornal Nacional, estava assegurada a sua presença no panteão
vitalício dos heróis do gramado. A partir dali, abrem-se para ele os portões dourados das
“suítes máster” para onde ele haveria de levar o amor da sua vida, a manicure Monalisa, a
quem propôs casamento no dia anterior. Os dois agora viveriam como califas em banheiras de
hidromassagem em algum país no Oriente Médio onde ele assinaria um contrato milionário.

Tufão desperta de seu transe de euforia quando escuta o baque surdo no pára-choque do
carro. Um barulhinho de nada que teria passado despercebido se não fosse pela mancha de
sangue no vidro. Ele não tem idéia do quanto aquele breve segundo iria determinar para
sempre o seu destino. Para o carro no acostamento e dá marcha ré. O homem no asfalto ainda
agoniza quando ele se agacha junto ao corpo. Antes de dar o último suspiro, o moribundo
balbucia ao ouvido dele a frase: “Não esquece esse nome: Carmen Lúcia Moreira de Souza,
minha mulher...”

Tufão checa o pulso inexistente do homem. O coração já não bate mais. Por alguns instantes
fica ali, agachado junto ao cadáver, paralisado. Chamou uma ambulância, mas sabia que de
nada ia adiantar, afinal o sujeito já tinha partido dessa pra melhor. Quem ia se encalacrar era
ele. Um processo de homicídio justo agora, quando tudo estava finalmente dando certo na
vida do jovem craque. A pista está vazia. Ninguém testemunhou o atropelamento. Suando frio,
Tufão volta correndo pro carro e parte cantando pneu.

Instantaneamente curado do porre pelo susto, ele agora segue a vinte por hora. Seu coração
bate forte e seus pensamentos se chocam dentro da cabeça. Agiu como um criminoso. Mas o
outro praticamente se jogou na frente do carro no meio duma autopista de madrugada. Não
havia nada que ele pudesse ter feito pelo infeliz. Os para-médicos do SAMU certamente
estavam se certificando disso naquele momento. As últimas palavras do morto ecoam na sua
mente. Não tem mais jeito. O mínimo que ele pode fazer se tiver algum coração é descobrir o
para-deiro de Carmen Lúcia Moreira de Souza, procurá-la, e fazer o que puder para ajudar essa
mulher que ele pelo jeito tinha acabado de tornar viúva.

Mas Genésio dos Santos, nosso moribundo, não teve tempo de terminar a frase. Faltou ele
dizer pra Jorge Tufão que sua mulher, Carmen Lúcia Moreira de Souza, tinha que ir pra cadeia.
E que ele estava naquele momento justamente indo em direção à delegacia para dar parte da
esposa.

O ÚLTIMO DIA DE GENÉSIO DOS SANTOS

Naquele mesmo malfadado dia, Genésio acabara de descobrir que Carminha o seduziu com a
única e sórdida intenção de pôr a mão na herança que ele recebeu da ex-mulher, mãe de sua
única filha, Rita, que consistia numa casa de três andares que ele acabara de vender. Por um
golpe de sorte, a menina voltou mais cedo do colégio e escutou uma conversa entre Carmen e
seu amante, Max Oliveira, acabando de plane-jar o golpe.

A garota consegue avisar o pai a tempo, mas infelizmente tudo dá em nada. Por obra do
destino, Genésio morre atropelado e Carminha consegue se apoderar do dinheiro.

Depois da providencial morte de Genésio, Carminha passou a acreditar que era realmente uma
mulher de sorte. Estava pronta para deixar o bairro e ir morar com Max em São Paulo quando
bate na sua porta um famoso, jovem e próspero jogador de futebol se dizendo amigo do seu
falecido marido e oferecendo todo o tipo de ajuda financeira. Rapidamente, Carminha reavalia
seus planos, põe seu amante fixo de escanteio e trata de seduzir e atrair para a sua teia o
craque dos gra-mados.

Resta o incômodo da filha órfã do falecido Genésio. A garota é uma pe-dra no sapato de
Carminha, que vê a menina como um empecilho para o relacionamento dela com o jogador de
futebol.

Carminha cuidou para que Tufão nunca soubesse da existência da cri-ança. Não teve remorsos
ao se livrar da menina e ainda apurou uns trocados vendendo a pequena Rita num lixão para
trabalhar como catadora de papel. Sentiu um gosto especial em se vingar da sua opositora
mirim, repetindo a mesma sina dela própria, que também fora uma criança abandonada no
lixão. Pensava que tinha se livrado para sempre daquele problema com um tiro certeiro,
definitivo. Mas na vida, como nas novelas, o mundo dá muitas voltas.

A GAROTA DO LIXÃO

O destino da pequena Rita não está circunscrito para sempre àquele fim de mundo. Ela passa
ali alguns anos, sofre privações, mas também tem experiências surpreendentes.

A princípio Rita fica sob a tutela de Nilo, uma figura abominável, que praticamente escraviza as
crianças em troca de um prato de comida e um teto. Um dia, depois de uma discussão com
Nilo, Rita foge. Passa a noite sozinha, escondida num carro abandonado, faminta, debaixo de
chuva. Naquela noite a menina vai conhecer seu herói, o Batata, um garoto do lixão um ano
mais velho que ela, que lhe dá comida e contrabandeia Rita para a casa onde ele mora. É a
casa de Dona Lucinda, uma mulher que construiu um lar com coisas que pessoas como nós
atiram na lixeira todo o dia. A mãe do lixo, ao contrário de Nilo, é uma alma generosa.

Rita permanece escondida por Batata na casa. Ali já moram doze crian-ças e não tem mais
espaço para mais nenhuma. Quando finalmente Dona Lucinda descobre Rita, sofre ao ter que
explicar para a menina que não tem condição dela ficar ali. Mais uma vez, Batata age como
herói. Se Rita for embora, ele também vai. Dona Lucinda acaba dando um jeito de alimentar
uma décima terceira boca e Rita fica.

Naquela casa feita de lixo, arremedo de lar, a menina recebe cuidados e afeto de sua mãe de
adoção e das outras crianças que vivem ali numa república infantil. Com Batata, Rita vai
experimentar o primeiro beijo. As duas crianças trocam juras eternas de amor. Fazem pacto de
sangue. Acalentam sonhos infantis. Batata e Rita vão arrumar dinheiro, casar, ter um casal de
filhos e criá-los numa casa com piscina de plástico, sonho de consumo da dupla depois que os
dois penetraram um dia escondido numa casa desabitada nas redondezas e mergulharam
numa piscina assim.

Três anos após sua chegada ao lixão, a vida de Rita dá uma nova guinada. A menina é adotada
por Martín, um médico chileno apaixonado pelo Brasil, que se comove com a visão da linda
criança catando lixo. Dona Lucinda sofre com a separação da menina por quem nutre um
carinho de mãe, mas compreende que aquela é a chance de Rita. Mais difícil é a despedida de
Batata. As duas crianças choram muito e reafirmam seus votos. Batata ficará esperando Rita
voltar do exterior para se casar com ela. Até lá os dois prometem que não vão se envolver com
mais ninguém. Trocam alianças – anéis catados no lixão. Serão para sempre noivos.

Subitamente teleportada para uma realidade totalmente diferente, a adolescente Rita cresce
na Patagônia criada na casa de Martín. No entanto, nunca se esquecerá de seu passado, do
lixão, de Dona Lucinda, de Batata e, sobretudo, do terrível golpe que recebeu da madrasta
Carmen.

Patagônia, 2012

Treze anos depois, Rita é praticamente uma jovem chilena plenamente adaptada à vida em
meio às geleiras da Patagônia Chilena. Mora com o pai adotivo, Martín, numa casa “auto-
sustentável” nas margens de um lago. Namora um efebo moreno chamado Pablo e está
terminando o curso de hotelaria e culinária na universidade de Santiago.

Numa bela tarde ensolarada em seu barco, Martín sofre um ataque cardíaco e morre diante da
filha. Nos seus últimos momentos conscientes, implora à moça para que esqueça seu passado,
e perdoe as pessoas que lhe fizeram tanto mal. Martín sabe que Rita, apesar de encantadora,
possui uma zona insondável e amarga na sua personalidade. Ela é e sempre será um
passarinho ferido. Promete ao pai que vai passar uma borracha no passado, casar com Pablo e
tocar a vida no Chile. Está mentindo.

Passadas algumas semanas da morte do pai, Rita rompe secamente com Pablo. Fria, diz que
nunca gostou dele. Está mentindo novamente. Na verdade, apesar de não sentir por ele a
mesma paixão que sentiu um dia por Batata, gosta de Pablo e viveria tranqüilamente no Chile.
Mas Martín estava certo. Rita não esqueceu seu passado no Brasil e agora que o pai morreu,
tem uma agenda a cumprir. Em pouco tempo consegue se desfazer das propriedades que
herdou de Martín: a casa, um apartamento em Santiago, o barco, os móveis, algumas
antiguidades. A soma de tudo não faz dela uma milionária, mas garante sua subsistência por
muitos anos. Em seguida, deposita uma polpuda quantia na conta de Dona Lucinda e compra
uma passagem para o Brasil. Escolhe pela foto da internet um simpático apartamento na
quadra da praia em Copacabana e fecha um aluguel de um ano, tempo que considera
suficiente para cumprir seus objetivos.

Quando desce do avião e sente a lufada de ar quente e úmido na cara, Rita se emociona. Está
de volta ao Rio de Janeiro. O apartamento é melhor do que parecia na fotografia. Rita passa
uns dias como turista, feliz e descompromissada. Passa o dia na praia. Compra uma motinha
vespa com a qual ela passeia à noite pela orla litorânea. Mas ela não está ali a passeio. No dia
seguinte, consegue através de contatos feitos na internet com um falsificador, uma identidade
falsa onde consta o nome de Nina Sauer. Age como criminosa, mas sua causa é justa. E agora
tem uma agenda a cumprir.

No dia seguinte, está de volta ao lixão. O dinheiro que enviava regularmente do Chile serviu
para que Lucinda melhorasse a casa e ajudou na criação de diversas crianças que, como ela,
foram viver de-baixo do teto da mãe do lixo.
Lucinda está paradoxalmente alegre e preocupada com a volta da filha de criação. Feliz por ter
a menina de volta, e preocupada por não compreender o porquê desse regresso, já que sua
Rita tinha criado raízes no Chile. A moça conta que vai trabalhar com hotelaria no Brasil, e que
sentiu falta da terra natal. Lucinda fareja a mentira no ar. Fica ainda mais preocupada quando
Rita a enrola quando perguntada sobre o seu endereço na cidade. Não menciona o
apartamento de Copacabana. Não quer ser localizada.

Rita fica sabendo que seu primeiro amor, Batata, também foi adotado por uma família e vai se
casar em breve. Queria rever Batata. Mas isso também tem que esperar. Agora ela tem uma
missão a cumprir.

Ao deixar o lixão, Rita não percebe que está sendo observada por Nilo. Ele não a reconhece de
pronto, mas repara no rosto familiar e depois vai conferir, através de uma criança na casa de
Lucinda que aquela é a menina que um dia fugiu da casa dele. Rita nunca poderia imaginar que
seu destino ainda vai se cruzar por outras insuspeitas vias com o destino daquele miserável.
Quando Carminha a depositou no lixão treze anos atrás, Rita achava que a madrasta a estava
desovando num lugar qualquer. Não sabia que Carmen Lucia e Nilo eram conhecidos de longa
data e que a escolha daquele lixão não foi aleatória.

Rita pesquisa há anos na internet a vida do casal Tufão e Carmen Lucia. Acompanhou o
melancólico final de carreira do jogador e a sua ascensão nos negócios suburbanos depois que
se tornou dono de uma fábrica de jeans. Assistiu ao jogo de despedida no Maracanã. Do Chile,
não perdeu nenhum detalhe da festa no bairro de onde Tufão nunca se mudou, o Divino,
seguida de um churrasco opíparo para quinhentas pessoas que durou setenta e duas horas
consecutivas na mansão no jogador – certamente a maior e mais suntuosa moradia edificada
em todo subúrbio carioca. Com as fotos que conseguiu na internet e nas revistas brasileiras de
celebridades, Rita pode dizer que conhece praticamente cada cômodo daquele pesadelo
arquitetônico em estilo francês, melhor dizendo mourisco, ou talvez neo-colonial? Barroco?
Pós moderno? Pós retrô?

Rita deteve-se um bom tempo analisando os dois filhos do casal, Jorginho e Ágata. Pelas fotos
da adolescente desajeitada que usa uma estranha armação de óculos pode-se dizer que Ágata
é muito provavelmente uma adolescente problemática. Rita acerta na mosca quando
vislumbra uma moça com pouca auto-estima, subjugada e desprezada pela terrível mãe
bonitona de personalidade fortíssima.

Jorginho é jogador de futebol como o pai, mas é um rapaz perturbado emocionalmente,


transferindo seu distúrbio para dentro dos gramados, o que compromete sua carreira, que
nunca chega a decolar. Apesar do talento e das inúmeras oportunidades, nunca impressionou
com seu futebol nem tem visibilidade na mídia. Não sai do banco de reservas do time de
segunda divisão onde joga. Escolheu um caminho difícil já que vai ser inevitavelmente sempre
comparado ao pai. Rita também des-cobriu que o bonitão está noivo de uma tal Débora
Queirós, filha de Cadinho Queirós, banqueiro e membro do Country Club. A família do bairro
do Divino finalmente estava atravessando o túnel e penetrando na Zona Sul em grande estilo.
Rita só imagina a euforia de Carminha com aquele feito. Descobriu ainda que o tal Cadinho
deve a Deus e ao mundo. Ou seja, quem vai acabar pagando a conta no final da festa é mesmo
o ex-jogador de futebol do subúrbio. Aparentemente, aquele era um bom homem. Um pobre
homem – Rita imaginava – que deu o azar de cair nas garras de Carminha. Cabia a ela agora
libertá-lo de seu cati-veiro.

Um detalhe intrigava Rita: Ágata tinha treze anos e Jorginho, vinte e quatro. Fazendo as
contas, concluiu que Carminha casou-se grávida com Tufão. Jorginho não poderia ser filho
deles, já que nascera antes do casal se conhecer. Portanto, era adotado.

Rita descobriu também que ao cenário da família suburbana somam-se ainda os agregados e
chupins, a começar pela própria mãe do jogador - que não arreda pé de perto do filho prodígio
-, Dona Muricy, e seu marido vinte anos mais novo, Adauto, um ex-eletricista que agora se
auto-proclama artista plástico. Além desse, outro casal também se abriga sob o teto do
palacete suburbano: Ivana, a irmã de Tufão, e seu marido Max Oliveira. Max Oliveira, mesmo
nome do amante de Carminha há treze anos. Portanto, Carminha ainda não aposentou o
antigo amante e parceiro. Casou-o com a irmã do marido, e agora os dois convivem como
família por detrás de seus disfarces. Ivana, que já foi empregada doméstica, atualmente se diz
“designer de interiores” e Max, que já foi modelo fotográfico de segunda linha, hoje em dia
”cuida da imagem” de Tufão.

Até que ponto Max e Carminha ainda são amantes ou estão apenas atados um ao outro por
segredos e mentiras? Essa é a primeira tarefa para Rita descobrir quando entrar em cena. De
qualquer maneira, agora ela já sabia um ponto fraco da antípoda.

Rita ficou amiga de Ivana na rede social da internet usando o nome postiço de “Nina”. Ivana
“postou” que iria até Buenos Aires, e marcou de se encontrar com sua “amiga virtual” na
capital argentina. Rita alugou imediatamente um conjugado por alguns dias na cidade onde
preparou um deslumbrante jantar para sua nova amiga brasileira. Tratou de ficar logo íntima
de Ivana, a quem confidenciou a sua imensa vontade de viver no Brasil se encontrasse um
trabalho. Queria trabalhar como cozinheira em casa de família. Ivana custou a aceitar que
aquela moça brasileira criada no Chile que cozinhava divinamente bem queria ser empregada
doméstica no Brasil. Rita, melhor dizendo, Nina – vamos passar a chamá-la só assim de agora
em diante - argumentou que era uma maneira de viver uma vida diferente em outro país,
conhe-cendo os hábitos e a vida das famílias brasileiras. A outra a convidou no ato para
trabalhar na casa dela e de seu irmão, o famoso jogador de futebol. Era tudo que ela queria
ouvir. Explicou a Ivana que não era coisa pra já. Ainda tinha assuntos para acertar no Chile.
Trocaram telefones. Ivana ficaria esperando pela ligação de Nina.

Ela não precisou convencer Martín a deixá-la ir pro Brasil. A morte dele precipitou as coisas.

Quando o telefone toca na casa de Tufão, Ivana não acredita que a mo-ça que ela conhecera
em Buenos Aires estava realmente no Brasil, se dispondo a cozinhar para a família.

Dias depois, Nina estava entrando pela primeira vez na casa que ela já conhecia tão bem. Está
conversando com Ivana na cozinha quando Carmen irrompe pela porta. Por um segundo, é
assaltada pelo pânico de que sua antiga madrasta a reconheça. Passados alguns minutos, o
medo se dissolve. Ela não podia ter entrado na casa do jogador em hora melhor. A cozinheira
da casa pedira demissão há alguns meses atrás e desde então quem pilotava o fogão era a
faxineira Janaína, que definitivamente não nascera para o cargo. Depois de uma rápida
entrevista, a moça brasileira criada no Chile estava contratada para trabalhar como cozinheira
naquela casa. Nina examina minuciosamente sua rival. Carminha está muito bem conservada
para a idade, mas não parece feliz. Pelo visto, a vida dela naquela casa com todos aqueles
agregados em volta não é exatamente um mar de rosas.

A primeira etapa de seu plano fora concluída com sucesso. Agora restava seduzir a outra,
encantá-la com seus dons de cozinheira, sua fala mansa, gostosa, seu ombro amigo, para
depois desferir-lhe o golpe fatal.

Agora, para prosseguir com o relato de como nossa heroína moveu as peças do jogo na sua
guerra subterrânea contra a dona da casa, é preciso que façamos um hiato e retrocedamos um
pouco no tempo para entender melhor o que se passou na vida de Tufão, Carminha e o
pessoal do Divino.

Rio de Janeiro, 1999

Tufão estava no auge do sucesso naquele ano. Mas ele bem sabe o longo caminho que
percorreu para chegar até ali. As coisas não foram nada fáceis para o primeiro filho do
malandro Leleco e da camelô Muricy. Ele não teve tempo de estudar porque tinha que ajudar
a mãe na barraca armada próxima da Central do Brasil. No casebre sem água nem esgoto
viviam ele, o pai, a irmã mais jovem Ivana e Dona Muricy. O garoto mostrava seu imenso
talento com a bola nos pés no campinho do bairro, onde ganhou seu apelido por causa da
rapidez com que disparava com a bola. Talento só tinha mesmo com a bola, porque com as
mulheres não tinha nenhum. Carente, tímido, solitarião, sem um centavo no bolso e quase
sempre trocando as pernas de tão bêbado, estava longe de ser o sonho de consumo do
mulherio. Ao longo da adolescência a dependência do álcool foi piorando, assim como o
ambiente em casa. Seu Leleco e Dona Muricy se negavam a dar um centavo ao filho
preguiçoso que se recusava a trabalhar. Tufão nunca teria se tornado um jogador profissional
se não fosse por Monalisa.

Mulher de fibra, nascida na Paraíba, Monalisa veio tentar a sorte no Rio sem um centavo no
bolso. Passou fome no ônibus. Chegando na cidade, arrumou emprego de manicure.
Apaixonou-se por Tufão ao vê-lo jogar pelada no campinho.

Era Monalisa que curava os porres de Tufão, que lhe emprestava dinheiro, cobrava os treinos e
o condicionamento físico do jogador, cuidava da alimentação e da saúde dele. Foi ela que
botou na cabeça de Tufão que ele seria um craque. Comemoraram juntos o primeiro contrato
com um time de segunda, depois a venda do passe de Tufão para um time da primeira divisão.
Vibraram juntos com cada conquista, sofreram juntos cada derrota.

Monalisa realizou seu sonho: fez de seu homem um campeão. Na noite anterior ao jogo
consagrador no Maracanã, Tufão pede a mão de Monalisa em casamento. Ela cai num pranto
desenfreado. Era muita felicidade pra uma mulher só. Tudo teria dado certo, se Tufão não
tivesse atropelado o pobre Genésio dos Santos naquela noite.

Espertíssima, Carminha não demora muito para matar a charada: Tufão está mentindo. Ele não
conhecia o falecido Genésio. Por que diabo estava tão interessado em ajudar a viúva do outro?
Só havia uma explicação. Foi o jogador que atropelou seu marido. Só pra se certificar, conferiu
o amassado no capô do carro. Tufão estava dominado pela culpa. Agora era só jogar direito.
Primeiro, se fez de viúva inconsolável. Uma mulher sozinha que agora não tinha ninguém no
mundo. Simulou suicídio. Fez Tufão dormir ao lado dela da cama depois de fazê-lo entornar
uma garrafa de uísque e o agarrou. Na cama, depois do amor, balbuciou, às lágrimas: “foi meu
marido que me trouxe você”. As noites de amor dos dois se sucedem, mas Carminha percebe
que o coração daquele homem ainda tem dona.

Tufão está comprometido com Monalisa e ela, a princípio, não leva a menor chance, apesar de
ser uma mulher mais bonita e com mais classe que a outra. É preciso agir com cuidado. Depois
de investigar a vida do jogador, Carminha fica sabendo que Tufão está oferecendo uma festa
de noivado para a família de Monalisa, que veio da Paraíba especialmente para a ocasião.
Nessa noite, ela consegue atrair Tufão pra sua casa ameaçando novamente o suicídio, e faz
com que Monalisa “acidentalmente” saiba do paradeiro dele. Monalisa tem um ataque
quando descobre seu noivo na cama de Carminha enquanto a família dela está toda reunida
para a festa de noivado na casa dela. Carminha leva uma bofetada, Tufão também. Mas
Caminha logo saca que aquilo não basta para separar o casal, apenas para dar uma
estremecida. E ela precisa se aproveitar dessa estremecida. Novamente tem sorte. Nota que
anda estranhamente enjoada e faz um teste de gravidez. O teste confirma que ela está grávida
de Max e espera uma menina. Mas ninguém precisa saber disso.

Monalisa e Tufão quebram o pau depois do incidente na casa de Carminha. Nesse meio tempo,
Carminha procura o jogador e conta que descobriu a verdade. Acusa-o de ter matado o marido
dela. Tufão fica sem ação. Chora, confessa, explica que não teve culpa, que Genésio
praticamente se jogou na frente do carro. “Assassino, assassino!”, grita Carminha antes de
deixar a casa aos prantos. É claro que Tufão vai atrás de Carminha. E é claro também que ele
descobre o exame de gravidez sobre a cama na casa dela. Esperta, Carminha prefere dizer que
a filha é do falecido marido ao invés de tentar o golpe da barriga tradicional. Assim, o jogador
ficaria ainda mais culpado, imaginando que ainda por cima aquela menina iria nascer órfã de
pai por causa de-le. “Não quero nada de você! Vai embora!”, diz Carminha, que expulsa Tufão
de casa certa de que ele vai voltar.

Tufão está inconsolável. Está tomado pela culpa. Aos seus olhos, tirou de Carminha o marido e
deixou órfã uma menina que ainda nem nasceu. Carminha não quis nada dele. Ainda por cima,
não vai dar parte dele na polícia. Que mulher. Está encantado por ela, enfeitiçado, mas
dividido pois deve muito a Monalisa. Ou devia. Naquela manhã, Adauto, seu grande amigo e
confidente, lhe mostra uma reportagem num jornal popular, onde Monalisa diz cobras e
lagartos a respeito do noivo famoso. É claro que quem concedeu aquela entrevista foi
Carminha, que telefonou para a redação do jornal se dizendo a noiva de Tufão, e o
espinafrando, contando intimidades aterradoras que logo se tornaram públicas. O conflito de
Tufão imediatamente se dissipa ao ler aquelas linhas. Ele está definitivamente decidido. Vai
terminar tudo com Monalisa, propor casamento a Carminha e criar a filha do homem que ele
atropelou. O coitado não sabe que está cometendo o maior erro da sua vida.

Depois que Tufão termina tudo com ela, Monalisa se manda para a Paraíba. Sabe que estava
grávida do jogador. Dá à luz na sua terra e volta três anos depois para o Divino com o menino
de três anos de idade chamado Iran. A princípio, Tufão chega a cogitar que o garoto possa ser
filho dele, mas Monalisa garante que é filho de um paraibano que estava para chegar.

Evidentemente, o paraibano nunca apareceu. Monalisa criou seu filho com o dinheiro que
ganhou trabalhando duro no salão de beleza. Nunca quis um centavo do jogador de futebol.
Para sorte dela, Iran não se parece fisicamente com Tufão, mas, no entanto, tem um jeito
parecido e o mesmo talento com a bola nos pés.

Rio de Janeiro, 2012

Nossa prezada Monalisa sofreu pra cachorro com o fim do noivado com Tufão. Mas não se deu
por vencida. De manicure, tornou-se dona de salão. Uma das pioneiras na chapinha
progressiva no subúrbio, Monalisa é a responsável pelo “enlouramento” da maioria da
população feminina do bairro. Atualmente está ampliando seus negócios, transformando a
sede do Divino Futebol Clube no templo do “charm”, onde a moçada do bairro vai ferver à
noite e de dia pode cair na piscina do clube. Assim como Tufão, Monalisa é um ícone nas
redondezas. Criou sozinha o filho único Iran, atualmente um lindo ra-paz de dezoito anos que
acaba de ser aceito na equipe de juniors de um grande time. Mãe possessiva e ciumenta, ela
faz de tudo para afastar as “vadias” de perto do seu príncipe. Em vão. Iran parece ter um mel
que atrai todo tipo de mulher.

Exemplo de mulher bem sucedida e emancipada, Monalisa mantém uma amizade colorida
com Silas, que ela mesma chama de “biscate”, proprietário de um “carro de mensagem” no
bairro. Muitas vezes ela está tranquilamente andando na rua quando leva um susto ao escutar
seu nome sendo chamado pelo autofalante do calhambeque emperequetado com o qual Silas
ganha dinheiro para apregoar mensagens de amor, felicitações de aniversário e até mesmo
xingamentos dos habitantes de Divino. Há muito tempo, Silas quer casar com Monalisa, mas
ela não topa. Costuma dizer que não quer botar homem dentro de casa pra não ter que
entregar o controle remoto da TV. Na verdade, o coração dela sempre foi e será de Tufão.

Muitas vezes os dois se cruzam nas ruas do bairro. Monalisa se segura para manter a linha e
não dar detalhe. Algumas vezes Tufão tentou uma aproximação, mas Monalisa resistiu. Podia
ter um caso com qualquer outro homem, menos com ele. Mesmo depois de todos esses anos,
o ex-jogador ainda sente aquele arrepio na espinha quando vê sua antiga namorada. O par
perfeito sempre esteve lado a lado, mas incapaz de consumar essa união, seja por causa do
coração ferido de Monalisa, ou pelas artimanhas de Carminha.

Mesmo depois de ter acumulado uma considerável fortuna com o futebol e com a fábrica,
Tufão nunca abandonou seu querido Divino, onde é venerado como uma lenda viva. Seu
patrimônio mudou de dígito, mas seus hábitos continuam os mesmos. Ele não acha graça em
vida de rico. Seu habitat ainda é um meio fio onde entorna uma cerveja descalço e come
churrasco, entra na biriba, na sinuca e joga conversa fora com Silas, amigo de longa data, que
vem a ser o “biscate” de Monalisa, e Leleco, seu pai, que depois do sucesso do filho, separou-
se de Dona Muricy e tornou-se um bon-vivant casado com uma popozuda turbinada. A
intransigência de Tufão à idéia de se mudar do seu bairro é a principal razão das discussões
com Carminha, que não se conforma em ainda não ter se instalado numa cobertura na Zona
Sul.
Apesar das brigas eventuais, Carminha sempre foi muito habilidosa com Tufão. Tem
consciência de que é preciso satisfazer as vontades da sua vítima. Bonita, sedutora, bem
humorada, é capaz até de simpatizar um pouco com o otário do seu marido. Mas a coisa pega
fogo mesmo é com Max. Talvez se ela tivesse casado com o eterno amante, aquela paixão
esmoreceria. Mas o fato é que Max é sempre o homem proibido dos encontros escondidos,
das rápidas e intensas aventuras eróticas nos breves momentos em que os dois estão sozinhos
em casa. Max se conserva bonito como sempre e é o que há de mais antigo na vida dela, além
de ser o pai de Ágata, que Tufão acha que é dele, e, por incrível que pareça, de Jorginho
também.

Carminha ficou grávida de Max anos atrás. Mesmo depois de várias tentativas de aborto, a
criança acabou nascendo. Os dois não tinham idéia do que fazer com o menino, nem a menor
disposição para criá-lo e entregaram o bebê para Nilo, o salafrário explorador de crianças no
lixão, que vem a ser pai de Max. No lixão, o garoto ganhou o apelido de Batata. Logo que
pôde, fugiu das garras do avô e se refugiou na casa de Dona Lucinda. Foi quando conheceu
Nina – que, portanto, atualmente está mais perto do seu primeiro amor do que imagina.

Mesmo com toda a sua frieza, Carminha sofria imaginando a terrível vida no lixão daquele
menino que ela tinha dado à luz. Conhecia muito bem aquele horror porque ela mesma fora
abandonada no mesmo lugar quando tinha três anos de idade, e vendida como escrava para
Nilo. Foi lá que ela conheceu Max, filho de Nilo, seu primeiro namorado e parceiro da vida
toda. O lixão ainda esconde um outro segredo abominável envolvendo Max e Carminha, que
haveria por fazer deles cúmplices para sempre. Mas ainda não é a hora de falar sobre isso.

Mesmo as piores criaturas são capazes de algum sentimento. Corroída pela culpa, um dia
Carminha foi ao lixão e reencontrou seu filho catando lixo. Era um lindo menino e parecia com
ela. Não foi difícil convencer Tufão a adotar o garoto. Dessa maneira, Jorginho foi criado como
filho adotado quando era, de fato, filho legítimo de Carminha. Carminha e Max, pais
sanguíneos de Jorginho e Ágata, viram suas crias crescerem na casa onde todos moravam, só
que com papéis trocados. Mas mesmo sendo a dupla de meliantes os pais biológicos do casal
de filhos, quem deu afeto, berçou, criou, educou e encaminhou os dois ir-mãos na vida foi
Tufão.

Max foi apresentado a Tufão como sendo um irmão de criação de sua mulher. Carminha
cortou um dobrado para conseguir que ele se envolvesse com Ivana, irmã de Tufão. A gordinha
encalhada rapidamente encantou-se com o bonitão, mas era Max quem resistia. Carminha
custou a convencê-lo que aquela era a melhor maneira para que eles continuassem
convivendo em família, até que conseguissem dar um bote final na fortuna do jogador de
futebol. O tal bote acabou nunca acontecendo. Desconfiado, Tufão não caía na conversa do
cunhado quando Max lhe propunha entrar de sócio num novo negócio. Fi-nalmente, depois de
muitos anos, e após uma intensa embaixada de Carminha, Tufão estava inclinado a investir
pesado num resort. É o tão esperado golpe da dupla.

Agora, depois desse rápido panorama do povo de Divino, do jogador de futebol e suas
desventuras amorosas, necessário para que entendamos o habitat em que Nina agora está
inserida, voltamos ao ponto onde estávamos: o início da saga da nova cozinheira no palacete
do jogador de futebol.
***

A impressão que Nina tinha da turma de Divino lá do Chile só foi se confirmando depois que
passou a conviver com a família do jogador. A pobre Ágata aos treze anos é conhecida como a
desajeitada número 1 do bairro, decorrência, obviamente, da mãe que a despreza e humilha.
Carminha não suporta que sua filha tenha virado aquela “baranga”. Tudo na garota a
incomoda: a voz baixa, o jeito tímido, o modo de andar sempre curvada, a insegurança, os
acessos de choro. Implacável, Carminha constantemente diz à filha que se ela continuar
horrorosa desse jeito vai morrer virgem. Nessas horas Ágata foge para o colo do pai, porto
seguro que sempre lhe deu afeto. Nina gosta genuinamente de Tufão. Ele é um homem bom.
Generoso, afetivo, humano em todos os sentidos, pai amoroso dos seus filhos adotivos. Nina
vê na jovem Ágata todas as qualidades que a mãe não consegue enxergar. É uma memina
delicada, inteligente e sensível que quer se tornar chef de cozinha. Nina simpatiza com ela. Vai
se tornar sua amiga e ensinar-lhe seus truques no fogão.

Jorginho nunca dá as caras. Racha um apartamento na Zona Sul com o melhor amigo Iran,
outro jogador de futebol. Pelas discussões ao telefone com a mãe, Nina confirma que ele é a
voz dissonante na família e o único a se insurgir contra Carminha. Deve sofrer porque enxerga
o mau caratismo da mãe. Recusa-se a cuidar do negócio da família, mas idolatra o pai, com
quem almoça duas vezes por semana numa churrascaria em Ipanema.

Não é nada fácil servir a mesa sempre lotada daquela família onde ainda se sentam Ivana,
Max, Dona Muricy e Adauto. Ivana passa a vida fazendo dietas, mas à noite tem surtos de
sonambulismo e ataca a geladeira. Nina percebe o esforço que Max faz para ainda olhar na
cara da esposa. Dá sempre um jeito de enrolá-la e não vai pra cama com ela. Muricy, uma
força da natureza, e Adauto, o marido analfabeto, vinte anos mais novo que ela, devoram
vorazmente tudo que não comeram no passado de pobreza dos dois.

Ao ver a família sentada à mesa do jantar, Nina sente um aperto no coração. Se tudo que ela
pretende fazer der certo, aquela família será tragada por um furacão quando todos os seus
segredos e mentiras guardados a sete chaves forem expostos em plena luz do dia. Ela libertaria
Tufão daquela armadilha em que ele se meteu, mas não sem muita dor. Livraria também Ivana
de seu triste casamento de mentira. Mas sofria ao imaginar a reação dos filhos quando eles
descobrissem a face hedionda da mãe deles.

***

UMA EMPREGADA DE CAMA, MESA E BANHO

Nina sente os olhares masculinos sobre ela, a começar pelo próprio Tufão, mas sobretudo
partindo de Max. Vê que tem jogo com o amante de Carminha. Muito possivelmente ele está
cansado daquele caso de anos com a dona da casa. Nina estava disposta a reprimir o nojo que
sentia daquele desgraçado e, em último caso, deixaria até que ele a tocasse. Afinal, tinha que
lutar com as mesmas armas que sua adversá-ria.

Carminha não pode mais imaginar como seria a vida sem aquela empregada perfeita.
Acostumou-se a acordar com a esplêndida bandeja do café da manhã com “eggs bennedict” no
ponto perfeito e uma linda flor espetada num arranjo no prato. Pelas mãos de Nina, Carminha
e a família do jogador são iniciados nas delícias da haute cuisine francesa, no mundo das
massas, patês, tortas e biscoitos feitos em casa como numa pâtisserie em Paris. Tudo bem
diferente do “trivial variado” que a última cozinheira deles fazia.

Nina adivinha o que a patroa quer antes mesmo dela pedir. Quase no instante que Carminha
mancha a blusa com vinho, já surge com talco e nabo para tirar a mancha. Coloca as músicas
que a patroa gosta nas horas certas. Sugere as roupas que ela pode usar nessa ou naquela
ocasião. Sabe quando a dona da casa está esquecendo o celular, a carteira, a jóia. Sabe onde
está cada roupa, cada remédio, cada objeto da casa. Faz a agenda da outra. Lembra as datas
de aniversário das amigas, da família, as consultas médicas, os compromissos. Dá as desculpas
perfeitas para livrar a patroa de pepinos. Sabe com quem e quando Carminha quer ou não
quer falar ao telefone. Antecipa-se quando acontece algum problema e manda consertar os
aparelhos que quebram na casa, sempre conseguindo o melhor preço e o melhor serviço,
sacando muitas vezes seu próprio dinheiro de adiantamento. Como se isso tudo já não
bastasse, ainda por cima tem conhecimentos de medicina - aprendeu sobre pronto-socorro
com Martín, que era médico – e sabe que remédio receitar quando Carminha ou alguém da
família tem alguma indisposição. Para não falar que está sempre bem humorada, sorridente,
impecavelmente arrumada e disposta a trabalhar em qualquer hora do dia ou da noite.

A primeira conversa íntima entre Nina e Carminha se dá numa noite em que Carminha tropeça
e torce o pé. As duas estão sozinhas em casa, o resto da família tinha saído. Nina trata do pé
da outra, alivia suas dores com massagem – desnecessário dizer que ela também é uma
excelente massagista. Era um dia especialmente infeliz para a dona da casa, que tinha
discutido com o marido, brigado feio com o filho pelo telefone e ainda por cima foi
ridicularizada por um jornalista que fez uma matéria sobre a patética mulher do jogador de
futebol. Nina se surpreende ao ver um lágrima vertendo no olho da megera, que resolve “se
abrir” com ela. Fala de suas frustrações com o filho, que parece detestá-la, e das dificuldades
com Tufão. Conta um pouco de seu passado e do primeiro casamento que a deixou viúva. Nina
dá corda. Nas palavras da outra, “a vida lhe tirou um marido que ela adorava”. Carminha
mentia para si mesmo, numa tentativa de tornar sua própria história menos indigesta para si
própria. Mas deixa claro que “se arrepende muito de certas coi-sas”. Nina é só ouvidos.
Carinhosa, atenta, em pouco tempo torna-se a confidente da patroa, a amiga que a outra
nunca teve, sem nunca perder a reverência com a qual uma serviçal deve sempre tratar seus
superiores na escala social. Uma tarde, Carminha, num arroubo de emoção, dá a Nina uma jóia
sua. Um brinco que simboliza a amizade das duas.

É claro que as confissões que Carminha faz a Nina são bastante editadas. Cuidadosa, ela não
deixa pistas do seu caso com Max, e também mantém devidamente escondidos os outros
esqueletos que tem no armário. A empregada aproveita a intimidade com a patroa para
investigar cada detalhe, cada anotação na agenda, cada correspondência que Carminha
recebe. Uma noite, depois do jantar, Nina escuta uma conversa entrecortada entre Carminha e
Max em que eles mencionam o tal resort. Por diversas vezes, presencia Carminha insistindo
para o marido entrar com dinheiro no empreendimento. Está claro que é golpe dos dois
amantes. Mas isso ainda é pouco para Nina ter Carminha nas mãos. É preciso ter paciência.
Nina se esmera no preparo do jantar que Tufão oferece para celebrar o noivado de seu filho
Jorginho com Débora, a filha do banqueiro Cadinho Queiroz: tartar de lagostins de entrada, um
capitoso magret de pato com chutney de manga como prato principal e baba au rhum de
sobremesa. A jovem cozinheira é chamada à sala sob aplausos para ser apresentada aos
convidados quando dá de cara com Jorginho. Gela. Diante dela, dezoito anos depois está
ninguém mais, ninguém menos do que Batata, seu primeiro namorado e eterno noivo. O
menino do lixão portanto foi adotado por Carminha e pelo jogador de futebol. Que estranha
coincidência. Rapidamente, Nina realiza que talvez não tenha sido por acaso que ela foi
abandonada por Carminha justamente naquele lugar. Está zonza. Era preciso voltar ao lixão.
Pelo jeito, muitos segredos ainda estavam enterrados debaixo daquele monte de lixo.

Durante o jantar, Jorginho não tira o olho de Nina, que é assaltada pela terrível sensação que
foi reconhecida. Ela perde a linha. Gagueja. Deixa cair uma travessa. Aquele belo rapaz, que já
foi um menino que um dia lhe jurou amor eterno, ainda exerce uma forte atração sobre ela até
hoje. Muita coisa para ser digerida ao mesmo tempo.

Horas depois, Jorginho surge na cozinha e puxa papo. Diz ter a sensação de que a conhece. Ela
sua frio. Nega. Faz perguntas que ela desconversa até que Muricy surge na cozinha, salvadora,
chamando Jorginho para tirar uma fotografia. Nina suspira aliviada e dá um jeito de se
esconder. Acha que escapou por um fio, mas se engana.

Ao deixar o serviço na sexta feira, final do expediente, Nina é surpreendida por Jorginho. Ele
diz que a reconheceu. Ela devolve que não sabe do que ele está falando, mas ele insiste. Nina
não consegue conter as lágrimas quando ele a chama de Rita.

Jorginho leva Nina para o apartamento dele no Leblon e a põe contra a parede. Quer saber por
que ela fingiu que não o conhecia, e o que aconteceu afinal com ela depois que foi para o
Chile. Porque parou de responder as cartas dele e como foi parar ali, trabalhando como
empregada doméstica no Brasil justo na família dele. Nina pisa em ovos ao tentar convencê-lo
de que trata-se de uma grande coincidência o fato dela ter parado na casa de Tufão e
Carminha. Inventa uma história mentirosa do seu passado no Chile. Nessa versão, ela teria sido
bem pobre e infeliz por lá. Não fora bem acolhida como membro de uma família numerosa,
que se aproveitava dela, obrigando-a a fazer o serviço da casa, quase como uma escrava.
Mente que seu sonho sempre foi fugir de lá e voltar pro Brasil e afirma que recebe um
excelente salário e está feliz e realizada como cozinheira. À medida que conversam, os dois
reconhecem o jeito tão familiar de um e de outro rirem, de um segurar a cabeça com as mãos
e do outro suspirar. Lembram-se das aventuras quando crianças. Em meio a uma gargalhada,
Jorginho beija Nina. Age por impulso. Sem se dar conta, Nina já está na cama do seu primeiro
namorado, onde tem a noite mais feliz da sua vida. Tanto ele como ela descobrem que aquele
antigo amor pode agora renascer com força total. É só eles quererem.

Jorginho acorda e acha Nina sentada na sala, pernas cruzadas, vestida para ir embora. Ela
desvia o rosto do beijo dele, que se confessa muito perturbado com aquele encontro, que está
fazendo ele até repensar seu casamento. Emocionado, Jorginho diz que pode até honrar a
promessa que fez aos dez anos de idade e se casar com ela. Já de cabeça pensada, Nina faz
um esforço incrível para conseguir dizer tudo ao contrário do que pensa: fala que não sente o
mesmo amor de antes por ele, que é melhor os dois seguirem com suas vidas, esquecerem que
aquilo um dia aconteceu e, se possível, se manterem o mais distante possível. Andes de deixar
a casa dele, invoca o antigo pacto deles no lixão e faz Jorginho prometer que guardará segredo
sobre o passado dos dois.

Nina desce no elevador devastada. Passou a noite em claro, se debatendo, cheia de dúvidas.
Por um momento pensou em seguir o apelo do seu coração, desistir de sua vingança e investir
num namoro com Jorginho. Ela nunca sentiu por ninguém o que sente por ele. Será que
conseguirá levar seu plano adiante depois desse encontro? Será que Jorginho vai manter a
boca fechada com os pais, não revelando a identidade verdadeira de Nina? E seu casamento
com Débora? E o sentimento que nutrem um pelo outro, será que conseguirão despedaçá-lo
ou o amor falará mais alto e o passado falará mais alto do que o presente? Quem viver, verá.

OUTRAS TRAMAS

ASCENSÃO E QUEDA DE UM POLÍGAMO

Rio de Janeiro, 1999

Naquele ano em que Tufão faz história no Maracanã, do outro lado do túnel Rebouças, Carlos
Eduardo Queirós de Souza, o Cadinho, também marca um gol de placa no mundo dos
negócios. Numa tensa reunião, ele mal acredita quando chega às suas mãos o papel com a
cifra que um conglomerado financeiro estava disposto a pagar pelo fundo de investimentos
que ele criou. Três vezes mais do que ele supunha. É chegada a hora dele deitar e rolar.
Reunindo todo seu sangue frio, Cadi-nho se faz de decepcionado e pede o dobro. Sai da sede
do banco com um cheque com mais dígitos do que ele consegue soletrar.

Ambicioso, obstinado e talentoso, pediu demissão do banco em que trabalhava para


administrar um fundo de investimentos próprio. O que na época parecia uma iniciativa
quixotesca, anos depois revelou-se um grande negócio.

Filho de uma família tradicional com boas relações na elite da cidade, mas de classe média
alta, Cadinho agora tinha tudo na vida: estava milionário, era jovem, inteligente e bonito. Tudo
certo com ele exceto por um detalhe: o priáprico economista mantinha relacionamentos
estáveis com duas mulheres ao mesmo tempo.

A primeira concubina, Verônica, é a antiga parceira, mãe de seus filhos Tomás e Débora. Perua
típica, ignorante, consumista, enche a boca pra dizer que não gosta de homem, gosta mesmo é
de dinheiro. Pura mentira. Na verdade, por trás da aparência fútil, Verônica esconde um
enorme coração e uma personalidade romântica, doce e sonhadora. É a boa e velha “Amélia”
disfarçada de pistoleira. Ultimamente tem perdido a cabeça ao ser catapultada da classe
média para o topo da pirâmide social. A cobertura na Vieira Souto é um eterno parque de
obras, porque a dona da casa está sempre mudando alguma parede de lugar. Comprou uma
van de doze lugares, já que suas compras semanais no shopping não cabem mais num carro
convencional. Faliu a loja de gadgets que ela mesma abriu com o dinheiro de Cadinho porque
acabava ficando com a maior parte da mercadoria para ela própria.
A segunda concubina, Noêmia, é o oposto de Verônica. Bonita, discreta, refinada, beirando o
hippie mas sempre chic, Noêmia conheceu Cadinho num cursinho de filosofia que os dois
faziam juntos à noite. Jogou duro quando percebeu que ele estava caído por ela. Inteligente,
língua sempre afiada, não dava crédito àquele homem só porque ele tinha dinheiro, afinal ela
era de esquerda. Cadinho encantou-se de vez pela linda mulher de forte personalidade, que ao
contrário da outra, era culta e contestava seus valores. Logo a engravidou. Assim nasceu
Bento, que em 1999 ainda é uma criança. Apesar de todas as suas convicções políticas
marxistas, Noêmia aceita de muito bom grado a vida de milionária que Cadinho lhe
proporciona numa soberba mansão em Petrópolis. Mais tarde, quando Cadinho falir, é quem
mais vai so-frer com a queda do padrão de vida.

O jovem empresário se vira como pode para manter duas famílias, duas casas, dois guarda-
roupas. Inventa mentiras cada vez mais criativas, alegando que está sempre viajando a
negócios, para que uma esposa não saiba da outra. Sua vida é a prova científica de que um
objeto pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Apesar disso, é um excelente pai e um
bom marido para ambas as suas mulheres. Ciumentíssimo, vira bicho se percebe que algum
outro homem dá em cima de uma das gueixas do seu harém. A coisa aperta quando, por
exemplo, acontece dele ser solicitado no mesmo dia para uma reunião de pais nas escolas de
ambas as suas famílias. Como um equilibrista de circo, Cadinho corre de um lado para outro e
consegue sempre dar um jeito de se safar.

Por obra do destino, na noite da comemoração do seu sucesso, suas duas mulheres estavam
sentadas sozinhas em duas mesas do mesmo restaurante da moda. Tinha marcado com uma
ali e a outra deixou um recado com a secretária que estaria naquele mesmo maldito
restaurante à espera dele.

Cadinho refugia-se num bar de hotel e enche a cara. Aboletada no outro extremo do bar,
sozinha, de olho pregado em Cadinho, está Alexia Bra-gança de Souza, uma jovem socialite
possuidora de um dos mais portentosos sobrenomes do Brasil. Cadinho acaba dando o bolo
nas suas duas mulheres e passa a noite com uma terceira.

Não sabe que Alexia, uma mulher surtada, viciada em todo o tipo de remédios, escolheu o
jovem empresário para ser pai da filha dela sem que ele o saiba. Desesperada ao se ver
próxima dos trinta sem ter tido ainda filhos, ela não hesita em furar a camisinha com o próprio
brinco, no dia em que sabe que está no período fértil. Mesmo contra a vontade de Cadinho,
vai se tornar a sua terceira concubina.

Rio de Janeiro, 2012

Ao contrário daquele esfuziante ano de 1999, 2012 revela-se um ano particularmente difícil
para Cadinho. No dia anterior do seu aniversário - data aliás bem complicada para um homem
que possui duas famílias e uma amante – ele descobre que levou um golpe multimilionário de
seu sócio e amigo de infância Jimmy Bastos e está falido. Depois que recebeu a bolada pela
venda do seu hedge-fund, ele meteu-se num negócio de mineração com Jimmy, um gay que
acabou de sair do armário. O tal empreendimento parecia estar indo de vento em popa, mas,
ao fazer uma devassa nas contas da firma, Cadinho descobre que o sócio falsificava os
balanços e fugiu para alguma praia no Caribe onde iria gastar os milhões roubados com seu
amante, um garotão de vinte anos. Mas nem tudo está perdido: Cadinho ainda tem uma conta
no nome de uma empresa no exterior com dinheiro suficiente para dar uma vida digna para
ele, mas insuficiente para bancar a eterna festa de suas mulheres e filhos.

O pobre ex-milionário não tem idéia como vai fazer para manter o vidão de seus inúmeros
dependentes. Veronica não trabalha, nem os filhos que Cadinho teve com ela, Débora e
Tomás, o Tuca. Débora trancou a faculdade. Maria Chuteira assumida, passa a vida na
academia ou vendo os jogos e os treinos de seu namorado e futuro noivo Jorginho, filho de
Tufão. Tuca nem se deu ao trabalho de terminar o segundo grau. É rapper e tem uma banda
no subúrbio. Apesar de ser filho da elite carioca, vive em Divino cercado dos amigos que fez
por lá em noitadas de hip-hop, rap, funk e charm.

Noêmia atualmente termina sua tese de doutorado em antropologia e Bento, filho dela com
Cadinho, quer ser cineasta. Por incrível que pareça, Noêmia e o filho conseguem dar mais
despesa que a família da perua. Nas paredes da mansão em Petrópolis está exposta a
magnífica coleção de pinturas que Cadinho agora vai ter que dar um jeito de vender correndo.
Também terá que encontrar uma maneira de dizer ao filho cineasta que já gastou o dinheiro
que tinha separado pra produzir o primeiro longa dele.

Alexia continua surtada. A pobre socialite é uma mãe completamente dominada pela filha de
onze anos, Paloma, uma criança dona de uma personalidade fortíssima. Com um QI superior
ao da sua progenitora, a garota manipula a mãe através de chantagens emocionais. Impondo
sempre sua vontade através de sutis estratagemas, estabelece os horá-rios da casa, vai no
colégio quando quer, demite as empregadas, escolhe a marca do carro a ser comprado, o
menu da casa, a decoração. Invertendo os papéis tradicionais, é a filha que determina quando
a mãe pode sair, a que horas deve voltar pra casa e que roupas deve vestir. Pra se ter uma
idéia, Paloma tem personal trainer em casa e está pensando em contratar uma secretária
particular para fazer o seu dever de casa.

Muitas vezes, Alexia chora como uma criança quando a filha lhe passa um pito. Nessas horas,
apela para Cadinho, que tenta botar um pouco de ordem naquela casa. Não vem logrando
muito sucesso, seja porque comparece pouco como pai, já que sua agenda familiar é extensa,
seja porque também acaba sucumbindo diante da super-poderosa menina de onze anos.

Nesses últimos anos, Alexia viu a fortuna da sua nobilíssima família se pulverizar. Para seu
azar, deposita as esperanças do futuro da filha Paloma na herança que ela iria receber do pai
que acaba de falir.

Como se não bastasse a capotagem nos negócios, Cadinho ainda vai ter mais surpresas
desagradáveis na semana. Tanto Verônica quanto Noêmia passam mal e acabam dando
entrada no mesmo hospital. Cadinho faz das tripas coração pulando de um quarto pra outro e
mantém segredo a respeito da hecatombe que se abateu sobre a vida de todos. Paga as contas
do hospital com cheques sem fundo e dá um jeito de sumir da área antes que uma mulher o
veja com a outra. Mas o pior acontece: as duas acabam se conhecendo, e, por incrível que
pareça, ficam amigas. Não têm nada em comum, mas acabam estabelecendo um elo na
adversidade: ambas estavam doentes e com o marido ausente. As duas reclamam “dos
maridos” e chegam à conclusão que têm companheiros muito parecidos, na mesma idade,
ambos egressos do mercado financeiro. Dois homens que deveriam se conhecer.

Cadinho tem um troço quando Verônica lhe conta que convidou Noêmia e “o marido” para
jantar na cobertura na Vieira Souto. Tantos esforços durante todos aqueles anos para manter
uma afastada da outra, tanto cuidado em nunca aparecer nas fotos de coluna social, nem na
internet, tudo pra nada.

Cadinho vai conseguir dar um jeito de escapar do jantar, mas não consegue manter a farsa por
muito tempo. Noêmia e Verônica ficam mesmo amigas e descobrem afinal que são casadas
com o mesmo homem, que ainda por cima tem uma amante fixa. Pior é a descoberta que
Cadinho está falido e que agora todas vão ter que dar um jeito de sobreviver.

Movidas por um desejo de vingança, Noêmia e Verônica vão unir forças contra Cadinho e
ainda vão cooptar Alexia para o lado delas. Agora é a vez dele, que as fez de bobas por tanto
tempo, fazer o papel de palhaço.

Nesse meio tempo, aquela grande família pós-moderna terá que dar um jeito para sobreviver.
Verônica vai transformar a cobertura na Vieira Souto numa casa de cômodos. Além disso, vai
começar alugando suas roupas, bolsas e jóias para a galera, ou seja, acaba se transformando
numa muambeira profissional. Débora vai tentar se virar como promoter enquanto não casa
com Jorginho. Tuca, que já é boêmio, abrirá uma barraca de caipirinha no Divino.

Noêmia vai tentar instituir uma ONG beneficente que só beneficia a ela própria e Bento vai ter
que se conformar em desistir do seu primeiro longa e faturar uns trocados filmando
casamentos e partos.

Alexia não vai descer do salto com tanta facilidade. Aproveitando ainda a fama de socialite, vai
dar um jeito de sobreviver um bom tempo através de permutas e bocadas. Passará a cobrar
para aparecer em eventos e consegue comer de graça em diversos restaurantes em troca de
uma foto na revista.

Conspirando a três, Noêmia, Verônica e Alexia reúnem informações aqui e ali até que chegam
à conclusão que Cadinho ainda tem um tesouro enterrado: a conta no exterior.

O objetivo daquela simpática gangue de mulheres é arrancar do homem as informações sobre


a tal conta, e, se possível, se apoderar do dinheiro todo, deixando Cadinho apenas com a
roupa do corpo, implorando aos pés das suas concubinas por perdão.

Evidentemente o plano não vai dar certo, já que cada uma delas vai tentar ficar com a grana só
para si. Além disso, as três vão terminar assumindo que são apaixonadas por Cadinho e vão
disputá-lo com unhas e dentes.

No final das contas o polígamo será obrigado a decidir qual é a favorita do seu harém.

O QUARTETO FANTÁSTICO
Não se pode dizer que os pais de Tufão, Seu Leleco e Dona Muricy, foram infelizes no
casamento. É bem verdade que Muricy teve que se desdobrar para tocar a barraca de camelô
ao mesmo tempo que cuidava da casa e criava os dois filhos enquanto o marido passava as
tardes jogando sinuca e entornando cerveja com os amigos. Mas mesmo com todos os seus
defeitos, Leleco, um malandro adorável, foi à sua maneira um bom marido para Muricy: fiel à
medida do possível, carinhoso, respeitador e sobretudo um fenômeno na cama.

Com o advento do súbito enriquecimento de Tufão e conseqüentemente da família dele


também, pode-se dizer que os pais do jogador piraram. Leleco e Muricy não estavam
preparados psicologicamente para cartões de crédito sem limite. Do dia pra noite, a vida deles
foi virada pelo avesso. Eram adulados por Deus e o mundo. Não tiveram cabeça para segurar o
casamento e acabaram se juntando a parceiros mais jovens.

Leleco não resistiu à tentação e acabou se casando com Tessália, uma popozuda turbinada,
musa do charm, que ostenta o título de ex-mulher jaca. Muricy deu o troco à altura: juntou os
trapinhos com Adauto, um belo homem cobiçado na vizinhança, na faixa dos quarenta, mas
ainda assim vinte anos mais novo que ela.

Os problemas da nova vida da antiga parelha, agora cercada de companheiros mais jovens e
atraentes, não demoraram a aparecer. Adauto desistiu imediatamente de ser eletricista e
transformou-se num cortesão no palacete do jogador de futebol. Imprestável, não se digna
nem a consertar um abat-jour quando quebra. Além de ter arrumado aquele encosto, Muricy
ainda o pega volta e meia paquerando alguma garota nas ruas do bairro. Pior, uma vez
descobre ele dando em cima de Tessália, atual esposa de seu ex-marido Leleco. Como sempre,
o pau come na casa.

Leleco não acredita que Tessália, a mulher mais gostosa do bairro, o ame de verdade como ela
afirma. Desenvolveu uma paranóia de corno. Como um cão farejador, segue os passos da
garota dia e noite na esperança de flagrá-la cometendo o tão esperado adultério. Acaba nunca
conseguindo o feito, e se mete nas situações mais constrangedoras por conta disso. A verdade
é que, por incrível que pareça, a popuzuda ama aquele coroa com que ela se casou e não o trai
com ninguém.

Inconformado com o insucesso de suas investigações e ainda certo de que é corno, Leleco
lança mão de um derradeiro expediente na tentativa de desmascarar a sua esposa. Paga um
bom dinheiro a Darkson, o rapaz mais bonito do Divino, troféu supremo do bairro, para dar em
cima sistematicamente da sua mulher e ver se ela resiste.

Leleco arrisca perder sua mulher no jogo perigoso que ele próprio inventou. Darkson, que a
princípio é partidário da teoria de que “se mulher quer fidelidade, que compre um cachorro”,
acaba se apaixonando de verdade por Tessália.

Pra completar, quem é o primeiro a trair naquele casamento é Leleco. Desde que se
separaram, Leleco e Muricy continuaram muito ligados um ao outro. Morrem de ciúmes um do
outro. Uma brasa ainda arde forte entre aqueles dois. Brasa essa que se transforma em fogo
alto naquela excursão da família à Ilha Grande.
Tufão decidiu alugar um barco e levar a família para conhecer aquele paraíso ecológico. Uma
tarde, o grupo todo faz uma caminhada até o alto de um monte. Leleco e Muricy ficam pra trás
e se perdem dos outros na trilha. Entornaram cerveja o dia inteiro e estão bem altos. Discutem
que rumo tomar e brigam. Em meio à briga, Leleco beija Muricy. A velha dupla tem um
surpreendente reencontro erótico em meio à natureza pródiga, nas margens de um laguinho.
Quase são flagrados por Adauto e Tessalia, que lideravam uma busca no mato para resgatarem
seus parceiros mais velhos.

Leleco e Muricy não conseguem refrear seus impulsos e passam a ser amantes ex-casados.
Resta saber se essa nova e insólita relação dos dois vai adiante.

MONALISA E SUA TROPA DE CHOQUE

Monalisa, nossa rainha da chapinha, possui uma corte de vassalos no seu próspero salão. A
fauna é variada, a começar pelo preferido Roniquito, melhor amigo e braço direito da patroa.
O rapaz é filho de Diógenes, ex-pugilista e dono de uma loja de roupas e acessórios femininos.
Diógenes não sabe que seu filho se “monta” de mulher com as roupas e acessórios da loja do
pai e segue irreconhecível para a balada no “Palácio das Rosas”, onde faz show de travesti com
o nome de Ryanna.

Quem cria confusão no salão é sempre Olenka, uma gostosona turbinada desbocada, belicosa
e grossa que perdeu o concurso de mulher-jaca para sua melhor amiga, a doce Tessália. Apesar
de ser um trator, melhor dizendo, um tanque sempre pronto para a guerra, Olenka no fundo é
um amor. Leal e sincera, mesmo com todos os problemas que causa, conquistou a amizade de
Monalisa, que por isso não consegue mandá-la embora.

Olenka afugenta a clientela. Como não tem papas na língua, diz a verdade quando um
alisamento de cabelo de uma cliente ficou horrível, e também trata mal todo mundo que não
vai com a cara. Não dá conta de segurar namoro nenhum por muito tempo. Geralmente seu
namorado aparece com um olho roxo. A última vítima, um jogador de futebol, teve seu carro
praticamente destruído por ela num acesso de fúria.

Órfã, solitária, sem ter onde cair morta, Olenka ainda por cima sofre de epilepsia. Mulher da
noite, sabe se divertir como ninguém. Seu território é o baile de charm no Palácio das Rosas,
onde ela brilha na pista. Funkeira de talento, ela própria não se dá o devido valor. Com a ajuda
de Monalisa, vai adquirir auto-estima e ficar famosa até o final da novela.

A amizade entre Olenka e Monalisa só será abalada quando a funkeira se envolver com Iran,
filho da outra e menino dos olhos da mãe carente e possessiva.

Completam ainda o painel de tipos humanos do salão de Monalisa as irmãs Beverly e Brigitte.
Esperta, Beverly é a melhor funcionária do salão. Brigitte não nasceu com a mesma inteligência
da irmã. Consegue errar as tarefas mais simples e repete como um papagaio o que a irmã diz,
para profunda irritação da outra.

Beverly se infiltrou no salão com o objetivo de descobrir a fórmula do composto do alisamento


de Monalisa, segredo guardado a sete chaves. Ambiciosa, a loura de farmácia sonha em abrir o
próprio salão e derrotar Monalisa. Enquanto não se apodera da fórmula, usa a cabeleira da
pobre irmã Brigitte como cobaia para testar suas próprias fórmulas.

***********************

PERFIL DOS PERSONAGENS

O APOGEU DO SUBÚRBIO

1 - NINA, na faixa dos vinte e poucos anos, também conhecida como RITA. Nossa heroína é
bonita, cativante, discreta, misteriosa, introspectiva, ascética, objetivada. Uma mulher de
ação. Destacam-se também a sua retidão de caráter e o seu senso de justiça. Adepta da teoria
que os fins justificam os meios, muitas vezes age como vilã em prol de uma boa causa. Ficou
órfã de mãe aos três anos de idade e foi criada por um pai carinhoso, Seu Genésio. Os
problemas na vida da menina Rita começam quando seu pai, um modesto contador, se
apaixona perdidamente pela bonitona Carminha, uma tremenda chave de cadeia, que só
topou ficar com o pobre Genésio porque ele era uma tábua de salvação num momento em
que tudo o mais tinha dado errado na sua vida. Depois que Genésio morre, Carminha
abandona Rita num lixão, abrindo para sempre uma ferida no coração da menina, que jura
vingança. Para sorte dela, Rita acaba sendo criada na casa de Lucinda, a adorável mãe do lixo.
Mais tarde, é adotada por um chileno, Martín, e levada para a Patagônia, onde passa o resto
da infância e a juventude.
Após a morte do pai adotivo, dezoito anos depois, Rita volta para o Brasil com o objetivo de se
vingar da madrasta Carminha, que atualmente é a esposa de um próspero ex-jogador de
futebol, Tufão.
Como o pai adotivo dizia, apesar de ser uma excelente pessoa, Nina possui uma zona negra,
insondável e amarga na sua personalidade. Em nome de sua vingança, está disposta a
sacrificar quase tudo. Vai acabar se envolvendo com o marido de Carminha, Tufão, com
Jorginho, filho dela e com o amante da megera, Max. Não tem idéia de que, sem querer, fez
Tufão se apaixonar por ela. Seduz, mas consegue nunca ir pra cama com Max. Não contava
apaixona-se por Jorginho, que está de casamento marcado, e vem a ser o Batata, um menino
do lixão que foi seu primeiro namorado.

2 - Carmen Lucia Moreira de Souza, a CARMINHA, na faixa dos cinqüenta na segunda fase da
novela e dos trinta na primeira. Megera bonita, sensual, inteligente, divertida, dissimulada,
ambiciosa, fria e amoral. Assim como Rita, Carminha também foi uma criança abandonada no
lixão. Comeu o pão que o diabo amassou na casa de Nilo, um miserável que explora crianças
naquele fim de mundo. Lá ela conheceu Max, filho de Nilo, que iria se tornar seu eterno
amante e parceiro na vida. Os horrores que passou na infância fizeram de Carminha uma
mulher de aço. Depois de se envolver num crime pa-voroso com Max e Nilo, ela conseguiu
fugir do lixão através de um contrato com uma agência de modelos. Com os trocados que
ganhou numa propaganda de óleo bronzeador, alugou por um mês um conjugado em
Copacabana, tempo suficiente para conhecer um turista americano de terceira idade na orla e
tentar aplicar o seu primeiro golpe. Para seu azar, o tal turista americano era um policial
aposentado que percebeu que ia ser roubado e avisou a polícia. Carminha foi em cana. Depois
que saiu da cadeia, a megera estava com uma mão atrás e outra na frente, morando numa
vaga num barraco em Jardim Suely quando conheceu o pobre Genésio dos Santos num bar.
Tratou logo de seduzir e se aboletar na casa do viúvo antes que fosse expulsa da vaga.
A partir dali, Carminha e Max começam a ter sucesso nas suas empreitadas. Conseguem
roubar todo o patrimônio de Genésio, que morre atropelado em seguida. Carminha se livra da
filha do falecido, abandonando a criança no mesmo lixão que foi criada. Em seguida, casa com
Tufão que se aproximou dela culpado porque atropelou Genésio.
Carminha torna-se a rica esposa do jogador de futebol. Bem humorada, veste o marido com as
roupas mais feias possíveis para garantir que o mulherio não se aproxime dele. Mantém o
velho amante e parceiro por perto, casando-o com a irmã gordinha de Tufão, e cria os filhos
que teve com Max, Jorginho e Ágata na casa do jogador de futebol. Ela acena para Max com a
isca de que a dupla ainda vai aplicar um golpe definitivo no jogador, mas na verdade não
pretende aplicar golpe nenhum tão cedo. As coisas estão boas do jeito que estão para
Carminha. Cercada de seus dois homens, senhora da situação, ela não imagina que seu reino
está prestes a ruir com a chegada de Nina.

3 - Jorge TUFÃO, na faixa dos cinqüenta, e dos trinta na primeira fase da novela, quando ainda
é jogador de futebol. O ex-jogador de futebol apesar de ter enriquecido nunca quis sair de seu
bairro de origem, Jardim Suely, onde é venerado como uma lenda viva. Além da fortuna que
amealhou com o futebol, ganhou ainda mais dinheiro se metendo no negócio de motéis no
subúrbio. Aliás, não deixa de ser uma contradição curiosa o fato de um homem moralista
patrocinar a libertinagem no seu bairro. Seu patrimônio mudou de dígito mas seus hábitos
continuam os mesmos. Não acha graça em vida de rico. Seu habitat ainda é um meio fio onde
entorna uma cerveja descalço, entra na biriba, na sinuca e joga conversa fora com os amigos.
Coração grande, afetivo, generoso, homem de família, criou dois filhos adotados com
Carminha: Ágata, que ele acha que é filha do falecido Genésio, e Jorginho, um garoto que foi
tirado do lixão. Não sabe que ambos os seus filhos são na verdade filhos de Max, amante de
Carminha, que convive com ele na casa, atualmente casado com a irmã dele, Ivana.
Se faz de bobo, mas na verdade é esperto. Há tempos observa o mau caratismo de sua mulher,
só não imagina que ele vai tão longe, Não sai de casa por causa dos filhos e por uma certa
depressão paralisante. Vai redescobrir a vida quando se apaixonar por Nina. Ainda tem á
espera dele sua antiga namorada Monalisa, que apesar dele não saber, é mãe do seu único
filho de sangue, Iran.

4 – Jorge Tufão Filho, o JORGINHO, na faixa dos vinte, bonito, charmoso, inteligente, cativante,
bom caráter. Passou a infância no lixão onde tinha o apelido de BATATA. Lá ele conheceu Nina,
que foi sua primeira namorada. Tempos depois, foi adotado por Tufão e Carminha e tirado
daquele inferno. Não sabe que na verdade é filho legítimo de sua mãe adotiva e de Max,
amante dela. É jogador de futebol como o pai, seu ídolo, mas não parece ter o mesmo talento
de Tufão. Apesar das inúmeras oportunidades, nunca impressionou com seu futebol nem tem
visibilidade na mídia. Não sai do banco de reservas do time de segunda divisão onde joga.
Escolheu um caminho difícil já que vai ser inevitavelmente sempre comparado ao pai.
Personalidade retraída, é culto para o meio onde anda e não frequenta o circuito dos famosos.
Racha um apê na Zona Sul com o amigo Iran, idolatra Tufão e vive em conflito com a mãe
Carminha, já que é o único na família a enxergar o caráter duvidoso dela. Está de casamento
marcado com uma patricinha da Zona Sul, Débora Queirós, uma Maria-chuteira que é sua
namorada há anos. Vai reencontrar Nina trabalhando como empregada na casa dos pais dele e
se apaixonar de novo pela primeira namorada que teve aos onze anos de idade.

5 - ÁGATA Tufão, dezoito anos, adolescente problemática, insegura, desajeitada, com baixa-
auto estima, conhecida como a última virgem do Jardim Suely. Seus problemas são devidos a
péssima criação que teve da mãe Carminha, que nunca se conformou que a filha não fosse a
menina perfeita dos seus sonhos. Ágata escuta da mãe que ela é feia e nunca vai arrumar
namorado se continuar mal arrumada desse jeito. A pobre menina só encontra sossego no colo
do pai, que a ama incondicionalmente. Ágata tem qualidades que a mãe não enxerga. É doce e
inteligente, além de ter talento para a culinária. Como toda adolescente, passa o dia inteiro
pendurada no celular. Bombardeada por hormônios, não pode ver um homem bonito que
perde a cabeça. É apaixonada por Darkson, o rapper bonitão do bairro.
Foi criada achando que é filha do falecido Genésio com Carminha e vai cair das nuvens quando
descobrir que na verdade é filha do homem que ela mais abomina no mundo: Max.
Ágata é quem mais vai sofrer quando descobrir a verdade sobre sua história e sobre o
verdadeiro caráter de Carminha.

6 - MAX Oliveira, na faixa dos quarenta na segunda fase da novela e dos vinte e poucos na
primeira. Bonitão, sem caráter, cafajeste, dissimulado ambicioso, conflituado, em suma, um
marginal que não prima pela inteligência e não teve coragem nem cacife para se tornar um
criminoso de verdade. Filho de Nilo, foi criado no lixão onde conheceu Carminha, sua eterna
parceira e amante. Na juventude, tentou carreira como modelo, mas conseguiu apenas
aparecer nuns poucos anúncios de surfwear no subúrbio. Tem pânico de pobreza. Por causa da
aparência física, sempre achou que o mundo lhe devia um destino melhor. Conseguiu fugir do
lixão e se estabelecer na Zona Norte. É sócio de Carminha nos golpes dela, tanto em Genésio, o
primeiro marido, quanto no segundo marido, Tufão. Tem dois filhos com Carminha: Jorginho e
Ágata. Casou com a irmã de Tufão e acabou morando com sua amante e seus dois rebentos
que não sabem que são filhos dele sob o teto do jogador de futebol. Apesar de bem sucedido
nos seus golpes, anda profundamente insatisfeito com a sua vida. Apura pouco dinheiro na sua
estranha produtora de eventos que “cuida da imagem” de Tufão. Ainda por cima, não
consegue arrancar muito dinheiro da amante nem do próprio jogador, que é mão fechada. No
seu entender, já era pra ele ter metido uma bolada no bolso e recomeçado a vida num país de
primeiro mundo. Além de tudo, Não suporta mais ter que encarar a mulher gordinha na cama
á noite e também não tem mais saco para o velho caso com Carminha. Vai se envolver com
Nina, que através dele, abrirá uma brecha na fortaleza da ex-madrasta.

7 - IVANA Tufão, na faixa dos quarenta, extrovertida, descompensada, deslumbrada, gordinha,


inocente, bom caráter. Ivana ainda trabalhava como empregada doméstica quando Tufão ficou
rico. Assim como o pai e a mãe dele, a irmã também passou a viver na aba do irmão. Sem
estrutura emocional nem intelectual para processar uma alteração tão brusca do padrão de
vida, pirou com a sua nova vida de perua e engordou loucamente. É o alvo constante de
vendedores mal intencionados, já que ela compra literalmente qualquer coisa, geralmente
objetos sem nenhuma utilidade. Atualmente se diz designer de interiores, sendo que o único
local que ela já decorou é o palacete medonho do irmão onde ela mesma mora. Volta e meia
sofre crises de depressão, atira as coisas que comprou pela janela, tem uma recaída de
faxineira e resolve varrer a casa. Apesar de viver fazendo dietas, sofre de sonambulismo e
ataca a geladeira á noite.
Carminha armou para que Ivana se casasse com o bonitão Max. Desde que se casou, Ivana
tenta de todas as maneiras engravidar, mas não consegue. Vai sofrer muito quando descobrir
a farsa do seu casamento e amadurecer.
8 - MURICY Tufão, na faixa dos setenta, uma força da natureza. Matriarca sexualizada,
desbocada, cafona, generosa, cativante, dona de um enorme coração e de um imenso caráter.
Veio do Nordeste para o Rio de Janeiro na década de sessenta. Fez o possível e o impossível
para criar os filhos ao mesmo tempo que tocava a barraca de camelô nas imediações da
Central do Brasil enquanto o marido Leleco passava as tardes jogando sinuca e bebendo
cerveja. Depois que Tufão fica rico, e ela também, vai perder a cabeça e se separar de Leleco.
Deslumbrada com tudo que o dinheiro pode comprar, adulada por todo mundo, Muricy vai se
casar com Adauto, um eletricista do bairro vinte anos mais novo. Logo vai descobrir que a vida
de rica com o marido mais jovem não é exatamente um mar de rosas e vai ter uma recaída
com o ex-marido Leleco.
Mais tarde, vai levar o maior baque quando vier á tona a verdadeira face de Carminha. Para
seu arrependimento, Muricy nunca gostou de Monalisa e sempre incentivou seu filho a ficar
com Carminha.

9 - ADAUTO Nogueira, na faixa dos quarenta, solitarião, analfabeto, tem certeza que o mundo
vai acabar no reveillon do ano 2000. No começo da novela, Adauto é o amigo esquisitão de
Tufão, que sempre foi apaixonado pela mãe do jogador, Muricy, com quem ele finalmente vai
se casar depois que ela se separa de Leleco. Adauto é uma espécie de zelador do clube. Cuida
da sala de troféus, dorme num quartinho por ali e ganha uns trocados trabalhando como
eletricista.
Mais tarde, depois que se casar com Muricy passará a se auto-denominar artista plástico e fará
esculturas com fios, que exporá no palacete do jogador de futebol.

10 - LELECO Tufão, na faixa dos setenta. O patriarca da família Tufão é um sujeito amável e
boêmio, conhecido como um fenômeno na cama. Um hedonista compulsivo que comparecia
com pouco na casa humilde onde morava com a mulher Muricy e os filhos Jorge e Ivana já que
passava a maior parte do tempo no balcão do boteco ou na mesa de sinuca com os amigos. No
entanto, Leleco sempre deu amor á sua mulher e aos seus filhos que tem por ele uma enorme
estima.
Leleco não acreditava que o filho pudesse se tornar jogador de futebol. Para sua surpresa
aquele rapaz que não tinha o talento do pai com as mulheres tinha talento com a bola nos
pés.
Depois que o filho ficou rico com o futebol, Leleco parou de fazer os bicos com os quais
faturava alguns trocados e mergulhou de vez na boa vida. Caiu tanto na folia que acabou
separando-se de Muricy, que sempre foi o amor da sua vida. Atualmente mora numa casa que
Tufão lhe deu. Não faz questão de muito luxo. Contenta-se com uma geladeira cheia de
cerveja. Para seu próprio espanto, a mulher mais gostosa do bairro aceitou seu convite de
casamento. Desde então, ele sofre imaginando que está sendo traído. Paranóico, vai contratar
um bonitão para dar em cima da sua mulher para testá-la. Nesse meio tempo, vai ter uma
recaída com a ex-esposa Muricy.

11 - TESSÁLIA dos Santos, gostosona turbinada, a mulher mais desejada do bairro. Uma
bombshell do cinema americano dos anos cinqüenta, linda e ligeiramente abilolada, no
subúrbio carioca nos dias de hoje. Boa gente, doce, ingênua, tranqüila, sincera e romântica,
Tessália não tem noção de sua própria beleza nem de seu poder sobre os homens. Ganhou
sem querer o concurso de mulher jaca no baile funk. Não fazia a menor questão do prêmio,
preferia que sua melhor amiga Olenka tivesse ganho. Casou por amor com um homem bem
mais velho, Leleco, que desenvolveu uma paranóia de corno. Leleco vai contratar o bonitão
Darkson para testar a fidelidade da esposa. Darkson vai acabar se apaixonando por Tessália.
Resta saber se ela vai querer alguma coisa com ele.

12 - MONALISA Barbosa, na faixa dos cinqüenta, vivida, carismática, passional, divertida,


sensual. Mulher de fibra, nascida na Paraíba, Monalisa veio tentar a sorte no Rio sem um
centavo no bolso. Chegando na cidade, arrumou emprego de manicure. Apaixonou-se por
Tufão ao vê-lo jogar pelada no campinho e sofreu quando perdeu seu homem para Carminha.
Descobriu que estava grávida de Tufão depois que ele terminou com ela. Teve o filho sozinha
na Paraíba e criou o menino Iran sem que Tufão soubesse que era pai dele.
Mãe possessiva, Monalisa não tem sossego, já que seu filho, atualmente um lindo rapaz de
dezoito anos parece ter um mel que atrai todas as mulheres do bairro. Evidentemente,
nenhuma daquelas “vadias” é digna de namorar o seu príncipe, e Monalisa dá um jeito de
despachar todas que pode dali. Agora, para seu horror, seu rebento está saindo de casa para
rachar um apartamento na Zona Sul com seu melhor amigo, Jorginho, filho adotivo de Tufão.
Iran, assim como Jorginho, também é jogador de futebol, e ultimamente tem andado perto do
homem que ele não sabe que é seu pai.
De manicure, Monalisa transformou-se em dona de salão. Conhecida como “rainha da
chapinha”, foi a responsável pelo enlouramento da maioria da população feminina do bairro.
Ambiciosa, está decidida a ampliar ainda mais seus negócios, transformando um motel em
decadência de propriedade de Tufão numa espécie de clube, que de noite funciona como casa
noturna, o “Palácio das Rosas” templo do pagode e do funk, onde a moçada do Jardim Suely
ferve, e de dia transforma-se num piscinão de Ramos. Assim como Tufão, Monalisa é um ícone
nas redondezas além de ser a única pessoa capaz de desafiar o jogador de futebol. Exemplo de
mulher bem sucedida e emancipada, ela mantém um romance há anos com Silas, dono de um
“carro de mensagem”, mas não quer juntar os trapinhos com ele. Prefere manter a sua
liberdade. Costuma dizer que não quer botar homem dentro de casa pra não ter que entregar
o controle remoto da TV. Na verdade, o coração dela sempre foi e será de Tufão.

13 – IRAN Barbosa, dezoito anos, bonito, charmoso, um sucesso com a mulherada e um


talento com a bola nos pés. Filho único de mãe solteira, mimado ao extremo, não seria
surpresa se tivesse se tornado gay. No entanto, deu pro contrário. O belo rapaz exerce uma
louca atração pelas mulheres, que não largam do pé dele. Para o desassossego de Monalisa,
ele tornou-se o melhor amigo de Jorginho, o filho adotivo de Tufão, e volta e meia encontra-se
com o homem que ele não sabe que é pai dele. Foi aceito num time de juniors de um grande
time. Vai se envolver com Ágata. INDISCIPLINADO, BOÊMIO, DA PÁB VIRADA.

14 – Paulo SILAS, na faixa dos cinqüenta, boa gente, boêmio, farrista, ex-guitarrista de uma
banda na época da jovem guarda. Costuma contar as histórias da época em que era um “quase
famoso”, e andava com o Tremendão e da Vanderlea. Atualmente ganha a vida com seu “carro
de mensagem”, que consiste num calhambeque emperequetado onde ele transmite
mensagens pelo autofalante. As mensagens podem ser declarações de amor, felicitações de
aniversário ou até cobranças e insultos.
Silas é “pai solteiro” de Darkson e incute no filho a idéia de que ele vai alcançar a fama que o
próprio Silas sempre almejou e nunca conseguiu. A mãe de Darkson, uma ex-atriz de cinema
erótico soft que atendia pelo nome de guerra Soninha Catatau, abandonou o filho recém
nascido e desapareceu.
Há anos Silas mantém uma “amizade colorida” com Monalisa, a quem vive propondo
casamento e ela nunca aceita. É o melhor amigo e confidente de Tufão, que fica sabendo
através dele da vida da ex-namorada Monalisa.

15 - SOCORRO dos Santos, a SONINHA CATATAU, na faixa dos cinqüenta, ex-mulher de Silas e
mãe de Darkson. Já foi atriz de pornochanchada soft e atualmente é evangélica. No entanto,
quando toma um drink, sua antiga personalidade volta á tona. Reaparecerá num dado
momento da história e tentará se aproximar do filho e disputará Silas com Monalisa.

16 – DARKSON Silas, vinte e poucos anos, o bonitão que é a sensação de Jardim Suely. Cheio
de ginga, ganha a vida fazendo propaganda ao microfone na calçada em frente a loja de
roupas femininas de Seu Diógenes. Aproveita para treinar o rap. Só faz aquele trabalho
enquanto não assina contrato com uma gravadora, já que está certo que vai ter muito sucesso
como rapper. O mulherio se aperta na calçada para admirar a beleza do rapaz, o que também
ajuda a chamar a clien-tela para a loja de Seu Diógenes.
Tem uma coleção de mulheres apaixonadas por ele, entre elas Olenka, manicure desbocada
que trabalha para Monalisa, e Ágata, a filha de dezessete anos do jogador de futebol.
Apologista da frase “se mulher quer fidelidade, que compre em cachorro”, pega geral o
mulherio que se oferece e garante que nunca se envolve com garota nenhuma. Vai ser
contratado por Leleco para dar em cima da mulher dele, Tessália, e vai acabar se apaixonando
por ela.

17 – OLENKA Cabral, vinte e poucos anos, gostosona, bom caráter, impulsiva, dura, desabrida,
burra como uma porta, diz a verdade doa a quem doer. Em suma, um trator. Perdeu o
concurso de mulher-jaca para sua melhor amiga, a doce Tessália. Trabalha como manicure no
salão de Monalisa, que só não a mandou embora ainda porque gosta dela. Olenka afugenta a
clientela. Como não tem papas na língua, diz a verdade quando um alisamento de cabelo de
uma cliente ficou horrível, e também trata mal todo mundo que não vai com a cara. Não dá
conta de segurar namoro nenhum por muito tempo. Geralmente seu namorado aparece com
um olho roxo. A última vítima, um jogador de futebol, teve seu carro praticamente destruído
por ela num acesso de fúria.
Órfã, solitária, sem ter onde cair morta, Olenka ainda por cima sofre de epilepsia. Mulher da
noite, sabe se divertir como ninguém. Seu território é o baile funk no Palácio das Rosas, onde
ela brilha na pista. Funkeira de talento, ela própria não se dá o devido valor. Com a ajuda de
Monalisa, vai adquirir auto-estima e ficar famosa até o final da novela.
Está sempre na cola de Darkson, o gostosão do bairro, e vai se envolver com Iran, filho de
Monalisa.

18 – RONIQUITO, na faixa dos vinte, bonito, divertido, homossexual, braço direito de Monalisa
no salão e melhor amigo da patroa. Volta e meia “se monta” á noite e segue irreconhecível
para o “Palácio das Rosas” onde faz um show com o nome de Ryanna. A única que sabe da sua
dupla identidade é a amiga Monalisa. Filho único de Diógenes, um machão que é dono da loja
de moda feminina, tem problemas em contar pro pai que não vai se tornar jogador de futebol
e assumir que é gay. Vai acabar se envolvendo com uma mulher masculinizada.

19 – BEVERLY, na faixa dos vinte, loura de farmácia, bonitona, inteligente, sagaz, é a principal
funcionária de Monalisa no salão. Na verdade quer descobrir a fórmula do composto do
alisamento, segredo guardado a sete chaves por Monalisa, para abrir seu próprio salão. É irmã
da pobre Brigitte, e usa a outra como cobaia para testar fórmulas de alisamento.

20 – BRIGITTE, na faixa dos vinte, nem bonita nem feia, ingênua, bobinha, outra loura de
farmácia que também trabalha no salão de Monalisa. É irmã de Beverly mas não possui a
mesma inteligência da outra. Costuma repetir as frases que a irmã diz, copiar suas roupas e
seu estilo, o que irrita profundamente Beverly.

21 – DIÓGENES, na faixa dos cinqüenta, sisudo, fechadão. Fez dinheiro com uma loja de modas
e acessórios femininos. Na sua loja, ele vende, compra e aluga roupas, bolsas e bijuterias.
Funciona também como um agiota, emprestando dinheiro para as mulheres ou cobrando juros
das mercadorias que vende em até noventa e seis parcelas mensais. Machão empedernido,
não admite que seu filho Roniquito seja gay e quer que ele se torne jogador de futebol.

22 – LEANDRO, o BAIANO. Bonito, carismático, caráter duvidoso. Baiano, recém chegado no


Rio, veio para fazer um teste no Divino Futebol Clube e conseguiu passar para o banco de
reservas. Como o salário que recebe no clube é exíguo, complementa a renda trabalhando
como gari. Faz coleta á noite. É apaixonado por Greicekelly, mas sabe que ela só vai ficar com
ele se ele se destacar no gramado. Portanto, para que nosso jovem consiga levar sua amada
para a cama, precisa fazer gol.

23 – GREICEKELLY. Irmã de Beverly e Brigitte, Maria chuteira clássica, é a mau-caráter da


família. Avessa ao trabalho, sempre dá um jeito de apresentar um atestado médico e não
comparecer no serviço, mais precisamente no balcão a loja de seu Diógenes. Está sempre
assediando jogadores de futebol, seja no estádio, seja no clube, seja num barzinho á noite. Sua
meta assumida é se casar com um craque e ir morar no exterior.
Tem um fraco por Leandro, com quem a coisa pega fogo na cama e é apaixonado por ela.
Porém, Greicekelly pôs na cabeça que quer mais da vida que aquele jovem jogador que ainda
não se destacou no gramado e é duro. Seu objetivo é se infiltrar na intimidade de Jorginho e
Iran, os dois bonitões com entrada na elite do futebol. Para tanto, fará de tudo para seduzir
tanto um como outro. Quando perceber que não vai conseguir nada com Iran, lançará mão de
um último expediente: seduzirá o rapaz uma noite e em seguida o acusará de estupro.

24 – JANAÍNA da Silva, na faixa dos quarenta, obstinada, sincera, batalhadora, mãe solteira do
filho Lúcio, juntou um bom dinheiro traba-lhando como empregada principal na casa do
jogador de futebol, grana essa suficiente para que ela financie a boa vida do filho e até
contrate uma empregada para si. Quando chega em casa, é a vez dela ser a patroa, dando duro
na pobre serviçal Xodinha.

25 - LÚCIO, na faixa dos vinte, bonito, preguiçoso, vagabundo, malandro. O filho mimado de
Janaína dá sempre um jeito de fugir do trabalho na loja de Diógenes alegando que ficou
doente. Playboy de subúrbio, passa a vida tomando sol na piscina de plástico no quintal da
casa e exercitando seus músculos com halteres. Consegue arrancar da mãe dinheiro para
custear seus luxos: o carro envenenado e as noitadas com os amigos no baile funk. É MC e
sonha entrar no big brother.

26 – XODINHA, ser primitivo, a empregada da empregada.

O POVO DO LIXÃO

27 - LUCINDA, mais de sessenta anos na segunda fase da novela, quarenta e poucos na


primeira. Coração de ouro, alma generosa, afetiva, bem humorada, a mãe do lixo já criou
dezenas de crianças na casa que ela mesma construiu com restos de coisas que ela catou no
lixão onde vive. Tudo naquela casa veio do lixo: os móveis, a louça, os talheres, a roupa de
cama, até as telhas do teto e os tijolos das paredes. Criou Rita e Batata, que irão se
transformar em Nina e Jorginho.
Ao longo do tempo, recebeu de muitos de seus filhos de criação dinheiro suficiente para se
mandar do lixão, mas prefere continuar na casa que construiu com as próprias mãos e ajudar
as crianças. Será a principal interlocutora de Nina.
A mãe do lixo tem um passado trágico e guarda ainda outros segredos guardados a sete
chaves. Representa a figura do bem naquele fim de mundo, o oposto de Nilo.

28 - NILO, mais de sessenta anos na segunda fase da novela, quarenta e poucos na primeira.
Figura tenebrosa, explorador de crianças no lixão. Não reservou tratamento especial nem para
o seu próprio filho Max. Obrigava o garoto a catar papel de sol a sol em troca de um prato de
comida, assim como as outras crianças do seu rebanho. Entre essas crianças estava Carminha,
que ele adquiriu da mãe dela em troca de um liquidificador. Carminha e Max tornam-se
namorados e são cúmplices de Nilo num crime pavoroso, segredo guardado a sete chaves que
pode fazer Nilo mofar na cadeia e comprometer os outros dois. Depois que conseguem sair do
lixão e se estabelecerem na casa do jogador de futebol, Carminha e Max evidentemente não
têm nenhuma generosidade para com Nilo, que por sua vez também não pode chantageá-los
porque sabe que tem telhado de vidro.
Inconformado em ainda permanecer vivendo naquele monte de lixo, Nilo vai achar uma
maneira de virar o jogo através de Nina, e depois vai traí-la.

29 – PICOLÉ, dez anos, bom caráter. Menino do lixão criado na casa de Lucinda, é ajudado por
Jorginho, que custeia seu tratamento de saúde.

30 – REI, onze anos, mau caráter Menino do lixão infiltrado por Nilo na casa de Lucinda.

A ELITE EM CRISE NA ZONA SUL

31 – Carlos Eduardo de Souza Queirós, o CADINHO, bonitão, carismático, extrovertido, na faixa


dos quarenta na segunda fase da novela e dos vinte e poucos na primeira. Está tudo certo na
vida do jovem prodígio do mercado financeiro exceto por um detalhe: ele mantém
relacionamentos estáveis com três mulheres ao mesmo tempo. Consegue fazer milagre sendo
um bom e ciumento marido de suas três concubinas Verônica, Noêmia e Alexia, e um pai
zeloso e carinhoso dos filhos que teve com as três. Vai cair do cavalo quando descobrir que
levou um golpe de seu sócio e não é mais um milionário. Ainda por cima, suas três mulheres
vão se dar conta que o marido delas todas é um polígamo e se unirão para se vingarem dele.

32 – VERONICA Queirós, na faixa dos quarenta na segunda fase da novela e dos vinte na
primeira. Perua típica, ignorante, consumista, enche a boca pra dizer que não gosta de
homem, gosta mesmo é de dinheiro. Pura mentira. Na verdade, por trás da aparência fútil,
Verônica esconde um enorme coração e uma personalidade romântica, doce e sonhadora. É a
boa e velha “Amélia” disfarçada de pistoleira.
Verônica é a antiga parceira de Cadinho, mãe de seus filhos Tomás e Débora. Ultimamente
tem perdido a cabeça ao ser catapultada da classe média para o topo da pirâmide social. A
cobertura na Vieira Souto é um eterno parque de obras, porque a dona da casa está sempre
mudando alguma parede de lugar. Comprou uma van de doze lugares, já que suas compras
semanais no shopping não cabem mais num carro convencional. Faliu a loja de gadgets que ela
mesma abriu com o dinheiro de Cadinho porque acabava ficando com a maior parte da
mercadoria para ela própria.

33 – NOEMIA Buarque, na faixa dos quarenta na segunda fase da novela e dos vinte e poucos
na primeira. A segunda concubina de Cadinho é o oposto de Verônica. Bonita, discreta,
refinada, beirando o hippie mas sempre chic, Noêmia conheceu Cadinho num cursinho de
filosofia que os dois faziam juntos á noite. Jogou duro quando percebeu que ele estava caído
por ela. Inteligente, língua sempre afiada, não dava crédito aquele homem só porque ele tinha
dinheiro, afinal ela era de esquerda. Cadinho encantou-se de vez pela linda mulher de forte
personalidade, que ao contrário da outra, era culta e contestava seus valores. Logo a
engravidou. Assim nasceu Bento, que em 1994 ainda é um bebê. Apesar de todas as suas
convicções políticas marxistas, Noêmia aceita de muito bom grado a vida de milionária que
Cadinho lhe proporciona numa soberba mansão em Petrópolis. Mais tarde, quando Cadinho
falir, é quem mais vai sofrer com a queda do padrão de vida.

34 – ALEXIA Bragança, na faixa dos trinta, uma socialite surtada que escolheu Cadinho para ser
pai da filha dela sem que ele soubesse. Desesperada ao se ver com mais de trinta sem filhos,
furou a camisinha com o próprio brinco. Com o passar do tempo, sua nobilíssima família acaba
perdendo a fortuna. Depois que até o pai da sua filha fica pobre não resta outra alternativa a
pobre ex-menina rica do que dar um jeito de sobreviver através de expedientes como
permutas e jantares de graça em restaurantes em troca de uma foto na revista. Isso sem
contar que sua vida é um inferno dentro de casa. Paloma, a filha super-poderosa dela de onze
anos, se aproveita da fragilidade e da insegurança da mãe que sofre de síndrome do pânico e a
manipula como um fantoche.

35 – PALOMA Bragança, onze anos, uma criança dona de uma personalidade fortíssima. Com
um QI superior ao da sua progenitora, a garota manipula a mãe através de chantagens
emocionais. Impondo sempre sua vontade através de sutis estratagemas, estabelece os horá-
rios da casa, vai no colégio quando quer, demite as empregadas, escolhe a marca do carro a
ser comprado, o menu da casa, a decoração. Invertendo os papéis tradicionais, é a filha que
determina quando a mãe pode sair, a que horas deve voltar pra casa e que roupas deve vestir.
Pra se ter uma idéia, Paloma tem personal trainer em casa e está pensando em contratar uma
secretária particular para fazer o seu dever de casa.

36 – BENTO Buarque, na faixa dos vinte, bonito, playboy da zona sul. Bento trabalha com
Cadinho. É o caso típico do filho que cresce à som-bra do pai, preparando-se para assumir os
negócios quando a hora chegar. Mauricinho, metido, gosta de ostentar, sempre com uma
garota diferente no banco de passageiro.
Noêmia acredita que cometeu algum erro na criação do filho, para que ele crescesse uma
pessoa tão materialista. Será que ele só pensa em dinheiro? Em carros? Em mulheres? Não
podia ao menos ler um livrinho, de vez em quando? Bento não dará a menor bola às cobranças
da mãe, e dará a todas as cobranças – de sua vida iletrada à incapacidade de ficar com uma
mulher por mais de três encontros --, a mesma desculpa: DDA, Distúrbio de Atenção.
Se Jimmy não passasse a perna em Carlos Eduardo, Bento tomaria o lugar do pai e continuaria
tocando sua vida de playboy, mas a súbita falência da família é um puxão em seu tapete. Ou
quase: pois ao con-trário dos outros filhos de Cadinho, que são obrigados a se adaptar à nova
realidade, Bento reage na base da negação. Endivida-se, faz malabarismos para manter a pinta
de milionário, continua a dar festas e pagar as contas de restaurantes e bares, para os amigos,
enquanto bola planos tão ambiciosos quanto arriscados para recuperar o dinheiro perdido –
negócios e negociatas que podem deixar a situação bem mais preta do que já está.
Tipo do cara que nunca fica mais de um mês com a mesma mulher, tentará enganchar-se com
alguma milionária quando a situação apertar. Duas delas, para desespero de Cadinho, serão
Alexia e Débora. O caso com a irmã não se consumará, felizmente, pois antes que o incesto se
dê, Bento descobrirá que a moça que ele faz a corte vem a ser sua meia-irmã. Nesse meio
tempo, ele conhece Priscilinha, a “Pri”, filha única de um dono de um império frigorífico, uma
tábua de salvação, que Bento rapidamente dá um jeito de noivar em prazo recorde. A moça,
que aparentemente é um primor de candura, faz vista grossa para os inúmeros e gigantescos
defeitos do playboy. O que Bento não sabe é que a herdeira do frigorífico é na verdade uma
fria. O pai dela faliu assim como o pai dele e as famílias de ambos, iludidas, enxergam no
casório um golpe do baú. Quando a verdade vem a tona, Bento e Priscilinha já estão de
casamento marcado. Na briga, Bento vai descobrir que sua noiva não é aquela songa-monga
boazinha e se surpreender com a personalidade fortíssima e o senso de humor afiado dela,
que mais parece uma versão feminina dele próprio. Os dois golpistas decidem levar o
casamento até o fim, pois á essa altura é negócio rachar os presentes caros que o casal vai
receber.

37 – DÉBORA, na faixa dos vinte e poucos anos, é uma garota solar, filha de Verônica e
Cadinho. Loura, peituda, de personalidade forte, é acrobata e vive de patins – seu meio de
locomoção pela Zona Sul. Seu talento com os tecidos fez com que fosse convidada para entrar
para o Cirque de Soleil. Mas de férias no Brasil conheceu Jorginho numa boite, se apaixonou
perdidamente e decidiu deixar o Canadá e voltar a viver no Rio. Vale registrar que ela já
andava de saco cheio de tanta neve, ama o Brasil, e é louca por futebol - paixão que herdou de
Cadinho. Adorada pela mãe, mimadíssima pelo pai, é a primeira pessoa a descobrir que ele
tem várias mulheres. Fissurada por Jorginho, “porque ele tem pegada, coisa que não existe
mais na Zona Sul”. No entanto, vai ter conflitos com o namorado suburbano, que é mais
careta do que ela e estranha quando a namorada sai com amigos homens. Jorginho gosta de
andar de mão dada no shopping, coisa que Débora abomina. Ela é o esteio do namorado,
quem o ampara em suas crises, dá carinho, tenta fazer com que se trate, faz quem que corra,
se exercite e tenha uma vida saudável. É sua maior incentivadora e torcedora.
Veronica e Cadinho aprovam totalmente o namoro da filha e sonham com um casamento
comme il faut, na Candelária. Já Débora acha essa coisa de casamento totalmente careta, que
papel não dá segurança a ninguém e prefere viver com o namorado, “sem Deus nem a lei no
meio disso”. Descolada, quando sua família fica dura, resolve virar atriz de televisão – papel
para o qual não tem menor talento. Sortuda, cantando no chuveiro é sampleada pelo irmão,
Tuca, e acaba virando musa do funk no Divino. Lá na frente, vai conhecer a irmã chilena de
Nina e descobrir que sua rival não é pobre. Fato que causará muitos problemas a Nina.
Vai ter uma imensa decepção quando Jorginho cancelar o casamento com ela e vai namorar
Iran, amigo de Jorginho, mais talentoso que o outro com a bola nos pés. Mais tarde vai se
afastar de Iran e reatar com Jorginho, mas a relação dos dois nunca mais será a mesma.

38 - TOMÁS, O TUCA Queirós, na faixa dos vinte, bonito, fashion, cheio de marra, tranquilão.
Nem se deu ao trabalho de terminar o segundo grau. É rapper e tem uma banda no subúrbio.
Apesar de ser filho da elite carioca, vive em Jardim Suely cercado dos amigos que fez por lá em
noitadas de rap, funk e charm. Depois que o pai falir, é quem menos vai sofrer. Vai sobreviver
vendendo caipirinha numa barraca nos bailes funk. Assim como seu meio-irmão Bento,
também vai se envolver com Olenka. Traveste-se de pobre
39 – PRISCILINHA, a noiva de Bento, patricinha da Zona Sul carioca. É a versão feminina de seu
noivo. Assim como ele, tem uma família falida e aposta num casamento com alguém bem
capitalizado como uma tábua de salvação.

PARTICIPAÇÕES

GENÉSIO, na faixa dos cinqüenta ou sessenta, um pobre contador que se casou com um
mulherão. Morre no primeiro capítulo.

MARTÍN, na faixa dos quarenta ou cinqüenta, um médico chileno apaixonado pelo Brasil.
Politicamente correto, mora com a filha adotiva Rita numa casa auto-sustentável nas margens
de um lago na Patagônia chilena.

PABLO, na faixa dos vinte, belo jovem chileno que Rita namora no começo da história.

RITA CRIANÇA, uma linda criança de onze anos que, esperta, vai descobrir as armações da
madrasta e avisar o pai.

BATATA, um garoto carismático de onze anos que vai ajudar Rita no lixão.

JIMMY BASTOS, na faixa dos quarenta. Grã fino carioca que acabou de se descobrir gay e vai
dar um golpe no sócio Cadinho.

CENÁRIOS PRINCIPAIS

“Avenida Brasil” é uma novela pensada para ser feita, em sua maior parte, em cidade
cenográfica e estúdio.

1 – Palacete do jogador de futebol. Uma construção suntuosa, pesadelo arquitetônico em


estilo francês, melhor dizendo mourisco, ou talvez neo-colonial? Barroco? Pós moderno? Pós
retrô? O abuso de acabamentos caros de todos os tipos imagináveis e o mobiliário de gosto
mais do que duvidoso fazem da casa um paraíso do kitsch. Os ambientes principais são o salão,
a sala de jantar, a biblioteca - sem livros de verdade, nas estantes existem apenas lombadas de
livros compradas a metro; o quarto do jogador; o quarto da filha Ágata – repleto de posters de
rapazes bonitos; o quarto de Muricy e Adauto e o quarto de Ivana e Max. Na área externa
temos uma piscina de formato inusitado e sugestivo e a edícula da piscina onde funciona uma
aca-demia de ginástica. Atrás da casa, existe um campinho de futebol.

2 - Lixão. Inspiração no Jardim Gramacho.

3 – Casa de Lucinda no lixão. Uma casa toda feita de lixo, cacos de louça e vidro. A inspiração
dessa casa pode ser a “Casa da Flor”, no Estado do Rio. Tudo no interior da casa foi catado no
lixão: os móveis, os lençóis e cobertas, as louças, os talheres. Dois ambientes, o quarto de
Lucinha e a sala anexa a cozinha com uma mesa grande, onde mais de dez crianças se sentam
todo dia para comer.

4 – Barraco de Nilo. Ao contrário da charmosa casa de Lucinda, o barraco de Nilo é um


amontoado nojento de papelão e madeira suja. Um ambiente só.
5 – Divino Futebol Clube. Clube de futebol tradicional do bairro, epicentro da novela. É lá que
Jorginho, Iran e Leandro treinam. De dia, a moçada se encontra e se paquera em torno da
piscina. De noite, a moçada ferve nas festas de hip-hop, funk, charm e pagode na sede social
do clube. Os ambientes principais são: campinho de futebol, piscina, salão de festas, sala de
Diógenes, sala dos troféus.

6 – Salão de Monalisa. Um imenso e luxuoso salão, sede do império da rainha da chapinha.


Compõe-se de um grande ambiente principal, onde funciona o salão propriamente dito, e uma
sala reservada da patroa.

7 – Loja de Diógenes. Uma grande loja que vende roupas e acessórios para mulheres. Um
ambiente só.

8 – Rua do bairro. Mesma rua onde fica o salão de Monalisa e a loja de Diógenes. Na mesma
calçada, Tufão faz churrasco de carne de jacaré.

9 – Casa de Monalisa. Uma bela casa, confortável, repleta de eletrônicos. Os freezers estão
sempre abarrotados de comida, já que a dona da casa prometeu para si mesma que nunca
mais passaria fome. A casa compõe-se dos seguintes ambientes: sala, cozinha, quarto de
Monalisa, e um outro quaro onde Olenka vai morar.

10 – Casa de Leleco. Uma casa “boa” de subúrbio, composta por um alpendre, um quintal, uma
sala e o quarto de Leleco e Tessália.

11 – Casa de Silas. Casa modesta, composta por uma sala e o quarto do filho de Silas, o bonitão
Darkson, praticamente um quarto de motel, repleto de espelhos.

12 – Casa de Diógenes. Casa confortável e austera do próspero comerciante. O quarto do filho


Roniquito contrasta com o resto da casa. É alegre e rococó.

13 – Casa de Janaína. Não falta nada na confortável casa da empregada do jogador de futebol.
No quintal da casa está a piscina de plástico e a churrasqueira de onde seu filho Lúcio nunca
arreda pé.

14 – Escritório de Max. Um escritoriozinho de fachada num predinho de subúrbio.

E na Zona Sul...

15 – Cobertura de Verônica. Faraônica cobertura que está sempre em obras. Compõe-se do


salão, da biblioteca e home-theater, sala de jantar, cozinha, suíte de Veronica, quarto da Maria
chuteira Débora e do músico de hip-hop Tuca.

16 – Casa de Noêmia. Uma elegante mansão em Petrópolis. Os ambientes são: salão,


biblioteca, suíte de Noêmia e quarto de Bento. Nas paredes, está a coleção de magníficas
pinturas de mestres como Portinari, Pancetti e Volpi. Nos jardins da casa, uma há uma
suntuosa piscina.

17 – Apartamento de Alexia. Um típico apartamento feito por um decorador da moda no


Leblon. Os ambientes são: sala, sala de jantar, quarto de Alexia e o quarto da filha Paloma,
que vem a ser maior do que o da mãe que ela subjuga.
18 – Apartamento de Jorginho e Iran. Um imóvel de dois quartos onde os dois jogadores e
futebol suburbanos vão se estabelecer na Zona Sul. Compõe-se de uma sala com cozinha
anexa, quarto de Jorginho e quarto de Iran.

19 – Apartamento de Nina. Decoração impessoal, típico imóvel de aluguel de temporada.

20 – Escritório de Cadinho. Tem que impressionar pelo luxo, mas pouco vai ser usado na
novela.

21 – Casa de Nina na Patagônia chilena. Uma casa charmosa ecologicamente correta, “auto-
sustentável”, de preferência nas margens de um lago na Patagônia Chilena.

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