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Resumo
Introdução
Material e Métodos
O presente trabalho utilizou uma metodologia de investigação de natureza qualitativa,
que de acordo com Bogdan e Biklen (1999), o ambiente constitui uma fonte direta de dados;
os investigadores “tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto
quanto possível, a forma em que estes foram registrados ou transcritos” (BOGDAN; BIKLEN,
1999, pp. 47-50). Além disso, os investigadores “(...) interessam-se mais pelo processo do
que simplesmente pelos resultados ou produtos; (…) o significado é de importância vital na
abordagem qualitativa” (BOGDAN; BIKLEN, 1999, p. 47-50).
Esta pesquisa pode ser classificada como documental, que de acordo com Gil (2002), é
uma fonte rica e estável de dados. Como os documentos subsistem ao longo do tempo,
tornam-se a mais importante fonte de dados em qualquer pesquisa.
A pesquisa aqui apresentada foi realizada a partir de documentos oficiais, disponíveis
para a sociedade em plataformas digitais. Os documentos analisados são os documentos que
contemplam as diretrizes educacionais para o ensino médio: a Lei 9394/96, LDB – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que regulamenta a educação básica no Brasil, a
BNCC, Base Nacional Curricular Comum – Educação é a Base (BRASIL, 2018), que é um
dispositivo da Lei 9394/96 e o PCN + Ensino Médio, livro Ciências Humanas e suas
Tecnologias, que são os Parâmetros Curriculares Nacionais, as diretrizes que orientam a
educação no ensino médio (BRASIL, 2002).
Resultados e Discussão
Esta pesquisa procurou entender quais são as diretrizes legais, que são estruturantes
para o ensino do empreendedorismo, e para isso analisou documentos oficiais, com o intuito
de realizar um levantamento sobre os pressupostos que compõem esta área de estudo e
que devem ser abordagens obrigatórias nos currículos escolares do ensino médio. Para
Sacristan (2013), as dimensões estruturantes de um currículo originam a partir do hábito de
fazer, da cultura dos docentes, dos materiais curriculares e também por regulamentos
citados pelas autoridades da educação, dentre outros.
O ensino do empreendedorismo está ligado a educação profissional, que é uma
abordagem constante na Lei 9394/96, que regulamenta a educação básica no Brasil. A LDB,
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação) é a mais importante lei brasileira que se refere à
educação, e é composta por 92 artigos que dispõem sobre os mais diversos temas da
educação brasileira, desde o ensino infantil até o ensino superior.
A Lei 9394/96, é muito clara quando trata do desenvolvimento das competências
profissionais na educação. Logo no 1º artigo, § 2o destaca que a educação escolar deverá
vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Reafirma esta necessidade quando
dispõe, dos princípios e fins da educação nacional, no Art. 2º, que determina que a
educação, é dever da família e do Estado e tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
O Art. 3º, inciso XI, determina que o ensino será ministrado com base no princípio da
vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais e no Art. 22, trata das
disposições gerais da educação básica, determina que a “educação básica tem por
finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhes a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores”. Também o Art. 27, inciso III dispõe a orientação para o trabalho como uma das
diretrizes para os conteúdos curriculares que a educação básica deve observar.
A SEÇÃO IV da Lei 9394/96 trata especificamente do Ensino Médio, e propõe no Art.
35, inciso II que “a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas
condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores”. De forma que, no Art. 35-A,
parágrafo 7, determina que os currículos do ensino médio deverão considerar a formação
integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado para a construção de seu projeto
de vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio emocionais.
O artigo seguinte, prevê que o currículo do ensino médio será composto pela Base
Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por
meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
local e a possibilidade dos sistemas de ensino e dispõe no inciso V a formação técnica e
profissional.
A BNCC – Base Nacional Curricular Comum (BRASIL, 2018) é um dispositivo da Lei
9394/96, onde no Art. 26 determina que os currículos da educação infantil, do ensino
fundamental e do ensino médio devem ter uma base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura,
da economia e dos educandos. Conforme discorre Sacristan (2013), o currículo tem natureza
reguladora, feito de códigos e mecanismos, e tem como resultado a maneira como foi
realizada a sua aplicação em cada contexto.
Com base nesta determinação da Lei 9394/96, esta pesquisa buscou identificar quais
as diretrizes sobre o ensino do empreendedorismo na BNCC – Base Nacional Comum
Curricular. A BNCC (BRASIL, 2018) é um documento normativo que obrigatoriamente deve
ser referência para a elaboração de currículos escolares e propostas pedagógicas para as
redes de ensino brasileiras tanto de instituições públicas quanto privadas.
Este documento aponta o empreendedorismo como uma competência essencial ao
desenvolvimento pessoal. Ou seja, independente de qual área o estudante seguirá com seus
estudos e carreira, o empreendedorismo é uma competência que deve ser desenvolvida e
estar presente na base curricular das escolas, que para Sacristan (2013), os currículos devem
estar em consonância com uma visão menos idealista da educação e mais próximos da
realidade e comprometidos com ela.
A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2018) – trata da educação
empreendedora no ensino médio, quando propõe uma preparação básica para o trabalho e
para a cidadania, por meio do desenvolvimento de competências para o mundo do trabalho.
O documento destaca a importância de proporcionar aos estudantes uma cultura favorável
ao desenvolvimento de atitudes, capacidades e valores que promovam o
empreendedorismo, [...] desenvolvam uma postura empreendedora, ética e responsável
para transitar no mundo do trabalho e na sociedade em geral (BRASIL, 2018, p. 466).
Desta forma, o documento aborda o ensino do empreendedorismo no quarto eixo
estruturante dos itinerários formativos do ensino médio “empreendedorismo: supõe a
mobilização de conhecimentos de diferentes áreas para a formação de organizações com
variadas missões voltadas ao desenvolvimento de produtos ou prestação de serviços
inovadores com o uso das tecnologias”. (BRASIL, 2018, p. 479).
O documento também aborda o empreendedorismo como uma das habilidades
básicas para o desenvolvimento da quinta competência específica da área de ciências
humanas e sociais aplicadas no ensino médio: identificar e combater as diversas formas de
injustiça, preconceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e
solidários, e respeitando os direitos humanos. (BRASIL, 2018, p. 577).
A BNCC (BRASIL, 2018) é dispositivo da Lei 9694/96, e levam em conta também as
orientações propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 2002), que
são diretrizes elaboradas pelo governo federal que orientam a educação, porém não tem
caráter obrigatório. Estas diretrizes estão separadas por disciplina, e tanto instituições
públicas quanto privadas adotam estes parâmetros. O PCN (BRASIL, 2002) foi o documento
que parametrizou sozinho durante quase duas décadas dos anos 2000 a elaboração dos
currículos das disciplinas. Sacristan (2013) discorre que o currículo tem o sentido de
construir a carreira do estudante, e aquilo que o aluno deverá aprender e superar e em que
ordem deverá fazê-lo.
Como esta pesquisa trata do ensino médio, buscou-se identificar também os
parâmetros curriculares propostos para o ensino do empreendedorismo no PCN (BRASIL,
2002). O documento que aborda o contexto do trabalho e do empreendedorismo é o PCN +
Ensino Médio, de 2002, traz orientações educacionais complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais, especificamente na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
(BRASIL, 2000).
O PCN (BRASIL, 2002) aborda o ensino do empreendedorismo dentro do estudo das
ciências sociais. Segundo as orientações contidas no PCN (BRASIL, 2002), o estudo das
Ciências Sociais no Ensino Médio tem como objetivo mais geral introduzir o aluno nas
principais questões conceituais e metodológicas das disciplinas de Sociologia, Antropologia e
Política. Assim sendo, a seleção dos conceitos estruturadores da Sociologia deve levar em
conta a contribuição fundamental das áreas das Ciências Humanas e Sociais.
Portanto, nos conteúdos das disciplinas de Sociologia deve estar enquadrado o ensino
do empreendedorismo, inserido no mundo do trabalho. Conforme o PCN (BRASIL, 2002), os
fundamentos econômicos da sociedade; os modos de produção; a produção e o consumo; a
mercadoria; o capital; a exploração e o lucro; as desigualdades sociais; a estratificação social;
as classes sociais; o desenvolvimento e a pobreza; a tecnologia; o emprego e o desemprego;
os países ricos e os países pobres; a globalização etc., constituem alguns dos conceitos
associados ao trabalho.
O PCN (BRASIL, 2002) dispõe, no terceiro campo das competências específicas da
Sociologia, sobre a importância em compreender as transformações no mundo do trabalho e
o novo perfil de qualificação exigida, gerados por mudanças na ordem econômica, e a
necessidade de levantar, analisar e debater as inúmeras questões que envolvem o mundo do
trabalho em nossa e em outras formações sociais, tanto no tempo quanto no espaço, é uma
tarefa que deve aliar professor e aluno.
No terceiro conjunto de competências e habilidades específicas da Sociologia, o PCN
(BRASIL, 2002) contempla os conceitos de trabalho e de cidadania: compreender as
transformações no mundo do trabalho significa conhecer o desenvolvimento econômico das
diversas formações históricas ocidentais e suas diferentes estruturas econômicas e políticas.
O PCN (BRASIL, 2002) ainda sugere como deve ser a organização dos eixos temáticos
em Sociologia, e neste ponto específico, podemos notar a necessidade do ensino do
empreendedorismo como forma de desenvolver as competências e habilidades necessárias
para o mundo do trabalho.
No eixo temático da disciplina, sobre trabalho e sociedade, em seu quarto tópico que
trata do trabalho e mobilidade social, propõe o estudo sobre mercado de trabalho, emprego
e desemprego, profissionalização e ascensão social. Este tópico propõe conteúdos que
levem o aluno a perceber as estreitas relações entre profissionalização e possibilidades de
mobilidade social é um dos objetivos desse tema.
Para fomentar o ensino do empreendedorismo, além das formativas legais acima
observadas, e preciso também analisar e identificar as tendências e exigências do mercado
de trabalho no mundo atual, o surgimento de novas ocupações, o desaparecimento e a
desvalorização de outras, as novas formas de trabalho (empreendedorismo, trabalho
autônomo, associativismo e cooperativismo), o significado do desemprego estrutural e
outras movimentações no mundo do trabalho. Encontrar formas de conhecimento escolar,
resgatar o sentido da formação geral, revisar a racionalidade é um grande desafio ainda mais
quando se pedem objetivos contraditórios como preparar para a vida, preparar para as
profissões e fomentar a independência (SACRISTAN, 2013).
Conclusão
Por meio da realização deste estudo, observou-se que os dispositivos legais que
regulamentam o ensino médio, apontam uma grande preocupação com a formação para o
mundo do trabalho.
Nos três documentos analisados foi possível observar esta característica. Cada
documento com sua particularidade, demonstra o movimento em prol da formação de um
cidadão mais consciente de sua importância na sociedade, da importância do trabalho como
forma de desenvolvimento pessoal e social.
A Lei 9394/96 destaca que a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do
trabalho e à prática social, e em seu dispositivo, a BNCC (BRASIL, 2018), não somente propõe
o vínculo do aprendizado ao mundo do trabalho, como trata da educação empreendedora
no ensino médio, como uma preparação básica para o trabalho e para a cidadania, onde
sejam desenvolvidas competências para o mundo do trabalho. O PCN (BRASIL, 2002), que
dispõe das orientações curriculares que embasam a BNCC (BRASIL, 2018), propõe que o
ensino do empreendedorismo se dê através do desenvolvimento da disciplina de sociologia,
por meio dos conceitos estruturadores da Sociologia que são cidadania, trabalho e cultura.
Sendo assim, este estudo propõe novas indagações que podem ser respondidas em
futuras pesquisas, como: de que forma as escolas estão implementando o contexto do
empreendedorismo e do mundo do trabalho em seus conteúdos? Os professores estão
preparados para compor este conteúdo em suas aulas? Como o ensino para o trabalho está
inserido nas grades curriculares?
Agradecimentos
______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro
de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em:
21 set. 2019.
______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2000.
Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf>. Acesso em: 21 set.
2019.
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2ed. São Paulo: Cortez Brasília, DF:
MEC/UNESCO, 2003.
SACRISTAN, José Gimeno. (Org.). Saberes e Incertezas sobre o Currículo. Porto Alegre:
Penso, 2013.