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BRASIL: IMPÉRIO E
REPÚBLICA
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) acadêmico(a) do curso de Licenciatura em História da UniCesumar, o livro que
você está prestes a estudar foi elaborado com muito carinho e satisfação e tem por obje-
tivo auxiliá-lo(a) no processo de aprendizagem sobre a formação e a evolução do Brasil,
do período imperial à contemporaneidade.
Antes de iniciarmos nosso estudo, gostaria de fazer uma breve apresentação sobre mi-
nha formação. Sou formada em História pela Universidade Estadual de Maringá, no Pa-
raná, na qual também realizei uma especialização em História Econômica. Possuo uma
especialização em Educação Especial, realizada no Instituto Paranaense de Ensino – Ma-
ringá/PR e sou mestre em História, na linha de Políticas: ações e representações, pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Além do Ensino Supe-
rior, trabalho na Educação Básica, na rede regular e na educação especial.
Feita a apresentação, gostaria de ressaltar que o objetivo deste livro é possibilitar que
você adquira o conhecimento necessário sobre o período abordado para que possa
atuar como professor(a) de História. Nesse sentido, o livro conta com informações fun-
damentadas em autores clássicos, especialistas no período e que você deve conhecer.
Além disso, traz sugestões de livros, documentos históricos, filmes, sites e atividades de
análise e de reflexão que vão enriquecer a sua aprendizagem.
Compreender o processo de formação do Brasil desde a independência de Portugal até
a (re)construção da sociedade após o período da ditadura militar (1964-1985) não é ta-
refa simples. Por essa razão, é importante que você tenha disciplina e dedicação para
vencer os assuntos e as atividades propostas ao longo de todo o livro, além de aprovei-
tar ao máximo os recursos e as dicas apresentados aqui e, também, aqueles oferecidos
pela UniCesumar.
Com o livro que apresento e com o seu esforço e a sua dedicação, tenho certeza de que
nossa viagem pela história do Brasil ocorrerá de maneira prazerosa e você apreenderá
as nuances que caracterizaram esse rico período da nossa história.
Ao longo deste livro, caro(a) acadêmico(a), discorreremos acerca das conjunturas que
permearam o processo de emancipação política do Brasil em 1822, evidenciando o pro-
cesso de construção da identidade nacional do país recém-emancipado até a segunda
metade do século XX.
Iniciamos nossa primeira unidade com uma análise do processo de independência do
Brasil e buscamos a compreensão de como o novo país se organizou enquanto nação
independente. Entender como os projetos e as ideologias presentes nas lutas pela inde-
pendência se organizaram e se articularam após 1822 também é uma preocupação so-
bre a qual nos debruçaremos nessa primeira unidade, que discute as relações políticas,
econômicas e sociais até o período das regências.
Na segunda unidade, nosso objetivo é compreender as conjunturas que caracterizaram
o reinado de D. Pedro II e que possibilitaram a discussão sobre a mudança do regime
imperial para o republicano. Analisar o contexto e as circunstâncias que permitiram que
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
58 Considerações Finais
UNIDADE II
67 Introdução
UNIDADE III
111 Introdução
UNIDADE IV
169 Introdução
UNIDADE V
225 Introdução
275 Conclusão
277 Referências
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
I
O IMPÉRIO DO BRASIL:
UNIDADE
ESTUDO DO PROCESSO DE
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E A
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar o processo de Independência do Brasil.
■■ Compreender o processo de formação do Estado brasileiro após a
separação de Portugal.
■■ Entender as discussões acerca da organização política e econômica
do Estado em formação.
■■ Verificar a constituição social do Brasil pós-independência e suas
relações e participações na construção do Estado brasileiro.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Análise do processo de Independência do Brasil
■■ Aspectos da formação do Estado brasileiro pós-independência: o
Primeiro Reinado
■■ A crise do Primeiro Reinado e a abdicação de D. Pedro I
■■ O Período Regencial (1831-1840)
15
INTRODUÇÃO
Introdução
I
©shutterstock
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Monumento à Proclamação da Independência – São Paulo
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Carta de Lei elevando o Brasil a Reino Unido ao de Portugal e do Algarves, RJ, Arquivo Nacional, 1815
Fonte: MultiRio (online).
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A esse fato somou-se uma realidade na qual os portugueses que aqui se ins-
talaram a partir de 1808 eram nomeados para cargos na administração joanina
ou enriqueciam devido aos privilégios a eles concedidos pela coroa, aumentando
a insatisfação dos brasileiros. Além dessa insatisfação, o incremento do comér-
cio, ocorrido a partir da abertura dos portos e do fim dos monopólios impostos
pelo Pacto Colonial, fez com que brasileiros de diferentes setores sociais passas-
sem a apoiar os intelectuais e seus ideais liberais, embora com uma interpretação
própria desse conceito, voltada para a defesa de seus próprios interesses.
Nesse sentido, de acordo com Faoro (1976, p. 246), o liberalismo que embalava
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os ideais separatistas no Brasil entre os séculos XVII e XVIII era mais justifica-
dor do que doutrinário, visto que aqueles que compunham o estrato mais rico
da sociedade brasileira defendiam uma política liberal em prol de seus próprios
interesses, combatendo uma possível participação política das classes menos pri-
vilegiadas de nossa sociedade.
Corroborando com a análise de Faoro sobre a concepção de liberalismo no
Brasil, Emília Viotti da Costa destaca que
Na Europa, o liberalismo era uma ideia burguesa voltada contra as Ins-
tituições do Antigo Regime, os excessos do poder real, os privilégios da
nobreza, os entraves do feudalismo ao desenvolvimento da economia.
No Brasil, as ideias liberais teriam um significado mais restrito, não se
apoiariam nas mesmas bases sociais, nem teriam exatamente a mes-
ma função. Os princípios liberais não se forjaram, no Brasil, na luta
da burguesia contra os privilégios da aristocracia e da realeza. Foram
importados da Europa. Não existia no Brasil da época uma burguesia
dinâmica e ativa que pudesse servir de suporte a essas ideias. Os adep-
tos das ideias liberais pertenciam às categorias rurais e sua clientela. As
camadas senhoriais empenhadas em conquistar e garantir a liberdade
de comércio e a autonomia administrativa e judiciária não estavam, no
entanto, dispostas a renunciar ao latifúndio ou à propriedade escrava
(COSTA, 2010, p. 28).
O que esse contexto nos permite observar é que, embora com a instalação da
família real no Rio de Janeiro e a elevação do Brasil à condição de Reino Unido
de Portugal e Algarves o país tenha recebido investimentos que contribuíram
para a melhoria das condições econômicas e sociais – mesmo que estas tenham
sido sentidas de maneiras diferentes pelos diferentes setores da sociedade bra-
sileira –, a administração joanina precisou lidar com a fragilidade do seu poder
real, visto que setores e ideias distintas em relação à situação vigente começa-
ram a emergir tanto no interior do Brasil quanto em Portugal.
As revoluções de 1817 (Pernambuco) e 1820 (Lisboa) mostram que os rumos
adotados por D. João VI na condução da administração de seus domínios não
satisfaziam os interesses de muitos. A primeira, representada pela “aliança entre
propriedade agrária e as concepções liberais definiu um ideário com o liberalismo
forrado de energia republicana” (FAORO, 1976. p.263) e a segunda, era repre-
sentada pelo questionamento da elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal
e Algarves, questionamento esse suscitado pelo desenvolvimento do Brasil em
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detrimento de Portugal.
Em 1817, no Campo das Princesas, em Recife, os revoltosos dominaram o antigo Palácio do Governo
Fonte: MultiRio (online).
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ência civilizadora da colonização portuguesa
sobre o novo país nos trópicos” (NEVES, 2009
apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 99).
O liberal e amigo próximo da família impe-
rial Joaquim Manuel de Macedo, ao tratar do
assunto, considerou o processo e a independên-
cia do Brasil como um período de criação de
“uma nação como memória coletiva e idealizada
de acontecimentos e personagens excepcionais,
organizados em narrativa linear” (NEVES, 2009
apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 99). D. Pedro I
Fonte: Revista de História (online).
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As discussões acerca das conjunturas que marcaram o processo de indepen-
dência do Brasil ainda despertam o interesse de historiadores renomados
que buscam, por meio da análise de documentos, compreender os interes-
ses por trás dos discursos e movimentos emancipatórios. Em 2015, os histo-
riadores José Murilo de Carvalho, Lúcia Bastos e Marcello Basile publicaram
uma obra na qual apresentam uma documentação inédita que remonta aos
anos de 1820 a 1823 e permite novas abordagens sobre esse período de
nossa história.
Para maiores detalhes, acesse o conteúdo disponível em:
<http://oglobo.globo.com/cultura/livros/livro-reune-panfletos-que-permi-
tem-novas-interpretacoes-da-independencia-do-brasil-15720391>. Acesso
em: 10 abr. 2015.
Fonte: a autora.
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©shutterstock
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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à reestruturação política, econômica e social, orientado pelos princípios liberais.
Para Oliveira, o uso do termo independência tinha por objetivo
(...) construir a “independência nacional”, articulando a monarquia a
uma Constituição que estabelecesse limites ao poder real e garantisse
direitos e liberdades civis e políticas aos cidadãos do império. Preten-
dia-se, por essa via, entre outras exigências, contestar o absolutismo
representado por D. João VI e o “despotismo” exercido por ministros,
por conselheiros e pela corte radicada no Rio de Janeiro desde 1808.
(OLIVEIRA, 2009 apud GRIMBERG; SALLES, 2009, p. 18-19).
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Havia ainda um terceiro grupo na disputa pelo comando do Brasil e com ideias
que iam em direção contrária ao ideal de independência. Esse grupo era com-
posto por portugueses e defendiam a recolonização do Brasil com a volta das
conjunturas que marcaram as relações entre Brasil e Portugal até 1808.
A organização do país passava pela articulação das correntes ideológicas diver-
gentes em seu interior, numa tentativa de equilibrar os interesses de D. Pedro I e
os anseios da população. Para tanto, os deputados que compunham a Assembleia
Constituinte – convocada antes da independência, mas quando esta já se deline-
ava na cabeça dos brasileiros – começaram a elaborar a primeira Constituição
do Brasil, à qual deveria D. Pedro I submeter sua forma de governo.
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aos cidadãos ativos, enquanto os cidadãos passivos ficariam à margem dos acon-
tecimentos (MARTINS, 2007, p. 45).
O que podemos observar das discussões ocorridas na Assembleia Constituinte
sobre o tema é que a parcela dos brasileiros que não correspondiam aos europeus
ou a seus descendentes foi excluída do processo de constituição do Estado brasi-
leiro, em uma negação da cultura dos povos que aqui já se encontravam antes da
chegada do branco europeu – como os índios – bem como a negação da hetero-
geneidade que caracterizava a sociedade brasileira.
Sendo assim, o projeto de Constituição previa a restrição da designação do
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termo de cidadão e, como resultado, da concessão de direitos civis e políticos a
uma parcela significativa da sociedade brasileira, representada pelos estrangei-
ros, índios, mestiços, crioulos e escravos, esses últimos entendidos como uma
mercadoria, uma “coisa” que, embora necessária para a organização e para a
estruturação do trabalho, não eram vistos
como pessoas.
Ao “coisificar” o negro escravo e ao
negar-lhe a prerrogativa de cidadão e a
concessão dos direitos civis e políticos,
o projeto de Constituição elaborado pela
Assembleia Constituinte em 1823 defen-
dia a manutenção do regime escravocrata
no país, protegendo os interesses dos pro-
prietários de terra do Brasil e garantindo
as condições sobre as quais se apoiava a
economia brasileira do período.
Além da polêmica em torno da defi-
nição do cidadão brasileiro, os deputados
reunidos em 1823 divergiam sobre os
limites do poder de D. Pedro I. Divididos
entre o Partido Português e o Partido
Brasileiro, os deputados tentaram estabe-
lecer as bases sobre as quais o imperador Membros da Assembleia Constituinte na abertura
dos trabalhos
deveria conduzir o seu governo.
Fonte: MultiRio (online)
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Poder Executivo pelos juízes. A novidade estava no fato de que o poder Executivo
estaria submetido ao Legislativo, ou seja, o poder do imperador D. Pedro I esta-
ria limitado pela sanção dos deputados e dos senadores aos seus projetos.
A submissão do Poder Executivo ao Poder Legislativo e a consequente limi-
tação do poder de ação de D. Pedro I desagradou o imperador, que planejara
exercer o comando do Brasil de forma absolutista e centralizadora. Diante do
cenário imposto pela Assembleia, D. Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte
e convocou o Conselho de Estado para a elaboração de uma Constituição que
preservasse seus interesses.
A dissolução da
Assembleia Constituinte
ocorreu na noite de 12 de
novembro de 1823, num
episódio que ficou conhe-
cido como Noite da Agonia,
quando o brigadeiro José
Manuel de Moraes inva-
diu a sede da Assembleia no
Rio de Janeiro a mando de D.
Pedro I e decretou o fim dos
trabalhos dos deputados ali
reunidos. Sede da Assembleia Constituinte no Rio de Janeiro
Fonte: MultiRio (online).
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de Estado, D. Pedro I retomou a elaboração da Constituição do Brasil. O Conselho
de Estado nomeado por ele manteve alguns dos pontos expostos no projeto ela-
borado pelos deputados da Assembleia Constituinte, garantindo a manutenção
dos privilégios das classes dominantes e a divisão dos brasileiros em cidadãos
ativos e passivos (ROMPATTO, 2001, p. 190).
O ponto mais importante desse novo projeto de Constituição que se deli-
neava corresponde à aproximação de D. Pedro I ao absolutismo, na medida em
que esse articulou para garantir que seus interesses políticos fossem sobrepostos
aos dos liberais. Nesse sentido, a Constituição, embora mantivesse os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, adicionou um quarto poder que garantia ao
imperador a submissão do corpo político às suas decisões. Tratava-se do Poder
Moderador, que seria exercido exclusivamente pelo imperador e garantia-lhes
poderes absolutos (ROMPATTO, 2001, p. 191).
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PODER MODERADOR
IMPERADOR
CONSELHOS PROVINCIAIS
A GUERRA DA CISPLATINA
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rou até o ano de 1828.
Esse conflito começou a desenrolar-se
muito antes de D. Pedro tornar-se impera-
dor do Brasil. Pouco depois da chegada da
família real portuguesa ao Brasil, as tropas
de Napoleão Bonaparte tomaram a Espanha
destituindo a coroa dos Bourbons. Carlota
Joaquina era irmã de Fernando VII, o rei
espanhol deposto por Napoleão e, portanto,
herdeira da coroa espanhola, a qual objeti-
vava ocupar e defender, objetivo esse que não
foi alcançado, na medida em que a princesa
não foi capaz de tecer alianças e conquistar
o apoio necessário para ascender ao trono
espanhol (PEREIRA, 2012).
A região da Cisplatina
Fonte: MultiRio (online).
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apud PEREIRA, 2012, p. 88).
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O confronto entre as duas regiões foi mais um fator a colaborar com o des-
gaste da imagem do imperador. A crise que se estabeleceu nos negócios entre a
Bahia e a Cisplatina com o fechamento do porto da Prata, os gastos com a guerra,
o recrutamento e o alistamento forçado dos homens para lutarem na guerra e o
saldo de mortes abalaram a imagem de D. Pedro I.
A situação chegou ao fim em 1828 com a assinatura de acordo de paz entre
Brasil e Argentina, em um momento em que ambos os países encontravam-se
desgastados e fragilizados economicamente. Por esse acordo, intermediado pela
Inglaterra, Brasil e Argentina, reconheciam a criação do Estado Independente
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do Uruguai.
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Como podemos notar até o momento, caro(a) acadêmico(a), desde que assu-
miu a condição de defensor perpétuo do Brasil e, posteriormente, imperador do
Brasil, D. Pedro I precisou lutar e coordenar diferentes interesses e situações na
busca pela construção do Estado brasileiro.
Em seu caminho, deparou-se com ideologias e conflitos cujos desdobra-
mentos contribuíram para que o imperador fosse perdendo aliados e apoio da
população brasileira. Nesse cenário, sua reputação e capacidade de estar à frente
de uma nação que buscava sua afirmação diante de outras e de si mesma foi ques-
tionada e colocada à prova.
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Chamamos sua atenção, caro(a) aluno(a), para o fato de que, mais uma vez, a
sociedade, embora unida no desejo de ver afastado o imperador, dividia-se na
defesa de ideologias distintas e que representavam, cada uma ao seu modo, os
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interesses de apenas alguns indivíduos.
De um lado, estavam os chamados liberais moderados, que defendiam a
redução do poder de D. Pedro I em benefício do poder da Assembleia. Embora
considerados liberais, não defendiam o fim da escravidão, visto que isso iria
contra seus interesses econômicos e eram contrários à adoção do sistema repu-
blicano. O liberalismo a que se referiam dizia respeito apenas à questão do fim
do absolutismo de D. Pedro I.
No outro lado, encontravam-se os liberais exaltados, que defendiam a república
mesmo que fosse preciso uma revolução. De acordo com Rauter (2011, p. 100),
Ao contrário dos moderados, os exaltados eram francamente revolu-
cionários. Até a abdicação, eram mais discretos no seu republicanismo
e no seu federalismo, mas, no governo regencial, o propalaram aber-
tamente. A insurreição era para eles um “direito dos povos” na luta
contra a tirania e o despotismo, e a república a melhor forma de go-
verno. Porém, a revolução era considerada um recurso extremo, a que
se recorrer em situações limite onde imperava o despotismo absoluto,
o que, na visão dos exaltados estava acontecendo naquele momento,
tanto no final do primeiro reinado, quanto nos primeiros anos da re-
gência. Tratava-se de uma revolução de caráter popular que instauraria
um governo liberal e diversas outras transformações de caráter social.
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Uma questão que acentuou os conflitos nas relações entre D. Pedro I e os bra-
sileiros esteve relacionada com a sucessão do trono português, após a morte de
D. João VI, em 1826.
Com a morte do monarca português,
D. Pedro I assumiu o lugar de seu pai
no comando de Portugal. Entretanto sua
ideia era abdicar do trono português em
favor de sua filha D. Maria II e, enquanto
esta não pudesse assumir o trono, visto
que era ainda uma criança, seria nome-
ada uma regência liderada pela irmã de
D. Maria II, D. Isabel Maria, que gover-
naria Portugal até que a herdeira legítima
do trono pudesse se casar com D. Miguel
– irmão de D. Pedro I – e este assumisse,
então, a coroa portuguesa (VIANNA,
2013, p. 43-44).
A solução para essa questão não saiu
de acordo com os desejos de D. Pedro Gravura anônima, Maria da Glória, filha de D. Pedro I
I e este foi aclamado Rei Absoluto de Fonte: MultiRio (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Honoré Daumier, Caricatura, D. Pedro e D. Miguel, “Dois Hipócritas Que Não Se Farão Grande Mal
Fonte: MultiRio (online).
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A ABDICAÇÃO DE D. PEDRO I.
2013, p. 53).
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àqueles dias levaram ao extremo as relações entre o imperador, os liberais e os
demais brasileiros. Não havia mais respeito por aquele que um dia representou
o início e a defesa de um novo capítulo na história do Brasil. Suas tentativas de
moldar e de manipular a sociedade e a Constituição para restaurar a monarquia
absolutista e governar sem a interferência da Assembleia minaram gradativa-
mente a confiança nele antes depositada.
As críticas e as acusações diárias, nem todas verdadeiras, publicadas na
imprensa provocaram uma agitação social a qual os ministros da guerra e da
justiça de D. Pedro I não conseguiam conter. A situação era clara: o imperador
perdera o apoio, a confiança e a lealdade de seus súditos brasileiros.
Quando D. Pedro I nomeou para ministros nomes impopulares, como o
marquês de Paranaguá, o visconde Alcântara, o marquês de Baependi, o conde
de Lages e o marquês de Aracati, os brasileiros saíram às ruas para manifestarem
sua insatisfação e contavam com o apoio dos soldados do quartel de infantaria.
O senador Vergueiro, Evaristo da Veiga e Odorico Mendes – organizadores do
movimento liberal contra o imperador – endossaram os discursos e os protes-
tos contra D. Pedro I (LUSTOSA, s.d., p. 613).
Em reposta a essa manifestação, D. Pedro enviou um comunicado à popu-
lação, no qual dizia:
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
D. Pedro entregando o ato de renúncia
Fonte: MultiRio (online).
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Tal era o clima nas ruas do Brasil a partir de 1831. As ideologias e os projetos
políticos presentes no momento após a abdicação de D. Pedro I eram represen-
tados pelos liberais moderados – que eram a maioria na Câmara dos Deputados
–, pelos liberais exaltados – que, embora tivessem ajudado no processo que levou
à abdicação de D. Pedro I, tiveram seus interesses e ideais colocados de lado
após o 07 de abril, quando os moderados assumiram o controle do governo –
e pelos restauradores (também chamados de caramurus), que apoiavam a volta
de D. Pedro I.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
gradual da escravidão, uma relativa igualdade social e até um tipo de refor-
ma agrária. Por sua vez, os caramurus filiavam-se à vertente conservadora
do liberalismo, tributária de Burke; críticos ferozes da Abdicação e avessos
a qualquer reforma na Constituição, vistas como quebra arbitrária do pacto
social, almejavam uma monarquia constitucional fortemente centralizada,
ao estilo do Primeiro Reinado e, excepcionalmente, nutriam anseios restau-
radores”.
Fonte: Basile (2006, p. 31-57).
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ram-se e elegeram uma Regência Provisória até que a Assembleia Geral tivesse
condições de eleger uma Regência Permanente.
Os senadores e deputados que permaneceram no Rio de Janeiro elegeram os
senadores José Joaquim Carneiro de Campos (Marquês de Caravelas), Nicolau
Pereira de Campos Vergueiro e o brigadeiro Francisco de Lima e Silva para com-
por a Regência Trina Provisória. A escolha desses três nomes para a Regência
Trina Provisória reafirmou a liderança dos moderados nesse período de transição.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pos de oposição ao imperador D. Pedro I e que não diminuíram após a renúncia
dele. Os liberais exaltados e os restauradores (ou caramurus) demonstravam sua
insatisfação com o governo, promovendo ataques pela imprensa e instigando a
população contra as atitudes da Regência, o que levou ao surgimento de vários
motins ao longo do período de governo da Regência Trina Permanente.
O ministro da Justiça Padre Diogo Antônio Feijó acusava José Bonifácio, que
integrava o grupo dos restauradores, de liderar as manifestações e os protestos
contra o governo. Assim, passou a articular para que ele fosse retirado do cargo
de tutor do jovem D. Pedro II, desejo que realizou em 1833, após uma acusa-
ção de conspiração de Bonifácio contra o governo. Em seu lugar, foi nomeado
para tutor do jovem imperador Aureliano Coutinho, marquês de Intanhaém
(VIANNA, 2013, p. 66).
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O Ato Adicional de 1834 foi a resposta aos desejos da elite política de uma reforma
na Constituição de 1824, considerada ultrapassada diante da nova conjuntura
política do país, qual seja, a existência de uma Regência.
Dentre os principais pontos questionados na Constituição em vigor, estavam
os que tratavam da administração das Províncias, da continuidade do Conselho
de Estado, do mandato vitalício dos Senadores e discutia-se, ainda, a possibili-
dade de transformar a Regência Trina em Regência Una, ou seja, eleger apenas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Regência Una de Padre Diogo Antônio Feijó e Regência Una de Araújo Lima
Com a instituição do Ato Adicional de 1834 que transformara a Regência
Trina em Regência Una, as eleições para escolher o novo regente ocorreram
em 1835. Os cidadãos ativos brasileiros, aqueles que tinham direito ao voto, de
acordo com a Constituição de 1824, deveriam escolher entre os candidatos o
senador Padre Diogo Antônio Feijó, do Partido Moderado e o deputado Antonio
Francisco de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque, representante da aris-
tocracia nordestina.
O senador Padre Diogo Antonio Feijó venceu as eleições e tornou-se o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Regente do Brasil. Seu governo foi marcado por forte oposição tanto de mem-
bros do próprio partido quanto da população, fato que fez crescer o número de
revoltas por todo o país.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tos do desenvolvimento cultural da nação que
até então, devido às agitações políticas e sociais
que assolaram o país desde o início da perda Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda
de popularidade de D. Pedro I, estavam em Fonte: MultiRio (online).
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que capitanearam tais levantes. Quanto à adoção da República, embora
fizesse parte, sem dúvida, do projeto e dos exaltados, o ponto central
defendido por esse grupo no tocante à forma de governo era a imple-
mentação do federalismo – de preferência republicano para a maioria,
mas, se necessário (e não raro até mesmo de bom grado), monárquico.
(BASILE apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 71).
O IMPÉRIO DO BRASIL:
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Cabanagem 1835 Belém Conflito entre monarquistas e Exaltada Buscavam a independência da Fracassou diante do
1840 regionalistas antiportugueses região do Grão-Pará. Reivindi- avanço das tropas
e entre a elite (comerciantes cavam melhores condições de imperiais. Estima-se
e fazendeiros e o proletariado vida e ampliação da participa- que houve cerca de 30
(índios)). ção política. mil mortos durante o
conflito.
Sabinada 1837 Bahia Militares, médicos, jornalistas Exaltada Teve início com um manifesto Foram derrotados
1838 e também representantes contra o Império que reivindi- pelas forças do governo
das camadas mais baixas da cava a independência do Es- central
sociedade. tado. Transformou-se também
em um conflito racial.
Balaiada 1838 Maranhão Escravos, índios e bandidos Exaltada Lutavam contra a dominação Fracassou diante das
1841 fugitivos. política e econômica dos forças militares do
fazendeiros da região. governo maranhense,
apoiadas por outras
províncias.
Guerra dos 1835 Rio Grande Estancieiros, produtores de Exaltada Descontenta- Após a longa duração
Farrapos 1845 do Sul e Santa charque, escravos. mento com a política imperial, do conflito e a procla-
Catarina busca por maior autonomia mação da República Rio
das províncias, revogação Grandense, os farrapos
dos altos impostos cobrados, foram derrotados pelo
fim da entrada de charque de governo imperial.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), nosso objetivo nesta primeira unidade foi apresentar um pano-
rama do processo de formação da sociedade brasileira após a Independência,
visando analisar criticamente as conjunturas que caracterizaram os primeiros
passos na construção de uma identidade nacional para o país recém-emancipado.
Com esse objetivo em mente, nos debruçamos sobre as interpretações da
historiografia acerca do processo de emancipação política do Brasil, buscando
compreender de que maneira a ruptura entre Brasil e Portugal em 1822 signifi-
cou a libertação de fato do Brasil da dominação estrangeira.
O que pudemos observar foi que a consolidação e o reconhecimento do Brasil
enquanto nação independente foi um processo que não se concluiu nos primeiros
anos pós-independência, na medida em que a influência de Portugal e de outras
nações estrangeiras, como foi o caso da Inglaterra, estiveram muito presentes na
organização do novo país, fato que, por várias vezes, contribuiu para que os enca-
minhamentos tomados pelo governo brasileiro não respondessem aos anseios
dos brasileiros que aqui viviam. Essa influência pôde ser sentida nas diversas
esferas de organização da vida nesse território, tanto nos direcionamentos polí-
ticos e econômicos quanto no que diz respeito aos aspectos sociais e culturais.
Os indivíduos que lutaram pela separação de Portugal visando a um futuro
baseado nos princípios liberais e na esperança de construção de uma sociedade
na qual seus interesses fossem defendidos, viram suas esperanças diluídas quando
o projeto da primeira Constituição após a independência dividiu a sociedade
O IMPÉRIO DO BRASIL:
59
entre cidadãos ativos e cidadãos passivos, ou seja, entre aqueles a que teriam os
direitos e os interesses assegurados e aqueles a quem apenas caberia assistir à
evolução do país à margem do processo.
Na busca pela defesa de interesses próprios e de projetos políticos que bene-
ficiavam apenas parte da sociedade, o liberalismo em seu sentido pleno foi
substituído no Brasil por uma ideologia que, ao mesmo tempo em que se dizia
liberal, assentava-se em elementos que impediam o verdadeiro progresso da
nação como um todo
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Considerações Finais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O IMPÉRIO DO BRASIL:
I
61
1. “Direitos Civis e Direitos Políticos são expressões sinônimas, que querem dizer
Direito da Cidade; porém, os Publicistas, para enriquecer a nomenclatura da Ci-
ência, lhes têm dado significação diversa, tomando a primeira pelos direitos que
nascem das relações de indivíduo com indivíduo, e a segunda pelos direitos que
nascem das relações do indivíduo com a sociedade”. (ANAIS DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS apud RIBEIRO; PEREIRA apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 152). O
debate acerca da definição do conceito de cidadão no Brasil após a independên-
cia gerou conflitos entre os parlamentares até que se chegasse a um consenso.
Explique o que representou para a sociedade brasileira a divisão dos brasi-
leiros entre cidadãos ativos e passivos prevista no projeto de Constituição
elaborado pela Assembleia Constituinte em 1823.
2. “Legisladores! É chegado o tempo de estabelecerdes a nossa Liberdade sobre
bases menos frágeis; mais filosóficas e justas do que essas que regem a oprimi-
da Europa. Em vossas mãos está hoje a felicidade presente no Povo brasileiro”.
(NOVA LUZ BRASILEIRA apud MATTOS apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 19). A
abdicação de D. Pedro I em 1831 representava a esperança da conquista da ver-
dadeira liberdade do povo brasileiro das influências internacionais. Descreva os
fatores internos e externos que contribuíram para que D. Pedro I abrisse
mão do governo brasileiro.
3. Após a renúncia de D. Pedro I abriu-se um período de discussões acerca dos ru-
mos do desenvolvimento do Estado brasileiro. Com relação ao início do Período
Regencial no Brasil e aos projetos políticos apresentados nesse momento, assi-
nale a alternativa correta.
a) Com a volta de D. Pedro I para Portugal, a elite política do Brasil conseguiu en-
contrar um equilíbrio entre suas propostas políticas, evitando que os conflitos
que marcaram o Primeiro Reinado reaparecessem.
b) O grupo dos exaltados apresentavam, em 1831, um projeto para o Brasil basea-
do na adoção de uma nação com ideais republicanos e organizado com a mão
de obra assalariada.
c) Os restauradores foram assim chamados devido à defesa que faziam do retorno
de D. João VI como monarca do Brasil e à retomada do projeto colonizador, ideal
para o desenvolvimento de seus interesses.
d) As ideologias e os projetos políticos presentes no momento após a abdicação de
D. Pedro I eram representados pelos liberais moderados, que defendiam a redu-
ção dos poderes do imperador, pelos liberais exaltados, que defendiam a adoção
de uma República Federativa e pelos restauradores, críticos da abdicação.
e) Com o acirramento dos debates na Assembleia Legislativa, os Deputados e os
Senadores do Brasil optaram por permitir que uma junta composta por repre-
sentantes dos moderadores, dos exaltados e dos restauradores assumissem o
comando do Brasil até que D. Pedro II pudesse assumir o trono.
4. O Período Regencial iniciado em 1831 representou um período conturbado da
história brasileira no qual se configurou um cenário de agitações sociais e de mu-
danças políticas. Levando-se em consideração as discussões apresentadas nesta
unidade, leias as afirmações abaixo:
I. A escolha dos membros que compunham a Regência Trina Provisória reafirmou
a liderança dos moderados nesse período de transição.
II. O Ato Adicional de 1834 foi a resposta aos desejos da elite política de uma refor-
ma na Constituição de 1824, considerada ultrapassada diante da nova conjuntu-
ra política do país, qual seja, a existência de uma Regência.
III. A dissolução da Regência Trina Permanente ocorreu devido à vontade de D. Pe-
dro II assumir o trono, visto que já ele se encontrava em idade suficiente para o
exercício da administração.
IV. A oposição a Diogo Feijó crescia à medida que este apresentava projetos que
iam de encontro aos interesses da elite e da aristocracia do país, sobretudo no
que diz respeito à questão da escravidão.
Estão corretas as afirmativas:
a) I.
b) III e IV.
c) I, II e III.
d) I, II e IV.
e) II e IV.
63
O historiador Bóris Fausto faz uma análise do período imperial brasileiro, discutindo os
elementos que marcaram o processo de independência do Brasil e a organização do
novo país após a emancipação política de Portugal.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=FIoM1gz-pdE. Acesso em: 01 jul. 2015.
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
II
O SEGUNDO REINADO NO BRASIL:
UNIDADE
ANÁLISE DO PROCESSO DE TRANSIÇÃO
DO FIM DA MONARQUIA PARA O INÍCIO
DA REPÚBLICA BRASILEIRA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar o governo de D. Pedro II.
■■ Compreender o processo de desenvolvimento da economia cafeeira.
■■ Entender as discussões acerca da escravidão e o movimento
abolicionista ao longo do Império.
■■ Verificar as conjunturas que marcaram o fim do período monárquico
no Brasil e a Proclamação da República.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Segundo Reinado: o governo de D. Pedro Il.
■■ A economia no período imperial brasileiro.
■■ O movimento abolicionista no Brasil Imperial.
■■ O movimento republicano e o fim da monarquia no Brasil.
67
INTRODUÇÃO
Introdução
II
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Pedro de Alcântara, agora D. Pedro II, atin-
gisse a maioridade. Tinha início o Período
Regencial que perdurou até 1840.
O Regente Uno Araújo Lima fora eleito
em 1838 após a renúncia do Regente Padre
Diogo Antônio Feijó e deveria governar o
Brasil até 1842, quando haveria novas eleições
para escolherem seu sucessor. No entanto, D. Pedro II
Araújo Lima deixou o comando do Brasil Fonte: Portal do Instituto Brasileiro de Museus
(online).
em 1840, dois anos antes do fim do seu
mandato.
A precocidade do fim do mandato de Araújo Lima explica-se pela aprova-
ção da Lei de Interpretação do Ato Adicional de 1834, aprovada em 1840. De
acordo com essa lei, as medidas impostas pelo Ato de 1834 que garantiam maior
autonomia às Províncias e aos Municípios foram revogadas, restaurando a ação
centralizadora do governo central.
A aprovação da Lei Interpretativa deve ser entendida pelo caráter conserva-
dor do governo de Araújo Lima (VIANNA, 2013, p. 73), que tinha o apoio dos
membros do Partido Regressista, no contexto da eclosão das inúmeras revoltas
em todo o país, conforme elencamos na unidade anterior. Nesse sentido, a descen-
tralização do poder decorrente do aumento da autonomia das Províncias gerou
um desconforto e uma desconfiança por parte dos defensores da monarquia,
que temiam que o governo central não mais recuperasse o controle da situação.
Com essa imagem construída diante dos brasileiros, D. Pedro II passou a ser
considerado, mesmo que ainda muito jovem, como o único capaz de resolver a
situação conflituosa na qual o Brasil se encontrava. Assim, a elite política do país
buscou medidas para driblar a Constituição de 1824 – que dizia que o imperador
deveria ter 18 anos para assumir o trono – e antecipar a ascensão de D. Pedro II
ao cargo de chefe do Estado brasileiro.
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seu tutor, o Visconde de Intanhém, aos
15 anos de idade D. Pedro II foi coro-
ado imperador do Brasil. (OLIVIERI,
2011, p. 12).
A coroação de D. Pedro II foi cele-
brada com uma grande festa que, de
acordo com Schwarcz (1998, p. 78), para
além da importância política do aconte-
cimento, demonstrou a suntuosidade do
momento para a construção de uma cul-
tura local. Ainda segundo a autora,
Passada a festa e os rituais que marcaram sua coroação, o jovem D. Pedro II pre-
cisou lidar com as agitações políticas e sociais que permeavam o país. A principal
preocupação do imperador era em relação às revoltas que surgiram ainda no
Período Regencial. Algumas delas foram controladas e sufocadas, mas outras,
como a Revolução Farroupilha – iniciada em 1835 no Rio Grande do Sul – con-
tinuavam a merecer atenção. Além dessa revolta, apenas a Revolução Praieira
ocorrida em Pernambuco em 1848 representou uma ameaça aos planos de D.
Pedro II.
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mentar, mas que não se confunde com o parlamentarismo no sentido
próprio da expressão. Em primeiro lugar, lembremos o fato de que a
Constituição de 1824 não tinha nada de parlamentarista. De acordo
com seus dispositivos, o Poder Executivo era chefiado pelo imperador
e exercido por ministros de Estado livremente nomeados por ele. Esse
critério é diverso do parlamentarismo, pois nesse sistema o ministério
– chamado de gabinete – depende essencialmente do Parlamento, de
onde sai a maioria de seus membros. (FAUSTO, 1995, p. 179).
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atenção mais adiante.
Guerra do Paraguai
Fonte: Estudo Prático (online).
De acordo com Enrique Amayo (1995), a Guerra do Paraguai deve ser enten-
dida dentro do contexto do desenvolvimento do imperialismo e, sobretudo,
no que comete à Inglaterra nesse período.
Para saber mais sobre a relação entre o desenvolvimento inglês e a Guerra
do Paraguai acesse o conteúdo disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S0103-40141995000200013&script=sci_arttext>. Acesso em: 01
maio 2015.
Fonte: Amayo (1995).
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desafiando a dominação dos argentinos na região. (FAUSTO, 1995, p. 211).
As análises feitas pelo autor acima citado nos ajudam a compreender a forma-
ção da aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai que começou a se desenhar em
1862 quando se formou um governo republicano na Argentina – com princí-
pios que eram comuns aos liberais brasileiros – e o Brasil aliou-se aos colorados
no Uruguai.
Diante da aliança entre o Brasil e os colorados do Uruguai, o Paraguai passou
a apoiar os blancos na defesa de seu território e contra a acusação dos rio gran-
denses de que os uruguaios roubavam seu gado e abrigavam escravos fugitivos.
Com a intensificação da interferência brasileira no Uruguai e das divergências
entre blancos e rio grandenses, o Paraguai declarou guerra ao Brasil, confiante
de que teria o apoio da Argentina e na força de seu exército. (SALLES, 2015).
Solano Lopez se enganou. Sem o apoio da Argentina, que se aliou ao Brasil
e ao Uruguai formando a Tríplice Aliança, no decorrer dos seis anos em que a
guerra perdurou, o exército paraguaio foi submetido a sucessivas derrotas e o
país viu sua economia retroceder diante dos investimentos para o conflito. Além
disso, estima-se que 2/3 da população paraguaia sofreu com o ônus da guerra.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os três chefes de Estado do Uruguai, Brasil e Argentina, numa caricatura da revista A Semana
Ilustrada, 1865
Fonte: MultiRio (online).
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vorável nos mercados internacionais de seus produtos de exportação
tradicionais. (LAGO, 2014, p. 64).
Diante da queda nas exportações dos produtos que, durante o período colonial,
garantiram a inserção do Brasil no mercado mundial, o crescimento da produção
cafeeira e de sua exportação possibilitou que a economia brasileira novamente
tivesse chances de competir no mercado mundial, haja vista a crescente demanda
por este produto por parte de países europeus e dos Estados Unidos.
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car nisso tudo que a passagem do mercado restrito e de luxo do século
XVIII para o mercado de massa industrial do século XIX foi claramen-
te induzida pela oferta a baixo custo do produto. (MARQUESE; TOMI-
CH apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 361).
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Charles Ribeyrolles, A Casa Grande de uma fazenda de café no século XIX
Fonte: MultiRio (online).
da Lei, ela foi colocada em prática e foi preciso que os proprietários rurais bus-
cassem novas formas de assegurar a mão de obra nas suas fazendas. Uma das
soluções encontradas foi o aperfeiçoamento do tráfico interprovincial de escra-
vos, ou seja, o comércio interno de escravos, o que elevou o valor do escravo
enquanto mercadoria e foi um dos fatores que contribuiu para a gradativa subs-
tituição da mão de obra empregada nas fazendas produtoras de café, assunto
sobre o qual nos aprofundaremos em outro momento.
Caro(a) aluno(a), devemos estar atentos para o significado do ano de 1850
para o estabelecimento de novas diretrizes sobre as quais a sociedade brasileira
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O MOVIMENTO ABOLICIONISTA NO BRASIL IMPERIAL
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Fonte: Costa (2010, p. 274).
A Lei Eusébio de Queirós de 1850 foi o primeiro passo efetivo no processo que
culminou com a abolição da escravidão no Brasil, embora há tempos a discus-
são acerca desse tema estivesse presente nos círculos intelectuais do país. Cabe
ressaltar, caro(a) aluno(a), que, enquanto o debate sobre a escravidão esteve
restrito aos centros da intelectualidade da sociedade, pouco se avançou na pro-
moção do fim dessa instituição.
Os intelectuais defenso-
res da abolição perceberam
que aproximar a sociedade
como um todo nos deba-
tes acerca da escravidão
permitiria que o tema se
transformasse em uma questão social, forçando a compreensão de que, a partir
da segunda metade do século XIX, a substituição do trabalho escravo por outras
formas de trabalho era apenas uma questão de tempo.
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que declarava livre os escravos
com idade acima dos 60 anos
(COSTA, 2010, p. 364).
A Lei dos Sexagenários teve pouco efeito prático, na medida em que era
raro um escravo no Brasil atingir a idade ideal para ser beneficiado pela lei.
A expectativa de vida de um escravo brasileiro era de aproximadamente 30
anos.
Fonte: a autora.
Em 1887 o imperador mais uma vez decidiu viajar para a Europa, igno-
rando o crescimento do movimento abolicionista e das agitações em torno das
ideias republicanas. Em seu lugar assumiu sua filha, a princesa Isabel, a quem
coube a responsabilidade de lidar com as agitações que assolavam o país naquele
momento, colocando fim à questão da escravidão.
Com tendências abolicionistas, a Princesa Isabel, em 13 de Maio de 1888
assinou a Lei Áurea, colocando um fim na escravidão no Brasil. Segundo Lilia
Schwarcz, “não havia mais como adiar o processo. Redigido de maneira sim-
ples, o texto da lei era curto e direto: ‘É declarada extinta desde a data desta lei
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a escravidão no Brasil. Revogam-se as disposições em contrário’”. (1998, p. 437).
DEPOIS DA ABOLIÇÃO
A assinatura da Lei Áurea foi comemorada dentro e fora do Brasil, uma vez
que desde o início do século XVIII nações estrangeiras combatiam a escravidão
e pressionavam o Brasil para colocar fim à instituição no país. A Princesa Isabel
entrou para a história como a redentora dos escravos, o que contribuiu para que
o desgaste da monarquia, representada por um imperador cuja popularidade e
autoridade estavam em decadência, fosse revertido em apoio à princesa.
Porém, é preciso analisar, caro(a) aluno(a), o que aconteceu após a publi-
cação da Lei Áurea. Como se processou a concessão de alforria aos escravos e
como a sociedade se organizou para receber essa massa de indivíduos a par-
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que o preconceito já era uma característica intrínseca a muitos indivíduos após
tanto tempo de existência da escravidão? Estes foram questionamentos que, ao
nosso entender, não receberam a devida atenção no momento em que se con-
firmou a abolição.
Atualmente existem pessoas que defendem a ideia de que o Brasil tem uma
dívida histórica com os negros. Por essa razão, busca-se desenvolver políti-
cas afirmativas que visam reparar os danos causados aos negros no passado.
E você, o que pensa a respeito?
Fonte: a autora.
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Proclamação da República. Pintura de Benedito Calixto.
Fonte: Amaral (2014, p.13).
A ideia de uma República no Brasil não surge apenas quando finda a escravidão.
As discussões sobre uma possível mudança no regime de governo esteve pre-
sente já no século XVIII, quando algumas manifestações contrárias ao governo
brasileiro – como foi o caso da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana –
manifestaram o desejo da adoção de um regime republicano. No entanto, esses
movimentos não tiveram sucesso e mesmo após a ruptura com Portugal em 1822,
a forma de governo continuou sendo a monarquia.
Mesmo com a reafirmação da monarquia como regime político do Brasil, a
circulação das propostas de reforma política que incluíam a adoção do sistema
republicano continuou em voga no país e ganhou força em 1870, com a funda-
ção do Partido Republicano.
Embora haja controvérsia sobre as ideologias presentes no movimento
republicano e sobre o grau de envolvimento dos diversos setores da sociedade
brasileira, o que podemos afirmar é que a proclamação da República em 1889 foi
resultado das transformações políticas, econômicas e sociais pela qual o Brasil
passava, desde meados do século XIX, e da ineficiência do governo central em
administrar os conflitos ideológicos presentes no interior da sociedade.
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europeia, expansão do trabalho livre, renovação intelectual de vários
setores sociais pela absorção de variantes do liberalismo e do cientifi-
cismo, conflitos entre o Estado, a Igreja Católica e os segmentos mili-
tares, abolição da escravidão, derrubada da monarquia e implantação
da república, primeira crise de superprodução cafeeira, e estabilização
da ordem republicana nos termos da “política dos governadores”. (LE-
MOS apud GRINBERG e SALLES, 2009, v. 3, p. 405).
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no título de barão ou visconde, mas percebem que seu privilégio de-
pende de assentos artificiais, sem futuro. A sociedade, ao se desmiti-
ficar, sofre a convulsiva pressão de elementos que, nunca postos em
debate e em dúvida, pareciam inexistentes. (FAORO, 1976, p. 537).
A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
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político do Conselho de Estado, preservando apenas seu caráter administrativo
(COSTA, 2010, p. 489).
As propostas de Ouro Preto não foram aceitas pelo Conselho de Estado e
pela Câmara, que consideraram o pacote de reformas apresentado radical e com
forte tendência republicana. Diante da decisão da Câmara, esta foi dissolvida em
17 de junho de 1889. A dissolução da Câmara acirrou os ânimos e intensificou
a crise e a indisposição contra o governo.
Entre junho de 1889 e novembro do mesmo ano, o movimento republicano
buscou reafirmar o apoio dos militares ao fim da Monarquia, explorando os boa-
tos de reformas que atingiriam o Exército de maneira desfavorável. No entanto,
o próprio exército precisava lidar com as diferenças em seu interior.
Fausto (1995, p. 246) aponta que os militares brasileiros estavam divididos
em dois grupos. No primeiro, sob a liderança do Marechal Deodoro da Fonseca,
encontravam-se os veteranos que lutaram na Guerra do Paraguai e cuja maio-
ria não havia frequentado a Escola Militar. Participaram do 15 de Novembro
no intuito de salvar o Exército e garantir que este tivesse maior representati-
vidade no novo regime, mesmo não possuindo uma ideia clara da República.
O segundo grupo reuniu-se em torno de Floriano Peixoto e era composto por
jovens militares que frequentaram a Escola Militar e que estavam sob a influên-
cia do positivismo francês e para os quais a República representava progresso,
traduzido na forma de crescimento industrial, expansão da comunicação e dos
conhecimentos técnicos.
abr. 2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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divergências ideológicas presentes no interior dessas forças. Nesse sentido, a
unidade em torno do imperador e da própria monarquia torna-se um desafio.
Despido do espírito político e de liderança que caracterizaram seu pai, D.
Pedro II, muito mais ligado às questões relacionadas à arte, à cultura e às ciên-
cias, viu-se envolto em disputas pelo poder que contribuíram para fragilizar sua
imagem enquanto chefe do Estado brasileiro.
Nesse cenário o crescimento do movimento abolicionista e a promulgação de
leis que visavam o fim da escravidão suscitaram o debate acerca das prioridades
do governo e colocaram em xeque a capacidade do imperador e de seus minis-
tros de contornar a crise que se formava a partir dos encaminhamentos para a
abolição da escravidão. A assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel precipi-
tou os eventos que levaram ao fim da monarquia.
Após a abolição da escravidão em 1888, tornou-se cada vez mais difícil ao
imperador e a seus aliados controlar o avanço das forças contrárias à monar-
quia. O Exército, os fazendeiros do Oeste Paulista e os setores médios urbanos,
descontentes com a política de D. Pedro II, aproveitaram-se da falta de prestígio
que a monarquia conquistara nos últimos anos e fortaleceram o ideal republi-
cano, levando à mudança do regime por meio de um golpe liderado pelo Exército
em 1889.
O Brasil entrava em uma nova fase de sua história.
1. D. Pedro II subiu ao trono do Brasil aos quinze anos de idade com a missão de,
nas palavras de Lilia Schwarcz (1998), “salvar a nação”. Analise os primeiros anos
do governo de D. Pedro II, discutindo a maneira pela qual o imperador esta-
beleceu sua forma de governo no início do Segundo Reinado.
2. No decorrer do Segundo Reinado, a produção cafeeira ocupou lugar de desta-
que na economia brasileira. Reflita sobre a importância que a exportação do
café teve para a economia brasileira, relacionando a publicação da Lei de
Terras de 1850 aos interesses dos cafeicultores brasileiro.
3. A questão do fim da escravidão esteve presente no Brasil desde o início do sécu-
lo XIX, quando a Grã-Bretanha ajudou na transferência da família real portugue-
sa para o Brasil e passou a insistir na adoção de uma política que colocasse fim à
instituição aqui no país. Com relação ao movimento abolicionista no Brasil e ao
processo que levou ao fim da escravidão no país, assinale a alternativa correta.
a) O fim da escravidão foi um projeto que sempre esteve presente nas diretrizes
políticas de D. João VI, o qual priorizou a questão durante seu reinado no Brasil.
b) Com a expansão da produção cafeeira, a mão de obra escrava cedeu lugar ao
trabalho livre e assalariado, facilitando o processo de abolição da escravidão.
c) A existência do regime de escravidão estava em consonância com os ideais libe-
rais difundidos na Europa e que influenciaram os intelectuais brasileiros.
d) A escravidão no Brasil contrastava com os princípios liberais em voga na Europa
e, por essa razão, a elite brasileira adaptou tais princípios para justificar a manu-
tenção da escravidão.
e) Intelectuais e aristocracia brasileira concordavam que o fim da escravidão era o
caminho correto a ser adotado no Brasil, uma vez que a instituição já havia che-
gado ao fim no restante da América.
4. A abolição da escravidão em 1888 influenciou diretamente o processo de procla-
mação da República no ano seguinte. Sobre o avanço do movimento republi-
cano no Brasil, leia as afirmações abaixo:
I. A escravidão era a base de sustentação da monarquia, na medida em que as
bases políticas e econômicas do país estavam ligadas à elite agrária, dependente
da mão de obra escrava.
II. O fim da monarquia e a instalação do regime republicano no Brasil remonta a
uma série de fatores que estiveram presentes no seio da sociedade brasileira
desde a sua formação enquanto Estado independente.
III. A proposta republicana representava o interesse da maioria da população bra-
sileira, sendo que as camadas sociais mais baixas e sem grande representação
política participaram ativamente das manifestações contrárias à monarquia.
IV. O Exército teve um papel secundário no processo de instalação do regime repu-
blicano no Brasil, uma vez que os principais líderes militares eram próximos ao
imperador D. Pedro II.
Assinale a alternativa correta:
a) Somente a afirmação I está correta.
b) Somente a afirmação III está correta.
c) Somente as afirmações II e IV estão corretas.
d) Somente as afirmações I e III estão corretas.
e) Somente as afirmações I, II e III estão corretas.
107
Título: HISTÓRIA DO BRASIL POR BÓRIS FAUSTO - REPÚBLICA VELHA (vídeo completo).
III
DA REPÚBLICA DA ESPADA AO GOLPE DE
1930: A CONSOLIDAÇÃO DA REPÚBLICA
UNIDADE
NO BRASIL E AS TRANSFORMAÇÕES NA
SOCIEDADE BRASILEIRA NO INÍCIO DO
SÉCULO XX
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar o processo de consolidação do regime republicano no Brasil.
■■ Compreender o modelo político-administrativo instalado no Brasil na
chamada Primeira República.
■■ Verificar as transformações econômico-sociais do início da República.
■■ Discorrer acerca das conjunturas que levaram ao golpe de 1930 e o
início da chamada Era Vargas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ República Velha ou República da Espada.
■■ Aspectos da imigração europeia e a consolidação do trabalho
assalariado: as transformações econômico-sociais na Primeira
República.
■■ O fim da República Oligárquica: o golpe de 1930.
111
INTRODUÇÃO
Introdução
III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
quartel-general e declarar a inaugu-
ração de um novo modelo político,
assumiu o posto de primeiro presi-
dente da República do Brasil.
O governo de Deodoro da
Fonseca representava um governo
Notícia sobre a proclamação da República
de transição, uma vez que os par- Fonte: Memória da Administração Pública Brasileira (online).
tidos políticos não tinham força
suficiente para representar o elemento unificador e centralizador que o país pre-
cisava naquele momento. Esse papel foi dirigido ao Exército, na medida em que
comandou o processo de mudança do regime político-administrativo do Brasil.
A oligarquia e os proprietários rurais esperavam que o Marechal promovesse
as reformas necessárias para que as províncias e os munícipios conquistassem
maior autonomia, o que possibilitaria também uma maior liberdade de ação
para os proprietários, ainda se adaptando à alternativa de mão de obra livre e
assalariada. Além disso, não podemos nos esquecer dos trabalhadores urbanos,
operários das fábricas e primeiras indústrias do país, dos quais trataremos com
maior ênfase nesta unidade.
Com isso, entendemos que os proprietários rurais defendiam a adoção do
sistema federalista, proposta que favorecia seus interesses. Além disso, o federa-
lismo também significava que esse grupo estaria mais próximo do poder local,
possibilitando a sua ascensão política, fato que, como veremos, vai se confirmar
nos anos seguintes à instalação da República.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vez deixar-se prejudicar por um governo que não representava seus interesses.
A CONSTITUIÇÃO DE 1891
Texto da Constituição de 1891 que definiu a forma de governo no Brasil após a proclamação da
República
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Observando o que diz a Constituição acerca da definição do cidadão brasi-
leiro, chamamos sua atenção, caro(a) aluno(a), para o artigo 4º, exposto acima,
e para o artigo 72, o qual estabelece que “a Constituição assegura a brazileiros
e a estrangeiros residentes no paiz a inviolabilidade dos direitos concernentes
á liberdade, á segurança individual e á propriedade nos termos seguintes (...)”
(BRASIL, online). Esses artigos evidenciam a importância de garantir aos estran-
geiros, sobretudo aos europeus que chegavam ao Brasil desde os tempos finais
do Império para substituir os escravos no trabalho nas lavouras e também nas
indústrias, a ideia de que o Brasil era um país no qual eles teriam assegurada a
liberdade para exercerem sua cultura e sua religião.
Ao definir os cidadãos brasileiros, a Constituição também determinou seus
direitos, dentre os quais o direito de voto e o direito de ser voltado. De acordo
com o documento,
Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21 annos, que se alistarem
na fórma da lei.
1º Os mendigos
2º Os analphabetos;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
relação ao capital estrangeiro. Para o ministro,
o desenvolvimento da indústria não é somente, para o Estado, ques-
tão econômica: é, ao mesmo tempo, uma questão política. No regime
decaído, todo de exclusivismo e privilégio, a nação, com toda a sua
atividade social, pertencia a classes ou famílias dirigentes. Tal sistema
não permitia a criação de uma democracia laboriosa e robusta, que
pudesse inquietar a bem-aventurança dos posseiros do poder, verda-
deira exploração a benefício de privilegiados. Não pode ser assim sob
o sistema republicano. A República só se consolidará, entre nós, sobre
alicerces seguros, quando as suas funções só se firmarem na democra-
cia do trabalho industrial, peça necessária no mecanismo do regime,
que lhe trará o equilíbrio conveniente ( BARBOSA, 1889 apud FAORO,
2001, p. 609).
Cédula de trinta mil réis, emitida pelo Banco da República do Brazil entre 1892 e 1896
Fonte: Faber (online).
Com a instalação de uma crise que atingiu uma parcela significativa dos
proprietários rurais, os setores econômicos e produtivos dos centros urbanos
também viram seus interesses prejudicados, na medida em que boa parte da sua
clientela concentrava suas atividades no campo. Diante dessas conjunturas eco-
nômicas, quando Rui Barbosa assumiu o Ministério da Fazenda, a pressão por
reformas que atendessem e resolvessem o quadro de desestabilidade existente
veio tanto de setores ligados à produção agrícola quanto dos setores ligados à
indústria e ao comércio.
A política econômica adotada por Rui Barbosa, embora baseada em lei pro-
mulgada em outro contexto político, ia ao encontro dos interesses dos industriais
brasileiros, que tiveram suas esperanças renovadas diante da proposta do minis-
tro que acreditava que somente a indústria poderia elevar o Brasil ao status de
uma grande potência política e econômica.
Conforme demonstra Raymundo Faoro (2001), Rui Barbosa colocou em
prática a emissão de apólices da dívida pública no início de 1890, adotando tam-
bém medidas que visavam a impedir a especulação financeira, que já na época
do Império tinha sido responsável por uma alta na inflação. A lógica defendida
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pelo ministro era que a emissão de papel moeda levaria ao desenvolvimento
da indústria, limitando cada vez mais a entrada do capital estrangeiro no país.
Desse modo, gradativamente, a riqueza deixaria de se concentrar nas proprie-
dades rurais e passariam a concentra-se nos centros urbanos, com a atividade
industrial. Nota-se aqui a intenção de anular o poder e a influência das oligar-
quias agrárias.
Com a aplicação das medidas econômicas de Rui Barbosa, o que se viu foi o
aumento da circulação monetária no país. Devido a essa grande quantidade de
dinheiro circulando no país, começaram a surgir empresas fictícias, criadas com
o objetivo de conseguir investimentos por parte do governo. Como resultado, o
que ocorreu foi uma ilusão de crescimento econômico, na medida em que cada
vez mais se observava o aumento da circulação de dinheiro. No entanto, a real
situação não demorou a aparecer, quando se percebeu que o volume de papel
moeda emitido não correspondia à realidade da produção industrial.
Dessa discrepância entre a liberação de crédito por parte do Banco da
República dos Estados Unidos do Brasil e a produção industrial resultou o
aumento da inflação e uma elevação dos preços das mercadorias produzidas no
país. Segundo Filomeno,
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bem visto pelos fazendeiros, principalmente os reunidos no Partido Republicano
Paulista (PRP), que tinham uma visão diferente da visão do novo presidente sobre
como deveria organizar-se a República no Brasil. Segundo o autor, o Marechal
“pensava construir um governo estável, centralizado, vagamente nacionalista,
baseado, sobretudo no Exército e na mocidade das escolas civis e militares,
enquanto os fazendeiros desejavam uma República “liberal e descentralizadora”
e “viam com suspeita o reforço do Exército e as manifestações da população
urbana do Rio de Janeiro”.
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do Sul a Revolução Federalista, uma guerra civil entre os republicanos posi-
tivistas organizados no Partido Republicano Riograndense (PRR) e liderados
pelo presidente da província – como
eram chamados os governadores de
Estado na época – Júlio de Castilhos
e os liberais, organizados no Partido
Federalista, cujo líder era Silveira
Martins.
A Revolução teve início devido
às diferenças ideológicas entre os dois
partidos, que defendiam formas dis-
tintas de governo no Rio Grande do
Sul. A Constituição estadual do Rio
Grande do Sul, aprovada em 1891,
previa a instalação de um governo
centralizado e fundamentado nos
ideais positivistas, o que desagra-
dou os federalistas, que defendiam
a instalação de um regime parlamen-
tar (FAUSTO, 1995).
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dos Estados, mantendo escrupulosamente os seus direitos, tão sagrados como
os da União” (FAORO, 1976, p. 663). Por trás do PRF, escondiam-se as mano-
bras da oligarquia, sobretudo a de São Paulo, para assumir o poder no Brasil.
O PRF constituiu-se como aglutinador dos interesses de todos os Estados e
teve o apoio, sobretudo de São Paulo. No entanto, os Estados de Minas Gerais
e do Rio Grande do Sul não participaram da convenção do partido que lan-
çou a candidatura do paulista Prudente de Moraes para presidente e do baiano
Manuel Vitorino para vice-presidente. Com a vitória de Prudente de Morais, a
oligarquia cafeeira paulista acreditou ter finalmente garantido sua hegemonia
no comando do país.
Prudente de Morais herdou o país ainda mergulhado na crise econômica
decorrente do encilhamento, além de ter que lidar com os conflitos entre “a elite
política dos grandes Estados e o republicanismo jacobino, concentrado no Rio
de Janeiro” (FAUSTO, 1995, p. 256). A realidade do contexto do governo de
Prudente de Moraes o adverte de que, para que consiga consolidar seu governo
ante a oposição que sofre dos apoiadores de Floriano Peixoto, mesmo após a
morte desse, seria preciso conciliar os interesses dos Estados que ajudaram a
elegerem-no e apaziguar o país, o que não seria tarefa fácil.
A Guerra de Canudos foi um dos eventos conflituosos que marcaram o
governo de Prudente de Morais e foi um exemplo do descontentamento das regi-
ões afastadas do centro político com a pouca atenção e pouco investimento por
parte do governo central pelos interesses e pelas necessidades dessas regiões. O
conflito desenrolou-se entre 1896 e 1897 no sertão da Bahia e constitui-se em
um ponto de oposição ao governo central que representava naquele momento
Vista parcial de Canudos ao sul. Segundo o registro oficial do exército, foram contados 5200 casebres
no arraial de Antônio Conselheiro, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República)
Fonte: História Ilustrada (online).
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o fim da monarquia e as mudanças trazidas com a Proclamação da República
que, para eles, não contribuíam para o desenvolvimento daquela região do país
e não satisfaziam as necessidades da população mais pobre que sofria desde o
declínio do complexo açucareiro na região nordestina do país. Ao contrário do
que ocorria nas cidades, na comunidade liderada por Antônio Conselheiro, não
havia a cobrança de impostos e a produção era dividida entre as famílias que
compunham a comunidade e o excedente comercializado com outras cidades
(SOUZA, 2012).
Antônio Conselheiro e sua comunidade começaram a representar uma ame-
aça tanto ao governo da Bahia quanto ao governo federal, na medida em que a
comunidade crescia e a fama e as ideias de seu líder se espalhavam pelo sertão. Ao
questionar a legitimidade da República, as mudanças econômicas estabelecidas,
ao desafiar o coronelismo, ao divulgar a crença no Sebastianismo e declarar-se
um messias, Antônio Conselheiro transformou-se em alvo das lideranças esta-
duais, federais e também da Igreja Católica que não via com bons olhos a perda
de fiéis para a comunidade de Arraial de Canudos.
Para conter o fortalecimento da comunidade de Arraial de Canudos, o
governo federal iniciou uma guerra contra Antônio Conselheiro em 1896 enviando
tropas para destruir a comunidade. Foram necessárias quatro expedições mili-
tares para conseguir derrotar os jagunços e os sertanejos liderados por Antônio
Conselheiro. Somente em 1897 as tropas do governo federal conseguiram apri-
sionar os seguidores de Antônio Conselheiro, colocando fim à comunidade de
Arraial de Canudos em um conflito que dizimou a população.
Mulheres e crianças canudenses prisioneiras, este foi um dos poucos grupos de prisioneiros (apenas
algumas centenas de uma população de mais de 5 mil habitações) que não foi morto pelo exército, 1897
(Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Fonte: História Ilustrada (online).
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Com esse esquema político, garantiu-se a preservação dos interesses de um
pequeno grupo cujo domínio econômico determinou o domínio político. São
Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, as três maiores economias do Brasil,
organizaram-se de maneira a influenciar os rumos políticos do país, a partir do
estabelecimento da política dos governadores.
O êxito da política dos governadores dependia da vitória dos candidatos a
governador dos Estados e dos deputados eleitos para a Câmara. Os eleitos deve-
riam ser indivíduos afinados com o discurso e com as ideias do presidente. Para
tanto, as eleições realizavam-se em meio a fraudes e a coações, negando, mais
uma vez, a participação da população na vida política do país. A manipulação
da população e dos votos foi o elemento fundamental para a manutenção desse
sistema e para a consolidação da oligarquia no poder, principalmente para São
Paulo e para Minas Gerais, os dois Estados que comandaram o cenário político
até 1930, quando o Rio Grande do Sul, alijado do comando, impõe sua soberania.
Dentro desse contexto político permeado por acordos e por manipulação das
eleições, a figura dos coronéis ganhou destaque, na medida em que esses indiví-
duos eram responsáveis em grande parte pelas fraudes nas eleições por meio da
coação e da compra de votos em favor de determinado candidato.
O coronelismo – como foi chamada a influência dos coronéis no sistema
eleitoral da Primeira República – significou o apoio do qual dependia a política
dos governadores. Os coronéis garantiam os votos necessários para determinado
Figura 2: Charge
Fonte: Portal do Professor (online).
São Paulo conseguiu manter sua hegemonia no cenário político federal por meio
da organização do PRP e do apoio de outros Estados, como Minas Gerais. Os
três primeiros presidentes civis da República foram paulistas, fato que legitimou
o poder e a influência da elite paulista nas esferas política e econômica do país.
Essa hegemonia foi fortemente contestada nas eleições de 1909, quando foi
escolhido o sucessor Nilo Peçanha, que assumiu a presidência em 14 de junho
de 1906 após a morte do presidente Afonso Pena, que havia sido eleito em 1906.
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O governo de Campos Sales chegou ao fim em 1902 e Rui Barbosa foi eleito
o novo presidente do Brasil para um mandato de 1902 a 1906. Dentre as
medidas de seu governo, destacamos a obrigatoriedade da vacinação da
população contra a varíola, atendendo a um pedido do médico sanitarista
Oswaldo Cruz, fato que originou a Revolta da Vacina, em 1904.
Para saber um pouco mais sobre a história da Revolta da vacina, acesse o
conteúdo disponível em: <http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/revolta.
html>. Acesso em: 13 maio 2015.
Figura 3: Charge 2
Fonte: Portal do Professor (online).
A política do café com leite mais uma vez excluía do processo político os
demais Estados da República brasileira. Como nos mostra Renato Monseff
Perissinotto,
(...) a aliança entre os representantes políticos de Minas Gerais e os de
São Paulo teve como resultado político mais importante o domínio dos
centros de decisão do aparelho estatal pelos representantes desses dois
estados. Tanto o executivo federal, como é bastante conhecido, quan-
to o legislativo e as suas principais comissões (finanças, obras públi-
cas etc.) estavam sob seu controle. A contrapartida desse predomínio
político rigidamente controlado através do regime político oligárquico
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foi, evidentemente, a exclusão freqüente dos interesses ligados às ou-
tras classes e frações dominantes desses mesmos centros de decisão, em
especial aquelas vinculadas à produção para o mercado interno, cujo
representante mais forte, o Rio Grande do Sul, ocupava a posição de
satélite em torno dos estados líderes. (PERISSINOTTO, 1996, p. 194).
©istock
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em que as atividades comerciais internas dependiam também do sucesso eco-
nômico dos produtores rurais.
Desse modo, caro(a) aluno(a), devemos entender que os contextos político,
econômico e social estão interligados e uma alteração em qualquer um desses
aspectos afeta a organização do país na sua totalidade, sendo muito difícil estu-
dá-los isoladamente.
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O fato de ela ter ocorrido de maneira lenta deu aos proprietários de terras e de
escravos a possibilidade de buscarem, embora relutantes, uma alternativa para
o cultivo de suas terras com o menor prejuízo possível.
O emprego de mão de obra assalariada há muito tempo já era utilizada em
outros países e podemos considerar que, nessa questão, o Brasil estava atrasado
em relação aos países europeus. Além das questões relativas aos custos para o
emprego da mão de obra assalariada, no Brasil da primeira metade do século
XIX, havia ainda barreiras impostas pela falta de uma população livre suficiente
para suprir as necessidades das lavouras e também pelo fato de que os imigran-
tes europeus preferiam dirigir-se para os Estados Unidos. Conforme aponta
Emília Viotti da Costa,
A população dessas regiões onde a pressão para imigração atuava mais
fortemente era canalizada para os Estados Unidos. A organização de-
mocrática das colônias americanas do Norte, o progresso econômico
dessa região, a rede de transporte que ai se instalara precocemente, o
clima de liberdade religiosa, a relativa semelhança da paisagem ameri-
cana com a europeia, ambas dentro de uma mesma área de clima tem-
perado, a maior proximidade da Europa, o que significava passagens
mais baratas, tudo contribuía para dar aos Estados Unidos uma pri-
mazia absoluta entre os países americanos. Para lá se dirigia esponta-
neamente a corrente migratória. Nada que se lhe comparasse oferecia
o Brasil. Terra ignota, sobre a qual corriam lendas as mais extraordi-
nárias; terra distante, agreste, coberta de matas tropicais indevassáveis,
onde, sob um clima que se dizia causticante e incompatível com o ho-
mem branco, grassavam epidemias, o Brasil não oferecia condições
atraentes aos imigrantes (COSTA, 2010, p. 198).
“(...) na região Sul não havia uma numerosa classe de grandes proprietários
demandando trabalhadores em grande número, de forma que os governos
provinciais e o governo imperial puderam implementar uma política de co-
lonização baseada na criação de estabelecimentos rurais de tamanho fami-
liar. Também se concederam estímulos pecuniários e outras vantagens aos
particulares dispostos a fundar colônias nas mesmas linhas das que foram
criadas pelo governo. Por volta de 1870, existiam milhares de famílias euro-
peias, principalmente alemãs, estabelecidas em pequenas propriedades em
diversas colônias públicas e privadas, produzindo excedentes apreciáveis de
gêneros alimentícios a serem vendidos para outras províncias”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Corrêa do Lago (2014, p. 78).
Emília Viotti destaca também que cada família de colonos recebia uma parte
dos cafeeiros em concordância com sua capacidade de cultivar, e também lhes
era assegurado o direito de plantar os produtos necessários ao seu sustento, em
locais pré-estabelecidos pelo proprietário. Além disso, o acordo firmado entre
as duas partes estabelecia que parte do lucro líquido obtido com a venda da pro-
dução deveria ser entregue ao colono (COSTA, 2010, p. 208).
mento, eram cobrados juros de até 6%, os quais os colonos deveriam pagar assim
que recebessem as primeiras quantias resultantes da venda da produção. Desse
modo, a parte dos lucros da venda do café que correspondia aos imigrantes, vol-
tavam para as mãos e para os bolsos dos proprietários das fazendas, como parte
do pagamento da dívida adquirida com a transferência para o Brasil.
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Desembarque de imigrantes no Brasil
Fonte: História de São Paulo (online).
A sorte dos imigrantes que vieram para o Brasil para compor as colônias
de parceria ficou, então, nas mãos dos proprietários rurais. Para os imigrantes,
o sistema de colônias de parceria representou uma dependência econômica em
relação aos fazendeiros a qual não era possível vislumbrar o fim, na medida em
que até mesmo os produtos necessários para sua subsistência e manutenção de
sua casa e família tinham que ser adquiridos em locais indicados pelos fazendei-
ros de café, os quais geralmente eram de propriedade dos próprios fazendeiros
e onde o preço dos produtos estavam acima da média.
Aos colonos imigrantes não restavam muitas opções, haja vista que, de
acordo com o contrato que assinavam ainda na Europa, não podiam abandonar
o serviço nos cafezais ou mesmo deixar as fazendas a menos que conseguisse
quitar toda a dívida com os proprietários que os contrataram, o que se tornara
quase impossível.
O sistema de colônias de parceria logo começou a dar sinais de que não teria
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Diante dessa realidade e da falta de esperança de livrar-se do domínio dos
fazendeiros, muitos colonos entregaram-se aos vícios e deixaram de dedicar-se
aos cultivos da lavoura, gerando alguns prejuízos para os fazendeiros. Assim,
os proprietários também ficaram insatisfeitos e desgostosos com o sistema de
parceria. Alguns proprietários chegaram mesmo a demitir os colonos diante da
indisciplina e da baixa produtividade dos imigrantes.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, inaugurada em 1914
Fonte: Projeto Memória Ferroviária (online).
Entretanto, mesmo diante dessas mudanças nos centros urbanos nos primeiros
anos do século XIX, Emília Viotti da Costa chama nossa atenção para o fato de que
Não obstante as condições serem mais favoráveis ao processo de ur-
banização, a partir da independência as linhas gerais da produção
brasileira não foram alteradas. A exportação de produtos agrários
continuou a base da economia. Sobreviveram o latifúndio e o traba-
lho escravo (abolido apenas em 1888). A alta lucratividade da empresa
agrária, exportadora, o caráter limitado do comércio interno, a com-
petição estrangeira inibiram o desenvolvimento das manufaturas. As
elites no poder, beneficiando-se da produção agrícola, procuraram
manter intacta a estrutura tradicional de produção, revelando-se pou-
co simpáticas às empresas industriais. Dessa forma, as condições que
haviam inibido o desenvolvimento urbano no período colonial conti-
nuaram a atuar durante a primeira metade do século XIX. Por isso os
viajantes que percorreram o país nessa época continuaram a observar
o profundo contraste que havia entre as cidades portuárias mais movi-
mentadas, mais modernas, mais europeizadas e os núcleos urbanos do
interior que, na sua quase totalidade, viviam à margem da civilização,
meras extensões das zonas rurais (COSTA, 2010, p. 243).
lução nos centros urbanos que implicará em uma mudança tanto nos aspectos
políticos e econômicos do país como nos aspectos sociais e culturais.
A presença maciça dos estrangeiros, após a segunda metade do século XIX,
contribuiu para uma mudança na paisagem dos centros urbanos. Muitos imi-
grantes, sobretudo após o fracasso das colônias de parceria, deslocaram-se para
as cidades e dedicaram-se à atividades ligadas ao comércio e ao artesanato.
Além disso, havia ainda os estrangeiros que chegaram ao Brasil para trabalhar
nas nascentes fábricas e primeiras indústrias, estando as principais localizadas
nas regiões do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande
do Sul (COSTA, 2010, p. 259).
Segundo Bóris Fausto (1995, p. 288), as principais indústrias instaladas no
Brasil entre o final do século XIX e início do século XX foram as indústrias têx-
teis, de alimentação e de vestuário, sendo que as indústrias de base (cimento e
ferro, por exemplo) ainda levariam um tempo para aparecerem no país e, por
essa razão, mesmo em processo de industrialização, o Brasil continuou a depen-
der da importação de materiais de base.
Merece destaque em nosso estudo, caro(a) aluno(a), as transformações ocor-
ridas na cidade do Rio de Janeiro durante a Primeira República, inspiradas na
Belle Époque parisiense.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
des precisavam renovar suas feições de modo a se mostrarem modernas,
progressistas e civilizadas. As cidades modernizadas constituíram então a
maior expressão do progresso material e civilizatório de um período que se
convencionou chamar de Belle Époque”.
Fonte: Follis (2004, p. 15).
“As reformas urbanas do Rio de Janeiro ocorridas entre 1902 e 1906 mar-
caram um momento crucial por que passava o país: a passagem do meio
de produção mercantil para o capitalismo. É um momento em que se nota
de forma escancarada a ação do Estado em privilégio do capital, e de certo
modo a transferência de responsabilidades ao setor privado, ou seja, trata-
-se de um momento em que o Estado delega ao capital privado a função de
estruturar a cidade – tendência observada até hoje. Sem a intervenção es-
tatal, a lógica de crescimento da cidade passa a seguir a lógica do mercado,
que leva à valorização do solo nas áreas centrais e à periferização das classes
baixas, sem a criação de uma estrutura que permita sequer o deslocamento
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Suppia e Scarabello (online).
Getúlio Vargas no Palácio do Catete em 31 de Outubro de 1930, alguns dias pós a Revolução de 1930.
Fonte: Netleland (online).
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das atividades comerciais e a presença dos estrangeiros possibilitaram a circulação
de ideias oriundas da Europa e que chegavam ao Brasil trazidas pelo imigrante
que aqui vinha instalar-se. Dentre essas ideias, destacavam-se as que fundamen-
tavam a luta dos trabalhadores e dos operários por melhores salários e condições.
No processo eleitoral de 1921, quando São Paulo e Minas lançaram como can-
didato à presidência o nome de Artur Bernardes, que disputaria as eleições com
Nilo Peçanha, apoiado pelas lideranças do Rio Grande do Sul, Pernambuco e
Rio de Janeiro, que formavam a Reação Republicana, houve o crescimento da
insatisfação dos Estados, dos setores e dos indivíduos menos privilegiados ou
beneficiados pela política dos governadores e pela política do café com leite,
que acirrou as disputas eleitorais da década de 1920. (FAUSTO, 1995, p. 306).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nilo Peçanha, durante sua campanha, criticou abertamente o esquema de
revezamento no governo federal criado por São Paulo e Minas Gerais, os quais
estabeleceram um negligenciamento dos interesses das demais regiões do país,
uma vez que esse esquema visava, dentre outras coisas, proteger os interesses
das oligarquias desses dois Estados.
A candidatura de Nilo Peçanha contava também com o apoio da burguesia
industrial que reclamava uma política que beneficiasse seus investimentos e que
garantisse a proteção de seus interesses. Além disso, proprietários rurais com
uma expressividade menor no contexto político e econômico também aliaram-
-se à aliança liderada pelo Rio Grande do Sul, por meio de Borges de Medeiros.
Como podemos observar, caro(a) aluno(a), as críticas ao sistema do café
com leite intensificaram-se a partir da década de 1920 e tiveram como resultado
a organização da sociedade para fazer frente à realidade que se apresentava. A
Semana de Arte Moderna de 1922, a fundação do Partido Comunista do Brasil,
a Revolução de 1924, a Coluna Prestes e o Movimento Tenentista são exemplos
da reação à dominação das oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais na esfera
política federal (FAGUNDES, 2010, p. 128).
Na eclosão de alguns desses movimentos, como a Revolução de 1824, a Coluna
Prestes e, como o próprio nome sugere, o Movimento Tenentista, o exército –
ou pelo menos uma fração dele – teve uma participação definitiva e, conforme
destaca Fagundes (2010, p. 128), “o Tenentismo passou a ser interpretado no
bojo do conjunto de episódios que marcaram a chamada ‘crise dos anos 1920’”.
O GOLPE DE 1930
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Sul permaneceu com o objetivo de suplantar o sistema vigente e iniciar um novo
capítulo na história política do país.
Na década de 1920, o Rio Grande do Sul contava com um setor industrial
bem desenvolvido, fato que colocou o Estado como o terceiro mais produtivo do
país. Desse modo, tornou-se imprescindível para o Estado que o governo fede-
ral adotasse medidas que beneficiassem e protegessem os interesses não apenas
do setor agroexportador, mais precisamente do setor cafeeiro, mas que colabo-
rasse também para o desenvolvimento das atividades industriais. Buscando tais
objetivos, os gaúchos, ao longo da década de 1920, elaboraram estratégias que
modificaram as conjunturas políticas dominantes até então.
Como dito anteriormente, a década de 1920 representou um período de agi-
tações sociais que questionavam o modelo político existente e que colocou em
prova a força da política dos governadores e do café com leite. Associados às
questões internas do país, os eventos que sacudiam a Europa no mesmo período
– muitos deles resultado da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) – também
contribuíram para abalar as estruturas políticas, econômicas e sociais do Brasil.
Os presidentes que comandaram o país nesse período – Artur Bernardes (1922-
1926) e Washington Luiz (1926-1930) – precisaram lidar com as forças internas
e externas que ameaçavam a manutenção do poder constituído.
Mesmo diante de um cenário de agitações de ordem política, econômica
e social, a política do café com leite mantinha-se segura por meio das fraudes
nos processos eleitorais, garantindo o apoio às suas respectivas elites políticas
e econômicas. Nas eleições de 1930, no entanto, o presidente Washington Luiz
(representante do Estado de São Paulo) decidiu indicar e garantir a candidatura
de Júlio Prestes à sucessão presidência. Júlio Prestes também era paulista e sua
candidatura representava a ruptura do acordo estabelecido com Minas Gerais,
de onde deveria vir o próximo presidente do Brasil.
Segundo Bóris Fausto (1995, p. 319), não há um consenso ou uma opi-
nião definitiva sobre as razões que levaram Washington Luiz a romper o acordo
com Minas Gerais, colocando um fim à política do café com leite. O fato é que
a decisão do então presidente da República fez com que Minas Gerais se unisse
ao Rio Grande do Sul e apoiasse a indicação de um candidato gaúcho à presi-
dência do Brasil.
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O candidato que concorreria com Júlio Prestes era Getúlio Vargas, sendo João
Pessoa seu candidato à vice-presidente. Getúlio Vargas e João Pessoa formaram
a Aliança Liberal e receberam o apoio da Paraíba e de uma parte da sociedade
paulista, enquanto Júlio Prestes recebeu o apoio de 17 Estados brasileiros, inclu-
sive de dissidentes do Partido Republicano Mineiro (FAUSTO, 1995, p. 319).
Carta de Antônio Carlos ao chefe político gaúcho Flores da Cunha em apoio à candidatura de Vargas,
1930. Juiz de Fora (MG). (CPDOC/GV 1930.06.16)
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
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obelisco existente na Avenida Rio Branco. A posse de Getúlio Vargas
na presidência, a 3 de novembro de 1930, marcou o fim da Primeira Re-
pública e o início de novos tempos, naquela altura ainda mal definidos
(FAUSTO, 1995, p. 325).
Nesse momento, tinha início a chamada Era Vargas, assunto de nossa próxima
unidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Ao instalar-se a República no Brasil, o quadro geral do país apresentava uma
diversidade de interesses e ideais, os quais esperavam ser contemplados com
o novo sistema político. No entanto, a adoção de um regime político diferente
não resultou necessariamente em uma ruptura da hegemonia de alguns grupos
políticos e econômicos. Com base no que foi estudado nesta unidade, analise o
contexto político e econômico da sociedade brasileira nas primeiras déca-
das do regime republicano e aponte os interesses defendidos pelos setores
responsáveis pela organização da Primeira República no Brasil.
2. A abolição da escravidão em 1888 influenciou o aumento da entrada de imigran-
tes europeus no Brasil entre o fim do século XIX e o início do século XX. Discorra
acerca da maneira como a chegada do trabalhador europeu contribuiu para
as transformações sociais e culturais da sociedade brasileira no início do
século XX.
3. O trabalho livre foi implantado no Brasil a partir da utilização da mão de obra
estrangeira. Com relação a esse processo, leia as afirmações abaixo e assinale
a alternativa correta.
a) Desde meados do século XIX, a imigração foi amplamente incentivada no Brasil,
na medida em que havia forte interesse dos estrangeiros em seguir espontane-
amente para nosso país.
b) O emprego da mão de obra estrangeira nas lavouras de café no Brasil seguiu um
rígido sistema de organização, o qual garantiu o sucesso do sistema em todas as
regiões do país.
c) A relação entre os cafeicultores e os imigrantes europeus desenvolveu-se de ma-
neira tranquila, uma vez que foram fornecidas aos trabalhadores recém chega-
dos todas as oportunidades de crescimento e enriquecimento.
d) A organização do sistema de colônias de parceria representou uma tentativa de
substituir gradativamente o trabalho escravo nas fazendas de café e organizou-
-se de maneira diversa nas regiões do país.
e) Com o fracasso das colônias de parceria, os proprietários rurais foram gradativa-
mente substituindo as atividades agrícolas pelas atividades comerciais e indus-
triais, deslocando-se para os centros urbanos.
163
4. Leia o documento a seguir: “Prezados amigos – Segue esta carta por porta-
dor especial, afim de levar-lhes a sciencia de que as nossas combinações no Rio
tiveram aqui integral aprovação. A palavra de honra por mim empenhada será
honrada pelo Rio Grande todo, nos precisos termos da acção por nós assentada.
Envio-lhe meu afectuoso abraço”. (Bilhete de Lindolfo Collor e Oswaldo Aranha
confirmando o dia 3 de outubro como data da deflagração do movimento revo-
lucionário, 1930. Porto Alegre (RS). CPDOC/PEB 1930.09.25). Analise as afirma-
ções abaixo:
I. Na década de 1920, o Rio Grande do Sul encontrava-se atrasado no seu desen-
volvimento industrial se comparado ao Estado de São Paulo, devido à forte pre-
sença de uma elite proprietária de terra.
II. A década de 1920 representou um período de agitações sociais que questiona-
vam o modelo político existente e que colocou em prova a força da política dos
governadores e do café com leite.
III. Getúlio Vargas e João Pessoa formaram a Aliança Liberal e receberam o apoio da
Paraíba e de uma parte da sociedade paulista, enquanto Júlio Prestes recebeu o
apoio de 17 Estados brasileiros.
IV. A vitória de Getúlio Vargas nas eleições de 1930 representou a vitória da burgue-
sia industrial e comercial do país.
Estão corretas as alternativas:
a) I.
b) I e IV.
c) II e IV
d) IV.
e) II e III.
SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922
Mal começado, o ano de 1922 guardava inusitadas surpresas aos paulistanos. Primeiro,
um tremor atingiu a capital. De pequena magnitude, gerou uma série de matérias na
imprensa, detalhadas explicações científicas e algumas analogias bem humoradas. Uma
nota no Jornal do Comércio de 31 de janeiro comparava o abalo sísmico a crises histéri-
cas de esposas que sofriam dos nervos.
Pouco depois, a fuga de presos da cadeia pública situada à avenida Tiradentes causaria
pânico entre os habitantes da cidade. Aproveitando-se do descuido da sentinela, os de-
tentos evadiram-se pelos fundos misturando-se a operários que trabalhavam no local.
O choque maior, porém, ainda estava por vir. Perdidos entre as páginas dos jornais de
fevereiro, pequenos “reclames” anunciavam o Festival de Arte Moderna, abrilhantado
pelo “concurso” de Guiomar Novais e Heitor Villa-Lobos.
Mas quem se dispôs a desembolsar 186 mil-réis que davam direito às três récitas levou
um susto. Ao transpor os treze degraus de acesso ao Teatro Municipal, os cavalheiros de
fraque e cartola, acompanhados por damas elegantemente vestidas, paravam estarreci-
dos. E não era para menos. Convertido em museu improvisado, o suntuoso hall apresen-
tava pinturas e esculturas que, com raras exceções, desdenhavam de todos os cânones
artísticos até então ensinados nas melhores academias de arte do país e d` além-mar.
À direita da escadaria interna, um desfigurado homem amarelo padecia severamente
do fígado. Adiante, um Cristo de tranças escarnecia o penitente catolicismo do público,
que se benzia indeciso defronte o painel Ao pé da cruz, de Di Cavalcanti. Sem culpa nem
explicações, um sem-fim de sacrilégios religiosos e artísticos penalizavam os incautos
visitantes. Quadros sem perspectivas, cores berrantes, figuras deformadas, manchas
indecifráveis e paisagens sombrias viravam pelo avesso as normas básicas da estética
convencional. E pouco adiantava correr atrás de coerência ou rima nos versos a serem
declamados no palco. Ali, uma enxurrada de desatinos literários feria sensibilidades re-
fratárias a experimentalismos linguísticos. Delírios poéticos sobre aeroplanos, estradas
da Via láctea, sapos e guerra provocavam os expectadores, que revidaram numa bem
orquestrada vaia regida pelos estudantes do alto das galerias.
Abrindo ruidosamente as comemorações do Centenário da Independência, a Semana
de 22 vinha alvoroçar o universo artístico e literário da Paulicéia. Sob a genérica denomi-
nação de “os novos”, mas também apelidados de “futuristas”, seus artífices articulariam
um movimento cultural que teve o primeiro ato público naquela Semana de Arte Mo-
derna – em verdade, três noitadas de conferências, audições musicais, leitura de poemas
e uma exposição de artes aberta de segunda a sábado no saguão do Teatro Municipal,
cuja imponência contrastava com a tônica irreverente dos vanguardistas.
165
Título: Os Sertões
Autor: Euclides da Cunha
Editora: Francisco Alves
Sinopse: Euclides da Cunha aborda neste livro, cuja primeira edição é
de 1902, a Guerra de Canudos, a qual acompanhou como jornalista do
jornal O Estado de São Paulo. O livro é dividido em três partes – A Terra,
O Homem e A Luta – e pode ser considerado um misto de literatura e
história, no qual o autor oferece um retrato do Brasil no final do século
XIX.
Para saber mais sobre as revoluções ocorridas na década de 30, assista “1930 tempo de
revolução”, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vOPeTl3fzd>. Acesso
em 06 jul. 2015.
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
IV
A ASCENÇÃO DOS REGIMES
AUTORITÁRIOS NO BRASIL
UNIDADE
E A SUPRESSÃO DA “DEMOCRACIA”
BRASILEIRA: DA ERA VARGAS À
DITADURA MILITAR
Objetivos de Aprendizagem
■■ Verificar as conjunturas do primeiro período do governo de Getúlio
Vargas (1930-1937).
■■ Analisar o período do Estado Novo (1937-1945) e as diretrizes
políticas da ditadura getulista.
■■ Verificar o processo de redemocratização do país após o fim do
Estado Novo.
■■ Analisar o contexto político, econômico e sociocultural que permeou
a instalação da ditadura militar no Brasil.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os primeiros anos do governo de Getúlio Vargas (1930-1937).
■■ A ditadura de Vargas: o Estado Novo (1937-1945).
■■ Enfim a democracia? As esperanças renovadas e o novo golpe: início
da ditadura militar no Brasil.
169
INTRODUÇÃO
O golpe de 1930 levou ao poder uma das figuras mais polêmicas e controversas
da história política do Brasil, Getúlio Vargas. Comandando as forças contrárias à
política oligárquica, o político gaúcho ascendeu ao poder representando a espe-
rança dos setores até então relegados à margem do processo governamental de
conquistar um espaço maior no encaminhamento da vida política do país. Essa
esperança em breve seria derrotada. Ao assumir a presidência do Brasil, Getúlio
Vargas mostrou que não tinha a intenção de dividir o comando do país.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Getúlio Vargas
Fonte: Universidade de São Paulo (online).
a esse quadro eram os Estados Unidos, que em meio ao caos provocado pela
Primeira Guerra conseguiu, terminado o conflito, manter o desenvolvimento e
o fortalecimento de sua economia.
A euforia norte-americana manteve-se até o final de 1929, quando a que-
bra da bolsa de Nova Iorque jogou o país em uma crise econômica que teve um
efeito global devido às relações existentes entre os E.U.A e os países europeus.
Dessa forma, a crise dos países europeus acirrou-se, afetando diretamente a eco-
nomia brasileira.
De acordo com o que estudamos nas unidades anteriores, a economia bra-
sileira do século XIX e início do século XX tinha um caráter agroexportador,
sendo o café o principal produto de exportação do país. A valorização do café
no mercado internacional foi responsável pelo avanço econômico do Brasil e
também teve grande influência no contexto político do país, conforme apon-
tado nas discussões anteriores.
Com a crise política, econômica e social que assolava a Europa desde o fim
da Primeira Guerra Mundial e que se intensificou no final da década de 1920, a
economia brasileira também entrou em colapso. As exportações do café foram
reduzidas, uma vez que os países europeus eram os principais consumidores
do produto brasileiro, fazendeiros foram arruinados, nas cidades o movimento
operário ganhou força a partir do avanço das ideias socialistas, a produção indus-
trial também foi afetada, acarretando a elevação na taxa de desemprego. Esse foi
o contexto que Getúlio Vargas encontrou ao assumir o comando do Brasil no
final de 1930. Portanto, cabia ao novo presidente a tarefa de reorganizar a socie-
dade brasileira e colocar o Brasil novamente no caminho do desenvolvimento.
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nantes dos estados, eliminar as prerrogativas individuais e instituir um
tribunal de exceção para julgar crimes políticos. Autoatribuindo-se po-
deres discricionários, o Governo Provisório, originário do movimento
civil-militar que conduzira o político gaúcho ao Catete, também apo-
sentara compulsoriamente, por “imperiosas razões de ordem pública”,
seis ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), considerados com-
prometidos com o antigo regime (NETO, 2013, p. 7).
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lucionário, desenrolou-se entre julho e outubro de 1932 e foi liderada pelo
Exército. Sem o apoio de outros Estados, a Revolução Constitucionalista não
obteve sucesso, sendo as forças do Exército paulista derrotadas pelas forças do
Exército federal (SKIDMORE, 2010, p. 157). No entanto, embora fracassada, a
Revolução de 1932 mostrou ao governo central que era o momento de estabe-
lecer o fim do governo provisório e garantir, por meios legais, a permanência
de Getúlio Vargas à frente do Estado brasileiro. Com esse propósito, em maio
de 1933, foram convocadas eleições para a Assembleia Constituinte, que atuou
entre 1933 e 1934 na elaboração da nova Constituição do país.
Cartão Postal do MMDC, 1932. São Paulo (SP). (CPDOC/ CDA Roberto Costa)
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
justo e imparcial (SKIDMORE, 2003, p. 158).
A Constituição de 1934 determinava que novas eleições presidenciais fos-
sem realizadas, as quais foram vencidas por Getúlio Vargas, uma vez que o
documento estabelecia que a primeira eleição realizada após sua promulgação
seria por meio do voto indireto, ou seja, o novo presidente seria escolhido pelos
membros da Assembleia Constituinte, que eram, na sua maioria, partidários de
Getúlio Vargas.
Nessa nova fase de seu governo, Getúlio Vargas deveria ter suas prerrogativas
políticas limitadas pela Constituição, governando em conjunto com o Congresso.
No entanto, o acirramento das disputas entre as ideologias presentes no interior
do Brasil levaram o presidente a buscar alternativas de garantir sua autonomia
em relação ao Congresso e às forças regionais. As ideologias citadas referem-
-se, principalmente, aos modelos de governo defendidos pela Ação Integralista
Brasileira (AIB) e à Aliança Nacional Libertadora (ANL).
Criada em 1932 e com inspiração no fascismo italiano – embora o elemento
racista não fizesse parte da ideologia integralista – a Ação Integralista Brasileira
era liderada por Plínio Salgado, escritor, jornalista e ex-deputado estadual pelo
PRP. Era composta por indivíduos das classes média e alta, oficiais da Marinha,
membros do clero, intelectuais, profissionais liberais, funcionários públicos e
militares (RECCO, 2010, p. 68), que defendiam a criação de um “Brasil cristão
baseado numa sociedade disciplinada com pouca tolerância para a ação revo-
lucionária da esquerda” (SKIDMORE, 2003, p. 159). O lema da AIB era Deus,
Pátria e Família.
Segundo o historiador João Fábio Bertonha,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A proposta de governo defendida pelos membros da ANL – dentre os quais
estavam os “comunistas, socialistas, os ‘tenentes liberais e católicos’” (RECCO,
2010, p. 68) – baseava-se na organização dos trabalhadores urbanos como forma
de ação revolucionária para instalar um governo democrático e nacionalista. Suas
principais propostas consistiam na suspensão do pagamento da dívida externa,
no combate ao nazi-fascismo, na reforma agrária, na nacionalização das empre-
sas estrangeiras, na garantia das liberdades populares e na constituição de um
governo popular (FAUSTO, 1995, p. 359).
Primeira Guerra Mundial em 1914, a luta contra a guerra foi uma das prin-
cipais bandeiras da Internacional. Com o desenrolar do conflito, entretanto,
as divergências vieram à tona e terminaram por enfraquecer a unidade da
associação. Em 1919, logo após a vitória dos comunistas na Revolução Rus-
sa, foi criada a III Internacional, ou Internacional Comunista, ou ainda Ko-
mintern. Seu principal objetivo era criar uma União Mundial de Repúblicas
Socialistas Soviéticas.
Fonte: Internacional Comunista (online).
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federal e acabou, por fim, desarticulada.
Rebeldes do 3º RI a caminho do presídio da Ilha Grande, 1935. (Rio de Janeiro). (CPDOC/ CDA Vargas)
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
A Ação Integralista Brasileira teve uma vida mais longa, sendo extinta apenas
em 1938 após uma tentativa frustrada de golpe de Estado, no qual os membros da
AIB atacaram o palácio presidencial no Rio de Janeiro, acreditando que teriam
o apoio da população civil e do Exército. No entanto, o Exército manteve-se fiel
a Getúlio Vargas e a organização integralista foi formalmente eliminada por
Vargas (BERTONHA, 2004, p. 63).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Esse contexto de agitação tomou conta do Brasil e, entre 1936 e 1937, determinou
os rumos da conjuntura política brasileira. Com o decreto de estado de emer-
gência, Getúlio Vargas iniciou uma caça a seus inimigos, lotando as delegacias
e cadeias do país com indivíduos acusados de compactuar com o comunismo
e contra o governo. Com a intenção de anular as eleições previstas para janeiro
de 1938 e continuar no cargo de presidente, Getúlio Vargas elaborou um plano
que lhe garantiu a permanência no poder.
O chamado Plano Cohen serviu de pretexto para que Getúlio Vargas colo-
casse em prática o golpe de Estado que permitiria que ele continuasse como
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presidente do Brasil. De acordo com a historiografia, em 1937 foi apresentado
ao presidente um plano elaborado pela Ação Integralista Brasileira, o qual esta-
belecia a
(...) mobilização dos trabalhadores para a realização de uma greve ge-
ral, o incêndio de prédios públicos, a promoção de manifestações po-
pulares que terminariam em saques e depredações e até a eliminação
física das autoridades civis e militares que se opusessem à insurreição
(RECCO, 2010, p. 70).
Hoje é sabido que esse plano foi uma farsa criada por Getúlio Vargas para legiti-
mar suas ações centralizadoras e ditatoriais, mas em 1937, quando o presidente
do Brasil divulgou por meio de uma transmissão de rádio a existência de um
plano comunista à população, a veracidade do documento não foi questionada.
Com a divulgação do Plano Cohen, Getúlio convenceu o Congresso a decre-
tar o estado de guerra, o que garantia ao presidente em exercício a suspensão da
Constituição por noventa dias. Com plenos poderes em mãos, Vargas suspen-
deu as eleições de 1938 e dissolveu a Câmara dos Deputados e o Senado. Em 10
de novembro de 1937, decretou que o Brasil entrava em uma nova fase política.
Tinha início o Estado Novo (FAUSTO, 1995, p. 364).
Trecho do diário manuscrito de Getúlio Vargas, 07/11/1937. (CPDOC/ GV remsup 30-10-03 vol.16)
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Constituição de 1937
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
O Estado Novo foi instaurado no Brasil ao mesmo tempo em que uma onda
de transformações varria a Europa, instalando governos autoritários e refor-
çando a versão de que a democracia liberal estava definitivamente liquida-
da. Mussolini chegou ao poder na Itália em 1922 e aí implantou o fascismo;
Salazar se tornou primeiro-ministro (presidente do Conselho de Ministros)
de Portugal em 1932 e inaugurou uma longa ditadura; Hitler foi feito chan-
celer na Alemanha em 1933 e tornou-se o chefe supremo do nazismo. A
guerra civil espanhola, que se estendeu de 1936 a 1939, banhou de sangue
a Espanha antes que Franco começasse a governar o país com mão de ferro.
Fonte: Estado Novo e Facismo (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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com bons olhos a instituição do Estado Novo no Brasil, de acordo com Neto,
Na Alemanha, a imprensa nazista saudou Getúlio e dedicou generosos
espaços ao assunto, traçando perfis simpáticos do presidente brasileiro,
ilustrados com fotografias fornecidas pelo serviço diplomático. (...). O
ministro italiano do Exterior, Galeazzo Ciano, genro de Mussolini, fi-
cou tão entusiasmado com as notícias recebidas da embaixada de seu
país no Rio de Janeiro que imaginou a adesão imediata do governo bra-
sileiro ao Pacto Anti-Komintern, selado originalmente no final de 1936
entre Japão e Alemanha — e, naquele final de 1937, também referen-
dado pela Itália, dando origem ao grupo de nações que ficaria conheci-
do como as Potências do Eixo. (...). De Washington, Oswaldo Aranha
escreveu telegrama confidencial a Getúlio para lastimar os rumos que
o governo havia tomado e, por consequência, para informar sua re-
núncia ao cargo de embaixador nos Estados Unidos. Uma entrevista
concedida por Francisco Campos a jornalistas estrangeiros, publicada
pelo New York Times, constrangera Oswaldo. Entre outros pontos, o
ministro da Justiça sugerira aos correspondentes internacionais que a
“ignorância do povo brasileiro” era o principal impeditivo à prática da
democracia no país teria sido plasmada em moldes intervencionistas e,
portanto, autoritários (NETO, 2013, p. 258).
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da Justiça do Trabalho. É a partir daí que podemos igualmente detectar
— em especial durante o Estado Novo (1937-45) — toda uma estra-
tégia político-ideológica de combate à “pobreza”, que estaria centrada
justamente na promoção do valor do trabalho. O meio por excelên-
cia de superação dos graves problemas sócioeconômicos do país, cujas
causas mais profundas radicavam-se no abandono da população, seria
justamente o de assegurar a essa população uma forma digna de vida.
Promover o homem brasileiro, defender o desenvolvimento econômico
e a paz social do país eram objetivos que se unificavam em uma mesma
e grande meta: transformar o homem em cidadão/trabalhador, respon-
sável por sua riqueza individual e também pela riqueza do conjunto da
nação (GOMES, 1999, p. 55).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Manifestação de apoio às medidas trabalhistas de Getúlio Vargas
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Unidades do 2° Escalão da FEB desembarcam na Itália. Nápoles, 1944. (CPDOC/ HB foto 062/18)
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
O Estado Novo parece ter nascido, vivido e morrido sob a égide das trans-
formações mundiais. Se o florescimento de regimes autoritários na Europa
encorajou o presidente Vargas a instaurar no país um regime político auto-
ritário, esse mesmo regime conheceu o apogeu e a queda sob a influência
da Segunda Guerra.
Fonte: Fatos & Imagens > Estado Novo (online)
Bóris Fausto (1995, p. 383) enfatiza que afora os movimentos pela redemocrati-
zação do país que partiram de setores da sociedade brasileira, a desarticulação
no interior do próprio governo foi fundamental para a crise do governo getu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lista e para o seu consequente fim. Oswaldo Aranha, ministro das Relações
Interiores no Estado Novo foi a figura mais empenhada em reestabelecer as
liberdades democráticas no país. Góis Monteiro, um dos principais aliados de
Getúlio Vargas desde o golpe de 1930, também abandonou o governo quando
percebeu que Getúlio não conseguiria manter o regime por muito mais tempo.
Diante dessa oposição, a qual o DIP não mais conseguia reprimir, em 1945
Vargas adotou medidas que significaram os primeiros passos rumo à redemo-
cratização, como a promulgação do Ato Adicional à Constituição de 1937, que
previa a convocação de novas eleições num prazo de noventa dias, liberdade de
associação, consistia em anistia aos presos políticos (JAMBEIRO, 2004, p. 103).
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indicavam a data de 30 de agosto de 1945. Não era a primeira vez, nem
seria a última, que multidões ganhariam as ruas do Rio de Janeiro em
eventos semelhantes, para exigir a permanência de Getúlio Vargas no
Catete. A palavra de ordem “Queremos Getúlio” deu origem ao apelido
do movimento que logo se espalhou como uma catapora política pelo
país: “queremismo” (NETO, 2013,p. 387).
Queremistas recebidos por Vargas no Palácio Guanabara, 1945. Rio de Janeiro (RJ). (CPDOC/ CDA
Vargas)
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“Paquet, o Dr. Getúlio manda dizer que não quer nenhuma escaramuça
e que você largue a Vila de mão.”
Vamos assistir ao que este sujeito vai dizer ao Getúlio. Se faltar ao res-
peito, não sei o que farei.”
Informe a seus amigos que desejo apenas ir para o Sul. Eles que fiquem
mexendo esse mingau (NETO, 2013, p. 401-402).
Enfim Democracia? As Esperanças Renovadas e o Novo Golpe: Início da Ditadura Militar no Brasil
IV
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os comunistas não puderam desenvolver suas atividades com liberdade. Após
uma declaração de Luiz Carlos Prestes de que o Partido Comunista Brasileiro
ficaria ao lado da URSS em um possível confronto entre as duas nações, Dutra
intensificou a perseguição aos comunistas e novamente o Partido Comunista foi
posto na ilegalidade (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 398).
A política econômica do governo Dutra seguia as diretrizes liberais e parecia
submeter-se aos desígnios norte-americanos, com o favorecimento das impor-
tações. De acordo com Bóris Fausto (1995, p. 403), o liberalismo econômico
adotado por Dutra possibilitou o desenvolvimento da produção para o mercado
interno e a industrialização do país. De acordo com o autor, entre 1947 e 1950,
o PIB brasileiro cresceu 8%.
Em 1948 Eurico Gaspar Dutra lançou o Plano Salte, cuja sigla era formada
pelas iniciais dos setores que seriam beneficiados pelas novas medidas eco-
nômicas do seu governo: Saúde, Alimentação, Transporte e Energia, e que
representou uma tentativa do governo em resolver os problemas oriundos
do aumento das importações.
Fonte: adaptado de Schwarcz e Starling (2015).
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IV
A política trabalhista adotada por Getúlio nos anos de seu primeiro governo
garantiu o apoio dos trabalhadores. Além deste setor, era necessário conquistar
a confiança de antigos desafetos e daqueles que não se beneficiaram do seu pri-
meiro programa de governo. Além disso, era imprescindível mudar a imagem de
ditador construída ao longo dos anos do Estado Novo e que não cabia na nova
realidade do país ou mesmo do contexto internacional do pós Segunda Guerra.
Para alcançar seu objetivo, Vargas fundamentou seu programa de governo
no desenvolvimento e no bem-estar social. Além disso, firmou acordos e alianças
com nomes importantes no cenário político como Góis Monteiro, o governa-
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dor de São Paulo, Ademar de Barros, Café Filho – que combateu o Estado Novo
e fora membro da ANL – e as lideranças do PSD e do PTB. Conforme aponta
Lilia Schwarcz e Heloisa Starling,
A estratégia de alianças de Vargas tinha um viés imediatista, era arris-
cada, e cobraria dele um preço alto na hora de governar o país, mas a
curto prazo funcionava: sua candidatura não se apresentou identificada
cm um único partido e sim como uma fórmula suprapartidária que
combinava novas e velhas lideranças políticas e regionais, e misturava
os empresários interessados nos benefícios da industrialização com a
força eleitora dos operários, dos trabalhadores e dos setores de baixa
classe média, em expansão nas grandes cidades (SCHWARCZ; STAR-
LING, 2015, p. 400-401).
Com essa rede de apoio construída ao longo dos cinco anos que se manteve afas-
tado do governo central, Getúlio Vargas venceu as eleições disputadas em 03 de
outubro de 1950 com 48,7% dos votos. Dessa forma, Getúlio Vargas voltou a
ocupar a cadeira de presidente da República no Brasil.
O modelo político adotado por Vargas nesse segundo mandato rompia com
o liberalismo e apostava no nacionalismo e no intervencionismo para promover
a industrialização do país e o seu consequente progresso. Com esse programa de
governo em mente, Getúlio montou uma equipe de governo com representantes
dos diversos partidos políticos, a fim de garantir apoio e minar a oposição à sua
eleição. Os que apoiavam o modelo nacionalista e intervencionista de Getúlio
eram chamados de nacionalistas e os que eram contrários a esse modelo foram
chamados de entreguistas (FAUSTO, 1995, p. 407). Essas eram as principais
correntes ideológicas que Vargas precisou conciliar no seu segundo mandato.
a Petrobrás – projeto que tinha desde 1930 e que finalmente pôde concluir em
1954 –, a Eletrobrás – que entrou em funcionamento apenas em 1962 –, o Banco
Nacional do Desenvolvimento (BNDE) e ampliou a capacidade de produção da
Usina Siderúrgica de Volta Redonda (JAMBEIRO, 2004, p. 151).
Segundo Schwarcz e Starling (2015, p. 404), o modelo nacionalista de Getúlio
Vargas entrou em crise já em 1952 motivado tanto pelas questões internas quanto
externas do período. Internamente, as forças políticas que se aliaram a Vargas
nas eleições de 1950 começaram a distanciar-se da figura do presidente e a ado-
tar uma postura oposicionista. Externamente, a retirada do apoio financeiro
norte-americano aos projetos brasileiros e a cobrança vinda do Banco Mundial
pelos empréstimos feitos ao Brasil e já vencidos levou a um descontrole na eco-
nomia brasileira que gerou o aumento da inflação, o aumento do custo de vida
e a redução dos salários.
A partir desse momento, o governo de Vargas passou a enfrentar uma série
de movimentos operários que tinham por objetivo mostrar ao presidente que
o apoio dos trabalhadores estava condicionado à manutenção das condições de
vida e das prerrogativas trabalhistas. Para enfrentar a série de manifestações, de
paralisações e de greves que ocorreram em todo o país naquele momento, Getúlio
nomeou João Goulart como Ministro do Trabalho. A escolha de Jango para o
Ministério do Trabalho intensificou a oposição a Getúlio, visto que a nomeação
foi entendida como uma forma de manipular o movimento operário para justifi-
car a instalação de uma república sindicalista, o que desarticularia o movimento
sindical e o colocaria novamente sob a tutela do Estado.
Enfim Democracia? As Esperanças Renovadas e o Novo Golpe: Início da Ditadura Militar no Brasil
IV
Vargas passou a ser atacado mais efetivamente pela UDN e pela imprensa,
cujo jornalista e deputado federal Carlos Lacerda era a maior expressão. Lacerda
no início dos anos de 1930 era comunista e apoiou a candidatura de Luiz Carlos
Prestes nas eleições para presidente da ANL em 1935. No entanto, ao longo dos
anos passou a combater sua antiga ideologia transformando-se em um grande
opositor do avanço comunista no Brasil (FAUSTO, 1995, p. 414). Lacerda nos
anos de 1950 iniciou uma campanha contra o governo de Vargas e por meio de
seus jornais, o Tribuna da Imprensa, exigia a renúncia do presidente, acusan-
do-o de corrupção e de defender o comunismo.
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À campanha oposicionista da UDN, juntaram-se os oficiais do Exército,
insatisfeitos com a desvalorização representada pela falta de investimentos na
instituição. Ficava cada vez mais evidente para o presidente que as alianças cons-
tituídas para garantir a vitória nas eleições de 1950 não se consolidaram e manter
a estabilidade de seu governo tornava-se uma tarefa cada dia mais difícil.
A crise política do governo de Vargas agravou-se com o atentado ao jorna-
lista Carlos Lacerda em agosto de 1954, no qual morreu o major da Aeronáutica
Rubens Vaz, que estava com Lacerda no momento do atentado. As acusações
sobre o atentado e o assassinato do major recaíram sobre Getúlio, quando o chefe
de sua guarda pessoal foi preso pelo crime (SKIDMORE, 2003).
Esse evento representou o auge da crise do segundo governo de Vargas e
abriu as bases para o afastamento do presidente. A oposição exigia a renún-
cia de Getúlio sob a ameaça de um golpe militar. A resposta de Getúlio veio de
maneira dramática. Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas sui-
cidou-se com um tiro no peito. Deixou uma carta na qual culpava seus inimigos
pela situação do país e pela sua morte.
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IV
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Para a disputa eleitoral de 1955, o PSD e o PTB lançaram a candidatura do
ex-governador de Minas Gerais Juscelino Kubitschek para presidente e do ex-Mi-
nistro do Trabalho João Goulart para vice-presidente. A UDN lançou como
candidato o general Juarez Távora e o PSP apoiou a candidatura de Adhemar de
Barros. Plínio Salgado concorreu à presidência pelo PRP.
As eleições foram vencidas por Juscelino e Jango, o que desagradou a UDN,
que elaborou um golpe para impedir a posse dos candidatos eleitos. Em meio a
esse cenário político conturbado, o presidente Café Filho afastou-se do governo
devido a problemas de saúde e em seu lugar assumiu o presidente da Câmera
dos Deputados, Carlos Luz. O general Henrique Teixeira Lott, Ministro da
Guerra, apoiado pelo Congresso, depôs Carlos Luz da presidência, que ficou sob
o comando do vice-presidente do Senado, Nereu Ramos.
A deposição de Carlos Luz e a ascensão de Nereu Ramos à presidência colo-
cou o país em estado de sítio, situação que impedia Café Filho de retornar ao
posto de presidente da República. Essa manobra política, conhecida como golpe
preventivo, orquestrada pelo general Lott com apoio dos oficiais do Exército,
garantiu a posse dos candidatos eleitos Juscelino Kubitschek e João Goulart.
Juscelino foi eleito com um percentual baixo, se comparado à aprovação
conquistada por Getúlio Vargas no seu segundo governo (49%) e por Eurico
Gaspar Dutra em 1945 (55%). Isso demonstrou que o novo presidente não era
consenso entre a população e que teria que adotar uma postura cautelosa para
superar a desconfiança e enfrentar a forte oposição de seus adversários políticos.
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IV
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dade de elaborar as diretrizes do programa de desenvolvimento a ser implantado
no Brasil.
Com seu Plano de Metas, Juscelino conseguiu fazer com que o setor indus-
trial brasileiro crescesse de maneira vertiginosa entre 1956 e 1960. No entanto,
se por um lado esse desenvolvimento, coroado com a inauguração de Brasília
em 1961, obteve resultados satisfatórios, por outro lado esse crescimento indus-
trial também trouxe consequências negativas para o país. Nos cinco anos de
governo JK, a inflação voltou a crescer chegando a 30%, o poder aquisitivo dos
trabalhadores urbanos diminuiu e a concentração fundiária e de rendas agra-
vou a situação dos trabalhadores rurais (RECCO, 2010, p. 95).
1955, p. 435-436).
Enfim Democracia? As Esperanças Renovadas e o Novo Golpe: Início da Ditadura Militar no Brasil
IV
Juscelino Kubitschek encerrou seu mandato em 1961 e o seu sucessor foi Jânio
Quadros, eleito com o apoio da UDN e com João Goulart novamente como vice-
-presidente. Segundo Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, a campanha presidencial
de Jânio Quadros fundamentava-se em
[...] ataques à corrupção, à inflação, à alta do custo de vida, ao desperdí-
cio de dinheiro com as obras monumentais de Brasília, acompanhados
de promessas de crescimento econômico, austeridade pública e conten-
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ção de gastos. Jânio jamais explicou de maneira convincente como iria
superar os limites do governo de Kubitschek ou atacar os problemas
fundamentais ao desenvolvimento brasileiro. Sua mensagem era anti-
política. Ele se apresentava como um candidato acima dos partidos,
e expressava profundo desdém pelos políticos tradicionais e por seu
estilo de atuação (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 429).
Enfim Democracia? As Esperanças Renovadas e o Novo Golpe: Início da Ditadura Militar no Brasil
IV
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tituía o presidencialismo e garantia a presidência à João Goulart, que governaria
com poderes limitados, uma vez que, pelo parlamentarismo, o Poder Executivo
seria exercido de fato por um primeiro-ministro.
Jango tomou posse em 07 de Setembro de 1961 e durante o seu governo os
movimentos populares se intensificaram, com a organização dos trabalhadores
rurais, da União Nacional dos Estudantes (UNE) e com o maior envolvimento
da igreja nas questões políticas e sociais. Diante desse cenário, elaborou-se as
Reformas de Base, que abrangiam as discussões sobre reforma agrária, reforma
urbana, reforma eleitoral, reforma do estatuto do capital estrangeiro e a reforma
universitária.
Para garantir a aprovação do seu programa de reformas e conseguir colocá-
-lo em prática, Jango precisava recuperar os plenos poderes de presidente. Em
1963 aconteceu um plebiscito para decidir entre a continuidade do sistema par-
lamentar ou a volta ao presidencialismo. A opção presidencialista saiu vencedora
e Jango recuperou o direito de exercer a presidência de forma plena.
Enfim Democracia? As Esperanças Renovadas e o Novo Golpe: Início da Ditadura Militar no Brasil
IV
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mento, que acabou chegando a um acordo com os marinheiros, apaziguando
a situação. O ministro Silvio Mota não gostou do resultado das negociações e
entregou o cargo, para o qual Jango nomeou o brigadeiro Paulo Rodrigues que,
ao determinar que os marinheiros não seriam acusados ou punidos por insubor-
dinação, contrariou os oficiais das altas patentes da Marinha que o acusaram de
incentivar a rebeldia e a falta de respeito à hierarquia (FAUSTO, 1995, p. 460).
Com esse acontecimento, Jango possibilitou o aprofundamento da oposi-
ção do Exército em relação ao seu governo. A essa altura, diante das conjunturas
apresentadas, o golpe para afastar João Goulart da presidência da República já
se encontrava amplamente articulado. Na madrugada de 31 de Março de 1964,
o general Mourão Filho deslocou as tropas sob seu comando de Minas Gerais
para o Rio de Janeiro com o objetivo de ocupar o Ministério da Guerra e depor
o presidente (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 446).
As tropas de Mourão Filho não encontraram resistência. João Goulart havia
deixado o Rio de Janeiro com destino a Porto Alegre e seus aliados ou os que não
concordavam com um golpe militar também não organizaram uma estratégia de
defesa. No dia 2 de Abril, o presidente do Senado Auro de Moura Andrade decla-
rou, em sessão secreta no Congresso Nacional, que a presidência da República
estava vaga. Era o fim do governo de João Goulart e o fim das liberdades demo-
cráticas do país.
Enfim Democracia? As Esperanças Renovadas e o Novo Golpe: Início da Ditadura Militar no Brasil
IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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usou da situação difícil em que vivia a maioria da população brasileira no iní-
cio dos anos de 1930 para articular uma estratégia de governo que garantisse a
sua permanência no poder quase vinte anos, somados os dois períodos em que
esteve na presidência do Brasil.
Dono de um discurso que conquistou os setores mais baixos da sociedade e
fundamentando-se em uma política populista – que na verdade diz mais sobre
sua vontade de permanecer no poder do que sobre sua verdadeira preocupação
com a população –, Getúlio deixou sua marca na história política do país ao tirar
a própria vida em 1954 e levar a população a chorar sua morte como se fosse a
morte de um ente próximo e querido.
Ao que parece, para os menos comprometidos com os discursos e com as
análises históricas, ao suicidar-se Getúlio redimiu-se de seu passado ditador
deixando na lembrança a imagem do “pai dos pobres”. No entanto, lembrem-
-se caro(a) estudante, nós, enquanto historiadores e professores de história, nos
preocupamos com os discursos e as análises e, portanto, devemos ir além da
imagem deixada por Vargas após a sua morte.
Com isso em mente, podemos compreender melhor as heranças deixadas por
Getúlio e que influenciaram os rumos políticos nos anos seguintes à sua morte.
Anos que trouxeram a renovação da esperança ao mesmo tempo em que cria-
ram as condições para que o Brasil mergulhasse nos anos de terror da ditadura
militar, instalada a partir do golpe de 1964 que acabamos de estudar.
Os 21 anos que marcaram o período da ditadura militar no Brasil será o
assunto de nossa próxima unidade.
Título: Olga
Ano: 2004
Direção: Jayme Monjardim
Sinopse: O filme retrata a vida de Olga Benário, que nasceu na
Alemanha e tornou-se militante comunista. Ao ser perseguida pelas
forças de Hitler, fugiu para Moscou, onde recebeu treinamento militar
e recebeu a missão de acompanhar o brasileiro Luiz Carlos Prestes de
volta ao seu país. No Brasil, lutam contra o governo de Getúlio Vargas
e planejam a Intentona Comunista, ao mesmo tempo em que se
envolvem e se casam. A história aborda aspectos da vida da militante
comunista no Brasil, destacando aspectos importantes do momento
histórico vivido pelo Brasil durante o Governo de Getúlio Vargas.
V
UNIDADE
MILITAR NO BRASIL E O LONGO
PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar os anos iniciais da ditadura militar e o desenvolvimento do
aparato administrativo militar.
■■ Discorrer criticamente acerca das medidas autoritárias adotadas pelo
regime militar a partir da fase de “endurecimento” do regime.
■■ Debater sobre a organização dos diversos setores da sociedade na
luta contra a ditadura, analisando as formas de resistência à repressão
e à adoção da tortura.
■■ Analisar o desenvolvimento do processo de redemocratização do
país e a sua organização pós-ditadura.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A consolidação do golpe de 1964 e a organização do Estado militar
■■ O “endurecimento” do regime e a resistência popular: manifestações
e organizações populares contra a repressão
■■ As esperanças renovadas: o longo caminho da redemocratização do
país
225
INTRODUÇÃO
Ao longo deste livro vimos como o Brasil buscou construir uma identidade
após a ruptura com Portugal em 1822. Desde esse momento, os brasileiros luta-
ram para conquistar o reconhecimento enquanto cidadãos e terem seus direitos
respeitados. Vimos que, durante muito tempo, as vozes dos que não estavam no
poder foram caladas por meio da repressão e da coação, sendo eles impedidos
até mesmo de escolher livremente seus representantes nas esferas municipais,
estaduais e federal.
A organização dos setores populares demorou a ser construída e demorou-se
mais ainda para que esses setores tivessem seus direitos e interesses defendidos e
respeitados por aqueles que estavam no poder. Por vários momentos, só foram
levados em consideração no contexto político e econômico quando vistos como
manipuláveis e úteis aos interesses alheios.
Quando os brasileiros à margem do poder alcançaram notabilidade e pude-
ram fazer parte de fato do contexto político e econômico do país, quando tiveram
seus direitos de cidadãos respeitados e quando puderam, enfim, debater e com-
preender o sentido das palavras liberdade e democracia, um novo golpe provocou
mudanças profundas na sociedade e, mais uma vez, os brasileiros viram essas
palavras perderem seus sentidos e significados.
Os 21 anos em que o país esteve sob o comando dos militares devem ser
lembrados e analisados a fundo para que os erros do passado não se repitam.
Porque, caro(a) aluno(a), a ditadura militar fez com que os brasileiros enten-
dessem o real significado da liberdade e da democracia, uma vez que lhes fora
proibido até mesmo pensar por si próprios, sob o risco de serem submetidos a
castigos que feriram o corpo e a alma.
Introdução
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O Exército nas ruas durante o regime militar
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
Após o golpe que tirou João Goulart do comando do Brasil, o que se esperava
era o estabelecimento de um governo provisório até a realização das próximas
eleições, marcadas para 1965. Ninguém imaginava que o que aconteceria era a
instalação de um regime político que duraria 21 anos e seria baseado na supres-
são dos direitos constitucionais, das liberdades políticas e civis e da democracia.
Nem mesmo os que apoiaram o golpe esperando conter a “ameaça comunista”
poderiam imaginar a realidade que seria imposta ao país a partir daquele 31 de
Março de 1964.
É inegável que o golpe militar e civil foi empreendido sob bandeiras de-
fensivas. Não para construir um novo regime. O que a maioria desejava
era salvar a democracia, a família, o direito, a lei, a Constituição, enfim,
os fundamentos do que se considerava uma civilização ocidental cristã.
Do ponto de vista das Forças Armadas, tratava-se de garantir a hierar-
quia e a disciplina, ameaçadas pelos protestos crescentes de graduados
e de marinheiros. Finalmente, outra referência acionada com boa acei-
tação, em especial entre as classes médias, era o combate à corrupção,
pervasiva, segundo os conservadores, desde os últimos anos JK (REIS
FILHO, 2014, p. 48).
OSANOSDECHUMBO:ADITADURAMILITARNOBRASILEOLONGOPROCESSODEREDEMOCRATIZAÇÃO
227
Entre os que apoiaram o golpe que tirou João Goulart da presidência esta-
vam os liberais conservadores – corrente formada por Carlos Lacerda, Ma-
galhães Pinto, a UDN, a imprensa jornalística representada pelos jornais O
Estado de São Paulo, Jornal do Brasil e o Correio da Manhã e os que defen-
diam a retomada da vocação agrária do país –, os legalistas e os nacional-
-estadistas.
Fonte: Reis Filho (2014).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O AI-1 foi elaborada por Carlos Medeiros Silva – o mesmo homem que redi-
giu e revisou a Constituição de 1937 – e continha onze artigos que, em síntese,
limitava o poder e a autonomia do Congresso Nacional, além de conceder ao
presidente da República poderes para cassar mandados e suspender os direitos
políticos de qualquer político brasileiro pelo prazo de dez anos (GÁSPARI, 2014,
p. 124-125). Talvez o ponto mais significativo da instituição do AI-1foi a nome-
ação de uma junta composta
pelas lideranças das forças
militares do país para assu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mir o Comando Supremo
da Revolução. Com esse
ato, o golpe adquiriu cará-
ter revolucionário, o que
trazia implícito a suprema-
cia da Revolução no poder
sobre os demais órgãos e ins-
tituições do país, inclusive, a
Constituição (REIS FILHO, Ato institucional foi decretado
2014, p. 51). Fonte: Univesp TV (online)
OSANOSDECHUMBO:ADITADURAMILITARNOBRASILEOLONGOPROCESSODEREDEMOCRATIZAÇÃO
229
O AI-1 estabelecia que um novo presidente deveria ser eleito por meio do
voto indireto do Congresso Nacional e para um mandato que iria até janeiro de
1966. Em 11 de abril de 1964, o Congresso – já rechaçado devido às cassações
realizadas após a instituição do AI-1 – elegeu para presidente o general Castelo
Branco, o qual, no entender dos que comandavam a “revolução”, personificava
os interesses tanto dos militares quanto das correntes civis que apoiaram o golpe.
Conforme destaca Daniel Aarão, Castelo Branco
Fora chefe do Estado-Maior do Exército, nomeado por Jango, porém
notabilizara-se pela firmeza com que combatera a radicalização do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
reformismo nacional-estatista, consolidando prestígio entre os pares.
Ex-oficial da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, colega
apreciado e amigo de militares estadunidenses, ninguém tinha dúvida
sobre seu decidido anticomunismo. Por outro lado, considerado um
militar culto e civilista na tradição dos militares-políticos, tão típica
da República brasileira, dispunha de trânsito e conexões com o Ipês e
entre políticos e empresários de diferentes orientações (REIS FILHO,
2014, p. 53).
Castelo Branco foi o responsável por criar as bases que fundamentaram o apare-
lho estatal durante o governo dos militares. Ao assumir a presidência, prometeu
respeitar a Constituição – com as modificações impostas pelo AI-1 – e realizar as
eleições presidenciais marcadas para 1965 (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p.
448). As promessas não foram cumpridas e o que se assistiu durante o governo
de Castelo Branco foi o prelúdio de reformas políticas que durante o longo perí-
odo do militarismo no Brasil levaram ao extremo o domínio sobre os indivíduos.
A criação do Serviço Nacional de Informação (SNI), criado originalmente para
investigar as denúncias de torturas dos “inimigos do regime”, foi, talvez, o pri-
meiro órgão de manipulação da verdade e de controle dos cidadãos, uma vez
que serviu de instrumento para perseguições e prisões arbitrárias.
O programa político de Castelo Branco refletia os interesses de parte daque-
les que participaram da derrubada de Jango. Esse programa político foi um dos
motivos para a elevação da insatisfação dos setores ligados à radicalização do
regime. Conforme aponta Daniel Aarão,
O seu internacionalismo pretendia romper com as ambições autono-
mistas do nacional-estatismo, propondo um alinhamento estratégico
com os Estados Unidos. Tratava-se de integrar o Brasil no chamado
OSANOSDECHUMBO:ADITADURAMILITARNOBRASILEOLONGOPROCESSODEREDEMOCRATIZAÇÃO
231
Roberto Campo.
Foi no governo de Castelo Branco que foi criado o Fundo de Garantia por
tempo de Serviço, um instrumento usado para substituir o sistema de esta-
bilidade no emprego para aqueles que permanecessem num mesmo em-
prego por mais de dez anos. A criação do FGTS teve por objetivo aliviar as
despesas das empresas e liberar o capital empregado para respeitar a regra
de estabilidade para que fosse usado na modernização das empresas.
Fonte: adaptado de Reis Filho (2014).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O sucesso do PAEG só foi possível porque o Brasil vivia sob o regime militar,
um modelo político-administrativo que cortou o direito que as massas po-
pulares tinham de manifestar-se contra as medidas que as prejudicavam.
Fonte: adaptado de Fausto (1995).
Uma parte dos que participaram do golpe de 1964 não estava satisfeita com
a política desenhada por Castelo Branco, considerada por estes como uma pos-
sibilidade de os que se declararam contra o regime militar conseguir derrubar o
governo e assumir o poder, sobretudo depois que as eleições de 1965 colocou no
comando dos principais Estado brasileiros governadores contrários ao regime
militar. Para conter os ânimos, Castelo enrijeceu sua atuação política e enterrou
de vez a Constituição de 1946.
Em 17 de outubro de 1965, o presidente Castelo Branco promulgou o Ato
Institucional 2 (AI-2), cujas medidas mais significativas eram o estabelecimento de
eleições indiretas para presidente da República e governadores com voto aberto,
o fechamento do Congresso Nacional por alguns períodos e o fim do multipar-
tidarismo com a extinção dos partidos políticos existentes e a criação de apenas
dois partidos, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) – partido que abri-
gava os favoráveis ao regime instalado em 1964 – e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) – partido da oposição. Em fevereiro de 1966 Castelo promul-
gou o AI-3, que estabelecia o voto indireto para as eleições municipais.
O último lance do governo de Castelo Branco foi a implantação do AI-4 que,
dentre outros pontos, previa a reabertura do Congresso Nacional em novembro
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Por meio desse relato, é possível perceber que a personalidade de Costa e Silva
demonstrava uma tendência para um governo mais rígido e com características
mais próximas de um movimento revolucionário. Essa tendência confirmou-se
no breve governo de Costa e Silva, entre 1967 e 1969, conforme veremos a seguir.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os resultados satisfatórios da política econômica de Delfim Netto foram
resultado de um contexto interno e externo favoráveis. Internamente, me-
didas governamentais como a ociosidade do parque industrial, a deman-
da reprimida e o saneamento financeiro executado pelo governo anterior
contribuíram para o desenvolvimento entre 1967 e 1968. Externamente, a
reação do mercado internacional pós Segunda Guerra e o crescimento do
comércio mundial entre 1967 e 1973 apresentavam uma conjuntura vanta-
josa para o desenvolvimento da produção brasileira.
Fonte: Reis Filho (2014, p. 67).
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Os conflitos entre a sociedade civil e a polícia eram constantes durante o período da ditadura militar
Fonte: O Golpe... (online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Paulo, Correio da Manhã e Jornal do Brasil. Setores da Igreja católica também
passaram a criticar o governo, denunciando a violação dos direitos humanos e
da democracia (REIS FILHO, 2014, p. 67).
Em 1968 a morte do estudante Edson Luis de Lima Souto fez explodir o
movimento estudantil. Edson Luis foi morto em um confronto entre estudan-
tes e a polícia durante uma manifestação que reivindicava melhores instalações
e melhor qualidade da alimentação oferecida pelo restaurante Calabouço, local
onde vários estudantes que não tinham onde comer se reuniam. Um tiro no peito
disparado por um policial militar acertou Edson Luis, estudante secundarista e
sem envolvimento político.
A morte do estudante foi o estopim para a radicalização do movimento
estudantil, insatisfeito com o regime militar desde 1964, quando a UNE foi
desarticulada pelos golpistas e sua sede incendiada em 1º de abril daquele ano.
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Esse clima, que no Brasil teve efeitos visíveis no plano da cultura em geral e
da arte, especialmente da música popular, deu também impulso à mobiliza-
ção social. Era um árduo caminho colocar “a imaginação no poder”, em um
país submetido a uma ditadura militar.
Fonte: Fausto (1995, p. 477).
Todo esse movimento organizado entre 1966 e 1968 em torno de uma crítica
ao governo que se instalara em 1964 refletiu em uma mobilização que reuniu os
vários setores da sociedade insatisfeitos em uma passeata realizada no dia 25 de
junho de 1968, conhecida como Passeata dos Cem Mil. Os participantes saíram
às ruas do Rio de Janeiro para pedir a redemocratização do país.
O clima que se instalou a partir da Passeata dos Cem Mil contribuiu para
que outros setores se manifestassem contra a ordem vigente. Desse modo, o
movimento operário também começou a reagir e a lutar por seus direitos. Em
Minas Gerais e em São Paulo, os trabalhadores realizaram greves importantes
que, mesmo sendo vencidas, reascenderam a motivação desse setor a brigar por
melhores salários e condições de vida.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Manifestação popular pelo fim do regime militar no Brasil
Fonte: Associação nacional de pós-graduação (online)
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Notícia sobre o AI-5 publicada no Jornal do Brasil
Fonte: AI5 (online).
O AI-5 foi o mais rígido dos atos institucionais promulgados durante a dita-
dura militar e mostrou que os militares não estavam dispostos a retrocederem
em suas atitudes ou mesmo reformar o sistema de governo adotado desde 1964.
Ao contrário, com o AI-5 Costa e Silva abriu caminho para que o país mergu-
lhasse na fase mais dura e cruel da ditadura militar.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Música Cálice, de autoria de Chico Buarque, vetada pela censura
Fonte: Palmar (online).
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Os presos eram dez. Entre eles, seis rapazes do Colina. Foram tirados
das celas, postos em fila e escoltados até um salão. No caminho ouvi-
ram uma piada de um cabo: “São esses aí os astros do show?”. A pla-
teia, sentada em torno de mesas, chegava perto de cem pessoas. Eram
oficiais e sargentos, tanto do Exército como da Marinha e Aeronáutica.
Numa das extremidades do salão havia uma espécie de palco, e nele
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
entre 1969 e 1978. Lilia Schwarcz e Heloisa Starling (2015, p.460) ressaltam que
o uso dos métodos de tortura pelo Estado no período da ditadura militar contou
com uma ampla rede de instituições e de indivíduos que legitimaram a prática
por meio da falsificação de depoimentos, julgamentos, relatórios de autópsias e
exames de corpo de delito. As autoras ainda destacam que a prática da tortura
no Brasil “era uma máquina de matar concebida para obedecer a uma lógica
de combate: acabar cm o inimigo antes que ele adquirisse capacidade de luta”
(SCHWARCZ; STARLING ,2015, p. 461).
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Relatório do Departamento de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo sobre práticas
consideradas subversivas
Fonte: Palmar (online).
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O “MILAGRE ECONÔMICO”
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tinham alcançado seus objetivos. Na década de 1970, embalados pela conquista
do tricampeonato pela sele-
ção brasileira de futebol na
Copa do Mundo realizada no
México, os brasileiros viviam
um momento de euforia,
embalados pelos versos de
Pra frente Brasil, que repre-
sentava o bom momento
econômico do país.
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AI-5 determinava que
Não deverão ser divulgadas notícias que possam:
A mensagem era clara: somente seria divulgado o que o governo militar jul-
gasse não ser uma ameaça ao regime ou à imagem de progresso e de desen-
volvimento do Brasil. A imprensa estava amordaçada, a serviço do governo.
E hoje, a imprensa continua a serviço dos governos?
Fonte: a autora.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A vitória do MDB no Congresso trouxe novo ânimo para as camadas popu-
lares e para os que há anos eram reprimidos ou esquecidos pelo regime militar,
pois representou a esperança de que o confronto direto, na esfera política, ame-
nizasse os efeitos do regime na esfera social.
Ao longo de seu governo, Geisel adotou uma postura que ora parecia defen-
der a liberalização do regime ora reforçava o seu caráter autoritário e ditatorial.
Em 1975 suspendeu a censura imposta ao jornal O Estado de São Paulo, sob a
direção de Júlio de Mesquita Neto – embora outros veículos da imprensa conti-
nuassem contando com a presença dos censores em suas redações. Entretanto,
no mesmo ano, as denúncias das prisões e das torturas alcançaram números alar-
mantes (GÁSPARI, 2014). Para tentar conter as acusações por conta das torturas
– vindas inclusive de outros países – Geisel buscou meios para limitar o uso da
tortura como prática da polícia, o que não significa dizer que ela deixou de existir.
Em outra ocasião, em 1977, Geisel apresentou o Pacote de Abril, um conjunto
de mudanças que tinha por objetivo impedir o crescimento da oposição no cená-
rio político – como ocorreu em 1974 e 1976 nas eleições estaduais e municipais
– e assegurar o poder nas mãos dos militares. No entanto, em 1978, o presidente
iniciou um diálogo com líderes do MDB, da Academia Brasileira de Imprensa
(ABI) e com a CNBB cuja intenção era discutir o caminho a ser seguido na con-
dução da restauração das liberdades políticas. Outra medida importante também
no governo Geisel foi a suspensão do AI-5 em 1979, por meio da ementa cons-
titucional nº 11(FAUSTO, 1995, p. 493).
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A Lei da Anistia de 1979 concedeu o perdão aos presos políticos e aos exila-
dos do período da ditadura, inclusive aos acusados pelos crimes de tortura.
Fonte: a autora.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Comissão Nacional da Verdade no ano de 2014 pediu a revisão da Lei de
Anistia de 1979 por considerar que ela viola leis internacionais e impede
a punição daqueles que cometeram crimes contra os direitos humanos no
período da ditadura militar no Brasil.
Para saber mais acesseo conteúdo disponível em: http://www.cartacapital.
com.br/sociedade/comissao-da-verdade-pede-a-revisao-da-lei-da-anis-
tia-3171.html. Acesso em: 09 jun. 2015.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
com a imagem que tinham no país (SKIDMORE, 2003, p. 260).
Em 1983, a população brasileira, sob a liderança do PMDB e do PT, foi às ruas
exigir o restabelecimento do
voto direto para presidente
da República. O movimento
pelas Diretas Já, como ficou
conhecida a manifesta-
ção liderada pela oposição
a Figueiredo, entrou para a
história como a maior mobi-
lização cívica da República
no Brasil (SCHWARCZ;
STARLING, 2015, p. 482).
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O programa político
de Tancredo Neves tinha
por objetivo concreti-
zar a redemocratização do
país, assegurando as elei-
ções diretas em todos os
níveis, a convocação de
José Sarnei e Tancredo Neves
uma Assembleia Nacional Fonte: Fundação Getúlio Vargas (online).
Constituinte e a promulgação
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de uma nova Constituição. Com um programa de governo fundamentado em
um discurso que destacava uma mudança no governo, e não uma ruptura do
sistema político, Tancredo Neves conseguiu o apoio político que precisava para
conseguir se eleger e, em 15 de janeiro de 1975, ele foi eleito presidente do Brasil
(SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 486).
Embora tenha vencido a eleição com uma diferença esmagadora em relação
ao seu oponente, Paulo Maluf, Tancredo Neves nunca assumiu a presidência. Na
véspera de ser empossado, Tancredo Neves foi internado no Hospital de Base
em Brasília e submetido a uma cirurgia de emergência. Ele morreu no dia 21
de Abril de 1985.
Devido à doença de Tancredo Neves, o vice José Sarney tomou posse como pre-
sidente provisório, cargo que se tornou definitivo após a morte de Tancredo.
A posse de Sarney gerou certa frustração na sociedade, uma vez que ele sem-
pre estivera ao lado do regime militar, mudando de lado apenas nas vésperas
das eleições presidenciais. Por essa razão, os rumos que o país iria tomar a par-
tir daquele momento ainda eram incertos. De acordo com Daniel Aarão (2014,
p. 147), “saiu João Figueiredo, entrou Sarney, mas a prioridade da política eco-
nômica continuava a mesma: conter a inflação e refinanciar a colossal dívida
externa para evitar a moratória, um esforço que parecia perdido”.
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Além dos problemas causados pelo congelamento dos preços, outros fato-
res que contribuíram para o fracasso do Plano Cruzado foram a falta de controle
dos gastos públicos por parte do governo e o aumento considerável das impor-
tações em detrimento das exportações. Diante desse quadro, a inflação voltou a
crescer, atingindo índices que passavam dos 1000% ao ano.
Se no aspecto econômico o governo de José Sarney mostrou-se ineficiente,
no que diz respeito ao seu compromisso com a redemocratização do país ele con-
seguiu completar o longo processo iniciado no governo Geisel.
José Sarney iniciou seu governo mantendo algumas das propostas defendi-
das por Tancredo. Revogou as eleições indiretas, estabelecendo o voto direto para
todos os níveis e manteve para os ministérios os nomes escolhidos anteriormente
por Tancredo Neves. Além disso, Sarney ampliou o direito de voto para os anal-
fabetos e determinou a legalização de todos os partidos, permitindo que o PCB e
o PC do B saíssem da ilegalidade e atuassem livremente (FAUSTO, 1995, p. 519).
Mesmo comandando avanços importantes no processo de restauração das
liberdades e dos direitos civis, Sarney ainda demonstrava aspectos característicos
dos anos ao lado do regime militar. Ao assumir o comando do país, estabeleceu
a prorrogação de seu mandato presidencial para cinco anos e entrou em con-
flito com o Congresso Nacional durante o processo de elaboração da nova carta
constitucional do país.
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nesse momento e o advento de teorias que acompanham as mudanças nas socie-
dades europeias refletem no Brasil, permitindo um diálogo entre os contrastes
das sociedades que possibilita a emergência e/ou a adaptação de teorias para a
realidade interna.
Entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, emergiu na
Europa o conceito da social-democracia, uma ideologia que defendia a ideia de
que o capitalismo pode adquirir aspectos do socialismo, na busca pelo desenvol-
vimento de nações e de indivíduos. No Brasil, essa teoria foi a base ideológica
que fundamentou a criação do PSDB, logo no final da década de 1980.
A Constituição de 1988 levou um ano e oito meses para ficar pronta e ser
entregue ao Brasil, afastando de vez o fantasma da ditadura militar. Os debates
foram intensos e levou a uma cisão no partido do governo. O PMDB dividiu-se
entre os Progressistas e o Centro Democrático, ou Centrão, que agrupou uma
parte significativa da bancada no Congresso. Os que tinham tendências esquer-
distas dentro do PMDB formaram um novo partido, intitulado Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), que contava com oito senadores e qua-
renta deputados representantes de dezessete Estados (SCHWARCZ; STARLING,
2015, p. 489).
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rias soluções de justiça social”.
Fonte: Cardoso (online).
No final de seu governo, José Sarney contava com uma rejeição significativa,
devido ao fracasso de sua política econômica. Os brasileiros estavam ansiosos
pelas próximas eleições, que aconteceriam em 1989 e seriam as primeiras a deci-
direm-se pelo voto direto, depois de anos de votação indireta.
A esperança de renovação e de estabilidade econômica e social recaiu sobre
o candidato Fernando Collor de Mello (PRN), governador de Alagoas. Embora
desconhecido no cenário político nacional, Collor conquistou a população bra-
sileira com seu discurso de combate aos marajás. Seu principal concorrente nas
eleições de 1989 era o presidente do PT Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula.
Em uma eleição apertada e que contou com a influência maciça da grande
mídia e com a manipulação de fatos e de informações sobre a vida política e
pessoal de Lula, Fernando Collor foi eleito presidente em 1989 e assumiu a presi-
dência no início de 1990, para um mandato de quatro anos e do qual só cumpriu
dois. Fernando Collor de Mello seria o primeiro presidente do Brasil a sofrer um
processo de impeachment.
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Em 29 de dezembro de
1992, o Congresso Nacional
considerou Fernando Collor
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culpado e suspendeu seus
direitos políticos por oito
anos. Após o afastamento
de Fernando Collor, o vice-
-presidente Itamar Franco
assumiu a presidência,
completando os dois últi-
mos anos do mandato para
o qual havia sido eleito junto
Movimento dos caras pintadas
com Collor.
Fonte: Dutra (online).
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Diante da crise econômica que assolava o Brasil, Itamar Franco chamou para
ocupar o cargo de Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que tinha
a difícil tarefa de recolocar a economia brasileira no caminho do crescimento.
Fernando Henrique Cardoso e sua equipe elaboraram uma estratégia eco-
nômica que, de acordo com Skidmore,
Primeiro, descartou qualquer tratamento de choque, como o congela-
mento de preços ou salários. Segundo, delineou um orçamento equili-
brado para 1994 que o Congresso aprovou. Terceiro, criou uma tran-
sição em dois estágios para uma nova moeda (SKIDMORE, 2003, p.
311).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), nesta unidade buscamos percorrer o longo caminho dos anos
negros da história do Brasil até a restauração das liberdades e da democracia.
Nosso objetivo aqui foi apresentar a você como um país que se propunha ser
grande e austero mergulhou em um período de 21 anos de autoritarismo, de ter-
ror, de manipulação e de cassação dos direitos civis.
O período da ditadura militar no Brasil não deve ser esquecido. Deve estar
sempre na memória dos brasileiros para que possamos valorizar as conquistas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
democráticas que alcançamos ao preço das lágrimas e do sangue daqueles que
não sobreviveram ao regime e não puderam desfrutar novamente da liberdade.
Que as marcas deixadas pelos anos do regime militar não nos deixe come-
ter erros de análise e nos permita olhar para os momentos de crises sem o desejo
de buscar soluções radicais ou que em outros momentos mostraram-se equivo-
cadas. Que os breves avanços do passado não nos faça esquecer que os fins não
justificam os meios.
Recuperar o direito de exercer a cidadania como um todo foi uma grande
vitória para o povo brasileiro, e mesmo que as conjunturas políticas, econômi-
cas e sociais ainda não sejam as sonhadas e nem as mais adequadas, o fato de
hoje podermos discordar do sistema, expressar nossas opiniões e lutar pelo que
achamos correto nos ajuda a refletir sobre o que significou os 21 anos de silên-
cio que os militares impuseram ao Brasil.
Enquanto futuro professor de História é seu dever impedir que os fantas-
mas do passado ameacem nosso futuro, levando o conhecimento para sua sala
de aula e instigando o desenvolvimento de um pensamento crítico.
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1. Entre 1964 e 1985 o Brasil viveu sob o signo da Ditadura Militar, um período no
qual a democracia sofreu um duro golpe com supressão dos direitos e das li-
berdades individuais. Após a leitura do livro que se apresenta, discorra sobre o
significado que as palavras liberdade e democracia representa para você.
2. Leia o depoimento de Fernando Palha Freire um comerciante que atualmente
trabalha na cantina do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (IFCS), e
que foi militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) durante a ditadura: “Lá
no DOI-CODI comia tudo, choque, pau-de-arara, afogamento, pancada. Lá que
eu descobri esse termo, que fulano virou presunto, né? Porque você fica igual a
um presunto mesmo, porque eles te dão pancadas localizadas” (DESTACAMEN-
TO...). Fundamentando-se nas análises propostas pelo material apresenta-
do, elabore um texto de no máximo 10 linhas discorrendo acerca de suas
opiniões e concepções sobre os métodos de investigação e de repressão
adotados pelo regime militar no Brasil.
Resposta Pessoal
3. Entre 1968 e 1976 a economia brasileira cresceu vertiginosamente, mostrando
que as diretrizes econômicas elaboradas pelo ainda Ministro da Fazenda Delfim
Netto tinham alcançado seus objetivos. Com relação ao período do “milagre eco-
nômico”, assinale a alternativa correta.
a) O “milagre econômico” refere-se ao período em que o presidente Castello Branco
adotou medidas que elevaram o desenvolvimento econômico por meio do cha-
mado neoliberalismo.
b) A euforia gerada pelo desenvolvimento econômico ocorrido entre o fim da déca-
da de 1960 e o início dos anos 1970 era o reflexo da ascensão das camadas mais
baixas da sociedade, beneficiadas pelas novas medidas econômicas.
c) A participação do Brasil na Copa do Mundo do México em 1970 foi usada como
propaganda pelo governo Médice para divulgar o enriquecimento da população
como um todo.
d) A imprensa brasileira teve liberdade para mostrar a realidade do Brasil diante
dos resultados das medidas econômicas adotadas por Delfim Netto durante o
governo Médici.
e) O direcionamento econômico adotado por Delfim Netto no governo Médici ba-
seava-se na intervenção do Estado no desenvolvimento, a partir da regulação e
da associação do capital estrangeiro.
4. Em seu governo, Geisel deu os primeiros passos para a redemocratização do
país, fato que levaria ainda muitos anos para se consolidar no Brasil. Acerca dos
fatos que marcaram o processo de redemocratização do Brasil, leia as alterna-
tivas abaixo.
I. Ao longo de seu governo, Geisel adotou uma postura que ora parecia defender a
liberalização do regime ora reforçava o seu caráter autoritário e ditatorial.
II. A primeira medida que merece atenção no governo de Figueiredo e que repre-
sentou um passo importante no caminho da recuperação das liberdades civis foi
a Lei da Anistia, promulgada em agosto de 1979.
III. Em 1983, a população brasileira, sob a liderança do PMDB e do PT, foi às ruas
exigir o reestabelecimento do voto direto para presidente da República.
IV. A redemocratização do país só foi concluída no governo FHC, com a implantação
do Plano Real, que beneficiou toda a população, acabando com as desigualda-
des sociais.
Estão corretas as alternativas:
a) I.
b) II e IV.
c) I e III.
d) II.
e) I, II, III.
271
Coleção: Ditadura
Títulos: A Ditadura Envergonhada; A Ditadura
Escancarada; A Ditadura Derrotada; A Ditadura
Encurralada.
Autor: Elio Gápari
Editora: Intrínseca
Sinopse: Nessa coleção o autor faz uma análise minuciosa
do período em que o Brasil viveu sob a égide do regime
militar. A coleção apresenta embasamento histórico e
conta com documentos como depoimento de alguns dos
personagens do período.
Material Complementar
275
CONCLUSÃO
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma jornada de estudos, que nos per-
mitiu viajar pela história do Brasil, conhecer e analisar as circunstâncias e as conjun-
turas que permearam o processo de formação e de evolução da nossa sociedade.
Ao nos debruçarmos sobre o período que abrange o momento da emancipação
política do Brasil em relação a Portugal até o momento em que o então Ministro
da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assume a presidência do Brasil na
década de 1990, nosso objetivo foi guia-los e orientá-los no estudo e na análise da
evolução histórica do Brasil, levando-o a perceber as rupturas e as continuidades
presentes em nossa história.
Nas unidades I e II, abordamos o período imperial brasileiro, destacando os preâm-
bulos da construção de uma identidade nacional, uma vez que os antigos laços po-
líticos com Portugal foram rompidos, mas os aspectos culturais daquele país mistu-
ravam-se aos costumes brasileiros. Aliás descobrir quem eram os brasileiros daquele
período consistiu-se em uma tarefa longa e muitas vezes injusta para os indivíduos
daquele momento.
No final da unidade II e ao longo da unidade III, discorremos sobre as conjunturas
políticas, econômicas, sociais e culturais que marcaram o nascimento e a consoli-
dação da República no Brasil, uma República nascida da complexa combinação de
um discurso baseado nos ideais europeus do iluminismo e liberalismo com a manu-
tenção do regime escravocrata, o qual se caracterizava por privar o homem de sua
liberdade.
Na unidade IV, vimos como, mesmo com o fim da escravidão, a democracia e a liber-
dade no Brasil ainda não eram para todos. Assistimos a insurreição de líderes que
manipularam e que cercearam direitos fundamentais dos brasileiros, conquistados
a duras penas, e, na unidade V, vimos como os conceitos de democracia e de liberda-
de foram cortados da vida dos brasileiros ao longo de duros 21 anos, no momento
em que os militares estiveram no poder.
Esperamos, caro(a) aluno(a), que a vontade de se aprofundar nos temas discutidos
ao longo do curso leve você ao caminho da pesquisa, da busca incansável pelo co-
nhecimento, para o seu crescimento e daqueles que com você aprenderá!
277
REFERÊNCIAS
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rez/Colección Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles). Disponível em:
<http://www.historiailustrada.com.br/2014/04/raras-fotografias-escravos-brasilei-
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História Ilustrada. Mulheres e crianças canudenses prisioneiras, este foi um dos
poucos grupos de prisioneiros (apenas algumas centenas de uma população
de mais de 5 mil habitações) que não foi morto pelo exército, 1897 (Flávio de
Barros/Acervo Museu da República). Disponível em:< http://www.historiailustrada.
com.br/2014/06/fotos-da-guerra-de-canudos.html#.VWPy0s-6e70>. Acesso em: 15
jun. 2015.
História Ilustrada. Vista parcial de Canudos ao sul. Segundo o registro oficial do
exército, foram contados 5200 casebres no arraial de Antônio Conselheiro, 1897
(Flávio de Barros/Acervo Museu da República). Disponível em: <http://www.histo-
riailustrada.com.br/2014/06/fotos-da-guerra-de-canudos.html#.VWN8OE9Viko>.
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HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
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JAMBEIRO, O. Tempos de Vargas: o rádio e o controle da informação. Salvador:
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Jobim. Artistas como Gilberto Gil e Chico Buarque apoiavam a campanha das
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so em: 16 jul. 2015.
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especiais/2014/11/19/o-inicio-do-declinio-do-regime-militar/imprimir_materia_
jornal>. Acesso em: 16 jul. 2015.
Laboratório de Ensino e Material Didático. Matéria de primeira página do Jornal A
Capital do dia 23/07/1917. Disponível em: <http://lemad.fflch.usp.br/node/367>.
Acesso em: 15 jul. 2015.
LEAL, V. N. Coronelismo, Enxada e Voto. 7 ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2012.
LIMA, V. Uma viagem com Debret. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
LOUREURO, F. P. Varrendo a democracia: considerações sobre as relações políticas
entre Jânio Quadros e o Congresso Nacional. Disponível em: http://www.scielo.br/
pdf/rbh/v29n57/a08v2957.pdf. Acesso em 01 de junho de 2015.
REFERÊNCIAS
UNIDADE I
1. O que podemos observar das discussões ocorridas na Assembleia Constituinte
sobre o tema, é que a parcela dos brasileiros que não correspondiam aos euro-
peus ou a seus descendentes foram excluídos do processo de constituição do
Estado brasileiro, em uma negação da cultura dos povos que aqui já se encon-
travam antes da chegada do branco europeu – como os índios – bem como a
negação da heterogeneidade que caracterizava a sociedade brasileira.
2. Internamente eclodiram manifestações e motins contrários ao governo de D.
Pedro I e à repressão sofrida por aqueles que se opunham à administração do
imperador. A situação de descaso com a maioria dos brasileiros, os de camadas
mais inferiores e a concessão de privilégios a portugueses imigrados distancia-
vam D. Pedro I da população local. Além disso, o seu amplo poder conquistado
por meio da criação do Poder Moderador e sua política externa não agradavam
a elite da época. Externamente, a influência da Inglaterra ao longo de todo o
Primeiro Reinado gerou desconfiança e preocupações por parte das elites bra-
sileiras, que temiam que o imperador cedesse à pressão inglesa pelo fim da es-
cravidão no Brasil, fato que prejudicaria essa camada social, colocando em risco
seus interesses e privilégios.
3. A alternativa correta é a D.
4. A alternativa correta é a D.
UNIDADE II
1. Espera-se que o(a) aluno(a) destaque as forças conflitantes, que estavam por trás
do início do governo de D. Pedro II, representadas na formação dos Partidos Li-
beral e Conservador, com as quais o imperador recém-coroado precisou lidar
e equilibrar os antagonismos presentes em ambos os partidos. Deve destacar
também que o imperador manteve-se distante dos acontecimentos e agitações
políticas do Brasil, exercendo seu comando por meio da nomeação de ministros
a quem confiava a direção do país, supervisionando seus atos.
2. A publicação da Lei de Terras em 1850 significou o alinhamento da política cen-
tral com o novo contexto econômico do Brasil, caracterizado pela desestrutura-
ção do complexo agroexportador açucareiro e a ascensão da atividade cafeeira,
com o consequente deslocamento do centro econômico da região Nordeste
para o Sudeste do país. Nesse sentido, a lei de 1850 veio ao encontro dos interes-
ses da aristocracia cafeeira, representando uma forma de proteger seus investi-
mentos no desenvolvimento da produção das tentativas ou das possibilidades
de indivíduos de outras camadas sociais terem acesso à terra.
3. A alternativa correta é a D.
4. A alternativa correta é a E.
GABARITO
UNIDADE III
1. A oligarquia e os proprietários rurais defendiam reformas que possibilitassem
que as províncias e os munícipios conquistassem maior autonomia, o que ga-
rantiria uma maior liberdade de ação para os proprietários, ainda se adaptando à
alternativa de mão de obra livre e assalariada. Além disso, os proprietários rurais
defendiam a adoção do sistema federalista, proposta que favorecia seus interes-
ses e que representava também a possibilidade de uma maior aproximação com
o poder local, favorecendo sua ascensão política. Já aos liberais, era imperativo o
alinhamento político com os princípios do liberalismo.
2. A presença maciça dos estrangeiros após a segunda metade do século XIX con-
tribuiu para uma mudança na paisagem dos centros urbanos. Muitos imigrantes,
sobretudo após o fracasso das colônias de parceria, deslocaram-se para as cida-
des e dedicaram-se a atividades ligadas ao comércio e ao artesanato, contribuin-
do para o crescimento e para o desenvolvimento, ainda que desordenado, das
cidades. Além disso, o elemento estrangeiro permitiu a circulação de ideias em
voga na Europa que influenciaram na organização dos movimentos operários
do século XX.
3. A alternativa correta é a D.
4. A alternativa correta é a E.
UNIDADE IV
1. Com a crise política, econômica e social que assolava a Europa desde o fim da
Primeira Guerra Mundial e que se intensificou no final da década de 1920, a eco-
nomia brasileira também entrou em colapso. As exportações do café foram re-
duzidas, uma vez que os países europeus eram os principais consumidores do
produto brasileiro, fazendeiros foram arruinados. Nas cidades, o movimento
operário ganhou força e, a partir do avanço das ideias socialistas, a produção
industrial também foi afetada, acarretando a elevação na taxa de desemprego.
2. Ao decretar o Estado novo, Getúlio impôs ao Brasil um sistema de governo com
inspirações fascistas e que, portanto, limitava o exercício da democracia e sus-
pendia os direitos civis, deixando a população à mercê de seus interesses.
3. A alternativa correta é a D.
4. A alternativa correta é a E.
293
GABARITO
UNIDADE V
1. Resposta Pessoal.
2. Resposta Pessoal.
3. A alternativa correta é a E.
4. A alternativa correta é a E.