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RESUMO ABSTRACT
Este artigo tem como objetivo proceder a uma The objective of this article is to investigate the
investigação da prática empresarial sobre o plane- companies’ practices regarding planning and con-
jamento e controle dos custos da qualidade. Nesse trolling of quality costs. The study discusses current
sentido, contribui por oportunizar uma discussão procedures adopted by the corporations according
atual sobre os procedimentos adotados pelas em- to the edition of the NBR ISO 9004:2000, which,
presas, tanto no contexto da edição da norma NBR for the first time, showed a legal recommendation
ISO 9004:2000, por meio da qual se passou a ter, about treatment of quality cost in line with the pro-
pela primeira vez, uma explícita manifestação legal cedures recommended by the academic literature.
a respeito, como daqueles procedimentos reco- The empiric research was developed based on 53
mendados pela literatura. O estudo empírico con- medium and large companies certified by ISO cri-
tou com a participação de 53 empresas de médio e teria, all of them associated to the Fundação para
grande portes, certificadas e integrantes do cadas- o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ – Founda-
tro da Fundação para o Prêmio Nacional da Quali- tion For the National Prize on Quality ), a Brazilian
dade (FPNQ), sendo 32 nacionais e 21 estrangeiras. association created to promote and improve quality
Para tanto, utilizou-se de questionário encaminhado system benefits. Of these 53 organizations, 32 are
ao responsável pela área de gestão da qualidade. domestic companies and 31are Brazilian subsidiar-
O estudo conduziu à conclusão de que as empre- ies of multinational enterprises. To reach the goal
sas permanecem não dedicando ao planejamento e of this research a questionnaire was sent to quality
controle dos custos da qualidade a mesma atenção department managers. The research concluded that
que dedicam à formalização do processo com vistas the organizations have not payed enough attention
a obter a certificação do sistema de gestão da quali- to the planning and controlling of quality costs in the
dade. Constatou-se a continuidade de baixa aplica- same level that they have devoted to formalize the
ção de procedimentos direcionados à classificação operational process to get the ISO certificate. The
e mensuração dos custos da qualidade, inclusive results of the research indicate that the companies
na elaboração de relatórios gerenciais específicos e have used few and superficial procedures to classify
nas atividades de orçamento e medição do retorno and measure quality costs as well as budgeting and
dos investimentos em qualidade. Também ficou evi- evaluating the return of investment on quality and
denciado que a baixa utilização é mais acentuada related management information reports. It was also
nas empresas nacionais. observed that the poorer practices are more noticed
Palavras-chave: Gestão do sistema da quali- in Brazilian domestic companies.
dade; Custo da qualidade; Mensuração dos custos Keywords: Management of quality system;
da qualidade. Quality Cost; Measuring quality cost.
Entende-se, portanto, que após cinco anos de dimentos dos sistemas da qualidade estão largamen-
vigência da norma é oportuno diagnosticar o nível de te baseados nos desenvolvimentos iniciados há mais
reconhecimento que as empresas dedicam à necessi- de 50 anos por alguns poucos pesquisadores, como,
dade de planejamento e controle dos custos da qua- por exemplo, W. Edwards Deming”.
lidade, procedimento esse já há muito tempo referen- Apesar do destaque que é dado ao fenômeno da
dado pelos diversos pesquisadores consultados. globalização como o principal indutor para as iniciati-
A justificativa deste estudo suporta-se na inter- vas quanto aos sistemas da qualidade, tendo em vis-
pretação dada por Iudícibus (1996, p. 31). O autor, ao ta as exigências impostas por um mercado caracteri-
fazer uma análise sucinta da Gestão Estratégica de zado por uma concorrência mais acirrada, um evento
Custos e de sua ligação com a Contabilidade Geren- mais pontual, e parte integrante de tal globalização,
cial e com a Teoria da Contabilidade, destaca que: também tem merecido destaque na literatura perti-
Em primeiro lugar, é importante deixar claro nente. Trata-se da agressiva iniciativa das empresas
que o que mais importa, na realidade, é a qualida- japonesas que incorporaram a questão da qualidade
de da prática contábil. A doutrina tem sua grande como uma estratégia diferenciada para a época.
importância, é bem verdade, quando consegue De fato, nos anos 1970 e 1980, os japoneses
projetar estruturas conceituais que se antecipam desencadearam uma revolução global na eficácia
à prática (mas que devem ser validadas pelos ex- operacional, introduzindo práticas pioneiras, como
perimentos reais). a gestão da qualidade total e melhoria contínua. Em
conseqüência, os fabricantes japoneses desfruta-
Outra motivação para a realização deste estu- ram, durante muitos anos, de substanciais vanta-
do é a constatação da necessidade de pesquisas gens de custo e qualidade.
direcionadas a investigar a adoção de práticas de Tal vantagem competitiva japonesa, em con-
mensuração e registro dos custos da qualidade seqüência, passou a ser uma ameaça à continuida-
com base em uma amostra mais significativa de de das demais empresas concorrentes. A partir de
empresas. De fato, há uma preponderância de es- tal constatação, o tema qualidade passou, de forma
tudos que têm pautado o seu desenvolvimento na mais efetiva, a fazer parte da agenda de todas as
estratégia metodológica de estudos de casos ou empresas preocupadas em assegurar a sua conti-
na ênfase conceitual sobre a validade e utilidade nuidade no cumprimento de sua missão.
da mensuração e controle dos custos da qualidade Fawcett, Calantone e Roath (2000, p. 475) sus-
como instrumento de gestão. tentam tal constatação, ao afirmarem que “Qualida-
Como exemplo de tal constatação, têm-se, de emergiu como uma vital prioridade competitiva
entre outros, os estudos de Carvalho et al. (2000), em resposta à invasão japonesa ocorrida no final
Lima e Martins (2001), Nascimento (2003) e Quesa- dos anos de 1970 e início dos anos de 1980”.
do e Da Costa (2005). Tal reconhecimento também pode ser encon-
trado em Sakurai (1997, p. 130) quando esse afirma
3 REFERENCIAL TEÓRICO que “Made in Japan, anteriormente objeto de des-
dém, é atualmente uma marca de distinção. Os ja-
3.1 Iniciativas para os Sistemas poneses são os líderes reconhecidos da moderna
da Qualidade revolução mundial da qualidade, [...]”.
A influência da iniciativa japonesa, também, é
Apesar do grande destaque dado nas últimas destacada por Robles Jr. (2003). Cita o autor que De-
décadas à implantação de sistemas da qualidade, ming, o qual alcançou notória proeminência em vir-
atingindo ela o status de alta relevância entre aque- tude de sua atuação no Japão, na década de 1950,
les elementos que constituem a gestão estratégica profetizou que em breve o país conquistaria o merca-
empresarial, deve ser reconhecido que a questão da do mundial, o que foi plenamente confirmado.
qualidade já vem sendo discutida com muito mais
antecedência. 3.2 Formalização dos Sistemas da
Robles Jr. (2003, p.21) destaca que “O conceito Qualidade
de Total Quality Control foi introduzido por Armand V.
Feigenbaum, através de um artigo publicado em 1957 Uma decorrência natural da internacionalização
na revista Industrial Quality Control; em seguida, em da economia, provocada pelo fenômeno da globali-
1961 publicou um livro, intitulado Total Quality Control: zação, e além daquelas já destacadas na introdução
engeneering and management”. Wilbur (2002, p.75), deste estudo, foi a preocupação em harmonizar, em
também, manifesta-se no mesmo sentido, ao afirmar nível mundial, alguns procedimentos no âmbito das
que “Os princípios que fundamentam os atuais proce- empresas.
Isso tem sido verificado em diversas áreas, representam um padrão mundial de referência em
como, por exemplo, na harmonização das práticas relação à gestão da qualidade.
contábeis, conforme destacado por Castro (2001) e Os membros que compõem a ISO são os re-
CFC (2005). No âmbito dos procedimentos direcio- presentantes das entidades máximas de norma-
nados a assegurar um padrão desejado de qualida- lização nos respectivos países associados, como
de isso não tem sido diferente. A criação da Interna- o Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), no
tional Organization for Standardization (IS0) ratifica caso do Brasil. Tais representantes, por meio da
tal entendimento. atuação dos respectivos comitês técnicos – no
Oliveira e Melhado (2004) destacam que a ISO Brasil a Associação Brasileira de Normas Técnicas
é uma entidade não governamental, criada em 1947, (ABNT), são responsáveis pelos trabalhos técnicos
com sede em Genebra, Suíça. Ela tem como objeti- necessários à estrutura, emissão e atualização das
vo promover o desenvolvimento da normalização e referidas normas, as quais devem ser observadas
atividades relacionadas com a intenção de facilitar pelas entidades credenciadas para os trabalhos de
o intercâmbio internacional de bens e desenvolver a certificação.
cooperação nas esferas intelectual, científica, tec- A formalização dos sistemas da qualidade
nológica e de atividade econômica. Como decorrên- ocorre sob a observação de três normas principais,
cia tem-se o surgimento das Normas ISO, as quais revisadas em 2000, conforme Quadro 1:
A versão 2000 das normas ISO, uma atuali- tratada após cuidadosa identificação das neces-
zação da versão editada em 1994, surgiu em de- sidades dos usuários, acrescentam que “se assim
corrência das críticas de que a versão anterior era não fosse, a excelência do controle de processo te-
“pesadona, confusa e com forte viés de manufatu- ria pouca vantagem, pois ficaria facilmente desviada
ra” (OLIVEIRA e MELHADO, 2004, p. 66). O objetivo do seu foco: necessidades dos clientes” (p. 14).
passou a ser a edição de uma norma voltada para Diversos são os pesquisadores que contribuí-
os processos da organização, para seus clientes e ram para o surgimento e evolução dos sistemas da
para a melhoria contínua do desempenho do siste- qualidade.
ma da gestão da qualidade. Sacco Galloro e Stephani (1995) desenvolve-
Esse entendimento é colocado de forma explí- ram amplo estudo envolvendo os custos da quali-
cita pela norma NBR ISO 9001:2000, em seu tópico dade e da não-qualidade. Além da definição e clas-
0.2 – Abordagem de Processo, quando destaca que sificação desses custos, os autores avançaram em
“Esta norma promove a adoção de uma abordagem outros tópicos relacionados, tais como: o ponto
de processo para o desenvolvimento, implementa- ótimo do custo da qualidade, o custo do ciclo de
ção e melhoria da eficácia de um sistema de gestão vida do produto e as medidas dos resultados dos
da qualidade para aumentar a satisfação do cliente investimentos em qualidade.
pelo atendimento aos requisitos do cliente.” De Forma mais específica e analítica, Sac-
Oliveira e Melhado (2004), ao enfatizarem que co Galloro e Stephani, utilizando-se do método de
a preocupação com as especificações só pode ser Custeio Baseado em Atividades (ABC), apresentam
cessos e para facilitar melhorias da eficácia cialistas em qualidade foi equiparar os ‘custos da
e eficiência da organização. Exemplos de qualidade’ com o custo da má qualidade (princi-
medidas financeiras incluem: análise dos palmente os custos para se encontrar e corrigir o
custos de prevenção e avaliação; análise trabalho defeituoso).
dos custos de não conformidade; análise
dos custos de falhas internas e externas, e Para os fins deste estudo, adotar-se-á a classi-
análise dos custos do ciclo de vida.” ficação mais freqüentemente encontrada nas obras
relacionadas a custos da qualidade. Trata-se da
Apesar da exposição explícita quanto a proce- classificação desenvolvida por Feigenbaum (1994),
dimentos para mensuração dos custos da qualida- também encontrada, entre outras, na obra de Cros-
de, deve ser lembrado que a NBR ISO 9004:2000, by (1994), Juran e Gryna (1991) e Rust, Zahorik e
de acordo com Oliveira e Melhado (2004, p. 64), “é Keiningham (1994)1.
uma norma que estabelece diretrizes e descreve um Deve-se enfatizar que a classificação adota-
conjunto básico de elementos pelos quais o sistema da por Feigenbaum, também, foi incorporada pe-
pode ser desenvolvido. Sendo assim, o usuário dessa las práticas recomendadas pela norma NBR ISO
norma pode selecionar os elementos do sistema da 9004:2000 em seu tópico “8.2.1.4 – Medições Fi-
qualidade adequados à sua realidade empresarial”. nanceiras”, conforme destacado no tópico anterior
Sendo assim, a utilização dos termos ‘convém’ deste estudo.
e ‘pode ser’, pela referida norma, aliado à interpre- A Figura 1, a seguir, apresentada sumariza a
tação de Oliveira e Melhado (2004), conduz à con- classificação idealizada por Feigenbaum:
clusão de que a adoção de procedimentos direcio-
nados ao controle dos custos da qualidade não é
um item obrigatório para a certificação do sistema Custos de
prevenção
da qualidade. Em sendo assim, trata-se mais de um
CUSTOS DO
procedimento sugerido e considerado como reco-
CONTROLE
mendável e oportuno.
Custos de
Não obstante tal interpretação, Moori e Silva avaliação
(2001) entendem que a obrigatoriedade está carac-
terizada e passou a existir a partir da edição da nova
versão das normas ISO, no ano de 2000. Custos de
Independentemente da obrigatoriedade ou não falha interna
de adoção de tais procedimentos, no âmbito das nor- CUSTOS DE FALHA
mas ISO, para fins deste estudo prevalece a premissa NO CONTROLE
de que a eficácia do sistema de gestão da qualidade Custos de
não pode prescindir de um adequado sistema de pla- falha externa
nejamento e controle dos custos relacionados. Assu-
Fonte: Feigembaum (1994, p. 152)
me-se, portanto, o mesmo entendimento de pré-requi-
sito defendido pelos diversos autores pesquisados. Figura 1: Classificação dos custos da qualidade
1 A obra original de FEIGENBAUM, Armand V. foi editada em 1951 sob o título Total Quality Control, pela McGraw-Hill, Inc.
2 A FPNQ tem como missão disseminar os fundamentos da excelência em gestão para o aumento de competitividade das organizações e do Brasil. O foco na excelência em
gestão evidencia que a FPNQ está voltada para uma atuação mais ampla que a qualidade de processos e produtos. Para tanto, estabeleceu diversos critérios (oito no total)
representativos de tal excelência em gestão.
Quanto à área responsável pela gestão do sis- vel principal pela área, constata-se a predominân-
tema da qualidade, os dados das Tabelas 2 e 3 de- cia dos níveis de diretor e gerente, acima de 79%
monstram que as empresas estão adequadamente (84,4% nas nacionais e 71,5% nas estrangeiras). Na
estruturadas. Todas elas contam com uma entidade opção “Outros” prevalece o nível hierárquico de su-
organizacional especificamente criada para a gestão pervisor. Nota-se, portanto, aderência ao recomen-
do sistema. Apesar da diferença verificada entre as dado por vários pesquisadores, como, por exemplo,
empresas, quanto ao nível hierárquico do responsá- Deming (1990).
Entre as ferramentas utilizadas na gestão da ção do Seis Sigma, apesar de menos citado, tam-
qualidade verifica-se uma consistência em relação bém se apresenta de forma significativa. Na opção
aos instrumentos prescritos pela literatura pertinen- “Outros”, constatou-se a predominância da prática
te e pela própria NBR ISO 9001:2000. Isso pode ser do 5S3. Quanto a essas ferramentas, as empresas
constatado pelos dados da Tabela 4, a qual eviden- acham-se em sintonia com os desenvolvimentos de
cia que 100% das empresas nacionais e 90,5% das Feigenbaum (1994) e Juran e Gryna (1991).
estrangeiras utilizam-se da ferramenta PDCA. A ado-
A utilização de unidades de medidas não fi- balhos têm praticamente o mesmo nível de aplica-
nanceiras para análise de desempenho do sistema ção nos dois grupos da amostra, correspondendo a
da qualidade também é uma prática acentuada nas 47,2% do total das empresas. A métrica Garantias
empresas, procedimento consistente com a pro- Executadas é mais predominante nas empresas es-
posta de Ishikawa (1998). De fato, com exceção de trangeiras (61,9%) do que nas nacionais (34,4%).
4 empresas nacionais (12,5% do grupo e 7,5% do No total, não há diferença relevante em relação às
total da amostra), para todas as demais isso é uma duas outras unidades de medidas analisadas. O in-
realidade, inclusive com a maioria utilizando mais de dicador Perda por Milhão – PPM é o menos citado
uma unidade de medida. e aparece com mais predominância nas empresas
Os dados da Tabela 5 mostram que as métri- estrangeiras (28,6% contra 9,4%).
cas Porcentagem de Defeitos da Produção e Retra-
3 Conforme OSADA (1992) a prática dos 5S refere-se à preparação do ambiente físico e comportamental para o desenvolvimento da qualidade total. Abrange: Seleção,
Ordenação, Limpeza, Bem-Estar e Disciplina.
Continuação
A adoção de um sistema de premiação finan- que potencializa a eficácia dos programas de quali-
ceira como fator motivacional e de recompensa por dade, apresenta-se de forma mais significativa nas
atingir metas de qualidade, enfatizado por Oakland empresas estrangeiras (61,9%) do que nas nacio-
(1994) e Hansen e Mowen (2001) como uma prática nais (46,9%). (Tabela 6).
Tabela 7: Depto. Responsável pela Emissão e Análise de Relatórios dos Custos da Qualidade
A classificação dos custos da qualidade quan- Já nas empresas estrangeiras, ainda que
to à sua natureza, se para qualidade ou da falta de aquém do que recomendam os desenvolvimentos
qualidade, não é prática predominante nas empre- teóricos a respeito (CROSBY, 1994; FEIGENBAUM,
sas nacionais, identificando-se 28,1% para o pri- 1994), verifica-se maior aderência a tal classifica-
meiro caso e apenas 18,8% para o segundo. Mais ção, com 38,1% e 52,4% respectivamente. Ainda
relevante ainda é que 62,5% das nacionais não ado- que em menor dimensão do que nas nacionais,
tam tal separação, conforme consta da Tabela 8. nota-se aqui a elevada representatividade das em-
presas que não adotam tal classificação, situando- nota-se quando a classificação é somente pelo
se em 28,6%. valor total (19,0% contra 40,6%). A não utilização
Quanto à classificação dos custos por cate- das categorias de classificação não apresenta di-
goria e conforme dados da Tabela 9, constata-se a ferenças acentuadas entre os grupos de empresas,
maior adoção nas empresas estrangeiras da classi- situando-se em torno de 25%.
ficação ampla (38,1%) em relação ao verificado nas Os dados apresentados evidenciam que os
nacionais (31,3%). Tal adoção, também, se verifi- procedimentos das empresas têm baixa consis-
ca na classificação entre os dois grupos principais, tência em relação ao prescrito por diversos autores
controle e falha, agora com diferença mais acentu- consultados (Juran e Gryna, 1991; Crosby, 1994;
ada (19% das estrangeiras contra 3,1% das nacio- Feigenbaum, 1994)
nais). Conseqüentemente, comportamento inverso
A identificação explícita e isolada dos custos unidade de negócios ou mesmo somente no con-
da qualidade nos relatórios gerenciais não é prática solidado.
privilegiada nas empresas. Os dados da Tabela 10 Considerando-se os desenvolvimentos de
evidenciam a preferência, de ambos os grupos de Hansen e Mowen (2001) e Robles Jr. (2003), pode-
empresas, pela evidenciação dos custos de forma se identificar que as empresas têm ainda muito a
mais agregada, quer no resultado operacional, por evoluir nesses procedimentos.
Tabela 10: Formas de Apresentação dos Custos da Qualidade nos Relatórios de Resultado
Os dados da Tabela 11 evidenciam a utilização utilizado, prevalece a receita líquida como parâme-
de parâmetros da representatividade dos custos da tro mais utilizado. Também, aqui, nota-se a baixa
qualidade. Verifica-se acentuada não mensuração adesão às práticas recomendadas por Feigenbaum
de tal representatividade, sendo 84,4% das empre- (1994), Juran e Gryna, (1991) e Robles Jr. (2003).
sas nacionais e 66,7% das estrangeiras. Quando
A adoção de um plano orçamentário dos cus- 33,3%, nas nacionais essa representatividade eleva-
tos da qualidade pelas empresas, conforme dados se a 53,2%. A classificação mais adequada, custo
da Tabela 12, ainda carece de melhora sendo, ain- para obter e custo da falta, semelhante a custo para
da assim, mais bem desenvolvido nas empresas controle e custo de falhas, é adotada por 33,3% das
estrangeiras. Enquanto nelas o uso de apenas uma estrangeiras contra apenas 18,8% das nacionais.
estimativa, ou mesmo a não utilização, representa
presas nacionais (40,6% contra 19,0%), conforme uma meta efetiva para controlar a atividade geren-
Tabela 13. cial, os custos de prevenção e avaliação são boas
Sakurai (1997), ao defender a utilidade de um metas orçamentárias. Nesse sentido, nota-se que
plano orçamentário para os custos da qualidade, as empresas pesquisadas têm, ainda, muito que
enfatiza que, quando a empresa deseja estabelecer evoluir.
Partindo-se da premissa de que sob o enfoque estrangeiras) não possui controles específicos para
da gestão de capitais as inversões em sistemas da os investimentos realizados.
qualidade revestem-se da figura de um investimen- Obviamente, tal procedimento prejudica a apli-
to que, para sua justificativa, deve propiciar alguma cação de indicadores direcionados à mensuração
forma de retorno, essa parte final de coleta de dados dos retornos obtidos. Isso fica evidente nos dados
da pesquisa concentrou-se na identificação sobre a apresentados na Tabela 15, constatando-se que
forma de controle dos investimentos. Os dados da 87,5% das empresas nacionais e 81% das estrangei-
Tabela 14 evidenciam que parcela substancial das ras (equivalente a 84,9% no total) não mensuram os
empresas (56,3% das nacionais contra 47,6% das retornos obtidos com os investimentos realizados.
permitem identificar que nem mesmo a emissão da uma cultura organizacional baseada na adoção de
norma NBR ISO 9004:2000 provocou mudanças re- um modelo de gestão que adote com maior ênfase
levantes nesse posicionamento. a filosofia do planejamento e controle das ativida-
A comparação dos resultados deste estudo des. Pesquisa específica nesse sentido poderá tra-
com aqueles apresentados por Mattos e Toledo zer luz a essa questão.
(1998) e Moori e Silva (2001) atestam tal afirmativa. Com base em tais indicadores é possível con-
Mesmo no contexto internacional, já em 1987 situ- cluir que parcela significativa dessas empresas está
ação semelhante foi identificada, conforme estudo muito mais próxima do entendimento de Deming (de
de Sakurai (1997). Além dele, Tatikonda e Tatikonda que não há necessidade de mensurar e controlar os
(1996), também, enfatizam que somente umas pou- custos da qualidade) do que de Crosby (de que a
cas companhias mensuram seus custos da quali- necessidade existe).
dade e, quando o fazem, eles são grosseiramente Também é possível inferir que não há reconhe-
subavaliados. cimento por parte das empresas pesquisadas para
Algumas constatações específicas são sufi- o fato de que a certificação dos sistemas de gestão
cientes para resumir o estágio em que se encontram da qualidade, por si só, não é suficiente para as-
tais trabalhos nas empresas pesquisadas: [1] 49,1% segurar o sucesso econômico-financeiro. O mesmo
das empresas (62,5% das nacionais e 28,6% das ocorre com relação ao entendimento de que a ado-
estrangeiras) não segregam os custos entre “para” ção isolada de medidas não financeiras, apesar de
e “da falta” da qualidade; [2] 56,6% das empresas mais fácil de serem mensuradas, isoladamente não
(65,6% das nacionais e 42,8% das estrangeiras) não identifica o quanto a qualidade não atendida pode
adotam a classificação desenvolvida por Feigen- ser cara. Nesse sentido, é necessário incorporar o
baum e referendada por diversos pesquisadores; entendimento de que as medidas financeiras, na fi-
[3] somente 5,7% das empresas adotam relatórios gura de um denominador comum, correspondem a
segregando os custos da qualidade em seu resul- uma medida concisa do desempenho da qualida-
tado operacional; [4] 77,4% das empresas (84,4% de.
das nacionais e 66,7% das estrangeiras) não utili- Durante a realização deste estudo constatou-
zam um parâmetro para dimensionar a represen- se que há, ainda, uma ampla agenda de estudos
tatividade percentual dos custos da qualidade; [5] a serem realizados sobre os custos da qualidade.
45,3% das empresas (53,2% das nacionais e 33,3% Dentre eles, citam-se os seguintes: a) investigar jun-
das estrangeiras) não fazem orçamento formal dos to às empresas a causa central da não adoção dos
custos da qualidade ou utilizam-se apenas de uma procedimentos prescritos na literatura; b) investigar
estimativa; [6] 52,8% das empresas (56,3% das na- se as empresas têm conhecimento real das perdas
cionais e 47,6% das estrangeiras) não têm controle financeiras provocadas pela falta da qualidade; c)
específicos dos investimentos do sistema da quali- investigar junto às empresas certificadoras sobre
dade; [7] 84,9% das empresas (87,5% das nacionais como elas se posicionam diante da omissão cons-
e 81,0% das estrangeiras) não mensuram o retorno tatada à luz da norma NBR ISO 9004:2000; d) inves-
dos investimentos da qualidade e [8] somente em tigar como os controllers das empresas, os quais
39,6% das empresas (28,2% das nacionais e 57,2% têm como missão subsidiar que as melhores deci-
das estrangeiras) há a efetiva participação da con- sões sejam privilegiadas e assim assegurar o alcan-
troladoria ou contabilidade de custos na emissão de ce da eficácia das organizações, posicionam-se a
relatórios de custos da qualidade. respeito.
Note-se que as empresas estrangeiras, ainda Acredita-se que o desenvolvimento dessas
que distantes do prescrito pela literatura, adotam pesquisas, dentre outras que possam ser identifi-
com maior intensidade as práticas de mensuração cadas, muito contribuirão para o aperfeiçoamento
e controle dos custos da qualidade do que as na- global e sistêmico dos sistemas de gestão da qua-
cionais. Tal posicionamento pode ser decorrente de lidade.
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UNISINOS
Av. Unisinos, 950 - Cristo Rei
São Leopoldo – RS
93.022-000
Outros (especificar):
Outros (especificar):
8. Identificação da Natureza dos Custos da Qualidade (assinalar com “x”)
Adota-se a Classificação de Custos PARA obtenção da Qualidade
Adota-se a Classificação de Custos da FALTA de Qualidade
Não é Adotada essa Classificação
9. Investimento e Retorno do Sistema da Qualidade (assinalar sim ou não)
O Valor ref. aos Investimentos em Qualidade (estação de tratamento de efluentes, veículos e equipamentos exclusivos,
treinamento, implantação do sistema da qualidade, processo de legalização CETESB, etc) são Controlados Separada-
mente?
É Mensurado o Retorno sobre o Investimento do Sistema? Se SIM, Qual a Medida de Retorno Utilizada (especificar):
10. Dimensão Percentual do Custo da Qualidade (assinalar com a % correspondente)
Em Relação ao Custo Total de Produção
Em Relação à Receita Líquida
Outra Base de Relação (especificar qual):
Não é Feita Nenhuma Relação
11. Classificação Adotada no Registro dos Custos da Qualidade (assinalar com “x”)
Detalhamento Total (Prevenção, Avaliação, Falha Interna, Falha Externa)
Detalhamento Parcial (Controle e Falhas)
Somente pelo Valor Total
Outra (especificar):
12. Depto. Responsável pela Emissão e Análise de Relatórios (assinalar com “x”)
Pelo Próprio Departamento Envolvido
Pela Contabilidade de Custos
Pela Controladoria
Outro (especificar):
13. Apresentação dos Custos da Qualidade (assinalar com “x”)
No Resultado Operacional, Segregado dos Demais Custos
No Resultado Operacional, Juntamente com os Demais Custos
Por Divisão / Unidade de Negócios
Somente no Resultado Consolidado
Outra Forma (especificar):
14. Orçamento (Budget) e Classificação dos Custos da Qualidade (assinalar com “x”)
Há Previsão Orçamentária Formal Segregada em “Para Obter” e da “Falta” da Qualidade
Há Previsão Orçamentária Somente Pelo Valor Total
Há Previsão Orçamentária Informal (Apenas estimativa)
Outra Forma (especificar): (Mista: Alguns dados são segregados e outros não)
Não Há Previsão Orçamentária
15. Qual a Métrica (indicador) de Falta de Qualidade Utilizada (assinalar com “x”)
Perda por Milhão (PPM)
Índice (%) de Defeitos em Relação à Produção Total
Garantia Executada (devolução de produtos, substituição de produtos, consertos etc)
Retrabalho de Defeitos Identificados Durante o Processo Produtivo
Outros (especificar):
16. Análise do Desempenho Real dos Custos da Qualidade (assinalar com “x”)
Há Avaliação Formal do Real x Orçado
Há Avaliação Somente em Relação ao Histórico
Outra Forma (especificar):
Não Há Avaliação