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Copyright © 2020 Mari Carvalho

Revisão e diagramação: Mari Carvalho

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1a edição - 2020

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CAPITULO 1
CECILIA

O avião acabara de pousar. Eu voltava ao Brasil depois de um ano sabático


pela Europa e mal podia esperar para chegar em casa.
Após aguardar quase meia hora para passar pela imigração, eu e minhas seis
malas saímos para o saguão principal do aeroporto. Mas antes eu fiz uma foto
do carrinho com as malas escrito #olabrasil.
Assim que as portas se abriram, dei de cara com um homem alto de óculos
escuros num terno preto. Ele segurava um cartaz com meu nome. Mas só
poderia ser coincidência, por isso continuei a empurrar o carrinho com as
malas passando por ele.
O homem chamou meu nome e eu parei olhando para ele, que olhava da tela
do celular para o meu rosto.
— Cecília? – ele perguntou – Cecília Bernardes?
Desconfiada, retruquei:
— Quem quer saber?
— Sou Marlon Torres, seu segurança particular. – ele falou firme, teclando
no celular e levando-o a orelha.
Eu fiquei o encarando meio apreensiva, enquanto as pessoas nos olhavam
com cara feia por estarmos obstruindo o caminho.
— Sim senhor, ela está aqui comigo. – Marlon ficou calado por alguns
segundos – Sim senhor.
Ele estendeu o celular para mim, dizendo:
— Seu pai, Dr. Ivan.
Quando peguei o celular da mão de Marlon, ele começou a empurrar o
carrinho com as minhas malas em direção ao saguão principal.
— O que está acontecendo? – bradei antes mesmo do alô.
— Oi filha. Que bom falar com você também. – meu pai foi sarcástico do
outro lado da linha. – Como foi de viagem?
— Que história é essa de segurança particular, pai? – eu caminhava puta da
vida ao lado de Marlon. – Quem disse que eu preciso de babá?
— Cecília, isso não é uma questão para se discutir ao telefone. – Dr. Ivan
assumiu a postura séria de juiz – Durante o jantar nós conversamos.
— Mas pai… – tentei argumentar, mas fui interrompida por ele.
— Por ora, tudo que você tem que fazer é ser educada e ir com o Sr. Torres. –
dito isso, ele desligou na minha cara.
Eu mal notei quando parei de andar e passei a me comportar feito uma
adolescente mimada no meio do aeroporto. Marlon me olhava calmamente
com uma expressão indecifrável.
— Podemos ir, senhorita? – ele perguntou depois de um tempo.
— Primeiro eu vou comer alguma coisa. – falei, apontando para o Starbucks
que eu acreditava ser recém inaugurado.
— Como a senhorita preferir. – Marlon respondeu e me acompanhou até lá.
Ele se sentou na única mesa vazia do lugar, enquanto eu ia até o caixa e fazia
o pedido.
Pedi dois croissants e dois cappuccinos. Poderia não estar feliz com um
guarda-costas, mas não era mesquinha a ponto de comer e deixar Marlon
olhando.
Com os pedidos na mesa, saquei meu celular, fiz uma foto e postei no
Instagram com a hashtag #starbuckstime. Marlon comia e me olhava sem
dizer nada.
Quando finalmente terminei de comer, perguntei ao meu guarda-costas o
porque da presença dele ali. Marlon respondeu que apenas seguia ordens e se
eu tivesse dúvidas teria que perguntar para meu pai mais tarde.
Dei de ombros, anunciando que estava pronta para ir embora, Marlon
prontamente se levantou e eu o segui.
No estacionamento, Marlon desligou o alarme de um luxuoso sedan, abrindo
a porta de trás para que eu entrasse enquanto ele tentava guardar meu excesso
de bagagem no porta malas.
— Senhorita Bernardes? – eu estava vidrada no celular que mal percebi que
Marlon havia aberto a porta e falava comigo. – A senhorita terá que ir sentada
no banco da frente.
— Por quê? – perguntei sem prestar muita atenção nele.
— Senhorita... – Marlon olhava das duas malas aos pés dele para mim.
— Não coube? – olhei para ele exasperada – Esse carro enorme desse jeito e
não cabe minhas malas?
— Infelizmente, não esperava tantas malas assim, senhorita. – Marlon se
desculpou.
Soltei o ar irritada, pegando minha bolsa e sentando no banco do carona.
Marlon terminou de ajeitar as malas e entrou no carro.
— Por favor, coloque o cinto. – ele pediu enquanto ligava o carro.
Encarei Marlon com ódio no olhar e ele respondeu que era o básico de
segurança veicular. Coloquei meus óculos escuros, os fones de ouvido no
volume máximo e o ignorei pelo restante do caminho.

•••

Quando finalmente entramos na rua onde eu morava num luxuoso


condomínio na grande BH, notei a diferença. Minha casa que antes era de
conceito aberto, havia virado uma prisão. Muros altos, cercas elétricas,
câmeras de vigilância, seguranças armados.
Me endireitei no banco assustada e tirei os óculos.
— O que aconteceu enquanto eu estava fora? – perguntei a Marlon que
manobrava o carro na entrada da garagem e parava para se identificar.
— Dr. Ivan irá conversar com a senhorita mais tarde. – ele respondeu
parando o sedan na porta da casa.
Marlon estava com a mão na maçaneta pronto para sair quando eu o segurei
pelo braço.
— Estou perguntando a você, Marlon. – falei irritada – Por que você não
pode me responder?
— Senhorita Bernardes... – ele hesitou olhando pelo parabrisa. – A senhorita
sabe qual é o trabalho do seu pai. Sabe o bônus e o ônus de ser promotor,
principalmente aqui no Brasil.
Respirei com um pouco de dificuldade quando entendi o que ele quis dizer.
Acho que fiquei pálida também, porque vi a preocupação no olhar de Marlon.
— A senhorita está bem? – ele perguntou abrindo os vidros do carro para
deixar o ar circular.
— Eu... Eu estou ótima. – falei fingidamente, correndo para dentro da
segurança da mansão.
Quando eu passei pela porta da casa ouvi a porta do carro se fechar com um
barulho surdo. Fui direto para a cozinha, precisava de água ou outra coisa
mais forte.
Fiquei alguns minutos olhando para o nada até o Marlon aparecer e me tirar
do transe.
— Senhorita Bernardes, posso levar suas malas para seu quarto?
Me virei e vi que ele estava com a feição impassível.
— Você é sempre assim, calmo? – questionei, mal reconhecendo minha voz.
— É o meu trabalho, senhorita. – Marlon respondeu firmemente. – Não posso
me dar ao luxo de perder o controle.
— E o que acontece se você perde esse tal controle? – perguntei, me
arrependendo logo em seguida.
— Pessoas morrem. – Marlon falou baixo, mas o alto suficiente para eu ouvir
e estremecer.
Caminhei até o bar no canto da sala e enchi meio copo com uísque caro que
meu pai guardava ali. Marlon que havia me seguido, olhava para o que eu
fazia sem esboçar nenhuma reação.
Virei de uma só vez todo líquido âmbar e senti minha garganta queimar. Eu
não era de beber. Ok, era sim. Mas nunca havia bebido nada tão forte quanto
aquele uísque.
Os olhos de Marlon ainda estavam sob mim, como se esperasse alguma
ordem ou coisa do tipo.
— Quer uma dose? – balancei o copo na direção dele.
— Estou a serviço, senhorita. – ele respondeu cortês e eu dei de ombros,
servindo outra dose para mim.
Outra vez, virei todo uísque de uma vez só, sentindo minha cabeça ficar leve.
Respirei fundo, indo em direção aos quartos no andar de cima. Quando
comecei a subir as escadas, cambaleei e fui amparada pelos braços de Marlon
que estava logo atrás de mim.
— Você parece uma sombra. – reclamei me soltando dele, que resmungou
qualquer coisa.
Subi o resto dos degraus com a mão firme no corrimão e Marlon no meu
cangote. Aquilo já estava me irritando e passando dos limites.
Virei a direita no corredor e parei na frente da segunda porta – meu quarto –
com Marlon atrás de mim.
— Você não tem mais o que fazer não? – perguntei levantando o rosto e o
encarando.
— Sou pago para não perder a senhorita de vista. – Marlon cruzou as mãos
na frente do corpo.
— Você vai entrar no meu quarto também? – abri a porta e fiz um gesto para
que ele ficasse a vontade. Já estava meio alta e com a língua afiada.
O grande segurança me olhou impassível e respondeu:
— Não. Mas estou aqui do lado de fora caso a senhorita precise de algo.
Apenas bati a porta com a maior força que eu consegui, em seguida me
joguei na cama.
Tudo tinha me atingindo de uma vez. A presença de um guarda-costas só se
daria em caso de uma ameaça grave. Meu pai estava sendo ameaçado por
conta do trabalho que ele tanto amava? Estava sendo ameaçado por fazer o
certo, por manter os caras maus na cadeia? Se sim, quem eram eles?
Minha cabeça rodava. O cansaço da viagem, a raiva da mudança da casa que
eu conhecia há uma vida, Marlon me perseguindo, a vida do meu pai em
risco, tudo isso se acumulou e transbordou pelos meus olhos .
Me enrolei feito uma bola e chorei. Chorei como nunca havia chorado. Nem a
falta da minha mãe me fazia me sentir assim. Ela havia morrido no meu
parto, então eu só a conhecia de fotos e do que as pessoas me contavam.
Lógico que eu sentia a falta dela. Como seria se ela estivesse do meu lado
durante toda minha vida, essas coisas. O álcool me deixou emotiva demais e
eu acabei chorando por ela também.
Chorei até dormir, mas uma voz chamando meu nome me tirou de um
nebuloso sono.
Me sentei grogue, ainda vestida com as roupas da viagem e com a cabeça
latejando. Demorei um pouco para lembrar onde eu estava. Olhei ao redor e
vi o quarto o qual tinha redecorado durante o último ano do ensino médio. Eu
havia escolhido a predominância do branco com um toque de rosa pastel,
tudo com muito glamour.
A pessoa ainda continuava a me chamar. Saí da cama e abri a porcaria da
porta. Era Marlon.
— O que você quer? – fui rude.
— Trazer sua bolsa e saber se a senhorita estava bem, já que dormiu quase o
dia todo. – ele falou daquele jeito irritante.
— Já te passou pela cabeça que estou cansada depois de uma viagem de mais
de doze horas? – respondi tomando a bolsa da mão de Marlon e o largando
parado na porta.
Entrei para o grande closet, jogando a bolsa em cima de um puff e me sentei
para tirar as botas e as meias. Ainda estava exausta, precisava de um banho e
comer alguma coisa.
— Senhorita Bernardes? – Marlon chamou novamente.
— O que foi desta vez, Sr. Torres? – perguntei impaciente.
— Aonde eu coloco suas malas? – a voz dele saiu meio baixa por conta da
distância.
Fiz um coque frouxo, me levantando e indo até onde Marlon estava. As malas
já estavam ali no corredor.
Suspirei, olhando para ele e abrindo mais a porta.
— Entra. Pode colocar ali perto da janela.
Marlon anuiu, pegando duas malas grandes pelas alças como se fossem duas
lancheiras e antes de entrar, pediu licença.
Me sentei na cama observando o vai e vem do meu guarda-costas. Ele era
bem forte e ágil. Tinha uma barba bem aparada que começava a ficar grisalha
precocemente, mas o cabelo era preto e brilhava impecável.
Marlon me pegou analisando-o.
— O almoço já está pronto faz algumas horas. – ele falou parando na porta
do quarto. – A cozinheira não sabia quando a senhorita iria acordar para
comer.
— Tudo bem. – respondi exausta de discutir. – Vou tomar um banho e desço.
— Sim, senhorita. – Marlon saiu fechando a porta.
Tomei um demorado banho de chuveiro. Lavei meus cabelos com meu
shampoo favorito, me ensaboei duas vezes e antes de sair debaixo da água
morna, passei meu óleo corporal de ameixa negra.
Já no closet, escolhi uma regatinha básica, um shorts florido e desci descalça
mesmo.
Marlon se encontrava na cozinha junto com Rosa, uma simpática senhora que
cozinhava para mim desde que eu aprendi a falar.
— Ceci! – Rosa me abraçou assim que pisei na enorme cozinha.
— Que saudade, Rosa. – retribui o apertado e emocionado abraço que ela me
deu. – Aonde a senhora estava quando eu cheguei?
Rosa sorriu encabulada e respondeu que tinha ido no mercado comprar frutas
frescas e meu sorvete preferido.
— Então está perdoada. – brinquei com ela.
— Como foi de viagem? – a senhorinha perguntou enquanto colocava meu
prato de estrogonofe para aquecer no microondas.
Enquanto abria a geladeira e pegava uma latinha de Coca-Cola, respondi:
— Foi boa, mas não consegui dormir quase nada por causa de uma
turbulência.
Me sentei na mesa da cozinha bebericando o refrigerante e comendo um
punhado de batata palha.
— E aqui? Como estão as coisas? – perguntei para Rosa, mas encarando
Marlon.
Rosa, que de boba não tem nada, logo percebeu o que eu queria dizer.
– Ah Ceci, tudo normal. – ela falou, mas eu sabia que era mentira.
— Tudo mesmo, Rosa? Ou tem alguma coisa acontecendo que ninguém quer
me contar?
Ela foi salva de me responder pelo timer do microondas que apitou bem na
hora.
— Olha! Seu almoço. – Rosa tirou o prato com cuidado e o colocou na minha
frente, despejando meio pacote de batata palha. – Come criança, enquanto eu
obrigo um daqueles brutamontes a ir na padaria buscar um pão quentinho.
Rosa saiu me deixando sozinha com Marlon que estava encostado no batente
da porta que dava para a piscina.
— Marlon? – chamei e rapidamente ele se virou.
— Sim, senhorita?
— Você já almoçou? – perguntei dando uma colherada na comida.
— Já.
— Ok... – tomei um gole da coca.
Não sabia como fazer o que eu ia fazer, aliás nunca me exaltei a ponto de
precisar fazer. Mas estava me sentindo mal.
— Marlon? – comecei a falar e tinha a total atenção dele. – Eu queria te pedir
desculpas.
— Desculpas? – ele ficou sem entender.
— Desculpas pelo meu comportamento mais cedo. – abaixei a cabeça um
pouco envergonhada. – Eu não sou daquele jeito. Não sou sem educação,
mimada ou algo do tipo.
— A senhorita não tem que me pedir desculpas. – Marlon respondeu
chegando próximo a outra ponta da mesa.
— Tenho sim. – falei. – Eu agi mal com você e você estava apenas fazendo
seu trabalho.
— Tudo bem, senhorita Bernardes. – Marlon assentiu, voltando para a porta.
Olhei para as costas dele por um minuto e quando ia voltar a comer, vi uma
protuberância na base da coluna de Marlon.
— Você está armado? – questionei e ele me olhou por cima do ombro.
— Sim. – foi tudo que ele me respondeu.

▪▪▪

CAPITULO 2
CECILIA

Depois que almocei, fui direto para o meu quarto desfazer as malas.
Enquanto estava na cozinha, tinha recebido uma mensagem do meu pai
falando mais ou menos a hora em que chegaria em casa. Perguntei a ele se
queria jantar algo específico, mas Dr. Ivan respondeu que traria pizza para
gente.
Ainda com o celular na mão, fiz uma selfie com minhas malas postando nos
stories do Instagram com a hashtag #vamosaluta. Aproveitei também para
responder algumas mensagens dos meus amigos. Havia centenas delas no
meu whatsapp, fora um grupo que eles fizeram com o nome “Festa da Ceci”.
Nesse grupo, a galera estava organizando uma recepção de boas vindas para
mim na casa de Léo no sábado.
Léo era um amigo/ficante desde do primeiro ano do ensino médio. Nós nos
conhecemos quando ele mudou cidade e veio estudar na minha escola. Os
pais de Léo eram advogados e ficaram amigos do meu pai. Eles moravam
num condomínio próximo ao meu.
Fiquei vendo a conversa rolar na tela com preguiça de acompanhar. Apenas
escrevi que o que eles decidissem eu iria amar.
Me peguei pensando no ano inteiro em que eu havia passado longe de todo
mundo. Sentia falta deles, do meu pai, da Rosa, até da escola, mas tinha me
acostumado a vida solitária dos hotéis da Europa. Não sabia que gostava de
ficar sozinha com meus pensamentos até ficar realmente sozinha com meus
pensamentos.
Nostálgica, peguei minha mala de mão, abri em cima da cama e comecei a
tirar as coisas que havia dentro. Minha câmera polaroid e uma sacolinha de
pano com um milhão de fotos dos países que visitei foi a primeira coisa que
vi.
Tinha fotos clássicas como na Torre Eiffel, no Coliseu, em um passeio de
gôndola em Veneza, no Big Ben e em tantos outros pontos turísticos pelo
velho continente.
O local em que fiquei mais tempo foi em Milão. A única coisa que faltava
para eu ser considerada uma nativa, era a fluência no italiano. Lá aproveitei
para fazer um curso básico de moda numa das melhores escolas da Europa.
Ainda estava envolvida em fotos e lembranças, quando Marlon apareceu na
porta.
— Senhorita Bernardes? Um amigo seu quer vê-la.
— Amigo? – perguntei confusa. Não estava esperando ninguém.
— Ele disse que o nome dele é Leonardo Viana.
Deixei as fotos espalhadas pela cama e segui Marlon até a sala com o coração
aos pulos.
Léo nunca me causou as tão famosas borboletas no estômago, mas era uma
boa companhia e eu estava com saudades de pessoas conhecidas.
— Aonde ele está? – perguntei quando desci as escadas e não vi ninguém ali.
— Ninguém pode entrar sem autorização, senhorita. – Marlon falou
calmamente.
Fiquei olhando para ele meio passada.
— Eu estou autorizando, ora! – caminhei até a grande porta da sala, saindo
para o jardim.
Pela minha visão periférica, devo ter contado uns quatro seguranças e mais
dois no portão, que ficaram me encarando.
— Vocês vão abrir essa porcaria de portão ou o quê? – falei com pouca
gentileza.
A atenção deles passou do meu chilique para Marlon que estava a poucos
metros de mim.
Marlon fez um sinal mínimo com a cabeça e os dois seguranças se moveram,
deixando Léo entrar.
Léo ainda estava meio assustado quando eu abracei.
— Gata, você levou muito a sério quando eu te chamei de princesa. – ele
sorriu me dando um beijo de leve nos lábios.
— Esquece eles. – falei puxando Léo para dentro da mansão.
Antes de nos sentarmos no sofá, Léo me olhou de cima a baixo se soltou um
assobio.
— Ceci, você está mais gata ainda.
Corando, vi Marlon nos observando imóvel de um canto mais afastado do
cômodo.
— Você fez alguma coisa no cabelo? – Léo continuou.
— Não fiz nada. – peguei uma mecha entre os dedos e olhei.
Meu cabelo estava com uma raiz escura bem grande. A última vez que tive o
prazer de ir em um salão, foi na semana que em que fui viajar, quando fiz
uma mega hidratação e retoquei as luzes. Isso foi há um ano. Pensando bem,
eu estava precisando fazer uma visitinha lá urgente.
Léo, alheio aos meus devaneios, se acomodou no sofá passando o braço pelo
encosto para tocar meu ombro com as pontas dos dedos.
— Então Ceci, se divertiu muito? – ele perguntou.
Suspirei e contei superficialmente para Léo o que eu fiz no tempo longe.
Quando terminei meu monólogo, ele contou que tinha passado na faculdade
de Direito e me colocou a par dos acontecimentos da nossa roda de amigos.
— Não quero falar muito da galera... – ele sorriu e chegou mais perto de
mim, olhando nos meus lábios, pronto para me beijar.
Por uma fração de segundo, olhei por cima do ombro de Léo e encontrei
Marlon assistindo a cena calmamente.
Léo percebeu a demora e interpretou isso como uma indecisão da minha
parte. Ele seguiu meu olhar e viu Marlon.
— Esse cara fica sempre aí, a espreita? – Léo questionou meio irritado.
— Marlon é meu guarda-costas. – falei sem clima para outra tentativa de
beijo.
Me afastei discretamente de Léo que se levantou e se convidou para ir até
meu quarto.
— Meu quarto está uma bagunça, Léo. E ainda estou um pouco cansada da
viagem. – menti descaradamente.
O quarto não estava tão bagunçado, nem eu estava tão cansada da viagem que
não poderia dedicar algum tempo a ele. Apenas não estava no clima para um
amasso sabendo que Marlon estaria no corredor.
— Você está me dispensando, princesa? – Léo perguntou passando o braço
pela minha cintura.
— Não... – olhei bem nos olhos verdes de Leonardo. – Só quero descansar
um pouco mais antes do meu pai chegar.
Léo beijou a ponta do meu nariz e falou:
—Ok, vou deixar você descansar.
Fui até o hall com ele.
— A gente se vê sábado. – falei.
— Até sábado, princesa. – Léo me deu um beijo apaixonada e se foi. Mas
antes deu uma encarada em Marlon tinha mudado de lugar e estava a vista.

•••

Toda aquela situação com Leonardo me deixou exausta mentalmente. Aliás,


eu já estava exausta desde que pousei no Brasil.
Procurei por Rosa na cozinha e não a encontrei.
Resolvi pegar algo para beliscar, vendo pelo relógio que ficava sob a
geladeira, que ainda faltava mais ou menos uma hora até meu pai chegar em
casa.
— Quer alguma coisa para comer? – perguntei a Marlon que me seguiu.
— Estou bem assim, senhorita.
Dei de ombros peguei um pequeno pote de sorvete de flocos, uma colher e
subi para o terraço. Obviamente, com Marlon na minha cola.
Sentei em uma das poltronas almofadas e fiquei observando finalzinho do pôr
do sol sob a lagoa do condomínio.
— Não é lindo? – perguntei olhando de relance para Marlon.
— É um dos mais bonitos que eu já vi. – ele respondeu fascinado.
O encanto foi quebrado quando as luzes automáticas se acenderam.
Dei um suspiro saudoso e levantei.
Voltei para o quarto tomei banho, me vesti e esperei Dr. Ivan chegar.

•••

Com meia hora de atraso, duas mensagens de desculpa e uma pizzaria inteira,
meu pai chegou.
Durante minha ausência nós nos falávamos religiosamente, todos os dias.
Mas nada, nenhuma tecnologia supera estar no abraço apertado de quem você
ama.
Meu pai mal desceu do carro e eu corri para ele como eu fazia quando era
criança.
— Minha Cecília. – ele falou com a voz embargada. – Meu amor, que
saudade.
Ivan me apertava forte enquanto eu chorava, molhando o terno dele com
minhas lágrimas.
— Pai... – solucei.
Ficamos alguns minutos do lado de fora, apenas abraçados.
O motorista do meu pai, abriu o porta malas e o cheiro delicioso de pizza
invadiu o ar.
— Marlon, – meu pai pediu sem me soltar. – você poderia ajudar o Borges?
— Sim senhor. – Marlon ajudou o motorista a retirar as quinze pizzas e os
cinco litros de refrigerante do carro.
Mas antes de entramos, Dr. Ivan pediu aos dois funcionários que levassem
algumas pizzas e refrigerantes para o outros seguranças.
Nos sentamos na cozinha junto com Rosa. Enquanto comíamos, meu pai
começou o interrogatório, com o se já não tivesse a par dos acontecimentos
em tempo real. Rosa fez algumas perguntas sobre a culinária de cada lugar,
sobre as belezas das fotos que eu enviava e sobre um assunto polêmico: os
homens de cada país. Fiquei um pouco envergonhada de falar daquilo na
frente do meu pai e desconversei.
Depois de devorarmos duas pizzas, Rosa e Dr. Ivan trocaram olhares,
senhorinha alegou cansaço e se retirou.
Observei aquilo calada e senti que era a hora de fazer as tão temidas
perguntas.
— Pai... – tentei começar com medo do que eu saberia. – O que está
acontecendo?
Meu pai se levantou, pegou as duas caixas vazias e jogou no lixo, para ganhar
tempo.
Um longo minuto se passou até que ele sentou novamente com um semblante
sério.
— Você sabe que eu amo o que eu faço. Sabe que é um trabalho muito
rentável. – Ivan olhou em volta, para a cozinha ultramoderna. – É o que eu
sonho em fazer desde que me entendo por gente. É que põe comida na mesa e
te proporciona viagens maravilhosas. Mas é um trabalho que se você irrita as
pessoas erradas, a coisa fica feia.
Não tinha condições de dizer nada, todo terror que me consumiu mais cedo
havia voltado.
— Você está entendendo, Ceci? – meu pai pegou minha mão.
— Quem você irritou? – minha voz saiu um pouco mais alto que um
sussurro.
— Ah filha, você não gostaria de saber.
— Pai, eu preciso saber. – falei soltando a mão dele. – Eu preciso saber
quem, desde quando está acontecendo e por quê.
— Tudo que você precisa é ficar segura.
— Claro, com um cara no meu pé 24 horas por dia. – falei ironicamente.
— Marlon é o melhor nesse ramo, Cecília. Eu não confiaria sua vida a
qualquer um.
Puxei o ar até ao máximo que meus pulmões suportaram e depois soltei
lentamente.
— No voo de volta para cá, eu tinha planos de entrar para uma faculdade, de
trabalhar... – desabafei. – Mas quando dei cara com um guarda-costas eu já
não sabia mais nada. Eu entendia que ser promotor de justiça tinha seus
riscos. Mas nunca eu esperava ter que viver sob a sombra do medo.
Meu pai me olhava tristemente. Eu não tinha percebido, mas ele envelhecera
bastante desde que eu o deixara há um ano. Não era mais aquele homem com
brilho no olhar e sorriso faceiro. Ainda estava bonito para quase 50 anos, mas
o estresse que o consumia por dentro, estava dando sinais por fora também.
Cheguei perto e o abracei forte. Ficamos em silêncio até que me deu um
estalo.
— Pai? – perguntei ainda no abraço dele. – Há quanto tempo o senhor vem
sofrendo ameaças?
Senti Dr. Ivan ficar tenso, me soltar e sair da cozinha. Eu o segui e vi quando
se sentou no grande e branco sofá, apoiou os cotovelos no joelho e abaixou a
cabeça.
— Pai? – fiquei de pé, esperando que ele me respondesse.
— Ceci... – foi tudo que ele disse quando me olhou como se pedisse
desculpas. Foi o que eu precisava para entender.
— A viagem para Europa... – falei baixo e ele assentiu. – Era meu sonho
desde os quinze anos e o senhor sempre foi contra. Aí do nada eu ganho um
ano de férias. – senti a pizza pesar no meu estômago.
— Me desculpa, Cecília. – meu pai se levantou e tentou tocar minha mão,
mas eu o afastei.
— Você deveria ter me contado... – um pequeno soluço escapou dos meus
lábios.
Ficamos nos olhando em silêncio. Eu abraçava meu próprio corpo, sentindo
as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Não vou aguentar perder o senhor também. – falei por fim.
— Eu não vou a lugar algum. – Ivan passou os braços por mim, beijando o
topo da minha cabeça.
Olhei para o lado e Marlon estava lá, silenciosamente nas sombras. Quando
foi pego espiando, ele abaixou os olhos para o chão.
Suspirei, sentindo o peso da conversa e do cansaço, dei um beijo no rosto do
meu pai, anunciando que ia me deitar.
Comecei a subir os degraus sem sentir a presença do meu guarda-costas.
Olhei para trás e vi ele se aproximar. Meu pai totalmente alheio a tudo isso,
se servia uma dose de uísque no mini bar.
Quando chegamos a porta do meu quarto perguntei a Marlon se ele passaria a
noite ali de pé como um sentinela. Ele respondeu que dali a pouco seria
substituído por outro segurança, mas que pela manhã, quando eu acordasse,
ele estaria ali.
Sorri, dei boa noite e me tranquei no lugar em que eu acreditava que poderia
esquecer o dia de merda que tive.
Fui direto para o banheiro, deixei a banheira enchendo enquanto fui ajeitar a
pequena desordem do quarto. Guardei as fotos que ainda estavam espalhadas
pela cama, escolhi um pijama e fui limpar o rosto para colocar uma máscara
hidratante.
Quase uma hora depois, tirei os fones de ouvido e máscara facial, saindo da
água já quase fria.
Minha mente já tinha desacelerado. Vesti minha camisola, apaguei todas as
luzes e entrei num sono pesado e sem sonhos.

▪▪▪

CAPITULO 3
CECILIA

O sábado chegou num piscar de olhos. Pela manhã, Marlon havia me levado
ao salão para retocar as luzes e fazer as unhas.
Quando voltamos, já estava na hora do almoço.
Rosa havia feito um almocinho leve: arroz branco, salada de batata e brócolis
cozido no vapor. De bebida, escolhi água de coco.
A amável senhora me fazia companhia, já que meu pai, excepcionalmente,
estava dando palestra em uma tradicional faculdade particular de BH.
No dia anterior, eu havia levantado antes do sol nascer, ido para o terraço e
meditado por quase uma hora. Depois disso, esvaziei as malas, distribuí as
lembrancinhas, preguei algumas fotos no memory board e comecei a ler um
livro picante que minhas amigas me deram para ler quanto o tédio batesse na
viagem. O mais engraçado é que o livro foi e voltou na minha mala de mão e
eu nem sequer toquei nele.
Assim que terminei de almoçar, subi para meu quarto para buscar o tal livro e
me deitei no sofá da sala. Rosa já havia ajeitado a cozinha e ido para seu
quarto fazer a sesta, me deixando sozinha com Marlon.
Não vou dizer que já me acostumara a ter um guarda-costas e que estava feliz
com alguém na minha cola o tempo inteiro. Mas sabendo que isso traria um
pouco de paz ao meu pai, ter Marlon por perto já não me incomodava tanto.
Por falar em Marlon, ele já estava por ali. Minutos antes, o segurança tinha
pedido permissão para usar a mesa da sala para fazer algo no notebook. O
que quer que seja o que Marlon fazia, ele estava muito concentrado.
Dei de ombros, e comecei a ler. A história falava de uma mulher que se
apaixonou por um CEO muito charmoso e bom de cama. Tinha cenas
picantes que me fizeram corar e olhar na direção de Marlon para ver se ele
me observava. Graças a Deus, não.
A leitura estava boa, fluída e quente. Mas mesmo assim eu acabei pegando no
sono, sendo acordada por Rosa quase duas horas depois. Ela tinha o telefone
sem fio na mão, dizendo que era Gabi, uma das minhas amigas.
— Cecília Bernardes, por que a senhorita não atende o celular? – Gabriela
gritou antes mesmo do meu alô. – Tive que ligar pro seu fixo. O que é uma
coisa absurda, ninguém em pleno 2020 faz isso.
Revirei os olhos me sentando direito e cruzando as pernas.
— Você já está se arrumando? – ela continuou. – Você tem que chegar
arrasando na casa do Léo. Julia Guimarães vai tá lá. – Gabriela fez um som
de desprezo. – Não sei quem convidou aquela ridícula. Aposto que foi o
Leonardo. Aliás, fiquei sabendo que você dispensou Léo outro dia. Ficou
louca?
Respirei fundo, apertando a ponte do nariz.
Ai, meu Deus.
— Posso falar? – perguntei depois que Gabriela ficou calada por mais de
cinco segundos. – Eu não dispensei Léo outro dia, só estava cansada. Tinha
acabado de chegar de viagem e o garoto queria dar um amasso? Calma aí,
né?!
Gabi riu.
— Léo nunca decepciona!
— Pois é. Mas me conta sobre a festa mais tarde. – falei mudando de assunto.
— Vai ser tipo aquelas do ensino médio, mas dessa vez com muita bebida. E
sem hora pra acabar. Os pais de Léo foram passar o fim de semana na
fazenda, então a casa é só nossa.
Nossa, meu pai vai adorar.
— Que ótimo. – fingi animação. – Mal posso esperar. Deixa eu ir escolher
meu look então Gabi. Beijos. – desliguei o telefone antes que ela tivesse
oportunidade de falar mais alguma coisa.
Deitei a cabeça no encosto do sofá, amaldiçoando a hora que eu concordei
com essa confraternização.
Larguei o telefone na mesinha ao lado do sofá e subi para o meu quarto.
Tinha comprado um vestido roxo lindo em Milão e usaria um scarpin nude de
tiras no tornozelo.
Mandei mensagem para meu pai, para lembrá-lo da festa e Dr. Ivan mandou
de volta um “divirta-se, meu bem". Estranho, muito estranho.
Depilei minhas pernas, passei um hidratante com partículas de brilho, fiz uma
make bem natural. Antes do banho eu tinha feito um coque alto e quando
soltei os cabelos, eles caíam em ondas.
Uma hora antes da festa eu já estava pronta. Desci as escadas com minha
mini bolsa preta a tiracolo, e vi Marlon me esperando. Ele parecia ter acabado
de tomar banho. Os cabelos estavam úmidos e bem penteados, a barba bem
aparada, além de um perfume discreto, mas extremamente masculino. E
obviamente, o terno preto estava lá.
— Já estamos de saída, senhorita? – ele perguntou.
— Vou comer alguma coisa primeiro. –falei indo para cozinha.
Rosa andava de um lado pro outro limpando, arrumando, mas quando botou
os olhos em mim, parou.
— Ceci, você está linda!
Dei uma voltinha tímida e agradeci.
— Rosa, tem alguma coisa para eu comer antes de sair? – perguntei abrindo a
geladeira e pegando uma coca cola. —Tô com medo de não ter nada lá além
de bebida.
Ela riu me empurrando para mesa e pegando uma vasilha com mini
sanduíches de pão de forma na geladeira que eu deixara aberta.
— Marlon? – chamei.
Meio segundo depois ele estava na minha frente.
— Senta aí e come um pouco. – falei. – Não sei se vai ter alguma coisa pra
comer naquele lugar, nem que horas vai acabar.
Ele tentou recusar, mas Rosa o fez sentar. Ela colocou um prato com alguns
sanduíches e uma lata de refrigerante na frente dele.
— Comam. — Rosa ordenou.
Ele não se fez de rogado e comeu. Olhei para Rosa e ela piscou para mim
pelas costas de Marlon dando um sorrisinho.
Acabei de comer e pedi licença para escovar os dentes e retocar o batom.
Quando voltei, Marlon já me esperava perto do carro com a porta de trás
aberta para mim.
Sorri e falei que ia no banco da frente. Ele rapidamente fechou uma porta e
abriu a outra. Coloquei o cinto enquanto ele dava partida no carro e expliquei
como chegava no condomínio de Léo.
Dez minutos depois, encostávamos o carro na porta da mansão. O som que se
fazia ouvir algumas casas antes, tocava algum rapper da moda.
Marlon olhou para casa cheia de jovens dançando com bebidas nas mãos e
arqueou as sobrancelhas.
Gemi e me encolhi no banco de couro.
— Tudo bem, senhorita? – ele perguntou.
— Sim. – respirei fundo. – Isso é bem maior que uma confraternização.
Ele riu baixo. Um som grave que me fez virar para ver se estava escutando
demais.
Marlon ainda tinha a sombra de sorriso nos lábios. E eu, os olhos arregalados.
— Seu amigo vem aí. – ele falou apontando com o queixo.
Ouvi alguém bater no vidro me assustando. A voz abafada pelo vidro fechado
chamava meu nome. Era Léo.
—Desce gatinha. – ele falou com uma voz melosa.
Fingi um sorriso me virando para Marlon meio apreensiva.
— Só vou estacionar o carro e volto.
Assenti, abrindo a porta. Antes dos meus pés tocarem o chão, Léo me
levantou me abraçando apertado.
— Linda e cheirosa. – ele falou enfiando o nariz no meu pescoço e beijando
bem ali.
— Obrigada. Agora me põe no chão. – falei empurrando de leve os ombros
dele.
Antes que ele pudesse fazer ou falar alguma coisa a tropa chegou: Gabi, Mel
e minha confidente, Míriam. Todas elas correram até onde eu estava e me
deram um abraço coletivo.
Todas falavam ao mesmo tempo. Sobre a festa, o vestido que eu estava
usando, o quanto sentiram minha falta, fofocas... Mas do nada elas se calaram
e o semblante de Léo que estava um pouco além do grupo, se fechou.
— Uau... – foi tudo que Míriam falou. E valeu pelas três garotas.
Não precisei virar para trás para saber que Marlon estava ali. Todas as
diferentes reações e o perfume amadeirado, o entregou.
— Ele vai ficar atrás de você o tempo todo, Ceci? – Léo perguntou meio
possessivo.
— Marlon, é meu guarda-costas, Leonardo. – falei calmamente. – Aonde eu
vou, ele vai.
— Eu não importaria em ter um guarda-costas. – Mel disse de maneira
oferecida. – Faz parecer que a gente é importante. Tipo Kylie Jenner.
Marlon e eu trocamos um breve olhar, que não passou despercebido por Léo,
que em nenhum momento tirava os olhos do meu segurança.
Como se a casa fosse dela, Gabi me puxou para dentro do imóvel. Quando vi
a decoração pensei que tinha entrado numa festa de criança. Na sala havia
alguns balões metálicos pendurados, um cartaz escrito à mão “BEM VINDA
CECÍLIA” e uma mesa com brigadeiros e cupcakes estava perto do sofá. As
bebidas estavam na cozinha, pois era lá o entra e sai de pessoas.
— Não ficou lindo? – Gabi gritou além da música.
Sorri e balancei a cabeça concordando.
Enquanto Gabriela ia até o som abaixar o volume, Míriam me puxou pelo
braço até um canto mais reservado.
— Normal? – ela disse em tom acusatório.
Eu a olhei sem entender.
— O guarda-costas, Cecília. – minha amiga indicou Marlon parado perto do
vão da escada. – Te perguntei como era seu segurança particular e você me
disse: “ah, normal.” – ela fez uma imitação ridícula da minha voz.
Eu apenas ri. A culpa não era minha se ela tinha na mente que todos os
guarda-costas eram tipo o da Anastasia Steele de 50 tons.
Míriam não teve a chance de fazer outra pergunta, pois fomos interrompidas
por Gabriela que me arrastou para a escada.
— O que você...– comecei a protestar, mas assim que ficamos na metade dos
degraus a música parou.
— Um minutinho, pessoal. – Gabi rapidamente captou a atenção das quase
50 pessoas que estavam ali. — Nossa querida Cecília, voltou.
Todas as pessoas gritaram e as que estavam sem nada na mão, bateram
palmas.
— A noite de hoje é da Ceci. – Gabriela continuou. – Vamos dar muito amor,
para nossa gringa. – todo mundo levantou os braços, como se mandassem
energia em minha direção.
Alguns segundos depois, a música estava tão alta quanto antes e continuei
parada, desta vez sozinha, no alto da escada.
Observei como as pessoas se movimentavam pela grande sala. Elas riam,
conversavam, bebiam. Num canto mais reservado um casal se agarrava.
Sentados em volta da mesinha de centro, quatro garotos e duas garotas
brincavam de verdade ou consequência com um líquido transparente, que
com certeza água não era.
Eu me sentia feliz em rever minhas amigas, por outro lado, me sentia
completamente deslocada do ambiente. Era como se eu não fizesse parte
daquilo.
Fui em direção a mesa de doces, peguei um brigadeiro e coloquei na boca.
Fechei os olhos e saboreei. Isso era uma das coisas que senti falta quando
estava fora. Peguei mais dois e comi de uma vez.
Procurei Marlon. Quando o avistei, ele tinha duas meninas de saias curtas e
saltos altíssimos no pé e fazia o melhor para ser educado e sair dali.
— Seu dono está bem ocupadinho, hein gata?!
Não precisei me virar para saber que era Léo. Ele estava com a voz meio
arrastada e cheirava álcool. Leonardo afundou o rosto no meu cabelo,
apoiando a cabeça no meu ombro e passando os braços pela minha cintura.
Encontrei o olhar mortal de Julia Guimarães do outro lado da sala, junto com
seu grupinho. Nós nunca nos bicamos, porém teve um tempo que ela,
estranhamente, quis ser minha amiga. Coincidentemente, na mesma época em
que Léo se mudou para nossa escola e começou a andar comigo.
— Léo? – chamei e ele parecia ter cochilado em pé, escorado em mim. —
Você comeu alguma coisa?
— Hmm... – Léo pensou. — Não.
Consegui me soltar ficando de frente para ele, peguei um brigadeiro e enfiei
na boca dele. E antes que Léo pudesse engolir, coloquei mais outro.
— Cecília, o que cê tá fazendo? – ele perguntou de boca cheia.
— Tentando te manter sóbrio. –respondi.
— Algum problema aqui? – Gabi se aproximou.
Apenas olhei para ela e ela entendeu.
— Tem salgadinhos na cozinha. – Gabriela falou. – Cadê Míriam?
— Eu ia te fazer essa pergunta agora. – disse colocando mais um brigadeiro
na boca de Léo. – Fica aí que eu vou buscar alguma coisa pra ele comer.
Ela assentiu.
Antes de entrar na cozinha eu já senti que estava sendo seguida.
Primeiramente, imaginei ser Marlon, mas quando me virei dei de cara com
Julia.
— Por que você voltou? – ela estava parada com as mãos na cintura.
Olá pra você também, vadia.
— Eu não te devo satisfações da minha vida, Julia. – falei calmamente,
enchendo um bowl com coxinha.
— Você não pode voltar a hora que quer e tomar o Léo de mim. – agora ela
havia cruzado os braços.
Peguei uma latinha de Coca-Cola na geladeira.
Ah, então era isso.
Dei uma risadinha e me virei para ela. Marlon nos observava a uma distância
segura. Discretamente, balancei a cabeça para que ele ficasse ali.
— Você está maluca. – falei passando por ela que segurou meu braço. Fiz
meu melhor olhar encapetado pra ela. – Tira a mão de mim agora.
Julia não esperava essa minha reação, tanto é que levou um pequeno susto
quando eu fiz menção de partir pra cima dela.
Meu coração estava disparado. Nunca precisei partir para violência com
alguém, nem mesmo ser ríspida. Mas aquilo ali passou dos limites. E de
alguma forma, naquele momento, senti que eu precisava me impor.
— Cecília? – Marlon chamou, me conduzindo para um canto entre a cozinha
e a sala. – Tudo bem? O que aconteceu?
Respirei fundo, encostando a cabeça na parede.
— Não foi nada. – respondi depois de um longo minuto. – Aquela garota
acha que eu sou uma ameaça para o futuro dela.
— Foi por conta daquele seu amigo? – ele questionou.
Assenti.
— Me espera aqui. – pedi para Marlon. – Só vou levar isso para ele.
Saí em direção aonde eu tinha deixado Gabi cuidando do bebum.
Gabriela havia arrumado uma cadeira para ele que tinha comido a metade dos
doces.
Fiz a minha melhor cara, e brinquei:
— Uau.. Deixa um pouco pra mim.
Leonardo olhou para mim todo derretido e riu com a boca suja de chocolate.
— Ah, tem mais algumas caixas disso na cozinha. – Gabi apontou com o
queixo para a mesa.
Entreguei o bowl e o refrigerante para Léo.
— Encontrou Míriam? – perguntei, entre uma mordida no cupcake.
— Você acredita que ela tava beijando o Tavinho lá na lateral da casa?
Fingi surpresa. Era de se esperar. Tavinho foi a paixão platônica de Míriam
durante todo ensino médio. Agora ela teve a oportunidade de beijá-lo e saber
se ele era aquilo tudo que a imaginação dela criou ou não.
Mel se juntou a nós, entre um brigadeiro e outro, perguntou onde estava “o
gostoso do meu segurança”. Sim, com essas palavras.
Dei de ombros, fingindo procurá-lo. Nisso, Míriam chegou praticamente
flutuando. Deitou a cabeça no meu ombro e suspirou.
— Ai meninas... – Míriam começou, mas parou quando viu Léo sentado ali. –
Ah, oi Léo. – ele deu um tchauzinho débil para ela e continuou a comer.
Mais pessoas se aproximaram do nosso grupinho, todas falando ao mesmo
tempo. Eu sorria, mas não fazia ideia do que eles falavam.. Meu eu solitário
já estava me chamando de volta à calma da minha casa.
Discretamente, mandei uma mensagem para Marlon para que ele levasse o
carro para a entrada dos fundos e me esperasse na cozinha. No dia anterior,
quando comentei da festa com meu pai, ele me obrigou a levar Marlon
comigo e me fez colocar o número do segurança nos meus contatos.
Pedi licença, alegando que ia levar algo para o meu guarda-costas comer e
saí.
Quando cheguei na cozinha, Marlon já estava lá. Perguntei se ele estava com
fome e ele sorriu tímido, mas assentiu.
Comecei a abrir algumas caixas de salgadinhos fazendo uma mistura de
coxinhas, empadinhas, bolinhas de queijo e presunto numa só caixa. Peguei
alguns brigadeiros e coloquei junto dos cupcakes, tudo isso sob o olhar
interessado de Marlon. Abri a geladeira e peguei duas Cocas.
— Pronto pra ir embora? – perguntei a ele, calmamente.
Empilhei as duas caixas, entreguei a Marlon que não questionou o que eu
estava fazendo. Abri a porta que dava para parte de trás da casa e saímos sem
ser vistos pela horda de jovens bêbados.
Marlon abriu a porta de trás, colocando a caixas sob o banco enquanto eu me
sentava na frente.
Meio minutos depois o carro arrancava para o mais longe possível dali.

▪▪▪
CAPITULO 4
CECILIA

Desliguei o celular tão logo a gente saiu do condomínio de Léo.


Tudo naquela festa havia se tornado um pesadelo pra mim. Me sentia
sufocada. Era como se eu estivesse naquele lugar apenas por obrigação.
Eu tinha amadurecido demais no último ano, mais ainda nos últimos dias.
Nada daquilo ali me trazia alegria. E agora, eu estava vivendo num mundo
paralelo, onde poucas pessoas sabiam, verdadeiramente, o que estava
acontecendo.
Eu tinha apenas 19 anos, mas era como se tivesse mais. Eu tinha problemas e
preocupações reais, não tinha paciência para todas aquelas coisas de jovem.
Então tinha fugido da minha própria festa. E nada foi tão libertador quanto
isso.
Quando Marlon parou o carro na orla da lagoa do meu condomínio, soltei o
ar que nem sabia que estava prendendo.
Entreguei para ele a latinha de refrigerante, descendo do carro. Peguei as
caixas no banco de trás e me escorei no capô morno do Audi.
Uma brisa fresquinha vinha da lagoa e soprava alguns fios de cabelo no meu
rosto.
— Aquela festa foi um fracasso – falei depois de um tempo.
Marlon olhava para a lagoa a frente e respondeu:
— Se me permite, não precisava de ser um gênio para perceber que a
senhorita não faz parte daquele meio.
Olhei para ele que comia tranquilamente.
— Não faço parte daquele meio? – eu quis entender.
— A senhorita é diferente. – Marlon me olhou de volta. – Eu não consigo
explicar direito. Todas as garotas da sua idade ficariam naquela festa até de
manhã, encheria a cara e treparia com o garoto mais idiota de lá.
Agradeci a iluminação baixa a minha volta, pois fiquei vermelha feito um
pimentão com as palavras dele.
Marlon sorriu. E pela primeira vez eu presenciava aquele feito desde o início.
— Desculpa. – ele pediu. – Eu não queria constranger a senhorita.
Bebi um pequeno gole da minha Coca e dei de ombros.
— Sou bem grandinha para não me constranger com essa palavra, Marlon.
— Qual palavra? – ele incitou.
Fechei a cara e olhei pra ele.
— Essa aí que você disse.
— Eu quero ouvir da sua boca, Cecília.
Desci do capô parando bem em frente a Marlon. Ele era bem alto, mas meus
saltos tiravam um pouco da diferença.
— O que aconteceu com o senhorita?
— Você me surpreende... – Marlon falou mais pra ele do que pra mim.
— Digo o mesmo. – retruquei cruzando os braços.
Ficamos um tempo nos encarando até que ele falou:
— Você é madura demais para algumas coisas e tão ingênua para outras.
— Você pode ser mais claro? – pedi. – Sobre exatamente o que estamos
falando?
— De você. – Marlon esticou as longas pernas, cruzando os tornozelos.
— Isso eu percebi. – falei sem paciência.
Ele riu. Três vezes no mesmo dia. Uau!
— Ok, vamos lá. – Marlon deixou a latinha de lado e cruzou os braços me
imitando. – Você é forte e madura para aceitar calmamente que seu pai está
sendo ameaçado de morte por pessoas muito perigosas.
Eu estremeci quando ele falou isso, mas consegui manter a pose.
— Mas fica vermelha quando escuta a palavra trepar.
Corei novamente.
— Antes de você voltar pro Brasil, eu estudei suas amizades. – Marlon falou
com uma tranquilidade irritante. – Suas amigas, os pais delas. Aquele
garoto...
— Leonardo. – falei e ele assentiu. – E o que você descobriu?
— Ele é um típico playboyzinho. Mimado, galinha e tem passagem na
polícia.
Mimado eu sabia. Galinha? Desconfiava. Mas passagem na polícia?
Quando eu fiquei muda, Marlon ajeitou a postura pronto para me pegar caso
eu desmaiasse ou coisa do tipo.
— Que crime ele cometeu? – perguntei depois de um tempo.
— Posse de drogas, embriaguez ao volante, desacato a autoridade. – Marlon
deu de ombros.
Lógico, o combo perfeito.
Engoli seco algumas vezes antes de falar.
— Mais alguma coisa? Algum cárcere privado, assassinato ou ocultação de
cadáver?
Marlon gargalhou.
— Não, nada disso. E todas suas amigas estão limpas.
Encostei novamente no carro e suspirei.
— Você tem alguma coisa com álcool por aí?
— Infelizmente, não.
Ficamos calados olhando a ondulação na lagoa.
— Acho que a vida que eu conhecia acabou quando fui embora.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Eu funguei, limpando minha bochecha
com as costas da mãos.
Marlon timidamente, passou o braço pelo meu ombro para me consolar
quando um soluço escapou dos meus lábios.
— Vai ficar tudo bem. – ele falou baixinho quando encostei a cabeça no peito
dele, deixando que o rio escapasse dos meus olhos.
Marlon deixou que eu chorasse. Meus sentimentos estavam a flor da pele.
O celular de Marlon tocou no bolso da calça e eu me afastei para deixá-lo
atender.
Alguém, muito provavelmente, fez perguntas a ele que respondeu “sim,
senhor” duas vezes antes de desligar.
— Seu pai. – Marlon falou se encostando novamente no carro. – Ele queria
saber se eu ainda estava de olho em você.
Dei um pequeno sorriso.
— Você quer ir para casa? – ele perguntou.
Balancei a cabeça positivamente.
Marlon pegou as duas latinhas vazias e jogou num cesto próximo da gente,
enquanto eu voltava com a caixa para o banco de trás.
— Marlon? – chamei quando ele colocou o cinto.
— Sim? – ele me olhava atento.
— Obrigada. – falei torcendo os dedos no colo.
— O prazer é todo meu. – Marlon respondeu dando partida no carro.
Eu podia jurar que ele estava sorrindo.

•••

Os dias viraram semanas e semanas meses. Dois meses e meio para ser mais
exata.
Nesse meio tempo, eu consegui fechar meus primeiros trabalhos no
Instagram e fazer meu próprio dinheiro. Era pouco na verdade, mas era fruto
do meu esforço nas mídias digitais.
E também havia começado o curso avançado de moda de uma famosa
estilista de BH e estava muito empolgada.
Só que com essa exposição veio a segurança redobrada. Todas as vezes que
eu tinha que fazer algo fora de casa, era uma luta. Além do carro blindado em
que Marlon e eu íamos, havia outro que nos seguia com mais dois homens
fortemente armados.
Essa foi a imposição do Dr. Ivan para que eu fizesse o curso e virasse digital
influencer.
Marlon se tornava cada vez mais próximo de mim, ao passo que eu me
afastava cada vez mais de Léo.
E como se não houvesse mudanças demais na minha vida, meu pai teve a
brilhante ideia de trazer uma “amiga" para almoçar no domingo.

•••

Pontualmente às onze da manhã a tal amiga chegou. Rosa e eu estávamos na


cozinha quando a campainha tocou e meu pai correu para atender.
Ela usava um body cinza com um decote generoso, uma saia branca com uma
fenda enorme e sandálias pretas. Os cabelos loiros caiam em ondas e o
perfume doce chegou na sala antes mesmo dela entrar.
Dr. Ivan parecia um menino quando ela o beijou timidamente os lábios.
A mulher olhou para a casa admirada até se dar conta que eu estava em pé
perto do sofá.
— Oi querida. – ela veio até mim e me abraçou como se fôssemos velhas
amigas. – Seu pai me falou que você era linda e ele tem razão. Que menina
linda, Ivan!
Forcei meu melhor sorriso. Aquilo aos meus ouvidos soava como uma grande
falsidade, mas eu iria ver até onde aquele papel se manteria.
— Cecília essa é a Tatiana. – meu pai falou.
Estiquei a mão formalmente para a mulher, que parecia ter plumas no lugar
dos dedos. Foi o aperto de mão mais frouxo que eu já vi.
Meu pai era todo sorrisos. Ele parecia orgulhoso em ver sua amiga e sua filha
se darem bem.
Quando o casal se acomodou no sofá, falei que ia na cozinha buscar alguns
aperitivos.
Rosa já me esperava com uma cara muito suspeita.
— O que foi aquilo? – perguntei.
— Ela já tinha vindo aqui algumas vezes. – Rosa confessou.
Olhei para ela como a menina do exorcista. A senhora levantou as mãos
como quem pedisse desculpas.
— Não queria influenciar sua opinião sobre a talzinha.
— Se é a primeira impressão é que fica, sinto muito... – dei de ombros.
Peguei a bandeja com canapés e suco, voltando para a sala.
Nunca na vida eu tinha visto meu pai daquela maneira. Parecia um
adolescente com a namoradinha. Era cafona e constrangedor ao mesmo
tempo. Mas se ele tava feliz quem era eu pra estragar tudo?
Os dois contaram como se conheceram. Tatiana era advogada e um dia
trombou com meu pai no fórum. Ela disse que se apaixonou por ele
instantaneamente, mas que Dr. Ivan era o homem mais difícil de se
conquistar. Eles já estavam juntos há uns sete meses.
Enquanto Tatiana falava mandei uma mensagem discreta para Marlon
pedindo para que ele aparecesse aqui em casa assim que pudesse. Aos
domingos, meu segurança ganhava uma folga do trabalho e de mim. Meio
segundo depois recebi a resposta, ele dizia que em meia hora estaria ali.
Para o almoço oficial de apresentação, meu pai preferiu comer na sala de
jantar. Ele queria algo com um pouco de pompa, diferente dos outros dias em
que a gente comia na mesa da cozinha mesmo.
Rosa havia feito lasanha caprese e salada verde e escolhido um vinho branco
da adega particular do meu pai. De sobremesa o bom e velho, petit gâteau.
Tatiana comia feito um passarinho, dava mais atenção ao vinho e ao meu pai
do que para a comida.
Meu celular que estava embaixo da perna vibrou discretamente, aparecendo
na tela “tô aqui".
Pedi licença e com a desculpa de ver se Rosa precisava de ajuda, me retirei.
Marlon já se encontrava atrás de um gigantesco pedaço de lasanha e
tradicional Coca-Cola. E pela primeira vez, estava sem terno. Ele vestia um
suéter cinza, um jeans escuro e coturnos. Estava sexy feito o diabo.
O filho da mãe sorriu pra mim e o traíra do meu coração disparou.
— Sentiu saudades? – ele perguntou.
— Você sabia que meu pai estava namorando? – o ignorei.
Ele riu, limpando a boca com o guardanapo.
— Sabia que ele estava saindo com uma mulher, mas o namoro é novidade
pra mim.
Ia falar algo, mas mordi o lábio.
— Você está com ciúmes? – Marlon me questionou.
—Não... É que... – tentei falar. – É só que eu não fui com a cara da Tatiana.
— Seria ciúme?
— Ah cala a boca. – fiz uma bolinha com o guardanapo de papel e taquei na
cabeça dele. – Ela foi investigada?
— Muito provavelmente sim. Mas não por mim.
Observava Rosa preparar o prato com as sobremesas quando Marlon captou
minha atenção.
— Se não por você, por quem?
— Borges é o segurança dele. Ele deve ter feito algum tipo de investigação
sobre a tal namorada.
Olhei para Marlon preocupada e ele entendeu.
— Ok, vou ver o que eu acho sobre ela. – dito isso, ele voltou a comer.
Rosa já se encaminhava para a sala levando a bandeja quando eu a
interceptei.
— Deixa que eu faço isso, Rosinha.
— Você é um anjo, Ceci. – ela me deu um beijo na bochecha.
Depois da sobremesa nos três nos sentamos no sofá da sala. Tatiana e eu
dispensamos o cafezinho, mas meu pai não. Isso era quase uma religião para
ele.
— Então Cecília, não quis seguir a carreira do seu pai? – ela perguntou.
— Não combina muito comigo. – respondi vagamente.
— Cecília quer ser famosa na internet. – meu pai falou.
— Mas é um trabalho tão instável. – Tatiana começou. – Dependendo da área
que você escolher, ela já pode está saturada, aí você vai ser só mais uma.
Dei um sorriso falso e falei encerrando o assunto:
— Eu sei bem o que eu quero, Tatiana. Agradeço pela preocupação, mas eu
tenho tudo sob controle.
Ela levou a mão no peito teatralmente.
— Não falei por mal, Ceci.
— É verdade, filha. Ela não falou nada além do que a gente já tenha
conversado.
—Mas se a gente já conversou sobre isso, não tem razão ficar remoendo o
assunto. – falei começando a ficar irritada.
— Desculpa, Cecília. – a mulherzinha pediu. – Não quero que você tenha
uma má impressão de mim.
Tarde demais.
— Tudo bem. – falei mais para encerrar aquela ladainha, do que para
realmente desculpá-la. Virando pro meu pai, perguntei:
— Terminou?
Ele olhou para a bandeja com a xícara de café dizendo:
— Deixa isso aí, Cecília. Daqui a pouco Rosa vem recolher.
— Eu não tô fazendo nada. – peguei a bandeja e fui me esconder na cozinha.
Rosa e Marlon tomavam café e conversavam na varanda que dava para a
piscina. Me juntei a eles.
— Ela já foi embora? – Rosa perguntou.
—Ainda não. – repondo me jogando em uma das cadeiras. – Mas se ela
demorar mais um pouco, vou tirá-la daqui a vassouradas.
Eles riram. Quis dizer que era a mais pura verdade, mas deixei quieto.
Algum tempo depois, meu pai e namoradinha apareceram para se despedir.
Meu pai apresentou rapidamente Rosa e Marlon para a mulher, que eu podia
jurar, comeu meu segurança com os olhos.
Eu a encarei fazendo-a ficar sem graça. E ela deu um sorrisinho como quem
tivesse captado a mensagem.
— Cecília? – meu pai chamou. – Tá no mundo da lua, filha?
Não, papaizinho querido. Estou apenas imaginando como seria arrastar a
cara da sua namoradinha no asfalto quente.
— Estava perguntando se você quer ir ao shopping agora, comigo e a
Tatiana?
— Não. Tenho que resolver algumas coisas aqui com Marlon. – sorri
afetadamente. – Fica para um outro dia.
— Uma pena. – a falsa falou. – Foi um prazer conhecer todos vocês. A
comida estava uma delícia. Obrigada.
Nós três murmuramos coisas inteligíveis e acenamos.
Só quando ouvimos o porta o se fechar é que relaxamos na cadeira.
— Não sei não. – Rosa começou. – Meu santo não bateu com o dela.
— Não é exclusividade sua, Rosa. – falei olhando para a piscina. – Sinto que
a gente vai ter muitos problemas com essa daí.

▪▪▪

CAPITULO 5
CECILIA

Fui acordada com um beijo quente na nuca. O cheiro de homem misturado


com o amadeirado do perfume me deixou acesa. A barba crescida arranhava
meu ombro e pescoço de um jeito sexy. Mas nada era mais sexy do que sentir
o quanto Marlon estava excitado.
Nós dois nus, embolados nos lençóis e o dia clareando pela fresta da cortina.
Virei ficando por cima e me esfreguei na grande ereção dele. Marlon deu um
sorriso de canto de boca e eu não resisti, grudei meus lábios nos dele. A mão
esquerda do meu guarda-costas segurava meu cabelo controlando a
intensidade do beijo, enquanto a direita descia pela minha bunda,
encontrando o ponto molhado entre as minhas pernas.
Ofeguei quando Marlon enfiou um dedo em mim, sussurrando no meu
ouvido o quanto eu era gostosa e estava pronta para ele.
Decidi tomar as rédeas, literalmente, e me sentei no pau de Marlon pronta
para cavalgá-lo. Escorreguei sobre o belo membro lentamente, sentindo cada
centímetro me preencher.
— Cecília... – foi tudo que ele conseguiu dizer entre dentes, se segurando
para não me jogar na cama e assumir o controle.
— Você gosta assim? – perguntei fingindo inocência, enquanto subia e descia
lentamente.
Marlon tentou se levantar, mas eu o empurrei pelo forte tórax bronzeado.
— Minha vez. – falei com a voz rouca.
Marlon puxava minha cintura para baixo, de encontro a pélvis dele, me
preenchendo por inteiro.
Nossos gemidos ecoavam pelo quarto. A umidade entre as minhas pernas
facilitava a penetração, fazendo Marlon ir mais fundo e mais rápido.
Eu estava quase lá e sentia que Marlon também. Os roucos gemidos e a veia
saltada na testa dele eram as provas.
Aquela aflição gostosa pré orgasmo começava a me tomar, uma ânsia por
mais e mais.
Tudo que ele podia me dar parecia pouco e ao mesmo tempo, era exatamente
o que eu precisava.
Marlon levou a mão para o meio das minhas coxas, me tocando aonde o
mundo girava. Não precisei de muito. Gozei olhando para o lindo rosto dele.
Marlon cerrou o maxilar, gemeu ferozmente.
— Olha pra mim. – ele segurou minha nuca quando minha cabeça pendeu e
meus olhos quiseram se fechar.
Marlon deu mais três estocadas até alcançar o próprio orgasmo, me puxando
para seu peito. Quando a névoa de prazer se dissipou, caí ao lado de Marlon
na cama e suspirei.
Meu coração ainda acelerado, não queria saber se o que tinha acontecido era
real ou imaginação.
Então abri os olhos. Estava na minha cama, tinha uma umidade conhecida
entre as minhas pernas, mas estava sozinha. Não tinha nenhum tipo de indício
de que Marlon estivera ali. Até porque, toda essa quente transa matinal havia
acontecido apenas na minha cabeça. Todo esse prazer que eu senti, que
realmente molhou minha calcinha, não passou de um sonho.
Afundei o rosto nos travesseiros com uma mistura de decepção e vergonha.
Porra. Eu tinha tido um sonho erótico com meu guarda-costas.
Fiquei alguns minutos relembrando o acontecido, sentindo o sangue
esquentar e o coração acelerar.
— Merda. – falei me levantando e indo tomar um banho para aplacar o fogo
que me consumia.
Depois de me trocar, resolvi descer para tomar um café para depois ir meditar
no terraço.

•••

Com os passar dos meses, minha amizade com Marlon se intensificou. Assim
como a presença de Tatiana aqui em casa.
A mulher começou a ganhar confiança e a entrar e sair da casa como se fosse
dona dela. Meu pai, muito provavelmente, dera a ela essa liberdade e isso não
me agradava nenhum pouco.
Tive a confirmação de que Tatiana não valia nada, no dia em que eu peguei
ela de babydoll se oferecendo para o meu segurança.
Antes mesmo de entrar na cozinha, eu senti o perfume doce da namorada do
meu pai e escutei Marlon responder algo que ela perguntou.
Resolvi esperar escondida do lado de fora para ver se algo aconteceria. E
bingo!
Não demorou muito e Tatiana havia cercado Marlon na ilha da cozinha se
esfregando nele. Ela tinha uma das mãos dentro do paletó dele e a outra
descia para a fivela do cinto. Marlon olhava assustado a investida e tentava,
delicadamente, afastá-la empurrando-a pelos ombros.
Fiquei paralisada com a cena. Por mais que eu esperasse algo assim daquela
mulher, não conseguia acreditar no nível de sem-vergonhice dela, atacando
sexualmente outro homem na casa do próprio namorado.
Me deixei ser vista por Marlon, que estava de frente para a porta e subi
silenciosamente para o meu quarto.
Estava enjoada com o que vi. Tatiana já dava indícios que “gostara” de
Marlon desde a primeira vez que ela o vira. Ela já o escolhera como presa.
Mas o que aconteceu não cozinha, eu não podia precisar se era a primeira vez
ou não.
Minutos depois que eu fechei a porta e me escorei nela, ouvi a leve batida.
Me assustei, dando um pequeno pulo.
— Cecília, abre a porta. – Marlon pediu.
Respirei fundo por um segundo e abri. Ele estava meio perturbado e entrou
para o quarto trancando a porta.
Me afastei um pouco e cruzei os braços sobre o peito esperando alguma
explicação.
Ficamos em silêncio, nos encarando por um longo tempo, até que ele falou:
— Você sabe o que você viu.
— Sei que aquela puta que se diz namorada do meu pai, estava pegando no
seu pau na cozinha. – respondi entre dentes.
Marlon se recompôs, assumindo a postura calma tão conhecida.
Puxei o ar com força e perguntei:
— Foi a primeira vez, Marlon?
— Que ela é tão atrevida assim? Sim, foi a primeira vez. Que ela se insinua
para mim? Não, isso já vem acontecendo há meses.
Mordi minha bochecha por dentro e virei o rosto queimando de ódio.
Esperei a vontade de matar a lambisgoia de babydoll passar.
— Por que você não me contou? – questionei um pouco mais calma.
— Por que eu conheço você, Cecília. – Marlon se aproximou, falando mais
baixo. – E sei bem o tipo de mulher que está dentro dessa casa, rondando
você e seu pai.
Agora ele tinha toda minha atenção.
Marlon foi até a janela e olhou pela cortina pesada.
— Ela está lá embaixo, tomando café a beira da piscina. – meu guarda-costas
falou.
— Como a rainha que ela pensa que é. – completei.
Ele voltou para perto de mim, me puxando para sentar na cama.
— Não faça uma cena de ciúme, nem fale nada do que você viu para o seu
pai. – Marlon disse sem nem um vestígio de humor. – Isso é bem mais do que
aparenta ser.
— E você vai me contar o que está acontecendo? Ou isso vai ser mais um
segredinho?
Marlon abaixou a cabeça, massageando o próprio pescoço e respirou fundo.
— Cecília...
— De novo não, Marlon. – falei. – Chega dessa merda. Já passamos da fase
de segredos.
Ele puxou o ar ruidosamente e soltou.
— Você tem que me prometer que não vai contar nada disso pro seu pai. E
que também não vai usar nada para confrontar aquela mulher. Nada de
indiretas ou coisas do tipo.
Minha mente pensava mil coisas ao mesmo tempo. Que porra seria essa
Tatiana?
— Me promete, Cecília. — Marlon pediu mais uma vez.
— Eu prometo, Marlon. – respondi entediada.
— Isso é sério!
— Eu já entendi, Marlon. – falei irritada. – Agora me conta o que está
acontecendo.
— Eu estava conversando com Borges, segurança do seu pai, sobre o que ele
sabia da tal Tatiana. O que ele me contou bate com o que você me disse: ela e
seu pai se conheceram no fórum, por acaso.
Eu estava atenta.
— Só que eu não acredito nessa história de se conheceram por acaso. –
Marlon continuou. – Quando eu vim trabalhar para seu pai, eu pedi um
histórico completo da vida de todas as pessoas do círculo familiar e de
amizades dele e seu. Desde quando seu pai tem algum tipo de relacionamento
com alguém que não seja o trabalho?
Não precisei pensar, falei na lata:
— Nunca.
Marlon apenas balançou a cabeça lentamente concordando.
— Pois é. E você não acha estranho essa mulher chegar e se apossar do Dr.
Ivan?
Pisquei meio assustada.
— Você acha que ela pode ser... – não consegui terminar a frase.
— É nesse ponto que eu queria chegar. – Marlon segurou minha mão um
pouco mais forte. – Eu ainda não sei a resposta. Por isso eu preciso da sua
paciência e discrição.
Assenti. Para proteger meu pai eu faria qualquer coisa.
Marlon deu um sorriso que não chegou aos olhos.
— Você vai deixar que ela continue te seduzindo? – perguntei assim que ele
se levantou. – Passando a mão em você?
Tentei não deixar transparecer o ciúme que já me tomava, e não era de hoje,
em relação ao meu segurança.
Marlon parou na minha frente me forçando a quase quebrar o pescoço para
olhá-lo. Aquela proximidade era quase insuportável para mim, eu estava com
o belo pacote dele na altura dos olhos.
— Isso te incomoda, Cecília? – ele perguntou com a voz baixa.
Engoli seco, tentando manter meus olhos nos olhos dele.
— Isso... Isso não é da minha conta. – dei de ombros.
Um sorriso sarcástico surgiu nos lábios dele. Marlon pegou uma mecha de
cabelo que tinha soltado e colocou atrás da minha orelha.
— Você é uma péssima mentirosa, Cecília. – ele falou agora sorrindo de
verdade. – Não sei o que vou fazer com você.
Tira minha roupa e me come.
Minha respiração se acelerou quando ele passou o indicador pela minha
bochecha.
Porra.
Marlon em nenhum momento tirou os olhos dos meus. Minha mente se
esvaziou de problemas e só pensava naquele homem gostoso e sexy na minha
frente.
— Estou esperando, Cecília. – a voz dele era, em todos os sentidos, música
para meus ouvidos.
— O quê? – perguntei num fio de voz.
— Te perguntei o que devo fazer com você. – ele mal se abalou.
Pisquei repetidas vezes tentando formular uma resposta coerente.
— Pode fazer o que você quiser... – eu disse baixinho, cometendo o erro de
olhar para a região pélvica dele.
Instintivamente, passei a língua nos lábios.
Marlon apertou os olhos, cerrando o maxilar.
— O que eu quiser? – ele engoliu seco.
Novamente, apenas balancei a cabeça.
Marlon se abaixou, deixando a boca próxima da minha. Sem perceber,
entreabri os lábios, esperando o beijo.
— Tem certeza disso? – ao falar, os lábios dele tocaram sutilmente os meus.
Aquilo estava me matando.
Levei uma das mãos ao pescoço de Marlon para não ter dúvidas de que ele se
afastaria e o beijei. Um beijo lento a princípio, mas em seguida me deitei na
cama, puxando- o para cima de mim. Ele apoiou o peso do corpo nos braços,
buscando espaço com a coxa direita entre as minhas pernas.
Minhas mãos saíram do belo rosto, indo parar dentro do paletó dele. O corpo
de Marlon emanava um calor gostoso, os músculos sob a camisa branca
estavam rígidos. Toquei- o nas costelas sendo surpreendida pela arma no
coldre. Abrimos os olhos juntos, ainda de lábios colados.
A boca de Marlon se curvou num sorriso quente e então, ele saiu de cima de
mim. Não sei por que, mas me senti fria sem o calor do corpo dele,
abandonada. Vi meu guarda-costas ajeitar o pau por cima da calça e não pude
deixar de me senti um tanto orgulhosa de ter causado aquilo nele. Minha
calcinha estava ensopada, e tinha sido apenas um beijo.
Ficamos os dois parados, olhando um para o outro sem nenhum
constrangimento, apenas envoltos na nevoa de desejo que pairava sob o
quarto.
O toque baixo do celular de Marlon nos trouxe pro mundo real. Quando ele
atendeu sua expressão mudou, o tesão deu lugar a uma pequena centelha de
preocupação.
— Chego aí em um minuto. – ele falou baixo, desligando e guardando o
telefone novamente no bolso da calça.
Marlon me olhou e eu apenas assenti. Ele se aproximou, tocando meu rosto
com as costas da mão e beijando levemente meus lábios, saindo em disparada
do quarto.
Andei meio aérea até o banheiro e vi meu reflexo no espelho. Minhas
bochechas estavam coradas, meus cabelos rebeldes davam a impressão de
nunca terem visto um pente. Mas o que fez meu ventre retorcer, foi minha
boca. Meus lábios estavam vermelhos e inchados, e a pele do meu queixo,
vermelha pelo contato com a barba de Marlon.
A única certeza que tinha era que eu nunca havia sido realmente beijada.
Nem o beijo/amasso mais quente com Léo me deixara daquele jeito. Marlon
mal tocou meu corpo, aliás, ele não havia tocado nada que não fosse meu
rosto, e eu fiquei rendida feito uma adolescente com hormônios borbulhantes.
Eu estava completamente de quatro pelo meu guarda-costas.

•••

Fiquei trancada no quarto até o almoço, quando Rosa finalmente apareceu.


— Ceci? – ela chamou uma vez abrindo a porta. – O almoço está pronto.
Eu estava absorta em um livro e mal vi as horas passarem.
— Vamos ter companhia? – perguntei e a senhora sorriu.
— Ela se foi depois do café da manhã.
— E Marlon? – eu não o via desde que ele saiu correndo do quarto.
— Está desde cedo no QG.
O QG era um quarto montado perto da piscina, onde um segurança
monitorava por TVs toda movimentação da casa e parte da rua. E também,
onde os seguranças faziam as reuniões.
— Você sabe se aconteceu alguma coisa, Rosa? – meu coração errou uma
batida.
— Acho que não, meu amor. – Rosa respondeu me tirando da cama e me
empurrando porta a fora. – Só reunião de praxe.
Eu queria acreditar naquilo. Mas não sei se seria certo me enganar a tal ponto.

▪▪▪
CAPITULO 6
MARLON

Duro.
Assim fui dormir, assim acordei.
E a culpada disso tudo tinha nome e sobrenome: Cecília Bernardes.
Desde que deixei-a no quarto após o beijo para resolver alguns problemas de
segurança da mansão, esse evento ficou a espreita na minha mente.
Antes de fazer a troca noturna da segurança, bati no quarto dela avisando que
iria me recolher. Cecília vestia uma camisola rosa de cetim, tinha os cabelos
soltos e estava descalça quando abriu a porta.
— Estou indo me deitar. – falei, tentando não olhar para o corpo dela.
Cecília encarou fixamente minha boca, antes de me olhar nos olhos.
— Entre, Marlon. – ela ordenou.
Entrei, ficando parado no meio do quarto como se fosse um gigantesco
elefante numa sala de porcelanas. Cecília se encostou na porta fechada com
os olhos ainda em mim.
Olhei para o grande quarto perfeitamente decorado. O ambiente era
organizado e bem feminino. Meu corpo cansado, viu na cama king size um
convite. Precisava urgentemente de um banho, uma cerveja e um pequeno
alívio.
Alívio.
Minha mente voltou para beijo de manhã e nas sensações que senti durante o
ato, me fazendo cometer o erro de me virar para Cecília e descer os olhos
para o corpo dela.
Ela tinha a camisola marcada pelos mamilos e as bochechas coradas. Não era
exclusivamente minha estar com desejo.
Cecília endireitou o corpo, tentando, inutilmente, parecer mais alta, mas tudo
que ela conseguiu com isso foi deixar os seios mais empinados e meu pau
duro.
— Você tem alguma novidade? – ela perguntou baixo.
Foco, foco.
— As coisas ainda estão meio nebulosas. – respondi, sem querer entrar em
detalhes.
Ela deu dois passos, se aproximando.
— Marlon...
Cobri a distância entre nós dois, pensando em agarrá‐la e jogá-la na cama,
mas desisti no último segundo. Apenas passei o dedo de leve no ombro de
Cecília, descendo pelo braço, fazendo-a arrepiar.
— Marlon... – a maneira que ela falou meu nome foi a coisa mais sensual que
ouvi. Ou seria só meu ouvido superexcitado?
Não esperei mais nada, a puxei para mim devorando aquela boca num beijo
faminto. O gemido de prazer que Cecília soltou quando nossos lábios se
tocaram, reverberou dentro da minha calça.
Porra. Eu estava no meu limite.
Ela afastou a boca de mim, me empurrando gentilmente em direção a cama.
Eu não podia deixar aquilo acontecer. Não daquela maneira. Não com o tesão
absurdo que eu estava.
Quem mandava em mim? Meu pau ou meu cérebro? No momento? Meu pau.
Me sentei na cama, colocando-a no meu colo. As pequenas, mas ágeis mãos
tiraram minha gravata, jogando-a num canto qualquer do quarto. Sem
desgrudar minha boca da dela, me livrei do paletó, em seguida, ela arrebentou
os botões da minha camisa branca.
As finas alças da camisola escorregaram pelo ombros, me dando total acesso
aos belos seios de Cecília. Minhas mãos, automaticamente, foram em direção
a eles. Cecília perdeu o fôlego quando minha boca tocou o mamilo esquerdo.
— Ah... – foi tudo que ela conseguiu dizer quando minha língua tocou o pico
rosado.
Cecília se esfregava na minha ereção sem nenhum pudor. Com a mão direita
apertei a bunda dela, trazendo-a mais pra perto de mim. Com a esquerda,
peguei um punhado daquele cabelo sedoso, liberando acesso ao pescoço
delgado.
— Marlon... – ela choramingou quando passei a língua do lóbulo da orelha
até a clavícula, indo e voltando.
Deitei-a na cama, puxando a camisola pela cintura de Cecília, deixando-a
apenas de calcinha. Parei por um minuto e apenas observei. Ela tinha os
cabelos espalhados pelo lençol, as bochechas coradas e estava tão molhada,
que era visível na calcinha.
Ela tentou cobrir os seios, mas eu a impedi.
— Me deixa te olhar... – pedi.
Lentamente, ela desceu as mãos até o cós da calcinha, começando abaixá-la.
Meu pau se contorceu preso na cueca e eu sorri fazendo o resto do trabalho
para ela.
Porra. Cecília era linda. Tinha a pele completamente branca, mas era rosada
nos lugares certos.
Tirei minha camisa e me deitei sobre ela, beijando-a os lábios. Cecília
enroscou as pernas na minha cintura, agarrando meu cabelos. Gemi agarrado
a boca dela, deslizando os dedos pelas laterais do corpo esguio, sentindo os
arrepios e tremores de prazer.
Me levantei começando a depositar beijos no rosto dela, descendo pelo
pescoço, seios e barriga, até chegar no monte liso entre as pernas.
Cecília ficou tensa e arregalou os olhos.
— Tudo bem? – perguntei preocupado.
— É que eu nunca... – ela deixou a frase no ar.
Fui até os lábios dela e os beijei com carinho.
— Você quer continuar? – perguntei baixinho, olhando-a nos olhos.
Ela apenas balançou a cabeça lentamente confirmando.
—Preciso te ouvir, Cecília. – falei, me levantando.
— Continua. – ela respondeu meio tímida. – Por favor.
Meu coração atropelou uma batida.
Eu sorri, me ajoelhando entre as pernas dela. Cecília se apoiou nos cotovelos
para me observar trabalhar.
Beijei a parte interna das coxas dela, colocando-as sobre meus ombros e
mergulhei na carne macia e rosada, passando a língua no clitóris inchado,
fazendo Cecília apertar meu rosto entre suas pernas.
Minha mão direita subiu até os lábios entreabertos de Cecília, que os sugou
com os olhos fixos em mim.
Minha língua fazia caminho pelas dobras úmidas, arrancando gemidos
sensuais e pedidos de por favor cada vez que eu me afastava. Percebi que o
orgasmo estava próximo para ela e intensifiquei o ritmo da chupada.
Cecília se jogou na cama, puxando meu cabelo com uma mão e os lençóis
com a outra.
— Ah meus Deus... Marlon!
Não parei até que ela estivesse tremendo sob minha língua.
Na minha calça, meu pau tinha feito o trabalho sozinho. Eu tinha gozando
sem nem me tocar.
Cecília se encontrava num estado êxtase, com os olhos cerrados, ela
balbuciava coisas sem sentido.
Me deitei ao lado dela.
— Você está bem? – perguntei assim que ela virou de lado, ficando de frente
para mim.
Primeiro ela suspirou. Depois soltou o puta que pariu mais lindo que eu já
ouvi na vida. Rimos juntos. Então eu a puxei para meu braços e a beijei
lentamente.
Cecília estava quase dormindo quando eu me levantei.
— Aonde você vai? – ela perguntou com a voz rouca.
— Buscar uma toalha para te limpar e depois ir para o meu quarto. – respondi
indo para o banheiro.
Nunca tinha entrado ali. Havia uma infinidade de produtos de beleza na
bancada, uma bela banheira e uma pilha de toalhas brancas.
Catei uma molhando-a na água morna do chuveiro e voltei para o quarto.
Ela estava meio sonolenta, mas despertou por completo quando a toalha
tocou lhe a parte sensível da vagina.
— Doeu? – perguntei.
Cecília mordeu o lábio, balançando a cabeça negativamente.
Dei um sorriso sacana, beijando perto do umbigo dela.
— Tenho que ir. – falei pegando a camisola dela.
Ela me olhou abandonada.
— A gente não pode continuar? – Cecília perguntou.
— Seu pai pode voltar a qualquer momento. –juntei minhas roupas.
Cecília pegou minha mão. Por um momento eu quase toquei o foda-se e me
deitei ali com ela.
— Sua primeira vez tem que ser especial. – falei. – Não com tempo contado e
com a possibilidade de alguém interromper.
Ela riu.
— O quê?
— Minha primeira vez? – ela riu de novo.
— É, sua primeira vez. – falei sem entender. — Vai me dizer que você não é
virgem?
Ela balançou a cabeça.
— O que te fez pensar que eu era virgem?
Quase me enforquei com a gravata.
— Você disse que nunca havia feito...
— Sexo oral, Marlon!
Ela riu novamente. Agora uma gargalhada.
— Meu Deus, Cecília!!! – peguei-a no colo. – Eu quase morri tentando me
controlar para não meter em você.
Ela beijou minha boca inocentemente.
— Desculpa, Marlon.
— Com uma condição. Quero aquela calcinha pra mim. – falei, apontando
com o queixo para o pedaço de pano embolado no chão.
Ela desceu do meu colo, se abaixou sensualmente, pegou a calcinha como se
fosse algo ilegal e colocou a minha mão.
Cecília riu, colocando o dedo em triste sobre a boca. Assenti e me virei para
sair.
— Não está esquecendo nada? – ela perguntou.
Voltei para beijá-la.
— Sua arma, Sr. Torres. – Cecília apontou para o lugar onde eu deixara
minha fiel escudeira depois que tirei o paletó.
— Obrigado, senhorita Bernardes.
— Foi um prazer, Marlon. – ela falou de maneira séria fechando a porta e me
largando no corredor como de costume.

•••

Saí do quarto de Cecília meio trôpego. O caminho até a casa da piscina, onde
eu morava desde a volta dela, pareceu dez vezes mais longo. Tudo que eu
queria fazer era voltar para o aconchego dos braços da garota de camisola
rosa.
Cumprimentei o segurança que fazia a ronda, o da sala de monitoramento e
me tranquei no meu quarto.
Tirei as roupas rapidamente me enfiando na água fria no chuveiro. Fiquei um
bom tempo deixando a água escorrer pelo meu corpo e aliviar o tesão que
ainda me consumia. Não adiantou. Desliguei a água, me enrolei na toalha
indo para a cama. Entrei debaixo do lençol pelado mesmo.
Tentei fechar os olhos e dormir, mas eu só pensava em Cecília se
contorcendo na minha língua. Pensava na respiração pesada, nos gemidos e
gritinhos de prazer, nela chamando meu nome enquanto gozava.
Puxei o ar com força, estiquei o braço até o criado mudo e peguei a calcinha
dela. Senti o cheiro do prazer de Cecília e desci a mão para o meu pau.
Porra. Eu tinha dado um puta prazer pra Cecília, gozado na roupa e agora eu
tava ali com as bolas roxas de novo.
Envolvi a cabeça do meu pau com uma mão e estremeci. Com a outra alisei
todo o comprimento, antes de começar um intenso vai e vem.
Pensei nos lábios vermelhos e inchados, na pele branquinha ganhando um
intenso rubor a medida que o orgasmo a consumia, no doce gosto entre as
pernas dela.
Não precisei de muito. No segundo em que terminei de reviver na minha
memória o ápice do prazer de Cecília, eu gozei. Gozei sujando toda minha
mão e barriga. Gozei desejando que ela estivesse ali.
Peguei a toalha jogada no chão perto da cama, me limpei e caí no sono.

•••

O dia mal amanheceu e fui acordado por Moraes, um dos seguranças. Saí de
um sonho quente que me deixou de pau duro, para dar de frente com a cara
feia dele falando que tinha novidades.
Quinze minutos depois estávamos todos reunidos na sala de briefing.
Tinha chegado a informação de que a rota de fuga de Dr. Ivan fora passada
para os caras da facção que queriam a cabeça dele. E seria meu trabalho e de
Borges resolver isso.
Contra minha vontade, destaquei outro guarda-costas para fazer a segurança
de Cecília e me afundei no mapa da cidade a procura de rotas alternativas.
Minutos antes da hora rotineira da saída do promotor, tínhamos o caminho
ideal tanto para ida quanto para volta.
No trajeto de ida, tudo ocorreu dentro da normalidade. O problema aconteceu
faltando uma hora para o homem deixar o fórum.
Dr. Ivan recebera um envelope com diversas fotos, tanto dele quanto de
Cecília.
Isso deixou o promotor branco feito um papel. E me deixou com muito,
muito ódio.
Fotos dela entrando no prédio da escola de moda, no shopping, fazendo ioga
no terraço, de biquíni na piscina.
Além do dizer: “ VOCÊ SABE QUE ESTAMOS DE OLHO.”
Ivan começou a juntar as coisas, querer ir embora, ligar para Cecília afoito.
Mas eu o parei.
— Calma, Dr. – falei, ligando para o chefe da segurança da casa na minha
ausência.
Depois de alguns minutos, repassei a informação de que estava tudo tranquilo
na mansão, que poderíamos ir embora pela rota combinada e quando
chegasse em casa, decidiríamos os próximos passos.
Revisamos o esquema de saída e fomos em direção ao carro blindado. O
segundo grupo de seguranças já estava a postos, verificando o perímetro.
Borges dirigia atento, eu estava ao lado dele, com a arma pronta para ser
usada debaixo da perna.
Antes de chegarmos em casa, Dr. Ivan pediu que a nova ameaça ficasse
apenas entre a gente. Assentimos, pois era mais do que questão de manter o
emprego, era questão de vida ou morte.

▪▪▪

CAPITULO 7
CECILIA
Literalmente, de um dia para o outro a segurança aumentou
exponencialmente, fazendo o número de homens pela propriedade triplicar.
No dia anterior, meu pai e todos os seguranças se trancaram no escritório por
horas, me deixando por fora de todo e qualquer assunto.
Na hora do jantar, eles ainda estavam lá, me restando comer na companhia de
Rosa e Kevin, o segurança que Marlon havia designado para mim.
Assim que a reunião terminou, todos os seguranças foram para seus postos e
meu pai direto para o quarto, alegando dor de cabeça.
O clima estava pesado, e obviamente alguma coisa havia acontecido.
Fui tomar banho enquanto esperava Marlon aparecer para substituir o outro
guarda-costas. Aguardei por quase uma hora e nada dele.
Vesti um robe, abri a porta e perguntei a Kevin onde estava Marlon.
— Está na sala de briefing, senhorita.
Assenti e fui me encaminhando para lá, sendo seguida por Kevin.
— Tá tudo bem. – falei quando ele começou a me seguir. – Pode ir descansar.
— Senhorita...
— É uma ordem, Kevin. – fui firme.
Eu odiava ficar dando ordens a eles, mas as vezes as coisas só funcionavam
assim.
Kevin assentiu e foi para o alojamento construído unicamente para os
seguranças, do lado oposto à casa da piscina.
Um homem alto, fortemente armado fumava perto da entrada. Quando me
viu, ele se assustou.
— Senhorita.
— Boa noite. Marlon está? – perguntei.
— Sim, – ele respondeu – ele subiu pra o quarto.
— Posso? – questionei.
— Claro. – o homem arregalou os olhos, abrindo a porta para mim.
Lá dentro tinha mais três seguranças, também armados, sentados olhando
para uma parede de televisores de onde se via toda a movimentação da casa.
— Ei!? – o cara da porta chamou a atenção deles.
Eles se voltaram para mim, ficando todos de pé.
— Boa noite. – falei educadamente.
Os homens responderam meio sem jeito.
— Marlon? – falei apontando para as escadas.
— Segunda porta a esquerda. – o segurança careca respondeu.
— Obrigada. – falei, subindo os degraus com o coração acelerado.
Fiquei de frente para a porta branca, e vi que por baixo dela a luz estava
acessa. Bati duas vezes e esperei.
Marlon demorou um pouco para abrir, mas quando o fez eu tive a visão do
paraíso. Ele estava enrolado na toalha, com o corpo cheio de gotículas de
água.
— Cecília? – o semblante dele estava sério. – Aconteceu alguma coisa?
— Eu que deveria fazer essa pergunta. – apertei ansiosamente o laço do robe.
– Posso entrar?
— Claro. – ele abriu mais a porta. – Desculpa, é que eu não esperava ver
você por aqui.
— Quer que eu vá embora? – perguntei, enquanto esquadrinhava o quarto
minimalista e neutro do meu segurança.
— Não. – Marlon falou rápido demais. – Não. Eu tinha acabado de entrar no
chuveiro.
Olhei com desejo para o corpo dele, assenti e sorri.
— Você se importa de esperar? – ele perguntou, tampando a toalha na região
da virilha.
— Claro que não. – me sentei na cama dele, cruzando as pernas. – Vai lá.
— Não demoro. – Marlon correu para o banheiro, deixando a porta
encostada.
Esperei ele ligar o chuveiro para começar a observar direito o ambiente.
Não tinha nada pessoal avista. A única coisa que indicava que era um homem
que dormia ali, era a roupa de cama azul marinho.
Olhei o travesseiro e não resisti. Puxei um até o nariz e respirei fundo,
absorvendo aquele perfume masculino delicioso. Apenas o cheiro do tecido
era suficiente para me deixar quente.
Ouvi Marlon desligar o chuveiro e rapidamente devolvi o travesseiro para o
lugar, fingindo que nada tinha acontecido.
— Demorei? – ele perguntou, indo em direção ao guarda roupa embutido.
— Não. – respondi distraidamente.
Puxei as pernas para cima da cama, observando ele escolher uma calça de
moletom cinza. Nenhuma camisa.
Marlon que estava de costas para mim, deu uma olhadinha por cima do
ombro e soltou a toalha da cintura.
Juro que pude ouvir uma risadinha quando eu resfoleguei.
Ele vestiu a calça de uma maneira tipicamente masculina e sexy.
Cueca? Não temos.
Eu era uma mera espectadora. Via Marlon andar de um lado para o outro
fazendo o que ele tinha que fazer com um desejo contido.
Quando ele finalmente parou, eu mal lembrava o que tinha ido fazer ali no
quarto dele.
— Então, a que devo a honra? – Marlon perguntou se sentando na minha
frente.
Mudei de posição, sentando em cima das pernas, sem tirar os olhos daquele
corpo bronzeado.
— Você sumiu o dia todo. – falei quando consegui olhar pro rosto dele.
— Eu estava resolvendo questões de segurança.
— Aconteceu alguma coisa? – meu coração apertou.
Marlon brincou com meus dedos, e nós dois abaixamos os olhos para eles.
Um simples toque me fazia querer agarrá-lo.
— Não. – ele respondeu depois de um tempo. – Amanhã eu volto pra você.
Meu coração quase parou. Como assim volta pra mim?
Lambi os lábios instintivamente. Marlon captou a mensagem. Ele se
aproximou, tocando meu rosto com as costas das mãos. A boca roçou de leve
a minha e eu capturei o lábio inferior dele com os dentes.
Envolvi os braços no pescoço dele, intensificando o beijo. Marlon mudou de
posição e eu também. Me deitei, trazendo-o pra cima de mim.
A fenda do meu robe se abriu e minha camisola subiu, dando a ele espaço
suficiente para trabalhar como quisesse em mim.
Já sentia o pau dele duro se esfregando contra com minha calcinha. Aquilo
era muito bom, mas eu precisava dele dentro de mim.
— Marlon... – falei rouca.
Em resposta, ele tornou o beijo feroz. Puxou minha coxa para a cintura,
passou os dentes pelo meu pescoço e com a mão livre, abriu meu robe.
— Tão cheirosa... – Marlon falou enfiando o nariz no meu pescoço e cabelo.
— Marlon? – chamei.
— Hum? – ele beijava todo meu colo e começava descer para os seios.
— Quero você dentro de mim.
Marlon estacou, me olhando intensamente. Aquele olhar molhou minha
calcinha e muito provavelmente, a calça dele.
— Cecília... – ele começou.
— Eu não aguento mais ficar na vontade. – reclamei.
Ele ainda me encarava. Acho que ele decidia se ia em frente ou não.
— Se você estiver preocupado com os outros seguranças lá embaixo, eu
posso prometer que não vou gritar.
Ele riu, passando a mão pelos cabelos.
— Uma rapidinha. – insisti. – Eu gozo, você goza, depois eu vou pro meu
quarto.
— Eu não consigo parar de pensar em você, Cecília.
Meu coração me traiu, batendo descompassado.
— Eu quero uma noite inteira com você. – ia protestar, mas ele me impediu.
– Mas eu vou me contentar com uma rapidinha.
Eu queria gritar!!!
Comecei a tirar a roupa, mas ele falou:
— Tira apenas a calcinha.
Marlon foi até o criado mudo, pegando uma camisinha e vestindo-a. Ele
abaixou a calça suficiente para expor o pau e se deitou em cima mim, me
beijando enquanto dois dedos me tocavam lá embaixo. Estava pronta pra ele
desde quando eu cheguei naquele quarto.
Ele me olhou pela última vez, sério, meio que pedindo uma confirmação e eu
assenti.
Marlon se ajoelhou entre minha pernas arreganhadas, se pondo bem na
entrada da minha boceta. Pincelou aquele lugar úmido algumas vezes, me
fazendo contrair de tesão.
— Marlon... – implorei.
Ele sorriu, introduzindo aquela cabeça enorme em mim.
Puta que pariu.
Eu não era virgem, mas Marlon me fez sentir como se eu nunca tivesse tido
um pau dentro de mim. Mas pensando bem, eu nunca tinha tido um pau
daquele tamanho nem na imaginação.
— Você vai me partir ao meio, Marlon. – falei.
Ele gargalhou.
— Quer parar?
— Pelo amor de Deus, não.
Eu não transava desde a antes da viagem e isso foi há séculos. Estava apenas
desacostumada e ainda tinha um grande exemplar no meio das pernas.
— Eu vou devagar. – Marlon afirmou e eu neguei.
— Não. Forte e rápido.
— Cecília.
— Que se dane se eu não vou conseguir nem andar amanhã, Marlon.
Ele quis retrucar, mas eu continuei:
— Me come, Marlon.
E foi o que ele fez. Forte, rápido, grande e grosso.
Eu ia me arrepender, e muito, amanhã? Sim.
Marlon deslizava para dentro de mim com mais facilidade agora, mas isso
não me impedia de sentir um pouco de dor.
Enlacei as pernas na cintura dele, me entregando àquele prazer absurdo. Ele
estocava relativamente forte, arrancando gritinhos de mim.
— Xiii... – ele colocou a mão sobre minha boca.
Marlon se aproximou do meu ouvido, sussurrando coisas sexies para me
incentivar a gozar, enquanto levava uma mão para o meio das minhas pernas.
— Cecília, eu não vou durar muito mais. – ele falou entre dentes.
E nem precisava, pois no segundo seguinte que ele falou isso, eu gozei.
Marlon soltou um gemido abafado no meu pescoço e soltou todo o peso em
cima de mim.
Ele ainda tinha pequenos espasmos e minhas pernas enroladas nele. Minhas
mãos subiam e desciam pelas costas malhadas e suadas do meu guarda-
costas.
Marlon me beijou e se levantou, mas eu segurei a mão dele.
— Hoje não. – falei e ele me olhou sem entender. – Não quero ser limpa hoje,
Marlon.
Ele mal acreditou no que ouviu. Eu me levantei, amarrando meu robe e
ajeitando meu cabelo.
Fiquei na ponta dos pés, beijando intensamente.
— Até amanhã. – falei saindo do quarto, ciente de que tinha deixado em cima
da cama outra calcinha para a coleção dele.

•••

Um falatório me despertou. Várias pessoas falando ao mesmo tempo. Mas


não me importei, fiquei naquele limbo entre estar dormindo e estar
definitivamente acordada .
Lembrei em ontem e sorri. Tinha sido delicioso. Me espreguicei, sentindo
uma dorzinha gostosa no baixo ventre.
Marlon.
Suspirei.
Gritos histéricos. Mais pessoas falando.
A voz insuportável de Tatiana.
Me levantei, indo até a janela e assistindo a confusão no portão de entrada da
mansão.
Catei meu robe e meio segundo depois estava na sala prestes a sair da casa.
Rosa me interceptou.
— Menina se eu fosse você não chegava nem perto daquela bagunça ali. – ela
apontou para fora.
— O que está acontecendo?
— A segurança foi reforçada e acredito eu, aquela mulherzinha não tem
permissão para entrar. – Rosa respondeu parecendo feliz.
— Tem umas meia hora que ela tá insistindo para entrar.
— Meu pai tá em casa? – perguntei indo pegar uma xícara de café na
cozinha.
— Não. – Rosa me ofereceu panquecas. – Saiu cedinho com Borges.
— E Marlon? – tentei não demonstrar ansiedade na voz.
— Estou aqui. – ele mesmo respondeu.
Me coração o recepcionou aos pulos.
Ele cumprimentou Rosa que o obrigou a sentar, já servindo-o café e
panquecas também.
O cheio do perfume dele invadiu meu nariz e intoxicou meu cérebro, que
mandou uma mensagem para minha boceta que desejou um excelente dia
para meu segurança.
Apertei as coxas e Marlon percebeu, sorrindo.
Rosa bebia uma xícara de café olhando a confusão pela janela da cozinha,
alheia a tensão sexual em que eu me encontrava.
— Dormiu bem? – Marlon perguntou.
— Melhor impossível. – respondi num sussurro.
A mão dele deslizou pela minha coxa sob a camisola, passeando pela minha
pele até chegar na minha virilha.
Ele parou com a xícara no meio do caminho até a boca e me olhou com os
olhos cheios de desejo. Eu retribuí o olhar, abrindo as pernas um pouco mais.
Rosa ainda observava a bagunça de Tatiana e falava algo que eu não fazia
ideia o que era. Até que ela se virou, olhando para nós dois.
— ... não é, Cecília?
Assustada, fechei as pernas apertando a mão de Marlon bem lá, entre elas.
— Desculpa, Rosa, eu não entendi o que você falou.
— Falei que aquela biscate poderia ser proibida de entrar aqui para sempre.
Reprimi um gemido quando Marlon enfiou um dedo em mim.
— Eu passaria o carro em cima dela se fosse possível. – respondi.
— E eu estaria no banco do carona. – Rosa completou.
Marlon fazia uma cara de paisagem, enquanto eu estava quase gozando.
Discretamente, levei a mão ao pau dele e apertei. Ele me olhou, engolindo
seco e tirou meus dedos dali, balançando a cabeça negativamente.
Me levantei de súbito, dando Marlon milésimos para tirar a mão de mim, e
anunciei que estaria no meu quarto fazendo uma aula online.
Subi as escadas rapidamente com Marlon na minha cola.
— Você fica do lado de fora. – falei fechando a porta na cara dele.
Respirei fundo e fui fazer minha higiene. Só destranquei a porta quando Rosa
veio me chamar para almoçar, avisando que meu pai já tinha chegado.
— Em casa pro almoço, Dr. Ivan? – perguntei, dando um beijo no rosto dele.
— Oi, meu amor. – ele me abraçou. – Tive um tempo livre e resolvi almoçar
com minha filha.
Dei um sorriso, me encaminhando para a mesa de jantar onde nós
costumávamos comer.
Vi Marlon de relance na cozinha, mas o ignorei de propósito.
Começamos a servir o nhoque saboroso, que só Rosa sabia fazer.
— Então Ceci, eu tava pensando – meu pai falou depois de duas garfadas. –
se você não queria passar o final de semana num lugar tranquilo, com
cachoeira...
Bebi um gole do vinho branco, olhando para Ivan meio desconfiada.
— Por quê?
Ele ficou meio encabulado e tentou ganhar tempo bebendo água com gás de
todo almoço.
— Você poderia passar um tempo com seus amigos. – ele deu ombros. – Tem
algum tempo que não vejo nenhum por aqui.
Realmente, eu tinha me afastado e muito de todos meus amigos. Eu não me
via mais andando com aquelas pessoas. Além do mais, tinha toda aquela
coisa da segurança exagerada, e meu curso de moda que eu tinha mudado
para a versão online que consumia muito do meu tempo. As vezes chegava
alguma mensagem de Gabi e Míriam, mas era muito mais por educação do
que saudade. Elas estavam envolvidas com a faculdade e tudo mais, tanto que
eu deixei pra lá.
— Todos agora são adultos, pai. Temos responsabilidades, ninguém tem
tempo de ficar trancado no quarto de fofoquinha a tarde toda.
Dr. Ivan me olhou com se aprovasse meu comportamento.
— Ok. Mas você quer ir mesmo assim?
— Quê!? – quase gritei. – Dr. Ivan, o senhor está me expulsando da minha
própria casa?
Meu pai ficou vermelho, tendo que beber a água toda.
— Não Cecília, não é isso.
Eu comecei a rir dele.
— Relaxa pai. – falei espetando uma bolinha do nhoque e colocando na boca.
– Sei que você quer a casa sozinha pra você e sua namorada.
Ivan abriu a boca, mas fechou logo em seguida.
— Você sabia – continuei. – que Tatiana veio aqui de manhã, depois que o
senhor saiu e fez o maior barraco pra entrar?
Meu pai baixou os olhos para o prato, comendo alguns minutos antes de
responder.
— É, ela me ligou para contar. – ele falou baixo. – Foi uma pequena
confusão. Os seguranças novos não sabiam dela.
— Foi engraçado. – falei dando de ombros. – Aliás, para que mais
seguranças? Aconteceu algo?
Ivan ficou sem cor e eu fingi não perceber.
— Não. Só um caso novo que eu peguei. – ele deu de ombros. – Nunca se
sabe, né?!
Assenti, fingindo desinteresse.
— Então, sobre o final de semana? – perguntei. – Aonde seria esse lugar
tranquilo com cachoeira?
Ivan sorriu. Terreno neutro novamente.
— Tinha pensado na Serra do Cipó. – ele falou. – Lembra daquela pousada
que a gente foi antes da sua viagem?
Fiz que sim com a cabeça.
— Pois então, lá.
– E eu iria sozinha?
Ivan me olhou como se eu fosse retardada.
— Ok, ok. E eu meus 30 seguranças ficaremos felizes em ceder a casa para o
senhor e sua namorada.
Ele sorriu e eu também.
— A que horas eu posso chegar lá?
— Seu check-in está liberado a partir de sexta-feira depois das duas.
— Acabei de ter certeza que o senhor, Dr. Ivan, quer se ver livre de mim.
Ele riu, mas o sorriso não chegou aos olhos.
— Nunca, meu amor. Eu te amo sempre e pra sempre.
Um nó se formou na minha garganta.
— Eu também te amo, pai. Sempre e pra sempre.

▪▪▪
CAPITULO 8
CECILIA

Sexta-feira logo após o almoço nós saímos em comboio. Marlon e eu no


carro da frente e mais dois seguranças que nos seguiam no carro de trás.
Ficaríamos na estrada por quase três horas até chegar na pousada na Serra do
Cipó.
Eu tinha arrumado uma mala para quinze dias, enquanto Marlon mal havia
enchido uma daquelas bolsas laterais de academia.
Dessa vez ele estava a paisano, sem o habitual terno. Usava coturno, calça
jeans simples e uma camisa preta surrada. Amei ver ele vestido assim tão
normal, longe da seriedade da gravata, que até me fez esquecer da arma na
cintura.
Me sentia mais leve, relaxada, praticamente livre da névoa de apreensão que
me envolvia desde que eu voltara de viagem.
Marlon abriu os vidros deixando o vento invadir o carro e ligou o som numa
rádio de músicas jovens.
Num dado momento, Marlon segurou minha mão e deu um beijo no topo.
Aquele gesto mínimo fez meu corpo inteiro arrepiar. Ele me olhou e sorriu.
— Tudo bem? – perguntou.
Balancei a cabeça positivamente.
— Você tá tão calada.
— Tava pensando. – comecei. – Depois que eu voltei os momentos mais
tranquilos da minha vida, foram com você.
Ele passou o polegar pela minha mão, me olhando de relance.
— Às vezes eu queria minha vida anterior de volta. Mas aí eu penso: eu não
tinha você nela. – confessei.
Marlon soltou minha mão, reduzindo a velocidade do automóvel e jogou para
o acostamento. O segundo carro parou logo em seguida.
— Eu já volto. — ele falou descendo e indo até os seguranças.
Soltei o cinto, me virando para trás para saber o que estava acontecendo.
Marlon estava debruçado no outro sedan e falava algo com os homens.
— O que aconteceu? – perguntei quando ele se sentou ao meu lado
novamente e o outro carro passou pela gente.
Marlon não falou nada, apenas colou os lábios no meu. Um beijo forte, cheio
de desejo. Meu corpo reagiu se acendendo, me deixando pronta para ele.
— Pedi a eles que fossem na frente. – Marlon falou assim que desgrudou a
boca na minha. – Esse final de semana vai ser seu momento de relaxar.
Ele se acomodou no banco, recolocando o cinto e eu fiz o mesmo.
— Você mal vai notar a presença deles. – Marlon sorriu dando partida no
carro. – Nada de seguranças mal encarados pelas próximas 60 horas.

•••

A pousada estava diferente do que eu me lembrava. Maior, mais moderna.


Agora tinha dois andares, arquitetura em U com uma piscina semi olímpica
no meio.
Quando chegamos na recepção os outros dois seguranças ainda estavam lá
tentando subir para os quartos.
— Algum problema? – Marlon perguntou a um deles.
A recepcionista, uma jovem loira de rabo de cavalo, que explicava algo para
homens, ficou muda.
— Senhor – ela começou. – meu nome é Priscila. Eu estava explicando para
seus amigos aqui, que houve um erro na hora da reserva de vocês.
— Erro? Que tipo de erro?
— Foram pedidos dois quartos com duas camas de solteiro cada, não é?
— Isso. – Marlon a olhou sem entender.
— Pois então, – ela continuou. – eu tenho os dois quartos livres, mas em um
deles a cama é de casal.
— Mas você pode mudar isso, não é?! – eu entrei na conversa.
— Infelizmente, não senhorita. – Priscila se virou para mim. – Estamos com
todos os outros quartos reservados.
— Mas o erro foi de vocês. – insisti.
— Sim, e sentimos muito. – a recepcionista balançou os cílios em direção a
Marlon.
É claro que ela sentia.
— Para compensá-los, a pousada irá dar a vocês um jantar no Bistrô da Serra.
– Priscila sorriu, sabendo que ninguém recusaria um jantar grátis.
Sabia, por experiência própria, que esse restaurante era o melhor e mais
chique da região. Um jantar ali não sairia por menos de duzentos reais.
Marlon me olhou em uma pergunta silenciosa e eu dei de ombros.
— A gente aceita. – ele respondeu.
Priscila bateu palminhas e se virou para pegar as chaves dos quartos.
Os seguranças ficaram no quarto seis, que dava para a piscina, Marlon e eu
ficamos com o onze, com vista para a serra.
Marlon destrancou a porta, abrindo espaço para que eu entrasse.
O quarto era lindo, tinha decoração rústica chique e muito aconchegante. Na
grande cama de casal com lençóis brancos, havia uma bandeja com uma
toalha enrolada, chocolates e um cartãozinho de boas-vindas.
Coloquei minha mala perto da cama, saquei o celular e comecei a fazer fotos
da vista da janela.
— Cecília, posso te pedir uma coisa? – Marlon perguntou se sentando na
cama.
Me virei, e sorrindo tirei uma foto dele, aproveitando a luz natural que
entrava.
Marlon me puxou para o colo dele, beijando meu rosto.
— Você pode me pedir o que quiser. – respondi passando os braços pelo
pescoço dele.
— Não posta essas fotos.
— Qual? Essa que eu tirei sua ou as da serra? – questionei curiosa.
— Todas. – ele fez um carinho no meu rosto, passando meu cabelo para trás.
– Tenta ficar offline esse fim de semana.
— Nunca que eu postaria uma foto sua sem sua permissão, Sr. Torres. –
respondi beijando o queixo dele. – E quanto as outras, entendo o porque do
pedido.
Claro que eu entendia. Não queria e nem iria ficar sinalizando minha
localização na internet em tempo real.
— Não pense que eu tô tentando te controlar ou algo do tipo. – Marlon falou
me olhando nos olhos.
— Eu sei, Marlon. – respondi meio impaciente. – Eu entendo. Tá tudo bem.
Agora me beija.
Ele riu, mas fez o que eu ordenei. Um beijo suave, doce, delicado, que quase
me fez chorar quando ele parou.
— Quer ver a cachoeira agora? – Marlon perguntou mordiscando o meu lábio
inferior.
Além do calor que ele me fazia sentir, o tempo estava quente e abafado. Eram
três da tarde e marcava 34°C.
— Tenho que só vestir o biquíni. – me levantei indo até a mala, para abri-la
sobre a cama.
Ele assentiu indo até o banheiro.
Troquei a t-shirt preta, por uma branca, vesti o biquíni vermelho, calcei botas
de cano curto, mas mantive o short amarelo.
Quando Marlon voltou, eu reaplicava meu protetor solar.
— Você vai assim? – perguntei, vendo que ele apenas tinha jogado água no
rosto e nos cabelos.
— Já estou de sunga. – ele deu uma piscadinha.
Enfiei uma toalha, meu protetor solar, uma escova de cabelo e os chocolates
dentro de uma mochila e me encaminhei até a porta.
Vendo que eu estava sozinha, me virei para trás.
— Você não vem?
Marlon deu um sorriso torto e me seguiu.

•••

O caminho de 5 km de carro mais vinte minutos de trilha a pé até a cachoeira


era meio tortuosa. Marlon teve que me ajudar por diversas vezes pelo
caminho. Mas quando avistamos a queda d’água tudo valeu a pena.
O lugar era perfeito. Entre o paredão de pedras de 70 m de altura, a água
escorria e caía numa piscina natural cor de esmeralda.
— É lindo. – falei tirando um milhão de fotos.
Havia algumas poucas pessoas por ali, mas todas mais afastadas.
Entreguei o celular para Marlon e ele começou a tirar fotos minhas, que com
o filtro certo ficariam bem tumblr.
— Agora uma nossa. – ele falou me puxando para os braços, com a cachoeira
ao fundo, batendo uma sequência de fotos.
Tomei o celular da mão dele indo conferir as imagens. Todas tinham ficado
boas, mas uma em especial mexeu comigo, a que Marlon olhava para a
câmera enquanto eu olhava pra ele com cara de apaixonada.
— Me deixa ver. – ele pediu, depois que eu fiquei namorando a tela do
telefone.
Relutante, passei o celular pra ele.
— Linda. – Marlon falou mexendo em outras coisas.
— O que você tá fazendo? – perguntei.
— Enviando pra mim.
Meu coração disparou.
— Pronto. – Marlon me entregou o celular de volta.
Ele pegou minha mão, me levando para a prainha. Marlon se abaixou
descalçando os coturnos e eu fiz o mesmo com minhas botas.
Tirei a camisa, passando protetor nos ombros. Marlon, furtivamente, guardou
a arma dentro da mochila piscando pra mim.
Ele arrancou a camisa daquele jeito masculino e logo em seguida, a calça.
Mordi o lábio, olhando descaradamente o corpo dele.
— Vai entrar de short? – ele perguntou quando me viu parada. – Cecília?
— Oi? Tô tirando. – respondi meio avoada.
Fiz um montinho de roupas sobre a minha mochila e peguei a mão que
Marlon estendia pra mim.
A água, apesar do calor, estava fria pra caramba. Meu corpo inteiro se
arrepiou. Marlon andou até a água parar na cintura dele e um pouco abaixo
do meu peito.
Ele soltou minha mão, dando um mergulho, parando a alguns metros de onde
eu estava.
— Consegue chegar até aqui? – Marlon perguntou. A água estava batendo
debaixo dos braços dele.
Mergulhei, abrindo os olhos durante o curto percurso. A água era bem
limpinha, me dando um spoiler do corpo de Marlon mais a frente.
Assim que eu emergi, Marlon me pegou nos braços. Eu não dava pé, então
enrolei as pernas na cintura dele.
— Você tá arrepiadinha. – ele falou no meu ouvido.
— Ainda temos plateia? – perguntei, beijando o pescoço dele.
Marlon mordeu meu ombro, dando um beijinho em seguida.
— Hum... só um casal, que tá mais preocupado em se devorar na toalha.
Rimos juntos, e eu me virei discretamente para ver a cena. Não era exagero
dizer que o casal estava se devorando. Aquilo e a proximidade de Marlon, me
deixou bem acesa.
— Cecília. – Marlon me repreendeu quando eu afastei a cortininha do meu
biquíni deixando meu peito de fora.
— O quê? – perguntei me fazendo de desentendida.
Ele levou a mão até um mamilo e o beliscou. Gemi baixinho, oferecendo
mais a ele.
Marlon olhou para o casal que continuava nos amassos, ignorando
completamente a nossa presença. Em seguida me levantou mais, colocando
meu mamilo na boca e chupando com vontade.
Meus dedos se agarravam os cabelos dele, e eu me controlava para não gritar.
Marlon desceu a mão pela minha bunda, puxando minha calcinha para o lado
e enfiando um dedo em mim.
— Marlon... – mordi o lóbulo da orelha dele.
O polegar dele tocava meu clitóris, massageando-o. Meu coração estava
disparado com o combo de prazer que ele me dava. Marlon acelerou os
movimentos, mordendo com mais força meu mamilo.
Cravei as unhas e os dentes nos ombros dele quando o orgasmo tomou conta
do meu corpo.
Marlon me abraçou, beijando minha boca apaixonadamente.
— Você está ficando selvagem, senhorita Bernardes. – ele falou baixinho no
meu ouvido.
— São as minhas más companhias. – respondi, pendurada no pescoço dele
jogando a cabeça pra trás.
Ele riu, arrumando meu biquíni.
— Daqui há alguns dias vou tá andando vestida de couro e armada por aí.
— Seria bem sexy de ver.
Encarei Marlon e vi que ele falava sério.
— Fetiches, Sr. Torres. – ele deu de ombros.
— Um homem pode sonhar. – deu uma piscadinha bem cafajeste pra mim.
Joguei água no rosto dele, me soltando dos braços fortes que me prendiam.
Fiquei boiando de barriga pra cima, enquanto Marlon deu algumas braçadas
contra a correnteza e nadou de volta até mim.
— Tô com frio. – falei quando ele se aproximou.
— Vamos sair.
Estiquei a toalha e sentamos lado a lado. Fiquei observando as gotículas de
água escorrer pelos ombros de Marlon.
Não fazia ideia de quando, mas eu tinha me apaixonado por ele. Com ele eu
não precisava fingir ser quem não era, fingir gostar de algo, ter medo. Tudo
com Marlon era fácil. A gente podia conversar por horas ou ficar quietos em
silêncio, que nada era forçado. Ele era uma pessoa fácil de se gostar depois
que se conhecia.
Os minutos se passaram, os nossos corpos secaram e o sol começava a ir
embora.
— Hora de ir embora. – Marlon falou vestindo a calça.
Me vesti também e rapidamente, pegamos a trilha de volta. Vinte minutos
depois, estávamos na pousada.
Marlon me levou até o quarto e foi falar com os outros seguranças.
Sozinha, tirei meu biquíni, colocando-o para secar direito. Estava nua, pronta
para entrar no chuveiro quando o telefone do quarto tocou.
Era Priscila, a recepcionista oferecida, perguntando se estávamos livres essa
noite para o jantar de cortesia. Respondi que sim, que ela podia fazer a
reserva para as oito. Quando eu colocava o telefone no gancho, Marlon
entrou no quarto me pegando desprevenida.
— Temos um jantar para as oito. – falei, indo em direção ao banheiro.
Marlon olhou no relógio e respondeu tirando a camisa:
— Então temos tempo.

▪▪▪
CAPITULO 9
CECILIA

Depois de uma rapidinha no chuveiro, Marlon e eu fomos nos arrumar.


A temperatura havia caído um pouco e o clima estava bem mais ameno.
Então coloquei um vestido vermelho ombro a ombro, calcei uma sandália
nude pesada e deixei os cabelos soltos em ondas. Já Marlon estava delicioso.
Ele vestia uma jaqueta de couro preta com uma camisa branca, calça preta e
tênis.
Enquanto eu terminava de me arrumar no banheiro, Marlon estava encostado
na cabeceira da cama, mexendo no celular.
Passei um batom rosado, dei algumas borrifadas de perfume e fui para o
quarto, parando na frente do meu guarda-costas.
— Que tal? – perguntei com as mãos na cintura.
Marlon levantou os olhos da tela do celular e me encarou boquiaberto.
— Maravilhosa. – ele esticou a mão para mim. – Não sei se é uma boa ideia
me deixar ir armado. Posso cometer um crime.
Eu ri, me sentando na perna dele.
— Eu também posso cometer um crime se alguma mulher olhar para você
essa noite.
— Essa é sua maneira de dizer que estou maravilhoso?
— Você sabe qual é a minha maneira de dizer que você é maravilhoso. –
beijei o queixo dele sugestivamente.
— Quem diria que aquela menina ranzinza do começo iria se tornar essa
mulher selvagem? – ele me deu um selinho.
— Eu posso ser bem ranzinza quando estou com fome. – falei me levantando
para pegar minha clutch. – E eu estou quase assim.
— Não quero ver a senhorita mal humorada de maneira nenhuma esse final
de semana.
Marlon me seguiu, colocando a arma nas costas, pegando a carteira e as
chaves, do quarto e do carro.

•••

O Bistrô da Serra, um restaurante no estilo rústico chique, ficava no pequeno


centro comercial da cidadezinha a pouco quilômetros da pousada. Era o
maior e melhor lugar para se comer comida tradicional mineira da região.
Marlon estacionou o Audi na rua lateral do estabelecimento, vindo até meu
lado para abrir a porta para mim.
— Quanta gentileza, Sr. Torres. – falei brincando.
— Tudo isso é pra terminar a noite na sua cama, senhorita Bernardes. – e
beijou meus lábios, devolvendo a brincadeira.
Marlon entrelaçou os dedos nos meus, me conduzindo para dentro do bistrô.
Na entrada, a hostess olhou meu segurança como se ele fosse a sobremesa
mais deliciosa do mundo.
— Boa noite, posso ajudá-los? – ela perguntou, batendo cílios para Marlon.
— Temos uma reserva. – ele falou. – No nome de Marlon Torres e Cecília
Bernardes.
Antes de vir para cá, tínhamos passado na recepção para confirmar a reserva
e Priscila havia informado que a hostess estaria nos esperando, bastava dar
nossos nomes que toda a consumação era por conta da pousada.
O mal entendido dos quartos era mais para inglês ver, do que realmente um
problema si.
Alguns seguranças sabiam da proximidade minha e de Marlon, mas não
sabiam o quão próximo nós éramos. Meu pai mesmo, não fazia ideia. Então
era melhor fazer uma ceninha, do que deixar chegar aos ouvidos de Dr. Ivan
que sua amada e ingênua filha, estava dormindo na mesma cama que seu
guarda-costas por livre e espontânea vontade.
Essa noite seria a primeira vez que nós dormiríamos na mesma cama. Nunca
havia divido a cama com nenhum outro homem e eu estava um pouco
ansiosa. Mas isso era coisa pra mais tarde, agora devia focar em desfrutar de
um belo jantar na companhia de um belo homem.
A hostess nos levou até a mesa, num lugar mais reservado, com luz mais
baixa e se retirou.
Marlon puxou a cadeira para mim, num gesto de cavalheirismo. E no
segundo seguinte que ele se sentou o garçom apareceu com o cardápio.
Diversas comidas me saltaram aos olhos, mas eu fiquei no arroz branco com
frango assado ao molho de laranja e vinho branco. Já Marlon pediu feijão
tropeiro com uma porção extra de torresmo e uma Coca-Cola. De sobremesa,
escolhemos um saboroso rocambole de doce de leite.
Quando saímos do restaurante era mais de dez da noite e todas as lojinhas
estavam fechadas.
Demos apenas uma volta pela minúscula pracinha e voltamos para a pousada.
A vida noturna em cidades pequenas se encerrava muito mais cedo do que
nas capitais e isso me incomodava um pouco. As vezes você queria conhecer
mais da noite do lugar, mas não havia nada a ser explorado.
Já na pousada, Marlon destrancou o quarto e foi falar com os seguranças.
Aproveitei que estava sozinha, fui escovar os dentes e tirar minha
maquiagem. Vesti minha camisola branca de renda e escovei os cabelos na
frente do espelho por alguns minutos.
Vi Marlon se aproximar pelo reflexo do espelho. Ele parou se escorando no
batente da porta e me olhando.
Nossos olhares se cruzaram e minhas bochechas ficaram vermelhas. Ele
caminhou até mim, encaixando o rosto no meu pescoço e deslizando os dedos
pelos meus braços.
— Linda camisola. – ele falou tocando a renda.
Eu apenas sorri.
— Você está tímida ou é impressão minha?
Me virei para ele com rosto ainda vermelho de vergonha.
— Cecília... – Marlon me abraçou apertado.
Depois de um tempo calados, eu falei:
— Eu nunca dormi com ninguém.
Marlon deu uma risadinha que se transformou em uma gargalhada. Quando
ele parou, conseguiu dizer:
— Quem te escuta falar isso, imagina que você é virgem e que está com
medo da sua primeira vez.
Ele fez um carinho no meu rosto e continuou falar:
— A gente pode ficar a noite inteira acordados, transando, aí você não
precisaria se preocupar.
Dei um tapa no braço dele, rindo.
— Idiota.
— Não precisa se preocupar, Cecília. De verdade. – Marlon disse sério.
Era um medo bobo, eu sabia. Mas isso me deixava mais nervosa do que
transar com ele.
Respirei fundo e fui pra cama, deixando Marlon no banheiro fazendo sua
higiene.
Ouvi o barulho da água na pia, descarga, da torneira novamente, a luz se
apagando.
Eu estava sentada no meio da cama com as pernas cruzadas feito um buda,
quando Marlon apareceu no quarto.
— Pronta para dormir? – ele brincou.
Olhei para ele e mordi o lábio, com meu corpo todo se acendendo.
— Eu tava pensando em fazer outra coisa. – Marlon completou indo até o
apagador e desligando-o. Em seguida, foi até o abajur e o acendeu, deixando
o quarto a meia-luz.
— Que tal, se eu dançasse pra você? – ele sugeriu.
— Dançar? – olhei pra ele incrédula. – Desde quando você dança?
— Eu tive que me virar pra ganhar uma grana quando jovem.
— Então você dançava?
— Isso. Entre outras coisinhas mais. – Marlon ficou sério.
Pisquei algumas vezes até entender o que ele queria dizer com aquilo.
— Você era garoto de programa? – perguntei tentando absorver a
informação.
— Sim e não. – ele se sentou perto de pegando minha mão. – Eu saía com
algumas mulheres maduras e elas me pagavam muito bem.
Meu queixo caiu.
— Era um clube de luxo exclusivo. – Marlon continuou. – Tinha dançarinos,
garotos de programa, bartenders. Era um lugar para realizar fantasias dessas
mulheres.
— Por que você está me contando isso? – perguntei meio atônita.
— Você me perguntou desde quando eu dançava. Aí eu resolvi abri o jogo
com você. – ele apertou minha mão. – Essa é uma parte do meu passado que
ninguém conhece.
Engatinhei até o colo de Marlon e o abracei. Ele estava se deixando conhecer.
Me deixando conhecê-lo.
Beijei os lábios dele com vontade, sentindo as mãos dele descer até minha
bunda, alisando minha calcinha também de renda.
— Você não está me devendo uma dança? – disse quando os dedos dele
ficaram mais atrevidos.
O volume da calça de Marlon cutucava minha bunda e, obviamente, não
queria que ele me soltasse, mas eu não poderia perder esse homem
maravilhoso dançando.
Saí do colo dele e esperei.
Marlon pegou o celular e colocou One Good Man de Janis Joplin para tocar.
Nos primeiros acordes da música, ele puxou minhas pernas para que eu
ficasse sentada na beirada da cama e jogou a jaqueta de couro longe.
O semblante de Marlon mudou completamente. Os olhos brilhavam,
emanando desejo. Ele passou a língua nos dentes de uma maneira
casualmente pensada e meu estômago se contorceu de ansiedade.
Marlon balançou o quadril, passando a mão pelo peitoral, levando-a ao
pescoço e se virou de costas. Ele ainda estava armado e isso o deixava mais
sexy ainda. Como se fosse um passo da dança, Marlon colocou a arma no
criado mudo sem perder o ritmo ou fazer parecer desinteressante o
movimento.
Minha calcinha começava a ensopar e eu apertava as coxas ao mesmo tempo
que agarrava os lençóis.
Marlon tirou a camisa, jogando-a no chão e se aproximou de mim, abrindo
minhas pernas e movimentou a pelve. Levei as mãos até a barriga dele, tendo
os pulsos seguros e ganhando um sorriso sacana.
Porra.
Até a maneira que ele tirou os sapatos foi sexy.
Marlon se movia como um tigre, lenta e sensualmente. As mãos deslizavam
por todo tórax, que a meia-luz, tinha cor de caramelo. Uma das mãos desceu
até o botão da calça, abrindo tanto ele quanto zíper. Eu acompanhei o
movimento, salivando quando ele apertou o pau por cima da calça e mordeu
o lábio. O filho da mãe sabia ser gostoso.
Meus mamilos pediam o toque da língua dele, minha boceta implorava para
ser preenchida por ele, até meu corpo reclamava da ausência do peso do
corpo dele sobre o meu.
Marlon desceu o jeans, passando-o pelos tornozelos e ficou de costas, dando
uma rebolada. Virou novamente, ficando entre as minhas pernas e se esfregue
em mim. Instintivamente, levei as mãos até ele, que dessa vez permitiu que
eu o tocasse.
O agarrei pela bunda, segurando-o firme e coloquei o pau dele pra fora da
cueca. Quando eu toquei aquele monumento, Marlon gemeu. Eu passei a
língua pelos lábios e fiz menção de colocá-lo na boca. Marlon segurou a
respiração aguardando por algum contato, mas eu apenas sorri travessa.
Meu guarda-costas cerrou os olhos como se me repreendesse e eu olhei pra
ele com inocência.
Segurei o pau dele com mais firmeza, lambendo a cabeça já bem lubrificada e
sem perder mais tempo iniciei um belo boquete. Marlon respirou fundo e
gemeu. Eu intercalava chupadas e lambidas enquanto punhetava aquele pau
cheio de veias.
A música havia parado em algum momento que eu não fazia ideia.
Intensifiquei o trabalho, fazendo Marlon se perder cerrando o maxilar, com
os dedos enfiados no meu cabelo.
— Cecília... – ele começou a falar, mas eu chupei mais forte, apenas levantei
os olhos pra ele e sorri com pau ainda enfiado na boca.
Marlon fechou os olhos e passou a foder minha boca. Até que eu voltei a
chupá-lo feito uma profissional.
— Cecília. Puta que pariu. – Marlon puxava meu cabelo. – Cecília, eu vou
gozar. – falou esperando que eu tirasse ele da boca, mas eu continuei. Nossos
olhares se encontraram e ele entendeu.
Marlon tomou o pau na mão, se masturbando e eu abri a boca. Com a outra
mão ele fez um carinho na minha bochecha.
Uma expressão de dor passou pelo rosto dele. Marlon segurou meu queixo e
gozou gemendo. O primeiro jato de esperma foi bem na minha língua e eu
esperei pelos outros antes de fechar a boca e engolir. Lambi o pau dele até
estar bem limpinho. O último tinha acertado minha bochecha e ele passou o
dedo para limpar. Peguei o dedo sujo e lambi de maneira sensual. Marlon
sorriu, subindo a cueca que tinha ficado no meio das coxas durante meu
boquete.
— Caralho. – ele falou quando subiu na cama e me beijou. – Você é
maravilhosa.
Fiquei olhando para ele, ciente de que eu era mesmo muito maravilhosa.
Nunca pensei que um dia seria capaz de me sentir tão segura na cama como
eu era com Marlon.
— Me deixa tirar uma foto de você nessa camisola linda. – ele pediu.
Olhei para ele com os olhos arregalados.
— Marlon...
— Sem rosto, Cecília.
— Ok.
Eu estava de joelhos na cama de costas para janela, a meia-luz e com a
calcinha encharcada.
Marlon pegou o celular, fazendo algumas fotos, em seguida me mostrou para
provar que não havia minha cara linda em nenhuma delas.
— Agora, sua vez. – ele falou me beijando o ombro.
Tudo dentro de mim se agitou. Fiquei com a postura mais ereta, e me
oferecendo para ele.
Marlon beijou minha boca com delicadeza, em seguida com fome, me
devorando. Desceu os lábios para meu queixo, pescoço. Abaixou as alcinhas
da minha camisola, expondo meus seios. Passou a língua pelos mamilos
entumecidos, dedicando um tempo a eles. Marlon me deitou, me deixando de
calcinha e beijou minha barriga.
— Você tá tão molhada. – ele afirmou quando levou a mão entre as minhas
pernas.
Marlon começou a beijar e lamber minha boceta sobre a calcinha e eu me
contorcia na cama.
Um orgasmo se formava em algum lugar dentro de mim. Ele afastou a renda
para um lado e enfiou dois dedos em mim. O ar escapou dos meu pulmões.
— Marlon... – choraminguei enquanto ele me torturava.
Marlon e a dupla de sucesso: aquela boca deliciosa e aqueles dedos ágeis, que
se moviam como se procurasse algo dentro de mim.
Não demorou muito e fui arrebatada por uma explosão de sensações. Marlon
como o belo sacana que era, estendeu meu orgasmo ao máximo, chupando
meu clitóris.
Da minha névoa de prazer, eu observava Marlon se tocar. Ele levantou indo
até a bolsa de roupas e pegou um pacote de camisinhas. Nesse meio tempo eu
facilitei o acesso dele, tirando a calcinha.
Marlon colocou a camisinha e antes de me penetrar, beijou meus lábios por
um longo minuto.
Enrolei minhas pernas na cintura de Marlon, que me puxou pro colo dele.
Num minuto eu estava deitada, no outro cavalgava meu guarda-costas
alucinadamente.
Nossos lábios só se desgrudaram quando ele fez um pedido.
— Posso ter foder de quatro?
PUTA QUE PARIU.
Tudo dentro de mim se contraiu. Por mais que eu gostasse de transar olhando
para aquele rosto lindo, eu sonhava em dar pra ele de quatro.
— Não precisa pedir. – falei ofegante.
Marlon sorriu, me ajudando a levantar. Ele me colocou no meio da cama e se
ajoelhou atrás de mim. Antes de me penetrar, ele acariciou toda a minhas
costas e me deu um beijo na lombar. Lentamente, enfiou o pau em mim.
Parecia que ele tinha o dobro de tamanho. Marlon iniciou as estocadas até
alcançar um ritmo intenso, em que se ouvia nossos corpos se chocando.
Nossos gemidos se misturavam, numa sinfonia própria.
Eu já me encontrava com o rosto no colchão e tinha Marlon praticamente,
montado em mim. O orgasmo estava tão próximo...
— Cecília? – ele chamou.
Eu respondi uma mistura de gemidos e palavras desconexas.
— Me avisa quando você estiver lá. – ele falou ofegante.
— Marlon? – ia falar mas fui interrompida por outra estocada. – Eu tô quase
lá.
Ouvi a risada rouca dele, que segurava minha bunda como se eu fosse fugir.
Algumas estocadas e gemidos depois, nós gostamos juntos. Marlon desabou
sobre mim, me esmagando com o peso dele. Ele beijou minha nuca e rolou
me puxando para o peito. Ficamos em silêncio, esperando o mundo voltar ao
normal.
Marlon se levantou indo jogar a camisinha fora e pegar duas garrafinhas de
água no mini frigobar.
Ele se deitou de novo e me abraçou.
— Tá pronta pra dormir?
Bocejei.
— Com você eu tô pronta pra qualquer coisa. – dei um beijinho no tórax dele.
Ele sorriu no meu cabelo e ficou me fazendo carinho até que eu pegasse no
sono. O que não demorou muito.
▪▪▪

CAPITULO 10
IVAN

Com Cecília distante de casa e segura eu pude relaxar um pouco. Depois de


receber um envelope com fotos dela como se algum paparazzi a seguisse,
pirei. Ordenei que Marlon ficasse colado nela 24 horas por dia. Até que tive a
ideia de mandá-la passar o fim de semana numa pousada na Serra do Cipó.
Passei em casa para almoçarmos juntos, e tão logo ela saiu com seus
seguranças, eu voltei para o fórum.
No final do expediente, Tatiana me esperava para irmos para casa. Ela me
faria companhia durante a ausência de Cecília. E também aproveitaríamos
para namorar um pouco.
Pedi comida japonesa, abri um vinho e comemos sentados no sofá mesmo.
Tatiana descalçou os saltos altíssimos, sentando em cima das pernas
dobradas.
Ela usava um vestido preto com um decote generoso que era velado por
tecido cor de pele, muitas pulseiras douradas e uma maquiagem forte nos
olhos. Para uma advogada, ela tinha um estilo bem extravagante, mas isso
não me incomodava.
O que mais me incomodava em Tatiana era o fato dela ser muito explosiva.
Uma vez estávamos em um restaurante na região nobre de BH, no qual eu era
cliente assíduo, quando ela esbarrou no garçom fazendo um talher cair no
chão. A mulher virou uma fera, brigou com o garçom, atraindo a atenção de
diversas pessoas ao redor. Eu mesmo fiquei bastante constrangido, e quando
fui acertar a conta dei uma bela gorjeta e um pedido de desculpas para o
garçom. Depois, no carro, Tatiana pediu desculpas, dizendo que estava
arrependida de tal comportamento. Essa foi apenas uma das vezes que ela
agiu assim.
Apesar disso, eu gostava da companhia dela. Ela tinha bastante conhecimento
jurídico, bonita, apreciadora de bons vinhos e, não poderia ser hipócrita, era
uma excelente amante.
— Como foi seu dia? – Tatiana me perguntou.
Bebi um gole do vinho tentando ganhar tempo e não pensar na pilha de
processos sobre a minha mesa pedindo para serem analisados.
— Cheio. – respondi por fim.
Ela sorriu colocando um sashimi na boca.
— E Cecília, ela não nos acompanha?
— Cecília não está em casa. – peguei um sushi.
Tatiana me olhou surpresa.
— Não?
— Não. Temos a casa inteira para gente esse final de semana.
Nossos olhares se encontraram e eu senti algo dentro da minha calça ganhar
vida. Tatiana passou a língua pelos lábios e sorriu, se levantando e vindo
montar no meu colo.
— Se eu soubesse que era apenas nós dois, Dr. Ivan, eu teria preparado uma
surpresinha. – ela beijou minha boca. – Agora vai ter que ser tudo no
improviso.
Tatiana abriu minha camisa, lambendo todo meu pescoço e peito, enquanto se
esfregava na minha ereção. Levei a mão até as costas dela descendo o zíper
do vestido, que não permitia uso de um sutiã, deixando exposto aquele belo
par de seios.
Chupei um mamilo, fazendo-a se contorcer em cima de mim. Tatiana me
beijou, enquanto as mãos se ocupavam em abrir meu cinto. Ela tinha uma
destreza impressionante, em menos de cinco segundos já tomava meu pau
entre os dedos, me masturbando.
Tatiana levantou, se livrando do vestido e da calcinha. Engoli seco. Ela tinha
um corpo espetacular. Me toquei por alguns minutos apenas observando-a,
até que ela se ajoelhou dando início a uma das melhores chupada da minha
vida. Aliás, ela era a melhor chupada da minha vida. Ela sabia me levar ao
limite do orgasmo, parando no último segundo.
Sem que eu pedisse, Tatiana se sentou em mim, arrancando um gemido lá do
fundo do meu ser. Ela cavalgava enlouquecidamente, fazendo os peitos
balançarem bem no meu rosto. Minhas mãos apertavam a cintura dela,
ajudando no sobe e desce.
— Me bate. – Tatiana pediu ofegante.
Na primeira vez que ela me pediu isso, fiquei meio paralisado. Como assim
me bate? Até que eu raciocinei que o que ela queria eram umas palmadas
naquela bunda farta. Hoje isso já era normal em nossas transas.
Espalmei a mão na nádega direita dela, arrancando um grito de prazer.
— Mais... – ela implorou.
Dei mais um, fazendo a pele ficar quente e vermelha.
— Mais, Ivan. – ela ordenou.
Ela estava quase lá. Como eu sabia? Tatiana tinha tendência em ficar
masoquista quando estava prestes a gozar.
Três, quatro, cinco, seis, sete palmadas e ela gritou, enterrando as unhas nos
meus ombros. Dei mais duas estocadas rasas e uma funda, agarrando a carne
das coxas dela de maneira que ela se lembraria no dia seguinte. Tatiana
puxou meu cabelo e beijou minha boca, capturando meu gemido enquanto eu
me libertava dentro dela.
Tatiana passou os braços pelo meu pescoço e ficamos calados, ouvindo
nossas respirações ofegantes.
— Quero mais, Ivan. – ela disse se levantando e terminando o vinho da taça.
— Preciso de alguns minutos. – bebi meu vinho também.
Ela sorriu, correndo pelada, escada acima.
Agradeci a Deus por ter dado folga para Rosa e ela não ser obrigada a se
deparar com essas cenas.
Tomei fôlego e me levantei indo atrás de Tatiana para um segundo round
peso pesado.

•••

Depois de um sexo selvagem como aquele que tínhamos feito, peguei no


sono.
Sentindo a ausência do calor do corpo de Tatiana, despertei. A cama estava
vazia.
Vesti uma calça de moletom, indo até o banheiro, também vazio.
A porta do quarto estava encostada, puxei a maçaneta e encontrei as luzes da
casa inteira apagadas.
Passei pelo quarto de Cecília que estava fechado. Não tinha o costume de
entrar sem bater, mas como ela não estava em casa, apenas abri a porta. O
quarto vazio me trouxe lembranças de um ano inteiro sem ela por ali. Afastei
aqueles dias cinzas, fechando a porta e indo procurar Tatiana.
Fui na sala, cozinha, até no meu escritório, que eu não lembrava de ter
deixado a luz de leitura acesa, e nada. Ela não estava em lugar nenhum.
Os saltos ainda se encontravam largados no tapete da sala, assim como as
taças de vinho e o vestido dela.
Voltei a cozinha para tomar um copo d'água e olhei pela porta de vidro em
direção ao jardim e a piscina. Nada dela.
O único lugar que eu não havia procurado era no terraço. Subi novamente as
escadas passando pelo andar até chegar no espaço de dava vista para a bela
lagoa do condomínio.
A lua estava alta no céu e eu não fazia ideia de que horas eram, mas
suspeitava que era bem tarde.
Num canto, sentada em uma das espreguiçadeiras, estava Tatiana. Ela estava
meio na sombra, apenas com a luz baixa do celular iluminando-a e de onde
eu estava não conseguia vê-la direito.
Fiquei alguns minutos observando o que ela fazia. Lá embaixo, os seguranças
que faziam a ronda, não tinham ideia da gente ali em cima.
Quando pensei que já estava estranho ficar olhando para ela daquele jeito, dei
um passo a frente ficando iluminado pela lua. Tatiana se assustou quando
percebeu minha presença. Ela se sentou, vindo para luz também.
— Ivan, o que aconteceu? – ela perguntou.
Me aproximei e vi que ela usava uma camisa minha.
— Eu que te pergunto. Deu formiga na cama?
Ela riu, abrindo espaço para que eu sentasse ao lado dela.
— Perdi o sono e não quis te acordar. – Tatiana me abraçou. – Aí peguei o
celular e vim ler as notícias aqui em cima.
Dei um beijo no rosto dela, voltando os olhos para o céu limpo.
— Aqui tem uma brisa gostosa. – ela continuou falando. – E uma vista
perfeita.
— Queria uma casa nesse condomínio e quando me deparei com essa vista
pela primeira vez, me apaixonei.
— Foi uma boa escolha.
— Foi. – puxei o ar ruidosamente, soltando devagar.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Tatiana me acariciava o braço com
as longas unhas.
— Vamos entrar? – ela falou depois de um tempo.
— Vamos. – respondi, entrelaçando meus dedos nos dela.

▪▪▪

CAPITULO 11
MARLON
Sábado acordamos cedinho e fomos para outra cachoeira. Essa era mais
distante e consumiu quase duas horas da parte da manhã. Passamos o dia todo
no pequeno balneário, voltando no finzinho da tarde, quando a temperatura
começou a cair.
Cecília olhou no celular e viu que na cidadezinha ao lado estava tendo festa
da padroeira e lá fomos nós, dessa vez acompanhados pelos dois seguranças.
A igreja se encontrava na única pracinha do lugar e era bem maior que do que
da Serra do Cipó.
Chegamos lá por volta das oito e meia da noite e para minha surpresa, estava
cheio. Havia diversas barracas que vendiam todo tipo de comida: pastel,
caldos, churrasquinho, feijão tropeiro, macarrão na chapa, sanduíche de
pernil e muita variedade de bebidas.
Uma banda local tocava umas músicas sertanejas, deixando o ambiente mais
animado.
Cecília se divertiu bastante, assim com o eu. Evitamos um contato mais
íntimo, mas quem olhasse percebia que estávamos juntos.
Não demoramos muito pela cidade, pois teríamos que descansar para pegar
estrada de volta para BH logo após o almoço no dia seguinte.
Cecília bebeu quentão pela primeira vez na vida e ficou um pouco saidinha.
Já no carro, em movimento, ela tirou o cinto, se debruçou sobre meu colo e
me chupou alucinadamente. Tive que usar toda minha concentração, para não
perder o controle do automóvel enquanto Cecília fazia o que bem entendesse
com meu pau.
Eu gostava daquela Cecília, selvagem e sem pudor. Gostava de ver ela
relaxada, despreocupada, e acima de tudo, feliz.
Tão logo entramos no quarto, Cecília tirou toda a roupa e se deitou na cama.
As bochechas afogueadas denunciavam o nível de desejo que a consumia,
enquanto eu ficava pelado e me deitava sobre ela.
— Me ame, Marlon. – Cecília pediu quando afastei meus lábios do dela.
E foi o que eu fiz. Fiz amor com ela lenta e apaixonadamente, dedicando todo
meu tempo em venerar o aquele corpo alvo e esguio. E quando o prazer dela
alcançou o ápice, eu a trouxe para os meus braços, como se a protegesse.

•••

Perdemos a hora do café da manhã no dia seguinte. Então resolvemos ao


invés de irmos para cachoeira, ficarmos na piscina da pousada mesmo.
Cecília usava um biquíni azul e branco e pegava sol com as pernas dentro
d'água, enquanto eu dava algumas braçadas. Ficamos por ali até a hora do
almoço.
Almoçamos na pousada mesmo. Comemos aquele frango com quiabo típico e
de sobremesa um doce de leite de colher.
Depois do almoço Cecília foi tirar um cochilo enquanto eu fui fazer uma
pequena reunião com os outros dois seguranças.
Mathias e Claudio, os homens que eu escolhi para viajar nesse final de
semana, junto com Borges, guarda-costas de Dr. Ivan e Farah, o chefe da
segurança na minha ausência, eram de minha extrema confiança.
Nós três nos sentamos em uma mesa a beira da piscina e eu liguei para Farah
para saber a quantas andava a mansão.
— Tá tudo ok por aqui, chefe. – o homem respondeu. – Dr. Ivan está
trancado em casa com a namorada desde sexta a noite.
— Nada de anormal? – questionei.
— Nada. A mulher ficou na piscina de biquíni e depois quis saber como
funcionava a sala de controle.
Aquilo me acendeu a luz vermelha.
— Você não deixou, né!?
— Não, senhor. – ele falou depressa. – Falei que ninguém tinha permissão
para entrar ali.
— Ótimo, Farah. – passei a mão pela barba aliviado. – Não sei se eu confio
nessa mulher.
— Então somos dois. – ele respondeu.
Nós nos despedimos e eu desliguei o celular.
— A garota tá te dando trabalho, Torres? – Mathias perguntou quando o
outro segurança foi buscar um café.
Tanto ele quanto Farah foram os primeiros a se juntar a mim quando abri a
empresa de segurança. Ambos trabalhavam no mesmo clube de luxo que eu,
e eles tinham a mania de se intrometer na minha vida desde sempre.
Olhei para Mathias e sorri.
— Safado! – ele me deu um soco no braço. – Deixa o doutor saber que você
tá comendo a filhinha dele.
Fechei a cara e respondi:
— Não quero nem pensar nisso.
— Aquele dia que ela foi no seu quarto, deu pra ouvir a movimentação lá em
cima.
Minha mente voltou naquela noite.
— Quando ela desceu, – Mathias continuou. – deu boa noite pra gente e saiu
como se não tivesse feito nada além de conversar com você.
— Chega a ser engraçado isso. – ri. – Ela age como se fizesse algo ilegal.
— Dá pra ver que ela é super discreta.
— Eu dancei pra ela. – confessei.
Mathias olhou pra mim como se eu tivesse nascido chifres.
— Porra! Você fez o quê?!?
— Dancei pra ela. – repeti. – Ela gostou.
Vi que Claudio voltava.
— E contei do meu passado também.
Claudio se sentou bem na hora que Mathias ia bater minha cabeça na mesa.
— Qual é a boa? – o segurança perguntou.
— Tô precisando voltar e encher a cara. – Mathias respondeu.
Ele e eu trocamos olhares. Meu amigo ainda ia me interrogar.
— Vou esperar Cecília acordar e a gente sai. – falei me levantando e indo
para o quarto.
— Ok, chefe. – Claudio respondeu.

•••

Cecília dormia tão calmamente que me deu até pena saber que aquela paz
estava no fim. Dali a algumas horas estaríamos em casa de novo e toda
aquela pressão voltaria.
Juntei minhas coisas, guardando-as na bolsa e me sentei na cama ao lado de
Ceci. Peguei o celular e fiquei vendo as fotos que eu havia tirado dela.
Ela sorrindo em cima de uma pedra, ela molhada se secando ao sol, ela de
camisola rendada, nós dois.
Eu tinha me deixando envolver e isso nunca acontecia. Nunca tinha ido pra
cama com nenhuma cliente desde a criação da empresa, por mais que o
desejo quisesse falar mais alto. Já havia dormido com mulheres muito mais
bonitas que a menina que dormia ao meu lado. Mas nenhuma delas havia
mexido com meu coração do jeito que Cecília mexia. Não sei se era a falta de
experiência ou o jeito atrevido de ser, mas algo nela havia me capturado. E eu
não sabia se poderia ou queria escapar.
Ela se remexeu ao meu lado, abrindo os olhos e sorrindo. Esse pequeno
gesto, fez meu coração errar uma batida.
— Oi. – Cecília falou baixinho.
— Oi. – respondi passando os dedos pela marca do travesseiro que havia
ficado no rosto dela. – Pronta pra ir embora?
Cecília fez uma carinha triste e fechou os olhos.
— Queria comprar uma casa e ficar aqui pra sempre.
Sorri. Eu entendia e também queria ficar nessa lua de mel para sempre.
— Você quer que eu te ajude a guardar suas coisas? Temos vinte minutos até
o check-out. – falei olhando o relógio no meu pulso.
— Aham... – ela respondeu se espreguiçando.
Me levantei indo até o banheiro e pegando as poucas coisas dela que estavam
ali. Quando eu voltei, Ceci calçava o tênis. Juntamos tudo rapidamente,
demos uma última conferida no quarto para ver se não havíamos esquecido
nada e saímos.
Pegamos um trânsito relativamente leve por conta da hora que a gente saiu.
Cecília ligou o som do carro e cantarolava junto as músicas conhecidas.
Quase três horas depois, entramos no condomínio de luxo. Minutos antes, eu
havia ligado para Farah para confirmar se estava tudo ok por lá e o meu braço
direito confirmou.
— Por que você ligou antes? – Cecília quis saber.
— Por precaução. – respondi enquanto esperava o portão automático abrir. –
Farah, o homem pra quem eu liguei, tem sempre que está a postos e me
atender. Se isso não acontecer, eu sei que tem alguma coisa errada.
— Coisa errada? – senti ela estremecer ao meu lado.
— Minha missão é protegê-la a qualquer custo, Cecília. – falei estacionando
o carro na garagem. – Seu pai me pediu isso.
Segurei a mão dela.
— E mesmo que ele não tivesse pedido, eu faria isso.
Ela piscou algumas vezes e sorriu.
— Obrigada, Marlon.
— É um prazer, Cecília.
Não tive tempo de dizer mais nenhuma palavra, pois Dr. Ivan já estava do
lado de fora pronto para mimar a tão amada filha.
Saí do carro para pegar a mala dela e levar até o andar de cima.
Tatiana que estava sentada na sala, ficou olhando enquanto eu passava por ela
e subia as escadas.
Passei rapidamente na cozinha para cumprimentar Rosa que já preparava um
cheiroso risoto de camarão para o jantar.
— Volta pra comer, menino. – ela falou quando saí para buscar minha mala e
ir para casa da piscina.
Mal entrei no meu quarto e Mathias já estava colado na minhas costas com
duas garrafas de cerveja.
— Vai desembuchando Torres. – ele me entregou uma cerveja e se sentou na
minha cama. – Quero saber tintim por tintim da sua pegação com a filha do
promotor.
Suspirei e falei:
— É uma longa história. A gente vai precisar de mais que uma cerveja.

▪▪▪
CAPITULO 12
CECILIA

Depois do jantar, que apesar da presença de Tatiana foi divertido, pedi


licença e subi para meu quarto.
Deitei na cama por um momento com o celular nas mãos e atualizei minhas
redes sociais. Postei duas fotos que Marlon havia tirado de mim no feed e nos
stories coloquei algumas das paisagens belíssimas do cerrado.
Olhando as imagens de um final de semana perfeito senti uma certa nostalgia.
Era como se eu tivesse uma vida diferente naquelas fotos, sem preocupações
ou obrigações.
E por falar em obrigações, amanhã recomeçava as minhas aulas no curso de
moda. Nesse módulo, além das aulas online, havia também aulas presenciais
duas vezes por semana.
Deixei o telefone de lado e fui tomar um banho caprichado. Aproveitaria para
lavar e hidratar os cabelos e em seguida escová-los para não perder tanto
tempo no dia seguinte.
Depois do banho, sequei os cabelos, fiz minha rotina noturna de skin care,
vesti um pijama de algodão e fui para a cama.
Já tinha me aconchegado entre as cobertas quando meu celular acusou uma
mensagem.

“Ainda acordada?”
“Esperando por um beijo de boa noite."
“Em um minuto chego aí.”
“A porta está destrancada.”

Meu coração se acelerou em antecipação. Nem parecia que havia passado três
dias praticamente colada naquele homem.
Como eu já estava preparada para dormir, apenas a luz pálida do abajur
iluminava suavemente o quarto.
Eu o senti antes mesmo dele chegar. Tanto a presença, quanto o perfume. Um
perfume aconchegante, mas ao mesmo tempo selvagem. Um aroma de
liberdade e frescor. Um cheiro de homem. O cheiro de Marlon.
Ele entrou furtivamente no quarto. Não usava terno. Vestia uma camisa
estampada e calça de moletom.
— Trouxe seu beijo. – Marlon falou se aproximando da cama.
Afastei as cobertas, convidando-o a deitar comigo.
— Esses dias me deixaram muito mal acostumada. – falei me pendurando
nele.
Marlon me puxou para o colo, enfiando o nariz no meu pescoço.
— Você podia começar a fazer a minha segurança de dentro do quarto. –
comentei passando os dentes pelo queixo dele. – Mais precisamente, daqui da
minha cama. Agarradinho em mim.
Ele deu uma risada rouca que me fez arrepiar.
— Adoraria fazer isso. – ele me beijou de leve. – Mas acredito que quem me
contratou não ia ficar nem um pouco feliz.
Quando Marlon falou isso, eu congelei. Em nenhum momento passou pela
minha cabeça que meu pai não fazia ideia daquilo que meu guarda-costas e
eu tínhamos, seja lá o que aquilo fosse.
— O que aconteceu, Ceci? – Marlon interrompeu os beijinhos.
— Meu pai. – respondi olhando para ele. – Ele não faz ideia da gente.
Marlon riu.
— Talvez ele queira me matar quando descobrir, mas tudo bem.
— No caso, ele me mataria. – Marlon respondeu. – Na mente dele nunca
passaria que a bela filha é uma destruidora de corações. E, logicamente,
colocaria toda culpa no pobre e ingênuo guarda-costas. – ele fez uma cara de
vítima.
Mordi o lábio inferior dele e rebolei sobre uma discreta ereção.
— Bobo.
Marlon deu um sorriso torto, sua marca registrada.
— Agora um assunto sério. – falei. – Essa semana minhas aulas presenciais
voltam. Serão apenas duas vezes.
Marlon assentiu e eu continuei.
— Era para ter te avisado na sexta, quando eu recebi o email, mas eu esqueci.
— Tudo bem. – Marlon se deitou me trazendo sobre ele. – Agora, vamos
dormir que amanhã você tem que levantar cedo.
Me levantei o suficiente para encará-lo.
— O quê? – ele perguntou.
— Mandão. – resmunguei.
— Linda. – ganhei um beijo nos lábios e um tapa na bunda.

•••

Quando acordei na segunda pela manhã, estava sozinha. Não me lembro ao


certo o momento em que Marlon saiu do quarto, mas quando desci para o
café, lá estava ele já de banho tomado.
Rosa andava de um lado para outro arrumando a mesa para o café da manhã
que, excepcionalmente hoje, seria na sala de jantar.
Meu pai e Tatiana ainda não haviam descido, então resolvi comer na cozinha
mesmo junto com Marlon e Rosa, que fez um pequeno banquete para nós
três.
— Não vai esperar seu pai, Ceci. – a amável senhorinha perguntou.
— Hoje não, Rosa. Meu dia está cheio e espero conseguir fazer tudo que eu
coloquei na lista de tarefas.
— Minha menina cresceu. – ela falou emocionada.
Peguei a mão dela e sorri com ternura.
—Ah, Rosa.
O telefone de Marlon tocou e ele saiu para atender.
Quando eu ajudava Rosa a tirar a mesa, o casalzinho chegou. Meu pai me
abraçou, me dando um beijo na testa.
— Oi, meu amor. – ele falou.
— Oi, pai.
— Já tomou café?
— Já. – respondi secando a mão num pano de prato. – Tenho um milhão de
coisas pra fazer hoje.
Dei um beijo no rosto dele, desejei um bom trabalho e subi para meu quarto.
Quando passei pela sala, Tatiana comia uma minúscula porção de salada de
frutas.
— Bom dia. – falei muito mais por educação do que por desejar um bom dia
a ela.
— Oi, Ceci. – Tatiana respondeu de forma exagerada. — Bom dia, meu bem.
Acelerei o passo, subindo as escadas rapidamente.
Já no meu quarto, tomei um banho rápido e me vesti para o curso. Coloquei
uma saia nude, uma blusa ombro a ombro e uma sapatilha de bico fino,
ambas pretas. Peguei uma bolsa preta com alça de correntinha e joguei minha
tralhas lá dentro. Botei uns óculos escuros só pra fazer charme e saí.
Marlon me esperava, como sempre do lado de fora do carro com a porta
aberta.
— Belas pernas, senhorita Bernardes. – ele falou quando pegamos a rodovia
que dava para o centro da cidade.
— Olhos na estrada, senhor Torres. – respondi dando um tapinha na mão dele
que subia pela minha coxa.
•••

O curso de moda da estilista mais famosa de Minas Gerais era maravilhoso.


Apesar de ter algumas coisas que já tinha visto no curso de Milão, eu estava
adorando.
Regina Meirelles, a dona do estabelecimento, era puro estilo. Eu a achava
super parecida com a Miranda Priestly do filme O Diabo Veste Prada, tanto
no modo de vestir quanto na personalidade. Ela emanava poder.
As horas voaram durante a aula e eu mal percebi que já estava na hora de ir.
Juntei meus materiais e quando ia sair, Regina me chamou.
— Cecília?!
Me virei para ela meio ansiosa, pois ela nunca havia feito aquilo com
nenhuma das outras meninas.
— Você fez curso de moda em Milão.
Assenti e ela continuou:
— Você poderia trazer o seu material para que eu possa dar uma olhada?
— Claro, Regina.
— Chegue um pouco mais cedo na próxima aula.
— Sim.
Fiquei esperando que ela falasse algo mais, mas ela simplesmente me
dispensou.
Se você já assistiu algo sobre moda vai saber que essa maneira de agir é
quase uma obrigação dos deuses desse meio.
Agradeci a Anna Wintour por não ter cometido nenhuma gafe na frente da
mulher e saí quase correndo. Mas tudo com bastante elegância, que fique
bem claro.
Cheguei em casa com um milhão de croquis para reproduzir para próxima
aula, além das atividades teóricas que foram enviadas por email.
O dia, assim como a aula, passou rapidamente, tanto que mal vi Marlon ou
Rosa. Só saí do quarto quando o jantar estava pronto, minutos antes de meu
pai chegar, me fazendo deixar de lado a pele de Andy Sachs e vestir a de
Cecília Bernardes.

▪▪▪

CAPITULO 13
CECILIA

No sábado, por volta das nove da manhã, Marlon e eu estávamos a caminho


do shopping. Eu queria muito fazer algumas compras e renovar meu guarda
roupas para nova estação.
Me sentei no banco da frente ligando o som e nos dando uma distração até o
shopping mais luxuoso da cidade.
Já no shopping, ainda dentro do carro no estacionamento, obriguei Marlon
tirar o paletó e a gravata, pois eu queria me sentir normal, não uma
celebridade e seu guarda-costas.
— Cecília isso é o meu uniforme. – Marlon protestou sem muita veemência,
enquanto tirava arma debaixo da coxa e a colocava no coldre de cintura, e
deixava o paletó no banco de trás.
— Relaxa Sr. Torres, eu sou sua chefe. – brinquei, abrindo os dois primeiros
botões da camisa branca dele.
Marlon se retesou quando a ponta dos meus dedos roçaram a pele bronzeada
de seu peito. Ele me encarou, cerrando o maxilar me fazendo ficar presa
naquele olhar. Minha mão tocou de leve sua barba e eu mudei de posição no
banco, ficando sentada sobre ele. Minha saia subiu um pouco dando acesso à
mão de Marlon.
— Cecília... – ele disse, olhando para os lados para ver se estávamos sendo
observados.
Não queria saber se teríamos plateia, só queria uma coisa: beijá-lo. E foi o
que eu fiz.
Meus lábios tocaram de leve os dele, instigando-o.
Marlon segurou minha nuca me fazendo ficar colada em seu corpo num beijo
quente, de tirar o fôlego. Minhas mãos atacavam aquele corpo divino,
passeando pelos braços fortes e o abdômen musculoso. A língua dele duelava
com a minha.
— Não estou acreditando que você quer transar no estacionamento. – Marlon
falou interrompendo o beijo.
— Eu é que não estou acreditando que você está destruindo meus sonhos. –
respondi voltando para o bando do carona.
Ele deu aquela risada sexy, tirando a camisa de dentro da calça e cobrindo a
arma.
Saímos do carro ao mesmo tempo. Ele deu a volta no veículo e esperou que
eu ajeitasse minha roupa.
— Você está linda. – Marlon disse esticando a mão para mim.
Eu fiquei parada olhando aquele gesto.
— O quê? – ele perguntou sem entender. – Você disse que não queria um
guarda-costas. Então decidi ser seu namorado, nem que seja só por hoje.
Meu coração capotou e as palavras me faltaram. Apenas segurei a mão que
ele estendia pacientemente para mim, resolvendo apenas passear no shopping
com meu namorado.
Algumas mulheres nem disfarçavam os olhares em direção a Marlon, mas ele
mal percebia. O pedaço de mal caminho ao meu lado só tinha olhos para uma
única mulher: euzinha aqui.
Rodamos em diversas lojas, antes de parar na praça de alimentação para
almoçar. Decidimos comer no Outback mesmo. Pedimos o menu de almoço
completo, com sobremesa em dobro. Depois de comermos, voltamos às
compras. Ou melhor, eu voltei, pois Marlon apenas segurava minhas duzentas
sacolas.
Quando saímos do inferninho de compras eram quase quatro da tarde e o
carro estava abarrotado de sacolas.
E no dia em que estávamos sem um segundo carro de seguranças aconteceu
um pequeno incidente.
Marlon havia acabado de entrar na movimentada avenida em frente ao
shopping, quando um carro preto nos deu uma fechada. Até então tudo
normal para uma cidade com grande fluxo de trânsito como BH.
Quando pegamos a rodovia que levava ao lado da cidade onde ficava meu
condomínio, vi que Marlon estava meio tenso. Olhava mais vezes que o
normal para o retrovisor interno e já tinha checado algumas vezes se a pistola
estava a postos debaixo da perna.
— Marlon? – o chamei baixo rompendo o silêncio ensurdecedor do veículo.
Ele olhou para mim de relance para mostrar que estava escutando.
— O que acontecendo? – questionei com medo da resposta.
Marlon fez algumas manobras, cortando diversos carros, sem tirar os olhos da
estrada e do retrovisor.
— Estamos sendo seguidos. – ele falou com tranquilidade, confirmando
minhas suspeitas.
Engoli seco, me virando para olhar entre os nossos bancos. O mesmo carro
preto que havia nos fechado na saída do shopping nos seguia a uma distância
considerável.
— É aquele carro de novo. – constatei o óbvio.
— É sim. – ele respondeu.
— Eu tô com medo. – confessei.
— O carro é blindado. – Marlon falou sério. – Ao menos que eles não me
faça perder o controle do veículo, estamos a salvo.
Meu coração esmurrava minha caixa torácica, se fazendo ouvir por todo
ambiente. O suor pingava das minhas mãos, me obrigando a secá-las várias
vezes.
Sem reduzir a velocidade, Marlon me olhou.
— Fica calma. – ele colocou a mão rapidamente na minha perna. – Vai dar
tudo certo.
Comecei a respirar com um pouco de dificuldade.
— Cecília? – ouvi a voz de Marlon ao longe me chamando. – Cecília?
Na minha mente só passava cenas trágicas. Que eles ia nos dar um toquinho
na traseira do carro e nos fazer capotar. Ou que eles ia jogar o carro em cima
do nosso e íamos cair barranco abaixo. O pavor me consumia e eu mal ouvia
a voz dele.
— CECÍLIA! – Marlon gritou e eu me assustei saindo daquele estado. – Me
escuta.
Olhei para ele com as mãos agarradas no banco.
— Respira. – ele baixou a voz. – Puxa o ar e solta devagar.
Ele fez uma vez e eu repeti.
— Concentra na sua respiração. – Marlon pediu. – Puxa e solta.
Eu fiz isso por um tempo e estava ajudando a me acalmar. Mas ainda faltava
muito para chegar em casa.
Marlon deu um golpe no volante, enfiando a gente na frente de outro veículo
e entrou em uma rua que entrava num bairro pela rodovia.
— O que você... – comecei a falar, mas o susto que eu levei com o
movimento do carro me interrompeu.
Marlon dirigia feito um louco por entre os carros. Nunca nessa vida eu
conseguiria fazer um décimo do que ele fazia ao volante. Ele se embrenhava
pelas ruas estreitas de um bairro desconhecido.
Ele olhou pelo retrovisor novamente e, pela expressão do rosto dele, o carro
ainda nos seguia.
— Merda! – resmungou.
Ele acelerou mais o veículo, passando por três cruzamentos sem parar.
E como se fosse num passe de mágica, Marlon entrou em um portão aberto e
desligou o carro.
— Se abaixa. – ele ordenou.
Fiz meu melhor para me esconder sob o painel do automóvel ainda presa no
cinto de segurança. Fechei meus olhos e fiz uma oração silenciosa. Todo meu
corpo tremia.
Minutos se passaram até que dei um salto quando senti a mão pesada de
Marlon no meu ombro.
— Cecília? – ele chamou baixinho. – Tá tudo bem agora.
Ele soltou meu cinto, me puxando para os braços dele e beijou meus cabelos.
— Você está segura agora, meu amor. – ele sussurrou no meu ouvido.
Eu me agarrei nele, ainda tremendo.
— Marlon... – choraminguei.
— Eu tô aqui. – ele me apertava forte. – Tá tudo bem.
Longos minutos se passaram até que eu parasse de tremer e conseguisse me
sentar no meu banco.
— Tá pronta pra ir pra casa? – Marlon perguntou.
Apenas assenti, não confiava na minha voz naquele momento.
Marlon deu uma volta gigantesca até que a gente voltasse para a rodovia e
seguisse para casa.
Durante o resto do trajeto ficamos em silêncio. Minha adrenalina havia
baixado e refletia na minha cabeça, que doía feito o diabo.
Quando cheguei em casa, subi diretamente para o quarto, deixando por conta
de Marlon trazer as sacolas e contar nossas aventuras para meu pai, que ainda
não havia chegado do fórum.
Entrei no banheiro, peguei duas aspirinas e bebi com água da torneira
mesmo.
Tomei um banho rápido, vesti uma roupa confortável e me deitei na cama.
Um tempo depois, Marlon bateu a porta trazendo a primeira leva de sacolas.
Da segunda vez, ele voltou com Rosa e uma bandeja de comida.
Comi em silêncio sob o olhar amoroso de Rosa. Marlon havia descido para
sala de briefing e ia esperar meu pai para ter a tão temidas conversa.
Me arrastei para o banheiro, escovei os dentes e me arrastei de volta para a
cama.
Senti alguém puxar o edredom sobre meu corpo e me dar um beijo na testa,
mas estava tão cansada mentalmente que não tive forças para abrir os olhos.
Consegui pegar no sono realmente, quando um corpo quente se enrolou no
meu, me embalando.

▪▪▪

CAPITULO 14
IVAN

Depois de dar alguns telefonemas durante o final de semana, na segunda-feira


bem perto da hora do almoço, eu já tinha um mandado de busca e apreensão
expedido na minha mesa. Só faltava um policial vir buscá-lo para dar
andamento a investigação.
No sábado, a tarde, após saírem do shopping, Cecília e Marlon foram
perseguidos por um carro preto durante a volta. Minha filha ficou
assustadíssima, passando todo o domingo levemente abatida. Já o segurança,
fez tudo que se esperava dele e um pouco mais. Além de proteger Cecília e
anotar a placa do veículo, Marlon ficou muito irritado com a audácia dos
bandidos e acionou seu contato nas polícias Civil e Militar que passaram todo
o final de semana dando batidas em algum suspeitos.
Eu estava tão absorto no trabalho que mal ouvi Tatiana bater na porta.
— Meu amor? – ela colocou a cabeça para dentro da sala. – Posso entrar?
Levantei os olhos até a loira sorridente na porta e fiz um sinal para que ela
viesse até mim.
Tatiana deu a volta na mesa, se sentando em meu colo e colando a boca na
minha. Soltei a caneta que eu segurava, passando as mãos pela base da coluna
dela, trazendo-a para mais perto de mim.
— Pronto pra almoçar, gatão?! – Tatiana perguntou puxando e alisando
minha gravata.
Me recostei na cadeira para olhá-la melhor e deslizei os dedos pelo braço
dela.
— Sim, só preciso despachar alguns documentos.
Tatiana se pendurou no meu pescoço e me beijou novamente.
— Vou te esperar. – dito isso, ela levantou e se sentou na cadeira em frente a
minha.
Ficamos em silêncio, enquanto eu terminava de fazer os despachos da parte
da manhã, Tatiana mexia no celular.
Em um dado momento, avisei que iria ao banheiro e que se alguém chegasse
ela pedisse a pessoa para esperar. Ela anuiu e eu saí, deixando a porta
encostada.
O banheiro ficava no fim do corredor e todos os dias eu fazia esse percurso
no mínimo umas cinco vezes, pois ingeria bastante líquido. Se não pegasse
um horário de pico, menos de três minutos depois estava de volta na minha
sala.
Hoje não foi diferente. Mas quando voltei, tive uma pequena surpresa.
Tatiana estava meio debruçada sobre minha mesa e lia alguns papéis que
haviam lá. Fiquei parado observando o que ela fazia. A porta encostada me
dava cobertura. Só que eu não contava com César, o investigador que viria
buscar o mandado de busca e apreensão.
— Fala, doutor. – ele me cumprimentou, fazendo Tatiana disfarçar o que ela
fazia dentro da sala.
— Tudo bem, César? – perguntei desviando o olhar da minha namorada.
— Tudo beleza. – o homem respondeu. – Já tem o que eu preciso?
— Tenho sim. – falei abrindo a porta para que ele entrasse. – Vamos entrar.
Ele pareceu um pouco surpreso ao ver Tatiana dentro da sala.
— César essa é Tatiana, minha namorada. – ela se levantou e esticou a mão
para ele. – Tatiana, esse é César, meu amigo.
César pegou a mão dela e olhou para mim como se pedisse explicações. Fiz
um gesto mínimo com a cabeça e ele entendeu que depois eu daria todas as
respostas que ele quisesse.
— É um prazer conhecer um amigo de Ivan. – Tatiana falou sorrindo.
— É um prazer conhecer uma namorada de Ivan. – ele retrucou rindo junto
com ela.
Fui para minha cadeira e me sentei um pouco intrigado com o que tanto tinha
chamado a atenção de Tatiana. Peguei o mandado, dobrando-o duas vezes e
entreguei a César.
— Obrigado, doutor. – ele agradeceu. – Depois entro em contato.
Assenti.
— Boa tarde. – César se despediu. – Foi um prazer, Tatiana.
Ela sorriu.
— O prazer foi meu. – ela estendeu a mão para o homem novamente.
Quando ficamos sozinhos, Tatiana falou:
— Que simpático! Gostei dele. Queria conhecer mais seus amigos, Ivan.
Eu juntava os papéis da minha mesa, que estavam mais desorganizados do
que antes.
— César é uma excelente pessoa. – falei desistindo de arrumar a mesa e
levantando para pegar meu paletó. – Eu particularmente, gosto muito dele.
Tatiana colocou a bolsa no braço e se levantou indo até mim.
— Desistiu da arrumação? – ela perguntou, tirando uma ruga invisível da
lapela do meu paletó.
— A vontade de almoçar não me permite concentrar em nada. – dei um
selinho nela.
— Então vamos trazer sua concentração de volta, Dr. Ivan. – ela falou
sorrindo.
Tranquei a sala, dei o braço a ela e saímos em direção ao melhor restaurante
da região.

•••

Almoçamos tranquilamente, Tatiana preenchia o silêncio com facilidade. Ela


falava sobre alguns processos, sobre a roupa nova que havia comprado... Mas
minha cabeça martelava o que ela havia visto de tão interessante entre os
papéis na minha mesa.
Pedi e paguei a conta, sendo avaliado por Tatiana.
— O quê? – questionei-a.
— Me sinto mal que você sempre pague a conta, Ivan. – ela tocou minha mão
enquanto eu esperava o garçom voltar com o cafezinho.
— Isso não é problema para mim. – respondi. E não era mesmo.
— O próximo almoço é por minha conta.
O garçom havia chegado com o café. Agradeci o homem antes de sorri e
respondê-la.
— Se você insiste...
Terminei meu café e deixamos o estabelecimento. Quando íamos entrar no
carro, Tatiana disse que iria passar em uma loja para comprar a tão falada
roupa e que a noite iria estreá-la comigo.
Sorri cheio de segundas intenções e recebi de volta um beijo apaixonado na
boca.
— Até mais tarde, Dr. Ivan. – ela jogou um beijinho no ar para mim.
Dei uma piscadela para ela e entrei no carro que Borges já mantinha ligado,
pronto para voltarmos ao fórum.
No caminho liguei para Cecília para saber como ela estava e fiquei feliz em
ouvir um pouco de animação na voz dela.
Já na minha sala, adiantei o trabalho e arrumei a papelada que estava um caos
na minha mesa.
No finzinho da tarde, quase na hora que eu tinha costume de sair, César me
ligou com informações da batida que eles deram.
— Doutor? – ele falou quando eu atendi. – Não deu em nada o mandado.
— O quê?! – quase engasguei com a água que eu bebia. – Como assim
César? Você falou que era uma pista quente.
— Falei, doutor. Mas os caras não estavam lá. – ele fez uma pausa e
respondeu alguém lá do outro lado da linha. – Só tinha um menor que a gente
prendeu para averiguação e que já já vai ser liberado.
Abaixei a cabeça e massageei meu pescoço que estava duro de tensão desde
sábado.
— Ok, César. – falei desanimado. – Qualquer novidade me avisa.
— Pode deixar, chefia. – ele respondeu.
Mas antes de desligar ele falou algo que me acendeu uma luz vermelha.
— Doutor? Eu acho que conheço essa sua namorada de algum lugar.
— De onde? – questionei rapidamente.
— Ainda não consegui me lembrar. – A respiração dele foi ruidosa do outro
lado da linha. – Se eu lembrar eu te ligo.
— Obrigado, César. – falei encerrando a ligação.
Terminei de guardar a papelada e decidi encerrar o dia. Não estava com
cabeça para mais nada, só queria ir para casa e mimar minha Cecília antes de
Tatiana chegar.
No trajeto de volta para casa, passei numa confeitaria e comprei uma enorme
torta de chocolate para adoçar a noite de Ceci.
Quando cheguei na mansão ela estava no terraço jogando xadrez com
Marlon. Ouvi a risada dela e deduzi que toda aquela tensão havia passado.
— Boa noite. – falei e ela levantou a cabeça um pouco assustada. – Te
assustei, meu bem?
Ela levantou para me abraçar e disse:
— Não, pai. Só fiquei surpresa com as horas que já se passaram.
— Tudo bem por aqui, Marlon? – questionei.
— Sim, senhor. – ele respondeu se levantando.
— Ótimo. – falei. – Agora vamos descer que eu trouxe torta de chocolate.
Vi o sorriso de Ceci se iluminar e ela estender a mão para Marlon.
Fingi que não vi o gesto, mas dei uma bela encarada ao guarda-costas.

▪▪▪
CAPITULO 15
TATIANA

Mais pro final da semana, quando consegui uma folga do escritório de


advocacia, voltei a me encontrar com Ivan. Muito dessa minha falta de tempo
se dava por ter que limpar a merda que os três imbecis que perseguiram
Cecília e Marlon fizeram.
No sábado, depois de fugir da capital, os idiotas se envolveram em uma treta
no sul do estado e eu tive que ir até lá tentar a liberação deles. Mas antes fiz
os três passar uns dias atrás das grades.
Eles arrumaram confusão em um puteiro de quinta categoria e foram detidos
por embriaguez e agressão. A sorte é que antes de seguirem para lá, eles
trocaram as placas do veículo para não serem ligados ao ataque.
Ivan, como sempre, estava lotado de trabalho e desta vez não pôde me fazer
companhia durante o almoço. Mas prometeu que me levaria para jantar na
zona sul no sábado.
Saí do fórum e me dirigi em direção ao shopping, há algumas quadras dali.
Lá olhei as vitrines, sendo abduzida para a loja de sapatos. Entrei me sentindo
no paraíso, havia saltos para todos os gostos. Mas o que mais me chamou a
atenção foi uma sandália vermelha de tiras. Foi amor a primeira vista, e
obviamente, eu tive que comprá-la.
Depois de alimentar meu espírito consumista, era hora de alimentar minha
barriga, mas é claro, com uma saladinha, pois eu precisava manter minha
barriga chapada. Um corpo escultural como o meu, fruto de uma malhação
pesada diariamente, era mantido com pouquíssimas calorias e nada de
carboidrato.
Na porta do VeganFood, que como o próprio nome dizia era um restaurante
vegano, a hostess me guiou a uma mesa.
Olhei o cardápio com a barriga roncando, minha última refeição havia sido
feita várias horas atrás.
Pedi uma salada de salmão e uma taça de vinho branco seco para
acompanhar. Apesar de ser quase paranoica quando a minha alimentação, não
dispensava um bom vinho para saborear durante as refeições.
Quando estava quase terminando de comer, meu celular tocou. Era Roger,
meu amante e motivo do envelhecimento precoce de Ivan.
— Oi, querido. – falei atendendo o telefone.
— Está ocupada? – ele perguntou do outro lado da linha.
— Não, estou almoçando sozinha. – dei um gole no vinho. – O banana do
Ivan estava lotado de trabalho e não pôde vir.
— Ótimo. – Roger respondeu. – Não gosto de saber que ele fica tocando ou
beijando minha joia.
Corei. Estava com Roger a anos, mas ele nunca deixou nem por um segundo
de me fazer sentir como a rainha, que eu realmente era.
— Você está precisando de alguma coisa, baby? – questionei, pois ele quase
nunca me ligava, e quando tinha algo para me dizer, mandava uma
mensagem codificada e a gente se encontrava pessoalmente.
— Queria te ver e repassar algumas pontos. – Roger falou, mas eu sabia que
isso era uma ordem.
— Só vou pagar a conta e chego aí. – respondi, acenando para o garçom para
que ele trouxesse a conta.
— Ok. – ele disse seco e desligou.
Roger e eu não nos víamos desde antes da perseguição a Cecília. E desde que
eu comecei a me relacionar com Ivan, a gente se via religiosamente uma vez
por mês. E o fracasso no ataque a mimada filha do promotor, antecipou esse
encontro.
Cheguei no estacionamento, entrando no carro e rumando para a casa de
Roger rapidamente. Ele não gostava de esperar, detestava ser contrariado e se
enfurecia quando as coisas não saíam como planejada. E hoje o combo estava
completo.

•••

Atravessei a cidade, chegando onde Roger morava uma hora e meia depois de
sair do shopping. Ele vivia em um condomínio relativamente simples, sem
chamar muito a atenção. Não era de extravagâncias, sem carro, roupas ou
artigos de luxo. Até porque um homem da posição dele, não podia se
permitir se observado ou investigado. Ivan havia chegado a Roger, mas não
fazia ideia do nome ou da identidade dele. Eu era uma espécie de espiã e
adorava esse papel.
Depois de ser liberada na portaria, segui para a última casa do condomínio.
Havia alguns jardineiros cuidando das plantas na entrada do imóvel, mas tudo
de fachada, eles não passavam de homens de Roger que faziam sua
segurança. Os homens acenaram com a cabeça quando passei por eles e entrei
na casa.
Um homem, discretamente armado me acompanhou até Roger. Ele estava no
escritório e bebia um uísque duplo, parecendo um pouco irritado com algo.
— Oi, meu amor. – falei indo em direção a ele, do outro lado da mesa.
— Oi. – ele foi seco e desviou do beijo que iria depositar nos lábios dele.
Recuei ressentida, olhando de rabo de olho para o guarda-costas de dois
metros de altura no canto do ambiente.
— Você disse que daria conta do serviço. – Roger se levantou, trazendo
consigo o copo de uísque. – Era só um pequeno toque na traseira do carro da
garota e boom... Teríamos o promotor nas mãos. Mas nem isso aqueles
idiotas que você contratou conseguiram fazer.
Ele estava próximo e eu sentia a raiva emanar dele. Engoli seco, nunca sabia
o que se esperar de Roger. Ele podia parecer bravo e te fazer um carinho,
quanto podia aparentar calma e ser todo sorrisos e lhe enfiar a mão na cara.
— Você me decepcionou, Tatiana. – Roger passou as mãos pelos meus
cabelos. – Nunca pensei que uma coisa tão simples poderia ser tão complexo
pra você.
Ele deu um pequeno tranco no meu pescoço, o suficiente para mostrar que ele
estava puto da vida, eu era o motivo e sofreria as consequências. Coisa que
eu mais temia.
— Me descul... – tentei falar, mas ele me falou fazendo um xiii no meu
ouvido.
— Qual é meu lema, meu amor? – a voz dele era suave, doce.
— Um acerto, uma recompensa; um erro, uma punição. – respondi o mantra
que aprendi com a dor.
Recebi um beijo no pescoço, ficando toda arrepiada.
— Você é tão linda... – Roger falou, fazendo um gesto para o homem de pé
no canto da sala, que apenas se virou de costas.
Senti os dedos de Roger tocarem o paletó do meu terninho é descê-lo pelos
meus ombros. Ele o jogou na cadeira de couro dele e logo me debruçou sobre
a mesa de madeira maciça, se ajoelhando atrás de mim e subindo minha saia
até a cintura. Gentilmente, Roger desceu minha calcinha, colocando-a na
minha boca.
— Sem escândalo, meu amor. Hoje temos visitas. – ele falou no meu ouvido
enquanto abria o cinto e desabotoava a calça.
Sem aviso, ele entrou em mim, fazendo um gemido escapar dos meus lábios.
Recebi um tapa na nádega esquerda em punição.
— Vamos ter que mudar a tática, Tatiana. – Roger conversava calmamente,
como se estivesse em uma reunião séria e não me comendo com a maior
vontade do mundo. – Algo que eu já tinha pensado antes.
Gemi em resposta. Foda-se o plano, quero gozar, pensei.
— Sequestro era o que eu tinha em mente. – Roger conjecturou com a voz
entrecortada pelas estocadas que me dava.
Resmunguei para ele ir mais rápido.
— O quê? Você concorda? – ele continuava o monólogo. – Sabia que você
iria concordar, meu amor.
Um tapa na nádega direita.
— Vamos ter que dar um jeito naqueles idiotas que você contratou.
Um tapa pelo meu erro, um gemido em resposta.
— Sim, é você que vai resolver isso. – ele falou como se eu tivesse
perguntado algo.
Eu estava quase lá e ele sabia disso. Roger intensificou as metidas, se
deitando parcialmente sobre mim. Ele gemia na minha orelha, falando
sacanagens de todos os tipos, coisas que eu amava ouvir na hora da foda até
que ele gozou e eu fui junto.
Alguns minutos se passaram até que ele saiu de dentro de mim, se arrumando
como se nada tivesse acontecido a segundos atrás. Ainda estava meio mole
por conta do orgasmo quando passei com a bunda totalmente de fora pelo
segurança de Roger para chegar ao banheiro do escritório.
Me limpei rapidamente, arrumando minha roupa e meu cabelo, voltando para
mais instruções sobre como proceder dali pra frente.
— Você saberá quando acontecer. – foi tudo que Roger disse. Com isso, eu
sabia que estava dispensada por hoje.

▪▪▪
CAPITULO 16
MARLON

Semanas se passaram desde que Cecília e eu fomos perseguidos por bandidos


em um carro. Desde então não se tinha novidades sobre o quem eram eles,
muito menos o paradeiro do veículo. Eu me mantinha em contato com
minhas fontes nas polícias Civil e Militar, que ainda não tinha nenhuma pista
quente sobre o acontecido.
Cecília preferiu se manter em casa apenas nas duas semanas que seguiram o
acontecido, retomando as aulas presenciais tão logo fora ajustada a
segurança. Não fazíamos a mesma rota, mudávamos o caminho de volta para
casa todos os dias e sempre seguidos por um segundo carro de seguranças
fortemente armados.
Eu percebia que ela estava cansada e se estressava com mais facilidade por
ficar apenas em casa. Cecília tinha muitos livros para ler, coisas do curso de
moda para fazer, além de se arriscar na cozinha pelo menos duas vezes na
semana, mas isso não era o suficiente.
Algumas noites, depois que Dr. Ivan ia dormir, eu entrava para o quarto dela
e ficávamos conversando e se beijando até ela pegar no sono. E durante o dia,
quando Ivan não estava, ela sempre arrumava um jeito de ficar sozinha
comigo para transar.
Quanto mais ociosa Cecília ficava, mais tesão ela tinha. Nós estávamos
fazendo sexo com mais frequência e isso começou a me preocupar. Um dia
eu perguntei a ela se estava tomando anticoncepcional, e ela me respondeu
que sim. Com a loucura que estava a nossas vidas e a quantidade de sexo que
estava rolando, uma gravidez inesperada poderia acontecer. Eu trabalhava
bastante e nunca tinha parado para pensar em diminuir o ritmo, casar e ter
filhos, mas sempre quis que isso acontecesse em algum momento da minha
vida. Já Cecília era muito jovem para que eu jogasse uma responsabilidade
gigantesca dessas em seu colo. Então o melhor a se fazer, era prevenir.
Numa quinta-feira, durante o almoço, em que Rosa, Cecília e eu comíamos
na área externa da casa, a garota fez um pedido.
— Marlon? – Cecília chamou entre uma garfada e outra na lasanha.
Levantei os olhos do meu prato para ela, desconfiado.
— A gente poderia sair amanhã? Um barzinho, uma baladinha? – ela me
olhou com uma cara pidona.
Rosa arregalou os olhos e me encarou esperando minha resposta.
Tomei um gole d’água para desentalar a comida e ganhar um pouco de
tempo.
— Sair? – foi tudo que consegui falar.
— É Marlon. Ver pessoas, beber um pouco, beijar na boca.
Rosa olhou boquiaberta para a garota.
— O que é isso, minha filha? Tá cheia de saliência, hein!?
Prendi o riso e abaixei a cabeça, vendo Ceci ficar vermelha.
— Estou precisando espairecer, Rosa. – Cecília deu um gole no vinho que
apenas ela e senhora bebiam. – Não aguento mais ficar indo apenas de casa
pro curso, do curso pra casa. Se eu não tivesse batido o pé, nem isso eu
estaria fazendo.
— Você não fica com medo de acontecer tudo isso de novo, meu amor? –
Rosa perguntou cautelosamente.
— Não posso viver sempre com medo. – Cecília me olhou. – E sempre que
eu precisar, sei que Marlon estará lá.
Rosa nos olhou com a sombra de um sorriso no rosto, que eu fingi não notar.
— Ivanzinho vai sofrer um troço quando você falar isso pra ele.
— Eu tenho certeza que Tatiana estará ao lado dele no momento para
ampará-lo.
— Aquela lá não desgruda um minuto. – Rosa comentou.
— Um pé no saco. – Ceci rebateu.

•••

Depois do almoço, Cecília subiu para o terraço para ler e eu a acompanhei,


levando meu notebook para fazer alguns trabalhos da empresa.
Ficamos imersos, cada um no seu mundo, por horas. Por volta das quatro da
tarde, Rosa trouxe um lanche e em seguida voltamos a fazer o que fazíamos
antes.
Quando as luzes automáticas se acenderam, Cecília se espreguiçou deixando
o livro de lado e me olhando. Estávamos no sofá que ficava do lado contrário
às espreguiçadeiras, eu sentado em uma ponta e ela deitada com os pés
próximos a minha perna.
— Você fica lindo todo concentrado. – ela comentou sorrindo.
Fechei o notebook, encerrando o trabalho e puxei os pés dela para o meu
colo, fazendo uma massagem.
— Você fica linda de qualquer jeito. – respondi.
Cecília se sentou, montando no meu colo e beijando minha boca.
— Você é um galanteador, Sr. Torres. – ela alisava minha nuca com os lábios
próximo aos meus. – Eu gosto disso.
— A senhorita merece todos os meus galanteios. – beijei-a.
Interrompemos o amassos quando ouvimos o portão eletrônico se abrir e o
carro de Dr. Ivan entrar. Cecília fez uma carinha triste e eu prometi que a
noite nós dois continuaríamos de onde havíamos parado. Descemos
rapidamente as escadas, encontrando com Ivan passando pela porta dupla da
entrada, com a Tatiana a tira colo.
Cecília correu para o pai, abraçando-o. Tatiana disfarçou, mas eu consegui
captar o momento exato que a expressão facial dela mudou por uma fração de
segundos.
— Oi, meu amor. — Dr. Ivan falou dando um beijo casto na testa de Cecília.
— Oi, pai. Como foi seu dia? – ela perguntou sondando o terreno.
— Cheio como sempre. – Ivan se sentou no sofá. – Processos que não
acabam mais, litros de café e uma enxaqueca.
Ceci e eu trocamos olhares e eu fiz que não com a cabeça. Não era o
momento para comunicar ao pai que ela iria para uma festa, principalmente
depois do incidente na saída do shopping. Mas ela não meu deu ouvidos.
— Pai... – ela começou a falar. – Marlon e eu vamos a uma festa amanhã.
Ela era bonita, mas muito teimosa, quando botava alguma coisa na cabeça
não desistia.
Ivan, que estava com a cabeça apoiada no encosto do sofá, abriu os olhos
encarando a filha incrédulo.
— O quê!? – ele praticamente gritou.
Cecília, que conhecia bem o pai que tinha, já trazia um copo com uísque,
duplo para ser mais exato. Ivan bebeu meio copo e olhou para mim.
— Sr. Torres, o que o senhor me diz sobre isso?
Dei um passo a frente, com a postura ereta.
— O senhor conhece sua filha, Dr. Ivan. – balancei a cabeça.
O homem cansado e com duas mulheres no pé dele, cada uma exigindo algo
completamente diferente, não conseguiu dizer não para elas. Cecília queria
dar uma volta, se divertir. Tatiana, queria subir e transar a exaustão.
Dr. Ivan suspirou derrotado, olhando para a filha falou:
— Ok, você pode ir. Mas Marlon ficará o tempo todo com você. E na volta,
eu quero cuidado redobrado. – essa última parte, ele falou olhando para mim.
Cecília deu um beijo estalado no rosto do pai e foi para a cozinha atazanar
Rosa. Eu a segui, deixando o casal sozinho na sala.

•••

Na sexta no finalzinho da tarde, Cecília estava com dois tipos diferentes de


máscara no rosto e mais uma no cabelo. Ela estava enrolada num roupão
felpudo e fazia as unhas sentada na beirada da cama, enquanto eu agilizava a
segurança da noite.
Ela cantarolava baixinho uma música que saía de seus fones, sem se lembrar
de que eu estava ali a observando.
A baladinha que ela havia escolhido, ficava em uma área nobre de Belo
Horizonte e era point dos riquinhos de toda a região. E também, era o lugar
onde Michael era o dono.
Michael Fernandes, era um velho conhecido meu. Minha empresa quase
sempre fazia segurança e escolta armada para ele.
Liguei para o homem que atendeu no segundo toque.
— Marlon Torres, a que devo a honra?
— Mike, estou precisando de um favor.
Ouvi a risada dele do outro lado da linha.
— Mas é claro, Torres. O que você manda hoje?
— Você coloca meu nome na lista de hoje a noite? – perguntei enquanto
admirava Cecília se cuidar.
— Você na balada? – Mike perguntou incrédulo. – Que bicho te mordeu?
— Vou levar uma garota. – falei e Ceci me olhou.
— Quem que foi a louca te conseguiu laçar seu coração?
— É uma longa história, meu amigo. – respondi sorrindo.
— Então você pode arranjar um tempo para esclarecer as coisas, pois eu sou
todo ouvidos.
Sinalizei a Ceci que iria subir para o terraço e ela fez que sim com a cabeça.
Subi as escadas, me sentando no sofá e contando para ele superficialmente
quando meu caminho se encontrou com o de Cecília.

•••

As nove da noite, partimos em direção a casa de show de Mike. Levaríamos


uns quarenta e cinco minutos até lá. Antes de encerrar a ligação mais cedo,
informei a ele que estaria armado e que isso seria um problema na entrada,
mas Mike respondeu que ele, pessoalmente, nos colocaria para dentro da
boate.
Cecília estava bonita e muito cheirosa. Ela vestia um body sem mangas, uma
calça de couro apertada e uma sandália de tiras, todos pretos. Estava um
espetáculo. O único ponto de cor, era o lábios, vermelhos.
Já eu, vestia uma jaqueta preta, com uma camisa cinza e calças jeans escuras.
E claro, coturnos. A arma ia no coldre de axila, muito bem escondida e de
fácil acesso, caso precisasse.
Seguimos tranquilamente, em comboio para a zona sul da cidade.
Conseguimos uma vaga mais próximo da entrada da balada, mas o segundo
veículo teve que estacionar na rua lateral.
A porta da boate estava lotada. Pessoas de todas as idades faziam fila para
entrar. O som da casa já estava no talo.
Ofereci a mão para Cecília e rumamos para a entrada. Mike nos aguardava,
próximo ao segurança da porta. Ele fez sinal para gente e nos puxou para o
canto, colocando pulseirinhas vip.
— A consumação hoje é por minha conta. – ele falou próximo ao meu ouvido
por conta da música alta.
Em agradecimento, apertei a mão dele, que olhou para Ceci e deu um
piscadinha.
Filho da puta.
A música havia mudado para um hip hop, quando eu perguntei Cecília se ela
queria beber alguma coisa.
— Gim tônica. – ela respondeu balançando no ritmo do som.
Fomos juntos até o bar e fizemos o pedido.
— Não vai beber nada? – ela questionou.
— Não. – deu um selinho nela. – Hoje vou ser sua babá.
A bebida ficou pronta e então voltamos para a pista de dança.
Cecília se divertia, dançava, bebia e me beijava. Eu tentava acompanhar o
ritmo frenético do corpo dela.
Mais uma gim tônica. Mais dança. Mais beijos.
Ela estava radiante e era quase uma da manhã. Ela não se cansava. Rebolava
se esfregando em mim, me deixando excitado.
— Não me provoca, Cecília. – falei no ouvido dela, enquanto ela subia e
descia pelo meu corpo, com a bunda bem em cima do meu pau.
Em resposta recebi uma risadinha safada e uma mão boba nada discreta.
O DJ trocou a música e Ceci deu uns pulinhos, falando:
— Eu amo essa música, Marlon.
Ela pendurou no meu pescoço e cantava junto com a letra da música.

“A little bit older


A black leather jacket
A bad reputation
Insatiable habits
He was onto me, one look and I couldn't breathe
Yeah, I said,
If you kiss me, I might let it happen.”
(Um pouco mais velho
Uma jaqueta de couro preta
Uma má reputação
Hábitos insaciáveis
Ele estava dando em cima de mim, um olhar, e eu perdi o ar
Sim, eu disse,
‘Se você me beijar, talvez eu deixe isso acontecer.’)

Eu entendia cada palavra do que ela queria me dizer. Ela não queria ser uma
boa garota hoje a noite e eu iria realizar o desejo dela.
— Vamos embora? – sussurrei no ouvido dela. – Preciso entrar em você,
senão vou explodir.
O sorriso dela aumentou e uma mão desceu até meu pau. Cerrei o maxilar.
Essa menina ia me matar se continuasse desse jeito.
— Vamos embora, Sr. Torres. – ela respondeu com as bochechas coradas.

Enfrentamos uma multidão até alcançar a saída, onde o segurança perguntou


se iríamos voltar. Quando respondemos que não, ele cortou nossas
pulseirinhas e então saímos para o ar frio da madrugada.
Ofereci a Cecília minha jaqueta e ela a pegou da minha mão, enquanto
caminhávamos em direção ao carro.
A uns dois metros do carro, desativei o alarme silencioso.
Os dedos de Cecília estavam entrelaçados aos meus quando um carro vindo
na direção contrária se aproximou do nosso.
O motorista do utilitário diminuiu a velocidade e abaixou o vidro.
Eu senti antes de ver. O homem apontava uma arma em nossa direção e
efetuou diversos disparos.
Empurrei Cecília para o chão, mas já era tarde.
▪▪▪

CAPITULO 17
CECILIA

Saímos da boate e andamos em direção ao carro. A temperatura havia caído


um pouco, então Marlon passou a jaqueta dele para mim e entrelaçou os
dedos nos meus, sem se importar com a curta distância que iria percorrer com
a arma a mostra.
Eu estava com a cabeça leve, o corpo pegando fogo e mal podia esperar para
ter Marlon dentro de mim no banco de trás do Audi. Nunca havia feito sexo
dentro de um carro e começava a me arrepender de não ter colocado uma saia
ou um vestido para facilitar o acesso do meu guarda-costas gostoso. Mas eu
confiava que ele teria uma tática para me tirar de dentro daquela calça, na
qual eu havia sido embalada a vácuo no início da noite.
Alheio ao meu dilema, Marlon enfiou a mão no bolso esquerdo, pegando a
chave canivete e desligando alarme do carro. Mas quando ele fez menção de
esticar o braço para abrir a porta de trás para mim, todo seu corpo ficou tenso.
Algo havia captado a atenção dele. Algo que fugia completamente do meu
raciocínio de entrar no carro, tirar a calça apertada e ter um orgasmo. Algo
muito mais perigoso do que ser pego pela polícia em pleno ato sexual.
Um carro grande e escuro, vinha na mão contrária, se aproximando
lentamente do nosso. Nada anormal para região que estávamos. Várias
pessoas ali, assim como eu, tinham seguranças particulares e carros de luxo.
É, nada de anormal até o motorista abaixar o vidro e colocar a mão para fora.
Uma mão que tinha uma arma de fogo apontada para a minha direção e a de
Marlon.
Não pensei muito até que o corpo de Marlon tomou a frente do meu, e os
dedos ágeis foram direto para o coldre de axila, empunhando a bela Glock e
puxando o gatilho em direção ao utilitário escuro.
Ouvi o estampido e vi o clarão antes de ser jogada no chão de concreto.
Não sabia de onde tinha partido o primeiro tiro, se teria sido Marlon ou se
teria sido o cara do carro, a única coisa que eu sabia era que estava chovendo
balas.
Tiros. Vários tiros.
Marlon se escondeu sob o carro atrás do nosso e correu para o meio da rua,
atirando contra a traseira do veículo que havia fugido cantando pneus.
Os dois seguranças que faziam nossa escolta, passaram por mim feito uma
bala também com armas em punho e seguiram Marlon.
E eu continuava deitada no chão, encolhida, próximo ao pneu traseiro do
nosso carro. Meu ouvido zumbia por conta dos disparos. Meu coração
agredia minha caixa torácica, batendo em um ritmo errante.
Senti alguém me pegar nos braços, mas não queria saber quem era. Mas aí
senti o cheiro do amadeirado do perfume, percebendo quem realmente tinha
me puxado para os braços.
Foram poucos minutos entre a troca de tiros até o momento que Marlon me
apalpou, procurando por algum ferimento, mas para mim pareceu uma
eternidade desde que ele me empurrou para a proteção do carro, sacou a
pistola, indo atrás dos bandidos.
— Cecília? – eu ainda estava com os olhos fechados e ouvia a voz dele ao
longe me chamando.
Marlon me sentou, me fazendo escorar no Audi. Eu me recusava abrir os
olhos, me recusava encarar a minha vida.
Vozes desconhecidas pipocavam por todos os lados, com todos os tipos de
perguntas e comentários.
— Ela foi ferida? – alguém perguntou.
— O que aconteceu?
— Já chamei a polícia.
— Eu vi o carro.
— Meu Deus!
— Chefe, seu braço...
— Droga! – essa voz eu reconhecia.
Era Marlon. O que tinha no braço dele?
– Cecília, abre os olhos!
Abri e encontrei Marlon me encarando preocupado.
— Você foi ferida? – ele perguntou.
Apenas balancei a cabeça negativamente e me agarrei nele, sem conseguir
chorar, nem falar. Eu era uma porra de uma molenga que ficava catatônica
em momentos de extremo estresse.
Na minha mente eu pensava que se um dia Marlon precisasse única e
exclusivamente de mim, ele provavelmente morreria por conta da minha
inutilidade.
Juntei toda a minha coragem e força, tentando me levantar. Quando pendurei
no ombro de Marlon para poder ter um apoio, por causa das minhas pernas de
gelatina, ele gemeu e algo molhou minha mão.
Apesar de estarmos numa região nobre, a luz em frente a boate era
insuficiente para que eu pudesse ver com clareza o líquido viscoso que estava
em meus dedos e encharcava a manga da camisa de Marlon. Eu queria
acreditar que aquilo não era sangue.
— Deixa que eu faço isso, chefe. – o segurança careca falou para Marlon, que
me entregou para o homem com certa relutância.
O homem abriu a porta de trás do Audi e me sentou no banco, passando o
cinto pelo meu corpo com o se eu fosse uma criança. No mesmo momento,
Mike se aproximou de Marlon e eles conversaram por alguns minutos, em
seguida ambos sacaram os celulares e falavam algo que eu não conseguia
escutar por conta da minha surdez e do vidro blindado totalmente fechado.
O segundo segurança, havia buscado o outro carro e escutava as instruções
precisas de Marlon que tinha cara de poucos amigos.
Eu não queria estar ali. Não queria ter passado por isso. Só queria abraçar
Marlon e dormir depois de fazer o sexo que ele havia me prometido. Queria
que essa merda fosse um daqueles pesadelos idiotas que te acordam ofegante
no meio da madrugada, mas que no dia seguinte você nem se lembra como
era. Não queria pensar no quanto a minha segurança aumentar e mudar
novamente. Não queria pensar que a causadora de toda essa merda era eu. Se
não fosse meu fogo no rabo de “sair e ver pessoas” nada disso teria
acontecido.
Marlon entrou no veículo indo no banco da frente, mas dessa vez do lado do
carona, enquanto segurança careca assumia a direção. Ele olhou para trás,
esticando os dedos para tocaram minha mão.
— Ceci?
Levantei os olhos para ele.
— Está tudo bem?
— Tá. – minha voz saiu num sussurro.
O segurança careca já havia colocado o carro em movimento e seguia a toda
para o hospital.
Durante o curto trajeto, Marlon e o careca se falavam baixinho e eu pegava
algumas poucas coisas da conversa deles. Descobri que o outro segurança e
Mike haviam ido atrás dos bandidos, além da polícia. Também que meu pai e
Tatiana estavam a caminho do hospital.
A adrenalina baixou e eu apaguei por um segundo, sendo despertada pela
sirene de uma ambulância que indicava que havíamos chegado ao local para
cuidar do meu guarda-costas.

▪▪▪
CAPITULO 18
CECILIA

Como se alguém tivesse estalado os dedos, saí do transe em que me


encontrava. Me soltei do cinto tão logo o carro parou e desci, acompanhando
Marlon pela entrada do hospital. Ele havia tirado a arma e o coldre de axila
ainda dentro do veículo, deixando-os sob o cuidado do segurança careca, que
agora eu me lembrava que se chamava Mathias.
A camisa de Marlon estava ensopada e o sangue escorria pelo braço e pela
mão, deixando pequenas costas pelo caminho.
A calma dele, como sempre, era espantosa. Nesses últimos vinte e cinco
minutos, a única vez que o desespero deu as caras foi quando ele me pegou
nos braços na frente da boate, enquanto eu ainda estava catatônica.
Eu ainda estava com a jaqueta dele quando passamos pela entrada do
hospital.
Antes mesmo de chegarmos perto da portaria, uma enfermeira nos
interceptou, perguntando o que havia acontecido e já empurrando Marlon
para a sala de trauma. Eu os seguia feito um cachorrinho, mas com a força e a
aparência de um leão.
A mulher, que se chamava Elisa, deitou Marlon em uma maca cortando-lhe a
camisa, enquanto o cirurgião de plantão se paramentava para avaliar se seria
necessário uma cirurgia ou não. Eu segurava a mão esquerda do meu guarda-
costas ao mesmo tempo em que ele contava para o médico como a situação
havia se dado.
— Não é caso cirúrgico. – o homem baixinho falou. – Pela trajetória, acredito
que a bala não tenha acertado o osso, ela apenas transfixou. Mas por via das
dúvidas, vou pedir um raio X.
Marlon fez que sim com a cabeça e virou para mim.
— Você está bem, Cecília?
— Acho que sim. – minha voz havia voltado, minha bebedeira curado e
minhas pernas estavam mais firmes.
— Seu pai deve estar chegando. – Marlon se sentou, me colocando de pé
entre as pernas dele e me abraçando. – Mathias está lá fora. Enquanto eles me
atendem, você pode ficar lá com ele.
Beijei de leve o pescoço dele, inalando o perfume másculo com um leve
toque de suor.
— Marlon... – minha voz saiu tremida por conta do nó na garganta.
— Eu sei. – ele beijou minha testa. – Eu sei, meu amor.
Tentei dar o abraço mais cuidadoso nele, sem tocar o ferimento.
Elisa, a enfermeira, voltou para buscá-lo para o raio X, quebrando o clima de
carinho que estávamos.
— Vamos grandão?
Marlon deu seu sorriso sedutor para a mulher de uns cinquenta anos e desceu
da maca.
— Pode deixar, menina, eu vou cuidar dele.
— Por favor. – foi tudo que eu consegui dizer antes de ser oprimida pelos
materiais cirúrgicos, cheiro de assepsia e sangue que envolvia a grande sala
branca.
Saí dali com estômago revirando, mal sabendo como encontrei o caminho até
Mathias, que já havia arrumado uma garrafinha de água para mim.
— Você está bem, senhorita? – ele perguntou quando me acomodei na
cadeira da sala de espera.
— Estou cansada dessa merda. — respondi depois de beber quase meia
garrafa.
Ele se sentou do meu lado, apoiando os cotovelos no joelho.
— Enquanto a polícia não conseguir prender o cabeça disso tudo, não vai
parar.
O nó na minha garganta voltou a se formar.
— Eu sei que eu deveria está te acalmando, falando palavras de conforto, mas
a senhorita tem que saber no que está envolvida.
— Detesto quando me tratam feito idiota. – fechei os olhos, escorando a
cabeça na parede. – Por que ninguém mete uma bala nesses filhos da puta?
— Porque eles são bem organizados e se escondem bem. Não vai adiantar
nada ficar matando os peões, tem que cortar a cabeça do rei.
Aquilo me chamou a atenção.
— E quem é esse rei?
— Ainda não sabemos ao certo. – Mathias respondeu segundos antes de meu
pai aparecer nas portas de vidro.
Dr. Ivan soltou a mão de Tatiana e correu até mim, me apertando entre os
braços como se eu fosse escapar a qualquer momento.
— Minha Cecília, meu amor. Você está bem?
— Eu tô bem, pai.
— Fiquei tão preocupado. Você não sabe o monte de bobagens que passou
pela minha cabeça no caminho até chegar aqui.
Tatiana entrou no meu campo de visão.
— Seu pai sempre sendo dramático ao excesso. – ela comentou com um
sorrisinho cínico no rosto.
— Não é drama, Tatiana. É assim que se age quando alguém que você ama
passa por alguma situação difícil. – respondi olhando bem naquela cara falsa
dela.
Ela levantou as mãos como se tivesse se rendido e falou:
— Só fiz um comentário, Ceci.
— Um comentário inoportuno. – falei. – E não me chame de Ceci, pois você
não tem essa intimidade comigo.
Meu pai me olhou surpreso.
— Filha?
— Tudo bem, Ivan. – A loira oxigenada disse comi se fosse vítima. – É só o
estresse da situação.
Apertei o maxilar e ia responder aquela vaca algo a altura, mas Mathias
sutilmente fez que não com a cabeça.
Aquilo me deixou alerta. Mais uma coisa para minha lista mental.
Nos sentamos novamente. Eu no meu lugar, Dr. Ivan no lugar que antes era
de Mathias, que foi para a última cadeira longe da cascavel de salto que se
sentou ao lado do meu pai.
Minutos viraram horas até que Elisa veio me chamar para ver Marlon que se
encontrava de repouso por conta do forte remédio para dor que haviam lhe
dado.
Sem me importar com o que isso iria parecer, segui a mulher pelos corredores
brancos até chegar numa sala do lado da sala de trauma.
Marlon estava lá, deitado de olhos fechados e o braço enfaixado da axila até o
cotovelo.
— Ele está bem? – perguntei a enfermeira.
— Está sim. – ela escreveu algo numa prancheta. – Ele está meio dormindo
por conta do remédio. Mas você pode ficar com ele.
Ela sorriu quando eu toquei a mão do meu guarda-costas.
— Não é todo mundo que fica forte assim quando leva um tiro. O que eu
mais vejo aqui é gente fazendo da minha sala de trauma um show sertanejo
de tanto grito.
Arregalei os olhos.
— Mas esse daí, só ficava perguntando se você estava bem. – Elisa mirou o
termômetro infravermelho na testa de Marlon. – Vê se pode, ferido e
preocupado com você.
Ela anotou a temperatura dele no papel da prancheta e continuou a falar:
— Se isso não é amor, eu não sei o que é. Minha filha, vou te dar um
conselho: não solta esse homem não. Homem bonito, preocupado,
apaixonado e que ainda por cima leva um tiro por você, não é todo dia que se
encontra por aí.
— Obrigada. – respondi, quando ela foi chamada pelo alto falante do
hospital.
Fiquei ali, de pé, observando a respiração tranquila de Marlon, enquanto
passava a mão direita nos cabelos dele e a esquerda eu segurava sua mão,
com os nossos entrelaçados.
Quando o sono deu as caras, puxei uma banqueta para perto da cama e me
sentei nela.
Me agarrei na mão de Marlon novamente, deitando a cabeça sobre a cama e
peguei no sono.

▪▪▪
CAPITULO 19
MARLON

Uma paz dominava meu corpo. Minha mente estava leve e eu parecia flutuar
no espaço. Nada de dor, problemas ou tiros. Apenas eu e minha nuvem de
tranquilidade, como num sonho bom.
Sonhei com um anjo que já povoava minha imaginação há tempos. A pele
clara, num vestido branco. O calor e o perfume do meu anjo me inebriava.
Meu lindo anjo de cabelos longos.
— Marlon? – o anjo me chamou.
“Estou aqui, meu amor", respondi, mas minha voz não se tornou audível.
A névoa de calmaria me jogou novamente no meu mundo perfeito e eu desisti
de me fazer ser ouvido.
Ouvi meu anjo ressonar encostado em mim, me aquecendo com suas
pequenas mãos.
— Cecília? – alguém chamou.
Seria esse o nome do meu anjo?
— Filha? Você está bem? – a mesma voz voltou a perguntar.
— Pai? – meu anjo respondeu, começando a chorar.
Névoa e mais névoa. E nada do meu anjo.
— Sr. Torres? – alguém me chamou tocando onde meu braço latejava.
Sem meu anjo por perto eu não flutuava, apenas sentia dor.
— Sr. Torres, hora de acordar.
Senti algo queimar minhas veias, se espalhando pelo meu corpo, me tirando
numa velocidade assustadora do torpor.
— Sr. Torres? Está com a gente? – um homem grisalho numa roupa verde,
perguntou.
Olhei para a luz que ele apontava diretamente para os meus olhos, seguindo-a
para ambos os lados.
Agora já não existia meu mundo dos sonhos, eu estava completamente
desperto e na vida real.
Tudo o que eu lutava para esquecer, voltou de uma só vez. Dor, problemas,
tiros.
Cecília.
— Onde ela está? – questionei com a voz ainda rouca por ficar tanto tempo
calado, tentando me levantar.
A enfermeira que fez os primeiros atendimentos em mim, tocou meu ombro
bom me obrigando a continuar deitado.
— A mocinha está lá fora com o pai. – a mulher respondeu. – O senhor tem
que ficar deitado por mais um tempo, bonitão.
— Mas eu preciso... – comecei a falar, mas ela me interrompeu.
— Tudo que o senhor precisa agora é continuar aí nessa cama, relaxando. – a
enfermeira olhou meu soro que pingava rapidamente. – Te dei um sedativo,
pois o senhor estava muito estressado. Assim que o soro terminar, venho te
dar alta.
— Obrigado. – falei sem saber o que dizer.
— Às ordens, bonitão. – ela me deu uns tapinhas na coxa. – Agora vou
buscar sua namorada.
— Ela não é minha namorada. – respondi, sem saber o por que da mulher ter
dito aquilo.
— Se ela não é sua namorada, então acabo de concluir que o senhor não
passa de um rostinho bonito. – ela colocou as mãos na cintura. – Não tem
nada nessa cabeça.
A mulher disse isso e saiu, me largando sozinho na enfermaria.
Minutos depois Cecília apareceu. Ela quase correu quando me viu de olhos
abertos, encarando a porta aberta.
— Marlon! – ela quase gritou, se jogando sobre meu corpo.
Reprimi um gemido e a abracei, sentindo o cheiro do perfume dela. O cheiro
do meu anjo.
— Eu fiquei tão preocupada por que você não acordava. – Ceci falou com a
voz meio abafada por estar colada ao meu peito.
— Recebi uma dose cavalar de sedativo. – respondi, acariciando os cabelos
dela, que ainda estava com minha jaqueta. – A enfermeira falou que eu estava
muito estressado.
Ceci riu.
— Uma pilha de nervos. – ela comentou.
— Não era pra menos, meu amor.
O semblante dela se fechou.
— Não quero nem me lembrar.
— Mas isso não pode ficar assim, Cecília. Isso está passando dos limites.
— Marlon. Por favor. – ela pediu.
Ouvimos passos no corredor e nos viramos para a porta vendo a tropa chegar.
Dr. Ivan, Tatiana, Mathias, Mike e o outro segurança, Ramon, adentravam a
enfermaria.
Ivan foi o primeiro a falar.
— Como você está, Torres? – ele perguntou olhando com atesta franzida para
Cecília que ainda se encontrava sentada na cama, segurando minha mão do
braço bom.
— Bem, Dr. Ivan. Obrigado.
— Que bom que o senhor está bem, senhor Torres. – Tatiana falou pendurada
no braço de Ivan.
Eu assenti, forçando um sorriso.
Mathias me deu um olhar rápido e eu entendi que ele queria falar comigo.
Mike também estava ligado no que acontecia, tomou a frente.
— Senhoritas, doutor, posso ter um momento a sós com meu amigo? – o
safado com a cara mais lavada perguntou.
Dr. Ivan assentiu e saiu levando Tatiana que me fuzilou com os olhos antes
de se virar e ir embora.
Apertei a mão de Cecília, que tinha os dedos entrelaçados aos meus e ela
desceu da cama.
— Em casa a gente conversa. – ela sussurrou no meu ouvido, me arrancando
um arrepio com a duplicidade da ameaça dela.
Tão logo Cecília saiu, fui rodeado pelos homens.
— Me conta o que aconteceu. – pedi olhando diretamente para Mike.
Ele havia tomado o lugar de Cecília e se sentado na cama, só que mais
próximo ao meu pé.
— Perseguimos o carro até a rodovia. Mas a demora para começar a ir atrás
deles, nos impediu interceptá-los.
Levei a mão esquerda a ponte do nariz e apertei.
Puta que pariu.
Eles sempre estavam a um passo a nossa frente. Sempre mais ágeis,
inteligentes e espertos que a gente.
— Mas, – Mike continuou. – eu consegui alguma coisa com as câmeras de
segurança da boate.
Abri os olhos, com meu coração palpitando.
— Me fala que é alguma coisa boa.
— A marca do veículo e uma parcial da placa, que muito provavelmente é
fria.
— Mas já é um começo. – Mathias correu para responder quando viu o
desânimo voltar para o meu rosto.
Olhei para o soro, que havia acabado e me sentei com as pernas para fora da
cama.
Perguntei onde estava a enfermeira e se já não era hora da minha alta e como
se fosse por telepatia, ela apareceu.
— Já está querendo se livrar de mim, bonitão? – a mulher que eu não
lembrava o nome perguntou.
Dei um sorriso torto.
— Uau, quanto amigo bonitão que o senhor tem. – ela tirou meu soro e
colocou um algodão para estancar o pequeno sangramento. – Algum solteiro?
— Todos solteiros. – respondi descendo da cama e ficando de pé. – A
senhora pode escolher.
Ela gargalhou.
— Está com tontura? – agora a mulher falou sério.
— Não. – testei dar alguns passos. – Tudo ok.
— Que ótimo. Vou assinar sua alta.
— Só preciso de uma camisa. —falei.
Assim que cheguei no pronto atendimento, meteram a tesoura na minha
camisa para facilitar o acesso ao ferimento. Minha jaqueta estava com Cecília
e não passava na minha cabeça pedi-la de volta.
Ainda estava avaliando as minhas possibilidades, quando Mathias tirou o
paletó e desabotoou a camisa branca, passando-a para mim.
— Nós temos o mesmo corpo, chefe. – ele falou me entregando a peça,
ficando apenas com a regata branca que usávamos por baixo.
Agradeci e me tentei me vesti. Mike vendo a minha dificuldade, me ajudou
dobrando os punhos da camisa até o cotovelo.
Não tive e nem teria tempo de pensar naquele ferimento incômodo no alto do
braço. Tudo que eu queria era ir para casa, beber uma Coca-Cola e dormir
agarrado em Cecília.
A enfermeira me entregou o papel da alta que era necessário para que eu
deixasse o hospital, me desejou melhoras e marcou o dia para que eu voltasse
para a retirada dos pontos.
Na sala de espera, Cecília estava sentada mais afastada do casal, com uma
carinha de cansada, mas quando ela me viu, abriu o sorriso mais lindo do
mundo.
Ceci se levantou e correu até mim, me abraçando pela cintura, devolvi o
abraço, recebendo olhares de Ivan e Tatiana.
— Vamos embora? – perguntei no ouvido dela, que assentiu.
— Tá liberado, Torres? – Ivan perguntou.
— Sim, senhor.
— Então vamos pra casa. – ele levantou, rebocando Tatiana que estava com
cara de poucos amigos. — Ceci, vamos meu amor?
— Eu vou com Marlon pai. – ela respondeu calmamente ficando parada ao
meu lado.
— Mas ele não vai conseguir dirigir.
— Eu tô bem, senhor. – respondi. – E o carro é automático, não vou precisar
de forçar o braço.
Ivan ia começar a discutir, quando Mathias intrometeu.
— Eu dirijo. – meu fiel escudeiro falou. – Ramon leva o outro carro e deixa
Mike na boate antes de ir para casa.
Mike estava no celular, um pouco mais afastado do grupo.
— Não se preocupem comigo. – ele apontou para o celular. – Minha carona
chegou.
Cecília sorriu e apertou minha mão.
—Então, vamos. – ela falou.
Saímos pela portaria, onde deixei o papel da alta e chegamos no
estacionamento frio. Deveria ser umas quatro horas da manhã.
Cumprimentei Mike, agradecendo e falando que entraria em contato com ele.
— Aqui é família, irmão. – ele respondeu e saiu em direção ao grande carro
branco que o esperava. Não tinha nenhuma dúvida que era alguma das
mulheres que ele pegava.
Dr. Ivan entrou no carro dele, onde Borges ficou esperando durante todo
tempo, levando Tatiana junto.
Ceci e eu sentamos no banco de trás do Audi, com Mathias na direção.
Saímos em comboio pela madrugada em direção ao condomínio, com Ramon
fechando a fila.

▪▪▪
CAPITULO 20
TATIANA

Tão logo saí da casa de Ivan no dia seguinte aos tiros, recebi uma ligação de
Roger. Eu estava a caminho do escritório, quando meu celular tocou e era ele,
falando que queria me ver. Tremi, óbvio.
Passei direto pela porta do prédio de dez andares onde ficava o meu escritório
de advocacia, pegando a grande avenida que seguia em direção ao
condomínio de Roger. Como eu bem conhecia, ele não gostava de esperar.
Costurei por entre os carros, indo no limite máximo da velocidade permitida
da rodovia, me segurando para não acelerar mais.
Depois do que havia acontecido ontem, eu temia por uma reação exagerada
de Roger.
Com quase pouco mais da metade do tempo, eu estacionei em frente à casa
do meu amante. Novamente, os falsos jardineiros estavam lá, cuidando de um
jardim impecável. Passei por eles apreensiva, sendo completamente ignorada
e segui um dos capangas fortemente armado de Roger até o escritório.
Já tinha me acostumado com o silêncio dos homens, mas hoje a falta de
expressão nos rostos deles me causava arrepios agourentos.
O homem bateu na porta e esperou para ir eu fosse autorizada a entrar. Eu
torcia os dedos e secava minhas mãos suadas a cada dez segundos. A
ansiedade me consumia por dentro, mas por fora eu me mantinha a fachada
serena.
Depois do que pareceu uma eternidade, Roger falou de dentro da sala:
— Pode entrar.
A voz dele não demonstrava nenhum tipo de pista do que eu poderia
encontrar quando cruzasse a porta dupla de madeira.
O homem que aguardava comigo, girou a maçaneta, abrindo espaço para que
eu entrasse e fechou a porta tão logo entrei.
Engoli seco. Observei o ambiente meio escuro por conta das cortinas
fechadas até localizar Roger sentado no sofá com a camisa aberta. No canto
contrário, como se fosse uma estátua, estava o guarda-costas de dois metros
de altura. Impassível como sempre.
A sala cheirava a charuto, uísque e sexo.
— Queria me ver? – perguntei baixo com medo da minha voz vacilar.
Roger deu um longo trago no charuto, fazendo surgir na ponta um brilho
alaranjado. Calmamente, soltou a fumaça pela boca, antes de responder.
— Queria. – ele fez um gesto para que eu me aproximasse dele.
Dei alguns passos parando perto da mesinha em frente ao sofá.
Percebi que o fecho e o botão da calça dele estavam abertos. Também percebi
uma calcinha vermelha desconhecida no braço do sofá.
Não tive tempo de questioná-lo, pois a dona da calcinha saiu do banheiro
ajeitando o vestidinho preto curto.
Me virei para olhá-la. Era uma menina de no máximo uns vinte anos, cabelos
pretos e longos, muito magra. Bem parecida com aquelas centenas que a
gente via todos os dias no Instagram.
A garota ia se encaminhando para a porta quando Roger, ignorando
completamente a minha presença, a chamou.
— Ei, doçura? Não está esquecendo de nada não? – ele pegou o minúsculo
pedaço de pano vermelho entre os dedos e agitou em direção a garota
magricela.
Ela deu um sorriso inocente, como se não tivesse feito aquilo de propósito e
desfilou pelo escritório indo até Roger. Quando chegou perto, a vagabunda
teve a audácia de se debruçar sobre o meu homem, arrebitando a bunda e
beijá-lo safadamente.
Eu estava fervendo de ódio, enfiando as unhas nas palmas das mãos para
evitar fazer uma cena. Apertava a mandíbula com tanta força que minha
cabeça começava a doer, mas eu queria mesmo era ir até os dois e arrancar a
língua daquela filha da puta.
— Tchau, querida. – a vadia teve o disparate de dizer quando passou por
mim, indo embora e me deixando a sós com Roger.
Engoli seco e respirei fundo algumas vezes antes de perguntar.
— Você me chamou aqui pra me humilhar?
Roger ajeitava a roupa calmamente, totalmente alheio a minha vontade de
matá-lo. Antes de se levantar, bebeu o último gole do uísque.
Ele caminhou até mim devagar.
— Te humilhar? – ele parou na minha frente. – Te humilhar? – agora ele
gritou. – Eu deveria te matar, Tatiana. Você é tão burra, tão estúpida, faz
tanta merda, que eu deveria te matar. Só assim eu teria sucesso nos meus
planos.
Meu coração parou quando ele disse que deveria me matar. Quase me caguei,
pois quando ele ameaçava matar alguém, geralmente era um aviso que uma
hora ou outra ele iria fazer isso acontecer.
Roger voltou para a mesinha e encheu o copo com mais uísque e continuou a
falar. Nos meus olhos as lágrimas começavam a se acumular.
— Qual a parte do segue a porra do plano você não entendeu, hein Tatiana?
Essa água oxigenada que você está usando está destruindo seu cérebro. – ele
deu um gole no uísque. – Mas é melhor assim. Menos trabalho para o meu
guarda-costas recolher os pedaços dele pelo chão depois que eu enfiar uma
bala no meio dessa sua cabeça oca.
Roger andou até a mesa grande e se sentou na cadeira. Eu ainda tentava
controlar as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
— Vai ficar parada aí feito uma idiota? – a voz grave dele me assustou.
Limpei o rosto com as costas das mãos e me dirigi até ele.
— Você não tem nada a me dizer? –questionei.
Ele me olhou sem entender.
— Sobre o quê?
— Sobre essa vagabunda que você estava comendo.
— Eu não te devo satisfações. Eu trepo com quem eu quiser, na hora que eu
bem entender.
— Mas e a gente? – insisti.
— Você trabalha pra mim, Tatiana, não é minha mulher. – ele pegou o
celular e digitou algo. – Se eu quisesse uma esposa, coisa que está fora de
cogitação, eu arrumaria uma igual àquela belezinha que saiu daqui.
As palavras dele me atingiram bem no peito.
— Eu prefiro uma burra que sabe que é burra, do que uma burra que se acha
esperta. – Roger finalizou.
Baixei a cabeça com raiva e me virei para sair.
— Aonde você pensa que vai? – ele perguntou e eu estaquei.
Uma batida na porta.
— Pode entrar. – ele falou.
Uma jovem bem no estilo da que acabara de sair dali, entrava. Outra menina
magricela e morena.
Eu não fazia ideia do que Roger tinha na mente.
— Tira a roupa e me espera no sofá, doçura. – ele falou para a garota.
Eu observava a menina a se despir e dei um pulo quando senti as mãos de
Roger nos meus braços.
— Ela é bonita, não é? – ele falou no meu ouvido. – Jovem, magra e não é
tagarela.
Os dedos dele subiam e desciam pelos meus braços, me causando arrepios. A
garota estava nua, calçando apenas os saltos altíssimos.
— Sente-se, meu bem. – Roger ordenou à garota que obedeceu prontamente.
– Agora, abra as pernas e se toque.
Cerrei os dentes, enquanto Roger falava no meu ouvido:
— Está vendo? Eu mando, ela obedece. – ele apertou meus braços acima dos
cotovelos. – Eu mando, você toma decisões precipitadas.
A garota continuava se tocando e gemendo. A ereção de Roger começava a
dar as caras, cutucando sutilmente minha bunda.
— Até agora eu não entendi o por que de você colocar o plano em risco com
aqueles tiros ontem a noite. – ele falava baixo, com a atenção voltada para a
garota que estava quase gozando.
A visão que eu tinha de morena escancarada no sofá estava me excitando. Os
dedos de Roger tocavam meus seios por cima da blusa, fazendo minha
calcinha encharcar.
— Seus capangas, meu amor, são os piores e mais amadores que eu já vi. –
ele beliscou meus mamilos, me arrancando um gemido. – E eu já avisei que
vou matar quem atrapalhar meus planos. Então, – Roger passou o nariz no
meu pescoço, bem embaixo da orelha esquerda. – fique esperta.
Agora a garota gemia escandalosamente, gozando e a ereção de Roger era
proeminente.
Ele me largou em pé, sozinha, e foi até a garota no sofá. Ela abriu a calça dele
sem rodeios e começou a fazer um boquete ruidoso.
O ódio se sobrepôs ao tesão e novamente caminhei até a porta para sair.
— Não! – Roger falou alto. – Vem aqui, Tatiana.
Quando eu fiquei parada, ele fez um gesto para o guarda-costas que eu havia
me esquecido que estava lá. Ouvi uma arma ser engatilhada e ser encostada
na minha nuca.
— Sente-se aqui. – Roger ordenou. – Agora, você meu bem, fica de quatro. –
ele falou para a jovem.
Eu me sentei, assistindo de camarote o homem que eu amava comer outra
mulher na minha frente.
— Você sabe o meu lema. – Roger falou comigo. – Um acerto, uma
recompensa; um erro, uma punição. – ele estocava na garota com força. –
Essa é sua punição.
Virei o rosto, olhando para o guarda-costas que fingia não ver o que estava
acontecendo ali.
— Eu não vou te dar outra chance para errar, meu amor. – Roger olhou nos
meus olhos. – Não se precipite ou eu vou meter uma bala em você.
Ele me avisou, voltando a se concentrar na vadia de quatro na frente dele.

▪▪▪
CAPITULO 21
CECILIA

Pela segunda manhã consecutiva, eu acordava nos braços e na cama de


Marlon. Desde a madrugada infame dos tiros na porta da boate, onde ele
havia sido baleado no braço, eu não saí do lado dele.
Os primeiros raios de sol invadiam o quarto quando eu, deitada no braço
esquerdo de Marlon –pois o direito ainda continha os pontos– abri os olhos.
Fiquei por um tempo apenas escutando a respiração tranquila dele e sentindo
o calor confortável junto ao meu corpo. Queria que momentos como esses
durassem para sempre. Mas me remexi, espreguiçando. Eu havia acordado
Marlon. Ou pelo menos acordado uma parte dele. Aquela parte que me fazia,
literalmente, ver estrelas. Ele esfregou o nariz no meu cabelo e deslizou a
mão para dentro do meu short.
— Bom dia, meu amor. – Marlon sussurrou no meu ouvido com a voz rouca.
Apenas gemi em resposta, rebolando contra a ereção dele. Os dedos espertos
de Marlon se perderam dentro de mim, me arrancando um gemido prazer.
Dois dedos para dentro e o polegar fora, massageando meu clitóris.
— Você está tão molhada. – ele falou no meu ouvido, enquanto entrava e saía
da minha boceta com movimentos firmes.
— Marlon... – murmurei, quando senti a primeira contração do orgasmo me
atingir.
Ele não parou de me tocar até que o orgasmo tivesse me tomado por inteira,
arrancando os meus sentidos e me levando ao paraíso.
Marlon se deitou sobre mim, beijando apaixonadamente meus lábios. Passei
os braços pelo pescoço dele, enfiando os dedos nos cabelos negros e macios,
trazendo-o todo para mim.
Meu guarda-costas desfez o contato apenas para tirar meu pijama e a própria
cueca, mas logo em seguida se sentou me colocando sobre ele.
Gritei ao sentir Marlon em toda sua extensão dentro de mim. Trocamos
olhares rápidos antes que eu fechasse os olhos e me entregasse ao tesão,
cavalgando ele com toda paixão.
Os gemidos roucos e sensuais de Marlon eram os meus maiores incentivos e
me levavam novamente ao caminho do nirvana. Ele apertava minha bunda,
me ajudando a subir e descer com mais destreza.
Depois de alguns minutos, Marlon me segurou com os quadris no ar e
começou a estocar com rapidez, buscando o próprio orgasmo. Que veio
simultaneamente com o meu.
Em meio a gemidos, fluidos corporais e espasmos pós orgasmo caímos
agarrados na cama.
— Ah, Ceci... – Marlon falou quando conseguiu controlar a respiração.
Dei uma risadinha, pulando para fora da cama e indo para o banheiro.
Peguei um pouco do enxaguante bucal de menta que encontrei sob a bancada
da pia e bochechei, enquanto ligava o chuveiro e deixava a água fria escorrer.
Entrei no box, deixando a porta aberta como um convite para Marlon e fui me
lavar. Nos cabelos usei um shampoo dois em um que estava na prateleira e
que tinha um cheiro mentolado ótimo. Já no corpo, meu segurança fez o
trabalho.
Enquanto eu estava de olhos fechados, enxaguando o shampoo, Marlon
invadiu o box e usando um sabonete líquido, que antes não estava ali,
começou a me ensaboar. Por muito pouco esse ato não se transformou em
sexo novamente. A única coisa que me impediu de me ajoelhar e fazer um
boquete nele, foi o fato da barriga dele roncar bem na hora. E como ele estava
tomando remédios, decidi que era melhor um café da manhã reforçado antes
de mais uma sessão de safadeza.
Me sequei rapidamente, vestindo uma cueca samba canção e uma regata de
Marlon, colocando meu robe por cima e fui em direção a casa principal.
Rosa já nos esperava com a mesa da cozinha repleta de opções. Ela estava
mimando meu guarda-costas demais após o tiro.
— Que bom que vocês acordaram. – Rosa falou, dando um beijo em cada um
de nós. – Fiz panqueca, salada de frutas, ovo cozido. Você tem que comer
bem. – ela olhou para Marlon que já devorava a panqueca.
— Ele tá comendo muito bem. – respondi, ganhando uma olhada com uma
sobrancelha levantada de Marlon.
Não falei por mal, nem tinha pensado no duplo sentido da frase que quase fez
Marlon engasgar.
Rosa como boa observadora que era, já tinha matado a charada muito antes
de ficar explícito. Ela sabia que Marlon e eu estávamos envolvidos de alguma
forma há tempos. Já meu pai, se sabia de alguma coisa, se fazia de bobo.
Dei de ombro e comecei a tomar meu café da manhã. Na minha mente, as
vezes, ainda vinha flashes da noite da boate, mas no dia anterior eu passara
tanto tempo envolvida com Marlon que quase não tive tempo para remoer o
acontecido.
Lembrei também que pelo segundo dia consecutivo não tirei meu tempo para
a meditação. Tinha trocado os momentos de paz e serenidade por momentos
de gemidos e suor no colchão de Marlon. E nunca me senti tão bem. Aliás,
recomendo.
Assim que terminamos o café da manhã, subimos para o meu quarto para que
eu pudesse trocar de roupa e passar um pomada cicatrizante nos ferimentos
de Marlon.
Meu pai, tão logo chegamos do hospital, dera a Marlon uns dias de folga. E
ele como o belo teimoso que era, bateu o pé e disse que não sairia do meu
lado. Aproveitei para me dar um novo descanso e cuidar do meu ranzinza
favorito. Então estávamos ali, os dois de pernas para cima, intercalando
trabalho home office com filmes de ação. E claro, muito sexo.
Enquanto eu fazia o curativo no braço de Marlon, Mathias o segurança
careca, bateu na porta.
— Chefe, o senhor tem alguns minutinhos? – o homem perguntou olhando de
relance para mim.
— Já estou terminando, Mathias. – respondi sem parar o que estava fazendo.
– Quando eu acabar aqui ele é todo seu.
Marlon me encarou com um sorriso enigmático e tocou meu rosto com as
pontas dos dedos.
Tão logo terminei, fui deixada sozinha pelos dois homens. Aproveitei para
dar uma geral no quarto e começar a trabalhar com as redes sociais.
Fui engolfada pelas mensagens diretas e milhões de perguntas sobre o que
havia acontecido no dia anterior e se eu estava bem. A notícia do tiroteio
havia sido capa de jornais da capital e matéria de destaque nos noticiários
televisivos regional e nacional. As vantagens de ser filha do promotor mais
famoso do estado.
Eu que havia deixado o celular de lado e passado o dia cuidando de Marlon,
não tive nem tempo nem cabeça para internet. Não queria ter quer responder
cada uma das pessoas que questionava como eu estava. Decidi que iria
esperar Marlon voltar para então saber o que fazer, se iria colocar uma nota
oficial ou não. Eu não queria mais exposição do que o necessário.
Depois do almoço, Marlon me ajudou a preparar uma nota oficial e me
aconselhou a privar os comentários para me poupar de mais uma centena de
mensagens.
Escolhemos o filme e nos deitamos agarradinhos na minha cama. Poucos
minutos depois de começar o filme, eu já tinha pegado no sono.

▪▪▪
CAPITULO 22
MARLON

Depois de uns dias sendo mimado por Cecília, voltei ao trabalho. Na quinta-
feira de manhã ela me acompanhou até o hospital para a retirada dos pontos,
que deixariam marcas bem sutis na minha pele relativamente bronzeada.
Passamos o dia em casa, mas dessa vez comigo fazendo a segurança efetiva
dela. Depois do almoço quando ela foi para o quarto trabalhar, usei o tempo
para ligar para doutor Ivan e pedir uma reunião privada com ele, logo mais
após o jantar. Ele atendeu o meu pedido com prontidão, dizendo que ia
manter Tatiana fora da mansão para que tudo saísse sem mais contratempos.
Traduzindo contratempos: sem os chiliques da mulher por ficar meia hora
sozinha.
Encerrei a ligação e trabalhei por um período no notebook, fechando alguns
contratos pendentes e agendando visitas a potenciais clientes.
O cheiro do café que Rosa passava na cozinha e meu estômago roncando me
alertaram sobre o tanto de tempo que eu havia passado imerso no trabalho.
Deixei o notebook de lado e subi as escadas em direção ao quarto de Ceci
para chamá-la para uma pausa e um lanche reforçado.
Bati na porta e escutei um pode entrar abafado.
— Cecília? – chamei.
— No banheiro, Marlon. – a voz dela focou mais clara a medida que eu
entrava no ambiente.
Ela estava limpando o rosto, após retirar a maquiagem.
— Estava fazendo um tutorial de como combinar sombras e roupas. – ela se
explicou quando eu parei encostado na soleira da porta.
— Você sabe que eu te acho maravilhosa de qualquer jeito. – comentei
beijando o topo da cabeça dela. – Principalmente, quando está com as
bochechas vermelhas e suada.
Ela mordeu o lábio inferior num gesto de timidez.
— Está na hora do lanche. – falei. – Vou te esperar lá embaixo.
— Já já eu desço. – ela respondeu voltando a atenção a limpeza do rosto.
Cecília despertava uma coisa em mim que eu não entendia, mas que me fazia
querer ficar o tempo todo em contato com ela, fosse cheirando-a, tocando-a
ou amando-a.
Quando entrei na cozinha, Rosa já havia arrumado a mesa. Ela era outra que
desde que eu levara o tiro, não parava de me paparicar. Então todas as minhas
refeições eram reforçadas. Para o lanche da tarde tinha uma infinidade de
comida. Pão de queijo, bolo de milho, biscoitinho de nata, suco e claro, um
delicioso café quentinho.
Eu finalizava a minha primeira rodada de comilança quando Ceci apareceu.
Ela usava um vestidinho e tinha os cabelos em um coque simples, mas o
lábios ainda estavam vermelhos como se ela tivesse beijado muito.
— Achei que eu ia ter que subir e te arrastar para lanchar, menina! – Rosa
falou se fingindo de brava.
Cecília foi até a senhorinha e deu um beijo estalado no rosto dela.
— Estou aqui, Rosinha. – ela disse se sentando ao meu lado.
Ceci encheu uma caneca com café fresquinho e colocou no prato alguns pães
de queijo.
Rosa fez algumas perguntas sobre a quantas andava o trabalho de Cecília na
internet depois do acontecido e recebeu em resposta que ela só aparecia nas
redes sociais apenas para fazer os posts de publicidade que estavam em
contrato.
Intimamente isso ainda não me agradava. Não queria nenhum tipo de
exposição de Cecília enquanto não pegássemos toda a quadrilha que
importunava ela e Ivan. Era melhor se resguardar por um tempo e perder
alguns trabalhos do que ficar exposta demais e Deus sabe lá o que acontecer.
Não era porque eu estava envolvido demais que eu prezava tanto pela
segurança de Cecília. Primeiro, isso era o meu trabalho, protegê-la a qualquer
custo. Segundo, eu não gostava nenhum pouco de quem usava meios escusos
para se impor a alguém. E terceiro, eu sentia que Cecília estava cada vez mais
tomando conta do meu coração.

•••

Às dezenove horas em ponto Dr. Ivan adentrou a sala de briefing. Ele acabara
de jantar com Cecília, que tinha subido para o quarto para ler um pouco antes
de dormir. Obviamente, eu ia esperar Ivan se recolher e me enfiar na cama
dela, como já vinha acontecendo durante os últimos tempos. Mas isso não
vem ao caso.
Liberei os outros seguranças, mantendo apenas Mathias, Borges e Farah,
meus homens de confiança, na sala junto com o promotor e eu.
Era uma reunião em que iríamos colocar as coisas todas em pratos limpos.
Todas as minhas desconfianças, mesmo que elas não agradassem o homem
que pagava meu salário, iriam ser jogadas na mesa.
— Doutor Ivan, – comecei. – antes de mais nada eu quero te pedir desculpas
pelo o que vai ser dito aqui.
Estávamos todos sentados, divididos em dois sofás. Ivan estava ao meu lado
e bebia um pouco do uísque que ele trouxera consigo da mansão.
— Se for pela proteção da minha filha, senhor Torres, não precisa medir
palavras. – ele respondeu após um gole da bebida âmbar.
Meus homens e eu trocamos breves olhares.
— Está acontecendo mais alguma coisa? – o promotor se sentou ereto.
Puxei o ar com força.
— Nós temos uma suspeita, doutor. – falei. – Acreditamos que sua namorada,
Tatiana, não seja flor que se cheire.
Ivan piscou como se atingido por algo no rosto.
— O que ela fez? – ele perguntou depois de um tempo.
— Que a gente saiba, ainda nada. – Mathias disse.
— Mas se o senhor permitir, eu posso segui-la. – falei, esperando
cautelosamente a reposta do homem.
Ivan apenas assentiu.
— Doutor, o senhor precisa saber que talvez isso possa ter um final não tão
agradável para o relacionamento de vocês e que...
— Tudo o que importa é a segurança da minha filha. – ele me interrompeu. –
Nenhuma mulher é mais importante para mim do que Cecília.
Doutor Ivan me olhou nos olhos.
— E eu acredito, senhor Torres, que para o senhor também. – ele esperou
minha reação.
Dei um sorriso que dizia “culpado" e Ivan assentiu satisfeito.
— Então eu sei, – o promotor continuou. – que o senhor cuidaria da minha
Cecília como se ela fosse sua, não é mesmo?
— Sim, senhor. Eu daria minha vida por ela. – falei solenemente.
Aonde isso foi parar? Qual foi o rumo que a conversa tomou saindo de uma
possível perseguição a Tatiana e indo parar em Ivan querendo saber, mesmo
que subliminarmente, quais eram as minha intenções com a filha dele?
— Vou te manter informado dos passos de Tatiana amanhã, senhor Torres. –
Ivan se levantou. – Tenham uma boa noite.
O promotor saiu da sala de briefing, levando o uísque e deixando meus
homens e eu atônitos.
— Eu pensei que ele seria duro na queda. – Mathias falou quebrando o
silêncio. – Não achei que ele fosse ceder assim tão fácil a sua proposta de
seguir a mulher dele.
Balancei a cabeça concordando com ele.
— Mas você tem que entender, Mathias, que nenhuma trepada, por melhor
que seja, se compara a segurança de quem você ama.

▪▪▪

CAPITULO 23
TATIANA

Na sexta-feira, pouco antes do meio-dia, um dos capangas de Roger passou


no meu escritório para me buscar. O homem me levaria até o chefe dele para
um almoço e talvez, repassar a nova fase do plano de como manter Ivan e a
polícia em geral longe dos negócios obscuros em estávamos envolvidos.
O rosto do homem que dirigia o veículo no qual eu me encontrava, era
conhecido. Eu já tinha o visto como uns dos falsos jardineiros da mansão de
Roger. Durante o trajeto de vinte minutos ele nada disse, apenas informou
que me levaria até o galpão onde Roger me aguardava. E como com o chefão
tudo era instável, eu temia o que me esperava, como sempre.
Roger estava de pé no meio do galpão com as mãos no bolso e o capanga de
dois metros próximo.
Quando eu entrei no campo de visão dele fui recebida com um sorriso.
— Minha bela Tatiana. – a voz de Roger ecoou pelo espaço vazio.
Me aproximei receosa.
— O que é esse lugar? – perguntei.
Roger deu uma volta como se fosse um agente imobiliário e me mostrou o
recinto.
— Não é um bom espaço? – ele passou o braço pelos meus ombros e
começou a andar. – Vai ficar lindo quando estiver reformado e funcionando a
todo vapor.
— Qual o tipo de estabelecimento você tem em mente?
— Um restaurante, não é óbvio? – o sorriso dele que me assustava, diminuiu.
– Vou trazer o melhor chef de cozinha do estado para trabalhar para mim. Já
posso ver as pessoas comentando o sucesso e as estrelas do Guia Michelin
que claramente vou galgar.
Aquela conversa toda de restaurante me lembrou que eu ainda não havia
almoçado, então propus a Roger que fôssemos comer em algum lugar.
— Adorei a ideia. E que tal a gente fosse almoçar juntos, hein?! – perguntei,
beijando o queixo dele.
Por um segundo, algo que eu não pude identificar passou pelo o rosto de
Roger, mas logo em seguida se transformou em um sorriso e um beijo.
— Por que não? – e trocou olhares com o guarda-costas dele, que assentiu
sutilmente.
Saímos do galpão que logo mais se transformaria, segundo Roger, em um
belíssimo e respeitado restaurante e fomos para um lugar que realmente tinha
comida.
O segurança abriu a porta de trás do utilitário para Roger e eu entrei logo
depois.
Pelo caminho de pouco mais de dez minutos, observei o bairro em que
futuramente haveria outro negócio acima de qualquer suspeita de Roger. O
lugar era tranquilo, bonito e possuía lojas relativamente caras, pois se
encontrava em uma região nobre no município vizinho de Belo Horizonte.
Uma tentação para uma consumista nata feito eu.
Na casa de massas classe A, Roger pediu gnocchi à parisiense e uma garrafa
de Cabernet Sauvignon para nós dois.
Ele estava estranhamente de bom humor e isso me deixava meio apreensiva,
com medo de falar algo errado e toda aquela ira que lhe era tão habitual, dar
as caras.
Roger comia com vontade, tagarelando sobre o possível cardápio do próprio
restaurante.
Em um dado momento, eu me forcei a perguntar se ele havia me chamado
apenas para mostrar o galpão que ele havia adquirido. Uma centelha de
irritação passou pelos olhos dele, mas não afetou o bom humor que estava
marcado no rosto exótico.
Roger sorriu e olhou para os lados de maneira discreta, para se certificar de
que estávamos mais afastados dos outros clientes, podendo falar a vontade
sem o risco de ser escutado.
— Bem, meu amor, – ele esticou a mão por cima da mesa, afim de tocar a
minha. – eu tenho planos maravilhosos para nossa “amiga”.
— Nossa “amiga”? – perguntei meio sem entender.
Roger apertou meus dedos com um pouco mais de força.
— A filha do homem, doçura. – ele deu um sorriso que não chegou aos olhos.
Meu coração acelerou. O foco de Roger era atingir Ivan por meio de Cecília,
já que o banana do pai dela não arquivava ou mandava arquivar as merdas de
processos contra a facção.
— Mas e Ivan? – bebi um gole do meu vinho.
— Ele ainda vai ter o que ele merece, meu amor. – Roger sorriu. – Tudo no
seu tempo.
Sorri de volta.
— E quando você vai me contar sobre o plano?
— Não, não doçura. Dessa vez vai ser surpresa até mesmo para você. – ele
deu tapinhas na minha mão. – Sobremesa?
Pisquei algumas vezes antes de assentir. Roger chamou o garçom e pediu
cannoli para nós dois.
— Quando acabarmos aqui, vamos para minha casa. – ele falou de uma
maneira que não dava margem para outra resposta que não fosse “sim,
senhor”.
Roger se deliciou com a sobremesa e eu também gostei bastante, mas minha
mente estava no que íamos fazer assim que chegássemos no condomínio dele.
Eu estava na seca desde a maldita noite dos tiros em Cecília na boate, e isso
ia fazer quase uma semana.
Ele pagou a conta, dando uma bela gorjeta para o garçom que ficou até meio
sem graça em aceitar. Segurando meu braço de maneira possessiva enquanto
saímos do restaurante, Roger e eu entramos no carro que já nos esperava com
a porta aberta e o motor ligado.
No banco de trás do utilitário, Roger começou a me beijar tão logo o carro
entrou em movimento. Aquele gesto “romântico” por parte dele, me pegou de
surpresa. Não esperava beijos apaixonados, flores, bombons nem nada do
tipo de Roger. Ele sempre gostou da coisa bruta, crua, quanto mais suja
melhor. E eu não vou me fazer de rogada, pois também adorava. Então,
quando ele agia dessa maneira, eu ficava com um pé atrás.
Quando enfim chegamos no condomínio de Roger, eu o cavalgava
enlouquecidamente. Eu estava completamente pelada e ele inteiramente
vestido.
Vi pelo canto de olho, quando o brutamontes do guarda-costas dele desceu do
carro, nos dando algo que ele entendia como privacidade. Com o veículo
parado na porta de entrada da mansão eu gostava pela segunda vez.
Roger estava tão benevolente que eu aproveitei para tomar as rédeas da transa
nem que fosse por alguns minutos. Gozamos juntos, ficando abraçados até ele
me dar um tapão bem estalado na nádega esquerda e falar que estava na hora
de entrar.
Rapidamente Roger me tirou do colo dele, fechou o zíper e saiu, me largando
dentro do carro sozinha, pelada e gozada.
Um dos capangas dele bateu no vidro e estava com um cobertor nas mãos.
— O patrão mandou pra senhora. – o homem mal encarado falou.
Me enrolei no pano e entrei para a mansão correndo e carregando as minhas
roupas. Eu tomaria um banho rápido e me vestiria, indo dali direto para o
fórum para uma audiência, que por muita sorte eu não chegaria atrasada.
▪▪▪

CAPITULO 24
MARLON

Na sexta-feira de manhã bem cedinho, logo após o café, saí para a missão do
dia: seguir Tatiana. Eu a esperaria sair da mansão e chegar no escritório para
segui-la em qualquer lugar que ela fosse.
Deixei Cecília sob os cuidados de Kevin, uns dos homens que fazia a
segurança da casa e segui em direção ao local de trabalho de Tatiana.
Ninguém, tirando as pessoas que estavam na sala de briefing na noite
anterior, sabia o que eu iria fazer. Nem mesmo Cecília. Para todos os efeitos,
eu ficaria fora resolvendo algumas coisas da minha empresa de segurança, a
SecMate.
Usei um dos carros da empresa para chegar até em frente do prédio onde
Tatiana mantinha o escritório, e estacionei numa vaga mais pro final da rua,
do lado contrário, de onde eu poderia observar qualquer movimento dela sem
ser visto.
Quase dez minutos que eu desliguei o veículo, Tatiana chegou e guardou o
carro na garagem do prédio.
Ficar de campana era divertido quando se tinha algo para se observar. Na
maior parte do tempo você ficar sem ter o que fazer. E foi assim a manhã
toda. Até que um pouco antes do almoço, um utilitário preto parou bem em
frente à saída do prédio.
O que mais me chamou atenção foi o fato de ninguém descer do veículo e a
intensidade da película que escurecia os vidros. Tirei algumas fotos do carro.
O carro ficou parado por apenas dois minutos cronometrados, até que Tatiana
aparecesse na rua e entrasse no automóvel, após olhar discretamente para os
lados. Antes que ela conseguisse ir para a segurança do veículo, tirei mais
fotos. Anotei a placa e modelo, e o segui a uma distância segura.
O utilitário seguiu para a rodovia que levava para a cidade vizinha. Vinte
minutos depois, o carro parou em frente um galpão. Havia mais um carro
grande e escuro já estacionado no local.
Tatiana desceu do carro, sendo acompanhada pelo motorista e sumiu dentro
do lugar por um tempo.
Tirei mais fotos, tanto do outro veículo, quanto do galpão, e lógico, de
Tatiana.
Estava comendo um sanduíche frio que eu havia trazido, quando uma
movimentação na entrada do lugar.
Com a câmera a postos, comecei a fazer uma sequência de fotos.
Um homem que parecia que teve o nariz amassado entrou no carro, logo em
seguida Tatiana e o motorista fechou a porta, dando partida no utilitário,
sendo seguido pelo outro que havia trazido a mulher.
Eles seguiram pelo bairro mesmo, estacionando em frente à um restaurante
italiano caríssimo. O segundo carro, passou direto pelo estabelecimento.
O trânsito na região na hora do almoço era complexo. Eu consegui com
muito custo, uma vaga mais distante, só porque um outro carro saiu deixando
o espaço livre para mim. Com essa ginástica pela vaga, tentado não chamar a
atenção dos alvos da minha campana, perdi Tatiana e o homem estranho
entrando no restaurante.
Mais tempo esperando, terminei de comer meu sanduíche que tinha sido
largado pela metade no banco do carona, junto com minha garrafa de água.
Uma hora depois, o homem saiu segurando Tatiana pelo braço. Eles entraram
no carro rapidamente e saíram comigo na cola deles.
O carro saiu do bairro nobre, entrando na rodovia e seguindo para a cidade
que fazia divisa com Belo Horizonte e a cidade em que nós estávamos.
Tentei manter distância, mas sem perder Tatiana de vista.
Dirigi por vários minutos ate entrarmos numa região que era conhecida por
vários condomínios de luxo.
Fiz várias fotos enquanto passava direto pela entrada do condomínio, pois ali
não havia lugar para estacionar, nem o que fazer senão voltar para a mansão e
imprimir as imagens para o doutor Ivan.
Quando voltei para a rodovia que ligava as duas cidades na região
metropolitana, encontrei um acostamento e parei o carro analisando as fotos
na câmera profissional.
Estava tão imerso no rosto do cara que acompanhava Tatiana que mal ouvi o
telefone tocar. Era Mathias.
Atendi pelo bluetooth do carro.
— Mathias, você não vai acreditar. – eu disse antes que ele pudesse falar
alguma coisa. – Consegui fotos do tal chefe da facção.
O silêncio do outro lado da linha diante dessa minha revelação me fez ficar
alerta. Mathias era falante, não era de medir palavras e agora estava num
silêncio sepulcral.
— Mathias? – chamei.
Ouvi a respiração ruidosa dele e ao fundo uns gemidos masculinos.
— Mathias?! Que porra tá acontecendo? – gritei.
— A menina. – ele falou baixo.
— O que aconteceu com Cecília? – coloquei o carro em movimento, quase
sendo atingido por uma van.
Ouvi mais gemidos.
— Marlon... – Mathias respirou fundo. – Eles levaram ela.

▪▪▪
CAPITULO 25
CECILIA

Acordei cedinho, assim que Marlon levantou da cama. Hoje ele trabalharia na
sede da SecMate e eu ficaria praticamente o dia todo sem ele, sendo escoltada
por Kevin, um dos caras da equipe de Marlon que já havia feito minha
segurança anteriormente.
Antes de sair, Marlon e eu tomamos café juntos na cozinha. Ele explicou que
provavelmente voltaria para almoçar em casa, mas que não era nada certo,
devido a demanda de serviço que ele teria lá na empresa.
Após o café, Marlon foi até o quarto dele, na casa da piscina, tomou um
banho e vestiu um terno azul marinho lindo. Ele passou no meu quarto para
se despedir e me dar um beijo de tirar o fôlego, avisando que eu já tinha outro
guarda-costas me esperando do lado de fora.
— Não faz essa carinha, meu amor. – Marlon disse quando o desânimo
passou pelo meu rosto. – Eu prometo que antes que você perceba, eu estarei
de volta.
— Espero que sim. – respondi, inspirando profundamente o perfume dele. –
Porque eu já estou com saudades.
Marlon deu aquele sorriso travesso que eu amava, me beijou e saiu.
Me sentei na cama, meio desanimada. Ele me deixou desacostumada com
todo aquele sexo dos últimos dias. E agora eu teria que voltar toda minha
energia sexual para a arrumação do quarto, meu trabalho nas redes sociais e
as atividades do curso de moda. Ou seja, eu teria que voltar para a realidade,
teria que sair das páginas de romance erótico que tinha vivido essa semana
querendo ou não.
Respirei fundo. Observei o que teria que ser feito no quarto. Trocaria a roupa
de cama, arrumaria meu guarda-roupa que parecia ter passado um furacão
nele, colocaria uma máscara hidratante no rosto enquanto fazia alguns
exercícios da escola de moda. Assim que terminasse tudo isso, tomaria um
banho e sairia para comprar algo para fazer no jantar para Marlon.
Eram quase onze horas da manhã quando vesti uma calça jeans, uma t-shirt
branca básica e calcei meu all star, saindo do meu quarto pronta para dar um
pulo no supermercado.
Levei um susto quando abri a porta e dei de cara com Kevin parado feito uma
estátua do lado de fora.
— Bom dia, senhorita. – ele disse todo educado. – A senhora vai sair?
Fechei a porta, ajeitando minha bolsinha no ombro e me recuperando do
susto.
— Vou sim, Kevin. – respondi me encaminhando para as escadas.
— E aonde eu tenho que levá-la?
— Vou no supermercado aqui pertinho. – falei indo na cozinha.
Rosa começava o preparo do almoço.
— Vai sair, menina? – ela perguntou.
— Vou dar um pulinho no mercadinho aqui do lado, Rosa. – respondi
beliscando umas uvas que ela tinha acabado de lavar. – Tô pensando em fazer
um jantarzinho especial para Marlon.
Rosa me olhou com os olhos brilhando.
— Minha menina está amando! – ela me abraçou. – Quando foi que você
cresceu, Ceci?!
Senti um nó se formar na minha garganta. Rosa era o mais perto que eu
conheci de uma mãe. E eu era, como ela dizia sempre, a menina dela.
Ficamos abraçadas por um tempinho, as duas manteigas derretidas tentando
controlar o choro.
Saí da cozinha rapidamente, encontrando Kevin já dentro do carro. Antes que
eu entrasse no veículo, Mathias me interceptou e perguntou em qual lugar eu
ia. Confirmei que era no supermercado perto do condomínio e ele assentiu,
entrando no carro de trás que ia fazer a minha segurança. Entrei no Audi e
obviamente, me sentei no banco de trás, seguindo em direção às compras.
Menos de vinte minutos depois, eu empurrava um carrinho relativamente
cheio para apenas um “jantarzinho”. Comprei macarrão de massa caseira,
molho de tomate com tomate inteiro, queijo, bacon, algumas ervas frescas.
Para sobremesa, estava pensando em fazer uma torta de morango com
chocolate e nozes. Então lá fui eu pegar dez caixinhas de morango, cinco
barras de chocolate, creme de leite fresco, nozes. O vinho seria cortesia do
doutor Ivan.
Gastei mais tempo do que o previsto com a compra e estava morta de fome e
vontade de ir ao banheiro. Fui rapidamente para o caixa pagar todas essas
coisas, tendo Kevin colado em mim o tempo todo.
A situação da fome estava sob controle, mas o xixi eu não conseguia segurar
mais. Avisei Kevin que ia ao banheiro e que ele poderia ir para o carro
guardar as coisas. Ele assentiu e eu corri para o segundo andar do
supermercado, onde ficava os banheiros.
Havia dois meios para chegar ao banheiro, eu poderia escolher entre o
elevador ou a rampa. O elevador estava preso no andar das compras, então o
único meio que me restava era a rampa, que eu subi correndo.
Quando terminei de me aliviar, soltei um suspiro alto. Não existe coisa pior
do que segurar xixi. Aliás existe sim, saber que você está prestes a se aliviar e
o fecho da calça trava de alguma maneira. Isso era o que estava passando pela
minha cabeça enquanto eu lavava e secava a mão.
Saí do banheiro, indo em direção ao elevador, mas antes que eu pudesse
apertar o botão para chamá-lo, alguém me agarrou.
No começo achei que, de alguma maneira absurda, fosse Marlon me fazendo
uma pegadinha. Mas quando uma mão com uma luva de couro cobriu minha
boca e braços fortes me suspenderam no ar, eu desesperei.
Esperneei, dei tapas e socos no homem que me agarrava, mas de nada
adiantou. Ele era mais forte e conseguiu prender meus braços de uma maneira
firme ao mesmo tempo que ainda tampava minha boca. Na tentativa frustrada
de me ver livre, acabei deixando minha bolsinha cair.
Fui arrastada até um carro grande de vidros completamente pretos, que já
esperava bem no finzinho da rampa e jogada no banco de trás.
Na luva do homem havia algum tipo de composto químico anestésico, pois os
meus sentidos estavam lentos. Eu via o que acontecia, mas não tinha reação
rápida o suficiente.
O carro saiu do estacionamento sem fazer estardalhaço, sem cantar pneu ou
algo do tipo, nada que chamasse a atenção. Eu consegui ver Mathias, Kevin e
o outro segurança quando o veículo onde eu estava passou por eles. Mas eles
não faziam ideia que eu estava ali dentro.
Quando o carro saiu do estacionamento, indo para a luz do meio-dia, o sol
ofuscou minhas vistas e eu apaguei caindo no colo do homem que havia me
sequestrado.

▪▪▪
CAPITULO 26
MARLON

Num tempo que me pareceu maior do que realmente tinha sido, cheguei na
mansão. Furei alguns sinais vermelhos, passei na velocidade acima da
permitida em diversos locais, fiz várias ultrapassagens proibidas e muito
provavelmente, levaria algumas multas, mas isso não me importava. Toda
minha preocupação estava voltada para Cecília. Como eles haviam
conseguido pegá‐la?
Mal estacionei o carro na entrada da garagem e fui correndo para a casa da
piscina. Mathias me esperava fumando um cigarro e parecia mais pilhado do
que nunca.
— Marlon... – ele falou assim que me viu, jogando o cigarro no chão e
pisando para apagá-lo.
— Como isso aconteceu, Mathias?! – tentei me controlar.
— Ela estava no banheiro do supermercado...
— Ela o quê?! – gritei, interrompendo-o. – Por que diabos ela estaria num
supermercado?
— Porque ela iria fazer um jantar para você. – uma voz feminina embargada
falou baixo. Era Rosa.
Me virei para a senhorinha que tinha os olhos inchados de tanto chorar e um
saco com gelo nas mãos. A resposta de Rosa me deixou sem palavras.
— Aqui, rapaz. – ela entregou o saco com gelo para Mathias e voltou para a
mansão.
Respirei fundo tentando pensar racionalmente. Não podia ser emocional num
momento de crise, teria que sempre pensar com a cabeça e deixar o coração
de lado se quisesse que algo desse certo.
Ouvi um gemido alto e o barulho de algo caindo dentro do imóvel. Por uma
fração de segundos meu olhar e de Mathias se encontraram.
— Quem está aí dentro? – perguntei.
— Kevin. – ele respondeu calmamente.
O ar escapou dos meus pulmões. O filho da puta do segurança a quem eu
tinha confiado a vida de Cecília.
Num rompante de fúria quis entrar na casa e arrebentar mais ainda a cara
daquele moleque, mas mantive a calma.
— E o doutor Ivan?
— Borges está de olho nele. – Mathias falou pressionando o gelo nos dedos.
– E eu mandei uma outra equipe para fazer a segurança.
— Mas ele não sabe...? – não consegui terminar a frase.
Mathias apenas balançou a cabeça negando.
Passei a mão pelo rosto, tentando buscar alguma solução.
— Ótimo. – falei num rompante. – Melhor ele não saber mesmo, por ora.
Mathias me olhou como se eu tivesse ficado maluco.
— Sabe aquelas nossas suspeitas? – fui até o carro e peguei a câmera
fotográfica que eu havia largado no banco do carona. – Elas estavam certas. –
falei quando voltei e mostrei as imagens ao meu amigo.
— Vagabunda. – foi tudo que Mathias falou.
Uma dor de cabeça queria dar as caras.
— Me conta desde o começo o que aconteceu. – pedi. – E o que Kevin tem a
ver com isso.
— Esse filho da puta deixou ela sozinha, Marlon. – Mathias estava mordido.
– Eu perguntei aonde a menina estava e ele respondeu na maior calma que ela
tinha ido ao banheiro.
Ele balançou a cabeça como se tivesse feito uma grande merda.
— Foi coisa de minutos. Dois, três no máximo. – ele continuou. – Eu estava
no estacionamento junto com o Pedrosa, aí Kevin chegou sozinho
empurrando o carrinho com as compras e sem a menina. Perguntei aonde a
menina tinha ido e ele falou que ela tinha ido até o banheiro. Fui correndo até
lá e só encontrei a bolsa dela no chão.
Meu coração estava disparado.
— Você foram naquele supermercado aqui perto? – perguntei e ele assentiu.
– Lá não tem outra saída, Mathias. Só a rampa e o elevador. Eles não seriam
burros de sair com Cecília pela porta da frente do lugar.
— Alguém ia perceber. – ele constatou o óbvio.
— Aquele estacionamento é enorme. – cocei a barba, pensativo. – Tudo deve
isso deve ter acontecido bem na cara de vocês.
Mathias abaixou a cabeça, o rosto estava vermelho. Não sabia se era de raiva
ou de vergonha por ter perdido Cecília bem debaixo dos olhos.
Abri a porta da casa da piscina e vi que a sala havia se transformado em um
cage de UFC, tinha sangue para todos os lados. Kevin estava sentado na
cadeira com as mãos amarradas para trás e o rosto parcialmente deformado.
Farah estava sem o tão tradicional terno, usava apenas a regata que estava
encharcada de suor. Era ele quem fazia o serviço de “extração de
informações” em Kevin.
— Conseguiu alguma coisa? – questionei, me aproximando da sujeira.
— Nada ainda, chefe. – Farah limpou o suor da testa com as costas das mãos.
— Continua tentando. – me virei para ir a sala de controle. – Uma hora ele
fala.
Fiz algumas ligações para conhecidos meus nas polícias e repassei o que
havia acontecido. Teria que esperar doutor Ivan chegar para proceder de
maneira mais efetiva e oficial, fazendo um boletim de ocorrência.
Não poderia fazer nada de fosse comprometer a integridade de Cecília. Não
poderia dar o endereço do chefe de facção mais procurado do estado, quiçá
do país, pois ele poderia fazer algo contra ela. Eu estava de mãos atadas.
Tudo o que eu poderia fazer era pedi a Deus que a protegesse e voltar para
sala para tentar arrancar alguma coisa daquele filho da puta do Kevin.

•••

Depois de quase uma hora sozinho comigo, ele finalmente abriu o bico.
Kevin contou que ele – nas palavras dele – foi abordado por um homem
branco, alto, forte e muito mal encarado, que o pediu que o mandasse uma
simples mensagem quando Cecília ficasse desprotegida. Ele não precisava
fazer nada, apenas sinalizar que ela estava vulnerável e o resto era com eles.
E foi o que o imbecil fez.
Fui ao banheiro limpar um pouco do suor e do sangue os quais eu estava
coberto. Olhei a hora e vendo que doutor Ivan estava a caminho, liguei para o
meu contato na Civil, dando a localização exata do chefão.
Estava irritado de uma tal maneira, que há muito tempo eu não ficava.
Pilhado. Com os nervos à flor da pele. Preocupado ao extremo com Cecília.
Fui a cozinha da mansão e Rosa me ofereceu algo para comer, recusei. Mas o
refrigerante cairia bem, já que eu não podia tomar uma dose de uísque ou
algo forte. Tomei toda a latinha de Coca-Cola quase que em uma só golada.
Estava olhando pela janela quando o carro de Ivan parou na garagem. Vi ele
descer do veículo trazendo a tira colo, Tatiana.
Deixei a latinha de lado e concentrei toda minha energia em não matar aquela
vagabunda bem no meio da sala dos Bernardes.

▪▪▪
CAPITULO 27
CECILIA

Quando acordei estava tudo escuro. Minha cabeça doía, meu corpo estava
pesado e estava difícil para respirar. Não conseguia me mexer direito. Não
escutava nenhum barulho que pudesse me dar uma pista de onde eu estava.
Lentamente, a minha consciência foi sendo recobrada. Fui me lembrando das
últimas coisas que aconteceram antes que eu apagasse.
Marlon.
Estava no supermercado para comprar algumas coisas para o jantar surpresa
que eu iria fazer para ele.
OK.
Paguei as compras e fui ao banheiro.
OK.
Lembrei de alguém me agarrando tão logo eu abri a porta e saí.
Minha bolsa caída no chão.
Os seguranças alheios a tudo, enquanto eu, meio drogada, era raptada.
Calor. Sol. Perfume masculino. Escuridão.
Tudo voltou e me atingiu de uma só vez. Minha respiração se acelerou e eu
sentia uma crise de pânico dar as caras.
Minhas mãos estavam presas às minhas costas, eu estava sentada no chão frio
encostada em uma pilastra.
Ouvi passos pesados ecoando longe e ficando cada vez mais alto, como se
chegassem próximos a mim.
Controlei minha respiração e fiquei o mais quieta que consegui.
— É ela? – uma voz masculina perguntou.
Meu coração esmurrava minha caixa torácica.
— Sim, senhor. – outro homem respondeu.
Ouvi um suspiro alto.
— Que maravilhoso! – a primeira voz voltou a falar. – Ela ainda esta
desacordada?
Não ouvi a resposta.
— Tire o capuz dela.
O capuz foi arrancado da minha cabeça e eu apertei os olhos que foram
ofuscados pela luz forte que iluminava o galpão.
Não fazia ideia de quantas horas eram, ou quanto tempo havia passado desde
que fui sequestrada no supermercado. Mas parecia que era finzinho de tarde,
comecinho da noite.
— Oi, doçura. – um homem se agachou na minha frente e tirou meus cabelos
dos olhos. – Você sabe quem sou eu?
Me retraí, afastando da mão dele.
“Muito provavelmente o filho da puta que quer matar meu pai”, pensei,
olhando para ele com a cara fechada.
— Brava. – ele deu um sorriso que fez o rosto dele ficar ainda mais feio. –
Gosto assim.
Meu estômago embrulhou. Minha mente disparou e eu imaginei as coisas
horríveis que ele poderia fazer comigo presa daquele jeito.
Ele se levantou, indo até o homem que havia me sequestrado e falou algo
baixo que eu não consegui escutar. Eles olharam para mim e o homem feio
foi embora.
Minutos se passaram e eu fiquei observando o ambiente. Era como se fosse
um lugar abandonado. Janelas altas de vidro, pilastras de sustentação
pontualmente dispostas pelo espaço.
Uma batida ecoou pelo galpão me assustando.
O brutamontes foi até a porta. Era um entregador com algumas sacolas. O
homem pegou uma garrafa de água e abriu se aproximando de mim.
— Tá com sede? – a voz grave dele me assustou.
Como não confiava na minha voz, apenas assenti.
O homem se agachou na minha frente e colocou a garrafa encostada nos
meus lábios.
Eu não sabia que estava com tanta sede até sentir o primeiro contato do
líquido com minha boca. Bebi com tanta ferocidade que a água escorreu pela
minha roupa.
— Devagar. – o homem advertiu, cortando o contato.
Olhei para ele com raiva.
— Eu quero mais. – falei com voz rouca de ficar tanto tempo calada.
Ele me avaliou e depois de pensar, recolocou a garrafa na minha boca.
— Acabou. – ele falou e se levantou.
— Eu ainda tô com sede. – reclamei.
— Você já bebeu o suficiente. – ele me deu as costas e eu vi a arma sob a
blusa dele.
A porta se abriu de novo e mais homens entraram, todos armados.
Ninguém falou ou olhou para mim. Era como se eu não existisse. Um pedaço
de nada que estava amarrado ali naquela pilastra.
O brutamontes recolocou o capuz na minha cabeça e eu comecei a
hiperventilar.
— Fica quieta. – ele falou baixo bem perto do meu ouvido.
Tentei me concentrar em cada barulho que eles faziam. Em cada carro, moto
ou avião que passava, mesmo que longe.
Não sei quanto tempo se passou, mas sabia que estava com fome e com muita
vontade de ir ao banheiro.
Comecei a mexer as pernas, em seguida o corpo como se algo estivesse me
incomodando. Quase meia hora depois, o homem se aproximou e perguntou:
— O que você quer?
— Ir no banheiro. – respondi com a voz abafada. – Comer alguma coisa
também.
Ouvi algumas risadas.
— Ela acha que tá num spa. – alguém falou.
Mais risadas.
— Você tem preferência por algum restaurante, madame? – um outro cara foi
sarcástico.
Risadas.
— Já chega! – o brutamontes gritou calando a todos e me fazendo pular de
susto.
Um silêncio ensurdecedor pairou no lugar.
Novamente o capuz foi arrancado da minha cabeça e eu dei de cara com o
homem mal encarado.
— Você vai ao banheiro. – ele falou me olhando nos olhos. – Quando voltar,
vai comer. Mas não pense, nem por um segundo em tentar fugir, correr ou
gritar. Uma: não vai adiantar. Outra: temos ordens para te matar e mandar o
seu cadáver de presente para o seu pai. Tá me entendendo?
Engoli seco e assenti em pânico.
— Vou te soltar. – o homem continuou. – Você vai usar o banheiro com a
porta aberta. Não tenta nenhuma gracinha.
Assenti de novo, enquanto ele desamarrava minhas mãos.
Quando me vi solta, massageei os pulsos doloridos.
O homem estava em pé me olhando. E vários outros caras tinham armas
apontadas para mim.
Me levantei com dificuldade e perdi o equilíbrio quando fiquei ereta. O
brutamontes me segurou pelo cotovelo.
— O que você me deu? – questionei enquanto andávamos até os fundos do
galpão onde ficava o banheiro.
— Você só cheirou um pouco de clorofórmio. – ele respondeu quando
paramos em frente à porta.
Ele me soltou e falou:
— Não fecha a porta.
Que maravilha. Teria que usar o sanitário com um homem me olhando.
Ótimo.
Tentei não pensar nisso e me aliviei. Quando fui lavar as mãos, aproveitei e
molhei o rosto. Tudo isso olhar atento do brutamontes.
Voltamos para onde eu estava amarrada e ele me mandou sentar. Todos os
olhares e armas estavam sobre mim. Ele foi até a sacola e tirou um suco de
caixinha e um sanduíche desses que você compra em lojas de conveniência e
me entregou.
Devorei tudo em menos de cinco minutos. Eu ainda estava com um pouco de
fome, mas era melhor do que está cheia demais e não conseguir correr caso
eu precisasse. Obviamente, eu não seria estúpida de tentar nada depois do que
eu vi, mas se por um acaso eu viesse a tentar, não queria ser impedida por um
estômago cheio.
Como se soubesse o que se passava na minha mente, o brutamontes voltou a
me amarrar na pilastra e a colocar o capuz na minha cabeça.
Ouvi uma cadeira ser arrastada e vozes baixas em algum canto do galpão.
Fechei os olhos e pedi a Deus para que Marlon chegasse rápido ao meu
socorro.

▪▪▪
CAPITULO 28
MARLON

Todos os seguranças da mansão estavam reunidos próximo à casa da piscina,


eu vi isso pela porta da cozinha antes de ir para a sala recepcionar doutor
Ivan. O homem já desconfiava que havia algo errado, pois a feição dele
estava transtornada. Tatiana também percebia que algo não estava certo.
— Marlon? – o promotor me encarou assustado.
Mas minha atenção estava toda voltada para a loira oxigenada ao lado dele,
que devolvia o olhar com curiosidade.
O clima da mansão estava pesado, como se algo ruim esteve prestes a
acontecer. Mas no caso, já havia acontecido.
— Preciso ir ao banheiro. – Tatiana falou e fez menção de subir as escadas.
Antes que ela pudesse dar mais um passo em direção aos degraus eu a peguei
pelo braço.
— Ai! – ela gritou.
— Marlon, o que você está fazendo? – doutor Ivan me questionou se
aproximando de mim.
Empurrei Tatiana no sofá e ela caiu de um jeito teatral.
— Fala pra ele o que eu estou fazendo. – respondi olhando diretamente para a
mulher. – Conta pra ele onde está a filha dele!
Ivan resfolegou, dando um passo para trás.
— O que aconteceu com Cecília? – ele perguntou num fio de voz.
Tatiana se levantou indo em direção ao promotor e fez menção de tocar o
rosto dele, que a segurou pelo braço.
— Eu não sei do que ele está falando, meu amor. – ela falou de forma
melosa. – Você precisa acreditar em mim.
Ivan olhou para mim, como se ainda duvidasse que Tatiana fosse capaz de
fazer algo de ruim. Ele estava apaixonado. E eu sabia, melhor que ninguém,
que isso poderia prejudicar o discernimento e fazer você baixar a guarda
contra muitos perigos.
— Me explica o que está acontecendo, Torres. – ele pediu numa falsa calma.
– Onde está Cecília?
Passei a mão pelo rosto exasperado. Não era fácil para mim admitir que eu
havia falhado.
— Ela foi sequestrada. – falei por fim.
Doutor Ivan quase caiu duro no chão. O homem se sentou no sofá e segundos
depois Rosa chegava com um copo com água. As mãos dele tremiam e a cor
havia fugido do rosto do homem.
Eu tinha a atenção voltada única e exclusivamente para Tatiana. Eu captava
cada pequeno movimento dos músculos faciais dela. Vi medo, surpresa, uma
pequena centelha de irritação e algo que me fez querer esganá‐la, o olhar
confiante.
Doutor Ivan fazia milhares de perguntas que eram respondidas ora por Rosa
ora por Mathias, pois eu estava submerso numa camada de ódio tão grande
que eu podia a qualquer momento, entrar em combustão espontânea.
— Aonde ela está? – perguntei para Tatiana.
— Por que você não me informou? – Ivan se levantou ficando entre a
namorada e eu. – Por que eu só fiquei sabendo disso agora, quase seis horas
depois?
Tatiana me olhava de maneira altiva, com as pernas cruzadas, como se eu
fosse o cara mau da história.
— Nós tentamos... Eu tentei... – comecei a falar, mas fui interrompida por
doutor Ivan.
— Ela era sua responsabilidade! – ele gritou. – Você prometeu cuidar dela!
Aquelas palavras me atingiram. Era como se eu tivesse entregado Cecília ao
inimigo.
Puxei o ar, tentando me controlar e não fazer uma besteira. Lembrei que o
tempo estava correndo e cada segundo perdido, poderia ser fatal para Cecília.
— Eu prometi cuidar dela. – falei calmamente. – Mas em nenhum momento
eu pensei que eles iriam infiltrar alguém na segurança da mansão. Não pensei
que a amante do chefe da facção fosse se passar por sua namorada.
Toda a bravata de Ivan sumiu. Ele olhou para mim como se eu tivesse
destruído o mundo dele novamente. Em seguida, olhou para Tatiana que fez a
melhor cara de santa que ela conseguiu.
Doutor Ivan era apenas uma casca de homem. Ele foi até o bar, se serviu um
copo quase transbordando de uísque e em seguida começou a quebrar todas
as garrafas e copos que estavam ali.
A quebradeira foi geral e o barulho ensurdecedor. Em um dado momento,
Ivan se cortou, fazendo toda a atenção da sala se voltar para ele.
Rosa veio correndo em socorro do patrão com um pano limpo e o enrolou na
mão dele. Ivan chorava feito um menino, não só pela dor do corte, mas pela
dor de saber que seu bem mais precioso estava nas mãos de pessoas que
queriam a morte dele. E muito provavelmente, a morte dela também.
Ajudei a Ivan ir até a cozinha e se sentar em uma das cadeiras que Cecília e
eu usávamos para o café da manhã.
— A polícia já está sabendo? – ele me perguntou baixo.
— Sim, senhor. – respondi. – Eles têm todas as informações necessárias para
pegar o filho da puta que fez isso.
— Por que você não estava com ela, Marlon?
Essa pergunta cortou meu coração.
Por que eu não estava com ela? Porque eu era um estúpido, um idiota que
acreditou que ela ficaria em casa e estaria segura. Mas eu me esqueci de
como Cecília era teimosa e persuasiva. Me esqueci de que quando ela botava
uma coisa na cabeça, ninguém tirava. Porque eu estava apaixonado e relaxei
na inspeção da segurança dela e da casa. Relaxei na investigação social dos
homens que trabalhavam comigo.
Eu tinha apenas uma missão: protegê-la. Eu falhei. E não me perdoaria se
algo acontecesse com a minha Cecília.
Por um segundo eu me esqueci de Tatiana. Voltei para sala correndo e ela
não estava mais lá. Corri para o frente da mansão e havia uma agitação por lá.
Mathias segurava a mulher que se debatia feito louca nos braços dele.
— Me solta, seu idiota desgraçado! – Tatiana gritava. – Me larga!
Mathias fazia uma força descomunal para detê-la.
— Nem fodendo que eu vou deixar você escapar, sua vagabunda!
Diante de todo o barulho Ivan apareceu. Ele parecia um zumbi.
— Ivan?! – Tatiana gritou. – Ivan, me ajuda.
Ele se aproximou de onde estávamos e a olhou.
— Como você pôde fazer isso comigo, Tatiana? Como você pôde entrar na
minha casa, deitar na minha cama e me apunhalar pelas costas desse jeito?

▪▪▪
CAPITULO 29
TATIANA

Ivan fazia um discursinho patético sobre como eu poderia ter traído ele
daquela maneira e o apunhalado pelas costas. E eu fiz minha melhor cara de
vítima, começando a chorar. Me debatia loucamente nos braços do segurança
careca e chorava. Estava atuando tão bem que eu começava acreditar naquela
cena que eu fazia.
Num certo momento, o segurança afrouxou o aperto e eu me joguei
dramaticamente nos braços de Ivan.
— Você precisa acreditar em mim, Ivan. – choraminguei. – Eu não sabia de
nada! Eu estava sendo usada.
Por um segundo eu tive toda a atenção de Ivan. E por esse mesmo segundo,
eu vi que se me esforçasse um pouco mais, o idiota acreditaria em mim.
— Doutor? – Marlon, o segurança gostoso o chamou.
Ivan e eu nos encarávamos. Eu suava frio e meu coração batia acelerado com
medo da reação do homem que me abraçava.
— Nos deixe sozinhos. — Ivan falou por fim.
— Doutor, eu não acho que... – Marlon insistiu.
— Você não está em posição de achar nada, senhor Torres. – a voz de Ivan
foi cortante. – Façam o que eu mandei. Agora!
Não conhecia esse Ivan que me segurava nos braços agora. Forte, altivo,
mandão.
Após a ordem de Ivan, todos os homens saíram nos deixando sozinhos.
Eu me esfregava nele como uma gata, querendo carinho e atenção.
— Ivan, acredite em mim! – eu implorava. – Eu te amo!
— Eu não quero acreditar que você me usou dessa maneira, Tatiana. – ele me
afastou e caminhou pelo gramado. – Eu não quero acreditar que você
entregou minha filha para a morte.
Eu forcei as lágrimas e elas saíram.
— Eu nunca faria nada para machucar Cecília. – andei atrás dele. – Gosto
dela como se fosse minha filha.
Obviamente exagerei um pouquinho, mas o que valia era que Ivan me desse
um voto de confiança.
Quando ele não falou nada, eu me aproximei. Ivan estava acabado. Tinha o
rosto pálido, bolsas embaixo dos olhos e chorava, coisa que não parecia ser
comum para ele.
Aproveitei que o homem ignorava minha presença e corri até o portão, que
por sorte eu consegui abri.
Antes de sair, peguei minha bolsa que havia caído no gramado após a minha
primeira tentativa de fuga e corri pelas ruas do condomínio.
Quando achei que estava numa distância segura, pedi um carro de aplicativo
e fui direto para o aeroporto.
Durante o trajeto eu torcia para que não tivesse nenhum alerta por mim. Será
que teria policiais disfarçados fazendo ronda no terminal a minha procura?
Será que eu seria barrada na hora do embarque igual nos filmes?
Ainda no carro, limpei meu rosto e retoquei a maquiagem para afastar a
impressão de que eu havia chorado.
Fui até o guichê, comprei a passagem para o primeiro voo que tivesse para
São Paulo e me enfiei no banheiro para passar o tempo.
Não demorou muito e eu escutei o meu voo ser chamado. Me encaminhei
para a fila numa falsa calma com medo de ser interceptada a qualquer
momento. E só quando o avião já estava no ar e eu via a cidade brilhando
embaixo de mim é que eu relaxei.
Eu iria passar alguns dias escondida em São Paulo e pensaria numa maneira
de me vingar de Roger por ter me colocado naquela situação.

▪▪▪

CAPITULO 30
CECILIA

Fome, dor e raiva.


Isso era tudo que eu sentia conforme as horas iam se passando. E elas
estavam se arrastando.
Eu não sabia quanto tempo havia se passado desde a última vez que comi
aquele mísero sanduíche, mas sentia meu estômago queimar e doer na
necessidade de algum alimento.
Também não sabia se era dia ou noite. Ficava a maior parte do tempo de
capuz.
Tive algumas pequenas crises de pânico que eu conseguia controlar pensando
em Marlon. Pensava em nossos momentos juntos, no sorriso dele, no quanto
eu o abraçaria quando o reencontrasse. Pensava que a qualquer momento ele
poderia entrar pela porta e me salvar. Eu tinha esperança. Eu tinha que me
agarrar a isso.
— Ei, gatinha?! – uma voz masculina falou perto de mim e me fez ficar
tensa.
Senti os dedos dele subir e descer pela minha perna e ir mais além, em
direção aos meus seios. Me escolhi com nojo.
— Você está com medo de mim? – ele perguntou. – Eu não vou fazer nada
que você não queira.
Dito isso ele deu uma risada cruel e apertou meu peito.
Eu gritei e comecei a me debater, chutando de maneira débil por estar
sentada.
— Tira a mão de mim! – gritei de novo, tentando controlar as lágrimas.
Não conseguia ver quem fazia isso, mas sentia que o homem estava perto
suficiente para que eu pudesse acertá-lo.
Ele ria e me tocava intimamente por cima da roupa.
Silenciosamente, eu pedia a Deus que não permitisse que o homem fosse
além.
Ouvi o barulho da porta e uma voz grave trovejou pelos ares.
O brutamontes.
— O que você está fazendo?
— Estou me divertindo um pouco.
— Tira as mãos da garota. – ele ordenou.
O homem ainda me alisava e eu sentia ânsia me dominar.
— Você está surdo? – o brutamontes gritou agora mais perto de mim.
Tão logo ele gritou, as mãos do homem saíram de mim.
Ouvi alguns barulhos de socos sendo trocados e uma arma ser engatilhada.
Meu coração veio na boca. Todos os meus sentidos se aguçaram.
Novamente a risada do homem que havia me tocado ecoou pelo galpão.
— Você não faz ideia no que está se metendo. – o brutamontes falou
calmamente.
E antes que o outro homem pudesse responder, o barulho dos tiros se fez
presente.
Me encolhi na direção contrária aos disparos com o coração a mil. Meu
ataque de pânico deu as caras e senti que estava morrendo. Senti que todos os
tiros haviam me acertado e naquele instante eu sangrava até a morte.
Uma mão tocou meu ombro e eu dei um pulo. Senti as cordas dos meus
pulsos se afrouxar e alguém me pegar no colo, fazendo o capuz cair da minha
cabeça. Ainda bem que me carregaram, pois minhas pernas pareciam
gelatinas e eu não tinha forças nem para respirar.
Ouvi vozes conversando ao longe, enquanto eu era deitada num lugar macio
que parecia um colchão.
— Você está bem? – uma voz perguntou baixinho.
Eu apertava os olhos, fechando-os com força. Não queria sentir dor.
— Moça, abre os olhos. – a voz tornou a falar. – Você está bem?
Abri os olhos bem devagar, sendo cegada pela luz fluorescente que iluminava
o galpão. Havia um homem em cima de mim me encarando. Tentei me sentar
debilmente, me afastando dele.
Era o brutamontes.
— Ele não vai te tocar mais.
Olhei para os lados e vi alguns homens carregando um corpo.
— Não olha para lá. – ele ordenou. – Você está com fome, com sede?
Encostei a cabeça na parede e olhei para o teto distante. Respirei fundo
algumas vezes antes de falar:
— Quero vomitar.
O brutamontes riu e me ajudou a chegar no banheiro onde eu vomitei apenas
bile, pois estava com estômago vazio.
Estava surda por conta dos tiros e meio fraca por não ter comido nada, mas
tirando isso não havia sido baleada conforme eu tinha imaginado.
Voltei a me sentar no colchão com a ajuda do brutamontes e um outro
homem trouxe a sacola com lanche.
— Come devagar. – ele ordenou.
Comi lentamente como ele havia pedido e logo o sono me tomou. Dormi
sentada, escorada na parede, não sei por quantas horas seguidas. Quando
acordei era noite novamente.
—Olha só quem acordou! – o filho da puta que queria matar meu pai falou se
agachando perto de mim. – Oi, doçura. Causando atritos entre os meus
homens, hein!?
Me encolhi ainda sonolenta com medo dele.
— Você está me dando ideias, garota. – ele continuou a falar. – Eu poderia
ganhar muito dinheiro com você.
Engoli seco.
— Conheço pessoas que pagariam uma nota por uma noite com uma belezura
feito você. – ele se abaixou e fez menção de tocar o meu rosto.
Eu me afastei e ele se fez de ofendido. O homem se levantou, ajeitou o terno,
tirando uma poeira invisível e falou:
— Você é só uma isca. Quem eu quero mesmo é seu pai. O grande doutor
Ivan Bernardes. O maior e mais famoso promotor de justiça do estado. O
desgraçado que está atrapalhando meus negócios.
Ofeguei quando ele falou o nome do meu pai. Queria que nem por um
segundo Marlon saísse do lado dele.
— Você está aqui até ele ceder, porque eu sei que ele vai ceder. Abrir a
guarda, fazer uma besteira para salvar sua preciosidade, sua bela e amada
filha. Sua pequena Cecília. – ele falava isso de um jeito teatral.
Aquilo me irritava, me dava nojo, me fazia querer avançar nele. Eu me
controlava pois qualquer movimento que eu fizesse poderia ser mal
interpretado.
— E quando eu tiver o que eu quero, que é o seu querido papai aqui, eu
mesmo vou fazer questão de meter uma bala na sua cabeça e na dele em
seguida.
Eu olhei para ele. O medo e a raiva se misturavam.
Um celular tocou. Era o dele.
— Sim? – ele atendeu. – Sim, claro. Em meia hora estou aí.
O homem desligou o celular, se virou para mim e agachou na minha frente
sorrindo.
— Doçura, você sabe como termina para Ivan. – ele falou suavemente. – Mas
você ainda tem o poder de mudar o seu destino. – ele tocou meu cabelo
embolado.
Me afastei com nojo.
— Amarrem ela novamente. – ele ordenou antes de sair.
O brutamontes me levantou, me conduzindo até a pilastra, amarrando e
colocando o capuz na minha cabeça.
Novamente a escuridão me tomou. Deixei as lágrimas rolarem. Chorei de
medo, dor, angústia. Chorei até dormir e ser despertada por um barulho
ensurdecedor.

▪▪▪

CAPITULO 31
MARLON

Depois de dias, literalmente, no escuro, conseguimos notícias. Aliás, boas


notícias. Fizemos boletim de ocorrência, foi aberta uma investigação e quem
liderava tudo era a Delegacia Antissequestro que tratava o caso como
prioridade, colocando seus melhores homens no caso e agindo com sigilo.
Todos meus contatos na Polícia Civil estavam atentos e qualquer
movimentação suspeita eu era informado.
Mas imprensa ainda estava no escuro. E isso era bom. Todos nós sabíamos
que eles poderiam estragar a operação e colocar a vida de Cecília em um
risco maior que ela já estava, apenas pelo simples fato de querer um furo de
reportagem.
Doutor Ivan depois de desabar de tristeza e deixar Tatiana escapar, diga-se de
passagem, voltou com tudo. Além dos homens da minha equipe, policiais
civis faziam a segurança dele que havia voltado a trabalhar. A Antissequestro
identificou vários integrantes da facção criminosa e o papel de Ivan era
expedir os mandados de prisão. E ele estava fazendo isso com gosto. Só
faltava mesmo localizar o cativeiro de Cecília.
A culpa volta e meia dava as caras. O sentimento de que eu havia falhado me
perseguia desde o momento em que fiquei sabendo do acontecido. Estava a
quatro dias sem dormir direito. Mathias e Rosa começavam a se preocupar
comigo. Eu trabalhava dobrado, ficava a maior parte do tempo na delegacia
para ajudar nas investigações e muitas vezes esquecia de me alimentar.
Hoje o dia não era diferente. Raiva, incertezas e o sentimento de impotência
me cercava. Não era nem oito da manhã e eu já estava na sede da
Antissequestro. Nos últimos dias eu passava tanto tempo por lá que já tinha
um espaço próprio, tanto para ajudar na busca por Cecília quanto para fazer
um ou outro trabalho remoto da SecMate.
Mal entrei no prédio e senti um clima diferente, uma movimentação anormal.
— Torres! – o delegado titular veio ao meu encontro. – Conseguimos
localizar alguns imóveis da facção.
Meu coração acelerou e eu o segui correndo até a sala de briefing. Tive me
que controlar para não deixar a ansiedade me tomar por completo.
— Como o senhor vai agir, doutor Marques? – perguntei olhando para o
mapa da capital e região metropolitana marcados com algumas tachinhas.
— Vou mandar equipes descaracterizadas para todos eles agora de dia, fazer
uma breve campana e quando anoitecer, vamos estourar o cativeiro da garota.
Eu tenho certeza que ela está em um desses imóveis, Torres. A gente vai
encontrá-la.
Assenti, ainda analisando o mapa. Havia diversos locais marcados, pelo
menos dois em cada cidade em torno da capital e todos eles em regiões
opostas ao outro.
Eu travava uma luta interna, esperar a averiguação das equipes ou seguir
meus instintos, indo direto no lugar em que eu sentia ser o certo?
Já havia se passado quase quatro dias completos e nada, nenhuma informação
do paradeiro de Cecília. Todos estavam se esforçando ao máximo para
localizá-la o mais rápido possível, todos dando seu melhor, mas mesmo assim
estava difícil uma pista concreta. Até agora.

•••

Depois de horas a fio sentado em frente ao notebook fazendo trabalho da


SecMate, eu senti fome. Avisei ao delegado que ia descer até a padaria no fim
da rua e saí.
Enquanto caminhava pela calçada pensava na máxima “sorte no amor, azar
no jogo”. No meu caso era inverso, azar no amor, sorte no jogo. Nas últimas
semanas, a SecMate ia de vento em popa, enquanto meu amor estava por aí
perdida.
Cada vez que eu pensava em Cecília, queria bater minha cabeça na parede.
Como eu pude ser tão relapso com a segurança dela? Como eu não pude ver o
perigo se aproximar? Como eles tinham cooptado Kevin para a facção?
E por falar em Kevin, o desgraçado após levar uma bela surra, agora iria
mofar na cadeia. Ele não sabia de muita coisa, ele era apenas um dos
fantoches nas mãos de um filho da puta.
Na padaria, pedi um café preto e dois pães de queijo. Estava com fome, mas
ansioso, não conseguiria comer algo muito pesado.
Meu celular tocou enquanto eu entregava uma nota de vinte para pagar o
lanche. Era Marques.
— Marlon, você tem que voltar agora. – ele falou agitado do outro lado da
linha. – Encontramos o lugar.
Saí da padaria, deixando o troco para trás e corri até a delegacia.
Meu coração parecia querer sair pela boca quando entrei na sala de Marques.
— Conta pra ele o que você me contou, Charles. – o delegado sentado atrás
da mesa olhou do homem para mim.
— Ontem a noite houve uma denúncia de tiros na zona oeste, que foi
averiguada pela PM e não deu em nada. Os mikes acharam que era uma
denúncia falsa, fizeram uma ronda no bairro, mas não encontraram nada
suspeito.
Eu estava sem paciência para historinha, queria que ele fosse direto ao ponto.
— Os disparos foram ouvidos em uma região relativamente nobre, onde tem
casas e comércios. E também na região onde Roger tem um imóvel. – Charles
pegou um folha e me entregou. – Eu sei disso pois puxei todos os chamados
em toda as regiões que estão listadas aqui. – ele apontou para o quadro. – E
esse, na zona oeste foi o único que teve algo relevante.
Tiros. Puta que pariu.
Vendo meu rosto preocupado, Marques tratou logo de dizer:
— Fica tranquilo, Torres. Tenho um pessoal de campana lá. – ele veio até
mim. – Qualquer movimentação, nós ficaremos sabendo.
— Eu tô pirando, Marques. – falei me apoiando na mesa. – Pirando. Eu
preciso ter Cecília aqui, comigo. Preciso dela segura.
— Nós vamos trazê-la de volta, Torres. Sã e salva.
Puxei o ar com força. Estava exausto. Além de me sentir um pedaço de
merda por tê-la deixado desprotegida.
— Você quer avisar doutor Ivan? – Marques perguntou.
— Vou fazer isso agora. – respondi sacando o celular.
A conversa com Ivan foi sucinta. Nós dois ainda estávamos estremecidos por
conta dos acontecimentos dos últimos dias e eu não sabia se quando tudo isso
terminasse, ele ia continuar com os meus serviços de segurança ou procuraria
outro. Mas por ora, eu pedi que ele viesse imediatamente do fórum para a
Delegacia Antissequestro.

•••

Tão logo a noite caiu, saímos em comboio em direção ao local onde Cecília
era mantida refém. Fazia parte da frota três viaturas da Antissequestro, duas
da Operações Especiais e o meu carro descaracterizado.
No último briefing antes de sairmos, foi repassado a infiltração e o resgate da
refém. Ficou decido que tanto Ivan quanto eu só entraríamos quando
estivesse tudo “dominado” no jargão policial, quando não oferecesse risco
nem pra Ceci nem para os outros.
Eu estava tenso enquanto dirigia pelas ruas da cidade. Duplamente tenso, na
verdade. Ter Ivan calado e carrancudo ao lado não ajudava em nada.
— Doutor Ivan... – comecei. – Eu queria te pedir desculpas...
— Guarde suas desculpas para quando eu tiver minha filha sã e salva nos
braços, Torres. – ele me interrompeu.
— Sei que não é o momento, mas não foi só eu que falhei. – rebati,
recebendo um olhar mortal do promotor.
— Você está querendo dizer que eu tenho culpa pelo sequestro da minha
filha? – Ivan aumentou a voz.
— Tanto eu quanto você. – falei calmamente. – Nós dois erramos. E isso
custou a segurança de Cecília.
— Mas é muita cara de pau sua, Torres. – ele se ajeitou no banco irritado.
— Tatiana. – olhei para ele de relance. – Você, literalmente, dormiu com o
inimigo, doutor.
Ivan suspirou alto e passou a mão pelo rosto.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ele falou:
— Eu suspeitava de algo, Cecília não gostava muito dela e você já tinha me
alertado sobre possíveis relacionamentos abruptos. – Ivan se calou.
Diminui a velocidade para passar em um cruzamento e vi a expressão
derrotada do promotor.
— Eu quis acreditar que depois de tanto tempo sem me relacionar com
ninguém, sem me sentir vivo para o amor, eu tivesse encontrado alguém para
compartilhar um bom vinho, um bom sexo, risadas. Mas eu estava enganado.
Doutor Ivan soluçou e eu quase senti pena dele.
— Eu trouxe o inimigo para dentro de casa. – o homem completou.
Ficamos calados até que paramos no ponto de encontro para um último acerto
de ideias antes de estourar o cativeiro de Cecília.
Estávamos a dois minutos de Cecília e minha ansiedade gritava.
Pior foi quando paramos em frente ao galpão e, Ivan e eu, recebemos
instruções de ficarmos no carro.
O pessoal de Operações Especiais cercou o lugar e a Antissequestro começou
a fazer a invasão. Enquanto, do lado de fora, os policiais civis a paisana fez a
prisão de alguns suspeitos que fizeram menção de evadir do local.
Tudo que aconteceu a seguir foi um borrão.
Porta sendo arrombada, diversos tiros. O silêncio depois.
Eu que já estava fora do carro, corri para dentro do galpão.
Havia muita fumaça, cheiro de pólvora, vozes masculinas. Mas o que os
meus ouvidos captaram, foi um choro baixinho. Ignorei os muitos corpos
caídos no chão e corri até uma forma minúscula, encolhida junto a uma
pilastra.
— Cecília! – gritei enquanto corria. – Cecília!!!

▪▪▪
CAPITULO 32
CECÍLIA

Depois de muitos tiros e gritos, fez-se um momento de silêncio, que mesmo


eu um pouco surda, consegui ouvir meu próprio choro.
Durante a invasão, meu instinto de sobrevivência me forçou a me proteger.
Fiz o máximo para me deitar e não ser atingida, mesmo com as mãos atadas
na pilastra.
— Cecília? – escutei a voz que eu tanto queria ouvir, me chamar. – Cecília!!!
Alguns policiais já me cercavam e desamarravam as minhas mãos.
Eu senti o cheiro e a presença dele, antes mesmo que ele me tocasse.
Marlon se ajoelhou ao meu lado, tirando o capuz que cobria a minha cabeça.
Pisquei algumas vezes, não só para acostumar com as fortes luzes, mas
também para ter certeza que ele estava ali, que tudo isso não era mais um
maldito sonho.
— Meu amor... – Marlon falou me abraçando. – Você está bem? Foi ferida?
— Marlon! – eu o apertei o mais forte que consegui. – Eu sabia que você
viria me buscar.
— Cecília? – meu pai me chamou e eu comecei a chorar. – Oh, meu Deus.
Doutor Ivan se abaixou e me abraçou apertado, chorando junto comigo.
— Você está bem, minha filha? – ele passava a mão pelo meu rosto, que
deveria estar sujo depois de dias sem banho.
Apenas balancei a cabeça assentindo, pois não confiava na minha própria
voz.
— Você está segura agora. – meu pai segurou minhas mãos e me colocou de
pé.
Eu cambaleei por estar muito tempo sentada e sem comer, sendo amparada
por Marlon.
Ele me tomou nos braços e me conduziu para fora do galpão, me levando até
uma ambulância que acabava de encostar.
Ivan nos seguia de perto, com os olhos de águia numa expressão abatida
sobre Marlon.
— Me perdoa. – Marlon disse no meu ouvido enquanto aguardava a porta do
veículo ser aberta. – Me perdoa por ter feito você passar por todo esse
pesadelo.
Enfiei o nariz no pescoço dele e inspirei o cheiro delicioso que ele exalava.
Meu Deus, como eu senti falta desse homem!
— Não foi sua culpa. – sussurrei. – Estou feliz que tudo tenha acabado bem.
— Pode deitar a moça aqui. – um bombeiro falou e abriu espaço para Marlon
me colocar na maca.
O bombeiro me prendeu junto a maca, empurrando-a de volta para dentro da
ambulância e começou a prestar os primeiros atendimentos em mim.
Marlon e meu pai ficaram de pé na porta do automóvel enquanto minha
pressão era aferida e um soro era colocado em mim.
— Quem vai com ela? – o bombeiro perguntou.
— Eu! – os dois homens da minha vida falaram ao mesmo tempo.
— Eu sou o pai dela, eu vou. – Ivan falou firme, tomando a frente e se sentou
no banco reservado ao acompanhante.
— Marlon? – chamei, ganhado uma olhada mortal do meu pai.
— Eu vou estar lá. – ele respondeu a pergunta não feita.
Minutos depois a ambulância estava em movimento. Meu pai me olhava com
tristeza, segurando o choro.
— Eles te machucaram? – Ivan perguntou baixinho.
Eu sabia o que ele queria saber. Eu sabia qual era o tipo de machucado que
ele temia que eu tivesse.
— Não. – respondi falando a verdade.
— Não me esconda nada, filha. – ele insistiu, como se ainda duvidasse.
— Eles não me tocaram, pai. – essa parte não bem verdade, mas ele não
precisava saber.
Vi ele fechar os olhos, como numa prece silenciosa.

•••

No hospital, passei por uma bateria de exames. Marlon estava aguardando na


sala de espera, enquanto meu pai me acompanhava.
Depois de andar pra lá e pra cá pelos corredores de cadeira de rodas, fui fazer
uma visitinha a psicóloga plantonista.
A mulher, de cerca de quarenta anos que abriu a porta era bonita. Alta, de
cabelos pretos curtinhos, Elisa Mendes era doutora em psicologia e fez meu
pai perder a fala.
— Cecília Bernardes? – a mulher perguntou depois de alguns minutos
olhando para Ivan.
— Sou eu. – respondi alto e acenei para quebrar a tensão sexual que se
iniciava.
Doutor Ivan e doutora Elisa ainda se encaravam como se pudesse ver a alma
um do outro.
— Posso entrar? – perguntei vendo que ela não abria espaço para meu pai
entrasse com a cadeira de rodas.
— Claro, claro. – Elisa riu sem graça. – Desculpe a minha falta de educação.
Ivan empurrou a cadeira até o meio do consultório e me deixou próximo à um
sofá.
— Eu vou estar aqui fora. – ele falou mais para a psicóloga do que pra mim e
saiu.
A mulher fechou a porta e veio se sentar.
— Você consegue se sentar no sofá, Cecília?
Fiz que sim com a cabeça e me levantei sentindo um pouco de tontura.
O soro havia terminado e eu só estava na cadeira de rodas por culpa do meu
pai, que insistia que eu ainda estava fraca. Depois desse episódio do
consultório, eu tive que concordar com ele. Mas nada que um prato de
comida quentinho feito por Rosa não resolvesse.
— Tudo bem? – Elisa perguntou. – Fiquei sabendo por alto da sua história.
Você quer me contar?
Suspirei.
Queria contar tudo, mas era um turbilhão de coisas e emoções que me
envolviam. E o que eu queria mesmo era ficar agarrada com Marlon, sentir o
cheiro e toque dele.
— Quanto tempo eu tenho? – questionei.
Ela riu, olhando no relógio.
— Eu te garanto uma hora. – ela falou cruzando as pernas. – Mas se eu não
for chamada para nenhum atendimento posso ter conceder mais uma.
Assenti.
— Por onde eu começo? – eu torcia os dedos de ansiedade.
— Comece pelo começo.

•••

Depois de duas horas no consultório de Elisa, meu pai me levou para o


médico que me atendeu quanto eu cheguei para a alta definitiva, já que eu
não tinha nenhum ferimento, apenas uma leve desidratação. O médico
recomendou muito líquido, repouso e que eu me alimentasse bem nos
próximos dias. Que Rosa não o escutasse.
Eu já estava enlouquecendo de vontade de ver Marlon. Quase corri quando o
avistei sentado todo preocupado na sala de espera.
— Marlon? – chamei e ele veio até mim.
— Tudo certo com você? – ele perguntou pegando minha mão, entrelaçando
os dedos nos meus.
— Preciso de um banho. – respondi arrancando um sorriso dele.
— Vamos para casa. – meu pai cortou a conversa. – Cecília precisa
descansar.
— Estacionei o carro bem aqui na frente. – Marlon respondeu soltando minha
mão.
Doutor Ivan me segurou pelo cotovelo como se eu fosse uma garotinha frágil
e me guiou para fora do hospital.
Já no carro, os homens foram na frente e eu me deitei sonolenta no banco de
trás.
— Doutor Marques quer falar com ela. – ouvi Marlon falar com meu pai.
— Assim que ela tiver pronta. – Ivan respondeu.
— Quanto mais rápido Cecília prestar depoimento, mais rápido isso acaba. –
Marlon insistiu.
— Eu sei o que é melhor para minha filha, senhor Torres. – meu pai
respondeu azedo.
— Não estou te dizendo o que fazer, doutor Ivan. – Marlon era calmo. – Só
estou dizendo que o homem ainda está por aí. Assim como sua namorada.
Ouvi meu pai suspirar.
— Amanhã. – ele respondeu. – Amanhã a gente decide isso.

▪▪▪
CAPITULO 33
MARLON

Os dias que se seguiram após o sequestro foram estranhos. O clima da


mansão, mesmo depois do sucesso do resgate de Cecília, ainda estava pesado.
Rosa fazia mais comida que o necessário que eram distribuídas para
seguranças alertas até demais que marcavam em cima de qualquer
movimento mínimo na propriedade.
Doutor Ivan havia tirado a semana de folga para ficar com Cecília, que já
estava enlouquecendo com a constante presença do pai. O homem ainda
olhava torto pra mim, mas não falava nada.
Já Cecília não desgrudava de mim.
Depois das primeiras noites de sono inquieto mesmo com calmantes, a
psicóloga do hospital, que atendia particular também, veio até a mansão e
diagnosticou Cecília com esgotamento emocional. A mulher pediu que
afastássemos Cecília de tudo que pudesse contribuir para estressá-la.
E Cecília, como boa danadinha que era, sabia um jeito delicioso de relaxar.
Exatamente uma semana depois do resgate, depois que doutor Ivan foi
dormir, Cecília apareceu no meu quarto.
Passava um pouco de uma da manhã quando ouvi duas batidas de leve na
porta.
– Marlon? – Ceci sussurrou.
Rolei na cama com o coração acelerado e abri a porta, olhando-a de cima
abaixo.
Cecília estava enrolada num robe de seda preto e me encarava com as
bochechas afogueadas.
— Você está bem? – perguntei preocupado.
Ela não respondeu, apenas passou por mim entrando no quarto.
Não estava preparado para a visão que eu tive quando me virei. Cecília estava
parada perto da cama, com o robe caído ao redor dos pés, completamente
nua.
Todo sangue do meu corpo se acumulou em apenas um lugar. Fiquei um
longo minuto admirando-a.
— Você não me quer? – Ceci perguntou baixinho.
Puxei o ar com força e sorri.
— Você não faz ideia do quanto eu te quero, meu amor. – caminhei até tocá-
la com as pontas dos dedos. – Você não faz ideia.
Beijei-a de leve na boca enquanto corria minhas mãos pelas costas e nádegas
de Cecília, que gemia timidamente.
Afastei o edredom, deitando-a sobre o colchão. Cecília agarrou minha nuca,
aprofundando o beijo e enrolou as pernas no meu quadril.
Minha mão subiu e desceu pela coxa macia várias vezes, até que eu apertei
forte a bunda carnuda e introduzi um dedo na boceta encharcada dela. Cecília
gemeu com o contato.
Passei a língua pelo pescoço, clavícula, parando em um mamilo de Cecília
para chupá-lo. Dei pequenos beijos pela barriga e subi para o outro mamilo
que foi castigado com mordidinhas seguidas de longas chupadas.
Antes de descer para a boceta completamente lisa, dei uma olhada para o
rosto de Cecília. Ela estava entregue, corada e esperava que eu fizesse o meu
trabalho.
—Marlon... – ela choramingou.
— Estou te admirando primeiro, meu amor. – respondi espalmando a mão no
abdômen rijo dela.
— Depois você faz isso. – Ceci se contorceu. – Agora a única coisa que você
tem que fazer, é colocar essa boca maravilhosa em mim e não tirar por nada
nesse mundo.
Eu ri e ela me deu um tapa no braço.
— Agora, senhor Torres. – Cecília falou se apoiando nos cotovelos. – Isso é
uma ordem.
Me debrucei sobre ela e a beijei na barriga, bem próximo ao umbigo. Cecília
enfiou os dedos nos meus cabelos empurrando minha cabeça mais pra baixo.
— Você está fazendo isso errado, senhor Torres. – ela reclamou.
Passei a língua pelo clitóris dela, fazendo-a suspirar.
— A senhorita gosta assim? – perguntei entrando no jogo.
Enfiei minha língua nas dobras rosadas da pequena boceta de Ceci, usando a
mão para deixá-la bem exposta ao meu toque.
— Ou prefere que eu faça assim?
— Marlon! – ela gritou quando eu introduzi dois dedos e chupei o clitóris ao
mesmo tempo.
O prazer de Cecília escorria pelos meus dedos, que se movimentavam com
uma cadência perfeita para que ela atingisse o clímax. Não demorou muito
para eu ser presenteado pelos gritos de prazer dela.
Dentro da calça de moletom, meu pau babava e exigia ser libertado.
Aproveitei que Cecília ainda se encontrava entorpecida de prazer para me
despir. Me estiquei até o criado mudo, peguei uma camisinha e coloquei no
meu pau enlouquecidamente duro.
Me deitei sobre ela, beijando-lhe a boca. Cecília abriu os olhos e sorriu.
Instintivamente, retribui o sorriso.
— Minha. – falei beijando o queixo dela.
— Toda sua. – ela respondeu mordendo meu lábio inferior.
Segurei meu pau, guiando-o para a entrada dela e tinha introduzido apenas a
cabeça quando ela fechou os olhos.
— Olhos em mim. – falei. – Quero te olhar e quero que você me veja
também.
Cecília obedeceu, mas antes não tivesse feito isso. O olhar dela era sensual,
intenso e apaixonado.
Terminei de entrar nela com um gemido quase doloroso. Fiquei parado por
um instante, apenas sentindo-a ao meu redor.
Muitas pessoas falam mal da posição papai e mamãe, que ela é sem graça e
preguiçosa. Mas pra mim é uma das posições de maior intimidade, que te dar
uma conexão absurda com a parceira. Olho no olho. Corações batendo juntos.
A pele mais colada impossível.
Comecei a me movimentar de acordo com a saudade que eu sentia. Forte,
intenso, com uma pitada de dor. Ouvir meu nome ser chamado misturado
com os gemidos manhosos de Cecília me deixava irracional. Ela arranhava
minhas costas me incitando a ir mais rápido e fundo.
Minhas bolas doíam e a vontade de me aliviar me consumia.
— Ceci, eu não vou aguentar mais. – avisei. Em resposta recebi um gemido
rouco. Entendi isso como um “tô quase lá também" e enfiei a mão entre nós
dois, tocando o ponto de prazer dela. Ela ofegou, arregalados os olhos e
puxando meus cabelos.
Intensifiquei as estocadas e fricção entre as pernas dela, fazendo-a se
contorcer e gritar. Agora eu estava livre para me aliviar. E foi o que eu fiz,
puxando o quadril dela de encontro ao meu como se fôssemos nos fundir em
um só.
— Eu te amo. – essas palavras saiu da minha boca sem que meu cérebro
tomasse conhecimento delas.
Eu vi quando uma lágrima solitária escorreu pelo canto do olho dela, indo
parar nos cabelos.

▪▪▪
CAPITULO 34
IVAN

Depois de uma semana em casa, paparicando Ceci voltei ao trabalho. Quer


dizer, voltei ao trabalho presencial, já que vez ou outra eu recebia um e-mail
do Tribunal de Justiça para fazer algum despacho.
Borges dirigia para o prédio onde trabalhava há quase quinze anos, quando
meu celular tocou. Era Marques, o delegado titular da Delegacia
Antissequestro que trabalhava no caso do sequestro de Cecília. Como ainda
estava cedo, pedi para que o meu motorista fizesse um desvio para a
delegacia.
Quando cheguei no prédio de dois andares na região oeste da capital, o
delegado titular da Delegacia Especializada em Repressão a Organizações
Criminosas fazia companhia a doutor Marques.
— Doutor Ivan. – Marques esticou a mão para mim. – Esse é o doutor Jorge
Monteiro, o novo chefe da DEROC.
Estendi a mão e cumprimentei os dois delegados.
Jorge Monteiro havia assumido a chefia da DEROC quando Alonso Villani,
meu amigo de anos, se aposentou e foi curtir a vida na belas praias da
Flórida.
— Doutor Monteiro, é um prazer conhecê-lo. – falei quando me sentei. –
Alguma novidade? – perguntei.
— Pegamos um segundo grupo ligados a Roger. – Monteiro falou. – Tenho
uma lista de nomes para o pedido de prisão preventiva.
— Ótimo. – respondi. – Será um prazer colocar esses filhos da mãe na cadeia.
— Já sobre o próprio Roger eu não tenho informações concretas. – Monteiro
continuou. – Um informante me disse que ele fugiu para Goiás, outro disse
que ele foi para o Paraná. Estamos investigando. Qualquer novidade eu aviso.
— Sim, obrigado. – eu me levantei, pegando a pasta com cópias de alguns
arquivos do caso.
— O cerco está fechando, doutor Ivan. – Marques falou me acompanhando
até a porta. – Nós vamos pegá-lo.
— Deus te ouça, Marques. – respondi, indo para o fórum.

•••

Durante o expediente matutino, foi um entra e saí de policiais civis. Parecia


que todas as operações do estado estava acontecendo ao mesmo tempo.
Mal tive tempo de almoçar e já tive que correr para presidir uma audiência.
Um casal brigava pela guarda da filha. A mãe era uma viciada em drogas, que
entrava e saía da reabilitação. Era uma mulher bonita, de família
relativamente rica, mas era uma daquelas pessoas que não se importavam
com as consequências de seus atos. Já o pai da criança, era um cara simples
que conheceu a mulher em um desses intervalos de abstinência e se
apaixonou perdidamente, até a jovem ter outra recaída e quase matar a bebê
quando teve uma overdose no fim da gravidez.
Durante os sete meses de gestação a mulher ameaçou fazer um aborto,
deixando o pai maluco. Ele teve que lutar contra a família da garota para que
ela levasse a gravidez até o fim.
Faltando dois meses para a bebê nascer, a jovem desapareceu por quatro dias
completos levando o pai ao desespero, sem saber o que havia acontecido.
Depois de muita procura, ele a encontrou desacordada em um lugar
conhecido como a cracolândia de Belo Horizonte. Ele levou a mulher
rapidamente para o hospital e pensou que perderia tanto ela quanto a bebê.
A criança teve que nascer em uma cesariana de emergência enquanto os
médicos tentavam salvar a vida da mãe, que ficou morta por três minutos, até
conseguirem reverter a overdose de heroína.
Quando a bebe completou três meses, ganhou alta do hospital e o pai foi
impedido pela família da garota de levar a criança para casa.
Hoje eu tinha o poder de reverter isso. Usei a semana que eu fiquei em casa
para estudar mais profundamente o caso.
O pai era um homem simples, trabalhador, sem passagem na polícia e
completamente louco de amor pela criança. A família da mãe queria a menina
e argumentava que o pai não teria condições de criar a própria filha, não com
os privilégios de uma família nobre.
Eu julgaria o caso de acordo com as provas apresentadas por ambas as partes.
Se o pai comprovasse que teria condições de criar a menina de forma
humilde, mas digna, eu não poderia separar a filha dele, por mais pressão que
o advogado da mãe fizesse durante a audiência de custódia.
Depois de quase três horas ouvindo todas as partes interessadas, dei meu
veredito: a guarda unilateral da criança ficaria com o pai. Tanto a família
quanto a mãe teria direito apenas a visitação em dias e horários definidos
posteriormente.
Houve choro de alegria e de tristeza, gritos, indignação, apertos de mão em
agradecimento. Aquilo mexeu comigo. Um pai iria ficar com a filha que
desde o princípio ele lutou pela vida.
Me retirei da sala de audiência e fui para a minha sala privada.
Pensei no quanto eu era sortudo por ter Cecília sã e salva em casa. Uma
garota bonita inteligente, estudiosa. Geniosa também, mas isso ela tinha
herdado da falecida mãe.
Peguei o celular e abri em uma foto dela no intercâmbio na Europa, ela estava
linda e sorridente em um restaurante tipicamente italiano. Minha menina
havia crescido. Viajava sozinha, ganhava o próprio dinheiro como influencer
de moda e amava.
Amava. Minha garotinha estava amando. Eu não queria pensar nisso. Não
agora.
Passei pelas outras fotos, até que me deparei com uma de Tatiana de lingerie.
Eu me lembrava que ela havia enviado essa foto bem nas primeiras semanas
do nosso relacionamento, e eu havia recebido bem no meio do expediente.
Isso havia me deixado maluco de desejo. Hoje não me causava nada além de
repulsa.
Tatiana me usou da pior maneira possível. Brincou com meus sentimentos e
pior, mexeu com meu bem mais precioso, minha filha.
Hoje a única maneira que eu queria vê-la era atrás das grades.

▪▪▪
CAPITULO 35
TATIANA

A noite capital paulista continuava maravilhosa. Desde que fugi de Minas


Gerais, há quase dois meses, eu curtia intensamente a vida noturna da cidade.
Jantares em restaurantes caríssimos, roupas de marca, um homem diferente a
cada dia. Eu havia trabalhado duro para conseguir o patrimônio que tinha e
agora era hora de usufruir dele.
A primeira coisa que eu fiz quando cheguei em São Paulo, foi jogar o celular
fora e comprar um novo. Fiz documentos falsos e agora me chamava Camila
Rios. Não queria e nem podia ser encontrada. Não antes de estar com meu
plano de vingança contra Roger totalmente pronto.
Acompanhei toda a operação de resgate de Cecília, a prisão dos homens de
Roger e o idiotas da polícia quebrando a cabeça com uma bela taça de
champanhe e de dentro da banheira de espumas do meu gigantesco quarto de
hotel cinco estrelas na região nobre.
Eu poderia ser chamada para fazer o remake da cena da Carolina Ferraz. Eu
estava no maior estilo: EU SOU RICA!!! E adorava isso.
A presa de hoje a noite era um rapaz de vinte e cinco anos. Um negro lindo
de um metro e oitenta, barriga tanquinho e lábios carnudos. O pecado em
forma de homem.
Era por volta das nove da noite quando ele tocou a campainha. Eu vestia meu
kimono vermelho quando abri a porta.
— Boa noite. – o jovem falou com a voz rouca. – Foi daqui que pediram
champanhe?
Eu estava com minha taça de champanhe no final e ofereci para que ele a
completasse novamente.
Com um sorriso, abri espaço para que ele passasse e tranquei a porta me
escorando nela, observando-o.
Estava faminta. Alegre por contas das duas taças de Moët que já havia
tomado, mas completamente ciente dos meus atos.
Me sentei no sofá de dois lugares que compunha minha cobertura e esperei.
O rapaz trouxe minha taça cheia e me olhou cheio de segundas intenções.
— Posso fazer algo por você? – ele perguntou se ajoelhando entre minhas
pernas e tocando minha coxa.
Faminta.
— Tire a roupa. – ordenei.
Ele sorriu e se levantou fazendo o que eu mandei.
A cada peça de roupa tirada, eu ficava mais excitada. Debaixo do meu
kimono, meu corpo estava em chamas.
Bebi um gole do líquido borbulhante, para em seguida depositar a taça na
mesinha ao lado do sofá.
Soltei o laço da peça de seda e me escorei no sofá deixando meu corpo a
mostra para o rapaz.
Ele sorriu de um jeito sexy e se abaixando entre minha pernas começou a me
lamber feito um gato faminto.
O que eu mais gostava desse tipo de serviço, era que não era necessário falar
uma só palavra, apenas deixar o cara fazer o trabalho. E pagar no final, é
claro.
Ele estava se encaminhando para me dar o segundo orgasmo quando eu
peguei a taça de champanhe da mesinha e derramei por entre meus seios,
sentindo as bolinhas de gás fazer cócegas pela minha barriga até chegar aos
lábios dele na minha boceta.
O olhar selvagem que ele me deu foi o suficiente para que o clímax me
atingisse novamente.
— Vamos para cama, baby? – ele perguntou pegando minha mão e me
arrastando para o que eu saberia no dia seguinte que seria o paraíso.

•••

Quando acordei no outro dia, revivi rapidamente a noite anterior até ser
interrompida por uma mensagem no meu celular.
“Saudades, doçura.”
Me sentei na cama com o coração acelerado. Como Roger havia conseguido
meu novo número?
Outra mensagem:
“Se divertindo muito aí em São Paulo?”
Fui até o frigobar e bebi uma garrafinha de água de uma só vez.
O celular vibrou mais três vezes seguidas até que eu pegasse ele para ler as
mensagens.
“Ele soube te satisfazer direito?”
Que merda era essa?
“Considere como um presente meu para você.”
O quê?!
“Te vejo em uma semana no chalé. Não se atrase. Você sabe meu lema,
doçura. Um acerto, uma recompensa; um erro, uma punição.”
Me sentei atônita na cama. Só saí do transe quando o sol começou a me
esquentar excessivamente. Aí, eu fui dominada pela raiva. Queria quebrar
alguma coisa, de preferência na cabeça de Roger.
Meu plano ter de ser acelerado e eu não poderia falhar, pois minha vida
estava em jogo.

•••

Dois dias antes do combinado, eu embarquei para Minas Gerais. O plano


estava perfeito na minha mente, agora só restava saber se na prática ele seria
assim também.
Peguei um táxi no aeroporto, e no caminho decidi ficar em um hotel ao invés
de ir para o meu apartamento.
Já instalada na suíte presidencial, liguei para a empresa de aluguel de carros e
pedi o melhor da frota que uma hora depois já estava a minha disposição.
Liguei para o meu contato, marcando um encontro para que ele me entregasse
a mercadoria e com isso pude relaxar em um banho quente.

•••

O chalé de Roger ficava na região serrana, a duas horas de Belo Horizonte. O


trânsito até lá era relativamente bom quando você levava em consideração o
horário. Como o dia ainda não havia clareado de todo quando entrei na
rodovia, ele estava ótimo, com poucos carros e uma brisa geladinha.
Quando cheguei na entrada do chalé de Roger passava um pouco das oito da
manhã. Havia apenas um homem do lado de fora fumando um cigarro de
palha quando estacionei o carro no gramado em frente à casa térrea. Esse eu
não conhecia.
Peguei minha bolsa e desci do veículo, entrando no imóvel.
— Doçura! – Roger falou assim que me viu no vestíbulo. – Que saudade!
Ele me deu um beijo de leve nos lábios, me puxando para um abraço.
Aproveitei a deixa para esquadrinhar o lugar. Havia apenas mais um outro
capanga no fundo da sala.
Roger me puxou para o sofá, se sentando de um jeito afetado e perguntou:
— O que tem feito da vida, além de foder com meia cidade de São Paulo?
Aquela pergunta me pegou de surpresa.
— Eu não tenho fodido com meia cidade. – rebati.
Roger deu um sorriso sarcástico e pegou minha mão para dar um beijo.
— Eu sei de tudo, doçura. – ele falou com calma. – De tudo.
Sorri nervosa. Eu já não me sentia segura perto dele. Pensava que a qualquer
momento ele poderia meter uma bala em mim, manter o sorriso no rosto e
foder a próxima vadia.
E por falar em vadia... Enquanto Roger tentava uma aproximação sexual,
uma ninfeta completamente nua surgiu atrás dele.
— Você não vai voltar pra cama, papai? – a garota falou com uma voz
melosa.
Me afastei de Roger com o ódio borbulhando dentro de mim.
— De novo. – foi tudo que eu falei antes de me virar e ir em direção a porta.
Ele riu de maneira cruel e falou:
— O mundo está as avessas mesmo. Puta com ciúme é a primeira vez que eu
vejo.
Engoli seco algumas vezes antes de me virar.
— É isso o que eu sou pra você? – perguntei. – Uma puta com ciúme? Depois
de tudo que eu fiz por você e por essa facção?
A garota havia se sentado no colo dele, que acariciava sem pudor o corpo nu
dela.
— O que você fez além de foder com tudo, sua burra? – ele falou alto. –
Você não passa de uma advogada medíocre que nem pra segurar um homem
frouxo como Ivan presta.
Ódio. Quando as pessoas dizem que estão tomadas por ele e enxergam tudo
em vermelho, é a mais pura verdade.
— Você precisa pagar por sexo. Você não consegue ganhar uma causa. Não
consegue me fazer sentir nada por você. Nem mesmo pena. – Roger lambeu o
ombro da garota que riu envergonhada.
Eu sorri pegando a arma dentro da minha bolsa. Roger não percebeu até eu
atirar no capanga dele que corria em minha direção.
Ele se assustou, levantando e jogando a garota no chão. Ela gritou de medo.
— Tatiana! – Roger bradou contra mim.
Disparei novamente, dessa vez contra a garota, que ficou caída numa posição
estranha enquanto sangrava.
— Não presto para nada? – perguntei com a arma apontada para ele. – Eu
dediquei a minha vida inteira a você, a essa merda de facção. Pra quê? Pra
nada. Você ficou tão obcecado com Ivan que se esqueceu do real propósito
dessa merda toda. Eu era sua menina, seu amor. – falei chorando. – Sua
doçura...
— Você ainda é a única. – ele falou mais por desespero do que verdade.
— Não mais. – respondi.
Ouvi gritos e tiros do lado de fora do chalé.
— O que você está aprontando, Tatiana? – Roger perguntou desconfiado.
Limpei o rosto e balancei a cabeça.
— Nada. Vim aqui com um propósito.
— E qual é, doçura? – Roger tentava se aproximar de mim para tomar a
arma.
— Te mandar para o inferno.
Roger não teve nem tempo de assimilar o que acontecia. Dei três tiros
diretamente no peito dele, que caiu sobre a mesinha de centro num barulho
surdo de algo se partindo.
Ao mesmo tempo a porta da sala era arrombada e vários policiais invadiram o
local. Antes que eles pudessem dizer para que eu abaixasse a arma, eu a
apontei para minha própria cabeça e tudo escureceu.

▪▪▪
CAPITULO 36
CECILIA
Uma bagunça. As últimas semanas poderiam ser resumidas a isso.
Mas da mesma maneira que começou toda a confusão com o chefe da facção
criminosa, Tatiana e afins, tudo terminou.
Meu pai me contou resumidamente tudo o que aconteceu.
Enquanto eu estava sequestrada, Tatiana havia fugido e ninguém sabia do
paradeiro dela. Aí quando estava tudo relativamente bem e todos começam a
seguir a vida, ela reaparece. Mesmo com a polícia monitorando os passos
dela, Tatiana invadiu o chalé do chefão, matou todo mundo e logo em
seguida se matou.
A motivação era desconhecida por mim. Mas também não me interessava.
Tudo o que era necessário saber, era que agora estávamos livres de toda
aquela merda, do medo, de ter que ficar olhando sobre os ombro a todo
momento.
Depois de todo período de apreensão, pudemos relaxar. Meu pai tirou as tão
merecidas férias e me arrastou para a Itália, numa viagem que ele deixou
claro a todo momento que era em família. Ou seja, não tinha espaço para um
certo guarda-costas.
Na noite anterior a minha viagem, Marlon e eu ficamos acordados trocando
juras e fazendo amor. Ele estava super tranquilo em relação a não ida dele
para a Itália e me fez prometer que eu não ficaria enchendo a cabeça de
doutor Ivan com isso.
Antes do dia raiar, eu voltei correndo para meu quarto e fingi que havia
acabado de acordar bem ali. Por questões de minutos, meu pai não me pegou
no pulo.
— Bom dia, meu amor! – Ivan todo efusivo entrou no quarto. – Pronta para
comer um belo cannoli?
Fingi um bocejo e sorri.
— Pronta. – me levantei passando por ele e correndo para o banheiro. –
Preciso de um banho, pai. Te encontro no café da manhã.
Com isso, ele entendeu a deixa e saiu, permitindo que eu fizesse minha
higiene pessoal com privacidade. Eu apenas não queria ir para a mesa do café
com o cheiro do que Marlon e eu fizemos a noite toda.
•••

Como nosso voo era noturno, eu tive o dia todo para finalizar a organização
das minhas coisas nas malas.
Nós íamos passar cerca de vinte dias viajando pela Itália. Vinhos, massas,
paisagens deslumbrantes tudo perfeito para uma viagem de casal. Mas meu
pai insistia para que fossemos apenas nós dois. Até cheguei a sugeri que ele
chamasse Elisa, a minha psicóloga, a quem ele vinha encontrando
esporadicamente, mas doutor Ivan foi irredutível. Ele queria uma viagem em
família. Ok, pai, o senhor venceu.
Duas horas antes do horário previsto para a saída do voo, Marlon parou o
carro no estacionamento do aeroporto. Durante todo trajeto, ele me olhava
pelo retrovisor interno como se quisesse decorar cada traço do meu rosto.
Ivan sentado no banco da frente, não fazia ideia dos olhares do segurança em
mim. Ele estava vidrado demais nas mensagens que apitavam a cada segundo
no seu celular. Eu tinha certeza de que era Elisa.
Durante o curto período do check-in, Marlon ficou próximo à mim, mesmo a
contragosto de Ivan que queria ir rapidamente para a sala vip do aeroporto.
Antes de passar pelo detector de metais, corri para os braços de Marlon.
— Você vai me esperar? – perguntei com a voz embargada.
— Eu te esperei uma vida inteira, meu amor. – ele respondeu tocando meu
rosto. – Vinte dias não são nada.
Sorrimos juntos, enquanto eu enfiava o nariz no pescoço dele e sentia o tão
conhecido cheiro.
— Cecília, vamos. – meu pai chamou.
Antes que Marlon me soltasse, fiquei nas pontas dos pés e o beijei
apaixonadamente.
Passei por Ivan que olhava com a pior cara do mundo para a ceninha que
havíamos feito e me encaminhei para a sala de embarque.
•••

Com a cidade adormecida embaixo de nós, meu pai falou baixinho.


— Quando voltarmos não haverá mais aquele aparato de segurança todo.
O ar ficou preso na minha garganta.
— Nós só continuamos com isso tudo até hoje por puro capricho. – Ivan
abaixou o livro que lia e os óculos. – Os delegados encarregados já deram o
caso como encerrado. E disseram que eu poderia afrouxar a segurança, já que
o maior causador do problema estava morto.
Eu ainda tentava assimilar que quando eu voltasse não teria Marlon dormindo
na casa da piscina.
— Pai... – balancei a cabeça irritada, sentia um pouco de raiva de Ivan
naquele momento.
— Cecília, você sabe que eu quero o melhor pra você. Sempre. – ele segurou
minha mão. – Nesses últimos meses, aliás, nesses últimos anos, eu quase não
tive tempo para você. Quero ser mais presente, viajar com você. Eu estou
ficando velho e você já é uma mulher feita. Daqui a pouco arruma um
namorado, um casamento e deixa esse seu velho aqui de lado.
— Eu nunca vou te deixar de lado. – falei com as lagrimas queimando meus
olhos. – Você está com ciúmes do tempo que eu passo com Marlon...
Tentei falar, mas fui interrompida por um doutor Ivan revoltado.
— Marlon não é o tipo de cara que eu quero pra você.
Pisquei e as lágrimas escorreram pelo meu rosto.
— Eu não quero passar vinte dias num paraíso feito a Itália brigada com
você, pai.
— Nem eu, Ceci. – Ivan limpou meu rosto.
— Marlon foi o cara que eu escolhi pra mim, pai. – minha voz saiu num
sussurro.
Ivan suspirou exasperado.
— Eu quero minha filha só pra mim por vinte dias. É pedir muito?
Sorri.
— Não, não é.
Meu pai sorriu e me deu um longo abraço.
— Pai? – chamei quando ele começou a ler de novo.
— Oi?
— Eu gosto da Elisa. – falei, olhando pela janelinha do avião.
— E? – ele me incitou a continuar.
— Talvez você aprenda a gostar de Marlon também.

▪▪▪

CAPITULO 37
MARLON

Vinte dias sem Cecília. Vinte dias sem ela escapando para o meu quarto no
meio da noite. Vinte dias sem aquele sorriso travesso, sem aqueles olhos
castanhos, sem a menina mulher que eu aprendi a amar.
Ela me ligou, tão logo o avião pousou na Itália, dizendo que era para eu ficar
atento ao meu celular que ela me mandaria um tanto de fotos e mensagens
para me fazer sentir como se eu estivesse lá com ela.
A cada hora do dia, eu recebia uma foto de Cecília com um ponto turístico
italiano ao fundo e uma pequena aula sobre o mesmo. E a noite, quando
doutor Ivan ia dormir, nós nos falávamos por quase uma hora. Não matava de
todo a saudade que eu sentia, mas era melhor que nada.
Durante a primeira semana sem Cecília eu me joguei no trabalho. A equipe
de segurança da mansão estava reduzida por conta da ausência dos dois, e
com isso eu tinha mais liberdade para trabalhar direto na sede da SecMate.
Fechei mais contratos, fiz uma pequena seleção para novos seguranças e
durante um final de semana inteiro fiz um curso de tiro com um atirador foda
da Polícia Civil do Paraná.
Estava malhando mais, trabalhando mais, tudo isso para não ter tempo de
sentir saudade da Ceci. Mas era impossível. A cada segundo eu me pegava
pensando nela e em como uma menina tão jovem havia roubado meu coração
de um jeito irreversível.
Eu ainda continuava “morando” na casa da piscina, só não sabia por quanto
tempo mais, já que doutor Ivan dera a entender que abriria mão da segurança
exagerada que ele vinha mantendo durante os últimos tempos. Rosa,
enquanto enchia meu prato e quebrava minha dieta balanceada, falava que
tudo isso era show de Ivan, que ele não seria doido de partir o coração de
Cecília me mandando embora. Eu queria acreditar nas palavras da
senhorinha, mas as atitudes e olhares de Ivan para mim diziam o contrário.

•••

Numa certa manhã acordei com uma mensagem no meu celular.


“amore mio, sto tornando.”
Meu coração bateu mais forte no peito, e eu corri para o google tradutor para
saber o que estava escrito.
“meu amor, estou voltando.”
Logo abaixo, tinha uma foto do cartão de embarque com data e hora do voo.
Pelas minhas contas Cecília já estava voando há quase duas horas. Levando
em consideração a diferença do fuso horário brasileiro para o italiano era de
quarto horas para mais, ela chegaria em São Paulo quase de madrugada no
horário daqui. E ainda tinha o voo de volta para Belo Horizonte. Pelo o que
eu conhecia de doutor Ivan, eles iam passar a noite em SP e pegariam um voo
no dia seguinte.
Mandei uma mensagem para Ceci apenas para confirmar minhas teorias que
estavam certas. Ela me avisou que assim que chegasse no Brasil e comprasse
as novas passagens, confirmaria a hora exata.

•••

Nunca vi vinte e quatro horas se arrastarem tanto igual essas que anteciparam
a volta de Cecília. Aliás, eu vi sim, aquelas que ela passou sequestrada, mas
disso eu não gosto nem de lembrar.
Quando o avião vindo da Itália pousou em São Paulo, já passava da meia
noite. Ceci me ligou feliz, dizendo que agora respirávamos o mesmo ar e que
não via a hora de poder me abraçar. Eu sabia que ela queria dizer outra coisa,
mas que muito provavelmente o pai dela estava perto.
Ela disse também que por volta das dez da manhã era para eu estar a postos
para buscá-la no aeroporto. Respondi que não havia nada que eu desejasse
mais que isso.
Conversamos por poucos minutos, até que eu escutasse a voz de Ivan dizendo
para ela desligar para fazer o check-in no hotel. Provavelmente, esses dias
distante não mudou em nada o pensamento do promotor sobre mim. O que
seria uma pena, pois o que eu tinha mente, contava com a presença dele.

▪▪▪
CAPITULO 38
CECÍLIA

Apesar de cansada, quase não consegui dormir e fiquei rolando pela cama
pensando que estava a uma hora de distância de Marlon. Eu sentia tanta falta
dele que chegava a doer.
Vi o dia amanhecer na selva de pedras, tomei um banho rápido e desci para
encontrar Ivan para o café da manhã do hotel.
Estava morrendo de saudade de comer pão de queijo, bebendo um café
quentinho. Amava viajar, comer coisas diferentes, mas amava mais ainda
voltar para minha Minas Gerais e poder me entupir de tudo que tiver queijo.
Subimos de volta aos quartos para escovar os dentes e buscar as malas. Fazia
algumas fotos no espelho, quando Ivan bateu a minha porta para dizer que o
carro de aplicativo estava a dois minutos do hotel. Dei uma última conferida
no quarto, para checar se não havia esquecido nada e saí.
O caótico trânsito de São Paulo me deixava ansiosa. Queria chegar logo ao
aeroporto, pegar o voo e voltar para os braços de Marlon.
Meu pai totalmente alheio a ansiedade borbulhante dentro de mim, sorria
feito um garoto apaixonado para o celular. Usei a vantagem de estar de
óculos escuros e dei uma espiadinha na conversa que rolava na tela.
Ivan conversava com a minha psicóloga, Elisa Mendes. Eles vinham se
falando desde quando eu passei a fazer terapia, na semana seguinte ao meu
sequestro. Ela estava levando esse envolvimento de maneira super discreta.
Se eu não prestasse muita atenção nele, nem pressionasse Marlon a descobrir
algumas coisas, eu não falaria que Ivan estava se apaixonando. Na única vez
que Elisa foi na mansão, ela foi como minha psicóloga e parecia que Ivan a
manteria o mais afastada possível de lá.
Deixei a mente divagar nos acontecimentos dos últimos dezoito meses.
Pensei no quanto minha vida havia mudado. Quando saí em intercâmbio para
a Europa, eu era uma menina jovem e mimada. E quando eu voltei, meu
mundo estava de cabeça para baixo e eu não poderia ser mais aquela garota
de um ano atrás, pois ela não existia mais.
Muitas coisas ruins aconteceram nesses últimos tempos. Mas uma coisa
maravilhosa me aconteceu: Marlon. E era com o pensamento nele que eu
embarcava para Minas.

•••

Por conta de uma chuva inesperada, o voo atrasou, me fazendo querer gritar
de raiva. Mandei uma mensagem para Marlon, avisando do imprevisto e fui
até o Starbucks renovar minha dose de cafeína.
Com uma hora e meia de atraso nos embarcamos. Eu ouvia música pelo
celular e editava fotos para o Instagram enquanto Ivan lia um livro enorme
sobre direito.
Mal vi a hora passar. Quando dei por mim, estávamos preparando para
pousar. Guardei meu celular e preparei para desembarcar.
Ficamos quinze minutos para recolher as malas na esteira e colocá-las no
carrinho, até eu poder sair do desembarque doméstico.
Nem em um milhão de vidas eu poderia estar preparada para o que aconteceu.
Antes das portas duplas se abrirem, ele estava de costas. Uma cabeça mais
alta que o resto das pessoas que ali se encontravam, ele esperava.
Minha respiração se acelerou, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar. Eu tinha
certeza que minha bochechas estavam coradas e minhas pupilas dilatadas.
A primeira leva de pessoas saíram apressadas, fazendo o virar.
Aí eu vi. Marlon estava de terno preto bem cortado, cabelos penteados e
segurava um cartaz com meu nome.
Nossos olhos se encontraram e sorrisos automáticos surgiram nos nossos
lábios. De novo.
Tentei não correr por entre as pessoas que ali estavam, mas foi impossível.
Eu não tinha controle sobre o meu corpo. Corri e me joguei nos braços de
Marlon que me segurou com força, beijando meu cabelo.
Ficamos longos minutos apenas nos abraçando. O cheiro tão conhecido de
Marlon me embriagava. O calor do corpo dele me fazia querer ficar assim
para sempre.
— Oi. – ele sussurrou no meu ouvido depois de um tempo.
— Oi. – respondi quase sem fôlego, olhando para o rosto dele.
— Senti sua falta, senhorita Bernardes.
Eu ainda respirava como se tivesse ocorrido uma maratona.
— E eu quase morri de saudades, senhor Torres.
Passei as mãos pelo pescoço dele, puxando-o para um beijo de tirar o fôlego.
Não me importava com nada. Pessoas, local, meu pai.
Eu apenas queria dizer o quanto amava o homem que estava ali por mim.
Não pensava que ele era meu guarda-costas, dezoito anos mais velho que eu
ou que meu pai não era fã da ideia de que eu me relacionasse com ele. Eu só
queria beijá-lo.
— Eu te amo, Marlon. – sussurrei quando nossos lábios se separaram. – Eu te
amo.

▪▪▪
CAPITULO 39
IVAN

As portas automáticas do desembarque mal abriram e Cecília passou por elas


correndo em direção ao guarda-costas que a aguardava com um papel com o
nome dela escrito.
Os outros passageiros desviavam dos dois abraçados, alguns com cara feia,
outros com um discreto sorriso no rosto.
Eu que empurrava o carrinho com as nossas malas, fiquei para trás e pude
observar que minha filha e o senhor Torres tinham uma certa cumplicidade.
Ele beijou o topo da cabeça dela e a apertou contra o próprio peito tendo os
olhos fechados.
Eles trocaram breves palavras e em seguida Cecília se esticou para alcançar
os lábios de Marlon. Aquilo me chocou menos do que eu esperava. Sabia e
sentia que havia alguma coisa ali, mas nunca os dois tinham sido tão
explícitos como agora. Eles se beijavam com paixão recente e saudade de
anos.
Nunca havia visto Cecília ser afetuosa com nenhum garoto, nem mesmo com
o já esquecido Leonardo. Cecília e o garoto do condomínio ao lado, foram o
que os jovens de hoje chamam de ficantes, mas nunca passou disso. Eu
achava minha filha até meio apática quando estava com ele, como se eles não
estivessem na mesma sintonia. Diferente do que eu presenciava ali no saguão
do aeroporto. Nenhum pai, por mais mente aberta que seja, fica feliz em ver
sua menina crescer e começar a namorar. E eu não era um desses pais.
Me aproximei do casal e pigarreei. Cecília e Marlon pararam o beijo, mas ela
não saiu do abraço dele.
— Doutor Ivan. – Marlon falou solenemente, sem se abalar com minha
presença.
— Senhor Torres. – respondi da mesma maneira. – Pronto para nos levar para
casa?
Cecília me avaliou, sem gostar muito do meu tom.
— Sim, senhor. – Marlon respondeu e fez menção de pegar o carrinho, mas
Cecília entrelaçou os dedos nos dedos dele, puxando-o para perto dela.
— Eu vou na frente. – ela anunciou de maneira que não deixava brechas para
que eu discutisse.
Cecília se virou junto com Marlon indo para o estacionamento e me largando
para trás.

•••

Já em casa, Cecília foi direto para cozinha procurar Rosa que finalizava o
almoço especial para sua “menina".
— Rosa!!! – Ceci gritou e se jogou nos braços da velha senhora.
— Meu amor! – Rosa já chorava de emoção. – Que saudade.
Dei um abraço rápido nela e fui atrás de Marlon Torres. Agora teríamos uma
conversa de homem pra homem.
— Senhor Torres. – eu o chamei enquanto ele tirava as malas do carro. – Tem
um minuto?
— Sim, senhor. – ele parou o que estava fazendo, se virando para mim.
— Eu não sou de enrolar, Torres. – comecei. – Você e minha filha. O que foi
aquilo no saguão do aeroporto?
Marlon olhou para baixo com uma sombra de sorriso no rosto.
— Um beijo. – ele respondeu me provocando.
— Quanta maturidade, senhor Torres. – dei um sorriso sarcástico.
— Não tem nenhuma criança aqui, doutor Ivan. – Marlon mudou de postura.
– O senhor sabe o que foi aquilo. Eu amo Cecília.
Aquelas palavras me pegaram de surpresa.
— Você ama minha filha? – repeti debilmente.
— Amo. – ele foi enfático. – E posso afirmar categoricamente que ela me
ama também.
Dei um passo para trás puxando o ar com força.
— Meu Deus do céu.
— O senhor pode não concordar ou aprovar, doutor Ivan, mas eu não
pretendo sair do lado de Cecília nem por um segundo enquanto eu viver.
Olhei para Marlon perplexo.
— Eu amo sua filha e pretendo me casar com ela, tão logo ela aceite.
Meu instinto de pai me dizia que essa era a hora de jogar meu punho no rosto
do segurança e descontar toda a raiva acumulada. Mas eu tinha por mim que
lá no fundo, Cecília não gostaria que eu deformasse o belo rosto de Marlon.
— Casamento? – perguntei incrédulo. – Você não acha que está indo rápido
demais, não? Minha filha acabou de fazer vinte anos e ainda tem muito pra
viver antes de se amarrar a uma coisa tão definitiva quanto um casamento.
Marlon mudou o peso do corpo de uma perna para outra e sorriu.
— Doutor Ivan, com todo respeito, mas eu já vivi tempo demais sozinho pra
saber o que é uma paixonite e o que é amor. E o que eu sinto por Cecília é de
longe a coisa mais intensa e pura que já senti em toda minha vida. E sobre ela
ter acabado de fazer vinte anos, a idade é apenas um número. Já conheci
mulheres com o dobro da idade de Cecília que não tem a metade da
maturidade e da força que ela tem.
Marlon puxou o ar com força e eu vi os olhos dele marejados.
— Eu sei que o senhor não gosta muito de mim, mas eu amo sua filha. E se
eu tiver que lutar contra o mundo para ficar com ela, eu vou lutar. Cecília é a
mulher que eu amo. – Marlon estendeu a mão para mim. – Eu não estou
pedindo sua bênção, doutor Ivan, só peço que você não faça nada para
prejudicar meu relacionamento com ela.
Eu absorvia cada palavra que Marlon dizia. Cada emoção que passava pelo
rosto dele era genuína, cada vez que ele falava de Cecília os olhos brilhavam.
E a coisa que me deixou mais chocado, era que a cena se repetia quase vinte e
cinco anos depois.
Quando pedi Lilian, a mãe de Cecília, em casamento, eu passei pelas mesmas
desconfianças do meu sogro. Ele não gostava de mim porque eu era um cara
que havia acabado de se formar na faculdade de direito, sem emprego, com
uma dívida enorme e que não tinha nem onde cair morto. E a filha dele era
uma das garotas mais bonitas da faculdade e além de rica, falava várias
línguas e era bem relacionada.
Uma das coisas que mais me marcou foi quando ele me chamou no escritório
perguntou o que eu teria para oferecer para a filha dele. E eu respondi a
verdade, que eu não tinha bens materiais ou luxo. Eu tinha apenas o amor que
eu sentia por ela, mas se ele me arrumasse um emprego, eu trabalharia
incansavelmente para dar a ela o mundo. O coronel, como meu sogro era
conhecido, me mandou sentar, abriu uma garrafa de uísque e serviu dois
copos.
— Meu filho. – o coronel falou para um jovem Ivan. – De todos os rapazes
que vieram até mim pedir a mão da minha filha em casamento, você foi o
único que me disse a verdade. Os outros chegaram aqui e só falaram das
minhas posses e de tudo que ela vai herdar. – ele bebeu um grande gole do
uísque. – Mas você foi o único que falou que a ama. O único que foi sincero e
disse que não pode oferecer nada a ela, mas que trabalharia para dar a ela o
mundo. Eu não quero um vagabundo casado com minha preciosidade, eu
quero um homem íntegro, de valor, que não se importa em trabalhar.
E naquele momento, eu saí do escritório do coronel com um emprego e a
bênção dele para que eu me casasse com Lilian. Foi um casamento feliz.
Obviamente eu não tinha condições de bancar a vida anterior dela, mas o
coronel nunca nos deixou desamparados. Antes que completássemos três
anos de casados, eu havia passado no meu primeiro concurso público e passei
a ganhar uma grana boa. Quando Lilian ficou grávida, dois anos depois, eu
estava no meu primeiro ano como promotor de justiça. O coronel estava
doente e lutou pela vida durante o nove meses da gestação de Cecília, que
viria a ser a única neta dele. Quando Lilian morreu no parto de Cecília foi um
baque para todos. Mas foi pior para o coronel que não teve mais forças para
lutar contra a doença e se entregou.
Éramos uma família em um dia, no outro era apenas eu e um pacotinho
chorão, que Lilian havia chamado antes mesmo de saber o sexo, de Cecília.
Rosa, que desde dessa época já trabalhava na casa do coronel, veio me ajudar
a cuidar de Cecília. E o resto já é conhecido.
Marlon ainda me olhava como se esperasse uma resposta, mas eu estava
distante demais para saber o que dizer. Apenas estendi meu braço e apertei a
mão dele.
— Cuida da minha Cecília. – falei depois de um tempo.
— Vou cuidar. – ele respondeu.
— Eu já ouvi isso antes. – retorqui.
Marlon me olhou com culpa e falou:
— Eu nunca vou me perdoar por aquilo, doutor Ivan. Nunca.
Assenti. Não era hora de dizer ao homem a quem eu estava entregando minha
filha que não era bom ficar remoendo o passado.
Me virei para sair, mas Marlon me interrompeu.
— Doutor Ivan, eu peço que o senhor não comente nada sobre o casamento.
Levantei uma sobrancelha para ele.
— Então, ela ainda não sabe?
— Não, senhor. – ele olhou para o chão encabulado. – Eu ainda vou preparar
o pedido.
— Não a decepcione, senhor Torres.
Dito isso, me virei entrando de volta na mansão.

•••

Durante toda a tarde, Cecília, Marlon e Rosa desfizeram as malas e falaram


sobre a viagem. Eu fiquei no meu quarto ouvindo a conversa e já iniciando a
volta ao trabalho. Trabalhei por horas a fio até minha visão começar a ficar
embaçada. Me levantei, alonguei as costas e fui desfazer as minhas malas.
Dentro de uma delas, havia um presente que eu havia comprado pensando em
Elisa. Era uma gargantilha com um pingente de safira em formato de gota que
ficaria lindo naquele pescoço delgado.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Elisa, perguntando se ela
gostaria de jantar comigo. Não demorou muito ela respondeu dizendo que
adoraria e perguntou o que deveria vestir. Nessa hora a conversa com Marlon
misturada com a conversa de anos atrás com o coronel passaram pela minha
cabeça. Eu sabia que deveria dar outra chance ao meu coração.
Perguntei a Elisa se ela estava pronta para ser apresentada como minha
namorada. Em seguida meu celular começou a tocar.
— Você está maluco, Ivan? – ela perguntou antes mesmo do alô.
— Você está me enrolando a meses, Elisa. – falei com calma. – Eu sei que
não quero passar o resto da minha vida sem você.
Ouvi ela dar um sorriso do outro lado da linha.
— E o que fez pensar nisso?
— É segredo por enquanto. – respondi em tom conspiratório. – Vem jantar
aqui que depois eu te explico.
— Ok. – ela suspirou.
— Eu te trouxe um presente.
— Outro?
— Como assim outro? – perguntei sem entender.
— É, outro. – Elisa riu. – Além de você.
Eu não estava apaixonado sozinho. Disso eu tinha certeza.

▪▪▪
CAPITULO 40
MARLON

Durante uma semana eu aperfeiçoei o plano que tinha surgido na minha


mente durante a viagem de Cecília para a Itália. Eu queria um pedido de
casamento a altura dela. Queria algo romântico, mas fácil e rápido de fazer.
Havia recrutado Ivan, Rosa e até Elisa para os retoques finais da surpresa
enquanto eu buscava Cecília no novo emprego dela.
Cecília tinha conseguido uma vaga de assistente de editor de moda em uma
famosa revista de Minas Gerais e estava super feliz. E eu não podia estar
mais contente.
Eu havia comprado centenas de pétalas de rosas vermelhas para espalhar pela
sala da mansão da entrada até os pés da escada onde eu me ajoelharia e
pediria a ela para ser minha esposa.
Rosa havia se encarregado de fazer um jantar especial e a sobremesa. Risoto
de camarão e torta de chocolate com morango. O vinho branco já estava
gelando. E o anel dentro da caixinha de veludo pesava cinco quilos guardado
no bolso dentro do meu paletó.
Quando parei o carro na porta do prédio da editora, eu suava frio. Tirei a
caixinha do bolso e olhei para o solitário que reluzia no sol do fim da tarde.
Quando fui ao shopping para procurar um anel de noivado para Ceci, não
pensei em nenhum momento no preço da joia. Eu sabia que o anel certo me
saltaria aos olhos e eu não pensaria duas vezes em trazê-lo para casa,
independente do valor.
Guardei a caixinha de volta no bolso minutos antes de Cecília sair pela porta
sorrindo em direção ao carro. Desci do veículo, indo até o lado do carona
para recepcioná-la e abrir a porta.
— Oi, meu amor. – disse beijando-lhe os lábios.
— Oi... – Ceci respondeu sorridente. – Senti sua falta.
Apertei Cecília nos meus braços e falei:
— Eu também. Como foi seu dia?
— Foi bom. Ainda tô meio crua, mas já já pego o ritmo.
Eu quase não conseguia disfarçar minha ansiedade, a ponto que Cecília não
fazia ideia do que se passava.
— Vamos? – perguntei, abrindo a porta para ela.
Dirigi em direção a mansão mais escutando Cecília do que falando. O que era
bom, pois a qualquer momento eu poderia falar algo que não devia.
Ivan e Rosa deixariam a casa para nós dois essa noite. O promotor, que agora
estava assumidamente com Elisa, iria passar a noite com ela. Já Rosa, eu
havia dado um presentinho a ela. A senhorinha ficaria em um hotel com tudo
que ela tinha direito.
Estacionei na entrada da casa e desci para abrir a porta para Cecília. Eu tirei a
gravata e a guardei no bolso da calça. Torcia para estar tudo perfeito.
Peguei a mão de Ceci e a conduzi para dentro da mansão. Antes de abrir a
porta da casa, dei uma última olhada para ela.
— Que suspense é esse? – ela perguntou.
Eu sorri e disse:
— Eu te amo.
Cecília ficou na ponta dos pés e me beijou.
Abri a porta e ouvi Cecília exclamar e apertar minha mão.
— Marlon!
Caminhamos para dentro do imóvel no caminho de pétalas de rosas
vermelhas. O ambiente estava iluminado com pequenas velas e cheirava
baunilha.
— Que lindo! – Ceci falou.
Ela estava tão admirada com a decoração que não percebeu quando eu me
ajoelhei e tirei a caixinha de veludo do bolso.
Esse momento ficaria guardado para sempre na minha memória. Cecília com
os olhos arregalados de surpresa, com as mãos cobrindo a boca.
— Cecília Bernardes, você me daria a honra de te ter como esposa? –
perguntei abrindo a caixinha, tirando o solitário de dentro e segurando a mão
dela.
— Marlon... – ela sussurrou.
Comecei a colocar o anel no dedo dela e parei na metade.
— Isso é um sim?
— Sim! Sim! Mil vezes sim! – ela respondeu pulando no meu pescoço.

▪▪▪
CAPITULO 41
CECILIA

Marlon estava esquisito. Falando pouco, meio nervoso, concentrado demais


no trânsito. Alguma coisa estava acontecendo. Mas aproveitei que ele estava
me deixando falar sem filtro e contei todo meu dia enquanto íamos para casa.
Quando chegamos na mansão, ele desceu do carro abrindo a porta para mim e
segurando minha mão.
— Que suspense é esse? – perguntei começando a ficar irritada.
Ele sorriu pra mim e disse:
— Eu te amo.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei apaixonadamente. Nos soltamos e ele abriu
a porta.
E o que eu vi lá dentro me fez perder o fôlego.
— Marlon! – gritei quando consegui falar novamente.
Ele havia enfeitado todo caminho desde a porta fazendo uma trilha de pétalas
de rosas e velas até o pé da escada.
Meu coração acelerou enquanto caminhávamos pelas rosas. O ar estava
perfumado com baunilha, um dos meus cheiros favoritos, depois do cheiro de
Marlon, é claro.
Eu ainda estava olhando para a decoração completamente apaixonada,
quando Marlon se ajoelhou na minha frente. Todo ar escapou dos meus
pulmões e eu levei as mãos a boca para impedir um giro de sair dos meus
lábios.
Cecília Bernardes, você me daria a honra de te ter como esposa? – Marlon
perguntou abrindo a caixinha, tirando um anel com uma pedra linda que
reluzia a luz das velas.
— Marlon... – sussurrei.
Ele começou a colocar o anel no meu dedo e parou na metade esperando
minha resposta.
— Isso é um sim? – Marlon perguntou com os olhos brilhando.
— Sim! Sim! Mil vezes sim! – respondi pulando pescoço dele, quase o
fazendo cair para trás.
Dei um beijão em Marlon que me segurava apertado pela cintura. Minha
lágrimas se misturavam ao beijo dando o tempero.
— Eu te amo... – sussurrei com a testa colada na dele. – Eu te amo...
Marlon beijou minha testa e a ponta do meu nariz.
— Eu te amo mais, minha Cecília.
Sorrimos um para o outro e Marlon começou a me puxar para a sala de jantar.
— Aonde a gente tá indo? – perguntei sem entender.
— Rosa fez uma comida especial para a gente. – ele falou com calma. – Tem
até sobremesa.
Eu ri e puxei o braço dele, obrigando a parar.
— Eu não quero jantar agora. – colei meu corpo no dele, me insinuando. – Eu
quero ir lá pra cima e fazer amor.
Marlon sorriu me beijando e respondeu:
— Seu desejo é uma ordem, senhorita Bernardes.
— E pode ter certeza que eu vou continuar mandando em você quando eu for
a senhora Torres. – falei tendo uma ideia.
Marlon viu que alguma coisa havia mudado em meu olhar e quis logo saber o
que era.
— Estamos sozinhos? – perguntei.
— Completamente. Temos a casa só pra nós dois até amanhã cedo. – ele
sorriu com malícia.
— O que você fez...? – comecei a perguntar, mas desisti em seguida vendo a
cara que ele fez. – Já que temos a casa única e exclusivamente para gente,
que tal explorar novos cômodos?
— E por onde você gostaria de começar? – ele perguntou entrando na ideia.
Olhei ao redor. Tinha o sofá, a mesa de jantar, a mesa do escritório, as
escadas...
Marlon acompanhou meu olhar que se dirigia para os degraus de mármore
branco e sorriu.
Rapidamente nos livramos das roupas e nos agarramos. Eu com as pernas
enroladas na cintura dele e ele nos guiando até a escada. Marlon me deitou
nos degraus, me cobrindo de beijos por toda parte. Beijou meus lábios, meu
queixo, desci para o pescoço, seios... Parou no umbigo e deu mordidinhas por
toda região. Antes que começasse a me chupar lá embaixo, ele parou, me
encarando e falou:
— Eu te amo.
Ofegante, eu sorri e toquei o rosto dele. Eu amava aquele homem com todas
minhas forças. Uma lágrima aparecida escorreu pela minha face.
— Eu te amo, Marlon. Sempre e pra sempre. – dito isso, eu guiei a cabeça
dele para o meio das minha pernas.
Marlon me lambia com gosto. Passava a língua pela minha fenda de cima a
baixo, parando apenas para chupar meu clitóris inchado. Não demorou muito
para eu ser presenteada por uma dorzinha gostosa no ventre. Eu sabia que
estava quase lá. E Marlon também sabia, pois ele intensificava o ritmo da
chupada. Meio segundo depois eu gritei, puxando os cabelos dele.
Eu ainda me recuperava dos tremores que me consumia quando fui invadida
pelo grosso membro de Marlon. Gememos em sincronia. Ele estocava
ritmadamente, entrando e saindo com vontade, arrancando gritinhos de mim
cada vez que eu o sentia por inteiro.
Em nenhum momento os olhos de Marlon deixaram os meus. Cada estocada,
eu podia ver no rosto dele que era dolorosamente prazerosa. Ele segurava
com força minhas coxas em volta de sua cintura, me fazendo ficar apoiada
apenas nos meus cotovelos.
Não era uma posição muito confortável para mim, mas não eu não me
importava, só pensava em gozar e fazer Marlon gozar também.
E o orgasmo veio voraz. Me arrebatou, me fazendo ir ao paraíso e voltar. Já
Marlon gemeu alto e de maneira rouca, desabando em cima de mim quando
tudo terminou.
Nos arrastamos até o chão coberto de pétalas e curtimos a letargia pós sexo
ali.
— Quero me casar logo. – falei quando meus batimentos cardíacos se
estabilizaram.
— Por mim, casaríamos amanhã. – ele respondeu de olhos fechados.
— Só não caso amanhã porque não tenho um vestido de noiva.
Nós rimos e eu ouvi a barriga dele roncar. Isso nos fez rir mais ainda.
— Vamos lá em cima buscar um roupão. – falei me levantando
preguiçosamente.
Fiquei de pé e com Marlon ainda deitado, admirei a beleza dele. O homem
era grande em todas as formas possíveis. Músculos fortes, uma cor bonita,
pelos nos lugares certos e um belo pau, até mesmo em descanso.
Eu havia tirado a sorte grande e sabia disso. Não era todo dia que um
exemplar de homem desses dava sopa por aí.
— Levanta, preguiçoso. – falei cutucando a perna dele com meu pé. – Tenho
uma coisinha pra você lá no meu quarto.
Quando falei isso, os olhos de Marlon se abriram e o olhar ficou feroz.
Ele sabia o que tinha pra ele lá. Era a mesma coisa que eu daria a ele todos os
dias pelo resto das nossas vidas.

▪▪▪
CAPITULO 42
CECILIA

Um mês e meio depois...

— Você está maravilhosa, Ceci! – Elisa falou ajeitando o véu que caía pelas
minhas costas.
Depois que meu pai e ela assumiram o romance, eles não se desgrudavam
mais. Doutor Ivan estava radiante e eu já tinha relaxado em relação aos
temores do último namoro dele. Elisa era completamente diferente da já
esquecida e falecida Tatiana. Graças ao bom Deus!
— Ah, minha menina! – Rosa era só chorar, me fazendo ficar mais emotiva
ainda. – Você está uma princesa.
Alisei pela milésima vez a frente do meu vestido e suspirei. Estava nervosa
ao extremo, desde que me enfiaram dentro da peça de seda, eu estava parada
em frente ao espelho procurando algum defeito no modelo feito única e
exclusivamente para mim.
— Marlon já chegou? – perguntei. – Não consigo ver muita coisa daqui. –
falei esticando o pescoço para a grande janela da casa de campo em que
aconteceria a cerimônia.
— Ele está no outro quarto. – Elisa respondeu servido uma segunda taça de
champanhe para a gente. – Respira fundo e bebe um pouco.
Tomei um golinho do líquido borbulhante e pedi a ela que pegasse meu
celular para que eu pudesse fazer uma selfie.
Fiz várias fotos sozinhas e algumas com Elisa e Rosa, depois deixei o
aparelho de lado para me concentrar na minha respiração como minha
madrasta pedia.
Elas saíram, me deixando sozinha e só então pude ver o quanto eu estava
diferente e bonita ao espelho. Já não era mais uma menina, mas sim uma
mulher crescida dona do próprio destino.
Fui me acalmando, pensando que dali a pouco mais de uma hora eu seria uma
mulher casada. Eu teria um marido que me amava, uma casa para cuidar e
possíveis filhos para amar e educar.
Meu celular vibrou em cima da mesinha e me trouxe de volta ao presente. Era
Marlon.
“Pronta para ser a senhora Torres?”
Eu ri olhando a mensagem.
“Tô mais ansiosa para a lua de mel.”
Meio segundo depois ele respondeu.
“Eu posso atrasar a cerimônia e te dar uma provinha do que estar por vir.”
Suspirei alto. Bem que eu queria, mas seria muito trabalhoso com todos
aqueles panos do vestido e do véu.
Parei um minuto e pensei: como eu havia me tornado essa pessoa safada? A
reposta era simples: Marlon.
“Não me atiça, senhor Torres. Estou quase cogitando a possibilidade de te
vendar e abusar de você.”
“Infelizmente o casamento vai atrasar, por motivos de pau duro do noivo.”
Gargalhei e no mesmo instante meu pai deu duas batidas de leve na porta,
abrindo-a um pouco, colocou o rosto na abertura.
— Ceci? Já está pronta?
Rapidamente mandei mensagem para Marlon que meu pai havia chegado e
que eu o veria dali a pouco no altar.
— Oi, pai. – eu ainda estava na mesma posição de quase uma hora atrás,
quando me colocaram de pé e começaram a me vesti.
Ivan estacou e levou as mãos ao rosto cobrindo a metade dele.
— Meu amor... – ele sussurrou. – Você está linda.
Quando ele se aproximou, eu pude ver os olhos de marejados. Um bolo se
formou na minha garganta e eu tentei não deixar a represa abrir.
— Ah, pai...
Ivan fez menção de me abraçar, mas parou no caminho com medo de amassar
meu vestido. Vendo a hesitação dele, eu tomei a frente e o abracei.
— Ceci... – ele começou a falar, mas a voz ficou presa a garganta.
Ficamos abraçados em silêncio até meu pai se recuperar.
— Filha, eu queria tanto que sua mãe estivesse aqui para ver você nesse
momento. – ele fungou. – Mas eu tenho certeza que de onde ela e seu avô
estiverem, eles estarão felizes e muito orgulhosos de você. Da mulher que
você se tornou, da pessoa gentil e educada que você é. O mesmo orgulho que
eu estou sentindo agora. Você vai construir sua própria família, ter sua
própria casa. Ter filhos... – ele sorriu de leve, mas congelou em seguida. –
Caramba, eu vou ser avô!
Rimos juntos, com lágrimas escapando pelos olhos.
— Eu tenho uma coisa para você. – meu pai falou sério. – Era da sua mãe.
Aliás, era da sua avó. O coronel deu a ela como presente de casamento. E
quando sua mãe se casou comigo, seu avô passou para ela, da mesma maneira
que eu estou fazendo com você.
Ivan abriu uma caixinha de veludo com uma pulseira de platina com
pequenas pedrinhas de safira incrustados.
Era linda! Eu quase fiquei sem ar de tanta emoção. Ivan vendo que eu não
tinha condições de pegá-la, a retirou da caixinha e a colocou em meu pulso.
Estiquei o braço para admirá-la e parecia que ela havia sido feita
especialmente para mim. Olhei meu reflexo no espelho e vi que combinava
perfeitamente com o vestido. E mesmo se não combinasse, eu usaria assim
mesmo.
Virei para Ivan que ainda estava emocionado e sorri.
— Obrigada, pai.
Ele fez um gesto como se isso não fosse nada e pegou minha mão.
— Uma coisa azul, uma coisa antiga e uma coisa emprestada. – ele falou e eu
fiquei sem entender.
— Emprestada?
— A pulseira está com você por empréstimo, por assim dizer. – ele sorriu. –
Espero que você possa passar para sua filha no futuro. Uma joia de família.
Quando ouvi isso, meus olhos abriram as torneirinhas.
— Ah, Doutor Ivan. – falei. – Se continuar me emocionando assim, não vou
ter lágrimas para chorar no casamento em si.
Ele olhou as horas no relógio de pulso e disse:
— Um casamento o qual estamos atrasados.
Arregalei os olhos assustada e andei até a janela. Todos os convidados já
estavam em seu lugares, sentados em cadeiras de madeira simples. Marlon
estava lindo num terno azul com gravata vermelha. Mathias tirava alguma
poeira dos ombros de seu amigo que era invisível para mim.
— Vamos? – meu pai me chamou.
Respirei fundo.
— Vamos.

•••

Descemos as escadas com meu pai me segurando firme pelo braço. Passamos
pela sala e varanda, até chegar na entrada do caminho que iríamos percorrer
até Ivan me entrar para Marlon. Já havíamos ensaiado isso algumas vezes,
mas quando é pra valer, tudo é diferente.
Quando apareci no começo do gramado, a música começou a tocar. Eu havia
escolhido uma das minhas músicas favoritas, só que tocada por violinos. A
música era You Are So Beautiful de Joe Cocker.
Caminhei por todo percurso com os olhos cravados em Marlon. Mal notava
meu pai me fazendo diminuir a velocidade dos passos ou as pessoas de pé me
observando. Só tinha olhos para meu futuro marido.
Quando meu pai entregou, literalmente, a minha mão a Marlon, eu sentia
dores nas bochechas de tanto sorrir.
— Você está linda... – Marlon sussurrou no meu ouvido, antes que a
cerimônia se iniciasse.
Eu só sabia sorrir. Parecia uma idiota. Mas uma idiota se casando com o
homem que amava.
A cerimônia passou num piscar de olhos. Eu estava num estado de euforia
extremo que não me permitia marcar em tempo o que acontecia. Marlon e eu
disputávamos quem chorava mais.
Quando o celebrante falou que o noivo podia beijar a noiva foi que minha
ficha caiu. Eu era a senhora Torres. Marlon me beijou apaixonadamente,
arrancando aplausos e assobios dos convidados.
— Oi, esposa. – ele sussurrou nos meus lábios.
— Oi, marido. – sussurrei de volta.
— Oficialmente, senhora Torres. – Marlon falou enquanto caminhávamos de
volta com as pessoas jogando arroz na gente.
— Só é oficial quando se consuma o casamento. – dei um sorriso travesso.

•••

Fomos direto para a pista de dança fazer a tradicional valsa dos noivos.
Foram os cinco minutos mais longos da minha vida. Por mais que Marlon me
ensinasse como valsar, eu não conseguia aprender. Era da minha natureza não
saber dançar e eu estava contente com isso. Então, durante a música, tentei ao
máximo não pisar nos pés dele.
Quando acabou o momento da minha pequena humilhação, eu subi para tirar
meu vestido de noiva, colocar um mais curtinho e aproveitar a festa em si.
As pessoas dançavam, comiam e bebiam, se divertindo horrores. E eu só
pensava em ficar a sós com meu marido.
Marlon me puxou para outra dança, que consistia em me movimentar pra lá e
pra cá.
— Vamos fugir para uma rapidinha, senhora Torres? – ele perguntou.
— Leu meus pensamentos, senhor Torres. – respondi fingindo que
conversávamos coisas triviais.
Passamos por entre os convidados, subimos as escadas e nos enfiamos no
quarto onde Marlon havia se arrumado.
Nossa lua de mel começaria bem ali, no tapete de pele de vaca fake.

▪▪▪

CAPITULO 43
MARLON

Pegamos o avião em direção a nossa tão esperada lua de mel. Seria uma
viagem internacional, até então, inédita para mim. Iríamos passar uma
semana em Aspen no Colorado. Neve, vinho, sexo em frente à lareira...
Cecília me atiçava durante o voo com promessas safadas.
Viajamos de primeira classe e ficaríamos no melhor hotel em Snowmass
Village, tudo por conta de doutor Ivan, como um belo e caro presente de
casamento.
Quando o avião pousou no Colorado, senti meus ossos gelarem. Fazia um
frio do caramba, e olha que ainda nem estávamos nas montanhas
propriamente ditas.
Um carro de luxo nos buscou no aeroporto de Denver e nos levou até nosso
hotel numa viagem de quase quatro horas por paisagens de tirar o fôlego.
Cecília ia fotografando tudo. Árvores, montanhas, neve, ela, eu... Ainda
estávamos na primeira parte da viagem e ela já se divertia como eu nunca
tinha visto antes. Depois de Aspen, nós dois passaríamos mais quinze dias em
Nova York.
Depois de muito tempo na estrada, chegamos no vilarejo. Havia lojas de luxo,
restaurantes caros e hotéis bonitos tudo aos pés das montanhas nevadas.
Nosso hotel era o mais chique do lugar. Cinco andares todos de vidro com
quartos luxuosos com hidromassagem, lareira a gás e uma mini cozinha
composta por uma geladeira um pouco maior que um frigobar, microondas,
uma pia e uma bancada para café da manhã.
Nosso quarto ficava no quarto andar e a janela lateral dava para as
montanhas. Uma vista incrível. Quando abrimos a porta, tivéssemos uma
surpresa. O hotel havia preparado o quarto para gente com flores, chocolate,
vinho e um cartãozinho de boas-vindas aos recém-casados. Ceci se derreteu
com o carinho deles. Mas eu acreditava que tinha um dedo (e uma bela
gorjeta) de Ivan nessa história.
— Ai Marlon, que perfeito! – Cecília falou indo até a janela. – É tudo tão
lindo!
Fui atrás dela e a abracei, beijando-a nos cabelos.
— Tudo fica mais bonito quando você está por perto, meu amor.
Ceci se virou, sorrindo e passou os braços pelo meu pescoço.
— O frio te faz ficar romântico, senhor Torres?
— Você me faz ser romântico, senhora Torres.
Nos beijamos apaixonadamente, até sermos interrompidos pela minha barriga
roncando de fome.
— Vamos procurar um restaurante e saciar sua fome. – Ceci falou de um jeito
travesso.
Entendi o que ela queria dizer.
— E quando voltarmos quero recriar uma cena de filme, fazendo amor em
frente a lareira. – ela completou.
— Realizarei qualquer desejo seu. – falei beijando de leve os lábios da
mulher da minha vida.

•••

O frio das ruas até gostoso de se sentir, mas era bem melhor quando
entrávamos em qualquer estabelecimento e a calefação nos aquecia.
Nos almoçamos em um luxuoso restaurante, onde, segundo Ceci, as
Kardashians já haviam frequentado. Já tinha ouvido falar na família, mas não
fazia ideia de quem era quem e o que elas faziam.
Depois do almoço, caminhamos um pouco pelo vilarejo para ver mais do
belíssimo lugar, fizemos mais algumas fotos e voltamos para o hotel.
De volta ao quarto aquecido, fui tomar um banho enquanto Ceci mandava um
email para o pai falando que chegamos bem. Já estava no terminando de me
enxaguar quando Cecília invadiu o box.
— Precisa de ajuda? – ela falou passando os braços pela minha cintura e
entrando na água quente.
— Uma mãozinha é sempre bem vinda. – falei em duplo sentido.
Começamos a dar um amasso no chuveiro que foi interrompido por uma
batida na porta. Contrariado, me sequei rapidamente, vesti um roupão felpudo
e fui atender.
Entre o pedido de casamento e o dia da viagem em si, Cecília intensificou as
aulas de inglês comigo. Eu sabia o básico da língua, mas estava bem
enferrujado.
Quando abri a porta era o gerente do hotel com mais uma surpresa. Nós
havíamos ganhado um jantar em um restaurante fora do vilarejo e um carro
alugado iria nos pegar as oito da noite. Agradeci e fui falar com Ceci. Ela já
tinha saído do banho e estava secando os cabelos.
No notebook, um email de doutor Ivan piscava na tela. Chamei Cecília para
ler e quando ela se aproximou, eu cliquei para abrir a página.
“Filha, espero que vocês dois estejam se divertindo.
Você já deve ter recebido a cortesia para um jantar em Aspen. É em um
restaurante simples, ou era pelo que eu me lembro, mas tem muito
significado para mim.
Foi nesse restaurante em que sua mãe e eu jantamos quando viajamos em lua
de mel. E foi aí em que tirei uma das fotos mais bonitas dela. Aquela que
você tem uma cópia no quadro em seu quarto.
Espero que você e Marlon construam memórias eternas como eu construí
com sua mãe.
Te amo.
Ivan Bernardes. “
Ouvi Cecília fungar e me abraçar. Foi dela a ideia de viajarmos para o
Colorado, mas eu sabia que lá no fundo tinha alguma coisa a ver com estar
perto da mãe dela de alguma forma.
— Doutor Ivan sabe como mexer com meus sentimentos. – Ceci falou se
sentando no meu colo.
— Ele te ama. – beijei o nariz dela. – Assim como eu.
— E eu amo vocês dois. – ela me beijou os lábios.

•••

Seja lá quem foi que inventou a máxima de que no frio as pessoas se vestem
melhor, essa pessoa mentiu. Como se pode estar elegante com duas calças,
duas meias dentro de uma bota de couro, touca, uma camisa, duas blusas de
frio e um sobretudo puffer? E ainda por cima se eu tivesse, por alguma razão,
que correr, mal conseguiria.
Ceci por outro lado estava linda. Diferente de mim que estava todo de preto,
ela quebrava a seriedade com um sobretudo e touca rosa.
Fomos super bem recepcionados e atendidos no restaurante, que ainda se
mantinha simples como há mais de vinte anos, na época de Ivan. A comida
estava deliciosa, mas o que a gente mal podia esperar era pra chegar e fazer
amor em frente à lareira como o prometido.
Quando o carro nos deixou em frente ao hotel começava a nevar. Eram
pequenos flocos que caíam e se acumulavam em nossas roupas. Olhei para
cima sorridente e feito um idiota, abri a boca colocando a língua para fora.
Ouvi a gargalhada de Cecília e o flash quase me cegar enquanto ela me fazia
de modelo.
— Eu te amo. – ela falou se preparando para uma selfie de casal.
Os nossos olhares apaixonados estavam eternizados naquele momento.

•••

O clima no elevador já anunciava o que estava por vir dentro do quarto. A


eletricidade que passava da mão de Cecília para minha refletia diretamente
em meu pau.
Antes de sair para jantar, deixei a lareira a gás acesa para manter o quarto
com uma temperatura aconchegante para quando voltássemos. Ela imitava a
chama de uma lareira verdadeira, lançando uma luz bruxuleante no ambiente.
Bem em frente, um tapete branco felpudo nos convidava a se juntar a ele.
— Vou pegar o vinho. – falei enquanto Ceci tirava as dezenas de camadas de
roupa e se sentava em frente ao fogo.
Peguei dois travesseiros e o edredom que estavam sob a cama e levei até
onde Ceci estava. Ela já havia servido o vinho e me esperava com as
bochechas afogueadas.
— Tira a roupa, Marlon. – ela falou quando me aproximei.
Fiz o que ela ordenou, sem em nenhum momento tirar os meus olhos do dela.
Há muito eu já estava duro. Cecília percebendo isso, passou a língua nos
lábios rosados e sorriu.
Ela sentada e eu de pé. Ceci me olhava com desejo, fazendo suas mãos
serpentear pelas minhas pernas e me fazendo ficar mais duro ainda. Ele a se
ajoelhou e me pegando entre os dedos, me levou a boca.
O primeiro contato com a língua dela me fez estremecer. Fazia mais de vinte
e quatro horas que não nos tocávamos intimamente e meu corpo já estava
reclamando.
Cecília segurava e lambia todo a extensão do meu pau sem tirar os olhos dos
meus. Desceu a língua pelas minhas bolas enquanto me masturbava, só para
em seguida, abocanhar a cabeça do meu pau e me chupar com vontade,
fazendo aquele delicioso barulho de sucção.
Enfiei as mãos nos cabelos dela, segurando-lhe a cabeça parada e comecei a
foder a boca dela.
Meu corpo inteiro se retesava de tesão. As mãos dela seguravam firmemente
minhas coxas e as vezes, me arranhava para mostrar que estava no limite da
garganta dela.
Ceci ainda estava de camiseta e calça, mas eu rapidamente a deixei nua.
Deitei-a sobre o tapete e comecei a castigar o corpo dela com beijos
intercalados com mordidas. Ela gemia manhosamente, empurrando minha
cabeça cada vez mais para baixo em direção a bocetinha dela. Eu sabia que
ela me queria lá, só estava a torturando primeiro.
— Marlon... – Ceci gemeu quando minha língua tocou o clitóris.
Lambi toda a extensão daquela parte do paraíso, antes de enfiar dois dedos
nela e chupar o clitóris ao mesmo tempo. Ceci deu um gritinho quando
acelerei os movimentos coordenados, levando-a mais perto do nirvana. Senti
o corpo dela apertar meus dedos e o melzinho escorrer. Chupei com mais
vontade o monte inchado, sentindo o orgasmo tomar conta do corpo de
Cecília.
— Eu te amo. – falei beijando os lábios dela.
— Eu quero mais. – ela respondeu arrancando uma risada de mim.
Encostei minha testa na dela e disse:
— Você não cansa de romântica, senhora Torres.
— Você ainda está duro, senhor Torres.
— Vamos resolver isso agora. – respondi pegando meu pau e enfiando nela,
que gemeu.
Me apoiei nos cotovelos, iniciei o vai e vem dentro dela. Olhos nos olhos. Os
dedos dela tocavam num ponto na base da minha coluna que enviava uma
mensagem direto para o meu pau.
— Meu amor, eu não vou conseguir te esperar. – falei ofegante.
Ela apenas sorriu e assentiu.
Me sentei trazendo Ceci sob meu colo e ela cavalgou com vontade, tendo os
braços envoltos no meu pescoço. Pouco tempo depois, cravei os dedos nas
ancas dela e estoquei três, quatro, cinco vezes antes de gemer e me aliviar
dentro dela.
O suor escorria por todo meu peito e costas. Ceci ainda estava em cima de
mim com a cabeça tombada no meu ombro.
— Eu nunca vou me cansar disso. – ela disse se levantando e deitando no
tapete.
— Nem eu. – falei me deitando ao lado dela.
Puxei minha esposa para junto do meu corpo e nos cobri com edredom.
Eu pensava que já estava no auge da minha felicidade, mas estava
completamente enganado. Eu ainda poderia ser muito, mas muito mais feliz.

▪▪▪
CAPITULO 44
CECILIA

Depois de uma lua de mel dos sonhos, a vida real me chamava. Agora
Marlon e eu morávamos juntos numa cobertura em um condomínio próximo
a mansão de Ivan. Era apenas ele e eu, vivendo as delícias e os perrengues da
vida a dois. Nossos trabalhos nos tomava o dia inteiro e quando chegávamos
em casa, era aquela festa.
Rosa me mandava receitinhas do que cozinhar, dicas de limpeza e os truques
de como manter a casa nos trilhos. Mathias me dava aulas de defesa pessoal e
Marlon tinha me feito perder o medo de manusear, se preciso, uma arma de
fogo. Ainda continuava com a terapia, pois me fazia um bem absurdo. Elisa
era a melhor psicóloga com que eu poderia exorcizar meus demônios.
Estava tão feliz com essa nova fase minha vida, que só podia agradecer.
Tinha um emprego bom em uma revista famosa em Minas Gerais e ainda
conciliava ele com meu trabalho como influencer digital, o que me rendia
uma boa grana por mês.
Todos aqueles meses de medo e incertezas se foram, restando apenas coisas
boas para se viver.
Marlon era o melhor marido que uma mulher poderia sonhar. Gentil,
companheiro, prestativo, amoroso, cuidadoso... Me cobria de mimos sempre
que possível. Na cama então, nem se fala. Era o amante perfeito. Por falar em
sexo... Nós dois sempre gostamos da coisa, mas agora com um lugar só
nosso, isso estava fora de controle. Durante os dias úteis, eram duas vezes ao
dia. Já nos finais de semana, as saliências começavam na sexta e só paravam
no domingo.
Mas já tinha umas duas semanas que eu estava meio estranha. Pro sexo eu
estava excelente, mas para as outras tarefas, meio cansada. Cheguei a pensar
que a depressão queria dar as caras novamente e marquei uma consulta com
Elisa na hora do meu intervalo para o almoço.
A namorada do meu pai me recebeu de braços abertos. Elisa era a melhor
pessoa a quem eu poderia confiar o coração de Ivan.
Ela estava almoçando quando eu bati na porta do consultório dela.
— Cecília, como é bom ver você. – Elisa me recepcionou. – Eu estava
almoçando, mas tudo pela minha enteada.
Quando ela falou do almoço em si, o cheiro de comida chegou em minhas
narinas, fazendo meu estômago revirar.
— Elisa, banheiro. – falei com a voz débil, tentando segurar o vômito que
quase saía pela minha boca.
A mulher apontou para uma porta fechada no canto do consultório e foi pra lá
que eu corri. Mal tive tempo de fechar a porta e já me ajoelhei em frente ao
vaso sanitário, botando todo meu café da manhã pra fora.
Depois do vexame com o enjoo, fiquei alguns minutos sentada sobre o vaso
me recuperando. Elisa bateu de leve na porta, me ofereceu um copo com água
e um pouco de enxaguante bucal, e me deixou sozinha de novo.
Quando terminei a higiene a sala cheirava sândalo, ela já havia guardado o
almoço e me esperava sentada em uma das poltronas.
— Tudo bem? – Elisa me perguntou.
Me sentei escorada no sofá de dois lugares e balanceio a cabeça de leve.
— Não sei. – respondi de olhos fechados. —Eu tô estranha. Não tenho ânimo
para trabalhar, na mesma hora que eu quero comer, a comida me enjoa. Os
únicos momentos que eu fico com cem por cento da minha capacidade é
quando eu tô na cama com Marlon. Eu tô com medo de estar entrando em
depressão novamente.
Elisa riu. Uma risadinha sutil no começo, depois uma gargalhada mais sonora
que me fez abrir os olhos e encará-la.
— Ceci... – ela começou com uma voz calma. – Com esses sintomas que
você está me descrevendo eu não sou a pessoa exata para te dar um
diagnóstico.
Me sentei ereta, olhando assustada para Elisa.
— Como assim? O que eu tenho?
Ela riu de novo, se levantando e sentando ao meu lado.
— Ceci... – ela pegou minha mão e cobriu com a dela. – Você e Marlon vem
se protegendo?
— Protegendo? – não havia entendido o que ela queria saber.
Elisa assentiu calmamente.
Fiquei olhando pra ela tentando lembrar desde quando meu anticoncepcional
havia acabado.
— Meu Deus! – levei as mãos a boca para impedir um grito de escapar.

▪▪▪
CAPITULO 45
MARLON

Estava no meio de uma reunião com um cliente importantíssimo, quando meu


celular acusou uma mensagem. Como ele estava no silencioso, apenas a tela
acendeu e apagou antes que eu pudesse ver quem era. Quase duas horas
depois, quando finalmente a reunião acabou é que pude pegar o aparelho.
A mensagem era de Ceci pedindo que quando eu fosse para casa, levasse uma
pizza de alcachofra para ela.
Tive que reler a mensagem uma três vezes para ter certeza que estava lendo
certo ou que não era o corretor automático que tinha pegado uma peça em
minha esposa.
Ainda na dúvida, liguei para ela que até deu no terceiro toque.
— Pizza de alcachofra? – perguntei tão logo ela disse alô.
Ceci deu aquela risada que fazia meu coração acelerar.
— Fiquei com uma vontade enorme de comer isso. – ela falou. – Você vai
comprar, meu amor?
— Claro, se eu encontrar eu levo. – respondi intrigado.
— Ai Marlon, eu te amo!
— Eu também te amo, minha maluquinha.
— Deixa eu ir que aí da tem muito trabalho para fazer antes de chegar em
casa e comer aquela pizza de alcachofra quentinha. Beijos.
Cecília desligou a ligação me deixando com cara de idiota.
Aonde eu iria arranjar uma pizza de alcachofra? Que vontade súbita de comer
esse sabor específico?
Entrei na internet para pesquisar pizzarias de BH e região que tinham esse
sabor no cardápio. Não foi tão difícil quanto eu pensava, havia uma pizzaria a
caminho de casa que fazia, mas ela só abria depois das seis da tarde. Eu teria
que fazer hora extra para agradar minha amada esposa.

•••

Meu pedido foi o primeiro da noite. Uma pizza de alcachofra para Ceci e uma
de calabresa para mim.
Quando entrei no apartamento, não encontrei Cecília a vista. Andei pelos
cômodos vazios e a avistei debruçada no vaso sanitário vomitando.
— Cecília? – chamei enquanto ela fazia força para vomitar.
— Sai daqui, Marlon. – ela falou com a voz embargada.
— O que está acontecendo, Ceci? – me ajoelhei ao lado dela e lhe segurei os
cabelos.
— Não sei... – ela encostou a cabeça no meu ombro.
— Ah meu amor. – beijei o cabelo dela. – Quer que eu chame um médico?
— Não, vai passar. – Ceci se levantou e deu descarga. – Trouxe minha pizza?
Olhei pra ela meio chocado. A garota havia acabado de vomitar e queria
comer uma pizza? Ainda por cima de alcachofra?
— Você está bem mesmo, Cecília? – perguntei novamente.
Agora ela escovava os dentes e balançou a cabeça positivamente. Eu fiquei
olhando intrigado para ela no reflexo do espelho.
— Quer ir arrumando a mesa? – Ceci perguntou antes de jogar água no rosto.
Apenas me virei e saí calado.
Arrumei a mesa de forma simples. Estendi apenas o jogo americano sobre a
mesa, colocando as pizzas por cima, os copos e a insubstituível Coca-Cola.
Nada de talher. Nós dois gostávamos de comer pizza de um jeito raiz, com as
mãos mesmo.
Quando Cecília se sentou, pegou a primeira fatia da tão desejada pizza e
colocou na boca, nem parecia que minutos atrás ela estava botando o mundo
pra fora no banheiro. Ela comia com tanto gosto que eu até me arrisquei num
pedaço dela. Não era ruim, mas eu não trocava a minha calabresa por nada
nesse mundo.
Terminamos de comer e falamos sobre como foi o dia de cada um, mas eu
ainda estava preocupado com ela ter passado mal.
— Cecília, o que você comeu que te fez mal? – perguntei.
Ela bebeu o último gole do refrigerante antes de me responder.
— Eu não sei ao certo. – ela falou reprimindo um arroto. – Estive com Elisa
hoje. Conversei com ela. Tô me sentindo estranha nos últimos dias. Ela
desconfia que eu esteja grávida.
Grávida. A única palavra que meu cérebro captou. Grávida. Minha Cecília
grávida.
— Marlon? Marlon? – Ceci me chamou. – Você está bem? Você tá meio
pálido.
— Você tem certeza? – foi a única coisa que eu consegui falar.
— Certeza de quê?
— De que você está grávida?
— Não sei... – a voz dela foi um sussurro.
— Você ainda não fez o teste? – perguntei chocado.
— Não. – ela encolheu os ombros. – Eu não sabia se ia querer saber antes de
você.
Saí do meu lugar e fui até ela. Peguei a mão dela e beijei, em seguida a fiz
levantar. Dei um abraço apertado em Cecília que começou a chorar.
— Por que você está chorando? – perguntei baixinho.
— Eu não sei. – ela soluçou.
— Tá tudo bem, meu amor. – beijei a testa dela. – Vem senta aqui no sofá.
Cecília me deixou conduzi-la até o grande sofá em L.
— Fique aqui. – pedi a ela. – Eu só vou dar um pulo na farmácia e volto.
Ceci assentiu.
Peguei as chaves do carro, minha carteira e fui em direção ao elevador.
Dirigi pelas ruas com uma ansiedade, num misto de felicidade e medo. A
todo tempo meu coração batia num ritmo diferente. “Eu vou ser pai. Eu vou
ser pai. Eu vou ser pai.”

▪▪▪

CAPITULO 46
CECILIA

Os minutos seguintes a Marlon sair, eu chorei feito criança. A possível


gravidez não foi tão palpável até eu dizer isso em voz alta. Na conversa com
Elisa, ela só me deu um vislumbre do que poderia estar acontecendo comigo,
mas a palavra mesmo não tinha sido dita. E quando voltei do consultório
dela, fiquei tão imersa no trabalho que cheguei a esquecer do nosso encontro
na hora do almoço.
Desobedeci Marlon e fui até o banheiro lavar meu rosto. Meus olhos estavam
inchados e eu estava com medo. Me olhei no espelho de corpo inteiro,
ficando de lado para ver se havia alguma diferença na minha barriga. Na
verdade ela estava meio estufada, mas era mais por conta da pizza que eu
havia comido sozinha do que por causa de uma possível gravidez.
Minha menstruação não era regular e qualquer coisinha ela adiantava ou
atrasava. Marlon e eu não éramos exemplos de nada. Era um evento quando
transávamos de camisinha. Anticoncepcional? Oi? Nunca nem vi. Então nem
sei por que eu estava dando esse chilique todo por uma possível gravidez. E
também, eu sentia que queria ser mãe o quanto antes. Mas ao mesmo tempo
temia em colocar um serzinho frágil e inocente no mundo e não saber como
cuidar.
Passei tanto tempo sentada no chão do banheiro refletindo que perdi a noção
do tempo. Só me deu conta que Marlon havia me pedido para esperá-lo na
sala, quando ouvi a porta do apartamento abrir e ele chamar meu nome.
— Cecília?
Suspirei e falei:
— Aqui no banheiro.
Mal terminei de falar e Marlon pareceu na porta preocupado.
— Você tá passando mal de novo?
Balancei a cabeça negando, minha voz estava travada na garganta. Queria
chorar de emoção com o jeito amoroso e preocupado dele.
Marlon se sentou ao meu lado, despejando todo o conteúdo da sacola entre
nós dois. Havia três tipos diferentes de teste de gravidez e um copinho
daqueles de exame de urina no chão.
Olhei para ele com os olhos arregalados e ele deu de ombros.
— Eu não sabia qual trazer. Aí eu peguei um de cada.
Eu comecei a rir e escorei no ombro dele, com lágrimas escorrendo pelo meu
rosto.
Ficamos rindo por muito tempo, mais de nervoso do que de outra coisa, até
que ficamos em silêncio olhando os testes entre nós. Marlon segurou minha
mão e apertou.
— Eu tô com medo. – falei num sussurro.
— Eu sei. – ele respondeu. – Eu também tô.
Ficamos quietos novamente até que eu falei:
— Quero fazer xixi.
Marlon mais que rapidamente tirou o copinho da embalagem e me entregou.
Usei toda minha concentração para uma tarefa super fácil que era encher o
copinho. Enquanto isso, Marlon lia as caixinhas dos testes com o se estivesse
lendo um manual de instruções de uma bomba.
Marlon pegou o copinho da minha mão, mergulhou todos os testes lá dentro e
tirou depois de alguns segundos. Ele deixou as tiras na bancada da pia E
sorriu pra mim.
— Independentemente de qual for o resultado, saiba que eu te amo. – ele
começou. – Se for positivo, eu vou estar extremamente feliz. Se for negativo,
não era a hora de sermos pais.
Sorri, entendendo o que ele queria dizer. Nós dois nunca havíamos
conversado explicitamente sobre ter filhos, mas nenhum de nós também
nunca disse que não os queria. Então, seria o que Deus quisesse.
— Eu te amo, Marlon. – beijei de leve os lábios dele. – Te amo muito.
Ele passou os braços pelo meu corpo me puxando pra ele.
— Já se passou cinco minutos. – ele falou depois de um tempo. – Já deve ter
dado o resultado.
Juntos, nos dois nos aproximamos dos testes. Fui direto no mais caro, aquele
que indicava até as semanas.
Prendi o ar assim que olhei o visor digital do teste. Marlon olhou do meu
rosto para o resultado, começando a chorar e rir ao mesmo tempo.
Meu coração era uma bateria de escola de samba no peito, as lágrimas
escorriam pelo meu rosto, minhas mãos tremiam.
— Ah Ceci!!! – ele falou me apertando contra o peito. – Você está grávida!!!
Eu só chorava e ria. Marlon me rodou no ar e meu estômago, agora de
grávida, reclamou.
— Marlon, me põe no chão. – falei controlando a ânsia. – Vou vomitar.
Rapidamente, ele me desceu e eu ajoelhei no vaso, colocando toda pizza pra
fora.
Marlon alisava minhas costas e falava que estava tudo bem em vomitar. Eu
queira socar a cara dele, isso era horrível, e ficava pior quando eu pensava na
pizza de alcachofra.
Fui escovar os dentes, enquanto ele recolhia os testes feitos e jogava no lixo
juntos com as caixinhas. Ele deixou apenas o caro com visor digital que
indicava que eu estava grávida de 2-3 semanas.
Levei o teste comigo, e tirei uma foto para guardar de recordação. A foto
oficial da gravidez para o Instagram, teria que esperar o tempo certo. Para
meu pai, eu iria fazer uma surpresa no almoço de domingo.
Liguei para meu médico e agendei para o dia seguinte o exame de sangue.
Detestava agulhas, mas o que não fazíamos por amor?
E por falar em amor, eu estava com uma vontade de comemorar a gravidez de
uma maneira bem quente.
Tomei um banho caprichado, vesti uma camisola sexy e enquadrei Marlon.
Ele pediu um tempo para um banho rápido depois de um dia longo. Respondi
que ele tinha apenas cinco minutos, nem mais nem menos. Eu queria uma
bela comemoração, ele que lutasse para me satisfazer.

▪▪▪
CAPITULO 47
IVAN

Cecília me mandou mensagem sábado a tarde avisando que viria para o


almoço de domingo. Ela pediu para Rosa fazer aquela lasanha quatro queijos
que ela amava. E também pediu a presença de Elisa.
Não sabia o que estava acontecendo, só sabia que eu estava muito feliz que
apesar de Ceci ter agora uma vida diferente da anterior, ela não esqueceu do
velho pai aqui.
Repassei a informação a Rosa e fui me arrumar para jantar com minha
namorada, minha bela Elisa.
Quando estacionei o carro em frente ao prédio onde Elisa morava, me senti
feliz. Em todos os aspectos minha vida estava na melhor fase. Minha filha
estava bem, estava casada e era independente. Meu relacionamento com a
psicóloga ia de vento em popa. Eu queria dar um passo adiante, mas ela era
bem pé no chão. Não tinha nada que não me permitisse viver um
relacionamento pleno com Elisa, a não ser ela mesma.
Ela passou pela portaria e meu coração acelerou. Ela era bonita, disso eu não
tinha dúvidas, mas tinha algo fazia eu me sentir diferente. Era algo que eu já
havia sentido antes, porém não sabia o que era. Algo que eu procurava há
anos.
Desci do veículo e abri a porta para ela que sorriu e me agradeceu com um
beijo na boca.
— Você está linda. – falei antes que ela entrasse no veículo.
— Você é um galanteador, Ivan. – ela respondeu.
Dirigi em direção ao nosso restaurante favorito com o som ligado em uma
rádio de músicas dos anos oitenta. Os dedos de Elisa iam entrelaçados aos
meus, enquanto ela ia cantarolando baixinha a música que preenchia o
ambiente.

•••

— Qual é a piada particular que você está curtindo? – perguntei quando o


garçom se afastou levando a conta.
Elisa sorriu de novo e balançou a cabeça negando que havia alguma piada ou
coisa do tipo.
— Só estou feliz. – ela respondeu. – Sinto que coisas boas estão vindo.
Não entendi o sentido daquilo, mas coisas boas eram sempre bem vindas.
— Espero que sim. – falei terminando meu cafezinho e limpando os lábios
com o guardanapo.
— Eu tenho certeza que sim. – ela sorriu se levantando. – Vamos?
— Vamos. – estiquei a mão para ela.
Voltamos para a mansão onde eu faria Elisa, nem que fosse só por uma noite,
a mulher mais feliz do mundo.

•••

Na manhã de domingo, acordei antes de Elisa e pedi para que Rosa me


ajudasse a arrumar a mesa de café a beira da piscina.
Era um café da manhã simples, sem muita firula. Mas com um belo arranjo
de flores naturais que eu havia comprado no dia anterior e pedido Rosa para
guardar até a manhã seguinte.
— Ela vai adorar, Ivanzinho. – Rosa falou trazendo a bandeja de pão de
queijo quentinho.
– Espero que sim, Rosa. – falei apreensivo. – Mas tenho medo dela recusar.
— Ela te ama. – a senhorinha falou suavemente. – Ela sabe que você a ama
também. E além do mais, o senhor merece ser feliz.
Meus olhos se encheram d’água e eu me controle para não chorar.
— Obrigado. – falei a minha fiel escudeira. — Por tudo.
— O senhor é a melhor pessoa que eu conheci na vida, Ivan. – Rosa tocou
minha mão. – Fez minha Lilian feliz e agora vai fazer Elisa muito feliz
também.
Abracei Rosa que retribuiu com lágrimas nos olhos.
— Agora, me larga. – a senhora falou. – A moça vem descendo as escadas.
Me aprumei e esperei Elisa aparecer na porta de vidro. Rosa nos deixou
sozinhos e voltou para a cozinha.
— Bom dia. – falei sorrindo.
— Bom dia. – Elisa respondeu. – Que lindo! – ela falou quando a atenção
dela voltou para a mesa de café da manhã.
— É pra você. – falei sem jeito.
— Ah Ivan. – ela me abraçou. – Obrigada.
Puxei a cadeira para ela se sentar e comecei a servi o café.
— Ceci vem para o almoço hoje, mas eu queria um momento só para nós
dois. – falei.
Elisa que levava a xícara a boca levantou a sobrancelha.
— Eu te amo. – comecei meio sem jeito. – Eu só me senti assim uma vez na
vida. Depois de tudo que aconteceu na minha vida, eu tive medo de me
deixar levar novamente. Mas você me faz tão bem, Elisa. Eu tive medo de
estar me enganando de novo, mas não. Todos dizem que eu mereço ser feliz.
E você me faz feliz.
Elisa havia abaixando a xícara na mesa e olhava para mim completamente
muda.
— Eu queria ter você acordando ao meu lado todos os dias. Seu sorriso, seu
olhar, sua beleza, sua inteligência... Eu amo isso tudo. Eu amo você.
Me levantei indo até Elisa e me ajoelhei em frente ela.
— Elisa, você aceitaria se casar comigo? – abri a caixinha de veludo,
deixando a mostra o brilhante.
Elisa chorando levou a mão a boca e balançou a cabeça dizendo que sim.
— Sim. – ela colocou a mão sobre a minha estendida. – Eu aceito.
Parecia que o peso do mundo havia saído das minhas costas.
Coloquei o anel no dedo dela e a beijei apaixonadamente.
— Ivan, você é maluco. – Elisa falou olhando o anel que brilhava a luz do
sol. – Isso deve se custado uma fortuna.
Me servi mais café e dei de ombros.
— Para a mulher amada, o peso dela em ouro ainda é pouco para mostrar o
quanto se ama.
Elisa afetada pela minhas palavras, se levantou vindo até mim.
— Eu te amo, Ivan. – ela passou os braços pelo meu pescoço. – Eu prometo
te fazer muito feliz.
— Você já me faz feliz. – beijei os lábios dela.

•••

A hora do almoço chegou e com ela minha Ceci.


Elisa e ela já foram correr para fofocar sobre o pedido de casamento,
enquanto Marlon e eu fomos tomar um belo uísque.
Rosa havia preparado a tão pedida lasanha quatro queijos e estava pondo a
mesa quando Ceci pediu que ela colocasse um prato para ele também. Rosa
quis relatar, mas foi vencida por Cecília.
Mal havíamos começado a comer e minha filha e Marlon deram as mãos e
falaram que tinham uma novidade para contar.
— Estou grávida!!! – Ceci falou e eu quase engasguei com o vinho que
tomava.
Meus olhos encheram d’água.
— Sério, filha? – perguntei.
— Aham. – ela que também estava emocionada, esticou uma caixinha branca
para mim.
— O que é isso?
— Abre. – Ceci respondeu secando as lágrimas com o guardanapo.
Dentro da caixinha havia um sapatinho amarelo, o exame de sangue e o teste
de gravidez escrito grávida em caixa alta e marcando 2-3 semanas.
Chorei feito criança. Aliás, não só eu, mas todos que estavam a mesa. Rosa
era só chorar e falar que a menina dela ia ser mãe. Mas calma lá. Eu ia ser
avô. Avô!!!
Me levantei e abracei Cecília, choramos juntos por um tempo. Minha filha
iria me dar um neto! Abracei Marlon e o parabenizei pela nova família que
eles iriam começar.
Quando eu voltei para o meu lugar, Elisa me beijou e falou:
— Não te disse que coisas boas estavam vindo?

▪▪▪

CAPITULO 48
CECILIA
Com o passar dos meses e o crescimento da minha barriga, o quartinho do
bebê ia ficando pronto. Mas ainda não podíamos decorar de azul ou rosa pois
ainda não havíamos conseguido ver o sexo. Fizemos vários ultrassonografias,
mas nada do bebê deixar a gente descobrir o que vinha por aí.
Marlon sentia que era uma menina. Ele falava que era feeling de pai e que já
havia “conversado” com ela. Diferente de todo mundo que jurava de pé junto
que era um menino. Eu ficava calada, torcendo secretamente para Marlon
estar certo.
Marlon já havia me pedido para que Mathias fosse o padrinho, e eu não tinha
por que dizer não. Eles eram amigos de longa data, quase irmãos e a única
família que tinham. Já para madrinha, eu não pude pensar em ninguém
melhor que Rosa. Um exemplo de mulher, foi a mãe que eu conheci e que me
criou com muito amor e dedicação.
Eu estava completando 37 semanas e estava na reta final da gestação. Minhas
costas estavam me matando e eu sentia que estava próximo do parto.
Marlon me levaria de novo para fazer mais uma ultra para tentar ver o sexo
do baby.
Tinha fé que hoje daria certo ou então eu enlouqueceria. Que mãe passa
quase nove meses sem saber se é menino ou menina? Obviamente, aquelas
que escolhem não saber, é claro. Mas eu escolhi saber desde o primeiro
minuto que eu descobri que uma vida crescia dentro de mim.
Chegamos na hora exata em que meu nome era chamado na clínica.
— Bom dia, Cecília. – doutor Paulo meu obstetra falou. – Como nós
estamos?
— Eu tô doida pra saber o que é. – respondi. – O bebê parece que está
crescendo cada dia mais e me faz ter a sensação de que a qualquer momento
eu vou explodir.
O médico riu, dizendo que no final era assim mesmo. E me pediu que eu
fosse vestir a camisola para o atendimento.
Marlon me ajudou a tirar as sapatilhas e o vestido. E eu me deitei na maca
naquela posição horrível.
— Vamos lá? – doutor Paulo calçou as luvas e começou o exame.
Estava tudo perfeito tanto comigo quanto com o bebê. Ele já estava virado e
pronto pra nascer a qualquer momento. Quando o doutor falou isso, Marlon
apertou minha mão e sorriu.
— Vamos tentar mais uma ultra?
Nós três rimos. Todo mês eu ia na clínica para a consulta de rotina e uma
ultra fracassada. Claro que eu sabia que ultrassom não era feito apenas para
saber o sexo do bebê, tinha outras coisas e doenças que eram diagnosticadas
precocemente por conta do exame.
— Todos em silêncio. – doutor Paulo passava o troço gelado na minha
barriga.
Estávamos apreensivos. Essa seria a última ultra que eu fazia para saber o
sexo. Se não acontecesse dessa vez, eu esperaria o parto.
— Vocês já têm nomes? – o médico perguntou.
— Sim. – Marlon respondeu. – Júlia e Noah.
Mais silêncio.
— Papais, falem oi para Júlia.
Meu olhar e de Marlon se encontraram, assim como nossa alma. Uma
lágrima escorreu do rosto dele e caiu no meu quando ele abaixou para me
beijar.
— Parabéns ao casal. – o obstetra falou. – Finalmente!
Gargalhamos de felicidade.
— Eu sabia. – Marlon sussurrou no meu ouvido. – Eu sabia.

▪▪▪
CAPITULO 49
MARLON

Acordei com alguma coisa me molhando a roupa. Por um segundo, pensei


que havia mijado na cama, mas quando ouvi a voz de Ceci me chamando é
que entendi o que estava acontecendo.
— Marlon? Minha bolsa.
Bolsa? Que bolsa?
Caralho, a bolsa!!!
Levantei num pulo, acendendo as luzes, vestindo roupa, ligando para o
obstetra, sentando Ceci, ajudando-a a se vestir.
— Fica calmo. – ela pedia.
Como é que eu poderia ficar calmo com minha mulher trazendo ao mundo
minha filha?
— Eu preciso de um banho. – Ceci estava calma e serena.
Ela pegou o celular e ligou para o pai. Pedindo que ele, Elisa e Rosa nos
encontrasse no hospital.
Eu corria de um lado para o outro pegando mala de Cecília, mala da bebê,
documentos, ligando para Mathias ao mesmo tempo.
— Marlon, me ajuda a tomar banho. – Cecília pediu novamente tentando de
levantar.
— Eu te levanto. – cheguei no minuto exato de uma contração.
— Não, não, não. – Ceci pediu para que eu deixasse ela na cama.
— Respira, meu amor. Respira.
— Cala a boca! – ela gritou se contorcendo de dor. – Aaaaah!!!!
Cecília apertava minha mão tão forte que eu pensava que ela poderia arrancá-
la.
Minutos depois ela estava ofegante na verdade, mas já sem toda aquela
agressividade.
— Anda, me leva pro banheiro. – ela ordenou.
— E se você tiver a bebê dentro do box, Cecília? – perguntei caminhando
com ela até o banheiro.
— Marlon, relaxa. – ela riu. – Vai dar tempo.
Eu torcia para que desse mesmo, porque eu não sabia como fazer um parto.

•••

Quando chegamos na maternidade, todo mundo já estava lá menos a pessoa


de interesse que era Cecília.
— Por que vocês demoraram? – Ivan perguntou.
— Sua filha quis tomar banho antes. – respondi dando de ombros e
empurrando a cadeira de rodas pela entrada do lugar.
Doutor Paulo já nos aguardava e eu deixei Cecília por conta das enfermeiras
enquanto ia buscar as malas correndo. Estava tão nervoso que não me
lembrava de ter pedido Mathias para fazer isso.
— Calma, pai. – uma enfermeira mais velha pediu. – Tá tudo certo. Sua
mulher está precisando de você.
Olhei para Ceci sendo examinada e o médico dando as opções de lugares para
ela ganhar a nossa filha. Na cama, na água, agachada comigo a segurando.
Nossos olhares se encontraram e meio segundo depois eu estava ao lado dela,
segurando-lhe a mão.
— O que você acha, Marlon? – ela me perguntou.
Dei um beijo na testa dela e disse:
— É uma escolha sua. Eu estou aqui apenas para te apoiar.
Ela sorriu com os olhos cheios d’água.
— Eu te amo. – Ceci falou.
— Eu te amo. – repeti.

•••

Eu segurei Cecília durante todo o parto. Eu era o suporte dela, literalmente.


Eu vi minha filha vir ao mundo quase pela mesma ótica que a mãe dela.
Ceci deu um grito forte, me apertou os braços e segundos depois nossas vidas
já não eram mais as mesmas. Uma garotinha de choro forte era o centro do
nosso mundo.
Júlia Bernardes Torres, nossa princesinha.
Um bebê rechonchudo numa trouxinha de pano rosa que derreteu nossos
corações.

▪▪▪

EPILOGO
Eu tinha tudo o que eu sempre sonhei aos 26 anos. Era editora chefe da seção
de moda da revista, tinha uma casa com quintal grande, uma família unida,
uma marido que me amava cada vez mais, dois filhos... É, dois filhos fora da
barriga, né!?
Ainda pensava em um jeito de contar para Marlon que nossa família iria
aumentar.
Meu marido estava viajando a trabalho junto com Mathias. Eles foram até
Curitiba para a inauguração da segunda filial da SecMate, a empresa de
segurança privada na qual eles eram sócios. Eles voltariam no final da
semana e até lá eu teria tempo para bolar a surpresa. Dessa vez Júlia e Noah
já estavam maiorzinhos e participariam da trama.
Iria reunir todos num churrasco na mansão de Ivan, e quando Marlon
chegasse, as crianças iriam até ele com a camiseta escrito “promovida a irmã
mais velha de novo” e promovido a irmão do meio". Era meio bobo, mas
sabia que ele iria gostar isso.
Enquanto pensava no quanto minha vida era maravilhosa, eu observava as
crianças dormirem no tapete da sala com a televisão ligada. Eles tinham tanto
de mim, quanto de Marlon.
De tudo o que aconteceu na minha vida, a melhor foi ter lido meu nome em
uma folha de papel no desembarque do aeroporto. Eu sabia que ali, naquele
momento, minha vida jamais seria a mesma.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer a Deus, porque sem ele nada seria possível.
Quero agradecer a todos que leram a história pelo Wattpad. Meu muito
obrigada a todos.
E a você querido leitor, muito obrigada por valorizar a literatura nacional.
Obrigada de coração.

Por hoje é só.


Te encontro no próximo livro.

Beijos.

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