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A Filha Do Promotor - Mari Carvalho
A Filha Do Promotor - Mari Carvalho
1a edição - 2020
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CAPITULO 2
CECILIA
Depois que almocei, fui direto para o meu quarto desfazer as malas.
Enquanto estava na cozinha, tinha recebido uma mensagem do meu pai
falando mais ou menos a hora em que chegaria em casa. Perguntei a ele se
queria jantar algo específico, mas Dr. Ivan respondeu que traria pizza para
gente.
Ainda com o celular na mão, fiz uma selfie com minhas malas postando nos
stories do Instagram com a hashtag #vamosaluta. Aproveitei também para
responder algumas mensagens dos meus amigos. Havia centenas delas no
meu whatsapp, fora um grupo que eles fizeram com o nome “Festa da Ceci”.
Nesse grupo, a galera estava organizando uma recepção de boas vindas para
mim na casa de Léo no sábado.
Léo era um amigo/ficante desde do primeiro ano do ensino médio. Nós nos
conhecemos quando ele mudou cidade e veio estudar na minha escola. Os
pais de Léo eram advogados e ficaram amigos do meu pai. Eles moravam
num condomínio próximo ao meu.
Fiquei vendo a conversa rolar na tela com preguiça de acompanhar. Apenas
escrevi que o que eles decidissem eu iria amar.
Me peguei pensando no ano inteiro em que eu havia passado longe de todo
mundo. Sentia falta deles, do meu pai, da Rosa, até da escola, mas tinha me
acostumado a vida solitária dos hotéis da Europa. Não sabia que gostava de
ficar sozinha com meus pensamentos até ficar realmente sozinha com meus
pensamentos.
Nostálgica, peguei minha mala de mão, abri em cima da cama e comecei a
tirar as coisas que havia dentro. Minha câmera polaroid e uma sacolinha de
pano com um milhão de fotos dos países que visitei foi a primeira coisa que
vi.
Tinha fotos clássicas como na Torre Eiffel, no Coliseu, em um passeio de
gôndola em Veneza, no Big Ben e em tantos outros pontos turísticos pelo
velho continente.
O local em que fiquei mais tempo foi em Milão. A única coisa que faltava
para eu ser considerada uma nativa, era a fluência no italiano. Lá aproveitei
para fazer um curso básico de moda numa das melhores escolas da Europa.
Ainda estava envolvida em fotos e lembranças, quando Marlon apareceu na
porta.
— Senhorita Bernardes? Um amigo seu quer vê-la.
— Amigo? – perguntei confusa. Não estava esperando ninguém.
— Ele disse que o nome dele é Leonardo Viana.
Deixei as fotos espalhadas pela cama e segui Marlon até a sala com o coração
aos pulos.
Léo nunca me causou as tão famosas borboletas no estômago, mas era uma
boa companhia e eu estava com saudades de pessoas conhecidas.
— Aonde ele está? – perguntei quando desci as escadas e não vi ninguém ali.
— Ninguém pode entrar sem autorização, senhorita. – Marlon falou
calmamente.
Fiquei olhando para ele meio passada.
— Eu estou autorizando, ora! – caminhei até a grande porta da sala, saindo
para o jardim.
Pela minha visão periférica, devo ter contado uns quatro seguranças e mais
dois no portão, que ficaram me encarando.
— Vocês vão abrir essa porcaria de portão ou o quê? – falei com pouca
gentileza.
A atenção deles passou do meu chilique para Marlon que estava a poucos
metros de mim.
Marlon fez um sinal mínimo com a cabeça e os dois seguranças se moveram,
deixando Léo entrar.
Léo ainda estava meio assustado quando eu abracei.
— Gata, você levou muito a sério quando eu te chamei de princesa. – ele
sorriu me dando um beijo de leve nos lábios.
— Esquece eles. – falei puxando Léo para dentro da mansão.
Antes de nos sentarmos no sofá, Léo me olhou de cima a baixo se soltou um
assobio.
— Ceci, você está mais gata ainda.
Corando, vi Marlon nos observando imóvel de um canto mais afastado do
cômodo.
— Você fez alguma coisa no cabelo? – Léo continuou.
— Não fiz nada. – peguei uma mecha entre os dedos e olhei.
Meu cabelo estava com uma raiz escura bem grande. A última vez que tive o
prazer de ir em um salão, foi na semana que em que fui viajar, quando fiz
uma mega hidratação e retoquei as luzes. Isso foi há um ano. Pensando bem,
eu estava precisando fazer uma visitinha lá urgente.
Léo, alheio aos meus devaneios, se acomodou no sofá passando o braço pelo
encosto para tocar meu ombro com as pontas dos dedos.
— Então Ceci, se divertiu muito? – ele perguntou.
Suspirei e contei superficialmente para Léo o que eu fiz no tempo longe.
Quando terminei meu monólogo, ele contou que tinha passado na faculdade
de Direito e me colocou a par dos acontecimentos da nossa roda de amigos.
— Não quero falar muito da galera... – ele sorriu e chegou mais perto de
mim, olhando nos meus lábios, pronto para me beijar.
Por uma fração de segundo, olhei por cima do ombro de Léo e encontrei
Marlon assistindo a cena calmamente.
Léo percebeu a demora e interpretou isso como uma indecisão da minha
parte. Ele seguiu meu olhar e viu Marlon.
— Esse cara fica sempre aí, a espreita? – Léo questionou meio irritado.
— Marlon é meu guarda-costas. – falei sem clima para outra tentativa de
beijo.
Me afastei discretamente de Léo que se levantou e se convidou para ir até
meu quarto.
— Meu quarto está uma bagunça, Léo. E ainda estou um pouco cansada da
viagem. – menti descaradamente.
O quarto não estava tão bagunçado, nem eu estava tão cansada da viagem que
não poderia dedicar algum tempo a ele. Apenas não estava no clima para um
amasso sabendo que Marlon estaria no corredor.
— Você está me dispensando, princesa? – Léo perguntou passando o braço
pela minha cintura.
— Não... – olhei bem nos olhos verdes de Leonardo. – Só quero descansar
um pouco mais antes do meu pai chegar.
Léo beijou a ponta do meu nariz e falou:
—Ok, vou deixar você descansar.
Fui até o hall com ele.
— A gente se vê sábado. – falei.
— Até sábado, princesa. – Léo me deu um beijo apaixonada e se foi. Mas
antes deu uma encarada em Marlon tinha mudado de lugar e estava a vista.
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Com meia hora de atraso, duas mensagens de desculpa e uma pizzaria inteira,
meu pai chegou.
Durante minha ausência nós nos falávamos religiosamente, todos os dias.
Mas nada, nenhuma tecnologia supera estar no abraço apertado de quem você
ama.
Meu pai mal desceu do carro e eu corri para ele como eu fazia quando era
criança.
— Minha Cecília. – ele falou com a voz embargada. – Meu amor, que
saudade.
Ivan me apertava forte enquanto eu chorava, molhando o terno dele com
minhas lágrimas.
— Pai... – solucei.
Ficamos alguns minutos do lado de fora, apenas abraçados.
O motorista do meu pai, abriu o porta malas e o cheiro delicioso de pizza
invadiu o ar.
— Marlon, – meu pai pediu sem me soltar. – você poderia ajudar o Borges?
— Sim senhor. – Marlon ajudou o motorista a retirar as quinze pizzas e os
cinco litros de refrigerante do carro.
Mas antes de entramos, Dr. Ivan pediu aos dois funcionários que levassem
algumas pizzas e refrigerantes para o outros seguranças.
Nos sentamos na cozinha junto com Rosa. Enquanto comíamos, meu pai
começou o interrogatório, com o se já não tivesse a par dos acontecimentos
em tempo real. Rosa fez algumas perguntas sobre a culinária de cada lugar,
sobre as belezas das fotos que eu enviava e sobre um assunto polêmico: os
homens de cada país. Fiquei um pouco envergonhada de falar daquilo na
frente do meu pai e desconversei.
Depois de devorarmos duas pizzas, Rosa e Dr. Ivan trocaram olhares,
senhorinha alegou cansaço e se retirou.
Observei aquilo calada e senti que era a hora de fazer as tão temidas
perguntas.
— Pai... – tentei começar com medo do que eu saberia. – O que está
acontecendo?
Meu pai se levantou, pegou as duas caixas vazias e jogou no lixo, para ganhar
tempo.
Um longo minuto se passou até que ele sentou novamente com um semblante
sério.
— Você sabe que eu amo o que eu faço. Sabe que é um trabalho muito
rentável. – Ivan olhou em volta, para a cozinha ultramoderna. – É o que eu
sonho em fazer desde que me entendo por gente. É que põe comida na mesa e
te proporciona viagens maravilhosas. Mas é um trabalho que se você irrita as
pessoas erradas, a coisa fica feia.
Não tinha condições de dizer nada, todo terror que me consumiu mais cedo
havia voltado.
— Você está entendendo, Ceci? – meu pai pegou minha mão.
— Quem você irritou? – minha voz saiu um pouco mais alto que um
sussurro.
— Ah filha, você não gostaria de saber.
— Pai, eu preciso saber. – falei soltando a mão dele. – Eu preciso saber
quem, desde quando está acontecendo e por quê.
— Tudo que você precisa é ficar segura.
— Claro, com um cara no meu pé 24 horas por dia. – falei ironicamente.
— Marlon é o melhor nesse ramo, Cecília. Eu não confiaria sua vida a
qualquer um.
Puxei o ar até ao máximo que meus pulmões suportaram e depois soltei
lentamente.
— No voo de volta para cá, eu tinha planos de entrar para uma faculdade, de
trabalhar... – desabafei. – Mas quando dei cara com um guarda-costas eu já
não sabia mais nada. Eu entendia que ser promotor de justiça tinha seus
riscos. Mas nunca eu esperava ter que viver sob a sombra do medo.
Meu pai me olhava tristemente. Eu não tinha percebido, mas ele envelhecera
bastante desde que eu o deixara há um ano. Não era mais aquele homem com
brilho no olhar e sorriso faceiro. Ainda estava bonito para quase 50 anos, mas
o estresse que o consumia por dentro, estava dando sinais por fora também.
Cheguei perto e o abracei forte. Ficamos em silêncio até que me deu um
estalo.
— Pai? – perguntei ainda no abraço dele. – Há quanto tempo o senhor vem
sofrendo ameaças?
Senti Dr. Ivan ficar tenso, me soltar e sair da cozinha. Eu o segui e vi quando
se sentou no grande e branco sofá, apoiou os cotovelos no joelho e abaixou a
cabeça.
— Pai? – fiquei de pé, esperando que ele me respondesse.
— Ceci... – foi tudo que ele disse quando me olhou como se pedisse
desculpas. Foi o que eu precisava para entender.
— A viagem para Europa... – falei baixo e ele assentiu. – Era meu sonho
desde os quinze anos e o senhor sempre foi contra. Aí do nada eu ganho um
ano de férias. – senti a pizza pesar no meu estômago.
— Me desculpa, Cecília. – meu pai se levantou e tentou tocar minha mão,
mas eu o afastei.
— Você deveria ter me contado... – um pequeno soluço escapou dos meus
lábios.
Ficamos nos olhando em silêncio. Eu abraçava meu próprio corpo, sentindo
as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Não vou aguentar perder o senhor também. – falei por fim.
— Eu não vou a lugar algum. – Ivan passou os braços por mim, beijando o
topo da minha cabeça.
Olhei para o lado e Marlon estava lá, silenciosamente nas sombras. Quando
foi pego espiando, ele abaixou os olhos para o chão.
Suspirei, sentindo o peso da conversa e do cansaço, dei um beijo no rosto do
meu pai, anunciando que ia me deitar.
Comecei a subir os degraus sem sentir a presença do meu guarda-costas.
Olhei para trás e vi ele se aproximar. Meu pai totalmente alheio a tudo isso,
se servia uma dose de uísque no mini bar.
Quando chegamos a porta do meu quarto perguntei a Marlon se ele passaria a
noite ali de pé como um sentinela. Ele respondeu que dali a pouco seria
substituído por outro segurança, mas que pela manhã, quando eu acordasse,
ele estaria ali.
Sorri, dei boa noite e me tranquei no lugar em que eu acreditava que poderia
esquecer o dia de merda que tive.
Fui direto para o banheiro, deixei a banheira enchendo enquanto fui ajeitar a
pequena desordem do quarto. Guardei as fotos que ainda estavam espalhadas
pela cama, escolhi um pijama e fui limpar o rosto para colocar uma máscara
hidratante.
Quase uma hora depois, tirei os fones de ouvido e máscara facial, saindo da
água já quase fria.
Minha mente já tinha desacelerado. Vesti minha camisola, apaguei todas as
luzes e entrei num sono pesado e sem sonhos.
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CAPITULO 3
CECILIA
O sábado chegou num piscar de olhos. Pela manhã, Marlon havia me levado
ao salão para retocar as luzes e fazer as unhas.
Quando voltamos, já estava na hora do almoço.
Rosa havia feito um almocinho leve: arroz branco, salada de batata e brócolis
cozido no vapor. De bebida, escolhi água de coco.
A amável senhora me fazia companhia, já que meu pai, excepcionalmente,
estava dando palestra em uma tradicional faculdade particular de BH.
No dia anterior, eu havia levantado antes do sol nascer, ido para o terraço e
meditado por quase uma hora. Depois disso, esvaziei as malas, distribuí as
lembrancinhas, preguei algumas fotos no memory board e comecei a ler um
livro picante que minhas amigas me deram para ler quanto o tédio batesse na
viagem. O mais engraçado é que o livro foi e voltou na minha mala de mão e
eu nem sequer toquei nele.
Assim que terminei de almoçar, subi para meu quarto para buscar o tal livro e
me deitei no sofá da sala. Rosa já havia ajeitado a cozinha e ido para seu
quarto fazer a sesta, me deixando sozinha com Marlon.
Não vou dizer que já me acostumara a ter um guarda-costas e que estava feliz
com alguém na minha cola o tempo inteiro. Mas sabendo que isso traria um
pouco de paz ao meu pai, ter Marlon por perto já não me incomodava tanto.
Por falar em Marlon, ele já estava por ali. Minutos antes, o segurança tinha
pedido permissão para usar a mesa da sala para fazer algo no notebook. O
que quer que seja o que Marlon fazia, ele estava muito concentrado.
Dei de ombros, e comecei a ler. A história falava de uma mulher que se
apaixonou por um CEO muito charmoso e bom de cama. Tinha cenas
picantes que me fizeram corar e olhar na direção de Marlon para ver se ele
me observava. Graças a Deus, não.
A leitura estava boa, fluída e quente. Mas mesmo assim eu acabei pegando no
sono, sendo acordada por Rosa quase duas horas depois. Ela tinha o telefone
sem fio na mão, dizendo que era Gabi, uma das minhas amigas.
— Cecília Bernardes, por que a senhorita não atende o celular? – Gabriela
gritou antes mesmo do meu alô. – Tive que ligar pro seu fixo. O que é uma
coisa absurda, ninguém em pleno 2020 faz isso.
Revirei os olhos me sentando direito e cruzando as pernas.
— Você já está se arrumando? – ela continuou. – Você tem que chegar
arrasando na casa do Léo. Julia Guimarães vai tá lá. – Gabriela fez um som
de desprezo. – Não sei quem convidou aquela ridícula. Aposto que foi o
Leonardo. Aliás, fiquei sabendo que você dispensou Léo outro dia. Ficou
louca?
Respirei fundo, apertando a ponte do nariz.
Ai, meu Deus.
— Posso falar? – perguntei depois que Gabriela ficou calada por mais de
cinco segundos. – Eu não dispensei Léo outro dia, só estava cansada. Tinha
acabado de chegar de viagem e o garoto queria dar um amasso? Calma aí,
né?!
Gabi riu.
— Léo nunca decepciona!
— Pois é. Mas me conta sobre a festa mais tarde. – falei mudando de assunto.
— Vai ser tipo aquelas do ensino médio, mas dessa vez com muita bebida. E
sem hora pra acabar. Os pais de Léo foram passar o fim de semana na
fazenda, então a casa é só nossa.
Nossa, meu pai vai adorar.
— Que ótimo. – fingi animação. – Mal posso esperar. Deixa eu ir escolher
meu look então Gabi. Beijos. – desliguei o telefone antes que ela tivesse
oportunidade de falar mais alguma coisa.
Deitei a cabeça no encosto do sofá, amaldiçoando a hora que eu concordei
com essa confraternização.
Larguei o telefone na mesinha ao lado do sofá e subi para o meu quarto.
Tinha comprado um vestido roxo lindo em Milão e usaria um scarpin nude de
tiras no tornozelo.
Mandei mensagem para meu pai, para lembrá-lo da festa e Dr. Ivan mandou
de volta um “divirta-se, meu bem". Estranho, muito estranho.
Depilei minhas pernas, passei um hidratante com partículas de brilho, fiz uma
make bem natural. Antes do banho eu tinha feito um coque alto e quando
soltei os cabelos, eles caíam em ondas.
Uma hora antes da festa eu já estava pronta. Desci as escadas com minha
mini bolsa preta a tiracolo, e vi Marlon me esperando. Ele parecia ter acabado
de tomar banho. Os cabelos estavam úmidos e bem penteados, a barba bem
aparada, além de um perfume discreto, mas extremamente masculino. E
obviamente, o terno preto estava lá.
— Já estamos de saída, senhorita? – ele perguntou.
— Vou comer alguma coisa primeiro. –falei indo para cozinha.
Rosa andava de um lado pro outro limpando, arrumando, mas quando botou
os olhos em mim, parou.
— Ceci, você está linda!
Dei uma voltinha tímida e agradeci.
— Rosa, tem alguma coisa para eu comer antes de sair? – perguntei abrindo a
geladeira e pegando uma coca cola. —Tô com medo de não ter nada lá além
de bebida.
Ela riu me empurrando para mesa e pegando uma vasilha com mini
sanduíches de pão de forma na geladeira que eu deixara aberta.
— Marlon? – chamei.
Meio segundo depois ele estava na minha frente.
— Senta aí e come um pouco. – falei. – Não sei se vai ter alguma coisa pra
comer naquele lugar, nem que horas vai acabar.
Ele tentou recusar, mas Rosa o fez sentar. Ela colocou um prato com alguns
sanduíches e uma lata de refrigerante na frente dele.
— Comam. — Rosa ordenou.
Ele não se fez de rogado e comeu. Olhei para Rosa e ela piscou para mim
pelas costas de Marlon dando um sorrisinho.
Acabei de comer e pedi licença para escovar os dentes e retocar o batom.
Quando voltei, Marlon já me esperava perto do carro com a porta de trás
aberta para mim.
Sorri e falei que ia no banco da frente. Ele rapidamente fechou uma porta e
abriu a outra. Coloquei o cinto enquanto ele dava partida no carro e expliquei
como chegava no condomínio de Léo.
Dez minutos depois, encostávamos o carro na porta da mansão. O som que se
fazia ouvir algumas casas antes, tocava algum rapper da moda.
Marlon olhou para casa cheia de jovens dançando com bebidas nas mãos e
arqueou as sobrancelhas.
Gemi e me encolhi no banco de couro.
— Tudo bem, senhorita? – ele perguntou.
— Sim. – respirei fundo. – Isso é bem maior que uma confraternização.
Ele riu baixo. Um som grave que me fez virar para ver se estava escutando
demais.
Marlon ainda tinha a sombra de sorriso nos lábios. E eu, os olhos arregalados.
— Seu amigo vem aí. – ele falou apontando com o queixo.
Ouvi alguém bater no vidro me assustando. A voz abafada pelo vidro fechado
chamava meu nome. Era Léo.
—Desce gatinha. – ele falou com uma voz melosa.
Fingi um sorriso me virando para Marlon meio apreensiva.
— Só vou estacionar o carro e volto.
Assenti, abrindo a porta. Antes dos meus pés tocarem o chão, Léo me
levantou me abraçando apertado.
— Linda e cheirosa. – ele falou enfiando o nariz no meu pescoço e beijando
bem ali.
— Obrigada. Agora me põe no chão. – falei empurrando de leve os ombros
dele.
Antes que ele pudesse fazer ou falar alguma coisa a tropa chegou: Gabi, Mel
e minha confidente, Míriam. Todas elas correram até onde eu estava e me
deram um abraço coletivo.
Todas falavam ao mesmo tempo. Sobre a festa, o vestido que eu estava
usando, o quanto sentiram minha falta, fofocas... Mas do nada elas se calaram
e o semblante de Léo que estava um pouco além do grupo, se fechou.
— Uau... – foi tudo que Míriam falou. E valeu pelas três garotas.
Não precisei virar para trás para saber que Marlon estava ali. Todas as
diferentes reações e o perfume amadeirado, o entregou.
— Ele vai ficar atrás de você o tempo todo, Ceci? – Léo perguntou meio
possessivo.
— Marlon, é meu guarda-costas, Leonardo. – falei calmamente. – Aonde eu
vou, ele vai.
— Eu não importaria em ter um guarda-costas. – Mel disse de maneira
oferecida. – Faz parecer que a gente é importante. Tipo Kylie Jenner.
Marlon e eu trocamos um breve olhar, que não passou despercebido por Léo,
que em nenhum momento tirava os olhos do meu segurança.
Como se a casa fosse dela, Gabi me puxou para dentro do imóvel. Quando vi
a decoração pensei que tinha entrado numa festa de criança. Na sala havia
alguns balões metálicos pendurados, um cartaz escrito à mão “BEM VINDA
CECÍLIA” e uma mesa com brigadeiros e cupcakes estava perto do sofá. As
bebidas estavam na cozinha, pois era lá o entra e sai de pessoas.
— Não ficou lindo? – Gabi gritou além da música.
Sorri e balancei a cabeça concordando.
Enquanto Gabriela ia até o som abaixar o volume, Míriam me puxou pelo
braço até um canto mais reservado.
— Normal? – ela disse em tom acusatório.
Eu a olhei sem entender.
— O guarda-costas, Cecília. – minha amiga indicou Marlon parado perto do
vão da escada. – Te perguntei como era seu segurança particular e você me
disse: “ah, normal.” – ela fez uma imitação ridícula da minha voz.
Eu apenas ri. A culpa não era minha se ela tinha na mente que todos os
guarda-costas eram tipo o da Anastasia Steele de 50 tons.
Míriam não teve a chance de fazer outra pergunta, pois fomos interrompidas
por Gabriela que me arrastou para a escada.
— O que você...– comecei a protestar, mas assim que ficamos na metade dos
degraus a música parou.
— Um minutinho, pessoal. – Gabi rapidamente captou a atenção das quase
50 pessoas que estavam ali. — Nossa querida Cecília, voltou.
Todas as pessoas gritaram e as que estavam sem nada na mão, bateram
palmas.
— A noite de hoje é da Ceci. – Gabriela continuou. – Vamos dar muito amor,
para nossa gringa. – todo mundo levantou os braços, como se mandassem
energia em minha direção.
Alguns segundos depois, a música estava tão alta quanto antes e continuei
parada, desta vez sozinha, no alto da escada.
Observei como as pessoas se movimentavam pela grande sala. Elas riam,
conversavam, bebiam. Num canto mais reservado um casal se agarrava.
Sentados em volta da mesinha de centro, quatro garotos e duas garotas
brincavam de verdade ou consequência com um líquido transparente, que
com certeza água não era.
Eu me sentia feliz em rever minhas amigas, por outro lado, me sentia
completamente deslocada do ambiente. Era como se eu não fizesse parte
daquilo.
Fui em direção a mesa de doces, peguei um brigadeiro e coloquei na boca.
Fechei os olhos e saboreei. Isso era uma das coisas que senti falta quando
estava fora. Peguei mais dois e comi de uma vez.
Procurei Marlon. Quando o avistei, ele tinha duas meninas de saias curtas e
saltos altíssimos no pé e fazia o melhor para ser educado e sair dali.
— Seu dono está bem ocupadinho, hein gata?!
Não precisei me virar para saber que era Léo. Ele estava com a voz meio
arrastada e cheirava álcool. Leonardo afundou o rosto no meu cabelo,
apoiando a cabeça no meu ombro e passando os braços pela minha cintura.
Encontrei o olhar mortal de Julia Guimarães do outro lado da sala, junto com
seu grupinho. Nós nunca nos bicamos, porém teve um tempo que ela,
estranhamente, quis ser minha amiga. Coincidentemente, na mesma época em
que Léo se mudou para nossa escola e começou a andar comigo.
— Léo? – chamei e ele parecia ter cochilado em pé, escorado em mim. —
Você comeu alguma coisa?
— Hmm... – Léo pensou. — Não.
Consegui me soltar ficando de frente para ele, peguei um brigadeiro e enfiei
na boca dele. E antes que Léo pudesse engolir, coloquei mais outro.
— Cecília, o que cê tá fazendo? – ele perguntou de boca cheia.
— Tentando te manter sóbrio. –respondi.
— Algum problema aqui? – Gabi se aproximou.
Apenas olhei para ela e ela entendeu.
— Tem salgadinhos na cozinha. – Gabriela falou. – Cadê Míriam?
— Eu ia te fazer essa pergunta agora. – disse colocando mais um brigadeiro
na boca de Léo. – Fica aí que eu vou buscar alguma coisa pra ele comer.
Ela assentiu.
Antes de entrar na cozinha eu já senti que estava sendo seguida.
Primeiramente, imaginei ser Marlon, mas quando me virei dei de cara com
Julia.
— Por que você voltou? – ela estava parada com as mãos na cintura.
Olá pra você também, vadia.
— Eu não te devo satisfações da minha vida, Julia. – falei calmamente,
enchendo um bowl com coxinha.
— Você não pode voltar a hora que quer e tomar o Léo de mim. – agora ela
havia cruzado os braços.
Peguei uma latinha de Coca-Cola na geladeira.
Ah, então era isso.
Dei uma risadinha e me virei para ela. Marlon nos observava a uma distância
segura. Discretamente, balancei a cabeça para que ele ficasse ali.
— Você está maluca. – falei passando por ela que segurou meu braço. Fiz
meu melhor olhar encapetado pra ela. – Tira a mão de mim agora.
Julia não esperava essa minha reação, tanto é que levou um pequeno susto
quando eu fiz menção de partir pra cima dela.
Meu coração estava disparado. Nunca precisei partir para violência com
alguém, nem mesmo ser ríspida. Mas aquilo ali passou dos limites. E de
alguma forma, naquele momento, senti que eu precisava me impor.
— Cecília? – Marlon chamou, me conduzindo para um canto entre a cozinha
e a sala. – Tudo bem? O que aconteceu?
Respirei fundo, encostando a cabeça na parede.
— Não foi nada. – respondi depois de um longo minuto. – Aquela garota
acha que eu sou uma ameaça para o futuro dela.
— Foi por conta daquele seu amigo? – ele questionou.
Assenti.
— Me espera aqui. – pedi para Marlon. – Só vou levar isso para ele.
Saí em direção aonde eu tinha deixado Gabi cuidando do bebum.
Gabriela havia arrumado uma cadeira para ele que tinha comido a metade dos
doces.
Fiz a minha melhor cara, e brinquei:
— Uau.. Deixa um pouco pra mim.
Leonardo olhou para mim todo derretido e riu com a boca suja de chocolate.
— Ah, tem mais algumas caixas disso na cozinha. – Gabi apontou com o
queixo para a mesa.
Entreguei o bowl e o refrigerante para Léo.
— Encontrou Míriam? – perguntei, entre uma mordida no cupcake.
— Você acredita que ela tava beijando o Tavinho lá na lateral da casa?
Fingi surpresa. Era de se esperar. Tavinho foi a paixão platônica de Míriam
durante todo ensino médio. Agora ela teve a oportunidade de beijá-lo e saber
se ele era aquilo tudo que a imaginação dela criou ou não.
Mel se juntou a nós, entre um brigadeiro e outro, perguntou onde estava “o
gostoso do meu segurança”. Sim, com essas palavras.
Dei de ombros, fingindo procurá-lo. Nisso, Míriam chegou praticamente
flutuando. Deitou a cabeça no meu ombro e suspirou.
— Ai meninas... – Míriam começou, mas parou quando viu Léo sentado ali. –
Ah, oi Léo. – ele deu um tchauzinho débil para ela e continuou a comer.
Mais pessoas se aproximaram do nosso grupinho, todas falando ao mesmo
tempo. Eu sorria, mas não fazia ideia do que eles falavam.. Meu eu solitário
já estava me chamando de volta à calma da minha casa.
Discretamente, mandei uma mensagem para Marlon para que ele levasse o
carro para a entrada dos fundos e me esperasse na cozinha. No dia anterior,
quando comentei da festa com meu pai, ele me obrigou a levar Marlon
comigo e me fez colocar o número do segurança nos meus contatos.
Pedi licença, alegando que ia levar algo para o meu guarda-costas comer e
saí.
Quando cheguei na cozinha, Marlon já estava lá. Perguntei se ele estava com
fome e ele sorriu tímido, mas assentiu.
Comecei a abrir algumas caixas de salgadinhos fazendo uma mistura de
coxinhas, empadinhas, bolinhas de queijo e presunto numa só caixa. Peguei
alguns brigadeiros e coloquei junto dos cupcakes, tudo isso sob o olhar
interessado de Marlon. Abri a geladeira e peguei duas Cocas.
— Pronto pra ir embora? – perguntei a ele, calmamente.
Empilhei as duas caixas, entreguei a Marlon que não questionou o que eu
estava fazendo. Abri a porta que dava para parte de trás da casa e saímos sem
ser vistos pela horda de jovens bêbados.
Marlon abriu a porta de trás, colocando a caixas sob o banco enquanto eu me
sentava na frente.
Meio minutos depois o carro arrancava para o mais longe possível dali.
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CAPITULO 4
CECILIA
•••
Os dias viraram semanas e semanas meses. Dois meses e meio para ser mais
exata.
Nesse meio tempo, eu consegui fechar meus primeiros trabalhos no
Instagram e fazer meu próprio dinheiro. Era pouco na verdade, mas era fruto
do meu esforço nas mídias digitais.
E também havia começado o curso avançado de moda de uma famosa
estilista de BH e estava muito empolgada.
Só que com essa exposição veio a segurança redobrada. Todas as vezes que
eu tinha que fazer algo fora de casa, era uma luta. Além do carro blindado em
que Marlon e eu íamos, havia outro que nos seguia com mais dois homens
fortemente armados.
Essa foi a imposição do Dr. Ivan para que eu fizesse o curso e virasse digital
influencer.
Marlon se tornava cada vez mais próximo de mim, ao passo que eu me
afastava cada vez mais de Léo.
E como se não houvesse mudanças demais na minha vida, meu pai teve a
brilhante ideia de trazer uma “amiga" para almoçar no domingo.
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CAPITULO 5
CECILIA
•••
Com os passar dos meses, minha amizade com Marlon se intensificou. Assim
como a presença de Tatiana aqui em casa.
A mulher começou a ganhar confiança e a entrar e sair da casa como se fosse
dona dela. Meu pai, muito provavelmente, dera a ela essa liberdade e isso não
me agradava nenhum pouco.
Tive a confirmação de que Tatiana não valia nada, no dia em que eu peguei
ela de babydoll se oferecendo para o meu segurança.
Antes mesmo de entrar na cozinha, eu senti o perfume doce da namorada do
meu pai e escutei Marlon responder algo que ela perguntou.
Resolvi esperar escondida do lado de fora para ver se algo aconteceria. E
bingo!
Não demorou muito e Tatiana havia cercado Marlon na ilha da cozinha se
esfregando nele. Ela tinha uma das mãos dentro do paletó dele e a outra
descia para a fivela do cinto. Marlon olhava assustado a investida e tentava,
delicadamente, afastá-la empurrando-a pelos ombros.
Fiquei paralisada com a cena. Por mais que eu esperasse algo assim daquela
mulher, não conseguia acreditar no nível de sem-vergonhice dela, atacando
sexualmente outro homem na casa do próprio namorado.
Me deixei ser vista por Marlon, que estava de frente para a porta e subi
silenciosamente para o meu quarto.
Estava enjoada com o que vi. Tatiana já dava indícios que “gostara” de
Marlon desde a primeira vez que ela o vira. Ela já o escolhera como presa.
Mas o que aconteceu não cozinha, eu não podia precisar se era a primeira vez
ou não.
Minutos depois que eu fechei a porta e me escorei nela, ouvi a leve batida.
Me assustei, dando um pequeno pulo.
— Cecília, abre a porta. – Marlon pediu.
Respirei fundo por um segundo e abri. Ele estava meio perturbado e entrou
para o quarto trancando a porta.
Me afastei um pouco e cruzei os braços sobre o peito esperando alguma
explicação.
Ficamos em silêncio, nos encarando por um longo tempo, até que ele falou:
— Você sabe o que você viu.
— Sei que aquela puta que se diz namorada do meu pai, estava pegando no
seu pau na cozinha. – respondi entre dentes.
Marlon se recompôs, assumindo a postura calma tão conhecida.
Puxei o ar com força e perguntei:
— Foi a primeira vez, Marlon?
— Que ela é tão atrevida assim? Sim, foi a primeira vez. Que ela se insinua
para mim? Não, isso já vem acontecendo há meses.
Mordi minha bochecha por dentro e virei o rosto queimando de ódio.
Esperei a vontade de matar a lambisgoia de babydoll passar.
— Por que você não me contou? – questionei um pouco mais calma.
— Por que eu conheço você, Cecília. – Marlon se aproximou, falando mais
baixo. – E sei bem o tipo de mulher que está dentro dessa casa, rondando
você e seu pai.
Agora ele tinha toda minha atenção.
Marlon foi até a janela e olhou pela cortina pesada.
— Ela está lá embaixo, tomando café a beira da piscina. – meu guarda-costas
falou.
— Como a rainha que ela pensa que é. – completei.
Ele voltou para perto de mim, me puxando para sentar na cama.
— Não faça uma cena de ciúme, nem fale nada do que você viu para o seu
pai. – Marlon disse sem nem um vestígio de humor. – Isso é bem mais do que
aparenta ser.
— E você vai me contar o que está acontecendo? Ou isso vai ser mais um
segredinho?
Marlon abaixou a cabeça, massageando o próprio pescoço e respirou fundo.
— Cecília...
— De novo não, Marlon. – falei. – Chega dessa merda. Já passamos da fase
de segredos.
Ele puxou o ar ruidosamente e soltou.
— Você tem que me prometer que não vai contar nada disso pro seu pai. E
que também não vai usar nada para confrontar aquela mulher. Nada de
indiretas ou coisas do tipo.
Minha mente pensava mil coisas ao mesmo tempo. Que porra seria essa
Tatiana?
— Me promete, Cecília. — Marlon pediu mais uma vez.
— Eu prometo, Marlon. – respondi entediada.
— Isso é sério!
— Eu já entendi, Marlon. – falei irritada. – Agora me conta o que está
acontecendo.
— Eu estava conversando com Borges, segurança do seu pai, sobre o que ele
sabia da tal Tatiana. O que ele me contou bate com o que você me disse: ela e
seu pai se conheceram no fórum, por acaso.
Eu estava atenta.
— Só que eu não acredito nessa história de se conheceram por acaso. –
Marlon continuou. – Quando eu vim trabalhar para seu pai, eu pedi um
histórico completo da vida de todas as pessoas do círculo familiar e de
amizades dele e seu. Desde quando seu pai tem algum tipo de relacionamento
com alguém que não seja o trabalho?
Não precisei pensar, falei na lata:
— Nunca.
Marlon apenas balançou a cabeça lentamente concordando.
— Pois é. E você não acha estranho essa mulher chegar e se apossar do Dr.
Ivan?
Pisquei meio assustada.
— Você acha que ela pode ser... – não consegui terminar a frase.
— É nesse ponto que eu queria chegar. – Marlon segurou minha mão um
pouco mais forte. – Eu ainda não sei a resposta. Por isso eu preciso da sua
paciência e discrição.
Assenti. Para proteger meu pai eu faria qualquer coisa.
Marlon deu um sorriso que não chegou aos olhos.
— Você vai deixar que ela continue te seduzindo? – perguntei assim que ele
se levantou. – Passando a mão em você?
Tentei não deixar transparecer o ciúme que já me tomava, e não era de hoje,
em relação ao meu segurança.
Marlon parou na minha frente me forçando a quase quebrar o pescoço para
olhá-lo. Aquela proximidade era quase insuportável para mim, eu estava com
o belo pacote dele na altura dos olhos.
— Isso te incomoda, Cecília? – ele perguntou com a voz baixa.
Engoli seco, tentando manter meus olhos nos olhos dele.
— Isso... Isso não é da minha conta. – dei de ombros.
Um sorriso sarcástico surgiu nos lábios dele. Marlon pegou uma mecha de
cabelo que tinha soltado e colocou atrás da minha orelha.
— Você é uma péssima mentirosa, Cecília. – ele falou agora sorrindo de
verdade. – Não sei o que vou fazer com você.
Tira minha roupa e me come.
Minha respiração se acelerou quando ele passou o indicador pela minha
bochecha.
Porra.
Marlon em nenhum momento tirou os olhos dos meus. Minha mente se
esvaziou de problemas e só pensava naquele homem gostoso e sexy na minha
frente.
— Estou esperando, Cecília. – a voz dele era, em todos os sentidos, música
para meus ouvidos.
— O quê? – perguntei num fio de voz.
— Te perguntei o que devo fazer com você. – ele mal se abalou.
Pisquei repetidas vezes tentando formular uma resposta coerente.
— Pode fazer o que você quiser... – eu disse baixinho, cometendo o erro de
olhar para a região pélvica dele.
Instintivamente, passei a língua nos lábios.
Marlon apertou os olhos, cerrando o maxilar.
— O que eu quiser? – ele engoliu seco.
Novamente, apenas balancei a cabeça.
Marlon se abaixou, deixando a boca próxima da minha. Sem perceber,
entreabri os lábios, esperando o beijo.
— Tem certeza disso? – ao falar, os lábios dele tocaram sutilmente os meus.
Aquilo estava me matando.
Levei uma das mãos ao pescoço de Marlon para não ter dúvidas de que ele se
afastaria e o beijei. Um beijo lento a princípio, mas em seguida me deitei na
cama, puxando- o para cima de mim. Ele apoiou o peso do corpo nos braços,
buscando espaço com a coxa direita entre as minhas pernas.
Minhas mãos saíram do belo rosto, indo parar dentro do paletó dele. O corpo
de Marlon emanava um calor gostoso, os músculos sob a camisa branca
estavam rígidos. Toquei- o nas costelas sendo surpreendida pela arma no
coldre. Abrimos os olhos juntos, ainda de lábios colados.
A boca de Marlon se curvou num sorriso quente e então, ele saiu de cima de
mim. Não sei por que, mas me senti fria sem o calor do corpo dele,
abandonada. Vi meu guarda-costas ajeitar o pau por cima da calça e não pude
deixar de me senti um tanto orgulhosa de ter causado aquilo nele. Minha
calcinha estava ensopada, e tinha sido apenas um beijo.
Ficamos os dois parados, olhando um para o outro sem nenhum
constrangimento, apenas envoltos na nevoa de desejo que pairava sob o
quarto.
O toque baixo do celular de Marlon nos trouxe pro mundo real. Quando ele
atendeu sua expressão mudou, o tesão deu lugar a uma pequena centelha de
preocupação.
— Chego aí em um minuto. – ele falou baixo, desligando e guardando o
telefone novamente no bolso da calça.
Marlon me olhou e eu apenas assenti. Ele se aproximou, tocando meu rosto
com as costas da mão e beijando levemente meus lábios, saindo em disparada
do quarto.
Andei meio aérea até o banheiro e vi meu reflexo no espelho. Minhas
bochechas estavam coradas, meus cabelos rebeldes davam a impressão de
nunca terem visto um pente. Mas o que fez meu ventre retorcer, foi minha
boca. Meus lábios estavam vermelhos e inchados, e a pele do meu queixo,
vermelha pelo contato com a barba de Marlon.
A única certeza que tinha era que eu nunca havia sido realmente beijada.
Nem o beijo/amasso mais quente com Léo me deixara daquele jeito. Marlon
mal tocou meu corpo, aliás, ele não havia tocado nada que não fosse meu
rosto, e eu fiquei rendida feito uma adolescente com hormônios borbulhantes.
Eu estava completamente de quatro pelo meu guarda-costas.
•••
▪▪▪
CAPITULO 6
MARLON
Duro.
Assim fui dormir, assim acordei.
E a culpada disso tudo tinha nome e sobrenome: Cecília Bernardes.
Desde que deixei-a no quarto após o beijo para resolver alguns problemas de
segurança da mansão, esse evento ficou a espreita na minha mente.
Antes de fazer a troca noturna da segurança, bati no quarto dela avisando que
iria me recolher. Cecília vestia uma camisola rosa de cetim, tinha os cabelos
soltos e estava descalça quando abriu a porta.
— Estou indo me deitar. – falei, tentando não olhar para o corpo dela.
Cecília encarou fixamente minha boca, antes de me olhar nos olhos.
— Entre, Marlon. – ela ordenou.
Entrei, ficando parado no meio do quarto como se fosse um gigantesco
elefante numa sala de porcelanas. Cecília se encostou na porta fechada com
os olhos ainda em mim.
Olhei para o grande quarto perfeitamente decorado. O ambiente era
organizado e bem feminino. Meu corpo cansado, viu na cama king size um
convite. Precisava urgentemente de um banho, uma cerveja e um pequeno
alívio.
Alívio.
Minha mente voltou para beijo de manhã e nas sensações que senti durante o
ato, me fazendo cometer o erro de me virar para Cecília e descer os olhos
para o corpo dela.
Ela tinha a camisola marcada pelos mamilos e as bochechas coradas. Não era
exclusivamente minha estar com desejo.
Cecília endireitou o corpo, tentando, inutilmente, parecer mais alta, mas tudo
que ela conseguiu com isso foi deixar os seios mais empinados e meu pau
duro.
— Você tem alguma novidade? – ela perguntou baixo.
Foco, foco.
— As coisas ainda estão meio nebulosas. – respondi, sem querer entrar em
detalhes.
Ela deu dois passos, se aproximando.
— Marlon...
Cobri a distância entre nós dois, pensando em agarrá‐la e jogá-la na cama,
mas desisti no último segundo. Apenas passei o dedo de leve no ombro de
Cecília, descendo pelo braço, fazendo-a arrepiar.
— Marlon... – a maneira que ela falou meu nome foi a coisa mais sensual que
ouvi. Ou seria só meu ouvido superexcitado?
Não esperei mais nada, a puxei para mim devorando aquela boca num beijo
faminto. O gemido de prazer que Cecília soltou quando nossos lábios se
tocaram, reverberou dentro da minha calça.
Porra. Eu estava no meu limite.
Ela afastou a boca de mim, me empurrando gentilmente em direção a cama.
Eu não podia deixar aquilo acontecer. Não daquela maneira. Não com o tesão
absurdo que eu estava.
Quem mandava em mim? Meu pau ou meu cérebro? No momento? Meu pau.
Me sentei na cama, colocando-a no meu colo. As pequenas, mas ágeis mãos
tiraram minha gravata, jogando-a num canto qualquer do quarto. Sem
desgrudar minha boca da dela, me livrei do paletó, em seguida, ela arrebentou
os botões da minha camisa branca.
As finas alças da camisola escorregaram pelo ombros, me dando total acesso
aos belos seios de Cecília. Minhas mãos, automaticamente, foram em direção
a eles. Cecília perdeu o fôlego quando minha boca tocou o mamilo esquerdo.
— Ah... – foi tudo que ela conseguiu dizer quando minha língua tocou o pico
rosado.
Cecília se esfregava na minha ereção sem nenhum pudor. Com a mão direita
apertei a bunda dela, trazendo-a mais pra perto de mim. Com a esquerda,
peguei um punhado daquele cabelo sedoso, liberando acesso ao pescoço
delgado.
— Marlon... – ela choramingou quando passei a língua do lóbulo da orelha
até a clavícula, indo e voltando.
Deitei-a na cama, puxando a camisola pela cintura de Cecília, deixando-a
apenas de calcinha. Parei por um minuto e apenas observei. Ela tinha os
cabelos espalhados pelo lençol, as bochechas coradas e estava tão molhada,
que era visível na calcinha.
Ela tentou cobrir os seios, mas eu a impedi.
— Me deixa te olhar... – pedi.
Lentamente, ela desceu as mãos até o cós da calcinha, começando abaixá-la.
Meu pau se contorceu preso na cueca e eu sorri fazendo o resto do trabalho
para ela.
Porra. Cecília era linda. Tinha a pele completamente branca, mas era rosada
nos lugares certos.
Tirei minha camisa e me deitei sobre ela, beijando-a os lábios. Cecília
enroscou as pernas na minha cintura, agarrando meu cabelos. Gemi agarrado
a boca dela, deslizando os dedos pelas laterais do corpo esguio, sentindo os
arrepios e tremores de prazer.
Me levantei começando a depositar beijos no rosto dela, descendo pelo
pescoço, seios e barriga, até chegar no monte liso entre as pernas.
Cecília ficou tensa e arregalou os olhos.
— Tudo bem? – perguntei preocupado.
— É que eu nunca... – ela deixou a frase no ar.
Fui até os lábios dela e os beijei com carinho.
— Você quer continuar? – perguntei baixinho, olhando-a nos olhos.
Ela apenas balançou a cabeça lentamente confirmando.
—Preciso te ouvir, Cecília. – falei, me levantando.
— Continua. – ela respondeu meio tímida. – Por favor.
Meu coração atropelou uma batida.
Eu sorri, me ajoelhando entre as pernas dela. Cecília se apoiou nos cotovelos
para me observar trabalhar.
Beijei a parte interna das coxas dela, colocando-as sobre meus ombros e
mergulhei na carne macia e rosada, passando a língua no clitóris inchado,
fazendo Cecília apertar meu rosto entre suas pernas.
Minha mão direita subiu até os lábios entreabertos de Cecília, que os sugou
com os olhos fixos em mim.
Minha língua fazia caminho pelas dobras úmidas, arrancando gemidos
sensuais e pedidos de por favor cada vez que eu me afastava. Percebi que o
orgasmo estava próximo para ela e intensifiquei o ritmo da chupada.
Cecília se jogou na cama, puxando meu cabelo com uma mão e os lençóis
com a outra.
— Ah meus Deus... Marlon!
Não parei até que ela estivesse tremendo sob minha língua.
Na minha calça, meu pau tinha feito o trabalho sozinho. Eu tinha gozando
sem nem me tocar.
Cecília se encontrava num estado êxtase, com os olhos cerrados, ela
balbuciava coisas sem sentido.
Me deitei ao lado dela.
— Você está bem? – perguntei assim que ela virou de lado, ficando de frente
para mim.
Primeiro ela suspirou. Depois soltou o puta que pariu mais lindo que eu já
ouvi na vida. Rimos juntos. Então eu a puxei para meu braços e a beijei
lentamente.
Cecília estava quase dormindo quando eu me levantei.
— Aonde você vai? – ela perguntou com a voz rouca.
— Buscar uma toalha para te limpar e depois ir para o meu quarto. – respondi
indo para o banheiro.
Nunca tinha entrado ali. Havia uma infinidade de produtos de beleza na
bancada, uma bela banheira e uma pilha de toalhas brancas.
Catei uma molhando-a na água morna do chuveiro e voltei para o quarto.
Ela estava meio sonolenta, mas despertou por completo quando a toalha
tocou lhe a parte sensível da vagina.
— Doeu? – perguntei.
Cecília mordeu o lábio, balançando a cabeça negativamente.
Dei um sorriso sacana, beijando perto do umbigo dela.
— Tenho que ir. – falei pegando a camisola dela.
Ela me olhou abandonada.
— A gente não pode continuar? – Cecília perguntou.
— Seu pai pode voltar a qualquer momento. –juntei minhas roupas.
Cecília pegou minha mão. Por um momento eu quase toquei o foda-se e me
deitei ali com ela.
— Sua primeira vez tem que ser especial. – falei. – Não com tempo contado e
com a possibilidade de alguém interromper.
Ela riu.
— O quê?
— Minha primeira vez? – ela riu de novo.
— É, sua primeira vez. – falei sem entender. — Vai me dizer que você não é
virgem?
Ela balançou a cabeça.
— O que te fez pensar que eu era virgem?
Quase me enforquei com a gravata.
— Você disse que nunca havia feito...
— Sexo oral, Marlon!
Ela riu novamente. Agora uma gargalhada.
— Meu Deus, Cecília!!! – peguei-a no colo. – Eu quase morri tentando me
controlar para não meter em você.
Ela beijou minha boca inocentemente.
— Desculpa, Marlon.
— Com uma condição. Quero aquela calcinha pra mim. – falei, apontando
com o queixo para o pedaço de pano embolado no chão.
Ela desceu do meu colo, se abaixou sensualmente, pegou a calcinha como se
fosse algo ilegal e colocou a minha mão.
Cecília riu, colocando o dedo em triste sobre a boca. Assenti e me virei para
sair.
— Não está esquecendo nada? – ela perguntou.
Voltei para beijá-la.
— Sua arma, Sr. Torres. – Cecília apontou para o lugar onde eu deixara
minha fiel escudeira depois que tirei o paletó.
— Obrigado, senhorita Bernardes.
— Foi um prazer, Marlon. – ela falou de maneira séria fechando a porta e me
largando no corredor como de costume.
•••
Saí do quarto de Cecília meio trôpego. O caminho até a casa da piscina, onde
eu morava desde a volta dela, pareceu dez vezes mais longo. Tudo que eu
queria fazer era voltar para o aconchego dos braços da garota de camisola
rosa.
Cumprimentei o segurança que fazia a ronda, o da sala de monitoramento e
me tranquei no meu quarto.
Tirei as roupas rapidamente me enfiando na água fria no chuveiro. Fiquei um
bom tempo deixando a água escorrer pelo meu corpo e aliviar o tesão que
ainda me consumia. Não adiantou. Desliguei a água, me enrolei na toalha
indo para a cama. Entrei debaixo do lençol pelado mesmo.
Tentei fechar os olhos e dormir, mas eu só pensava em Cecília se
contorcendo na minha língua. Pensava na respiração pesada, nos gemidos e
gritinhos de prazer, nela chamando meu nome enquanto gozava.
Puxei o ar com força, estiquei o braço até o criado mudo e peguei a calcinha
dela. Senti o cheiro do prazer de Cecília e desci a mão para o meu pau.
Porra. Eu tinha dado um puta prazer pra Cecília, gozado na roupa e agora eu
tava ali com as bolas roxas de novo.
Envolvi a cabeça do meu pau com uma mão e estremeci. Com a outra alisei
todo o comprimento, antes de começar um intenso vai e vem.
Pensei nos lábios vermelhos e inchados, na pele branquinha ganhando um
intenso rubor a medida que o orgasmo a consumia, no doce gosto entre as
pernas dela.
Não precisei de muito. No segundo em que terminei de reviver na minha
memória o ápice do prazer de Cecília, eu gozei. Gozei sujando toda minha
mão e barriga. Gozei desejando que ela estivesse ali.
Peguei a toalha jogada no chão perto da cama, me limpei e caí no sono.
•••
O dia mal amanheceu e fui acordado por Moraes, um dos seguranças. Saí de
um sonho quente que me deixou de pau duro, para dar de frente com a cara
feia dele falando que tinha novidades.
Quinze minutos depois estávamos todos reunidos na sala de briefing.
Tinha chegado a informação de que a rota de fuga de Dr. Ivan fora passada
para os caras da facção que queriam a cabeça dele. E seria meu trabalho e de
Borges resolver isso.
Contra minha vontade, destaquei outro guarda-costas para fazer a segurança
de Cecília e me afundei no mapa da cidade a procura de rotas alternativas.
Minutos antes da hora rotineira da saída do promotor, tínhamos o caminho
ideal tanto para ida quanto para volta.
No trajeto de ida, tudo ocorreu dentro da normalidade. O problema aconteceu
faltando uma hora para o homem deixar o fórum.
Dr. Ivan recebera um envelope com diversas fotos, tanto dele quanto de
Cecília.
Isso deixou o promotor branco feito um papel. E me deixou com muito,
muito ódio.
Fotos dela entrando no prédio da escola de moda, no shopping, fazendo ioga
no terraço, de biquíni na piscina.
Além do dizer: “ VOCÊ SABE QUE ESTAMOS DE OLHO.”
Ivan começou a juntar as coisas, querer ir embora, ligar para Cecília afoito.
Mas eu o parei.
— Calma, Dr. – falei, ligando para o chefe da segurança da casa na minha
ausência.
Depois de alguns minutos, repassei a informação de que estava tudo tranquilo
na mansão, que poderíamos ir embora pela rota combinada e quando
chegasse em casa, decidiríamos os próximos passos.
Revisamos o esquema de saída e fomos em direção ao carro blindado. O
segundo grupo de seguranças já estava a postos, verificando o perímetro.
Borges dirigia atento, eu estava ao lado dele, com a arma pronta para ser
usada debaixo da perna.
Antes de chegarmos em casa, Dr. Ivan pediu que a nova ameaça ficasse
apenas entre a gente. Assentimos, pois era mais do que questão de manter o
emprego, era questão de vida ou morte.
▪▪▪
CAPITULO 7
CECILIA
Literalmente, de um dia para o outro a segurança aumentou
exponencialmente, fazendo o número de homens pela propriedade triplicar.
No dia anterior, meu pai e todos os seguranças se trancaram no escritório por
horas, me deixando por fora de todo e qualquer assunto.
Na hora do jantar, eles ainda estavam lá, me restando comer na companhia de
Rosa e Kevin, o segurança que Marlon havia designado para mim.
Assim que a reunião terminou, todos os seguranças foram para seus postos e
meu pai direto para o quarto, alegando dor de cabeça.
O clima estava pesado, e obviamente alguma coisa havia acontecido.
Fui tomar banho enquanto esperava Marlon aparecer para substituir o outro
guarda-costas. Aguardei por quase uma hora e nada dele.
Vesti um robe, abri a porta e perguntei a Kevin onde estava Marlon.
— Está na sala de briefing, senhorita.
Assenti e fui me encaminhando para lá, sendo seguida por Kevin.
— Tá tudo bem. – falei quando ele começou a me seguir. – Pode ir descansar.
— Senhorita...
— É uma ordem, Kevin. – fui firme.
Eu odiava ficar dando ordens a eles, mas as vezes as coisas só funcionavam
assim.
Kevin assentiu e foi para o alojamento construído unicamente para os
seguranças, do lado oposto à casa da piscina.
Um homem alto, fortemente armado fumava perto da entrada. Quando me
viu, ele se assustou.
— Senhorita.
— Boa noite. Marlon está? – perguntei.
— Sim, – ele respondeu – ele subiu pra o quarto.
— Posso? – questionei.
— Claro. – o homem arregalou os olhos, abrindo a porta para mim.
Lá dentro tinha mais três seguranças, também armados, sentados olhando
para uma parede de televisores de onde se via toda a movimentação da casa.
— Ei!? – o cara da porta chamou a atenção deles.
Eles se voltaram para mim, ficando todos de pé.
— Boa noite. – falei educadamente.
Os homens responderam meio sem jeito.
— Marlon? – falei apontando para as escadas.
— Segunda porta a esquerda. – o segurança careca respondeu.
— Obrigada. – falei, subindo os degraus com o coração acelerado.
Fiquei de frente para a porta branca, e vi que por baixo dela a luz estava
acessa. Bati duas vezes e esperei.
Marlon demorou um pouco para abrir, mas quando o fez eu tive a visão do
paraíso. Ele estava enrolado na toalha, com o corpo cheio de gotículas de
água.
— Cecília? – o semblante dele estava sério. – Aconteceu alguma coisa?
— Eu que deveria fazer essa pergunta. – apertei ansiosamente o laço do robe.
– Posso entrar?
— Claro. – ele abriu mais a porta. – Desculpa, é que eu não esperava ver
você por aqui.
— Quer que eu vá embora? – perguntei, enquanto esquadrinhava o quarto
minimalista e neutro do meu segurança.
— Não. – Marlon falou rápido demais. – Não. Eu tinha acabado de entrar no
chuveiro.
Olhei com desejo para o corpo dele, assenti e sorri.
— Você se importa de esperar? – ele perguntou, tampando a toalha na região
da virilha.
— Claro que não. – me sentei na cama dele, cruzando as pernas. – Vai lá.
— Não demoro. – Marlon correu para o banheiro, deixando a porta
encostada.
Esperei ele ligar o chuveiro para começar a observar direito o ambiente.
Não tinha nada pessoal avista. A única coisa que indicava que era um homem
que dormia ali, era a roupa de cama azul marinho.
Olhei o travesseiro e não resisti. Puxei um até o nariz e respirei fundo,
absorvendo aquele perfume masculino delicioso. Apenas o cheiro do tecido
era suficiente para me deixar quente.
Ouvi Marlon desligar o chuveiro e rapidamente devolvi o travesseiro para o
lugar, fingindo que nada tinha acontecido.
— Demorei? – ele perguntou, indo em direção ao guarda roupa embutido.
— Não. – respondi distraidamente.
Puxei as pernas para cima da cama, observando ele escolher uma calça de
moletom cinza. Nenhuma camisa.
Marlon que estava de costas para mim, deu uma olhadinha por cima do
ombro e soltou a toalha da cintura.
Juro que pude ouvir uma risadinha quando eu resfoleguei.
Ele vestiu a calça de uma maneira tipicamente masculina e sexy.
Cueca? Não temos.
Eu era uma mera espectadora. Via Marlon andar de um lado para o outro
fazendo o que ele tinha que fazer com um desejo contido.
Quando ele finalmente parou, eu mal lembrava o que tinha ido fazer ali no
quarto dele.
— Então, a que devo a honra? – Marlon perguntou se sentando na minha
frente.
Mudei de posição, sentando em cima das pernas, sem tirar os olhos daquele
corpo bronzeado.
— Você sumiu o dia todo. – falei quando consegui olhar pro rosto dele.
— Eu estava resolvendo questões de segurança.
— Aconteceu alguma coisa? – meu coração apertou.
Marlon brincou com meus dedos, e nós dois abaixamos os olhos para eles.
Um simples toque me fazia querer agarrá-lo.
— Não. – ele respondeu depois de um tempo. – Amanhã eu volto pra você.
Meu coração quase parou. Como assim volta pra mim?
Lambi os lábios instintivamente. Marlon captou a mensagem. Ele se
aproximou, tocando meu rosto com as costas das mãos. A boca roçou de leve
a minha e eu capturei o lábio inferior dele com os dentes.
Envolvi os braços no pescoço dele, intensificando o beijo. Marlon mudou de
posição e eu também. Me deitei, trazendo-o pra cima de mim.
A fenda do meu robe se abriu e minha camisola subiu, dando a ele espaço
suficiente para trabalhar como quisesse em mim.
Já sentia o pau dele duro se esfregando contra com minha calcinha. Aquilo
era muito bom, mas eu precisava dele dentro de mim.
— Marlon... – falei rouca.
Em resposta, ele tornou o beijo feroz. Puxou minha coxa para a cintura,
passou os dentes pelo meu pescoço e com a mão livre, abriu meu robe.
— Tão cheirosa... – Marlon falou enfiando o nariz no meu pescoço e cabelo.
— Marlon? – chamei.
— Hum? – ele beijava todo meu colo e começava descer para os seios.
— Quero você dentro de mim.
Marlon estacou, me olhando intensamente. Aquele olhar molhou minha
calcinha e muito provavelmente, a calça dele.
— Cecília... – ele começou.
— Eu não aguento mais ficar na vontade. – reclamei.
Ele ainda me encarava. Acho que ele decidia se ia em frente ou não.
— Se você estiver preocupado com os outros seguranças lá embaixo, eu
posso prometer que não vou gritar.
Ele riu, passando a mão pelos cabelos.
— Uma rapidinha. – insisti. – Eu gozo, você goza, depois eu vou pro meu
quarto.
— Eu não consigo parar de pensar em você, Cecília.
Meu coração me traiu, batendo descompassado.
— Eu quero uma noite inteira com você. – ia protestar, mas ele me impediu.
– Mas eu vou me contentar com uma rapidinha.
Eu queria gritar!!!
Comecei a tirar a roupa, mas ele falou:
— Tira apenas a calcinha.
Marlon foi até o criado mudo, pegando uma camisinha e vestindo-a. Ele
abaixou a calça suficiente para expor o pau e se deitou em cima mim, me
beijando enquanto dois dedos me tocavam lá embaixo. Estava pronta pra ele
desde quando eu cheguei naquele quarto.
Ele me olhou pela última vez, sério, meio que pedindo uma confirmação e eu
assenti.
Marlon se ajoelhou entre minha pernas arreganhadas, se pondo bem na
entrada da minha boceta. Pincelou aquele lugar úmido algumas vezes, me
fazendo contrair de tesão.
— Marlon... – implorei.
Ele sorriu, introduzindo aquela cabeça enorme em mim.
Puta que pariu.
Eu não era virgem, mas Marlon me fez sentir como se eu nunca tivesse tido
um pau dentro de mim. Mas pensando bem, eu nunca tinha tido um pau
daquele tamanho nem na imaginação.
— Você vai me partir ao meio, Marlon. – falei.
Ele gargalhou.
— Quer parar?
— Pelo amor de Deus, não.
Eu não transava desde a antes da viagem e isso foi há séculos. Estava apenas
desacostumada e ainda tinha um grande exemplar no meio das pernas.
— Eu vou devagar. – Marlon afirmou e eu neguei.
— Não. Forte e rápido.
— Cecília.
— Que se dane se eu não vou conseguir nem andar amanhã, Marlon.
Ele quis retrucar, mas eu continuei:
— Me come, Marlon.
E foi o que ele fez. Forte, rápido, grande e grosso.
Eu ia me arrepender, e muito, amanhã? Sim.
Marlon deslizava para dentro de mim com mais facilidade agora, mas isso
não me impedia de sentir um pouco de dor.
Enlacei as pernas na cintura dele, me entregando àquele prazer absurdo. Ele
estocava relativamente forte, arrancando gritinhos de mim.
— Xiii... – ele colocou a mão sobre minha boca.
Marlon se aproximou do meu ouvido, sussurrando coisas sexies para me
incentivar a gozar, enquanto levava uma mão para o meio das minhas pernas.
— Cecília, eu não vou durar muito mais. – ele falou entre dentes.
E nem precisava, pois no segundo seguinte que ele falou isso, eu gozei.
Marlon soltou um gemido abafado no meu pescoço e soltou todo o peso em
cima de mim.
Ele ainda tinha pequenos espasmos e minhas pernas enroladas nele. Minhas
mãos subiam e desciam pelas costas malhadas e suadas do meu guarda-
costas.
Marlon me beijou e se levantou, mas eu segurei a mão dele.
— Hoje não. – falei e ele me olhou sem entender. – Não quero ser limpa hoje,
Marlon.
Ele mal acreditou no que ouviu. Eu me levantei, amarrando meu robe e
ajeitando meu cabelo.
Fiquei na ponta dos pés, beijando intensamente.
— Até amanhã. – falei saindo do quarto, ciente de que tinha deixado em cima
da cama outra calcinha para a coleção dele.
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CAPITULO 8
CECILIA
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CAPITULO 9
CECILIA
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CAPITULO 10
IVAN
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CAPITULO 11
MARLON
Sábado acordamos cedinho e fomos para outra cachoeira. Essa era mais
distante e consumiu quase duas horas da parte da manhã. Passamos o dia todo
no pequeno balneário, voltando no finzinho da tarde, quando a temperatura
começou a cair.
Cecília olhou no celular e viu que na cidadezinha ao lado estava tendo festa
da padroeira e lá fomos nós, dessa vez acompanhados pelos dois seguranças.
A igreja se encontrava na única pracinha do lugar e era bem maior que do que
da Serra do Cipó.
Chegamos lá por volta das oito e meia da noite e para minha surpresa, estava
cheio. Havia diversas barracas que vendiam todo tipo de comida: pastel,
caldos, churrasquinho, feijão tropeiro, macarrão na chapa, sanduíche de
pernil e muita variedade de bebidas.
Uma banda local tocava umas músicas sertanejas, deixando o ambiente mais
animado.
Cecília se divertiu bastante, assim com o eu. Evitamos um contato mais
íntimo, mas quem olhasse percebia que estávamos juntos.
Não demoramos muito pela cidade, pois teríamos que descansar para pegar
estrada de volta para BH logo após o almoço no dia seguinte.
Cecília bebeu quentão pela primeira vez na vida e ficou um pouco saidinha.
Já no carro, em movimento, ela tirou o cinto, se debruçou sobre meu colo e
me chupou alucinadamente. Tive que usar toda minha concentração, para não
perder o controle do automóvel enquanto Cecília fazia o que bem entendesse
com meu pau.
Eu gostava daquela Cecília, selvagem e sem pudor. Gostava de ver ela
relaxada, despreocupada, e acima de tudo, feliz.
Tão logo entramos no quarto, Cecília tirou toda a roupa e se deitou na cama.
As bochechas afogueadas denunciavam o nível de desejo que a consumia,
enquanto eu ficava pelado e me deitava sobre ela.
— Me ame, Marlon. – Cecília pediu quando afastei meus lábios do dela.
E foi o que eu fiz. Fiz amor com ela lenta e apaixonadamente, dedicando todo
meu tempo em venerar o aquele corpo alvo e esguio. E quando o prazer dela
alcançou o ápice, eu a trouxe para os meus braços, como se a protegesse.
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•••
Cecília dormia tão calmamente que me deu até pena saber que aquela paz
estava no fim. Dali a algumas horas estaríamos em casa de novo e toda
aquela pressão voltaria.
Juntei minhas coisas, guardando-as na bolsa e me sentei na cama ao lado de
Ceci. Peguei o celular e fiquei vendo as fotos que eu havia tirado dela.
Ela sorrindo em cima de uma pedra, ela molhada se secando ao sol, ela de
camisola rendada, nós dois.
Eu tinha me deixando envolver e isso nunca acontecia. Nunca tinha ido pra
cama com nenhuma cliente desde a criação da empresa, por mais que o
desejo quisesse falar mais alto. Já havia dormido com mulheres muito mais
bonitas que a menina que dormia ao meu lado. Mas nenhuma delas havia
mexido com meu coração do jeito que Cecília mexia. Não sei se era a falta de
experiência ou o jeito atrevido de ser, mas algo nela havia me capturado. E eu
não sabia se poderia ou queria escapar.
Ela se remexeu ao meu lado, abrindo os olhos e sorrindo. Esse pequeno
gesto, fez meu coração errar uma batida.
— Oi. – Cecília falou baixinho.
— Oi. – respondi passando os dedos pela marca do travesseiro que havia
ficado no rosto dela. – Pronta pra ir embora?
Cecília fez uma carinha triste e fechou os olhos.
— Queria comprar uma casa e ficar aqui pra sempre.
Sorri. Eu entendia e também queria ficar nessa lua de mel para sempre.
— Você quer que eu te ajude a guardar suas coisas? Temos vinte minutos até
o check-out. – falei olhando o relógio no meu pulso.
— Aham... – ela respondeu se espreguiçando.
Me levantei indo até o banheiro e pegando as poucas coisas dela que estavam
ali. Quando eu voltei, Ceci calçava o tênis. Juntamos tudo rapidamente,
demos uma última conferida no quarto para ver se não havíamos esquecido
nada e saímos.
Pegamos um trânsito relativamente leve por conta da hora que a gente saiu.
Cecília ligou o som do carro e cantarolava junto as músicas conhecidas.
Quase três horas depois, entramos no condomínio de luxo. Minutos antes, eu
havia ligado para Farah para confirmar se estava tudo ok por lá e o meu braço
direito confirmou.
— Por que você ligou antes? – Cecília quis saber.
— Por precaução. – respondi enquanto esperava o portão automático abrir. –
Farah, o homem pra quem eu liguei, tem sempre que está a postos e me
atender. Se isso não acontecer, eu sei que tem alguma coisa errada.
— Coisa errada? – senti ela estremecer ao meu lado.
— Minha missão é protegê-la a qualquer custo, Cecília. – falei estacionando
o carro na garagem. – Seu pai me pediu isso.
Segurei a mão dela.
— E mesmo que ele não tivesse pedido, eu faria isso.
Ela piscou algumas vezes e sorriu.
— Obrigada, Marlon.
— É um prazer, Cecília.
Não tive tempo de dizer mais nenhuma palavra, pois Dr. Ivan já estava do
lado de fora pronto para mimar a tão amada filha.
Saí do carro para pegar a mala dela e levar até o andar de cima.
Tatiana que estava sentada na sala, ficou olhando enquanto eu passava por ela
e subia as escadas.
Passei rapidamente na cozinha para cumprimentar Rosa que já preparava um
cheiroso risoto de camarão para o jantar.
— Volta pra comer, menino. – ela falou quando saí para buscar minha mala e
ir para casa da piscina.
Mal entrei no meu quarto e Mathias já estava colado na minhas costas com
duas garrafas de cerveja.
— Vai desembuchando Torres. – ele me entregou uma cerveja e se sentou na
minha cama. – Quero saber tintim por tintim da sua pegação com a filha do
promotor.
Suspirei e falei:
— É uma longa história. A gente vai precisar de mais que uma cerveja.
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CAPITULO 12
CECILIA
“Ainda acordada?”
“Esperando por um beijo de boa noite."
“Em um minuto chego aí.”
“A porta está destrancada.”
Meu coração se acelerou em antecipação. Nem parecia que havia passado três
dias praticamente colada naquele homem.
Como eu já estava preparada para dormir, apenas a luz pálida do abajur
iluminava suavemente o quarto.
Eu o senti antes mesmo dele chegar. Tanto a presença, quanto o perfume. Um
perfume aconchegante, mas ao mesmo tempo selvagem. Um aroma de
liberdade e frescor. Um cheiro de homem. O cheiro de Marlon.
Ele entrou furtivamente no quarto. Não usava terno. Vestia uma camisa
estampada e calça de moletom.
— Trouxe seu beijo. – Marlon falou se aproximando da cama.
Afastei as cobertas, convidando-o a deitar comigo.
— Esses dias me deixaram muito mal acostumada. – falei me pendurando
nele.
Marlon me puxou para o colo, enfiando o nariz no meu pescoço.
— Você podia começar a fazer a minha segurança de dentro do quarto. –
comentei passando os dentes pelo queixo dele. – Mais precisamente, daqui da
minha cama. Agarradinho em mim.
Ele deu uma risada rouca que me fez arrepiar.
— Adoraria fazer isso. – ele me beijou de leve. – Mas acredito que quem me
contratou não ia ficar nem um pouco feliz.
Quando Marlon falou isso, eu congelei. Em nenhum momento passou pela
minha cabeça que meu pai não fazia ideia daquilo que meu guarda-costas e
eu tínhamos, seja lá o que aquilo fosse.
— O que aconteceu, Ceci? – Marlon interrompeu os beijinhos.
— Meu pai. – respondi olhando para ele. – Ele não faz ideia da gente.
Marlon riu.
— Talvez ele queira me matar quando descobrir, mas tudo bem.
— No caso, ele me mataria. – Marlon respondeu. – Na mente dele nunca
passaria que a bela filha é uma destruidora de corações. E, logicamente,
colocaria toda culpa no pobre e ingênuo guarda-costas. – ele fez uma cara de
vítima.
Mordi o lábio inferior dele e rebolei sobre uma discreta ereção.
— Bobo.
Marlon deu um sorriso torto, sua marca registrada.
— Agora um assunto sério. – falei. – Essa semana minhas aulas presenciais
voltam. Serão apenas duas vezes.
Marlon assentiu e eu continuei.
— Era para ter te avisado na sexta, quando eu recebi o email, mas eu esqueci.
— Tudo bem. – Marlon se deitou me trazendo sobre ele. – Agora, vamos
dormir que amanhã você tem que levantar cedo.
Me levantei o suficiente para encará-lo.
— O quê? – ele perguntou.
— Mandão. – resmunguei.
— Linda. – ganhei um beijo nos lábios e um tapa na bunda.
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CAPITULO 13
CECILIA
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CAPITULO 14
IVAN
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CAPITULO 15
TATIANA
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Atravessei a cidade, chegando onde Roger morava uma hora e meia depois de
sair do shopping. Ele vivia em um condomínio relativamente simples, sem
chamar muito a atenção. Não era de extravagâncias, sem carro, roupas ou
artigos de luxo. Até porque um homem da posição dele, não podia se
permitir se observado ou investigado. Ivan havia chegado a Roger, mas não
fazia ideia do nome ou da identidade dele. Eu era uma espécie de espiã e
adorava esse papel.
Depois de ser liberada na portaria, segui para a última casa do condomínio.
Havia alguns jardineiros cuidando das plantas na entrada do imóvel, mas tudo
de fachada, eles não passavam de homens de Roger que faziam sua
segurança. Os homens acenaram com a cabeça quando passei por eles e entrei
na casa.
Um homem, discretamente armado me acompanhou até Roger. Ele estava no
escritório e bebia um uísque duplo, parecendo um pouco irritado com algo.
— Oi, meu amor. – falei indo em direção a ele, do outro lado da mesa.
— Oi. – ele foi seco e desviou do beijo que iria depositar nos lábios dele.
Recuei ressentida, olhando de rabo de olho para o guarda-costas de dois
metros de altura no canto do ambiente.
— Você disse que daria conta do serviço. – Roger se levantou, trazendo
consigo o copo de uísque. – Era só um pequeno toque na traseira do carro da
garota e boom... Teríamos o promotor nas mãos. Mas nem isso aqueles
idiotas que você contratou conseguiram fazer.
Ele estava próximo e eu sentia a raiva emanar dele. Engoli seco, nunca sabia
o que se esperar de Roger. Ele podia parecer bravo e te fazer um carinho,
quanto podia aparentar calma e ser todo sorrisos e lhe enfiar a mão na cara.
— Você me decepcionou, Tatiana. – Roger passou as mãos pelos meus
cabelos. – Nunca pensei que uma coisa tão simples poderia ser tão complexo
pra você.
Ele deu um pequeno tranco no meu pescoço, o suficiente para mostrar que ele
estava puto da vida, eu era o motivo e sofreria as consequências. Coisa que
eu mais temia.
— Me descul... – tentei falar, mas ele me falou fazendo um xiii no meu
ouvido.
— Qual é meu lema, meu amor? – a voz dele era suave, doce.
— Um acerto, uma recompensa; um erro, uma punição. – respondi o mantra
que aprendi com a dor.
Recebi um beijo no pescoço, ficando toda arrepiada.
— Você é tão linda... – Roger falou, fazendo um gesto para o homem de pé
no canto da sala, que apenas se virou de costas.
Senti os dedos de Roger tocarem o paletó do meu terninho é descê-lo pelos
meus ombros. Ele o jogou na cadeira de couro dele e logo me debruçou sobre
a mesa de madeira maciça, se ajoelhando atrás de mim e subindo minha saia
até a cintura. Gentilmente, Roger desceu minha calcinha, colocando-a na
minha boca.
— Sem escândalo, meu amor. Hoje temos visitas. – ele falou no meu ouvido
enquanto abria o cinto e desabotoava a calça.
Sem aviso, ele entrou em mim, fazendo um gemido escapar dos meus lábios.
Recebi um tapa na nádega esquerda em punição.
— Vamos ter que mudar a tática, Tatiana. – Roger conversava calmamente,
como se estivesse em uma reunião séria e não me comendo com a maior
vontade do mundo. – Algo que eu já tinha pensado antes.
Gemi em resposta. Foda-se o plano, quero gozar, pensei.
— Sequestro era o que eu tinha em mente. – Roger conjecturou com a voz
entrecortada pelas estocadas que me dava.
Resmunguei para ele ir mais rápido.
— O quê? Você concorda? – ele continuava o monólogo. – Sabia que você
iria concordar, meu amor.
Um tapa na nádega direita.
— Vamos ter que dar um jeito naqueles idiotas que você contratou.
Um tapa pelo meu erro, um gemido em resposta.
— Sim, é você que vai resolver isso. – ele falou como se eu tivesse
perguntado algo.
Eu estava quase lá e ele sabia disso. Roger intensificou as metidas, se
deitando parcialmente sobre mim. Ele gemia na minha orelha, falando
sacanagens de todos os tipos, coisas que eu amava ouvir na hora da foda até
que ele gozou e eu fui junto.
Alguns minutos se passaram até que ele saiu de dentro de mim, se arrumando
como se nada tivesse acontecido a segundos atrás. Ainda estava meio mole
por conta do orgasmo quando passei com a bunda totalmente de fora pelo
segurança de Roger para chegar ao banheiro do escritório.
Me limpei rapidamente, arrumando minha roupa e meu cabelo, voltando para
mais instruções sobre como proceder dali pra frente.
— Você saberá quando acontecer. – foi tudo que Roger disse. Com isso, eu
sabia que estava dispensada por hoje.
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CAPITULO 16
MARLON
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Eu entendia cada palavra do que ela queria me dizer. Ela não queria ser uma
boa garota hoje a noite e eu iria realizar o desejo dela.
— Vamos embora? – sussurrei no ouvido dela. – Preciso entrar em você,
senão vou explodir.
O sorriso dela aumentou e uma mão desceu até meu pau. Cerrei o maxilar.
Essa menina ia me matar se continuasse desse jeito.
— Vamos embora, Sr. Torres. – ela respondeu com as bochechas coradas.
CAPITULO 17
CECILIA
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CAPITULO 18
CECILIA
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CAPITULO 19
MARLON
Uma paz dominava meu corpo. Minha mente estava leve e eu parecia flutuar
no espaço. Nada de dor, problemas ou tiros. Apenas eu e minha nuvem de
tranquilidade, como num sonho bom.
Sonhei com um anjo que já povoava minha imaginação há tempos. A pele
clara, num vestido branco. O calor e o perfume do meu anjo me inebriava.
Meu lindo anjo de cabelos longos.
— Marlon? – o anjo me chamou.
“Estou aqui, meu amor", respondi, mas minha voz não se tornou audível.
A névoa de calmaria me jogou novamente no meu mundo perfeito e eu desisti
de me fazer ser ouvido.
Ouvi meu anjo ressonar encostado em mim, me aquecendo com suas
pequenas mãos.
— Cecília? – alguém chamou.
Seria esse o nome do meu anjo?
— Filha? Você está bem? – a mesma voz voltou a perguntar.
— Pai? – meu anjo respondeu, começando a chorar.
Névoa e mais névoa. E nada do meu anjo.
— Sr. Torres? – alguém me chamou tocando onde meu braço latejava.
Sem meu anjo por perto eu não flutuava, apenas sentia dor.
— Sr. Torres, hora de acordar.
Senti algo queimar minhas veias, se espalhando pelo meu corpo, me tirando
numa velocidade assustadora do torpor.
— Sr. Torres? Está com a gente? – um homem grisalho numa roupa verde,
perguntou.
Olhei para a luz que ele apontava diretamente para os meus olhos, seguindo-a
para ambos os lados.
Agora já não existia meu mundo dos sonhos, eu estava completamente
desperto e na vida real.
Tudo o que eu lutava para esquecer, voltou de uma só vez. Dor, problemas,
tiros.
Cecília.
— Onde ela está? – questionei com a voz ainda rouca por ficar tanto tempo
calado, tentando me levantar.
A enfermeira que fez os primeiros atendimentos em mim, tocou meu ombro
bom me obrigando a continuar deitado.
— A mocinha está lá fora com o pai. – a mulher respondeu. – O senhor tem
que ficar deitado por mais um tempo, bonitão.
— Mas eu preciso... – comecei a falar, mas ela me interrompeu.
— Tudo que o senhor precisa agora é continuar aí nessa cama, relaxando. – a
enfermeira olhou meu soro que pingava rapidamente. – Te dei um sedativo,
pois o senhor estava muito estressado. Assim que o soro terminar, venho te
dar alta.
— Obrigado. – falei sem saber o que dizer.
— Às ordens, bonitão. – ela me deu uns tapinhas na coxa. – Agora vou
buscar sua namorada.
— Ela não é minha namorada. – respondi, sem saber o por que da mulher ter
dito aquilo.
— Se ela não é sua namorada, então acabo de concluir que o senhor não
passa de um rostinho bonito. – ela colocou as mãos na cintura. – Não tem
nada nessa cabeça.
A mulher disse isso e saiu, me largando sozinho na enfermaria.
Minutos depois Cecília apareceu. Ela quase correu quando me viu de olhos
abertos, encarando a porta aberta.
— Marlon! – ela quase gritou, se jogando sobre meu corpo.
Reprimi um gemido e a abracei, sentindo o cheiro do perfume dela. O cheiro
do meu anjo.
— Eu fiquei tão preocupada por que você não acordava. – Ceci falou com a
voz meio abafada por estar colada ao meu peito.
— Recebi uma dose cavalar de sedativo. – respondi, acariciando os cabelos
dela, que ainda estava com minha jaqueta. – A enfermeira falou que eu estava
muito estressado.
Ceci riu.
— Uma pilha de nervos. – ela comentou.
— Não era pra menos, meu amor.
O semblante dela se fechou.
— Não quero nem me lembrar.
— Mas isso não pode ficar assim, Cecília. Isso está passando dos limites.
— Marlon. Por favor. – ela pediu.
Ouvimos passos no corredor e nos viramos para a porta vendo a tropa chegar.
Dr. Ivan, Tatiana, Mathias, Mike e o outro segurança, Ramon, adentravam a
enfermaria.
Ivan foi o primeiro a falar.
— Como você está, Torres? – ele perguntou olhando com atesta franzida para
Cecília que ainda se encontrava sentada na cama, segurando minha mão do
braço bom.
— Bem, Dr. Ivan. Obrigado.
— Que bom que o senhor está bem, senhor Torres. – Tatiana falou pendurada
no braço de Ivan.
Eu assenti, forçando um sorriso.
Mathias me deu um olhar rápido e eu entendi que ele queria falar comigo.
Mike também estava ligado no que acontecia, tomou a frente.
— Senhoritas, doutor, posso ter um momento a sós com meu amigo? – o
safado com a cara mais lavada perguntou.
Dr. Ivan assentiu e saiu levando Tatiana que me fuzilou com os olhos antes
de se virar e ir embora.
Apertei a mão de Cecília, que tinha os dedos entrelaçados aos meus e ela
desceu da cama.
— Em casa a gente conversa. – ela sussurrou no meu ouvido, me arrancando
um arrepio com a duplicidade da ameaça dela.
Tão logo Cecília saiu, fui rodeado pelos homens.
— Me conta o que aconteceu. – pedi olhando diretamente para Mike.
Ele havia tomado o lugar de Cecília e se sentado na cama, só que mais
próximo ao meu pé.
— Perseguimos o carro até a rodovia. Mas a demora para começar a ir atrás
deles, nos impediu interceptá-los.
Levei a mão esquerda a ponte do nariz e apertei.
Puta que pariu.
Eles sempre estavam a um passo a nossa frente. Sempre mais ágeis,
inteligentes e espertos que a gente.
— Mas, – Mike continuou. – eu consegui alguma coisa com as câmeras de
segurança da boate.
Abri os olhos, com meu coração palpitando.
— Me fala que é alguma coisa boa.
— A marca do veículo e uma parcial da placa, que muito provavelmente é
fria.
— Mas já é um começo. – Mathias correu para responder quando viu o
desânimo voltar para o meu rosto.
Olhei para o soro, que havia acabado e me sentei com as pernas para fora da
cama.
Perguntei onde estava a enfermeira e se já não era hora da minha alta e como
se fosse por telepatia, ela apareceu.
— Já está querendo se livrar de mim, bonitão? – a mulher que eu não
lembrava o nome perguntou.
Dei um sorriso torto.
— Uau, quanto amigo bonitão que o senhor tem. – ela tirou meu soro e
colocou um algodão para estancar o pequeno sangramento. – Algum solteiro?
— Todos solteiros. – respondi descendo da cama e ficando de pé. – A
senhora pode escolher.
Ela gargalhou.
— Está com tontura? – agora a mulher falou sério.
— Não. – testei dar alguns passos. – Tudo ok.
— Que ótimo. Vou assinar sua alta.
— Só preciso de uma camisa. —falei.
Assim que cheguei no pronto atendimento, meteram a tesoura na minha
camisa para facilitar o acesso ao ferimento. Minha jaqueta estava com Cecília
e não passava na minha cabeça pedi-la de volta.
Ainda estava avaliando as minhas possibilidades, quando Mathias tirou o
paletó e desabotoou a camisa branca, passando-a para mim.
— Nós temos o mesmo corpo, chefe. – ele falou me entregando a peça,
ficando apenas com a regata branca que usávamos por baixo.
Agradeci e me tentei me vesti. Mike vendo a minha dificuldade, me ajudou
dobrando os punhos da camisa até o cotovelo.
Não tive e nem teria tempo de pensar naquele ferimento incômodo no alto do
braço. Tudo que eu queria era ir para casa, beber uma Coca-Cola e dormir
agarrado em Cecília.
A enfermeira me entregou o papel da alta que era necessário para que eu
deixasse o hospital, me desejou melhoras e marcou o dia para que eu voltasse
para a retirada dos pontos.
Na sala de espera, Cecília estava sentada mais afastada do casal, com uma
carinha de cansada, mas quando ela me viu, abriu o sorriso mais lindo do
mundo.
Ceci se levantou e correu até mim, me abraçando pela cintura, devolvi o
abraço, recebendo olhares de Ivan e Tatiana.
— Vamos embora? – perguntei no ouvido dela, que assentiu.
— Tá liberado, Torres? – Ivan perguntou.
— Sim, senhor.
— Então vamos pra casa. – ele levantou, rebocando Tatiana que estava com
cara de poucos amigos. — Ceci, vamos meu amor?
— Eu vou com Marlon pai. – ela respondeu calmamente ficando parada ao
meu lado.
— Mas ele não vai conseguir dirigir.
— Eu tô bem, senhor. – respondi. – E o carro é automático, não vou precisar
de forçar o braço.
Ivan ia começar a discutir, quando Mathias intrometeu.
— Eu dirijo. – meu fiel escudeiro falou. – Ramon leva o outro carro e deixa
Mike na boate antes de ir para casa.
Mike estava no celular, um pouco mais afastado do grupo.
— Não se preocupem comigo. – ele apontou para o celular. – Minha carona
chegou.
Cecília sorriu e apertou minha mão.
—Então, vamos. – ela falou.
Saímos pela portaria, onde deixei o papel da alta e chegamos no
estacionamento frio. Deveria ser umas quatro horas da manhã.
Cumprimentei Mike, agradecendo e falando que entraria em contato com ele.
— Aqui é família, irmão. – ele respondeu e saiu em direção ao grande carro
branco que o esperava. Não tinha nenhuma dúvida que era alguma das
mulheres que ele pegava.
Dr. Ivan entrou no carro dele, onde Borges ficou esperando durante todo
tempo, levando Tatiana junto.
Ceci e eu sentamos no banco de trás do Audi, com Mathias na direção.
Saímos em comboio pela madrugada em direção ao condomínio, com Ramon
fechando a fila.
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CAPITULO 20
TATIANA
Tão logo saí da casa de Ivan no dia seguinte aos tiros, recebi uma ligação de
Roger. Eu estava a caminho do escritório, quando meu celular tocou e era ele,
falando que queria me ver. Tremi, óbvio.
Passei direto pela porta do prédio de dez andares onde ficava o meu escritório
de advocacia, pegando a grande avenida que seguia em direção ao
condomínio de Roger. Como eu bem conhecia, ele não gostava de esperar.
Costurei por entre os carros, indo no limite máximo da velocidade permitida
da rodovia, me segurando para não acelerar mais.
Depois do que havia acontecido ontem, eu temia por uma reação exagerada
de Roger.
Com quase pouco mais da metade do tempo, eu estacionei em frente à casa
do meu amante. Novamente, os falsos jardineiros estavam lá, cuidando de um
jardim impecável. Passei por eles apreensiva, sendo completamente ignorada
e segui um dos capangas fortemente armado de Roger até o escritório.
Já tinha me acostumado com o silêncio dos homens, mas hoje a falta de
expressão nos rostos deles me causava arrepios agourentos.
O homem bateu na porta e esperou para ir eu fosse autorizada a entrar. Eu
torcia os dedos e secava minhas mãos suadas a cada dez segundos. A
ansiedade me consumia por dentro, mas por fora eu me mantinha a fachada
serena.
Depois do que pareceu uma eternidade, Roger falou de dentro da sala:
— Pode entrar.
A voz dele não demonstrava nenhum tipo de pista do que eu poderia
encontrar quando cruzasse a porta dupla de madeira.
O homem que aguardava comigo, girou a maçaneta, abrindo espaço para que
eu entrasse e fechou a porta tão logo entrei.
Engoli seco. Observei o ambiente meio escuro por conta das cortinas
fechadas até localizar Roger sentado no sofá com a camisa aberta. No canto
contrário, como se fosse uma estátua, estava o guarda-costas de dois metros
de altura. Impassível como sempre.
A sala cheirava a charuto, uísque e sexo.
— Queria me ver? – perguntei baixo com medo da minha voz vacilar.
Roger deu um longo trago no charuto, fazendo surgir na ponta um brilho
alaranjado. Calmamente, soltou a fumaça pela boca, antes de responder.
— Queria. – ele fez um gesto para que eu me aproximasse dele.
Dei alguns passos parando perto da mesinha em frente ao sofá.
Percebi que o fecho e o botão da calça dele estavam abertos. Também percebi
uma calcinha vermelha desconhecida no braço do sofá.
Não tive tempo de questioná-lo, pois a dona da calcinha saiu do banheiro
ajeitando o vestidinho preto curto.
Me virei para olhá-la. Era uma menina de no máximo uns vinte anos, cabelos
pretos e longos, muito magra. Bem parecida com aquelas centenas que a
gente via todos os dias no Instagram.
A garota ia se encaminhando para a porta quando Roger, ignorando
completamente a minha presença, a chamou.
— Ei, doçura? Não está esquecendo de nada não? – ele pegou o minúsculo
pedaço de pano vermelho entre os dedos e agitou em direção a garota
magricela.
Ela deu um sorriso inocente, como se não tivesse feito aquilo de propósito e
desfilou pelo escritório indo até Roger. Quando chegou perto, a vagabunda
teve a audácia de se debruçar sobre o meu homem, arrebitando a bunda e
beijá-lo safadamente.
Eu estava fervendo de ódio, enfiando as unhas nas palmas das mãos para
evitar fazer uma cena. Apertava a mandíbula com tanta força que minha
cabeça começava a doer, mas eu queria mesmo era ir até os dois e arrancar a
língua daquela filha da puta.
— Tchau, querida. – a vadia teve o disparate de dizer quando passou por
mim, indo embora e me deixando a sós com Roger.
Engoli seco e respirei fundo algumas vezes antes de perguntar.
— Você me chamou aqui pra me humilhar?
Roger ajeitava a roupa calmamente, totalmente alheio a minha vontade de
matá-lo. Antes de se levantar, bebeu o último gole do uísque.
Ele caminhou até mim devagar.
— Te humilhar? – ele parou na minha frente. – Te humilhar? – agora ele
gritou. – Eu deveria te matar, Tatiana. Você é tão burra, tão estúpida, faz
tanta merda, que eu deveria te matar. Só assim eu teria sucesso nos meus
planos.
Meu coração parou quando ele disse que deveria me matar. Quase me caguei,
pois quando ele ameaçava matar alguém, geralmente era um aviso que uma
hora ou outra ele iria fazer isso acontecer.
Roger voltou para a mesinha e encheu o copo com mais uísque e continuou a
falar. Nos meus olhos as lágrimas começavam a se acumular.
— Qual a parte do segue a porra do plano você não entendeu, hein Tatiana?
Essa água oxigenada que você está usando está destruindo seu cérebro. – ele
deu um gole no uísque. – Mas é melhor assim. Menos trabalho para o meu
guarda-costas recolher os pedaços dele pelo chão depois que eu enfiar uma
bala no meio dessa sua cabeça oca.
Roger andou até a mesa grande e se sentou na cadeira. Eu ainda tentava
controlar as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
— Vai ficar parada aí feito uma idiota? – a voz grave dele me assustou.
Limpei o rosto com as costas das mãos e me dirigi até ele.
— Você não tem nada a me dizer? –questionei.
Ele me olhou sem entender.
— Sobre o quê?
— Sobre essa vagabunda que você estava comendo.
— Eu não te devo satisfações. Eu trepo com quem eu quiser, na hora que eu
bem entender.
— Mas e a gente? – insisti.
— Você trabalha pra mim, Tatiana, não é minha mulher. – ele pegou o
celular e digitou algo. – Se eu quisesse uma esposa, coisa que está fora de
cogitação, eu arrumaria uma igual àquela belezinha que saiu daqui.
As palavras dele me atingiram bem no peito.
— Eu prefiro uma burra que sabe que é burra, do que uma burra que se acha
esperta. – Roger finalizou.
Baixei a cabeça com raiva e me virei para sair.
— Aonde você pensa que vai? – ele perguntou e eu estaquei.
Uma batida na porta.
— Pode entrar. – ele falou.
Uma jovem bem no estilo da que acabara de sair dali, entrava. Outra menina
magricela e morena.
Eu não fazia ideia do que Roger tinha na mente.
— Tira a roupa e me espera no sofá, doçura. – ele falou para a garota.
Eu observava a menina a se despir e dei um pulo quando senti as mãos de
Roger nos meus braços.
— Ela é bonita, não é? – ele falou no meu ouvido. – Jovem, magra e não é
tagarela.
Os dedos dele subiam e desciam pelos meus braços, me causando arrepios. A
garota estava nua, calçando apenas os saltos altíssimos.
— Sente-se, meu bem. – Roger ordenou à garota que obedeceu prontamente.
– Agora, abra as pernas e se toque.
Cerrei os dentes, enquanto Roger falava no meu ouvido:
— Está vendo? Eu mando, ela obedece. – ele apertou meus braços acima dos
cotovelos. – Eu mando, você toma decisões precipitadas.
A garota continuava se tocando e gemendo. A ereção de Roger começava a
dar as caras, cutucando sutilmente minha bunda.
— Até agora eu não entendi o por que de você colocar o plano em risco com
aqueles tiros ontem a noite. – ele falava baixo, com a atenção voltada para a
garota que estava quase gozando.
A visão que eu tinha de morena escancarada no sofá estava me excitando. Os
dedos de Roger tocavam meus seios por cima da blusa, fazendo minha
calcinha encharcar.
— Seus capangas, meu amor, são os piores e mais amadores que eu já vi. –
ele beliscou meus mamilos, me arrancando um gemido. – E eu já avisei que
vou matar quem atrapalhar meus planos. Então, – Roger passou o nariz no
meu pescoço, bem embaixo da orelha esquerda. – fique esperta.
Agora a garota gemia escandalosamente, gozando e a ereção de Roger era
proeminente.
Ele me largou em pé, sozinha, e foi até a garota no sofá. Ela abriu a calça dele
sem rodeios e começou a fazer um boquete ruidoso.
O ódio se sobrepôs ao tesão e novamente caminhei até a porta para sair.
— Não! – Roger falou alto. – Vem aqui, Tatiana.
Quando eu fiquei parada, ele fez um gesto para o guarda-costas que eu havia
me esquecido que estava lá. Ouvi uma arma ser engatilhada e ser encostada
na minha nuca.
— Sente-se aqui. – Roger ordenou. – Agora, você meu bem, fica de quatro. –
ele falou para a jovem.
Eu me sentei, assistindo de camarote o homem que eu amava comer outra
mulher na minha frente.
— Você sabe o meu lema. – Roger falou comigo. – Um acerto, uma
recompensa; um erro, uma punição. – ele estocava na garota com força. –
Essa é sua punição.
Virei o rosto, olhando para o guarda-costas que fingia não ver o que estava
acontecendo ali.
— Eu não vou te dar outra chance para errar, meu amor. – Roger olhou nos
meus olhos. – Não se precipite ou eu vou meter uma bala em você.
Ele me avisou, voltando a se concentrar na vadia de quatro na frente dele.
▪▪▪
CAPITULO 21
CECILIA
▪▪▪
CAPITULO 22
MARLON
Depois de uns dias sendo mimado por Cecília, voltei ao trabalho. Na quinta-
feira de manhã ela me acompanhou até o hospital para a retirada dos pontos,
que deixariam marcas bem sutis na minha pele relativamente bronzeada.
Passamos o dia em casa, mas dessa vez comigo fazendo a segurança efetiva
dela. Depois do almoço quando ela foi para o quarto trabalhar, usei o tempo
para ligar para doutor Ivan e pedir uma reunião privada com ele, logo mais
após o jantar. Ele atendeu o meu pedido com prontidão, dizendo que ia
manter Tatiana fora da mansão para que tudo saísse sem mais contratempos.
Traduzindo contratempos: sem os chiliques da mulher por ficar meia hora
sozinha.
Encerrei a ligação e trabalhei por um período no notebook, fechando alguns
contratos pendentes e agendando visitas a potenciais clientes.
O cheiro do café que Rosa passava na cozinha e meu estômago roncando me
alertaram sobre o tanto de tempo que eu havia passado imerso no trabalho.
Deixei o notebook de lado e subi as escadas em direção ao quarto de Ceci
para chamá-la para uma pausa e um lanche reforçado.
Bati na porta e escutei um pode entrar abafado.
— Cecília? – chamei.
— No banheiro, Marlon. – a voz dela focou mais clara a medida que eu
entrava no ambiente.
Ela estava limpando o rosto, após retirar a maquiagem.
— Estava fazendo um tutorial de como combinar sombras e roupas. – ela se
explicou quando eu parei encostado na soleira da porta.
— Você sabe que eu te acho maravilhosa de qualquer jeito. – comentei
beijando o topo da cabeça dela. – Principalmente, quando está com as
bochechas vermelhas e suada.
Ela mordeu o lábio inferior num gesto de timidez.
— Está na hora do lanche. – falei. – Vou te esperar lá embaixo.
— Já já eu desço. – ela respondeu voltando a atenção a limpeza do rosto.
Cecília despertava uma coisa em mim que eu não entendia, mas que me fazia
querer ficar o tempo todo em contato com ela, fosse cheirando-a, tocando-a
ou amando-a.
Quando entrei na cozinha, Rosa já havia arrumado a mesa. Ela era outra que
desde que eu levara o tiro, não parava de me paparicar. Então todas as minhas
refeições eram reforçadas. Para o lanche da tarde tinha uma infinidade de
comida. Pão de queijo, bolo de milho, biscoitinho de nata, suco e claro, um
delicioso café quentinho.
Eu finalizava a minha primeira rodada de comilança quando Ceci apareceu.
Ela usava um vestidinho e tinha os cabelos em um coque simples, mas o
lábios ainda estavam vermelhos como se ela tivesse beijado muito.
— Achei que eu ia ter que subir e te arrastar para lanchar, menina! – Rosa
falou se fingindo de brava.
Cecília foi até a senhorinha e deu um beijo estalado no rosto dela.
— Estou aqui, Rosinha. – ela disse se sentando ao meu lado.
Ceci encheu uma caneca com café fresquinho e colocou no prato alguns pães
de queijo.
Rosa fez algumas perguntas sobre a quantas andava o trabalho de Cecília na
internet depois do acontecido e recebeu em resposta que ela só aparecia nas
redes sociais apenas para fazer os posts de publicidade que estavam em
contrato.
Intimamente isso ainda não me agradava. Não queria nenhum tipo de
exposição de Cecília enquanto não pegássemos toda a quadrilha que
importunava ela e Ivan. Era melhor se resguardar por um tempo e perder
alguns trabalhos do que ficar exposta demais e Deus sabe lá o que acontecer.
Não era porque eu estava envolvido demais que eu prezava tanto pela
segurança de Cecília. Primeiro, isso era o meu trabalho, protegê-la a qualquer
custo. Segundo, eu não gostava nenhum pouco de quem usava meios escusos
para se impor a alguém. E terceiro, eu sentia que Cecília estava cada vez mais
tomando conta do meu coração.
•••
Às dezenove horas em ponto Dr. Ivan adentrou a sala de briefing. Ele acabara
de jantar com Cecília, que tinha subido para o quarto para ler um pouco antes
de dormir. Obviamente, eu ia esperar Ivan se recolher e me enfiar na cama
dela, como já vinha acontecendo durante os últimos tempos. Mas isso não
vem ao caso.
Liberei os outros seguranças, mantendo apenas Mathias, Borges e Farah,
meus homens de confiança, na sala junto com o promotor e eu.
Era uma reunião em que iríamos colocar as coisas todas em pratos limpos.
Todas as minhas desconfianças, mesmo que elas não agradassem o homem
que pagava meu salário, iriam ser jogadas na mesa.
— Doutor Ivan, – comecei. – antes de mais nada eu quero te pedir desculpas
pelo o que vai ser dito aqui.
Estávamos todos sentados, divididos em dois sofás. Ivan estava ao meu lado
e bebia um pouco do uísque que ele trouxera consigo da mansão.
— Se for pela proteção da minha filha, senhor Torres, não precisa medir
palavras. – ele respondeu após um gole da bebida âmbar.
Meus homens e eu trocamos breves olhares.
— Está acontecendo mais alguma coisa? – o promotor se sentou ereto.
Puxei o ar com força.
— Nós temos uma suspeita, doutor. – falei. – Acreditamos que sua namorada,
Tatiana, não seja flor que se cheire.
Ivan piscou como se atingido por algo no rosto.
— O que ela fez? – ele perguntou depois de um tempo.
— Que a gente saiba, ainda nada. – Mathias disse.
— Mas se o senhor permitir, eu posso segui-la. – falei, esperando
cautelosamente a reposta do homem.
Ivan apenas assentiu.
— Doutor, o senhor precisa saber que talvez isso possa ter um final não tão
agradável para o relacionamento de vocês e que...
— Tudo o que importa é a segurança da minha filha. – ele me interrompeu. –
Nenhuma mulher é mais importante para mim do que Cecília.
Doutor Ivan me olhou nos olhos.
— E eu acredito, senhor Torres, que para o senhor também. – ele esperou
minha reação.
Dei um sorriso que dizia “culpado" e Ivan assentiu satisfeito.
— Então eu sei, – o promotor continuou. – que o senhor cuidaria da minha
Cecília como se ela fosse sua, não é mesmo?
— Sim, senhor. Eu daria minha vida por ela. – falei solenemente.
Aonde isso foi parar? Qual foi o rumo que a conversa tomou saindo de uma
possível perseguição a Tatiana e indo parar em Ivan querendo saber, mesmo
que subliminarmente, quais eram as minha intenções com a filha dele?
— Vou te manter informado dos passos de Tatiana amanhã, senhor Torres. –
Ivan se levantou. – Tenham uma boa noite.
O promotor saiu da sala de briefing, levando o uísque e deixando meus
homens e eu atônitos.
— Eu pensei que ele seria duro na queda. – Mathias falou quebrando o
silêncio. – Não achei que ele fosse ceder assim tão fácil a sua proposta de
seguir a mulher dele.
Balancei a cabeça concordando com ele.
— Mas você tem que entender, Mathias, que nenhuma trepada, por melhor
que seja, se compara a segurança de quem você ama.
▪▪▪
CAPITULO 23
TATIANA
CAPITULO 24
MARLON
Na sexta-feira de manhã bem cedinho, logo após o café, saí para a missão do
dia: seguir Tatiana. Eu a esperaria sair da mansão e chegar no escritório para
segui-la em qualquer lugar que ela fosse.
Deixei Cecília sob os cuidados de Kevin, uns dos homens que fazia a
segurança da casa e segui em direção ao local de trabalho de Tatiana.
Ninguém, tirando as pessoas que estavam na sala de briefing na noite
anterior, sabia o que eu iria fazer. Nem mesmo Cecília. Para todos os efeitos,
eu ficaria fora resolvendo algumas coisas da minha empresa de segurança, a
SecMate.
Usei um dos carros da empresa para chegar até em frente do prédio onde
Tatiana mantinha o escritório, e estacionei numa vaga mais pro final da rua,
do lado contrário, de onde eu poderia observar qualquer movimento dela sem
ser visto.
Quase dez minutos que eu desliguei o veículo, Tatiana chegou e guardou o
carro na garagem do prédio.
Ficar de campana era divertido quando se tinha algo para se observar. Na
maior parte do tempo você ficar sem ter o que fazer. E foi assim a manhã
toda. Até que um pouco antes do almoço, um utilitário preto parou bem em
frente à saída do prédio.
O que mais me chamou atenção foi o fato de ninguém descer do veículo e a
intensidade da película que escurecia os vidros. Tirei algumas fotos do carro.
O carro ficou parado por apenas dois minutos cronometrados, até que Tatiana
aparecesse na rua e entrasse no automóvel, após olhar discretamente para os
lados. Antes que ela conseguisse ir para a segurança do veículo, tirei mais
fotos. Anotei a placa e modelo, e o segui a uma distância segura.
O utilitário seguiu para a rodovia que levava para a cidade vizinha. Vinte
minutos depois, o carro parou em frente um galpão. Havia mais um carro
grande e escuro já estacionado no local.
Tatiana desceu do carro, sendo acompanhada pelo motorista e sumiu dentro
do lugar por um tempo.
Tirei mais fotos, tanto do outro veículo, quanto do galpão, e lógico, de
Tatiana.
Estava comendo um sanduíche frio que eu havia trazido, quando uma
movimentação na entrada do lugar.
Com a câmera a postos, comecei a fazer uma sequência de fotos.
Um homem que parecia que teve o nariz amassado entrou no carro, logo em
seguida Tatiana e o motorista fechou a porta, dando partida no utilitário,
sendo seguido pelo outro que havia trazido a mulher.
Eles seguiram pelo bairro mesmo, estacionando em frente à um restaurante
italiano caríssimo. O segundo carro, passou direto pelo estabelecimento.
O trânsito na região na hora do almoço era complexo. Eu consegui com
muito custo, uma vaga mais distante, só porque um outro carro saiu deixando
o espaço livre para mim. Com essa ginástica pela vaga, tentado não chamar a
atenção dos alvos da minha campana, perdi Tatiana e o homem estranho
entrando no restaurante.
Mais tempo esperando, terminei de comer meu sanduíche que tinha sido
largado pela metade no banco do carona, junto com minha garrafa de água.
Uma hora depois, o homem saiu segurando Tatiana pelo braço. Eles entraram
no carro rapidamente e saíram comigo na cola deles.
O carro saiu do bairro nobre, entrando na rodovia e seguindo para a cidade
que fazia divisa com Belo Horizonte e a cidade em que nós estávamos.
Tentei manter distância, mas sem perder Tatiana de vista.
Dirigi por vários minutos ate entrarmos numa região que era conhecida por
vários condomínios de luxo.
Fiz várias fotos enquanto passava direto pela entrada do condomínio, pois ali
não havia lugar para estacionar, nem o que fazer senão voltar para a mansão e
imprimir as imagens para o doutor Ivan.
Quando voltei para a rodovia que ligava as duas cidades na região
metropolitana, encontrei um acostamento e parei o carro analisando as fotos
na câmera profissional.
Estava tão imerso no rosto do cara que acompanhava Tatiana que mal ouvi o
telefone tocar. Era Mathias.
Atendi pelo bluetooth do carro.
— Mathias, você não vai acreditar. – eu disse antes que ele pudesse falar
alguma coisa. – Consegui fotos do tal chefe da facção.
O silêncio do outro lado da linha diante dessa minha revelação me fez ficar
alerta. Mathias era falante, não era de medir palavras e agora estava num
silêncio sepulcral.
— Mathias? – chamei.
Ouvi a respiração ruidosa dele e ao fundo uns gemidos masculinos.
— Mathias?! Que porra tá acontecendo? – gritei.
— A menina. – ele falou baixo.
— O que aconteceu com Cecília? – coloquei o carro em movimento, quase
sendo atingido por uma van.
Ouvi mais gemidos.
— Marlon... – Mathias respirou fundo. – Eles levaram ela.
▪▪▪
CAPITULO 25
CECILIA
Acordei cedinho, assim que Marlon levantou da cama. Hoje ele trabalharia na
sede da SecMate e eu ficaria praticamente o dia todo sem ele, sendo escoltada
por Kevin, um dos caras da equipe de Marlon que já havia feito minha
segurança anteriormente.
Antes de sair, Marlon e eu tomamos café juntos na cozinha. Ele explicou que
provavelmente voltaria para almoçar em casa, mas que não era nada certo,
devido a demanda de serviço que ele teria lá na empresa.
Após o café, Marlon foi até o quarto dele, na casa da piscina, tomou um
banho e vestiu um terno azul marinho lindo. Ele passou no meu quarto para
se despedir e me dar um beijo de tirar o fôlego, avisando que eu já tinha outro
guarda-costas me esperando do lado de fora.
— Não faz essa carinha, meu amor. – Marlon disse quando o desânimo
passou pelo meu rosto. – Eu prometo que antes que você perceba, eu estarei
de volta.
— Espero que sim. – respondi, inspirando profundamente o perfume dele. –
Porque eu já estou com saudades.
Marlon deu aquele sorriso travesso que eu amava, me beijou e saiu.
Me sentei na cama, meio desanimada. Ele me deixou desacostumada com
todo aquele sexo dos últimos dias. E agora eu teria que voltar toda minha
energia sexual para a arrumação do quarto, meu trabalho nas redes sociais e
as atividades do curso de moda. Ou seja, eu teria que voltar para a realidade,
teria que sair das páginas de romance erótico que tinha vivido essa semana
querendo ou não.
Respirei fundo. Observei o que teria que ser feito no quarto. Trocaria a roupa
de cama, arrumaria meu guarda-roupa que parecia ter passado um furacão
nele, colocaria uma máscara hidratante no rosto enquanto fazia alguns
exercícios da escola de moda. Assim que terminasse tudo isso, tomaria um
banho e sairia para comprar algo para fazer no jantar para Marlon.
Eram quase onze horas da manhã quando vesti uma calça jeans, uma t-shirt
branca básica e calcei meu all star, saindo do meu quarto pronta para dar um
pulo no supermercado.
Levei um susto quando abri a porta e dei de cara com Kevin parado feito uma
estátua do lado de fora.
— Bom dia, senhorita. – ele disse todo educado. – A senhora vai sair?
Fechei a porta, ajeitando minha bolsinha no ombro e me recuperando do
susto.
— Vou sim, Kevin. – respondi me encaminhando para as escadas.
— E aonde eu tenho que levá-la?
— Vou no supermercado aqui pertinho. – falei indo na cozinha.
Rosa começava o preparo do almoço.
— Vai sair, menina? – ela perguntou.
— Vou dar um pulinho no mercadinho aqui do lado, Rosa. – respondi
beliscando umas uvas que ela tinha acabado de lavar. – Tô pensando em fazer
um jantarzinho especial para Marlon.
Rosa me olhou com os olhos brilhando.
— Minha menina está amando! – ela me abraçou. – Quando foi que você
cresceu, Ceci?!
Senti um nó se formar na minha garganta. Rosa era o mais perto que eu
conheci de uma mãe. E eu era, como ela dizia sempre, a menina dela.
Ficamos abraçadas por um tempinho, as duas manteigas derretidas tentando
controlar o choro.
Saí da cozinha rapidamente, encontrando Kevin já dentro do carro. Antes que
eu entrasse no veículo, Mathias me interceptou e perguntou em qual lugar eu
ia. Confirmei que era no supermercado perto do condomínio e ele assentiu,
entrando no carro de trás que ia fazer a minha segurança. Entrei no Audi e
obviamente, me sentei no banco de trás, seguindo em direção às compras.
Menos de vinte minutos depois, eu empurrava um carrinho relativamente
cheio para apenas um “jantarzinho”. Comprei macarrão de massa caseira,
molho de tomate com tomate inteiro, queijo, bacon, algumas ervas frescas.
Para sobremesa, estava pensando em fazer uma torta de morango com
chocolate e nozes. Então lá fui eu pegar dez caixinhas de morango, cinco
barras de chocolate, creme de leite fresco, nozes. O vinho seria cortesia do
doutor Ivan.
Gastei mais tempo do que o previsto com a compra e estava morta de fome e
vontade de ir ao banheiro. Fui rapidamente para o caixa pagar todas essas
coisas, tendo Kevin colado em mim o tempo todo.
A situação da fome estava sob controle, mas o xixi eu não conseguia segurar
mais. Avisei Kevin que ia ao banheiro e que ele poderia ir para o carro
guardar as coisas. Ele assentiu e eu corri para o segundo andar do
supermercado, onde ficava os banheiros.
Havia dois meios para chegar ao banheiro, eu poderia escolher entre o
elevador ou a rampa. O elevador estava preso no andar das compras, então o
único meio que me restava era a rampa, que eu subi correndo.
Quando terminei de me aliviar, soltei um suspiro alto. Não existe coisa pior
do que segurar xixi. Aliás existe sim, saber que você está prestes a se aliviar e
o fecho da calça trava de alguma maneira. Isso era o que estava passando pela
minha cabeça enquanto eu lavava e secava a mão.
Saí do banheiro, indo em direção ao elevador, mas antes que eu pudesse
apertar o botão para chamá-lo, alguém me agarrou.
No começo achei que, de alguma maneira absurda, fosse Marlon me fazendo
uma pegadinha. Mas quando uma mão com uma luva de couro cobriu minha
boca e braços fortes me suspenderam no ar, eu desesperei.
Esperneei, dei tapas e socos no homem que me agarrava, mas de nada
adiantou. Ele era mais forte e conseguiu prender meus braços de uma maneira
firme ao mesmo tempo que ainda tampava minha boca. Na tentativa frustrada
de me ver livre, acabei deixando minha bolsinha cair.
Fui arrastada até um carro grande de vidros completamente pretos, que já
esperava bem no finzinho da rampa e jogada no banco de trás.
Na luva do homem havia algum tipo de composto químico anestésico, pois os
meus sentidos estavam lentos. Eu via o que acontecia, mas não tinha reação
rápida o suficiente.
O carro saiu do estacionamento sem fazer estardalhaço, sem cantar pneu ou
algo do tipo, nada que chamasse a atenção. Eu consegui ver Mathias, Kevin e
o outro segurança quando o veículo onde eu estava passou por eles. Mas eles
não faziam ideia que eu estava ali dentro.
Quando o carro saiu do estacionamento, indo para a luz do meio-dia, o sol
ofuscou minhas vistas e eu apaguei caindo no colo do homem que havia me
sequestrado.
▪▪▪
CAPITULO 26
MARLON
Num tempo que me pareceu maior do que realmente tinha sido, cheguei na
mansão. Furei alguns sinais vermelhos, passei na velocidade acima da
permitida em diversos locais, fiz várias ultrapassagens proibidas e muito
provavelmente, levaria algumas multas, mas isso não me importava. Toda
minha preocupação estava voltada para Cecília. Como eles haviam
conseguido pegá‐la?
Mal estacionei o carro na entrada da garagem e fui correndo para a casa da
piscina. Mathias me esperava fumando um cigarro e parecia mais pilhado do
que nunca.
— Marlon... – ele falou assim que me viu, jogando o cigarro no chão e
pisando para apagá-lo.
— Como isso aconteceu, Mathias?! – tentei me controlar.
— Ela estava no banheiro do supermercado...
— Ela o quê?! – gritei, interrompendo-o. – Por que diabos ela estaria num
supermercado?
— Porque ela iria fazer um jantar para você. – uma voz feminina embargada
falou baixo. Era Rosa.
Me virei para a senhorinha que tinha os olhos inchados de tanto chorar e um
saco com gelo nas mãos. A resposta de Rosa me deixou sem palavras.
— Aqui, rapaz. – ela entregou o saco com gelo para Mathias e voltou para a
mansão.
Respirei fundo tentando pensar racionalmente. Não podia ser emocional num
momento de crise, teria que sempre pensar com a cabeça e deixar o coração
de lado se quisesse que algo desse certo.
Ouvi um gemido alto e o barulho de algo caindo dentro do imóvel. Por uma
fração de segundos meu olhar e de Mathias se encontraram.
— Quem está aí dentro? – perguntei.
— Kevin. – ele respondeu calmamente.
O ar escapou dos meus pulmões. O filho da puta do segurança a quem eu
tinha confiado a vida de Cecília.
Num rompante de fúria quis entrar na casa e arrebentar mais ainda a cara
daquele moleque, mas mantive a calma.
— E o doutor Ivan?
— Borges está de olho nele. – Mathias falou pressionando o gelo nos dedos.
– E eu mandei uma outra equipe para fazer a segurança.
— Mas ele não sabe...? – não consegui terminar a frase.
Mathias apenas balançou a cabeça negando.
Passei a mão pelo rosto, tentando buscar alguma solução.
— Ótimo. – falei num rompante. – Melhor ele não saber mesmo, por ora.
Mathias me olhou como se eu tivesse ficado maluco.
— Sabe aquelas nossas suspeitas? – fui até o carro e peguei a câmera
fotográfica que eu havia largado no banco do carona. – Elas estavam certas. –
falei quando voltei e mostrei as imagens ao meu amigo.
— Vagabunda. – foi tudo que Mathias falou.
Uma dor de cabeça queria dar as caras.
— Me conta desde o começo o que aconteceu. – pedi. – E o que Kevin tem a
ver com isso.
— Esse filho da puta deixou ela sozinha, Marlon. – Mathias estava mordido.
– Eu perguntei aonde a menina estava e ele respondeu na maior calma que ela
tinha ido ao banheiro.
Ele balançou a cabeça como se tivesse feito uma grande merda.
— Foi coisa de minutos. Dois, três no máximo. – ele continuou. – Eu estava
no estacionamento junto com o Pedrosa, aí Kevin chegou sozinho
empurrando o carrinho com as compras e sem a menina. Perguntei aonde a
menina tinha ido e ele falou que ela tinha ido até o banheiro. Fui correndo até
lá e só encontrei a bolsa dela no chão.
Meu coração estava disparado.
— Você foram naquele supermercado aqui perto? – perguntei e ele assentiu.
– Lá não tem outra saída, Mathias. Só a rampa e o elevador. Eles não seriam
burros de sair com Cecília pela porta da frente do lugar.
— Alguém ia perceber. – ele constatou o óbvio.
— Aquele estacionamento é enorme. – cocei a barba, pensativo. – Tudo deve
isso deve ter acontecido bem na cara de vocês.
Mathias abaixou a cabeça, o rosto estava vermelho. Não sabia se era de raiva
ou de vergonha por ter perdido Cecília bem debaixo dos olhos.
Abri a porta da casa da piscina e vi que a sala havia se transformado em um
cage de UFC, tinha sangue para todos os lados. Kevin estava sentado na
cadeira com as mãos amarradas para trás e o rosto parcialmente deformado.
Farah estava sem o tão tradicional terno, usava apenas a regata que estava
encharcada de suor. Era ele quem fazia o serviço de “extração de
informações” em Kevin.
— Conseguiu alguma coisa? – questionei, me aproximando da sujeira.
— Nada ainda, chefe. – Farah limpou o suor da testa com as costas das mãos.
— Continua tentando. – me virei para ir a sala de controle. – Uma hora ele
fala.
Fiz algumas ligações para conhecidos meus nas polícias e repassei o que
havia acontecido. Teria que esperar doutor Ivan chegar para proceder de
maneira mais efetiva e oficial, fazendo um boletim de ocorrência.
Não poderia fazer nada de fosse comprometer a integridade de Cecília. Não
poderia dar o endereço do chefe de facção mais procurado do estado, quiçá
do país, pois ele poderia fazer algo contra ela. Eu estava de mãos atadas.
Tudo o que eu poderia fazer era pedi a Deus que a protegesse e voltar para
sala para tentar arrancar alguma coisa daquele filho da puta do Kevin.
•••
Depois de quase uma hora sozinho comigo, ele finalmente abriu o bico.
Kevin contou que ele – nas palavras dele – foi abordado por um homem
branco, alto, forte e muito mal encarado, que o pediu que o mandasse uma
simples mensagem quando Cecília ficasse desprotegida. Ele não precisava
fazer nada, apenas sinalizar que ela estava vulnerável e o resto era com eles.
E foi o que o imbecil fez.
Fui ao banheiro limpar um pouco do suor e do sangue os quais eu estava
coberto. Olhei a hora e vendo que doutor Ivan estava a caminho, liguei para o
meu contato na Civil, dando a localização exata do chefão.
Estava irritado de uma tal maneira, que há muito tempo eu não ficava.
Pilhado. Com os nervos à flor da pele. Preocupado ao extremo com Cecília.
Fui a cozinha da mansão e Rosa me ofereceu algo para comer, recusei. Mas o
refrigerante cairia bem, já que eu não podia tomar uma dose de uísque ou
algo forte. Tomei toda a latinha de Coca-Cola quase que em uma só golada.
Estava olhando pela janela quando o carro de Ivan parou na garagem. Vi ele
descer do veículo trazendo a tira colo, Tatiana.
Deixei a latinha de lado e concentrei toda minha energia em não matar aquela
vagabunda bem no meio da sala dos Bernardes.
▪▪▪
CAPITULO 27
CECILIA
Quando acordei estava tudo escuro. Minha cabeça doía, meu corpo estava
pesado e estava difícil para respirar. Não conseguia me mexer direito. Não
escutava nenhum barulho que pudesse me dar uma pista de onde eu estava.
Lentamente, a minha consciência foi sendo recobrada. Fui me lembrando das
últimas coisas que aconteceram antes que eu apagasse.
Marlon.
Estava no supermercado para comprar algumas coisas para o jantar surpresa
que eu iria fazer para ele.
OK.
Paguei as compras e fui ao banheiro.
OK.
Lembrei de alguém me agarrando tão logo eu abri a porta e saí.
Minha bolsa caída no chão.
Os seguranças alheios a tudo, enquanto eu, meio drogada, era raptada.
Calor. Sol. Perfume masculino. Escuridão.
Tudo voltou e me atingiu de uma só vez. Minha respiração se acelerou e eu
sentia uma crise de pânico dar as caras.
Minhas mãos estavam presas às minhas costas, eu estava sentada no chão frio
encostada em uma pilastra.
Ouvi passos pesados ecoando longe e ficando cada vez mais alto, como se
chegassem próximos a mim.
Controlei minha respiração e fiquei o mais quieta que consegui.
— É ela? – uma voz masculina perguntou.
Meu coração esmurrava minha caixa torácica.
— Sim, senhor. – outro homem respondeu.
Ouvi um suspiro alto.
— Que maravilhoso! – a primeira voz voltou a falar. – Ela ainda esta
desacordada?
Não ouvi a resposta.
— Tire o capuz dela.
O capuz foi arrancado da minha cabeça e eu apertei os olhos que foram
ofuscados pela luz forte que iluminava o galpão.
Não fazia ideia de quantas horas eram, ou quanto tempo havia passado desde
que fui sequestrada no supermercado. Mas parecia que era finzinho de tarde,
comecinho da noite.
— Oi, doçura. – um homem se agachou na minha frente e tirou meus cabelos
dos olhos. – Você sabe quem sou eu?
Me retraí, afastando da mão dele.
“Muito provavelmente o filho da puta que quer matar meu pai”, pensei,
olhando para ele com a cara fechada.
— Brava. – ele deu um sorriso que fez o rosto dele ficar ainda mais feio. –
Gosto assim.
Meu estômago embrulhou. Minha mente disparou e eu imaginei as coisas
horríveis que ele poderia fazer comigo presa daquele jeito.
Ele se levantou, indo até o homem que havia me sequestrado e falou algo
baixo que eu não consegui escutar. Eles olharam para mim e o homem feio
foi embora.
Minutos se passaram e eu fiquei observando o ambiente. Era como se fosse
um lugar abandonado. Janelas altas de vidro, pilastras de sustentação
pontualmente dispostas pelo espaço.
Uma batida ecoou pelo galpão me assustando.
O brutamontes foi até a porta. Era um entregador com algumas sacolas. O
homem pegou uma garrafa de água e abriu se aproximando de mim.
— Tá com sede? – a voz grave dele me assustou.
Como não confiava na minha voz, apenas assenti.
O homem se agachou na minha frente e colocou a garrafa encostada nos
meus lábios.
Eu não sabia que estava com tanta sede até sentir o primeiro contato do
líquido com minha boca. Bebi com tanta ferocidade que a água escorreu pela
minha roupa.
— Devagar. – o homem advertiu, cortando o contato.
Olhei para ele com raiva.
— Eu quero mais. – falei com voz rouca de ficar tanto tempo calada.
Ele me avaliou e depois de pensar, recolocou a garrafa na minha boca.
— Acabou. – ele falou e se levantou.
— Eu ainda tô com sede. – reclamei.
— Você já bebeu o suficiente. – ele me deu as costas e eu vi a arma sob a
blusa dele.
A porta se abriu de novo e mais homens entraram, todos armados.
Ninguém falou ou olhou para mim. Era como se eu não existisse. Um pedaço
de nada que estava amarrado ali naquela pilastra.
O brutamontes recolocou o capuz na minha cabeça e eu comecei a
hiperventilar.
— Fica quieta. – ele falou baixo bem perto do meu ouvido.
Tentei me concentrar em cada barulho que eles faziam. Em cada carro, moto
ou avião que passava, mesmo que longe.
Não sei quanto tempo se passou, mas sabia que estava com fome e com muita
vontade de ir ao banheiro.
Comecei a mexer as pernas, em seguida o corpo como se algo estivesse me
incomodando. Quase meia hora depois, o homem se aproximou e perguntou:
— O que você quer?
— Ir no banheiro. – respondi com a voz abafada. – Comer alguma coisa
também.
Ouvi algumas risadas.
— Ela acha que tá num spa. – alguém falou.
Mais risadas.
— Você tem preferência por algum restaurante, madame? – um outro cara foi
sarcástico.
Risadas.
— Já chega! – o brutamontes gritou calando a todos e me fazendo pular de
susto.
Um silêncio ensurdecedor pairou no lugar.
Novamente o capuz foi arrancado da minha cabeça e eu dei de cara com o
homem mal encarado.
— Você vai ao banheiro. – ele falou me olhando nos olhos. – Quando voltar,
vai comer. Mas não pense, nem por um segundo em tentar fugir, correr ou
gritar. Uma: não vai adiantar. Outra: temos ordens para te matar e mandar o
seu cadáver de presente para o seu pai. Tá me entendendo?
Engoli seco e assenti em pânico.
— Vou te soltar. – o homem continuou. – Você vai usar o banheiro com a
porta aberta. Não tenta nenhuma gracinha.
Assenti de novo, enquanto ele desamarrava minhas mãos.
Quando me vi solta, massageei os pulsos doloridos.
O homem estava em pé me olhando. E vários outros caras tinham armas
apontadas para mim.
Me levantei com dificuldade e perdi o equilíbrio quando fiquei ereta. O
brutamontes me segurou pelo cotovelo.
— O que você me deu? – questionei enquanto andávamos até os fundos do
galpão onde ficava o banheiro.
— Você só cheirou um pouco de clorofórmio. – ele respondeu quando
paramos em frente à porta.
Ele me soltou e falou:
— Não fecha a porta.
Que maravilha. Teria que usar o sanitário com um homem me olhando.
Ótimo.
Tentei não pensar nisso e me aliviei. Quando fui lavar as mãos, aproveitei e
molhei o rosto. Tudo isso olhar atento do brutamontes.
Voltamos para onde eu estava amarrada e ele me mandou sentar. Todos os
olhares e armas estavam sobre mim. Ele foi até a sacola e tirou um suco de
caixinha e um sanduíche desses que você compra em lojas de conveniência e
me entregou.
Devorei tudo em menos de cinco minutos. Eu ainda estava com um pouco de
fome, mas era melhor do que está cheia demais e não conseguir correr caso
eu precisasse. Obviamente, eu não seria estúpida de tentar nada depois do que
eu vi, mas se por um acaso eu viesse a tentar, não queria ser impedida por um
estômago cheio.
Como se soubesse o que se passava na minha mente, o brutamontes voltou a
me amarrar na pilastra e a colocar o capuz na minha cabeça.
Ouvi uma cadeira ser arrastada e vozes baixas em algum canto do galpão.
Fechei os olhos e pedi a Deus para que Marlon chegasse rápido ao meu
socorro.
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CAPITULO 28
MARLON
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CAPITULO 29
TATIANA
Ivan fazia um discursinho patético sobre como eu poderia ter traído ele
daquela maneira e o apunhalado pelas costas. E eu fiz minha melhor cara de
vítima, começando a chorar. Me debatia loucamente nos braços do segurança
careca e chorava. Estava atuando tão bem que eu começava acreditar naquela
cena que eu fazia.
Num certo momento, o segurança afrouxou o aperto e eu me joguei
dramaticamente nos braços de Ivan.
— Você precisa acreditar em mim, Ivan. – choraminguei. – Eu não sabia de
nada! Eu estava sendo usada.
Por um segundo eu tive toda a atenção de Ivan. E por esse mesmo segundo,
eu vi que se me esforçasse um pouco mais, o idiota acreditaria em mim.
— Doutor? – Marlon, o segurança gostoso o chamou.
Ivan e eu nos encarávamos. Eu suava frio e meu coração batia acelerado com
medo da reação do homem que me abraçava.
— Nos deixe sozinhos. — Ivan falou por fim.
— Doutor, eu não acho que... – Marlon insistiu.
— Você não está em posição de achar nada, senhor Torres. – a voz de Ivan
foi cortante. – Façam o que eu mandei. Agora!
Não conhecia esse Ivan que me segurava nos braços agora. Forte, altivo,
mandão.
Após a ordem de Ivan, todos os homens saíram nos deixando sozinhos.
Eu me esfregava nele como uma gata, querendo carinho e atenção.
— Ivan, acredite em mim! – eu implorava. – Eu te amo!
— Eu não quero acreditar que você me usou dessa maneira, Tatiana. – ele me
afastou e caminhou pelo gramado. – Eu não quero acreditar que você
entregou minha filha para a morte.
Eu forcei as lágrimas e elas saíram.
— Eu nunca faria nada para machucar Cecília. – andei atrás dele. – Gosto
dela como se fosse minha filha.
Obviamente exagerei um pouquinho, mas o que valia era que Ivan me desse
um voto de confiança.
Quando ele não falou nada, eu me aproximei. Ivan estava acabado. Tinha o
rosto pálido, bolsas embaixo dos olhos e chorava, coisa que não parecia ser
comum para ele.
Aproveitei que o homem ignorava minha presença e corri até o portão, que
por sorte eu consegui abri.
Antes de sair, peguei minha bolsa que havia caído no gramado após a minha
primeira tentativa de fuga e corri pelas ruas do condomínio.
Quando achei que estava numa distância segura, pedi um carro de aplicativo
e fui direto para o aeroporto.
Durante o trajeto eu torcia para que não tivesse nenhum alerta por mim. Será
que teria policiais disfarçados fazendo ronda no terminal a minha procura?
Será que eu seria barrada na hora do embarque igual nos filmes?
Ainda no carro, limpei meu rosto e retoquei a maquiagem para afastar a
impressão de que eu havia chorado.
Fui até o guichê, comprei a passagem para o primeiro voo que tivesse para
São Paulo e me enfiei no banheiro para passar o tempo.
Não demorou muito e eu escutei o meu voo ser chamado. Me encaminhei
para a fila numa falsa calma com medo de ser interceptada a qualquer
momento. E só quando o avião já estava no ar e eu via a cidade brilhando
embaixo de mim é que eu relaxei.
Eu iria passar alguns dias escondida em São Paulo e pensaria numa maneira
de me vingar de Roger por ter me colocado naquela situação.
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CAPITULO 30
CECILIA
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CAPITULO 31
MARLON
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Tão logo a noite caiu, saímos em comboio em direção ao local onde Cecília
era mantida refém. Fazia parte da frota três viaturas da Antissequestro, duas
da Operações Especiais e o meu carro descaracterizado.
No último briefing antes de sairmos, foi repassado a infiltração e o resgate da
refém. Ficou decido que tanto Ivan quanto eu só entraríamos quando
estivesse tudo “dominado” no jargão policial, quando não oferecesse risco
nem pra Ceci nem para os outros.
Eu estava tenso enquanto dirigia pelas ruas da cidade. Duplamente tenso, na
verdade. Ter Ivan calado e carrancudo ao lado não ajudava em nada.
— Doutor Ivan... – comecei. – Eu queria te pedir desculpas...
— Guarde suas desculpas para quando eu tiver minha filha sã e salva nos
braços, Torres. – ele me interrompeu.
— Sei que não é o momento, mas não foi só eu que falhei. – rebati,
recebendo um olhar mortal do promotor.
— Você está querendo dizer que eu tenho culpa pelo sequestro da minha
filha? – Ivan aumentou a voz.
— Tanto eu quanto você. – falei calmamente. – Nós dois erramos. E isso
custou a segurança de Cecília.
— Mas é muita cara de pau sua, Torres. – ele se ajeitou no banco irritado.
— Tatiana. – olhei para ele de relance. – Você, literalmente, dormiu com o
inimigo, doutor.
Ivan suspirou alto e passou a mão pelo rosto.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ele falou:
— Eu suspeitava de algo, Cecília não gostava muito dela e você já tinha me
alertado sobre possíveis relacionamentos abruptos. – Ivan se calou.
Diminui a velocidade para passar em um cruzamento e vi a expressão
derrotada do promotor.
— Eu quis acreditar que depois de tanto tempo sem me relacionar com
ninguém, sem me sentir vivo para o amor, eu tivesse encontrado alguém para
compartilhar um bom vinho, um bom sexo, risadas. Mas eu estava enganado.
Doutor Ivan soluçou e eu quase senti pena dele.
— Eu trouxe o inimigo para dentro de casa. – o homem completou.
Ficamos calados até que paramos no ponto de encontro para um último acerto
de ideias antes de estourar o cativeiro de Cecília.
Estávamos a dois minutos de Cecília e minha ansiedade gritava.
Pior foi quando paramos em frente ao galpão e, Ivan e eu, recebemos
instruções de ficarmos no carro.
O pessoal de Operações Especiais cercou o lugar e a Antissequestro começou
a fazer a invasão. Enquanto, do lado de fora, os policiais civis a paisana fez a
prisão de alguns suspeitos que fizeram menção de evadir do local.
Tudo que aconteceu a seguir foi um borrão.
Porta sendo arrombada, diversos tiros. O silêncio depois.
Eu que já estava fora do carro, corri para dentro do galpão.
Havia muita fumaça, cheiro de pólvora, vozes masculinas. Mas o que os
meus ouvidos captaram, foi um choro baixinho. Ignorei os muitos corpos
caídos no chão e corri até uma forma minúscula, encolhida junto a uma
pilastra.
— Cecília! – gritei enquanto corria. – Cecília!!!
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CAPITULO 32
CECÍLIA
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CAPITULO 33
MARLON
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CAPITULO 34
IVAN
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CAPITULO 35
TATIANA
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Quando acordei no outro dia, revivi rapidamente a noite anterior até ser
interrompida por uma mensagem no meu celular.
“Saudades, doçura.”
Me sentei na cama com o coração acelerado. Como Roger havia conseguido
meu novo número?
Outra mensagem:
“Se divertindo muito aí em São Paulo?”
Fui até o frigobar e bebi uma garrafinha de água de uma só vez.
O celular vibrou mais três vezes seguidas até que eu pegasse ele para ler as
mensagens.
“Ele soube te satisfazer direito?”
Que merda era essa?
“Considere como um presente meu para você.”
O quê?!
“Te vejo em uma semana no chalé. Não se atrase. Você sabe meu lema,
doçura. Um acerto, uma recompensa; um erro, uma punição.”
Me sentei atônita na cama. Só saí do transe quando o sol começou a me
esquentar excessivamente. Aí, eu fui dominada pela raiva. Queria quebrar
alguma coisa, de preferência na cabeça de Roger.
Meu plano ter de ser acelerado e eu não poderia falhar, pois minha vida
estava em jogo.
•••
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CAPITULO 36
CECILIA
Uma bagunça. As últimas semanas poderiam ser resumidas a isso.
Mas da mesma maneira que começou toda a confusão com o chefe da facção
criminosa, Tatiana e afins, tudo terminou.
Meu pai me contou resumidamente tudo o que aconteceu.
Enquanto eu estava sequestrada, Tatiana havia fugido e ninguém sabia do
paradeiro dela. Aí quando estava tudo relativamente bem e todos começam a
seguir a vida, ela reaparece. Mesmo com a polícia monitorando os passos
dela, Tatiana invadiu o chalé do chefão, matou todo mundo e logo em
seguida se matou.
A motivação era desconhecida por mim. Mas também não me interessava.
Tudo o que era necessário saber, era que agora estávamos livres de toda
aquela merda, do medo, de ter que ficar olhando sobre os ombro a todo
momento.
Depois de todo período de apreensão, pudemos relaxar. Meu pai tirou as tão
merecidas férias e me arrastou para a Itália, numa viagem que ele deixou
claro a todo momento que era em família. Ou seja, não tinha espaço para um
certo guarda-costas.
Na noite anterior a minha viagem, Marlon e eu ficamos acordados trocando
juras e fazendo amor. Ele estava super tranquilo em relação a não ida dele
para a Itália e me fez prometer que eu não ficaria enchendo a cabeça de
doutor Ivan com isso.
Antes do dia raiar, eu voltei correndo para meu quarto e fingi que havia
acabado de acordar bem ali. Por questões de minutos, meu pai não me pegou
no pulo.
— Bom dia, meu amor! – Ivan todo efusivo entrou no quarto. – Pronta para
comer um belo cannoli?
Fingi um bocejo e sorri.
— Pronta. – me levantei passando por ele e correndo para o banheiro. –
Preciso de um banho, pai. Te encontro no café da manhã.
Com isso, ele entendeu a deixa e saiu, permitindo que eu fizesse minha
higiene pessoal com privacidade. Eu apenas não queria ir para a mesa do café
com o cheiro do que Marlon e eu fizemos a noite toda.
•••
Como nosso voo era noturno, eu tive o dia todo para finalizar a organização
das minhas coisas nas malas.
Nós íamos passar cerca de vinte dias viajando pela Itália. Vinhos, massas,
paisagens deslumbrantes tudo perfeito para uma viagem de casal. Mas meu
pai insistia para que fossemos apenas nós dois. Até cheguei a sugeri que ele
chamasse Elisa, a minha psicóloga, a quem ele vinha encontrando
esporadicamente, mas doutor Ivan foi irredutível. Ele queria uma viagem em
família. Ok, pai, o senhor venceu.
Duas horas antes do horário previsto para a saída do voo, Marlon parou o
carro no estacionamento do aeroporto. Durante todo trajeto, ele me olhava
pelo retrovisor interno como se quisesse decorar cada traço do meu rosto.
Ivan sentado no banco da frente, não fazia ideia dos olhares do segurança em
mim. Ele estava vidrado demais nas mensagens que apitavam a cada segundo
no seu celular. Eu tinha certeza de que era Elisa.
Durante o curto período do check-in, Marlon ficou próximo à mim, mesmo a
contragosto de Ivan que queria ir rapidamente para a sala vip do aeroporto.
Antes de passar pelo detector de metais, corri para os braços de Marlon.
— Você vai me esperar? – perguntei com a voz embargada.
— Eu te esperei uma vida inteira, meu amor. – ele respondeu tocando meu
rosto. – Vinte dias não são nada.
Sorrimos juntos, enquanto eu enfiava o nariz no pescoço dele e sentia o tão
conhecido cheiro.
— Cecília, vamos. – meu pai chamou.
Antes que Marlon me soltasse, fiquei nas pontas dos pés e o beijei
apaixonadamente.
Passei por Ivan que olhava com a pior cara do mundo para a ceninha que
havíamos feito e me encaminhei para a sala de embarque.
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CAPITULO 37
MARLON
Vinte dias sem Cecília. Vinte dias sem ela escapando para o meu quarto no
meio da noite. Vinte dias sem aquele sorriso travesso, sem aqueles olhos
castanhos, sem a menina mulher que eu aprendi a amar.
Ela me ligou, tão logo o avião pousou na Itália, dizendo que era para eu ficar
atento ao meu celular que ela me mandaria um tanto de fotos e mensagens
para me fazer sentir como se eu estivesse lá com ela.
A cada hora do dia, eu recebia uma foto de Cecília com um ponto turístico
italiano ao fundo e uma pequena aula sobre o mesmo. E a noite, quando
doutor Ivan ia dormir, nós nos falávamos por quase uma hora. Não matava de
todo a saudade que eu sentia, mas era melhor que nada.
Durante a primeira semana sem Cecília eu me joguei no trabalho. A equipe
de segurança da mansão estava reduzida por conta da ausência dos dois, e
com isso eu tinha mais liberdade para trabalhar direto na sede da SecMate.
Fechei mais contratos, fiz uma pequena seleção para novos seguranças e
durante um final de semana inteiro fiz um curso de tiro com um atirador foda
da Polícia Civil do Paraná.
Estava malhando mais, trabalhando mais, tudo isso para não ter tempo de
sentir saudade da Ceci. Mas era impossível. A cada segundo eu me pegava
pensando nela e em como uma menina tão jovem havia roubado meu coração
de um jeito irreversível.
Eu ainda continuava “morando” na casa da piscina, só não sabia por quanto
tempo mais, já que doutor Ivan dera a entender que abriria mão da segurança
exagerada que ele vinha mantendo durante os últimos tempos. Rosa,
enquanto enchia meu prato e quebrava minha dieta balanceada, falava que
tudo isso era show de Ivan, que ele não seria doido de partir o coração de
Cecília me mandando embora. Eu queria acreditar nas palavras da
senhorinha, mas as atitudes e olhares de Ivan para mim diziam o contrário.
•••
•••
Nunca vi vinte e quatro horas se arrastarem tanto igual essas que anteciparam
a volta de Cecília. Aliás, eu vi sim, aquelas que ela passou sequestrada, mas
disso eu não gosto nem de lembrar.
Quando o avião vindo da Itália pousou em São Paulo, já passava da meia
noite. Ceci me ligou feliz, dizendo que agora respirávamos o mesmo ar e que
não via a hora de poder me abraçar. Eu sabia que ela queria dizer outra coisa,
mas que muito provavelmente o pai dela estava perto.
Ela disse também que por volta das dez da manhã era para eu estar a postos
para buscá-la no aeroporto. Respondi que não havia nada que eu desejasse
mais que isso.
Conversamos por poucos minutos, até que eu escutasse a voz de Ivan dizendo
para ela desligar para fazer o check-in no hotel. Provavelmente, esses dias
distante não mudou em nada o pensamento do promotor sobre mim. O que
seria uma pena, pois o que eu tinha mente, contava com a presença dele.
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CAPITULO 38
CECÍLIA
Apesar de cansada, quase não consegui dormir e fiquei rolando pela cama
pensando que estava a uma hora de distância de Marlon. Eu sentia tanta falta
dele que chegava a doer.
Vi o dia amanhecer na selva de pedras, tomei um banho rápido e desci para
encontrar Ivan para o café da manhã do hotel.
Estava morrendo de saudade de comer pão de queijo, bebendo um café
quentinho. Amava viajar, comer coisas diferentes, mas amava mais ainda
voltar para minha Minas Gerais e poder me entupir de tudo que tiver queijo.
Subimos de volta aos quartos para escovar os dentes e buscar as malas. Fazia
algumas fotos no espelho, quando Ivan bateu a minha porta para dizer que o
carro de aplicativo estava a dois minutos do hotel. Dei uma última conferida
no quarto, para checar se não havia esquecido nada e saí.
O caótico trânsito de São Paulo me deixava ansiosa. Queria chegar logo ao
aeroporto, pegar o voo e voltar para os braços de Marlon.
Meu pai totalmente alheio a ansiedade borbulhante dentro de mim, sorria
feito um garoto apaixonado para o celular. Usei a vantagem de estar de
óculos escuros e dei uma espiadinha na conversa que rolava na tela.
Ivan conversava com a minha psicóloga, Elisa Mendes. Eles vinham se
falando desde quando eu passei a fazer terapia, na semana seguinte ao meu
sequestro. Ela estava levando esse envolvimento de maneira super discreta.
Se eu não prestasse muita atenção nele, nem pressionasse Marlon a descobrir
algumas coisas, eu não falaria que Ivan estava se apaixonando. Na única vez
que Elisa foi na mansão, ela foi como minha psicóloga e parecia que Ivan a
manteria o mais afastada possível de lá.
Deixei a mente divagar nos acontecimentos dos últimos dezoito meses.
Pensei no quanto minha vida havia mudado. Quando saí em intercâmbio para
a Europa, eu era uma menina jovem e mimada. E quando eu voltei, meu
mundo estava de cabeça para baixo e eu não poderia ser mais aquela garota
de um ano atrás, pois ela não existia mais.
Muitas coisas ruins aconteceram nesses últimos tempos. Mas uma coisa
maravilhosa me aconteceu: Marlon. E era com o pensamento nele que eu
embarcava para Minas.
•••
Por conta de uma chuva inesperada, o voo atrasou, me fazendo querer gritar
de raiva. Mandei uma mensagem para Marlon, avisando do imprevisto e fui
até o Starbucks renovar minha dose de cafeína.
Com uma hora e meia de atraso nos embarcamos. Eu ouvia música pelo
celular e editava fotos para o Instagram enquanto Ivan lia um livro enorme
sobre direito.
Mal vi a hora passar. Quando dei por mim, estávamos preparando para
pousar. Guardei meu celular e preparei para desembarcar.
Ficamos quinze minutos para recolher as malas na esteira e colocá-las no
carrinho, até eu poder sair do desembarque doméstico.
Nem em um milhão de vidas eu poderia estar preparada para o que aconteceu.
Antes das portas duplas se abrirem, ele estava de costas. Uma cabeça mais
alta que o resto das pessoas que ali se encontravam, ele esperava.
Minha respiração se acelerou, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar. Eu tinha
certeza que minha bochechas estavam coradas e minhas pupilas dilatadas.
A primeira leva de pessoas saíram apressadas, fazendo o virar.
Aí eu vi. Marlon estava de terno preto bem cortado, cabelos penteados e
segurava um cartaz com meu nome.
Nossos olhos se encontraram e sorrisos automáticos surgiram nos nossos
lábios. De novo.
Tentei não correr por entre as pessoas que ali estavam, mas foi impossível.
Eu não tinha controle sobre o meu corpo. Corri e me joguei nos braços de
Marlon que me segurou com força, beijando meu cabelo.
Ficamos longos minutos apenas nos abraçando. O cheiro tão conhecido de
Marlon me embriagava. O calor do corpo dele me fazia querer ficar assim
para sempre.
— Oi. – ele sussurrou no meu ouvido depois de um tempo.
— Oi. – respondi quase sem fôlego, olhando para o rosto dele.
— Senti sua falta, senhorita Bernardes.
Eu ainda respirava como se tivesse ocorrido uma maratona.
— E eu quase morri de saudades, senhor Torres.
Passei as mãos pelo pescoço dele, puxando-o para um beijo de tirar o fôlego.
Não me importava com nada. Pessoas, local, meu pai.
Eu apenas queria dizer o quanto amava o homem que estava ali por mim.
Não pensava que ele era meu guarda-costas, dezoito anos mais velho que eu
ou que meu pai não era fã da ideia de que eu me relacionasse com ele. Eu só
queria beijá-lo.
— Eu te amo, Marlon. – sussurrei quando nossos lábios se separaram. – Eu te
amo.
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CAPITULO 39
IVAN
•••
Já em casa, Cecília foi direto para cozinha procurar Rosa que finalizava o
almoço especial para sua “menina".
— Rosa!!! – Ceci gritou e se jogou nos braços da velha senhora.
— Meu amor! – Rosa já chorava de emoção. – Que saudade.
Dei um abraço rápido nela e fui atrás de Marlon Torres. Agora teríamos uma
conversa de homem pra homem.
— Senhor Torres. – eu o chamei enquanto ele tirava as malas do carro. – Tem
um minuto?
— Sim, senhor. – ele parou o que estava fazendo, se virando para mim.
— Eu não sou de enrolar, Torres. – comecei. – Você e minha filha. O que foi
aquilo no saguão do aeroporto?
Marlon olhou para baixo com uma sombra de sorriso no rosto.
— Um beijo. – ele respondeu me provocando.
— Quanta maturidade, senhor Torres. – dei um sorriso sarcástico.
— Não tem nenhuma criança aqui, doutor Ivan. – Marlon mudou de postura.
– O senhor sabe o que foi aquilo. Eu amo Cecília.
Aquelas palavras me pegaram de surpresa.
— Você ama minha filha? – repeti debilmente.
— Amo. – ele foi enfático. – E posso afirmar categoricamente que ela me
ama também.
Dei um passo para trás puxando o ar com força.
— Meu Deus do céu.
— O senhor pode não concordar ou aprovar, doutor Ivan, mas eu não
pretendo sair do lado de Cecília nem por um segundo enquanto eu viver.
Olhei para Marlon perplexo.
— Eu amo sua filha e pretendo me casar com ela, tão logo ela aceite.
Meu instinto de pai me dizia que essa era a hora de jogar meu punho no rosto
do segurança e descontar toda a raiva acumulada. Mas eu tinha por mim que
lá no fundo, Cecília não gostaria que eu deformasse o belo rosto de Marlon.
— Casamento? – perguntei incrédulo. – Você não acha que está indo rápido
demais, não? Minha filha acabou de fazer vinte anos e ainda tem muito pra
viver antes de se amarrar a uma coisa tão definitiva quanto um casamento.
Marlon mudou o peso do corpo de uma perna para outra e sorriu.
— Doutor Ivan, com todo respeito, mas eu já vivi tempo demais sozinho pra
saber o que é uma paixonite e o que é amor. E o que eu sinto por Cecília é de
longe a coisa mais intensa e pura que já senti em toda minha vida. E sobre ela
ter acabado de fazer vinte anos, a idade é apenas um número. Já conheci
mulheres com o dobro da idade de Cecília que não tem a metade da
maturidade e da força que ela tem.
Marlon puxou o ar com força e eu vi os olhos dele marejados.
— Eu sei que o senhor não gosta muito de mim, mas eu amo sua filha. E se
eu tiver que lutar contra o mundo para ficar com ela, eu vou lutar. Cecília é a
mulher que eu amo. – Marlon estendeu a mão para mim. – Eu não estou
pedindo sua bênção, doutor Ivan, só peço que você não faça nada para
prejudicar meu relacionamento com ela.
Eu absorvia cada palavra que Marlon dizia. Cada emoção que passava pelo
rosto dele era genuína, cada vez que ele falava de Cecília os olhos brilhavam.
E a coisa que me deixou mais chocado, era que a cena se repetia quase vinte e
cinco anos depois.
Quando pedi Lilian, a mãe de Cecília, em casamento, eu passei pelas mesmas
desconfianças do meu sogro. Ele não gostava de mim porque eu era um cara
que havia acabado de se formar na faculdade de direito, sem emprego, com
uma dívida enorme e que não tinha nem onde cair morto. E a filha dele era
uma das garotas mais bonitas da faculdade e além de rica, falava várias
línguas e era bem relacionada.
Uma das coisas que mais me marcou foi quando ele me chamou no escritório
perguntou o que eu teria para oferecer para a filha dele. E eu respondi a
verdade, que eu não tinha bens materiais ou luxo. Eu tinha apenas o amor que
eu sentia por ela, mas se ele me arrumasse um emprego, eu trabalharia
incansavelmente para dar a ela o mundo. O coronel, como meu sogro era
conhecido, me mandou sentar, abriu uma garrafa de uísque e serviu dois
copos.
— Meu filho. – o coronel falou para um jovem Ivan. – De todos os rapazes
que vieram até mim pedir a mão da minha filha em casamento, você foi o
único que me disse a verdade. Os outros chegaram aqui e só falaram das
minhas posses e de tudo que ela vai herdar. – ele bebeu um grande gole do
uísque. – Mas você foi o único que falou que a ama. O único que foi sincero e
disse que não pode oferecer nada a ela, mas que trabalharia para dar a ela o
mundo. Eu não quero um vagabundo casado com minha preciosidade, eu
quero um homem íntegro, de valor, que não se importa em trabalhar.
E naquele momento, eu saí do escritório do coronel com um emprego e a
bênção dele para que eu me casasse com Lilian. Foi um casamento feliz.
Obviamente eu não tinha condições de bancar a vida anterior dela, mas o
coronel nunca nos deixou desamparados. Antes que completássemos três
anos de casados, eu havia passado no meu primeiro concurso público e passei
a ganhar uma grana boa. Quando Lilian ficou grávida, dois anos depois, eu
estava no meu primeiro ano como promotor de justiça. O coronel estava
doente e lutou pela vida durante o nove meses da gestação de Cecília, que
viria a ser a única neta dele. Quando Lilian morreu no parto de Cecília foi um
baque para todos. Mas foi pior para o coronel que não teve mais forças para
lutar contra a doença e se entregou.
Éramos uma família em um dia, no outro era apenas eu e um pacotinho
chorão, que Lilian havia chamado antes mesmo de saber o sexo, de Cecília.
Rosa, que desde dessa época já trabalhava na casa do coronel, veio me ajudar
a cuidar de Cecília. E o resto já é conhecido.
Marlon ainda me olhava como se esperasse uma resposta, mas eu estava
distante demais para saber o que dizer. Apenas estendi meu braço e apertei a
mão dele.
— Cuida da minha Cecília. – falei depois de um tempo.
— Vou cuidar. – ele respondeu.
— Eu já ouvi isso antes. – retorqui.
Marlon me olhou com culpa e falou:
— Eu nunca vou me perdoar por aquilo, doutor Ivan. Nunca.
Assenti. Não era hora de dizer ao homem a quem eu estava entregando minha
filha que não era bom ficar remoendo o passado.
Me virei para sair, mas Marlon me interrompeu.
— Doutor Ivan, eu peço que o senhor não comente nada sobre o casamento.
Levantei uma sobrancelha para ele.
— Então, ela ainda não sabe?
— Não, senhor. – ele olhou para o chão encabulado. – Eu ainda vou preparar
o pedido.
— Não a decepcione, senhor Torres.
Dito isso, me virei entrando de volta na mansão.
•••
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CAPITULO 40
MARLON
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CAPITULO 41
CECILIA
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CAPITULO 42
CECILIA
— Você está maravilhosa, Ceci! – Elisa falou ajeitando o véu que caía pelas
minhas costas.
Depois que meu pai e ela assumiram o romance, eles não se desgrudavam
mais. Doutor Ivan estava radiante e eu já tinha relaxado em relação aos
temores do último namoro dele. Elisa era completamente diferente da já
esquecida e falecida Tatiana. Graças ao bom Deus!
— Ah, minha menina! – Rosa era só chorar, me fazendo ficar mais emotiva
ainda. – Você está uma princesa.
Alisei pela milésima vez a frente do meu vestido e suspirei. Estava nervosa
ao extremo, desde que me enfiaram dentro da peça de seda, eu estava parada
em frente ao espelho procurando algum defeito no modelo feito única e
exclusivamente para mim.
— Marlon já chegou? – perguntei. – Não consigo ver muita coisa daqui. –
falei esticando o pescoço para a grande janela da casa de campo em que
aconteceria a cerimônia.
— Ele está no outro quarto. – Elisa respondeu servido uma segunda taça de
champanhe para a gente. – Respira fundo e bebe um pouco.
Tomei um golinho do líquido borbulhante e pedi a ela que pegasse meu
celular para que eu pudesse fazer uma selfie.
Fiz várias fotos sozinhas e algumas com Elisa e Rosa, depois deixei o
aparelho de lado para me concentrar na minha respiração como minha
madrasta pedia.
Elas saíram, me deixando sozinha e só então pude ver o quanto eu estava
diferente e bonita ao espelho. Já não era mais uma menina, mas sim uma
mulher crescida dona do próprio destino.
Fui me acalmando, pensando que dali a pouco mais de uma hora eu seria uma
mulher casada. Eu teria um marido que me amava, uma casa para cuidar e
possíveis filhos para amar e educar.
Meu celular vibrou em cima da mesinha e me trouxe de volta ao presente. Era
Marlon.
“Pronta para ser a senhora Torres?”
Eu ri olhando a mensagem.
“Tô mais ansiosa para a lua de mel.”
Meio segundo depois ele respondeu.
“Eu posso atrasar a cerimônia e te dar uma provinha do que estar por vir.”
Suspirei alto. Bem que eu queria, mas seria muito trabalhoso com todos
aqueles panos do vestido e do véu.
Parei um minuto e pensei: como eu havia me tornado essa pessoa safada? A
reposta era simples: Marlon.
“Não me atiça, senhor Torres. Estou quase cogitando a possibilidade de te
vendar e abusar de você.”
“Infelizmente o casamento vai atrasar, por motivos de pau duro do noivo.”
Gargalhei e no mesmo instante meu pai deu duas batidas de leve na porta,
abrindo-a um pouco, colocou o rosto na abertura.
— Ceci? Já está pronta?
Rapidamente mandei mensagem para Marlon que meu pai havia chegado e
que eu o veria dali a pouco no altar.
— Oi, pai. – eu ainda estava na mesma posição de quase uma hora atrás,
quando me colocaram de pé e começaram a me vesti.
Ivan estacou e levou as mãos ao rosto cobrindo a metade dele.
— Meu amor... – ele sussurrou. – Você está linda.
Quando ele se aproximou, eu pude ver os olhos de marejados. Um bolo se
formou na minha garganta e eu tentei não deixar a represa abrir.
— Ah, pai...
Ivan fez menção de me abraçar, mas parou no caminho com medo de amassar
meu vestido. Vendo a hesitação dele, eu tomei a frente e o abracei.
— Ceci... – ele começou a falar, mas a voz ficou presa a garganta.
Ficamos abraçados em silêncio até meu pai se recuperar.
— Filha, eu queria tanto que sua mãe estivesse aqui para ver você nesse
momento. – ele fungou. – Mas eu tenho certeza que de onde ela e seu avô
estiverem, eles estarão felizes e muito orgulhosos de você. Da mulher que
você se tornou, da pessoa gentil e educada que você é. O mesmo orgulho que
eu estou sentindo agora. Você vai construir sua própria família, ter sua
própria casa. Ter filhos... – ele sorriu de leve, mas congelou em seguida. –
Caramba, eu vou ser avô!
Rimos juntos, com lágrimas escapando pelos olhos.
— Eu tenho uma coisa para você. – meu pai falou sério. – Era da sua mãe.
Aliás, era da sua avó. O coronel deu a ela como presente de casamento. E
quando sua mãe se casou comigo, seu avô passou para ela, da mesma maneira
que eu estou fazendo com você.
Ivan abriu uma caixinha de veludo com uma pulseira de platina com
pequenas pedrinhas de safira incrustados.
Era linda! Eu quase fiquei sem ar de tanta emoção. Ivan vendo que eu não
tinha condições de pegá-la, a retirou da caixinha e a colocou em meu pulso.
Estiquei o braço para admirá-la e parecia que ela havia sido feita
especialmente para mim. Olhei meu reflexo no espelho e vi que combinava
perfeitamente com o vestido. E mesmo se não combinasse, eu usaria assim
mesmo.
Virei para Ivan que ainda estava emocionado e sorri.
— Obrigada, pai.
Ele fez um gesto como se isso não fosse nada e pegou minha mão.
— Uma coisa azul, uma coisa antiga e uma coisa emprestada. – ele falou e eu
fiquei sem entender.
— Emprestada?
— A pulseira está com você por empréstimo, por assim dizer. – ele sorriu. –
Espero que você possa passar para sua filha no futuro. Uma joia de família.
Quando ouvi isso, meus olhos abriram as torneirinhas.
— Ah, Doutor Ivan. – falei. – Se continuar me emocionando assim, não vou
ter lágrimas para chorar no casamento em si.
Ele olhou as horas no relógio de pulso e disse:
— Um casamento o qual estamos atrasados.
Arregalei os olhos assustada e andei até a janela. Todos os convidados já
estavam em seu lugares, sentados em cadeiras de madeira simples. Marlon
estava lindo num terno azul com gravata vermelha. Mathias tirava alguma
poeira dos ombros de seu amigo que era invisível para mim.
— Vamos? – meu pai me chamou.
Respirei fundo.
— Vamos.
•••
Descemos as escadas com meu pai me segurando firme pelo braço. Passamos
pela sala e varanda, até chegar na entrada do caminho que iríamos percorrer
até Ivan me entrar para Marlon. Já havíamos ensaiado isso algumas vezes,
mas quando é pra valer, tudo é diferente.
Quando apareci no começo do gramado, a música começou a tocar. Eu havia
escolhido uma das minhas músicas favoritas, só que tocada por violinos. A
música era You Are So Beautiful de Joe Cocker.
Caminhei por todo percurso com os olhos cravados em Marlon. Mal notava
meu pai me fazendo diminuir a velocidade dos passos ou as pessoas de pé me
observando. Só tinha olhos para meu futuro marido.
Quando meu pai entregou, literalmente, a minha mão a Marlon, eu sentia
dores nas bochechas de tanto sorrir.
— Você está linda... – Marlon sussurrou no meu ouvido, antes que a
cerimônia se iniciasse.
Eu só sabia sorrir. Parecia uma idiota. Mas uma idiota se casando com o
homem que amava.
A cerimônia passou num piscar de olhos. Eu estava num estado de euforia
extremo que não me permitia marcar em tempo o que acontecia. Marlon e eu
disputávamos quem chorava mais.
Quando o celebrante falou que o noivo podia beijar a noiva foi que minha
ficha caiu. Eu era a senhora Torres. Marlon me beijou apaixonadamente,
arrancando aplausos e assobios dos convidados.
— Oi, esposa. – ele sussurrou nos meus lábios.
— Oi, marido. – sussurrei de volta.
— Oficialmente, senhora Torres. – Marlon falou enquanto caminhávamos de
volta com as pessoas jogando arroz na gente.
— Só é oficial quando se consuma o casamento. – dei um sorriso travesso.
•••
Fomos direto para a pista de dança fazer a tradicional valsa dos noivos.
Foram os cinco minutos mais longos da minha vida. Por mais que Marlon me
ensinasse como valsar, eu não conseguia aprender. Era da minha natureza não
saber dançar e eu estava contente com isso. Então, durante a música, tentei ao
máximo não pisar nos pés dele.
Quando acabou o momento da minha pequena humilhação, eu subi para tirar
meu vestido de noiva, colocar um mais curtinho e aproveitar a festa em si.
As pessoas dançavam, comiam e bebiam, se divertindo horrores. E eu só
pensava em ficar a sós com meu marido.
Marlon me puxou para outra dança, que consistia em me movimentar pra lá e
pra cá.
— Vamos fugir para uma rapidinha, senhora Torres? – ele perguntou.
— Leu meus pensamentos, senhor Torres. – respondi fingindo que
conversávamos coisas triviais.
Passamos por entre os convidados, subimos as escadas e nos enfiamos no
quarto onde Marlon havia se arrumado.
Nossa lua de mel começaria bem ali, no tapete de pele de vaca fake.
▪▪▪
CAPITULO 43
MARLON
Pegamos o avião em direção a nossa tão esperada lua de mel. Seria uma
viagem internacional, até então, inédita para mim. Iríamos passar uma
semana em Aspen no Colorado. Neve, vinho, sexo em frente à lareira...
Cecília me atiçava durante o voo com promessas safadas.
Viajamos de primeira classe e ficaríamos no melhor hotel em Snowmass
Village, tudo por conta de doutor Ivan, como um belo e caro presente de
casamento.
Quando o avião pousou no Colorado, senti meus ossos gelarem. Fazia um
frio do caramba, e olha que ainda nem estávamos nas montanhas
propriamente ditas.
Um carro de luxo nos buscou no aeroporto de Denver e nos levou até nosso
hotel numa viagem de quase quatro horas por paisagens de tirar o fôlego.
Cecília ia fotografando tudo. Árvores, montanhas, neve, ela, eu... Ainda
estávamos na primeira parte da viagem e ela já se divertia como eu nunca
tinha visto antes. Depois de Aspen, nós dois passaríamos mais quinze dias em
Nova York.
Depois de muito tempo na estrada, chegamos no vilarejo. Havia lojas de luxo,
restaurantes caros e hotéis bonitos tudo aos pés das montanhas nevadas.
Nosso hotel era o mais chique do lugar. Cinco andares todos de vidro com
quartos luxuosos com hidromassagem, lareira a gás e uma mini cozinha
composta por uma geladeira um pouco maior que um frigobar, microondas,
uma pia e uma bancada para café da manhã.
Nosso quarto ficava no quarto andar e a janela lateral dava para as
montanhas. Uma vista incrível. Quando abrimos a porta, tivéssemos uma
surpresa. O hotel havia preparado o quarto para gente com flores, chocolate,
vinho e um cartãozinho de boas-vindas aos recém-casados. Ceci se derreteu
com o carinho deles. Mas eu acreditava que tinha um dedo (e uma bela
gorjeta) de Ivan nessa história.
— Ai Marlon, que perfeito! – Cecília falou indo até a janela. – É tudo tão
lindo!
Fui atrás dela e a abracei, beijando-a nos cabelos.
— Tudo fica mais bonito quando você está por perto, meu amor.
Ceci se virou, sorrindo e passou os braços pelo meu pescoço.
— O frio te faz ficar romântico, senhor Torres?
— Você me faz ser romântico, senhora Torres.
Nos beijamos apaixonadamente, até sermos interrompidos pela minha barriga
roncando de fome.
— Vamos procurar um restaurante e saciar sua fome. – Ceci falou de um jeito
travesso.
Entendi o que ela queria dizer.
— E quando voltarmos quero recriar uma cena de filme, fazendo amor em
frente a lareira. – ela completou.
— Realizarei qualquer desejo seu. – falei beijando de leve os lábios da
mulher da minha vida.
•••
O frio das ruas até gostoso de se sentir, mas era bem melhor quando
entrávamos em qualquer estabelecimento e a calefação nos aquecia.
Nos almoçamos em um luxuoso restaurante, onde, segundo Ceci, as
Kardashians já haviam frequentado. Já tinha ouvido falar na família, mas não
fazia ideia de quem era quem e o que elas faziam.
Depois do almoço, caminhamos um pouco pelo vilarejo para ver mais do
belíssimo lugar, fizemos mais algumas fotos e voltamos para o hotel.
De volta ao quarto aquecido, fui tomar um banho enquanto Ceci mandava um
email para o pai falando que chegamos bem. Já estava no terminando de me
enxaguar quando Cecília invadiu o box.
— Precisa de ajuda? – ela falou passando os braços pela minha cintura e
entrando na água quente.
— Uma mãozinha é sempre bem vinda. – falei em duplo sentido.
Começamos a dar um amasso no chuveiro que foi interrompido por uma
batida na porta. Contrariado, me sequei rapidamente, vesti um roupão felpudo
e fui atender.
Entre o pedido de casamento e o dia da viagem em si, Cecília intensificou as
aulas de inglês comigo. Eu sabia o básico da língua, mas estava bem
enferrujado.
Quando abri a porta era o gerente do hotel com mais uma surpresa. Nós
havíamos ganhado um jantar em um restaurante fora do vilarejo e um carro
alugado iria nos pegar as oito da noite. Agradeci e fui falar com Ceci. Ela já
tinha saído do banho e estava secando os cabelos.
No notebook, um email de doutor Ivan piscava na tela. Chamei Cecília para
ler e quando ela se aproximou, eu cliquei para abrir a página.
“Filha, espero que vocês dois estejam se divertindo.
Você já deve ter recebido a cortesia para um jantar em Aspen. É em um
restaurante simples, ou era pelo que eu me lembro, mas tem muito
significado para mim.
Foi nesse restaurante em que sua mãe e eu jantamos quando viajamos em lua
de mel. E foi aí em que tirei uma das fotos mais bonitas dela. Aquela que
você tem uma cópia no quadro em seu quarto.
Espero que você e Marlon construam memórias eternas como eu construí
com sua mãe.
Te amo.
Ivan Bernardes. “
Ouvi Cecília fungar e me abraçar. Foi dela a ideia de viajarmos para o
Colorado, mas eu sabia que lá no fundo tinha alguma coisa a ver com estar
perto da mãe dela de alguma forma.
— Doutor Ivan sabe como mexer com meus sentimentos. – Ceci falou se
sentando no meu colo.
— Ele te ama. – beijei o nariz dela. – Assim como eu.
— E eu amo vocês dois. – ela me beijou os lábios.
•••
Seja lá quem foi que inventou a máxima de que no frio as pessoas se vestem
melhor, essa pessoa mentiu. Como se pode estar elegante com duas calças,
duas meias dentro de uma bota de couro, touca, uma camisa, duas blusas de
frio e um sobretudo puffer? E ainda por cima se eu tivesse, por alguma razão,
que correr, mal conseguiria.
Ceci por outro lado estava linda. Diferente de mim que estava todo de preto,
ela quebrava a seriedade com um sobretudo e touca rosa.
Fomos super bem recepcionados e atendidos no restaurante, que ainda se
mantinha simples como há mais de vinte anos, na época de Ivan. A comida
estava deliciosa, mas o que a gente mal podia esperar era pra chegar e fazer
amor em frente à lareira como o prometido.
Quando o carro nos deixou em frente ao hotel começava a nevar. Eram
pequenos flocos que caíam e se acumulavam em nossas roupas. Olhei para
cima sorridente e feito um idiota, abri a boca colocando a língua para fora.
Ouvi a gargalhada de Cecília e o flash quase me cegar enquanto ela me fazia
de modelo.
— Eu te amo. – ela falou se preparando para uma selfie de casal.
Os nossos olhares apaixonados estavam eternizados naquele momento.
•••
▪▪▪
CAPITULO 44
CECILIA
Depois de uma lua de mel dos sonhos, a vida real me chamava. Agora
Marlon e eu morávamos juntos numa cobertura em um condomínio próximo
a mansão de Ivan. Era apenas ele e eu, vivendo as delícias e os perrengues da
vida a dois. Nossos trabalhos nos tomava o dia inteiro e quando chegávamos
em casa, era aquela festa.
Rosa me mandava receitinhas do que cozinhar, dicas de limpeza e os truques
de como manter a casa nos trilhos. Mathias me dava aulas de defesa pessoal e
Marlon tinha me feito perder o medo de manusear, se preciso, uma arma de
fogo. Ainda continuava com a terapia, pois me fazia um bem absurdo. Elisa
era a melhor psicóloga com que eu poderia exorcizar meus demônios.
Estava tão feliz com essa nova fase minha vida, que só podia agradecer.
Tinha um emprego bom em uma revista famosa em Minas Gerais e ainda
conciliava ele com meu trabalho como influencer digital, o que me rendia
uma boa grana por mês.
Todos aqueles meses de medo e incertezas se foram, restando apenas coisas
boas para se viver.
Marlon era o melhor marido que uma mulher poderia sonhar. Gentil,
companheiro, prestativo, amoroso, cuidadoso... Me cobria de mimos sempre
que possível. Na cama então, nem se fala. Era o amante perfeito. Por falar em
sexo... Nós dois sempre gostamos da coisa, mas agora com um lugar só
nosso, isso estava fora de controle. Durante os dias úteis, eram duas vezes ao
dia. Já nos finais de semana, as saliências começavam na sexta e só paravam
no domingo.
Mas já tinha umas duas semanas que eu estava meio estranha. Pro sexo eu
estava excelente, mas para as outras tarefas, meio cansada. Cheguei a pensar
que a depressão queria dar as caras novamente e marquei uma consulta com
Elisa na hora do meu intervalo para o almoço.
A namorada do meu pai me recebeu de braços abertos. Elisa era a melhor
pessoa a quem eu poderia confiar o coração de Ivan.
Ela estava almoçando quando eu bati na porta do consultório dela.
— Cecília, como é bom ver você. – Elisa me recepcionou. – Eu estava
almoçando, mas tudo pela minha enteada.
Quando ela falou do almoço em si, o cheiro de comida chegou em minhas
narinas, fazendo meu estômago revirar.
— Elisa, banheiro. – falei com a voz débil, tentando segurar o vômito que
quase saía pela minha boca.
A mulher apontou para uma porta fechada no canto do consultório e foi pra lá
que eu corri. Mal tive tempo de fechar a porta e já me ajoelhei em frente ao
vaso sanitário, botando todo meu café da manhã pra fora.
Depois do vexame com o enjoo, fiquei alguns minutos sentada sobre o vaso
me recuperando. Elisa bateu de leve na porta, me ofereceu um copo com água
e um pouco de enxaguante bucal, e me deixou sozinha de novo.
Quando terminei a higiene a sala cheirava sândalo, ela já havia guardado o
almoço e me esperava sentada em uma das poltronas.
— Tudo bem? – Elisa me perguntou.
Me sentei escorada no sofá de dois lugares e balanceio a cabeça de leve.
— Não sei. – respondi de olhos fechados. —Eu tô estranha. Não tenho ânimo
para trabalhar, na mesma hora que eu quero comer, a comida me enjoa. Os
únicos momentos que eu fico com cem por cento da minha capacidade é
quando eu tô na cama com Marlon. Eu tô com medo de estar entrando em
depressão novamente.
Elisa riu. Uma risadinha sutil no começo, depois uma gargalhada mais sonora
que me fez abrir os olhos e encará-la.
— Ceci... – ela começou com uma voz calma. – Com esses sintomas que
você está me descrevendo eu não sou a pessoa exata para te dar um
diagnóstico.
Me sentei ereta, olhando assustada para Elisa.
— Como assim? O que eu tenho?
Ela riu de novo, se levantando e sentando ao meu lado.
— Ceci... – ela pegou minha mão e cobriu com a dela. – Você e Marlon vem
se protegendo?
— Protegendo? – não havia entendido o que ela queria saber.
Elisa assentiu calmamente.
Fiquei olhando pra ela tentando lembrar desde quando meu anticoncepcional
havia acabado.
— Meu Deus! – levei as mãos a boca para impedir um grito de escapar.
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CAPITULO 45
MARLON
•••
Meu pedido foi o primeiro da noite. Uma pizza de alcachofra para Ceci e uma
de calabresa para mim.
Quando entrei no apartamento, não encontrei Cecília a vista. Andei pelos
cômodos vazios e a avistei debruçada no vaso sanitário vomitando.
— Cecília? – chamei enquanto ela fazia força para vomitar.
— Sai daqui, Marlon. – ela falou com a voz embargada.
— O que está acontecendo, Ceci? – me ajoelhei ao lado dela e lhe segurei os
cabelos.
— Não sei... – ela encostou a cabeça no meu ombro.
— Ah meu amor. – beijei o cabelo dela. – Quer que eu chame um médico?
— Não, vai passar. – Ceci se levantou e deu descarga. – Trouxe minha pizza?
Olhei pra ela meio chocado. A garota havia acabado de vomitar e queria
comer uma pizza? Ainda por cima de alcachofra?
— Você está bem mesmo, Cecília? – perguntei novamente.
Agora ela escovava os dentes e balançou a cabeça positivamente. Eu fiquei
olhando intrigado para ela no reflexo do espelho.
— Quer ir arrumando a mesa? – Ceci perguntou antes de jogar água no rosto.
Apenas me virei e saí calado.
Arrumei a mesa de forma simples. Estendi apenas o jogo americano sobre a
mesa, colocando as pizzas por cima, os copos e a insubstituível Coca-Cola.
Nada de talher. Nós dois gostávamos de comer pizza de um jeito raiz, com as
mãos mesmo.
Quando Cecília se sentou, pegou a primeira fatia da tão desejada pizza e
colocou na boca, nem parecia que minutos atrás ela estava botando o mundo
pra fora no banheiro. Ela comia com tanto gosto que eu até me arrisquei num
pedaço dela. Não era ruim, mas eu não trocava a minha calabresa por nada
nesse mundo.
Terminamos de comer e falamos sobre como foi o dia de cada um, mas eu
ainda estava preocupado com ela ter passado mal.
— Cecília, o que você comeu que te fez mal? – perguntei.
Ela bebeu o último gole do refrigerante antes de me responder.
— Eu não sei ao certo. – ela falou reprimindo um arroto. – Estive com Elisa
hoje. Conversei com ela. Tô me sentindo estranha nos últimos dias. Ela
desconfia que eu esteja grávida.
Grávida. A única palavra que meu cérebro captou. Grávida. Minha Cecília
grávida.
— Marlon? Marlon? – Ceci me chamou. – Você está bem? Você tá meio
pálido.
— Você tem certeza? – foi a única coisa que eu consegui falar.
— Certeza de quê?
— De que você está grávida?
— Não sei... – a voz dela foi um sussurro.
— Você ainda não fez o teste? – perguntei chocado.
— Não. – ela encolheu os ombros. – Eu não sabia se ia querer saber antes de
você.
Saí do meu lugar e fui até ela. Peguei a mão dela e beijei, em seguida a fiz
levantar. Dei um abraço apertado em Cecília que começou a chorar.
— Por que você está chorando? – perguntei baixinho.
— Eu não sei. – ela soluçou.
— Tá tudo bem, meu amor. – beijei a testa dela. – Vem senta aqui no sofá.
Cecília me deixou conduzi-la até o grande sofá em L.
— Fique aqui. – pedi a ela. – Eu só vou dar um pulo na farmácia e volto.
Ceci assentiu.
Peguei as chaves do carro, minha carteira e fui em direção ao elevador.
Dirigi pelas ruas com uma ansiedade, num misto de felicidade e medo. A
todo tempo meu coração batia num ritmo diferente. “Eu vou ser pai. Eu vou
ser pai. Eu vou ser pai.”
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CAPITULO 46
CECILIA
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CAPITULO 47
IVAN
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CAPITULO 48
CECILIA
Com o passar dos meses e o crescimento da minha barriga, o quartinho do
bebê ia ficando pronto. Mas ainda não podíamos decorar de azul ou rosa pois
ainda não havíamos conseguido ver o sexo. Fizemos vários ultrassonografias,
mas nada do bebê deixar a gente descobrir o que vinha por aí.
Marlon sentia que era uma menina. Ele falava que era feeling de pai e que já
havia “conversado” com ela. Diferente de todo mundo que jurava de pé junto
que era um menino. Eu ficava calada, torcendo secretamente para Marlon
estar certo.
Marlon já havia me pedido para que Mathias fosse o padrinho, e eu não tinha
por que dizer não. Eles eram amigos de longa data, quase irmãos e a única
família que tinham. Já para madrinha, eu não pude pensar em ninguém
melhor que Rosa. Um exemplo de mulher, foi a mãe que eu conheci e que me
criou com muito amor e dedicação.
Eu estava completando 37 semanas e estava na reta final da gestação. Minhas
costas estavam me matando e eu sentia que estava próximo do parto.
Marlon me levaria de novo para fazer mais uma ultra para tentar ver o sexo
do baby.
Tinha fé que hoje daria certo ou então eu enlouqueceria. Que mãe passa
quase nove meses sem saber se é menino ou menina? Obviamente, aquelas
que escolhem não saber, é claro. Mas eu escolhi saber desde o primeiro
minuto que eu descobri que uma vida crescia dentro de mim.
Chegamos na hora exata em que meu nome era chamado na clínica.
— Bom dia, Cecília. – doutor Paulo meu obstetra falou. – Como nós
estamos?
— Eu tô doida pra saber o que é. – respondi. – O bebê parece que está
crescendo cada dia mais e me faz ter a sensação de que a qualquer momento
eu vou explodir.
O médico riu, dizendo que no final era assim mesmo. E me pediu que eu
fosse vestir a camisola para o atendimento.
Marlon me ajudou a tirar as sapatilhas e o vestido. E eu me deitei na maca
naquela posição horrível.
— Vamos lá? – doutor Paulo calçou as luvas e começou o exame.
Estava tudo perfeito tanto comigo quanto com o bebê. Ele já estava virado e
pronto pra nascer a qualquer momento. Quando o doutor falou isso, Marlon
apertou minha mão e sorriu.
— Vamos tentar mais uma ultra?
Nós três rimos. Todo mês eu ia na clínica para a consulta de rotina e uma
ultra fracassada. Claro que eu sabia que ultrassom não era feito apenas para
saber o sexo do bebê, tinha outras coisas e doenças que eram diagnosticadas
precocemente por conta do exame.
— Todos em silêncio. – doutor Paulo passava o troço gelado na minha
barriga.
Estávamos apreensivos. Essa seria a última ultra que eu fazia para saber o
sexo. Se não acontecesse dessa vez, eu esperaria o parto.
— Vocês já têm nomes? – o médico perguntou.
— Sim. – Marlon respondeu. – Júlia e Noah.
Mais silêncio.
— Papais, falem oi para Júlia.
Meu olhar e de Marlon se encontraram, assim como nossa alma. Uma
lágrima escorreu do rosto dele e caiu no meu quando ele abaixou para me
beijar.
— Parabéns ao casal. – o obstetra falou. – Finalmente!
Gargalhamos de felicidade.
— Eu sabia. – Marlon sussurrou no meu ouvido. – Eu sabia.
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CAPITULO 49
MARLON
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EPILOGO
Eu tinha tudo o que eu sempre sonhei aos 26 anos. Era editora chefe da seção
de moda da revista, tinha uma casa com quintal grande, uma família unida,
uma marido que me amava cada vez mais, dois filhos... É, dois filhos fora da
barriga, né!?
Ainda pensava em um jeito de contar para Marlon que nossa família iria
aumentar.
Meu marido estava viajando a trabalho junto com Mathias. Eles foram até
Curitiba para a inauguração da segunda filial da SecMate, a empresa de
segurança privada na qual eles eram sócios. Eles voltariam no final da
semana e até lá eu teria tempo para bolar a surpresa. Dessa vez Júlia e Noah
já estavam maiorzinhos e participariam da trama.
Iria reunir todos num churrasco na mansão de Ivan, e quando Marlon
chegasse, as crianças iriam até ele com a camiseta escrito “promovida a irmã
mais velha de novo” e promovido a irmão do meio". Era meio bobo, mas
sabia que ele iria gostar isso.
Enquanto pensava no quanto minha vida era maravilhosa, eu observava as
crianças dormirem no tapete da sala com a televisão ligada. Eles tinham tanto
de mim, quanto de Marlon.
De tudo o que aconteceu na minha vida, a melhor foi ter lido meu nome em
uma folha de papel no desembarque do aeroporto. Eu sabia que ali, naquele
momento, minha vida jamais seria a mesma.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, quero agradecer a Deus, porque sem ele nada seria possível.
Quero agradecer a todos que leram a história pelo Wattpad. Meu muito
obrigada a todos.
E a você querido leitor, muito obrigada por valorizar a literatura nacional.
Obrigada de coração.
Beijos.
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