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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
IMAGENS DO RECÔNCAVO:
MEMÓRIA, PATRIMONIO E AUDIOVISUAL
Memorial
Salvador
2011
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DO COMUNICAÇÃO
IMAGENS DO RECÔNCAVO:
MEMÓRIA, PATRIMONIO E AUDIOVISUAL
Memorial
Salvador
2011
2
RESUMO
Este projeto tem como objetivo estabelecer uma interface entre os campos da
comunicação, memória e patrimônio a partir da estruturação de uma proposta de plano
de comunicação que potencialize e valorize a história e a cultura do recôncavo, e tendo
como pano de fundo a reconstituição de sua memória audiovisual. Assim, a partir de um
diagnóstico prévio, apresentaremos propostas que poderão ser avaliadas e reconstruídas
pela comunidade local de forma a estabelecer estratégias para a preservação de sua
memória audiovisual local.
3
AGRADECIMENTOS
Finalizar este trabalho é uma mistura de emoções. Por um lado, sinto um grande alívio e
alegria de ter chegado ao final desta etapa, e apresentando um produto fruto de
inquietações que já me acompanham há alguns anos, e que conseguiram finalmente
tomar forma. E, por outro, sinto que este ainda é um trabalho inacabado. Que possui um
grande potencial de aplicabilidade prática, mas que necessita de aprimoramentos e uma
maior busca por dados. De toda forma, é uma etapa que se cumpre, outras certamente
virão.
Pelo cumprimento desta etapa devo agradecer, em primeiro lugar, a minha família, pela
paciência e suporte na tentativa de me fazer não tentar abraçar o mundo de uma só vez.
Afinal, vários abraços são melhores que um só.
Em segundo lugar, agradeço fortemente ao meu orientador, José Roberto Severino, por
ter acreditado nessa idéia, incentivado a sua realização, e pela paciência com o
orientando rebelde que teve enormes dificuldades em cumprir prazos.
Agradeço também à Laura Bezerra e Sérgio Sobreira, que tão prontamente aceitaram
participar desta banca. Acredito que suas contribuições irão enriquecer e amadurecer
muito mais este trabalho.
Agradeço aos amigos/as do recôncavo, que participaram deste trabalho cedendo dados
de forma indireta, em conversas de corredor, em almoços, e por aí vai... Esses amigos/as
que tem apenas duas mãos e o sentimento do mundo...
E, por fim, depois de sete anos e duas graduações, devo agradecer muito à Faculdade de
Comunicação da UFBA, seu corpo docente, discente, técnico-administrativo. Pessoas
que se configuraram em parte importante de minha vida, com as quais muito aprendi e
muito experimentei não só em relação ao “ser comunicólogo”, mas ao “ser humano”.
Nesse universo chamado Facom, deixo um agradecimento especial àqueles que
4
acreditaram no espaço da Agência Experimental em Comunicação e Cultura, criada a
partir de um sonho que hoje é compartilhado por muitos. Foi muito bom ser, e continuar
sendo, parte dessa trajetória.
5
“A memória é uma ilha de edição”.
Waly Salomão
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
7
SUMÁRIO
ANEXOS ................................................................................................................... 34
8
1. Introdução, ou do surgimento da idéia à sua execução
1
Sua versão integral está disponível nos anexos deste trabalho
9
Certamente, essa mudança (ou ampliação) de objeto me proporcionou ter uma
visão mais abrangente sobre o que significa a realização de políticas públicas integradas
e dentro de uma perspectiva interdisciplinar, já que estamos trabalhando com diferentes
campos do conhecimento. Algo que anima, ao mesmo tempo que preocupa. Será que
dei conta de tudo?
Dentro dessa perspectiva, este memorial não será apresentado em forma
cronológica. Mas sim, a partir de pontos que foram considerados cruciais durante a
execução desse trabalho de pesquisa-ação. E, trazendo em paralelo, as reflexões teórico-
conceituais que balizaram (e nortearam) sua realização.
Propositadamente, escrevo o memorial em primeira pessoa do singular. Isso
dará um caráter mais pessoal a este relato e poderei tentar demonstrar, assim, de forma
mais direta, as principais etapas, inquietações, frustrações, expectativas e resultados
deste trabalho que, certamente, não consideramos concluso. Mas que pretende, ainda
assim, dar sua contribuição enquanto possibilidade de reverberação dentro do campo
concreto de ações realizadas no recôncavo.
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2. Inquietações ou “do lugar do patrimônio audiovisual e das
definições acerca deste trabalho”
02 – Tendo esse problemática maior, não caberia, então, tornar como objetivo
desse trabalho problematizar esse lugar e tornar como produto do mesmo não mais um
plano de comunicação, mas sim um plano de salvaguarda do acervo audiovisual sobre o
recôncavo?
Questões colocadas, passei a tarde e a noite deste sábado, dia 06, vasculhando
na internet, e nos anais do VII Enecult, artigos que abordassem esses três temas:
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políticas de patrimônio; a relação entre memória e audiovisual; e planejamento de
comunicação. Pesquisa feita, materiais impressos, a partir daí a leitura foi intensa.
Mas, antes de continuar essa questão especifica, vale retomar a discussão geral
sobre patrimônio para depois entrarmos num nível pormenorizado pois, no fundo, não
se trata apenas de definir o lugar que ocupa o patrimônio audiovisual entre as esferas do
material e do imaterial. Mas se trata de problematizar os próprios limites existentes
entre esses dois campos.
Inicialmente é importante delimitar, então, o que entendemos como patrimônio.
Podemos tomar como ponto de partida o conceito trazido pela Constituição brasileira de
1988, quando, em seu artigo 216, a define como
Assim, já em finais dos anos 80, essa é uma idéia que localiza a noção de
patrimônio para além do ponto de vista tradicional, reducionista, como um conjunto de
bens móveis, ou mesmo abrangendo apenas o ponto de vista material. E, se
aproximando dessa idéia, entendemos patrimônio como um legado histórico,
construídos a partir de relações simbióticas/ dialéticas entre materialidade e
imaterialidade, e que representam o legado simbólico-cultural de uma comunidade
(entendendo comunidade a partir de seu ponto de vista tradicional, como um conjunto
de pessoas que compartilham bens, hábitos, símbolos em comum; uma comunidade de
sentidos).
De toda forma, do ponto de vista das políticas institucionais de patrimônio, a
relação material x imaterial foi uma polêmica por muito tempo, dicotomia que aos
poucos foi sendo reduzida, até o entendimento da necessidade de se pensarem ações
para salvaguardar, igualmente, o patrimônio imaterial. Conforme aponta SIMÃO (2005,
p. 17), quando relata como essa discussão se deu no nível do Conselho Consultivo do
Patrimônio, vinculado ao IPHAN,
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dever-se-iam acrescentar os repertórios invisíveis, tais como as
histórias, as narrativas, as lendas e as festas. Porém, não terão
esses outros bens novos suportes e materialidades dos quais
lhes são próprios? Afinal, uma celebração ou um ritual não se
faz sem indumentárias e objetos cerimoniais. Discutiu-se,
portanto, a dificuldade semântica do termo “imaterial” ou
“intangível” e os desafios de superação dessa dicotomia.
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reunião de informações para realizar bem todas essas
atividades.
Algo que também não pretendia fazer era utilizar um modelo igual ao já
realizado por iniciativas que buscaram catalogar acervos nacionais, tais como o banco
de dados da Cinemateca Brasileira, ou mesmo o projeto Filmografia Baiana. Traços em
comum foram inevitáveis mas, a partir desse cruzamento de dados e métodos, e
entendendo a especificidade dos acervos audiovisuais e a finalidade desse trabalho,
chegamos a um modelo de ficha de inventariamento.
Ela se divide em quatro partes: na primeira, os dados gerais tais como ano de
realização, diretor(a), produtora responsável e sinopse, dentre outras informações
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básicas que oferecem uma síntese do filme; na segunda, são pormenorizadas as suas
questões técnicas (equipe, formato de gravação, etc); já a terceira parte é o que
consideramos nosso diferencial, pois nesse item é feita a relação do filme com os
referenciais históricos do recôncavo, a partir da descrição da forma de abordagem, dos
sítios históricos e das personagens retratadas; no quarto item são colocadas imagens do
filme e, por fim, uma listagem de referenciais e fontes complementares de informação.
O modelo final encontra-se nos anexos deste trabalho.
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3. Outras inquitações, ou “das relações memória, cinema e
história”
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algumas indicações, simples „signos‟ destinados a nos trazerem
à memória antigas imagens (Bergson, 2006, p. 22).
Nesse sentido, é impossível não trazer à tona, também, refletir essa questão à luz
da noção de hegemonia trazida por Antonio Gramsci, e outros que foram influenciados
por ele, como Raymond Williams e E. P. Thompson, ambos integrantes dos primórdios
dos estudos culturais ingleses e que entendem a cultura enquanto um campo de disputa
por hegemonias entre diferentes discursos que refletem distintas construções de mundo,
e que, por diferentes fatores, podem se tornar hegemônicos.
Essa é uma estratégia bastante utilizada por diferentes regimes políticos em todo
o mundo, e não deixou de fazer parte da história do Brasil. Como forma de construir
uma identidade nacional, foram sendo forjadas idéias do que se constituiria o que é
nacional, como o que é genuinamente brasileiro, e, a partir daí, o que deve ser
salvaguardado como patrimônio histórico. Assim, as primeiras políticas de patrimônio
se desenvolveram no país, valorizando determinadas manifestações folclóricas e o
patrimônio arquitetônico colonial e clássico.
Assim, nesse processo de “escolha”, outras memórias foram deixadas de lado,
processo que traz implicações diretas na relação imagem-lembrança e imagem ação. Se
uma imagem já não se conforma mais como imagem-lembrança, logo não poderá se
configurar como imagem-ação e ter implicações na vida presente.
Outro autor que deve ser lembrado neste momento é Marc ferro e suas reflexões
em torno da relação cinema e história. Conforme aponta MORETTIN (2003, p. 12) a
partir dos anos 70, o cinema, elevado à categoria de “novo objeto”, é definitivamente
17
incorporado ao fazer histórico dentro dos domínios da chamada História Nova, sendo
ele um dos principais responsáveis por isso.
Dentre outras questões, em seu clássico artigo “O filme: Uma contra-análise da
sociedade”, ele comenta da importância do cinema enquanto fonte histórica, tão
legitima quanto às fontes documentais tradicionais, e tendo em vista que o que é
mostrado por esse tipo de produção audiovisual também é, por si só, o retrato de uma
época.
Assim, a partir das idéias apresentadas pelos autores e por seus comentadores,
podemos chegar a algumas questões-chave, e que se relacionam diretamente com a
natureza deste trabalho. Em primeiro lugar, como aponta Bergson, a memória não está
no passado, ela está no presente, seja enquanto lembrança, seja enquanto ação concreta.
Conforme aponta Ferro, o cinema vai além de uma reprodução ilusório de realidades, se
configurando, por si só, enquanto manifestação de formas e expressões de uma época.
E, por fim, vale mencionar uma citação de François Hartog, quando alia memória e
patrimônio. Conforme aponta o autor,
18
4. As últimas inquietações, ou do lugar da educação neste trabalho
Por fim, mas não menos importante, por conta da natureza transdisciplinar
desse trabalho, ainda tinha que tornar mais clara a relação que seria possível estabelecer
entre o campo da educação, mais precisamente com o campo da educação patrimonial,
com o audiovisual.
Para iniciar essa discussão, apresento uma idéia trazida por SABALLA (2007,
p. 23), quando afirma que a educação patrimonial “trabalha no sentido de que os
sujeitos tomem contato com os patrimônios de suas localidades, a fim de assentar em
bases sólidas a identidade cultural, com apropriação e valorização de heranças”.
Todo processo educativo assenta bases para a formação e conformação de
identidades. Entretanto, partindo dessa idéia, estamos partindo do principio que essas
bases podem, e devem, ser consolidadas a partir da (re)apropriação e (re)significação de
elementos da história e da memória locais.
Conforme aponta HORTA, GRUNBERG e MONTEIRO apud TEIXEIRA
(1999, p. 200),
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outras iniciativas vão mais além, e, para além de inserir uma perspectiva crítica da
mídia, busca aliar essa apropriação com outras questões, como a formação de
identidades individuais e coletivas.
Eu mesmo já pude trabalhar em algumas experiências realizadas em bairros
periféricos de Salvador, especialmente no contexto do terceiro setor, que buscavam
resgatar a auto-estima de jovens a partir da construção de outros olhares sobre a região
onde viviam. E é justamente com essa perspectiva que estamos trabalhando aqui.
Assim, enxergo a possibilidade de inserção dessas produções em contexto
escolar, para além de um uso instrumental para aulas de história ou artes, enquanto
possibilidade de estabelecer contatos e conexões com memórias adormecidas, ou
transmitidas apenas pela história oral.
Do ponto de vista da educação patrimonial enquanto política pública, procurei
pesquisar como as instituições públicas responsáveis pelas políticas de patrimônio em
âmbito federal e estadual trabalham com essa questão, e uma análise de seus relatórios
de gestão não apresentam dados muito animadores.
Pegando o caso do Programa Monumenta do IPHAN, responsável pelas
intervenções em bens móveis na cidade da Cachoeira nos últimos anos, por exemplo,
conforme aponta o relatório referente ao orçamento executado em 2010, apenas 1,32%
do montante gasto no programa foram aplicadas em ações de educação patrimonial, ou
seja, pouco mais de R$ 900.000 (novecentos mil reais).
Já quanto ao IPAC, a existência da Coordenação de Ações Educativas não
garante uma política plena na área. O seu relatório de gestão referente ao ano de 2010
traz, apenas, as seguintes ações: a realização de oficinas de educação patrimonial
voltadas para dirigentes municipais, tendo em vista “a elaboração de planos de
salvaguarda municipais. Foram realizadas 18 oficinas, envolvendo cerca de 400
pessoas, além da realização de um I Encontro de Educação Patrimonial na região do
Baixo Sul da Bahia e a realização de visitas guiadas no centro histórico da cidade do
Salvador. Ou seja, ações ainda bastante incipientes.
Como dissemos anteriormente, o município da Cachoeira começou a
implementar, a partir desse ano, a obrigatoriedade do ensino da educação patrimonial na
sua rede pública de ensino. Não chegamos a apurar profundamente como esta
“novidade” estava sendo aplicada nas escolas da região. Entretanto, a partir de
conversas informais com alguns professores e estudantes, percebi que a medida não
veio acompanhada de um processo mais consistente de formação de professores, ou
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mesmo de estruturação de materiais e projetos pedagógicos de forma que a temática
possa ser trabalhada de maneira ampla. Valeria, sem duvidas, a realização de uma
pesquisa específica sobre a aplicação prática desta medida na cidade e como ela será
desenvolvida enquanto prática pedagógica nos próximos anos em Cachoeira.
21
5. A pesquisa (re) começa
22
Enquanto isso, foi enviada para mim a listagem do acervo geral de DVD‟s da
instituição, a qual utilizei para atualizar a minha listagem de filmes feita inicialmente.
Apesar de ainda ser necessária a conferência do conteúdo, apenas pelos títulos a lista foi
incrementada de 42 para 53 filmes.
De forma paralela, tentei agendar as entrevistas com alguns dos gestores já
citados. E, por incrível que pareça, esta se tornou a parte mais difícil do trabalho, seja
pela falta de retorno, seja pela incompatibilidade de agendas. Com a prefeitura da
Cachoeira o contato parecia, inicialmente, tranqüilo. Entretanto, após diversas tentativas
frustradas de agendamento, e uma confirmação que culminou com uma ida frustrada à
sede da secretaria de cultura e turismo da cidade no dia 05 de outubro (quando cheguei,
o secretario e seu assistente não estavam presentes), a entrevista não foi feita.
Ainda no mesmo dia dessa ida frustrada à sede da Secretaria de Cultura e
Turismo, vim descobrir o motivo de ter encontrado a mesma de portas fechadas:
Acessando o site do Jornal A Cachoeira (jornal on line da cidade), me deparei com a
seguinte matéria: “DENÚNCIA: Iphan acusa prefeitura de degradação do patrimônio”2.
Curioso sobre a questão, fui até o site do IPHAN onde estava disponibilizada uma nota
completa sobre a questão. Nela, o IPHAN fazia uma série de denuncias sobre
intervenções realizadas pela prefeitura em sítios históricos tombados sem a autorização
do órgão.
Além da informação de que já haviam sido investidos na cidade, nos últimos
10 anos, cerca de R$ 55 milhões, e que, através do programa PAC Cidades Histórias, a
meta seria investir mais R$ 105 milhões (números bem superiores ao que imaginava que
tivesse sido investido no local), me causou surpresa o tom da nota, bastante duro com a
administração municipal:
2
A matéria pode ser lida através do link: <http://www.acachoeira.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=1895:iphan-cidade&catid=294:comunidade&Itemid=567>,
acessada em 06 out 2011
23
constituem em crimes cometidos contra o Patrimônio Nacional, sendo
submetidos ao juízo da Justiça Penal Federal3.
3
A nota na íntegra pode ser conferida no site oficial do IPHAN, através do link:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=16250&sigla=Noticia&retorno=detalhe
Noticia>, acessada em 06 out 2011
24
ainda estava longe de ser alcançado, pois tinha notícias de, apenas 30 deles. E, para
minha surpresa, os dois últimos produtos encontrados, e que são dois dos filmes mais
antigos catalogados, não encontrei no acervo da Dimas, mas sim publicado no youtube:
o primeiro se trata de um registro de imagens de Maragojipe realizado pelo alemão
Gunther Plüschow em 1927; e, o segundo, se trata do registro do Mestre Pastinha em
ação, no ano de 1948. Duas pérolas encontradas por acaso nesse canal de
compartilhamento de vídeos.
Por fim, o mapeamento dos atores/ atrizes e das iniciativas realizadas na
região que tem uma relação direta (ou indireta) com a área do patrimônio também foi
sendo realizada aos poucos. A paralisação das atividades da Universidade federal do
recôncavo da Bahia durante todo o mês de setembro e parte do mês de outubro acabou
atrapalhando um pouco a coleta de dados sobre os projetos realizados pela instituição, e
que seria a principal atriz a ser mapeado pela quantidade de ações realizadas.
Mas, com informações coletadas em seu site oficial, e no banco de dados dos
diretórios de grupos de pesquisa do CNPQ pudemos dar inicio a essa sistematização. Da
mesma forma, o acesso a outros sites institucionais como o da prefeitura da Cachoeira,
da Cinemateca Brasileira e de instituições privadas e do terceiro setor que atuam na
região nos deram algumas informações iniciais significativas.
Dentro dessa sistematização de atores/ atrizes/ iniciativas, optamos por dividi-
las em cinco categorias: as de responsabilidade do poder público; as realizadas pela
iniciativa privada; as realizadas pelo terceiro setor; as redes e articulações; e outras que
não se enquadravam ou que se diferenciavam, em algum ponto, das categorias
anteriores.
Essa foi, certamente, a etapa mais tranqüila do trabalho, seja pela
proximidade que já tinha com boa parte dos mesmos (aqui, a vivência como cidadão
sanfelista4, certamente, foi fundamental para a realização de um mapeamento mais
completo), ou pelo acesso facilitado às informações disponibilizadas virtualmente,
através da internet.
4
Aquele que nasce na cidade de São Félix.
25
6. Por dentro das cinematecas inexistentes e do audiovisual
enquanto documento
5
Proposta criada pela Secretaria do Audiovisual, através da Cinemateca Nacional, no ano de 2005, de
estruturação de um Sistema Brasileiro de Informações Audiovisuais, com o objetivo de coletar dados
sobre acervos dispersos em todo o país. Atualmente, compõem o SIBIA 41 instituições de 15 estados
brasileiros. Da Bahia, integram o Sistema a Dimas e Arquivo Histórico Municipal de Salvador / Fundação
Gregório de Mattos – FGM.
26
incorporada à administração pública, dentro da estrutura do IPHAN, a partir de 1984, e,
a partir de reforma administrativa promovida na gestão do ex-ministro Gilberto Gil
(2003-2008), foi transferida para a Secretaria do Audiovisual.
Já em âmbito estadual, a Secretaria de Cultura, através da sua Diretoria de
Audiovisual (Dimas), é a responsável pela manutenção do acervo baiano. Apesar de
iniciativas recentes como o BOX 100 anos de cinema da Bahia e Memória em 5
Minutos6, e do financiamento da restauração de filmes como “Redenção”, “A Grande
Feira”, ambos de Roberto Pires, e “O Leão de Sete Cabeças”, de Glauber Rocha, a
Bahia carece, igualmente, de políticas para a preservação de seu acervo.
Durante a III Conferência Estadual de Cultura realizada em 2009, dentro das
prioridades eleitas para o campo do audiovisual, estava o
E, também, o
27
Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, no Pelourinho. E, a base do acervo da cinemateca
baiana será o próprio acervo atual da Dimas.
Assim, diante desse contexto, passamos a nos perguntar: que papel podem
cumprir as cinematecas para a preservação de acervos audiovisuais? Seria o caso de
pensar na possibilidade de criação de uma cinemateca do recôncavo, apoiada pela recém
anunciada cinemateca baiana?
Manter um equipamento como esse não é, certamente, uma ação de baixo
custo. E, uma vez iniciada, não pode ser interrompida sob o risco de perda de todo o
acervo ali depositado. De toda forma, independentemente da estrutura que seja
responsável pela salvaguarda de patrimônios dessa natureza, o fundamental é que
existam recursos humanos (profissionais) e técnicos (equipamentos e mobiliário)
adequados para este fim.
Outro desafio das cinematecas é semelhante aos enfrentados, por exemplo,
pelos museus, que é o de ultrapassar o imaginário de um “deposito de coisas antigas”,
para a construção de um imaginário enquanto espaço potencialmente dinâmico. Mas,
obviamente, que a construção de um imaginário desta natureza perpassa pela
dinamização desses espaços e desses acervos, buscando a implementação de ações de
democratização do acesso às obras ali salvaguardadas.
Na própria Faculdade de Comunicação vivemos um problema semelhante, em
que dezenas de filmes que compunham o acervo do Setor de Cinema da instituição
encontrava-se com sérios problemas de registro e acomodação.
Durante o processo de pesquisa, ainda encontramos algumas iniciativas que
pretendem contribuir para uma melhor preservação do acervo audiovisual nacional, tais
como o já mencionado Sistema Brasileiro de Informações Audiovisuais (SIBIA); a
Associação Brasileira de Preservação Audiovisual que realiza, anualmente, dentro do
Festival de Cinema de Ouro Preto, o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos
Audiovisuais Brasileiros; e o projeto Filmografia Baiana 7.
Essas iniciativas visam ampliar o acesso a informações sobre a filmografia
brasileira espalhada pelo país, e, em relação às duas primeiras, tentar articular o diálogo
inter-institucional para a realização de ações conjuntas na área da preservação
audiovisual. E, no que diz respeito ao projeto Filmografia Baiana, vale mencionar que
esta foi uma das principais fontes de dados para a realização deste projeto de pesquisa.
7
Projeto coordenado pela professora Laura Bezerra que apresenta mapeamento de produções
cinematográficas realizadas no estado da Bahia. Disponível em: www.filmografiabaiana.com.br
28
7. O Futuro da Memória e das Conclusões à Prática
Uma forte marca deste trabalho é que, pelo caráter da sua proposta, e pelo
pouco tempo de realização, praticamente todos as suas etapas foram sendo realizadas
aos poucos, e paralelamente, possibilitando que o diálogo entre essas diferentes etapas
gerasse um processo de reflexão continua sobre cada passo do trabalho, e como uma
etapa interferia na outra. E com essa etapa “final” não foi diferente. Desde o inicio do
projeto já tínhamos algumas propostas pré-concebidas mas que, aos poucos, tiveram de
ser repensadas e/ou amadurecidas a partir da realidade com a qual tomávamos contato.
Durante esse processo, buscamos desenvolver idéias a partir do critério básico
da “aplicabilidade”, ou seja, idéias que, a partir de uma avaliação prévia, tenham
condições, de fato, de se tornarem concretas. Assim, conforme pôde ser conferido no
produto deste trabalho, buscamos desenvolver as propostas que podem funcionar
autonomamente mas que, dentro de uma perspectiva sistêmica e integrada, certamente
teriam maior êxito.
Apesar da idéia de “aplicabilidade”, não deixamos de “pensar grande”, pois
acreditamos que o potencial deste tipo de ação na região é grande o suficiente para a
realização de ações de maior escala. A mais ambiciosa delas talvez seja a proposta de
criação de uma “Cinemateca do Recôncavo”, mas que pode ser plenamente realizável a
partir de uma gestão conjunta entre entes públicos e privados que atuam na região.
Em principio, tentamos organizar as propostas em torno de três linhas de ação:
pesquisa, organização, conservação e restauro; sensibilização e disseminação; e
reflexão. Entretanto, pelo próprio caráter interdisciplinar das mesmas, esse tipo de
categorização se tornaria bastante difícil.
Assim, elencamos propostas diversas, passando pela continuidade de
organização do acervo inventariado e da realização de ações mais fortes de conservação,
e, além disso, também elencamos aqui propostas que ressaltam a necessidade de se
continuar a pesquisa por filmes considerados “perdidos”.
E, ao mesmo tempo, sem deixar de lado processos de sensibilização e reflexão
sobre a importância desse acervo, e da necessidade de disseminação de seus conteúdos,
seja através da realização de mostras, de exibições públicas pontuais, e de ações mais
efetivas junto às escolas, dentro da proposta de se inserir esses filmes enquanto material
29
pedagógico a ser trabalhado durante as aulas da disciplina educação patrimonial em
cachoeira, ou enquanto conteúdo transversal na rede das outras cidades do recôncavo.
Chegamos às conclusões mas, de forma alguma, consideramos este trabalho
concluído. Ainda enxergamos nele importantes lacunas que poderão ser aprimoradas.
Alguns desses dados que salientamos que devem ser ainda aprofundados dizem
respeito, especialmente, a dados de alguns filmes, e seu respectivo estado de
conservação, informações fundamentais para os fins desta pesquisa, algo que ainda
pretendemos aperfeiçoar para a entrega da versão final do produto, ou mesmo quando
da aplicação prática de suas propostas.
30
8. Referências bibliográficas
FERRO, Marc. O Filme: Uma Contra-Análise da Sociedade? In: NORA, Pierre (Org.).
História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
FONSECA, Maria Cecilia Londres. Para Além da Pedra e Cal: Por uma concepção
ampla de patrimônio cultural. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Orgs.). Memória
e Patrimônio: Ensaios Contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
31
GRUNBERG, Evelina; HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; MONTEIRO, Adriane
Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. IPHAN: Brasília, 1999.
Sites:
32
Câmara de Vereadores da Cachoeira: http://camaradecachoeira.blogspot.com/
2009/06/projeto-de-lei-n-dispoe-sobre-implantar.html
UFRB: http://www.ufrb.edu.br/reverso/2011/11/04/cine-teatro-gloria-passa-por-
restauracao/
UFRB: http://www.ufrb.edu.br/cahl/index.php/component/content/article/402-13-de-
janeiro-de-2011-solenidade-para-os-40-anos-do-tombamento-de-cachoeira-como-
monumento-nacional
33
Anexo I
JUSTIFICATIVA
OBJETIVOS:
34
Reconhecimento da importância de se conhecer, apropriar para observar o patrimônio
cultural e a identidade cultural.
Recursos necessários
35
ANEXO II
Cor:
Duração:
Gênero:
Formato de gravação
Equipe técnica
Cópias localizadas
(quantd/formato/ local)
Estado de conservação
(ótimo, bom, regular, ruim)
Descrição geral da obra/
observações
Premiações:
Descrição qualitativa
Sítios históricos utilizados/ retratados
Personagens históricos retratados
Atores/atrizes locais utilizados/as (nome
completo e notoriedade)
36