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Fundamentos de Metafísica
Fundamentos de Metafísica
"O princípio da não-contradição diz que toda ação deve ser absolutamente
necessária".
"O princípio da pressuposição diz que toda ação possível tem um pressuposto
necessário".
"O princípio de razão suficiente diz que há uma razão suficiente que subjaz a toda
ação".
"O princípio de ação definida diz que o que define um sujeito é seu conjunto de ações
possíveis. Pode-se, então, definir a enteléquia por meio da expressão:
∃A:(avb…→Ax)".
"O princípio de manifestação diz que as ações possíveis, quando tornadas fatos,
formam o espaço linguístico substancial por meio da manifestação das ações
possíveis como transfigurações da substância e, portanto, os encontros dos
contornos destas formam um plano de ação".
"O princípio da tautologia diz que as ações possíveis que formam um conjunto de
ações possíveis são constituídas de propriedades tautológicas. As propriedades
tautológicas são enunciados analíticos a priori de identidade (A é A, pois o conceito
do predicado A está contido na noção do sujeito A)".
"O princípio da melhor ação diz que o ser deve forçosamente selecionar a melhor
ação possível, que é um valor próprio da ação, não definido pelo sujeito".
"O princípio da autocorreção diz que o ser deve, ao perceber que a melhor ação
definida e efetivada não era a melhor ação possível, corrigir-se, de modo a fazer com
que sua próxima ação seja efetivamente a melhor ação possível".
"O princípio da auto-afirmação diz que o ser deve agir de modo a afirmar sua
natureza, expandindo-a e conservando-a".
"O puro amor seleciona efetivamente a melhor ação, enquanto os seres criados
selecionam a possibilidade da melhor ação".
"O puro amor seleciona efetivamente a melhor ação, pois, devido à análise pela
extensividade da ação, o puro amor consegue chegar à melhor ação, que é definida
pelas propriedades tautológicas que a constituem. Os seres criados selecionam a
possibilidade da melhor ação, pois, devido à análise pela imediatidade da ação, os
seres criados não conseguem chegar à melhor ação, então os seres criados devem
definir qual é a melhor ação com base em suas propriedades tautológicas, e sem ter
ciência de que as ações têm valor por si mesmas".
"A melhor ação possível do puro amor é aquela cuja projeção infinita resulta em um
plano de ação absolutamente coerente com os princípios que fundamentam as ações
do ser".
"A melhor ação possível dos seres criados é aquela cujas propriedades tautológicas
são absolutamente coerentes com os princípios que fundamentam as ações do ser".
"Existem afetos que aumentam a potência de agir dos seres criados. A potência de
agir consiste na possibilidade de aproximar-se da melhor ação possível, no momento
no qual vai-se definir qual é a melhor ação possível".
"A primeira melhor ação do puro amor determinou todo o seu eterno plano de ação".
"O puro amor não é livre, porquanto o livre agir é um efeito da contingência do ser e,
se a contingência do puro amor é nula, portanto, sua liberdade também é".
"O puro amor não é perfeito, porquanto há imperfeição, que consiste na afirmação da
desigualdade existencial, contida na sua noção de sujeito, que se dá nela devido à
existência do ego".
"O puro amor não é onisciente, porquanto não há eternidade fora dele e, portanto,
não há o que conhecer além do eterno agora, que está contido na sua noção de
sujeito, e, por isso, o puro amor possui sabedoria infinita, não onisciência".
"Transfigurar a substância é defini-la e limitá-la".
"O puro amor é formado, para além de suas ações possíveis, por três princípios, a
saber, o ego, a vontade de unidade e o puro amor puro. O ego fornece o princípio da
imperfeição, que consiste na afirmação da desigualdade existencial. A vontade de
unidade representa a contingência do ser do puro amor. O puro amor puro se dirige
para o bem, em constante expansão. Com isso, o puro amor faz-se pela harmonia
resultante da união destes três princípios".
"Se assim for, poder-se-ia dizer, então, que o que constitui o ser não é o seu conjunto
de ações possíveis, mas é, na verdade, antes de tudo, o seu conjunto de enunciados
possíveis".
"eⁿ ←→ eP".
"eP ←→ eV".
"eV ←→ e < x".
"As seis formas de operação do espírito são as ações possíveis comuns a todos os
espíritos".
"As seis formas de operação do espírito são as primeiras ações do ser, que são
sempre executadas por meio do inconsciente de ação, até que a primeira melhor
ação, na última operação, seja selecionada e efetivada pelo ser. No puro amor, o
inconsciente de ação tornou-se o melhor plano de ação possível, enquanto, nos seres
criados, o inconsciente de ação move-os até o seu retorno à unidade".
"Os enunciados de ação são enunciados verdadeiros, que contêm ações em si, que,
ao serem selecionados, são tornados fatos tanto como ações quanto como
enunciados".
"Conhece-se a priori a enteléquia do ser, mas, para se ter o domínio de seu conceito,
é necessário conhecê-la a posteriori. Em outras palavras, define-se um indivíduo por
sua enteléquia, que não passa de uma porção da enteléquia do puro amor; mas
pode-se defini-lo também por ser um reflexo do simples comum, que consiste na
parcela da enteléquia do puro amor que é comum a todos os seres criados".
"A substância é simples, porquanto ela não pode ser composta, pois, se o fosse, ela
demandaria um pressuposto que justificasse sua composicionalidade, o que não
pode ocorrer ao pressuposto último. Portanto, a substância é simples, não
composta".
"A substância é necessária, porquanto ela não pode ser contingente, pois, se o fosse,
ela demandaria uma justificativa para sua existência ser como é, o que não pode
ocorrer ao pressuposto último. Portanto, a substância é necessária, não
contingente".
"A substância é determinada, porquanto ela não pode ser livre, pois, se o fosse, ela
não poderia agir sempre da melhor forma possível, o que não pode ocorrer à
enteléquia da substância, que é, por natureza, indefinida, ilimitada e em conformidade
com fins. Portanto, a substância é determinada, não livre".
"A substância é imperfeita, porquanto ela não pode ser perfeita, pois ela possui
propriedades tautológicas a priori, isto é, independentes de toda transfiguração da
substância, que são as seguintes: o ego, que é imperfeito, o puro amor puro, que é
mais do que perfeito e a vontade de unidade, que é contingente. Consoante o que foi
dito, ela não pode ser perfeita devido à sua propriedade tautológica de imperfeição,
que é o ego. Portanto, a substância é imperfeita, não perfeita".
"A substância é não onisciente, porquanto, para efetivar suas descrições, ela as
define e as limita, no sentido de definir uma parcela de enteléquia e limitar o modo de
se atingi-la cedendo liberdade às descrições, e não há como liberdade e onisciência
coexistirem, então, o mais sensato é anular a onisciência em prol da liberdade, pois a
liberdade é um dos constituintes do princípio de individuação, enquanto a
onisciência não passa de um capricho. Portanto, a substância é infinitamente sábia,
não onisciente".
"A substância é o pressuposto último de tudo o quanto existe, uma vez que toda
noção de sujeito é constituída de conceitos, que são pressupostos da mesma.
Regredindo ao infinito, ainda assim teríamos que admitir que há um pressuposto
último relativo a cada evento desta série infinita de eventos. Únicamente uma
substância simples pode ser este pressuposto último. Portanto, a substância é o
pressuposto último".
"A substância é indefinida, porquanto ela não pode ser definida, pois, se o fosse,
poder-se-ia dizer que há algo que a define, o que não pode ocorrer ao pressuposto
último. Portanto, a substância é indefinida, não definida".
"A substância é ilimitada, porquanto ela não pode ser limitada, pois, se o fosse,
poder-se-ia dizer que há algo que a limita, o que não pode ocorrer ao pressuposto
último. Portanto a substância é ilimitada, não limitada".
"Cada ser criado contém em si uma parcela da enteléquia da substância, que, a saber,
está integralmente expressa na totalidade dos seres criados".
"O ser age mais perfeitamente com aquilo o que lhe é mais particular".
"Dizer que o que caracteriza um indivíduo são os seus limites e suas definições,
implica dizer que o princípio de individuação define uma enteléquia e limita as
condições de se atingi-la para que uma extensão da substância passe a ser um
indivíduo".
"A substância tem de efetivar as suas descrições para torná-las propriedades de si".
"O conceito de propriedade designa esta mesma porção da substância, não obstante
destinada unicamente a expandi-la".
"O nada absoluto designa o movimento que circula em si mesmo, que não se estende
em si mesmo. Portanto, até mesmo o nada absoluto se atualiza a si mesmo".
"Ora, se toda negação nega, de alguma forma, o ser e se negar o ser é afirmar o nada,
o que se nos apresenta como uma negação absoluta, então, toda negação é uma
negação absoluta".
"Portanto, se toda negação nega, de alguma forma, o ser e se toda negação é uma
negação absoluta, então, toda negação é, de alguma forma, uma negação absoluta do
ser".
"Ora, se o nada absoluto é uma negação absoluta e se, consoante o que foi dito, não
existem negações não absolutas, então, não há o nada relativo".
"A de-cisão constitui-se como uma propriedade do ser, não como descrição.
Portanto, o ser é ontologicamente não descritivo".
"Substanciar-se é poder-ser".
"Pode-se resumir a substância por meio das seguintes descrições: algo há e algo
existe, porquanto a substância constitui-se tanto pelo ser quanto pelo portar-o-ser".
"Dizer que há uma relação de identidade da substância consigo mesma implica dizer
que a existência da substância está contida em sua essência (noção de sujeito).
Portanto, S = S, S < S e S → S".
"Dizer que algo que há não contém em sua essência a existência implica dizer que
este algo que há não é idêntico a si mesmo. Portanto, A ≠ A".
"A enteléquia dos seres criados conserva afirmando a liberdade de agir e expande
aumentando o poder de unidade".
"Falar de substância não trata-se de falar de uma das categorias da existência, mas
sim da própria existência enquanto tal".
"O ser da substância consiste em estender-se por si mesmo e em direção a si
mesmo, enquanto o ser dos entes consiste em estender-se pela substância e em
direção a substância".
"Negar algo é dizer que há alguma coisa que não é de tal modo".
"Ora, se afirmar que nada há é dizer que há alguma coisa que não é de tal modo,
então, afirmar que nada há significa negar que nada há. Ou seja: ao se afirmar que
nada há, se está, na verdade, negando que nada há e, portanto, afirmando que algo
há".
"Consoante o que até aqui foi dito, se não há o nada relativo e, portanto, há uma
impossibilidade de existência desta forma de negação do ser, então, tudo o quanto é
possível, isto é, não contraditório, pode e deve ser, existir e haver".
"Se alguma coisa pode vir a acontecer, então, essa coisa que ainda não se deu é
possível".
"Se algo é possível, este algo pode e deve deixar de vir-a-ser e passar a ser, pois algo
não pode não-ser".
"Para deixar de vir-a-ser e passar a ser, este algo deve vir de alguma coisa que é ser".
"Ora, se a existência de alguma coisa depende de alguma coisa que é, então, o algo
que há depende do algo há".
"Logo, o algo há é o pressuposto último, justamente por ser o único algo que é que
pode ser o pressuposto de si mesmo, e a razão suficiente geral, por ser a razão de ser
do algo que há".
"No algo há, não pode haver uma disrupção no exercício de ser, justamente por ser
ele o ser último".
"Ora, se o algo que há só pode proceder do algo há e se, no algo há, não pode haver
uma disrupção no exercício de ser, justamente por ser ele o ser último, então, o algo
há contém em si uma continuidade absoluta de ser".
"Suponhamos que haja unicamente três seres: o ser A, o ser B e o ser C. O ser A é o
ser último, isto é, o ser que contém em si todas as noções de ser. O ser C procede do
ser B e o ser B procede do ser A. Nesse sentido, sabe-se a priori que as noções de
ser do ser B e do ser C estão contidas na noção de ser do ser A. Portanto, conclui-se
que o ser último é, pois, a noção geral de ser, como já foi outrora provado. Ademais,
conclui-se de isto que o algo há perpetua-se mediante as descrições tornadas
propriedades que se perpetuam disseminando-se no próprio algo há.
Com isso, vê-se que o algo há dá-se por meio de descrições e propriedades".
"O algo há tem por necessidade ôntica a finalidade de tornar-se propriedade pura
para que se dê em pleno exercício de ser".
"Ora, se se algo é possível, este algo pode e deve deixar de vir-a-ser e passar a ser,
pois algo não pode não-ser e se algo possível há, então, algo há".
"O ser último executa sua ação de criação fragmentadamente, criando, assim, os
entes".
"Com isso, conclui-se que o ser último não poderia ter criado o universo, porquanto
este não é um ente, ao menos não como o entendemos aqui".
"O nada conceitual, isto é, o nada enquanto noção de ser, é existente. Entretanto, o
nada efetivo, isto é, o nada absoluto e o nada relativo, é não existente".
"Antes de um ser determinado ser este ser, era tudo deste ser".
"A substância atualiza suas descrições tornando-as propriedades por meio das
atualizações mediante as quais as descrições são tornadas propriedades nos entes".
"A substância é ação pura, que age per se e em si, que, por isso, não demanda o
auxílio de um aliquid extra se (algo fora de si) para agir".
"Podem mudar os predicados dos sujeitos, mas tanto o sentido quanto a rede de
significados desses predicados permanecem invariavelmente, enquanto permanecem
como tais, isto é, como predicados do sujeito tal e de tal ou tal modo".
"O ser constitui-se por três propriedades basilares, que, quando em relação de
dependência mútua, formam o princípio de ser".
"Como já foi outrora provado, o nada parcial é absurdo, portanto, não podem os
seres primordiais serem constituídos de não-ser, isto é, da privação de uma ou outra
perfeição".
"Com isso, também, pode-se concluir que ambos os seres primordiais são deficientes
em seus modos particulares de ser, pois, como se pode ver, não são
seres-que-são-absolutamente-seres, ou seja: não são em plenitude de ser, o que é
inconcebível ao próprio conceito de ser primordial".
"Portanto, só pode haver unicamente um ser primordial, que seja absoluto, infinito e
ser-que-é-absolutamente-ser. Ou seja: só há um algo há".
"Ao princípio de ser não lhe falta coisa alguma para ser".
"Ora, se tudo o que pode ser é alguma coisa e se o que pode ser implica o que já é,
então, tudo vem do princípio de ser".
"Portanto, tudo o que pode ser deve ser, pois o princípio de ser é auto-expansivo e
auto-conservativo e, portanto, quer que o que pode ser venha a ser efetivamente".
"Como já foi outrora provado, não pode haver uma multiplicidade primeira e absoluta,
pois o nada relativo é um absurdo".
"O ente criador, isto é, o ser do qual derivou-se todo o conglomerado de entes a que
chamamos universo, só pode ser imperfeito, porquanto, se não o fosse, seria
perfeito, o que vê-se que é absurdo, pois esta unidade en-teológica
é claramente a absoluta imperfeição".
"Ser absoluto secundum quid significa ser absoluto unicamente em si mesmo, isto é,
desligado de si mesmo".
"Tanto a enteléquia quanto o livre agir da totalidade de ser são, via de regra,
incomunicáveis, porquanto, se não o fossem, eles não seriam unívocos e, portanto,
não haveria unicidade de ser".
"Pode-se chegar ao Ser por três vias distintas: na via dos pressupostos, tem-se que é
necessário um pressuposto último relativo à cada evento de uma série infinita de
eventos e sem o qual não se pode conceber nenhum conceito do qual ele é
pressuposto, ou seja, conceito algum pode ser concebido sem concebê-lo-se, e,
assim, chega-se ao Ser enquanto pressuposto último; na via das premissas, tem-se
que é mister que haja uma premissa primeira, a qual se nos apresenta como
incognoscível, porquanto, se não houvesse nenhuma premissa indubitavelmente
primeira, não poder-se-ia conceber nenhuma conclusão, pois não haveria nenhum
fundamento lógico concreto do qual poder-se-ia extrair uma conclusão suficiente per
se, o que é absurdo, portanto, é assim que se chega ao Ser enquanto premissa
última; na via da razão suficiente, tem-se que tudo o quanto é passível de predicar-se
demanda uma razão que lhe seja suficiente para sustentar tal predicação, o que,
quando aplicado a totalidade do ser, tende a exigir uma razão que lhe seja suficiente
per se, portanto, é assim que se chega ao Ser enquanto razão suficiente".
"A unidade en-teológica (ou: o universo) tem em sua essência entes enclausurados
agindo pelo princípio de manifestação, projetando suas ações com extensividade e
corporeidade, dando a impressão da existência de entes que originam um ente
universo".
"Os universais não podem, por definição, serem conceitos subjetivos, isto é,
existentes unicamente enquanto entes de razão, e não enquanto entes reais,
porquanto, se o fossem, o sujeito seria um universal, e, portanto, seria o algo há, o
que é um absurdo, pois um universal não pode ser algo particular como um sujeito,
por exemplo. Portanto, os universais só podem ser conceitos objetivos".
"Com isso, vê-se que o algo há só pode ser um objeto, e não um sujeito, o que, faz,
assim, com que este objeto tenha de conter as seguintes propriedades: ser por si
mesmo e em si mesmo, ser de modo a ter a relação de identidade entre essência e
existência contida em si, ser necessário, ser simples, ser idêntico a si mesmo e ser
ser-que-é-absolutamente-ser".
"Toda causa é uma causa que opera necessariamente, não obstante, isto não implica
dizer que toda causa é per se necessária".
"Ser contingente significa ter razão suficiente para ser como se é".
"Portanto, pode-se definir substância como aquilo cujo conceito não admite uma
causa".
"Ora, se razão e causa se identificam e se substância é aquilo cujo conceito não
admite uma causa, então, a substância também não admite uma razão".
"Ora, se a substância não admite nem uma causa nem uma razão, então, a substância
só pode ser uma".
"Deve-se atualizar a causa que não é de forma alguma efeito para que assim tenha-se
causas-efeito atualizadas e, portanto, mais encerradas em si mesmas".
"Prova-se por outra via que o ser substância não admite o ser efeito: o que não se
ordena a um fim não é um efeito".
"Ora, se o que não se ordena a um fim não é um efeito e se a substância, por ser
ilimitada, não admite um fim, então, o ser substância não admite o ser efeito".
"O si mesmo correspondendo ao ser do ser, faz com que o ser queira conservar e
expandir, conforme tais princípios, o seu ser, e não o seu modo de ser, que é, por
natureza, passível de alteração por acidentes, que são o que pode estar ou faltar em
um sujeito sem corrompê-lo substancialmente".
"O ser da substância contém em si todos os modos de ser possíveis, não obstante,
ela mesma não contém modo de ser algum".
"Atualizar uma causa que é também efeito em nada é válido para a atualização dos
efeitos gerais".
"Dizer que a causa primeira não é atualizável implica dizer que efeito algum é
atualizável, o que é absurdo".
"O termo advérbio significa, em última análise, aquilo que acompanha o verbo e o
modifica em seu sentido. Quando aplicado um sentido ontológico ao termo, advérbio
passa a designar tudo aquilo que acompanha a substância e a modifica em seu ser.
Ao se analisar o termo advérbio pela visão ontológica, poder-se-ia dizer que as
propriedades são os advérbios da substância, enquanto as descrições lhe são como
verbos, pois, diferentemente das propriedades, as descrições funcionam como
agentes de ação, qualificando-se, portanto, como verbos ontológicos. Em conclusão,
tem-se que, ontologicamente, as propriedades são os advérbios da substância, pois a
modificam em seu ser, e as descrições são os verbos ontológicos, pois são os
princípios de ação da substância".
"Mesmo numa sucessão infinita de eventos, é mister que haja um pressuposto último
relativo a cada evento dado isoladamente, pois, do contrário, teria-se uma sucessão
de eventos acidentalmente ordenada, o que é absurdo, porquanto prova-se: se não
houvesse um pressuposto último em cada evento dado isoladamente, teria-se que a
ordenação dos eventos é mera casualidade, o que não se dá efetivamente, como se
pode ver empiricamente, pois, como se vê, há um nexo de ordem estritamente
necessário na forma do ser da universalidade do universo. Sabe-se, assim, que,
excluindo-se uma das opções, a outra torna-se verdadeira, pois entre ambas não há
um meio-termo: entre ordem e desordem não há termo médio. Portanto, há um
pressuposto último geral que é relativo a cada evento dado isoladamente".
"Mas tal não se dá efetivamente, pois pode-se deduzir logicamente que, se há uma
natureza que produz e é produzida, há uma natureza que produz e não é produzida".
"A substância não tem um fim em si, assim como não o tem fora de si".
"A substância é uma totalidade que se dá em partes, mas que não se faz por elas".
"Por ser absolutamente simples, a substância só pode ser ato puro ou potência ativa
ou passiva pura".
"A substância não pode ser ato puro, pois ela é possível, isto é, realizável, e
absolutamente existente. Justamente por ser concomitantemente possível e
existente, não poderíamos resumir a substância em ato puro, mas poderíamos
resumi-la como uma hibridez de ato e potência ativa, pois a substância é
ser-que-determina, e não ser-que-é-determinado".
"Compreende-se por ser infinito tudo o quanto é e, por isso, age sem fins".
"Sendo assim, unicamente a substância pode ser o ser infinito, pois só ela é absoluta
e, portanto, só ela age sem fins extrínsecos, assim como só ela pode agir sem fins
intrínsecos, porquanto só ela é ilimitada e, portanto, só ela não pode ter restrições ou
ser privada de agir de todos as formas possíveis".
"Ora, se tudo o quanto é efeito, seja em causa, seja em efeito, é contingente, então, a
causa primeira unicamente gera efeitos contingentes".
"Mas aqui pode assomar-se a questão: existem efeitos puros, ou seja, existem efeitos
últimos? Ora, a resposta de minha parte pode ser unicamente afirmativa, pois
evidentemente existem efeitos puros, como, por exemplo, o próprio universo, que é
uma unidade de causalidade pura, mas que é, em si, e enquanto totalidade, um efeito
puro, que não é e nem pode ser causa de efeito algum".
"O ser enquanto ser não passa de uma projeção do ser enquanto noção de sujeito".
"Ora, se a noção de ser fosse análoga, ela teria de ter um fundamento unívoco, o que
é absurdo, pois a noção de ser, por ser o máximo excogitável, não admite
anterioridade".
"Sendo uma noção unívoca, o ser do ente e o ser da substância se identificam, o que
permite-nos inferir que ser é substância, o que implica dizer que tudo é, portanto,
uma única substância".
"(A essência física do Ser Supremo é, portanto, o que constitui a sua totalidade
concreta)1, e esta é a sua absolutidade".
"Prova A: (A.1) existem ações; (A.2) pode-se abstrair das ações um contexto
estritamente concreto, o qual denomino conjunto de ações possíveis; (A.3) um
conjunto de ações possíveis só pode ter nos sido dado por um ente anterior na
ordem ontológica; (A.4) este ente deve necessariamente conter em si todos os
1
Mário Ferreira dos Santos, Filosofia Concreta, ed. Filocalia.
conjuntos de ações possíveis; (A.5) Por haverem ações de conhecimento do ser, e
alinhado a tudo o que até aqui foi dito, pode-se dizer que essas ações foram nos dada
pelo ente-de-ações; (A.6) então, por extensão, ainda que não houvesse o ente autor
deste livro para se questionar sobre o ser, haveriam entes que o fariam, pois tal ação
está contida na natureza do ente-de-ações, que necessariamente as transmitiria aos
entes ulteriores; (A.6) para se compreender a natureza unívoca do ser, é-se
necessário encontrar um ente ideal, que contenha em si todos os modos de ser,
contendo, portanto, a natureza unívoca do ser".
"Prova B: (B.1) algo há; (B.2) se este algo que há fosse contingente, seria mister que
houvesse outro ser que o fornecesse sua razão de ser; (B.3) se este ser fosse
também contingente, ter-se-ia de haver um ente anterior a ela que o desse sua razão
de ser, e assim ad infinitum; (B.4) regredir ao infinito é um absurdo; (B.5) portanto,
descarta-se a possibilidade de haver um ente contingente que se fundamenta em
outro ente contingente; (B.6) assim, só nos resta deduzir que, se este algo que há
fosse um ser contingente, teria de haver, em algum momento, um ser necessário que
é por si mesmo e que se faz por sustentáculo de todos os seres contingentes".
"Ora, consoante o que até aqui foi dito, vê-se que a substância não é “finida”, isto é,
não é ordenada a fins intrínsecos, tampouco extrínsecos".
2
John Duns Scotus, Tratado do Primeiro Princípio, ed. ÉRealizações.
3
John Duns Scotus, Tratado do Primeiro Princípio, ed. ÉRealizações.
"Ora, se, consoante o que foi dito, a substância não é de modo algum efeito e se o
que não é efeito não é “finido”, então, a substância não é “finida”, isto é, não é
ordenada a fim algum, seja ele intrínseco ou extrínseco".
"A substância é eminentemente infinita, no sentido de ser infinita por eminência, isto
é, por necessidade".
"A causa eficiente adequada de algum efeito contém em potência toda a enteléquia
do efeito".
"Pode-se definir uma unidade como unidade “finida” ou unidade “finitiva”. Aquela
define-se por uma totalidade que se dá em partes e que se faz por elas, enquanto esta
define-se por uma totalidade que se dá em partes, mas que não se faz por elas".
"Todas as operações possíveis de um ente qualquer são dadas in aliis (em outros)".
"O tempo não é, de forma alguma, uma noção. O tempo é, portanto, mera ordem de
sucessão de eventos, isto é, mero acidente".
"Absolutamente todo o ser é dado pela substância, que é ser em pureza pura de ser.
Portanto, não há como um ente dar o ser a outro ente, tornando-o ente enquanto ser,
não mais enquanto devir, pois todo o ser encontra-se na substância, que fornece-o às
noções, tornando-as entes, que contêm em si um modo de ser, e não o ser
propriamente dito".
"O princípio henológico diz que a unidade tem primazia em relação à multiplicidade,
que é, por definição, uma unidade de unidades".
"O devir finito indica o tender necessário para algo, enquanto o devir infinito indica a
possibilidade de necessidade intrínseca desprovida de finalidade".
"Desde que o ente ordenador criou o princípio de ordenação e, com isso, ordenou os
entes, as suas imperfeições invisíveis, isto é, a sua natureza intrínseca conforme lhe
foi dado pela lei de proporcionalidade intrínseca, têm sido vistas claramente. Se
assim for, poderíamos concluir que o ente ordenador criou o princípio de ordenação
como um reflexo de suas imperfeições".
"O leitor pode se perguntar: como se dá a salvação na doutrina amorista? Eu lhe digo
que, para nós, a redenção universal, que é como denominamos a salvação, se dá
unicamente por meio da imitação da perfeição do Ser Supremo, isto é, da
potencialização do princípio de perfeição, que é uma das propriedades da substância,
que se nos foi transmitido por causalidade. Portanto, vós podeis salvar-se
simplesmente sendo o que se verdadeiramente é".
"A ação difere do agente na medida em que aquela é um efeito deste, que, enquanto
tal, distingue-se de sua causa, pois, do contrário, seria idêntico à ela e, portanto, não
seria um efeito".
"Os princípios da ação são: o agente, a definição do ato e como ele o define".
"O ser da substância, por ser pureza pura de ser, define-se por uma relação
univocamente unitiva, a qual é a origem de toda a potencialidade unitiva dos entes".
"Só se pode predicar a imutabilidade ao ente quando esta é afirmada como sendo a
permanência do ser do ente".
"A substância não é atualizada por determinação tampouco por modo, mas sim por
aquisição de perfeições".
"Tese: a substância, por ser infinita, poderia ter produzido entes infinitos, mas
acabou por produzir entes finitos, o que se justifica pelo fato de que é mister que a
substância adquira perfeições para efetivar o seu devir infinito".
"Prova: (1) é mister que a substância adquira perfeições para efetivar o seu devir
infinito; (2) para tanto, faz-se necessário que a substância crie extensões de si, pois
ela, por si mesma, nada pode contra a sua natureza intrínseca; (3) tais extensões, se
fossem meras réplicas, em nada poderiam subsidiar a substância; (4) portanto, a
substância precisou defini-las e limitá-las para que deixassem de ser meras
extensões e se tornassem entes particulares".
"Conclusão: Portanto, conclui-se que a substância gerou entes finitos para cumprir
com a sua natureza intrínseca".
"Tese exposta como conclusão: Assim, vê-se que a substância, por ser infinita,
poderia ter produzido entes infinitos, mas acabou por produzir entes finitos, o que se
justifica pelo fato de que é mister que a substância adquira perfeições para efetivar o
seu devir infinito".
"A infinitude relativa trata-se da capacidade que as causas finitas têm de, quando
infinitamente somadas, produzir efeitos infinitos".
"A infinitude parcial consiste na capacidade que os entes finitos têm de sofrer
determinações ilimitadamente, isto é, ser infinitamente determinável".
"A criação composta trata-se da ação de criação que pressupõe que o agente possua
partes componentes, que são transmitidas ao agido ao final do agir do agente".
"Assim, para que haja um ato criador, é-se necessário que haja uma potência ativa,
determinante, e uma potência passiva, determinada, em operação mútua".
"Aqui pode-se assomar a seguinte dúvida: De que são compostos os entes, que são
seres compostos por natureza? Ora, eles só poderiam ser compostos de
positividade, pois, do contrário, não seriam ser, seriam, então, nada, o que é absurdo,
porquanto, como já se nos foi apresentado, criar é uma necessidade da substância,
porque esta tem de necessariamente cumprir com o seu devir infinito. Portanto,
conclui-se que os entes, que são seres compostos por natureza, só podem ser
compostos por algo simples, não absolutamente, ou por algo composto, que, por sua
vez, tem de ser composto por algo simples ou por algo composto, se for por algo
composto, este algo também requereria uma razão para a sua composição, e assim
ad infinitum, o que é absurdo. Se assim for, poderíamos, então, deduzir que a
composicionalidade de um ente tem a sua razão de ser em algo positivo e, ainda que
indiretamente, simples, o que se justifica pelo juízo: a ideia de composto implica
necessariamente a de simplicidade. Assim, conclui-se que a positividade e a
simplicidade são precisamente admitidos pela ideia de composicionalidade, o que,
em última análise, se nos apresenta como um ente infinito".
"Portanto, para que hajam entes finitos e, por isso, compostos, faz-se necessária a
existência de um ente infinito e primeiro na ordem criatural que tome parte da
composição dos entes compostos".
4
Mário Ferreira dos Santos, Filosofia Concreta, ed. Filocalia.
"Eis a prova que demonstra o porquê de o ente compositor ter de ser o ente primeiro
na ordem criatural, isto é, o primeiro ente criado pela substância: se o primeiro ente
criado fosse um ente composto, ele seria composto ou pelo nada ou por si mesmo.
Se ele fosse composto por si mesmo, ele existiria antes de existir, o que é absurdo.
Se ele fosse composto pelo nada, o nada teria de ter positividade, e, então, não seria
nada, mas sim alguma coisa. Como não havia nada além do ser supremo, e este não
poderia ser a positividade que comporia o ente primeiro, então, só nos resta concluir
que o ente primeiro tem de ser um ente simples e, portanto, infinito".
"Ao fim desta análise conclui-se que há um ente infinito que não é substância, mas
que é o fundamento de toda a composição, o qual denomino ente compositor".
"O ente compositor consiste numa hibridez de ato (ser) e de potência (devir) ativa
(determinante) e passiva (determinada), o que, mais uma vez, o difere da substância".
"A substância não é onipotente, mas sim “ex-parte-onipotente”, pois esta é potência
ativa infinita e potência passiva infinita, assim como é ato infinito. Ou seja: a
substância é capaz de sofrer determinações infinitamente, de determinar o que é
determinável ilimitadamente e de ser puramente efetiva".
"A verdade do juízo: “o agente age por um fim que lhe é próprio” aplica-se
unicamente aos entes, pois a substância age por um fim que não lhe pertence. A tese
ora exposta pode ser expressa pelo seguinte juízo: “o agente (substância) age pelo
fim do efeito”".
"Ao se analisar detidamente os efeitos puros, ter-se-ia de, ao final, admitir que há um
único efeito puro infinito, cuja causa é a soma infinita das causas finitas. Com efeito,
ter-se-ia, também, de admitir que o efeito puro infinito é justamente a potência
passiva infinita, a qual existe por necessidade de razão".
"Portanto, a potência passiva infinita trata-se do efeito puro infinito produzido pela
soma infinita das causas finitas".
5
Mário Ferreira dos Santos, Filosofia Concreta, ed. Filocalia.
"A noção de sujeito da substância constitui-se pelo conceito de “altíssimidade”, que
designa a soberania do ser em relação ao nada, ou seja, o ser absolutamente
altíssimo da substância".
"Na filosofia do augustíssimo Mário Ferreira dos Santos, tem-se que existir significa
ser fora de suas causas. Assim, prova-se que a substância sempre foi, sempre é e
sempre será, isto é, é a própria noção de eternidade, de uma ordem de sucessão de
eventos infinita. Prova-se isto por meio do seguinte juízo: se existir significa ser fora
de suas causas e se a substância é de modo algum efeito, é, portanto, causa pura,
isto é, não foi por nada causada, então, a substância sempre existiu, existe e existirá,
pois ela sempre foi, é e será fora de suas causas".
"Tese: o Meon (me significa não e on significa ser, portanto, meon significa não-ser) é
ontologicamente impossível".
"Prova: (1) ser possível significa ser existível; (2) todo possível é um ser não
existente; (3) existir significa ser fora de suas causas; (4) portanto, ser possível
significa ser em suas causas, mas podendo ser fora delas".
"Conclusão: mesmo o devir pressupõe o ser, pois para se poder-ser é mister que,
primeiro, se seja. Portanto, o não-ser, o Meon, é uma impossibilidade ontológica".
"Tese exposta como conclusão: o que até aqui foi dito sobre o não-ser compele-nos a
admitir que o Meon é uma impossibilidade ontológica".
"A existência dos possíveis colecionados na substância não implica haver nela uma
soma de entidades que constituem o seu ser, mas, na verdade, implica o oposto, o
contrário, a saber, dizer que a substância é a constituição última de suas partes, que
dão-na, mas não fazem-na".
"Na doutrina amorista, o termo milagre designa a passagem no ser dada por uma
causa intrínseca de uma descrição-em-potência para uma propriedade-em-ato".
"Prova: (1) o mais perfeito precede o menos perfeito, pois, se se desse o inverso, o
mais viria do menos, o que que é absurdo; (2) se todo ente é menos perfeito por
natureza e se o mais perfeito precede o menos perfeito, pois, se se desse o inverso, o
mais viria do menos, o que é absurdo, então, tem de haver algo que preceda os entes
e que seja mais perfeito que eles; (3) ora, este algo mais perfeito que os entes só
pode ser oniperfeito, pois as perfeições que os entes contêm umas em ato e outras
em potência tem de ter vindo de algo que as tenha no mais alto grau e que, portanto,
pudesse concedê-las aos entes; (4) este algo oniperfeito só pode ser a substância,
pois, pelo seus atributos, deduz-se que se trata de um ser necessário, que existe por
necessidade, então, assim, conclui-se que este algo só pode ser a substância,
porquanto só ela é absolutamente necessária, não contingente".
"Tese exposta como conclusão: ora, se, por necessidade, o mais perfeito tem de
preceder ao menos perfeito e se todo ente é menos perfeito por natureza, então, tem
de haver algo mais perfeito que eles que os preceda, e este algo só pode ser
oniperfeito".
"Ser fora de suas causas é superior à ser em suas causas, pois, em suas causas, o
ser só possui descrições-em-potência, enquanto que, fora de suas causas, o ser
possui as mesmas descrições-em-potência afora algumas que tornaram-se
propriedades-em-ato, o que faz do ser que é fora de suas causas um ser existente".
"A substância é ser semovente, isto é, que se move a si mesmo. Prova-se isto por
meio da seguinte exposição: ora, se o menos só pode ser movido pelo mais, se não
há nada maior (mais) que a substância e se ela se move, isto é, age e se atualiza,
então, o mover da substância só pode ser um mover-se".
"O ato criador da substância é sempre um co-operar, um operar com, para dar ser".
"O nada conceitual, isto é, o conceito de nada, constitui a noção de sujeito ser".
"Na ordem en-teológica, primeiro é-se possível, depois é-se existente, e, quando se
cessa de existir, é-se possível novamente".
"A substância, como a única causa final e, portanto, a única causa pura, age pelo fim
do efeito. Ora, se o fim de todo efeito é retornar a causa pura, com isso,
atualizando-a, e se a causa pura age pelo fim do efeito, então, a causa pura age, em
última instância, para que o efeito desta ação a atualize".
6
Mário Ferreira dos Santos, Filosofia Concreta, ed. Filocalia.
"Ora, se a liberdade consiste na capacidade de eludir a ordem de uma causa
particular e se a substância não pode, por deficiência7, eludir a ordem das causas
particulares, então, a substância não é livre".
"Se o bem significa o agir em conformidade a fins e se todas as coisas tendem para
um bem comum, então, a causa pura gerou, por uma necessidade ontológica, efeitos
que tendem a um bem comum, no sentido de agir conforme um fim último comum,
que é atualizar a causa pura. Portanto, a causa pura age, em última instância, para
que o efeito desta ação a atualize".
"O logos analogante consiste na substância tomada pelo seu aspecto de princípio
atualizável atualizante".
"O conceito de eternidade pode ser definido pelo seguinte juízo: consiste o conceito
de eternidade na ordem de sucessão de eventos infinita, isto é, no esquema
conectivo de passagens entre estados de perduração distintos ao qual se pode
sempre acrescentar mais uma passagem sem que para isso haja um fim".
"Na doutrina amorista, diz-se que não existem carências (isto é, a não existência de
uma dada perfeição numa coisa), mas sim que existem privações (isto é, a ausência
de uma dada perfeição quando proporcionada à natureza da coisa). Portanto, ser ente
significa estar privado de certas perfeições ao mesmo tempo em que se está eivado
de outras, ou seja, ser parcialmente perfeito e, concomitantemente, potencialmente
perfeito".
"O objetivo último de todo ente é tornar-se uma parte da substância da qual ela
dependa absolutamente para ser o que é".
"É por meio da privação dos entes que a substância cumpre com o seu devir infinito".
"O princípio de imperfeição é uma modal, isto é, uma potência pura que, quando
elevada, ainda que parcialmente, à ato, vincula-se ao ato do ente que a concedeu o
ser, fazendo com que a propriedade vinculada a este ato no ente corrompa-se,
produzindo, assim, ações imperfeitas".
"O mesmo pode-se dizer do princípio de perfeição, pois este é algo que não é per se
existente, mas sim existente per alio e in alio".
7
Aqui a expressão por deficiência foi empregada com o propósito de significar o seguinte: por
ser uma ação que implica contradição extrínseca.
"A totalidade é sempre mais que suas partes".
"Ora, se algo menos só pode ser determinado por algo mais e se a totalidade é
sempre mais que suas partes, então, as partes não podem jamais determinar a
totalidade que formam, unicamente a totalidade pode determinar as partes que a
compõem".
"A oposição de meio é a que se dá entre gêneros que não excluem-se mutuamente".
"A matéria como coisa intensa é, quando tomada em sua triadicidade, o antes, o
agora e o depois (a ordem de sucessão de eventos finita)".
"A primeira relação se justifica pelo seguinte juízo: a ordem transitória de sucessão
de eventos finita só o é devido a necessidade que é-lhe imposta pela ordem que é-lhe
correlata, a saber, a ordem de delimitação de eventos".
"A segunda relação justifica-se pelo seguinte juízo: a ordem permanente de sucessão
de eventos infinita só o é por necessidade de princípio, a saber, o que diz que à toda
finitude corresponde uma infinitude, o qual se denomina princípio finitivo".
"Portanto, a eternidade define-se como a ordem permanente de sucessão de eventos
infinita, enquanto a temporalidade define-se como a ordem transitória de sucessão de
eventos finita".
"A matéria é existente per alio, pois requer ela as existências per se da forma e da
onda".
"Conclui-se, então, que a matéria, justamente por ser algo secundário na escala do
ser, é imperfeita, desordenada e fechada em si mesma".
“As noções de sujeito contidas na noção geral de sujeito são passíveis de serem
imitadas, contudo, não se limitam a tal passibilidade, portanto, participam da
atualidade da substância”.
“A enteléquia maximamente absoluta da substância não tem qualidades, pois não lhe
acontecem determinações”.
8
Aqui o termo concreto foi empregado com o propósito de significar o seguinte: uma
totalidade conceitual dinâmica que está em ininterrupta ação e que se relaciona com suas
partes componentes em pleno desenvolvimento mútuo.
“Tais etapas se sucederam do seguinte modo: primeiro, a substância foi noção geral
de sujeito. Depois de dar o ser às suas modais, a saber, o princípio de imperfeição, o
princípio de contingência e o princípio de perfeição, ela transfigurou sua enteléquia
tornando-a enteléquia maximamente absoluta, isto é, realizou um milagre (tornou uma
descrição propriedade). Por fim, a substância, depois de criar o ente compositor e
sobrepor-se unitivamente à ele, formou-se enquanto tensão”.
“O limite do universo é proporcionado à enteléquia do ente criador, que, por sua vez,
é proporcionada à noção imitativa de sujeito do mesmo”.
“Prova: (1) onde há luz numa dada frequência há visão, onde há ondas sonoras numa
dada amplitude há audição, onde há ser há razão; (2) ora, se tal procede, então a
razão é ilimitada, pois, se o ser é e o não-ser não é e se o não-ser é uma
impossibilidade lógica, então, tudo é ser; (3) ora, objetarás: se onde há ser há razão,
então, esta é deveras geral, e, portanto, não possui capacidade de atingir as
especificidades do ser; (4) ora, eu lhe digo, esta não se limita por tal, pois, se a visão,
mesmo sendo limitada, quando apurada, é apta a perceber os detalhes daquilo que
é-lhe objeto, então, a razão, quando apurada, é apta a dar-se conta das
especificidades daquilo que é-lhe objeto, isto é, o ser”.
“O ente criador é o fim segundo da unidade en-teológica, e que, por isso, acaba por
movê-la”.
“Os entes são individuados com enteléquia neutra, isto é, com suas ações
constituintes sendo não tendenciosas, devido à noção de sujeito a qual imitam. Se tal
procede, então os entes recebem ações tendenciosas a depender de sua escolha: a
qual modal dar o ser: ao princípio de perfeição ou ao de imperfeição”.
“O efeito está contido virtualmente em sua causa. Se tal não procedesse, o efeito
seria dado à causa por uma causa externa, o que, vê-se, é absurdo quando
consideramos a substância, pois nada há fora dela, portanto, nada poderia ter lhe
dado seus efeitos”.
“Ora, se o efeito está contido virtualmente em sua causa, então, uma causa perfeita
contém efeitos atualmente ou potencialmente perfeitos. Em todo caso, uma causa
perfeita produzirá, via de regra, efeitos potencialmente perfeitos, pois efeitos
atualmente perfeitos são impossíveis, e isto justifica-se pelo seguinte juízo: se uma
causa perfeita contivesse em si efeitos atualmente perfeitos, estes seriam seres
existentes, pois estariam em-ato. Ora, se algo está em-ato, então este algo é fora de
suas causas (existe). Mas como pode algo ser fora de suas causas em suas causas?
Ora, tal é impossível. Portanto, causas perfeitas produzem efeitos potencialmente
perfeitos. (O mesmo pode-se dizer das causas imperfeitas). Ora, se o mesmo pode-se
dizer das causas imperfeitas e se o ente criador é uma causa imperfeita, então os
efeitos (a unidade en-teológica) do ente criador são potencialmente imperfeitos. Ora,
tal justifica a existência de ações imperfeitas nos entes humanos”.
“Portanto, todo ente é potencialmente algo, isto é, tende a uma polaridade modal”.
“Aqui pode assomar-se a seguinte dúvida: como os entes recebem ações perfeitas ou
imperfeitas de tais modais? Ora, eu lhe digo, estes as recebem por meio da
livre-escolha, ou seja: se um ente A é gerado potencialmente imperfeito, justamente
por ser oriundo de uma causa imperfeita, então, cabe a A a decisão de afirmar ou
negar esta tendência”.
“Prova: (1) existem verdades, o que é indubitável; (2) uma verdade pode ser
considerada per se nota quando esta é a certeza de percepção primeira da razão da
substância; (3) ora, se onde há ser há razão e se a substância é ser em pureza de ser,
isto é, o ser primeiro, então, só a substância, enquanto tal, pode ser considerada a
certeza de percepção primeira de sua própria razão, portanto, uma verdade per se
nota”.
“Os possíveis tendem a uma dada perfeição. Portanto, um possível tende a perfeição
que lhe é próprio”.
“Destarte, conclui-se que a substância ‘criseou’ entes para que estes aplicassem à
ela o movimento per alio”.
“Ora, se todo conceito negativo é um ente de razão e se todo ente de razão possui um
fundamento real-real, então, todo conceito negativo possui um fundamento real-real”.
“Destarte, conclui-se que o nada possui o mínimo grau de ser possível, o que o faz
um algo, portanto, ser. Ou seja: o nada (não-ser) é ser”.
“Portanto, o nada não pode não-ser, tampouco ser, pois, se o fosse, não seria nada”.
“Portanto, o ato possui o poder de desatualizar, desde que não seja a si mesmo”.
“A identidade é uma relação entre coisas que têm os mesmos acidentes em todos os
aspectos”.
“Destarte, temos que: (1) a substância não é, por fórmula, quantitativa; (2) tampouco
é, portanto, mensurável”.
“Entende-se por completude o estado no qual o ser do ente não mais pode ser
superado em sua espécie”.
“De algum modo, pode-se dizer que a unidade contém (retém) suas partes”.
“Um ente tomado por sua natureza tende a adequar-se à posição que lhe ordena sua
essência”.
“As modais, tal qual os entes de razão, são, por definição, não atualizáveis e não
criseáveis”.
“Ora, diz-nos também, substância é aquilo que não é predicado de nenhum sujeito,
mas aquilo de que as outras coisas são predicadas10”.
“Para dirimir tal contradição, deve-se postular que ou a matéria não é substância, ou
a substância não é substância. Ora, mas se a substância não for substância,
tampouco a matéria a será. Portanto, a matéria não pode ser substância. Ora, se
matéria não pode ser substância e se tudo o que é dela predicado, por conseguinte,
também não pode sê-la, então, a substância tem de ser algo para além do universo.
Ora, este algo só pode ser a substância única postulada pela doutrina amorista,
porquanto esta é um ente unicamente necessário, necessariamente transcendental”.
“Na doutrina amorista, entende-se por essência a fórmula que, de uma dada forma,
aplica as condições de simesmidade à uma coisa”.
9
Aristóteles, Metafísica, ed. EdiPro.
10
Aristóteles, Metafísica, ed. EdiPro.
“Compreende-se por (1) geração espontânea e (2) geração forçosa (1) a
transfiguração por movimento intrínseco e (2) a transfiguração por movimento
extrínseco”.
“Em todos os casos, tem a fórmula das partes da forma do todo concreto de estar
contida na fórmula total”.
“A soma das diferenças (acidentes) gerais (de gêneros iguais) forma a espécie”.
“Ora, diz o ente que vos escreve, se nenhum termo universal é substância e se a
substância é um termo universal, então, como isto pode dar-se sem que haja
contradição intrínseca?”.
“Ora, minha manifestação vos diz, a proposição que diz que a substância é um termo
universal difere da proposição que diz que um termo universal é substância, pois,
enquanto a primeira proposição contém uma relação de consequência entre os
termos, a segunda não a contém, o que implica numa diferença por relação de termos
opostos”.
“Portanto, a substância pode ser um termo universal sem que isso anule a
impossibilidade de um universal ser substância”.
11
Aristóteles, Metafísica, ed. EdiPro.
“Tudo o quanto é problema filosófico resume-se ao único e seguinte problema: por
que alguma coisa é predicável de alguma coisa?”.
“Ao ato corresponde uma potência que é-lhe, em oposição, correlata e uma potência
que é, por definição, o seu fim”.
“Resta-nos tão somente definir os termos gênero e sujeito. Gênero é a soma das
espécies que formalmente se identificam, enquanto sujeito é a sobreposição dos
gêneros que se comunicam em dados aspectos”.
“Uma vez que tal procede, conclui-se que tudo o quanto é pode atualizar-se a si
mesmo, não obstante, nada pode, por definição, mover-se a si mesmo”.
“Ora, se a substância é simplicissima, então, ela não é divisível nem tampouco finita.
Portanto, a substância é não composta (simples), indivisível e infinita”.
“Há movimento tão somente entre estados positivos, isto é, não privativos”.
“O ser é uma coisa que se aplica por analogia de atribuição intrínseca própria,
porquanto o ser se aplica em consonâncias que se dão pelas diferenças que se dão
de forma intrinsecamente própria nas coisas”.
“Ora, se tal procede, então, a razão é uma potência que recebe determinações de seu
objeto e molda-se às implicações de tais”.
“Definimos então que a razão é uma potência. Uma vez que tal procede, vemo-nos
compelidos a admitir que a substância é em partes ato, em partes potência.
Concluímos tal tão somente porque se tudo o quanto é tem de estar contido
previamente na substância, se a razão é e se a razão é uma potência, então, a
substância é constituída tanto de ato como de potência puríssimos”.
“Os entes tão somente podem participar de uma noção (sujeito, gênero, espécie e
diferença) na medida em que esta é a substância, e não transfiguração da mesma,
porquanto ser transfiguração da substância implica ser composto de forma, da qual
uma forma não pode, por força de contradição, ser composta”.
“As noções não são causas, tampouco são fins ideais, mas são, na verdade, modelos
representativos”.
“Há geração (fazer algo ser fora de suas causas) tão somente se houver transmissão
de movimento (por uma causa)”.
“Ora, se tal procede, então um composto é sempre um intermediário: eis uma razão
pela qual a substância não pode ser composta, mas tão somente simples”.
“Ora, uma vez que tal procede, conclui-se que, se todo ente é, por definição,
composto e se a substância é o algo anterior a todo composto, então, tem de haver o
algo posterior. Ora, dizer-me-ão vós, mas que seria este algo posterior? Ora, eu vos
digo, este algo posterior só pode ser o ente compositor, porquanto este, afora a
substância, é o único ente simples, isto é, não composto”.
“Ora, se tal procede, então, a substância, se for una e indivisível, não admite o ser
sujeito de um predicado de qualidade”.
“Uma vez que tal procede, vemo-nos compelidos a concluir que (1) tudo o quanto é
predicado de qualidade não provém da substância e (2) a substância, portanto, não
se qualifica como tal”.
“Ora, isto soa como absurdo. Se verdadeiramente o for, então, vemo-nos compelidos
a dirimir tal contradição. Dirimamo-na assim: a substância não é una e indivisível,
mas sim una e divisível, não obstante tão somente em si mesma”.
“É necessário que o efeito contenha a causa tanto como a causa contém o efeito”.
“Ter vontade implica ter um fim para o qual se deve se ordenar e ter uma privação que
encerra o fim mesmo”.
“Portanto, por força do mesmo argumento, a substância (Deus) não pode ter
vontade”.
“A noção de sujeito imitada por cada ente encerra todo os tipos de ações que lhe
pertencem, não obstante isso, não encerra-lhe as qualidades de suas ações,
tampouco os graus das mesmas”.
“Para que dois elementos se tensionem, é preciso que haja um movimento que os
faça tornar-se um”.
“Ora, se tal procede, então, a substância, para tensionar-se com um ente, deve sofrer
influência de um movimento, qual seja, sua própria atuação”.
“Os entes, mesmo enquanto possíveis, possuem, de alguma forma, suas limitações
(noção de sujeito e enteléquia) logo definidas na substância”.
“Assim como o acidente não pode ser concebido sem o modo, o modo não pode ser
concebido sem a substância”.
“Entendo por acidente aquilo de que a substância não depende, mas de que o modo
depende”.
“As modais não são coisas existentes per se, tampouco coisas criadas pela
substância, mas são tão somente coisas dependentes da substância”.
“As ações são consequência da extensão dos modos e dos acidentes da substância”.
“As coisas criadas não tem por si mesmas nenhuma necessidade, contudo, elas são
por necessidade”.
“Mesmo que a essência dos entes se distinga de sua existência, ambas são, de algum
modo, necessárias”.
“Ora, se o ente compositor é simples em composição por definição, então, ele é, por
conseguinte, infinito em existência”.
“Aquilo que é simples só pode ser passível de geração em duas circunstâncias, quais
sejam, quando aquilo que pode gerá-lo é mais simples que ele, e quando aquilo que
pode gerá-lo gerá-lo-á por geração simples”.
“Ora, se tal procede, então, o ente compositor, mesmo sendo simples, é passível de
geração, ou melhor dizendo, é um ente gerado, pois existe em ato; porque a
substância é demasiadamente mais simples (simplicissima) que o ente compositor e
gera, portanto, da maneira mais simples possível”.
“Uma vez que tal procede, conclui-se que o ente compositor é um ente gerado
simples em composição, indivisível em essência e infinito em existência”.
“Ora, se a ideia da substância é única e simplíssima, sendo esta a ideia que ela tem
de si mesma e se a tese que diz da eternidade enquanto ordem de sucessão de
eventos infinita procede, então, a substância não é absolutamente onisciente, mas
progressivamente onisciente, porquanto ter uma só ideia que abarca, duma só vez,
tudo o quanto é, significa que a substância sabe o que se sucedeu num dado evento
passado na ordem de sucessão de eventos tal qual sabe como se sucede o evento
atualmente em concurso na ordem de sucessão de eventos, não obstante isso, a
substância é, por deficiência12, incapaz de saber como se sucederá um dado evento
que ainda jaz em potência no concurso da ordem de sucessão de eventos”.
“Ao analisarmos as necessidades que fizeram com que a substância agisse por
primeiro, isto é, que ela efetivasse o melhor plano de ação possível, o qual é o
referente de sua necessidade de melhor ação, vemo-nos compelidos a admitir que a
substância age por necessidade e que isto não implica na privação de sua virtude
infinita”.
“Aqui convém-nos distinguir o que vem a ser agir por necessidade de sua natureza e
agir por necessidade de sua potência”.
“A primeira espécie de agir é aquele no qual o ente age de acordo com sua
enteléquia, o que implica necessidade”.
12
Ver nota 7.
“A segunda espécie de agir é aquele no qual o ente age conforme a sua potência, o
que implica liberdade”.
“A duração não existe, o que existe é a sucessão, porquanto a noção de duração não
compreende a de sucessão, enquanto a noção desta compreende a da primeira”.
“Portanto, a substância age por necessidade de sua natureza, pois a noção dessa
compreende a noção do princípio de melhor ação, enquanto sua potência não a
compreende”.
“Por meio de seus escritos metafísicos, Spinoza revelou-nos o seguinte: tão somente
algo determinado tem o poder da determinação”.
“Ora, se tal procede, então, a substância, sendo um ente indeterminado por definição,
não poderia nada determinar”.
“Ora, tal procede, pois, se não houvesse algo indeterminado que determinou por
primeiro, não haveria determinação alguma, porquanto haveria uma regressão ao
infinito, o que implicaria na não existência dos intermediários”.
“Ora, diz-nos o magnânimo Spinoza, em tudo aquilo, de cuja natureza podem existir
vários entes, deve necessariamente haver uma causa externa pela qual esses entes
existam13”.
“Ora, diz o ente que vos escreve, se há, por necessidade de definição, uma única
substância e se tudo aquilo que de cuja natureza podem provir muitos entes deve ser
13
Spinoza, Ética, ed. Nova Cultural.
uma causa externa a estes, então a substância não pode ter sido produzida por uma
causa externa à ela, porquanto esta não pode ser muitas, mas tão somente uma”.
“Portanto, a substância, justamente por ser, por definição, única, não pode ter sido
gerada e nada pode haver que exceda sua natureza”.
“Ora, se tal procede, então, se uma tal existência for infinita, uma tal atividade
causante também o será, e se uma tal essência for infinita, um tal intelecto também o
será”.
“Uma vez que tal procede, conclui-se que tudo o quanto pode ser concebido pelo
intelecto infinito da substância deve necessariamente vir a ser ente, isto é, efeito de
sua atividade causante infinita”.
“As coisas produzidas pela atividade causante da substância que, por primeiro,
foram concebidas pelo seu intelecto infinito são necessárias tão somente enquanto
são efeitos de tal”.
“A substância produz entes. Os entes, por sua vez, produzem princípios de distorção
da substância. Por fim, os princípios de distorção da substância produzem efeitos
puros”.
“Destarte, abstrai-se de tal afirmação que não há nada que se possa chamar ser, mas
tão somente substância, modos, acidentes e imoventes”.
“A substância é causa imediata mesmo daquilo que é limitado por força de sua
natureza, porquanto, se não o fosse, seria causa tardia, o que é um absurdo quando
aplicado à tese da existência de tão somente uma única substância, pois ser causa
tardia implica ser causa segunda na ordem das causas, o que, quando aplicado à tese
monosubstancialista, convém como absurdo”.
“Portanto, a substância, enquanto coisa una e única, não pode ser causa tardia de
algo, mas tão somente causa imediata”.
“Tese: perfeição e imperfeição são meros entes de razão e, portanto, entre eles há
mera distinção de razão. Se tal procede, então, a substância não é imperfeita, mas
incompleta”.
“Prova: perfeição é, por definição, aquilo que é apetecido por muitos. Ora, se tal
procede, então, perfeição é, por definição, mera relação e, portanto, nada é perfeito
quando tomado em si mesmo. Uma vez que tal procede, conclui-se que a substância
não pode ser absolutamente perfeita - pois nada tomado em si mesmo pode sê-lo -,
mas tão somente relativamente perfeita, o que é absurdo, porquanto, se ela o fosse,
seria apetecida por muitos, sendo assim, seria ela o fim de muitos. Ora, como estes
muitos são efeitos da substância, sendo ela sua causa final, então, se tal procedesse,
a substância os teria criado com o fim de ser perfeita, o que é um absurdo porque
assim a substância seria imperfeita em si mesma, o que não pode proceder, pois algo
imperfeito só o é em relação. Ora, se a substância fosse relativamente imperfeita, ela
não seria apetecida por muitos, o que implica em contradição intrínseca quando
analisamos a veracidade das proposições anteriores.
Portanto, a substância não pode ser imperfeita, tampouco perfeita, porquanto tais
conceitos são meramente entes de razão que distinguem-se tão somente na razão”.
“Prova: (1) a potência da substância não é senão sua essência ativa; (2) por
conseguinte, a substância não pode, por definição, ser concebida, por ser capacitada
e potencialmente onipotente, como um esse não atuante, isto é, como algo que não
age e que é, portanto, imóvel por necessidade”.
“Resposta à uma das possíveis objeções: (O) Ora, se a substância não é imóvel
porque age, então, como será possível dirimir o problema suscitado pelas causas
motrizes, ou seja, como rejeitar a premissa cujo conteúdo expressa que tudo o
quanto é movido o é por outro? (R) Ora, diz o ente que vos escreve, rejeita-se tal
premissa afirmando-se que tudo o quanto é atualizado o é ou por si mesmo, ou por
outro; contudo, há uma predileção de ordem pela segunda opção, isto é, a
substância, ao gerar os entes, estabeleceu que ser atualizado por outro é superior a
ser atualizado por si mesmo, porquanto sê-lo por outro implica na não necessidade
de tal atualização ser tão somente da potência que é mais próxima do ato atual do
ente, mas implica na possibilidade de tal atualização aplicar-se a descrições distantes
das propriedades atuais do ente”.
Isaac A. P. Nicolau
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Tradução: Ó puro amor, que eu me esvazie e que tu me enchas, até que em mim só haja a ti.