Você está na página 1de 54

AVISO LEGAL DE DIREITOS AUTORAIS

Este material está protegido por leis de di-


reitos autorais. Todos os direitos sobre este
material estão reservados. Você não tem
permissão para vender, distribuir gratuita-
mente ou ainda copiar ou reproduzir integral
ou parcialmente o conteúdo deste e-book
em sites, blogs, jornais ou quaisquer outros
veículos de distribuição e mídia. Qualquer
tipo de violação dos direitos autorais estará
sujeita a ações legais.
Sobre o autor

Murillo Akio Arakaki

Advogado militante em todo o Brasil. Bacharel em Direito pela Univer-


sidade São Judas Tadeu em São Paulo (USJT), pós-graduado em Direito
Tributário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP),
com Formação Docente para Professores de Direito pela Fundação Ge-
túlio Vargas (FGV) e formação em Agências de Viagem e Turismo pelo
Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Foi Presidente da Comis-
são de Direito aplicado à Hotelaria e ao Turismo na Ordem dos Advoga-
dos do Brasil seção São Paulo (OAB/SP) – 2017/2018, membro efetivo
da Comissão de Direito Tributário na Ordem dos Advogados do Brasil
seção São Paulo (OAB/SP) – 2016/2018 e membro efetivo da Comis-
são de Contencioso Administrativo Tributário na Ordem dos Advogados
do Brasil seção São Paulo (OAB/SP) – 2016/2018. Foi professor tutor
da área Tributária do Complexo Educacional Damásio de Jesus em São
Paulo. Foi professor convidado do curso de Hotelaria do SENAC Águas
de São Pedro/SP. Autor de inúmeros artigos publicados em sites e re-
vistas jurídicas e hoteleiras. Professor de cursos jurídicos e hoteleiros;
Palestrante convidado de diversas empresas e instituições privadas.
Murillo Akio Arakaki
Sumário
Sumário clicável - Clique nos temas abaixo para ir para a página

1. Introdução............................................................................................................................... 7
2. Considerações preliminares sobre a relação jurídica tributária material................ 9
2.1. Fato gerador da obrigação tributária............................................................................ 10
2.2. Lançamento do crédito tributário.................................................................................. 12
2.2.1. Lançamento de ofício..................................................................................................... 16
2.2.2. Lançamento por declaração (misto)........................................................................... 17
2.2.3. Lançamento por homologação (autolançamento).................................................... 18
2.2.4. Lançamento por arbitramento..................................................................................... 20
2.3. Suspensão da exigibilidade do crédito tributário........................................................ 21
2.4. Extinção do crédito tributário........................................................................................ 23
3. Prescrição e decadência...................................................................................................... 25
3.1. Decadência do direito de constituir o crédito tributário em tributos sujeitos ao
lançamento de ofício e ao lançamento por declaração..................................................... 26
3.2. Decadência do direito de constituir o crédito tributário em tributos sujeitos ao
lançamento por homologação................................................................................................ 29
3.3. Prescrição do crédito tributário.................................................................................... 37
3.4. Das hipóteses de interrupção do prazo prescricional................................................ 45
3.5. Das hipóteses de suspensão do prazo prescricional................................................... 50
4. Conclusão.............................................................................................................................. 53
1. Introdução
1. Introdução

Por que um advogado tributarista ou que queira se tornar um tributarista deve


compreender tudo sobre os institutos da prescrição e da decadência no Direito
Tributário?

Simples: a prescrição e a decadência são as hipóteses de extinção do crédi-


to tributário que mais agregam valor ao cliente e também ao advogado. Imagine
você (leitor) obter a declaração judicial da prescrição de uma dívida tributária de
R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Será que o seu cliente ficaria grato? Penso
que sim.

Da mesma forma, quais seriam os seus honorários advocatícios em relação a


este caso? Provavelmente você poderia contar ao menos com honorários sobre o
êxito em percentual que resultaria no valor acima da média para apenas um pro-
cesso. Isso sem contar os honorários de sucumbência.

Ou seja, a prescrição e a decadência são institutos jurídicos que, aplicados


ao Direito Tributário, unem cliente e advogado para trabalhar juntos contra uma
tentativa de arrecadação ilegal dos governos federal, estadual e municipal.

O reconhecimento judicial da total prescrição ou decadência fará com que o


seu cliente pague zero com aquela dívida tributária ao governo. Ele provavelmente
só terá que pagar os seus honorários que, por sua vez, serão bem menores do que
a totalidade do tributo cobrado.

Não é fantástico? Cliente e advogado ganham!

Para bem compreender esses institutos jurídicos não basta uma simples lei-
tura dos os arts. 150, § 4º, 173 e 174 do Código Tributário Nacional, mas sim um
estudo sobre inúmeras matérias essenciais do Direito Tributário, na legislação, na
doutrina e na jurisprudência.

Entretanto, acredito que você demoraria um bom tempo para adquirir esse
conhecimento nessas várias fontes do direito.

Por isso, para economizar o seu tempo, eu elaborei esse e-book especialmen-
te para você compreender todo o necessário para conseguir identificar uma rela-
ção jurídica tributária extinta pela prescrição ou pela decadência, especialmente
conforme o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça.

Espero que esse material seja de grande valia.

Desejo uma excelente leitura!

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 7


2. Considerações preliminares
sobre a relação jurídica
tributária material
2. Considerações preliminares sobre a relação jurídica
tributária material
Antes de explorarmos as questões próprias da prescrição e da decadência no
direito tributário, é imprescindível uma breve explicação sobre a relação jurídica
tributária material e suas fases, desde a prática do fato gerador até a extinção do
crédito tributário.

Essas premissas são importantíssimas para melhor compreensão dos institutos


jurídicos da prescrição e da decadência tributária.

Saliente-se que não será objeto do presente estudo a relação jurídica tribu-
tária formal, relacionada às obrigações acessórias, como por exemplo declarações
fiscais, cadastros do contribuinte, entre outras.

De forma geral, conceituamos a relação jurídica tributária material como sen-


do o vínculo legalmente previsto entre o fisco (sujeito ativo) e o contribuinte/res-
ponsável (sujeito passivo), tendo como objeto uma prestação pecuniária (tributo),
da seguinte forma:

Importante destacar que podemos enumerar as três principais fases da rela-


ção jurídica tributária como sendo:

I. Fato gerador da obrigação tributária;

II. Lançamento do crédito tributário;

III. Extinção do crédito tributário.

Em uma linha temporal de uma relação jurídica tributária padrão, temos o

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 9


contribuinte praticando um fato gerador que origina uma obrigação tributária,
seguido do ato de lançamento que, por sua vez, constitui o crédito tributário e,
por fim, a sua extinção pelo pagamento ou outra hipótese de extinção do crédito
tributário, conforme ilustração abaixo:

Sendo assim, necessário explanar brevemente sobre cada uma delas, do nas-
cimento da obrigação à extinção do crédito tributário.

2.1. Fato gerador da obrigação tributária

O art. 114 do Código Tributário Nacional conceitua o fato gerador da seguinte


forma:

Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida


em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência.

Logo, podemos dizer que o fato gerador é o fato, ato ou situação jurídica que,
legalmente prevista, faz nascer a obrigação tributária.

Por exemplo, a prestação de serviços médicos/hospitalares configura ato jurí-


dico ocorrido no âmbito cível que, paralelamente, também configura fato gerador
tributário do ISS – Imposto Sobre Serviços (item 4 da Lista de serviços anexa à Lei
Complementar nº 116/2003), portanto, ao prestar serviços, o hospital faz nascer
a obrigação tributária relativa ao imposto em questão.

Assim, para o início de uma concreta relação jurídica tributária, tais fatos,
atos ou situações jurídicas precisam obrigatoriamente corresponder à exata hipó-
tese de incidência tributária prevista em lei, nos moldes da ilustração abaixo:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 10


Aplicando essa lógica em nosso exemplo, temos:

Sendo assim, após a prática do fato gerador pelo contribuinte haverá o nasci-
mento de uma obrigação tributária (dever de pagar tributo), que, por sua vez, fará
parte de uma relação jurídico tributária, nos moldes do art. 113, § 1º, do Código
Tributário Nacional:

Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.


§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador,
tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e
extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 11


Entretanto, em que pese a existência de fato gerador e obrigação tributária,
não necessariamente a relação jurídica tributária estará formalmente constituí-
da pelo fisco, haja vista que somente o lançamento tributário tem o poder de
constituir o crédito tributário.

2.2. Lançamento do crédito tributário

Muito embora muitas pessoas não diferenciem “obrigação tributária” de “cré-


dito tributário”, essa distinção é fundamental para se entender as fases da relação
jurídica tributária.

Podemos dizer que a obrigação tributária é a fase da relação jurídica tributária


existente entre a ocorrência do fato gerador e o lançamento, de forma que, por
sua vez, o crédito tributário é a fase dessa mesma relação existente entre o lan-
çamento e a sua extinção, conforme ilustração que já apresentamos no início do
presente capítulo (clique aqui para ir para a ilustração).

A obrigação tributária nasce com a ocorrência do fato gerador e o crédito tri-


butário nasce com o seu lançamento.

Isso quer dizer que um e outro são completamente distintos?

Não exatamente, tendo em vista que o crédito tributário contém a obrigação


tributária, ou seja, o crédito tributário é a obrigação tributária revestida das for-
malidades legais do lançamento:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 12


Esse raciocínio é trazido pelo próprio art. 139 do Código Tributário Nacional:

Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem


a mesma natureza desta.

Ora, quando o legislador diz que “o crédito tributário decorre da obrigação


principal”, ele transmite a ideia de que a obrigação tributária é a origem do crédito
tributário, de modo que este sucede aquele após o devido lançamento.

Na mesma linha, em regra, a obrigação tributária (núcleo) não é alterada por


eventuais modificações do crédito tributário, seja em sua extensão ou seja em
seus efeitos, conforme dispõe o art. 140 do Código Tributário Nacional:

Art. 140. As circunstâncias que modificam o crédito tributário, sua


extensão ou seus efeitos, ou as garantias ou os privilégios a ele
atribuídos, ou que excluem sua exigibilidade não afetam a obriga-
ção tributária que lhe deu origem.

Mas afinal, o que é lançamento tributário?

Tal conceito é trazido pelo art. 142 do Código Tributário Nacional:

Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa


constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido
o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência
do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a ma-
téria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar
o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade
cabível.

Logo, podemos dizer que o lançamento declara a obrigação tributária e cons-


titui o crédito tributário, tendo natureza declaratória e constitutiva.

Na prática, o lançamento é a formalização da obrigação tributária (nascimen-


to do crédito tributário) por meio da representação documental da relação jurídica
tributária, em que o fisco ou o contribuinte/responsável (dependendo da modali-
dade de lançamento) apure todos os critérios da incidência tributária, quais sejam:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 13


Como exemplo, temos:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 14


Importante salientar que a representação documental dessa relação jurídica
tributária poderá ser mediante documentos físicos ou digitais. Com o decorrer do
avanço tecnológico, as administrações tributárias têm dado preferência aos lan-
çamentos tributários digitais, mediante declarações fiscais com certificado digital,
notificações em portal eletrônico próprio, processos eletrônicos, entre outros.

Ademais, para que o lançamento tributário tenha eficácia, é necessário a


regular notificação do contribuinte ou responsável, haja vista que é nesse exato
momento que o lançamento se efetiva, ou seja, é nesse momento que o crédito
tributário nasce.

De tal sorte, caso não haja a regular notificação do contribuinte ou responsá-


vel, o crédito tributário não estará devidamente constituído e, consequentemente,
haverá nulidade do procedimento administrativo de lançamento, viciando assim
toda a exigibilidade do tributo.

Esse raciocínio é extraído do art. 142 do Código Tributário Nacional ao descre-


ver o lançamento como um “procedimento administrativo”, que, por sua vez, só é
finalizado com a notificação do contribuinte ou responsável. Esse entendimento é
harmônico com o art. 145 do Código Tributário Nacional ao tratar sobre a imutabi-
lidade do lançamento regularmente notificado:

Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo


só pode ser alterado em virtude de:
I - impugnação do sujeito passivo;
II - recurso de ofício;
III - iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos
previstos no artigo 149.

Desse modo, fica claro que a notificação de lançamento é o ato que consuma
a constituição do crédito tributário.

Para fins de diferenciação, relevante se mostra a definição das quatro moda-


lidades de lançamento, quais sejam:

I. de ofício;

II. por declaração;

III. por homologação;

IV. por arbitramento.

Tais modalidades serão exploradas nos subtópicos que seguem.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 15


2.2.1. Lançamento de ofício

O lançamento de ofício é previsto no art. 149 do Código Tributário Nacional:

Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autori-


dade administrativa nos seguintes casos:
I - quando a lei assim o determine;
II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito,
no prazo e na forma da legislação tributária;
III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado
declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no pra-
zo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento
formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou
não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade;
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qual-
quer elemento definido na legislação tributária como sendo de de-
claração obrigatória;
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pes-
soa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere
o artigo seguinte;
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou
de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de pena-
lidade pecuniária;
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em
benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação;
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não pro-
vado por ocasião do lançamento anterior;
IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu
fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão,
pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada en-
quanto não extinto o direito da Fazenda Pública.

Nessa modalidade de lançamento, a autoridade tributária efetua ou revisa a


constituição do crédito tributário pelo simples fato da própria lei determinar que a
ela cabe essa incumbência.

Quando não há lançamento anterior, o fisco normalmente o efetiva mediante


uma notificação de lançamento ou auto de infração, sendo este último utilizado
quando o contribuinte ou responsável supostamente descumpre alguma obrigação
tributária principal e/ou acessória.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 16


O exemplo clássico de lançamento de ofício previsto em lei (inciso I do art.
149 do Código Tributário Nacional) é o realizado para a cobrança de IPTU – Imposto
sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, tendo em vista que as respectivas
notificações de lançamento chegam em cada imóvel urbano, independentemente
de declaração fiscal do contribuinte.

Por sua vez, o auto de infração também é utilizado para a revisão de lança-
mentos efetuados mediante declaração fiscal do contribuinte ou responsável, bem
como para lançamentos que deveriam ser realizados mediante a declaração fiscal
do contribuinte ou responsável (mas não foram), conforme hipóteses dos incisos
II a IX do art. 149 do Código Tributário Nacional.

Um exemplo é quando o fisco cruza os dados da declaração de ICMS (Imposto


sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre prestações de Servi-
ços) de uma empresa com os dados fornecidos por operadoras de cartão de crédito
e débito, verificando que as vendas do contribuinte foram maiores do que as de-
claradas à administração tributária. Com isso, após todas as formalidades legais, o
fisco deverá lavrar um auto de infração para a cobrança do suposto ICMS devido.

2.2.2. Lançamento por declaração (misto)

O lançamento por declaração ou misto possui previsão no caput do art. 147


do Código Tributário Nacional:

Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do su-


jeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da le-
gislação tributária, presta à autoridade administrativa informações
sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.

Essa modalidade de lançamento ocorre quando, em cumprimento de uma


obrigação acessória, o contribuinte ou responsável apresenta ao fisco as ques-
tões de fato necessárias para apuração e constituição do crédito tributário. Desse
modo, a administração tributária é a efetiva encarregada de aplicar a legislação
tributária ao caso concreto, ou seja, ela é a efetiva encarregada de lançar o crédito
tributário.

Em caso de erro de fato, o contribuinte ou responsável poderá retificar a de-


claração, desde que antes da efetiva notificação de lançamento. Já após a efetiva
notificação de lançamento, os erros na declaração deverão ser revistos de ofício

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 17


pela administração tributária, nos moldes dos parágrafos 1º e 2º do art. 147 do
Código Tributário Nacional:

Art. 147. (...).


§ 1º A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante,
quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante
comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o
lançamento.
§ 2º Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo seu exame
serão retificados de ofício pela autoridade administrativa a que
competir a revisão daquela.

Atualmente, em nosso sistema tributário nacional, são poucos os entes fede-


rativos que adotam essa modalidade de lançamento para a criação efetiva de um
tributo. A maioria dos tributos são criados mediante o lançamento por homologa-
ção (autolançamento) ou lançamento de ofício.

2.2.3. Lançamento por homologação (autolançamento)

Também chamado de “autolançamento”, o lançamento por homologação é


previsto no caput do art. 150 do Código Tributário Nacional:

Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos


tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de an-
tecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade adminis-
trativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando
conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expres-
samente a homologa.

Nessa modalidade, é o próprio contribuinte ou responsável que constitui o


crédito tributário por meio da declaração fiscal e do pagamento antecipado (sem
prévio exame da autoridade administrativa), que poderá ou não ser homologado
pela autoridade tributária.

Assim, a princípio o fisco não participa do lançamento, transferindo essa res-


ponsabilidade ao contribuinte ou responsável, mas reservando-se ao direito de
lançar eventuais diferenças apuradas ou homologar o pagamento realizado.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 18


Tal entendimento já foi sedimentado pela Súmula nº 436 do STJ – Superior
Tribunal de Justiça:

Súmula nº 436 - A entrega de declaração pelo contribuinte re-


conhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada
qualquer outra providência por parte do fisco.

Para que o tributo seja constituído nessa modalidade de lançamento, é neces-


sária previsão legal expressa que impute ao sujeito passivo essa responsabilidade.

O pagamento antecipado pelo contribuinte ou responsável extingue o crédito


tributário, sob condição resolutória de sua posterior homologação expressa ou tá-
cita, conforme art. 150, § 1º, do Código Tributário Nacional:

Art. 150. (...)


§ 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste
artigo extingue o crédito, sob condição resolutória da ulterior
homologação ao lançamento.

Ressalta-se que o objeto da homologação é o pagamento antecipado (e não a


declaração fiscal), haja vista que é esse o ato do contribuinte que extingue a rela-
ção jurídica tributária principal. Logo, não é a declaração fiscal do sujeito passivo
que é homologada pela administração tributária, esta última relacionada à relação
jurídica tributária acessória (obrigação acessória de apresentar a declaração).

Caso não haja a homologação expressa do pagamento feito pelo sujeito pas-
sivo no prazo de cinco anos, ocorrerá a sua homologação tácita, nos moldes do §
4º do art. 150 do Código Tributário Nacional:

Art. 150. (...)


§ 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco
anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo
sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se
homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito,
salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

Esse lapso de tempo de cinco anos refere-se ao prazo decadencial para que o
fisco homologue expressamente o pagamento antecipado feito pelo sujeito passivo
do crédito tributário.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 19


A decadência do lançamento por homologação será melhor explorada nos ca-
pítulos seguintes.

2.2.4. Lançamento por arbitramento

O lançamento por arbitramento é previsto no art. 148 do Código Tributário


Nacional:

Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em


consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos
jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, ar-
bitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não
mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou
os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro le-
galmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação
contraditória, administrativa ou judicial.

Essa modalidade de lançamento somente pode ser utilizada por iniciativa da


autoridade tributária e somente se houver omissão ou informações/documentos
inverossímeis nas declarações ou esclarecimentos feitos pelo sujeito passivo, des-
de que para obter o valor do tributo seja necessário levar em consideração o valor
de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos.

Para tanto, o fisco deverá instaurar um processo administrativo, a fim de que


sejam garantidos ao contribuinte os direitos ao contraditório e a ampla defesa,
previstos no art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal.

Com isso, o contribuinte terá a oportunidade de se defender mediante escla-


recimentos e produção de provas nos autos do processo administrativo, especial-
mente avaliação judicial ou administrativa a ser realizada por perito e assistentes
técnicos.

Após o devido processo legal (art. 5º, inciso LIV da Constituição Federal), a
autoridade tributária arbitrará o valor de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos
e, consequentemente, o tomará como base para o cálculo do tributo a ser lançado.

Podemos citar como exemplo o ITBI – Imposto sobre Transmissão inter vivos
de Bens Imóveis em que contribuinte declara um valor do imóvel a ser vendido
muito abaixo do verdadeiro. Assim, como o fisco identifica o “erro grosseiro” do

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 20


contribuinte, ele instaura um processo administrativo de arbitramento do valor do
imóvel que, por sua vez, servirá de base de cálculo do imposto a ser lançado. Após
o devido processamento dos autos administrativos, a autoridade tributária pode
lançar por arbitramento o imposto devido.

2.3. Suspensão da exigibilidade do crédito tributário

Assim que o crédito tributário é constituído pelo lançamento, ele passa a ser
exigível pela administração tributária, de modo que, em caso de pagamento fora
do vencimento, haverá o acréscimo de multa, juros e demais encargos legalmente
previstos.

Porém, o Código Tributário Nacional, em seu art. 151, prevê hipóteses de sus-
pensão da exigibilidade do crédito tributário, quais sejam:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:


I - moratória;
II - o depósito do seu montante integral;
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras
do processo tributário administrativo;
IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança.
V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em
outras espécies de ação judicial;
VI – o parcelamento.

Devemos nos atentar nessa questão, pois o dispositivo trata sobre a suspen-
são da exigibilidade do crédito tributário e não da suspensão do crédito tributário.

De tal sorte, se o tributo já estiver lançado e enquanto perdurar qualquer uma


dessas hipóteses previstas no art. 151 do Código Tributário Nacional, a administra-
ção tributária não poderá exigir o pagamento do sujeito passivo.

Por outro lado, se ainda não houve a constituição do crédito tributário, não
há nenhum impedimento do fisco de providenciar o lançamento tributário (mesmo
que a sua exigibilidade já inicie suspensa), haja vista que somente assim o crédito
tributário passaria a ser exigível.

Importante consignar que, mesmo com a exigibilidade suspensa, é obrigação


do fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, sob pena dessa relação
jurídica tributária ser fulminada pela decadência.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 21


A moratória (inciso I) é a prorrogação dos vencimentos dos créditos tributários
por meio de lei específica, fundamentada em questões urgentes de ordem pública,
como epidemias, catástrofes, enchentes, guerras, crises econômicas e outros de-
sastres que criam dificuldades ao contribuinte de pagar o tributo.

Posteriormente, temos o depósito do montante integral do tributo (inciso II)


como hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Como o próprio
termo diz, para se atingir o efeito desejado o contribuinte não poderá depositar
parcialmente o valor em questão, devendo ele integralizá-lo com o montante prin-
cipal e eventuais multas, juros, correção monetária e demais encargos exigidos
até a data do efetivo depósito em dinheiro. Sendo assim, a partir da data de sua
efetivação, não haverá a fluência de juros e correção monetária. Nesse sentido a
Súmula nº 112 do STJ – Superior Tribunal de Justiça, que diz:

Súmula nº 112 - O depósito somente suspende a exigibilidade do


crédito tributário se for integral e em dinheiro.

Por sua vez, temos as reclamações e os recursos administrativos (inciso III)


como hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Aqui estamos
nos referindo às impugnações, defesas, manifestações de inconformidade, recur-
sos e demais contestações do contribuinte ou responsável feitas em processos
administrativos tributários, nos moldes das legislações próprias federais, estaduais
e municipais. Importante deixar claro que não é qualquer petição em processo
administrativo que suspende a exigibilidade do crédito tributário, mas sim as legal-
mente previstas como capazes de alterar o lançamento na esfera administrativa,
nos termos do já mencionado art. 145 do Código Tributário Nacional.

Também são hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário


as decisões liminares em mandado de segurança (inciso IV) e as liminares ou
tutelas provisórias concedidas em outras ações judiciais (inciso V). Em ambos os
casos, em regra, as liminares ou tutelas provisórias somente serão concedidas me-
diante o cumprimento dos requisitos legais, especialmente pelo art. 7º da Lei nº
12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) ou pelos arts. 300 e 311 do Código
de Processo Civil.

Por fim, a última hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário


é o parcelamento do crédito tributário (inciso VI). Tal instituto jurídico deve ser
concedido genericamente na forma e na condição estabelecidas em lei específica,
conforme exigência do art. 155-A do Código Tributário Nacional, bem como deve
ser concedido individualmente pela autoridade tributária conforme legislação, fi-
xando o número de parcelas, juros, correção, demais encargos, confissão de dívida
e exigindo eventuais garantias.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 22


2.4. Extinção do crédito tributário

Toda relação jurídica tributária caminha em direção à sua extinção. Ela não
pode ser eterna.

Por isso, o Código Tributário Nacional prevê as hipóteses de extinção do cré-


dito tributário, em seu art. 156:

Art. 156. Extinguem o crédito tributário:


I - o pagamento;
II - a compensação;
III - a transação;
IV - remissão;
V - a prescrição e a decadência;
VI - a conversão de depósito em renda;
VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos
termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º;
VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no §
2º do artigo 164;
IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a de-
finitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de
ação anulatória;
X - a decisão judicial passada em julgado.
XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condi-
ções estabelecidas em lei.

Obviamente que o pagamento (inciso I) é a hipótese de extinção do crédito


tributário por excelência, haja vista que o principal objetivo do fisco é a arrecada-
ção de dinheiro para a manutenção da máquina pública.

Porém, como nem sempre o contribuinte ou responsável efetua o pagamen-


to dos valores supostamente devidos, a relação jurídica tributária pode caminhar
para a sua extinção por outras formas previstas nesse art. 156.

Pois bem, como o presente estudo trata especialmente sobre a hipótese pre-
vista no inciso V do mencionado artigo, deixaremos a explicação das demais hipó-
teses para outra oportunidade. Assim, após explorarmos os conhecimentos prévios
para a necessária compreensão da prescrição e decadência, seguiremos para o
tema principal no capítulo seguinte.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 23


3. Prescrição e decadência
3. Prescrição e decadência

Conforme já descrito, a prescrição e a decadência são hipóteses de extinção


do crédito tributário previstos no art. 156, inciso V, do Código Tributário Nacional.

No início do capítulo anterior, apresentamos uma linha temporal de uma rela-


ção jurídica tributária padrão, qual seja:

Nessa representação, temos o contribuinte praticando um fato gerador que


origina uma obrigação tributária, seguido do ato de lançamento que, por sua vez,
constitui o crédito tributário e, por fim, a sua extinção pelo pagamento ou outra
hipótese de extinção do crédito tributário.

Partindo dessa premissa, temos que a decadência é a perda do direito da ad-


ministração tributária de constituir o crédito tributário pelo lançamento, face ao
lapso temporal de cinco anos, de modo que o termo inicial varia conforme a mo-
dalidade de lançamento do tributo.

Logo, quando a obrigação tributária é fulminada pela decadência, o fisco fica


impedido de exercer o poder de lançar e, consequentemente, fica impedido de
exercer o poder de tributar, conforme a seguinte linha temporal:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 25


Necessário consignar que o prazo decadencial não possui hipóteses de inter-
rupção ou suspensão, bastando para a extinção da obrigação tributária o contínuo
lapso de cinco anos sem a constituição do crédito tributário.

Já a prescrição é a perda do direito de ação da administração tributária, ou


seja, é a perda do direito de executar judicialmente o crédito tributário já consti-
tuído, também face ao lapso temporal de cinco anos. No direito tributário, a pres-
crição possui um efeito ainda maior, qual seja, o de também extinguir o próprio
crédito tributário, nos termos do próprio art. 156 do Código Tributário Nacional.

Em nossa linha temporal, temos:

Diferentemente da decadência, o Código Tributário Nacional prevê hipóteses


de interrupção e de suspensão da prescrição, a serem melhor exploradas nos sub-
tópicos seguintes.

3.1. Decadência do direito de constituir o crédito tributário em


tributos sujeitos ao lançamento de ofício e ao lançamento por
declaração

Dispõe o art. 173 do Código Tributário Nacional:

Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tribu-


tário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados:
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lança-
mento poderia ter sido efetuado;

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 26


II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anu-
lado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado.
Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se
definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da
data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário
pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida prepara-
tória indispensável ao lançamento.

Esse dispositivo trata da regra geral de decadência tributária, aplicáveis em


todos os tributos sujeitos ao lançamento de ofício e ao lançamento por declaração,
bem como em alguns casos de tributos sujeitos ao lançamento por homologação
(tratados no subtópico seguinte).

O prazo decadencial sempre será de cinco anos, o que varia conforme a situa-
ção é o termo inicial da contagem desse prazo.

No inciso I do mencionado artigo, o termo inicial é o “primeiro dia do exercício


seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado”, ou seja, o termo
inicial é o dia 1º de janeiro do ano seguinte àquele em que o fisco ou o contribuinte
(dependendo da modalidade de lançamento a que o tributo está sujeito) poderia
efetuar o lançamento.

Seguindo as modalidades de lançamento, temos como regra os seguintes ter-


mos iniciais dessa decadência:

• Tributos sujeitos ao lançamento de ofício: 1º de janeiro do


exercício seguinte ao fato gerador;

• Tributos sujeitos ao lançamento por declaração: 1º de janeiro


do exercício seguinte ao da apresentação da declaração fiscal
ou, caso não haja declaração tempestiva, ao do último dia
para a sua apresentação;

• Tributos sujeitos ao lançamento por homologação sem que o


contribuinte tenha antecipado o pagamento: 1º de janeiro do
exercício seguinte ao do vencimento legalmente previsto do
tributo.

Por exemplo, se um determinado município, por um lapso, deixa de notificar


o contribuinte do lançamento de IPTU – Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana do ano de 2021 (tributo lançável no mesmo ano), o termo deca-
dencial inicial será em 1º de janeiro de 2022, de modo que o termo final será em
31 de dezembro de 2026.

Em outro exemplo, se um indivíduo aufere renda tributável no ano de 2021,

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 27


porém, ele não declara e nem recolhe o imposto de renda no ano de 2022 (ano em
que o lançamento poderia ter sido efetuado), o termo inicial do prazo decadencial
para a lavratura de auto de infração será somente em 1º de janeiro de 2023 e, por
conseguinte, o termo final somente seria em 31 de dezembro de 2027.

Em casos de tributos sujeitos ao lançamento por homologação e caso o con-


tribuinte o declare e o pague antecipadamente, excepcionalmente é aplicável a
decadência prevista no art. 150, § 4º, do Código Tributário Nacional, que será
abordada no subtópico seguinte.

Ainda sobre o termo inicial decadencial do inciso I do art. 173 do Código Tribu-
tário Nacional, o parágrafo único do citado artigo prevê a possibilidade de anteci-
pação do termo a quo caso o contribuinte seja notificado sobre ações preparatórias
necessárias à constituição do crédito tributário.

Com isso, o início da contagem do prazo decadencial deixa de ser o “primeiro


dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado”
para ser a data da notificação sobre as medidas indispensáveis à preparação do
lançamento tributário, desde que esta data seja anterior àquela.

Por sua vez, o inciso II do art. 173 do Código Tributário Nacional refere-se ao
prazo decadencial para o lançamento de crédito tributário anulado por vício formal.

Ou seja, pelo descumprimento das formalidades exigidas pela lei (procedi-


mentais ou documentais), o crédito tributário que já havia sido lançado é anulado
via processo administrativo ou judicial e, portanto, a obrigação tributária passa
novamente a ser passível de ser extinta pela decadência, salvo se o fisco realizar
novo lançamento no prazo quinquenal.

Trata-se de verdadeira hipótese de reabertura do prazo decadencial e, por


isso, exceção à regra de que inexiste hipóteses de interrupção de tal prazo.

Nesses casos, o termo inicial de contagem do prazo decadencial é a data do


trânsito em julgado da decisão (administrativa ou judicial) que anular o lançamen-
to anteriormente efetuado, por vício formal.

Entretanto, essa regra não é aplicável aos vícios materiais do lançamento,


estes relativos à incidência tributária ou a validade da lei que instituiu o tributo,
bem como essa regra não é aplicável a vícios formais que não geram prejuízo ao
contribuinte.

Em outras palavras, não se aplica o inciso II do art. 173 do Código Tributário


Nacional para anulações de lançamentos fundamentados em vícios da própria re-
lação jurídica tributária. Por exemplo, inocorrência do fato gerador, inconstitucio-
nalidade da lei que institui o tributo, não responsabilidade tributária, entre outros.

Importante salientar que o novo prazo para o fisco realizar novo lançamento

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 28


é concedido somente para sanar o vício de forma, não podendo a administração
tributária alterar o conteúdo material do lançamento.

3.2. Decadência do direito de constituir o crédito tributário em


tributos sujeitos ao lançamento por homologação

A decadência do direito de constituir o crédito tributário em tributos sujeitos


ao lançamento por homologação está prevista no art. 150, § 4º, do Código Tribu-
tário Nacional:

Art. 150. (...)


§ 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco
anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo
sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se
homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito,
salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

Essa hipótese de decadência é a exceção à regra do art. 173 do Código Tri-


butário Nacional. Assim, o art. 150, § 4º, do Código Tributário Nacional somente
é aplicável quando o fisco apurar que o valor declarado e pago antecipadamente
pelo contribuinte é menor do que o realmente devido.

Por isso, não há o que se falar em aplicação do art. 150, § 4º, do Código Tri-
butário Nacional quando o contribuinte não antecipa o pagamento do tributo.

Percebemos, pois, que tal exceção é mais benéfica ao contribuinte do que a


regra do art. 173 do Código Tributário Nacional, tendo em vista que o termo a quo
do art. 150, § 4º, do Código Tributário Nacional é a data do fato gerador e não o
“primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido
efetuado” ou a “data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por
vício formal, o lançamento anteriormente efetuado”.

Como essa regra é uma das que mais geram confusão no direito tributário,
podemos ilustrá-la pelo seguinte gráfico:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 29


De tal sorte, verificamos que não é possível a aplicação conjunta das regras
do art. 173 e do art. 150, § 4º, ambos do Código Tributário Nacional, sempre será
aplicável ou um ou outro.

Quando o contribuinte declara e paga antecipadamente um tributo sujeito ao


lançamento por homologação, o fisco poderá lançar de ofício eventuais valores
residuais que entender devidos (não homologando o pagamento antecipado), no
prazo decadencial de cinco anos, contados a partir da data da ocorrência do fato
gerador.

Logo, o fisco tem total liberdade de instaurar fiscalização para que, em caso
de pagamento insuficiente, ele possa lavrar um auto de infração do montante re-
sidual não pago, não homologando assim os valores recolhidos pelo contribuinte.

Entretanto, a notificação da lavratura desse auto de infração deve acontecer


antes do término do prazo quinquenal aqui descrito, sob pena de decadência do
crédito tributário não pago antecipadamente, haja vista que, conforme já trata-
mos, o lançamento por auto de infração (de ofício) somente se efetiva na data da
respectiva notificação do contribuinte ou responsável.

Nesse sentido temos a primeira parte da Súmula nº 622 do STJ – Superior


Tribunal de Justiça:

Súmula nº 622 - A notificação do auto de infração faz cessar a


contagem da decadência para a constituição do crédito tributá-
rio; (...). (Súmula 622, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2018,
DJe 17/12/2018).

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 30


No mesmo prazo quinquenal, o fisco também poderá homologar expressa-
mente ou tacitamente o pagamento antecipado feito pelo contribuinte, aprovando
os seus cálculos.

Necessário salientar também que, em caso de ausência de declaração do con-


tribuinte ou responsável, o prazo decadencial aplicável é o do art. 173, inciso I, do
Código Tributário Nacional, conforme a Súmula nº 555 do STJ – Superior Tribunal
de Justiça:

Súmula nº 555 - Quando não houver declaração do débito, o prazo


decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário
conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos
casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de
antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade adminis-
trativa. (Súmula 555, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2015,
DJe 15/12/2015).

Tal entendimento sumular se faz justificável pelo fato de, ausente a decla-
ração fiscal, o tributo passe a ser constituível integralmente por auto de infração
(lançamento de ofício) e, por isso, segue a regra geral do art. 173 do Código Tri-
butário Nacional.

Para o aprofundamento da questão, destacamos e grifamos alguns preceden-


tes que originaram a súmula em comento:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATI-


VO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO.
TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PA-
GAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O
FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INI-
CIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS
PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IM-
POSSIBILIDADE.
1. O prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir
o crédito tributário (lançamento de ofício) conta-se do pri-
meiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê
o pagamento antecipado da exação ou quando, a despei-
to da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação
de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 31


declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção:
REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007,
DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori
Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp
276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ
28.02.2005).
2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito
Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o
Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, con-
soante doutrina abalizada, encontra-se regulada por cinco regras
jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da deca-
dência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lança-
mento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento
por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento
antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, “Decadência e Prescri-
ção no Direito Tributário”, 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004,
págs.. 163/210).
3. O dies a quo do prazo quinquenal da aludida regra deca-
dencial rege-se pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sen-
do certo que o “primeiro dia do exercício seguinte àquele
em que o lançamento poderia ter sido efetuado” correspon-
de, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte
à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tri-
butos sujeitos a lançamento por homologação, revelando-se
inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos pre-
vistos nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a
configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto
Xavier, “Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro”, 3ª ed.,
Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs.. 91/104; Luciano Amaro,
“Direito Tributário Brasileiro”, 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs..
396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, “Decadência e Prescri-
ção no Direito Tributário”, 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004,
págs.. 183/199).
5. In casu, consoante assente na origem: (i) cuida-se de
tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obri-
gação ex lege de pagamento antecipado das contribuições
previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no
que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de
janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição
dos créditos tributários respectivos deu-se em 26.03.2001.
6. Destarte, revelam-se caducos os créditos tributários executa-
dos, tendo em vista o decurso do prazo decadencial quinquenal
para que o Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo.
7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do
artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.
(REsp 973.733/SC, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, jul-
gado em 12/08/2009, DJe 18/09/2009) (g.n.).

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 32


AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL
TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMO-
LOGAÇÃO. ICMS. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECI-
PADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR
O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I,
DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS
ARTIGOS 150, § 4º, E 173, DO CTN. IMPOSSIBILIDADE. VIOLA-
ÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. (RECURSO REPETITI-
VO - RESP 973.733-SC).
1. O tributo sujeito a lançamento por homologação, em não
ocorrendo o pagamento antecipado pelo contribuinte, in-
cumbe ao Fisco o poder-dever de efetuar o lançamento de
ofício substitutivo, que deve obedecer ao prazo decaden-
cial estipulado pelo artigo 173, I, do CTN, segundo o qual o
direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário
extingue-se após 5 (cinco) anos contados do primeiro dia
do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia
ter sido efetuado.
2. Deveras, é assente na doutrina: “a aplicação concorrente dos
artigos 150, § 4º e 173, o que conduz a adicionar o prazo do arti-
go 173 - cinco anos a contar do exercício seguinte àquele em que
o lançamento poderia ter sido praticado - com o prazo do artigo
150, § 4º - que define o prazo em que o lançamento poderia ter
sido praticado como de cinco anos contados da data da ocorrência
do fato gerador. Desta adição resulta que o dies a quo do prazo
do artigo 173 é, nesta interpretação, o primeiro dia do exercício
seguinte ao do dies ad quem do prazo do artigo 150, § 4º.
A solução é deplorável do ponto de vista dos direitos do cidadão
porque mais que duplica o prazo decadencial de cinco anos, ar-
raigado na tradição jurídica brasileira como o limite tolerável da
insegurança jurídica.
Ela é também juridicamente insustentável, pois as normas dos ar-
tigos 150, § 4º e 173 não são de aplicação cumulativa ou concor-
rente, antes são reciprocamente excludentes, tendo em vista a
diversidade dos pressupostos da respectiva aplicação: o art. 150,
§ 4º aplica-se exclusivamente aos tributos ‘cuja legislação atribua
ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio
exame da autoridade administrativa’; o art. 173, ao revés, aplica-
-se aos tributos em que o lançamento, em princípio, antecede o
pagamento.
(...) A ilogicidade da tese jurisprudencial no sentido da aplicação
concorrente dos artigos 150, § 4º e 173 resulta ainda evidente da
circunstância de o § 4º do art. 150 determinar que considera-se
‘definitivamente extinto o crédito’ no término do prazo de cinco
anos contados da ocorrência do fato gerador. Qual seria pois o

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 33


sentido de acrescer a este prazo um novo prazo de decadência do
direito de lançar quando o lançamento já não poderá ser efetuado
em razão de já se encontrar ‘definitivamente extinto o crédito’”
Verificada a morte do crédito no final do primeiro quinquênio, só
por milagre poderia ocorrer sua ressurreição no segundo.” (Alberto
Xavier, Do Lançamento. Teoria Geral do Ato, do Procedimento e do
Processo Tributário, Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1998, 2ª Edição,
págs. 92 a 94).
3. Desta sorte, como o lançamento direto (artigo 149, do
CTN) poderia ter sido efetivado desde a ocorrência do fato
gerador, é do primeiro dia do exercício financeiro seguinte
ao nascimento da obrigação tributária que se conta o pra-
zo decadencial para a constituição do crédito tributário, na
hipótese, entre outras, da não ocorrência do pagamento an-
tecipado de tributo sujeito a lançamento por homologação,
independentemente da data extintiva do direito potestativo
de o Estado rever e homologar o ato de formalização do
crédito tributário efetuado pelo contribuinte (Precedentes da
Primeira Seção: AgRg nos EREsp 190287/SP, desta relatoria, pu-
blicado no DJ de 02.10.2006; e ERESP 408617/SC, Relator Minis-
tro João Otávio de Noronha, publicado no DJ de 06.03.2006).
4. Os embargos de declaração que enfrentam explicitamente a
questão embargada não ensejam recurso especial pela violação
do artigo 535, II, do CPC, tanto mais que, o magistrado não está
obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte,
desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para
embasar a decisão.
5. À luz da novel metodologia legal, publicado o julgamento do
Recurso Especial nº 973.733/SC, submetido ao regime previsto no
artigo 543-C, do CPC, os demais recursos já distribuídos, fundados
em idêntica controvérsia, deverão ser julgados pelo relator, nos
termos do artigo 557, do CPC (artigo 5º, I, da Res. STJ 8/2008).
6. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1074191/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe 16/03/2010) (g.n.).

TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMO-


LOGAÇÃO. IRPJ. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECI-
PADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR
O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ART. 173, I, DO
CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS
ARTS. 150, § 4º, e 173 do CTN. IMPOSSIBILIDADE.
1. A Primeira Seção, conforme entendimento exarado por ocasião
do julgamento do Recurso Especial repetitivo 973.733/SC, Rel.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 34


Min; Luiz Fux, considera, para a contagem do prazo decadencial
de tributo sujeito a lançamento por homologação, a existência, ou
não, de pagamento antecipado, pois é esse o ato que está sujeito
à homologação pela Fazenda Pública, nos termos do art. 150 e
parágrafos do CTN.
2. Havendo pagamento, ainda que não seja integral, esta-
rá ele sujeito à homologação, daí porque deve ser aplicado
para o lançamento suplementar o prazo previsto no § 4º
desse artigo (de cinco anos a contar do fato gerador). Toda-
via, não havendo pagamento algum, não há o que homolo-
gar, motivo porque deverá ser adotado o prazo previsto no
art. 173, I, do CTN.
3. In casu, o Tribunal de origem consignou que inexistiu pagamen-
to de tributos pela empresa, mas apenas apresentação de DCTF
contendo informações sobre supostos créditos tributários a serem
compensados.
Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1277854/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 18/06/2012)
(g.n.).

TRIBUTÁRIO. DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. PAGAMENTO


PARCIAL REALIZADO ANTES DE PRÉVIO EXAME DA AUTO-
RIDADE FISCAL. ART. 150, § 4°, DO CTN. INEXISTÊNCIA DE
DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO CONSTATADOS NO ACÓR-
DÃO RECORRIDO.
1. Discute-se a ocorrência de decadência do direito de o Fisco rea-
lizar lançamento de ofício de créditos tributários cujos fatos gera-
dores ocorreram entre janeiro a novembro de 2001.
2. O Tribunal a quo confirmou a sentença de improcedência, por
entender que a decadência deve ser regida pelo art. 173, I, do
CTN, em razão de o pagamento atribuído ao contribuinte ter ocor-
rido após o vencimento.
3. De acordo com a jurisprudência consolidada do STJ, a
decadência do direito de constituir o crédito tributário é re-
gida pelo art. 150, § 4°, do CTN, quando se trata de tribu-
to sujeito a lançamento por homologação e o contribuinte
realiza o respectivo pagamento parcial antecipado, sem que
se constate a ocorrência de dolo, fraude ou simulação (REsp
973.733/SC, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, DJe 18.9.2009,
submetido ao art. 543-C do CPC).
4. A referência ao pagamento antecipado diz respeito à pre-
visão legal do dever de o sujeito passivo antecipar o paga-
mento sem prévio exame da autoridade fiscal, nos termos

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 35


do caput do art. 150 do CTN, de modo que o simples fato de
a apuração e o pagamento do crédito terem ocorrido após
o vencimento do prazo previsto na legislação tributária não
desloca o termo inicial da decadência para o primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter
sido realizado (art. 173, I, do CTN).
5. Vale ressaltar que, não tendo o acórdão recorrido consig-
nado a existência de dolo, fraude ou simulação na conduta
do contribuinte que efetuou o pagamento após o vencimen-
to, inexiste, no presente caso, fundamento para afastar a
incidência do art. 150, § 4°, do CTN. Em outras palavras, o
termo inicial da decadência é o fato gerador.
6. Como os fatos geradores sob análise ocorreram no período de
janeiro a novembro de 2001, e o lançamento de ofício foi realizado
em dezembro de 2006, após o transcurso do prazo quinquenal,
está caracterizada a decadência.
7. Recurso Especial provido.
(REsp 1344130/AL, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 18/10/2012, DJe 05/11/2012) (g.n.).

TRIBUTÁRIO. IRPF. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO.


COMPROVAÇÃO DA ORIGEM DOS RENDIMENTOS. SÚMULA 7/STJ.
DISPOSITIVOS LEGAIS IMPERTINENTES. SÚMULA 284/STF. DE-
CADÊNCIA. TERMO INICIAL. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO.
ART. 173, I, DO CPC.
1. Cuida-se, originariamente, de Ação Anulatória que pretende
desconstituir lançamento de imposto sobre a renda de pessoa fí-
sica decorrente de acréscimo patrimonial a descoberto relativo a
1994 e 1995.
2. Não está configurada a ofensa ao art. 535 do Código de Proces-
so Civil, uma vez que o Tribunal local julgou integralmente a lide e
solucionou a controvérsia, tal como lhe foi apresentada.
3. O Tribunal a quo, mediante análise da prova documental produ-
zida pelo contribuinte, concluiu pela comprovação parcial da ori-
gem dos rendimentos tributados. A reforma de tal entendimento
demanda revolvimento fático-probatório, o que é vedado pela Sú-
mula 7/STJ.
4. Da mesma forma, o exame das alegadas nulidades havidas no
processo administrativo-fiscal exigem revolvimento de prova do-
cumental, uma vez que o Tribunal a quo atestou que “os documen-
tos acostados aos autos demonstram que, ao demandante, foram
conferidas todas as oportunidades de manifestação, nas diversas
fases do processo administrativo, tendo sido devidamente obser-
vadas as formalidades do Decreto 70.235/72” (fl. 592).

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 36


5. Os arts. 333, I, do CPC e 204 do CTN - que disciplinam o ônus
da prova e a presunção de certeza e liquidez da CDA - não pos-
suem carga normativa suficiente para amparar a tese da Fazenda
Nacional, no sentido da necessidade de averbação do contrato na
matrícula do imóvel. Incide, por analogia, a Súmula 284/STF.
6. De acordo com a jurisprudência consolidada do STJ, a deca-
dência do direito de constituir o crédito tributário é regida
pelo art. 173, I, do CTN, quando se trata de tributo sujeito a
lançamento por homologação e o contribuinte não realiza o
respectivo pagamento parcial antecipado (REsp 973.733/SC,
Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, DJe 18.9.2009, submetido
ao art. 543-C do CPC).
7. In casu, ocorrido o fato gerador em 31 de dezembro de
1994, o lançamento somente poderia ter sido realizado no
decorrer do ano de 1995, de modo que o termo inicial da de-
cadência é 1° de janeiro de 1996. Como o prazo decadencial
de cinco anos se encerraria em 31 de dezembro de 2000, e a
constituição do crédito tributário deu-se em junho de 2000
(fl. 593), não há falar em decadência do direito de lançar o
tributo.
8. Agravos Regimentais não providos.
(AgRg no AREsp 252.942/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SE-
GUNDA TURMA, julgado em 06/06/2013, DJe 12/06/2013) (g.n.).

No mais, temos ainda a exceção da exceção, qual seja, o prazo decadencial


previsto no art. 150, § 4º, do Código Tributário Nacional deixará de ser aplicável
quando comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, mesmo que haja o
pagamento antecipado parcial do crédito tributário pelo contribuinte.

Ou seja, o contribuinte ou responsável oculta maliciosamente parte da obriga-


ção tributária para, de forma ilícita, afastar ou minorar o dever de pagar o tributo
devido.

Quando tal dolo, fraude ou simulação servir de obstáculo à livre fiscalização


do fisco, será aplicável o prazo decadencial do art. 173 do Código Tributário Na-
cional, haja vista que, em que pese posicionamentos contrários, essa exceção da
exceção não pode tornar o direito do fisco incaducável.

3.3. Prescrição do crédito tributário

A prescrição do crédito tributário é prevista no caput do art. 174 do Código


Tributário Nacional:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 37


Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve
em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.

Tal como a decadência, o prazo prescricional também é quinquenal, porém,


é contado a partir da constituição definitiva do crédito tributário, ou seja, possui
a data do início de sua exigibilidade como termo inicial para contagem do prazo
prescricional.

Nesse sentido, passados cinco anos da constituição definitiva do crédito tribu-


tário sem que o fisco tenha proposto a ação de execução fiscal (regida pela Lei nº
6.830/80), tal relação jurídica tributária será extinta pela prescrição, impedindo
o fisco de prosseguir com quaisquer atos de cobrança e execução, nos moldes do
art. 156, inciso V, do Código Tributário Nacional.

Essa extinção pela prescrição abrange a obrigação principal, multas, juros e


demais encargos moratórios.

Ademais, esse termo a quo “data da sua constituição definitiva” foi pacificado
pelo STJ – Superior Tribunal de Justiça como sendo a data do exaurimento da ins-
tância administrativa com o decurso do prazo para a impugnação ou da notificação
de seu julgamento definitivo e esgotado o prazo concedido pela administração
para o pagamento voluntário.

Nesse sentido, foi editada a Súmula nº 622 do STJ – Superior Tribunal de


Justiça:

Súmula nº 622 - A notificação do auto de infração faz cessar a


contagem da decadência para a constituição do crédito tributário;
exaurida a instância administrativa com o decurso do prazo para
a impugnação ou com a notificação de seu julgamento definitivo e
esgotado o prazo concedido pela Administração para o pagamento
voluntário, inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judi-
cial. (Súmula 622, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2018, DJe
17/12/2018).

Essas duas hipóteses prescricionais diferenciam-se pela variante do contri-


buinte ter ou não apresentado alguma impugnação (ou defesa) administrativa
dentro do prazo legal.

Entretanto, em ambas as hipóteses, o termo a quo do prazo prescricional é


o dia seguinte à data de vencimento para o pagamento voluntário do tributo, mo-
mento em que o crédito tributário passa a ser exigível pelo fisco e, por conseguin-

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 38


te, passível de inscrição em dívida ativa e propositura de execução fiscal.

Nesse mesmo sentido foi julgado o Tema Repetitivo nº 980 do Superior Tribu-
nal de Justiça, sobre IPTU, firmando a seguinte tese:

(i) O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Im-


posto Predial e Territorial Urbano - IPTU inicia-se no dia seguinte à
data estipulada para o vencimento da exação; (ii) o parcelamento
de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da
contagem da prescrição, uma vez que o contribuinte não anuiu.

Essa tese foi originada do julgamento dos recursos representativos de contro-


vérsia REsp 1658517/PA e REsp 1641011/PA:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRE-


SENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. IPTU. PRESCRIÇÃO. TERMO
INICIAL. DIA SEGUINTE AO VENCIMENTO DA EXAÇÃO. PAR-
CELAMENTO DE OFÍCIO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA. NÃO CONFIGU-
RAÇÃO DE CAUSA SUSPENSIVA DA CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO.
MORATÓRIA OU PARCELAMENTO APTO A SUSPENDER A EXIGIBI-
LIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NECESSÁRIA MANIFESTAÇÃO
DE VONTADE DO CONTRIBUINTE. PARCELAMENTO DE OFÍCIO.
MERO FAVOR FISCAL. APLICAÇÃO DO RITO DO ART. 1.036 E SE-
GUINTES DO CPC/2015. ART. 256-I DO RISTJ. RECURSO ESPE-
CIAL DO MUNICÍPIO DE BELÉM/PA A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Tratando-se de lançamento de ofício, o prazo prescri-
cional de cinco anos para que a Fazenda Pública realize a
cobrança judicial de seu crédito tributário (art. 174, caput
do CTN) referente ao IPTU, começa a fluir somente após o
transcurso do prazo estabelecido pela lei local para o venci-
mento da exação (pagamento voluntário pelo contribuinte),
não dispondo o Fisco, até o vencimento estipulado, de pretensão
executória legítima para ajuizar execução fiscal objetivando a co-
brança judicial, embora já constituído o crédito desde o momento
no qual houve o envio do carnê para o endereço do contribuinte
(Súmula 397/STJ). Hipótese similar ao julgamento por este STJ do
REsp. 1.320.825/RJ (Rel. Min. GURGEL DE FARIA, DJe 17.8.2016),
submetido ao rito dos recursos repetitivos (Tema 903), no qual
restou fixada a tese de que a notificação do contribuinte para o re-
colhimento do IPVA perfectibiliza a constituição definitiva do crédi-
to tributário, iniciando-se o prazo prescricional para a execução fis-
cal no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.
2. O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura cau-

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 39


sa interruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o contri-
buinte não anuiu.
3. A liberalidade do Fisco em conceder ao contribuinte a opção de
pagamento à vista (cota única) ou parcelado (10 cotas), indepen-
dente de sua anuência prévia, não configura as hipóteses de sus-
pensão da exigibilidade do crédito tributário previstas no art. 151,
I e VI do CTN (moratória ou parcelamento), tampouco causa de
interrupção da prescrição, a qual exige o reconhecimento da dívida
por parte do contribuinte (art. 174, parág. único, IV do CTN).
4. O contribuinte não pode ser despido da autonomia de sua vonta-
de, em decorrência de uma opção unilateral do Estado, que resol-
ve lhe conceder a possibilidade de efetuar o pagamento em cotas
parceladas.
Se a Fazenda Pública Municipal entende que é mais conveniente
oferecer opções parceladas para pagamento do IPTU, o faz den-
tro de sua política fiscal, por mera liberalidade, o que não induz
a conclusão de que houve moratória ou parcelamento do crédito
tributário, nos termos do art. 151, I e VI do CTN, apto a suspender
o prazo prescricional para a cobrança de referido crédito.
Necessária manifestação de vontade do contribuinte a fim de confi-
gurar moratória ou parcelamento apto a suspender a exigibilidade
do crédito tributário.
5. Acórdão submetido ao regime do art. 1.036 e seguintes do
CPC/2015 (art. 256-I do RISTJ, incluído pela Emenda Regimental
24 de 28.9.2016), cadastrados sob o Tema 980/STJ, fixando-se a
seguinte tese: (i) o termo inicial do prazo prescricional da cobrança
judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU inicia-se no
dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação; (ii) o
parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa in-
terruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o contribuinte
não anuiu.
(REsp 1658517/PA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/11/2018, DJe 21/11/2018)
(g.n.).

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRE-


SENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. IPTU. PRESCRIÇÃO. TERMO
INICIAL. DIA SEGUINTE AO VENCIMENTO DA EXAÇÃO. PAR-
CELAMENTO DE OFÍCIO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA. NÃO CONFIGU-
RAÇÃO DE CAUSA SUSPENSIVA DA CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO.
MORATÓRIA OU PARCELAMENTO APTO A SUSPENDER A EXIGIBI-
LIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NECESSÁRIA MANIFESTAÇÃO
DE VONTADE DO CONTRIBUINTE. PARCELAMENTO DE OFÍCIO.
MERO FAVOR FISCAL. APLICAÇÃO DO RITO DO ART. 1.036 E SE-

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 40


GUINTES DO CPC/2015. ART. 256-I DO RISTJ. RECURSO ESPE-
CIAL DO MUNICÍPIO DE BELÉM/PA A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Tratando-se de lançamento de ofício, o prazo prescri-
cional de cinco anos para que a Fazenda Pública realize a
cobrança judicial de seu crédito tributário (art. 174, caput
do CTN) referente ao IPTU, começa a fluir somente após o
transcurso do prazo estabelecido pela lei local para o venci-
mento da exação (pagamento voluntário pelo contribuinte),
não dispondo o Fisco, até o vencimento estipulado, de pretensão
executória legítima para ajuizar execução fiscal objetivando a co-
brança judicial, embora já constituído o crédito desde o momento
no qual houve o envio do carnê para o endereço do contribuinte
(Súmula 397/STJ). Hipótese similar ao julgamento por este STJ do
REsp. 1.320.825/RJ (Rel. Min. GURGEL DE FARIA, DJe 17.8.2016),
submetido ao rito dos recursos repetitivos (Tema 903), no qual
restou fixada a tese de que a notificação do contribuinte para o re-
colhimento do IPVA perfectibiliza a constituição definitiva do crédi-
to tributário, iniciando-se o prazo prescricional para a execução fis-
cal no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.
2. O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura cau-
sa interruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o contri-
buinte não anuiu.
3. O contribuinte não pode ser despido da autonomia de sua vonta-
de, em decorrência de uma opção unilateral do Estado, que resol-
ve lhe conceder a possibilidade de efetuar o pagamento em cotas
parceladas.
Se a Fazenda Pública Municipal entende que é mais conveniente
oferecer opções parceladas para pagamento do IPTU, o faz den-
tro de sua política fiscal, por mera liberalidade, o que não induz
a conclusão de que houve moratória ou parcelamento do crédito
tributário, nos termos do art. 151, I e VI do CTN, apto a suspender
o prazo prescricional para a cobrança de referido crédito.
Necessária manifestação de vontade do contribuinte a fim de confi-
gurar moratória ou parcelamento apto a suspender a exigibilidade
do crédito tributário.
4. Acórdão submetido ao regime do art. 1.036 e seguintes do
CPC/2015 (art. 256-I do RISTJ, incluído pela Emenda Regimental
24 de 28.9.2016), cadastrados sob o Tema 980/STJ, fixando-se a
seguinte tese: (i) o termo inicial do prazo prescricional da cobrança
judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU inicia-se no
dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação; (ii) o
parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa in-
terruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o contribuinte
não anuiu.
(REsp 1641011/PA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/11/2018, DJe 21/11/2018)
(g.n.).

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 41


Em tais casos, o Ministro Relator seguiu o mesmo raciocínio do Tema Repeti-
tivo nº 903 do Superior Tribunal de Justiça, sobre IPVA – Imposto sobre a Proprie-
dade de Veículos Automotores, fixando a seguinte tese:

A notificação do contribuinte para o recolhimento do IPVA perfec-


tibiliza a constituição definitiva do crédito tributário, iniciando-se
o prazo prescricional para a execução fiscal no dia seguinte à data
estipulada para o vencimento da exação.

Já a ementa do recurso representativo de controvérsia REsp 1320825/RJ diz:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. IPVA. DECADÊN-


CIA.
LANÇAMENTO DE OFÍCIO. REGULARIDADE. PRESCRIÇÃO. PARÂ-
METROS.
1. O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)
é lançado de ofício no início de cada exercício (art. 142 do CTN)
e constituído definitivamente com a cientificação do contribuinte
para o recolhimento da exação, a qual pode ser realizada por qual-
quer meio idôneo, como o envio de carnê ou a publicação de calen-
dário de pagamento, com instruções para a sua efetivação.
2. Reconhecida a regular constituição do crédito tributário,
não há mais que falar em prazo decadencial, mas sim em
prescricional, cuja contagem deve se iniciar no dia seguinte
à data do vencimento para o pagamento da exação, por-
quanto antes desse momento o crédito não é exigível do
contribuinte.
3. Para o fim preconizado no art. 1.039 do CPC/2015, firma-se a
seguinte tese: “A notificação do contribuinte para o recolhimento
do IPVA perfectibiliza a constituição definitiva do crédito tributário,
iniciando-se o prazo prescricional para a execução fiscal no dia se-
guinte à data estipulada para o vencimento da exação.” 4. Recurso
especial parcialmente provido. Julgamento proferido pelo rito dos
recursos repetitivos (art. 1.039 do CPC/2015).
(REsp 1320825/RJ, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA SE-
ÇÃO, julgado em 10/08/2016, DJe 17/08/2016) (g.n.).

Seguimos o mesmo raciocínio para tributos sujeitos ao lançamento por homo-


logação, conforme a seguinte tese do Tema Repetitivo nº 383 do Superior Tribunal
de Justiça:

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 42


O prazo prescricional quinquenal para o Fisco exercer a pretensão
de cobrança judicial do crédito tributário conta-se da data estipu-
lada como vencimento para o pagamento da obrigação tributária
declarada (mediante DCTF, GIA, entre outros), nos casos de tribu-
tos sujeitos a lançamento por homologação, em que, não obstante
cumprido o dever instrumental de declaração da exação devida,
não restou adimplida a obrigação principal (pagamento antecipa-
do), nem sobreveio quaisquer das causas suspensivas da exigibili-
dade do crédito ou interruptivas do prazo prescricional.

Tese esta advinda do recurso representativo de controvérsia REsp 1120295/


SP:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. EXECU-
ÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE O FISCO CO-
BRAR JUDICIALMENTE O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TRIBUTO
SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CRÉDITO
TRIBUTÁRIO CONSTITUÍDO POR ATO DE FORMALIZAÇÃO
PRATICADO PELO CONTRIBUINTE (IN CASU, DECLARAÇÃO
DE RENDIMENTOS). PAGAMENTO DO TRIBUTO DECLARADO.
INOCORRÊNCIA. TERMO INICIAL. VENCIMENTO DA OBRI-
GAÇÃO TRIBUTÁRIA DECLARADA. PECULIARIDADE: DECLA-
RAÇÃO DE RENDIMENTOS QUE NÃO PREVÊ DATA POSTERIOR DE
VENCIMENTO DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL, UMA VEZ JÁ DECORRI-
DO O PRAZO PARA PAGAMENTO. CONTAGEM DO PRAZO PRESCRI-
CIONAL A PARTIR DA DATA DA ENTREGA DA DECLARAÇÃO.
1. O prazo prescricional quinquenal para o Fisco exercer a
pretensão de cobrança judicial do crédito tributário conta-
-se da data estipulada como vencimento para o pagamen-
to da obrigação tributária declarada (mediante DCTF, GIA,
entre outros), nos casos de tributos sujeitos a lançamento
por homologação, em que, não obstante cumprido o dever
instrumental de declaração da exação devida, não restou
adimplida a obrigação principal (pagamento antecipado),
nem sobreveio quaisquer das causas suspensivas da exigi-
bilidade do crédito ou interruptivas do prazo prescricional
(Precedentes da Primeira Seção: EREsp 658.138/PR, Rel. Minis-
tro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministra Eliana Calmon, julgado
em 14.10.2009, DJe 09.11.2009; REsp 850.423/SP, Rel. Ministro
Castro Meira, julgado em 28.11.2007, DJ 07.02.2008; e AgRg nos
EREsp 638.069/SC, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 25.05.2005, DJ

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 43


13.06.2005).
2. A prescrição, causa extintiva do crédito tributário, resta assim
regulada pelo artigo 174, do Código Tributário Nacional, verbis:
“Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve
em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I - pela citação pes-
soal feita ao devedor; I - pelo despacho do juiz que ordenar a
citação em execução fiscal; (Redação dada pela Lcp nº 118, de
2005) II - pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que
constitua em mora o devedor; IV - por qualquer ato inequívoco
ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito
pelo devedor.»
3. A constituição definitiva do crédito tributário, sujeita à decadên-
cia, inaugura o decurso do prazo prescricional quinquenal para o
Fisco exercer a pretensão de cobrança judicial do crédito tributário.
4. A entrega de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Fede-
rais - DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS - GIA, ou de
outra declaração dessa natureza prevista em lei (dever instrumen-
tal adstrito aos tributos sujeitos a lançamento por homologação), é
modo de constituição do crédito tributário, dispensando a Fazenda
Pública de qualquer outra providência conducente à formalização
do valor declarado (Precedente da Primeira Seção submetido ao
rito do artigo 543-C, do CPC: REsp 962.379/RS, Rel. Ministro Teori
Albino Zavascki, julgado em 22.10.2008, DJe 28.10.2008).
5. O aludido entendimento jurisprudencial culminou na edição da
Súmula 436/STJ, verbis: “A entrega de declaração pelo contribuin-
te, reconhecendo o débito fiscal, constitui o crédito tributário, dis-
pensada qualquer outra providência por parte do Fisco.”
6. Consequentemente, o dies a quo do prazo prescricional
para o Fisco exercer a pretensão de cobrança judicial do
crédito tributário declarado, mas não pago, é a data do ven-
cimento da obrigação tributária expressamente reconheci-
da.
7. In casu: (i) cuida-se de créditos tributários atinentes a IRPJ
(tributo sujeito a lançamento por homologação) do ano-base de
1996, calculado com base no lucro presumido da pessoa jurídi-
ca; (ii) o contribuinte apresentou declaração de rendimentos em
30.04.1997, sem proceder aos pagamentos mensais do tributo
no ano anterior; e (iii) a ação executiva fiscal foi proposta em
05.03.2002.
8. Deveras, o imposto sobre a renda das pessoas jurídicas, inde-
pendentemente da forma de tributação (lucro real, presumido ou
arbitrado), é devido mensalmente, à medida em que os lucros fo-
rem auferidos (Lei 8.541/92 e Regulamento do Imposto de Renda
vigente à época - Decreto 1.041/94).
9. De acordo com a Lei 8.981/95, as pessoas jurídicas, para fins
de imposto de renda, são obrigadas a apresentar, até o último dia

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 44


útil do mês de março, declaração de rendimentos demonstrando os
resultados auferidos no ano-calendário anterior (artigo 56).
10. Assim sendo, não procede a argumentação da empresa, no
sentido de que: (i) “a declaração de rendimentos ano-base de
1996 é entregue no ano de 1996, em cada mês que se realiza o
pagamento, e não em 1997”; e (ii) “o que é entregue no ano se-
guinte, no caso, 1997, é a Declaração de Ajuste Anual, que não
tem efeitos jurídicos para fins de início da contagem do prazo seja
decadencial, seja prescricional”, sendo certo que “o Ajuste Anual
somente tem a função de apurar crédito ou débito em relação ao
Fisco.” (fls. e-STJ 75/76).
11. Vislumbra-se, portanto, peculiaridade no caso sub examine,
uma vez que a declaração de rendimentos entregue no final de
abril de 1997 versa sobre tributo que já deveria ter sido pago no
ano-calendário anterior, inexistindo obrigação legal de declaração
prévia a cada mês de recolhimento, consoante se depreende do
seguinte excerto do acórdão regional: “Assim, conforme se extrai
dos autos, a formalização dos créditos tributários em questão se
deu com a entrega da Declaração de Rendimentos pelo contribuin-
te que, apesar de declarar os débitos, não procedeu ao devido
recolhimento dos mesmos, com vencimentos ocorridos entre feve-
reiro/1996 a janeiro/1997 (fls. 37/44).”
12. Consequentemente, o prazo prescricional para o Fisco exercer
a pretensão de cobrança judicial da exação declarada, in casu, ini-
ciou-se na data da apresentação do aludido documento, vale dizer,
em 30.04.1997, escoando-se em 30.04.2002, não se revelando
prescritos os créditos tributários na época em que ajuizada a ação
(05.03.2002).
(...)
(REsp 1120295/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, jul-
gado em 12/05/2010, DJe 21/05/2010) (g.n.).

Diante desses entendimentos, transcorrido o prazo quinquenal após a data do


vencimento para pagamento voluntário do tributo, o crédito tributário será extinto,
exceto se houver a presença de alguma das hipóteses de interrupção ou suspen-
são da prescrição.

3.4. Das hipóteses de interrupção do prazo prescricional

Entende-se como causas de interrupção da prescrição os atos legalmente


previstos que cessam a contagem do prazo prescricional, afastando a aplicação de

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 45


tal instituto jurídico e desconsiderando o prazo já decorrido (menor do que cinco
anos).

As hipóteses de interrupção da prescrição estão previstas no parágrafo único


do art. 174 do Código Tributário Nacional:

Art. 174. (...).


Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que im-
porte em reconhecimento do débito pelo devedor.

Ocorrida quaisquer dessas hipóteses, o reinício da contagem do prazo quin-


quenal prescricional ficará condicionado à inércia da administração tributária, cir-
cunstância necessária para tal prazo fluir novamente.

Sobre o inciso I desse dispositivo, o Superior Tribunal de Justiça já se mani-


festou no mencionado recurso representativo de controvérsia REsp 1120295/SP
que o despacho que ordenar a citação retroage à data da propositura da execução
fiscal, nos moldes do seguinte trecho:

(...)
13. Outrossim, o exercício do direito de ação pelo Fisco, por inter-
médio de ajuizamento da execução fiscal, conjura a alegação de
inação do credor, revelando-se incoerente a interpretação segundo
a qual o fluxo do prazo prescricional continua a escoar-se, desde a
constituição definitiva do crédito tributário, até a data em que se
der o despacho ordenador da citação do devedor (ou até a data
em que se der a citação válida do devedor, consoante a anterior
redação do inciso I, do parágrafo único, do artigo 174, do CTN).
14. O Codex Processual, no § 1º, do artigo 219, estabelece que
a interrupção da prescrição, pela citação, retroage à data
da propositura da ação, o que, na seara tributária, após as
alterações promovidas pela Lei Complementar 118/2005,
conduz ao entendimento de que o marco interruptivo ati-
nente à prolação do despacho que ordena a citação do exe-
cutado retroage à data do ajuizamento do feito executivo, a
qual deve ser empreendida no prazo prescricional.
15. A doutrina abalizada é no sentido de que: “Para CÂMARA LEAL,
como a prescrição decorre do não exercício do direito de ação, o
exercício da ação impõe a interrupção do prazo de prescrição e faz

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 46


que a ação perca a ‘possibilidade de reviver’, pois não há sentido a
priori em fazer reviver algo que já foi vivido (exercício da ação) e
encontra-se em seu pleno exercício (processo).
Ou seja, o exercício do direito de ação faz cessar a prescri-
ção.
Aliás, esse é também o diretivo do Código de Processo Civil: ‘Art.
219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e
faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompe-
tente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.
§ 1º A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura
da ação.› Se a interrupção retroage à data da propositura da ação,
isso significa que é a propositura, e não a citação, que interrompe
a prescrição. Nada mais coerente, posto que a propositura da ação
representa a efetivação do direito de ação, cujo prazo prescricional
perde sentido em razão do seu exercício, que será expressamente
reconhecido pelo juiz no ato da citação.
Nesse caso, o que ocorre é que o fator conduta, que é a omissão do
direito de ação, é desqualificado pelo exercício da ação, fixando-se,
assim, seu termo consumativo. Quando isso ocorre, o fator tempo
torna-se irrelevante, deixando de haver um termo temporal da
prescrição.” (Eurico Marcos Diniz de Santi, in “Decadência e Pres-
crição no Direito Tributário”, 3ª ed., Ed. Max Limonad, São Paulo,
2004, págs. 232/233)
16. Destarte, a propositura da ação constitui o dies ad quem
do prazo prescricional e, simultaneamente, o termo inicial
para sua recontagem sujeita às causas interruptivas previs-
tas no artigo 174, parágrafo único, do CTN.
17. Outrossim, é certo que “incumbe à parte promover a citação
do réu nos 10 (dez) dias subsequentes ao despacho que a ordenar,
não ficando prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao
serviço judiciário” (artigo 219, § 2º, do CPC).
18. Consequentemente, tendo em vista que o exercício do direito
de ação deu-se em 05.03.2002, antes de escoado o lapso quin-
quenal (30.04.2002), iniciado com a entrega da declaração de ren-
dimentos (30.04.1997), não se revela prescrita a pretensão exe-
cutiva fiscal, ainda que o despacho inicial e a citação do devedor
tenham sobrevindo em junho de 2002.
19. Recurso especial provido, determinando-se o prosseguimento
da execução fiscal. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C,
do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.
(REsp 1120295/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, jul-
gado em 12/05/2010, DJe 21/05/2010) (g.n.).

Ou seja, após proposta a execução fiscal fica interrompido o prazo prescri-


cional, sob condição resolutória do despacho que ordenar a citação do executado.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 47


No curso da execução fiscal ainda temos a prescrição intercorrente, delineada
pela Súmula 314 do Superior Tribunal de Justiça:

Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-


-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da pres-
crição qüinqüenal intercorrente. (Súmula 314, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 12/12/2005, DJ 08/02/2006 p. 258)

Assim, caso o fisco não encontre o devedor ou não encontre o que penho-
rar no patrimônio do executado, o juiz suspenderá a execução fiscal por um ano
e, posteriormente a isso, o prazo quinquenal começará a fluir novamente. Na
inércia da exequente por todos esses anos, o crédito tributário será extinto pela
prescrição intercorrente, conforme art. 174 do Código Tributário Nacional aplicado
conjuntamente com o art. 40 da Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/1980):

Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for


localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa re-
cair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.
§ 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos
ao representante judicial da Fazenda Pública.
§ 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja
localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz
ordenará o arquivamento dos autos.
§ 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou
os bens, serão desarquivados os autos para prosseguimento da
execução.
§ 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido
o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-
la de imediato.
§ 5o A manifestação prévia da Fazenda Pública prevista no § 4o
deste artigo será dispensada no caso de cobranças judiciais cujo
valor seja inferior ao mínimo fixado por ato do Ministro de Estado
da Fazenda.

Nesse sentido os precedentes da mencionada súmula:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO.


EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. MANI-
FESTAÇÃO DO DEFENSOR PÚBLICO. CITAÇÃO REGULAR. INÉR-
CIA DA FAZENDA MUNICIPAL.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 48


O artigo 40 da Lei nº 6.830/80 não pode se sobrepor ao CTN
e sua aplicação sofre limites impostos pelo artigo 174 do
referido Código.
Assim, após o transcurso de determinado tempo sem a ma-
nifestação da Fazenda Municipal, deve ser decretada a pres-
crição intercorrente.
Ressalte-se, por oportuno, não se tratar in casu de decretação ex
officio da prescrição, visto que a parte executada (representada
pelo curador especial) requereu expressamente a prescrição, como
narrado nos autos.
Agravo regimental provido, para conhecer do agravo de instru-
mento e dar provimento ao recurso especial interpostos pelo Mu-
nicípio de Belo Horizonte.
(AgRg no Ag 621.340/MG, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, SE-
GUNDA TURMA, julgado em 15/03/2005, DJ 30/05/2005, p. 299)
(g.n.).

TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - PRESCRIÇÃO INTERCOR-


RENTE - LEI DE EXECUÇÕES FISCAIS - CÓDIGO TRIBUTÁRIO
NACIONAL - PREVALÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES RECEPCIONADAS
COM STATUS DE LEI COMPLEMENTAR - PRECEDENTES.
1. Pacificou-se no STJ o entendimento de que o artigo 40 da Lei
de Execução Fiscal deve ser interpretado harmonicamente com o
disposto no artigo 174 do CTN, que deve prevalecer em caso de
colidência entre as referidas leis. Isto porque é princípio de Direito
Público que a prescrição e a decadência tributárias são matérias
reservadas à lei complementar, segundo prescreve o artigo 146,
III, “b” da CF.
2. Em conseqüência, o artigo 40 da Lei nº 6.830/80 por não
prevalecer sobre o CTN sofre os limites impostos pelo ar-
tigo 174 do referido Ordenamento Tributário. Assim, após
o transcurso de um qüinqüênio, marcado pela contumácia
fazendária, impõe-se a decretação da prescrição intercor-
rente, consoante entendimento sumulado.
3. Ausência de motivos suficientes para a modificação do julgado.
Manutenção da decisão agravada.
4. Agravo Regimental desprovido.
(AgRg no REsp 418.162/RO, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 17/10/2002, DJ 11/11/2002, p. 156) (g.n.).

Pelo fato da administração tributária não conseguir êxito em todas as suas


execuções fiscais, a prescrição intercorrente ocorre com frequência em créditos
tributários difíceis se serem executados.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 49


Sobre o inciso II do parágrafo único do art. 174 do Código Tributário Nacio-
nal, temos o protesto judicial como forma de interrupção da prescrição. Porém, tal
hipótese é pouco utilizada na prática, tendo os fundamentos atuais no art. 726 e
seguintes do Código de Processo Civil.

A explicação da pouca utilização desse instituto para interromper o prazo


prescricional está no fato de que é mais fácil e prático propor diretamente a ação
de execução fiscal, haja vista que ela produz o mesmo efeito de fazer cessar a
contagem quinquenal.

O inciso III do mencionado art. 174 trata sobre qualquer ato judicial que
constitua em mora o devedor, entretanto, como o Superior Tribunal de Justiça já
pacificou que, para fins de prescrição, o despacho de citação retroage à data da
propositura da execução fiscal, vislumbramos poucas hipóteses da aplicação desse
inciso.

Por fim, o inciso IV refere-se ao reconhecimento do débito pelo devedor,


em especial nas situações mais comuns, como a confissão de dívida, o parcela-
mento tributário, a compensação não homologada e a transação. Em casos de
parcelamentos rompidos, o prazo prescricional volta a correr a partir do momento
do seu rompimento.

3.5. Das hipóteses de suspensão do prazo prescricional

Com exceção do parcelamento tributário, todas as hipóteses de suspensão da


exigibilidade do crédito tributário previstas no art. 151 do Código Tributário Nacio-
nal suspendem o prazo prescricional, quais sejam:

• moratória (inciso I);

• o depósito do seu montante integral (inciso II);

• as reclamações e os recursos, nos termos das leis regulado-


ras do processo tributário administrativo (inciso III);

• a concessão de medida liminar em mandado de segurança


(inciso IV) e;

• a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em


outras espécies de ação judicial (inciso V).

Na suspensão do prazo prescricional, o prazo que fluiu até a causa suspensiva

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 50


não é desprezado, de modo que, cessado a causa suspensiva, o prazo prescricional
voltará a correr exatamente de onde parou.

Logo, percebe-se que as hipóteses de suspensão do prazo prescricional dife-


rem-se das hipóteses de interrupção nesse ponto, enquanto estas geram o reco-
meço da contagem do prazo, aquelas continuam a correr de onde pararam.

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 51


4. Conclusão
4. Conclusão

Após toda a análise da aplicabilidade dos arts. 150, § 4º, 173 e 174 do Código
Tributário Nacional, bem como após a análise de toda matéria preliminar para bem
compreender os institutos da prescrição e da decadência no Direito Tributário, es-
pero sinceramente que você tenha percebido a grande oportunidade que está em
suas mãos com esse conhecimento.

Busquei nesse e-book expressar o meu posicionamento jurídico sobre a pres-


crição e decadência tributária, especialmente embasado no entendimento do Su-
perior Tribunal de Justiça, porém, respeito posicionamentos contrários.

Como dificilmente a administração tributária reconhece a prescrição ou a de-


cadência de ofício, cabe ao advogado usar essas matérias para a declaração de
extinção do crédito tributário.

Assim como diz o art. 133 da Constituição Federal: “o advogado é indispensá-


vel à administração da justiça”.

A missão do fisco é arrecadar tributos de forma voraz, de modo que “quanto


mais melhor”.

Porém, não vivemos mais em uma época em que o fisco pode confiscar os bens
dos contribuintes a seu bel prazer e a seu livre critério. Temos uma Constituição
Federal que reserva o tema de prescrição e decadência à lei complementar (art.
146, inciso III, alínea “b”) e um Código Tributário que garante que as obrigações
tributárias não serão eternas, ou seja, sempre caminharão para a sua extinção.

Por isso, caro leitor, nós temos que juntos utilizar esse conhecimento em prol
de nossos clientes. Eu acredito que você pode!

GUIA COMPLETO: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO | MURILLO AKIO ARAKAKI 53


Clique nos ícones abaixo para interagir

Você também pode gostar