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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


ESCOLA DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

Qualidade das águas


Engenharia Ambiental e Sanitária

Autores: Profª Drª Karla Alcione Cruvinel


Monitora: Alice de Sousa Hirle

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1. Propriedades da água
2. Características físicas
3. Características químicas
4. Características biológicas
5. Conceitos de poluição.
6. Características do esgoto
7. Estudo de autodepuração
8. Equação da mistura
9. Exercícios de mistura do Piveli, pagina 22
10. IQA
11. Exercícios de IQA
12. Coleta e preservação de amostras
13. Legislação

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1- Propriedades Físico-Químicas da Água

1.1 Capacidade de Dissolução

No ambiente é muito difícil encontrar água pura, em razão da facilidade com que as
outras substâncias se misturam a ela. Mesmo a água da chuva, por exemplo, ao cair,
traz impurezas do ar nela dissolvidas. Uma das importantes propriedades da água é a
capacidade de dissolver outras substâncias. A água é considerada solvente
universal, porque é muito abundante na Terra e é capaz de dissolver grande parte
das substancias conhecidas.

Se percebermos na água cor, cheiro ou sabor, isso se deve a substâncias (líquidos,


sólidos ou gases) nela presentes, dissolvidas ou não. As substâncias que se
dissolvem em outras (por exemplo: o sal) recebem a denominação de soluto. A
substância que é capaz de dissolver outras, como a água, é chamada de solvente. A
associação do soluto com o solvente é uma solução.

Figura 1 – Soluto e solvente

1.2 Tensão Superficial

A tensão superficial é uma propriedade dos líquidos e ocorre devido às forças de


atração que as moléculas internas do líquido exercem junto às da superfície. As
moléculas situadas no interior de um líquido são atraídas em todas as direções pelas
moléculas vizinhas e, por isso, a resultante das forças que atuam sobre cada molécula
é praticamente nula. As moléculas da superfície do líquido, entretanto, sofrem apenas
atração lateral e inferior. Esta força para o lado e para baixo cria a tensão na
superfície, que faz a mesma comportar-se como uma película elástica.

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A tensão superficial é um fator fundamental para a sobrevivência de muitos


organismos marinhos. Esta película superficial da água, resultante de sua tensão
superficial é reconhecida como habitat de muitos organismos vivos. Tais organismos
são conhecidos como Neuston e incluem bactérias, protozoários, ovos de peixes,
copépodos, dentre outros

Figura 2- Tensão superficial da água

1.3 Densidade

A densidade de uma substância mede o grau de compacidade desta substância. E é


definida pela razão entre a massa da substância e o seu volume. Os sólidos são,
geralmente, mais compactos que os líquidos e os gases. Com o aumento da
temperatura da substância, a sua densidade decresce, em geral. De fato, a água é a
única substância que apresenta uma densidade maior quando se encontra no seu
estado líquido. O seu valor máximo obtém-se a 4 ºC. Esta particularidade da água
pura deve-se às ligações de hidrogênio existentes entre as suas moléculas, que na
fase sólida (gelo) formam uma estrutura ordenada, aberta e muito estável. Com
baixas temperaturas, a água, na fase líquida, apresenta uma densidade mais alta que
na fase solida.
Como a densidade da água pura e da água do mar varia em relação temperatura. A
água pura tem maior densidade à 4oC quando se encontra na fase líquida. Com um
valor fixo da concentração do sal (salinidade = 35) a densidade decresce com o
aumento da temperatura.
As variações de densidade, cujo máximo se encontra na temperatura de 4º C,
explicam a formação do gelo na superfície dos lagos, não na parte submersa. As

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variações de densidade em função da temperatura explicam ainda, os movimentos de


agitação das águas dos lagos durante as estações.

Figura 3- Gráfico da densidade X temperatura

1.4 Viscosidade
A viscosidade é uma medida da resistência ao fluxo. Em um gás, as moléculas
estão em média longe umas das outras e as forças de atração não são efetivas.
Assim, a viscosidade não vem do atrito interno, mas da transferência de ―momentum‖
(quantidade de movimento) entre camadas adjacentes, que se movem com velocidade
relativa. As moléculas que passam de uma camada para outra e que se movem
menos rapidamente levam uma quantidade de movimento maior que as moléculas que
passam em sentido inverso, de modo que a velocidade da camada mais rápida diminui
e a velocidade da camada mais lenta aumenta, diminuindo a velocidade relativa. Em
um líquido, as moléculas estão em média muito perto umas das outras e as forças de
atração são efetivas. Assim, a viscosidade vem do atrito entre camadas adjacentes,
nas quais o líquido se divide ao escoar.

1.5 Salinidade

A salinidade refere-se à quantidade de sais dissolvidos na água do mar, sendo


definida pelo peso total de sais inorgânicos dissolvidos em 1 Kg de água.
Sua mensuração é feita pela determinação da condutividade elétrica, que tende a
aumentar com a elevação da quantidade de sais dissolvidos. A água do mar de todo o
mundo possui em média uma salinidade de 35. Isto significa que para cada litro de
água do mar há 35 gramas de sais dissolvidos (a maior parte é cloreto de sódio,

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NaCl), embora possam existir variações em função do ambiente. A água menos salina
do planeta é encontrada no Golfo da Finlândia, no Mar Báltico. O Mar Vermelho, no
Oriente Médio, é considerado como o mais salino, com a maior concentração de sais
dissolvidos devido à alta taxa de evaporação da superfície, bem como à pouca
descarga fluvial.
De acordo com o mapa, a salinidade dos oceanos varia entre 30 e 37. Regiões com
altas taxas de evaporação apresentam maiores índices de salinidade, enquanto tal
valor tende a diminuir em áreas mais frias, devido ao aporte de água doce proveniente
das calotas polares
A água encontrada nos rios, lagos e lençóis subterrâneos é procedente de um
processo de precipitação ( chuva, granizo neve ) com uma salinidade próxima de zero,
por oposição à água do mar ( que tem geralmente uma salinidade próxima de 35
gramas de sais dissolvidos por litro) e à água salobra, ou dos estuários, que tem uma
salinidade intermédia.
A salinidade pode variar ainda em função da profundidade. Águas superficiais são
mais salinas que águas profundas, e isto acontece principalmente por causa das
interações entre a superfície oceânica e a atmosfera.
Em função de sua alta capacidade de dissolução, muitos tipos de substâncias
diferentes encontram-se dissolvidas no oceano, e estas substâncias são usualmente
classificadas, de acordo com a sua natureza química, em cinco grupos distintos:
componentes principais, nutrientes, gases, elementos traço e compostos orgânicos.

Figura 4- Salinidade dos oceanos

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CARACTERÍSTICAS DE QUALIDADE DA ÁGUA

Características Físicas

Os principais parâmetros utilizados para caracterizar fisicamente as águas


naturais são a cor, a turbidez, os níveis de sólidos em suas diversas frações, a
temperatura, o sabor e o odor. Embora sejam parâmetros físicos, fornecem indicações
preliminares importantes para a caracterização da qualidade química da água como,
por exemplo, os níveis de sólidos em suspensão (associados à turbidez) e as
concentrações de sólidos dissolvidos (associados à cor), os sólidos orgânicos
(voláteis) e os sólidos minerais (fixos), os compostos que produzem odor, etc..
As suas aplicações nos estudos e fenômenos que ocorrem nos ecossistemas
aquáticos e de caracterização e controle de qualidade de águas para abastecimento
público e residuárias, tornam as características físicas indispensáveis à maioria dos
trabalhos envolvendo qualidade de águas.
As características físicas, químicas, biológicas e radiológicas das águas
naturais traduzem urna série de processos que ocorrem no corpo hídrico e na bacia
hidrográfica, como consequência das mencionadas capacidades de dissolução de
ampla gama de substâncias e de transporte pelo escoamento superficial e
subterrâneo. Nesta Apostila abordar-se-ão as características físicas, químicas e
biológicas, aludindo-se aos padrões de potabilidade nacional (Ministério da Saúde,
2017), norte-ameri-cano (AWWA, 2006) e da Organização Mundial de Saúde (OMS)
(World Health Organization, 2011), além da Resolução 357 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA, 2005). As características físicas das águas de
abastecimento encerram comumente o impacto imediato ao consumidor, podendo,
com alguma frequência, concorrer para recusa da água distribuída pela
concessionária. Quando tal sucede, a opção de abastecimento recai para fonte
alternativa, não necessariamente segura. Esta percepção imediata abarca os sentidos
da visão (turbidez e cor), paladar e olfato (sabor e odor).

Cor

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A cor de uma amostra de água está associada ao grau de redução de


intensidade que a luz sofre ao atravessá-la (e esta redução dá-se por absorção de
parte da radiação eletromagnética), devido à presença de sólidos dissolvidos,
principalmente material em estado coloidal orgânico e inorgânico.
Dentre os colóides orgânicos pode-se mencionar os ácidos húmico e fúlvico,
substâncias naturais resultantes da decomposição parcial de compostos orgânicos
presentes em folhas, dentre outros substratos.
Também os esgotos sanitários se caracterizam por apresentarem
predominantemente matéria em estado coloidal, além de diversos efluentes industriais
contendo taninos (efluentes de curtumes, por exemplo), anilinas (efluentes de
indústrias têxteis, indústrias de pigmentos, etc), lignina e celulose (efluentes de
indústrias de celulose e papel, da madeira, etc.).
Há também compostos inorgânicos capazes de possuir as propriedades e
provocar os efeitos de matéria em estado coloidal.
Os principais são os óxidos de ferro e manganês, que são abundantes em
diversos tipos de solo. Alguns outros metais presentes em efluentes industriais
conferem-lhes cor mas, em geral, os íons dissolvidos pouco ou quase nada interferem
na passagem da luz.
No controle da qualidade das águas nas estações de tratamento, a cor é um
parâmetro fundamental, não só por tratar-se de padrão de potabilidade como também
por ser parâmetro operacional de controle da qualidade da água bruta, da água
decantada e da água filtrada, servindo como base para a determinação das dosagens
de produtos químicos a serem adicionados, dos graus de mistura, dos tempos de
contato e de sedimentação das partículas floculadas.
Por serem parâmetros de rápida determinação, a cor e a turbidez são muito
úteis nos ensaios de floculação das águas (Jar test) e nos ensaios de sedimentação
em colunas e de filtração em leitos granulares.

Quanto ao resultado da cor, cinco unidades de cor ou 5 UC representa o


mesmo que 5 mg/L Pt, ou 5 uHazen.

Águas naturais possuem intensidade de cor que varia entre 0 e 200 unidades
pois, acima disso, já seriam águas de brejo e pântano com elevada concentração de

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matéria orgânica dissolvida (PIVELI e KATO, 2006). Para Libanio (2018) a cor
verdadeira é inferior a 100 uH para água naturais, e valores inferiores a 15uH são
praticamente imperceptíveis. No Brasil, aceita-se para água bruta, isto é, antes do seu
tratamento e distribuição em sistemas urbanos, valores de até 75 unidades de cor
(CONAMA N° 357/2005).
Águas com cor naturalmente escuras ocorrem em regiões ricas em vegetação
e, consequentemente, de solos menos erodíveis.
A importância da cor como parâmetro de qualidade de água adquiriu maior
evidência após a confirmação, no início da década de 1970, da perspectiva de
formação de produtos potencialmente cancerígenos (trihalometanos — THM) como
consequência da cloração de águas coloridas com a finalidade de abastecimento. Vale
ressaltar que os THM não são os únicos subprodutos da desinfecção, mas, principalmente,
verifica-se maior prevalência na formação de espécies halogenadas do que de outros
subprodutos, e seus efeitos na saúde têm sido avaliados há mais de quatro décadas, a
despeito da amplitude de variação deste parâmetro nos diversos países. Na realidade esta
denominação geral abarca quatro formas organocloradas, das quais o triclorometano
(clorofórmio), comumente manifesta-se em maior concentração.
Conforme mencionado, a matéria orgânica presente nas águas naturais é composta de substâncias
húmicas e não húmicas. As primeiras referem se ao mencionado conjunto de compostos
orgânicos de dimensões coloidais e de origem predominantemente vegetal, cuja constituição
média congrega ácidos fúlvicos, em maior monta, e ácidos húmicos, propriamente ditos.
A Resolução 357 do CONAMA de 2005, cujos usos e classes" estabelece
limite para cor verdadeira para as classes 2 e 3 de 75 uH, e é vaga ao aludir à classe 1
como nível de cor natural do corpo d'água. Para classe especial não há menção a
limite para qualquer parâmetro e semelhante premissa estabelece-se: nas águas de
classe especial deverão ser mantidas as condições naturais do corpo de água.

Cor real e cor aparente

Na determinação da cor, a turbidez da amostra causa interferência, absorvendo


também parte da radiação eletromagnética.

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Esta coloração é dita aparente pois é como o ser humano a vê, mas é, na
verdade, em parte resultado da reflexão e dispersão da luz nas partículas em
suspensão.
A diferenciação entre a cor verdadeira e a cor aparente, que é incrementada
pela turbidez, é dada pelo tamanho das partículas, isto é, pode ser generalizado que
partículas com diâmetro superior a 1,2 µm causam turbidez, já que partículas coloidais
e dissolvidas causam cor.
Para a obtenção da cor real ou verdadeira há a necessidade de se eliminar
previamente a turbidez através de centrifugação, filtração ou sedimentação. A
centrifugação é o método mais aconselhável porque na filtração ocorre adsorção de
cor da amostra no papel de filtro e, na sedimentação, existem sólidos em suspensão
que se sedimentam muito lentamente e não são removidos.

Turbidez das águas

Figura 5- Parâmetro turbidez em diferentes amostras

Originalmente, constituía-se parâmetro de natureza limnológica por meio do


qual se inferia a profundidade de penetração da luz no corpo d´água
(Burlingame;Pickel;Roman, 1998). Posteriormente, segundo American Public Halth
Association, a turbidez passou a ser definida como ´´expressão de propriedade óptica
que faz a luz ser dispersa ou absorvida em vez de transmitida em linha reta através da
amostra``. Portanto, águas de mesma intensidade de turbidez podem apresentar
partículas suspensas com características diferentes- em termos de tamanho,

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composição e forma- , de modo que os tipos de partículas hão de interferir na


transmissão da luz.
Resumidamente, a turbidez de uma amostra de água é o grau de atenuação de
intensidade que um feixe de luz sofre ao atravessá-la,( e esta redução se dá por
absorção e espalhamento, uma vez que as partículas que provocam turbidez nas
águas são maiores que o comprimento de onda da luz branca), devido a presença de
sólidos em suspensão, tais como partículas inorgânicas, (areia silte e argila) e de
detritos orgânicos(algas, bactérias e plâncton em geral) (PIVELI & KATO, 2005).
Nas águas naturais, a presença da turbidez provoca a redução de intensidade
dos raios luminosos que penetram no corpo d´água, influindo decisivamente nas
características do ecossistema presente. Quando sedimentadas, estas partículas
formam bancos de lodo a digestão anaeróbia leva a formação de gases metano e gás
carbônico, principalmente, além de nitrogênio gasoso e do gas sulfídrico, este
malcheiroso, com odor característico de ovo deteriorado.
A resolução n° 357 da CONAMA impõe limites de turbidez de 40 UNT para
águas doces de classe 1 e de 100 UNT para as classes 2 e 3.

 Fatores que interferem no parâmetro turbidez:

A erosão das margens dos rios em estações chuvosas é um exemplo de


fenômeno que resulta em aumento da turbidez das águas e que exige manobras
operacionais. Os esgotos sanitários e diversos efluentes industriais também provocam
elevações da turbidez das águas. Um exemplo típico deste fato ocorre em
consequência das atividades de mineração, onde os aumentos excessivos de turbidez
tem provocado formação de grandes bancos de lodo em rios e alterações no
ecossistema aquático.

 Por que é importante estudá-la:

Para fins da potabilidade, a turbidez da água filtrada vem progressivamente


consolidando-se em todo Planeta como um dos principais parâmetros na avaliação do
desempenho das estações de Tratamento, transcendendo o aspecto estético a ela
associado. Sabe-se que diversos microrganismos , como algas, bactérias, vírus e
protozoários, são capazes de aderir às partículas suspensas e coloidais e a redução

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da turbidez na potabilização concorre para conferir maior qualidade microbiológica à


água tratada. Neste viés, há muito no meio técnico e científico consolidou-se a
premissa da maior eficiência da desinfecção - independentemente do desinfetante
empregado(químico ou físico) - para águas com turbidez baixa, em virtude da
proteção conferida aos microorganismos pelas partículas suspensas na massa líquida,
por vezes denominada efeito-escudo (LIBANIO, 2008).
A determinação da turbidez adquiriu primazia como parâmetro de
monitoramento do afluente e efluente da quase totalidade das estações de tratamento
do Planeta pela simplicidade e rapidez da determinação, além do significativo menor
custo do equipamento envolvido comparado aos necessários à determinação de
sólidos suspensos e da contagem de partículas.

Portanto veremos a seguir como é feita sua determinação:

 Determinação da Turbidez
A determinação da turbidez em águas iniciou-se com o turbidímetro de vela de
Jackson. Este turbidímetro é constituído de um tubo de vidro graduado sob o qual de
posiciona uma vela acessa. Á medida que se adiciona a amostra ao tudo e se observa
pela outra extremidade em relação à vela, a chama reduz de intensidade
progressivamente até desaparecer por completo, quando deverá ser efetuada a leitura
na escala. Este método obedece ao princípio da Turbidimetria, ou seja , a fonte de luz
e o observador encontram-se em posições opostas ( ângulo de 180°) e os resultados
são expressos em UJT. (PIVELI & KATO, 2005).
Este método no entanto, apresenta a limitação de não determinar valores
baixos de turbidez (abaixo de 25 UNT), como é o caso da água tratada, porque
partículas muito pequenas não dispersam a luz na faixa amarelo-vermelho do espectro
eletromagnético, que corresponde a chama da vela. Assim, foi necessário desenvolver
outros métodos que são chamados de nefelométricos (Figura 5), mais sensíveis, que
consistem de um equipamento dotado com uma fonte de luz (filamento de tungstênio),
que incide na amostra e um detector fotoelétrico capaz de medir a luz que é dispersa
em um ângulo de 90° em relação à luz incidente. A turbidez assim medida é fornecida
em unidades nefelométricas de turbidez (UNT).

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Figura 6- Turbidímetro de bancada

 Remoção da Turbidez

As partículas que provocam turbidez nas águas são as mais fáceis de serem
separadas, por tratar-se de sólidos em suspensão sobre os quais, devido às baixas
relações área superficial/volume apresentadas, ocorre a predominância de fenômenos
gravitacionais. Desta forma, a turbidez pode ser removida através de sedimentação
simples, utilizando decantadores, sendo também possível e interessante em alguns
casos o emprego da flotação por ar dissolvido. A filtração pode ser entendida como um
processo complementar aos anteriores, ou ser empregada diretamente em casos de
água de baixa turbidez. (LIBANIO, 2008).
Nos projetos dos decantadores, um dos parâmetros mais importantes a ser definido é
a taxa de escoamento superficial (vazão aplicada por área em planta do decantador)
Para esta finalidade, são conduzidos ensaios em colunas de sedimentação, onde o
principal parâmetro de controle é a turbidez remanescente residual em função do
tempo.

Temperatura

A temperatura da água e dos fluidos em geral, indica a magnitude da energia


cinética do movimento aleatório das moléculas e sintetiza o fenômeno de transferência
de calor à massa líquida. As forças de coesão intermolecular são de natureza
eletrostática e, em princípio, independentes da temperatura. Caso seja fornecida
energia em forma de calor (aquecimento) à massa líquida, atingir-se-a o estado no
qual as forças inerciais das moléculas em movimento serão da mesma magnitude às

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de coesão intermolecular. O novo aumento da temperatura fará com que ocorra a


expansão e mudança de estado para gás ou vapor.

A temperatura é diretamente proporcional :


(i) à velocidade das reações químicas — que praticamente dobra para elevação de 10
°C na temperatura das águas
(ii) à solubilidade ds substâncias,
(iii) ao metabolismo dos organismos presentes no ambiente aquático,
(iv) à formação de subprodutos da desinfecção,
(v) ao recrudescimento microbiológico e
(vi) à taxa de corrosão nas tubulações integrantes dos sistemas de abastecimento
(Dezuane, 1997).

A alteração da temperatura das águas naturais decorre em especial da


insolação, esta influenciada significativamente pelo clima e latitude, e, quando de
origem antrópica, do lançamento de despejos industriais - em especial originários de
indústrias de bebidas - e/ou de águas de refrigeração.
Para fins de tratabilidade, esta característica representa vantagem ainda maior
para os países tropicais, nos quais as variações de temperatura da água são menos
significativas. A etapa de coagulação, presente na quase totalidade das tecnologias de
tratamento, realiza-se de forma menos exitosa a baixas temperaturas.
No Brasil, à exceção de alguns mananciais das regiões Sul e Sudeste, nos
quais a temperatura da água em períodos de inverno pode baixar a valores entre 10 e
15 °C - atingindo, em alguns casos excepcionais até o ponto de congelamento-, as
médias diárias das águas naturais afluentes às estações de tratamento nas demais
regiões do país raramente apresentam-se inferiores a 18°C. Em contrapartida,
diversos países do hemisfério norte apresentam amplitude térmica anual da
temperatura das águas frequentemente superior a 20 °C. Estas assertivas são
ilustradas pela Figura 2.1, na qual se apresentam as médias aritméticas mensais de
2004 da temperatura da água bruta afluente a uma estação de tratamento de água no
estado de Minas Gerais (latitude 18S), e a outra na província de Alberta no Canadá
(latitude 53N)

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Figura 7- médias aritméticas mensais da água bruta afluente a duas estações de tratamento
no Brasil e Canadá

A associação com águas naturais correntes favorece a maior aceitabilidade


do consumidor a águas de baixa temperatura. O controle da temperatura da água
natural inviabiliza-se e águas de temperatura elevada tendem a ser rejeitadas pela
população em termos de consumo, também pela maior percepção gustativa do ser
humano nestas condições aos problemas de odor e sabor. Adicionalmente,
temperaturas mais altas tendem a favorecer a dissolução de uma miríade de constituintes
inorgânicos e compostos orgânicos passíveis de conferir às águas tais características.
Águas subterrâneas captadas a grandes profundidades, frequentemente
necessitam de unidades de resfriamento a fim de adequá-las ao abastecimento, como
ocorre em diversas cidades do interior do estado de São Paulo. Para os sistemas de maior
porte, é comum a conjunção de captações superficiais e subterrâneas, com a mistura
ocorrendo na própria rede de distribuição. Com o incremento do consumo de água
envasada, mineral ou não, sobretudo nas classes economicamente mais abastadas, tem-
se verificado menor rejeição do consumidor a águas de temperatura elevada, por
reduzir o gasto doméstico de energia elétrica durante os banhos e por tornar a lavagem
dos utensílios de cozinha menos dispendiosa (PIVELI & KATO, 2005).
Em virtude dos insignificantes efeitos à saúde e extrema dificuldade de alteração
na temperatura da água para abastecimento de maiores populações, os padrões de
potabilidade brasileiro e da OMS não estabelecem temperatura máxima para água de
consumo, limitada em 15 °C no padrão canadense e norte-americano.

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Sabor e Odor

A água pura não produz sensação de odor ou sabor nos sentidos humanos.
Uma das principais fontes de odor nas águas naturais é a decomposição da matéria
orgânica. No meio anaeróbio, isto é, no lodo de fundo de rios e de represas e, em
situações críticas, em toda a massa líquida, ocorre a formação do gás sulfídrico ( ,
que apresenta odor típico de ovo podre. Águas eutrofizadas, isto é, águas em que
ocorrem a floração excessiva de algas, devido à presença de grandes concentrações
de nutrientes liberados de compostos orgânicos biodgradados, podem também
manifestar sabor e odor.
Sabe-se que certos gêneros cianofíceas (algas azuis) resistentes às condições
de severa poluição, altamente classificadas como cianobactérias, produzem
compostos odoríficos, em alguns casos até mesmo tóxicos. É, por exemplo o
problema cíclico que ocorre em São Paulo na represa de Guarapiranga, manancial
que recebe esgotos e abastece parte da região metropolitana. Vários episódios
ocorreram ,sendo há alguns anos uma floração de Anabeana sp provocou odor
semelhante ao do BHC, sendo que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo- SABESP, encontrou grandes dificuldades para contornar o problema na
fase de captação, onde foram testados diversos algicidas, e na fase de
tratamento(emprego de adsorção de carvão ativado).
Outra fonte que causa problemas de sabor e odor nas águas para
abastecimento público refere-se à presença de fenóis. Esses compostos, mesmo
quando presentes em pequenas quantidades ( o padrão de potabilidade do Brasil era
de , a título de recomendação), reagem com o cloro residual livre formando
clorofenóis que apresentam odor característico intenso. (LIBANIO,2008).
Além dessas fontes principais existem ainda o gosto na água proveniente de
metais, acidez ou alcalinidade pronunciadas, cloreto ( sabor salgado), etc.
Na legislação brasileira aparece apenas a designação não objetável para sabor
e odor, o que representa certa subjetividade. A legislação paulista é talvez rigorosa
demais, condenando a presença de qualquer tipo de odor senão o de cloro.

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Eutrofização é o crescimento excessivo de


algas e plantas aquáticas, a níveis tais que
causem interferência com os usos previstos
para a água, devido ao excesso de nutrientes
(nitrogênio e fósforo). Suas principais
conseqüências é a redução do oxigênio
dissolvido (OD), causando a morte de peixes e
outros organismos aeróbios

Sólidos

Série de Sólidos

Em saneamento, sólidos nas águas correspondem a toda matéria que


permanece como resíduo, após evaporação, secagem ou calcinação da amostra a
uma temperatura pré-estabelecida durante um tempo fixado. Em linhas gerais, as
operações de secagem, calcinação e filtração são as que definem as diversas frações
de sólidos presentes na água ( sólidos totais, em suspensão, dissolvidos, fixos e
voláteis). Os métodos empregados para a determinação de sólidos são gravimétricos
(utilizando-se balança analítica ou de precisão), com exceção dos sólidos
sedimentáveis, cujo método mais comum é o volumétrico (uso do cone Imhoff).
(PIVELI & KATO, 2005).

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Figura 8 – balança de precisão Figura 9- cone de Imhoff

Definições das diversas frações

a) Sólidos totais (ST): resíduo que resta na cápsula após a evaporação em


banho-maria de uma porção de amostra e sua posterior secagem em estufa a
103°-105°C até peso constante. Também denominado resíduo total.
b) Sólidos em suspensão (SS): Porção dos sólidos totais que fica retida em um
filtro de propicia a reteção de partículas de diâmetro maior ou igual a
Também denominado resíduo não filtrável.
c) Sólidos voláteis (SV): Porção dos sólidos ( sólidos totais, suspensos ou
dissolvidos) que se perde após a ignição ou calcinação da amostra a 550-
600°C, durante uma hora para sólidos totais ou dissolvidos voláteis ou 15 min
para sólidos em suspensão voláteis, em forno mufla, Também denominado
resíduo volátil.
d) Sólidos Fixos (SF): Porção dos sólidos ( totais, suspensos ou dissolvidos) que
resta após a ignição ou calcinação a 550-600 °C após uma hora (para sólidos
totais ou dissolvidos fixos) em forno mufla. Também denominado resíduo fixo.
e) Sólidos Sedimentáveis (Ssed): Porção dos sólidos em suspensão que se
sedimenta sob a ação da gravidade durante um período de uma hora, a partir
de um litro de amostra mantida em repouso em um cone Imhoff.

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Classificação

No laboratório, em trabalhos de rotina, as determinações realizadas são as do


Sólidos totais(A), sólidos em suspensão (B), sólidos fixos (E), sólidos em suspensão
fixos (G) e os sólidos sedimentáveis (J). As demais frações são determinadas por
diferença.

Orientação para o cálculo:

ou (

ou (

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As concentrações de sólidos em suspensão são medidas importantes no


controle de decantadores e outras unidades de separação de sólidos. Constituem
parâmetro utilizado em análises de balanço de massa.

Determinação analítica

No fluxograma a seguir estas operações são resumidas do processo de análise


de sólidos em laboratório para determinação das diferentes frações de sólidos.

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Sólidos em suspensão, totais, fixos e voláteis

Para a determinação destas frações, deverá ser utilizado um filtromembrana de


fibra de vidro com poros de 1,2μ. Este filtro resiste à calcinação a 550-600C sem
perder massa. O filtro deverá ser previamente preparado: umedecido com água
destilada no conjunto de filtração a vácuo, calcinado durante 15 minutos a 550-600C,
disposto em dessecador com sílica-gel, pesado em balança analítica (P0) e retornado
para o dessecador de até o instante da análise. Quando o filtro não é de boa
qualidade, danifica-se durante a calcinação.
Dando prosseguimento à análise, a amostra deverá ser filtrada à vácuo,
normalmente utilizando-se 100 mL ou volumes menores para lodos concentrados.

Remoção de sólidos

Embora os sólidos, sob o ponto de vista de tamanho, sejam classificados


apenas em sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos, existem três faixas de
tamanhos com comportamentos distintos sob o ponto de vista de tratamento. Os
sólidos em suspensão ( partículas com diâmetro médio a ), são os mais fáceis de
serem separados da água. Prevalecem sobre eles fenêmenos de massa
( gravitacionais) e geralmente são removidos por sedimentação simples.
Intermediariamente, os sólidos presentes no estado coloidal ( diâmetro médio de nm-
1 ), já são suficientemente pequenos de forma a apresentar relações área
superficial/volume que os tornam estáveis na água devida aos campos eletrostáticos
desenvolvidos. Desta forma, são removíveis por sedimentação, desde que precedida
de processo de coagulação e floculação. Os flocos que apresentam baixa velocidade
de sedimentação nos decantadores podem ser separados em filtros de areia ou filtros
de camadas duplas de areia e carvão antracito. A dificuldade maior sob o ponto de
vista de tratamento consiste na separação de moléculas muito pequenas e íons
dissolvidos na água. Nestes casos, apenas processos especiais de tratamento
apresentam boa capacidade de remoção. Dentre estes processos, destacam-se
aqueles que tem como princípios os fenômenos de adsorção, troca iônica ,
precipitação química e osmose reversa (LIBANIO,2008).

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Nas estações de tratamento de esgotos sanitários e de efluentes industriais


predominantemente orgânicos, ocorrem reduções nas concentrações de sólidos
voláteis dos despejos que são tratados por processos biológicos, além de parcela
considerável dos sólidos em suspensão totais em decantadores. É interessante
observar que o crescimento de algas em lagoas fotossintéticas promovem a reposição
compensatória de grande parte dos sólidos em suspensão removidos do esgoto.

Características Químicas

pH
O pH é um importante parâmetro que, juntamente com outros, pode fornecer
indícios do grau de poluição, metabolismo de comunidades ou ainda impactos em um
ecossistema aquático. As águas naturais apresentam um pH entre 4 e 9, o qual é
influenciado pela dissolução de CO2, que origina baixos valores de pH, e pelas
reações de HCO3 - e CO3 com água, resultando em maiores valores de pH
(LIBANIO,2008).
Em geral, quando o pH se aproxima de 9, ocorre a retirada de gás no processo de
fotossíntese.
Nas estações de tratamento de água, são várias as unidades cujo controle envolve
as determinações de PH. A coagulação e a floculação que a água sofre inicialmente é
um processo unitário dependente do PH, existe uma condição denominada PH ótimo
de floculação que corresponde à situação em que as partículas coloidais apresentam
menor quantidade de carga eletrostática superficial. A desinfecção pelo cloro é outro
processo dependente do PH.
O PH é padrão de potabilidade, recomendando-se que as águas para
abastecimento público apresentam valores entre 6,0 e 9,0, de acordo com a Portaria
de Consolidação (005/2017) do Ministério da Saúde.
No tratamento físico-químico de efluentes industriais, muitos são os exemplos de
reações dependentes do PH: a precipitação química de metais pesados ocorre em PH
elevado, a oxidação química de cianeto ocorre em PH baixo, a oxidação química de
fenóis em PH baixo.
 Determinação do pH

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Para a determinação do PH são disponíveis os seguintes métodos:

a) Método eletrométrico (eletrodo de pH ou pHmetro).


b) Método comparativo utilizando-se o papel indicador universal de pH.
c) Kits utilizados em piscinas(indicadores colorimétricos em solução
líquida).

O método eletrométrico é mais preciso e portanto, o mais recomendável para


as aplicações em laboratório e para o controle dos sistemas de uma maneira geral.
Para algumas condições de campo em que não é exigida grande precisão, o papel
indicador de pH pode ser utilizado para estimativas preliminares.
O pH-metro (Figura 9) consiste em um potenciômetro, um eletrodo de vidro, um
eletrodo de referência e um dispositivo de compensação de temperatura. Quando os
eletrodos são imersos na solução, um circuito é formado através do potenciômetro. O
eletrodo de referência consiste em uma semi-célula que gera cloreto de prata, em
menor escala, cloreto de mercúrio(calomelano). O eletrodo indicador é constituído por
um bulbo de vidro especial (borossilicato de sódio) contendo uma concentração de
ou uma solução tampão com pH conhecido em contato com eletrodo de referência
interna. Quando se imergeo eletrodo na solução, a superfície externa do bulbo de
hidrata, promovendo-se assim a troca de íons sódio com íons da solução, de modo
a formar uma camada superficial de íons hidrogênio.

Figura 10 – pH-metro

 Correção de pH

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Em muitas situações de tratamento, ocorre a necessidade de se alterar o pH das


águas, de forma a atender a determinadas exigências. Para a elevação de pH os
compostos mais utilizados são: a soda cáustica ( hidróxido de sódio), a cal hidratada
(hidróxido de cálcio) e a barrilha ( carbonato e bicarbonato de sódio)

Acidez das águas


Acidez de uma água pode ser definida como sua capacidade de reagir
quantitativamente com uma base forte até um valor definido de pH, devido à presença
de ácidos fortes (ácidos minerais: clorídrico, sulfúrico, nítrico, etc), ácidos fracos
(orgânicos: ácido acético, por exemplo, e inorgânicos: ácido carbônico, por exemplo) e
sais que apresentam caráter ácido (sulfato de alumínio, cloreto férrico, cloreto de
amônio, por exemplo).

Fontes de acidez nas águas

( gás carbônico)

Determinação da acidez das águas

Para a determinação da acidez de uma amostra de água consiste em uma


titulação de neutralização ácido/base, empregando-se solução de hidróxido de sódio
0,02 mol/L como titulante, O final da reação pode ser indicado potenciometricamente,
imergindo-se o eletrodo do pH-metro na amostra e anotando-se os volumes gastos de
NaOH quando são atingidos valores preestabelecidos de pH (8,3 e 4,5). Pode também
o ponto final ser determinado utilizando-se indicadores calorimétricos. Historicamente
tem-se utilizado a fenolftaleína, que apresenta ponto de viragem em pH de cerca de
8,3 e o alaranjado de metila, cuja viragem ocorre em pH de cerca de 4,5. O Standard
Methods, em sua 18° edição, propôs a alteração dos indicadores para púrpura de

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metacresol (pH 8,3) e verde de bromocresol (pH 4,5). Em ambos os casos ocorre
viragem de azul para amarelo.

Figura 11- diagrama de acidez total

Controle da acidez das águas


Controlar acidez significa adicionar substância neutralizadoras, as mesmas indicadas
para elevação de pH.

Alcalinidade das águas

A alcalinidade de uma amostra de água pode ser definida como sua


capacidade de reagir quantitativamente com um ácido forte até um valor definido de
pH. Os principais componentes da alcalinidade são os sais do ácido carbônico
(carbonatos , bicarbonatos e hidróxidos). Outros sais de ácidos fracos inorgânicos
como boratos, silicatos, fosfatos, ou de ácidos orgânicos, como ácido húmico e ácido
acético.
Esta particularização permite o cálculo dos três componentes da alcalinidade,
individualmente.
Os bicarbonatos e ,em menor extensão, os carbonatos, que são menos solúveis,
dissolvem-se na água devido á sua passagem pelo solo. Se este solo for rico em
calcário, o gás carbônico da água o solubiliza, transformando-o em bicarbonato
conforme a reação:

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Principais fontes de alcalinidade para água

Os carbonatos e hidróxidos podem aparecer em águas onde ocorrem florações


de algas (eutrofizadas), sendo que em período de intensa insolação o saldo da
fotossíntese em relação à respiração é grande e a retirada de gás carbônico provoca a
elevação de pH para valores que chegam a atingir 10 unidades. A principal fonte de
alcalinidade de hidróxidos em águas naturais decorre da descarga de efluentes de
indústrias, onde se empregam bases fortes como soda cáustica e cal hidratada.

Importância dos estudos


A alcalinidade não apresenta riscos à saúde, porém provoca alterações no
paladar e a rejeição da água em concentrações inferiores àquelas que eventualmente
pudessem trazer prejuízos mais sérios. A importância desse parâmetro se concentra
no controle de determinados processos unitários utilizados em estações de tratamento
de águas para abastecimento e residuárias.

Determinação da alcalinidade
A alcalinidade das águas é determinada através da titulação de neutralização
ácido/base, empregando ácido sulfúrico 0,01 mol/L. A titulação também neste caso
pode ser acompanhada potenciometricamente ou com o emprego de indicadores
ácido-base. Os limites de pH ou as soluções indicadoras são os mesmos utilizados
para a determinação da acidez da água. Entretanto, trata-se do processo inverso, ou
seja, a água apresenta alcalinidade até o valor inferior de pH igual a 4,5, que
corresponde ao limite da conversão de bicarbonatos em gás carbônico. Desta forma a
água pode possuir acidez e alcalinidade simultaneamente na faixa do pH entre 4,5 e
8,3 devido ao equilíbrio gás carbônico/bicarbonato/carbonato, podendo neutralizar
uma ação externa através do deslocamento deste equilíbrio de dois estágios.

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Figura 12- Situações de alcalinidade

Interpretando-se a Figura anterior, obtém-se a tabela a seguir para o cálculo


das componentes da alcalinidade:

Exemplo: Foram tituladas quatro amostras de água com 0,01


mol/L. Foram utilizados 100 ml de amostra em cada titulação, tendo-se obtido
os seguintes resultados: (PIVELI & KATO, 2005).

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Dureza das águas


A dureza de uma água é a medida da sua capacidade de precipitar sabão, isto
é, nas águas que a possuem, os sabões transformam-se em complexos insolúveis,
não formando espuma até que o processo se esgote. É causada pela presença de
cálcio e magnésio, principalmente. São quatro os principais compostos que conferem
dureza às águas: Bicarbonato de cálcio, Bicarbonato de magnésio, sulfato de cálcio e
sulfato de magnésio.

Importância dos estudos


Para o abastecimento público de água, o problema se refere inicialmente ao
consumo excessivo de sabão nas lavagens domésticas. Há também indícios da

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possibilidade de um aumento na incidência de cálculo renal em cidades de


abastecimento com águas duras, o que traduz um efetivo problema de saúde pública.
A portaria de Consolidação n° 005/2017 do Ministério da saúde, limita a dureza em
500 mg/L como padrão de potabilidade.
Para o abastecimento industrial, a grande dificuldade da presença de dureza
nas águas está em seu uso em sistemas de água quente como caldeiras, trocadores
de calor e etc. Com o aumento da temperatura, o equilíbrio se desloca no sentido da
formação de carbonatos que precipitam e levam essas caldeiras à explosão.

Graus de dureza
Mg/L Grau de dureza
0 - 75 Branda ou mole
75 - 150 Moderadamente dura

150 - 300 Dura

Acima de 300 Muito dura

Tipos de dureza
A dureza é classificada quanto aos cátions e quanto aos ânions associados a
estes.
Quanto ao cátion, a dureza é classificada em dureza ao cálcio e dureza ao
magnésio. Logo a dureza total é a soma da dureza ao cálcio com a dureza ao
magnésio.
OBS: não se trata de uma simples soma, pois a dureza é expressa em mg/L de ,
havendo a necessidade de transformação de equivalentes grama.
Já quanto ao ânion, a dureza é classificada como temporária ou permanente. A dureza
temporária é aquela em que o cálcio ou o magnésio se encontram associados a
carbonatos e bicarbonatos, já a dureza permanente é quando o cálcio está associado
a sulfatos.
A dureza total é a soma da dureza temporária + dureza permanente.

Relação entre alcalinidade e dureza


A alcalinidade de bicarbonatos é equivalente à dureza temporária:

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a) Se alcalinidade de bicarbonatos < dureza total = dureza temporária =


alcalinidade de bicarbonatos e existe dureza permanente na amostra
b) Se alcalinidade ≥ dureza temporária = dureza permanente = zero

Determinação da dureza

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Para a determinação da dureza ao cálcio, o mesmo procedimento descrito para


dureza total deve ser utilizado, apenas diferindo pelos fatos de que o pH deve ser
elevado para 13 para precipitar o magnésio na forma de hidróxido.

Remoção da dureza
O abrandamento das águas ou remoção da dureza pode ser feito por precipitação
química ou por troca-iônica.

Oxigênio Dissolvido (OD)

O oxigênio dissolvido é de essencial importância para os organismos aeróbios.


Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio nos
seus processos respiratórios, podendo vir a causar uma redução da concentração do
mesmo no meio. Dependendo da magnitude deste fenômeno, podem vir a morrer
diversos seres aquáticos, inclusive os peixes. Caso o oxigênio seja totalmente
consumido, tem-se a condição anaeróbia, com geração de maus odores. É o principal
parâmetro de caracterização dos efeitos da poluição das águas por despejos
orgânicos (VON SPERLING, 2014).
É uma variável ambiental clássica, e sua ausência pode afetar
significativamente a biota aquática. De um modo geral e simplificado, com base nos
critérios de qualidade para oxigênio dissolvido, publicado pela Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos (EPA), as faixas de concentração de oxigênio
dissolvido com as respectivas comunidades aquáticas que podem suportar tais níveis
de oxigênio dissolvido são: de 0 a 2 mg L-1 é insuficiente para manter a vida aquática,
de 2 a 4 mg L-1 somente poucas espécies de peixe podem sobreviver, de 4 a 7 mgL-1
é aceitável para peixes de águas quentes e de 7 a 11 mg L-1 é ideal para peixes de
águas frias.

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A solubilidade dos gases em água diminui com a elevação da temperatura, a


quantidade de oxigênio que se dissolve a 0 °C (14,2 mg/L) é mais do que o dobro da
que se dissolve a 35 °C (7,0 mg/L).
Em lagos, devido a estratificação térmica e outros fatores, a concentração de
OD varia com a profundidade, sendo maior na superfície e menor no fundo.
Temperatura( °C) Altitude(m) Altitude(m) Altitude(m) Altitude(m)
0 500 1000 1500
10 11,3 10,7 10,1 9,5
11 11,1 10,5 9,9 9,3
12 10,8 10,2 9,7 9,1
13 10,6 10,0 9,5 8,9
14 10,4 9,8 9,3 8,7
15 10,2 9,7 9,1 8,6
16 10,0 9,5 8,9 8,4
17 9,7 9,2 8,7 8,2
18 9,5 9,0 8,5 8,0
19 9,4 8,9 8,4 7,9
20 9,2 8,7 8,2 7,7
21 9,0 8,5 8,0 7,6
22 8,8 8,3 7,9 7,4
23 8,7 8,2 7,8 7,3
24 8,5 8,1 7,6 7,2
25 8,4 8,0 7,5 7,1
26 8,2 7,8 7,3 6,9
27 8,1 7,7 7,2 6,8
28 7,9 7,5 7,1 6,6
29 7,8 7,4 7,0 6,6
30 7,6 7,2 6,8 6,4
Figura 13- Tabela de oxigênio dissolvido por altitude e temperatura .

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DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio)

A matéria orgânica é responsável pelo consumo, pelos microrganismos


decompositores, do oxigênio dissolvido na água.
A DBO é o parâmetro fundamental para o controle da poluição das águas por
matéria orgânica. Nas águas naturais a DBO representa a demanda potencial de
oxigênio dissolvido que poderá ocorrer devido à estabilização dos compostos
orgânicos biodegradáveis, o que poderá trazer os níveis de oxigênio nas águas abaixo
dos exigidos pelos peixes, levando-os à morte. É, portanto, importante padrão de
classificação das águas naturais. Nas classes que correspondem às águas menos
poluídas, exigem-se baixos valores máximos de DBO e elevados limites mínimos de
oxigênio dissolvido (PIVELI & KATO, 2005).
A DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) - determina a concentração de matéria
orgânica através da determinação da quantidade de oxigênio consumido na
degradação biológica da matéria orgânica.
A estabilização completa demora vários dias (aproximadamente 20 dias) = DBOu
(DBO ultima);
Convencional para termos práticos a análise em 5 dias a 20°C = DBO520 = DBO
padrão.
A DBO é também uma ferramenta imprescindível nos estudos de
autodepuração dos cursos d’água. Além disso, a DBO constitui-se em importante
parâmetro na composição dos índices de qualidade das águas.
No caso de esgotos sanitários, é tradicional no Brasil a adoção de uma
contribuição "per capita"de DBO5 de 54 g/hab.dia. Porém, há a necessidade de
melhor definição deste parâmetro através de determinações de cargas de DBO em
bacias de esgotamento com população conhecida.
Basicamente, a análise de DBO consiste em medidas da concentração de
oxigênio dissolvido nas amostras, diluídas ou não, antes e após um período de
incubação de 5 dias a 20°C, também conhecida como DBO padrão. Durante este
período, ocorrerá redução no teor de oxigênio dissolvido da água, consumido para
satisfazer as reações bioquímicas de decomposição de compostos orgânicos

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biodegradáveis. Quanto maior for a quantidade de matéria orgânica biodegradável nas


amostras, maior será o consumo de oxigênio durante os 5 dias de incubação e,
portanto, maior será o valor da DBO.
A DBO dos esgotos domésticos é de aproximadamente 300 mg/L e a
DQO em torno de 600 mg/L
A DBO de esgotos industriais variam com o tipo de processo industrial.
Na Resolução CONAMA 357/2005 estão impostos os limites máximos
de DBO de 3, 5, 10 mg/L para as águas de classe 1, 2, 3, e os limites mínimos
de oxigênio dissolvido de 6, 5, 4, 2mg/L, para as águas classe 1, 2, 3 e 4
respectivamente.
A DBO é calculada através da média dos resultados em que a redução
de oxigênio dissolvido ocorreu na faixa de 40 a 70%.
O cálculo de DBO é realizado conforme apresentado abaixo.

DQO (Demanda Química de Oxigênio)

É também um parâmetro de mensuração indireta de matéria orgânica presente


no meio. A DQO avalia a quantidade de oxigênio dissolvido (OD) consumido em meio
ácido que leva à degradação de matéria orgânica, sendo essa biodegradável ou não.
É neste ponto que ela se diferencia da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), onde
é medida a quantidade de oxigênio necessária para ocorrer a oxidação da matéria
orgânica biodegradável.
Ressalta-se algumas vantagens do DQO (SPERLING, 2004): i) o teste gasta
apenas de 2 a 3 horas para ser completamente realizado II) o resultado do teste dá
uma indicação do oxigênio requerido para a estabilização da matéria orgânica III) O
teste não é afetado pela nitrificação, dando indicação apenas da oxidação da matéria
orgânica carbonácea e não da nitrogenada.

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Cita-se ainda como vantagem, que o processo não está sujeita a tantas
variáveis, como no sistema biológico, e não requer tantos equipamentos.

Como desvantagem SPERLING (2004), cita: I) no processo de avaliação da


DQO são oxidadas, tanto a fração biodegradável, quanto a fração inerte do efluente, o
que leva a uma superestimação do oxigênio consumido II) o teste não fornece
informação sobre a taxa de consumo da matéria orgânica ao longo do tempo III) certos
constituintes inorgânicos podem ser oxidados e interferir no resultado.

Segundo BRAILE e CAVALCANTI (1979), para esgotos domésticos brutos, a


relação DQO/DBO5 se enquadra na faixa de 1,7 a 2,4. Com relação aos esgotos
industriais, a relação varia numa faixa mais ampla, e desta relação, tira-se algumas
conclusões sobre a biodegradabilidade dos despejos.

Relação DQO/DBO baixa (< cerca de 2,5):


- A fração biodegradável é elevada;
- Indicação para tratamento biológico;
Relação DQO/DBO intermediária (entre cerca de 2,5 a 4,0)
- A fração biodegradável não é elevada;
- Estudo de tratabilidade para verificar viabilidade do tratamento biológico;
Relação DQO/DBO elevada (> cerca de 4,0)
- A fração inerte (não biodegradável) é elevada, possível indicação para tratamento
físico-químico.
Outro uso importante que se faz da DQO é para a previsão das diluições das
amostras na análise de DBO. Como o valor da DQO é superior, e pode ser obtido no
mesmo dia da coleta, poderá ser utilizado para balizar as diluições.

Nitrogênio

O nitrogênio é um constituinte de proteínas, clorofila e vários outros compostos


biológicos. As fontes de contaminação desse composto em corpos d’água são de
origem natural ou antropogênica, sendo a última a mais importante, pois é constituída

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por despejos domésticos e industriais, excrementos de animais e fertilizantes (VON


SPERLING, 2014).
O nitrogênio pode ser encontrado na água nas formas de nitrogênio orgânico,
amoniacal, nitrito e nitrato. As duas primeiras chamam-se formas reduzidas, e as duas
últimas formas oxidadas. A relativa concentração das diferentes formas do nitrogênio é
um indicativo eficiente da natureza e do estágio de poluição do efluente. Como visto, o
nitrogênio pode ser encontrado nas águas nas formas de nitrogênio orgânico,
amoniacal, nitrito e nitrato. As duas primeiras chamam-se formas reduzidas e as duas
últimas, formas oxidadas. Pode-se associar a idade da poluição com a relação entre
as formas de nitrogênio, ou seja, se for coletada uma amostra de água de um rio
poluído e as análises demonstrarem predominância das formas reduzidas significa que
o foco de poluição se encontra próximo; se prevalecer nitrito e nitrato, ao contrário,
significa que as descargas de esgotos se encontram distantes (PIVELI & KATO, 2005).

Figura 14- Ciclo do nitrogênio na água

O nitrogênio orgânico que toma parte no tecido de uma planta pode ser
incorporado em tecidos animais pelo processo nutricional destes. A morte, seguida de
decomposição, de animais e vegetais e, principalmente, as transformações sofridas
pelos compostos orgânicos presentes nos esgotos, levam à formação de nitrogênio
amoniacal nas águas, nas formas de amônia gasosa (NH3) ou do íon amônio (NH4+ ).

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Nas águas, o processo de oxidação biológica sofrida pela amônia, que é


convertida a nitrito (NO2− ) por um grupo de bactérias nitrificadoras chamadas
Nitrossomonas e, posteriormente, a nitrato (NO3 − ) por outro grupo conhecido por
Nitrobacter, chama-se nitrificação. A nitrificação é um processo que ocorre apenas em
meio aeróbio, pois não existem bactérias anaeróbias nitrificadoras. Corresponde,
como visto, à demanda bioquímica de oxigênio de segundo estágio, devendo ocorrer
nas estações de tratamento de esgotos. O processo inverso, ou seja, a redução
biológica é possível, mas o caminho preferencial é a redução de nitrato a nitrito e
posteriormente a nitrogênio gasoso (N2).
Este processo se denomina desnitrificação e ocorre em meio anóxico, isto é, na
ausência de oxigênio livre, em lodos de fundo de rios e lagos e de unidades de
separação de sólidos (decantadores) de estações de tratamento de esgotos. Reatores
anaeróbios são projetados com esta função específica, pois a nitrificação (aeróbia) e a
desnitrificação (anóxica) levam ao controle efetivo dos problemas que os compostos
nitrogenados podem trazer às águas naturais.
Ocorrem ainda, no ciclo do nitrogênio na natureza, as fixações química e biológica
e o seu uso como nutriente, sendo que as plantas são capazes de metabolizar nitratos
e os animais nutrem-se de nitrogênio na forma orgânica, principalmente.
A amônia é um tóxico bastante restritivo à vida dos peixes, sendo que muitas
espécies não suportam concentrações acima de 5 mg/L. Além disso, como visto
anteriormente, a amônia provoca consumo de oxigênio dissolvido das águas naturais
ao ser oxidada biologicamente, a chamada DBO de segundo estágio. Por estes
motivos, a concentração de nitrogênio amoniacal é importante parâmetro de
classificação das águas naturais e normalmente utilizado na constituição de índices de
qualidade das águas.
Um grande problema relacionado com altas concentrações de nitrogênio é a
eutrofização. Esse elemento é indispensável para o crescimento de algas e, quando
em elevadas concentrações em lagos e represas, principalmente, pode conduzir a um
crescimento exagerado desses organismos, causando interferências aos usos
desejáveis do corpo d’água (VON SPERLING, 2014), gerando problemas como gosto
e odor, redução de oxigênio e transparência, declínio da pesca, mortandade de peixes,
obstrução de cursos d’água e efeitos tóxicos sobre animais e seres humanos.

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Segundo VON SPERLING (2014) outros fatores mostram a importância de se


quantificar a concentração dos compostos nitrogenados:
✓ O nitrogênio na forma de nitrato está associado a doenças como a
metahemoglobinemia (síndrome do bebê azul);
✓ Os processos bioquímicos de conversão da amônia a nitrito e deste para
nitrato, implicam no consumo de oxigênio dissolvido no corpo receptor
(demanda nitrogenada de oxigênio), o que pode afetar a vida aquática;
✓ Nitrogênio na forma de amônia livre é tóxico aos peixes;
✓ Nitrogênio é um elemento indispensável para o crescimento dos
microrganismos responsáveis pelo tratamento de esgotos;
✓ Os processos de conversão do nitrogênio têm implicações na operação das
estações de tratamento de esgotos.

Figura 15- Proporção das formas de amônia livre e ionizada, com relação à amônia
total, em função de valores do pH e da temperatura.

A amônia existe em solução tanto na forma de íon amônio ( como na forma de


amônia livre, não ionizada ( , segundo o seguinte equilíbrio dinâmico:

A distribuição relativa assume a seguinte forma em função dos valores de pH:

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Fósforo
O fósforo aparece em águas naturais devido principalmente às descargas de
esgotos sanitários. Nestes, os detergentes superfosfatados empregados em larga
escala domesticamente constituem a principal fonte (15,5% de P2O5), além da própria
Matéria fecal, que é rica em proteínas. Alguns efluentes industriais, como os de
indústrias de fertilizantes, pesticidas, químicas em geral, conservas alimentícias,
abatedouros, frigoríficos e laticínios, apresentam fósforo em quantidades excessivas.
As águas drenadas em áreas agrícolas e urbanas também podem provocar a
presença excessiva de fósforo em águas naturais, por conta da aplicação de
fertilizante no solo (VON SPERLING, 2014; PIVELI & KATO, 2005).
O fósforo pode se apresentar nas águas sob três formas diferentes. Os fosfatos
orgânicos são a forma em que o fósforo compõe moléculas orgânicas. Os ortofosfatos,

por outro lado, são representados pelos radicais com cátions


formando sais inorgânicos nas águas. Os polifosfatos ou fosfatos condensados são
polímeros de ortofosfatos. No entanto, esta terceira forma não é muito importante nos
estudos de controle de qualidade das águas, porque os polifosfatos sofrem hidrólise,
convertendo-se rapidamente em ortofosfatos nas águas naturais.
Por ser um elemento indispensável para o crescimento de algas, quando em
elevadas concentrações, pode conduzir a um crescimento exagerado desses
organismos, levando à eutrofização das águas naturais (CETESB, 2015).
Na tabela a seguir relaciona-se o nível trófico de lagos e reservatórios com as
concentrações de fósforo total.

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Quando se atinge nível hipereutrófico, além do crescimento desordenado e


explosivo de algas, aparecem plantas aquáticas superiores (macrófitas), prejudicando
os usos múltiplos que se possam fazer daquela água, além de se constituir em habitat
adequado aos planorbídeos (caramujo hospedeiro intermediário do verme causador da
esquistossomose).
O fósforo constitui-se, portanto, em importante parâmetro de classificação das
águas naturais, participando também na composição de índices de qualidade de
águas

Ferro

O ferro é um metal que se origina da dissolução de compostos de rochas e


solos. Por ser um dos materiais mais abundantes, o ferro é habitualmente encontrado
nas águas naturais, superficiais e subterrâneas , apresentando-se nas formas
insolúvel ( e dissolvida ( ), como óxidos, silicatos, carbonatos, cloretos,
sulfatos e sulfitos. Para as águas superficiais, a condição da anaerobiose nas

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camadas mais profundas dos reservatórios de acumulação resulta da decomposição


da matéria orgânica, favorecendo a solubilização de compostos de ferro anteriormente
precipitados.
Na estação de tratamento, a oxidação do ferro comumente conduz à formação
do precipitado de hidróxido de ferro, de fácil sedimentabilidade ou retenção no meio
filtrante. Todavia, nas águas superficiais, com alguma frequência o ferro apresenta-se
complexado à matéria orgânica. Nestas circunstâncias, a matéria orgânica pode
envolver o metal, minimizando a oxidação e subsequente precipitação na forma de
hidróxido. Diversas pesquisas evidenciaram a capacidade de alguns ácidos orgânicos,
como o tânico e húmico, de formar complexos com ferro ferroso ( ), praticamente
inviabilizando a oxidação com o oxigênio. Como estes ácidos resultam da
decomposição da matéria orgânica de origem vegetal, reduz-se significativamente a
remoção do ferro. Neste contexto, a oxidação pode ser realizada com maior eficiência
com permaganato de potássio, cloro e seus compostos.

Exercícios Propostos

1) Como a temperatura influencia no tratamento de água?

2) Por que as águas de maior temperatura tendem a serem rejeitadas pela


população?

3) A água pode assumir acidez e alcalinidade ao mesmo tempo?

4) O que é dureza de uma água? Qual a principal forma em que a dureza


pode ser introduzida em uma água natural?

5) Explicar a influência da dureza no uso de uma água para abastecimento


público e industrial.

6) Que características físicas das águas de um rio podem ser influenciadas


pelo lançamento de um efluente industrial com elevado teor de matéria
orgânica biodegradável?

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7) Pode uma água natural apresentar cor elevada e turbidez baixa?


Justifique.

8) Qual a diferença entre cor real e cor verdadeira?

9) Qual a relação entre oxigênio dissolvido e temperatura?


10) Em uma determinação de DBO, foram misturados 6,0 mL de um despejo e
294,0 mL de água de diluição contendo 8,6 mg/L de OD. Após em período de
incubação de 5 dias à 20°C, a concentração de OD na mistura foi de 5,4 mg/L.
Calcular a DBO do despejo.

11)Com relação à afirmação: "Quanto mais poluída por matéria orgânica


biodegradável estiver uma água, maior será a demanda bioquímica de
oxigênio a ser exercida e menor será a concentração de oxigênio
dissolvido", pode ser dito que:
a) Está correta, quaisquer que sejam as demais condições ambientais
b) Depende da temperatura e da taxa de degradação do resíduo
c) Depende da taxa de degradação do resíduo e da velocidade das
águas
d) Depende da velocidade da água e da presença de outros nutrientes
além do carbono e) Depende da temperatura e da presença de outros
nutrientes além do carbono

12) Através da relação DBO5,20 / DQO pode-se avaliar um aspecto da


biodegradabilidade de um efluente industrial, considerando-se que:
a) Se o valor da DQO for superior a 4 vezes o valor da DBO5,20, o efluente
apresenta boas condições de biodegradabilidade
b) Apenas se o valor dessa relação for aproximadamente igual a 1, o efluente
poderá ser considerado biodegradável
c) A DBO mede a fração orgânica dos efluentes e a DQO a inorgânica e
portanto quanto maior for essa relação mais biodegradável é o efluente
d) O valor da DQO é geralmente inferior ao da DBO5,20 e quanto mais
próximo forem esses valores menor será a fração biodegradável

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e) O valor da DQO é geralmente superior ao da DBO5,20 e quanto mais


próximos forem esses valores maior será a fração biodegradável

13) Quais as principais fontes de nitrogênio nas águas naturais?


14) Quais as formas em que os compostos de nitrogênio se apresentam nas águas
naturais? Como se pode associar a distância de uma fonte poluidora com a
relação entre as concentrações das diversas formas de nitrogênio identificadas
em determinado ponto de coleta de amostras?
15) O que é nitrificação? Que condições ambientais são necessárias para que ela
ocorra?
16) O que é desnitrificação? Que ambiente é necessário para que ela ocorra?
Qual o principal benefício da desnitrificação em termos da qualidade das águas
naturais?
17) Quais as principais fontes de fósforo nas águas naturais?
18) Em um rio que tenha recebido descarga de esgoto sanitário, quais as relações
esperadas entre as formas predominantes de fósforo em locais próximos e
bastante afastados do ponto de lançamento?
19) Em uma análise do teor de sólidos de uma amostra de efluente industrial foram
Obtidos os seguintes resultados:
• massa da cápsula preparada: P0= 101,9794g
• massa da cápsula após secagem a 104oC de 1000 mL da amostra: P1 =
102,0406g
• massa da capsula após calcinação a 600oC: P2 = 101,952 g
Determinar a porcentagem de matéria volátil na amostra.

Referências
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de
esgotos. Vol. 1, Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais. 2014, 240p.
PIVELI, R. P. & KATO, M. T. Qualidade das Águas e Poluição: Aspectos Físico-
Químicos. São Paulo: ABES. 2005. 275p.
LIBÂNIO, M. 2008. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 2a Ed.
Campinas, SP: Editora Átomo. 444p.

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FUNASA. Manual de Controle da Qualidade da Água para Técnicos que


Trabalham em ETAS. Ministério da Saúde, Brasília - DF, 2014.
CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Qualidade das
águas superficiais no estado de São Paulo. São Paulo, 2011.
CETESB, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de
São Paulo - . Índice de Qualidade da água (IQA). Disponível em: . Acesso
em: 08 Agost 2015.
CETESB, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de
São Paulo - . Índice de Qualidade da água (IQA). Disponível em: . Acesso
em: 08 Agost 2015.

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