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As relações entre Brasil e EUA no governo Biden.

Adriano Cerqueira
Professor de Relações Internacionais do IBMEC
No dia 19 de outubro de 2020, os governos do Brasil e dos EUA assinaram o Acordo
de Comércio e Cooperação Econômica, mais conhecido na sigla em língua inglesa como
ATEC.
O ATEC começou a ser discutido em 2011, mas foi ativado, de fato, em 2019, com o
início do governo Bolsonaro, que investiu na aproximação comercial e política com os
Estados Unidos, à época governados por um presidente, Donald Trump, que era mais afinado
politicamente com Bolsonaro.
Na prática, a formalização do entendimento resultou em três acordos bilaterais, um
referente à facilitação de comércio, outro às boas práticas regulatórias e um focado no
combate à corrupção. Um aspecto importante no acordo fechado foi a busca dos governos de
evitarem a interferência dos poderes legislativos e de blocos econômicos na efetivação do
acordo e para tal foi evitada a questão de redução tarifária no comércio entre os países. Para
que as resoluções não escapassem às prerrogativas dos poderes executivos dos dois países, o
enfoque do acordo foi a eliminação de excessos burocráticos e regulatórios que, de modo
indireto, aumentam os custos comerciais. Assim, com a diminuição desses encargos, estima-
se que o comércio entre Brasil e EUA poderá ter uma queda de custo de 13% a 20%.
Não foi coincidência que o acordo foi assinado a poucos dias da eleição presidencial
dos EUA, em 2020. Havia o temor que uma provável vitória de Joe Biden, do partido
Democrata, significasse um revés nas relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e EUA.
E, de fato, Biden venceu a disputa e assumiu em janeiro o governo americano. E como
ficaram as relações com o Brasil?
Apenas um mês após a posse, representantes do governo Biden deram declarações
favoráveis para a manutenção dos acordos feitos com o Brasil. O fato é que, desde o início de
fevereiro, Ernesto Araújo (Ministro das Relações Exteriores do Brasil) teve reuniões com o
embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman e, também, com Antony Blinken, o novo
Secretário de Estado dos EUA (cargo que se assemelha ao de Ernesto Araújo). Animado com
os resultados dos encontros, Ernesto Araújo publicou nas redes sociais sua agenda e os
resultados obtidos.
Pelo lado americano, houve manifestações que reforçaram o entendimento de Ernesto
Araújo. No dia 8 de março, a porta voz do governo americano, Jen Psaki, revelou a intenção
do governo Biden de não apenas manter, mas de intensificar as relações econômicas com o
Brasil. Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado para a América Latina,
manteve esse entendimento e inclusive indicou o interesse dos EUA para que o Brasil não
venha a adotar a tecnologia 5G da China. As duas potências econômicas estão há muito tempo
competindo na oferta de serviços nessa tecnologia e um mercado como o brasileiro não é algo
a ser ignorado, ideologias à parte.
O que se pode depreender, neste momento de início do governo Biden, é que, apesar
da forte pressão do lobby ambientalista contra o governo Bolsonaro, as áreas da política
externa americana, especialmente as mais interessadas no comércio exterior, estão sinalizando
que manterão uma postura mais pragmática com o governo brasileiro. Não lhes deve ter
escapado que ter um presidente da importância regional do Brasil que, desde o início de seu
governo, procurou reforçar os laços políticos e econômicos com os Estados Unidos é algo
muito positivo, e justo em um momento que a China avança sua influência política e
econômica em todo o planeta. Nesse sentido, no dia 5 de março deste ano, o governo Biden
colocou em lista negra a empresa chinesa Xiaomi, endossando assim uma decisão de Trump e
reforçando o entendimento que a disputa comercial entre EUA e China deverão estimular uma
prática diplomática mais pragmática com o governo Bolsonaro. Afinal, em que pesem as
divergências ideológicas entre os dois governos, Brasil e EUA têm um histórico de alianças
políticas, econômicas e militares de longa data e isso sempre pesará nas relações entre os dois
países.

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