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Os Cavalerios de Frank Sherman Land

(Ou Frank Land e seu desejo na formação de Cavaleiros)

por Társis Valentim Pinchemel1

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Temos uma teoria, bem particular, de que a verdadeira vontade de Frank Sherman L
formação de cavaleiros para o futuro. Não é o intuito desejar desconstruir o famoso conceito da
“escola de líderes”, apresentada a nós institucionalmente pelo DeMolay Internacional. Ao contrário,
defender que Dad Land desejava com o programa DeMolay forjar cavaleiros é reafirmar que tipo de
líderes nosso fundador quis lapidar: os alicerçados nas virtudes cardeais, ou seja, os Consagrados à
Causa de Deus.

O que temos como evidências para essa afirmação? A iniciação do candidato nas virtudes. Nossa
Fraternidade começou constituída dos dois primeiros graus do Capítulo. No grau iniciático são
transmitidos os ensinamentos das sete virtudes cardeais, estruturantes para construção da defesa de
nossos baluartes: as liberdades civil, religiosa e intelectual. No grau demolay presenciamos o
julgamento do herói mártir e patrono de nossa Ordem ao aprendermos as lições de lealdade e
tolerância.

Sabemos que até aqui não há nenhuma investidura como Cavaleiros, bem como os rituais não falam
diretamente sobre liderança. Isto é​ observado em algumas cerimônias, como:

Cerimônia de Iniciação, na fala do Primeiro Diácono, que apresenta a função da Ordem


DeMolay:

“O​ grande objetivo de nossa Ordem é ensinar e praticar as virtudes que nos levam a uma
vida pura, reta, patriótica e reverente, ​como a melhor preparação para a maioridade da
qual nos aproximamos. Nós procuramos, sinceramente, ser melhores filhos, melhores
irmãos e melhores amigos, para que, ao chegarmos aos anos da maioridade, possamos ser
melhores homens”.

Cerimônia de Instalação, na instrução ao Mestre Conselheiro eleito a respeito do início de


seus trabalhos como líder do Capítulo:

1
Társis Valentim é Mestre Instalado na Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia, Past Sumo
Sacerdote no Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do Brasil, Past Ilustre Mestre no Grande
Conselho de Maçons Crípticos do Brasil, Past Eminente Comandante na Grande Comanderia dos
Cavaleiros Templários do Brasil, integrando o time de oficiais nacionais. Grau 33 no Supremo
Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do
Brasil, tendo presidindo Corpos do Rito na 6ª Inspetoria Liturgia da Bahia e presidente da comissão
de instrução da mesma. Presidente da Comissão de Liturgia dos Ritos Anglo-Saxônicos da GLEB.
PMCR, Chevalier, Cruz de Honra e Past Grande Mestre Estadual da Ordem DeMolay na Bahia,
membro da Comissão Nacional da Ordem de Cavalaria já tendo sido seu presidente. Oficial no
Grande Conselho dos Graus Maçônicos Aliados do Brasil. Past Digno Patriarca da Ordem da Estrela
do Oriente. Membro do Conselho Guardião do Bethel 002 das Filhas de Jó da Bahia. Membro da
AMORC e da TOM.
“Irmão, você foi eleito para o honroso cargo de Mestre Conselheiro deste Capítulo. Não
preciso lembrá-lo, como o seu título já sugere, que você será o líder do grupo. Não deverá
ser arrogante ou arbitrário. Em vez disto, deverá conduzir aqueles que te seguem com
alegria, pois ​você provou sua boa vontade em ouvir conselhos assim como em dá-los​”.

Cerimônia de Maioridade, na fala do Capelão, que demonstra um ode à virilidade e à


maturidade da vida adulta:

“Ajude estes irmãos a serem verdadeiros e fiéis homens como eles foram verdadeiros e fiéis
DeMolays. Ajude-os a ter consciência que os ensinamentos desta Ordem são verdades
fundamentais que não permitem linhas divisórias de tempo e que o verdadeiro espírito de um
bom DeMolay fará de cada um de nós um homem melhor. Ajude-nos a ​reconsagrarmo-nos
aos grandes propósitos de nossa Ordem para que, como nossos irmãos, chegarmos ao meio
dia de nossas vidas, possamos estar melhor preparados para todos os deveres”.

Portanto, é observado, mais uma vez, que não é encontrada qualquer menção sobre liderança
nos rituais DeMolays.

Diante disso, poderíamos ficar tentados ou convencidos de que existe uma discrepância de
que DeMolay é uma “escola de liderança”, de modo a ficarmos bem inclinados a aceitar que a
Ordem DeMolay é apenas “escola de virtudes”, sendo a formação de um líder um ganho
acessório. Então por que sustentar que a liderança é a verdadeira finalidade? Porque o
verdadeiro propósito da Ordem DeMolay era a formação de Cavaleiros. E Land tinha uma
visão particular do que era ser um cavaleiro.

Essa visão pode ter sido construída na vida de Frank Sherman Land por um posicionamento
histórico no Grande Acampamento de Cavaleiros Templários - GEKT, último corpo do Rito
de York. O GEKT se apresenta na Maçonaria Americana como um órgão responsável para
construir e formar líderes que trabalharão nos mais diversos campos de atuação dentro de
todas as estruturas administrativas da Fraternidade. Land, como um Maçom americano
dedicado, pode ter absorvido essa perspectiva em sua vivência institucional.

A iniciação de Frank Land na Maçonaria também reforça sua proximidade com a aura da
Cavalaria. Frank iniciou numa Loja Maçônica chamada Ivanhoe, N​o ​446, que leva o nome do
maior conto épico de Cavalaria. O livro, escrito por Walter Scott, publicado em 1820, tem a
função de resgatar o heroísmo dos cavaleiros medievais. Sua história é tão importante que
inspirou os fundadores da Loja de Land. Isto demonstra a fundação e presença do ideal de
Cavalaria desde o início da vida de Land nos princípios maçônicos.

Apesar de como já demonstrado não existir um chamamento para a Cavalaria nos rituais até
então citados, construídos por Land e Marshall, existe um elemento que não pode,
definitivamente, ser negligenciado: o nome de nossa organização. Dentre dezenas de figuras
emblemáticas das lendas Maçônicas, como Salomão, Hiram Abiff ou Zorobabel, a figura
escolhida foi a de um Grão Mestre dos Cavaleiros Templários, que, por mais que tenha sido
eleita por nossos primeiros garotos, foi apresentada e defendida por Land. Este, por si só é o
primeiro elemento de Cavalaria de nossa Ordem: o nome e a figura Jacques DeMolay.

O que Frank Land fez para alcançar a meta síntese da Ordem Demolay, seja ela qual for, da
formação de cavaleiros? O primeiro passo que nosso fundador deu em direção a este objetivo
foi a criação do primeiro grau verdadeiramente cavalheiresco dentro da estrutura simbólica e
cerimonial da DeMolay. Temos que lembrar que, nesse momento, já haviam as cerimônias do
Grau Iniciatico, DeMolay e da Maioridade, sem referências diretas à Cavalaria, todas elas
elaboradas prioritariamente por Frank Marshall. Mas a Cavalaria precisava surgir: nasceu a
Legião de Honra.

“Ele voltou-se para Marshall: ‘— Frank’, disse, ‘Quero que escreva um novo ritual para ser
usado na Cerimônia de Investidura destes seletos homens. Q ​ uero que seja significativo com
toda a beleza da rededicação aos votos feitos no altar DeMolay quando eles eram poucos
anos mais jovens. Além disso, eu quero ajudá-lo a escrever – não que você precise de minha
ajuda – mas isto me é tão próximo e as ideias do que deve conter nele estão tão claras que eu
acredito que posso guiá-lo para nós dois o escrevermos juntos’”.

Essa citação é retirada do livro “Hi, Dad!”, página 90, e diz respeito à escrita do Ritual do
Legião de Honra, que, apesar de redigido por Marshall, estava sob intensa supervisão e
influência de Land, como o mesmo aponta na fala descrita. É importante lembrar que a
Legião de Honra foi criado em 1925, e “é uma investidura pública e o reconhecimento com o
qual o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para a República Federativa do Brasil honra
seus ilustres membros, não apenas por serem líderes natos em algumas áreas de atividade,
mas por serviços a Deus, ao país e a humanidade” (Cerimônia de Investidura à Legião de
Honra).

Land tinha tanta clareza no que queria desta vez que, diferente das cerimônias anteriores nas
quais Marshall teve total liberdade criativa, nessa, como nos apresenta o texto, é quase
perceptível que pediu a ajuda por mera educação. Então, encontramos a primeira menção
direta de Land ao ideal de um líder através do primeiro ritual com referências à Cavalaria. Foi
necessário reconhecer os trabalhos de um Sênior DeMolay para com a humanidade por meio
do elemento cavalheiresco. Elemento este bem evidente nos Graus da Maçonaria.

“​Como clímax para a investidura, os dois homens chegaram a uma tradição dos Graus
Honoríficos da Maçonaria, com a apresentação do cordão, um anel para os Membros Ativos,
e finalmente um toque de espada em cada ombro e na cabeça. O Tio Land refletiu sobre esta
cerimônia cavalheiresca e decidiu que as palavras usadas nos toques de espada seriam “​ Por
Deus, pela pátria e pela Ordem DeMolay”.​ (​ Hi Dad!, p. 91)
A Legião de Honra consagra a liderança notável enquanto adulto em sua comunidade
prestando serviços a humanidade. Dessa forma Land arregimentou seus primeiros soldados
pela causa, aqueles que garantiriam a manutenção de sua obra, seu exército pessoal dos
homens em que ele confiava.

No entanto, isso não pareceu suficiente para suas intenções com os membros da Ordem.
Reconhecer a liderança consagrada e o espírito de cavaleiro apenas após a vida adulta não era
o bastante.

Após dez anos trabalhando Cavalaria na DeMolay com o Preceptório de Legionários, Dad
Land, abordado por um questionamento sobre o reconhecimento dos mais jovens, sentiu que
era necessário reconhecer seus membros ativos pela a liderança extraordinária dentro da
Ordem. Ele poderia ter escolhido qualquer outra forma de reconhecer estes serviços, mas,
novamente insistiu no elemento cavalheiresco. Uma investidura nos mesmos parâmetros:
anel, cordão e toque de espada.

O Grau de Chevalier - Cavaleiro, em tradução direta do Francês - é primeiro ritual escrito


sem Frank Marshall. Foi natural que vindo diretamente das mãos de nosso fundador esta
cerimônia tivesse um profundo significado religioso, com grande citação do Livro das
Sagradas Escrituras, como seria inevitável em uma obra direta de Land.

“O ritual, mais curto que a cerimônia da Legião de Honra, continha um tom religioso mais
profundo. P​ ela primeira vez num ritual DeMolay uma parte considerável das Escrituras foi
incluída. Land era um mestre na Bíblia, ele viveu por ela e a lia de novo e de novo durante
seus períodos matinais de contemplação e prece. [...] O juramento, curto, breve, mas cheio
de significado para os anos vindouros, terminava com uma frase que trazia o tema do grau –
“Eu ainda prometo e juro que, de agora em diante, me esforçarei para ser melhor homem do
que tenho sido. Assim Deus me ajude.”

Land já tinha concluído sua metodologia de formação e reconhecimento do Espírito de


Cavaleiro, e, portanto, da liderança daqueles membros, jovens e adultos, que passaram pelas
fileiras na Ordem DeMolay. No entanto, o mundo testemunhava o maior conflito bélico da
história da humanidade. As armas mais letais, as maiores atrocidades, o maior número de
mortos. A bomba atômica destruindo a esperança no futuro e plantando o medo nos corações.

Diante desse cenário não era mais possível que a Cavalaria na DeMolay fosse apenas um
reconhecimento para aqueles que prosperaram na instituição ou em suas vidas profissionais.
Com o fim da Segunda Grande Guerra, o código de honra da cavalaria se mostrava
extremamente necessário para todos aqueles que pudessem ter contato com os seus preceitos
de nobreza.
Land, preocupado com aqueles jovens que experienciaram os horrores da guerra, escreveu
pessoalmente mais uma vez um Ritual que possibilitasse o acesso de todos os membros aos
altos ideais da Cavalaria. Com esta nova cerimônia, de 1946, Land criou os Priorados dos
Nobres Cavaleiros da “Ordem Sagrada dos Soldados Companheiros de Jacques DeMolay”.
Este novo Grau da Ordem DeMolay não era honorífico como os dois outros graus de
cavaleiro existentes. Constituía de um corpo de trabalho para manutenção do interesse pela
Organização pelos garotos mais velhos.

Se nos graus de Cavaleiros anteriores Land reconhecia a liderança e o espírito de Cavalaria


naqueles membros a quem ele podia confiar o futuro de sua obra. Neste novo grau, nosso
fundador convoca cada um de seus membros para uma rededicação às virtudes e, sobretudo,
para uma vida dedicada a uma liderança consagrada, forjada nos preceitos da Cavalaria. Não
temos anel e cordão neste grau, mas cada um recebe simbolicamente a espada, o manto e as
esporas douradas de um Cavaleiro.

Depois de compreender as verdadeiras intenções de Land, ficam muito claras algumas


questões não resolvidas na Ordem DeMolay, a exemplo de um problema simbólico que Land
precisaria resolver para construir Cavaleiros. Nós sabemos que a cavalaria medieval era
restrita aos nascidos em berço nobre. Ser um Sir Cavaleiro não era possível ou não era
facilmente acessado por plebeus, os cidadãos comuns daquela época. Portanto, para construir
seus cavaleiros Land precisaria trazê-los antes para o status de nobres. Para isso, no primeiro
grau da Ordem Demolay, ele fez um coroamento. Não é de se surpreender com essa solução,
pois é o mesmo artifício utilizado pela Maçonaria, no grau de Maçom de Real Arco, que
também coroa seus membros, os habilitando para as Ordens de Cavalaria nas Comanderias
Templárias.

Land entrega, na Iniciação, a Coroa da Juventude, ornada pelas sete jóias simbólicas
representando as sete virtudes cardeais da Ordem DeMolay. Manter o brilho dessas jóias é a
garantia do surgimento e manutenção do espírito de nobreza. A cerimônia de grau de
Cavaleiro nos informa que quando ajoelhamos pela primeira vez nos tornamos pajens na
Cavalaria. Naturalmente, se assim entendermos, quando ajoelhamos pela segunda vez para se
tornar um Demolay, nos tornamos escudeiros. Nessa condição de irmãos servidores da
Cavalaria, já éramos parte do sistema cavalheiresco de Land, sem nem mesmo sabermos. A
coroa e o manto, representado pela capa de oficial do Capítulo, são símbolos incondicionais
da nobreza necessária para sermos recebidos como Cavaleiros no futuro de nossa jornada
como Demolays.

Diante disso, foram apresentados os argumentos necessários para fomentar a teoria de que o
verdadeiro intuito de Frank Sherman Land era de forjar Cavaleiros. Land impunhou o
potencial da Cavalaria para a formação de jovens líderes, processo que começa desde a
iniciação na Ordem DeMolay. Portanto, a terminologia de “escola de virtudes” não é
suficiente para descrever os objetivos da Ordem. Existe a necessidade de enxergarmos, de
forma clara e consciente, todo o sistema de educação construída por Land, para que possamos
aplicar a verdadeira “escola de líderes” que sonhou nosso Fundador.

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