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Marcos S. Buckeridge, Marco Aurélio S. Tiné, Miguel José Minhoto e Denis Ubeda de Lima
FOTOSSÍNTESE
° processo respiratório ocorre em todas as células I
vivas dos vegetais, as quais possuem organelas espe~ t
energia solar + 6 COI + 12 H20 ~ CóH120ó + Oz ~ ciais, as mitocôndrias, que funcionam como usinas de I
6 COz + 12 HzO + energia química processamento e produção de compostos energéticos •
RESPIRAÇÃO (Fig. 7.1). Além de ser uma importante etapa na ge-
J
ração de energia, vários compostos intermediários da
Pode-se ver, pelo esquema mostrado, que os dois respiração podem ser desviados para vias de biossín-
I
processos, fotossíntese e respiração, são complemen- J
tares. ° metabolismo das plantas requer os dois pro~
tese, servindo de esqueletos carbônicos para polissa-
carídeos, ácidos nucléicos, aminoácidos e proteínas
cessos: para fazer fotossíntese, as plantas precisam e compostos do metabolismo secundário (Fig. 7.6). J
I
••
..
'
L
~
,.;...;.,
.. - ..
-"
:~~'
-,,/.
ResPiração 199
Lipídios Glicose
Balanço com valores
.~ aproximados de produção de
ATP na respiração
~] Citossol Glicólise 2 68
Rendimento
Etapa
2 ATPs Total do citossol
---- ---.----
2NADH+W
~ e-.t
i
'"
u:'"
~"í [;U,:'A""til..4
c»
"O
o Mitocôndria
Cl.
c»
-~ 8NADH+W CTE
CTE
CAT 2 2 2430
38
~ Oxalac€lato Total
Citrato
Total .~ ~
da organela
da respiração ----~~_._--
~ '"
2 2ATP
FADH2
;
U~4
~
.~~
2;-
)::: ::
'..i':;:'
z~ ~
CTE = Cadeia de Transporte de Elétrons
CA T = Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos
Glicose
HO-CH
hH
H~ OH~H
Pi-O-CH ~ ..3 2
\
OH
t,-ATP
~ADP
\
/ /" ."
. OH Glicose 6-P
HO OH
~/L.--{)\H
OH 1~
Frutr::~
~ADP
Frutose 1,6-bisfosfato
1~
Gliceraldeido 3-P + Diidroxiacetona fosfato
o
Pi-O-CH =CH-C /
1 I
OH
H
NAD
l~Pi NADH+W
Pi-o-CH,-CH-C ~
I O-Pi
o
OH
1,3-biSfO~g~~:rato
~ATP o
2x 3-fosfogIicerato Pi-O-CH,-CH-C /
I
OH
'0-
1~ /0 Fermentação
HO-CH-CH-C
'I ' o
? o- H,C=CH-C'
Pi I 'o-
OH
24osfjf:.:to HC=C-C /0 Lactato
Fosfoenolpiruvato , I 'o-
?Pi
t,-AOP
~ATP
Piruvato H,C-C-C'O
o
Il 'o-
~ H,c=r
CO,
Etanol
Fig. 7.3 Via glicolítica da respiração em plantas. Ao lado dos nomes dos compostos, são apresentadas suas respectivas
fórmulas. Note que essa via consiste em fragmentar a glicose de modo a produzir compostos de 3 carbonos; no final, o
piruvato que entra na mitocôndria servirá de substrato para o ciclo de Krebs. Na falta de oxigênio, o piruvato pode ser
reduzido a lactato ou então descarboxilado, produzindo etanolj esse processo é chamado de fermentação.
r
••
202 ResPiração
citossólica) pode representar uma importante fonte glicólise. Isso porque este é o último composto for-
de energia em algumas situações (Tabela 7.1). mado no citoplasma e que será exportado para a mi-
tocôndria.
No ciclo dos ácidos tricarboxílicos (CA T), o
Ciclo dos ácidos tricarboxílicos (CAT)
ou ciclo de Krebs metabolizado. °
piruvato é importado pela mitocôndria, na qual é
CA T ocorre na matriz mitocondri-
Note que, na divisão artificial do processo respira- aI, e, nele, o ácido orgânico é oxidado completamente
tório, coloca-se o piruvato como o composto final da a CO2 (Fig. 7.4). Após sua importação, o piruvato
o
1I
H,C-C-SCoA
c;;ur
acetil-CoA
CoA
COo·
coa' I
I CH,
o=c I
I HO-C-COO·
CH,
I
CH,
I -
piruvato coo·
citrato , ~Hh-OHcoo·
NAOH+W I
HC-COO·
I
CH,
coo· I
I Coa'
c~o
I isocitrato
CH,
I .
coa·
oxalacetato
»>
COO'
HO-CH
iNAO'
~NAOH+W
COO'
I
I
CH,
I
c-o
I
fH,
CH
! '
COO·
t;;
~
I .
coa' a-cetoglutarato
NAO'
I
malato~coo'
HO
CH, co~ NAOH+H'
11'
, CH,
O,C /S-CcA CO.
I I
coo· CH.
I •
coa· CoA CH.
I I .
CM,
Coa·
I -
fumaratoFAO~2
~ \~ ~ succinil-CoA
FAO
fH, AOP+PI
coo·
succinato ATP
Fig. 7.4 Ciclo dos ácidos tricarboxílicos (ou ciclo de Krebs), importante para a produção de compostos redutores que
irão atuar na cadeia de transporte de elétrons e também na produção de esqueletos de carbono para a síntese de diversos
compostos celulares. O ciclo tem início com o piruvato produzido pela glicólise, e as reações subseqüentes ocorrem na
matriz mitocondrial (ver Fig. 7.5A). Os carbonos em vermelho são provenientes do acetil-CoA .
•
ResPiração 203
sofre uma descarboxilação (perda de COz)' gerando do indolil-3-acético (AIA), fitormônio com papel
um radical acetilligado à coenzima A (acetil-CoA). proeminente no desenvolvimento das plantas (ver
Esse composto, que possui dois carbonos, une-se a Capo 8, Auxinas).
uma molécula de oxaloacetato (de quatro carbonos), No que concerne à função energética do CA T, é
formando citrato (seis carbonos). Ao passar pelo importante salientar que alguns aspectos morfológi-
I CA T, dois carbonos são perdidos na forma de CO2,
regenerando novamente o oxaloacetato e, assim, fe-
cos das mitocôndrias são essenciais para entender sua
participação e seu acoplamento com o processo de
chando o CA T. Dessa forma, grande parte da ener- transporte de elétrons, que é o passo final que irá pro-
sendo as duas últimas reduzidas, no processo, a A mitocôndria possui duas membranas (Fig. 7.5),
NADH+H+ e FADHz' respectivamente (Fig. 7.3). o que possibilita a existência de um compartimento
O CA T tem pelo menos duas funções importan- entre elas, para onde os pró tons são bombeados, e
tes na célula. A primeira é produzir energia e/ou com- isso, como veremos adiante, é essencial para a pro-
•
204 Respiração
A B
H'
,"
"
'+. tU, .Uto" l
'~j' ; I',t'
•.., I,O,+2lf' "
...
:::. I?l
H,O
Fig. 7.5 Cadeia de transporte de elétrons (B). Os compostos redutores produzidos nos outros passos da respiração (glicólise
e ciclo de Krebs) são utilizados por complexos protéicos que transferem os elétrons até a redução do oxigênio e a forma-
ção de água. Esse processo ocorre na membrana interna da mitocôndria (A). Em plantas, há uma via alternativa (AOX)
na qual a transferência de elétrons e a redução do oxigênio podem ser feitas diretamente, sem a passagem por dois dos
complexos e com conseqüente produção de calor (B).
•
Respiração 205
•
206 ResPiração
II /
-
Ácidos lmportaça~
sacarose
Nucléicos
ATP
ADP
NAD II
NADP NnclJtídeos
CoA
Citocininas Via das glucose 6-P ~
pentoses • II ~D;;d"'xi"'t.nn P
~gll""nldeíd. 3-P II
Alcalóides
Flavonóides II glicerolfosfato
Ligninal -,.--
AIAI
ehíqu.m".
áci?o. II
+--- fosfoenolpiruvato II
.
Protemas ~
~ 1 ~ ~Pí'"lr~~A ~
~C02~ Lipídios
r i,.eT·to Proteínas
t \ "- .A,ut.,,\
J~~ 1l
CO, aminoácidos
Cloromas,/
Fitocromo
Fig. 7.6 Relações entre o processo respiratório e outras vias do metabolismo de carbono nos vegetais. Note que as prin-
cipais substâncias do metabolismo estão ligadas, direta ou indiretamente, ao metabolismo respiratório. Todos esses com-
postos têm que ser produzidos em maior ou menor intensidade durante o dia-a-dia da planta. Assim, em cada célula da
planta, o fluxo pode ser aumentado ou diminuído conforme a necessidade. Esse equilíbrio, que é dinâmico, faz parte da
homeostase da planta como um todo.
o fluxo respiratório varia com o estado das as células e que, portanto, a distribuição dos pro-
fisiológico da célula dutos da glicólise, CATe transporte de elétrons
(produtos intermediários, energia em forma de A TP
Pelo que foi visto até agora, as diferentes fases da e calor) sejam também constantes. No entanto, o
respiração podem dar uma idéia de que o fluxo do processo como um todo é extremamente dinâmico
carbono e energia no processo seja constante em to- e interligado por diversas vias, de forma que, depen-
ResPiração 207
dendo da função da célula em determinado órgão, das hexoses, cuja entrada no sistema ocorre por meio
alguns produtos podem se apresentar em maior da fotossíntese, mobilização de reservas e pelo uso
quantidade em um dado momento. A Fig. 7.7 mos' da energia contida na hexose para possibilitar a
tra o processo como um todo e suas principais in, manutenção e crescimento dos tecidos vegetais.
I! terligaçães. Nela é salientado o papel fundamental Assim, em determinado órgão, pode estar ocorren,
Importação
Reservas
ENERGIA-+
HEXOSES
lI:
+
==
i:l
z'<
Lactato // lJ?ermentaç~()M
Etanol '" J (Via anaeróbica)
Lipídios
Ci~lo'do ác~do~, Esqueleto de
tncarboxíhco L-, >' Carbono
(reduçã()de NAD) .
k':
membrana interna)
(oxidação d....
e NAD na 1 Compostos secundários
! , (via ATP~se) ",,- (ATP)
~ '> Fluxo de eletr?ns r:::l~ >ENERGIA
/ a favor do gradiente / (calor)
Fig. 7.7 A figura ressalta as relações entre a respiração e a fotossíntese, por um lado, e os eventos ligados à manutenção
e crescimento, por outro. Embora o carbono entre na planta exclusivamente através da fotossíntese, nem todos os teci-
dos são fotossintéticos. Por isso, há a necessidade de acúmulo de reserva e de mecanismos de transporte (importação)
que possibilitem a respiração em tecidos não-fotossintéticos, fazendo com que haja um fluxo contínuo de hexoses no
sistema respiratório em toda a planta. Tal continuidade é crucial para a respiração de manutenção, que é vital para a
manutenção e funcionamento celular .
•
-
208 Respiração
•
-
210 ResPiração
Flores e frutos
a apresentar taxa respiratória mais baixa. No proces- mo celular é reativado. Essa reativação metabólica
so de amadurecimento de certos frutos ocorre um provoca uma série de mudanças fisiológicas (ver
aumento rápido e intenso da taxa respiratória chama- Capo 17, Germinação). Uma das conseqüências é o
do de dimatério. Nos frutos climatéricos (abacate, aumento da taxa respiratória, associado à necessi-
maçã, banana, entre outros) ocorre a produção de dade da utilização das reservas energéticas existen-
etileno (outro hormônio vegetal), acelerando o ama- tes no endosperma ou nos cotilédones. Nesse perío-
durecimento (hidrólise de amido, síntese de pigmen- do, há a hidrólise de óleos por l3-oxidação, produ-
tos etc.) e senescência. Tratamentos com etileno ção de açúcares, fitormônios e diversas enzimas hi-
aceleram o amadurecimento de frutos climatéricos, drolíticas (proteases, l3-galactosidases, a-amilases,
sendo esse procedimento comumente utilizado para l3-glucanases, nucleases etc.). Como conseqüência,
fins cOmerciais. Outros frutos não apresentam o amido ou outros polissacarídeos de reserva, proteí-
climatério e, mesmo adicionando-se etileno, não nas e aminoácidos são utilizados-em parte na respi-
ocorre tal fenômeno. Isso pode ser observado em la- ração, cuja taxa elevada deve-se ao crescimento do
ranja, abacaxi, uva etc. eixo embrionário.
° efeito da temperatura sobre a taxa respiratória Para que o processo respiratório ocorra, há a ne-
cessidade de 0z disponível no solo, já que a grande
dos frutos também pode ser facilmente observado, isto
é, baixas temperaturas retardam a senescência dos maioria das sementes germina em boas condições
frutos, fazendo com que a taxa respiratória se mante- aeróbicas. Durante a germinação, as sementes utili-
nha baixa. Por outro lado, temperaturas elevadas, zam, como fonte inicial de carbono na respiração, a
principalmente à noite, aumentam a taxa respirató- sacarose e oligossacarídeos da série rafinósica (feijão,
ria e aceleram o amadurecimento de frutos. Baixas lentilha e ervilha). Estes já se encontram estocados
concentrações de 0Z' sob redução da temperatura quando da maturação da semente e são degradados
ambiente, podem estimular a respiração anaeróbica, rapidamente à medida que a taxa respiratória aumen-
mais precisamente a fermentação, enquanto altas ta. A vantagem para as sementes em armazenar esses
concentrações de COz inibem a produção de etileno compostos é o acesso rápido, uma vez que são solú-
pelo fruto, retardando o amadurecimento. Na esto- veis e estão presentes no citoplasma e disponíveis para
cagem de frutos (pós-colheita), combina-se a redu- uso imediato. Com isso, logo após a embebição, a se-
ção da temperatura e de 0z com um aumento na con- mente perde massa, libera COz' produzindo a ener-
centração de COZo Os três fatores, atuando juntos, gia necessária para o desenvolvimento inicial da nova
mantêm as taxas respiratórias do fruto em níveis su- planta. Essa reserva inicial é crucial para a germina-
ficientemente baixos, retardando assim o amadure- ção e, dependendo da estratégia de estabelecimento
cimento. Sob condições favoráveis de armazenamen- da plãntula, os cotilédones podem ainda possuir gran-
to, frutos como maçã, colhidos em março-abril (no des quantidades de reservas de carbono (jatobá) que
Brasil), podem manter suas propriedades inalteradas serão utilizadas também na produção de energia pela
por até um ano. via respiratória.
A classificação dos frutos em climatéricos e não- Alguns tipos de sementes germinam com pouco
climatéricos não é rígida, pois muitos frutos apresen- oxigênio ou mesmo na ausência de oxigênio dispo-
nível, como é caso do chamado arroz de várzeas, onde
tam liberação irregular de COz' como, por exemplo,
a jaca (Artocarpus integrifolia) e o jambo (Eugenia as condições de germinação são praticamente anae-
malecensis) . róbicas e a obtenção de energia se dá através do pro-
cesso de anaerobiose (fermentação). Sementes de
plantas de manguezais utilizam também a fermenta-
Sementes
ção para a germinação, sendo esse processo anaeró-
Durante o processo de germinação, com o aumen- bico a única alternativa para essas sementes libera-
to da entrada de água por embebição, o metabolis- rem H+ dos NADH + H+ acumulados.
212 ResPiração
"
,•
muito intensas nas taxas respiratórias possam ser
minimizadas. Nesse caso, a reserva pode ser conside- QR= 6C02
)
rada de curto prazo, pois o processo inteiro leva um
60=1,0
2
~
1:.
único dia.
Quando o substrato degradado possui um número de
Há outras formas de armazenamento de reserva por átomos de oxigênio inferior ao número de átomos de
um prazo mais longo para o processo respiratório re- carbono, o resultado do QR será um valor menor do que
1,0, como ocorre no caso de uso de lipídios ou proteínas .~
lacionado ao desenvolvimento da planta como um
todo ou de parte dela. Assim, por exemplo, em semen-
na respiração. Como exemplo, temos o ácido esteárico:
:.••
tes que armazenam grandes quantidades de amido,
polissacarídeos de reserva de parede celular ou lipí- .~
.t
18C02 =0,69
dios, tais compostos são degradados após a germina- QR= 2602
r'-
fi
,
ção e, devido ao fato de seus produtos de degradação
Quando o QR é maior do que 1,0, há indicação de que
gerarem compostos distintos (sacarose no caso de o substrato ou é rico em oxigênio (ácido oxálico - 2
carboidratos, aminoácidos no caso das proteínas e C2H204 - QR = 4,0), ou está ocorrendo respiração
acetil-CoA no caso dos lipídios), a existência de res- anaeróbica, já que, em anaerobiose, o consumo de
t
ia
ResPiração 213
ção podem perder a parte aérea durante o inverno, para as células. Durante as horas de exposição à luz,
quando há baixa disponibilidade de água no cerrado. tecidos fotossintéticos produzem 02 e, ao mesmo tem-
Na primavera, ocorre a degradação do polissacarídeo, po, consomem parte dele na respiração. À noite, não
produzindo frutos e livre que acaba sendo metaboli- há produção de 02' mas este é difundido no interior
zada a sacarose, a qual é transportada para os órgãos da planta através dos espaços intercelulares. Mesmo
em crescimento que utilizam os açúcares no processo com os estômatos fechados, o 02 difunde-se para o
respiratório, com taxas mais elevadas devido ao pro- interior do vegetal através da cutícula, que não é to-
cesso de desenvolvimento em curso. talmente impermeável ao gás, cuja resistência à en-
trada é compensada pela concentração na atmosfera
t
•
(
•
214 Respiração
do ao aumento da atividade enzimática. Abaixo de Pesquisas têm mostrado que as oscilações na taxa
soC, há uma diminuição drástica da taxa respirató- respiratória de determinado órgão podem estar rela-
cionadas com a quantidade, bem como com o tipo de
ria, enquanto, ao redor de 30°C, ocorre um aumento
considerável, porém não tão rápido como na faixa de substrato disponível para a respiração. ° quociente
S-2SoGTal resultado é interpretado como decorrên- respiratório (razão entre COzliberado e 0z consumi-
cia do fato de o 0z não se difundir com eficiência do - ver Tabela 7.3) pode ser um bom indicador do
nessa temperatura. Temperaturas iguais ou superio- tipo de substrato predominantemente utilizado. A
res a 40°C diminuem a eficiência da respiração devi- variação da disponibilidade de substrato é uma das
do ao comprometimento ou danos à maquinaria en- vias para entender a maneira pela qual a respiração
zimática ou em conseqüência do rompimento das responde à demanda de energia metabólica (utiliza-
membranas de organelas. ção de A TP). No entanto, ainda não se sabe ao certo
se a oscilação da respiração de dado órgão é causa
ou conseqüência da oscilação paralela da disponi-
Ferimentos e lesões
bilidade de substratos presentes. Obviamente, exis-
Qualquer dano mecânico ou ataque de microorga- tem muitas situações nas quais certos compostos pro-
nismos sofrido por uma planta gera um aumento da duzidos como agentes de proteção contra organis-
sua taxa respiratória. Esse aumento pode ser devido à mos externos, por exemplo, são também inibidores
atividade do meristema de cicatrização ou à produ- ou desacopladores da cadeia de transporte de elétron
ção de substâncias de defesa da planta, uma vez que e, portanto, afetam indiretamente a respiração do te-
o tecido terá que produzir substâncias do metabolis- cido.
mo secundário relacionadas à defesa e também sin- Quando se pensa em controle da respiração, as
tetizar macromoléculas relacionadas à construção dos idéias de demanda de energia, disponibilidade de subs-
novos tecidos durante a cicatrização. Os mecanismos trato e taxa respiratória se sobrepõem. Sob baixos
de comunicação interna que levam à resposta dos níveis de substrato (carboidratos e ácidos orgânicos),
tecidos à injúria envolvem uma reação inicial de hi- a atividade respiratória pode estar limitada por esse
persensibilidade, seguida pela produção de substân- déficit. Quando os níveis de substrato aumentam, a
cias que irão alterar o metabolismo dos tecidos adja- respiração pode exceder a demanda por energia me-
centes (hormônios, por exemplo) e, conseqüente- tabólica. Nessas condições, a atividade da rota alter-
mente, aspectos quantitativos e qualitativos do pro- nativa do metabolismo respiratório (cianeto-resisten-
cesso respiratório. te) é aumentada. Como visto anteriormente, essa via
alternativa permite a oxidação dos substratos, redu-
ção dos agentes redutores (NAD[P]H, FADHz) sem,
RESPIRAÇÃO NA PLANTA
no entanto, produzir grandes quantidades de A TP.
INTEIRA
Considerando a planta como um todo, a taxa de
As alterações no metabolismo respiratório de uma respiração depende de três processos principais que
planta podem ocorrer diariamente (sob condições de requerem energia: manutenção da biomassa, cresci-
estresse de temperatura, umidade, luminosidade, ata- mento e transporte de íons (Fig. 7.7). Estima-se que
que de patógenos, entre outros), ao longo de sua o custo para a respiração de manutenção seja de 20 a
ontogenia (germinação, florescimento, frutificação) 60% dos fotoassimilados produzidos por dia, sendo a
ou sazonalmente (mudanças de estações). Tais mu- maior parte dessa energia direcionada para a renova-
danças na taxa respiratória podem ser observadas na ção de proteínas e para manutenção do gradiente de
planta como um todo, mas principalmente nos órgãos íons através da membrana. A respiração de crescimen-
mais expostos às variações, como no sistema radicu- to está relacionada com os processos biossintéticos
lar em condições de solo alagado, folhas atacadas por (produção de biomassa). Esse tipo de respiração re-
fungos ou frutos durante o climatério. quer grande consumo de carboidratos para gerar ener-
ResPiração 215