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História da China
Docente:
Professor João Paulo Oliveira e Costa
Discente:
Joana Clara Freire Ribeiro, n.º 2020118128
1
Cena retirada das ilustrações do Xiaojing ou Livro da Piedade Filial retratando um filho ajoelhando-se
diante dos pais. Da autoria de artistas desconhecidos da dinastia Song. Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Filial_piety#/media/File:The_Classic_of_Filial_Piety_(%E5%A3%AB
%E7%AB%A0_%E7%95%AB).jpg, consultado em 16/10/2022 às 17h18.
1
Índice
1. Introdução…………………………………………….……página 3
2. A vida doméstica e familiar no Confucionismo……...…..página 3
2.1. As formas da importância da família no
Confucionismo…………………………………….…………....página 3
2.2. A importância da família e da piedade filial para a ordem
sociopolítica……………………………………….…………….página 4
2.3. A veneração dos antepassados…………………….…………...página
6
3. Conclusão……………………………………………….…..página
7
4. Bibliografia…………………………………………………página 7
2
1. Introdução
Com este breve ensaio, pretendemos reflectir acerca dos significados que a vida
doméstica e a harmonia familiar revestem no Confucionismo, uma corrente de
pensamento que tem influenciado e estruturado de forma fundamental a sociedade
chinesa desde os seus primórdios até aos dias actuais em áreas que vão desde as práticas
profissionais e negociais até aos parâmetros educacionais e familiares. O
Confucionismo, uma das três vias (San-chiao) juntamente com o Taoísmo e o Budismo,
assenta não só nos Quatro Livros (O Analecto, A doutrina do Meio, O Grande Estudo e
Mêncio) como também nos Cinco Clássicos (os Livros da Mudança, da História, da
Poesia, dos Ritos e os Anais do Outono-Primavera) que contêm os seus ensinamentos.
A vida de Confúcio (também conhecido por mestre K’ung Fu-tzu ou Mestre K’ung)
regula a ética e os ritos de passagem (como nascer, casar e morrer) e procura criar e
praticar a ordem, a harmonia e o respeito mútuo (equilibrando as forças contrárias do
yin e yang em família e em sociedade). É essencial o respeito pelos mestres e pela
tradição repetitiva, sendo o Confucionismo um sistema assente numa certa inércia
intelectual que inclusivamente poderá ter contribuído a seu modo para a estagnação
milenar da sociedade chinesa. O Confucionismo não realça Deus e a revelação, mas
ensina a viver da melhor forma que Confúcio julgava ser possível 2, com uma espécie de
humanismo permeável a um agente ou princípio de ordem moral insistindo na
observância das relações correctas entre governante e governado, esposo e esposa, pai e
filho, na piedade filial e no encorajamento do respeito pelos antepassados através de
sacrifícios rituais.
2
CHIN, Annping, The Authentic Confucius: a life of thought and politics, p. I.
3
no seio da própria família, nomeadamente amando e respeitando e sendo igualmente
amado e respeitado.3
Existe ainda uma outra forma pela qual a família é de grande importância no
Confucionismo. Esta tem sido bastante discutida, nomeadamente quanto aos seus efeitos
sociais. Trata-se da doutrina do chamado “cuidado/amor diferenciado” de acordo com a
qual se possuem obrigações morais mais fortes relativamente àqueles que nos são mais
próximos, porque pertencem à mesma comunidade, porque temos com eles laços de
amizade ou sobretudo porque pertencem à nossa família. 4 Conforme já mencionámos,
esta ideia nuclear do Confucionismo tem sido criticada dentro e fora da China por
aqueles que acusam o Confucionismo de promover o favoritismo e o nepotismo,
afirmando ser preferível uma visão do outro fundada no respeito enquanto ser humano
independentemente de quaisquer relações de amizade ou familiares que possam existir. 5
Mas por outro lado, em favor desta posição do Confucionismo, podemos notar que na
China antiga as altas hierarquias eram posições hereditárias, e portanto faz sentido
privilegiar uma visão do mundo que encorajasse o respeito, amor e cuidado familiares,
até como forma de evitar rivalidades, conflictos e crispações entre membros da mesma
família governante.6 Existem ainda outros argumentos que justificam esta ideia de
Confúcio. De facto, experimentar-se afeição e cuidado especiais pelos familiares não
significa necessariamente sentir-se desprezo ou hostilidade em relação a outros seres
humanos, para além de que o Confucionismo se preocupa em ver o ser humano como
ele é na realidade e não como aquilo que seria desejável que ele fosse idealmente. Ou
seja, para Confúcio seria irrealista esperar dos seres humanos uma imparcialidade
constante e total que não tem possibilidades de existir na prática.7
3
NORDEN, Bryan, Introduction to Classical Chinese Philosophy, pp. 24-25.
4
Ibidem.
5
Ibidem.
6
Ibidem.
7
Ibidem.
4
sociopolítica estável, pacífica e equilibrada. Segundo Confúcio, os filhos devem apoiar
os pais em todas as circunstâncias, atender aos seus desejos e garantir o seu bem-estar,
sendo que os pais devem proceder do mesmo modo relativamente aos filhos. Ou seja,
cumpre o dever de piedade filial aquele filho que providencia aos pais comida e abrigo e
age para com eles de forma gentil. 8 Apontava-se a existência de três níveis de piedade
filial. No nível mais elevado, glorificam-se e honram-se os pais através do cultivo da
moralidade e do serviço ao povo e ao estado; o segundo nível consiste em evitar que os
fracassos pessoais tragam desgraça para os pais; e o terceiro nível prescreve o dever de
se tratar os pais com decência e com reverência. 9 É esta a essência do conceito de
piedade filial no Confucionismo. De facto, na China Imperial anterior a 1911 esperava-
se que os filhos servissem e obedecessem aos pais acima de tudo. Esta obrigação de
piedade filial reveste-se de uma intensidade tal que para Confúcio ela não cessa com a
morte dos pais, pois mesmo depois os filhos devem continuar a comportar-se segundo
os desejos parentais e de modo a assegurar a honra e o bom nome da família. 10 E a
postura virtuosa e obediente dos filhos não pode ser apenas uma mera exterioridade
porque nos textos do Confucionismo é declarado algo que se aplica com particular
veemência à questão da piedade filial: a importância extrema do sentimento por detrás
da forma.11 Ou seja, o comportamento e atitude filial devem ser a expressão de um
sentimento intrínseco e autêntico.
8
YAO, Xinzhong, An introduction to Confucianism, pp. 203.
9
Ibidem.
10
GARDNER, Daniel, Confucianism: a very short introduction, pp. 30-32.
11
Ibidem.
12
Ibidem.
5
eventualmente o indivíduo dá mostras de não a possuir entende-se que essa falha e essa
desonra pertence à família que, devido a esse fracasso, produziu um filho (e,
consequentemente, um súbdito) desobediente e desrespeitoso cujas acções prejudicam a
sociedade e a ordem sociopolítica no seu todo.13
3. Conclusão
Os valores tradicionais chineses da harmonia e da ordem estão perfeitamente
representados no Confucionismo. A harmonia da família é o ideal confucionista chinês
tendo valor em si mesmo e como indicador da harmonia no estado e no cosmos. A
família a viver num só local constitui o núcleo dos ideais confucionistas. Tal sucede
porque crescendo num ambiente virtuoso e mostrando o devido respeito pelos pais,
família e antepassados, o indivíduo é educado para ser um cidadão honrado elevando a
harmonia do estado e, consequentemente, do cosmos. No Confucionismo, o respeito
pelos pais e a demonstração da piedade filial são pontos de partida para reflexões éticas
e constituem a base prática para a evolução de uma sociedade organizada e harmoniosa
porque, para Confúcio, um bom governo começava pela obediência e piedade filiais.
4. Bibliografia
CHIN, Annping, The Authentic Confucius: a life of thought and politics, 1st
edition, New York: Scribner, 2007.
GARDNER, Daniel, Confucianism: a very short introduction, 1st edition,
Oxford: Oxford University Press, 2014.
NORDEN, Bryan, Introduction to Classical Chinese Philosophy, 1st edition,
Indianapolis: Hackett Publishing Company, 2011.
YAO, Xinzhong, An introduction to Confucianism, 1st edition, Cambridge:
Cambridge University Press, 2011.
18
Ibidem.
7