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A Escola de Qualidade para Todos:

Abrindo as Camadas da Cebola1


Candido Alberto Gomes

RESUMO escola. Democratização da educação. Pro-


fessores. Sociedade dos adolescentes. Cli-
A pesquisa educacional apresenta hoje
ma escolar. Gestão escolar.
abundantes constatações sobre como cons-
truir uma escola de qualidade para todos.
Este trabalho se concentra em aspectos sele- ABSTRACT
cionados das diferenças entre escolas e den- Qualified school for
tro das escolas, com base na literatura naci-
onal e internacional, embora mencionando all: opening the peels
a importância das origens sociais dos alu- of the onion.
nos, gestão educacional, ava- Educational research
liação e trajetórias curricula- presents numerous findings
res. A estrutura peculiar dos Candido Alberto Gomes today on how to build a
sistemas educacionais se as- Doutor em Educação, qualified school for all. This
semelha a uma cebola, com Universidade da Califórnia, paper recognizes the
sucessivas camadas que influ- Los Angeles Consultor da
importance of the social
enciam a aprendizagem. As- UNESCO
origins of the students,
sim, se destacam despesas, Professor Titular da Universidade
educational management,
instalações, tempo letivo, pro- Católica de Brasília
evaluation, curricular
fessores, clima e gestão esco- clgomes@terra.com.br
organization etc. However,
lares, efeitos dos colegas, alo- if focuses on selected
cação da matrícula e do espaço, ações que features related to the differences among and
contribuem para a efetividade na sala de aula within schools, on the basis of the national and
e a formação de turmas. Portanto, é possível international literature. Considering that the
atuar sobre os fatores intra-escolares, no seu peculiar structure of the educational systems is
âmbito de influência, que têm papel mais similar to an onion, with its successive peels,
amplo nos países em desenvolvimento. this work analyses factors affecting learning, such
Palavras-chave: Sociologia da educação. as expenditure, facilities and equipment, time,
Economia da educação. Sociologia da teachers, school climate and management, peer

1
O tema deste artigo será tratado com maior profundidade no livro do autor, A educação em novas perspectivas sociológicas
(4. ed. rev. e ampl. São Paulo: EPU, no prelo).

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 281-306, jul./set. 2005
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effects, enrollment procedures, space Palabras clave: Sociología de la educación.


management, student grouping, and other Economía de la educación. Sociología de la
factors that affect effectively in the classroom. escuela. Democratización de la educación.
Therefore, it is possible to shape such a school, Magisterio. Sociedade de los adolescentes.
particularly in developing countries, where its Clima escolar. Gestión escolar.
impact is stronger than in developed countries.
Keywords: Sociology of education. Economics Um dos maiores desafios da história da
of education. Sociology of the school. Educati- educação é organizar uma escola que seja,
onal democratization. Teachers. Adolescent ao mesmo tempo, de qualidade e demo-
society. School climate. School management. crática, isto é, que não ofereça aos pobres
uma escolaridade pobre, mas que efetiva-
RESUMEN mente consiga que os alunos, mesmo soci-
almente desprivilegiados, aprendam. Mui-
La escuela de calidad to se pode extrair da literatura internacio-
para todos: abriendo las nal sobre o que fazer e não fazer aos níveis
dos sistemas educacionais e das escolas.
cáscaras de la cebolla. Evidentemente, é preciso considerar primeiro
La investigación educativa presenta as origens sociais dos alunos. O peso das
hoy una gran cantidad de resultados variáveis envolvidas é muito expressivo,
capaces de orientar la construcción de embora a escola, sobretudo nos países em
una escuela de calidad para todos. Este desenvolvimento, tenha maior área de ação
trabajo hace la reseña de factores e não possa se omitir.
seleccionados de las diferencias entre las
escuelas y en el interior de ellas, según Além das origens sociais dos alunos, exis-
la literatura nacional y internacional. tem características macro-educacionais pon-
Aunque reconozca la importancia de los deráveis que condicionam a qualidade e o
orígenes sociales de los estudiantes, de grau de democratização das escolas. Neste
la gestión de los sistemas educativos, de nível temos as características da gestão, como
la evaluación y de las diferentes o grau de centralização ou descentralização
trayectorias curriculares, este trabajo incidente sobre cada comportamento dos ato-
considera la estructura particular de los res; o modo como está organizada a avalia-
sistemas, semejante a una cebolla, con ção do sistema, destacando-se como os resul-
sus successivas cáscaras y sus relaciones tados são divulgados (por exemplo, ao públi-
con el aprendizaje. De este modo, co e por escola ou não) e como são trabalha-
destaca los gastos, instalaciones y dos; o financiamento público ou privado, o
recursos, tiempo, magistério, clima y papel de cada um deles e a criação de meca-
gestión de las escuelas, efectos de los nismos de mercado no setor público; as traje-
compañeros, administración de la tórias curriculares, em especial se os alunos
matrícula y de las relaciones espaciales são classificados mais ou menos tarde e dire-
y agrupamiento de secciones. Así, es cionados para ramos mais ou menos prestigi-
posible actuar sobre los factores internos osos, como a educação profissional ou aca-
de la escuela, que tiene un rol más dêmica; a organização em séries ou em ci-
influyente en los países en desarrollo. clos, com diferentes possibilidades de avanço.

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A estrutura da escola e do sistema edu- foi encontrado um efeito de 5% na variân-


cacional foi por muito tempo comparada a cia do rendimento discente em matemática
uma caixa preta, que processava insumos e após quatro anos no collège (educação
oferecia resultados à sociedade. Este mode- secundária inferior) e de 3% em francês.
lo mais simples parece hoje incapaz de re- No entanto, estas são estimativas difíceis,
fletir a complexidade do real. Eles estão muito realizadas com freqüência por exclusão.
distantes de uma empresa, com estrutura Segundo outro cálculo, o efeito escolar cor-
piramidal, onde as ordens passam de esca- respondia de 3 a 17% da variância dos
lão a escalão. Ao contrário, os fatos se su- resultados dos alunos no início do ensino
cedem diferentemente, de tal modo que uma secundário superior na França (MEURET,
metáfora útil seria a da cebola. De fato, o 2000). Considerando o grande peso das
sistema educacional está dividido em cama- origens sociais dos discentes, estes núme-
das: primeiro, abrem-se as das diversas re- ros não são pequenos e ainda há que acres-
des, depois de órgãos gestores regionais e centar os efeitos das diferenças de trata-
locais; em seguida, as diferentes escolas e, mento das escolas, isto é, os denominados
nestas, as diversas turmas, com os seus va- efeitos turma e professor. Na América Lati-
riados professores e, por fim, os grupos de na o modelo de Casassus (2002) explicou,
alunos, com adesão maior ou menor aos no total, até mais de dois terços da variân-
objetivos da escola. Desta forma, orienta- cia do aproveitamento em linguagem e
ções e normas não passam com facilidade matemática. O índice de status sociocultu-
de uma para outra camada. ral explicou até 18,3% das diferenças entre
as escolas e quase 6% da variância dentro
Diferenças Entre das escolas. Em face destes resultados e
contrariando outras constatações, os efei-
as Escolas tos escola e turma foram maiores. As dife-
As avaliações internacionais têm eviden- renças dentro das escolas ficaram em tor-
ciado que as diferenças de rendimento dis- no de 8,0% e entre as escolas em cerca de
cente são com freqüência tão amplas entre 50,0% a 46,0%. Num Continente em de-
países quanto entre as escolas do mesmo senvolvimento, a escola tem um papel não
país. Como as variáveis intra-escolares só relevante, mas, por este modelo, além
podem contribuir não para aumentar, mas das expectativas.
para diminuir as disparidades de aprovei-
tamento, ao mesmo tempo em que aumen- Uma resenha seletiva das investigações,
tam a sua média? Para além das origens inclusive na América Latina, representa um
sociais, focalizadas antes, como a escola ponto de partida para a reflexão sobre o
pode melhor exercer o seu papel democra- chamado efeito escola e os fatores que o
tizador? Para além das origens sociais, fo- possibilitam. As pesquisas aqui incluídas são
calizadas antes, como a escola pode me- heterogêneas e correspondem a diversas
lhor exercer o seu papel democratizador? orientações. A metodologia quantitativa de
O chamado efeito escola é avaliado nos muitas delas, como as de Coleman e ou-
países anglo-saxões em cerca de 7% da tros (1966) e Castro e outros (1984), tra-
variância de nível dos alunos na sua lín- tando em termos simplificados, buscam
gua materna ou matemática. Na França verificar o impacto de vários preditores so-

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bre uma variável dependente, com maior metáfora, a da cebola. Depois de abrir as ca-
freqüência o aproveitamento discente me- madas mais amplas do sistema educacional, é
dido por testes padronizados. Com isso, é preciso estudar a casca da escola e, dentro dela,
possível verificar o impacto de cada predi- a camada da turma, do professor e do aluno,
tor, mantendo estáveis as demais variáveis em diferentes âmbitos, relacionando-se entre si.
incluídas (p. ex., o status socioeconômico), Para captar esta realidade dinâmica e fugidia,
bem como construir modelos que, reunin- os métodos qualitativos têm oferecido grandes
do um conjunto de preditores, é capaz de luzes, com vantagens e limitações. Na vertente
explicar um percentual mais ou menos alto dos métodos quantitativos, um grande avanço
das variações da variável dependente, no está nos modelos de análise multinível de influ-
caso, o rendimento dos alunos. Estas pers- ências dispostas hierarquicamente em um âm-
pectivas, como outras, em face da comple- bito ou nível dentro do outro (multilevel hierar-
xidade do real, recortam determinados seg- chically nested layer models) (RIORDAN, 2004).
mentos para focalizar, supondo a simplifi- Este é um tratamento estatístico que se aproxi-
cação de certas áreas da realidade. Isto ma da “cebola”, abrindo uma camada após a
ocorre não por ingenuidade, mas por in- outra e superando dificuldades da suposta vi-
contornável necessidade de fazer opções. são da “caixa preta”.
No caso, para facilitar a análise, supõe-se
que a escola seja uma “caixa preta”, com De modo geral, as evidências mostram
um funcionamento de certo modo mecâni- que as escolas efetivas podem contribuir
co, conforme a metáfora antes indicada. para que os alunos com vantagens socio-
Assim, calcula-se o impacto de livros didá- culturais e escolares as aumentem e os de-
ticos e laboratórios sobre a aprendizagem, mais reduzam as suas desvantagens (MOR-
mas não se consegue conhecer com maior TIMORE, 1997). É claro que isto implica a
precisão como tais recursos são usados e necessidade de mecanismos compensató-
se são usados efetivamente. rios, como melhor pré-escola, apoio ao
estudo fora da escola, ajuda financeira etc.
A sociologia das organizações tem dado Não se justifica, pois, um fatalismo peda-
uma contribuição importante, revelando a es- gógico. A escola sozinha não poderá com-
cola não como um tipo ideal de burocracia, pensar a sociedade, contudo, quando atin-
que funciona de modo estritamente racional, à ge a efetividade, pode contribuir, nos limi-
semelhança de um relógio, mas como organi- tes da sua faixa de atuação, para diminuir
zação flexivelmente articulada. Composta de as diferenças sociais. Então, que atributos
salas de aula que se relacionam com uma uni- são influentes para se constituir uma esco-
dade de atividades-meio (a administração), la democrática e de qualidade?
cada professor dispõe de relativa independên-
cia e invisibilidade na classe. Deste modo, de- Despesas por aluno
cisões tomadas num segmento não são aplica- O que dizer de uma escola cuja despesa
das automaticamente em outros (WEICK, 1976 por aluno é de 80 dólares anuais e outra de
apud COSTA, 1996). O mesmo vale para o 10 mil dólares anuais? A escola mais cara é
conjunto relativamente frouxo das secretarias de necessariamente melhor? As pesquisas se
educação, delegacias de ensino, escolas e sa- dividem quanto ao impacto das despesas
las de aula. Daí a necessidade de uma nova por aluno, umas apresentando relação sig-

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nificativa com o rendimento discente e ou- cação (MELLA et al., 2002) esclareceu que
tras não (FULLER, 1987; COHN; ROSSMIL- os estabelecimentos estudados não possu-
LER, 1987; HANUSHEK et al., 1994; SCHE- em grande quantidade de material didático,
ERENS; BOSKER, 1997; SCHEERENS, 2000; mas usavam o que tinham eficientemente.
WOESSMAN, 2004). Por outro lado, em ter- Segundo o SAEB, o livro didático em espe-
mos gerais, constata-se uma certa tendên- cial tem alcançado impacto digno de nota sobre
cia de, quanto mais alta a despesa por alu- o aproveitamento dos alunos (HARBISON;
no, ser melhor o desempenho em vários in- HANUSHEK, 1992). Pesquisa de Waiselfisz
dicadores educacionais (CEPAL; UNESCO, (2000d), com dados do SAEB-97 do Nor-
2004). Isto significa que não existe uma re- deste, revelou que os equipamentos e a in-
lação automática entre o aumento da des- fra-estrutura pedagógica da escola incidi-
pesa e o aumento do rendimento discente, am de forma positiva e significativa no apro-
exatamente porque a intermediação passa veitamento, especialmente na oitava série.
pelos processos dentro da escola. O fato de
haver mais dinheiro não significa que ele Tamanho da escola e da turma
seja aplicado apropriadamente, antes de- O tamanho da escola e da turma não
pende de disputas na alocação de recursos assumem nas pesquisas a importância que
para atender aos objetivos educacionais ra- têm no senso comum. Os resultados de uma
cionais (MARION; FLANIGAN, 2001). Por- escola ou turma menor não são necessari-
tanto, a lição que se pode extrair é que o amente melhores. No entanto, se conside-
incremento de recursos deve estar vincula- ramos que o clima escolar, a pessoalidade
do a procedimentos que contribuam para do tratamento, a afetividade e a ausência
melhorar a efetividade da educação. ou poucos episódios de violências são ca-
racterísticas de escolas de sucesso (COHN;
Instalações e recursos ROSSMILLER, 1987; SCHEERENS; BOSKER,
As instalações e recursos apresentam 1997; SCHEERENS, 2000; CASASSUS,
impacto relativamente pequeno ou mode- 2002; MELLA et al., 2002), os estabeleci-
rado, sendo mais importantes dentre eles os mentos maiores não são os mais recomen-
recursos (biblioteca, livros didáticos, textos, dados. Com efeito, Harling-Hammond
etc.) e a utilização deles (SCHIEFELBEIN; (1997) constatou que escolas pequenas, de
SIMMONS, 1980; CASTRO et al., 1984; 300 a 500 alunos, alcançam aproveitamen-
ROCHA, 1984; FULLER, 1987; COHN; to mais alto, maior assiduidade, menor eva-
ROSSMILLER, 1987; ARMITAGE et al., 1986; são e menos indisciplina, considerando,
COSTA, 1990; WOESSMAN, 2004). Segun- assim, o tamanho da escola como variável
do Casassus (2002), na América Latina os importante. Também em relação aos EUA,
materiais didáticos alcançaram maior impac- o aproveitamento é maior em escolas de
to em linguagem, especialmente a disponi- 600 a 900 alunos e que é mais eqüitativa-
bilidade de livros na biblioteca escolar, sen- mente distribuído nestas escolas menores.
do o umbral de mais de 1000 livros. A cor- Verifica-se também a tendência de as esco-
respondente pesquisa qualitativa de escolas las maiores apresentarem maior número de
com resultados expressivos em sete países, casos de violências (DEBARBIEUX, 2002;
realizada pelo Laboratório Latino-America- DEBARBIEUX; BLAYA, 2002), sendo mes-
no para Avaliação da Qualidade da Edu- mo consideradas criminógenas.

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Por sua vez, a ampla resenha de Rior- verificou que os efeitos sobre o rendimento
dan (2004) deixa claro que, indisputavel- são mínimos em turmas de 20 a 40 alunos,
mente, a escola primária deve ser peque- mas as melhoras relevantes só aparecem
na, havendo discussão quanto à secundá- em turmas de 15 alunos ou menos. Outra
ria. Há também fortes evidências de que, meta-análise encontrou resultados mais
em escolas secundárias menores, os alu- positivos para reduções da ordem de 27 a
nos estão mais satisfeitos, são mais respon- 16 alunos. Já um estudo comparativo in-
sáveis e participativos e alcançam maior terpaíses (Terceiro Estudo Internacional so-
aproveitamento. Nas unidades escolares bre Aproveitamento em Matemática e Ci-
menores é mais fácil fazer face às culturas ências – TIMSS) não encontrou provas do
da juventude e ao comportamento desvi- benefício de turmas menores (RIORDAN,
ante, tornar alunos e professores mais res- 2004). Mesmo para países desenvolvidos,
ponsáveis, assim como reduzir a burocrati- os custos correspondentes podem ser im-
zação, os altos custos de coordenação e praticáveis, porém eles serão pequenos no
problemas de informação. Entretanto, pa- caso da redução do tamanho das escolas,
rece que não se sabe precisamente como ainda mais com as convergências encon-
funciona o efeito desta variável, embora uma tradas na situação atual do conhecimento
pesquisa tenha concluído que o tamanho sobre o tema.
influencia o rendimento discente direta e
indiretamente por meio das atitudes dos pro- No caso do Nordeste brasileiro, traba-
fessores em relação aos seus alunos, no lhando com dados do SAEB-97, Waiselfisz
sentido de maior responsabilidade coleti- (2000a, 2000b) verificou que as escolas
va. Ainda assim, parte importante do efeito maiores eram as que apresentavam mais
direto do tamanho da escola sobre o apro- facilidades e serviços educacionais. Além
veitamento permanece inexplicada. disso, estes eram os estabelecimentos que
recebiam os alunos de status socioeconô-
Por sua vez, o tamanho da turma é alvo mico – SSE, mais alto. Como o aproveita-
de controvérsias. Na América Latina as mento discente estava relacionado a tais
pesquisas não encontram relação com o facilidades e serviços, as escolas maiores
rendimento ou produzem evidências pou- eram as que apresentavam maior profici-
co claras (CASTRO et al., 1984; COSTA, ência, mesmo controlando o SSE dos alu-
1990). Casassus (2002) verificou que tan- nos. A nosso ver, esta constatação reflete a
to turmas muito pequenas, como maiores elevada variabilidade de recursos educaci-
de 25 alunos no ensino primário, apresen- onais, típica dos países em desenvolvimen-
tavam menor rendimento. Porém, segundo to, ocultando outros fatores e efeitos que a
simulações, é alto o custo para aumentar literatura verifica em países desenvolvidos.
em cinco pontos os escores de uma turma
de 35 alunos. Na França, Barrère e Sembel Quanto ao tamanho da turma, Waisel-
(2002) afirmam que não parece haver re- fisz (2000c, 2000d) confirmou em linhas
lação entre as duas variáveis, tamanho da gerais a literatura internacional: não foram
turma e aproveitamento. As resenhas inter- encontradas evidências de que, quanto
nacionais encontram resultados divididos. menor a turma, maior o seu aproveitamen-
Contudo, uma meta-análise de pesquisas to. Ao contrário, até certo ponto, em torno

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de 40 ou 45 alunos, dependendo de deter- recordar aqui a suposição simplificadora da


minadas circunstâncias, quanto maior a escola como “caixa preta”, onde, injetados
turma, maior o aproveitamento, mesmo os insumos, se obteriam determinados resul-
desagregando os dados pela rede escolar tados. Esta relação, aparentemente linear, é
e pela localização do estabelecimento. intermediada por outras variáveis, como o
tempo atribuído ao ensino pelos professores,
Tempo letivo o tempo de envolvimento do aluno na apren-
A duração do tempo letivo e a sua exten- dizagem, o tempo de investimento dos alu-
são por meio dos deveres de casa apresen- nos nas tarefas escolares, o tempo ativo de
tam alta incidência de relações positivas e aprendizagem e o tempo consagrado à tare-
significativas com o rendimento nas resenhas fa. Além destes, são analisadas as relações
e pesquisas internacionais (SCHIEFELBEIN; entre o conteúdo ensinado, o tempo atribuí-
SIMMONS, 1980; CASTRO et al., 1984; do e o tempo investido na aprendizagem.
ROCHA, 1984; FULLER, 1987; COHN; ROS- Alcançar o nível ótimo nas relações entre es-
SMILLER, 1987). A jornada completa foi assi- tas variáveis implica formas mais eficazes de
nalada como fator de sucesso numa das ava- organização do ensino e aquelas formas que
liações do P-900 no Chile, ao passo que o o docente utiliza para suscitar relaciona-
tempo letivo em geral, no caso do Brasil, tem mentos, generalizações e debates sobre os
sido também destacado pelas pesquisas novos conhecimentos apresentados. Podem
(BRANDÃO; BAETA; ROCHA, 1983; ARMI- ser acrescentadas também as diferentes for-
TAGE et al., 1986; COSTA, 1990). Por outro mas de relacionamento entre professores e
lado, meta-análises de pesquisas norte-ame- alunos, considerando a idade, a composi-
ricanas sobre a aprendizagem nas férias es- ção e os interesses das turmas, inclusive os
colares mostram que ocorrem perdas equi- limites interpostos ao ensino pelas culturas
valentes, em média, a um mês de estudo por juvenis, que afetam a ordem e o interesse na
série. Entretanto, tais perdas são socialmente sala de aula, conforme analisamos antes.
assimétricas: ao passo que os alunos social- Desta forma, como conclui Crahay (2002),
mente privilegiados têm oportunidades edu- se poderia aumentar infinitamente o tempo
cacionais informais, durante as férias de ve- de ensino sem afetar o empenho dos alunos,
rão, para evitar o recuo dos seus conheci- o que retira qualquer idéia ilusória de uma
mentos, os alunos menos privilegiados e os relação automática entre tempo letivo e ren-
de famílias monoparentais vão acumulando dimento, por mais que o corpo de investiga-
déficits de aprendizagem ano a ano e geran- ções seja favorável.
do um hiato em relação aos seus colegas
mais favorecidos (RIORDAN, 2004). Quanto ao dever de casa, a relação tam-
bém não parece ser automática. A pesquisa
Crahay (2002) também resenha uma sé- qualitativa sobre escolas bem sucedidas na
rie de pesquisas efetuadas em vários países, América Latina revelou que estes trabalhos
que corroboram de modo geral a associa- nem sempre apareciam entre as suas estra-
ção entre tempo letivo e rendimento. Não con- tégias. Ao contrário, elas desenvolviam ati-
tente, porém, com esta conexão geral, refina vidades tão intensas na sala de aula que as
a análise dos trabalhos de modo a captar a crianças continuavam o processo fora, mas
complexidade dos processos envolvidos. Cabe não como deveres (MELLA et al., 2002).

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Os professores favoreceriam antes o professor mediano


Os docentes são usualmente recom- que a diferenciação por mérito. A parti-
pensados em suas carreiras com base na cipação sindical também levaria ao in-
escolaridade e no tempo de serviço, em cremento dos recursos escolares, mas es-
gradação crescente. Entretanto, as rese- tas duas variáveis são acompanhadas da
nhas das pesquisas mostram que estas são diminuição do rendimento discente (WO-
variáveis com impacto controvertido so- ESSMAN, 2004).
bre o rendimento do aluno. Gênero, for-
mação pedagógica, formação continua- O PISA 2000 (OECD; UNESCO,
da e salário com muita freqüência não 2003), por seu lado, encontrou efeitos
têm impacto significante (SCHIEFELBEIN; destacados da disponibilidade de pro-
SIMMONS, 1980; FULLER, 1987; BAR- fessores especialistas, fatores que afetam
RÈRE ; SEMBEL , 2002; WOESSMAN, o clima escolar, o moral dos professores
2002). Em certos casos o prolongamento e seus compromissos e as relações pro-
da escolaridade se revelou menos apro- fessor-aluno. No caso da América Lati-
priado para as séries iniciais (CASTRO et na, a experiência docente entre 10 e 20
al., 1984). O tempo de experiência, em anos favoreceu o rendimento discente,
vez de ter um impacto crescente, parece assim como os salários, o vínculo con-
percorrer uma linha ascendente e depois tratual permanente e a formação pós-
declinante (BARRÈRE; SEMBEL, 2002). A secundária ou pós-média na docência
este propósito Lourenço Filho (1960) já das séries mais avançadas. Na quarta
constatara que o professor, para alcan- série do ensino primário os professores
çar um patamar de rendimento satisfató- normalistas alcançaram melhores níveis
rio, precisava de cinco anos de experiên- de aproveitamento do que aqueles com
cia, entrando em declínio, naquela épo- a formação superior (CASTRO et al.,
ca, após 20 anos de atividade docente. 1984). Casassus (2002), mais recente-
Outra constatação importante é a práti- mente, identificou fortes impactos da for-
ca comum no Brasil e outros países de mação pós-média e da satisfação com
atribuir as turmas mais difíceis aos pro- o salário (não o salário em si, que daria
fessores menos experientes (BRANDÃO; origem a uma relação direta) 2. Foram
BAETA; ROCHA, 1983). Esta é uma das negativamente associados ao rendimento
dimensões da regressividade da escolari- dos alunos: professores que trabalham
zação, que desfavorece os alunos de mais em outros empregos além do magisté-
baixo SSE, que mais necessitam de uma rio, falta de autonomia docente e alu-
escola de qualidade. Uma pesquisa in- nos cujos mestres pensam que o seu êxi-
ternacional, o TIMSS, constatou que, nos to ou fracasso depende das condições
países e escolas em que os sindicatos de familiares. Ao contrário, tenderam a as-
professores tinham maior influência so- sociar-se baixas notas e a opinião dos
bre o currículo, o rendimento era menor. professores de que elas não se devem às
Quando os professores agem coletiva- suas habilidades docentes, ou seja, uma
mente, constituem um poderoso grupo atitude fatalista, que culpa as condições
político de interesse, cujas negociações socioeconômicas do aluno.
2
Cf. FARRELL, 1993.

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Quanto ao dimensionamento dos eficácia se traduziu na melhoria do apro-


efeitos diretos do professor, Castro e ou- veitamento dos alunos “fracos”, na pro-
tros (1984) verificaram que a variância porção de duas vezes mais importância
do rendimento atribuído às variáveis do que para a média dos discentes; 3) méto-
professor foi de 19% a 32% e de 5 a dos pedagógicos, estilos de ensino, diplo-
13% de país para país, sendo maior o mas e formação do corpo docente não fi-
impacto nas séries iniciais. Estas pro- zeram diferença, do que se pode inferir que
porções, em muitos casos relativamen- havia tanto bons quanto maus professo-
te reduzidas, expressam o impacto das res utilizando os mesmos métodos e esti-
variáveis “ortodoxas” utilizadas (esco- los; 4) os professores mais severos na ava-
laridade, experiência, salário etc.). As liação eram justamente os menos efica-
pesquisas qualitativas abrem novos ho- zes; 5) os docentes menos eficazes eram
rizontes ao captar outras faces do pro- os que tinham conceito negativo sobre os
cesso educativo e redimensionar a in- seus alunos e não se sentiam à vontade
fluência do professor. Assim, ao trata- no relacionamento com eles; 6) os docen-
rem do efeito professor, Barrère e Sem- tes eficazes tinham visão realista e dife-
bel (2002) enfatizam, na experiência renciada dos seus alunos, declarando que
francesa, os desastres relacionais; as ar- deviam adaptar a estes os seus modos de
bitragens complexas na avaliação, em ensino quando o nível era baixo, sem, to-
que intervêm representações da profis- davia, reduzir as suas exigências (isto é,
são e dos alunos, inclusive estereótipos mantinham os objetivos, porém, diversifi-
desfavoráveis relativos aos de baixo SSE; cavam as estratégias). Além disso, o seu
o aumento subjetivo da severidade nos ensino era estruturado, com avaliações fre-
níveis mais avançados (do collège para qüentes, realizadas com justiça e conside-
o liceu, isto é, do ensino secundário ração, sem humilhar os alunos; 7) nas
inferior para o superior), onde as notas classes dos professores eficazes estudava-
atribuídas são menores, em que pese o se grande parte do programa, com menor
aumento do investimento dos alunos no perda de tempo, inclusive por haver me-
trabalho escolar, e a maior indulgência nos indisciplina; 8) a unidade de objeti-
nos estabelecimentos de meio popular, vos, métodos e práticas entre docentes não
sugerindo um comportamento paterna- afetou a eficácia na França, ao contrário
lista, não desconhecido no Brasil (PE- dos EUA. Portanto, os atributos dos pro-
REIRA, 1969). fessores eficazes são precisamente aque-
les que escapam aos critérios burocráticos
Ainda no caso da França, Meuret de recompensas em suas carreiras, de tal
(2000), estudando dados quantitativos e modo que continua de pé a questão de
qualitativos sobre o efeito estabelecimento como selecionar, gratificar e promover os
no ensino secundário e, portanto, em gran- melhores, em detrimento dos piores. Este
de parte o efeito professor, concluiu que: caminho, segundo várias investigações,
1) quanto mais eficazes as escolas, menos não passa pela abordagem pedagógica
eram seletivas (se sabiam ensinar, não de- ou metodológica, isto é, existem bons e
pendiam tanto da escolha dos melhores maus professores que esposam as diferen-
alunos para nelas se matricularem); 2) a tes abordagens.

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 281-306, jul./set. 2005
290 Candido Alberto Gomes

Na América Latina, Mella e outros cia e o rendimento das meninas. Por ou-
(2002) detectaram muitos aspectos influ- tro lado, como vimos, o magistério femi-
entes sobre o clima escolar. O respeito nino pode causar dificuldades ao desem-
às opiniões do corpo docente, em estru- penho dos rapazes. O aumento das des-
turas escolares não autoritárias; o com- pesas por aluno, quando o limiar é mui-
promisso; a vocação; a liderança pesso- to baixo, pode ter notável impacto sobre
al; o apoio individual ao aluno; o com- a melhoria da aprendizagem, porque su-
partilhamento das responsabilidades; de- pre carências básicas, que fazem muita
monstrações de afeto e tratamento pes- diferença. Assim, as constatações das pes-
soal; baixo grau de flutuação de profes- quisas devem ser sempre tratadas com
sores (ou seja, manutenção do mesmo cautela, sem simplificações e generaliza-
professor durante todo o período letivo) e ções indiscriminadas e, sobretudo, sem
as altas expectativas em relação aos alu- dar origem a pretensos dogmas.
nos foram elementos-chave das escolas
bem sucedidas. Uma avaliação do pro- O clima escolar
grama chileno P-900 também indicou a As escolas bem sucedidas – e as dife-
relevância da baixa flutuação de profis- renças entre as mais e menos bem sucedi-
sionais, do seu envolvimento, qualifica- das – fogem como a água por entre os
ção e liderança (CARLSSON, 2000). dedos dos pesquisadores, sobretudo dos
mais ortodoxos. Por isso mesmo, as cons-
O quadro 1 sintetiza de modo muito tatações se baseiam em grande parte na
sumário o impacto destas diferenças en- análise qualitativa, que destaca o clima
tre escolas. A cautela, porém, deve guiar escolar e o clima da sala de aula. As con-
a leitura de quaisquer constatações da clusões convergem para uma atmosfera de
literatura. Esta com freqüência verifica o encorajamento, altas exigências, tratamen-
impacto de uma variável sobre outra, po- to pessoal, liderança – do diretor, que tem
dendo controlar os efeitos de terceiras. papel estratégico, e do corpo docente –,
Além disso, os impactos podem não se cordialidade, disciplina, relações mais pró-
situar acima do nível estatisticamente sig- ximas com a família e os alunos e, parci-
nificativo estabelecido em determinadas almente em conseqüência disto, apoio dos
situações, mas, sim, em outras. Deste pais3. O resultado de um exaustivo levan-
modo, por exemplo, o gênero dos pro- tamento das pesquisas com variadas me-
fessores não apareceu com efeitos signi- todologias, foi sumariado, no que concerne
ficativos para a aprendizagem, mas um às diferenças inter-escolares, por Schee-
corpo docente eminentemente masculino, rens e Bosker (1997) e Scheerens (2000),
em certas culturas, pode inibir a freqüên- conforme o quadro 2.

3
Cf., p. ex., COHN; ROSSMMILLER, 1987; DARLING-HAMMOND, 1997; CARLSSON, 2000; OECD; UNESCO, 2003;
ABRAMOVAY et al., 2003.

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A Escola de Qualidade para Todos:Abrindo as Camadas da Cebola 291

Quadro 1
Os Impactos das Diferenças entre Escolas
FATORES INFORMAÇÕES DA LITERATURA
Despesa por aluno Sem relação automática. Passa pela intermediação dos
processos escolares.

Instalações e recursos Impacto pequeno a moderado. Recursos (biblioteca, livros


didáticos etc.) têm efeitos mais intensos que as instalações.

Tamanho da escola Vantagens para escolas menores, sobretudo na educação


primária

Tamanho da turma Efeitos controversos. Meta-análise: efeitos mínimos em


turmas de 20 a 40 alunos. Melhoras relevantes em turmas
de 15 alunos ou menos. Implicação de altos custos.

Tempo letivo Relações positivas e significativas em geral.


Efeito socialmente regressivo do hiato das férias de verão.
Intermediação de variáveis como tempo de envolvimento
do aluno na aprendizagem, tempo letivo de aprendizagem
e tempo consagrado à tarefa.
Relações entre o conteúdo ensinado, o tempo atribuído e
o tempo investido na aprendizagem, isto é, importa o que
é feito com o tempo letivo.

Dever de casa Prolonga tempo letivo. Relação positiva, mas não automá-
tica.
Professores:
Gênero Sem efeitos significativos.
Formação pedagógica Sem efeitos significativos.
Formação continuada Sem efeitos significativos.
Salário Sem efeitos significativos
Experiência Parece obedecer a uma curva ascendente e depois descendente
Constituição de poderoso Indícios de efeitos negativos.
grupo de interesse
Satisfação com o salário Efeitos positivos e significativos.
Formação pós-média Efeitos positivos e significativos.
Aspectos qualitativos, como Efeitos significativos
expectativas, aspectos
emocionais, estereótipos

Métodos pedagógicos Indiferentes.

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292 Candido Alberto Gomes

Quadro 2
Componentes de Fatores de Efetividade ao Nível da Escola
FATORES COMPONENTES
Liderança educacional Capacidade geral de liderança
Líderes escolares como provedores de informações
Líderes como orquestradores de processos decisórios par-
ticipativos
Líder escolar como coordenador
Líder como supervisor dos processos de sala de aula
Liderança educacional e administrativa
Líder como conselheiro e supervisor dos professores em
sala de aula
Líder como iniciador e facilitador da profissionalização da
equipe

Consenso e coesão Tipo e freqüência de reuniões e consultas


da equipe escolar Conteúdos da cooperação
Satisfação em face da cooperação
Importância atribuída à cooperação
Indicadores da cooperação bem sucedida

Clima da escola Atmosfera de ordem


Importância atribuída a um clima de ordem
Normas e regulamentos
Sanções e recompensas
Absenteísmo e evasão (baixos ou nulos)
Boa conduta dos alunos
Satisfação com um clima de ordem

Potencial de avaliação Ênfase à avaliação


Monitoramento do progresso dos alunos
Uso (efetivo) dos sistemas de monitoramento dos alunos
Avaliação do processo escolar
Uso dos resultados da avaliação
Manutenção de registros do desempenho discente
Satisfação com as atividades de avaliação

Envolvimento dos pais Ênfase ao envolvimento dos pais na vida escolar


Contatos com os pais (constantes)
Satisfação com o envolvimento dos pais

Fonte: Fundamentado em Scheerens e Bosker (1997); Scheerens (2000)

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A Escola de Qualidade para Todos:Abrindo as Camadas da Cebola 293

Uma ambiência democrática (não po- rio nosso) e pela tentativa de não criar hie-
pulista), certo grau de consenso entre os rarquias e não classificar os estudantes,
professores, ordem, forte interesse pelos alu- colocando em xeque as formas tradicionais
nos, foco nas atividades educacionais e de avaliação. É interessante observar que
constante acompanhamento e avaliação tais escolas também dedicavam grande
são ressaltados como atributos de uma es- atenção às atividades extra-curriculares. A
cola efetiva. Diante destes resultados do família tinha uma atitude participativa na
corpo de investigação, é interessante lem- gestão da escola, não se limitando a com-
brar em que medida a formação inicial e parecer quando convidada. Uma questão
continuada do magistério desenvolve tais interessante é que o conjunto de valores,
características e em que medida a carreira motivações, capacidades e compromissos
as premia ou sanciona. levavam diretores e professores a agir de
modo a estruturar estes locais agradáveis e
Esta interessante convergência de resul- efetivos de ensino-aprendizagem.
tados se reflete em pesquisas sobre a Amé-
rica Latina. No modelo de Casassus (2002), Quanto à relação entre o clima escolar e
a mais relevante variável explicativa do a qualidade da educação, não deve passar
aproveitamento discente foi o clima favo- despercebida uma pesquisa com alunos, pais
rável à aprendizagem, definido como situ- e professores de dois Estados brasileiros. A
ações em que os alunos se davam bem com escola de qualidade foi considerada como
os colegas, não havia brigas, o clima es- aquela em que os alunos gostam de apren-
colar era descrito como harmonioso e não der e que trata bem os seus alunos, não im-
havia interrupções das aulas. A pesquisa portando a sua cor ou origem social. Para os
qualitativa que escrutinou escolas bem su- discentes o prazer de ir à escola estava liga-
cedidas a partir do mesmo estudo (MELLA do ao gosto de encontrar amigos e colegas,
et al., 2002) acentuou o papel destacado ao desejo de aprender e aos professores que
dos alunos e dos pais como atores signifi- ensinavam bem (CAMPOS, 2002). É interes-
cantes, do trabalho em equipe dos profes- sante observar que os juízos foram, de modo
sores e diretores, do clima organizacional geral, bastante simples, mas significativos. A
aberto à mudança, do espírito não autori- qualidade não foi traduzida por atributos in-
tário, da afetividade e confiança, do res- telectuais sofisticados, mas, em grande parte,
peito mútuo e da relevância da brincadeira pelo gosto de ir à escola. Isto reflete prova-
como meio de fazer da escola um lugar velmente o fato de que a média de anos es-
prazeroso. Os estabelecimentos educacio- colaridade dos pais é reduzida, como a mé-
nais selecionados podiam ser pequenos ou dia do país, e, em muitos casos, é inferior à
grandes, urbanos ou rurais, particulares ou dos próprios filhos.
públicos, leigos ou religiosos, mas se ca-
racterizavam pelas altas expectativas dos A gestão escolar
professores quanto à aprovação dos alu- A autonomia escolar é um tema recorrente
nos, pela ação inovadora destes, pela não quando se trata do sucesso das escolas e dos
escolha de uma perspectiva pedagógica alunos. Embora não possa fazer inferências
particular (que, quando selecionada, não causais, o PISA 2000 (OECD; UNESCO, 2003)
raro é considerada miraculosa – comentá- verificou que, em média, os resultados de lei-

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294 Candido Alberto Gomes

tura acompanharam a autonomia escolar em Os efeitos dos colegas


termos de alocações orçamentárias internas, O protagonismo dos alunos tem crescen-
escolha de livros didáticos, estabelecimento de te importância para os objetivos da escola
normas disciplinares e determinação dos cur- serem ou não atingidos. A pesquisa pioneira
sos oferecidos. Já uma análise do TIMSS en- sobre o tema foi a de Coleman (1960, 1963),
controu resultados mistos. Foram preditores em dez escolas secundárias americanas, de
favoráveis ao aproveitamento discente a ca- vários tamanhos, com diferenças no seu sis-
pacidade de decidir sobre a compra de mate- tema de status e localizadas em vários tipos
riais, contratação e remuneração de professo- de comunidades. Após a Segunda Guerra
res e escolha de métodos didáticos. O mesmo Mundial, o trabalho dos pais fora de casa, a
não ocorreu com outras variáveis, que tiveram saída dos adolescentes do mercado de tra-
efeito depressivo sobre o rendimento: capaci- balho, a extensão da escolaridade e a escola
dade de as escolas decidirem sobre o currículo, de jornada completa, levaram à diminuição
aprovação de livros didáticos e determinação da convivência entre as gerações e ao apoio
do orçamento da escola (WOESSMAN, 2004). dos adolescentes nos seus próprios colegas.
Na América Latina, por seu turno, Casassus Encontrando casas vazias no regresso da es-
(2002) construiu um índice de autonomia (cons- cola, desenvolveram seus próprios grupos,
tituído das seguintes variáveis: liberdade de no- com uma cultura própria. Seus contatos com
meação e demissão de pessoal; distribuição do o mundo dos adultos passaram a ser media-
orçamento; seleção de livros didáticos; nor- dos (e também distorcidos) sobretudo pelos
mas de admissão, suspensão e expulsão de meios de comunicação de massa. Seus he-
alunos; critérios para aprovação dos alunos; róis se tornaram os do cinema e da televisão.
formulação e modificação de normas disci- Suas aspirações ocupacionais com freqüên-
plinares; estabelecimento de prioridades pe- cia se converteram em ser modelo, estrela do
dagógicas e atividades extracurriculares). Este cinema, atleta famoso ou piloto de jato. Como
índice de autonomia apresentou correlação resultado, eles desenvolveram padrões espe-
positiva com o rendimento discente, junto com cíficos de comportamento e vocabulário, tor-
a liderança do diretor. A pesquisa qualitativa nando-se um grupo de consumo de elevado
do mesmo Laboratório Latino-Americano de interesse para o mercado. Mais importante,
Avaliação da Qualidade da Educação (ME- contudo, é o valor do grupo de adolescen-
LLA et al., 2002) apontou para o comparti- tes. Enquanto os pais e professores possuíam
lhamento de responsabilidades pela equipe o controle de recompensas sociais para mo-
escolar, não concentração da liderança na tivar os adolescentes, agora eles passaram a
figura do diretor, normas explícitas, estabili- receber muito mais retribuições dos seus pró-
dade no suprimento de recursos, eficiente uso prios companheiros, não materiais, mas um
do espaço, do tempo e dos materiais e funci- sistema de recompensas e punições refletido
onamento autônomo. Portanto, a autonomia na distribuição de status dentro do grupo.
tende a associar-se a resultados positivos,
embora certas decisões possam ser melhor As conseqüências educacionais são pon-
atribuídas aos níveis centrais do sistema edu- deráveis. Erra a escola que focaliza os indi-
cacional. Em outros termos, a autonomia é víduos, não os grupos, uma vez que estes
solução para amplo espectro de problemas, podem conduzir as energias para objetivos
mas não é uma panacéia. não acadêmicos. No sistema de status dos

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A Escola de Qualidade para Todos:Abrindo as Camadas da Cebola 295

adolescentes é mais importante ser um atle- aluno como sujeito, chegando à relação
ta ou uma garota atraente que obter boas dialógica entre aquele que predominante-
notas. A pouca importância relativa do apro- mente ensina e aquele que predominante-
veitamento escolar sugere que aqueles que mente aprende, conforme uma frase de Dur-
são vistos como “intelectuais” podem não meval Trigueiro Mendes. Tais mudanças, fa-
ser exatamente os que possuem mais inteli- cilmente reconhecidas dos pontos de vista
gência, mas apenas aqueles que estão dis- filosófico e metodológico, têm sido acom-
postos a trabalhar arduamente numa ativi- panhadas recentemente, no campo das re-
dade de baixo nível de recompensas. lações econômicas, pela visão do aluno
como cliente de serviços educacionais.
Estas condições são propícias ao forta-
lecimento das sociedades de adolescentes Por isso, o tecido de relações e grupos
e jovens (e também de crianças), com o sociais da escola ganhou uma trama ain-
seu dinamismo próprio e uma capacidade da mais intrincada. Embora as relações de
de interlocução e barganha muito mais in- cooperação continuem necessariamente a
tensa em relação à escola e aos mundos existir dentro de cada grupo e entre os gru-
dos adultos. Conforme Dubet e Martuccelli pos constitutivos da escola, o pêndulo pa-
(1996), a socialização pode ser caracteri- rece inclinar-se para os processos de con-
zada pelo distanciamento do indivíduo em flito. A escola é comparável a uma arena
relação às lógicas sociais que orientam a competitivo-conflitual, onde se encontram
sua ação. Cada situação escolar é carac- culturas de pelo menos duas gerações. No
terizada por uma combinação de três lógi- seu espaço social, segundo a já referida
cas de ação: de integração, pela qual o sociologia da experiência, proposta por
aluno se define em função da sua partici- Dubet (1996), os alunos se constróem como
pação na escola e, sobretudo, na cultura sujeitos, mantendo relações geralmente
juvenil; estratégica, pela qual o aluno age contraditórias com a cultura escolar e dife-
do melhor modo segundo os seus interes- rentes grupos de colegas. É importante ter
ses escolares e de subjetivação ou de cons- em mente a diversidade de valores, nor-
trução do próprio sujeito, à distância dos mas, padrões de comportamento e interes-
outros dois registros de ação. Deste modo, ses (COLEMAN, 1963), em que avultam
é possível ir muito mais além do conceito as suas origens sociais. Conforme Dubet e
de sociedade adolescente, dos anos 60, e Martuccelli (1996), os alunos socialmente
extrair implicações para a organização e o privilegiados, mais próximos da cultura es-
funcionamento da escola de massa. colar, se integram à cultura juvenil com
desafios à escola mantidos dentro de cer-
Com razão Barrère e Sembel (2002) des- tos limites. Enquanto isso, os alunos das
tacam que a ênfase da teoria de Dubet no classes populares, mais distantes da cultu-
papel da subjetividade do aluno na cons- ra escolar, são, por isso mesmo, marcados
trução da sua experiência escolar foi negli- freqüentemente por experiências de fracas-
genciada pela sociologia clássica. Esta não so, de modo que a sua integração aos co-
observou para onde se movimentavam as legas e às culturas juvenis se faz pela via
águas da pedagogia, que se deslocavam da afirmação pessoal, com rebeldia aberta
do aluno como objeto para centrar-se no contra a escola.

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296 Candido Alberto Gomes

Nesta arena que se mantém unida de ao coração da cebola. Neste sentido, di-
maneira mais ou menos precária em face versas pesquisas têm concluído, embora
da pluralidade de valores e modelos, se com contestações, que o SSE dos alunos
estabelecem contínuas negociações de con- tem um papel relevante ao modelar as suas
senso e compromisso, de tal modo que a aspirações, ou seja, quanto mais alto o SSE,
autoridade e a motivação para o trabalho maiores os estímulos para ir adiante na es-
escolar devem ser reconstruídas dia a dia cala educacional e vice-versa. Evidências
pelos professores (DUBET, 2002). O papel interessantes se agregaram, esclarecendo
profissional destes já não lhes confere au- que o impacto do contexto da escola, com
tomaticamente autoridade, ao contrário, esta a respectiva composição social do corpo
precisa ser negociada cotidianamente e le- discente, é exercido em grande parte pela
gitimar-se a cada momento, dissociada, via do clima escolar. Em outras palavras,
tanto quanto possível, do poder. À falta do as interações dos alunos com colegas mais
apoio de valores e normas inequívocos, a privilegiados levaria a melhores resultados
autoridade docente, na tipologia de Weber no estudo e a aspirações mais altas, o opos-
(1968), afasta-se cada vez mais dos tipos to sendo verdadeiro. Mais ainda, pesqui-
ideais tradicional e burocrático: o profes- sas têm revelado que o contexto socioeco-
sor depende cada vez mais do seu próprio nômico escolar é o mais importante aspec-
carisma. Caminhando sobre a lâmina da to intra-escolar. Este contexto é explicado
faca, o docente precisa evitar tanto o ex- pelo clima da escola, ou seja, não é o con-
cesso de poder, considerado como “sadis- texto socioeconômico em si que gera resul-
mo”, quanto a sua falta, encarada como tados acadêmicos positivos, mas existe uma
“fraqueza” ante os alunos. Carentes de prin- espécie de correia transportadora, que é o
cípios centrais e homogêneos, os educa- clima da escola. Desta forma, o clima po-
dores precisam proceder a arranjos locais sitivo no estabelecimento de ensino, as-
entre normas contraditórias (por exemplo, sociado ao SSE dos alunos, conduz a bons
princípios do mérito e da igualdade edu- resultados acadêmicos (RIORDAN, 2004).
cacionais) e negociar a disciplina em fun-
ção dos indivíduos, grupos e casos (DU- Estas conclusões permitem levar a
BET, 2002). Não é, pois, de admirar que duas linhas de indagação:
os docentes, muitas vezes em função de 1) Se o alunado tem maiores afinidades
uma perspectiva paradisíaca ou saudosis- ou menor hiato em face da cultura escolar e
ta do passado, se sintam desvalorizados, se o SSE incentiva um nível aspiracional mais
sofram de estresse e parte deles padeça do alto, a composição do corpo discente é im-
chamado burn out (no sentido de esgota- portante. Escolas segregadas levariam nu-
mento das suas capacidades). merosos grupos ao afastamento da escola e
ao insucesso acadêmico. Assim, em vez da
Este novo protagonismo discente, exer- homogeneidade, a heterogeneidade entre as
cido por adolescentes e jovens, indica que escolas e dentro de cada escola teria um
o grupo de colegas tem influência na apren- efeito positivo, ainda que não fosse podero-
dizagem e no processo educativo em ge- so, mas, de qualquer forma, não negligen-
ral, influência esta que varia conforme as ciável. Deste modo, a escolha da escola e o
suas origens sociais. Chegamos, portanto, agrupamento de alunos por turma podem

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A Escola de Qualidade para Todos:Abrindo as Camadas da Cebola 297

ter sérias implicações para o sucesso e a pequenos grupos discentes, como díades,
eqüidade, como veremos depois. cliques, grupos de estudo, lúdicos, associ-
2) Se o clima escolar tem a relevância ativos etc., que são influenciados pela com-
pedagógica que as pesquisas revelaram, con- posição dos grupos maiores, como as tur-
soante o item anterior, e se ele é influenciado mas4. Estes comporiam o coração da ce-
pelo SSE dos alunos, estaríamos diante de bola, com as suas camadas mais internas,
um processo em parte modelado pela esco- tendo em vista a importância das culturas
la. Assim, a ação escolar em favor de maior juvenis. Utilizando uma linguagem meta-
eqüidade teria o clima como uma área em fórica, que constitui aproximação tosca da
que interagem o background socioeconômi- realidade, depois de abertas as camadas
co do alunado e condições do próprio esta- da escola, da turma e do professor, tería-
belecimento, examinadas antes. Sendo um mos esta parte central, cujas últimas ca-
“território comum” a diversas influências, existe madas a escola deve atravessar para che-
uma faixa em que os educadores podem atu- gar ao aluno. As culturas da juventude
ar e gerar resultados positivos. constituem como que uma cápsula cujo
ingresso nela precisa ser cuidadosamente
Este terreno, contudo, contém um labi- negociado. Ao contrário da verdadeira ce-
rinto mais intrincado do que parece e re- bola, esta parte central e mais íntima não é
quer maior aprofundamento. De fato, há a mais tenra e, sim, a mais dura e difícil de
várias interpretações alternativas dos efei- ser atingida. Porém, se estas camadas es-
tos dos colegas. Uma delas sugere que os tão no âmago da cebola, na verdade elas
seus efeitos resultam do fato de os estudan- representam as conexões dos alunos com
tes internalizarem as normas da escola para o mundo exterior, de tal modo que a sua
orientar a sua aprendizagem e o seu com- participação na escola, como membros de
portamento. Outra sugere que os seus efei- grupos, é condicional. Conforme a expres-
tos se devem ao uso da escola como grupo são de Estêvão (2004), o aluno não é ci-
de referência para fazer comparações so- dadão pleno da sua escola.
bre o seu desempenho e desenvolver auto-
percepções acadêmicas. Uma terceira al- No entanto, segundo a perspectiva de
ternativa, ainda, sugere que os efeitos se Wilkinson e outros (2002), os professores
devem à modificação das práticas da es- não parecem perceber a complexidade das
cola e dos professores para se adaptarem estruturas informais da escola. Do ponto
às características do corpo discente. Por fim, de vista do ensino (não da aprendizagem),
outros trabalhos propõem que os impactos os efeitos dos colegas, tanto ao nível da
das estruturas educacionais são mediados escola quanto da turma, afetam apenas a
por sucessivos níveis da organização soci- probabilidade de diversas alternativas de
al, mais uma vez segundo uma estrutura ensino-aprendizagem ocorrerem e, ainda
comparável à da cebola, em que, a cada assim, tais efeitos seriam indiretos. Isto ocor-
casca que se abre, se encontra outra. As- re em grande parte porque os professores
sim, é possível chegar ao que alguns con- parecem não alterar as suas práticas quan-
sideram o locus dos efeitos dos colegas, os do a composição das turmas e grupos é

4
Cf. WILKINSON et al., 2002.

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298 Candido Alberto Gomes

alterada e, também, porque o poder dos rização como espelho e geradora de dife-
efeitos dos colegas raramente é percebido. renças sociais é a alocação dos alunos às
Deste modo, não adiantaria agrupar os escolas nas redes públicas, distribuídas por
alunos de diferentes formas, promover a espaços urbanos altamente estratificados em
integração racial de escolas, diminuir o ta- termos de renda dos residentes, valor venal
manho das turmas, criar estabelecimentos dos imóveis etc. Um critério oficial ampla-
só para meninos ou meninas, pois a quali- mente adotado tem sido a matrícula segun-
dade e a natureza do ensino não variam, do a área residencial, conforme o uso cor-
no máximo os docentes adaptam o ritmo. rente em muitas redes brasileiras, a carta
Assim, o ensino não mudaria, apesar de escolar na França e os critérios mais con-
mudarem condições relevantes de apren- vencionais de muitos distritos escolares dos
dizagem, sugerindo que o processo conti- EUA. Um dos fundamentos para este crité-
nua centrado no professor e não no aluno. rio básico é a economia dos custos de trans-
Os impactos diretos da composição do porte, quer a cargo da família, quer do po-
corpo discente estão menos relacionados der público. Quanto mais próximo o aluno
aos resultados da aprendizagem e mais li- da sua escola, menores são os custos de
gados à eqüidade e aos efeitos das expec- transporte e também de tempo. Com isso, a
tativas de professores, alunos, pais e ges- matrícula por área residencial tem implica-
tores (HATTIE, 2002). ções sociais e econômicas, inclusive imobi-
liárias: para ter acesso a boas escolas pode
Um modelo alternativo sugere que os ser preciso residir numa área mais cara e,
efeitos dos colegas sobre o aproveitamento por outro lado, o fato de haver boas escolas
parecem menores, em termos estatísticos, pode elevar os preços das habitações.
porque são intermediados por diferentes
níveis ou camadas, segundo a estrutura da As pesquisas já examinadas sobre o cli-
cebola, isto é, da escola, da turma e dos ma escolar, a influência dos colegas e as
diversos grupos informais de colegas. Au- desigualdades de recursos entre as escolas
mentando a complexidade, existe uma rede mostram que os efeitos desta distribuição de
de relações recíprocas entre estudantes, recursos tende a ser regressiva, ou seja, re-
professores e organização e gestão escola- forçadora das diferenças sociais pré-existen-
res. Ao nível do grupo de aprendizagem, a tes, conduzindo não raro à segregação es-
interação aluno-professor parece estabele- colar e à formação de “escolas guetos” e
cer culturas de grupo ou normas de com- “escolas santuários” na mesma área. Haven-
portamento que apóiam a aprendizagem do ou não vinculação entre residência e ma-
de modos diversos. Nas turmas, diferentes trícula, existe o fenômeno das escolas “bem”
formas de agrupamento podem construir e “mal amadas”, com o afluxo de alunos em
diversas culturas de sala de aula que influ- busca de melhor ensino, a formação de filas
enciam o que é ensinado (WILKINSON et nas primeiras, a conseqüente adoção de cri-
al., 2002). térios seletivos e, por outro lado, as tentativas
de preenchimento pelo sistema da capacida-
A alocação da matrícula e a ges- de ociosa dos estabelecimentos menos dese-
tão do espaço jados (GOMES; CASTRO, 2003). A própria
Outro foco da pesquisa sobre a escola- carreira docente tende a premiar a remoção

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A Escola de Qualidade para Todos:Abrindo as Camadas da Cebola 299

para as áreas urbanas mais valorizadas, ao vação; 2) a supressão de áreas no princípio


passo que a complementação do financia- do ensino secundário, prolongando o tron-
mento público escolar, por meio de contri- co comum, e 3) a limitação da liberdade de
buições das famílias e da comunidade, tende escolha pela setorização. Ao testar as hipó-
a fazer os rios correrem para o mar, isto é, as teses com dados do estudo internacional
áreas mais privilegiadas arrecadam mais e sobre competências de leitura da IEA, aque-
permitem maiores melhorias das escolas, ao le autor verificou que os países que se em-
passo que ocorre o inverso nas demais (MAL- penham em evitar a agregação dos alunos
DI; GOMES, 2003). Segundo o critério habi- da mesma origem social e/ou com o mes-
tacional de distribuição de matrículas, uma mo nível de competência por intermédio
das implicações é que a escolarização fica destas três alternativas caracterizam-se por
estreitamente vinculada à renda e aos atribu- menores desigualdades que os outros. A parte
tos socioculturais dos alunos e das famílias da variância do aproveitamento discente em
valorizados para o êxito escolar. leitura imputável à escola é mais baixa que
nos outros países e a proporção de alunos
Por motivos diferentes, entretanto, a alo- fracos é menos elevada.
cação da matrícula segundo a residência tem
levado pelo menos a duas posições: uma, já Evidentemente esta alternativa é limita-
examinada antes, que é a da construção de da. Em primeiro lugar, como o próprio
um quase mercado educacional, estimulan- Crahay (2002) observa, a setorização da
do a escolha dos pais e a competição mais matrícula depende de duas condições: 1)
ou menos livre das escolas. Isso inclui alter- que a distribuição da população no territó-
nativas como o vale educação, as charter rio não seja demasiado marcada pelas dife-
schools e as magnet schools nos EUA. Estas renças sociais; 2) que a rede particular seja
últimas são escolas com focos especiais de de pouca densidade para não interferir na
excelência (como artes, ciências etc.), a cuja organização do conjunto do sistema. Ora,
matrícula os alunos se candidatam com me- os países igualitários detectados pelo teste
nores restrições de residência. Uma das suas de hipóteses são os nórdicos, onde a estra-
bases lógicas é que todos os alunos são ca- tificação social é mais igualitária, remeten-
pazes de aprender e que, para tanto, as dife- do, assim, de volta às matrizes das desigual-
renças devem ser contempladas. Como já dades sociais e às forças políticas que mo-
vimos, o quase mercado não parece ser uma delam as políticas públicas. Este círculo vi-
alternativa altamente efetiva para reduzir a cioso é o mesmo das frustrações em face
desigualdade e a segregação. das tentativas de dessegregação escolar nos
EUA ou da não sustentação política de fór-
A outra resposta é manter a própria limi- mulas de alocação de recursos que visam,
tação da escolha das escolas por meio da numa pluralidade de casos, a reduzir desi-
vinculação à área residencial. Crahay gualdades espaciais e sociais5. Como na
(2002) estabeleceu três hipóteses quanto à história do ovo e da galinha, o rompimento
forma de reduzir as desigualdades sociais do círculo vicioso depende de novas alter-
de sucesso escolar: 1) a abolição da repro- nativas politicamente viáveis.

5
Cf., p. ex., Elhav (1998) e Nakib e Herrington (1998).

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300 Candido Alberto Gomes

Diferenças Dentro pecíficos, acompanhamento e retor-


no do desempenho dos alunos.
das Escolas
Acompanhando a estrutura da cebola, Ainda, as variáveis que emergem reite-
após abrirmos a camada do efeito escola, radamente dos estudos parecem retiradas
temos as camadas da sala de aula e dos de qualquer livro sensato sobre didática
professores. Dentro de cada escola pode (SCHEERENS; BOSKER, 1997; SCHEE-
haver diferenças no processo de ensino- RENS, 2000, grifo nosso):
aprendizagem conforme, entre outros as- • Clareza: apresentação clara e ade-
pectos, a composição das turmas, a alo- quada ao nível cognitivo dos alunos.
cação dos professores e de recursos e, ain- • Flexibilidade: variação do compor-
da, os processos educativos no âmbito de tamento e assistência do professor,
cada sala de aula. diversificação das atividades.
• Entusiasmo, refletido nos compor-
Uma ampla resenha das pesquisas tamentos verbais e não verbais do
aponta para alguns fatores de aumento da professor.
efetividade ao nível das salas de aula. O • Comportamento profissional: ori-
clima e a organização do processo de en- entar os alunos a cumprirem as suas
sino-aprendizagem têm papel relevante e tarefas com profissionalismo.
as condições podem variar tanto de sala • Crítica: crítica negativa em excesso
para sala, quanto em relação a grupos dis- tem efeito desfavorável sobre o apro-
centes e a alunos individualmente. Como veitamento.
os processos educativos são muito sensí- • Atividade indireta: aceitação de
veis às origens sociais dos alunos, pode idéias e sentimentos dos alunos e
haver diferenciações do tratamento segun- estímulo à atividade independente.
do o status e, conseqüentemente, efeitos • Oferecer aos alunos oportunida-
regressivos (dar menos a quem tem menos), de de aprender com materiais
em vez de efeitos progressivos (dar mais a didáticos, orientados segundo os
quem tem menos). critérios de avaliação, de modo que
o que é ensinado à turma seja devi-
Por outro lado, a meta-análise e a sín- damente avaliado.
tese das melhores evidências de investiga- • Comentários estimulantes: dirigir
ções destacam três condições básicas de o pensamento dos alunos para as
ensino, que têm maior impacto que os in- questões, sumariar discussões, indi-
sumos e, pela sua simplicidade, estão ao car o começo e o fim de uma lição,
alcance de qualquer país em desenvolvi- enfatizar certos pontos do material de
mento (SCHEERENS; BOSKER, 1997; ensino.
SCHEERENS, 2000): • Diversificar o nível tanto das ques-
• Tempo dedicado às tarefas (extensão tões de avaliação como da intera-
e aproveitamento); ção cognitiva.
• Cobertura dos conteúdos pelos ins-
trumentos de avaliação; Quanto à América Latina, cumpre lem-
• Abordagem estruturada: objetivos es- brar um estudo comparativo sobre as dife-

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 281-306, jul./set. 2005
A Escola de Qualidade para Todos:Abrindo as Camadas da Cebola 301

renças de aproveitamento em matemática A formação de turmas


na terceira série em três países incluídos Grande número de sistemas educacionais
pela pesquisa do Laboratório Latino-Ame- tende a formar turmas de acordo com o apro-
ricano de Avaliação da Qualidade (CA- veitamento, optando pela homogeneidade, em
SASSUS, 2002): Brasil, Chile e Cuba. Os vez da heterogeneidade. Esta prática fez cor-
resultados do aproveitamento foram muito rerem rios de tinta, com pesquisas evidencian-
mais altos no último e equivalentes nos dois do efeitos favoráveis e desfavoráveis. Consi-
primeiros países. Embora no caso da in- derando o panorama atual, delineado a partir
vestigação sobre matemática os alunos das resenhas de centenas de pesquisas, temos
cubanos tivessem SSE mais alto, algumas as seguintes conclusões e ponderações:
das constatações mostram que nas escolas • Segundo a meta-análise de centenas
selecionadas de Cuba havia menos alunos de estudos, o impacto da organiza-
por turma; mais ordem; menos interrupções; ção das turmas por aproveitamento
os alunos estavam mais envolvidos; faziam existe, mas é diminuto, da ordem de
exercícios e resolviam mais problemas in- 0,05 (quando ponderado pelo nú-
dividualmente, com os professores circulan- mero de estudos é de -0,05). Por isso,
do, e o nível de exigências cognitivas era o seu efeito está situado entre as in-
mais alto (CARNOY; GOVE; MARSHALL, tervenções educacionais de menor
2003). Evidentemente, esta não é uma re- efeito, considerando que o impacto
ceita de bolo, nem os resultados de uma típico do total de intervenções edu-
pesquisa qualitativa podem ser indiscrimi- cacionais é de 0,40 (HATTIE, 2002).
nadamente generalizados, porém detecta- • Assim, de acordo com a vertente das
mos vários pontos de congruência com a pesquisas quantitativas e seus respec-
literatura acima examinada. tivos limites, há muitas intervenções
mais destacadas, como a relevância
Além destas características de tratamen- do currículo, ou seja, importaria mais
to, a literatura se preocupa com a hierar- o que acontece quando a porta da
quização de status na sala de aula, já que sala de aula se fecha (HATTIE, 2002).
as expectativas estão associadas às posi- • Numa visão abrangente da literatura,
ções de status, com freqüência determina- a qualidade tende a ser assimetrica-
das por fontes estruturais de desigualdade, mente distribuída dentro da escola:
como a etnia e a posição socioeconômica o As turmas de maior aproveitamento
(RIORDAN, 2004). Esta hierarquia acaba tendem a receber os melhores profes-
levando à dominância de determinados sores (bons docentes preferem bons
grupos, de tal maneira que o professor pre- estudantes) e, tendo em vista o hiato
cisa: 1) contrabalançar a composição dos entre o currículo planejado e o currí-
grupos, reunindo alunos que tenham com- culo implementado, têm mais opor-
petências diferentes, que se equilibrem; 2) tunidades de aprendizagem. As ex-
examinar criticamente as suas expectativas; pectativas de pais e colegas também
3) estimular sobretudo os alunos em des- são positiva ou negativamente afeta-
vantagem e utilizar o ensino cooperativo6. das, conforme o nível da turma.

6
Cf. CRAHAY, 2002.

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o Os alunos são escolhidos predomi- Portanto, a proposição de Crahay


nantemente pelo critério do mérito, que (2002) é a da constituição de escolas
é basicamente o rendimento anterior, sem turmas organizadas por idade e sé-
mas que ratifica as diferenças sociais rie. O critério seria a agregação tem-
e pode segregar os alunos ao nível da porária dos alunos por níveis de com-
sala de aula. Daí a tendência à asso- petências equivalentes, segundo módu-
ciação das turmas mais e menos “adi- los hierarquizados. Ou seja, seriam ma-
antadas” à raça, etnia e SSE. ximizadas as interações entre os alunos
o Segundo a maior parte da pesqui- e provavelmente a heterogeneidade, de
sa, a formação de turmas homo- tal maneira que quem ocupasse alto sta-
gêneas aumenta o hiato de apro- tus em um módulo e grupo poderia não
veitamento entre as mais e menos ocupá-lo em outro. Entretanto, a viabi-
“fortes” (RIORDAN, 2004). lidade desta alternativa em escolas de
grande porte e extensas redes de esta-
Algumas questões permanecem, como belecimentos pode ser duvidosa, ainda
a possibilidade de, misturando os alunos mais com níveis muito heterogêneos da
mais e menos “capazes”, baixar o nível de formação de professores. De qualquer
ensino-aprendizagem e passar um rolo com- modo, o conjunto das pesquisas de di-
pressor sobre todos, impedindo ou dificul- ferentes orientações teóricas e metodo-
tando a excelência. Outra pergunta se re- lógicas aconselha cautela em face da
fere ao que fazer. Crahay (2002), resenhan- formação de grupos homogêneos, visto
do pesquisas de dois continentes, Europa que existe uma persistente tendência de
Ocidental e América do Norte, conclui: as origens sociais e o capital cultural e
• Não há vantagem confirmada para social atraírem condições educacionais
as turmas homogêneas, sendo que correspondentes. É preciso atenção ao
parte dos estudos dá ligeira vanta- processo acumulativo pelo qual os rios
gem às classes heterogêneas. correm para o mar.
• Quanto à regressividade dos efeitos,
pode-se recear que, fora de condi- Concluindo
ções experimentais rigorosas, os alu- Por mais reduzida que seja a influên-
nos reputados “fortes” se beneficiem cia da escola no cômputo geral, é possí-
de ensino quantitativa e qualitativa- vel atuar sobre os fatores acima e outros,
mente superior ao dos “fracos”. modelando-a de modo a oferecer uma
• Quanto às alternativas para a ação, educação de qualidade para todos. A es-
o O caminho da aprendizagem individua- cola e os educadores não só têm o seu
lizada tem evidência de fracos benefícios. protagonismo, como também a sua mar-
o No entanto, a organização flexível gem de influência é mais ampla nos pa-
de grupos homogêneos constituí- íses em desenvolvimento que nos desen-
dos em função do nível de domí- volvidos. Por isso, os educadores e a edu-
nio de uma competência específi- cação podem fazer diferença. Para tanto
ca traz efeitos positivos inegáveis. é indispensável saber como.

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 281-306, jul./set. 2005
A Escola de Qualidade para Todos:Abrindo as Camadas da Cebola 303

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Recebido em: 19/11/2004


Aceito para publicação em: 12/05/2005

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