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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

1. APRESENTAÇÃO
Direito penal é um ramo do Direito Público que regula as condutas ofensivas aos
bens jurídicos mais relevantes para a sociedade, reprimindo (punindo), através de sanções
(penas), aos que se comportarem contrários ao estabelecido pela lei, visando, por fim, uma
convivência harmônica da sociedade. Tem a função de garantir os direitos da pessoa
humana frente ao poder punitivo do Estado. Sendo assim, tem-se que o Direito Penal
também tem uma conotação garantista na formulação das normas penais, a fim de poder
evitar que o Estado de Polícia se manifeste e se sobreponha ao Estado de Direito.

Deve ser encarado como o último recurso (ou meio) do Estado para evitar
determinadas condutas, devendo assim somente ser utilizado quando todos os outros ramos
do Direito (tais como o Civil, administrativo, tributos, etc.) não forem suficientes. Nesse
sentido, é denominado ultima ratio, ou seja, de intervenção mínima, ultima razão, ultima
forma de regular certa atividade. Deve-se primeiro, tentar resolver a situação através de
outras formas, caso não se tenha um resultado esperado, aí sim, recorrer ao Direito Penal.

E o Processo Penal? Processo penal é a instrumentalização do próprio Direito


Penal (Direito abstrato). Sem o processo penal, não adiantaria apenas dizer que matar
alguém é crime, com pena de 6 a 20 anos, não é mesmo? Como faríamos para
aplicarmos essa pena? Como que o homicida poderia ficar preso antes de uma
sentença penal condenatória? Quem poderia pedir sua prisão? O que aconteceria na
cena do crime? Quais os primeiros procedimentos na cena do crime?

Tudo isso pode ser encontrado no Código de Processo Penal, que nada mais é
do que a regulamentação do processo de persecução penal, em síntese, aquele
processo que determinada pessoa responde!

Desde a inquirição de testemunhas em fase de inquérito Penal até um recurso


de uma sentença em tribunal do júri, tem previsão nesse código de processo penal.

Posto isto, o objetivo geral da disciplina Direito Penal e Processual Penal é trazer os
principais conceitos, princípios e crimes, que todo Policial Militar deve saber, para que
possa, ao deparar com uma ocorrência, perceber o caráter ilícito daquela situação
apresentada, agir como representante do Estado de Direito e tomar iniciativas para garantir
a preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e patrimônio cumprindo
assim sua função constitucional.

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Na parte de Direito Penal será tratado, sem exaurir o assunto, os principais ilícitos
que a Polícia Militar lida diariamente. Será abordado também algumas teorias básicas para
entendermos como que funciona o Direito Penal, bem como as excludentes de ilicitudes.

Na parte de Processo Penal, de forma mais sucinta e também sem exaurir o


assunto, discorreremos sobre a Prisão em Flagrante, atividade típica da Polícia
Militar, ressaltando suas principais espécies de acordo com a doutrina moderna.
Atrelado à Prisão em Flagrante, será abordado aspectos gerais da Audiência de
Custódia, implantada no Brasil desde o ano de 2015 pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ).

Portanto, o objetivo da disciplina é capacitar a praça policial militar, em especial


aquela que não é Bacharel em Direito, a atuar dentro da legalidade, reconhecendo de
imediato o caráter ilícito da situação para tomar as medidas cabíveis.

2. CONTEÚDOS

MÓDULO I - PARTE GERAL DIREITO PENAL


1 . Fontes do Direito Penal

2. Princípios

3. Infração Penal e Classificação

3.1. Fato Típico

3.2. Fato Ilícito ou Antijurídico

3.3. Culpabilidade

4. Tempo do Crime

5. Lugar do Crime

6. Crime Permanente e Crime Continuado

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MÓDULO II - PARTE ESPECIAL DIREITO PENAL

1 . Dos Crimes Contra a Vida

1 .1 . Homicídio

1 .2. Lesão Corporal

1 .3. Da Periclitação da Vida e da Saúde

2. Dos Crimes Contra a Liberdade Individual

2.1 . Sequestro e Cárcere Privado

3. Dos Crimes Contra o Patrimônio

3.1 . Furto

3.2 Furto de Coisa Comum

3.3 Roubo

3.4 Extorsão

3.5 Extorsão Mediante Sequestro

3.6 Estelionato

3.7 Receptação

4. Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

4.1 . Estupro

4.2 Violência Sexual Mediante Fraude

4.3 Importunação Sexual

4.4 Registro não autorizado da intimidade sexual

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4.5 Estupro de Vulnerável

MÓDULO III DIREITO PROCESSUAL PENAL

1 . Da Ação Penal

2. Da Prisão em Flagrante

3. Espécies da Prisão em Flagrante

4. Audiência de Custódia

MÓDULO I - PARTE GERAL DO DIREITO PENAL

1 — Fontes do Direito Penal:

As fontes do direito ou origens das normas jurídicas subdividem-se em fontes


materiais, substanciais ou de produção e em fontes formais, de conhecimento ou de
cognição. Aquelas indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em
nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para
criar normas penais (CF, art. 22, l). No entanto, o parágrafo único do dispositivo
constitucional citado prevê que lei complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas acerca de matérias penais.

As fontes formais, por sua vez, subdividem-se em imediatas e mediatas. Somente a


lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal, porquanto não há crime
sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF, art. 5 0 XXXIX, e
CP, art. 1 0 ).

2 — Princípios Basilares:

2.1 0 princípio da Dignidade da Pessoa Humana:


É um princípio fundamental incidente a todos os seres humanos desde a concepção
no útero materno, não se vinculando e não dependendo da atribuição de personalidade
jurídica ao titular, a qual normalmente ocorre em razão do nascimento com vida. A
dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana pelo simples fato de alguém "ser

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humano", se tornando automaticamente merecedor de respeito e proteção, não importando
sua origem, raça, sexo, idade, estado civil ou condição socioeconômica. O artigo 5 0 da
Constituição Federal enumera vários incisos que denotam a dignidade da pessoa humana,
como por exemplo:

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou


degradante;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;

XLVII - não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
XIX;

b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

2.2 - O Princípio da Legalidade:

A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da legalidade no art. 5 0


XXXIX, de modo que, no Brasil, constitui cláusula pétrea; não pode ser suprimido
sequer por emenda à Constituição. Já no Código Penal Brasileiro, a legalidade é
disciplinada no artigo 1 0 que diz: "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não
há pena sem prévia cominação legal".

Acrescente-se, por fim, que o princípio da legalidade tem importância ímpar em


matéria de segurança jurídica, pois salvaguarda os cidadãos contra punições criminais sem
base em lei escrita, de conteúdo determinado e anterior à conduta. Exige, ademais disso,

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que exista uma perfeita e total correspondência entre o ato do agente e a lei penal para fins
de caracterização da infração e imposição da sanção respectiva.

O princípio da legalidade desdobra-se em quatro subprincípios: anterioridade da lei;


lei escrita, lei no sentido formal ou reserva legal; proibição de analogia in malam partem; e
taxatividade da lei ou mandato de certeza.

a) Anterioridade ou lege praevia: Dos aspectos acima


indicados, destacamos em primeiro lugar a necessidade de que a lei seja
anterior ao ato. Com efeito, de nada adiantaria assegurar que o direito
penal se fundamenta na lei, caso esta pudesse ser elaborada ex post facto,
isto é, depois do cometimento do fato. A incriminação de comportamentos
anteriores à vigência da lei destrói por completo a segurança jurídica que
se pretende adquirir com a legalidade. Por tal razão, não há legalidade sem
a correlata anterioridade.

b) Reserva legal ou lege scripta: E preciso, também, que a


incriminação se baseie em lei no sentido formal. Não pode o direito
consuetudinário (costumeiro) ou o emprego de analogia embasar a punição
criminal de um ato, ou mesmo o agravamento das consequências penais de uma
infração penal definida em lei. Os usos e costumes, por mais arraigados que
possam ser em determinada comunidade, não podem embasar a existência de um
crime.

c) Proibição de analogia ou lege stricta: A analogia constitui


método de integração do ordenamento jurídico, em que se aplica uma regra
existente para solucionar caso concreto semelhante, para o qual não tenha havido
expressa regulamentação legal. A vedação atinge somente a analogia in malam
partem, isto é, aquela prejudicial ao agente, por criar ilícito penal ou agravar a
punição dos já existentes.

d) Taxatividade ou lege certa: A lei penal deve ser determinada em


seu conteúdo. Não se permite a construção de tipos penais excessivamente
genéricos, os quais são denominados tipos penais vagos. Uma lei penal
incriminadora que punisse uma conduta vaga e indeterminada provocaria
insegurança jurídica e acabaria por aniquilar a garantia constitucional em apreço.

2.3 - Princípio da irretroatividade da lei penal gravosa (ou retroatividade benéfica):

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De acordo com nossa Constituição Federal, a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu (art. 50 XL). O mesmo princípio encontra-se no Código Penal, em seu
artigo 20 que diz:

Art. 20 - Ninguém pode ser punido por fato que lei


posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo


favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.

Como exemplo podemos citar o adultério. Até pouco tempo era considerado crime o a
prática de adultério. Alterações no Código Penal foram realizadas para adequar a nova
realidade da sociedade brasileira e o artigo que tipificava o adultério como crime, foi
revogado.

O enunciado do Art. 20 do Código Penal contém duas regras: a lei penal possui
caráter irretroativo, afinal, de nada adianta estabelecer que a norma penal deve se
basear numa lei escrita se for possível elaborá-la depois da conduta, punindo fatos
anteriores à vigência da lei ou agravando as consequências de tais fatos.
A retroatividade benéfica, entretanto, não é proibida, já que não abala a confiança no
Direito Penal e, ademais, justifica-se como medida de isonomia. Não teria sentido que
alguém cumprisse pena depois de uma lei considerar a conduta pela qual foi condenado
como penalmente irrelevante, sob pena de, em não sendo assim, conviverem, ao mesmo
tempo, alguém cumprindo pena pelo fato enquanto outros o praticam sem sofrer qualquer
consequência penal.

2.4 - Princípio da insignificância ou da bagatela:

O princípio da insignificância ou da bagatela foi desenvolvido por Claus Roxin.


Para o autor, a finalidade do Direito Penal consiste na proteção subsidiária de bens
jurídicos. Logo, comportamentos que produzam lesões insignificantes aos objetos jurídicos
tutelados pela norma penal devem ser considerados penalmente irrelevantes. A aplicação
do princípio produz fatos penalmente atípicos.

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2.5 - Princípio da alteridade ou transcendentalidade:

Tem como precursor Claus Roxin e significa que não é possível incriminar
atitudes puramente subjetivas, ou seja, aquelas que não lesionem bens alheios. Se a ação ou
omissão for puramente pecaminosa ou imoral, não apresenta a necessária lesividade que
legitima a intervenção do Direito Penal. Por conta desse princípio, não se pune a autolesão,
salvo quando se projeta a prejudicar terceiros, como no art. 171, § 2 0 V, do CP (autolesão
para fraudar seguro); a tentativa de suicídio não é crime (nosso CP somente pune a
participação no suicídio alheio — art. 122); o uso pretérito de droga não é crime (o porte é
punido porque, enquanto o agente detém a droga, coloca em risco a incolumidade pública).

2.6 - Princípio da intervenção mínima:

Somente se deve recorrer à intervenção do direito penal em situações extremas,


como a última saída (ultima ratio). A princípio, portanto, deve-se deixar aos demais ramos
do Direito a disciplina das relações jurídicas. A subtração de um pacote de balas em um
supermercado, já punida com a expulsão do cliente do estabelecimento e com a cobrança
do valor do produto ou sua devolução, já foi resolvida por outros ramos do
Direito, de modo que não necessitaria da interferência do Direito Penal.

3 — Infração Penal — Classificação Bipartida e Tripartida:


Crime é a prática da conduta descrita no artigo (tipo penal). Igualmente é o
conceito de contravenção penal. Para que exista um crime, devem estar presentes

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alguns elementos. Uma parcela da doutrina adota a teoria bipartida, que considera
como elementos do crime a existência de fato típico e ilícito.
A outra parte da doutrina adota a teoria tripartida, que considera como elementos do
crime: fato típico, ilícito ou antijurídico (ilegal) e culpável (reprovável), integrando o
elemento culpabilidade.

3.1 — O fato típico: fato típico é a conduta comissiva (por ação) ou omissão produtora
de um resultado reprovável pelo Direito Penal, podendo ser crime ou contravenção penal. É
o primeiro elemento que constitui o conceito de crime, e se subdivide em 4 elementos:
Conduta, Resultado, Nexo de Causalidade e Tipicidade. Para que um determinado fato seja
considerado típico deve-se considerar os quatro elementos juntos, de forma que, ausente
quaisquer destes elementos, a conduta será atípica.

Os elementos do fato típico são conceituados da seguinte forma:

a) Conduta: Ação ou comportamento humano.

b) Resultado: Modificação do mundo exterior, causada pela conduta.

c) Nexo de Causalidade: Vínculo entre a conduta e o resultado.


Tipicidade: Adequação da conduta praticada com o modelo abstrato previsto na lei.

3.2 - Ilícito ou antijurídico: O Direito brasileiro prevê as causas que excluem a


antijuridicidade do fato típico. São os chamados tipos permissivos, e excluem a
antijuridicidade por permitirem a prática de um fato típico. Ou seja, somente será típico o
fato que também for antijurídico e, presentes os requisitos de uma discriminante, não há que
se falar em conduta típica. O Art. 23 do Código Penal Brasileiro ao tratar das excludentes
da ilicitude, dispõe que:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício


regular de direito.

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Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.

3.2.1 Estado de necessidade:

Segundo o artigo 24 do Estatuto Repressivo (Código Penal Brasileiro),


considerase estado de necessidade quem pratica o fato para salvar-se de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

Para a configuração desta excludente legal da ilicitude é necessário:

- haver um perigo atual. Para boa parte da doutrina poderia ser iminente, mas
nunca futuro ou remoto;

- que não tenha sido provocado pela vontade do agente (dolosamente), nem
poderia de outra forma evitá-lo (sendo possível, deve ser escolhida a forma menos gravosa);

-cujo sacrifício não era razoável exigir. Demanda uma análise do princípio da
proporcionalidade e da razoabilidade em face dos bens jurídicos em confronto.

Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo, segundo preceitua o Art. 24, § 1 0 CPB.

3.2.2 Legítima defesa:


Segundo NUCCI, "é a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, atual
ou iminente, contra direito próprio ou de terceiros, usando para tanto, moderadamente, os
meios necessários. O agente responderá pelo excesso doloso ou culposo, quando do uso da
legítima defesa, conforme preceitua o Parágrafo único do art.
23, CPB.
São os requisitos da legítima defesa:

a) a reação a uma agressão atual ou iminente e injusta: atual é a agressão que está
desencadeando-se, iniciando-se ou que ainda está desenrolando-se porque não se concluiu;

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iminente é a que está para ocorrer, que não permita demora à repulsa. No entanto, não há
que se falar em legítima defesa contra uma agressão futura, que pode ser evitada por outro
meio. O temor, ainda que fundado, não é suficiente para legitimar a conduta do agente,
ainda que verossímil.

b) a defesa de um direito próprio ou alheio: Isto é, a defesa pode ser de um bem


ou interesse juridicamente protegido próprio ou de terceiros.

c) a moderação no emprego dos meios necessários à repulsa: são definidos por


NUCCI da seguinte forma: "são os eficazes e suficientes para repelir a agressão ao direito,
causando o menor dano possível ao atacante. Deve haver proporcionalidade entre a defesa
empreendida e o ataque sofrido, que deverá ser apreciada no caso concreto, não se tratando,
portanto, de um conceito rígido. Se o meio fundar-se, por exemplo, no emprego de arma de
fogo, a moderação basear-se-á no número de tiros necessários para deter a agressão. A
escolha do meio defensivo e o seu uso importarão na eleição daquilo que constitua a menor
carga ofensiva possível, pois a legítima defesa foi criada para legalizar a defesa de um
direito e não para a punição do agressor."

Segundo NUCCI, a possibilidade de legítima defesa contra legítima defesa, ou


contra outra excludente de ilicitude não é possível, pois a agressão não pode ser injusta, ao
mesmo tempo, para duas partes distintas e opostas. Entretanto, admite a possibilidade de
haver legítima defesa real contra legítima defesa putativa ou contra outra excludente
putativa. Isso porque a legítima defesa real é reação contra agressão verdadeiramente
injusta e a chamada legítima defesa putativa é uma reação a uma agressão imaginária.
Segundo o autor, no primeiro caso exclui-se a antijuridicidade; no segundo, afasta-se a
culpabilidade.

Já de acordo com NORONHA, pode ocorrer legítima defesa putativa contra a real ou
objetiva e exemplifica: "se A, julgando justificadamente que vai ser agredido por B, dispara
um tiro de revólver neste que, antes de ser atirado pela segunda vez, atira também contra A.
Esse age em legítima defesa putativa, pois as circunstâncias o levaram a erro de fato
essencial, e B atua em legítima defesa objetiva. As situações, porém, são diversas: um tem a
seu favor uma dirimente ou causa de exclusão da culpa
(em sentido amplo), ao passo que o outro se socorre de excludente de antijuridicidade

d) o elemento subjetivo: E a consciência do sujeito que atua sob o manto de


qualquer excludente de ilicitude acerca da sua utilização e dos requisitos e elementos fáticos
que a envolvem. Atuar em legítima defesa exige a plena noção de que se está defendendo
de agressão injusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiros.

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3.2.2.1 Legítima defesa protetiva

No ano de 2019, entrou em vigor a Lei Federal n o 13.964, de 24 de


dezembro de 2019 (a qual aperfeiçoa a legislação penal e processual penal
brasileira), trazendo consigo uma inovação, em particular, que repercutirá na
atividade operacional das polícias, haja vista envolver ação perpetrada por agente
de segurança pública durante eventos de preservação da vida. Trata-se do
reconhecimento do instituto por nós chamado de "legítima defesa protetiva", que
abrangerá não apenas injusta agressão, mas sim, e também, o risco a ela. Segue-se
a alteração citada:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos


no caput deste artigo, considera-se também em
legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida
refém durante a prática de crimes.

Segundo o atual art. 25 do Código Penal, já estudado anteriormente, entende-se em


legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual (acontecendo) ou iminente (prestes a acontecer), a direito seu ou de outrem.
Agora, graças ao parágrafo único acrescido ao tipo em questão, considera-se também em
legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a
vítima mantida refém durante a prática de crimes.

Essa ação difere da chamada "legítima defesa antecipada ou preventiva", eis que,
nestas, a iminência da agressão, em princípio, está afastada. Difere, também, da
denominada "legítima defesa pré-ordenada", caracterizada pela ação dos chamados
"ofendículos", isto é, de aparatos usados para a defesa do patrimônio, como cercas elétricas
e cacos de vidro.

No caso em comento, para fins de reconhecimento da excludente, a lei agora


considera que a vítima mantida refém durante a prática de crimes passa a estar em constante
perigo, dada a imprevisibilidade temporal de um ataque que poderá ocorrer a qualquer
instante. Assim, num cenário real o agente de segurança pública está agora licenciado a
repelir não apenas a iminência ou a atualidade da agressão injusta, mas, também, o risco a
ela. E para tanto ele deve focar no perigo, que é o causador do risco.

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Será então necessário que a vítima esteja com uma arma de fogo apontada
para a cabeça ou sofrendo iminente agressão similar? Não mais. Se os agentes de
segurança pública avaliarem que o risco, embora não atual ou iminente, é de fato
real, isto é, que o perpetrador, sem prejuízo dos apelos de rendição feitos pelo
Estado, representa perigo efetivo (porta explosivos, produtos inflamáveis, encontra-
se psiquicamente abalado, enverga armas de maneira agressiva etc.), o ataque
protetivo deve ser feito, buscando-se a incapacitação imediata do agressor e a
preservação da vida inocente. Isso, frise-se, encontra guarida na conjugação "ou"
(alternativa ou opcionalidade) usada pela lei, a qual se contenta com a agressão "ou"
com o risco de agressão (ações apartadas).

3.2.3 Estrito cumprimento de dever legal ou no Exercício regular de direito:


O estrito cumprimento de dever legal é o instituto jurídico penal que compreende as
normas e princípios relativos à atuação de quem, sob comando legal, pratica conduta
descrita em um tipo legal. A lei não determina apenas a faculdade, a escolha do agente em
obedecer ou não a regra por ela estabelecida. Há, em verdade, o dever legal de agir; o dever
de agir tem origem na lei, exclusivamente.

Entende-se por dever legal toda e qualquer obrigação direta ou indiretamente


derivada de lei, isto é, preceito obrigatório e derivado da autoridade pública competente
para emiti-lo. Ainda, o cumprimento deve ser estritamente dentro da lei, sendo, assim, mais
um elemento a atuação do agente pautado aos ditames da lei. Exige-se que o agente se
contenha dentro dos rígidos limites de seu dever, fora dos quais desaparece a excludente.
Fora dos limites traçados pela lei, surge o excesso ou abuso de autoridade, o fato torna-se
ilícito e, além de livrar do cumprimento aquele a quem se dirigia a ordem, abre-lhe espaço
para utilização da legítima defesa.

Assim, por exemplo, o policial que, ao cumprir o dever legal de realizar prisão
em flagrante delito (art. 301, do CPP), em primeiro lugar, deve tentar executá-la
utilizando simplesmente a chamada "voz de prisão". Caso não seja atendido, deverá
empreender a força física necessária para deter o infrator. Não poderá, porém, com o
intento de evitar a fuga do fugitivo, usar arma de fogo para matá-lo ou até mesmo
feri-lo. O emprego da força pela Polícia, no estrito cumprimento de dever legal,
deverá nortear-se pelos princípios da intervenção mínima, da proporcionalidade e da
inviolabilidade dos direitos fundamentais. O que se exige do agente do cumprimento
da lei não é que execute, a qualquer custo, o que nela estiver previsto, mas que
realize o comando legal, de forma que lese o menos possível os interesses
particulares.

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3.3. CULPABILIDADE
Culpável: é o conceito relacionado ao chamado juízo de reprovação do agente pelo que fez.
A doutrina majoritária adota a chamada teoria normativa pura para definir a culpabilidade,
dividindo em três elementos:

Imputabilidade: Capacidade que o infrator possui de entender o caráter ilícito do fato


por ele praticado.

Potencial consciência da ilicitude: O agente tem que praticar o fato sabendo, ou ao


menos tendo a possibilidade de saber que a conduta era ilícita.

Exigibilidade de conduta diversa: A prática da conduta deve ser realizada


numa situação regular, normal.

O exemplo mais conhecido da ausência de culpabilidade é o que envolve os


menores de idade, entre 12 e 17 anos. Em nosso país, por força do chamado critério
biológico, considera-se que nessa faixa etária o indivíduo é inimputável, faltando-lhe a
imputabilidade, isto é, a capacidade de entender o caráter ilícito dos fatos que pratica.

Nesse sentido, um adolescente de 17 anos que pratique um roubo, sem qualquer


causa que justifique sua conduta (resultando num fato típico e antijurídico), não praticará
crime, pois lhe falta a imputabilidade e, consequentemente, a culpabilidade. O que ele
pratica é um ato infracional.

4 — Tempo do Crime: Teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro.

4.1 - Atividade:

Art. 40 — Considera-se praticado o crime no momento da


ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado.

Assim, se 'A', com inequívoco animus necandi (Vontade de matar), atira contra 'B'
em data de 10 de janeiro de 2015, na cidade de Osasco/SP, vindo este a óbito em data de 27
de abril do citado ano, porém na cidade de São Paulo/SP. Ter-se-á praticado o crime de
homicídio em 10/01/2015. Isso ocorre, por que como diz o artigo 4 0 do CP, considera-se

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praticado o crime no momento da ação, e o momento da ação no nosso exemplo acima, foi
no dia 10/01/2015.

5 - Lugar do crime: Teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro.

LUGAR DO CRIME - TEORIA DA UBIQUIDADE OU MISTA

Refere-se como lugar do crime aquele em que ocorre a conduta (dolosa ou


culposa) ou é aquele em que o resultado foi produzido e esta é a teoria adotada pelo
Código Penal.

5.1 Ubiquidade ou mista:

Art. 6 0 — Considera-se praticado o crime no lugar em que


ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem
como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado.

6 - Crime Permanente e Crime Continuado:


Configuram crimes permanentes aqueles cujo momento consumativo se prolonga
no tempo, por exemplo, sequestro (enquanto a vítima for mantida com sua liberdade
privada, considera-se prolongado o momento da consumação). Fala-se em crime
continuado, por outro lado, quando vários crimes são praticados em continuidade delitiva
(art. 71 do CP).

Se durante a permanência ou a continuidade delitiva entrar em vigor nova lei, ainda


que mais gravosa, ela se aplica a todo o evento, vale dizer, ao crime permanente e a todos
os delitos cometidos em continuidade delitiva.

Assim, por exemplo, se uma pessoa recebeu droga em julho de 2006 (quando estava
em vigor a Lei n. 6.368/76) e a guarda em um depósito com o objetivo de comercializá-la
até janeiro de 2007 (quando já estava em vigor a Lei n. 11.343/2006), ficará sujeita às penas
mais severas da nova legislação, uma vez que se trata de crime permanente, cujo momento
consumativo iniciou-se com a lei antiga mas persistiu durante a nova lei.

7 - Lei excepcional e lei temporária (CP, art. 30):

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Art. 30 - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

De acordo com o art. 3 0 do CP, "A lei excepcional ou temporária, embora decorrido
o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao
fato praticado durante sua vigência". Excepcional é a lei elaborada para incidir sobre fatos
havidos somente durante determinadas circunstâncias excepcionais, como situações de crise
social, econômica, guerra, calamidades etc. Temporária é aquela elaborada com o escopo de
incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo período de tempo.

A regra constante do art. 30 do CP tem uma razão prática evidente, declarada na


Exposição de Motivos da Parte Geral do Código Penal: "Esta ressalva visa impedir que,
tratando-se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas sanções
por expedientes astuciosos no sentido do retardamento dos processos penais".

Em suma, devemos ter em mente, que para a teoria do delito, o crime se divide em:

1) Fato típico.
2) Antijurídico/llícito.
3) Culpável.

Quadro esquematizado dos elementos do crime.

Fato típico Ilícito Culpabilidade —


Apenas
elementos
normativos.

Elementos Elementos objetivos:


Potencial
subjetivos conhecimento da
ilicitude

Conduta (dolo 1) Estado de Imputabilidade


e culpa) necessidade, 2)
Legitima defesa,
3) Exercício regular
de direito e Estrito
cumprimento de

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dever le al.

Desvalor do Exigibilidade de
resultado conduta diversa
Exercícios de Fixação

1) De acordo com os princípios basilares do Direito Penal, assinale a alternativa correta:


a) Pelo princípio da Legalidade, ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime.
b) A retroatividade benéfica é proibida pois abala a confiança do Direito Penal, e
coloca em xeque o princípio da isonomia.
c) Pelo princípio da bagatela comportamentos que produzam lesões insignificantes
aos objetos jurídicos tutelados pela norma penal devem ser considerados
penalmente irrelevantes.
d) O princípio da Dignidade Humana não é afeto ao Direito Penal, posto está
previsto na Constituição Federal.

2) Considerando o conceito de infração penal, assinale a alternativa correta:

a) Para que exista crime, é necessário que esteja presente um dos seguintes
elementos: fato típico, ou ilícito, ou reprovabilidade.
b) O fato típico é composto pelos elementos Conduta, Resultado, Nexo de
Causalidade e Tipicidade.
c) Somente será típico o fato que não for antijurídico
d) Estando presente alguma discriminante (excludente de ilicitude), o fato continua
sendo típico e antijurídico.

3) Sobre as excludentes de ilicitudes, pode-se afirmar:


a) Na legítima defesa o agente responderá apenas pelo excesso doloso.
b) Inovação recente do Direito Penal é a figura da Legítima Defesa Protetiva
onde considera-se também em legítima defesa o agente de segurança
pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém
durante a prática de crimes.
c) O estado de necessidade é o instituto jurídico penal que compreende as normas e
princípios relativos à atuação de quem, sob comando legal, pratica conduta
descrita em um tipo legal.
d) Considera-se em estrito cumprimento de dever legal quem pratica o fato para
salvar-se de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se.

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MÓDULO II

PARTE ESPECIAL DIREITO PENAL


1 - Dos crimes contra a vida:
Os crimes contra a vida são aqueles nos quais o bem jurídico tutelado é a vida
humana. A vida é o bem jurídico mais importante do ser humano. A vida humana, para
efeitos penais, pode ser tanto a vida intrauterina quanto a vida extrauterina.

Os arts. 121 a 123 cuidam da tutela da vida extrauterina (de quem já nasceu),
enquanto os crimes dos arts. 124/127 tratam da tutela da vida intrauterina (dos
nascituros).

A morte pode ser provocada de maneira comissiva (ação positiva) ou de


maneira omissiva (negativa de ação) Art. 13, §2 0 do CP, e consuma-se com a morte
encefálica (art.
30 , Lei 9439/97).

Dolo: É a consciência e a vontade de matar a vítima. Dolo de matar. O dolo do


crime de homicídio tem o nome de "animus necandÎ'.

Culpa: É a inobservância do dever objetivo de cuidado, causadora de um resultado


não desejado, mas objetivamente previsível. Não há crime culposo sem a produção de
resultado. A culpa se materializa por meio da imprudência, negligência ou imperícia.

2. Crimes Contra a Pessoa

2.1. Homicídio

2.1.1. Conceito de Homicídio


Segundo o Professor Rogério Sanches, trata-se da injusta morte de uma pessoa
praticada por outrem. Conforme proclama Nelson Hungria, homicídio é o tipo central dos
crimes contra a vida. É o ponto culminante na orografia dos crimes. E o crime por
excelência.

2.1.2. Homicídio simples

Art. 121. Matar alguém:

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Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
O homicídio simples pode ser considerado hediondo?
Vai ter natureza hedionda quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente. (Art. 1 0 1 da Lei 8.072/90)

Caso de diminuição de pena (Homicídio Privilegiado)


§ 1 0 Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Relevante valor moral: E aquele que atende aos interesses do próprio cidadão
(piedade, compaixão, misericórdia). Ex: eutanásia (homicídio piedoso);
Relevante valor social: É aquele que atende aos interesses da coletividade. Ex: matar
um estuprador, um cruel traficante de drogas, sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima. Outro exemplo é o homicídio do traído
afetivamente.

2.1.3. Homicídio Qualificado


§ 2 0 Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro


motivo torpe;

II - por motivo fútil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,


tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação


ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa
do ofendido;

V — para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade


ou vantagem de outro crime:

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Pena — reclusão, de doze a trinta anos.

A paga ou promessa de recompensa (homicídio mercenário) é um exemplo de


torpeza (Inciso l). O motivo fútil é a desproporcionalidade do crime em relação à sua causa
moral. É a pequeneza do motivo (Inciso II). Ex: briga de trânsito. O inciso III também
emprega a fórmula casuística inicial e, ao final, usa fórmula genérica, permitindo ao seu
aplicador encontrar casos outros que denotem insídia, crueldade ou perigo comum advindo
da conduta do agente (interpretação analógica). — Trabalha com interpretação analógica
(exemplos seguidos de encerramentos genéricos).

Observações
Obs. 1: Asfixia é qualquer método para se impedir a respiração.
Obs.2: Veneno é qualquer substancia capaz de matar quando inoculada no corpo da
vítima.

Segundo Rogério Sanches, o veneno consiste em qualquer substancia biológica ou


química, animal, mineral ou vegetal capaz de perturbar ou destruir funções vitais do
organismo humano. O açúcar, por exemplo, empregado em face de um diabético, pode ser
considerado um veneno.

Atenção! Para caracterizar a qualificadora do veneficio, é imprescindível que a


vítima desconheça que nela está sendo ministrada a substância letal. Veneno é a substância
biológica ou química, animal, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções
vitais do homem.

Insidioso é a utilização de fraude para cometer o crime sem que a vítima perceba.
Exemplo: retirar o óleo de direção do automóvel para provocar um acidente fatal contra seu
proprietário.

Meio cruel: proporciona à vítima um intenso e desnecessário sofrimento físico ou


mental, quando a morte poderia ser provocada de forma menos dolorosa.

O inciso IV trabalha com a interpretação analógica (exemplos seguidos de


encerramentos genéricos). Traição, Emboscada e Dissimulação são apenas exemplos de
modos que dificultam a defesa do ofendido.
Traição: é o ataque desleal, por exemplo, atirar na vítima pelas costas. A
traição é marcada pela deslealdade.
Emboscada: pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com
surpresa.
> Dissimulação: o agente oculta sua intenção.

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A traição pode ser física, exemplo: atirar pelas costas ou moral, exemplo: atrair a
vítima para um precipício.

Emboscada é a tocaia.

A dissimulação pode ser:

• Material: emprego de algum aparato, tal como uma farda policial, ou

• Moral: demonstração de falsa amizade ou simpatia pela vítima, para,


exemplificativamente, levá-la a um local ermo e matá-la.

Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: matar a vítima
com surpresa, enquanto dorme, quando se encontra em estado de embriaguez, em manifesta
superioridade numérica de agentes (linchamentos) etc.

2.1.4. Feminicídio
VI — contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

Conforme o parágrafo 2 0A/CPB, considera-se que há razões de condição de sexo


feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar; menosprezo ou
discriminação à condição de mulher.
A Lei no 13.104 de 2015 inseriu o inciso VI para incluir no art. 121 0
feminicídio, entendido como a morte de mulher em razão da condição de sexo feminino,
leia-se, violência de gênero quanto ao sexo.

Entrou em vigor em 10 de Março de 2015. Em se tratando de uma lei que agrava a


situação do réu, consagra uma nova hipótese qualificadora, não pode ser aplicada a conduta
praticada antes da referida data.

Trata-se de homicídio cometido por razões de gênero do sexo feminino


(preconceito, discriminação, desprezo pela condição de mulher).

§ 2Q-A Considera-se que há razões de condição de sexo


feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar

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II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

2.1.5. Homicídio contra autoridades

VII — contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144


da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou
em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição:

Pena — reclusão, de doze a trinta anos.

Em 2015 as hipóteses de homicídio qualificado foram alteras pelo advento das leis
O
n 13.104 e 13.142.

Atenção: Diferentemente do homicídio simples, o homicídio qualificado é sempre


hediondo, não importando a qualificadora. Nesse sentido, é a Lei n o 8.072/90 (Lei dos
Crimes Hediondos).

2.1.6. Homicídio culposo


§ 30 Se o homicídio é culposo:
Pena — detenção, de um a três anos.
Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência,
negligência ou imperícia, deixa de aplicar a atenção ou diligência de que era capaz,
provocando, com sua conduta, o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou previsível
(culpa inconsciente), jamais querido ou aceito.

Imprudência: precipitação, afoiteza (ação);

Negligência: ausência de precaução (omissão);

Imperícia: falta de aptidão técnica para exercício de arte, ofício ou profissão.

3. Lesão corporal
O crime de lesão corporal é de forma livre, não havendo previsão de forma
específica para sua prática. E comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do
sujeito ativo. E delito de dano, consumando-se com a lesão ao bem jurídico tutelado.

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Cuida-se de crime plurissubsistente, de acordo com o entendimento majoritário, razão pela
qual se admite a tentativa. A conduta típica é ofender, de forma direta ou indireta, a
integridade corporal ou a saúde de outra pessoa, aqui compreendido um ser humano vivo.
Pode haver mais de um ferimento na vítima, o que não prejudica a unidade do delito.

Trata-se de infração penal classificada como material, isto é, a ocorrência do


resultado naturalístico é imprescindível para a sua consumação. O sujeito passivo não pode
ser o mesmo do sujeito ativo, especialmente em decorrência do princípio da alteridade ou
da transcendentalidade, que preconiza não ser punível a conduta que não saia da esfera da
disponibilidade do agente. Por isso, não se pune, por si só, a autolesão.

O elemento subjetivo do delito é o denominado animus nocendi ou animus


laedendi, ou seja, é a vontade livre e consciente de produzir uma lesão ou um dano à
integridade corporal ou de prejudicar a saúde de outrem. Também há punição a título de
preterdolo e de culpa, como veremos.

A lesão corporal de natureza leve se diferencia da contravenção de vias de


fato em uma relação de subsidiariedade, de modo que, se não se configurar o crime,
haverá a prática da contravenção penal. O delito de lesão corporal exige que haja
ofensa à integridade física ou mental do indivíduo ou à saúde da vítima, como no
caso de serem provocados hematomas e equimoses. A mera provocação de dor ou de
uma mancha avermelhada não implicam na configuração do crime, o que pode ser o
caso de consumação da contravenção de vias de fato. Além disso, tanto o crime como
a contravenção penal se diferenciam da chamada injúria real, que é a conduta de
injuriar alguém por meio de violência ou de vias de fato.

Para configuração da injúria real, é imprescindível que a violência ou as vias de


fato empregadas tenham a natureza de aviltantes, sendo que o elemento subjetivo do
agente, que é o animus injuriandi (Vontade de Injuriar), a diferencia das outras infrações
penais mencionadas.

A lesão corporal possui diversas modalidades, havendo o tipo penal simples,


o qualificado e o privilegiado. A lesão qualificada pode ser de natureza grave, de
natureza gravíssima, com resultado morte ou a que envolve violência doméstica e
familiar contra a mulher. Além disso, prevê-se a punição da forma culposa, bem
como algumas causas de aumento de pena.

O esquema abaixo demonstra as espécies de lesões corporais:

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Lesão Grave

Lesåo Gravíssima

Lesão Seguida de Morte

Violência doméstica

Lesões corporais

Obs.: Os policiais militares devem observar junto à sociedade o grande volume de


violência domestica e familiar contra mulher, sendo assim, a titulo de conhecimento
listamos todas os tipos de lesões, porém os operadores da segurança pública devem ter uma
atenção especial a lesão prevista no artigo 129, §90 do CP (Violência doméstica).

3.1. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA LEVE


O tipo penal básico ou simples da lesão corporal é denominado pela doutrina de
lesão corporal de natureza leve, estando prevista no artigo 129 do Código Penal:

Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a


saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Vale lembrar que a ação penal no crime de lesão corporal leve é pública
condicionada à representação da vítima, conforme preceitua o art.88 da lei 9.099/95.
Cabe a lavratura de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), caso a vítima
queira representar contra o autor. Neste caso, o Policial Militar deverá preencher o
Termo de Manifestação do Ofendido, e o autor e a vítima, de pronto já saem
intimados da data de audiência em juízo.

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3.2. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE
O artigo 129, em seu parágrafo primeiro, prevê a forma qualificada do delito, com
a denominação legal de lesão corporal de natureza grave e com pena de reclusão, de um a
cinco anos:

São delitos qualificados pelo resultado, que pode ter sido praticado a título de dolo
ou de culpa, sendo que somente no último caso recebem a denominação de crimes
preterdolosos. O perigo de vida, entretanto, só pode ter sido produzido por culpa, sob pena
de configuração de um crime autônomo, como por exemplo o homicídio. Vejamos as
hipóteses:

§ 1 0 Se resulta:
l. se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de trinta dias:

II. se resulta perigo de vida


III. se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou
função.

IV. se resulta aceleração de parto:

3.3. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA


O artigo 129, em seu parágrafo segundo, prevê outros resultados que qualificam o
delito, sob a mesma denominação de lesão corporal de natureza grave. A doutrina, para
diferenciar os casos do parágrafo primeiro dos previstos no parágrafo segundo, com pena
diferenciada, de dois a oito anos de reclusão, denomina-os de lesão corporal de natureza
gravíssima.

Como nos casos do parágrafo primeiro (lesão corporal de natureza grave), temos
crimes qualificados pelo resultado, o qual pode ter sido praticado a título de dolo ou de
culpa, sendo que somente no último caso recebem a denominação de crimes preterdolosos.
A exceção é o caso do aborto que, se praticado por dolo, configura o crime autônomo.
Estudemos cada um dos resultados que qualificam o delito, tornando-o de natureza
gravíssima:

l. se resulta incapacidade permanente para o trabalho:


II. se resulta enfermidade incurável:
III. se resulta perda ou inutilização do membro, sentido ou função:

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IV. se resulta deformidade permanente:
V. se resulta aborto:

3.4. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE


A lesão corporal seguida de morte também pode ser chamada de homicídio
preterdoloso. Constitui-se no crime de lesão corporal, praticado com dolo direto ou
eventual, com o resultado, advindo de culpa, de morte da vítima. Ou seja, há dolo no
antecedente e culpa no consequente.

Lesão corporal seguida de morte


§ 3 0 Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produziIo:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

A diferenciação com o homicídio reside no elemento subjetivo do agente. No


homicídio, o agente quer a morte da vítima. Na lesão corporal seguida de morte, ele quer
causar uma lesão (é o seu dolo), mas, por culpa, acaba matando a vítima.

Pode-se exemplificar com o agente que, querendo dar uma paulada na vítima
para agredi-la, para apenas causar uma lesão, acaba derrubando-a e ela bate a cabeça
na aresta de um móvel e, com isso, sofre traumatismo craniano. O sujeito passivo
morre em decorrência da lesão. Neste caso, o crime será de lesão corporal seguida de
morte.

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3.5. LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA
Configura-se quando o agente comete o crime por motivo de relevante valor social
ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da
vítima. A previsão está no artigo 129, § 40 do CP:

Diminuição de pena:
§ 4 0 Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena:
§ 5 0 0 juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir
a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a
dois contos de réis:

I - Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;


II - se as lesões são recíprocas.

3.6. LESÃO CORPORAL CULPOSA


§ 6 0 Se a lesão é culposa:

Pena - detenção, de dois meses a um ano.


Convém ressaltar que a ação penal no crime de lesão corporal culposa é pública
condicionada à representação da vítima, conforme preceitua o art.88 da lei 9.099/95. Cabe
a lavratura de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), caso a vítima queira
representar contra o autor. Neste caso, o Policial Militar deverá preencher o Termo de
Manifestação do Ofendido.

3.7. LESÃO CORPORAL COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR.


Há também qualificadora para o caso de a lesão corporal ser praticada em contexto
de violência doméstica e familiar, em que a pena será de três meses a três anos de detencão,
se a lesão for leve, nos termos do parágrafo nono do artigo 129:

Violência Doméstica:

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Artigo 129, § 90 CP: Se a lesão for praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Deve-se atentar que o caso é de violência doméstica e familiar, o que se configura


se a vítima for ascendente, descendente, irmã, cônjuge ou companheira do agente.
Configura-se, ainda, se o agente se valer das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade do ofendido. Registre-se, por relevante, que o ofendido pode ser homem ou
mulher, não se limitando ao último gênero mencionado, de forma diversa do que prevê a
Lei Maria da Penha.

São situações em que caracterizam a lesão corporal no ambiente doméstico e


familiar:

a) contra ascendente, descendente ou irmão: nessa situação é dispensável a


coabitação entre autor e vítima.
b) Contra cônjuge ou companheiro: prevalece incidir a incidência do §9 0
mesmo na hipótese de separação de fato.

c) Contra pessoa com quem conviva ou tenha convivido: ainda que não tenha
relação de parentesco, se convive ou tenha convivido, haverá a incidência do

d) Prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de


hospitalidade.

De acordo com Nucci, a expressão .com quem conviva ou tenha convivido o agente"
deve ser analisada em conjunto com as situações anteriores apresentadas, exigindo que o
agente e vítima convivam ou tenham convivido.

Observações finais:

Obs. 1: para caracterizar as qualificadoras do 10 e 11, a vítima não precisa ser


necessariamente mulher.

Obs.2: em sendo a vítima mulher, além do código penal, terá na sua proteção a
incidência da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).

Obs.3: Mesmo quando homem, se a vítima for vulnerável, é possível aplicar as


medidas protetivas da Lei Maria da Penha.

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Se a lesão corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte e estiverem presentes
as circunstâncias configuradoras da violência doméstica e familiar, previstas no parágrafo
nono, a pena será aumentada de um terço. Assim, será o caso de lesão qualificada com
causa de aumento de pena, nos termos do parágrafo décimo:

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 10 a 30 deste artigo, se as


circunstâncias são as indicadas no § 90 deste artigo,
aumentase a pena em 1/3 (um terço).
Há, ainda, a previsão de aumento de pena, ou seja, de crime majorado, se a forma
qualificada do parágrafo nono envolver vítima deficiente:

§ 11. Na hipótese do § 90 deste artigo, a pena será aumentada de


um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência.

3.8. LESÃO CORPORAL FUNCIONAL


A Lei 13.142/2015 trouxe nova forma majorada do crime de lesão corporal,
referente à prática do crime contra agentes das Forças Armadas ou do sistema de
Segurança Pública, bem como a seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau. Sua previsão está no parágrafo décimo segundo do artigo 129:

Causa de aumento de pena

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente


descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois
terços.
Vale recordar que a hipótese é de proteção especial da função, sendo que o delito
praticado, seja contra o agente ou autoridade, seja contra sua família, deve ter relação com
a função pública ou com a condição pessoal para que a majorante incida.

4. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA

Sem a menor pretensão de esgotar os crimes desse capitulo, neste tópico será
tratado forma breve sobre os crimes dos artigos 131, 132, concatenando com os artigos 268
e 330 do CP, bem como pontuais apontamentos a lei federal 13979/20, preceitos legais que

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servirão de norte para o desempenho de um trabalho rotineiro junto à sociedade no combate
a epidemias, por exemplo a Covid-19.

A emergência sanitária desencadeada pela covid-19 em 2020 não está imune


à enérgica pretensão de aplicação do Direito Penal, especialmente no Brasil, em que
há uma tradição de utilização da ameaça da sanção penal como instrumento de
persuasão para a observância de políticas públicas.

Nos parágrafos a seguir, tem-se um breve panorama dos crimes relacionadas


às epidemias:

Perigo de contágio de moléstia grave


Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia
grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.


Iniciando pelos crimes de periclitação da vida e da saúde, a imputação ao artigo 131
do Código Penal está condicionada à comprovação do dolo específico, isto é, não basta o
agente ter ciência de que foi infectado, devendo, adicionalmente, ter a intenção de transmitir
a doença grave. Na hipótese de, por exemplo, a pessoa contaminada pela covid-19,
intentando transmitir a doença a outrem, provocar um contato físico capaz de provocar a
contaminação, aparentemente poderá ser enquadrada no mencionado tipo penal, que prevê
pena de reclusão de um a quatro anos e multa.

O tipo penal demanda que a moléstia transmitida seja grave. Por essa razão, caso o
vírus, do ponto de vista médico, caracterize-se apenas por sua fácil e difusa
transmissibilidade, mas não tenha um índice de letalidade elevado, a justificar a aplicação
do tipo penal, esse poderá ser afastado no caso em concreto, a menos que a pessoa para a
qual se tenha intenção de transmitir a doença faça parte do grupo de risco, hipótese em que
a gravidade da patologia passa a ser discutível.

Os profissionais da segurança pública deverão ficar atentos a tal crime, devendo de


forma direta conduzir o infrator ao órgão competente para que assim seja feito o
procedimento cabível contra o mesmo, sanando assim, o crime com a maior eficácia
possível, a fim de evitar um maior dano a sociedade.

Perigo para a vida ou saúde de outrem


Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
iminente:

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Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui
crime mais grave.

Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um


terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo
decorre do transporte de pessoas para a prestação de
serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em
desacordo com as normas legais.
A conduta de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente é
aplicável somente se o fato não constitui crime mais grave.

Em que pese à abrangência da conduta narrada no tipo penal, há interessantes


limitantes para a sua aplicação. O tipo exige que o perigo seja direto, isto é, imediatamente
vinculado à vítima, e, além disso, iminente (próximo).

Não basta, portanto, que o perigo seja iminente e indireto ou direto e não iminente.
Além disso, deve existir um dolo de expor o outro a esse perigo, ainda que em sua
modalidade eventual (assumir o risco de expor ao perigo). O perigo sempre deve ser
concreto, devendo ser comprovado que o comportamento do agente efetivamente
desencadeou a exposição ao perigo direto e iminente. É importante que esse perigo não
expresse um risco permitido.

É por essa razão, inclusive, que não responde por esse crime, pessoa que exponha
outrem ao contágio de uma gripe ou demais patologias de transmissão corriqueira e com
pouca gravidade, por exemplo.

No que diz respeito à covid-19, com a promulgação da Lei n o 13.979/20, fica


evidente a carência de permissividade do risco, posto que caracterizado como "emergência
de saúde pública de importância internacional".

Suponhamos que a um médico ou enfermeiro tenham sido negados equipamentos


de proteção individual (álcool em gel 70%, máscaras cirúrgicas, luvas descartáveis,
vestimentas apropriadas, óculos/proteção facial, etc.) para atendimento das pessoas
contagiadas pela covid-19. Nessas hipóteses, a administração do hospital assume, em tese, o
risco de expor tais profissionais a perigo direto e, ainda mais que iminente, um perigo atual.

4.1. Infração de Medida Sanitária:

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Diante das determinações elencadas nos Decretos Estaduais para o
enfrentamento da Covid-19, no ano de 2020, impende analisar o tipo penal previsto
no artigo 268 do Código Penal, já mencionado linhas acima, para entender o seu
alcance. Este se encontra inserido no Capítulo referente aos crimes contra a saúde
pública e assim disciplina a infração de medida sanitária preventiva:

Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a


impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é


funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico,
farmacêutico, dentista ou enfermeiro.

Observa-se que a conduta punível é infringir (violar) determinação do poder


público, destinada a impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa. A referência
à violação de "determinação do poder público" indica tratar-se de norma penal em branco,
dependendo de norma regulamentadora, a qual pode ser exarada pela União, Estados,
Distrito Federal ou Municípios, podendo decorrer de lei ou de ato administrativo, tais como
decreto, regulamento ou portaria.

Infringir, segundo Luiz Régis Prado (Curso de Direito Penal Brasileiro, 2020)
"significa quebrantar, transgredir, violar, desobedecer. As determinações do poder público
são leis, decretos, regulamentos, portarias, emanados de autoridade competente, visando
impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa, suscetível de transmitir-se por
contato mediato ou imediato".

In casu, diante da pandemia do coronavírus, temos como normas complementadoras


o
a Lei n 13.979/20 e suas regulamentações, como os Decretos Estaduais goianos n. 9.633,
9.634, 9.637 e 9.638.

A título de exemplo, praticará o crime de infração de medida sanitária preventiva o


agente que, mesmo após receber determinação para que realize compulsoriamente exame
médico, deixar de realizá-lo (artigo 30 , inciso III, alínea "a", da Lei 13.979/20).

De igual modo, se o agente isolado por determinação vier a fugir, também praticará
o crime previsto no artigo 268 do Código Penal (artigo 30 inciso l, da Lei
13.979/20).

Saliente-se que a expressão "determinação" revela tratar-se de uma ordem de cunho


imperativo ou obrigatório. Nesse sentido, Cleber Masson (Direito Penal,2020) assenta que a

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"expressão 'determinação do poder público' nada mais é do que a ordem emanada das
autoridades responsáveis pela realização das finalidades do Estado (exemplos: leis,
decretos, portarias, resoluções, etc.), voltada a preservar a saúde pública. Esta ordem,
evidentemente, dever ser de cunho imperativo ou obrigatório excluindo-se meros conselhos
ou advertências". No mesmo sentido, Luiz Régis Prado para quem "as determinações dever
ser de cunho obrigatório, não podendo ser apenas conselhos ou advertências
Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado,
consumando-se com a violação da determinação do poder público, pouco importando venha
a doença contagiosa a ser efetivamente introduzida ou propagada. A tentativa é admissível e
ocorrerá quando o agente descumprir a determinação do poder público, iniciando os atos
executórios, e for impedido de continuar por circunstâncias alheias à sua vontade. Por
exemplo: pessoa que está impedida de sair de casa em virtude de isolamento domiciliar, mas
tenta sair e é flagrada pela polícia.
Constitui-se, também, crime de perigo comum ou abstrato, sendo que a simples
probabilidade de contágio causado à sociedade em virtude do descumprimento de
determinação do poder público já é suficiente para a caracterização do delito, ainda que
desse descumprimento não derive resultado concreto, posto que este perigo já foi
considerado pela lei de maneira presumida (presunção absoluta).
Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo do crime (crime comum), mas
cabe a ressalva de que a causa de aumento de pena, prevista no parágrafo único do artigo
268 do Código Penal, só se aplica quando o agente for funcionário da saúde pública ou
exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro, tratandose, nesse caso,
de crime próprio.
Importa mencionar cuidar-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja
competência é dos juizados especiais criminais, aplicando-se o rito da Lei n o 9.099/95. No
caso em tela, o policial militar, deve individualizar o infrator, e lavrar o procedimento legal
para o crime, que no caso será o TCO, e assim sanar o crime e eventual risco de contagio a
sociedade e também a equipe de policiais que estão de serviço e como sempre buscar
combater a Covid-19, ou outra moléstia que possa surgir.
Após a análise de tais crimes, percebe-se o quão desesperador é a violação
normativa, sendo lei federal, estadual ou municipal, e no momento em que a
sociedade se encontra sofrendo por um agente invisível, os policiais militares devem
cumprir e fazer a sociedade aceitar e cumprir as ordens legais, provenientes dos
órgãos públicos em absoluto para evitar desavenças referentes à Saúde Pública e seu
infringimento, com o fim de garantir o bem e a saúde de toda a coletividade.
Desobediência:
Art. 330 - Desobedecer à ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

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Por derradeiro, cabe mencionar o crime de desobediência, tipificado no artigo 330,
do Código Penal, nas hipóteses de não observância das determinações do poder público
destinadas a impedir introdução ou propagação do COVID-19, ou de outras moléstias
graves, o que subsistirá nas hipóteses de não configuração de crimes mais graves.

5. Sequestro e cárcere privado


Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou
cárcere privado:

Pena - reclusão, de um a três anos.


5.1. Introdução

No caput do 148 do Códiqo Penal estão descritas as condutas que tipificam o


sequestro e o cárcere privado. Ao narrá-las o legislador assim dispôs: "privar alguém, de sua
liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado' .
Há uma diferença entre ambos os crimes, pois no sequestro a vítima tem maior
liberdade de locomoção (vítima presa numa fazenda). Já no cárcere privado, a vítima vêse
submetida a uma privação de liberdade num recinto fechado, como por exemplo: dentro de
um quarto ou armário.
O crime de cárcere privado pode se dar de duas formas, por meio da detenção e
sequestro. A detenção ocorre quando a violência exercida sobre a pessoa consiste no
impedimento ou obstáculo de sair de um certo determinado lugar; e já no sequestro
compreende-se o fato de conservar a pessoa em lugar solitário e ignorado, de modo que
difícil seria a vítima obter socorro de outro.

Art. 148 — Privar alguém de sua liberdade,


mediante sequestro ou cárcere privado:

Pena — reclusão, de um a três anos.

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§ 10 _A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:

5.2. Do § 10, inciso I


1— se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;

Na antiga redação deste inciso não havia proteção penal relacionado aos
companheiros, com a nova redação do artigo atual foi incluído essa proteção. E a
pena é de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, conforme estabelecido.
Houve uma necessidade de igualdade entre "conjugue e companheiro", para
que no sentido apontado ensejasse punição mais severa ao réu (ou à ré), vedada em
razão da ausência de expressa cominação legal.

5.3. Do § 1 0, inciso II
II — se o crime é praticado mediante internação da vítima em
casa de saúde ou hospital;
Quando o crime for praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou
hospital. É preciso que tal internação ocorra com o dissentimento do indivíduo, para que a
internação configure o delito em estudo. É, do mesmo modo, exigido que a internação não
decorra de permissão legal ou não seja tolerada pelo meio social — se houver justa causa
para a privação da liberdade física, não há que se falar no crime em tela, ou seja, "a razão da
maior punibilidade reside no emprego de meio fraudulento

5.4. Do § 1 0, inciso III


111 — se a privação da liberdade dura mais de 15
(quinze) dias;

É irrelevante o tempo de duração da restrição de liberdade para configurar o delito, mas


se ultrapassar o tempo de 15 dias, o crime passa a ser qualificado.

5.5. Do § 1 0 , inciso IV + Lei n O 11.106/2005


IV — se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito)
anos;
A nova lei acrescentou ao § 1 0 0 inc. IV com a seguinte redação: "se o crime é praticado
contra menor de 18 (dezoito) anos".
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A modificação é bem vinda, pois, com ela, fica estabelecida a harmonia no
sistema de proteção ao menor de 18 (dezoito) anos, em coerência com o disposto na
segunda figura do § 1 0 do art. 159 do Código Penal.
Considerando que o crime de sequestro ou cárcere privado é de natureza
permanente, em algumas situações a privação da liberdade poderá iniciar quando a vítima
for menor de dezoito anos e terminar após ela ter completado tal idade. Ainda será possível,
em outra situação, que a privação da liberdade tenha se iniciado antes da nova lei e
perdurado para além de seu ingresso no ordenamento.

A tentadora compreensão inversa levaria à conclusão no seguinte sentido: se a


privação da liberdade iniciar quando a vítima ainda contar com menos de 18
(dezoito) anos, porém, se estender para além da data em que atingida tal idade, a
qualificadora estará afastada.

Se verificada a hipótese exatamente como acima citada; com o prolongamento da


privação da liberdade o réu estaria a se beneficiar, deixando de incidir em pena de dois a
cinco anos, acabando por ser "agraciado" com a adequação típica de sua conduta no preceito
primário, com pena cominada entre um e três anos, de reclusão.

Aqui, a prolongação do sofrimento da vítima seria benéfica ao réu, o que não se


pode admitir eticamente, tampouco à luz do disposto no art. 4 0 do Código Penal, conforme
anotado.

Na outra situação indicada, onde a privação da liberdade do menor de dezoito anos


teve início antes da lei e se alongou para depois de sua vigência, a natureza permanente do
crime impede, por absoluto, o não reconhecimento da qualificadora, hipótese claramente
incogitável.

5.6. Do § 1 0, inc. V: crime praticado para fins libidinosos


V— se o crime é praticado com fins libidinosos.
A última alteração feita no art. 148 decorre do inciso V, que também foi
acrescido ao § 1 0 . Pela nova previsão, se o sequestro ou o cárcere privado for
praticado para fins libidinosos o crime também será qualificado e contará,
obviamente, com pena mais elevada (reclusão, de dois a cinco anos).

Atos libidinosos são aqueles praticados com a finalidade de satisfazer a


lascívia, o prazer sexual.

Se o crime for cometido para o fim de manter relação sexual (cópula vagínica) ou
para a prática de qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal (coito anal ou felação,
por exemplo), a forma qualificada estará presente.

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5.7. Do § 20
§ 20 — Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da
natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena — reclusão, de dois a oito anos.
Qualifica-se o sequestro e o cárcere privado pelo resultado no § 2 0 do artigo 148, de
modo que, em virtude dos maus-tratos ou da natureza da detenção, o agente provoque à
vítima lesões corporais ou a sua morte, haverá concurso material entre o sequestro
qualificado e o resultado atingido. No caso de vias de fato, estas serão absorvidas; da mesma
forma, em virtude da natureza da detenção, a qual possa trazer sofrimento físico ou moral à
vítima, haverá a incidência da qualificadora.

5.8 Sujeito ativo


Como se trata de crime comum, pode ser qualquer pessoa, não requerendo
nenhuma qualidade ou condição particular; se, no entanto, apresentar a qualidade de
funcionário público, e praticar o fato no exercício de suas funções, poderá configurar-se o
crime de abuso de autoridade (Lei n. 4.898/65). Igualmente e recebe elou recolher alguém à
prisão, sem ordem escrita da autoridade competente, também incorre em crime de abuso de
autoridade.

5.9 Sujeito passivo


Qualquer pessoa

5.10 Consumação e tentativa


Consumação- consuma-se no instante em que a vítima se vê privada de sua
liberdade de ir e vir. Assim, não há que se falar em consumação apenas quando a
vítima ficar um tempo razoável em poder do agente. Como dito alhures, o dolo é
específico:
privar a liberdade de pessoa humana. Ou seja: privada a liberdade, mediante sequestro
ou cárcere privado, nem que seja por cinco minutos, restará consumado o delito.

Tentativa- como crime material admite-se a tentativa, que se verifica com a pratica
de atos de execução, sem chegar à restrição da liberdade da vítima, como, por exemplo,
quando o sujeito ativo está encerrando a vítima em um deposito é surpreendido e impedido
de consumar seu intento. Tratando-se, porém, da forma omissiva, a tentativa é de difícil
ocorrência.

5.11 Pena e ação penal


A pena cominada é de reclusão, de um a três anos na figura simples. A sansão
penal é dois a cinco anos se a vítima for ascendente descente ou cônjuge do agente;
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se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
ou se a privação da liberdade dura mais de 15 dias (§ 1 0 ). Se, no entanto, em razão
de maustratos ou da natureza da detenção, resultar para a vítima grave sofrimento
físico ou moral, a pena de reclusão será de dois a oito anos (S 2 0 ).

A ação penal é pública condicionada não sendo exigida nenhuma condição de


procedibilidade.

5.12. Conclusão
Como visto em relação ao art. 148 do Código Penal foram feitas alterações que implicaram
em novas formas de adequação típica qualificada.

Só valerá as qualificadoras descritas, se o crime ocorreu depois da alteração


da lei. Não será agravada a pena no crime que tenha ocorrido antes das novas
disposições que tange os fatos passados, consumados antes do ingresso das novas
disposições no universo jurídico.

Desdobramentos do crime de sequestro e cárcere privado:

A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:

I — Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou


companheiro agente ou maior de 60 (sessenta) anos;

II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de


saúde ou hospital;

III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.

IV — se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;


V — se o crime é praticado com fins libidinosos.

§ 20 - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da


detenção, grave sofrimento físico ou moral:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

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6. Dos crimes contra o patrimônio:

Os crimes contra o patrimônio estão previstos nos arts. 155 a 183 do CP. Estes delitos
estão divididos em sete capítulos: Do Furto, do Roubo e da Extorsão, da Usurpação, do
Dano, da apropriação indébita, do Estelionato e outras fraudes e da Receptação.

6.1. Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Em primeiro momento, devemos dispor que a nuclear do tipo é clara: há necessidade


de efetiva subtração de qualquer objeto alheio para a configuração do crime. Mas não é só
isso. Deve o agente ter o animus (vontade) de se apropriar efetivamente do objeto, não
desejando apenas utilizá-lo, isto é, não basta somente a posse de tal objeto, devendo o
agente ter a intenção de apropriar-se dele como se fosse seu.

Se somente tiver a intenção de utilizar tal objeto, estará o agente amparado pelo
instituto do furto de uso, modalidade presente no direito que não configura o crime,
justamente por não haver intuito do agente em se apropriar do objeto. Um exemplo clássico
é dado nesse contexto: Um homem deseja ir ao supermercado, mas seu carro está quebrado.
Lembra-se, entretanto, que seu vizinho viajou e deixou as chaves de casa com ele. O
primeiro pega as chaves e sai com o veículo de seu vizinho, indo ao supermercado e
retornando o veículo à residência de seu amigo.

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) firmou entendimento no sentido de que o


crime de furto se consuma com a posse de fato da res furtiva (objeto furtado), ainda
que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

A energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico, equipara-se à coisa
móvel, conforme parágrafo 30 do mesmo artigo, ou seja, é possível a ocorrência do furto de
energia.

O furto qualificado o é assim chamado devido ao modo de execução do


delito, que facilita a sua consumação. No furto comum (ou simples), a pena é de
reclusão de 1 a 4 anos, e multa. Ao furto qualificado é aplicada pena de 2 a 8 anos, e
multa. A seguir estão os casos de furto qualificado elencados no código:

Superada a análise do furto simples, passemos agora à figura do furto qualificado


que está presente no parágrafo 40 assim disposto:

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§ 40 - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o
crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;


II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou
destreza;

III - com emprego de chave falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Obs.: Caro aplicador da segurança pública, temos de ter em mente que, esse crime
previsto no Artigo 155, § 40-A e § 70 , são inovações legislativa publicada em 2018, vide lei
13654/18, onde trouxe um aumento de pena para o crime de furto, buscando sobretudo
reprimir as ações de estouro a caixa rápido muito comum nos dias de hoje no
Brasil, essas ações são conhecidas como "Novo Cangaço"

§ 40-A. A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e


multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo
que cause perigo comum.

§ 50 - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a


subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior.

§ 60 A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a


subtração for de semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes no local da subtração.

§ 7 0 A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,


se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios
que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego.

6.1.1. Furto de coisa comum

Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si


ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
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Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
O crime em tela, somente se procede mediante representação do ofendido. Isto é, o
Policial Militar deverá preencher o Termo de Manifestação do Ofendido. Se a coisa
subtraída não exceder a quota a que tem direito o agente, o fato não será punível.

6.2. Roubo:

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para


outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
O roubo, assim como o furto, poderá ser praticado por qualquer pessoa, salvo o
proprietário do objeto, e o seu elemento objetivo do tipo é a coisa alheia móvel - grave
ameaça - violência, ou qualquer outro meio que impossibilite ou reduza a capacidade de
resistência da vítima.

O elemento subjetivo do tipo, aqui no caso do roubo, será o ânimo do agente se


assenhorar definitivamente da coisa alheia móvel.

A doutrina apresenta duas modalidades no roubo, sendo a primeira o roubo


próprio, que significa o emprego da violência ou grave ameaça no momento da
inversão da posse, como forma de meio para obtenção da res. Já o roubo impróprio,
a violência - moral ou física, é empregada após a inversão da posse, com a finalidade
de garantir o assenhoramento do objeto e com isso, garantir a impunidade do crime.
Com relação ao momento consumativo do roubo o STJ tratou do assunto na
Súmula 582, afirmando que não é necessário que o autor do roubo tenha a posse mansa,
pacífica ou sem vigilância:

47

Súmula 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a


inversão da posse do bem mediante emprego de violência
ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida
à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa
roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada.
O parágrafo 20 deste artigo trata das causas de aumento de pena, elencadas abaixo:
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§ 20 A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
conhece tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser


transportado para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade.
VI — se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios
que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego.

VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego


de arma branca;
O parágrafo 20-A, apresenta algumas formas em que deverá incidir um agravamento de 2/3
nos seguintes casos:

I — se a violência ou ameaça é exercida com emprego de


arma de fogo;

II — se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o


emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.

Existe a possibilidade de a pena prevista no caput ser aplicada em dobro. Isso


acontecerá quando a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de
uso restrito ou proibido, conforme § 20-B.

§ 20-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego


de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a
pena prevista no caput deste artigo.
Já o parágrafo 30 aumenta ainda mais a pena elevando ao mínimo de 7 anos e ao máximo
de 18 anos, caso da violência resultar lesão corporal grave, bem como elevará a pena do mínimo
de 20 anos ao máximo de 30 anos se da violência resultar em morte da vítima.

§ 30 Se da violência resulta:

I — lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a


18 (dezoito) anos, e multa;
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II — morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta)
anos, e multa.

6.3. Extorsão:

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça
ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa
O agente, usando de violência ou de grave ameaça, obriga outra pessoa a ter
determinado comportamento, com o objetivo de obter uma vantagem econômica indevida.
A vítima é coagida pelo autor do crime a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma
coisa.

Ex: "A" exige que "B" assine um cheque em branco em seu favor, senão contará a
todos que "B" possui um caso extraconjugal.

Ex 2: Golpe do falso sequestro via celular. "A" (de um presídio em GO) liga para
"B" (em Brasília) e afirma que sua filha foi sequestrada exigindo, por meio de ameaças,
depósito de dinheiro em determinada conta bancária.

A extorsão se consuma no momento em que a vítima, depois de sofrer a violência ou grave


ameaça, realiza o comportamento desejado pelo criminoso. Não importando se o agente
consegue ou não obter a vantagem indevida. Esta obtenção da vantagem constitui mero
exaurimento, que só interessa para a fixação da pena. Esse entendimento é extraído da
Súmula 96-STJ, que diz:

Súmula 96-STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da


obtenção da vantagem indevida.

Na extorsão também estaremos de uma possibilidade de causas de aumento de


pena, caso o crime venha a ser cometido por duas ou mais pessoas, com o emprego de
arma, nesses casos aumenta-se a pena de 1/3 até a metade, conforme parágrafo 1 0

Caso o crime cometido mediante restrição de liberdade da vítima, e esta condição


for indispensável para a obtenção da vantagem econômica, a pena passará de 6 anos a 12
anos, com fundamento no parágrafo 30 .

Nos casos em que ocorrer a morte ou a lesão corporal de natureza grave, as penas
deverão ser as previstas no art. 159 (Extorsão mediante sequestro), parágrafo 20 e
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30 ou seja, mínima de 24 a 30 anos.

6.3.1. Extorsão mediante sequestro


Art. 159: Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.


A ação do agente é sequestrar a pessoa, privando-a da liberdade, com o fim de
obter qualquer vantagem. Discute-se, na doutrina e jurisprudência, o alcance da expressão
"qualquer vantagem", sobre se é apenas a vantagem econômica e sobre a abrangência ou
não da vantagem devida. Através da interpretação sistemática, faz-se uma comparação do
tipo da extorsão mediante sequestro com o da extorsão (art. 158). Na extorsão, o CP diz
"indevida vantagem econômica", podendo levar à conclusão de que se a redação é
diferente, é porque a lei pretendeu distinguir.

Todavia, não é menos correto o raciocínio de que se trata de um crime contra o


patrimônio, o que pode levar a duas conclusões, o de que apenas o fim de obter vantagem
de cunho patrimonial configura o elemento subjetivo do tipo, assim como a exigência de
vantagem indevida pois, caso contrário, não haverá ofensa ao patrimônio, mas crime de
exercício arbitrário das próprias razões (art. 345), que é delito contra a administração da
justiça.

Trata-se de crime formal, que se consuma com o sequestro, independentemente da


obtenção da vantagem indevida, decorrente do resgate. A tentativa é admissível, pois se
trata de crime plurissubsistente, passível de fracionamento.

Desdobramentos do crime de sequestro e cárcere privado:


§ IQ Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o
sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha

Pena - reclusão, de doze a vinte anos.


S 20 - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave.
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos
§ 30 - Se resulta a morte.
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 40 - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços
Existem algumas situações em que o autor de crimes contra o patrimônio é isento
de pena, denominadas escusas absolutórias, que são causas excludentes da punibilidade,

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presentes no art. 181 do Código Penal, sendo por exemplo aplicadas a um filho que furta a
mãe.
A consequência jurídica aplicada nesses casos será a isenção de pena, lembrando
mais uma vez que somente se valerá dessa causa de exclusão de punibilidade, caso o agente
preencha alguns requisitos, dentre eles, o prejuízo ter sido obtido contra o seu o cônjuge, na
constância da sociedade conjugal, de ascendente ou descendente (legítimo ou ilegítimo).

Não sendo possível suscitar esse dispositivo, caso o crime seja o de roubo ou de
extorsão, ou em geral se houver violência ou grave ameaça, bem como, ao estranho que
participou do crime, ou se a vítima tiver idade igual ou superior a 60 anos.

6.3.2. Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos


mil réis a dez contos de réis.
O estelionato acontece quando uma pessoa usa o engano ou a fraude para levar
vantagem sobre alguém. Considera-se como um crime patrimonial, todavia, diferentemente
de outros delitos, também, patrimoniais, não há uso da força, somente uso de artifício ardil
para convencer a vítima a entregar-lhe algum bem e, com isso, locupletar-se ilicitamente.
Como é possível observar no caput, para que o crime se consuma, são necessários o
acontecimento de quatro elementos, a saber:

Fraude: a fraude, portanto, é o ato que por potencialidade leva a vítima


ao engano, ainda que o seja grosseiro mediante o homem médio.

Erro: caracteriza-se pela falsa percepção da realidade. Em outras


palavras, significa dizer que o erro é a consequência provocada pela fraude.
Tem-se, portanto, que o meio fraudulento deve induzir ou manter a pessoa
em erro. No induzimento, a fraude é a causa do erro, pois induzir significa
convencer. Ademais, para que se caracterize o estelionato, é necessário o
nexo causal, entre o induzimento a erro, mediante a fraude e a vantagem
ilícita auferida, nesta ordem. Isto porque, se após ter obter ilicitamente a
coisa, o agente se utilizar da fraude para apropriá-la, haverá o delito de
apropriação indébita e não de estelionato.

Resultado duplo (a obtenção de vantagem ilícita + prejuízo alheio):


Como é possível verificar através de uma análise do texto legal, para que se

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configure o estelionato, necessário se faz alcançar a obtenção da vantagem
indevida, bem

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como o prejuízo alheio. A vantagem, inclusive, não necessariamente precisa ser para o
estelionatário, pode ser em proveito de um terceiro também.

Dolo: Consiste no fato de agente, livre e conscientemente, usar da


fraude para induzir alguém à erro e com isso obter uma vantagem ilícita,
seja para si ou para outrem. Não se admite o estelionato culposo.

A partir do parágrafo 20 deste artigo, é possível verificar uma série de subtipos de


estelionato que possuem a mesma pena da figura fundamental do caput, dentre eles,
convém destacar:

6.3.2.1. Disposição de coisa alheia como própria


Art. 171, § 20 — Nas mesmas penas incorre quem:
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa
alheia como própria.
No delito em tela, o agente age como se fosse dono da coisa (bem imóvel ou
móvel) e passa a negociar com um terceiro de boa-fé. No entanto, não possui autorização
para tal, causando, desta forma, prejuízo e dores de cabeça à quem adquire, punindo-se,
inclusive, a tentativa.

6.3.2.2. Fraude no pagamento por meio de cheque

Art. 171, § 20 — Na mesma pena incorre quem:


VI - emite cheque sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado, ou lhe frustra o pagamento.

Crime relativamente comum. É a emissão de cheque sem uma suficiente


provisão para compensá-lo, e assim, inviabiliza o pagamento do credor. Ressalta-se,
no entanto, que é necessário que haja o dolo, que o agente tenha agido de má-fé.

6.3.23. Estelionato contra idoso

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§ 40 Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso.

§ 50 Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:

I - a Administração Pública, direta ou indireta


II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
Podemos observar da letra da lei, que o estelionato contra o idoso é mais
combatido pela lei, tendo assim, uma pena mais severa, sendo essa dobrada, isso ocorre
devido ao grau de vulnerabilidade da maioria dos idosos de nosso país, tornando assim,
presa fácil para os estelionatários.

6.4. RECEPTAÇÃO:

O Crime de RECEPTAÇÃO está previsto no Art. 180 do CP, tendo como objetividade
jurídica a proteção do patrimônio.
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime,
ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.


Sujeito ativo, e qualquer pessoa, podendo ser pessoa física ou jurídica.
Sujeito Passivo, é o proprietário da coisa produto de crime (e a vitima
de um crime que já aconteceu).

A conduta típica vem expressa por diversos verbos constantes da


descrição penal,
Ex: adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar.

O objeto material da receptação é a coisa móvel ou imóvel.

É importante salientar que para a configuração de um crime de receptação, tem que


apresentar os seguintes requisitos: ser objeto de crime anterior, ainda não seja objeto de
inquérito policial ou processo-crime, findo ou em andamento.

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Para a consumação do crime de receptação se opera, na modalidade dolosa própria,
com a efetiva aquisição, recebimento, transporta, condução ou ocultação da coisa (delito
material): e na modalidade dolosa imprópria, com a influencia exercida sobre o terceiro de
boa-fé, independentemente da efetiva aquisição, recebimento ou ocultação.

6.4.1. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA


Vem previsto no § 1 0 do Art.180 do CP., tendo como sujeito ativo o comerciante ou
industria que deve saber de quem é a coisa e, se é produto de crime. O §2 0 do referido Art.
180 do CP., equipara a atividade comercial qualquer forma de comercio irregular ou
clandestina, ainda que exercida em residência.

§ 1 0 - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em


depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda,
ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve
saber ser produto de crime:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.


6.4.2. RECEPTAÇÃO CULPOSA
Vem Previsto no Art. 180 §30 do CP, a repressão à conduta de adquirir ou receber
coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço ou pela condição
de quem a oferece.

§ 30 - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela


desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem
a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as
penas.

6.4.3. RECEPTAÇÃO PRIVILEGIADA


Vem prevista no§50 do Art. 180 do CP, quando o criminoso é primário e o objeto da
receptação e de pequeno valor.

§ 50 - Na hipótese do § 30 , se o criminoso é primário, pode o juiz,


tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na
receptação dolosa aplica-se o disposto no § 20 do art. 155.
6.4.4. RECEPTAÇÃO QUALIFICADO PELO O OBJETO MATERIAL
Vem prevista no§60 do Art. 180 do CP, a pena e a aplicada em dobro, quando
se tratar de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, Empresas
Concessionaria de serviço público ou sociedade de economia mista.
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§ 62 Tratando-se de bens do patrimônio da União, de
Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviços públicos,
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo
6.4.5. Receptação de animal
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter
em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de
comercialização, semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de
crime.

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.


Ex: Galinha, boi, cabra.

Semoventes domesticáveis — Seria aquele que possui a vida ou manutenção da maior


parte das espécies, dependente da vida humana para se sobreviver.

Essa lei entrou em vigor no dia 2 de agosto de 2016, então não poderá ser
aplicada aos crimes ocorridos antes dessa época.

Essa lei traz o artigo 180 A, receptacão de animais.


São quatro os elementos que integram o delito: (1) a conduta de adquirir, receber,
transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender; (2) com a finalidade de produção ou de
comercialização; (3) semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em
partes; (4) que deve saber ser produto de crime.

O delito em estudo foi introduzido pela Lei 13.330/2016 visando combater o


abigeato (ou abacto) que consiste no furto de animais no campo, tanto gado bovino quanto
equino, que é muito comum em zonas de fronteiras "secas" entre dois países, como Brasil e
Uruguai ou Paraguai, bem como a consequente posterior receptação do objeto material do
delito.

Portanto, o crime de Receptação, vem previsto no art. 180 do CP, com o objetivo de
punir aquele que adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, no intuito de penalizar o
agente que adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, coisa alheio móvel ou imóvel.

7. Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual:

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7.1. ESTUPRO
Considerado um dos mais abomináveis crimes pela grande maioria da população, o crime
de estupro encontra-se disposto no art. 213 do Código Penal, que diz:

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que
com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

Trata-se de crime comum, visto que o tipo penal não exige que o agente possua
características específicas para cometer o ato. Ainda, podem-se tirar duas conclusões a
respeito do referido fato típico: tanto a conjunção carnal quanto qualquer ato libidinoso
consumam o delito. Dessa forma, não é necessária a introdução do membro viril nas
cavidades oral, vaginal ou anal, para consumar o crime de estupro. Por conseguinte, o

57

fato de inexistir conjunção carnal de fato não configura a modalidade tentada do crime de estupro.

O tipo penal em tela apresenta duas condutas delitivas, quais sejam, o


constrangimento a ter conjunção carnal e o constrangimento a praticar ato libidinoso.
Masson (2014, p. 831) preleciona que:

Na conduta 'constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter


conjunção carnal', o estupro se consuma com a introdução, total ou parcial, do pênis na
vagina. Não há necessidade de ejaculação ou de orgasmo. Já na modalidade 'constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique
outro ato libidinoso', a consumação se dá no momento em que a vítima realiza em si
mesma, no agente ou em terceira pessoa algum ato libidinoso, ou então no instante em que
alguém atua libidinosamente sobre seu corpo.

Para melhor compreensão, conjunção carnal segundo Noronha é:

Conjunção carnal, como adotada no artigo 213 e nos artigos


215, parágrafo único, e 217, significa exclusivamente congresso
sexual, realizado por meio do membro viril e do órgão sexual da
mulher. É o coito normal, em que de um lado há o sujeito ativo
— o homem — e do outro a vítima ou sujeito passivo — a
mulher (NORONHA, 2000, p.69).
Já o ato libidinoso diverso da conjunção carnal, que caracteriza o crime de estupro,
inclui toda ação atentatória contra o pudor praticada com o propósito lascivo, seja
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sucedâneo da conjunção carnal ou não, evidenciando-se com o contato físico entre o agente
e a vítima durante o apontado ato voluptuoso. É aquele destinado a satisfazer a lascívia, o
apetite sexual. Exemplos citados pela doutrina: coitos anormais (por exemplo, a cópula oral
e anal); a masturbação; os toques ou apalpadelas com significação sexual no corpo ou
diretamente na região pudica (genitália, seios ou membros inferiores etc.) da vítima;
objetos ou instrumentos corporais (dedo, mão) mecânicos ou artificiais, por via vaginal,
anal ou bucal, entre outros.
Segundo Guilherme de Souza Nucci, a consumação do crime "dar-se-á com o
contato físico entre a genitália de uma das partes e o corpo ou genitália de outra, como
regra. (...) Cuidando-se de ato libidinoso, o início do coito anal ou da felação, além de
outros toques em partes pudendas da vítima podem ser suficientes para a consumação"
Sendo assim, o crime de estupro anteriormente, até 2009, era um crime bi próprio, sendo
que o sujeito ativo somente poderia ser o homem e o sujeito passivo a mulher. Com a
reforma de 2009 passou a ser constranger alguém a conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, passando a ser bicomum, com o sujeito ativo não sendo necessariamente homem
e o passivo não necessariamente mulher.

Contudo, quando é um estupro mediante conjunção carnal a


heterossexualidade dos indivíduos é imprescindível, sendo o homem sujeito ativo e a mulher o
sujeito passivo.

Quando se fala na vítima do estupro, não se fala em qualidades especiais da vítima,


sendo a prostituta, por exemplo, podendo ser vítima de estupro. Ou o estupro entre casal,
marido e mulher, configurando-se nesse caso inclusive qualificadora do artigo 226, II do
CP e também na Lei Maria da Penha.

O crime de estupro é igual a constrangimento mais atos de libidinagem. sendo que


o constrangimento pode ocorrer mediante violência ou grave ameaça, não bastando a
ameaça para configuração do crime de estupro. Se o sujeito ativo pratica somente simples
ameaça, ele pratica violação sexual configurada no artigo 215 do CP.

O constrangimento, seja mediante violência, seja mediante grave ameaça, tem como
objetivo não só a conjunção carnal, mas outros atos libidinosos, que violam o bem jurídico da
mesma forma que a conjunção carnal não consentida. Um exemplo é o sexo oral, o sexo anal,
dentre outros.

No caso do beijo lascivo, seria estupro? Segundo entendimento do Superior


Tribunal de Justiça, dependendo do caso concreto, sim, mas é necessário que se
analise as circunstâncias da situação em si para configuração ou não do estupro.

O crime de estupro segundo o Superior Tribunal de Justiça, também pode dispensar


o contato físico, entendendo o Colendo Tribunal que a contemplação lasciva pode sim ser
considerada estupro.

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7.1.1. Estupro que Resulta Lesão Grave ou Menor de 18 anos:
Qualifica o crime de estupro quando a vítima é menor de 18 anos ou quando da
conduta ocasiona lesão grave. Para ocorrer essa qualificadora do menor de 18 anos é
necessário que o sujeito ativo saiba que a vítima é menor. No caso da lesão grave, ela pode
advir tanto da violência quanto da grave ameaça.

§ 10 Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a


vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

7.1.2. Estupro com Resultado Morte:


Qualifica quando da conduta resulta a morte, exigindo que o resultado seja fruto da
violência ou da grave ameaça, não abrangendo outros fatos. Esses fatos qualificadores
devem ser culposos, se tratando de qualificadoras preterdolosas ou preterintencionais. Se o
agente quer ou aceita o resultado morte o agente irá responder por estupro em concurso por
homicídio e os dois crimes vão a júri.
§ 2Q Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
7.1.3. Violência Sexual Mediante Fraude:
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou
dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.
A violação sexual mediante fraude sofreu alterações importantes com a Lei
12.015/2009, que deu nova redação ao art. 215, assim como fez com o estupro, unindo sob
um só tipo os antigos crimes de posse sexual mediante fraude (art. 215, CP) e atentado ao
pudor mediante fraude (art. 216, CP).

Bem jurídico protegido: A liberdade sexual.

Sujeitos do crime: Tanto o sujeito ativo como o passivo é qualquer pessoa. Configurando-se
o crime tanto em relação homo ou heterossexual.

Tipo objetivo:
A conduta é ter conjunção carnal e praticar outro ato libidinoso. Ter e praticar são
sinônimos e tem o sentido de realizar. Conjunção carnal significa o ato sexual consistente na
introdução do pênis na vagina. Outro ato libidinoso caracteriza-se como qualquer contato
físico com natureza sexual. Outro ato libidinoso tem grande amplitude, abrangendo desde
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um beijo lascivo até a penetração anal, passando por carícias nos seixos e órgãos sexuais ou
o sexo oral.

O meio para a prática desse crime é a fraude, ou seja, engodo, ardil, que torna a
vontade de vítima viciada, já que, enganada, sob erro, a vítima não tem a completa
percepção do que está se passando, seja por não perceber que se trata de um ato sexual, seja
por não ter consciência de quem é a pessoa com a qual pratica o ato sexual.
Além da fraude, o tipo alude a outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação da vontade da vítima. Trata-se de algo que seja idêntico à fraude, mas que não
caracterize como uma situação de impossibilidade de defesa, que caracterizaria o estupro de
vulnerável (art. 217-A, CP).

Casos
Em princípio, esse é um crime que parece irreal, de pouca aplicação prática.
Contudo diversos julgados reconhecem a ocorrência do delito em situações que chegam a
ser bizarras:
"Caracteriza a posse sexual fraudulenta o fato de quem se aproveita de
estado de semi-sonolência de uma mulher, que, pelo hábito de relações
sexuais com o marido ou amante, toma a nuvem por Juno e não se
alarma à introductio penis" (TJSP —AC — Rel. Mendes França -
RJTJSP 47/374).
Homem de grande prestígio em seu meio. Havido como "pai
espiritual", gozava de influência considerável. A ele se dirigiam
inúmeras pessoas à procura de curas milagreiras. Baixar espírito segue
orientação de "Pai ou do Exu" e a vítima, à mercê, não tem sequer
condições de oferecer a menor resistência psíquica e deixase possuir
pelo "guia" — "Houve fraude e por esta se deve entender todo o meio
astucioso, o ardil, o engano, ou outras práticas exigentes da apreciação
in concreto para serem qualificadas como tais" (TJSP —AC — Rel.
Camargo Sampaio).
"Comete posse sexual mediante fraude quem, aproveitando-se da
credulidade da ofendida, faz-se passar por 'pai-de-santo' e, mediante
manobras enganosas, vicia sua vontade levando-a à prática de ato
sexual para servir sua lascívia" (TJRJ — AC — Rel. Gama Malcher
— EJTJRJ 7/285).
Crime contra os costumes. Posse sexual mediante fraude. Apelante
que fazia-se passar por "pai-de-santo". Hipotética incorporação de
uma entidade e pedidos para que as ofendidas se despissem e
praticassem relações sexuais. Narração harmônica e coerente das
vítimas. Réu que é um verdadeiro "estelionatário sexual" (TJSP — AC
197.613-3 - Rel. Lineu Carvalho - Bol. IBCCRIM 40/136).
Atentado violento ao pudor mediante fraude— O réu dizendo-se
parapsicólogo — "O único reconhecido pelo Papa", ludibriou diversas
moças (menor, uma delas), algumas com formação universitária,
tomando-lhes jóias, dólares, etc., e com elas praticando atos
libidinosos, tudo sob a promessa de evitar que males abatessem sobre
elas e seus entes queridos" (STJ — REsp. 32.217-4 — Rel. Adhemar
Maciel - DJU 01.07.93, p. 129040 - RSTJ 51/263).
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"Configura atentado ao pudor mediante fraude a prática de atos
libidinosos com a paciente ao ensejo de seu atendimento médico em
consultório. É válido o depoimento da vítima em confronto às
afirmações do acusado, por se tratar de delito praticado em recinto
fechado e cuja comprovação depende essencialmente das declarações
da paciente" (TJRJ — AC — Rel. Penalva Santos — ADV 8.623).

"Empregado de hospital que se faz passar por médico e pratica ato


libidinoso contra mulher internada, comete atentado ao pudor
mediante fraude" (TJDF — AC — Rel. Helladio Monteiro — DJIJ
18.08.80, p. 5.988).
"Comete o delito do art. 216 do CP aquele que se vale da condição de
enfermeiro para abusar da doente, submetendo-a a atos de libidinagem
a pretexto de aplicar-lhe as injeções de que necessitava' (TJSP -AC -
Rel. Acácio Rebouças - RT 380/155).

• Tipo subjetivo: Dolo

62

• Consumação e tentativa: O momento consumativo se dá com a prática de ato sexual,


qualquer que seja ele. A tentativa é possível, mas deve-se notar que se o agente,
mediante fraude, pretendia praticar a conjunção carnal e não consegue por razões
alheia a sua vontade, mas pratica atos preambulares que, por si só, já configuraram
atos libidinosos, o crime se consumou.

• Formas majoradas: Aplica-se também a pena de multa, conforme dispõe o parágrafo


único, na hipótese em que o crime tem, além do dolo, o elemento subjetivo "fim de
obter vantagem econômica". Nesse caso, a pena privativa de liberdade, consistente na
reclusão de 2 a 6 anos, será aplicada cumulativamente com a multa.

• Ação penal: Nos termos do art. 225, caput, a posse sexual mediante fraude é crime de
ação penal pública condicionada à representação. Nesse caso, a vontade da vítima,
materializada com a representação, é imprescindível para que se possa iniciar a
persecução penal.

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Todavia, se a vítima tiver menos de 18 anos, a ação será pública incondicionada, ou
seja, independendo da vontade da vítima, a persecução penal deverá iniciar-se (art.
225, parágrafo único, CP).

7.1.4. Importunação sexual

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato


libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a
de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui
crime mais grave.

Importunação sexual é o ato realizado com finalidade de satisfazer ao desejo


sexual, realizado isoladamente ou em relação à outra pessoa. Pode ser apalpar,
abraçar, tocar partes do corpo, ficar nu ou despir alguém.

Libido significa desejo sexual. Ato libidinoso é todo ato de satisfação da


libido, ou seja, do desejo ou apetite sexual da pessoa.
A importunação sexual é um crime considerado comum, ou seja, qualquer pessoa
pode cometê-lo (sujeito ativo), bem como qualquer pessoa pode ser vítima (sujeito passivo).

A pena para quem comete importunação sexual é de reclusão del a 5 anos.


Importante salientar que, caso o sujeito cometa um crime mais grave, por exemplo,
estupro, somente responderá pelo crime de estupro, pois a importunação sexual é um crime
subsidiário.

7.1.5. Registro não autorizado da intimidade sexual


Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer
meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza
montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro
com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou
libidinoso de caráter íntimo.

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No dia 20 de dezembro de 2018 foi publicada a Lei n o 13.772, sancionada no dia
anterior, alterando a Lei n o 11.340/06 (Lei Maria da Penha) e o Código Penal, para
reconhecer que a violação da intimidade da mulher configura violência doméstica e
familiar e para criminalizar o registro não autorizado de conteúdo com cena de nudez ou
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado.

O crime de registro não autorizado da intimidade sexual, foi tipificado no art. 216B
do Código Penal, tendo como objetividade jurídica a tutela da intimidade sexual da vítima.

Punem-se as condutas de "produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer


meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado
sem autorização dos participantes."

Esse novo tipo penal visa à proteção da intimidade sexual da vítima, preservando-a
da exposição indevida de sua nudez ou de seus atos sexuais ou libidinosos de caráter íntimo
e privado.

Já há, na Lei no 8.069/90 — Estatuto da Criança e Adolescente, disposição


semelhante no art. 240, que criminaliza as condutas de "produzir, reproduzir, dirigir,
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica,
envolvendo criança ou adolescente." A proteção da intimidade sexual, nesse aspecto, se
cingia apenas a vítima criança ou adolescente. A nova Lei n o 13.772/18 estendeu a proteção
também à pessoa adulta.

Sujeito ativo do novo crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.

Sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher,


independentemente da orientação ou opção sexual. Como acima mencionado, tratandose de
criança ou adolescente, estará tipificado o crime do art. 240 do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

A conduta vem expressa pelos verbos produzir, fotografar, filmar ou registrar,


podendo ser praticada por qualquer meio (fotos, vídeos, desenhos ou qualquer outra forma
de captação de imagem, remotamente ou em tempo real).

A atuação criminosa do agente deve envolver cena de nudez ou ato sexual ou


libidinoso de caráter íntimo e privado, devendo se dar "sem autorização dos participantes",
ou seja, sem a anuência de todos os que participam da cena.

Se a cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso envolver diversas pessoas,


todas deverão autorizar, a fim de que não se caracterize o delito. Não basta a
autorização de apenas um ou alguns dos participantes, porque, neste caso, estaria
violada a intimidade sexual dos que não consentiram.

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Trata-se de crime doloso, que se consuma com a efetiva prática das condutas incriminadas,
ausente a autorização dos participantes.

Não há necessidade, para a configuração do crime ora em comento, que o agente ofereça,
troque, disponibilize, transmita, venda ou exponha à venda, distribua, publique ou divulgue, por
qualquer meio, a fotografia, filmagem, registro ou montagem da cena de nudez ou ato sexual ou
libidinoso. Se isto ocorrer, estará configurado o crime do art. 218-C do Código Penal (divulgação
de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia). Vale
ressaltar que nada impede haja concurso material entre os crimes dos arts. 216-B e 218-C do
Código Penal.
A pena cominada ao novo crime é ínfima, de detenção de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano, e multa. Tratando-se de infração penal de menor potencial ofensivo, o rito será o
comum sumaríssimo, da Lei no 9.099/95.

A tentativa é admissível, uma vez fracionável o "iter criminis".

A ação penal é pública incondicionada.


O parágrafo único do novo art. 216-B traz figura assemelhada à do "caput",
punindo com a mesma pena de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa, aquele que realizar
montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir
pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
Nesse caso, a vítima não participou da cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso,
mas nela foi incluída por montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro,
feito pelo sujeito ativo do crime.

8. DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

8.1. Estupro de vulnerável


Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com menor de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.


§ IQ Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no
caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§ 32 Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 42 Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
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§ 50 As penas previstas no caput e nos §§ 1 0 , 30 e 40 deste artigo
aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou
do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao
crime.
O crime de Estupro de Vulnerável é caracterizado quando um adulto tem relações
sexuais ou qualquer outro ato que leve a pornografia ou nudez com menores de quatorze
anos.

O crime acontece mesmo com o consentimento da vítima, ou se a mesma já


tiver feito relações sexuais com outra pessoa. Fotos com nudez, ou conversas
libidinosas se encaixam como crime.

O crime está no artigo 217-A do Código Penal brasileiro atualizado em 2009


a pena é de oito a quinze anos de prisão no caso de pessoas vulneráveis. A pena pode
aumentar de dez a doze anos caso o estupro seja acompanhado de violência.
Já nos casos em que o crime de Estupro de Vulnerável é seguido de morte, a
pena é de reclusão de doze a trinta anos.

8.2. Como se qualifica um "Vulnerável"?


Para melhor entendimento, vamos definir o termo "vulnerável".

Vulnerável é toda pessoa menor de quatorze anos, ou que contenha alguma


deficiência ou a pessoa não tenha o discernimento do ato sexual ou doença que impeça a
vítima de oferecer resistência.

Mesmo que o menor de quatorze anos tenha todas as suas faculdades mentais, saúde
em bom estado, e não queria resistir ao ato sexual é considerado crime qualquer relação ou
nudez.

Porém é discutido a real vulnerabilidade dos adolescentes de doze a quatorze


anos. Mas abaixo dos doze anos é indiscutível a inocência ou vulnerabilidade dos
mesmos.

67

Essa discussão existe pelo fato de que atualmente, os adolescentes começam a


vida sexual muito cedo, e a mantem mais ativa do que de muitos adultos. Então
dependendo do caso, pode ser que seja discutível a questão de estupro.
Outro caso a ser discutido é no caso de dois jovens com doze anos completos ou de
quatorze anos, praticarem sexo entre si, com o consentimento dos dois, tem que haver certa
delicadeza para entender a situação.
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Os dois adolescentes seriam presos acusados de estupro de vulnerável, por
isso essa lei abre alguns parênteses que devem ser discutidos com cuidado, cada caso
é um caso, não se pode generalizar de forma total o estupro.

Vale levar em conta que no Brasil há uma grande taxa de meninas que
engravidam a partir dos onze anos, e em uma grande porcentagem as relações sexuais
a levaram a engravidar foram com consentimento.
O ato sexual, "conjunção carnal" em termos de lei, não se limita apenas da
penetração do pênis na vagina, mas pode-se entender como qualquer um dos atos a
seguir:

Atividade sexual com penetração anal Masturbação de qualquer uma das pessoas
Sexo oral
Beijo
Toque

Qualquer um dos atos acima em menores de doze anos, pode ser condenado pelo
crime de Estupro de Vulnerável. Se tornando irrelevante o gênero do menor de idade, sendo
garoto ou garota.

8.3. Pedofilia e o Estupro de Vulnerável:

Muitas pessoas acreditam que o crime de pedofilia e o de estupro de vulnerável


seja o mesmo, porém estão enganados. Pedofilia é uma doença, a pessoa que a pratica tem
problemas mentais.

Já a pessoa que pratica o estupro de vulnerável não é levado em conta se ela


porta a enfermidade, ela será julgada primeiramente por estupro de vulnerável depois,
após perícia, caso seja constatado o indicio da doença de pedofilia.
O estupro, por seu um crime hediondo, a pessoa que o cometer de início terá
que cumprir a pena em reclusão, na cadeia em regime fechado. Apenas após dois
quintos da pena serem cumpridos é que se pode dar progressão a pena.

Hediondo significa algo que cause horror, repulsão, pavor ou que provoque
reação de indignação.

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO MÓDULO II

1) Sobre o crime de Homicídio, assinale a alternativa correta:


a) O homicídio simples nunca pode ser considerado hediondo.
b) Quando o agente o acomete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral, tem-se aí homicídio privilegiado.
c) É considerado homicídio simples, o homicídio praticado contra agente de segurança
pública.
d) Matar alguém para obter vantagem em outro crime é causa de diminuição de pena.

2) Sobre o crime de Lesão Corporal, assinale a alternativa correta:


a) Havendo mais de um ferimento na vítima, haverá mais de um crime de Lesão Corporal.
b) A mera provocação de dor ou de uma mancha avermelhada implica na configuração do
crime.
c) A lesão qualificada pode ser de natureza grave, de natureza gravíssima, com resultado morte
ou a que envolve violência doméstica e familiar contra a mulher.
d) Não há previsão da forma culposa nem de aumento de pena.
3) Sobre o crime de Extorsão, assinale a alternativa correta.
a) Se o agente não consegue obter a vantagem ilícita, a extorsão não se consuma.
b) Não há previsão de aumento de pena para esse crime, pois não importa a forma
como ele aconteceu, a pena é fixa.
c) A extorsão mediante sequestro é um crime contra a pessoa.
d) A extorsão mediante sequestro é um crime contra o patrimônio.

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MÓDULO III - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Ação Penal:

Definição: Podemos conceituar a ação penal, em poucas palavras, como o


direito de provocar o Poder Judiciário, com o intuito de levar a este o conhecimento
da ocorrência de uma infração penal, para que seja aplicado o direito penal objetivo.
O tema encontra-se compreendido nos arts. 24 a 62 do Código de Processo Penal e
arts. 100 a 106 do Código Penal.

Classificação:

Quanto à sua titularidade, a ação penal divide-se em:

1 .1- Ação penal pública:

Nesta, o Ministério Público é o titular da ação, na qual é iniciada por meio de


uma peça denominada denúncia. Sendo composta por autor e acusado (antes do
recebimento da denúncia pelo juiz) / réu (após o recebimento da peça acusatória pelo
juiz).
Dispositivos legais pertinentes: art. 129, l, CF/88 e art. 257, l, CPP.

1.1.1. Espécies de Ação Penal Pública:

a) Ação penal pública incondicionada à representação: Esta é a regra geral, que


se aplica todas as vezes que a legislação não mencionar a necessidade de queixa,
representação ou requisição do ministro da justiça. A única exceção ocorre quando o crime
for praticado contra o patrimônio da União, Estado ou Município.

b) Ação penal pública condicionada à representação: Como o próprio nome


sugere, o ajuizamento da ação penal pelo Ministério Público fica condicionado a
representação do ofendido. Entende-se por representação como a manifestação de vontade
do ofendido com o intuito de investigação e processamento dos acusados. Exemplo: art.
130, do CP.

1.1.2. Titularidade para representação:

Vítima maior de 18 anos: pessoalmente ou por meio de procurador com poderes


especiais);

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Representante legal: caso a vítima seja menor de 18 anos, mentalmente enferma ou
retardada mental. Caso não tenha representante legal ou interesse incomum pela ação, o juiz
nomeará curador especial, e este decidirá pela representação ou não;

Cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (o famoso "CADI", caso a vítima


tenha morrido ou tenha sido declarada como ausente judicialmente);

Pessoa designada no ato constitutivo ou o diretor I sócio gerente (caso a


vítima seja pessoa jurídica).

Prazo: decadencial de seis meses para a representação, a serem contados a partir do


dia em que o titular da ação tomar ciência de quem cometeu o delito. Decaído o prazo,
ocorre a extinção da punibilidade.

c)Ação penal pública condicionada à requisição do ministro da justiça: O


Ministério Público só poderá ajuizar a ação se houver requisição do ministro da
justiça.
Não há prazo para requisitá-la.

1.2- Ação penal privada:

O particular, denominado querelante, é o titular da ação, na qual é iniciada por meio


de uma queixa-crime, contra o querelado / réu. Só é possível nas hipóteses em que a lei
menciona expressamente a possibilidade.

Espécies:

a) Ação penal privada exclusiva ou propriamente dita: é cabível a


propositura para aqueles que tem o direito de representação, dentro do prazo
decadencial de seis meses;

b) Ação penal privada personalíssima: cabe apenas à vítima o direito de propor.


A única hipótese de cabimento atualmente é no crime de induzimento a erro essencial e
ocultação de impedimento ao casamento, tipificado no art. 236 no CP. Prazo decadencial de
seis meses.

c) Ação penal privada subsidiária da pública: proposta pelo titular da ação


penal privada exclusiva, através de uma queixa-crime subsidiária, ocorrendo a inércia
do direito de ação do Ministério Público (cinco dias para acusado preso ou quinze

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dias para acusado solto). Art. 50 LIX, CF/88. Prazo decadencial de seis meses, a
serem contados a partir do dia posterior ao término do prazo para o Ministério
Público apresentar a denúncia.

2. Das Prisões
A prisão é a privação do direito de liberdade de um indivíduo que pratica algum
delito, privando este o direito fundamental de "ir e vir", previsto no artigo 5 0 da
Constituição Federal.

Art. 50 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de


paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Segundo Fernando Capez "prisão é a privação de liberdade de locomoção


determinado por ordem escrita da autoridade competente ou em caso de flagrante
delito"

Em nosso ordenamento Jurídico as prisões são aplicadas de duas formas, a


prisão-pena que necessita de uma decisão transitada em julgado com a finalidade de
aplicar a pena privativa de liberdade após decisão judicial e a prisão sem pena que

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são as medidas cautelares com a finalidade de garantir a eficácia do processo
preservando a ordem pública, ordem econômica e a conveniência de instrução
criminal, assim, não necessita de uma sentença condenatória ou uma pena a cumprir,
basta preencher os pressupostos.

Em nosso conteúdo relacionado às prisões, vamos nos atermos, sobretudo a prisão


em flagrante, pois essa é sem dúvida a prisão mais importante e corriqueira para a vida
diária do policial militar.

2.1. Prisão em Flagrante:

Previsão legal: Artigos 301 a 310 CPP.

2.1.1. Conceito

Trata-se da privação da liberdade de locomoção com recolhimento da pessoa ao


cárcere, seja em virtude do flagrante delito (prisão em flagrante), ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente (prisão preventiva), seja em face de
transgressão militar ou crime propriamente militar.

- Quando é que o sujeito pode ser privado da sua liberdade de locomoção? Em


decorrência da prisão em flagrante, da prisão preventiva e temporária, no curso do
inquérito policial (prisão provisória), ou ainda, por imposição de sentença
condenatória com pena privativa de liberdade (prisão pena).

Prisão em flagrante é a única modalidade de prisão cautelar que não necessita de


decretação judicial, deve ser erguida da lavratura do seu auto (APF), no prazo de 24h da
prisão, sob pena de nulidade e cabimento de habeas corpus. Quando alguém é preso em
flagrante delito, o respectivo inquérito será aberto justamente com o auto de prisão, seja nos
crimes de ação penal pública incondicionada. Já nos crimes de ação penal pública
condicionada e ação penal privada, o inquérito policial só poderá ser instaurado se o titular
da representação ou da queixa não se opuser.

2.2. FUNÇÕES DA PRISÃO EM FLAGRANTE:

- Evitar a fuga do infrator;

- Auxiliar na colheita de provas; e impedir a consumação ou o exaurimento do


delito.

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2.3. FASES DA PRISÃO EM FLAGRANTE
a. Captura.
b. Condução coercitiva à autoridade policial
c. Lavratura do auto de prisão em flagrante
d. Recolhimento ao cárcere.
Após o recolhimento à prisão: comunicação imediata e remessa do APF à
autoridade judiciária (24 horas); comunicação à família do preso ou à pessoa por ele
indicada (CF). Há quem sustente que são dois atos distintos. Mas prevalece que a
comunicação se dá justamente com a remessa do APF à autoridade judiciária, em 24 horas.
Essas 24 horas são contadas a partir da captura.

Caso o autuado não possua advogado, cópia do APF para a Defensoria


Pública (24 horas). Caso não haja Defensoria Pública na comarca deve o juiz nomear,
imediatamente, defensor dativo. A inobservância qualquer das formalidades legais no
momento da lavratura do APF torna a prisão ilegal, devendo ser objeto de
relaxamento, o que, no entanto, não impede a decretação da prisão preventiva desde
que presente os seus pressupostos legais.

2.4. ESPÉCIES DE FLAGRANTE


CPP, art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades
policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja
encontrado em flagrante delito.

a) Flagrante facultativo: qualquer do povo (estará agindo no exercício regular de


direito);

b) Flagrante obrigatório (coercitivo): só para autoridade policial e seus agentes, logo,


o juiz e o promotor não são obrigados (estará agindo em estrito cumprimento de
dever legal). Ex: mesmo que não esteja em trabalho — 24 horas por dia será
policial, e terá de prender.

Obs. Alíneas "a" e "b" trata-se dos SUJEITOS ATIVOS DA PRISÃO EM


FLAGRANTE. Quanto ao SUJEITO PASSIVO, em regra qualquer pessoa pode ser
presa em flagrante,

ressalvado os casos de imunidades prisionais, que não são objetos de estudo nessa
disciplina.

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Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II -acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por
qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos
ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. (CPP)

c) Flagrante próprio/ perfeito/ real/ verdadeiro: art. 302, I e II, CPP.


Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;


II - acaba de cometê-la;
Aqui o agente é encontrado imediatamente após cometer a infração penal, sem que
tenha conseguido se afastar da vítima e do local do delito (Renato Brasileiro, 2017, p.
932)

d) Flagrante impróprio I irreal/ quase - flagrante: art. 302, III, CPP.


III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
situação que faça presumir ser autor da infração;

Ensina Renato Brasileiro que "logo após" deve ser compreendido pelo lapso
temporal que perneia entre o acionamento da autoridade policial, seu comparecimento ao
local e colheita de elementos necessários para que dê início à perseguição do autor. Por isso,
tem-se entendido que não importa se a perseguição é iniciada por pessoas que estavam no
local ou pela polícia, acionada por meio de ligação telefônica. (Renato
Brasileiro, 2017, p. 932)

e) Flagrante presumido/ ficto/ assimilado: art. 302, IV, CPP.

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.

Nesse caso, não precisa da perseguição. O agente é encontrado numa situação tal
que faz presumir ser ele o autor da infração. OBS.: a expressão "logo depois" não difere de
"logo após"; são expressão sinônimas, mas há quem entenda haver diferença (logo depois
abrangeria um lapso temporal maior).

Ainda no magistério do mestre Renato Brasileiro, caso o agente. seja


encontrado com objetos que façam presumir ser ele o autor da infração, porém algum
tempo após a prática do delito, deve a autoridade policial deixar de dar voz de prisão

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em flagrante, sem prejuízo, no entanto, da lavratura de boletim de ocorrência e
posterior instauração de inquérito policial.

A doutrina ainda classifica o flagrante delito em outras espécies como o


Flagrante Preparado ou Provocado (crime impossível, portanto prisão ilegal),
Flagrante Esperado (é a famosa "campana", a polícia espera o agente agir, a prisão é
válida), Flagrante Prorrogado ou Retardado ( a polícia espera o momento mais
oportuno para agir, tendo em vista a necessidade de colheita de provas, a prisão é
válida) e o Flagrante Forjado (policiais ou particulares criam provas de um crime
inexistente, portanto a prisão é ilegal, e os policiais podem responder por abuso de
autoridade e o particular por denunciação caluniosa).

2.5. APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA DO AGENTE

O cidadão que se apresenta a autoridade voluntariamente e confessa a prática de um


crime NÃO PODE ser preso em flagrante. A apresentação espontânea impede a prisão em
flagrante do agente, mas não a prisão preventiva ou temporária, desde que preenchido os
pressupostos.

Art. 317. A apresentação espontânea do acusado à autoridade


não impedirá a decretação da prisão preventiva nos casos em que
a lei a autoriza.

3. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Muito discutida no meio policial, no sentido de reprovação, é a Audiência de
Custódia. No entanto, uma das garantias constitucionais previstas na Carta Magna
Brasileira é que a prisão de qualquer pessoa será comunicada imediatamente ao juiz
competente e a família do preso ou à pessoa por ele indicada (Art. 50 L XII, CF/88).

Como pode-se perceber, não está especificado em quanto tempo a pessoa presa deve ser
apresentada ao juiz para que seja verificada a legalidade da prisão, não exigindo que o preso
seja interrogado pelo juiz imediatamente.
Semelhantemente, analisando os tratados internacionais que o Brasil é signatário,
observa-se que a Convenção Americanas de Direitos Humanos e o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos também não esclarecem em quanto tempo o preso deve ser
apresentado ao juiz, como pode ser observado a seguir:
Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de
infração penal deverá ser conduzida, SEM DEMORA, à

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presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a
exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em
prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão
preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá
constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar
condicionada a garantias que assegurem o comparecimento
da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do
processo e, se necessário for, para a execução da sentença.
E assim, o Conselho Nacional de Justiça, por meio da Resolução n o 213 de 15
de dezembro de 2015, criou a audiência de custódia e, a partir dessa resolução, o
preso deve ser apresentado dentro de 24 horas ao juiz para que seja verificado as
circunstâncias em que se realizou a prisão bem como a possibilidade da aplicação de
outras medidas cautelares.

3.1 CONCEITUAÇÃO E ORIGEM DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

Visando suprir a lacuna legislativa a respeito, o Conselho Nacional de


Justiça, principal incentivador da implementação da Audiência de Custódia, a define
dessa maneira:
Consiste na criação de uma estrutura multidisciplinar nos Tribunais
de Justiça que receberá presos em flagrante para uma primeira análise
sobre o cabimento de medidas alternativas ao cárcere, garantindo que
presos em flagrante sejam apresentados a um juiz de Direito, em 24
horas, no máximo.

Para Fábio Roque (2018), a audiência de custódia é o momento do preso ter


contato com o juiz e de expressar seu ponto de vista sobre a prisão, uma vez que, até

então, o magistrado só conta com a versão da autoridade policial, e esse contato de certa
forma amplia a cognição da autoridade judicial. Para esse autor "a expressão audiência de
custódia está mais do que consagrada no meio jurídico e, inclusive, dá a ideia de custódia
no sentido de acautelar, de proteger o preso apresentado" (ARAÚJO, 2018, p.799).
De modo semelhante, Nestor Távora (2016) conceitua a audiência de custódia dessa
forma:
Audiência de custódia é a providência que decorre da imediata
apresentação do preso ao juiz. Esse encontro com o magistrado
oportuniza um interrogatório para fazer valer direitos
fundamentais assegurados à pessoa presa. Deve-se seguir
imediatamente após à efetivação da providência cerceadora de

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liberdade. É "interrogatório de garantia" que torna possível ao
autuado informar ao juiz suas razões sobre o fato a ele atribuído.
Ao cabo, é meio de controle judicial acerca da licitude das
prisões. (TÁVORA, 2016, p. 1249).

Já Renato Brasileiro (2016) esclarece que a audiência de custódia é o objeto


do Projeto de Lei do Senado Federal de n o 554/2011, elaborado para alterar o art.
306, §1 0 do CPP, que passaria a ser: "No prazo máximo de vinte e quatro horas
depois da prisão, o preso deverá ser conduzido à presença do juiz competente,
ocasião em que deverá ser apresentado o auto de prisão em flagrante acompanhado
de todas as oitivas colhidas e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,
cópia integral para a Defensoria Pública".
No entanto, a Comissão Interna de Direitos Humanos alterou o texto apresentado
para:
Art. 306 (...) § 1 0 No prazo máximo de vinte e quatro horas após a
prisão em flagrante, o preso será conduzido à presença do juiz para
ser ouvido, com vistas às medidas previstas no art. 310 e para que se
verifique se estão sendo respeitados seus direitos fundamentais,
devendo a autoridade judicial tomar as medidas cabíveis para
preservá-los e para apurar eventual violação.
§ 20 Na audiência de custódia de que trata o § 1 0 , o Juiz ouvirá o
Ministério Público, que poderá, caso entenda necessário, requerer a
prisão preventiva ou outra medida cautelar alternativa à prisão, em
seguida ouvirá o preso e, após manifestação da defesa técnica,
decidirá fundamentadamente, nos termos do art. 310.
§ 30 A oitiva a que se refere o parágrafo anterior será registrada em
autos apartados, não poderá ser utilizada como meio de prova contra
o depoente e versará, exclusivamente, sobre a legalidade e
necessidade da prisão; a prevenção da ocorrência de tortura ou de
maus-tratos; e os direitos assegurados ao preso e ao acusado.
§ 40 A apresentação do preso em juízo deverá ser acompanhada do
auto de prisão em flagrante e da nota de culpa que lhe foi entregue,
mediante recibo, assinada pela autoridade policial, com o motivo da
prisão, o nome do condutor e os nomes das testemunhas.
§ 50 A oitiva do preso em juízo sempre se dará na presença de seu
advogado, ou, se não tiver ou não o indicar, na de Defensor Público, e
na do membro do Ministério Público, que poderão inquirir o preso
sobre os temas previstos no parágrafo 30 bem como se manifestar
previamente à decisão judicial de que trata o art. 310 deste Código".

Avena (2017) conceitua audiência de custódia como o ato de apresentação ao juiz


competente, da pessoa presa em flagrante delito ou em virtude de mandado de prisão
cautelar (preventiva ou temporária) ou definitiva, a fim de ser ouvida sobre as
circunstâncias em que ocorreu sua prisão. (AVENA, 2017, p. 711).

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Nucci (2016) sustenta que a audiência de custódia trata-se daquela realizada, após a
prisão em flagrante do agente, no prazo máximo de 24 horas, para que o juiz, pessoalmente,
avalie a sua legalidade e promova as medidas cabíveis (manter a prisão, relaxar o flagrante
ou conceder liberdade provisória). Para o autor, a audiência de custódia faz parte da política
de diminuição da população carcerária no país e defende que isso de fato vem acontecendo,
pois, estatísticas mostram que os juízes com a prática deste instituto, soltaram 40%
(quarenta por cento) mais presos do que antes.
Enquanto este instrumento de dignidade humana não é inserido na legislação
brasileira, coube ao Conselho Nacional de Justiça normatizar o instituto da audiência de
custódia, por meio de resoluções e provimentos, para que essa garantia convencional
oriunda da Convenção Americana de Direitos Humanos (que tem força constitucional no
ordenamento jurídico brasileiro), seja colocada em prática no país.
Insta destacar que a audiência de custódia teve início no Brasil primeiramente no
Estado de São Paulo, onde, em janeiro de 2015, a Presidência e a Corregedoria daquele
Estado firmaram o Provimento n o 03/2015, que determinava a implantação gradativa da
garantia, criando para isso um cronograma para todos os distritos policiais.
Portanto, a audiência de custódia é um instrumento de garantia do respeito à
dignidade humana e aos direitos fundamentais, bem como um instituto de controle da
atividade policial, onde o preso, de qualquer modalidade de prisão, deve ser apresentado
em até 24 (vinte e quatro) horas ao juiz, para que seja apreciada a legalidade da prisão, o
tratamento recebido pelo preso enquanto esteve com a autoridade policial, bem como a
possibilidade de aplicação de outras medidas cautelares diferentes da prisão. Insta destacar
que, evidentemente, cabe a Audiência de Custódia também nos crimes militares.

3.2. DOS PROCEDIMENTOS DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

Ao estabelecer a audiência de custódia, o Conselho Nacional de Justiça


impôs algumas regras que devem ser seguidas pelas autoridades judiciais. A mais
importante a ser destacada é que não deve ser analisado o mérito durante a audiência,
ou seja, o que é dito nela, não deve ser usado para incriminar a pessoa presa, seja na
fase de investigação ou na ação penal.
De acordo com a Resolução no 213/2015, ao ser apresentado o preso, o juiz o
entrevistará, cientificando-o do direito de permanecer em silêncio. Ainda durante a
audiência de custódia, também chamada audiência de apresentação, ou ainda, audiência das
garantias, o juiz deve questionar o preso se foram assegurados seus direitos constitucionais.
Na intenção de descobrir se houve maus tratos ou tortura, o juiz também perguntará
sobre as circunstâncias da prisão, verificando ainda se o exame de corpo delito fora

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realizado. Nessa esteira, o juiz inquirirá o preso sobre a forma de tratamento recebido em
todos os locais que passou até ser apresentado na audiência.
Findo o interrogatório ou entrevista do preso, o juiz dará a palavra ao Ministério
Público e ao defensor para proferirem perguntas. Destaque-se que essas perguntas não
podem ser relativas ao mérito do fato que está sendo apurado, podendo ao final requerer a
liberdade provisória com ou sem fiança, o relaxamento da prisão, aplicação de medida
cautelar diversa da privação da liberdade, decretação de prisão preventiva ou ainda a adoção
de medidas para que o preso tenha seus direitos preservados.
Caso a decisão do magistrado seja por relaxar a prisão ou conceder a liberdade
provisória, com ou sem medida cautelar diversa da prisão, a pessoa será colocada em
liberdade imediatamente mediante alvará de soltura, sendo informada de seus direitos e
obrigações.

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Sendo estipulado medidas cautelares diversas da prisão, conforme previsto no art.
319 do Código de Processo Penal Brasileiro, deverá ser avaliado a necessidade da medida
bem como sua adequação, estipulando ainda prazos para cumprimento e nova avaliação. As
medidas cautelares diferentes da prisão são comparecimento periódico em juízo, proibição
de frequentar certos lugares, proibição de aproximar de alguém, recolhimento domiciliar,
internação provisória aos inimputáveis ou semi-imputáveis pericialmente comprovados,
fiança quando legalmente permitido e monitoramento eletrônico.
Importante ressaltar que se o juiz perceber que houve tortura ou ainda se o preso
declarar que foi torturado pelas autoridades policiais, deve ser adotado medidas de proteção
ao custodiado, substituindo, se for o caso, a autoridade que ficará responsável pelo preso.
De acordo com o Protocolo II da Resolução, cabe até a concessão de liberdade provisória,
independente da presença dos requisitos para a decretação de prisão preventiva. Tudo com o
objetivo de proteger a pessoa custodiada. Além disso o juiz deve determinar exames no
preso, e investigação aos supostos torturadores. Destaque-se que o protocolo considera
tortura o simples fato de inquirir o preso sem a presença de um advogado, ou ainda quando
não for dito de forma correta os direitos constitucionais da pessoa, ou demorar a apresentar
o preso em juízo, dentre outros.

4. SÚMULA VINCULANTE 11:

Essa súmula afeta diretamente o uso da algema nas ações policiais, para
evitar segundo alguns doutrinadores e legisladores, o abuso e a não exposição do
preso ao vexame e ao clamor publico, pela exposição midiatica.

A Súmula Vinculante no 11 do Supremo Tribunal Federal, aprovada no ano de


2008, dispõe que
"Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por
parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a
que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado".
Diante da leitura do teor da referida súmula, é evidente que tal artefato deve ser
utilizado em caráter excepcional e mediante justificação, o que deverá ocorrer perante a
análise das peculiaridades de cada caso. A preocupação com o tema surgiu, aliás,
principalmente em razão da manutenção do réu algemado durante sessão de julgamento pelo
Tribunal do Júri, o que evidentemente poderia acabar influenciando os jurados em sua
decisão.

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Ocorre que, como também é comum em diversas outras situações no âmbito
do direito processual penal, apesar da clareza do teor da Súmula, ainda é adotado
como prática o uso das algemas baseados em "fundamentos" absolutamente
genéricos, que não analisam a situação exposta e sim todo um contexto que, por
óbvio, facilita o "copia e cola" do Judiciário.

A Súmula Vinculante n o 11 gerou polêmica desde o início, porém está em vigor e


vale reforçar que o seu principal objetivo, ainda não compreendido na prática, é evitar o uso
de algemas para a exposição pública do preso, a fim de coibir, também e por consequência,
a violação de preceitos constitucionais, como os princípios da presunção de inocência e da
dignidade da pessoa humana. Lamentavelmente, outra vez a exceção se torna regra.

Em que pese toda a discussão em cima da Súmula Vinculante n o 11, a Polícia


Militar de Estado de Goiás tem como norteador de suas ações, o Procedimento Operacional
Padrão (POP), que hoje respalda o policial em sua função, principalmente frente a Justiça
Militar Estadual. Portanto, seguindo-se as orientações do POP, e em observância à lei, o
policial militar pode exercer sua função constitucional com excelência que estará amparado
pela instituição.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1) Sobre a Ação Penal, assinale a alternativa correta
a) O Cônjuge não pode representar a vítima na Ação penal pública condicionada
à representação.
b) Em regra, a Ação penal é pública condicionada à representação.

c) A Ação penal privada personalíssima cabe apenas à vítima o direito de propor.


A única hipótese de cabimento atualmente é no crime de induzimento a erro
essencial e ocultação de impedimento ao casamento.
d) A Ação penal privada exclusiva é cabível na inércia do direito de ação do
Ministério Público.

2) Sobre as espécies de Prisão em Flagrante, assinale a alternativa


correta:
a) Quando o agente é encontrado logo depois com instrumentos que
fazem presumir ser ele o autor, trata-se de flagrante impróprio.

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b) Quando o agente é encontrado imediatamente após cometer a infração
penal, sem que tenha conseguido se afastar da vítima e do local do delito,
trata-se de flagrante próprio ou verdadeiro.
c) Quando o agente é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o autor
da infração trata-se de flagrante presumido.
d) No Flagrante Esperado a polícia espera o momento mais oportuno
para agir, tendo em vista a necessidade de colheita de provas e a prisão
é válida.

3) Sobre a audiência de custódia, assinale a alternativa correta.


a) Não cabe audiência de custódia para os crimes militares.
b) A audiência de custódia trata-se daquela realizada, após a prisão em
flagrante do agente, no prazo máximo de 24 horas, para que o juiz,
pessoalmente, avalie a sua legalidade e promova as medidas cabíveis
(manter a prisão, relaxar o flagrante ou conceder liberdade
provisória).
c) Não é objetivo da audiência de custódia verificar se houve tortura ou
maus tratos no ato da prisão.
d) O que for dito na audiência de custódia pode ser usado para
incriminar a pessoa presa.

Referências Bibliográficas:

AMERICANOS, Organização dos Estados. PACTO DE SAN JOSÉ DE COSTA


RICA.
San José: Organização dos Estados Americanos, 1969.

ANTONIO, Ricardo Andreucci. O novo crime de registro não autorizado da intimidade


sexual. Disponível em: <https://emporiododireito.com.br/leitura/o-novo-crime-de-
registronao-autorizado-da-intimidade-sexual>. Acesso em: 18 JUN 2020.

ANTONIO, Ricardo Andreucci. Receptação qualificada. Manual de Direito Penal, 10


ed., Saraiva, Pg. 343/348.

ARAÚJO, Fábio Roque e COSTA, Klaus Negri. Processo Penal Didático —


Salvador:

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