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BELO HORIZONTE
2016
1 INTRODUÇÃO
O seguinte estudo é uma resenha das ideias expostas por Philippe Dubois no capítulo 7 de seu
fotográfica aos nossos mecanismos de memória e ao aparelho psíquico proposto por Freud. O
autor fala de como os processos de memorização inevitavelmente passam por uma fase de
transformação em imagens e de como a fotografia é uma das mais puras formas de registro.
2 DESENVOLVIMENTO
A fotografia funciona exatamente como uma cópia de uma lembrança. Todos os detalhes
daquele momento estão presentes, foram capturados pelo sensor exatamente como o eram no
momentos de que nos lembramos, funcionam como uma sequência de imagens estáticas de
cada detalhe daquele momento que vivemos. Organizados dessa forma podem até se tornar
Philippe Dubois fala, citando Cícero, de como a arte da memorização depende dos lugares e
lembrança tem o seu lugar, sendo o pré-consciente o lugar das imagens. Dessa forma, os
preenchidos com “móveis” (imagens mentais) daquilo que se quer lembrar. Quando essas
memórias começam a ser organizadas verbal e logicamente, elas podem ser transmitidas,
entendidas e lembradas com maior facilidade. E assim como os móveis em nossas casas,
podem ser dispensadas quando não têm mais utilidade, deixando espaço para outras mais
importantes. Para ilustrar este pensamento, Philippe Dubois usa a seguinte citação: “Os loci
são como as tabuinhas de cera que permanecem quando o que nelas escrevemos foi apagado
Olhando dessa forma, o subconsciente poderia ser um quarto trancado que não conseguimos
abrir e para onde, automaticamente, nosso cérebro envia as memórias que nós mesmos não
Sobre esta arte da memória a maioria dos autores consultados por Philippe Dubois concorda:
é necessário que o acontecimento que se deseja lembrar seja diferente dos momentos que
nos lembraríamos de situações comuns em um ponto de ônibus, por exemplo, a não ser que
esta situação fuja do padrão comum ao qual estamos acostumados, como um acidente de
Dentre as várias formas de escrever nossas memórias, a visão e, por consequência lógica, as
imagens é considerada por Cícero e por Philippe Dubois o meio mais fácil e seguro de se
guardar algo. “ [...] recorrer à imagem é, portanto, o meio mais seguro de conservar a
II, 87, p. 357). Porque, para que nos lembremos de palavras ou, até mesmo, sons, nós
“quarto” em nosso cérebro. E é nesse processo que “a arte da memória alcança a fotografia”
(DEBOIS, p. 316). A fotografia é uma máquina de registros que funciona como o equivalente
maquínico moderno da memória. O aparato de cera, para guardar as memórias, citado por
Philippe Dubois e descrito por Platão se assemelha incrivelmente a uma máquina fotográfica
e toda a variação que poderia surgir na “impressão” da lembrança na cera é como as
humano por trás de sua administração. Assim sendo, a fotografia é como um aparelho
psíquico.
Freud entendia a mente humana, ilustrativamente para melhor visualização, como uma
complicado aparelho psíquico humano. Philippe Dubois também usa algumas metáforas para
mente. Nada que existiu alguma vez na terra desaparece completamente, sempre
que uma vez existiu, da mesma forma, Freud afirma que tudo que uma vez foi registrado em
nosso aparelho psíquico ainda está lá. “Nada na vida psíquica consegue se perder, nada do
que se formou desaparece, tudo é conservado de uma maneira qualquer e pode reaparecer em
certas circunstâncias favoráveis”. (FREUD citado por DEBOIS Philippe, 1993, p. 318). Para
encontrar os outros registros, tanto das civilizações e criaturas quanto das memórias no
aparelho psíquico, basta mudar o ponto de vista de onde se observa e o local onde se procura.
Outra metáfora é a de Pompéia, onde Freud a compara com o recalque, a qual foi pouco
pode ser comparado da melhor maneira possível ao enterramento, como o sofrido no destino
de Pompéia e fora no qual a cidade conseguiu renascer com o trabalho da pá” (Freud, pg.
320)
O que é explícito na metáfora é que assim como Pompéia o recalque é “soterrado” pelo
subconsciente e quando explorado com precisão vem à “superfície” intacto, como se nunca
Com as metáforas, Dubois entende que existem dois caminhos possíveis que juntos formam o
aparelho psíquico com suas variáveis, mas que nunca funcionam juntas. “O sonho impossível
Todos temos os dois caminhos no fundo de nossa psique, mas a partir de “filtros” e muito
estudo que elas são trazidas à tona. Por isso o analista é como um fotógrafo que busca no
A metáfora de Roma e Pompeia não é usada somente para uma explicação mais simples do
aparelhos psíquico, mas também como exemplos da metáfora fotográfica. Mais uma vez os
exemplos são divididos em dois, o lado ótico e o lado químico e como um complementa o
outro. De acordo com Jean GUERRESCHI em seu livro “Território psíquico, território
Ainda que usando exemplos tão distintos para mostrar as metáforas arqueológicas, Freud
quer mostrar que o aparelho psíquico usa de aparelhos, principalmente os de função escópica
para formar a imagem, assim como a máquina fotográfica quando capta a imagem. A luz
entra por um lugar específico, depois de ter sido focado e enquadrado, passa pelos espelhos
até ser marcada no negativo. “O lugar psíquico corresponde a esse ponto do aparelho onde a
imagem se forma” (pg. 323), ou o funcionamento “diurno” do aparelho psíquico. Mesmo não
aprofundando no estudo de cada função do aparelho psíquico, Freud ainda assim consegue
fazer a comparação necessária com o aparelho fotográfico, usando dos pontos mais
“Para dar uma idéia exata, admitiremos que cada processo psíquico existe em primeiro lugar
numa fase inconsciente para depois passar para a fase consciente, mais ou menos como uma
imagem fotográfica começa sendo negativa e só se torna imagem definitiva após ter passado
pela fase positiva. Ora, da mesma maneira que qualquer imagem negativa não se torna
Mesmo sendo dividida em inconsciente, pré-consciente e consciente, apenas duas dessas são
no consciente. Que passa por “caminhos tortuosos”. O recalcamento ali presente, impede que
alguns fragmentos de imagens cheguem ao consciente o que faz com que as imagens pareçam
com “lembranças encobridoras”, como se não existissem e tivessem sido colocadas ali para
estar no lugar de uma outra imagem oculta, as que ficam “presas” para sempre no
subconsciente e somente com muito trabalhos de análises elas são enfim reveladas. Pode-se
dizer então que “o positivo é uma espécie de ruína exposta, como Roma” (pg.325) e “o
negativo será mais, como Pompeia, uma ruína enterrada, portanto ainda relativamente intacta,
preservada”. (pg.325)
3 CONCLUSÃO
Com este trabalho pudemos entender um pouco melhor como a mente humana funciona e
entender os pontos principais de um aparelho psíquico e como o seu funcionamento é bem
parecido com as funções de uma máquina fotográfica e as imagens que dela são reveladas.
Aprendemos também que nem todas as nossas memórias são “reveladas” pelo subconsciente
e algumas ficam retraídas pelo recalque no subconsciente.
4 REFERÊNCIAS
DUBOIS, Philippe. A fotografia como aparelho psíquico. In: DUBOIS, Philippe. O ato