Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Suponha-se que lembrar com efeito seja reproduzir uma imagem na mente.
Nesse cenário, um amigo que também esteve no planetário me pergunta se eu lembro de
uma certa projeção, digamos, uma projeção que destacava a constelação de Órion; na
mesma hora me vem à mente a imagem da projeção e eu respondo que sim. Mas então
pergunto a mim mesmo: como eu >sei< que a imagem que me veio à cabeça de fato
corresponde à projeção referida? Está claro que não posso responder que sei que a
imagem que me vem à mente corresponde à projeção simplesmente porque eu conheço
a constelação de Órion e a vi com meus próprios olhos na abóbada do planetário, afinal
isso somente suscitaria outra vez a mesma pergunta (como sei que essa imagem que me
vem à mente corresponde àquilo mesmo que vi, supondo que realmente vi a constelação
de Órion?). O que esse pequeno exemplo quer mostrar é que não há como estabelecer
que as imagens que me aparecem na mente são de fato lembranças genuínas ou apenas
imagens por mim imaginadas, a não ser que já se pressuponha a memória.
Referências
TULVING, E. Episodic Memory: From Mind to Brain. Annual Review of
Psychology,53. 2002.
BENNETT, M; HACKER, P. Philosophical Foundations of Neuroscience. Blackwell,
2003.
RYLE, G. The concept of Mind. Routledge (60th Anniversary Edition), 2009.
WITTGENSTEIN, L. Philosophical Investigations. Trad. P. Hacker and J. Schulte.
Oxford: Blackwell, 2009.
WITTGENSTEIN, L. Remarks on the Philosophy of Psychology. Trad. G.E.M.
Anscombe. Oxford: Blackwell, 1980.