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DRAMATURGIA PRETA DO CORPO: UM ESTUDO ENTRE TEATROS NEGROS E

TEATRO PERFORMATIVO INTERSECCIONADOS PELO CORPO E SUAS


“ESCREVIVÊNCIAS”

BEATRIZ NAUALI DO NASCIMENTO ALVES


beatriz.nauali@gmail.com
beatriz.nauali@unesp.br

Palavras-chave: Dramaturgia, Dramaturgia do Corpo, Teatros Negros, Teatro Performativo,


Corpo.

Resumo:O corpo é um documento, pode ele ser uma dramaturgia? Este projeto de mestrado,
na linha de “Estética e Poéticas Cênicas”, em realização no Programa de Pós-Graduação em
Artes da Unesp, pretende, no âmbito das poéticas de Teatros Negros interseccionar as escritas
corporais/dramatúrgicas de mulheres pretas com as proposições conceituais do Teatro
Performativo, considerando o corpo, atravessado pelo conceito literário de “Escrevivências”
de Conceição Evaristo, como ponto de intersecção entre tais poéticas. Partindo do
entendimento de que a poética é o “fazer”, de que modo se faz? De que modo o corpo preto
faz? Se colocarmos o corpo como uma dramaturgia, quais as especificidades e indícios de um
corpo preto são reelaborados para a construção de uma dramaturgia cênica, de uma estética?
Como as vivências e experiências pelas quais passou esse corpo influenciam na construção de
cenas/performances? Com metodologia teórico-prática, por meio de levantamento teórico,
análise de obras artísticas, a saber: “Herói Tombado” de Roberta Estrela D’Alva (2014),
“Ilusões Vol. I: Narciso e Eco” de Grada Kilomba (2019) e “Vaga Carne” de Grace Passô
(2018 e 2019), e laboratório de criação dramatúrgica/corporal a partir das proposições de
Ciane Fernandes (2014a e 2014b) sobre a Prática como Pesquisa numa abordagem
Somático-Performativa, esta pesquisa busca construir uma tessitura entre Teatros Negros,
Teatro Performativo e “Escrevivências”, evidenciando o lugar cultural, social e político do
corpo preto enquanto dramaturgia cênica.
A pesquisa tem como Objetivos Gerais: I) Construir uma tessitura a partir das
articulações possíveis entre Teatros Negros e Teatro Performativo colocando o corpo preto
atravessado por suas “Escrevivências”, como ponto de intersecção entre tais poéticas; II)
Estudar o corpo, dentro dos processos criativos em artes cênicas, como documento,
dramaturgia e matéria-prima cênica a partir de sua potência escrevivente, observando recorte
étnico-racial e de gênero.
Foram elaboradas perguntas-guias para levantamento de hipóteses e impulsionamento
da pesquisa, tais como: Pode o corpo ser uma dramaturgia? Quais as especificidades do corpo
preto são utilizadas para a construção de uma dramaturgia, de uma estética? Quais são as
semelhanças entre as poéticas propostas por diferentes corpos de mulheres pretas? Pode o
corpo preto ser uma possível intersecção entre as práticas em teatros negros e o teatro
performativo feito por pessoas pretas? Para a jornada da tentativa de responder tais perguntas,
a pesquisa toma rumo na investigação dos conceitos de “corpo”, “Escrevivências”,
“performance”, saberes/epistemes corporais e processos de escrita dramatúrgica que
têm/tiveram o corpo como disparador. Posto que o projeto possui recorte étnico-racial, a
condução da pesquisa articula todos os conceitos anteriores com as teorias sobre processos
criativos em Teatros Negros e performances pretas. Acentuando ainda mais o recorte, a
pesquisadora realiza a análise de obras e trajetórias de autoras pretas já consolidadas,
buscando as aproximações e afastamentos em seus trabalhos. Todas as informações
levantadas e articuladas, serão aplicadas numa Pesquisa-Ação, processo criativo de uma
dramaturgia performativa, em que a pesquisadora realizará auto análise de seu corpo em jogo
e seu processo criativo.
Como etapas metodológicas temos: I) Levantamento e articulação de bibliografia;
Análise das obras supracitadas em consonância com a produção e processos criativos de suas
autoras, e suas intersecções com as bases desta pesquisa; III) Laboratório de Criação
Dramatúrgica e Corporal (Pesquisa em ação); IV) Registro em Diário de Bordo; e V) Criação
e Apresentação de Dramaturgia Performativa como síntese da Pesquisa em Ação.
Esta pesquisa realiza observação e análise sobre a produção contemporânea em teatro
e performance, atentando-se ao protagonismo de corpos marginalizados, levando em
consideração que, pela perspectiva antropológica de performance, o povo afrobrasileiro e
afrodiaspórico têm um grande histórico de produção cultural e artística normalmente não
utilizada como base para o pensamento da cena, e não reconhecidas como identitárias na
produção brasileira. Da mesma forma busca, de maneira multidisciplinar, a investigação de
novos fazeres teatrais e novos modos de produção e processos criativos, já em curso, que
enfatizam ao mesmo tempo a individualidade e a pluralidade dos corpos, e suas múltiplas
camadas de significação e experiência: o corpo como documento, signo, texto, conteúdo,
continente, intérprete, mídia e matéria relacional, por um viés político e decolonial.
Uma vez que a pesquisa encontra-se em sua fase inicial, os resultados são apenas um
vislumbre, que podem ser resumidos nas seguintes realizações: I) Visibilização e articulação
de referenciais não hegemônicos e multidisciplinares para a prática dramatúrgica e cênica; II)
Pesquisa e registro de modos e métodos decoloniais contemporâneos de escrita dramatúrgica
e cênica a partir da perspectiva de corpos pretos como produtores de saberes; III) Pesquisa e
registro de modos de humanização, emancipação e acolhimento de corpos pretos em
processos criativos; e IV) Resultado artístico: escrita de uma dramaturgia performativa.

Referências
FERNANDES, Ciane. A prática como pesquisa e a abordagem somático-performativa. VIII
Congresso da ABRACE, Belo Horizonte, MG, 2014a.
FERNANDES, Ciane. Pesquisa Somático-Performativa: Sintonia, Sensibilidade, Integração.
Art Research Journal, Brasil, v. 1/2, p. 76-95, Jul./Dez., 2014b.
D’ALVA, Roberta E. Herói Tombado. São Paulo: Goethe Institut São Paulo. 2014. Vídeo. 15
min. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=djXvyVQrKqE>. Acesso em: 16
set, 2022.
KILOMBA, Grada. Ilusões Vol. I, Narciso e Eco (Illusions Vol. I, Narcissus and Echo),
2017. Vídeo instalação. 31 min. In: Desobediências poéticas. Curadoria Jochen Volz e
Valéria Piccoli; ensaio Djamila Ribeiro. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2019.
Exposição.
PASSÔ, Grace. Vaga Carne. Belo Horizonte: Javali, 2018.
PASSÔ, Grace; JUNIOR, Ricardo A. Vaga Carne. Brasil: Universo Produções; Grãos da
Imagem; Entre Filmes. 2019. Filme. 45 min.

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